Odilon Alves
E
O recado do Velho Chico
m 2012, ao visitar a Serra da Canastra no sul de Minas Gerais, me encantei com a majestosa beleza das nascentes que formam a cabeceira do Rio São Francisco. No alto da Serra, onde nasce o rio da integração nacional, despenca a borbulhante Casca D’anta, uma cachoeira com 186 metros de queda. Também no alto da Canastra fica a primeira nascente do Velho Chico que, com a seca histórica deste ano, desapareceu. Espero que por pouco tempo e que a nascente-mãe do São Francisco volte à sua exuberância natural já com as primeiras chuvas deste final da primavera. O desaparecimento total da água na primeira nascente do Rio São Francisco e em centenas de outras nascentes e afluentes ao longo de seu leito com 2,8 mil quilômetros até a foz em Paulo Afonso, entre os estados de Sergipe e Alagoas, tem um significado muito mais do que meramente simbólico. O Velho Chico, mesmo agonizante, resiste e segue por entre bancos de areia rumo ao seu destino, deixando ao longo dos barrancos nus, onde deveria existir a proteção das matas ciliares, uma mensagem direta aos homens de boa fé, sua única chance de sobrevivência. O descaso e a morosidade com que se tratam as questões ambientais no
Brasil estão hoje refletidos numa seca histórica, provocada também por alterações climáticas, em sua grande maioria, resultantes da ação do homem. Se não houver uma imediata tomada de posição por parte das maiores nações do planeta, com medidas não apenas mitigativas, mas de recuperação do que o homem destruiu em pouco mais de meio século, sofreremos não apenas com escassez ou falta d’água, mas também com escassez de alimentos e proliferação de doenças, como já vem ocorrendo em alguns pontos do planeta. Claro que a população pode contribuir com o meio ambiente racionalizando o uso dos recursos naturais como a água, mas a solução ideal vai muito além dos sacrifícios individuais. No caso específico do Brasil, o desmatamento zero, a recomposição das matas ciliares ao longo dos rios, ribeirões e córregos e a opção por energias limpas como a solar e a eólica, são medidas de ontem que precisam ser tomadas agora, já. O incentivo fiscal aos carros elétricos, hoje uma realidade nos países mais desenvolvidos, também contribuirá lá na ponta para minimizar o aquecimento global e, em consequência, equilibrar o ciclo hidrológico da terra. Mas isso, como venho dizendo há anos, era para ontem.