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Programa para estabelecimento do pasto N
o artigo da edição passada, escrevi sobre a importância da elaboração do planejamento em empreendimentos agropecuários. Independente da atividade e tamanho do projeto, é o planeja mento em seus três níveis (curto, médio e longo prazo) que nor tearão cada processo necessário para o adequado andamento das operações e atingimento dos objetivos almejados pelo produtor. É comum encontrarmos nas propriedades situações em que há necessidade de reforma de pastagens degradadas ou em degradação ou áreas que serão abertas e plantadas. Os motivos que levam a pas tagem à degradação são vários, podendo ocorrer tanto na fase de estabelecimento da pastagem como também na fase de condução. Podemos falar sobre as formas que essa degradação se dá de forma mais detalhada e como evitá-las em outra oportunidade.
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Zona Rural
Agora, vamos abordar quais etapas fazem parte de um programa de estabelecimento de pasto. O primeiro passo é definir quais áreas da propriedade serão reformadas ou formadas. Para isso, é necessário que se faça o inventário da situação das pastagens. É recomendado que este inventário seja feito sempre no último mês chuvoso de cada região, pois assim, teremos tempo para executar cada procedimento na época correta.
Neste momento, uma pessoa treinada deve percorrer todos os pastos da fazenda para avaliar a condição geral das pastagens, como, stand de planta forrageira (nº de plantas/m²), vigor produtivo (histórico de lotações) e infestação de plantas invasoras (tipos encontrados e nível de infestação) de cada local. É com base neste inventário, que se define o que será executado na próxima safra.
Feita a seleção das áreas, seguimos com o mapeamento desses locais para apurar a demanda de serviço mecanizado e de insumos (sementes e fertilizantes). É importante definir uma área cujo tamanho e sua formação seja factível com a estrutura de máquinas, implementos, veículos e mão-de-obra, disponíveis na propriedade, além da “janela” de plantio imposta pelas condições climáticas da região. Sabendo qual área ou áreas serão estabelecidas, deve-se proceder com a amostragem dos solos – nesta mesma época – para analisar a fertilidade e, com isso, verificar se há necessidade de corretivos e adubos para o plantio. É importante que essa amostragem seja feita nas camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm de profundidade para verificar tanto os níveis de nutrientes na camada superficial como também possíveis deficiências ou a presença de níveis tóxicos de algum elemento em subsuperfície, o que pode comprometer o crescimento normal das raízes e a perenidade do pasto.
O próximo passo é a escolha da espécie forrageira que será plantada. Esta é a etapa mais importante, pois um erro cometido neste momento compromete a possibilidade de se maximizar o potencial de produção com tecnologias ou técnicas que serão adotadas após o estabelecimento dela. Em outra oportunidade podemos falar em detalhes sobre quais são os critérios adotados para a escolha da forrageira.
Concluídas as etapas anteriores, faz-se o planejamento das operações necessárias, como, cotações, compra, transporte, armazenamento e aplicação dos insumos; e quantidade dos serviços de máquinas, implementos e veículos necessários. Definido essa primeira parte, vamos para a execução do programa. Para o preparo do solo é recomendado que se dê início no período de transição águas-seca, pois o solo ainda está friável, o que facilita o corte e incorporação dos corretivos.
A forma que será executado este preparo depende da condição atual da área. Se ela ainda estiver com vegetação nativa, deve-se definir como será o trabalho de limpeza, podendo seguir da forma convencional (queima) ou mecânica (retirada da madeira). Quando é uma pastagem degradada, consegue-se entrar diretamente com a dessecação e os preparos do solo (grade pesada ou arado) logo em seguida. Em áreas que foram lavouras, pode-se proceder com o preparo do solo ou plantio direto.
Ainda sobre o preparo de solo, o tipo de implemento utilizado (grade ou arado) e número de vezes que será passado depende da condição da área, como, presença e tipos de plantas invasoras e características de solo. É durante os preparos do solo que aproveitamos também para aplicar os corretivos e incorporá-los ao terreno, por ser esta, talvez, a última oportunidade para executar este serviço, já que não se incorpora os corretivos quando a pastagem está estabelecida.
Cabe destacar que é importante fazer a aplicação dos corretivos até 90 dias antes do plantio para que dê tempo de eles reagirem até o momento da semeadura. Na adubação de plantio o nutriente mais importante é o fósforo. Este mineral é fundamental nessa fase para garantir o adequado crescimento inicial das plantas. Mesmo que a análise de solo apresente níveis altos de fósforo, é interessante aplicá-lo no estabelecimento da pastagem. Essa adubação de plantio pode ser feita de duas formas, imediatamente antes da semeadura ou no momento da semeadura, podendo, neste caso, misturá-lo junto a semente até 24 horas antes do plantio.
Durante a cotação e compra de sementes, o foco deve estar na qualidade do material, ou seja, no valor cultural (VC). O VC é o percentual de sementes da espécie ou cultivar desejada, contido no lote de sementes, com possibilidades de germinação e de estabelecer plantas normais em condições de campo. De forma geral, a semente deve apresentar rapidez e uniformidade no estabelecimento, fácil semeadura, ausência ou pequeno número de sementes de plantas invasoras comuns, ausência total de sementes de plantas tóxicas, pureza varietal.
O método de semeadura pode ser realizado tanto a lanço como também na linha com plantadeira. O plantio a lanço é o mais comum, podendo ser feito de forma tratorizada ou de avião. O plantio com plantadeira em linha apresenta vantagem na economia de sementes e de não haver necessidade de cobrir a semente em seguida. Quando o plantio é feito a lanço devemos cobrir as sementes imediatamente após a semeadura. O implemento utilizado para essa finalidade pode ser tanto a grade niveladora fechada (para sementes maiores, como as do gênero brachiaria) ou o rolo compactador (para sementes menores, como os panicum).
Este cobrimento das sementes tem como finalidades evitar que as sementes sejam levadas por pássaros, insetos, vento ou água das chuvas; evitar a exposição de sementes ao sol e sua consequente desidratação; garantir uma maior superfície de contato solo:semente, condição que favorece a absorção de água mesmo em condições de pouca umidade no solo.
Durante o estabelecimento da pastagem é comum a infestação de plantas invasoras que germinam junto ou até mesmo antes das forrageiras. Neste caso, o controle químico deverá ser realizado na “janela” de aplicação que ocorre por volta de 45 dias após o início da germinação das sementes.
Por último, temos a definição do momento que os animais farão o primeiro pastejo. Apesar de até os dias de hoje muitos produtores insistirem no erro, desde o início da década de 70 já havia procedimento padronizado para que o primeiro uso da pastagem ocorresse 60 dias após o plantio. É importante destacar que os parâmetros para a tomada de decisão sobre o momento do primeiro pastejo deve ser o da cobertura do solo pela planta forrageira e a altura média do pasto, a qual varia de espécie para espécie e de cultivar para cultivar forrageiro. Os animais deverão pastejar em torno de 25% a 30% da altura do pasto e serem mudados para outro piquete, deixando o piquete pastejado em descanso. Após o segundo ciclo de pastejo, iniciar o uso padrão da pastagem de acordo com a espécie forrageira, a época do ano e o nível de intensificação do pastejo.