Revista RAIZ. 09

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A DE A ARTE ARTEVISIONÁRIA VISIONÁRIA DE

RAN CHINHO

A SENSIBILIDADE FALA MAIS DO QUE UM MILHÃO DE PALAVRAS

Ele tem um talento artístico Agora, sua história e sua obra

extraordinário. estão descritos nesse livro.

Conheça mais os tons e cores de Ranchinho. Ricamente ilustrado Texto dos

com dezenas de obras do artista

experts Antônio Fernando Franceschi, Oscar D´Ambrósio e Roberto Rugiero. Uma realização Associação Raiz e Galeria Brasiliana Nas melhores livrarias ou no Portal RAIZ.

www.revistaraiz.com.br


SUMÁRIO Depois da longa jornada desde a última edição impressa - em novembro de 2009 -, a Revista RAIZ. volta para seu berço de papel original,

8

em versão editorial e gráfica renovadas. Pois não podíamos permanecer estanques, para honra de nossa identidade dinâmica. Esse diferencial da nossa cultura popular, que mesmo sendo estigmatizada e esquecida desde sempre, permanece presente em nosso cotidiano e em nossa maneira de ser brasileiros. Afinal, como diz Adélia Borges: “a arte popular está sempre se renovando, não se

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ACONTECE...................... O que rola de bom em nossa cultura. PROSA..............................A força do samba em múltiplas raízes.

estagnou.” Esse é o nosso trunfo como país que é a “bola da vez”; onde os estrangeiros querem morar e vender; onde a arte não se folclorizou no coreto das praças turísticas e que tão bem representa o seu povo, sua imagem e semelhança.

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VERSO...............................A literatura indígena de fora e de dentro.

36

FIGURAS............................Personagens que fazem a nossa cultura maior.

44

RAIZ DA QUESTÃO...........Debates sobre os caminhos da cultura brasileira.

52

PATRIMÔNIO....................A festa casamenteira em Santo Antônio de Barbalha, Ceará.

58

POLÍTICAS.........................Países da América do Sul iniciam processos da criação de Pontos de Cultura.

62

ENSAIOS...........................Dentes da Memória, a poesia de quatro rapazes.

70

BENS DE RAIZ....................Livros, filmes, DVDs e CDs de RAIZ.

82

MÚSICA............................O samba e o rock de Seu Osvaldo, o primeiro DJ do Brasil.

90

VIAGENS...........................Ouro Preto, 300 anos de histórias.

98

COMIDAS.........................Como fazer a famosa tapioca da Tia Lú.

Essa virtude miscigenada e inquieta se potencializa pelas diversidades e distâncias continentais. E a RAIZ., cumprindo sua missão do fazer ver e consumir o popular de nossa cultura propõe, em sua nova fase, um acento em seu caráter multimeios. Se o Portal (www.revistaraiz. com.br) foi o guardião das pautas populares desde nosso início em 2005, agora a tecnologia dos smartphones, tablets e da própria Internet oferecem cenários cinematográficos. A Revista RAIZ. assume o desafio de ser uma publicação completa, em meios impressos, eletrônicos e digitais; presente nas Redes Sociais; nas novas tecnologias; em forma de texto, TV e rádio; dentro da sua coerência editorial de revelar o Brasil escondido das grandes mídias. Pois, embora “o orgulho de ser brasileiro” apareça como um slogan recorrente entre as marcas, não se materializa nos investimentos realizados por estas, nas iniciativas populares. A RAIZ. quer ver e ouvir esse Brasil, que gera tanto interesse mundial a partir das nossas idiossincrasias locais. A decorrência é o desafio de se pautar uma nova edição frente às possibilidades. E mesmo com temáticas conhecidas como o samba, nos defrontamos com gratas surpresas. Re-encontrar a importância e elegância do samba rural paulista, pouco comentado desde Mario de Andrade, nos anos trinta, e Plínio Marcos, nos setenta. Observar as Velhas Guardas das Escolas de Samba buscar novos espaços para sua manifestação artística, uma vez expulsas das quadras, pela competição dos desfiles e dos novos gêneros musicais mais afeitos à promoção das mídias. Mais surpresas vão surgindo no diálogo com os nossos atores culturais. Então, não importa, se é do índio ou sobre os índios; se o museu é no Recreio dos Bandeirantes na cidade maravilhosa ou na sala de estar do apartamento em São Paulo; se a festa é pagã em homenagem a um Santo, o Antônio; se a arte é de produção coletiva ou individual na insanidade lúcida do Ranchinho; se a escultura em um bloco de madeira são de animais ou de homens; se o samba é rural ou samba rock; nossas intenções fogem aos limites. Nesse processo de descobertas vamos pontuando as figuras importantes para apresentar, guardar, documentar, disseminar. Valorizar os protagonistas e os objetos culturais que nos diferem e nos credenciam como uma cultura viva. Dando forma à tradição, múltiplos escultores são seus arquitetos. A RAIZ. quer dar palco e voz para nossa cultura popular. Reguem essa RAIZ. em todos os meios onde ela, agora, se apresenta. Boa diversão e interação. Edgard Steffen Junior

102

PONTOS DE CULTURA.....Arte e transformação social em ação.


EXPEDIENTE

COLABORADORES

EDITOR-CHEFE: Edgard Steffen Junior EDITORA ASSISTENTE: Thereza Dantas JORNALISTA: Cleber Erik da Silva FOTOGRAFIA: Yves Barros DIREÇÃO DE ARTE: Uirá Peixeiro ASSISTENTE DE ARTE: Igor Busquets ILUSTRAÇÕES: Uirá Peixeiro

Cristina Astolfi, 32, é mais uma caipira que se apaixonou

Carlos Henrique Machado é compositor, pesquisador

REVISÃO: Anita Silveira

pela cidade grande, suas histórias, pessoas e paisagens. An-

e bandolinista. Autor do premiado álbum Vale dos Tambores.

AUDIOVISUAL: Célia Harumi Seki

tropóloga formada pela UNICAMP, produtora cultural, editora,

Atualmente trabalha o seu próximo projeto, “Tem Muito Arroz

educomunicadora, atuou em projetos como o Programa de

Neste Pilão”.

VINHETA: Rodolfo Nakakubo INTERNET: Leo Flauzino ADMINISTRAÇÃO: Marcela Carvalho Campos

Formação de Professores do Museu da Língua Portuguesa e Telecurso TEC, na Fundação Roberto Marinho. Atualmente, aventura-se no desenvolvimento de conteúdos digitais: aplicativos móveis, objetos de aprendizagem e jogos educacionais.

COLABORADORES:

Além disso, está sempre por aí, pegando emprestado os olhos

Textos: André Domingues, Augusto Câmara Campos,

de outros para ver o mundo de um jeito diferente.

Carlos Henrique Machado Freitas, Cristina Astolfi, Christian Saez, Dalwton Moura, Felipe Melo, Fernanda Estima, Junior Perin, Nice Lima, Ricardo Soares

Junior Perim, Produtor e ativista cultural, co-fundador do

Ricardo Soares, diretor de tv, escritor e jornalista. Autor

fotografias: Luiz Santos, Marcelo dos Santos, Paula Cinquetti, Vic Parisi

circo Crescer e Viver e Ponto de Cultura Crescer e Viver – site

de Cinevertigem ( ed. Record 2005) e de livros infanto-juvenis

Rafael Vilarouca e Mario Thompson

oficial www.crescereviver.org.br

como Valentão (1999). Dirigiu, escreveu, apresentou e editou em orgãos de comunicação tão diversos quanto a revista Trip e Família Cristã passando pelo Estadão, Jornal do Brasil, Man-

JORNALISTA RESPONSÁVEL: Thereza Dantas – MTB 22.194

chete, TV Cultura, Rede Sesc/Senac de Televisão,Gazeta/CNT, TV Brasil, GNT, Jornal da Tarde, Diário do Grande ABC, Rolling

RAIZ. É UMA PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO RAIZ. COM O APOIO DA EDITORA CULTURA EM AÇÃO

Stone e a própria revista RAIZ. Dirigiu 12 documentários para

E-MAIL: regueessaraiz@revistaraiz.com.br

várias emissoras de televisão.

PORTAL RAIZ: www.revistaraiz.com.br AGRADECIMENTOS AOS PARCEIROS DA 9 EDIÇÃO DA REVISTA RAIZ Muda Cultura - Race Gestão Cultural - Primavera Filmes - Programa Cultura Viva -

Felipe Dantas Cabral de Melo, natural do Recife, 56

Dalwton Moura é jornalista com experiência em impresso

anos, produtor cultural com interesse na pesquisa e promoção

e jornalismo cultural. Foi finalista do Prêmio Imprensa Embratel,

Fundação Perseu Abramo - Revista Teoria e Debate - Galeria Brasiliana - Museu da

das expressões da cultura tradicional de Pernambuco.

em 2004, com um caderno especial sobre os 160 anos de

Casa do Pontal - Deputada Jandira Feghali - Grêmio Recreativo de Resistência Cultural

Padre Cícero.Trabalha com assessoria de imprensa, nos seg-

Kolombolo Diá Piratininga – Projeto Samba Autêntico - Instituto África Viva - DJ Paulão -

mentos político e cultural. Compositor premiado em festivais

Editora Azougue.

no Ceará, na Paraíba e em São Paulo, atualmente é Coordenador de Políticas para a Música, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Fortaleza.

APOIO INSTITUCIONAL

Este é um projeto com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313/91)


acontece

BARCOS DO BRASIL

O

OS VENTOS SOPRAM NA DIREÇÃO DA EXPOSIÇÃO QUE INAUGURA NOVA SEDE NACIONAL DO IPHAN

Brasil também apresenta riqueza no seu patrimônio

naval, e é isso que mostra a exposição “Barcos do Brasil”,

ESCULTORES MINEIROS

SEIS MÃOS, TRÊS UNIVERSOS E MUITA SENSIBILIDADE

A

que marca a abertura da nova sede nacional do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em Brasília. As visitações, abertas desde o último dia

31 de agosto, vão até 18 de novembro deste ano. Na ocasião da cerimônia de lançamento, também foi inaugurada a Sala Mário de Andrade, espaço destinado à realização de exposições com a temática do patrimônio brasileiro. A exposição é o merecido reconhecimento a um dos patrimônios navais mais ricos do mundo, tanto em quantidade quanto em

A sua criação surgiu da preocupação em registrar os principais barcos

diversidade. Falar de barcos do Brasil é falar de história, arte, cultura

tradicionais do Brasil, que já no início do século XX corriam o risco de

e sociedade. Fontes de renda e subsistência para diversas popula-

desaparecer. A Coleção Alves Câmara faz parte do acervo do Espaço

ções, a exposição Barcos do Brasil funde-se com o cotidiano dessas

Cultural da Marinha, com sede no Rio de Janeiro.

pessoas e com a própria história brasileira. As réplicas foram desenvolvidas com o incentivo do navegador Amyr Klink rtur Pereira, Geraldo Teles de Oliveira e Jadir João

pequeno em cedro, passa a trabalhar nos blocos maciços de madeira macia,

Egídio são os grandes destaques da exposição que a Galeria Estação mantém até o dia 01 de outubro deste ano.

Já foram identificados mais de 2.000 tipos de embarcações, seja

e o apoio do Iphan. A curadoria é do arquiteto e urbanista Dalmo Vieira

complexas composições baseadas em sua experiência da vida rural.

para ambientes lacustres, fluviais ou marítimos, e com os mais diver-

Filho, atual diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

Geraldo Teles de Oliveira (Itapecerica/MG) e Jadir (Divinópolis/MG) dedicaram

sos fins, utilizados por populações costeiras e ribeirinhas, integrados

do Iphan.

seu trabalho com quase exclusividade a motivos religiosos, utilizando elemen-

a um imenso contexto destas tradições, conhecimentos e trabalhos. A

tos do catolicismo, dos mitos indígenas e da cultura afro-brasileira. Jadir, em

exposição apresenta, pela primeira vez, os 89 modelos de embar-

O Projeto Barcos do Brasil tem como grande apoiador o navegador Amyr

O trio de escultores mineiros, que tem suas obras celebradas pela crítica,

geral, ainda segundo a curadoria do projeto, subtrai a imitação do mundo real

cações tradicionais brasileiras que fazem parte da Coleção Alves

Klink e objetiva a preservação e a valorização do patrimônio naval brasileiro,

têm em comum em suas peças - 14 grandes esculturas que estão em

e transmite em suas esculturas um “sentimento dramático sobrenatural”.

Câmara Século XXI.

dos barcos tradicionais, dos homens e mulheres do mar, dos carpinteiros e

Escultores mineiros

A mostra fala um pouco sobre o patrimônio naval brasileiro, o ofício

artesãos, dos mestres e pescadores, da arte da navegação, da riqueza e da

exposição - os traços de uma cultura regional, uma relação estreita entre o homem e a natureza, a existência humana e seu lado spiritual.

diversidade do patrimônio cultural.

De 26 de agosto à 01 de outubro de 2011

do modelismo naval e o Projeto Barcos do Brasil, sensibilizando os

As esculturas são feitas a partir de blocos inteiriços que após entalhados ainda

De segunda a sexta 11h às 19h - sáb. 11h às 15h

visitantes para a importância do reconhecimento e da preservação

Barcos do Brasil

conservam características da sua forma original.

Galeria Estação

dos modos de vida, paisagens, técnicas tradicionais e embarcações.

De 31 de agosto a 18 de novembro de 2011

Rua Ferreira Araújo - Pinheiros, 625

De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h

Segundo a curadoria da exposição, a arte dos escultores é um reflexo das

São Paulo - SP

A Coleção Alves Câmara Século XXI foi inspirada na Coleção Alves

Sala Mário de Andrade

experiências trazidas pela vida no campo, atividades e rituais religiosos,

marcy@pooldecomunicacao.com.br /

Câmara original, composta por 42 modelos de barcos tradicionais

Sede do Iphan - Edifício Lúcio Costa

festejos e todo o cotidiano das comunidades regionais.

martim@pooldecomunicacao.com.br

brasileiros, encomendados em 1908 pelo então Ministro da Marinha,

SEPS Quadra 713/913 - Bloco D

Telefone: (11) 3032-1599

o Almirante Alves Câmara, aos estados brasileiros.

Asa Sul - Brasília - DF

Artur Pereira (Cachoeira do Brumado/ MG) começou sua carreira esculpindo em barro figuras isoladas de bichos. Depois de ter esculpido um presépio

Fax: (11) 3814 -7000

Telefone: (61) 2024-6187 / 2024-6194 (11) 3032-1599 Fax: (11) 3814 -7000

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acontece

DESENHO DE FIBRA A CASA - MUSEU DO OBJETO BRASILEIRO APRESENTA EXPOSIÇÃO QUE DESTACA UNIVERSO TÊXTIL DO BRASIL

A REDESCOBERTA DE UMA VALOROSA ARTE DE TRADIÇÃO UNIVERSAL

O

Pavilhão das Culturas Brasileiras, em São Paulo, recebe a partir do próximo dia 10 de setembro a exposição ArteFatos Indígenas. O objetivo é colocar a produção artística indígena brasileira sob um óptica aprofundada, retirando dela o caráter estereotipado que a resume a uma mera manifestação etnográfica e regionalista.

A exposição conta com 270 peças adquiridas pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo para integrar o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras. Os curadores da exposição, Cristiana Barreto (arqueóloga e pesquisadora) e Luis Donisete Benzi Grupioni (etnólogo especialista em cultura material indígena, e coordenador do IEPÉ) dividiram a mostra em módulos, destacando a arte de doze povos indígenas da Amazônia, dos

exposição Desenho de Fibra tece fio a fio anos de

empresas, formar associações, exportar e conquistar autossuficiência

Estados do Amapá, Pará e Mato Grosso: Wajãpi, Galibi, Palikur, Karipuna, Galibi-Maworno,

história do trabalho têxtil de cinco regiões do Brasil.

criativa, comercial e financeira.

Tiriyó, Kaxuyana, Wayana, Aparai, Asurini, Kayapó e Kayapó Xikrin.

Renato Imbroisi, além de designer é tecelão e atua também como con-

O uso de materiais atuais é ressaltado como uma forma de diminuir preconceitos em relação ao

sultor, diretor de projetos e parceiro de artesãos no desenvolvimento e

conflito existente entre os conceitos de arte “tradicional” e “moderna”, afirmando que o seu uso

A exposição é baseada no conteúdo do livro Desenho de Fibra -

na criação de novos produtos, trazendo de volta técnicas e tradições da

não tornam as peças menos autênticas.

Artesanato Têxtil no Brasil, escrito por Maria Emilia Kubrusly e Renato

identidade cultural local.

Serão destacadas suas técnicas básicas: tecelagem, rendas, cestarias, bordado e crochê.

ArteFatos Indígenas:

Imbroisi, lançado pela editora Senac em 2011. Desenho de Fibra, de Renato Imbroisi

De 10 de setembro a 08 de janeiro de 2012

A exposição Desenho de Fibra traz um resumo da trajetória do designer

De 2 de setembro a 18 de novembro de 2011

De terça a domingo das 9h às 18h, com entrada até as 17h

Renato Imbroisi e a descrição de como desenvolveu um método de

De segunda a sexta das 10h às 19h

Entrada gratuita

trabalho conjunto com artesãos têxteis.

A CASA - Museu do Objeto Brasileiro - Rua Cunha Gago, 807 - São Paulo - SP

Pavilhão das Culturas Brasileiras

Informações:

Parque do Ibirapuera (antigo prédio da Prodam)

Renato Imbrosi já trabalhou em 140 projetos no Brasil, destes foram

Telefone: (11) 3814 9711

Rua Pedro Álvares Cabral, s/ nº - São Paulo - SP

selecionados cerca de 35 peças, exemplos de parcerias bem sucedidas

Site: www.acasa.org.br

Telefone: (11) 5083 0199

entre o designer e os artesãos que deram continuidade à produção

E-mail: acasa@acasa.org.br

Site: www.culturasbrasileiras.sp.gov.br

com profissionalismo, chegando, em muitos casos, a constituir

Fotos: Divulgação

A

ARTEFATOS INDÍGENAS DE PRODUÇÃO ETNOGRÁFICA

E-mail: culturasbrasileiras@prefeitura.sp.gov.br

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acontece

Inclusive causam um certo desconforto, assim como suas letras. Nem músico ele é. O técnico em eletrônica Tony da Gatorra canta o que ele

acredita. Foi essa a maneira que ele encontrou para espalhar sua mensagem. Questiona a distribuição de renda, o capitalismo, as promessas do governo, as falhas do Estado em atender os mais necessitados,

TONY

DA

A

s músicas dele não são melodiosas.

GATORRA

a corrupção, a fome, a violência, a falta de respeito entre as pessoas, o mundo cada vez mais inóspito e

Foto: Divulgação

A

O QUE OS OLHOS NÃO PODEM VER SOB DIFERENTES OLHARES

principalmente pela páz. É, com acento agudo, do jeito que ele gosta de escrever. A gatorra – uma espécie de sintetizador com bateria eletrônica em forma de foice – é o único instrumento que ele usa. A crítica gosta de compará-lo com o Alan Vega (Suicide), com o Mark E. Smith (The Fall), com o som do Silver Apples, chamá-lo de pós-punk. Mas o Tony gosta mesmo é de escutar Raul Seixas, Beatles, Led Zeppelin, White Snake e o Hino Nacional. A primeira gatorra surgiu em 1997, mas hoje em dia algumas delas habitam a casa de gente como

té o próximo dia 30 de outubro a Caixa Cultural de

Nenflídio), Jardim da Glória (Lenora de Barros), e um “Mapa

Lovefoxxx (CSS), Nick McCarthy (Franz Ferdinand) e

São Paulo apresenta a exposição Mapas Invisíveis.

Abstrato”, feito por Cinthia Marcele e Marilá Dardot. A exposição

Gruff Rhys (Super Furry Animals) – este último um fã

é constituída por instalações, esculturas, fotografias e videos entre

declarado que, depois de fazer uma turnê europeia

outras linguagens artísticas.

com Tony em 2007, comprou uma gatorra e convo-

O objetivo da mostra é trazer para diante do espectador as transformações contínuas que altera-

ram e tornam a alterar a paisagem urbana da cidade. São visões diferentes e ao mesmo tempo complementares de

cou o gaúcho para gravar um disco com ele, lançado Os trabalhos também possuem origens diversas, sejam represen-

ano passado sob o título “The Terror of Cosmic Lone-

tações geográficas ou complexos confrontos entre o artista e os

liness” em shows por todo o Reino Unido.

conceitos que fazem parte da região.

diversos artistas. Partindo da experiência que cada um possui

Tony voltou pra São Paulo depois de mais de dois Mapas Invisíveis

anos sem tocar aqui. Foram três shows. No primei-

De terça a domingo, até 30 de outubro

ro deles, no Ô de Casa Hostel, houve também o

Cada artista ficou com um bairro diferente: Barra Funda (Estela

De terça a sábado das 9h às 21h, domingos e feriados das 10 às 21h

lançamento e a exibição do minidocumentário “Meu

Sokol), Praça Roosevelt (Fabiano Gonsper), Pico do Jaraguá

Entrada grátis - Caixa Cultural de São Paulo

Nome é Tony. Eu Construí um Instrumento”, que

(Marcelo Moscheta), Liberdade (Laerte Ramos), Vila Medeiros

Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2083 – Cerqueira César São Paulo

conta um pouco da história do técnico e o que inspira

(Lucia Koch), Pompéia (Tatiana Blass), Santa Efigênia (Paulo

Telefone: (11) 3321-4400

suas canções e seu discurso.

da sua própria convivência com as muitas culturas de São Paulo.

Fotos: Divulgação

MAPAS INVISÍVEIS

com o abismo de classe em que vivemos hoje. E pede

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acontece

NOS PASSOS DO BRASIL TRAJETÓRIA CONTÍNUA DE UM PAÍS DE MUITAS IDADES

E

ntre os meses de agosto e outubro, o Itaú

17 de Outubro, às 15h00 e 19h30

Cultural recebe o evento Nos Passos do Brasil,

Companhia Ballet Stagium apresenta Coisas do Brasil

com apresentações voltadas para o público da

Trata-se de um retrato da história do país, da descoberta até

terceira idade.

a formação da elite na sociedade, inspirado na magia dos choros que nos velhos tempos emprestavam seu charme pelas

Composto por apresentações gratuitas dos grupos Nau de Ícaros,

rodas espalhadas pela cidade de São Paulo.

Ballet Stagium e Sarandeiros, “Nos Passos do Brasil” é promovido

pelo Clube A - associação sem fins lucrativos fundada pelo Itaú

24 de Outubro, às 15h00 e 19h30

Unibanco.

Grupo Sarandeiros apresenta Dança Brasil Uma ótica diferente sobre as festas e danças existentes em

O objetivo do evento é levar histórias e tradições brasileiras para

todo o país, trazendo quadros dos principais ciclos festivos

as pessoas da terceira idade.

nacionais, como carnaval, festas juninas, carimbó, lundu, xaxado, danças gaúchas, entre outros.

Fotos: Divulgação

Na ocasião da abertura, no início de agosto, o Grupo Nau de Ícaros apresentou “Cidade dos Sonhos”, uma ópera circense e poética

Nos Passos Do Brasil

que resgata o mito da Cocanha – uma terra fabulosa da prosperi-

Itaú Cultural

dade e da abundância, onde não existe, velhice ou morte.

Avenida Paulista, 149 - São Paulo - SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô)

Duas outras apresentações ainda estão agendadas:

Telefone: (11) 2168 1777

15


prosa

EU SOU O

Foto: Paula Cinquetti

SAMBA

O QUE SE CHAMA HOJE DE SAMBA DE RAIZ É ALGO QUE RETOMA A TRADIÇÃO NASCIDA COM AS ESCOLAS DE SAMBA CARIOCAS EM 1928. Por André Domingues Fotos Paula Cinquetti

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Fotos: Paula Cinquetti

prosa

A

s “raízes” do samba são como

de samba cariocas em 1928. Tem lá seus laços

pouco se envolveram com o movimento de

senzalas, os quilombos e os orixás que resplan-

a cidade do Rio de Janeiro, com toda a sua

as daquelas plantas de man-

com o samba baiano ancestral, sobretudo

retomada da velha tradição do samba. Tiran-

decem no imaginário das rodas. É, porém, um

desconcertante diversidade.

guezal: altas, finas, visíveis.

através da brincadeira de improviso do partido

do uma Portela, uma Mangueira ou alguma

recurso poético, não histórico. Do ponto de

Ficam tão à mostra, ao alcance

alto, mas estes dificilmente passam de vagas

outra das mais tradicionais, no trabalho

vista da constituição, as raízes do samba não

das mãos, que parecem vul-

lembranças. Afinal, a geração de artistas mais

ocasional e restrito das suas velhas-guardas,

neráveis. Não são. Mesmo recentes e urbanas

próxima das antigas tias baianas – Sinhô, Cani-

a imensa maioria passou ao completamente

– a origem do samba hoje praticado remonta

nha, Donga, João da Baiana, Patrício Teixeira e

largo, absorta nas tarefas de se adequar aos

ao Rio de Janeiro do final dos anos 1920 –,

por aí afora – dificilmente entra no repertório

padrões grandiosos dos desfiles televisiona-

essas raízes estão mais firmes do que quais-

das rodas atuais. Até mesmo Pixinguinha, tão

dos, atrair patrocinadores e vender fantasias.

quer outras na música popular brasileira. Basta

cultuado nos choros, costuma ser ignorado

Tão concentradas no business do carnaval, as

comparar o vigor do atual “samba de raiz” com

como sambista. O grande assunto do samba

escolas raramente se empenham em difundir

seus equivalentes na música sertaneja (a moda

de raiz acaba sendo, mesmo, a geração carioca

o samba – de raiz ou não – o resto do ano. É

de raiz) ou no forró (o forró de pé-de-serra). A

de Noel Rosa, Ismael Silva e Cartola ou os

o que mostrou o documentário O Samba que

se estendem só pela cultura bantu da região

população pobre e mestiça dos morros e dos

desproporção a favor do samba é imensa, seja

artistas que posteriormente a retomaram, como

Mora em Mim, de Georgina Guerra-Peixe,

Congo-Angola, mas também avançam longa-

subúrbios, mas também dominava os meios

em número de artistas, em repercussão ou em

Paulinho da Viola, Candeia, Martinho da Vila,

lançado no início deste ano. O filme, rodado

mente pelos solos ibéricos, com as heranças

de comunicação e a política cultural de Ge-

variedade de resultados. Basta dizer que além

Clara Nunes, Beth Carvalho e o grupo Fundo

na tradicionalíssima Mangueira, traz na boca

européias e mouras da cultura portuguesa.

túlio Vargas. Virou, inclusive, o representante

de artistas mais típicos, como Quinteto em

de Quintal. É nessa cadeia de precursores e

de uma moradora do morro a reveladora

Veja-se, por exemplo, que toda a estrutura me-

maior da música nacional. Como falar em

Branco e Preto e Teresa Cristina, o gênero tem

sucessores que se forma um quadro de referên-

afirmação de que “o samba para no carnaval;

lódica e harmônica do samba e, inclusive, boa

margem estando, assim, tão no centro?

atraído meio mundo da MPB nos últimos anos.

cias relativamente estável, fundamental para os

o funk tem toda sexta-feira”.

parte da instrumentação vieram da herança

Marisa Monte e Maria Rita que o digam.

anseios de identificação do público.

Outra saída mais poética do que histórica no universo do samba é a de tingi-lo com fortes

“O samba para no carnaval; o funk tem toda sexta-feira”

tons de marginalidade. Acontece que, entre o final dos 20 e o início dos 30, esse samba já não era algo tão pouco aceito socialmente como no passado. Acontece que, depois de ter caído nas graças da intelectualidade modernista, o samba carioca viveu uma situação ambígua: era praticado principalmente pela

portuguesa. As raízes do samba, enfim, não

Contudo, se está correto dizer que a tradição

O termo “raiz” no samba é algo que exige uma

são formadas em terras de além-mar nem

do samba é recente, urbana, com sensíveis

O que se chama hoje de samba de raiz é algo

É interessante notar, aliás, que as escolas de

reflexão maior. Uma tendência forte é procurar

em grupos transplantados, mas nesse solo

influências midiáticas e até políticas, tal cons-

que retoma a tradição nascida com as escolas

samba, ponto de partida dessa história toda,

as origens na africanidade, aproveitando as

comum que é o Brasil. Mais especificamente,

tatação não encerra a questão. Afinal, assim

19


Fotos: Paula Cinquetti

prosa

como os arvoredos de mangue, o samba mos-

A própria roda, como princípio de organi-

da em outras localidades. Boa parte do seu

maior ou menor frequência, essa ainda é uma

música nacional, difundido midiaticamente

tra uma insuspeita resistência às intempéries,

zação, é um elemento valioso da cultura

sucesso se deve a essa receita de roda, que

receita partilhada pela maioria dos sambistas

e amparado pela intelectualidade naciona-

donde achar que tudo é cenário ou encena-

popular, já que estabelece uma relação direta,

tradicionais, inclusive pelos de sucesso.

lista ajudam muito. Mas o fundamental é

ção desmerece a inteligência e a sensibilidade

horizontal, entre os participantes, evitando

de quem o pratica. É verdade que não se deve

a diferenciação hierárquica entre músicos e

mais apostar as fichas na ideia de um purismo

plateia. Daí sua capacidade de semear algo

redentor, mas ainda é tempo de retomar

muito caro ao imaginário popular brasileiro: a

o tema das raízes do samba com olhos e

noção de comunidade. Compor, tocar ou can-

ouvidos abertos para alguns traços culturais

tar para uma comunidade já formada é algo

profundos e difusos. Qualquer roda de samba

muito, mas muito diferente do dia-a-dia mi-

é rica nesses traços, tais como o destaque ao

diatizado da música profissional. Ouvir música

batuque sincopado, o acompanhamento com

no interior de uma comunidade, também.

palmas também sincopadas, o canto coletivo

Um ótimo exemplo disso é o Samba da Vela,

com preferência pelas regiões agudas, a

nascido na Zona Sul paulistana, no ano 2000,

dança requebrada e as temáticas de amor e

uma iniciativa das mais radicais no campo do

valentia, entre outros.

samba de raiz – e incansavelmente replica-

“O samba tem a capacidade de semear algo muito caro ao imaginário popular brasileiro: a noção de comunidade.”

que, dentro de uma rede de relações tão Apenas o samba, tem se mostrado capaz de

complexa como essa, os sambistas populares

sustentar esses elementos numa esfera de

não deixaram de investir na preservação de

consumo ocupada pelos grandes modismos.

uma série de traços culturais profundos. E

É curioso observar que todos os elementos

tiveram êxito. Quem pensa que o comercia-

aqui citados independem do samba para

lismo, a mídia, a política ou a academia são

existir. Bem podem ocorrer num coco, numa

necessariamente venenos letais para a cul-

congada ou em diversas outras manifesta-

tura popular, toma como vulneráveis demais

ções brasileiras. A diferença é que o samba,

as raízes finas e aéreas do mangue. Não são.

e apenas o samba, tem se mostrado capaz

Zeca Pagodinho não sobrevive apesar de to-

de sustentar esses elementos numa esfera de

dos os interesses que o cercam; vive a partir

formou e sustentou a comunidade ao longo

consumo ocupada pelos grandes modis-

de todos os interesses que o cercam.

dos seus 11 anos de existência. Aliás, com

mos. Na certa, o fato de ter sido elevado à

21


Foto: Arquivo pessoal de dona Lúcia Madre, viúva de José Madre, o “Zé da Caixa

prosa Uma das primeiras escolas de samba de São Paulo, a Escola de Samba dos Lavapés em 1937

SAMBA SP Por Edgard Steffen Jr.

Fotos Yves Barros e Vic Parisi

Comprei uma casinha pra mim e ela morar

Resolvi fazer um chá

Fui morar no pé da serra

Só não convidei tristeza

E levei felicidade para lá

Mas tristeza chegou lá

Tristeza não foi preciso convidar Pra comemorar o ano

Tristeza não foi preciso convidar.

(“Pé de serra” - Toniquinho Batuqueiro, CD Memória do Samba Paulista)

L

endo a letra acima ficamos imagi-

Olhando para São Paulo vemos um cenário

nando de que modo os cariocas

que nos surpreende. Escutar o samba paulista

como Cartola, Nelson Cavaquinho

é se defrontar com uma música que guarda

ou Zeca Pagodinho iriam se inspirar

um jeito próprio e de forte acento, fruto da

pelo chá das cinco? Essa herança da

mixagem de influências amplas: indígena, afri-

ocupação ferroviária desenhada pelos ingleses no estado de São Paulo no final do século XXI, é só um dos diferenciais do samba paulista. O samba sempre reconhecido pelo batuque, tem na poesia

cana e europeia. Crescida em meios distintos

“São Paulo é o lugar onde mais se toca, se canta e se renova o samba no Brasil”

outra força incontida.

migra da roça para a fábrica, trazendo para o samba essa identidade característica de quem é caipira de nascença e urbano de criação. Essa identidade muitas vezes não percebida, vem sendo

Ambos, batuque e poesia, revelam as origens

reenergizada pela juventude paulistana em di-

que o moldaram como uma arte especial.

versas manifestações e organizações na busca

Uma manifestação que envolve música, dança,

do espaço perdido na competição dos desfiles

comportamento e, principalmente, a socializa-

na Avenida e na programação musical das

ção para sua plena realização: roda, pagode,

mídias. Afinal, a realidade do samba paulista é

cordão, bloco, escola de samba, comunidade...

rica em batuque e poesia.

23


Foto: Vic Parisi

Foto: Yves Barros

prosa

Plínio Marcos.

ONG Kolombolo Diá Piratininga

Vindo de Pirapora, Sorocaba, Laranjal

migram para os grandes centros urbanos e

São Paulo chamava-se Dionísio, o deus grego

a festa de momo foi sendo “enquadrada” em

da Cuíca e Isaurinha Garcia. Mas se falarmos em

Paulista, Tietê, só para citar as cidades mais

vão construindo a cidade, trabalhando nas fá-

da celebração. Dionísio Barbosa, negro da

um espaço oficial e se afastando do cotidiano

Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde, Toniquinho

recorrentes, o samba de São Paulo finca suas

bricas e se agrupando para celebrar a batida

primeira geração de escravos livres que veio

da cidade, assim como os instrumentos musicais

Batuqueiro, Talismã, Sílvio Modesto, Jangada,

raízes de fora para dentro. Caipira do interior

dos terreiros ancestrais.

morar em São Paulo. Foi beber na fonte do

sendo substituídos pelo padrão e necessidades

Henricão, Vassourinha, Paulistinha, todos nomes

carnaval no bairro da Penha carioca, fundando

dos desfiles na avenida.

importantes para o samba paulista, vamos saber

rural paulista, campeado pela influência indígena e do ciclo cafeeiro, vem explodir como

Assim, seu ritmo é definido por Plínio Marcos,

posteriormente o Cordão Barra Funda em

manifestação no meio urbano. Não é à toa,

um dos maiores entusiastas do samba paulis-

1914, que mantendo as cores verde e branco

Hoje, o Sambódromo do Anhembi, deixa a festa

online. Da nova safra tem se destacado o Quin-

que Mario de Andrade tenha classificado de

ta, como: “samba de trabalho, durão, puxado

desde sua origem, se transmuta em uma das

simbolicamente às margens do Tietê, enquanto a

teto em Branco e Preto e, mais recentemente o

rural, o samba praticado no Estado.

para o batuque”, ou na opinião de Renato

mais tradicionais Escolas de Samba de São Pau-

cidade pulsa solene o seu dia a dia, sem ter que

Kiko Dinucci, mas são muitos os compositores

Dias, do Kolombolo: “mais no chão, como a

lo, o Camisa Verde e Branco. Não por acaso,

limpar as serpentinas e as lantejoulas na calçada.

do samba paulista em diálogo constante com

“São Paulo é o lugar onde mais se toca, se

dança dos índios”.

ser a Zona Norte paulistana o reduto de gran-

Rotina que tem sido alterada em parte pelos Blo-

as velhas guardas das Escolas de Samba, que se

canta e se renova o samba no Brasil”. Essa é

Samba de bumbo x de surdo; marcha samba-

de parte das Escolas de Samba paulistanas.

cos e Cordões, que ganham as ruas, não só da

reconhecem e são reconhecidos num relação

a afirmação de T. Kaçula, um dos expoentes

da x partido alto; metais x reco-reco, tambo-

capital paulista, como da carioca também. Nessa

harmônica e positiva.

da nova geração de sambistas paulistanos,

rim e agogo; porta estandarte x mestre sala

onda dos blocos, temos hoje um forte movimen-

desafiando a voz corrente de que São Paulo é

e porta bandeira; chocalho x repinique; as

rock e Rio de Janeiro é samba.

diferenças são muitas na ponte São Paulo-Rio.

São mais de sessenta grupos organizados na

O Arnesto nos convidou

Associação de Sambistas e Comunidades do

pra um samba, ele mora no Brás

Samba de São Paulo (ASCSS), 68 filiados da

Nós fumos não encontremos ninguém

UESP (União das Escolas de Samba Paulis-

(“Samba do Arnesto” – Adoniran Barbosa)

tanas), além da Liga das Escolas de Samba

“No samba, nossa Lapa é a Barra Funda”

muito pouco sobre eles, mesmo em uma busca

to da juventude da metrópole paulistana resga-

No sentido desse entendimento da história e da

tando o samba de raiz e o reinventando com

construção do novo, com fortes apelos de resis-

novas melodias e combinações. O Kolombolo, da

tência cultural expressos de maneira direta, é que

Vila Madalena, começou em 2002 com pouco

movimentos de resgate ao samba de raiz tem

mais de 100 pessoas e no último carnaval saiu

ganho força em todo estado paulistano. Num

com mais de 1.500 foliões cantando os temas

breve painel vemos na Capital: Samba da Vela,

Adeus, tá chegando a hora

do samba paulista, além de manter constante

Samba da Ponte e Samba de Todos, na Zona Sul;

Acabou o samba, adeus Barra Funda,

programação mensal no projeto Praça do Samba.

Samba da Tenda, em São Miguel; Samba da Fei-

de São Paulo com a presença das maiores

A poesia não é diferente, além dos temas

eu vou-me embora

Escolas de Samba da capital paulista.

universais de todo samba, como solidão,

Veio o progresso, fez do bairro uma cidade

Afinal, no Sambódromo, no dizer do mestre Seu

No interior temos: Pagode do Sobrado e Samba

ra, na Zona Norte; Samba do Livro, em Pirituba.

tristeza, amores perdidos, traz à tona palavras

Levou a nossa alegria, também a simplicidade

Carlão do Peruche: “Não existe carnaval, existe

da Arca, em Guarulhos; Panela do Samba, em

Contabilizando o número de bares em todo

próprias como chá, fubá, serra, garoa e tantas

(“Último sambista” - Geraldo Filme)

uma competição entre agremiações”.

Sorocaba, Afromix, em Campinas, Terreiro do

Estado de São Paulo, que harmonizam a clien-

expressões paulistas e paulistanas, abusando

tela na cadência do samba, vemos que essa

das conjugações verbais onde o verbo está no

O carnaval é a festa maior do samba. Em São

“Os caras ficam tocando maracatu de Pernam-

cultura e essa música, comprimida nas quadras

singular e o sujeito no plural numa mistura de

Paulo acontecia nas ruas de maneira espontânea,

buco, sem saber que eles tem uma cultura pró-

Convidamos todos a conhecer esse universo

de suas escolas pelo carnaval e nas rádios

aldeia, quilombo e continente europeu andan-

capitaneada pelos cordões, seguida pelas guerras

pria, atrás da sua casa”. Alerta o Renato Dias, do

do samba, expresso com garra, amor à camisa

pelo pop e sertanejo, se mantém como hit no

do todos juntos nas ruas da capital São Paulo.

de confetes, corsos de automóveis, fantasias as

Kolombolo, sobre o desconhecimento que ainda

e muito profissionalismo pelo joves músicos

mais criativas. Os cordões com as suas balizas em

impera sobre o samba das terras de Piratininga.

paulistas. Abaixo, mais referências para seu conhecimento e diversão.

coração dos paulistas.

Samba, em Araraquara, só para citar alguns.

No samba, nossa Lapa é a Barra Funda.

performance de ginasta e malabares à frente,

Conhecemos Adorinan Barbosa, cujo sotaque

O samba paulista começa a contar sua his-

Predestinação ou não, a figura reconhecida

cumpriam papel de liderança e aglutinação

ajudou a afirmação do samba caipira paulista. Al-

tória pelos negros das lavouras de café, que

como fundador do samba organizado de

em seus entornos urbanos. Gradativamente,

guns conhecem Germano Mathias, Oswaldinho

Esquente o chá e aumente o som.

25


Fotos: Yves Barros

prosa

UMA DUPLA DA PESADA DO SAMBA PAULISTA

R

enato Dias e T. Kaçula foram

Nascido na Vila Medeiros, na Zona Norte pau-

“O samba sofria com o desdém e o racismo,

parceiros e guerreiros do samba

listana, com família oriunda da Bahia e Minas

não era bem-visto pelas elites”, arrematando

de São Paulo, embora hoje nave-

Gerais, Renato sempre conviveu com o samba

com a importância dos espetáculos, que Plínio

guem em voo solo.

e a Umbanda, que frequentava desde menino.

Marcos realizou nos anos 70, “colocando o

Não é por acaso que o Kolombolo tem como

samba de São Paulo nos teatros”. “Balbina

Deixam um legado inestimável no resgate das

patrono Nho João de Camargo, o Exu Caveira

de Iansã”, de Plínio tem como trilha sonora o

velhas guardas das escolas de samba e no novo

saído do quilombo sorocabano do Cafundó.

samba paulistana. Mas foi em “Quebradas do

repertório que compuseram, gravaram e em-

Mundaréu” o momento mais marcante desse

prestaram até para sambistas consagrados como

Renato no seu resgate do samba e sambistas

momento, no espetáculo registrado em disco,

Toniquinho Batuqueiro cantar.

paulistas, muitas vezes, “deixados de lado pelo

com a presença no palco de Geraldo Filme,

Pavilhões das Escolas que adoram”, segundo

Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro.

No projeto “Memória do Samba Paulista”,

ele, tem um discurso afiado para narrar a

Renato e Kaçula são idealizadores e produtores

história do samba de São Paulo.

musicais. A ação pretende registrar os represen-

Ainda hoje o entendimento da sua relevância continua tênue. “Nos último 3 anos, nenhum

tantes da velha guarda do samba de São Paulo

Conta com brilho nos olhos sobre o Lava

sambista paulista tocou nas viradas culturais de

em 12 CDs. Já foram lançados os quatro primei-

Pés, primeira Escola de Samba de São Paulo,

São Paulo”, aponta Kaçula.

ros: Embaixada do Samba Paulistana, Toniquinho

fundada no dia 09 de fevereiro de 1937, por

Batuqueiro, Tias Baianas Paulistas, Velha Guarda

Madrinha Eunice e José Madre, o “Zé da

Kaçula é ativo na liderança do projeto cultural

da Escola de Samba Unidos do Peruche.

Caixa”, ambos já falecidos.

“Samba Autêntico” que está construindo na

Outros projetos tem acontecido nos últimos

No seu dia a dia, Renato além de músico e

formação. É vice-presidente da Escola de Sam-

anos, como o documentário “Osvaldinho da

compositor, realiza pesquisas, oficinas culturais,

ba Camisa Verde e Branco. E está preparando

Cuíca: Cidadão Samba” da diretora Simone

encontros, produções de CD’s e de shows, com

um novo CD.

Soul ou o projeto “É Tradição e o Samba

o intuito preservar e divulgar o samba paulista.

Renato Dias na sede ONG Kolombolo Diá Piratininga

T Kaçula fala sobre o samba paulista

Freguesia do Ó como um centro de pesquisa e

Para saber mais:

Continua...”, que reuniu sambistas de várias gerações em homenagem a Geraldo Filme no

T. Kaçula Plínio Marcos:

palco do Centro Cultural Banco do Brasil. Mas, tem muita lenha na fogueira do samba.

T. Kaçula é Tadeu Augusto Matheus, vem de

www.pliniomarcos.com

família de sambistas, seu pai José Roberto é Ambos, Renato e Kaçula, vem da Zona Norte,

pandeirista, os irmão na liderança de Escolas

Sociedade Amantes do Samba Paulista:

tem a história do samba paulista na ponta

de Samba Mocidade Alegre, Unidos do Peru-

www.sasp.com.br

da língua e respostas articuladas para as ques-

che e Pérola Negra. Liga SP:

tões políticas que envolvem o tema. Afinal, como eles afirmam, estão ai para virar a mesa

Nascido e criado na Casa Verde, Zona Norte de

à favor do samba paulista.

São Paulo é um protagonista ativo, que através

Renato Dias e o Kolombolo

www.ligasp.com.br

de sua intensa vivência no mundo do samba

UESP:

vem mexendo com toda a cadeia da música:

www.uesp.com.br

composição, produção, divulgação, shows, Renato é a face mais musical do Kolombolo,

seminários. T. Kaçula compõe, toca vários

Kolombolo:

esse grêmio de “resistência cultural” no dizer

instrumentos, produz músicos, articula com a

www.kolombolo.org.br

do próprio sambista, enquanto os demais

sociedade civil e o governo na busca de recur-

parceiros Max Frauendorf e Ligia Fernandes

sos, escreve artigos, além de ser da diretoria de

Memória do Samba Paulista:

cuidam de outros processos.

Escola de Samba.

www.myspace.com/memoriadosambapaulista

27


prosa

FEMININA RESISTÊNCIA CARIOCA

Por Thereza Dantas

R

O Samba é feito de múltiplas

dos compositores pelas mãos da Dona Ivone

média intelectual carioca nos processos de

de sertanejo e forró não faz muita questão de

e o reconhecimento ao samba. Quando saí da

raízes. Bahia, Rio de Janeiro, Ma-

Lara e se mantiveram fiéis às raízes nas vozes

redescobertas do samba.

ser diferente musicalmente. Nós, sambistas,

Penha (bairro da Zona Norte do Rio) em 1996

ranhão, Minas Gerais, São Paulo,

de tantas intérpretes como Carmen Miranda,

estamos tentando fazer arte!

e vim morar na Zona Sul, percebi o trabalho

mas não se pode negar que as

Aracy de Almeida, Clara Nunes, Beth Carvalho,

O samba está passando por uma fase de

mulheres foram motivo de inspira-

Maria Bethânia, Nara Leão, Marisa Monte,

renovação. Como você avalia a produção dos

Os sambas antigos eram feitos e cantados por

classe média!

Dona Inah, Fabiana Cozza, Mariana Aydar,

novos sambas? Citaria alguns artistas com os

homens. A participação de mulheres no samba

E acho que o poder público poderia fazer mui-

Teresa Cristina, Lucinha Guerra e Roberta Sá.

quais se identifica?

mudou algo na composição?

ta coisa pelos sambistas! Eles estão em idade

As pastorinhas, personagens importantíssimos

E é nessa resistência musical, que a intérpre-

O que tenho visto é muita gente cantando,

Sabe que eu gosto de cantar sambas que

avançada, a maioria é gente humilde, um

na história das escolas de samba, eram um

te e compositora Teresa Cristina, tem sido a

interpretando sambas, mas há poucos compo-

traduzem as vozes femininas? Gostei muito de

apoio social seria importantíssimo. Penso que

grupo de mulheres que inspirava os autores

melhor tradução do samba. Carioca do bairro

sitores. Há poucos e especiais, como é o caso

cantar o samba da Adriana Calcanhoto (Beijo

uma aposentadoria e um tratamento médico

dos sambas-enredos e a elas cabia escolher a

da Penha, ela iniciou sua carreira em 1998,

do Pedro Holanda e o Edu Krieger. A renova-

Sem) “vou a lapa decotada/viro todas/beijo

bacana, seriam formas de reconhecimento

melhor música para representar a sua escola

quando reuniu os músicos Bernardo Dantas,

ção de que você fala pode ser em função do

bem”, [cantarola] … Há poucos compositores

muito justas. Vejo que o MinC (Ministério da

na avenida nos dias do Carnaval. No terreiro

João Callado, Pedro Miranda e Ricardo Cotrim

movimento que fez ressurgir o samba na Lapa.

que falam pela mulher, lembro dos antigos

Cultura) e o Iphan (Instituto do Patrimônio His-

de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, mãe

com o objetivo de fazer um show frustrado

O samba estava esquecido, e pelas mãos dos

como Assis Valente e Chico Buarque de

tórico e Artístico Nacional) tombaram o samba

de santo, curandeira e cozinheira dos quitutes

em homenagem a Candeia. O show não

músicos foi recriado um espaço cultural no Rio,

Holanda. Eu mesmo como compositora, não

de roda da Bahia, porque não apoiá-los com

baianos, nasceu o primeiro samba, “Pelo tele-

aconteceu, mas a carreira de Teresa Cristina

que é a Lapa. Esse movimento saiu dos bares e

consigo escrever pensando em gênero, mas

aposentadorias especiais? Reconhecidos eles já

fone”, de Donga e Mauro de Almeida. Reza a

sim. Do bairro e dos bares da Lapa carioca, a

deslanchou pelas ruas e rádios do país. Então

gosto dessa possibilidade.... Sim, gostei de

são como patrimônio humano.

lenda que o terreiro de Tia Ciata era alvo de

artista cantou sambas com o grupo Semente e

acredito que pelas mesmas mãos esse “novo

cantar Beijo Sem e vejo uma possibilidade real

perseguições policiais e após um trabalho de

hoje defende as tradições e a modernidade do

samba” ainda vai aparecer.

nesse caminho.

“cura” na perna do então Presidente da Repú-

samba em outras cidades, outros países. Fruto

blica, Venceslau Brás (1914 a 1918), o espaço

de um movimento de resistência cultural que

Outros movimentos musicais - forró, sertanejo

O samba é um dos estilos musicais que repre-

Olha, eu sempre misturei tudo. Nunca gostei

não foi mais invadido. A pequena África do Rio

aconteceu na Lapa, reduto eterno do samba

- estão com arranjos bastante padronizados, as

sentam o país. Você acha que o poder público

da tradição pela tradição e também não sou

de Janeiro, como era conhecido do terreiro da

dos anos 90, os bares onde Teresa Cristina

letras muito parecidas. Você avalia que o samba

investe na cadeia da produção do samba?

só modernidade. A música brasileira sempre

Tia Ciata, pôde então respirar como um local

iniciou sua carreira, hoje são frequentados

consegue fugir dessa padronização?

O poder público sempre teve pouca participa-

teve essa cara misturada e eu sou da nova

de resistência cultural com suas rodas de sam-

por centenas de jovens e turistas que estão a

Graças a Deus!!! Mas acho que cada um escu-

ção na vida dos sambistas e do samba. Quem

geração de sambistas que revisita o samba.

ba que duravam dias e que recebeu composi-

procura das rodas de samba e de shows de

ta o que quer. Nessa mesma linha, há alguns

resgatou o samba nos anos 90 foi a classe

Eu não quero imitar os antigos, quero cantar

tores como Sinhô, João da Baiana, Pixinguinha

gente do porte da Beth Carvalho, Arlindo Cruz

anos surgiu o pagode paulista e creio que

média da Zona Sul. Aliás, quem resgatou o

com a minha voz, imprimir minha cara e

e Heitor dos Prazeres.

ou Diogo Nogueira.

alguns grupos conseguiram se firmar e criar

Cartola do esquecimento foi o escritor Sérgio

marca nessa história!

uma identidade musical, cito o Exaltasamba e

Porto, e outro que também deu sua contribui-

Fotos: Divulgação

ção, proteção e projeção desse estilo musical.

de resgate que o samba viveu pelas mãos da

Tradição e modernidade, o que há de cada um, no seu samba?

Mas já tem algum tempo que as mulheres

Dona de uma interpretação contida e limpa, a

o Alexandre Pires. Mesmo o pessoal dos gru-

ção para que o Samba não fosse esquecido,

Para saber mais:

saíram do papel de musas e subiram ao palco

sambista Teresa Cristina, conversou por telefo-

pos de axé da Bahia trataram de mostrar uma

foi o jornalista Sérgio Cabral. A classe média,

Site oficial da cantora e compositora Teresa

através da voz primeira de Clementina de Jesus

ne sobre essa resistência cultural, a carência de

preocupação com a qualidade de seus músicos

entre jornalistas, pesquisadores, intelectuais e

Cristina: www.teresacristina.com.br/

e Jovelina Pérola Negra, entraram na roda

novos compositores e a importância da classe

e sua música, mas essa corrente de bandas

estudantes da Zona Sul, sempre deu o suporte

29


Foto: Acervo Lucy Seki

verso

BARULHOS

NA TABA

DE COMO FINALMENTE SE COMEÇA A ROMPER O SILÊNCIO AO REDOR DA LITERATURA INDÍGENA 31


Foto: Acervo do Museu do Índio/FUNAI – Brasil

verso

Darcy Ribeiro com índios Kadiwéu em 1947, no Mato Grosso.

DARCY E OS ÍNDIOS O cineasta Zelito Viana tem um filme chamado

e conhecia as terras, fazeres, desejos e aspira-

sempre - com os habitantes dessa faixa con-

estudo abrangente das questões de terra, - luta

“Terra dos Índios” rodado em 1978, que mostra

ções dos índios brasileiros.

tinental de terra que os portugueses vieram a

e busca dos índios - seja como marco demar-

chamar de Brasil.

catório da luta pelos direitos indígenas - que na

como inúmeras comunidades indígenas Brasil afora tiveram suas terras roubadas e seus direi-

Darcy viveu de 1922 a 1997 e em vida exerceu

tos vilipendiados na triste rotina da predação

protagonismo em todas as áreas onde atuou,

“Os índios e a civilização”, que tem como subtí-

verdade são direitos humanos, o que nos parece claro mas é obscuro aos inúmeros fazendeiros

empreendida pelo homem branco. O título do

legando-nos além de um lindo romance com

tulo “A integração das populações indígenas no

e grileiros desse país gigante que continuam a

documentário cabe como uma luva no antropó-

temática indígena (“Maíra”) e os belíssimos

Brasil moderno”, é um clássico da antropologia

insistir na tese de que índio bom é índio morto.

logo, escritor, político, professor Darcy Ribeiro

“Diários Indios“, uma obra fundamental para

que lançado originalmente em 1968 e relançado

um homem que viveu muitas vidas em uma só

quem quiser conhecer o que se passou - desde

em 1996, continua atualíssimo seja como um

33


Acervo Lucy Seki

verso Os irmãos gêmeos Kwat “Sol” e Jay “Lua” Desenho de Wary Kamaiurá, 2006. Acervo Lucy Seki

Por Ricardo Soares

D

esde que aqui chegaram em 1500

Mas, para nossa sorte, no mercado editorial

ção dos Tamoios” de Gonçalves de Magalhães,

com as suas caravelas, roupas

pouco a pouco esse silêncio vem sendo que-

importante autor a difundir as histórias ao redor

malcheirosas, escorbutos,

brado, notadamente nos últimos anos com a

da cultura indígena a ponto de muitos acadêmicos

mareados e cansados da viagem,

aprovação em 2008 da Lei 11.645, que criou a

atribuírem a ele a criação de uma vertente literária

os portugueses tentaram vestir

obrigatoriedade de se tratar a temática indígena

chamada de “indianismo”.

os índios e a nossa história com outras vestes.

e afro-brasileira no currículo escolar brasileiro.

A primeira delas foi o silêncio, como já se nota

Assim, nomes como Daniel Munduruku, Graça

Também o índio “civilizado”, cordato, sereno

na carta de Pero Vaz de Caminha - que entre

Graúna, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Cristino

e romântico teve lugar no imaginário literário

o deslumbre e o escândalo com a nudez nativa

Wapixana estão ganhando mais visibilidade inclusi-

do passado sobretudo pela atuação e obra do

inaugurava uma forma peculiar de contar

ve com as compras governamentais, via PNBE,

cearense José de Alencar e a sua “Iracema”,

o que se passou.

o Programa Nacional Biblioteca da Escola.

a virgem dos Lábios de Mel, e “O Guarani”

A história contada pela versão deles, coloniza-

Alguns críticos podem argumentar que é ilegítimo

um lado, pasteurizou os nossos silvícolas (eita

dores, que erroneamente dizem ter descober-

fazer com que se conheça nossos autores de raízes

termo esquisito); por outro lado, deu a eles

to o que aqui já havia. Desde então existiu em

indígenas e as suas respectivas histórias dessa ma-

status de clássicos da nossa literatura.

relação aos índios e sua cultura uma conspi-

neira obrigatória.

com o idealizado casal Peri e Ceci - que se por

Também os rituais, crendices, lendas, histórias e

ração do silêncio. Os portugueses e brasileiros Mas, se ficasse a livre critério de “mestras”

culto aos mortos foram de alguma forma valoriza-

como as de São José do Rio Preto será que

dos nas nossas letras sejam pelos múltiplos relatos

Em meados de 2008, tive a sorte de mediar

se leria esse tipo de literatura? É bem provável

dos irmãos Villas Boas em “Xingu, seus índios e

um encontro entre o escritor indígena

que o silêncio perdurasse.

seus mitos” seja pelo talento extraordinário de

contam, os índios escutam passivos.

Antonio Calado no seu

Daniel Munduruku e o público numa tenda improvisada na feira do livro de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Crianças

“Desde então existiu em relação aos índios e sua cultura uma conspiração do silêncio”

que é o nome do ritual indígena que celebra os mortos e os traz de volta à vida. Fato é que quando começam a

afogueadas e mal

se extinguir inúmeras

educadas entravam aos borbotões e não respeitavam a fala pausada e didática do

antológico “Quarup”,

Na literatura, tradição antiga

línguas indígenas paradoxalmente se valorizam iniciativas como a da professora Lucy Seki, que está

palestrante. As professoras não continham a turba mirim e eu delicadamente pedi

Mas, justiça seja feita, não é de hoje que os índios

lançando um belo trabalho de resgate do idioma

silêncio em respeito ao escritor. Lembro

ocupam lugar nas nossas letras. No século XVIII,

e das narrativas míticas dos Kamaiurá que recebe

perfeitamente do olhar de censura que

mesmo antes foram personagens de relatos épicos

o sugestivo título de “O que habitava a boca dos

algumas “mestras” me dirigiram como

mesmo que impregnados do já aqui citado “olhar

nossos ancestrais”. Importante mesmo saber

se ofensivo fosse pedir silêncio às crianças

do colonizador”. Nesse contexto se enquadram

o que esses povos ainda tem a dizer para que

brancas que não respeitavam a fala do escritor

os poemas “A morte de Líndóia” de Basílio da

não fiquemos eternamente apenas com o relato

indígena. Daniel Munduruku ponderou

Gama (1741-1795) e “A morte de Moema” de

daqueles portugueses maltrapilhos que um dia

que as cidades e a nossa civilização com

Santa Rita Durão (1722-1794) ou ainda o relato

chegaram às nossas praias com a presunção de

tanto barulho perderam o senso e o sentido

em prosa “Cativeiro dos Índios” de João Francisco

terem descoberto o Brasil. O Brasil já havia.

do silêncio. Não suportamos o silêncio.

Lisboa (1812-1863) ou o famoso “A Confedera-

E era dos índios e suas lendas.

35


LUIS ERNESTO KAWALL O PATRIMÔNIO DA VOZ

Luis Ernesto Kawall é da primeira turma de jornalismo da Cásper Líbero, escola que conta a tradição da capital São Paulo e da Avenida Paulista, onde está estabelecida até hoje. Os dois, aluno e escola, são aqueles que fazem a diferença na monta da cultura nacional. De gênio inquieto, Luis Ernesto vai construindo pedaços da nossa história em seu percurso de cidadão e profissional. É recurso chave na criação do MIS

Foto: Nicolas Hallet

Foto: Yves Barros

Fotos: Divulgação

figuras

OS REGISTROS CULTURAIS

DE ISABELA CRIBARI

(Museu da Imagem e do Som) do Rio de Janeiro com o então governador Carlos Lacerda, com quem trabalhou. Seguindo para São Paulo, agora com o

Procedente de uma família de colecionadores de arte, a pernambucana, radicada em São Paulo e descendente de italianos Isabela Cribari desde cedo

governador Laudo Natel, São Paulino como ele, funda o MIS paulistano também. Mais recentemente funda também o Museu Caiçara, na cidade litorânea

convive com a paixão pela área cultural. Embora formada em psicologia, o cinema sempre esteve muito presente em sua vida e não demorou muito para

de Ubatuba, São Paulo.

ela enveredar pelo mundo do audiovisual ao participar de um vídeo institucional sobre uma pesquisa em psicanálise. Daí para a mais frequente atuação como documentarista foi um pulo: Isabela participou do Via Brasil, projeto audiovisual dirigido por Sérgio Bernardes enfocando a cultura nordestina com

Depois de participar da fundação de dois bastiões do registro de nossa identidade e de seus protagonistas, que são os Museus da Imagem e do Som, Luis

um olhar mais contemporâneo; integrou a equipe do Expresso Brasil, série de 14 documentários que retratava a visão de várias personalidades culturais

Ernesto cria a Vozoteca LEK, um acervo de quase seis mil vozes. Se o MIS carioca e o paulista são prédios importantes em seus entornos, a Vozoteca de

sobre diferentes partes do Brasil; e participou de outros projetos audiovisuais sobre cultura brasileira, exibidos, inclusive, no exterior; até, finalmente,

Luis Ernesto acontece na sala de estar do seu apartamento, localizado no bairro de Pinheiros na capital paulista. Nem por isso deixa de ser um dos museus

montar a própria produtora, a Set Produções Audiovisuais.

mais interessantes de se visitar em São Paulo, com considerável organização e acervo. O seu museu de vozes (vozoteca) coleciona declarações e frases de personalidades históricas do país e do estrangeiro. Começamos ouvindo Gandhi em seu último discurso; depois Muhammad Ali falando com a imprensa;

O destaque na carreira audiovisual resultou no convite para assumir, em 2003, a Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, cargo que ocupou até

em seguida Carlos Lacerda sempre lancinante e esbravejando nos microfones; vamos para o futebol com Leônidas da Silva, nosso eterno diamante negro,

setembro deste ano, instituição federal sediada em Recife e ligada ao Ministério da Educação. De lá para cá, a Fundaj vem produzindo trabalhos de relevo

contando como inventou a bicicleta, e assim, passeamos em uma manhã por muitas vozes, mundos e sonoridades. Como todo museu tem suas precio-

com cinema, artes plásticas, livros e vídeos educativo-culturais. Como amostras estão os projetos relacionados à questão do Patrimônio Imaterial como o

sidades, assim é a Vozoteka, com a primeira voz humana gravada em fonograma, ou sons das Copas do Mundo de Futebol. A lista é grande: Marechal

livro Inovação Cultural, Patrimônio e Educação (com textos que convidam a uma reflexão sobre patrimônio e musealização, tendo como foco a inovação

Cândido Rondon, Rui Barbosa, Santos Dumont, Washington Luiz, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Monteiro Lobato, Dalva de Oliveira, Orlando Silva,

cultural); o projeto Poetas do Repente (reunindo livro, cd e quatro dvds sobre o universo da cantoria nordestina); alguns vídeos participantes dos concur-

Vicente Celestino, Carmen Miranda e Corifeu de Azevedo Marques - e estrangeiras - como as de Thomas Edison, Sigmund Freud, Lênin, Adolf Hitler,

sos promovidos pela Massangana Multimídia Produções; e o Museu do Homem do Nordeste, vinculado à Fundação Joaquim Nabuco, e que, desde o seu

Benito Mussolini, Winston Churchill, De Gaulle, Gandhi, John Kennedy. A sala de Luis Ernesto está lotada de fitas cassetes, CDs, DVDs e discos de vinil;

surgimento em 1979, vem desenvolvendo projetos de documentação sobre comunidades tradicionais e seus patrimônios culturais.

organizados por assunto: cantos de pássaros, efeitos sonoros, esportes, fatos históricos, folclore, música brasileira, política e religião. A marca prolífica da atuação de Isabela Cribari é percebida independentemente de sua inserção como gestora pública. Mais recentemente, ela lançou o Para saber mais:

livro “Nordeste Feito à Mão” (Ed. Coqueiro), registro escrito surgido após a série de 11 documentários, resultado de uma expedição ocorrida em 2000

Basta ligar para marcar hora e aparecer para uma degustação de vozes e sons. Uma

Vozoteca LEK

e 2001 pelo Nordeste brasileiro, que percorreu 16 mil quilômetros com o objetivo de registrar o artesanato da região. Foram entrevistados 420 artesãos

audição particular de raridades e curiosidades, além do bom papo do Luis Ernesto

Praça Benedito Calixto, 86, ap. 62, Vila Madalena, São Paulo – SP.

nordestinos em 120 cidades. “Há achados do saber do povo que me fascinaram muito para essa expedição, para a gente contar essa história tanto de

contando a história de cada fonograma e das histórias que estas gravações guardam

Tel: (11) 3062-0015.

uma forma audiovisual, como contar também em livro”, destaca Isabela. Nordeste feito à mão, no formato livro, se configura num catálogo em edição

na sua Vozoteka. da Redação

E-mail: vozoteca@terra.com.br

bilíngue com expoentes do artesanato nordestino de várias vertentes e de diferentes técnicas. Muitos desses artesãos são verdadeiros patrimônios vivos

http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Ernesto_Kawall

que carregam consigo os saberes de um povo e expressam na sua arte as vivências populares. Nice Lima

37


Foto: Divulgação

figuras

Foto: Rafael Vilarouca

MUSEU CASA DO PONTAL O MUNDO DA ARTE POPULAR

O Museu Casa do Pontal é um espaço de 12 mil metros, situado na região oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ) que abriga mais de oito mil peças criadas por artistas populares brasileiros. São peças de barro, madeira e metal, colecionadas pelo francês Jacques Van de Beuque, um apaixonado pelo país e pelo povo que o acolheu na década de 40 e onde veio a falecer no ano 2000. “As obras do acervo foram coletadas não somente a partir de sua importância formal, mas também porque elas eram significativas e remetiam, por seus conteúdos, à história da vida, dos costumes, da religiosidade e da imaginação do povo brasileiro”, avisa a coordenadora, Angela Mascelani. O artista plástico francês, durante os 60 anos em que viveu no Brasil, tratou de reunir peças de Mestre Vitalino, Mestre Didi, Noemisa, Antonio Poteiro, GTO, Itamar Julião, entre outros artistas populares, que fazem parte desse importante acervo. Hoje, o Museu Casa do Pontal é dirigido pela antropóloga

SOCORRO LUNA A SOLTEIRONA DOS MIL MATRIMÔNIOS

Angela Mascelani que dá significado ao trabalho conceitual do espaço. O Museu possui diversos patrocinadores e parceiros, projetos editoriais e educacionais que mantém a discussão sobre a Arte Popular e seus artistas na pauta das mesas redondas e encontros nacionais e internacionais sobre o tema.

Entre as muitas figuras populares de Barbalha,CE, uma se destaca pela relação com as características casamenteiras ressaltadas durante a Festa de Santo

“Esses conceitos são, de certa forma, complementares, pois indicam a complexidade do próprio campo e apontam para um dinâmico e saudável interesse

Antônio. É a advogada Socorro Luna, conhecida na cidade como a “solteirona”, por ter participado de vários programas de TV destacando a festa e

pela diversidade cultural em nosso país”, avalia. É ela quem une o material, captado por Jacques Van de Beuque, ao imaterial, quando inicia projetos edu-

falando sobre a tradição das moças que recorrem às simpatias como último recurso na busca por um marido.

cacionais e editorias que tratam de revelar o protagonismo dos autores e suas criações no “mundo da arte popular brasileira”, nome de seu livro (Mauad Editora, 2002) onde analisa as peças do museu e seus criadores no seu contexto social.

“Aqui mora a solteirona mais famosa do Brasil”, lê-se em garrafais à porta da casa da senhora que prepara o chá da casca do Pau da Bandeira e, na barraca montada na quermesse durante a festa, vende os “kits” destinados a pôr fim à angustiante espera por uma condução ao pé do altar. No saquinho,

Para a antropóloga, o conceito de patrimônio imaterial ainda é muito novo e carrega dúvidas na sua novidade. Ainda que a noção de “patrimônio imate-

vendido a cinco reais, um cordel sobre as simpatias, fitinhas de Santo Antônio, medalhinha e, o mais importante, pedaços da casca do Pau, para que as

rial” não seja amplamente entendida (seja pela novidade ou pelo próprio termo que induziria equívocos, porque supostamente deixaria de fora a cultura

preces possam ser reproduzidas além-fronteiras, com o mesmo simbolismo de quem, em Barbalha, toca o mastro e pede ao santo um companheiro.

“material” das coletividades) temos visto que o efeito da acentuação da “imaterialidade” tem resultado na renovação do entendimento ampliado dos fenômenos culturais, inclusive dos resultados palpáveis por eles gerados”, explica. da Redação

Dona Socorro se esforça para, anualmente, ser a primeira a tirar lascas do pau, destinadas à produção de chá e à continuidade das simpatias que, garante, dão resultado. “Aqui é a grande esperança. Isso aqui vai dar tanto matrimônio!”, exalta, escorando-se em exemplos e apontando novidades em

Para saber mais:

sintonia com o noticiário. “Já teve casamento do Oiapoque ao Chuí. E agora, com a aprovação da união civil de pessoas do mesmo sexo, eles vão ver que

www.museucasadopontal.com.br

o chá da casca funciona também”, afirma, sem temer discórdias com a Paróquia. “Santo Antônio não tem preconceito”. Dalwton Moura

39


OBASHANAN DOA A QUEM DOER Mestre Obashanan se apresenta sem rodeios: “Alabê, baterista, percussionista, etnomusicólogo, escritor, umbandista e brasileiro. Doa a quem doer, arda em quem arder!! “. William do Carmo Oliveira se transmuta em Yan Kaô como músico e Mestre Obashanan como sacerdote de seu templo de umbanda Estrela Verde, em São José do Rio Preto, SP. Todos se unem em sua editora e gravadora Ayom, voltada para o cultura dos cultos afro-brasileiros, iniciativa que toca com sua mulher Vivian Lerner, a Yatacyara.

A ÁFRICA OESTE EM

LUIS KINUGAWA Saindo da Rodovia Anhanguera, na capital São Paulo, em apenas alguns minutos a autoestrada se transforma numa estradinha de terra, que nos leva até

Ayom a deusa da música e dos tambores, a Santa Cecília dos católicos, é a inspiração de Obashanan para seu deleite de colecionador e editor. O Acervo Ayom, criado para promoção das tradições musicais dos templos brasileiros de Umbandas, Encantarias e Nações é a fonte da extensa pesquisa realizada por Obashanan. O acervo já apresenta problemas da falta de espaço dado o volume considerável de LPs, CDs, objetos e tambores - entre os quais um africano de 200 anos, rústico e, embora conservado, guardando austero a sua idade centenária.

o Pico do Jaraguá. Lá vamos encontrar o Instituto África Viva. É nesse espaço que se encontra Luis Eduardo Ferreira Kinugawa sempre ativo, gravando, ensaiando, produzindo ou consertando o telhado. Um dos grandes percussionistas paulistas, é também um ativo produtor cultural, pesquisador e músico. Tranquilo, Luis Kinugawa tem convicções profundas e que as realiza, não importando o esforço. Sua paixão pelo tambor Djembê levou Luis a viver na África, onde buscou o maior conhecimento desse instrumento de percussão e da cultura que o reveste. Lá conheceu as agruras africanas nos campos de refugiados de Serra Leoa onde foi voluntário. Lá também conheceu sua mulher, Fanta Konatê, africana da Guiné, e onde os laços Brasil-África ficaram

Ancorado em blogs, a Ayom tem divulgado significativo volume de produtos culturais próprios, através de diversos registros fonográficos e livros publicados. Todos produzidos musicalmente e editorados pelo Mestre Obashanan.

definitivamente estabelecidos. O Instituto África Viva é uma ONG que tem seus olhos voltados para a Africa Oeste, nem sempre contemplada pelas pautas da imprensa. O Instituto é

“Terreiros de Aruanda”, pontos dos pretos velhos, “Karibokas”, índios que praticantes de umbanda, “Ayom Lonan” com 22 toques ritualísticos; “O senhor dos encantos”, com Mãe Iberecy de Campinas, SP; são alguns dos registros fonográficos gravados.

composto por núcleos: núcleo Fanta Konatê e a Trupe Djembedon que realiza shows, danças e performances. O Centro Cultural Famoudou Konatê promove capacitação de professores e oficinas de percussão, dança e culinária da Guiné africana, além de projetos de filmes e criação de acervo, e o núcleo Biomúsica Sem Fronteiras - que realiza musicoterapia, treinamentos para músicos e atendimento terapêutico.

Seu lançamento mais recente é sobre o temido e desconhecido “Exu – O Grande Arcano”,

Não importa se o público são os moradores de rua, ou pessoas hospitalizadas em instituições psiquiátricas, estejam em parques ou áreas públicas, lá

em uma edição luxuosa com o acabamento das folhas em dourado. “Para confundir com

Para saber mais:

uma Bíblia, assim o cara pode ir lendo no metrô, que ninguém vai pegar no pé dele”, nas

Editora Ayom

palavras do próprio Mestre Obashanan. O livro, segundo os editores, foi ditado pelo próprio

(11) 3499-6152

Para saber mais:

Exu incorporado e já está na quarta edição. Ainda vem acompanhado de um CD com

(11) 9761-8058

Instituto África Viva

cânticos invocatórios de várias “escolas” afro-brasileiras como Bantu, Iorubá, Quimbanda,

www.myspace.com/ayomrecords

Tel: 11 3368-6049 / 11 25013913

Umbanda e outras.

twitter.com/ayomrecords

skype : djembedon1 ou Africa Viva

ayomrecords.blogspot.com

MSN : institutoafricaviva@hotmail.com

acervoayom.blogspot.com

www.africaviva.com.br

Essa é a Ayom, esse é o Mestre Obashanan. Doa a quem doer, arda em quem arder!! da Redação

Foto: Yves Barros

Foto: Yves Barros

figuras

estará o Luis Kinugawa, dando o seu melhor para a música e a cultura afro-brasileira. da Redação

www.fantakonate.com

41


Foto: Yves Barros

figuras

ALFIO LAGNADO SURFANDO NA ARTE POPULAR Alfio Lagnado é surfista e empresário bem sucedido. É também um dos maiores colecionadores de arte popular brasileira, formando um painel amplo e significativo que compõe visualmente o seu dia a dia. Em sua casa, por todo lado, uma invejável quantidade de artistas importantes; no escritório mais telas e esculturas; na casa da praia, arte com temática marinha e mais; obras arquivadas, sempre circulando por espaços por onde Alfio vai movimentando a coleção para seu deleite sensitivo. Coleção gerada não só aos apelos do acúmulo, mas pela alegria de poder compartilhar e preservar um visual tão especial em diversidade, cores, formas, materiais e intenções da nossa arte popular. Visitar sua residência é o mesmo prazer de estar em um grande museu ou exposição. Lá nos deparamos com diversas abordagens artísticas. Em três dimensões temos Carrancas das mais bonitas; esculturas de Vitalino, GTO, Artur Pereira, Isabel Mendes da Silva, Agnaldo, Ulisses Pereira; ex-votos escolhidos a dedo; originais das xilogravuras de J. Borges; arte indígena, inclusive a arte plumária dos tempos possíveis, uma vez a caça pelo insumo estar proibida por lei para a preservação da fauna ameaçada pela grande demanda. Nas duas dimensões, telas e pinturas com a maioria de nossos grandes artistas: Maria Auxiliadora, José Antônio da Silva, Sérgio Vidal, Ranchinho, Agostinho B. Freitas, Mirian, Alcides e outros. Mais uma característica particular de Alfio, uma vez a pintura popular brasileira nem sempre ser entendida e absorvida pelos nossos colecionadores. E apenas citamos alguns exemplos de seu grande acervo.

“O espaço e as paredes da residência-galeria de Alfio falam por si. Uma explosão de beleza instigando todo o tempo os nossos sentimentos e sensações.” A curadoria de Alfio sempre foi seu coração de surfista, viajante das ondas e da natureza. Tocado pela beleza da arte do povo, só tomou conhecimento da importância das obras que adquiriu em suas múltiplas viagens, quando esteve na Exposição “Brasil 500 Anos” e viu os mesmos artistas ali representados. Lá começou a decupar o valor daquelas peças e telas compradas no seu contato com a arte do Brasil. A partir daí sua coleção e sua disposição para incrementá-la só cresceram. Tendo o mar como espaço de formação de um espírito, que aprendendo com as tradições vai construindo o novo, Alfio Lagnado, além das bermudas e pranchas de surf que negocia, apoia empresarialmente a promoção da arte e da cultura brasileiras. Com suas marcas mais conhecidas, a Hang Loose e Quicksilver, exporta para dez países da Europa e América Latina, também patrocina dezenas de atletas do surf, skate, wakeboard e outros esportes. É um investidor de projetos culturais que o sensibilizam. Foi assim com o longa-metragem “Fábio Fabuloso”, premiado documentário sobre o surfista Fábio Gouveia e, recentemente, com o livro “A arte visionário de Ranchinho”, uma publicação de tema inédito sobre o pintor popular Sebastião Theodoro Paulino da Silva (1957-2003). “A arte pura é a que vem de dentro, sem filtros, é isso que me sensibiliza, que me emociona. Essa é a minha busca e minha identificação com a arte popular brasileira”, define com propriedade o Alfio entre as belas obras de sua coleção. da Redação

Para saber mais: www.surfco.com.br

43


raiz da questão

Deputada Jandira Feghali e a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em reunião com artistas e produtores culturais no dia 16 de agosto de 2011.

LEIS DE PROTEÇÃO da Redação

Q

de Fomento e Incentivo à Cultura (Procul-

apoio a um ponto de cultura no sertão do

tura) e altera as regras de financiamento da

país ou em partes remotas da amazônia. Uma

Para o Ministério da Cultura, MinC, “mani-

área (PL 6722/10). O ato teve como objetivo

solução, segundo a deputada Jandira Feghali

festações favoráveis às políticas públicas são

marcar uma posição do legislativo contra

seria “criar mecanismos mais eficientes,

benéficas ao sucesso da pauta e colaboram

cortes orçamentários na área da Cultura,

com o andamento da mesma no Congresso”,

cujo Ministério já tem um dos menores or-

mas envia no dia 22 de agosto o seguinte co-

çamentos da esplanada apesar da presença

uais são os símbolos conheci-

como o PL 5798/09 (que institui o Vale Cul-

forte e crescente do setor da cultura no PIB

dos do país chamado Brasil no

tura); PEC 324/01 (que estabelece um gasto

nacional.

exterior? Essa pergunta é tema

mínimo na área pelos governos municipais,

para uma boa discussão, mas

estaduais e federal e o PEC 416/05 (que cria

No caso do PL Cultura Viva, a aprovação no

dois pontos não se pode deixar

o Sistema Nacional de Cultura, com a defi-

Congresso consolida este importante pro-

de reconhecer: o futebol e a

nição de obrigações que prefeitos, governa-

grama como política pública permanente de

música são dois “produtos de exportação”.

dores e o presidente da República terão com

Estado. O Cultura Viva é um programa criado

Então porque tanta dificuldade para se viver

o desenvolvimento do setor). Outro projeto

pelo MinC durante o governo Lula, cuja

da música, teatro, dança, artes plásticas, lite-

de interesse dos produtores culturais, que

ação estruturante e mais conhecida são os os

ratura, poesia, cinema num país conhecido pela qualidade de sua arte? Sob o sabor dessas dúvidas, os dias 16 e 17 de agosto tiveram um tempero especial para quem trabalha e vive na área da Cultura. Um ato de mobilização foi organizado para a aprovação das pautas da Cultura no Congresso Nacional, iniciativa da Frente Parlamentar de

pontos de cultura, que hoje reúnem em torno

“O assunto tem levantado discussões sérias entre os produtores, artistas e poder público.”

de suas iniciativas e atividades permanentes cerca de 8 milhões de pessoas, segundo dados do IPEA. Há problemas que devem ser levantados para a criação uma relação transparente entre instituições, produtores, artistas e o dinheiro público. Contudo, os mecanismos de conveniamento entre o governo

“A lei 8.666 tem critérios que valem tanto para a construção de uma ferrovia como para o apoio a um ponto de cultura no sertão do país ou em partes remotas da amazônia.”

municado aos Pontos de Cultura: “por ordem da Presidência da República atualmente cada Secretaria dos Ministério deverá ter somente um programa. No caso do MINC o programa proposto está no PPA 2012- 2015 - Programa N047 - CULTURA: PRESERVAÇÃO, PROMOÇÃO E ACESSO. E que os programas das Secretarias do MinC, como o Programa Cultura Viva, da SCC e o Brasil Plural, da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, SID se adequarão as ações prioritárias da nova secretaria, a Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural, SCDC/MINC”. O assunto tem levantado discussões sérias entre produtores, artistas e poder público. Entre adequações e respostas lacônicas do MinC, as redes sociais criam e agendam diversas campanhas e mobilizações virtuais

e a sociedade existentes para os pontos de cultura são baseados em uma legislação ina-

inteligentes e desburocratizados, como os já

ou presencialmente. São várias frentes

ghali (PC do B) e que tem encontrado amplo

dequada para o porte e o tipo de atividades

existentes em programas de transferências de

“brigando” pela Cultura do país mas sem

apoio e adesão da sociedade civil. Existem

desenvolvidas pelos pontos de cultura.

renda e recursos públicos investidos direto na

encontrar canais de diálogos entre eles. São várias frentes e a velha lição da História de que divisões só interessam ao inimigo.

Cultura, presidida pela deputada Jandira Fe-

diversos projetos de interesse da cultura que

aguarda votação na Comissão de Finanças e

A lei 8.666 tem critérios que valem tanto para

ponta, a exemplo do Bolsa Família (MDS) e

estão prontos para a votação em plenário,

Tributação, é o que cria o Programa Nacional

a construção de uma ferrovia como para o

do Dinheiro Direto na Escola (MEC)”, explica.

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Foto: Divulgação

raiz da questão

PRAÇAS DO ESPORTE E DA CULTURA:

AVANÇO OU RETROCESSO?

N

atividade produtiva, entre os quais a indústria naval, automobilística e a agroindústria Posso estar equivocado, afinal o plano estratégico para área de economia criativa prometido pelo Ministério da Cultura para agosto deste ano, ainda não foi ofertado à análise da sociedade. De toda maneira, a valoração dada segmento nos discursos do Ministério da Cultura, geram uma expectativa muito à frente do que R$ 4,8 milhões suportariam pagar. Como sujeito da atividade formativa, produtiva

Por Junior Perin

e artística do circo, quero ainda levantar outra

ão resta dúvida de que as “Praças

todas as outras áreas elegidas pelo Ministério

preocupação relacionada às Praças do Esporte

do Esporte e da Cultura” que inte-

da Cultura como alvo de investimentos terão

e da Cultura, a de que boa parte delas oferece

gram o Eixo Comunidade Cidadã

de dividir os 33% que restarem.

risco à sustentabilidade dos empreendimentos

do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – 2, constituem-se

circenses itinerantes. Não são poucos os atores

CULTURA ALÉM CONSAGRADO

DO

Por Fernanda Estima

O

Brasil mudou e mudou também a forma de ver e

em um dos exemplos mais citados, o Vídeo nas Aldeias, o desen-

fomentar a cultura, incluindo aí tudo que se produz,

volvimento de um projeto de inclusão digital de aldeias indígenas.

desde o artesanato até os grupos tradicionais de forró,

Instituído desde 2005, esse ponto conseguiu colaborar com a

passando pela união de forças entre descendentes de

formação de cineastas, roteiristas, diretores e editores índios. “O

quilombolas e pomeranos no Sul do país.

índio na frente e atrás das câmeras”, explica Vincent Carelli, reali-

O mais curioso, da proposta orçamentária de cul-

sociais do circo brasileiro que, por diferentes

em um importante investimento na construção

tura para 2012, é a área de Economia Criativa cuja

meios, vêm apresentando ao Ministério da

de lugares/equipamentos públicos de mobiliza-

previsão de investimentos/gastos com atividades

Cultura uma justa preocupação – a de que

ção sociocultural, integrando, como aponta o site

ligadas apenas a estudos, vai ficar com 1%

os municípios que apresentaram propostas

Cultura Viva do Ministério da Cultura – sempre rende conversas

do Ministério da Cultura, “num mesmo espaço

do orçamento público federal de cultura. Resolvi

ao programa de construção das praças estão

longas, relatos variados e conclusões diversas, mas há um consen-

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou os Pontos de

físico, programas e ações culturais, práticas

destacar esta área, por ser ela aquela que a Mi-

fazendo para áreas onde tradicionalmente se

so: a experiência pode mesmo fomentar o que já existe e estimular

Cultura como “espaços permanentes de experimentação, encanto,

esportivas e de lazer, formação e qualificação

nistra de Estado da Cultura Ana de Hollanda usa

montam circos nos municípios contemplados.

o surgimento de variadas formas de expressão cultural do Brasil.

transformação e magia”. São produtores de conhecimento, do mo-

para o mercado de trabalho, serviços sócio-

para consubstanciar o discurso que produziu para

Assim, quero crer que, para não contradizer a

-assistenciais, políticas de prevenção à violência e

apontar qual será a marca da sua gestão.

ideia essencial declarada pela Ministra de “criar

De 2003 a 2009, foram sete mil projetos financiados em mais

inclusão digital, de modo a promover a cidadania

Em entrevista à Folha de São Paulo datada de

condições para que o agente cultural possa viver

de duzentos editais públicos – que antes não existiam. É nesse

em territórios de alta vulnerabilidade social das

13/02/2011 a Ministra declarou sua intenção de

da sua produção com dignidade,” a menos que

contexto que nasce o programa e os pontos, tendo como pano de

Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, falava que os pontos eram uma

cidades brasileiras”.

rever “a forma de tratar a criação artística e cul-

os empreendimentos circenses itinerantes não

fundo a diminuição da segregação social no país, multiplicando os

espécie de “do-in” antropológico, massageando pontos vitais, mas

tural” afirmando que “existiam ações, iniciativas

sejam considerados agentes da cultura brasileira

espaços e as chances reais de milhões de pessoas.

momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo

A construção destas praças, sem dúvida

isoladas” e decretando que “falta uma política

e que as famílias e artistas que vivem das artes

alguma, tem uma significativa importância

consistente”. Ao cotejar tais declarações da

circenses não mereçam ter garantido áreas de

Condição para ser

para ampliar a rede de equipamentos públicos

Ministra com o orçamento previsto para o desen-

montagem como elemento essencial a dignida-

um ponto de cultura

de cultura, em ambientes onde ela coexistirá

volvimento da área de economia criativa que é de

de da sua existência, que o Ministério da Cultura

é estar em rede, a

com outras áreas essenciais à promoção da

R$ 4,8 milhões, não é difícil identificar a distância,

vai pronunciar-se sobre o seu compromisso com

fim de trocar infor-

cidadania plena e em territórios e cidades onde

entre o que se fala e o que efetivamente será feito.

a sustentabilidade de uma linguagem artística

mações, experiências

secular que vive a ameaça de extinção e até ago-

e realizações. Segun-

sequer existem equipamentos que permitam

zador desta ação. É a continuidade da cultura tradicional por meio

Falar sobre Pontos de Cultura – capítulo importante do programa

da utilização de técnicas e ferramentas digitais.

derno ao tradicional, englobando tudo que se possa alocar debaixo do guarda chuva da diversidade.

cultural do país.

“São produtores de conhecimento, do moderno ao tradicional, englobando tudo que se possa alocar debaixo do guarda chuva da diversidade.”

Para além das explicações mais românticas, os pontos são vistos como experiência para

esta relação entre cultura e desenvolvimento

Os parcos recursos previstos no orçamento para

ra só recebeu da gestão pública o recado frágil e

do as regras publi-

social e humano. O grande problema é que o

a economia criativa me fazem crer que a “es-

descompromissado expresso numa mesma frase

cadas no site do MinC, organizações e entidades interessadas “devem

Estado, são resultado dos debates ocorridos na preparação da cam-

Governo Federal através do Ministério da Cul-

tratégia” que o Ministério da Cultura pretende

padrão colocada na boca de todos os agentes

solicitar a criação da rede de Pontos de Cultura ao MinC, indicando o

panha presidencial de 2002, que culminou em momento importante

tura ao mesmo passo que propõe este avanço,

adotar para o desenvolvimento e fortalecimento

ligados direta ou indiretamente a gestão cultural

número de pontos a serem selecionados (uma rede é constituída por,

da história do avanço das políticas culturais. A ação do MinC muda

sinaliza com um retrocesso nas outras áreas que

dos empreendimentos criativos no Brasil, vai se

no Governo Federal: “vamos ver o que pode

no mínimo, quatro pontos) e dispor de contrapartida financeira mínima

o foco, levando em consideração que em cada lugar remoto do país

deveriam conformar os campos do investimento

limitar à mediação de relações entre organi-

ser feito”; quando o correto deveria ser: “não

de um terço do valor total do convênio a ser firmado”.

existe quem crie cultura de alguma forma, e, por isso, o Estado deveria

público para efetivamente colocar em prática

zações públicas e privadas que entendem a

vamos admitir que isso seja feito”. Afinal, se as

o discurso que se produziu de ter na cultura

importância do mercado de cultura como um

artes circenses não contar com o Ministério da

Mas o ponto não tem um modelo único, nem exige instalações

um eixo estratégico do desenvolvimento desde

campo de experimentação para a construção

Cultura como fiel depositário da sua existência,

físicas, programação ou atividade. Um aspecto comum a todos é

a gestão passada do Governo Federal.

de um novo modelo de desenvolvimento. Claro

com que outro órgão do Governo Federal ele

a transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder

Em 2003, Célio Turino levou sua experiência na Secretaria de Cultura

que não se pode desvalorizar tal estratégia,

poderia contar?

público e comunidade.

do município de Campinas (SP) para a Secretaria de Programas e Pro-

A diversidade brasileira

criar políticas de

reconhecer e dar sustentabilidade ao que já existe - mas que estava até aquele momento desprovido de qualquer apoio.

Um análise superficial da proposta orçamentá-

mas o desenvolvimento da economia criativa

ria enviada ao Congresso Federal, aponta que

requer recursos para investimento em inovação

JUNIOR PERIM - Produtor e ativista cultural,

para o exercício de 2012 o Ministério da Cul-

e tecnologia, bem como benefícios e incentivos

co-fundador do circo Crescer e Viver e Ponto

tura pretende investir 67% do seu orçamento

fiscais como aqueles, bastante generosos, que

de Cultura Crescer e Viver – site oficial:

Os exemplos são variados, já existe bibliografia sobre o tema, que

da soma de autonomia e progresso elevado à potência, que é igual a

nas Praças do Esporte e da Cultura, enquanto

o Governo Federal oferece à outros ramos da

www.crescereviver.org.br

também é objeto de teses acadêmicas. O programa possibilitou,

empoderamento/emancipação. Muito mais do que só cultura.

jetos Culturais do Ministério da Cultura. Entusiasta e um dos responsáveis pelo início de tudo, Célio desenha uma equação para explicar os pontos: PC = (a + p”) = E. Traduzindo: ponto de cultura é o resultado

47


raiz da questão O programa Cultura Viva fica com R$ 80

facetados brasis que se espalham pelo enorme

do os primeiros passos e iremos ao Fórum de

milhões dos R$ 800 milhões do orçamento

território nacional.

Política, Cultura e Juventude levar esta ideia”.

e contratação de mais dois profissionais por

Um livro que emociona pela simplicidade do

No Peru, Paloma Carpio, do projeto Mundo

região para acelerar os processos. Além de am-

relato e pela profundidade do significado da

Tarumba, vai na mesma direção. E já há muita

pliar e implantar novos pontões a partir de ação

ação dos pontos, que podem ser pautados

coisa acontecendo, apesar do pouco tempo:

conjunta com estados e municípios, o MinC

pelos interesses e cultura indígena, de idosos,

no último dia 21 de agosto, ocuparam as ruas

pretende lançar novas redes e vem atuando em

culinária, religião e até manicômios. Os pontos,

do bairro onde atuam, Nova Lima, e levaram

ações interministeriais. Nesse sentido, Marta

para Célio e outros entusiastas, provam que a

aos vizinhos e crianças espetáculos de teatro

anunciou várias atividades e editais com as

cultura é diversa e não tem cercas.

e música. “Cultura Viva para Nova Lima é o

do MinC. Foi feito investimento nas regionais

secretarias de Direitos Humanos, de Juventude e de Políticas para as Mulheres. Manisfestação em frente ao Congresso Nacional.

Demanda da sociedade

programa cultural central mais importante da Além de escrever - e muito - sobre pontos de

atual gestão. Esperamos fortalecer a produção

cultura, Turino tem sempre o que contar. Entre

artística existente na cidade e contribuir para

exemplos da vida real, como do nada um grupo

a construção de uma maior consciência cidadã

ergue um super projeto que atenda à juventude

na capital,” defende Paloma.

Em 2004 havia R$ 5 milhões disponíveis para os pontos de

estudos sobre os pontos de 2008 a 2010. O levantamento foi

O Coletivo Digital, grupo de São Paulo, foi

nas periferias, ou como idosos encontraram em

cultura. Esse valor passou a R$ 55 milhões em 2005, graças

feito diretamente com os pontos e a partir das respostas obti

idealizado no final de 2004 para levar adiante

um ponto a forma de mostrar à comunidade

Todos os contatos procurados retornaram

a uma emenda parlamentar inédita em termos de investi-

das será apresentada proposta de andamento do programa.

a experiência de seus integrantes nas áreas de

sua vida, dá também a receita de como resolver

mostrando não só entusiasmo, mas projetos

inclusão digital, disseminação e utilização do

os problemas administrativos do projeto.

e propostas e pelo visto se encaminha para

mento na área. O primeiro edital conveniou 210 inscritos, passando a 400, em 2005; 700 em 2006; mais de 2 mil

Marta havia adiantado o compromisso e prioridade para

em 2007, e em 2011 são mais de 3 mil conveniados pelo

os temas voltados para questões da gestão administrativo-

Brasil afora, atuando em redes sociais, estéticas e políticas.

-financeira dos pontos e acelerar a força tarefa, que já está

Os jovens do Coletivo Digital contam que o

de construção ou aglutinação de pessoas e

(*A reportagem “Cultura além do consagrado”

Segundo os cálculos de Turino, são 8 milhões de pessoas

trabalhando, para colocar em dia as prestações de contas

surgimento dos pontos de cultura, em 2003, foi

ideias, Turino também defende que os pontos

de Fernanda Estima, editora assistente, saiu na

envolvidas ao custo mensal de R$ 5 mil.

com problemas, e assim finalizar os pagamentos pendentes.

resultado de pressão para que o governo investis-

têm dimensão econômica e cita como exemplo

edição 92 da revista Teoria e Debate)

se no que já estava em andamento, apoiar o que

o Vale do Araripe, Ceará, onde a pré-história, as

No Almanaque Cultura Viva, editado pelo MinC, com o ba-

A então secretária, que integrou o conselho consultivo do

já acontecia, respeitando a diversidade brasileira.

pinturas rupestres e os fósseis fazem parte da vida

lanço das ações do programa na apresentação, o então mi-

programa Cultura Viva em seu começo, falou que, do ponto

A gestão de Gilberto Gil apostou nas “peque-

da comunidade. A movimentação é grande, os

nistro Juca Ferreira escreveu que “o governo compreendeu

de vista político, o governo federal espera introduzir em to-

nas” ações culturais, fazendo o país descobrir

jovens produzem de música a exposições e para a

Com enfoque na reflexão e no debate de temas

que a Cultura é uma ferramenta poderosa para a redução

das as suas áreas ações de combate à miséria, que é o carro

várias experiências, do rock ao candomblé.

economia da cidade, com a demanda de turistas,

pertinentes à esquerda brasileira e internacional,

das desigualdades e para a universalização de conquistas

chefe do governo Dilma. E a cultura não fica fora disso.

também gerou dividendos para Nova Olinda.

assim como polêmicas em economia, sociedade

software livre, e do conhecimento colaborativo.

ser um projeto de todo Mercosul. Além de serem espaços de continuidade cultural,

O ponto de cultura parte do princípio que se

“O ponto de cultura parte do princípio que se o governo investe, fazendo girar o ecossistema cultural das comunidades, gera cultura e público.”

Teoria e Debate agora é digital

e cultura, Teoria e Debate manteve como

o governo investe, fazendo girar o ecossistema

Para ele, seria simples dar continuidade ao pro-

princípio básico a pluralidade de opiniões desde

cultural das comunidades, gera cultura e públi-

jeto dos pontos. Lembrando que há problemas

o primeiro número.

co. O pessoal do Coletivo Digital vê os pontos

somente em 15% do total do projeto, Turino

de cultura “como resultado das demandas

defende a proposta de algo como o programa

Diante das profundas mudanças que a

da sociedade civil e da coragem de Gil, que

bolsa família. “Os pontos são como as famílias

internet tem provocado no panorama de

entrou no ministério para comprar brigas”. Mas

que o Estado deve amparar. Um cartão de micro

publicações, Teoria e Debate, uma experiên-

de qualidade de vida, permitindo ao cidadão comum o

“Em conjunto com outros programas, de outros ministérios,

relatam problemas, como atraso no repasse das

financiamento, com prestações de contas a

cia editorial bem-sucedida por mais de duas

desenvolvimento de suas capacidades, da inventividade

vamos atuar no fortalecimento dos pontos de cultura como

verbas, dificuldades nas prestações de contas e,

partir dos resultados e não da burocracia proce-

décadas, atualiza seu projeto.

e do senso crítico. Estratégica para a economia, tanto na

espaços nos quais os agentes culturais são protagonistas que

com o início da atual gestão, pouco acesso aos

dimental,” propõe.

participação do PIB nacional, quanto na inserção global

podem articular políticas setoriais”, explicou Marta, ponde-

gestores no MinC. Para o Coletivo, o ministério

do país no mercado internacional”.

rando que há uma variedade imensa de pontos de cultura.

precisava avançar na continuidade do projeto

O próximo passo será fazer levantamento de toda tipologia

e também encaminhar questões que são caras

Redesenhar o programa

existente entre os pontos.

ao movimento de cultura. Entre eles, a reforma

Há dúvidas sobre como ficarão os pontos de

revistas dedicam-se à produção de conteúdo

da Lei Rouanet e o projeto de lei de direitos

cultura, mas isso é só no Brasil, porque outros

para a web; redes sociais, blogs e sites levantam

Marta Porto foi secretária de Cidadania e Diversidade Cultu-

Redesenhar o programa, assim Marta Porto descreveu o fu-

autorais, que ainda não foi apresentado.

países da América Latina, como Guatemala,

pautas, rastreiam e neutralizam desinforma-

ral do MinC até o dia 1º de setembro. Sua demissão estava

turo dos pontos. “São três compromissos básicos: definição

Costa Rica, Argentina e Peru, já estão colocan-

ções. Nesse universo também há espaço

em vias de ser anunciada oficialmente quando finalizamos

do que fazem os pontos e sua atuação, política de fomento

O livro mais recente de Célio Turino, “um

do o projeto em ação.

para formulação, análise, debate e reflexão.

este texto. Mas antes disso, ela e sua equipe ficaram dois

mais apropriada, levando em conta as características regionais

radical, utópico e comunista”, como ele mesmo

meses trabalhando e discutindo as soluções de problemas

e dos projetos de forma a pensar alternativas de sustentabi-

se define, “Ponto de Cultura – O Brasil de baixo

Billy Ochoa, gestor cultural comunitário do Co-

revista da Fundação Perseu Abramo (www.

e a ampliação do programa Pontos de Cultura.

lidade, além da implantação real do pacto federativo

para cima”, apresenta uma sensível radiografia

lectivo Caja Lúdica, da Guatemala, relata com

teoriaedebate.org.br) torna-se um instrumento

são apresentados por Marta como o que virá para o futuro.

de como são e o que fazem os pontos de cul-

animação a construção da proposta para fora

mais acessível, ágil e dinâmico, chegando a

Em setembro será divulgado o resultado da segunda fase

E, também, a consolidação de legislação para garantir

tura de Norte a Sul, de Leste a Oeste, exemplos

do Brasil. “Estamos iniciando esta construção na

seu público de forma mais eficiente. Por isso,

do termo de cooperação assinado com Ipea, englobando

as iniciativas que expressem a diversidade nacional”.

variados e que de fato “des-silenciam” os

Guatemala e na América Central. Estamos dan-

agora é mensal.

Atualmente, os caminhos para a circulação da Ocupando a América Latina

informação, bem como a construção da pauta diária passam pela internet. Os jornais e as

Ao oferecer seu conteúdo na internet, a

49


A (RE) CRIAÇÃO DA CULTURA POPULAR

Por Carlos Henrique Machado Freitas

Q

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

raiz da questão

uando andei de viagem pelo Nordeste e me dediquei especial-

Churrasqueiras de diferentes desenhos na exposição permanente do Pavilhão das Culturas Brasileiras.

mente em conhecer a musica-

da Redação

lidade da região, me interessei desde logo pela feitiçaria. Isso

O

Pavilhão das Culturas Brasileiras,

fruto do amadurecimento da museologia e da

que o Pavilhão não caísse na armadilha de ser

aberto em abril de 2010 dentro

museografia em geral, que se reflete também na

um espaço depositário de lembranças esque-

do Parque do Ibirapuera em São

parte dedicada à arte popular. O desenvolvimen-

cidas. “O Pavilhão das Culturas Brasileiras está

Paulo, é fruto de embate de ideias

to do pré-projeto do Pavilhão foi de dezembro

voltado para o diálogo entre as culturas e para a

e conceitos e propostas e projetos.

de 2007 a abril de 2008. Foi retomado sob a

valorização das culturas dos estratos populares. A

Mas o que não é fruto de embates na formação

coordenação da jornalista Adélia Borges no final

proposta é mostrar, no mesmo espaço, a cultura

da Cultura Brasileira?

de 2009 e, em abril de 2010, a exposição “Puras

da periferia das grandes cidades e das sociedades

Misturas” materializou os conceitos do projeto.

indígenas, por exemplo”, explica a jornalista.

do Brasil foram adornadas por obras onde os

O CONSELHO DOS TAMBORES

tambores foram testemunhados como uma

O que há de diferente entre o início de dois sé-

Nosso processo dialético permanentemente

(cerâmicas, roupas, gravuras, pinturas, esculturas,

Guimarães Rosa porque ela expressa com poesia

Com a promessa de que o prédio passará por

sólida carta de resistência. Em alguns momentos,

culos distintos para o planejamento do desejado

reconstruído por definição a partir de nossa

etc.), 2.200 fotografias, 400 registros sonoros e

essa característica fundante da cultura brasileira,

reformas para as adequações necessárias a partir

a opressão a esta espécie de conferência de sons

futuro do Brasil depende, sobretudo, de uma

cultura não aceita que os atores hegemônicos

9750 livros e documentos, grande parte reunidos

que é a miscigenação”, explica Adélia Borges.

de setembro de 2011, segundo projeto elabora-

era lógico, porque feitiçaria e

música sempre andaram fundidas uma na outra. Um autor esotérico apelidou mesmo a música e a alquimia de “filhas mais velhas da magia”. Mário de Andrade. Música de Feitiçaria no Brasil. Desde os primeiros contos as relações sociais

Dono de um acervo de cerca de 3.600 objetos

“Tomamos emprestada essa linda expressão do

advertia que, por trás daquelas batidas hipnóticas

reforma prática nas nossas relações institucio-

nos imponham uma obediência alienada,

pelo folclorista Rossini

existia um trabalho sério e científico que daria

nais que hoje sofrem uma aglomeração de

subalternizada e hegemoneizada como quer a

Tavares de Lima, que

caráter definitivo a uma civilização que se

técnicas contemporâneas para o “exercício da

SEC – Secretaria da Economia Criativa do MinC,

fundou o museu do

expandia todos os santos dias num projeto

inventividade”. Como disse Milton Santos, há

conduzida por um mercado cego, indiferente às

folclore em São Paulo

do pelo escritório de

“Tomamos emprestada essa linda expressão do Guimarães Rosa porque ela expressa com poesia essa característica fundante da cultura brasileira, que é a miscigenação”

Pedro Mendes da Rocha, com a aquisição de obras de artistas como Poteiro, Artur

que continuava com os pés descalços no chão,

no fundo dessa baixa visão uma tentativa de

heranças e às realidades dos lugares e da socie-

na década de 40. Com

mas com o compromisso de trabalhar feito

realizar a mesma história a partir dos vetores

dade como é típico da visão de troco miúdo dos

a montagem da Mostra

um guardião das tarefas de conversão onde os

“de cima” para que as classes dominantes rea-

gestores do capitalismo corporativo.

do Redescobrimento,

indicadores buscariam uma forma de datilografar

lizem a nossa história a partir de um comando

em 1999, o Museu do

tratados que seriam a própria referência biblio-

em que os vetores “de baixo”, ou seja, a

As nossas realidades gritam por um período

Folclore deixou a OCA

gráfica de uma nação de tambores.

sociedade volte a um período anterior de toda

histórico, gritam pela totalidade do Cultura Viva

e durante mais de dez

a nossa metamorfose com o mesmo grau de

que tem, como idealizado, as mesmas concep-

anos ficou entre o esquecimento das autorida-

Tratando de celebrar a cultura mestiça, dentro

Indígenas, sob a curadoria de Cristiana Barreto

docilidade que as primeiras expedições civilistas

ções Andradinas, em que a cultura não é vista

des e a defesa dos folcloristas, antropólogos e

do Pavilhão Armanda Arruda Perreira, nos 11 mil

e Luis Donisete Benzi Grupioni, iniciando no dia

como negócio, mas como principal ativo do

historiadores preocupados com o destino do

metros quadrados projetado pelo arquiteto Oscar

10 de setembro, nesse um ano e meio de vida,

Imaginar tudo isso para ter uma interpretação do mundo e do lugar onde estamos agora, no

nos impuseram.

Pereira, Lorenzato, Mestre Galdino, José Valentim Rosa, Maria Lira e José Bezerra e a exposição ArteFatos

Brasil para nos impulsionar a um modernismo

acervo. Foi nesse embate que surgiu a proposta

Niemeyer, os coordenadores entenderam que

o Pavilhão das Culturas Brasileiras já recebeu

acima de tudo, de buscar uma outra história

Neste início de século se há uma nova divisão

econômico do século XXI, onde o desenvol-

da Secretaria Municipal de Cultura de montar

tradição e modernidade, que popular e erudito,

grafiteiros, indígenas, mestres da cultura popular,

diferente do totalitarismo da mídia. Eis a nossa

internacional, temos que observar o que nos

vimento seguiria o sentido da amálgama da

em um dos prédios do Parque do Ibirapuera, o

periferia e centro são nomes diferentes para uma

filósofos, antropólogos, jornalistas, poetas, entre

Pavilhão das Culturas Brasileiras.

mesma cultura. Ainda com alguns problemas

tantos brasileiros que fazem, no dia a dia do

sentido de fortalecer a busca pela cidadania e,

tarefa urgente, pois os gigantes da comunicação

oferece a herança conjunta existente nas cul-

Semana de 22 que criou um círculo de luz e

trabalham mais do que nunca para transfor-

turas populares solidamente estabelecidas pela

impulsionou o Brasil do século XX.

mar tudo em objeto de mercado como se em

vontade e pelo poder do povo. Deste modo,

nenhum lugar as comunidades fossem formadas

com uma estrutura dotada de movimento pró-

ligados às questões de infiltrações no prédio e

seu trabalho, a cultura popular brasileira. Afinal,

Em meio a discussões burocráticas e conceituais,

de guarda de objetos do acervo, o trabalho e a

segundo Adélia Borges, “a arte popular está

Carlos Henrique Machado Freitas

o Pavilhão das Culturas Brasileiras, tornou-se um

preciosa colaboração de Cristiana Barreto, Mar-

sempre se renovando, não se estagnou.”

celo Manzatti, Maria Lúcia Montes, José Alberto Nemer e Vera Cardim, criaram propósitos para

por pessoas onde tudo é imposto pelo senso

prio, o Brasil pode ser um dos principais atores

é músico e ativista cultural -

dos espaços com uma proposta e programação

comum e pelo pensamento único.

das novas soberanias globais.

www.myspace.com/carloshenriquemachado

bem diferente de outros espaços ligados ao tema

51


patrimônio

TRADIÇÃO, SAGRADO E PROFANO, PELAS RUAS DE BARBALHA

UMA DAS MAIS EMBLEMÁTICAS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR TRADICIONAL, A FESTA DE SANTO ANTÔNIO DE BARBALHA, NO CEARÁ, UNE ELEMENTOS SAGRADOS E PROFANOS, EM UMA SINGULAR E INSTIGANTE APROXIMAÇÃO Por Dalwton Moura Fotos Rafael Vilarouca

53


E

Fotos: Rafael Vilarouca

patrimônio

pifania, emoção, intensidade.

Tudo começa com o Corte do Pau, aos 13

centenas de orgulhosos “carregadores do

Os festejos incluem trezenas, missas, quer-

foi lançado o documentário “Festa do

Multidão, expectativa, celebração.

dias do mês de maio, marco primeiro das

Pau”. Todos sob a voz de comando de Rildo

messes, leilões, apresentações folclóricas,

Carregamento do Pau da Bandeira de

Esforço, alegria, participação

reverências da região ao santo mais popular

Teles, o “capitão do Pau”, que, momentos

festas populares e uma vasta programação

Santo Antônio”, do cineasta cearense

popular. Ou, em uma palvra,

do País. Em tempos de atenção com a

após a impressionante derrubada, em uma

musical – das bandas de forró de maior

Rosemberg Cariry, com apoio do Instituto

tradição. A Festa de Santo Antônio

natureza, a árvore é escolhida cuidadosa-

clareira aberta no Sítio São Joaquim, festejou

de Barbalha, no Ceará, atrai centenas de

mente, em comum acordo com as entidades

ter conseguido impedir a queda de outra

milhares de pessoas à região do Cariri, no

responsáveis pela proteção ambiental,

árvore. “Usamos cordas e conseguimos

sul do Estado, para rituais que se renovam

mantendo a característica da festa, mas

evitar derrubar outra rama branca, que

e reinventam a cada ano. Calcada na reli-

contando com o plantio de 100 mudas

estava muito perto”, detalhou o homem

-giosidade popular, oficialmente legitimada

de árvore, por parte da Prefeitura, como

que carrega, além do peso do fardo e do

através das homenagens ao padroeiro do

medida de compensação.

comando dos demais, na tarefa entremeada

município, a festa tem seu lado “mundano” com os shows que ajudam a atrair moradores de cidades e mesmo estados vizinhos, além de barbalhenses radicados em outras paisagens, que se reencontram anualmente para as festividades. Também marcadas pelo apelo das simpatias casamenteiras e

de cansaço, calor e cachaça, toda a tradição

“Tudo começa com o Corte do Pau, aos 13 dias do mês de maio.”

pelas cores vivas da cultura popular, com

do Pau da Bandeira.

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-

“Sob os olhares de nada menos que 350 mil pessoas, e fincado em frente à Igreja Matriz.”

nal (Iphan), que reconheceu a festa como patrimônio cultural brasileiro. Se o caráter casamenteiro de Santo Antô-nio dá o tom ao longo de toda a festa, com as várias simpatias que prometem “desencalhar” até mesmo as mais desalentadas moças, o Dia dos Namorados é um dos momentos de destaque.

Após o corte, o futuro Pau da Bandeira perma-

repercussão comercial a sutilezas como

Mas beleza mesmo se vê no dia 13 de

nece secando no local conhecido popularmen-

a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto,

junho, quando o encerramento da festa

te por “cama do Pau” na entrada do sítio. De

do Crato, passando por grupos como

é marcado pela procissão, ao fim da tarde,

lá, foi levado pelos carregadores, no dia 29 de

o pernambucano Quinteto Violado e os

com a imagem de Santo Antônio percor-

maio, sob os olhares de nada menos que 350

jovem-guardistas Águias de Barbalha, em

rendo em carro-andor as principais

a apresentação de quase uma centena de

Este ano, o Pau da Bandeira foi uma rama

mil pessoas, e fincado em frente à Igreja Matriz

atividade desde os anos 60, com muitas

ruas da cidade, ante a presença dos

grupos folclóricos, do reisado ao maneiro-

branca de 23 metros de comprimento, com

de Santo Antônio, onde sua presença, até o

histórias para contar, em uma antro-

moradores dos distritos e comunidades

-pau, das telúricas bandas cabaçais aos

estimadas duas toneladas e meia, conduzi-

13 de junho, reiterava que a cidade estava em

pofagia cultural pré-tropicália que se

mais distantes, emocionando-se na

misteriosos penitentes.

das ao longo de seis quilômetros por duas

festa, em louvor ao santo.

estende à atualidade. Este ano, também

reverência ao padroeiro dos pobres.

55


Fotos: Rafael Vilarouca

patrimônio

Renovada tradição

“Eu pequeno, minha mãe já trazia. A gente vê a procissão chegando na cidade, dá uma emo-

Entre os carregadores do Pau da Bandeira, a des-

ção muito grande, uma vontade de participar. E

contração e a euforia se somam à emoção. Gente

a cada ano vai renovando. Lá em casa já são três

como Francisco Cândido Barros, autodenominado

gerações” testemunhava Marcos Antônio Silva

guia turístico-cultural, que há 38 anos toma parte

Francelino, sem esconder o sorriso por participar

nas festividades. “Venho todo ano e trago o baião

da festa.

pros carregadores” conta Francisco, citando o

“A euforia é visível no rosto dos carregadores e de quem acompanha o momento.”

A euforia é visível no rosto dos carregadores e de quem acompanha o momento. Em clima de confraternização e de espontânea manifestação de alegria pela continuidade da tradição, muitos brincam contando piadas e jogando terra uns nos outros. Em meio ao público, muitos fazem questão de tocar o mastro. Como Antônio Reginaldo Bezerra, o “Região” que levou o filho Antônio Roberto, de apenas 10 meses, para tirar foto sobre o tronco caído no chão, entre brincadeiras: “Ele é o ‘Raminha Branca’”. Este ano,

prato típico cearense, feito com arroz e feijão,

a sacrificada jornada dos carregadores, iniciada

e exaltando com orgulho “Todo o folclore e a

ainda na manhã do 29 de maio, só encontrou

riqueza da cultura de Barbalha. A gente par-

término após as 21 horas, quando o Pau da

ticipa com muita alegria, sempre. É uma coisa

Bandeira foi erguido, sob aplausos e fogos, ao

que vem desde menino, de família” comentou

fim de uma cuidadosa operação, no pátio da

Roberto Maguila, 40 anos, que desdeos doze

Matriz. Para ser visto, tocado, fotografado. Tátil

comparece às festividades.

tradução da tradição.

57


políticas

A ARTE E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Atividades desenvolvidas pela Fundação Crear Vale la Pena em Rosário, Argentina. Por Christian Saez Fotos Divulgação

P

or não menos de três décadas novos paradigmas foram criados

e Transformação Social. Esses movimentos procuram seus pares e geram

com uma força incomum nos países emergentes. Novas ideias

políticas públicas que promovem o continente cultural. Um bom exemplo

sobre a economia, a sociedade e a cultura, efeito da eterna

é a criação e organização dos Pontos da Cultura no Brasil que fez surgir a

gravidade das economias desenvolvidas e um centro de ideias

Rede Latino-Americana de Cultura, onde se articulam pessoas e referências

das “periferias do mundo”. Ideias desafiadoras dentro de uma

culturais, como Inés Sanguinetti, Eduardo Balan, Blandon Jorge, Carpio

realidade de grande pobreza e fragmentação social. Mas como surgiu

Paola, Patrícia Cornils e gestores culturais da Argentina, Colômbia, Peru,

esse pensamento sobre a crise do Estado e as ações criadas nas periferias

Brasil. Eles trabalham principalmente nos setores de vulnerabilidade social

DE ESTADOS EM CRISE

do mundo? Essa ruptura de pensamentos aconteceu em silêncio nos bair-

onde através do teatro, da dança, da música e da comunicação, estão

ros de várias cidades latino-americanas, espaços de resíduos de diversas

realizando diversos programas e projetos de arte e organização. E essa

épocas, e começaram a respirar sua arte. Nada tradicional, pelo menos em

grande cena cultural americana está acontecendo ao mesmo tempo e

sua formação, combinado com uma “necessidade natural” das ideias de

neste momento!

Serviço:

Começou nas pequenas cidades, bairros vizinhos, grupo de pessoas, todas

Da Argentina, socióloga e coreógrafa, diretora / fundadora do Crear Vale la

O texto original em espanhol pode ser lido no Portal RAIZ. (www.revistaraiz.com.br)

sedentas de mudanças e cuja nova atitude cultural é conhecida como Arte

Pena, organização que “promove a educação artística, produção artística

expressão e de ação. E assim surgiu a comunidade, um espaço de resgate de novos pensamentos, mudanças, valores, cores e sons novos.

Assim conta Inés Sanguinetti, da cidade de Rosario (Argentina), a 300 km de Buenos Aires, onde está realizando workshops para jovens e adultos.

59


Fotos: Divulgação

políticas

Inés Sanguinetti, coordenadora da Fundação Crear Vale la Pena.

e organização social através do acompanha-

Como foram as reações a essas alternativas nas

O que a Arte recupera em territórios de grande

mente. É uma fase posterior do processo mas

há um programa nacional e na província de

mento do desenvolvimento territorial, bem

comunidades?

pobreza econômica?

contamos com o apoio de pessoas como o

Buenos Aires chamado Pontos de Cultura.

como a construção redes multissetoriais e

No início é difícil. Começamos nosso

A possibilidade de ter uma comunidade

Celio Turino (ex-secretário da Secretaria da

Há um orçamento, que tem aumentado nos

parcerias, e que foi entrevistada via e-mail.

trabalho em arte e transformação social nas

reconhecida socialmente! Recuperar a dig-

Cidadania Cultural do Ministério da Cultura

ministérios da cultura nacional e provincial,

comunidades de bairros muito pobres da

nidade, a capacidade de sonhar! As pessoas

nas gestões Gil/Ferreira) que está girando na

mas o investimento ainda é insuficiente. Por

Grande Buenos Aires, e percebemos que as

nunca esquecerão de momento vitais como

América Latina. Graças ao trabalho dele junto

exemplo o projeto Pontos de Cultura argentino

A arte e as organizações sociais geram uma

as experiências estéticas. A primeira ação é

aos Pontos de Cultura no Brasil, observamos

começou com um orçamento de dois milhões

estratégia que sugere uma “transformação

recuperar a capacidade de viver plenamente.

uma construção política e entendemos isso

de pesos. Mas precisamos de pelo menos

Sabemos que nem todos os que vivem em

como um “farol a seguir na América Latina.”

260 milhões de pesos para trabalhar com as

situação de vulnerabilidade serão artistas.

Montamos uma campanha e uma plataforma

organizações dos povos e da cultura em todo

Primeiro, tentamos que aqueles que querem

continental para a ação em onze países ao

o continente. Este “milagre” vai fortalecer o

O que pretende a Arte e Organização Social?

social”. A arte por si só não produzirá mudanças sociais. Mas os programas de arte e cultura ligados às comunidades criam novas instituições que podem sofrer processos de transformação. Tem como objetivo construir um novo paradigma no patrimônio “arte, educação e social”. A palavra que melhor indica a combinação de arte e estratégia social da organização é a “transformação social”.

“A toda esta nueva actitud cultural determinada al cambio se le llama Arte y Transformación Social.”

Como foi a experiência de Crear Vale la Pena?

ser artistas o sejam, depois mostramos que expressão artística é um trunfo para que as pessoas com interesses, habilidades e profissões muito diferentes usufruam dessa possibilidade de manifestação. Como é a experiência de trabalhar com o Estado?

processo do Brasil que foi a inspiração, porque

“Logramos que el Parlamento del Mercosur sancionara la primera ley de Puntos de Cultura sin Fronteras.”

infelizmente o governo Dilma Rousseff vem retirando os investimentos nos Pontos de Cultura e enfraquecendo um movimento. Diante disso, o trabalho na América Latina tornase a força motriz por trás da “ordem pública” do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, mais que a própria política de governo no Brasil.

O primeiro estágio foi o desenvolvimento de

pessoas iam aderindo aos poucos, até que a

É muito interessante quando você trabalha

“centros culturais” como um espaço de lider-

massa crítica fosse gerada e o projeto crescesse

com o Estado. Ela dá uma possibilidade de

ança juvenil no contexto de vulnerabilidade

exponencialmente. Nessas localidades há

ação que você não possui quando trabalha

social. A segunda etapa foi a construção de

muita impotência, perturbação social e uma

sozinho. Por outro lado, envolve conhecer

um programa de formação artística profissional

certa incapacidade de imaginar sociedades

novos “códigos” que algumas organizações

destinados aos jovens sem acesso a oportuni-

integradas, por exemplo, cidade e campo.

não conhecem mas que temos que conhecer

longo de 300 organizações que estão articu-

herdeiros da arte que transforma a lógica

dades desta qualidade de formação. A terceira

Existe pouco diálogo, movimento, participação

para poder nos comunicar. É mais ou menos

ladas e trabalhando dentro e fora de cada

de “desenvolvimento local”. Onde a função

etapa foi o desenvolvimento de uma formação

e contatos entre as pessoas de localidades

como juntar contextos de pobreza com

país. No Parlamento do Mercosul aprovaram

central é o desenvolvimento do indivíduo. O

de formadores. Agora estamos focados no que

muito próximas, que deveriam criar projetos

oportunidades, bailarinos com músicos ou

a primeira lei de Pontos de Cultura Sem

prazer é algo que acontece durante a ação de

chamamos “a construção fora do território

regionais de “empoderamento”.

antropólogos com gerentes de negócios.

Fronteiras. Estamos impulsionando essa política

desenvolvimento e não é esperado como um

legislativa em vários países, alguns dos quais

produto final.

original”, o desenvolvimento de um programa

O trabalho da Rede Latino-Americana é uma transformação social que vai da periferia para o centro? Sim, exatamente. Todos os movimentos são

de arte e desenvolvimento local, para tentar

Nada disso acontece naturalmente e tudo deve

Como estão acontecendo essas mudanças

foram reforçadas por ações coletivas. Mesmo

gerar fora das grandes cidades da Argentina, a

ser estimulado fortemente para se alcançar

culturais e políticas?

que ainda não tenhamos conseguido montar

construção de novos circuitos culturais.

algum resultado.

Estamos tentando mudar as políticas ultima-

como lei em nenhum país, na Argentina já

61


ensaio poesia

VOMITEMOS

SERVIÇO: “Os Dentes da Memória – Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e uma trajetória paulista de poesia” Camila Hungria e Renata D'Elia

TOUJOURS Q (TRECHO FINAL DO POEMA AUTOMÁTICO DE PIVA E WILLER - 1965)

Editora Azougue Preço: R$38,50

uatro poetas desterrados de sua época. Roberto Piva,

A jornalista cultural continua: “Sabíamos de uma série de histórias rebeldes,

Claudio Willer, Antonio Fernando de Franceschi e Roberto

algumas engraçadas, que poderiam compor uma espécie de anedotário

Bicelli, são paulistas e vivem São Paulo de uma forma bem

e dar um “sabor” especial à história mas, além de contá-las, procuramos

diferente dos seus contemporâneos separados da dicotomia

contextualizar a criação poética e oferecer ao leitor os subsídios para en-

da direita x esquerda. Queriam viver o que escreviam, vivem

tender a vivência, a agitação cultural e a atuação artística da turma”.

o que escrevem, escrevem, nunca pararam. Somente

Roberto Piva não vive mais o que escrevia.

Agora a “turma” invade a seção Ensaios da revista RAIZ., dedicada a fotografia, com suas palavras de transgressão. Transgressão continuada.

O livro das jornalistas Camila Hungria e Renata D’Elia “Os Dentes da

Vomitemos sempre.

Memória – Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e uma trajetória paulista de poesia” eram os mestres de suas vidas. A autora Renata D’Elia explica como surgiu o livro: “ começamos a estudar esse grupo em 2007 e fizemos um TCC em Jornalismo em 2008. Este TCC deu origem ao livro. O que nos levou a estudá-los era a combinação irresistível entre uma poética nada convencional no Brasil e a não separação entre poesia e vida”. 63


ensaio poesia

Roberto Piva 25/09/1937 a 03/07/2010

São Paulo’s Improvisation

Libelo

Ruas do meu São Paulo,

Wo Exército da Salvação:

A culpa do insofrido,

“Não acham os senhores

Onde está?

que Deus está em toda a parte?”

Mário de Andrade

_Por isso mesmo não está em parte alguma,

De um bar qualquer

grito minha inocência pagã...

do Largo do Arouche

“Malditos sejam os que...”

assisto São Paulo passar por dentro de mim

Escondo-me do mau agouro.

imerso em paisagem cinza-úmida

Duas garotas

pela “água-benta das garoas monótonas”

em rancheiras azuis

como disse Mário de Andrade.

adolescem na calçada

Do bar recorto no asfalto umedecido

fugidas da neurose territorial

o olhar dos pederastas

da pequena-burguesia

mariscando colegiais farfalhantes nas esquinas.

paulistana.

O cheiro morno dos hamburgers

O peso da solidão

assalta-se

me espreme

como uma náusea íntima

para fora de mim.

desprendida do vapor da alma.

Recomponho-me na noite

Doces olhos das loucuras simples.

não dando chance

“Mais um gin, todavia...”

ao mar interior

Escorrego pela noite

que urra de tristeza.

Não mais trarei justificações Aos olhos do mundo Serei incluído -pormenor esboçadoNa grande Bruma. Não serei batizado, Não serei crismado, Não estarei doutorado, Não serei domesticado Pelos rebanhos Da terra. Morrerei inocente Sem nunca ter Descoberto O que há de bem e mal De falso ou certo No que vi.

cavalgando

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ensaio poesia

Claudio Willer 02/12/1940

Mais Uma Vez mergulho no amor

A Palavra

com a cega convicção dos suicidas penetro passo a passo declarar réu confesso

vocês não entenderam nada, vocês não sabem nada poesia não é querer escrever bem

poesia é névoa

sem

o áspero ruído do gume de diamante sendo testado por dois

outra familiaridade nas coisas

um núcleo raivoso anterior à Queda

tudo é conivência e signo o espaço

estou falando de filosofia, de essência,

o Marquês de Sade nem precisava daquele teatro todo

o que aquele bando de malucos fazia na rua àquela hora

o que sei é onde penetrei, o telefonema que traz lembranças de trinta anos atrás, de ontem, de agora, seu som a vibrar neste ar parado de noite antes

a outra noite, aquela (no HC, minha pressão caiu, e depois

com um cuidado enorme, pesando cada palavra, para não me

que fala ao transformar-se em memória

- Gnone

mundo acordando para ver que espécie de confusão era essa,

poesia é escrever

a realidade

o conhecimento animal

uma exploração do desconhecido pelo corpo, através do corpo,

é ela dizer: “como você me revoluciona por dentro”

que se reduz a traços da presença

poesia é o que sempre soubemos

daquelas janelas abrindo-se todas ao mesmo tempo, todo

poesia é dizer

o mundo

poesia é isso, é isto, também é aquilo, é agora

carro) (se houvesse cedido, levávamos tudo)

ainda tive que dar a notícia aos amigos)

agora formas de lembrar-se

poesia grossa (cacete rombudo, que tal essa imagem?)

armas a 80m. De distância de uma delegacia (eu esperava no

poesia é noite

esta calma permanência dos objetos

universidade contra esses desta,

especialistas em arrombamento na vitrine daquela loja de

poesia é luz

e sinto

algo bem melhor do que abriga de scholars, aqueles da outra

do disparo de revólver verdadeiro,da janela, no automóvel

poesia é som,

aberta pelos encontros dos corpos

poesia é porrada

poesia é velocidade

que ia passando por aquele alvo escolhido ao acaso,

opaca

conseguir parar

para depois reler e dar risadas, imaginando o espanto de quem vier a ler o que escrevi

turva

de fumaça enchendo o quarto, todo mundo a dar risadas

poesia é o que eu ainda irei relatar em prosa poesia é o que ainda pretendo escrever

nesta região misteriosa

de

uma extensão do gesto

as coisas matéria de evocação qualquer coisa treme dentro da noite como se fosse um som de flauta e a cidade

mais uma tempestade

se contorce e se retrai MAIS UMA VEZ ao abrir-se para este turbulento silêncio de olhar frente ao olhar pele contra a pele sexo contra sexo

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ensaio poesia

Roberto Bicelli Nasceu em algum momento do século XX

Antonio Fernando de Franceschi 1942 Natal

Profissão de Má Fé

pergunto ao olho

Os poemas devem ser gordos

que vê:

e ter penas

o que me trava

como os frangos

no limitar da festa?

os frangos úmidos dos quintais

Livrai-nos Deus da Corrução

Silêncio sem cultivo

os belos frangos

Do Chaos da Anarchia

na boca que não abro?

que ciscam o chão &

Da Excecionalidade

Gosto que não gosto?

bicam os pés de urtiga

Tenhamos Tacto y Tecto

Trago que não trago?

rasgado o peito

Façamos Gymnástica

está o coração

Combatamos a Infecção

pobre balão

A Sciência a Sucção

Sonho desfeito

Sítio do Caminho

ante a mesa posta:

Tyco Ticho No Fubrahel

da hora nua

águas sulcando fendas

sangue suor e nostalgia

Pas du tout W

esta

seixos polidos

amar é passar o dedo

Aplainemos a Língua

não tiro efeito

e galhos hirtos pelo chão

numa agulha de vitrola

De Pycos Phalésias e Promonthórios

nem qualquer resposta

resvaladas nas vertentes

as poças d’água

Circunspecto Aspecto

esparso leque das graminhas

as flores ásperas

Evitemos Italianizmos, Francezismos, Españolismos

sob as frondes

os poemas frouxos

Y ultimamente o Abril Portucalense

verde espessura

cordas soltas de celo

Sejamos....fotográficos

aflorações

esse som

Optimistas

vertigens e serpentes

que vem de dentro

Sociológicos

e mais além

soprado pela boca indizível

Nostálgicos

o mistério intocado

que tentamos saber

Sem nevroses nem Zunzuns

das nascentes

que tentamos traduzir

No afã de que o flautim

essa onomatopéia delirante

abafe o Uivo

que nos obriga a dizer

Que vem de Nós

Eu te amo

Para mim.

quando queremos sussurar Ben Close dinamite & sempre teus lábios matam.

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Serviço:

bens de raiz

Livro “A arte visionária de Ranchinho” - textos de Antonio Fernando de Franceschi, Oscar D’Ambrosio e Roberto Rugiero – Editora RAIZ. Quanto: R$ 60,00

C

“Grande colorista, observador sensibilíssimo da realidade, mas trilha um caminho próprio, onde o movimento e a cor definem o momento emocional.”

Por Roberto Rugiero

om textos de Antonio Fernando de Franceschi, Oscar D’Ambrosio e Roberto Rugiero, está sendo lançado o tão aguardado livro sobre a obra do artista Sebastião Theodoro Paulino da Silva, o Ranchinho.

Nascido em 1923 no Município de Oscar Bressane e falecido em Assis, também no Estado de São Paulo, em 2003, Ranchinho criou cerca de 3000 obras, uma parte delas de excepcional qualidade. Equiparado a José Antonio da Silva, pelo nível de sua criação, Ranchinho teve três obras recentemente adquiridas pelo Pavilhão das Culturas Brasileiras,

A ARTE VISIONÁRIA DE

RANCHINHO

embrião de um museu destinado à cultura popular, já instalado no antigo prédio do Prodam, no Parque do Ibirapuera, na capital São Paulo. Deficiente físico e mental, o artista teve uma existência muito difícil, à margem da sociedade, até ser recolhido por seu irmão Antonio e reintegrado à família. Acometido de exibicionismo, sofreu inúmeras agressões: foi preso algumas vezes, perdeu todos os dentes, viveu só e abandonado em ranchinhos da periferia, daí seu apelido. Analfabeto e com deficiência de fala, Ranchinho criou algumas das mais originais imagens da arte brasileira. Nenhum artista dedicou tanta atenção aos animais domésticos como ele: galinhas, cães, cavalos, gatos aparecem com frequência em seu trabalho. Outro de seus temas favoritos, ao qual voltava constantemente, são os circos, onde também deixou uma obra incomparável. Ranchinho foi descoberto no final da década de 1960 pelo corretor de seguros e poeta José Nazareno Mimessi. Perambulando pelas ruas da cidade, o artista costumava distribuir aos conhecidos desenhos que fazia à noite, em seu mísero refúgio. Um dia, o corretor, que passou a frequentar a Praça da República - onde travou contato com vários artistas populares -, comprou um jogo de

Fotos: Divulgação

guache e pincéis e incentivou Ranchinho a fazer um trabalho mais elaborado. Em pouco tempo Ranchinho produzia obras de surpreendente beleza e simplicidade

Numa edição conjunta entre a RAIZ. e a Galeria Brasiliana, de São Paulo, com o apoio

que o projetaram como um dos mais interessantes casos

da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura (MinC), a obra pode ser adquirida

de expressão artística espontânea ocorrido entre nós.

nas melhores livrarias, ou pelo Portal da Revista RAIZ ( www.revistaraiz.com.br).

71


bens de raiz ‘ang, ymawara ‘ang ore poroneta akawe’eng ko’yt. Ore ‘ypya poroneta, a’ehera ‘ang oja’uwara okome ko’yt, ikawe’eng wemyminõmera upe. Omanõm, amoa wa’yrera upe ikawe’eng. A’ea wite warera te ‘ang akawe’eng a’ang wejote ko’yt, ‘anga pupe, anga pupe kõ. A’ehera te’ang, ore remyminõmera okwaha korine wã, wetep ore poroneta ‘ang akawe’eng wejote ko’yt, ‘ame kõ.

KAMAIURÁ

Kanutary (Koka) “As histórias que estou contando agora são histórias muito antigas, histórias de nossas origens. Elas vêm sendo passadas de geração em geração, contadas pelos avós para seus netos. Quando os avós morrem, outros contam as histórias para seus filhos. De modo similar, eu vim contar, para que as nossas histórias fiquem registradas na máquina. Assim, nossos netos kamaiurá, todos, poderão conhecer as histórias que eu vim aqui contar.”

A publicação do livro é uma iniciativa da FUNAI e do Museu do Índio, no âmbito do Programa de Documentação das Línguas Indígenas.

Fotos: Acervo Lucy Seki

O

que habitava a boca de nossos

Oito narrativas, tradicionalmente transmitidas de

próprio olhar dos Kamaiurá sobre si próprios,

ancestrais” é o resultado de

forma oral, foram registradas e traduzidas a partir

a sua maneira de estar no mundo. Além dos

mais de quarenta anos de

do relato dos monoretajat, os “Senhores das

mitos, o leitor conta com um passeio histórico,

pesquisa da linguista Lucy Seki

Histórias”, e auxílio de diversos índios. As histórias

um diálogo promovido com a bibliografia

(UNICAMP), a maior especia-

são ilustradas por desenhos feitos pelos índios,

existente sobre o tema. A autora empreende

lista do mundo nas línguas Krenak e Kamaiurá,

e acompanhadas por uma contextualização inicial

também uma análise sobre diferentes traços

e que em 2010 foi eleita membro honorário da

e diversas notas etnográficas, as quais aprofundam

da organização social, da indumentária, da

Linguistic Society of America (Baltimore).

a leitura, esclarecendo ou detalhando diferentes

caça, peça e agricultura. Aborda as caracterís-

aspectos socioculturais do povo kamaiurá.

ticas da língua e da narrativa mítica, e conta

Trata-se de uma coletânea bilíngue (Língua

de que forma se deu a pesquisa e a organi-

Portuguesa e Kamaiurá) de narrativas míticas

Os mitos remontam a cosmologia kamaiurá,

zação da coletânea, seus principais desafios

dos índios Kamaiurá, habitantes das margens

retratando eventos fora da experiência direta

e dificuldades. No final do livro, há também

da lagoa Ypawu, na área atualmente denomi

dos falantes da comunidade, situados no

um glossário com os principais termos kamaiurá

nada Terra Indígena do Xingu, região nordeste

passado e transmitidos pela tradição, eventos

que aparecem nos mitos.

do Estado Mato Grosso.

esses que fazem parte da construção do

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bens de raiz

Serviço: Exibição da série “Sobre a Congada de Ilhabela” no CNU - Canal Universitário de São Paulo e pelo número11 da NET, 71 da TVA analógica e 187 da TVA digital – Mais informações no site da TV USP: www.usp.br/tv/

C

ongada é uma encenação

Foram gravados os bailes da Congada de 2004

TV USP, integrante da Coordenadoria de Comu-

apresentada em espaços públicos

a 2010 (a Congada sempre se apresenta no 3º.

nicação Social da Universidade de São Paulo.

(ruas, praças), desde a época da

fim de semana de maio), além de outras mais

Trata-se portanto de um trabalho aprofundado

escravidão. Esta encenação inclui

de trinta visitas à ilha fora da época da Congada,

e de longo fôlego, interdisciplinar, unindo

enredo, personagens, figurinos,

que contou com a ajuda dos pesquisadores

saberes diversos da Universidade de São Paulo

diálogos, músicas instrumentais e cantadas,

Vagner Gonçalves da Silva (antropologia da USP,

através de consultorias e colaborações na

coreografias. De origem banto, mistura

especialista em religiosidade afro-brasileira),

pesquisa e roteiro, apoios de diversas editoras,

português arcaico com palavras em quimbundo.

Mourivaldo Santiago (letras clássicas e vernácu-

entidades, instituições e comerciantes, e das

Essa manifestação ocorre em todo o país, com

las, USP), Ana Pereira (pesquisadora portuguesa,

prefeituras e secretarias de cultura de Ilhabela

diversos nomes, e por iniciativa de Giovanni

colaboradora na pesquisa de documentos

e de São Sebastião, e a colaboração das comu-

Cirino, que começou este trabalho enquanto

históricos obtidos na Torre do Tombo, Portugal).

nidades negra e caiçara do litoral norte do

fazia seu mestrado em etnomusicologia, foi

estado de São Paulo.

produzida a série “Sobre a Congada de Ilhabela”

O trabalho “ Sobre a Congada de Ilhabela” é

junto com a TV USP.

uma série de 7 documentários produzidos pela

CONGADAS DE

CAIXEIRAS DA FAMÍLIA MENEZES Serviço:

Cópias do CD serão distribuídas gratuitamente a 1.450 instituições educacionais

ILHA BELA A

de São Paulo e São Luís do Maranhão. Mais informações podem ser obtidas no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho (98) 3218-9924, ou no site da Associação Cultural Cachuera! (www.cachuera.org.br) ou pelo telefone: (11) 3872-8113 / 3875-5563

s Caixeiras do Divino são respon-

No período elas também ministraram uma

maranhense, entre elas a tradição dos toques

sáveis por conduzir os rituais desta

oficina para mulheres, com ensinamentos de

das Caixas do Divino Espírito Santo, mantida por

bela manifestação do catolicismo

toques e cânticos relacionados à Festa do Divi-

Dindinha, Zezé, Graça e Bartira.

popular. Presentes em todas as

no. Seguindo a tradição maranhense, esta festa

etapas dos festejos, elas cantam

respeita o tempo do ritual nordestino e integra

O encarte do CD O Divino Som abre com um

e tocam caixa (tambor) para homenagear o Divino

cortejos, ladainhas, música, dança e o ofereci-

texto de Renata Amaral, integrante do grupo

Espírito Santo. Cânticos tradicionais, aliados

mento de refeições.

paulista A Barca e caixeira aprendiz em São Paulo. O CD também apresenta um ensaio da

Fotos: Divulgação

a versos improvisados, tornam bela e original a musicalidade da Festa do Divino de tradição

A Festa do Divino Espírito Santo é uma antiga

antropóloga Maria Lúcia Montes, especialista

maranhense, e esta musicalidade também está

tradição luso-brasileira do catolicismo popular.

em tradições afrobrasileiras. Os textos, em síntese,

presente no CD “O Divino Som”, lançado no dia

No Maranhão, onde ainda é celebrada em diver-

explicitam como acontecem os rituais da festa

22 de julho em São Luís do Maranhão (MA).

sos municípios, ela é considerada uma das mais

e valorizam o aspecto histórico e sociológico

importantes manifestações culturais e religiosas

da Festa do Divino Espírito Santo no Espaço

Neste ano foi realizada, ao longo do mês de

do estado, mobilizando milhares de devotos.

Cachuera!, que vem permitindo aos paulistanos

maio, a 12° Festa do Divino Espírito Santo no

Esse festejo chegou ao Maranhão no início do

conhecer a rica tradição maranhense e tem sido

Espaço Cachuera!. Dindinha, Zezé, Graça e

século XVIII na cidade de Alcântara, e de lá se

responsável pela ‘formação’ de várias Caixeiras

Bartira encerraram o ciclo de festejos em São

espalhou por todo o estado. A Família Menezes

do Divino aprendizes em São Paulo.

Paulo com o lançamento de seu segundo CD.

é guardiã de muitas manifestações da cultura

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bens de raiz

Serviço: CD O Sonho não envelhece – Jairo Periafricania Quanto: R$15,00 nas lojas da Galeria 24 de Maio em São Paulo ou pelos sites www.jairoperiafricania.com.br jairoperiafricania.blogspot.com ou pelo e-mail: Jairo-periafricania@hotmail.com

E

Serviço:

Em meados de 2003, no sarau do

Empenhado e com afinco foi em busca do seu

Envelhece” e passou a adotar o nome Jairo Periafri-

Binho, Jairo Periafricania conheceu

objetivo. Reuniu-se com alguns amigos e os con-

cania. O álbum tem 12 faixas e foi lançado com

o poeta Sergio Vaz, idealizador do

vidou para fazer parte desse sonho: Claudinha,

o apoio da Cooperifa e da Ação Educativa, e teve

Sarau Cooperifa. Na ocasião foi con-

Mario Bibiano e Kennya, e assim criaram o

a direção musical do rapper Crônica Mendes,

vidado para conhecer o movimento

grupo Periafricania. Lançaram seu primeiro disco

do grupo A Família. O disco tem participações

que se construía. Ali, no Sarau, descobriu a arte

demo, de seis faixas, produzido por Erick 12 no

de vários artistas do gênero rap e também da

periférica e descobriu que é possível fazer, criar,

estúdio Reviravolta Máfia, em meados de 2005.

música popular: Pop Black, do grupo Inquérito,

realizar... Em busca de um sonho contido desde

O trabalho contou com as participações de Du

Nicole, Sérgio Vaz, poeta e fundador do sarau da

a infância, percebeu no RAP a possibilidade de

Gueto, Gaspar Záfrica Brasil e Guinão da Banda

Cooperifa, Thym Silva, Paulo Saraiva, Preto Will,

realizá-lo. Jairo costuma dizer que não transfor-

Preto Soul.

do grupo Versão Popular, Martinha, Dj Edmilson

ma ninguém em artista, simplesmente desperta

e Crônica Mendes. Agora Jairo está produzindo

no íntimo de cada um a relação entre

Sentindo a necessidade de ampliar seu repertório

seu primeiro videoclipe oficial e também o seu

a arte e a cultura.

e investir mais na sua carreira, Jairo concluiu

segundo disco.

seu primeiro disco solo intitulado “O Sonho não

O SONHO NÃO

ENVELHECE

O livro “Padrões” está a venda nas livrarias do país pelo preço de R$80,00

PADRÕES DE

DE ZAIDA

Fotos: Divulgação

A

fotógrafa Zaida Siqueira lançou

valores e recriar diversas formas, com diversos

sagrada”. “Ele pode ser útil aos estilistas e

em 2006 um livro sobre cozinha

materiais. Um cesto indígena da Amazônia

designers pois mostra através dos padrões,

brasileira, o “Cozinha do Brasil -

guardará o mesmo desenho da pintura corporal

a cosmologia do nosso país”, defende.

Alimentos e Ritos”, e após cinco

do povo que o fabrica. O desenho pintado

O livro Padrões, que tem o patrocínio da Cerâ-

anos lança “Padrões”, um livro com uma

numa peça de cerâmica de Maragojipinho (BA)

mica Atlas e da ABIT (Associação Brasileira da

infinidade de variações sobre os mais diferentes

pode se repetir em uma colcha tecida por artesão

Indústria Têxtil e de Confecção), foi editado em

suportes. No livro, a fotógrafa mostra através

mineiro. Ela acredita que o Brasil precisava de

um ano mas faz parte do trabalho fotográfico

de suas fotos que os padrões expressam valores

uma publicação que registrasse os padrões da

de toda a vida de Zaida Siqueira. “Foi um pro-

e crenças de diferentes grupos humanos, que

cultura brasileira. Padrões são desenhos - ponto,

cesso de desenvolvimento aleatório, as imagens

nascem de uma íntima relação do homem com

linha e forma - repetidos infinitamente e que

estavam em outras investigações, mas que

a natureza e da capacidade humana de retribuir

segundo a fotógrafa formam “uma geometria

percebi que formavam um conjunto”, explica.

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bens de raiz FILME: O samba que mora em mim AUTOR: Georgia Guerra-Peixe documentário, 72 minutos, 2010 PRODUÇÃO: BossaNovaFilms CO-PRODUÇÃO: Filmes do Tejo II PRODUTORES: Denise Gomes CO-PRODUTORES: François d’Artemare e Maria João Mayer PRODUTORA EXECUTIVA: Paula Cosenza DIRETORA: Georgia Guerra-Peixe DIRETOR DE FOTOGRAFIA: Marcelo Rocha ROTEIRO: Ticha Godoy e Georgia Guerra-Peixe MONTAGEM: Mair Tavares, Nani Garcia e Jair Peres DESENHO DE SOM E SOM DIRETO: Leandro Lima TRILHA ORIGINAL: Dimi Kireeff MIXAGEM: Pedro & Branko MIXADOR: Branko Neskov PÓS PRODUÇÃO DE IMAGEM: Post Republic SUPERVISÃO CRIATIVA DE IMAGENS: Giuliano Saade ASSISTENTE DE DIREÇÃO E PESQUISA: Gisela Camara PESQUISA: Fernando Antonio Guerra-Peixe LOCUÇÃO: Georgia Guerra-Peixe COM: Fotos: Divulgação

Timbaca, Cosminho, Lili, Vó Luciola, Hevalcy, Mestre Taranta e DJ Glauber

O SAMBA QUE MORA EM MIM

O

Estamos do outra lado da história, sem personalidades e patrocinadores, só as pessoas e as suas emoções em telas de TV salpicando a Mangueira solene. “O samba que mora em mim” é um documentário singular de uma temática que endereça grandes possibilidades, o samba. No filme de Georgia o samba também sai do berço.

toque das mãos adquire o significado da bateria de

Como ela mesma diz:

escola de samba no filme “O samba que mora em mim”

“O samba que mora em mim é uma partitura visual. Um samba-enre-

Ela nos conta:

de Georgia Guerra-Peixe. O detalhe do toque

do-documental duma largueza as vezes melancólica, as vezes cômica

“Passei a infância ouvindo sambas-enredo em casa, todos os domin-

é expandido para todo o filme, onde nada escapa ao

e sempre ardente”.

gos. Hoje, meu pai é uma espécie de historiador do gênero no Rio de Janeiro. ... Tem paixão por isso. E trouxe esse som para dentro de

olhar da diretora. Cheio das sutilezas do samba que

mora em Georgia.

Embora seja um documentário ambientado no Morro de Mangueira,

casa de uma forma contundente”.

na cidade do Rio de Janeiro, no período do pré-carnaval, é um filme

Cantinhos do morro, gatos animais e gatos emaranhados de fios,

sem estereótipos e, portanto, instigante e desafiador. Outra Manguei-

Oriunda do mercado publicitário, Georgia imprime um acabamento

papelzinho sobre o corrimão, texturas, becos, pés, mãos, bocas, morro

ra, diferente daquela normalmente retratada. No dia do desfile na

e tratamento de imagens digno da poesia filmada. A produção é

e o Maracanã. Tudo adquire seu papel no filme conduzido quase como

Sapucaí, Georgia coloca suas câmeras no morro, ao invés da avenida.

da Bossa Nova Films em co-produção com a Filmes do Tejo II. Com

um soneto. A Mangueira da delicadeza, que só a alma poética da

Filma os mangueirenses assistindo, quase calados, a sua escola desfilar.

roteiro da própria diretora e Ticha Godoy. Conta com a direção de

diretora pode proporcionar.

fotografia de Marcelo Rocha.

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Fotos: Divulgação

bens de raiz

Filme: Daquele instante em diante REALIZAÇÃO: Instituto Itaú Cultural e Movieart DIREÇÃO: Rogério Velloso PRODUÇÃO EXECUTIVA: Carol Dantas ROTEIRO DE EDIÇÃO: George Queiroz DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Cristianny Almeida ASSISTENTE DE DIREÇÃO E DECUPAGEM: Mariana Fagundes FOTOGRAFIA: Hélcio “Alemão” Nagamine EDIÇÃO DE SOM E MIXAGEM: Sérgio Fouad

OS LIMITES DE ITAMAR

U

Mais informações detalhadas sobre o filme e agenda no site oficial: daqueleinstanteemdiante.tumblr.com

com muito material a ser publicado. Inquieto, “Daquele instante em diante” passeia irreverentemente por uma abordagem multifocal e detalhista da vida do homem e artista Itamar Assumpção. As lentes de Velloso retratam de maneira investigativa os fatos e acontecimentos narrados. Um filme da era Google, Wikipédia e redes sociais, que ampara ricamente

m teste de limites intenso. É assim, brevemente, nas

Artista pautado na busca por alternativas à indústria fonográfica

o diálogo apresentado com farto material de fotos, manuscritos, vídeos e

palavras de seu diretor Rogério Velloso, que podemos

massificante, amparado em linguagem própria e leitura singular da

gravações. Num ritmo vivo, o documentário vai intercalando os depoimen-

definir a experiência de assistir ao filme “Daquele instante

canção brasileira. Guru de um momento criativo muito particular

tos com a música e os shows. Particularmente, é tocante o momento em

em diante”, sobre o compositor, cantor, instrumentista,

da nossa música. Referência de uma safra de artistas com identidades

que Itamar canta a capela a dor da doença que o acometia e o levou jovem

arranjador e produtor musical Itamar Assumpção.

próprias e inovadoras como Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque,

aos 54 anos, em 2003.

Testando os limites de um dos maiores nomes da cena independente

Grupo Rumo, Língua de Trapo, e outros. Como um movimento, do

e alternativa dos anos 80 e 90, o documentário é detalhista e nos traz

qual Itamar era expoente, aqueles artistas trouxeram para São Paulo

Rogério Velloso vem da videoarte, da produção de TV e do cinema pu-

a riqueza da vida e obra do artista, de maneira natural e intimista.

a vanguarda da MPB da época. Até hoje, vários de seus participantes

blicitário. “Daquele instante em diante” é um projeto iniciado em 2008.

continuam ativos, cantantes e opinantes na música atual e no docu-

Contou, desde o início, com a parceria do Núcleo Audiovisual do Instituto

mentário do Nego Dito.

Itaú Cultural, que já vinha conduzindo pesquisas sobre o Itamar. Além de

Com o filme impregnado de Itamar, as horas passam em deleite para o

contar com material inédito de um show realizado por ele, no espaço do

espectador. A banda de Itamar, o “Isca de Polícia”, já continha em seu nome de batismo a saga a ser narrada. Pura poesia urbana paulistana

No documentário, personagem e filme caminham juntos no rompi-

Instituto. Assim, o que era inicialmente um “extra de um DVD” virou um

na veia, que o artista tão bem soube retratar em seus sambas e canções.

mento das fronteiras artísticas. Um personagem, inquieto e irreverente,

longa metragem a altura do artista. Um filme para não esquecer.

81


música

SEU OSVALDO Por Cris Astolfi

Fotos Yves Barros

Chegando na Vila Guilherme

Q

uem abre o portão é o filho Tadeu, sorridente, confiante,

“São Paulo já era uma terra de oportunidades”. O irmão mais velho,

mostrando a casa, as fotos, documentos, circulares (ancestrais

pedreiro, morava na capital com uma tia, na Rangel Pestana. Quando conse-

dos flyers), LPs e tudo mais que possamos registrar. Ele dá im-

guiu arranjar uma casa própria no Carandiru, a família toda se mudou para lá.

portância à memória. Acredita que o caminho para a melhoria

Seguiram para a Vila Guilherme em 1950, onde Osvaldo vive até hoje.

da vida do artista e da arte tupiniquim passa pelo conheci-

mento da sua própria história... “Tem gente que não entende.

O que despertou esse interesse pelo rádio, pela música? Ele demora

Toca e não sabe o porquê, não sabe que tem uma história lá atrás. Tudo tem

a responder, como se resgatasse as imagens da memória naquele

um começo. Então você vai atrás do começo. Tem que ir atrás do começo.”

momento. Lá em Muzambinho, o pai era meeiro, cuidava de uma roça de milho, arroz e feijão; a mãe, lavadeira. Ele a acompanhava na entrega

Seu Osvaldo chega mais de mansinho, com a roupa alinhada, social, e alegre,

das roupas para as madames. E foi na casa de uma delas que ouviu rádio

solar, camisa amarela. Apresenta-se como o cavalheiro que é. Osvaldo Pereira.

pela primeira vez, surpreso pela “mágica daquelas vozes saindo de dentro

Magro, esguio, inteligente, analisa bem o interlocutor antes de falar com suavi-

da caixa misteriosa [...] A Hora do Brasil, a ópera do Guarani”. Rádio dele

dade, as mãos desenhando as ideias no ar. Sua vivacidade mente os 77 anos.

mesmo só foi ter mais tarde, em São Paulo, no Carandiru, presente do irmão mais velho. Quando o rádio dava defeito, era ele menino que se

Chegou aqui vindo de Minas, Muzambinho, com onze para doze anos.

dirigia à Rua das Noivas para providenciar o conserto. 83


Fotos: Yves Barros

música

Seu Osvaldo e a pick-up válvulada. Surge a Orquestra Invisível

Em 1954, esse inquieto resolveu fazer um

de comer. Osvaldo pôde aprimorar os seus

nal, de orquestra? Nunca. O acesso era impossí-

da Bahia e não se dava muito bem com os pais

curso de Rádio e TV propagandeado na Revista

conhecimentos técnicos. Também tinha acesso

Cruzeiro. Era um curso gringo por correspon-

livre aos discos logo que eram lançados e/ou

O contexto da loja do Shalom, a inovação

vel do ponto de vista financeiro. Só frequentou

adotivos, muitas vezes pernoitava na casa de

tempos depois, quando era um discotecário

dência, da National High School, dois anos de

importados. E mais: levava apenas os que lhe

Osvaldo. Ele também estudou eletrônica, mas no

técnica do transistor e da alta fidelidade, o

consagrado e ganhara ingressos como convidado

duração e quatro livros por mês. O pagamento

Instituto Edson, na Avenida Consolação. “Mas

interessavam, tendo o privilégio de ouvi-los antes

gosto musical e o autodidatismo de Osvaldo,

de honra. A difusão das informações musicais

o Francisco gostava mais de dançar do que de

era feito em dólar. Todo mês lá ia o Seu Osvaldo

de comprá-los. A relação com o patrão era ótima

foram todas essas condições, costurando

para o grande público acontecia pelo rádio.

tocar e acabou seguindo por outros caminhos.”

no Citybank da Praça Antônio Prado fazer a

e se tornou simbiótica quando Osvaldo ficou

percurso de vida e contexto sociocultural, que

Em um quartinho de dois metros por um, Osval-

transação. Nessa época, ele frequentava as

famoso e passou a ser formador de opinião,

possibilitaram o surgimento do primeiro DJ do

do apresenta, orgulhoso e com a generosidade

festas de aniversário e casamento dos amigos e familiares na Vila Guilherme. Ia para se divertir, dançar um pouco. E “sempre dava um jeito de ficar perto do toca-discos, pedia para tocar um pouquinho e acabava ficando. Antes de fazer baile na cidade, a experiência veio daí, das festinhas.” Electro Fluorescentes Arpaco Ltda.

As músicas mais tocadas nas festas do bairro

Brasil, senão o primeiro DJ do

“Eu podia ouvir e se era do agrado eu comprava. Eu tive um tempo muito favorável.”

mundo. DJ Paulão comenta: “De tudo o que eu já li, não vi nada antes da década de sessenta que fosse similar ao caso do Osvaldo. O jamaicano Kool Herc aparece

eram populares. Tinha muito

“Ele tira a casca do amplificador e aponta o emaranhado de válvulas, fios e ligações, todas feitas artesanalmente.”

chorinho de Jacob do Bandolim, Luiz Gonzaga e Jamelão. E claro, os que agradavam a todos: Elza Soares, Miltinho, as orquestras do Silvio Mazzuca, do Chiquinho e a Tabajara.

só no início dos anos sessenta. Haviam os bailes ligados a programas de rá-

dos bons professores, como funcionava (e ainda

As pessoas achavam o som tão real, que o nome

dio. De levar o som e fazer discotecagem não

funciona!) o equipamento da Orquestra Invisível:

Orquestra Invisível pegou e a fama do discote-

Foi então que recebeu o convite para montar

transformando as bolachas em sucessos no

temos registro nenhum.” Ao que Osvaldo res-

rádios e fazer aparelhos de alta fidelidade, tecno-

baile, as quais se tornavam uma febre de venda

ponde: “É verdade, no Rio tinha o Chacrinha,

“O toca-discos Thorens mandava o sinal para o

para trabalho não faltaram mais, a ponto dele

logia que estava chegando no Brasil, na Electro

semanas depois...

que fazia isso (baile a partir do programa) na

pré-amplificador, que ampliava o som até as três

ter sempre “três meses de agenda fechada com antecedência”.

Fluorescentes Arpaco Ltda. (Rua Guaianases,

cário correu as noites de São Paulo. Os convites

Mayrink Veiga”. De outros DJs, ele se lembra

potências. Das potências, o som era enviado para

209, esquina com Rua Vitória. Loja de rádios,

Paulo Sakae Tahira, o DJ Paulão, estudioso

apenas do Souza, da Zona Norte. “Cheguei a

as caixas acústicas.” Ele tira a casca do amplifi-

aparelhos portáteis, iluminação fluorescente,

da música brasileira, lembra da fila de DJs,

consertar equipamento dele.”

cador e aponta o emaranhado de válvulas, fios e

LPs e assistência técnica). A irmã fazia limpeza

já mais tarde (início dos 1970), que se

na loja e havia comentado com o dono, Sharom

formava em frente ao Museu do Disco,

Osvaldo montou, então, a própria apare-

— que se dizia libanês e falava cinco línguas —

todos esperando alguém comprar um lança-

-lhagem e começou a discotecar. Primeiro,

Devidamente aparelhada, a Orquestra Invisível

- que Osvaldo se apressa em traduzir como

sobre os conhecimentos técnicos do irmão,

mento para poder ouvir: “o disco só saía do

nas festinhas particulares, casamentos e

Let’s Dance nasceu da parceria entre Osvaldo

“uma espécie de rave” (com a naturalidade

que já consertava rádios nas casas das pessoas.

plástico depois de comprado . E disco

aniversários. Depois, nas festas maiores,

e Francisco Salles, que teve a ideia do nome.

de quem já foi descoberto por jornalistas), nas

era caro. Ouvi história de DJ que trocou

nos piqueniques e, finalmente, nos bailes.

Francisco era quase da família. Na época do

quais os convidados chegavam de ônibus ou

fusca por cinquenta LPs.”

Se ele já tinha frequentado algum baile tradicio-

Carandiru foi vizinho de Osvaldo. Tinha migrado

trem em lugares como Santos, Guarujá,

Daí para frente juntou a fome com a vontade

O baile mecânico

ligações, todas feitas artesanalmente. Na cidade de Itapeva, em um dos piqueniques

85


música

“Na minha época era chamado de samba solto [...] Pega a dama e gira, faz os floreados [...]” Remete aos tios, amigos e irmão, mais

bém gosto das coisas modernas. Eu e meus

velhos. “Eles pegaram isso, de não pode-

filhos ainda tocamos às vezes.” As últimas

rem entrar em determinados bailes [dos

apresentações foram na Virada Cultural

brancos]. No Salão 28, na Rua Francisco de

e na confraternização dos funcionários do SESC,

Abreu, no Paulistano da Glória, na Rua da

no SESC Pompéia, ambas em 2010. A volta

Glória, no Som de Cristal, da Rua Arrigo

dele às vitrolas aconteceu no lançamento do

Freitas, travessa da Consolação” Difícil

livro “Todo DJ já Sambou” (2003), da jornalista

mesmo na época do Osvaldo era ter dinhei-

Claudia Assef: “Foi uma sensação de muita

ro suficiente para entrar nos bailes da elite

alegria tocar para a Praça Benedito Calixto

branca. É, parece que a exclusão já tinha

lotada”, diz eufórico.

a mesma roupagem de hoje.

Fotos: Yves Barros

“E você gosta dos DJs de hoje? Acompanha?”,

DJ Paulão e Seu Osvaldo na caminhonete de trabalho.

Economia da cultura

pergunta o DJ Paulão ao Osvaldo. Ao que ele responde: “Vocês inovaram muita coisa bonita

Para montar um clube na época era preciso

que lá atrás era uma simplicidade”. E emenda

cerca de cinco, seis pessoas, as quais com-

com uma história curiosa. “Uma vez eu fiz um

punham a diretoria. O produtor assumia

estereofone e uma entrada para dois toca-dis-

também a função de tesoureiro, e era quem

cos. Eu cambiava os dois simultaneamente. O

costumava faturar com a festa.

patrão emprestou um toca-discos e comecei a

Cantareira, e duravam até doze horas seguidas

Soares e Jamelão, as Big Band, Ray Charles,

vários sentidos. A cultura do baile mecânico,

- surgiu o convite para ele fazer o primeiro

Benny Goodman (a abertura do Osvaldo),

da dança, a organização socioeconômica

A diretoria batizava o clube, arrumava o

mais isso! Era o momento de trocar de parceira.

baile, nas domingueiras (das 18h às 24h) do

entre outros.

que se formou, são elementos que foram

salão, contratava o Osvaldo e organizava a

Aquilo matava a mudança de cavalheiros. O

ressignificados e se misturaram a outros para

chapelaria e a portaria. Também se respon-

bom da festa era dançar com várias damas . Os

a constituição do samba rock.

sabilizava pela distribuição das circulares,

que tavam namorando continuavam de mãos

Clube 220, Edifício Martinelli. Foi um sucesso. Foi também em um baile que Osvaldo

emendar as músicas. O pessoal falou: não faça

Daniel Sebastião Gomes, tesoureiro (e depois

conheceu a esposa, no Salão Brasil, da Vila

que ocorria sempre no Viaduto do Chá e

dadas. Os outros trocavam. Não pegou de jeito

diretor) do Clube 220, foi um visionário e

Guilherme, ao som de um bolero. Casaram-se

A indumentária era um ponto importante no

na Rua Direita. Além disso, na Praça do

nenhum. Foi só aquela vez.”

influenciou muitos produtores. Percebeu o

em 1959. Ela tinha ciúmes dele? Tinha nada!

baile, o pessoal que frequentava era elegante,

Correio, logo que desce do prédio Martinelli

potencial do baile mecânico e convidou Osval-

“Meu pai teve sorte por esse lado, comenta Ta-

as damas se produziam muito, os homens

pra entrar na São João, tinha o bar Ponta

Surpreendentemente, na discotecagem contem-

do para tocar aos sábados (das 22 às 4h) na

deu, encontrou uma mulher que o entendia.”

tinham que usar a gravata, ou não entravam.

da Praia, ponto de encontro do pessoal que

porânea a mixagem é justamente a linguagem

Av. Rio Branco, 82. Deu o nome para o clube

Tiveram cinco filhos, dois deles se tornaram

Lembra rindo que “no Salão do Povo, que

fazia festa. Ali, alguns rapazes pegavam as

predominante. E estava lá no ovo, nas inovações

recém-fundado de Abassador. “Ele ganhou

DJs, Tadeu e Luiz Claudio.

ficava no primeiro andar, acontecia de alguém

circulares para “pulverizar” nos bairros.

do Primeiro DJ brazuca! “Bom DJ hoje é o que

muito dinheiro e incentivou muita gente a

da janela jogar uma gravata para o amigo

sabe colar as músicas”. Diz Paulão. “E o curioso

formar clube. O negócio dele era faturar.”

E o samba rock? “Na minha época era chama-

lá debaixo entrar. Tinha uns macetes.”

Osvaldo tinha um preço fixo mais o transpor-

também é que até hoje no baile do samba rock

Osvaldo tentou também formar um clube, o

do de samba solto. Pega a dama e gira, faz os

As bebidas mais pedidas eram a cuba livre

te. O ganho não era alto. Ele já possuía o seu

todo mundo dança com vários parceiros, foi

Luís XV, em 1961, juntamente com a esposa

floreados. O samba rock se consolidou com o

e o samba (coca-cola com pinga).

ganha-pão. O trabalho de discotecário era um

mantido o caráter comunitário do baile.”

Carolina, o cunhado e outras pessoas. “Mas

Jorge Ben, na época em que meu filho Tadeu

não deu certo. Quando dinheiro está envolvido

começou como DJ. Jackson do Pandeiro que

Quando eu pergunto sobre discriminação

era tão grande em ganhar dinheiro, mas em

E depois de 68, os bailes estouram nos anos 70,

é difícil,” diz evasivo. Os bailes tinham um

fez uma música americanizada (Chiclete com

racial, Osvaldo desliza com a sagacidade de

divertir o pessoal. Até hoje a minha alegria de

como foi isso? “Ah, a frequência era grande.

público de trezentas a quinhentas pessoas.

Banana), misturando o samba com o rock,

quem soube transitar entre os vários grupos

ver o pessoal dançando é muito forte.”

O pessoal dançava com muito amor, para se

Havia alguns nos bairros, especialmente na

a gente tocava, era o samba-rock. O LP Chá

e tirar proveito disso. Sua época foi “muito

Zona Norte, mas a maioria era no centro, pois

Dançante, na década de 50, do Valdir Cal-

feliz. Não tinha muita discriminação”. Nos

na época os bairros convergiam para o centro.

mon, simboliza o samba-rock da modernida-

bailes dele alguns brancos “vinham

Enquanto nos bairros despontavam músicas

de. Tinha também o Louis Prima, italiano, que

com um pouquinho de receio, tinha os cole-

O que você colocaria na sua vitrola hoje? “Eu

geração seguinte. Quem sabe o filho Tadeu não

mais populares, nos bailes do centro o sucesso

fazia muito sucesso”. O samba rock surge

gas [negros] que [os] traziam, apresentavam

mesclo. Dependendo do baile eu vou lá nos

nos ajuda a contá-la?

ficava por conta do Ray Conniff, Miltinho, Elza

como um desdobramento do samba solto em

as damas e depois ficavam à vontade.”

anos cinquenta, Miltinho, Ray Conniff. Tam-

hobby para ele. “A minha preocupação não

divertir. Mas ali eu já não tocava mais, comecei E hoje?

a trabalhar na Philco e só tocava de vez em quando. É, isso já é uma outra história, da

87


Fotos: Yves Barros

música

É DISCO QUE EU GOSTO! Por DJ Paulão

Fotos Yves Barros

O discotecário Osvaldo lembra-se bem de

Mocotó, em 1970; o groove de Eddie Harris em

Vídeo:

alguns discos que faziam o pessoal vibrar, no

It’s all right now do seu disco “That is why you’re

História dos bailes black de São Paulo

começo dessa história toda: o disco “Music”

overweight” de 76; e pra não dizer que esqueci

Conferir no Youtube

do Ray Conniff, que tinha o hit Besame mucho;

dos compactos, aqueles discos pequenos de

Ray Anthony e seu “Young Ideas” com a mú-

sete polegadas que serviam de teste pra futuras

Sites:

sica Moonglow; Elza Soares e seu disco de es-

produções, aqui vai um petardo, que foi hit em

Samba Rock na Veia:

tréia, “Se Acaso você Chegasse”, de 1960, que

1971, ano de seu lançamento, e de lá pra cá

www.sambarocknaveia.com.br

tinha a faixa título e Cartão de visita tocadas à

nunca saiu de qualquer lista das dez mais: Noriel

Dj Paulão:

exaustão; Jamelão e uma coletânea, “Jamelão e

Vilela e o seu “16 toneladas”, versão brasileira

www.djpaulao.com

seus grandes sucessos”, com as músicas Matriz

do som de Merle Travis.

ou filial, Solidão e Ela disse-me assim; o grande Miltinho e seu hit Palhaçada “que não podia

Entre a geração do seu Osvaldo e a minha existe

DJ Paulão, 37 anos, 19 deles dedicados

faltar”, segundo Osvaldo. E Billy Mays e Rico

mais uma, a que viu a explosão dos bailes nos

à musica, primeiro como radialista e logo

Mambo Orchestra com seu LP “Arthur Murray

anos 70 e 80, com shows até no Ginásio do

depois como DJ. Pesquisa sobre a historia da

Cha Cha Cha Mambos” com o hit Frenesi,

Palmeiras, festas com grandes convidados inter-

musica brasileira, em particular a sua discografia.

“Esse disco eu dei pra um dançarino da época,

nacionais e tudo o mais. Venho de uma geração

Colaborou com a exposição Tropicalia: A revolu-

Helio Bagunça, quando me aposentei”.

que viu uma cena de bailes mais restrita nos anos

tion in Brazilian Culture, realizada pelo Museum

90, e sua volta com força, sob a batuta do samba

of Contempo-rary Art of Chicago e pelo Bronx

Toco desde meados da década de 90, e destaco

rock, na virada do milênio. Ouça as músicas e

Museum of Art.Com uma coleção beirando

alguns sons que fizeram o pessoal rodar

verá que elas têm pouco em comum, apenas

os 7.500 títulos, recebeu em 2006 da Câmara

pelas minhas pistas: o primeiro LP do Clube

um estilo de dança que atravessou o tempo e o

Municipal de Campinas o Diploma de Mérito

do Balanço, “Swing & samba rock” (2001),

espaço: o samba rock.

Zumbi dos Palmares, pelo “destaque na defesa e na integração social dos membros

que marca toda uma geração de bandas que tocavam exclusivamente o samba-rock, e uma

Para saber mais

da comunidade, bem como na difusão da cultura afrobrasileira”.

batida que favorecia a dança; o furioso teclado de Jimmy Smith em I got my mojo working,

Livros:

nome tanto do LP como da música que emba-

Todo DJ já Sambou. Claudia Assef.

lava os casais; Jorge Ben Jor, na época apenas

São Paulo: Editora Conrad, 2003.

Ben, também um divisor de águas da história

Bailes. Org. Márcio Barbosa e Esmeralda

do samba-rock, e O telefone tocou novamente,

Ribeiro. Quilombhoje/Fundação Cultural

do seu seminal LP “Força bruta”, já com o Trio

Palmares - MINC, 2006.

DJ Paulão na discoteca de discos raros.

89


Foto: acervo Associação Raiz

viagens

OURO PRETO,

300 ANOS

OU O CASO DA CIDADE ONDE A FAVELA DESCEU O MORRO 91


Foto: acervo Associação Raiz

viagens

A centenária Praça da Inconfidência convivive hoje com o pesado trânsito de carros e ônibus. Por Augusto Franco

E

ssa é a história de uma cidade muito

caminhões que abastecem os supermercados e

especulação imobiliária comparáveis aos do

– agora o minério de ferro, mas ainda ouro,

famílias ricas e comércios, sobraram para quem

antiga, pelo menos para os padrões

levam para longe o lixo de toda essa gente.

primeiro capítulo dessa história.

magnésio e outros metais. Como as mineradoras

chegou depois os vales no entorno da cidade,

se estabeleceram por lá, os trabalhadores das

longe das vistas de moradores e turistas.

encravada nas Minas Gerais. E que

Mas mantém quase intacto o casario de uma

Porque a Universidade Federal de Ouro Preto

lavras precisam de casa, comida, banco, escola, hospital, transporte.

das cidades no Brasil. Uma cidade ao contrário da maioria das cidades

cidade fundada sobre as montanhas três sé-

(UFOP), graças a uma série de incentivos do

do Brasil, não começou a ser com uma popu-

culos antes, e ruas de calçamentos feitos, no

Governo Federal, vai aumentar suas vagas de

No ano passado, depois de uma briga que se

lação de 70 mil habitantes, o tráfego de uma

máximo, para o trânsito de carruagens. E que

5 mil, em 2009, para 12 mil até 2012. E porque

E como os morros já estavam ocupados desde

Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan),

população de 70 mil habitantes, com carros e

passa por um período de expansão urbana e

Minas Gerais nunca exportou tanto minério

muito antes pelas igrejas, irmandades, casas de

a ocupação de cinco bairros populares

arrastou por uma década entre prefeitura e o

93


Foto: acervo Associação Raiz

viagens

Restauração das ruas históricas de Ouro Preto para melhoria do trânsito.

foi flexibilizada. O maior deles, o Bairro Bauxita,

A solução, aponta o prefeito Ângelo Oswaldo,

O próximo passo do prefeito é conseguir verba

linha de trem que transporta o minério de Minas

pelos estudantes da República Aquárius, que

mais próximo ao campus da Ufop, já está

é uma alternativa ao crescimento, uma forma

para construir uma linha de bonde morro acima,

para os portos do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

aos 43 anos de funcionamento é uma das mais

tomado de puxadinhos, sobrados e quartos para

de manter conservado o patrimônio da área

um funicular. O projeto do plano inclinado prevê

Para disfarçar a intervenção, a encosta vai receber

antigas entre uma centena de repúblicas federais

aluguel. Agora, os donos dos imóveis podem

histórica. “Ouro Preto é cidade viva, que procura

uma cabine sobre trilhos, que sairia da Praça da

mais árvores.

da cidade. O casarão da Aquárius pertence ao

elevar suas construções para até quatro andares.

compatibilizar a planta urbana do século XVIII

Estação Ferroviária, no vale, para o Campus do

E, mesmo assim, os amontoados de gente conti-

com a vitalidade do século XXI. Não é uma cida-

Morro do Cruzeiro. Os carros ficarão em uma

Se conseguir o dinheiro para a obra, a Prefeitura

nuarão escondidos, avaliam as autoridades.

de cenográfica, uma Disneylândia colonial.”

ampla área de estacionamento bem ao lado da

pode reduzir problemas como os enfrentados

Governo Federal, e os alunos pagam uma taxa simbólica de administração para usufruírem. 95


Foto: acervo Associação Raiz

viagens

Fotos: acervo Associação Raiz.

“OS NOVOS BAIRROS SÃO MENOS OURO PRETO QUE A OURO PRETO HISTÓRICA. SEM PAISAGEM, SEM CASARIO, SEM IGREJAS REVESTIDAS EM OURO. ”

Os casarios antigos da antiga Vila Rica, Ouro Preto vive novo processo de urbanização.

Acontece que a parede frontal da Aquarius está

fica um ponto de ônibus. “É uma rachadura

lanchonetes, salões de beleza. Os novos bairros,

Entre seu rebanho, o religioso cobra um plane-

com uma rachadura transversal, possivelmente

estrutural”, assegura.

no entanto, são menos Ouro Preto que a Ouro

jamento urbano mais profundo, pensado para

Preto histórica. Sem paisagem, sem casario, sem

os próximos 30 ou 40 anos, e não para três ou

igrejas revestidas em ouro.

quatro anos. “É preciso conter este crescimento

graças ao trânsito de carros e caminhões na rua em frente. As paredes são de adobe e a casa é

Motivos como estes levam cada vez mais alunos

tombada pelo patrimônio histórico.

a buscarem os bairros novos, onde moradias

desordenado. A cidade carece de um plano

estudantis e casas simples, alugadas para

“Tirar as Igrejas e as celebrações religiosas de

diretor mais consistente” Para isso, o pároco

“A reforma é cara, e demanda um licenciamento

funcionários do comércio e mineração, têm piso

Ouro Preto é como tirar a alma do corpo; a

cobra que as mineradoras cumpram a lei, mas

acompanhado pelo Iphan. Os estudantes não

de cerâmica e paredes de tijolos furados, muitas

cidade perderia o seu encanto”, prega o padre

que ofereçam para a cidade mais que isso.

têm dinheiro, e não sabemos ao certo o que

sem reboco. Onde as reformas podem ser feitas

Marcelo Moreira Santiago, Pároco da Paróquia

Cobra políticas de compensação criativas,

fazer”, diz o estudante de engenharia civil

sem perícia e autorizações especiais e as igrejas

Nossa Senhora do Pilar e Coordenador de Pasto-

voltadas para meio ambiente e moradia.

Mario Nasser, o Borat, presidente da Aquárius,

evangélicas ganham espaço, instalando-se

ral da Arquidiocese de Mariana. “Muito da alma

Antes que a favela resolva subir o morro.

que ocupa o quarto da frente. Sob sua janela

em imóveis que poderiam abrigar padarias,

mineira e nacional vem de Ouro Preto”.

97


comidas

TAPIOCA, PATRIMÔNIO DE UMA VIDA, PATRIMÔNIO DE UMA CIDADE Por Felipe José Dantas Cabral de Melo Fotos Luiz Santos

N

o Brasil temos povos de culturas diversas, de geografias tão

porque esta nada havia feito de errado. O cacique obedeceu prontamente

diferentes em clima e fontes de alimentação animal e vegetal,

ao mestre, e a criança, que era muito linda e inteligente, começou a andar

além de processos históricos e culturais longínquos no tempo

e a falar no primeiro dia de vida, recebendo o nome de Mani . Acontece que

e no espaço que determinaram nossos hábitos alimentares.

o grande deus Tupã reservara a Mani um outro destino: sem ter tido qualquer doença, a menina morreria de repente, antes de completar um ano de idade.

Aqui estavam milenarmente instalados os nossos índios, com suas artes de

Seu pai, o cacique da tribo, enterrou-a na maloca e, conforme o costume

plantar, colher, caçar, pescar e preparar seus alimentos. A mandioca fazia

indígena, regou o seu túmulo diariamente. Um dia, ele percebeu que, do chão,

parte de sua alimentação.

brotou uma planta desconhecida. Nela apareceram flores, frutos e, a seguir, raízes. Ao serem descascadas, estas últimas eram brancas como Mani. Diante

De acordo com Semira Adler Vaisencher, pesquisadora da Fundação

do ocorrido, os índios agradeceram a Tupã e, desde então, não deixaram de

Joaquim Nabuco, há uma lenda do Norte do Brasil com o seguinte relato

plantar e de se alimentar daquela raiz, dando-lhe o nome de Mani-oca, que

”[...] um cacique teve uma filha branca como o leite, diferente dos membros

significa “casa de Mani”. Através da elaboração dos beijus e do cauim - uma

de sua tribo. Considerando-se desonrado, o cacique resolveu matá-la.

bebida popular entre eles - a mandioca se transformou em um dos elemen-

Em seus sonhos, porém, apareceu Sumé, o grande mestre dos índios, dizen-

tos importantes da alimentação dos índios. Trazida por eles, a mandioca

do-lhe que, se não quisesse ser castigado, nada de mal fizesse à menina,

incorporou-se à culinária brasileira.”

(1)

99


Fotos: Luiz Santos

comidas

Processo de preparação da tapioca pelas mãos de Tia Lú. Os portugueses, aqui chegando, com seus conhe-

mico que faz a festa dos turistas e de todos os

os clientes não pagavam e demoravam,

- E como era o fogareiro? “Usava fogareiro

- Tem algum benefício para a saúde, a tapioca?

cimentos técnicos sobre o processo de transfor-

que ali vão. Lá, encontramos como a mais antiga

às vezes, muito. Eu tinha que pagar minhas

de barro com o carvão dentro, o pegador de

“A goma não faz mal nenhum, é até bom

mação da uva em vinho e da azeitona em azeite,

tapioqueira do Alto da Sé, “Tia Lú”, de 84 anos.

despesas. Aí fui vender tapioca, porque

carvão e o abanador de palha.”

para disenteria.”

transportaram essas experiências para a criação

Ela faz tapiocas há meio século, e passou o

recebia o dinheiro na hora.”

das Casas de Farinha. Nessas Casas, a mandioca

conhecimento para as suas três filhas, que tam-

- A senhora ainda usa o fogareiro de barro?

- E como é vender hoje tapioca na Sé? “Hoje

passa por um extenso e delicado processo até

bém exercem a profissão de tapioqueiras. Tia Lú

- Sua mãe sabia cozinhar? “Ela era uma bolei-

“Hoje eu uso um fogareiro de ferro de 4 bocas,

está melhor para vender tapioca, tem muita

a sua transformação nos seus vários derivados,

divide, hoje, uma barraca de tapioca com a sua

ra de mão cheia, fazia bolo de mandioca, pé

à carvão. Pois na hora do movimento rende

gente prá comprar, mas em compensação tem

inclusive a goma utilizada para fazer a tapioca.

filha Loura – Barraca da Tia Lú e da Loura.

de moleque, cuscuz de mandioca, manuê. Ela

mais. Mas tem gente que usa ainda

muita tapioqueira, a concorrência é demais.”

fazia um fuxico, feito de goma de mandioca.

o de barro.”

A tapioca tornou-se um alimento fortemente

Tia Lú - Lúcia Rosa do Nascimento - nasceu em

Peneira a goma, mistura com o coco e leva

incorporado à culinária nordestina, serviu para

06 de dezembro de 1926 no Sítio Histórico de

ao forno para assar, fica uma delícia.”

cida pela Prefeitura como Patrimônio Imaterial

Brasília, prá São Paulo e fui até para o Rio

Cultura da Cidade de Olinda? “Foi um reconhe-

- Todo mundo aprendeu a fazer tapioca na sua

Grande do Sul (eventos do governo do Estado

cimento ao trabalho da gente, eu acho é bom.”

família? “Todas as minhas irmãs aprenderam

de Pernambuco).Meu marido fazia também uns

a cozinhar e fazer tapioca.”

fogareiros de lata grande de leite. Lá ninguém

parcelas da gente da terra como verdadeira fonte de sobrevivência, saindo das casas e ganhando as ruas das cidades. Em Olinda, como em outras localidades o comércio da tapioca, uma atividade notadamente realizada pelas mulheres, encontrou nessa cidade histórica e centro das mais variadas manifestações da cultura brasileira, um espaço único para seu desenvolvimento, sendo reconhecida como verdadeiro patrimônio da cidade.

“A mandioca se transformou em um dos elementos importantes da alimentação dos índios.”

- E qual a senhora prefere? “Sequinha, sem nada.”

conhecia a tapioca e eu voltava sem nenhum - Mas como foi que a senhora começou a vender?

fogareiro que o povo comprava tudo.”

- E como fazia a goma nessa Casa de Farinha?

“Minha irmã vendia tapioca no Bonfim, ela

“Pegava a mandioca descascava e botava

passou prá mim o material de fazer tapioca,

dentro de umas tinas com água. Depois de três

e aí eu comecei a vender tapioca.”

O Decreto Federal nº 3.551, do ano de 2000,

- Em que ano foi isso? (calculou pela idade

criou o Registro do Patrimônio Cultural Ima-

das filhas a localização no tempo)

terial Brasileiro, distinguindo, entre esses bens

Olinda/PE. Nas suas palavras, “nasci e fui criada

intangíveis os saberes tradicionais, ou seja, os

em Olinda, na rua da Palha. Nesta mesma rua.

conhecimentos e modos de fazer enraizados

Aqui tudo era casa de mocambo. A minha mãe foi

- A senhora casou-se? “Casei-me tarde, tive cin-

no cotidiano das comunidades. Dentro desse

abandonada pelo meu pai quando eu tinha três

co filhos, tive um homem e quatro mulheres,

espírito, em 2006, a Prefeitura e o Conselho

anos de idade, e ela ficou cuidando de oito filhos.”

uma faleceu e as outras trabalham como

de Preservação do Sítio Histórico de Olinda,

- O que a senhora acha da tapioca ser reconhe- E a senhora já viajou? “Fui quatro vezes prá

“1965.”

“Peneirava a goma, botava um pouquinho de sal, deixava a frigideira bem quente. ”

e o que assentava era goma; e daí tirava a massa de beiju, e para farinha. Hoje é tudo mal feito, fazem a goma muito depressa, por isso é que dá trabalho de achar a goma boa.” - O que é a tapioca na sua vida? “Devo tudo a ela.” - E essa casa que a senhora mora?

tapioqueiras, aprenderam tudo comigo. - Qual o segredo para uma boa tapioca?

“Foi as minhas tapiocas que eu fiz, e construí

“É saber escolher uma boa goma, a frigideira

junto ao terreno do mocambo da minha mãe.”

considerando a tapioca como um modo de

Com um sorriso aberto, e bastante receptiva, Tia

fazer tradicional, concederam-lhe o título

Lú nos recebe em sua casa, próxima ao Alto da Sé,

de Patrimônio Imaterial e Cultural da Cidade.

para contar a sua história de vida, que passa pelas

- Como era a tapioca que a senhora vendia no

Em Olinda, é no Alto da Sé onde se

costuras e chega a tapioca por tradição gastronô-

início? “Era só de coco que é a da tradição.

concentram as tapioqueiras organizadas

mica familiar mas é hoje o sustento da sua casa.

Peneirava a goma, botava um pouquinho de

- E se fizer no fogão a gás, a senhora. já

crição da entrevista, a forma original das

sal, deixava a frigideira bem quente. Usava

experimentou? “Acho igual à que é feita no

respostas de Tia Lú.

numa associação fundada há 5 anos.

E hoje trabalham no Alto da Sé.”

dias passava na prensa. Lavava bem a massa

bem limpinha e quente.” *O autor Felipe Melo manteve na trans-

Todos os dias, dezenas de barracas são armadas,

- Como chegou na tapioca? “*Com o passar do

frigideira de alumínio e virava dos dois lados

fogareiro à carvão. Acho mais gostosa quan-

promovendo um verdadeiro festival gastronô-

tempo, me desgostei com a costura, porque

e depois botava o coco.”

do é no fogareiro com o carvão.”

101


INTERAÇÕES ESTÉTICAS “A alegria de ser Ponto de Cultura, a alegria de misturar as estéticas, a alegria de expressar o desejo, manifestar a potência em meio ao afeto. O envolvimento que antes de tudo tem uma escolha baseada no entendimento de que ser vem primeiro e é muito mais necessário do que ter.” O programa Interações Estéticas já viabiliza-

rede sócio-cultural, o Circuito Interações Esté-

R$ 4,5 milhões. Apesar de ter gerado espe-

ram um total de 216 projetos e mobilizaram

ticas, que levou para Minas Gerais, São Paulo,

táculos musicais e cênicos, documentários

quase 200 Pontos de Cultura das cinco regiões

Pernambuco, entre outros estados, o resultado

e exposições fotográficas e um blog (www.

brasileiras. Para a consultora do programa, a

do trabalho de alguns contemplados para o

funarte.gov.br/interacoesesteticas), em 2011

pianista Chris Lafayette, a troca entre artistas e

público. Mas essa não é premissa do programa,

não houve lançamento de novo edital. Mas

os integrantes dos Pontos de Cultura pode gerar

“o tempo paradoxal que rege os encontros dos

para Chris Lafayette toda essa produção é

encontros muito especiais. “A alegria de ser

conteúdos internos do espectador com o artista

apenas uma das facetas de toda essa troca, esse

Ponto de Cultura, a alegria de misturar as esté-

em cena, que gera um espaço tempo que deixa

intercâmbio. Ela acredita que: “fazer artístico e

ticas, a alegria de expressar o desejo, manifestar

marcas para o dia, a semana, o ano seguinte,

modos de consumo no capitalismo – surge aqui

a potência em meio ao afeto. O envolvimento

a vida, ainda não pode ser aprisionado. Esse

uma tensão que permeia toda essa discussão e

que antes de tudo tem uma escolha baseada

encontro que não depende em sua primazia

aponta para o impulso inicial dos dois processos:

no entendimento de que ser vem primeiro e é

da intelecção para vir a ocorrer, mas antes de

o desejo que move o fazer artístico e o desejo

muito mais necessário do que ter.”, avalia.

outros tantos saberes corporais, ainda não foi

de consumo no capitalismo”. Consumo, fazer

capturado pelos modos de produção. Ainda

artístico, capitalismo ou que outro nome se dê,

O programa Interações Estéticas, apoiado pela

não, não no tempo presente, não querendo ser

não paga a alegria do contribuinte que assiste

Funarte e pela Secretaria da Cidadania Cultural,

tão pessimista quanto Adorno (1970)”, explica

a um espetáculo ou evento cultural gerado por

foi criado em 2008 e apoia ações de diferentes

a pianista.

editais ou programas governamentais.

segmentos artísticos, viabilizando um intercâmbio entre artistas e Pontos de Cultura. Desse

O último edital aconteceu em 2010 e contem-

diálogo em 2010, surgiu uma nova e importante

plou 127 projetos, com investimentos de

103


CULTURA

VIVA

PARA VER, REVER E REFLETIR “Os conteúdos apresentados não têm a intenção de esgotar os temas propostos, mas estimular o pensamento crítico de maneira dinâmica e poética em diálogo com as formas expressivas da contemporaneidade.”

“Sob a égide do processo colaborativo, artistas, produtores e instituições definiram, juntos, os caminhos conceituais e estéticos que deram forma aos vídeos.”

Num momento em que a cultura e as artes

com informações complementares sobre os

caminhos conceituais e estéticos que deram

suscitam tantas perguntas e discussões, a

temas tratados em cada um dos vídeos.

forma aos vídeos.

o objetivo de difundir conceitos e promover

Os conteúdos apresentados não têm a intenção

A Coleção Viva Cultura Viva integra o projeto

reflexões sobre questões relacionadas ao campo

de esgotar os temas propostos, mas estimular

Prêmio Cultura Viva – Formação, uma iniciativa

da cultura em suas diferentes dimensões: o pro-

o pensamento crítico de maneira dinâmica e

do Ministério da Cultura – MinC, com patrocínio

cesso criativo, as artes, a participação cidadã, a

poética em diálogo com as formas expressivas

da Petrobras e coordenação técnica do Centro

sustentabilidade, as redes sociais, a cultura digi-

da contemporaneidade. Os depoimentos e

de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e

tal, a educação e outras. Composta por onze ví-

reflexões sobre os temas são pontuados por

Ação Comunitária – Cenpec.

deos (cinco minutos cada um), com entrevistas e

imagens ou palavras com função de abstração,

imagens de Pontos de Cultura; seis debates com

demonstração ou mesmo fuga para além da

Para ter acesso ao conteúdo:

especialistas (vinte minutos cada um), realizados

composição ali estabelecida, resultado de um

www.vivaculturaviva.org.br

entre abril e junho de 2009 e pelo website, que

diálogo aberto entre seus realizadores. Sob

além dos vídeos e debates apresenta conteúdos

a égide do processo colaborativo, artistas,

sobre o tema Gestão Cultural e um Saiba Mais

produtores e instituições definiram, juntos, os

Coleção Viva Cultura Viva foi desenvolvida com

105


CINEMA DE ANIMAÇÃO NO 21º FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUS (PE)

“O Ponto de Cultura Cinema de Animação é um espaço dedicado à cultura pernambucana, focando o desenho animado através de técnicas artesanais de produção.”

A primeira imagem do Nordeste é a de muito

Cinema de Animação é um espaço dedicado

sol e praia mas quem conhece essa região

à cultura pernambucana, focando o desenho

do país sabe que um dos mais tradicionais

animado através de técnicas artesanais de

festivais de artes acontece em pleno inverno

produção.

pernambucano: o Festival de Inverno de Garanhuns, terra do ex presidenta da República,

Para o coordenador geral do projeto Cinema

Luiz Inácio Lula da Silva, fica na serra da

de Animação, foi uma grande alegria realizar

Borborema, a 200km de distância de Recife, em

as oficinas na cidade de Garanhuns. “O Festival

Pernambuco.

de Inverno de Garanhuns (uma das etapas do circuito dos Festivais Nação Cultural), acontece

Foi na vigésima primeira edição do evento que

no agreste de Pernambuco, é de uma grandeza

aconteceram as oficinas oferecidas pelo Ponto

que impressiona. É um dos mais importantes

de Cultura Cinema de Animação, o CINE

festivais de cultura do país e neste ano foi

ANIMA Itinerante, coordenado por Luiz

montado o Casarão dos Pontos de Cultura de

Gonzaga de Oliveira e Silva, o Lula Gonzaga.

Pernambuco, no espaço aconteceram debates,

Na estrada desde 1981, em 2004 tornou-se

mostras artísticas e oficinas selecionadas a

Ponto de Cultura, hoje é um dos mais atuantes

partir de edital, uma das oficinas, foi a nossa

com uma agenda de oficinas e exibições das

de Cinema de Animação, o CINE ANIMA

animações em todo o país. O Ponto de Cultura

Itinerante”, avalia. 107


MUSEUS E EDITAIS O Ministério da Cultura e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC) lançaram no mês

Veja abaixo os detalhes de cada edital:

de agosto o Programa de Fomento aos Museus Ibram 2011. Resultado de duas emendas

três anos. Os projetos atendidos terão valores entre R$ 100.000,00 e R$ 150.000,00.

parlamentares, aprovadas pela Comissão do Fundo Nacional de Cultura, totalizam

Edital para Criação e Fortalecimento de Sistemas

R$ 16.860.203,00. Esse valor será destinado a prêmios e projetos relacionados à construção

de Museus

Edital Modernização de Museus

e modernização de museus, ao incentivo a artistas contemporâneos, à divulgação do

Voltado para entidades públicas que atuam no

Selecionará projetos para conveniamento

tema museu em diversas mídias e ao apoio a iniciativas e experiências de memória social

âmbito museal, o Edital para a Criação e Fortale-

voltados à cultura, à memória e ao patrimônio,

desenvolvidas por comunidades e grupos populares.

cimento de Sistemas de Museus visa ao apoio à

para modernização dos espaços museais. Tem

Mais informações no site do Ibram:

estruturação, à modernização e ao fortalecimen-

por objetivo ampliar, estimular e viabilizar a

www.museus.gov.br

to do Sistema Brasileiro de Museus. São

continuidade e a sustentabilidade das atividades

R$ 2.064.203,00 para aporte de projetos.

das instituições selecionadas, a fim de fomentar

Podem participar entidades públicas, nos

o processo sociocultural nacional. São

âmbitos municipal, estadual e distrital.

R$ 3.800.000,00 para premiação de projetos e despesas administrativas, com valores de

Edital Mais Museus

R$ 100.000,00 a R$ 300.000,00.

Este edital, no valor de R$ 3.050.000,00, visa ao conveniamento de projetos para a implantação

Edital Modernização de Museus – Microprojetos

de museus em municípios com menos de

O objetivo é selecionar 50 iniciativas voltadas

50 mil habitantes que ainda não tenham

à cultura, à memória e ao patrimônio, a fim

instituição museológica estruturada. Podem

de fomentar o processo sociocultural nacional.

participar pessoas jurídicas de direito público

Foi destinado R$ 1.255.000,00 para premiação

e privado, sem fins lucrativos, com finalidade

de projetos e despesas administrativas. Serão

cultural. No caso de pessoas jurídicas de direito

entregues 10 prêmios de R$ 20 mil; 10 prêmios

privado, deverão estar instituídas há pelo menos

30 mil; e 10 prêmios de 50 mil.

109


“Prêmios e projetos relacionados à construção e modernização de museus, ao incentivo a artistas contemporâneos, à divulgação do tema museu em diversas mídias e ao apoio a iniciativas e experiências de memória social desenvolvidas por comunidades e grupos populares.”

Prêmio Ibram de Roteiros Audiovisuais 2011

Produção de Mídias Digitais

Prêmio Ibram de Arte Contemporânea

possuam em sua estrutura unidades museais,

Premiará 18 roteiros inéditos para produção

20 prêmios de R$ 5 mil

É a primeira distinção de arte contemporânea

e instituições museais de direito privado sem

audiovisual, com 60% de ambientação em

organizada pelo Ibram. São R$ 895.000,00

fins lucrativos. Os valores dos prêmios para

museus brasileiros e 20 produções de mídias

Prêmio Pontos de Memória 2011

em prêmios. Busca ampliar, estimular, viabilizar

1º, 2º e 3º colocados são, respectivamente,

digitais com argumentação museológica.

Busca reconhecer iniciativas de práticas museais

práticas artísticas contemporâneas e fomentar o

R$ 15.000,00, R$ 10.000,00 e R$ 8.000,00.

e de processos dedicados à memória social,

processo artístico nacional. Dez artistas e artistas

Incluindo as despesas administrativas, o prêmio

que se identifiquem com a perspectiva da

revelação serão contemplados. O objetivo é

totaliza R$ 65.000,00.

museologia social, da diversidade sociocultural

selecionar projetos para produção de obra

e da sustentabilidade. É voltado para grupos

inédita.

Serão entregues as seguintes premiações, totalizando R$ 1.245.000,00:

Prêmio Mario Pedrosa Voltado para trabalhos jornalísticos veiculados

Roteiro de Longa Metragem

étnicos-culturais, tais como indígenas,

Três prêmios de R$ 100 mil

afrodescedentes, ciganos, ribeirinhos,

Prêmio Darcy Ribeiro 2011

na mídia impressa nacional, que tiveram

quilombolas, rurais, urbanos, de periferia,

O Prêmio Darcy Ribeiro está na 4ª edição e é

como tema “Mulheres, Museus e Memórias”.

Roteiro de Curta Metragem

cultura litorânea, comunidades brasileiras no

voltado para práticas de educação não-formal

São prêmios de R$ 10.000,00, R$ 7.000,00

Cinco prêmios de R$ 50 mil

exterior, entre outros.

que visem a convergência entre cultura, arte

e R$ 5.000,00 para 1º, 2º e 3º lugares,

e educação, com o objetivo de contribuir para

respectivamente. Incluindo as despesas administrativas, o prêmio totaliza R$ 55.000,00.

Roteiro de Documentário

São 45 prêmios de R$ 30.000,00 para pontos

ampliar o acesso da sociedade às manifestações

Cinco prêmios de R$ 50 mil

de memória no Brasil e três prêmios de R$

culturais e ao patrimônio cultural brasileiro.

50.000,00 para pontos de memória no exterior,

Podem participar instituições museais públicas

Roteiro de Cine-TV

totalizando R$ 1.565.000,00, já incluídas as

não vinculadas à estrutura do Ministério da

Cinco prêmios de R$ 50 mil

despesas administrativas.

Cultura, órgãos ou entidades públicas que

111


A FESTA DA PIMZADA! O PIM comemorou no mês de setembro onze

oito municípios, através das ações do PIRPIM,

A partir de uma metodologia transversal o even-

anos. A Sociedade Musical Nossa Senhora da

com a proposta de desenvolvimento de ações

to propõe ações colaborativas para atingir seu

Conceição, Instituição onde o Programa Inte-

colaborativas que promovam a valorização,

público alvo e garantir o incentivo à qualificação

gração pela Música, PIM, é desenvolvido tem 30

mobilização e capacitação dos agentes culturais

e crescimento da cadeia produtiva da música, se

anos e seu como principal objetivo,

locais e contribuam para a consolidação de

traduzindo em um espaço fértil direcionado para

contribuir para o desenvolvimento social,

ações de fomento de políticas públicas culturais.

o desenvolvimento econômico e sociocultural

cultural e econômico das Regiões Centro Sul

O Programa Cultura Viva possibilitou a expansão

sustentável do Estado do Rio de Janeiro, com

Fluminense e Médio Paraíba, através de ativida-

das atividades, a formação de uma Banda e da

foco nas Regiões Sul Fluminense e Médio Paraí-

des geridas e realizadas com a presença direta

Orquestra Sinfônica Jovem Regional, além de

ba, que promove capacitação para empresários,

das comunidades locais, com foco na juventude,

ampliar o atendimento a todos os interessa-

jovens profissionais, estudantes, gestores de

incentivando a apropriação do conhecimento e

dos nas atividades desenvolvidas. Muito mais

cultura, produtores e instituições com ou sem

dos meios de produção por novos atores sociais,

importante que o aporte financeiro é o reco-

fins lucrativos.

no exercício amplo da cidadania, favorecendo a

nhecimento com Ponto e Pontão de Cultura, a

consolidação de ações de fomento de políticas

oportunidade de participar de uma rede cultural

Serão oferecidos 20 oficinas de música; palestras

públicas culturais, elaboradas com a participação

viva e atuante.

e debates sobre empreendedorismo cultural

da sociedade civil em diálogo com os setores públicos e privados.

com quatro profissionais diferentes; palesAgora os coordenadores e a PIMzada se prepa-

tras e oficinas de educação musical com dois

ram para organizar dois eventos importantes :

profissionais, mostra artística com dois grupos/

Desde o primeiro dia todas as dificuldades, conquistas, decisões, foram compartilhadas entre

artistas diferentes, além de artistas locais, grupos Através do Tuxáua, prêmio que receberam

formados por alunos e professores do evento

a PIMzada e a comunidade. Para celebrar esses

do Ministério da Cultura, mapear todas as

e Orquestra Sinfônica e Banda Jovem Regional

onze anos de caminhada e tantas conquistas

linguagens culturais da região sul fluminense,

do PIM, anfitrião do evento. A oficina inédita

o mês de setembro foi recheado de atividades.

para fortalecer essa rede, para que um possa

desta edição será “Cultura Digital e Música” na

Foram oferecidos os Painéis Funarte de Regência

contribuir com o crescimento do outro e a partir

qual serão explorados os temas de operação de

Coral, cursos de técnica de regência, dinâmica

dai, mostrar pro Brasil inteiro, pro mundo, toda

áudio, gravação e webrádio.

de coro, técnica vocal e percepção musical, além

beleza cultural que existe nessa região.

da apresentação da Orquestra Sinfônica e Banda Jovem Regional do PIM.

Todas as atividades serão gratuitas e o evento III Fórum de Música, Gestão, Educação e

subsidiará a alimentação e hospedagem/alo-

Cidadania do PIM, de 12 a 16 de outubro, em

jamento de todos os participantes através de

Atualmente o PIM está presente em dois municí-

Vassouras. A terceira edição terá a duração de

parcerias com os hotéis, restaurantes, supermer-

pios do sul fluminense através de parcerias com

05 dias contemplando a programação de ofici-

cados e comunidade local.

o Ministério da Cultura, a Secretaria de Cultura

nas diversas de instrumentos musicais, palestras

do Estado do Rio de Janeiro e as Prefeituras de

e grupos de trabalho sobre gestão, empreen-

Vassouras e Mendes onde multiplica sua tecno-

dedorismo cultural e educação musical, além

Mais informações sobre o Programa Integração

logia social de ensino musical com profissionais

da mostra artística que ocupará os dois dias da

pela Música pelo site oficial:

e jovens monitores em formação e, em mais

semana do período acima citado.

www.pim-org.com

113


RESULTADOS DO PRÊMIO

PROCULTURA “Os editais Procultura foram homologados na primeira reunião da Comissão do Fundo Nacional da Cultura (CFNC) da atual gestão do MinC.” O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) e da Fundação

O QUE É DE RAIZ TAMBÉM ESTÁ NA REDE

O tambor de crioula, o maracatu, o carnaval de rua, o cordel. A Arte e a Cultura de do nosso Brasil vem que cada canto, de cada gueto, vem do sertão, vem do artesão mineiro, da escritora baiana, do cordel pernambucano, da pintora catarinense, vem da Raiz do nosso país.

Nacional de Artes (Funarte), divulgou a lista dos habilitados e inabilitados em cinco editais Procultura,

E da Raiz, vai pra todos os lugares. Onde existir alguém

lançados em outubro de 2010. São eles: Prêmio Palcos Musicais Permanentes; Prêmio de Apoio a

conectado vai haver um artista brasileiro em destaque,

Festivais e Mostras de Música; Prêmio de Estímulo às Artes Visuais; Prêmio de Apoio à Banda de Música; e Prêmio de Estímulo ao Circo, à Dança e ao Teatro.

seja nas páginas impressas da Raiz, no Portal, no Tablet ou nas redes sociais.

Os editais Procultura foram homologados na primeira reunião da Comissão do Fundo Nacional

A #NovaRevistaRaiz vai trazer muito mais informação,

da Cultura (CFNC) da atual gestão do MinC, de acordo com os compromissos firmados pela

dicas e acesso a uma cultura genuinamente brasileira.

ministra da Cultura, Ana de Hollanda, o que garantirá o pagamento até o final do ano. Com recursos do FNC, constituído de verbas destinadas exclusivamente à execução de programas, projetos

wwww.revistaraiz.com.br

ou ações culturais, os editais contemplam, entre outras áreas, circo, dança, teatro, artes visuais, música, livro e leitura e diversidade cultural, com um total de R$ 57 milhões.

Lista de Habilitados e Fichas de Recursos no site da Ministério da Cultura: http://www.cultura.gov.br/site/2011/09/16/editais-premio-procultura/

www.facebook.com/revistaraiz

@revistaraiz



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