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Doutor EPMURAS
Ozootecnista e diretor da empresa de consultoria BrasilcomZ, William Koury Filho, criou o método baseado nessas sete letras, que simbolizam uma pecuária produtiva e eficiente. Utilizada em todo o Brasil para identificar animais melhoradores, a ferramenta descreve o animal com base em sua Estrutura corporal, Precocidade, Musculosidade, Umbigo, expressão Racial, Aprumos e Sexualidade. Também desenvolveu as provas de performance BoicomBula, que vêm sendo adotadas por vá rias raças, dentre elas, o Brahman. Paralelo a seu trabalho de consultoria pelo país, Willinho, como é conhecido por todos, tem longa atuação nas pistas de julgamento e defende uma maior sinergia entre ex posições e campo. Herdou do pai, o pecuarista William Koury, que há mais de 50 anos seleciona Nelore, a pai xão pela pecuária. Em entrevista à revista Pecuária Brasil, ele fala, sem rodeios, dos modismos na seleção genética, da necessidade de produzir touros sem artificialismos, dos desafios como jurado e das oportunidades para a pecuária brasileira.
Apesar de o Brasil ser referência em genética zebuína, certos índices zootécnicos da pecuária nacional ainda estão muito abaixo da média mundial. Por quê?
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William Koury Filho - O Brasil é a grande referência em genética zebuína no mundo, porém temos uma diferença muito grande entre as melhores e as piores fazendas. O país tem uma média de taxa de desmame de 65%, o que realmente é muito baixa. Temos condições de evoluir esse índice. Agora, quando olhamos os dados das fazendas cabeceiras, os índices são comparáveis a qualquer país com forte atuação na pecuária. Isso mostra que podemos e devemos melhorar as médias de produção como um todo. Uma das respostas para esse baixo índice reprodutivo é a utilização do boi de boiada. O touro é a grande semente da pecuária e o certo seria não utilizar qualquer semente, que chamo de “milho de paiol”. É preciso utilizar somente sementes certificadas, pois, quando o touro tem certificação, seja o registro genealógico ou CEIP, avaliação genética e passa por um crivo morfológico, temos uma semente com mais garantia de resultado. Infelizmente, na prática, tem muita gente usando o “milho de paiol”, o boi de boiada. E aí não dá para esperar grandes resultados. Além disso, a nutrição melhorou muito, mas ainda falta subir um pouco o sarrafo em termos de manejo de pastagem e suplementação adequada. Daí para a frente é definir melhores estratégias e objetivos de seleção, com acompanhamento técnico para que esses índices possam melhorar.
Como equilibrar avaliações genéticas e morfológicas em um sistema de seleção? Como definir o peso de cada um?
William Koury Filho - Isso vai depender dos objetivos da propriedade. Há criadores que selecionam os melhores animais pela avaliação genética seguido de um crivo morfológico. Outros fazem o inverso. Dentro do projeto BoicomBula, desenvolvemos uma metodologia onde ponderamos avaliações genética, fenotípica e morfológica, em que o método EPMURAS faz parte. O peso de cada avaliação será de acordo com os objetivos que o criador pretende atingir, variando entre 50% e 80% para cada uma delas. Nas minhas visitas às fazendas, tenho percebido que eles buscam um peso maior na parte fenotípica. E, nessa parte, por exemplo, se for para seleção de reprodutores, levamos em conta desempenho ponderal, peso, perímetro escrotal e EPMURAS, que tem um peso maior nesse índice fenotípico.
“Turbinar” os animais para a venda em leilão pode trazer reflexos negativos para a pecuária?
William Koury Filho - Tenho visto um preparo excessivo dos animais, muito touro obeso sendo ofertado em leilão. O problema é que o mercado valoriza esse tipo de animal ao mesmo tempo que busca um gado rústico, adaptado ao sistema de produção praticado no Brasil. É importante lembrar que esse excesso de preparo é só uma embalagem, não passa para a progênie. Quando esse touro chega na fa- zenda é como desembrulhar um presente, que estava em um embrulho caro que será jogado fora. O produtor de touro gastou, o comprador também, todo mundo perde com isso. Deveria ter uma conscientização em relação a isso. O maior complicador é que esse tipo de preparo pressupõe também um sistema de produção exagerado. Se você trabalhar uma seleção dentro de um sistema exagerado pode incorrer em erro por conta da interação genótipo/ambiente, pois a genética que desempenha bem em um sistema de produção não necessariamente vai desempenhar em outro.
Na história da pecuária, os modismos sempre ocorreram. Qual o modismo atual que o pecuarista deve evitar?
William Koury Filho - Desde o início da minha carreira venho preconizando que a avaliação genética é de suma importância e continuo trabalhando nessa linha, afinal não tem como vender um animal sem avaliação. O problema é que, quando isso cai no mercado, pode, às vezes, haver distorções. A avaliação genética explica apenas uma parte do que se vê no fenótipo. Não se deve ter uma obsessão pelo Top 0,1%, pois corre-se o risco de evoluir para uma genética muito exigente em termos ambientais, que não é condizente com o sistema de produção praticado no país. Em grande parte do país o touro precisa ter rusticidade e adaptabilidade para cobrir a vacada a campo e vai produzir filhas que devem ser adaptadas ao sistema a pasto. Se forem animais muito exigentes, a coisa pode complicar. Uma seleção focada somente em números pode levar à busca do desempenho a qualquer preço. Claro que é preciso buscar um animal bem avaliado, mas ele deve ser, principalmente, equilibrado na régua de DEP, tudo isso em sintonia com o biotipo e com a morfologia produtiva e funcional.
Existe um tamanho ideal do gado de corte no Brasil, pensando em aliar produtividade e rentabilidade?
William Koury Filho - O Brasil é um país de dimensões continentais, então é difícil falar de um único tamanho ideal de animal para todos os sistemas de produção existentes do país. Porém, sabemos que o exagerado, o grandão, não serve, basta ver o que aconteceu com as raças continentais taurinas no Brasil. Mesmo as taurinas em outras partes do mundo baixaram seu frame. Por outro lado, também não queremos um animal pequenininho. Temos de trabalhar com mediano, que no EPMURAS, seria um animal 4 ou 5. Obviamente não adianta ter de 4 ou 5 de estrutura corporal e não ter bons escores, precocidade, musculosidade, umbigo funcional, raça, aprumos e sexualidade.
Há quem critique certos direcionamentos na seleção dos zebuínos para a pista. Como jurado de várias raças, como avalia a qualidade dos animais nas exposições?
William Koury Filho - A pista na raça Nelore no Brasil descolou muito do padrão dos animais que apresentam bom desempenho na produção, podendo observar isso pelas linhagens utilizadas. Embora se tenha um discurso que estamos julgando frame mediano, esse animal mediano está sen-