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Manejo de vacas e novilhas no pré e pós-parto imediato

Nossos avós já diziam que o “bezerro do cedo” é o melhor, e a ciência vêm comprovando que esse “conhecimento campeiro” é correto. Bezerros das vacas que emprenharam no início da estação de monta nascem no meio da estação seca, período de menor desafio sanitário e, quando passam a ingerir alimento seco em quantidade, as primeiras chuvas já ocorreram e o pasto viçoso e abundante permite o melhor desenvolvimento do bezerro.

Mas se por um lado a estação seca favorece o manejo sanitário dos bezerros, o pasto escasso e de menor qualidade pode sacrificar a vaca se ela não for adequadamente suplementada, principalmente as fêmeas que passam da primeira para a segunda cria. Nesse artigo discorro sobre esse e outros cuidados que venho recomendando aos pecuaristas que atendo e que têm aproveitado essas dicas para melhorarem seus resultados.

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Paridouros

O termo “pré-parto” dispensa explicações, mas destaco os 45 a 30 dias antes do parto previsto como período de grande importância para o manejo sanitário dos animais. Esse é o momento no qual as vacas devem ser conduzidas para os “paridouros”, que nada mais são que pastos acessíveis aos vaqueiros, com capim de média altura, livres de plantas daninhas e armadilhas como buracos e cercas caídas e, preferencialmente, sombreados para conferir maior bem-estar animal à vacada e aos bezerros recém-nascidos. Destaco ainda a importância desses pastos não estarem na borda de matas, para evitar o ataque de predadores.

Vacas Doulas

Outra “observação campeira” comprovada pela ciência é a importância de colocarmos vacas experientes no lote de fêmeas que vão para a primeira cria. Estudos mostram que quando introduzimos fêmeas com duas ou mais crias no lote de novilhas de primeira cria, essas têm o comportamento mais tranquilo, o número de bezerros enjeitados é menor e até mesmo o ataque de predadores é reduzido. Isso demonstra que de alguma forma as vacas experientes transmitem segurança às fêmeas jovens.

O Parto

Este é o momento de maior risco da vida de um mamífero, tanto para o que nasce quanto para o que dá à luz. Uma dúvida muito frequente é em relação a ajudar ou não a vaca parir. E a minha resposta é: NÃO! A intervenção só deverá acontecer quando comprovado o risco de morte para a vaca ou bezerro, caso contrário devemos deixar que a natureza cumpra seu papel.

Apesar do momento maravilhoso, há de se convir que o parto é uma fase bastante exaustiva e estressante para a fêmea, e qualquer ser humano será visto como um predador, aumentando o estresse da vaca e os riscos de ela rejeitar o bezerro.

Se a intervenção for realmente necessária, o veterinário é o profissional habilitado para auxiliar com segurança para a vaca e o bezerro.

Cura De Umbigo

Já está consagrada a necessidade de se fazer a queima do umbigo logo nas primeiras horas pós-nascimento. No entanto, muitos pecuaristas insistem em utilizar produtos com pouca ou nenhuma eficácia para esse fim. Mata-bicheiras e cicatrizantes são bons para repelir moscas, desa- lojar larvas e até marcar os animais, mas tem eficácia quase nula na cura de umbigo.

O umbigo é a principal via de comunicação entre a vaca e o feto, que é rompida no momento do parto. No entanto, esse canal pode permanecer aberto por dias até que aconteça a mumificação completa do coto umbilical. A “queima do umbigo” é o manejo que visa acelerar o processo de mumificação do coto, interrompendo, assim, essa via de acesso que se contaminada, poderá levar sérias doenças ao bezerro já nos seus primeiros dias de vida.

Após o nascimento é crucial que a queima do umbigo seja feita com solução de iodo ou alcatrão o mais rapidamente possível, acelerando o processo de mumificação do coto umbilical e interrompendo o acesso de patógenos via umbilical. Devemos utilizar soluções de iodo 5 ou 10%, bem como produtos comerciais próprios para a função, como o Curumbi ou Umbicura. Tenho indicado o primeiro, que por conter alcatrão, me dá muita confiança em usá-lo puro. O segundo eu também indico, porém, em solução com iodo 10% para acelerar o processo de mumificação do coto umbilical.

NUTRIÇÃO PRÉ-PARTO

Vacas prenhes não devem ser jogadas no fundo da propriedade como se fosse um castigo por estarem prenhas. Não, isso jamais; pois elas carregam no ventre o futuro da propriedade. As vacas prenhes devem ter acesso a pasto abundante e de qualidade, com suplementação nutricional adequada para seu estado de gestação e, assim, poderem gerar um bezerro de qualidade e ainda assim se desenvolverem. Devemos ter em mente que a vaca deve receber nutrição suficiente para a sua mantença e para a sua gestação, por isso o ajuste nutricional é fundamental para não prejudicar o desenvolvimento do feto, tampouco comprometer a vaca para a próxima concepção.

É muito comum pecuaristas reclamarem da dificuldade de emprenhar as fêmeas que estão indo para a segunda cria. Essa dificuldade só acontece porque há falha na suplementação nutricional, que geralmente não é suficiente para permitir que a novilha gere o bezerro sem prejudicar seu desenvolvimento corporal. Quando essa falha nutricional acontece, a cobrança vem em forma de atraso para a próxima concepção. A solução para isso é simples; basta fazer um aporte nutricional adequado e que permite à novilha ganhar peso e ganhe escore corporal mesmo durante a gestação.

NUTRIÇÃO PÓS-PARTO

Não se engane achando que a missão da vaca acaba com o parto. Ela terá que proteger e amamentar um bezerro por mais alguns meses, e isso demanda muita energia. Vaca boa não é vaca grande e bonita, mas aquela que desmama um bezerro pesado e sadio, mesmo que isso custe peso e escore corporal. E para evitar sacrificar boas matrizes por falhas nutricionais, é mandatório o ajuste na suplementação nutricional para garantir que a vaca tenha condições de mantença, de produzir muito leite para o bezerro e ainda se preparar para a próxima concepção.

Em cada momento de sua vida a vaca tem uma exigência nutricional distinta, e no pós-parto ela tem uma elevada demanda energética, exigindo do nutricionista o ajuste fino na dieta para garantir bezerros pesados na desmama sem predicar o desempenho reprodutivo das fêmeas.

Manejo Antiparasit Rio

As vacas são bastante tolerantes a parasitos internos e trabalhos apontam que elas suportam infestações de até 2000 OPG (ovos por gramas de fezes) sem prejuízo produtivo, no entanto; devemos considerar que embora as vacas sejam resistentes, quem anda ao pé delas, os bezerros, já sentem os sinais de um décimo dessa carga parasitária. Dessa forma é recomendável manter as vacas livres dos parasitos internos por meio de endectocidas concentrados ou nutracêuticos adicionados à dieta.

Além dos parasitos internos, devemos estar alerta para os parasitos externos, e dentre esses os carrapatos ganham destaque, pois além de espoliar os animais, eles podem transmitir doenças como a tristeza parasitária bovina, que acomete animais de todas as idades, principalmente bezerros em fase de amamentação.

Já as moscas-dos-chifres, a qual o prejuízo causado à pecuária já é bem conhecido, espoliam os bovinos, transmitem doenças, estressam os animais e o resultado de tudo isso é o menor desenvolvimento dos animais, menos vaca emprenhadas, menos leite produzido e bezerros mais leves. Ou seja: o prejuízo é grande!

Mas tudo isso provocado por um mosquitinho miudinho? Um só não, vários e o desconforto causado pela mosca-dos-chifres é facilmente notado quando observamos um rebanho infestado. A parte boa é que esse é um parasito facilmente repelido por meio do uso de bons brincos mosquicidas ou mesmo eliminadas por meio do uso contínuo de nutracêuticos a base de diflubenzuron técnico na dieta.

Os Dez Mandamentos Da Cria Lucrativa

1. Tenha pastos paridouros adequados;

2. Tenha vacas doulas (experientes) em meio a novilhas;

3. Deixe a natureza agir - só intervenha quando estritamente necessário;

4. Proteja suas vacas de curiosos;

5. Proteja suas vacas de predadores;

6. Cure umbigo com produtos adequados;

7. Estabeleça um calendário de vacinas reprodutivas;

8. Reforce a suplementação de novilhas recém-paridas;

9. Ajuste a dieta de fêmeas prenhes;

10. Elimine as moscas-dos-chifres das suas vacas.

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