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Sanidade do rebanho corre risco sem vacinação contra aftosa?
A suspensão já reflete negativamente no manejo sanitário e na venda de medicamentos. Saiba como estabelecer de forma segura um calendário de imunização e de protocolos de tratamento
Aretirada da vacinação contra febre aftosa está impactando negativamente o manejo sanitário do rebanho. O alerta é do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) que vem registrando uma queda nas vendas de medicamentos para o segmento de ruminantes nas regiões onde a vacinação contra a febre aftosa já não é mais necessária. No primeiro trimestre de 2023, o mercado registrou um crescimento de apenas 2,2%, muito aquém dos 24% de 2022 e dos 30% de 2021.
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De acordo com a médica-veterinária, doutora em Saúde Animal e professora da FAZU, Pollyanna Mafra Soares, era no momento da vacinação contra febre aftosa que muitos produtores aproveitavam para realizar outros tipos de protocolos sanitários no rebanho. “Eles aproveitavam o deslocamento dos animais para os currais de manejo para realizar outras vacinações, tais como brucelose, raiva, clostridioses, diarreias, leptospirose, Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e Diarreia Viral Bovina (BVD). Também costumavam ser utilizadas para vermifugações, uso de produtos tópicos, controle de endo e ectoparasitas, tratamento de algumas lesões ou leves infecções”, explica Pollyana. O vice-presidente Executivo do Sindan, Emilio Salani, destaca que, após a suspensão, houve uma queda considerável no manejo sanitário dos ruminantes como um todo. “A adoção de boas práticas sanitárias é essencial para garantir tanto o bem-estar do rebanho quanto para manter o status sanitário da pecuária brasileira, garantindo a qualidade da nossa carne e a manutenção das exportações para mais de 100 países. Tão importante quanto manter a saúde dos animais em dia é seguir os protocolos de segurança para evitar a reintrodução da febre aftosa no Brasil”, afirma.
Como os estados que concentram o maior volume de bovinos no Brasil já não têm a obrigatoriedade de imunizar contra a doença, essa queda nas vendas de medicamentos preocupa. O Brasil iniciou a retirada gradual da vacinação em 2022 e espera se tornar livre da doença sem vacinação até 2026. Os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Tocantins e o Distrito Federal, que concentram quase metade do rebanho bovino nacional, a vacinação foi suspensa este ano.
O vice-presidente Executivo do Sindan alerta que esta situação aconteceu na Argentina. Após cerca de dois anos após a retirada da vacinação, o país viu o vírus ser reintroduzido em seu território, fato que causou grandes prejuízos à pecuária local e à economia argentina. No caso do Brasil, a proximidade com países como Bolívia e Venezuela, que não possuem um status sanitário tão elevado, é visto como um fator de risco.
Em estados proibidos de vacinarem contra febre aftosa, os produtores devem seguir alguns protocolos de segurança para evitar a reintrodução da doença no Brasil, tais como: adoção de práticas de higiene adotadas regularmente, como a limpeza e desinfecção de instalações e equipamentos que ficam em contato direto com os animais, e principalmente aqueles equipamentos compartilhados entre diferentes propriedades. Outros cuidados importantes são controle moscas e roedores, boa higiene pessoal de quem maneja os animais, controle de acesso de visitantes, veículos, equipamentos e animais de outras espécies. É recomendado ainda realizar a quarentena de animais recém-adquiridos ou que retornem de exposições, leilões ou outras propriedades.
Planejar O Manejo Sanit Rio Evita Riscos
A professora da FAZU ressalta que, mesmo a vacinação contra febre aftosa sendo abolida em alguns estados brasileiros, os outros manejos sanitários não devem ser abolidos, pois proporcionam a prevenção de doenças nos bovinos, evitando futuras perdas produtivas que podem ser geradas pela introdução de doenças no rebanho. “Devem ser seguidas as legislações sanitárias estabelecidas pelos órgãos de defesa sanitária animal de cada estado. Além disso, é sempre recomendado que os produtores consultem um médico-veterinário para orientações específicas sobre os tratamentos preventivos a serem realizados em seus animais, bem como indicações de melhores práticas vacinais a serem conduzidas simultaneamente, uma vez que há possibilidade de uma vacina interferir na resposta imunológica da outra”, esclarece Pollyana.
Zona Rural
É essencial desenvolver um programa sanitário, por meio de um calendário de vacinação e protocolos de tratamentos, considerando os principais desafios sanitários da região. Para os estados brasileiros que não realizam mais a vacinação contra a febre aftosa, existem outras doenças que devem ser controladas obrigatoriamente pelo processo de vacinação, tais como a brucelose e a raiva, considerada obrigatória em regiões que possuem focos da doença. “Alguns manejos sanitários preventivos podem ser realizados em conjunto com esses protocolos vacinais, tais como, controle de parasitas, levando em consideração os ciclos de vida dos parasitas e as condições climáticas locais; vacinações não compulsórias para outras doenças relevantes para a região onde o rebanho está inserido; bem como o tratamento de algumas enfermidades e lesões. No caso de produções intensivas de leite, também se sugere a vacinação para prevenção de diarreias, principalmente de vacas prenhes para transmitir anticorpos colostrais para os bezerros”, orienta a médica-veterinária.
Ela explica que outro ponto extremamente válido a se considerar, buscando a eficácia dos protocolos sanitários vacinais em bovinos, é o uso das boas práticas de vacina- ção. Uma das recomendações é utilizar vacinas em animais sadios para que não possa haver comprometimento da resposta imunológica. A administração dos imunógenos deve ser feita em locais e períodos apropriados, de acordo com fabricante, utilizando agulhas adequadas de acordo com recomendado. Faça a conservação adequada da vacina, para garantia de sua eficiência e evitar a redução das partículas antigênicas da vacina.
Com um mercado internacional crescente para a pecuária brasileira, o vice-presidente do Sindan reforça a necessidade do comprometimento de todos os pecuaristas com a sanidade do rebanho nacional. “Diversos estudos apontam que os controles de doenças trazem grandes benefícios para economia, para a sustentabilidade e a sociedade em geral. Isso inclui o aumento da produção de proteínas de qualidade, que contribui para a redução da fome no mundo, além de outros aspectos importantes como a intensificação da produção e a redução das emissões de gases de efeito estufa na pecuária. Por isso, é fundamental que os produtores não deixem de tratar os seus animais, ainda que a vacinação contra febre aftosa não seja mais obrigatória”, conclui Salani.