A DE A ARTE ARTEVISIONÁRIA VISIONÁRIA DE
RAN CHINHO
A SENSIBILIDADE FALA MAIS DO QUE UM MILHÃO DE PALAVRAS
Ele tem um talento artístico Agora, sua história e sua obra
extraordinário. estão descritos nesse livro.
Conheça mais os tons e cores de Ranchinho. Ricamente ilustrado Texto dos
com dezenas de obras do artista
experts Antônio Fernando Franceschi, Oscar D´Ambrósio e Roberto Rugiero. Uma realização Associação Raiz e Galeria Brasiliana Nas melhores livrarias ou no Portal RAIZ.
www.revistaraiz.com.br
SUMÁRIO Depois da longa jornada desde a última edição impressa - em novembro de 2009 -, a Revista RAIZ. volta para seu berço de papel original,
8
em versão editorial e gráfica renovadas. Pois não podíamos permanecer estanques, para honra de nossa identidade dinâmica. Esse diferencial da nossa cultura popular, que mesmo sendo estigmatizada e esquecida desde sempre, permanece presente em nosso cotidiano e em nossa maneira de ser brasileiros. Afinal, como diz Adélia Borges: “a arte popular está sempre se renovando, não se
16
ACONTECE...................... O que rola de bom em nossa cultura. PROSA..............................A força do samba em múltiplas raízes.
estagnou.” Esse é o nosso trunfo como país que é a “bola da vez”; onde os estrangeiros querem morar e vender; onde a arte não se folclorizou no coreto das praças turísticas e que tão bem representa o seu povo, sua imagem e semelhança.
30
VERSO...............................A literatura indígena de fora e de dentro.
36
FIGURAS............................Personagens que fazem a nossa cultura maior.
44
RAIZ DA QUESTÃO...........Debates sobre os caminhos da cultura brasileira.
52
PATRIMÔNIO....................A festa casamenteira em Santo Antônio de Barbalha, Ceará.
58
POLÍTICAS.........................Países da América do Sul iniciam processos da criação de Pontos de Cultura.
62
ENSAIOS...........................Dentes da Memória, a poesia de quatro rapazes.
70
BENS DE RAIZ....................Livros, filmes, DVDs e CDs de RAIZ.
82
MÚSICA............................O samba e o rock de Seu Osvaldo, o primeiro DJ do Brasil.
90
VIAGENS...........................Ouro Preto, 300 anos de histórias.
98
COMIDAS.........................Como fazer a famosa tapioca da Tia Lú.
Essa virtude miscigenada e inquieta se potencializa pelas diversidades e distâncias continentais. E a RAIZ., cumprindo sua missão do fazer ver e consumir o popular de nossa cultura propõe, em sua nova fase, um acento em seu caráter multimeios. Se o Portal (www.revistaraiz. com.br) foi o guardião das pautas populares desde nosso início em 2005, agora a tecnologia dos smartphones, tablets e da própria Internet oferecem cenários cinematográficos. A Revista RAIZ. assume o desafio de ser uma publicação completa, em meios impressos, eletrônicos e digitais; presente nas Redes Sociais; nas novas tecnologias; em forma de texto, TV e rádio; dentro da sua coerência editorial de revelar o Brasil escondido das grandes mídias. Pois, embora “o orgulho de ser brasileiro” apareça como um slogan recorrente entre as marcas, não se materializa nos investimentos realizados por estas, nas iniciativas populares. A RAIZ. quer ver e ouvir esse Brasil, que gera tanto interesse mundial a partir das nossas idiossincrasias locais. A decorrência é o desafio de se pautar uma nova edição frente às possibilidades. E mesmo com temáticas conhecidas como o samba, nos defrontamos com gratas surpresas. Re-encontrar a importância e elegância do samba rural paulista, pouco comentado desde Mario de Andrade, nos anos trinta, e Plínio Marcos, nos setenta. Observar as Velhas Guardas das Escolas de Samba buscar novos espaços para sua manifestação artística, uma vez expulsas das quadras, pela competição dos desfiles e dos novos gêneros musicais mais afeitos à promoção das mídias. Mais surpresas vão surgindo no diálogo com os nossos atores culturais. Então, não importa, se é do índio ou sobre os índios; se o museu é no Recreio dos Bandeirantes na cidade maravilhosa ou na sala de estar do apartamento em São Paulo; se a festa é pagã em homenagem a um Santo, o Antônio; se a arte é de produção coletiva ou individual na insanidade lúcida do Ranchinho; se a escultura em um bloco de madeira são de animais ou de homens; se o samba é rural ou samba rock; nossas intenções fogem aos limites. Nesse processo de descobertas vamos pontuando as figuras importantes para apresentar, guardar, documentar, disseminar. Valorizar os protagonistas e os objetos culturais que nos diferem e nos credenciam como uma cultura viva. Dando forma à tradição, múltiplos escultores são seus arquitetos. A RAIZ. quer dar palco e voz para nossa cultura popular. Reguem essa RAIZ. em todos os meios onde ela, agora, se apresenta. Boa diversão e interação. Edgard Steffen Junior
102
PONTOS DE CULTURA.....Arte e transformação social em ação.
EXPEDIENTE
COLABORADORES
EDITOR-CHEFE: Edgard Steffen Junior EDITORA ASSISTENTE: Thereza Dantas JORNALISTA: Cleber Erik da Silva FOTOGRAFIA: Yves Barros DIREÇÃO DE ARTE: Uirá Peixeiro ASSISTENTE DE ARTE: Igor Busquets ILUSTRAÇÕES: Uirá Peixeiro
Cristina Astolfi, 32, é mais uma caipira que se apaixonou
Carlos Henrique Machado é compositor, pesquisador
REVISÃO: Anita Silveira
pela cidade grande, suas histórias, pessoas e paisagens. An-
e bandolinista. Autor do premiado álbum Vale dos Tambores.
AUDIOVISUAL: Célia Harumi Seki
tropóloga formada pela UNICAMP, produtora cultural, editora,
Atualmente trabalha o seu próximo projeto, “Tem Muito Arroz
educomunicadora, atuou em projetos como o Programa de
Neste Pilão”.
VINHETA: Rodolfo Nakakubo INTERNET: Leo Flauzino ADMINISTRAÇÃO: Marcela Carvalho Campos
Formação de Professores do Museu da Língua Portuguesa e Telecurso TEC, na Fundação Roberto Marinho. Atualmente, aventura-se no desenvolvimento de conteúdos digitais: aplicativos móveis, objetos de aprendizagem e jogos educacionais.
COLABORADORES:
Além disso, está sempre por aí, pegando emprestado os olhos
Textos: André Domingues, Augusto Câmara Campos,
de outros para ver o mundo de um jeito diferente.
Carlos Henrique Machado Freitas, Cristina Astolfi, Christian Saez, Dalwton Moura, Felipe Melo, Fernanda Estima, Junior Perin, Nice Lima, Ricardo Soares
Junior Perim, Produtor e ativista cultural, co-fundador do
Ricardo Soares, diretor de tv, escritor e jornalista. Autor
fotografias: Luiz Santos, Marcelo dos Santos, Paula Cinquetti, Vic Parisi
circo Crescer e Viver e Ponto de Cultura Crescer e Viver – site
de Cinevertigem ( ed. Record 2005) e de livros infanto-juvenis
Rafael Vilarouca e Mario Thompson
oficial www.crescereviver.org.br
como Valentão (1999). Dirigiu, escreveu, apresentou e editou em orgãos de comunicação tão diversos quanto a revista Trip e Família Cristã passando pelo Estadão, Jornal do Brasil, Man-
JORNALISTA RESPONSÁVEL: Thereza Dantas – MTB 22.194
chete, TV Cultura, Rede Sesc/Senac de Televisão,Gazeta/CNT, TV Brasil, GNT, Jornal da Tarde, Diário do Grande ABC, Rolling
RAIZ. É UMA PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO RAIZ. COM O APOIO DA EDITORA CULTURA EM AÇÃO
Stone e a própria revista RAIZ. Dirigiu 12 documentários para
E-MAIL: regueessaraiz@revistaraiz.com.br
várias emissoras de televisão.
PORTAL RAIZ: www.revistaraiz.com.br AGRADECIMENTOS AOS PARCEIROS DA 9 EDIÇÃO DA REVISTA RAIZ Muda Cultura - Race Gestão Cultural - Primavera Filmes - Programa Cultura Viva -
Felipe Dantas Cabral de Melo, natural do Recife, 56
Dalwton Moura é jornalista com experiência em impresso
anos, produtor cultural com interesse na pesquisa e promoção
e jornalismo cultural. Foi finalista do Prêmio Imprensa Embratel,
Fundação Perseu Abramo - Revista Teoria e Debate - Galeria Brasiliana - Museu da
das expressões da cultura tradicional de Pernambuco.
em 2004, com um caderno especial sobre os 160 anos de
Casa do Pontal - Deputada Jandira Feghali - Grêmio Recreativo de Resistência Cultural
Padre Cícero.Trabalha com assessoria de imprensa, nos seg-
Kolombolo Diá Piratininga – Projeto Samba Autêntico - Instituto África Viva - DJ Paulão -
mentos político e cultural. Compositor premiado em festivais
Editora Azougue.
no Ceará, na Paraíba e em São Paulo, atualmente é Coordenador de Políticas para a Música, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Fortaleza.
APOIO INSTITUCIONAL
Este é um projeto com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313/91)
acontece
BARCOS DO BRASIL
O
OS VENTOS SOPRAM NA DIREÇÃO DA EXPOSIÇÃO QUE INAUGURA NOVA SEDE NACIONAL DO IPHAN
Brasil também apresenta riqueza no seu patrimônio
naval, e é isso que mostra a exposição “Barcos do Brasil”,
ESCULTORES MINEIROS
SEIS MÃOS, TRÊS UNIVERSOS E MUITA SENSIBILIDADE
A
que marca a abertura da nova sede nacional do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em Brasília. As visitações, abertas desde o último dia
31 de agosto, vão até 18 de novembro deste ano. Na ocasião da cerimônia de lançamento, também foi inaugurada a Sala Mário de Andrade, espaço destinado à realização de exposições com a temática do patrimônio brasileiro. A exposição é o merecido reconhecimento a um dos patrimônios navais mais ricos do mundo, tanto em quantidade quanto em
A sua criação surgiu da preocupação em registrar os principais barcos
diversidade. Falar de barcos do Brasil é falar de história, arte, cultura
tradicionais do Brasil, que já no início do século XX corriam o risco de
e sociedade. Fontes de renda e subsistência para diversas popula-
desaparecer. A Coleção Alves Câmara faz parte do acervo do Espaço
ções, a exposição Barcos do Brasil funde-se com o cotidiano dessas
Cultural da Marinha, com sede no Rio de Janeiro.
pessoas e com a própria história brasileira. As réplicas foram desenvolvidas com o incentivo do navegador Amyr Klink rtur Pereira, Geraldo Teles de Oliveira e Jadir João
pequeno em cedro, passa a trabalhar nos blocos maciços de madeira macia,
Egídio são os grandes destaques da exposição que a Galeria Estação mantém até o dia 01 de outubro deste ano.
Já foram identificados mais de 2.000 tipos de embarcações, seja
e o apoio do Iphan. A curadoria é do arquiteto e urbanista Dalmo Vieira
complexas composições baseadas em sua experiência da vida rural.
para ambientes lacustres, fluviais ou marítimos, e com os mais diver-
Filho, atual diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização
Geraldo Teles de Oliveira (Itapecerica/MG) e Jadir (Divinópolis/MG) dedicaram
sos fins, utilizados por populações costeiras e ribeirinhas, integrados
do Iphan.
seu trabalho com quase exclusividade a motivos religiosos, utilizando elemen-
a um imenso contexto destas tradições, conhecimentos e trabalhos. A
tos do catolicismo, dos mitos indígenas e da cultura afro-brasileira. Jadir, em
exposição apresenta, pela primeira vez, os 89 modelos de embar-
O Projeto Barcos do Brasil tem como grande apoiador o navegador Amyr
O trio de escultores mineiros, que tem suas obras celebradas pela crítica,
geral, ainda segundo a curadoria do projeto, subtrai a imitação do mundo real
cações tradicionais brasileiras que fazem parte da Coleção Alves
Klink e objetiva a preservação e a valorização do patrimônio naval brasileiro,
têm em comum em suas peças - 14 grandes esculturas que estão em
e transmite em suas esculturas um “sentimento dramático sobrenatural”.
Câmara Século XXI.
dos barcos tradicionais, dos homens e mulheres do mar, dos carpinteiros e
Escultores mineiros
A mostra fala um pouco sobre o patrimônio naval brasileiro, o ofício
artesãos, dos mestres e pescadores, da arte da navegação, da riqueza e da
exposição - os traços de uma cultura regional, uma relação estreita entre o homem e a natureza, a existência humana e seu lado spiritual.
diversidade do patrimônio cultural.
De 26 de agosto à 01 de outubro de 2011
do modelismo naval e o Projeto Barcos do Brasil, sensibilizando os
As esculturas são feitas a partir de blocos inteiriços que após entalhados ainda
De segunda a sexta 11h às 19h - sáb. 11h às 15h
visitantes para a importância do reconhecimento e da preservação
Barcos do Brasil
conservam características da sua forma original.
Galeria Estação
dos modos de vida, paisagens, técnicas tradicionais e embarcações.
De 31 de agosto a 18 de novembro de 2011
Rua Ferreira Araújo - Pinheiros, 625
De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h
Segundo a curadoria da exposição, a arte dos escultores é um reflexo das
São Paulo - SP
A Coleção Alves Câmara Século XXI foi inspirada na Coleção Alves
Sala Mário de Andrade
experiências trazidas pela vida no campo, atividades e rituais religiosos,
marcy@pooldecomunicacao.com.br /
Câmara original, composta por 42 modelos de barcos tradicionais
Sede do Iphan - Edifício Lúcio Costa
festejos e todo o cotidiano das comunidades regionais.
martim@pooldecomunicacao.com.br
brasileiros, encomendados em 1908 pelo então Ministro da Marinha,
SEPS Quadra 713/913 - Bloco D
Telefone: (11) 3032-1599
o Almirante Alves Câmara, aos estados brasileiros.
Asa Sul - Brasília - DF
Artur Pereira (Cachoeira do Brumado/ MG) começou sua carreira esculpindo em barro figuras isoladas de bichos. Depois de ter esculpido um presépio
Fax: (11) 3814 -7000
Telefone: (61) 2024-6187 / 2024-6194 (11) 3032-1599 Fax: (11) 3814 -7000
9
acontece
DESENHO DE FIBRA A CASA - MUSEU DO OBJETO BRASILEIRO APRESENTA EXPOSIÇÃO QUE DESTACA UNIVERSO TÊXTIL DO BRASIL
A REDESCOBERTA DE UMA VALOROSA ARTE DE TRADIÇÃO UNIVERSAL
O
Pavilhão das Culturas Brasileiras, em São Paulo, recebe a partir do próximo dia 10 de setembro a exposição ArteFatos Indígenas. O objetivo é colocar a produção artística indígena brasileira sob um óptica aprofundada, retirando dela o caráter estereotipado que a resume a uma mera manifestação etnográfica e regionalista.
A exposição conta com 270 peças adquiridas pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo para integrar o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras. Os curadores da exposição, Cristiana Barreto (arqueóloga e pesquisadora) e Luis Donisete Benzi Grupioni (etnólogo especialista em cultura material indígena, e coordenador do IEPÉ) dividiram a mostra em módulos, destacando a arte de doze povos indígenas da Amazônia, dos
exposição Desenho de Fibra tece fio a fio anos de
empresas, formar associações, exportar e conquistar autossuficiência
Estados do Amapá, Pará e Mato Grosso: Wajãpi, Galibi, Palikur, Karipuna, Galibi-Maworno,
história do trabalho têxtil de cinco regiões do Brasil.
criativa, comercial e financeira.
Tiriyó, Kaxuyana, Wayana, Aparai, Asurini, Kayapó e Kayapó Xikrin.
Renato Imbroisi, além de designer é tecelão e atua também como con-
O uso de materiais atuais é ressaltado como uma forma de diminuir preconceitos em relação ao
sultor, diretor de projetos e parceiro de artesãos no desenvolvimento e
conflito existente entre os conceitos de arte “tradicional” e “moderna”, afirmando que o seu uso
A exposição é baseada no conteúdo do livro Desenho de Fibra -
na criação de novos produtos, trazendo de volta técnicas e tradições da
não tornam as peças menos autênticas.
Artesanato Têxtil no Brasil, escrito por Maria Emilia Kubrusly e Renato
identidade cultural local.
Serão destacadas suas técnicas básicas: tecelagem, rendas, cestarias, bordado e crochê.
ArteFatos Indígenas:
Imbroisi, lançado pela editora Senac em 2011. Desenho de Fibra, de Renato Imbroisi
De 10 de setembro a 08 de janeiro de 2012
A exposição Desenho de Fibra traz um resumo da trajetória do designer
De 2 de setembro a 18 de novembro de 2011
De terça a domingo das 9h às 18h, com entrada até as 17h
Renato Imbroisi e a descrição de como desenvolveu um método de
De segunda a sexta das 10h às 19h
Entrada gratuita
trabalho conjunto com artesãos têxteis.
A CASA - Museu do Objeto Brasileiro - Rua Cunha Gago, 807 - São Paulo - SP
Pavilhão das Culturas Brasileiras
Informações:
Parque do Ibirapuera (antigo prédio da Prodam)
Renato Imbrosi já trabalhou em 140 projetos no Brasil, destes foram
Telefone: (11) 3814 9711
Rua Pedro Álvares Cabral, s/ nº - São Paulo - SP
selecionados cerca de 35 peças, exemplos de parcerias bem sucedidas
Site: www.acasa.org.br
Telefone: (11) 5083 0199
entre o designer e os artesãos que deram continuidade à produção
E-mail: acasa@acasa.org.br
Site: www.culturasbrasileiras.sp.gov.br
com profissionalismo, chegando, em muitos casos, a constituir
Fotos: Divulgação
A
ARTEFATOS INDÍGENAS DE PRODUÇÃO ETNOGRÁFICA
E-mail: culturasbrasileiras@prefeitura.sp.gov.br
11
acontece
Inclusive causam um certo desconforto, assim como suas letras. Nem músico ele é. O técnico em eletrônica Tony da Gatorra canta o que ele
acredita. Foi essa a maneira que ele encontrou para espalhar sua mensagem. Questiona a distribuição de renda, o capitalismo, as promessas do governo, as falhas do Estado em atender os mais necessitados,
TONY
DA
A
s músicas dele não são melodiosas.
GATORRA
a corrupção, a fome, a violência, a falta de respeito entre as pessoas, o mundo cada vez mais inóspito e
Foto: Divulgação
A
O QUE OS OLHOS NÃO PODEM VER SOB DIFERENTES OLHARES
principalmente pela páz. É, com acento agudo, do jeito que ele gosta de escrever. A gatorra – uma espécie de sintetizador com bateria eletrônica em forma de foice – é o único instrumento que ele usa. A crítica gosta de compará-lo com o Alan Vega (Suicide), com o Mark E. Smith (The Fall), com o som do Silver Apples, chamá-lo de pós-punk. Mas o Tony gosta mesmo é de escutar Raul Seixas, Beatles, Led Zeppelin, White Snake e o Hino Nacional. A primeira gatorra surgiu em 1997, mas hoje em dia algumas delas habitam a casa de gente como
té o próximo dia 30 de outubro a Caixa Cultural de
Nenflídio), Jardim da Glória (Lenora de Barros), e um “Mapa
Lovefoxxx (CSS), Nick McCarthy (Franz Ferdinand) e
São Paulo apresenta a exposição Mapas Invisíveis.
Abstrato”, feito por Cinthia Marcele e Marilá Dardot. A exposição
Gruff Rhys (Super Furry Animals) – este último um fã
é constituída por instalações, esculturas, fotografias e videos entre
declarado que, depois de fazer uma turnê europeia
outras linguagens artísticas.
com Tony em 2007, comprou uma gatorra e convo-
O objetivo da mostra é trazer para diante do espectador as transformações contínuas que altera-
ram e tornam a alterar a paisagem urbana da cidade. São visões diferentes e ao mesmo tempo complementares de
cou o gaúcho para gravar um disco com ele, lançado Os trabalhos também possuem origens diversas, sejam represen-
ano passado sob o título “The Terror of Cosmic Lone-
tações geográficas ou complexos confrontos entre o artista e os
liness” em shows por todo o Reino Unido.
conceitos que fazem parte da região.
diversos artistas. Partindo da experiência que cada um possui
Tony voltou pra São Paulo depois de mais de dois Mapas Invisíveis
anos sem tocar aqui. Foram três shows. No primei-
De terça a domingo, até 30 de outubro
ro deles, no Ô de Casa Hostel, houve também o
Cada artista ficou com um bairro diferente: Barra Funda (Estela
De terça a sábado das 9h às 21h, domingos e feriados das 10 às 21h
lançamento e a exibição do minidocumentário “Meu
Sokol), Praça Roosevelt (Fabiano Gonsper), Pico do Jaraguá
Entrada grátis - Caixa Cultural de São Paulo
Nome é Tony. Eu Construí um Instrumento”, que
(Marcelo Moscheta), Liberdade (Laerte Ramos), Vila Medeiros
Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2083 – Cerqueira César São Paulo
conta um pouco da história do técnico e o que inspira
(Lucia Koch), Pompéia (Tatiana Blass), Santa Efigênia (Paulo
Telefone: (11) 3321-4400
suas canções e seu discurso.
da sua própria convivência com as muitas culturas de São Paulo.
Fotos: Divulgação
MAPAS INVISÍVEIS
com o abismo de classe em que vivemos hoje. E pede
13
acontece
NOS PASSOS DO BRASIL TRAJETÓRIA CONTÍNUA DE UM PAÍS DE MUITAS IDADES
E
ntre os meses de agosto e outubro, o Itaú
17 de Outubro, às 15h00 e 19h30
Cultural recebe o evento Nos Passos do Brasil,
Companhia Ballet Stagium apresenta Coisas do Brasil
com apresentações voltadas para o público da
Trata-se de um retrato da história do país, da descoberta até
terceira idade.
a formação da elite na sociedade, inspirado na magia dos choros que nos velhos tempos emprestavam seu charme pelas
Composto por apresentações gratuitas dos grupos Nau de Ícaros,
rodas espalhadas pela cidade de São Paulo.
Ballet Stagium e Sarandeiros, “Nos Passos do Brasil” é promovido
pelo Clube A - associação sem fins lucrativos fundada pelo Itaú
24 de Outubro, às 15h00 e 19h30
Unibanco.
Grupo Sarandeiros apresenta Dança Brasil Uma ótica diferente sobre as festas e danças existentes em
O objetivo do evento é levar histórias e tradições brasileiras para
todo o país, trazendo quadros dos principais ciclos festivos
as pessoas da terceira idade.
nacionais, como carnaval, festas juninas, carimbó, lundu, xaxado, danças gaúchas, entre outros.
Fotos: Divulgação
Na ocasião da abertura, no início de agosto, o Grupo Nau de Ícaros apresentou “Cidade dos Sonhos”, uma ópera circense e poética
Nos Passos Do Brasil
que resgata o mito da Cocanha – uma terra fabulosa da prosperi-
Itaú Cultural
dade e da abundância, onde não existe, velhice ou morte.
Avenida Paulista, 149 - São Paulo - SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô)
Duas outras apresentações ainda estão agendadas:
Telefone: (11) 2168 1777
15
prosa
EU SOU O
Foto: Paula Cinquetti
SAMBA
O QUE SE CHAMA HOJE DE SAMBA DE RAIZ É ALGO QUE RETOMA A TRADIÇÃO NASCIDA COM AS ESCOLAS DE SAMBA CARIOCAS EM 1928. Por André Domingues Fotos Paula Cinquetti
17
Fotos: Paula Cinquetti
prosa
A
s “raízes” do samba são como
de samba cariocas em 1928. Tem lá seus laços
pouco se envolveram com o movimento de
senzalas, os quilombos e os orixás que resplan-
a cidade do Rio de Janeiro, com toda a sua
as daquelas plantas de man-
com o samba baiano ancestral, sobretudo
retomada da velha tradição do samba. Tiran-
decem no imaginário das rodas. É, porém, um
desconcertante diversidade.
guezal: altas, finas, visíveis.
através da brincadeira de improviso do partido
do uma Portela, uma Mangueira ou alguma
recurso poético, não histórico. Do ponto de
Ficam tão à mostra, ao alcance
alto, mas estes dificilmente passam de vagas
outra das mais tradicionais, no trabalho
vista da constituição, as raízes do samba não
das mãos, que parecem vul-
lembranças. Afinal, a geração de artistas mais
ocasional e restrito das suas velhas-guardas,
neráveis. Não são. Mesmo recentes e urbanas
próxima das antigas tias baianas – Sinhô, Cani-
a imensa maioria passou ao completamente
– a origem do samba hoje praticado remonta
nha, Donga, João da Baiana, Patrício Teixeira e
largo, absorta nas tarefas de se adequar aos
ao Rio de Janeiro do final dos anos 1920 –,
por aí afora – dificilmente entra no repertório
padrões grandiosos dos desfiles televisiona-
essas raízes estão mais firmes do que quais-
das rodas atuais. Até mesmo Pixinguinha, tão
dos, atrair patrocinadores e vender fantasias.
quer outras na música popular brasileira. Basta
cultuado nos choros, costuma ser ignorado
Tão concentradas no business do carnaval, as
comparar o vigor do atual “samba de raiz” com
como sambista. O grande assunto do samba
escolas raramente se empenham em difundir
seus equivalentes na música sertaneja (a moda
de raiz acaba sendo, mesmo, a geração carioca
o samba – de raiz ou não – o resto do ano. É
de raiz) ou no forró (o forró de pé-de-serra). A
de Noel Rosa, Ismael Silva e Cartola ou os
o que mostrou o documentário O Samba que
se estendem só pela cultura bantu da região
população pobre e mestiça dos morros e dos
desproporção a favor do samba é imensa, seja
artistas que posteriormente a retomaram, como
Mora em Mim, de Georgina Guerra-Peixe,
Congo-Angola, mas também avançam longa-
subúrbios, mas também dominava os meios
em número de artistas, em repercussão ou em
Paulinho da Viola, Candeia, Martinho da Vila,
lançado no início deste ano. O filme, rodado
mente pelos solos ibéricos, com as heranças
de comunicação e a política cultural de Ge-
variedade de resultados. Basta dizer que além
Clara Nunes, Beth Carvalho e o grupo Fundo
na tradicionalíssima Mangueira, traz na boca
européias e mouras da cultura portuguesa.
túlio Vargas. Virou, inclusive, o representante
de artistas mais típicos, como Quinteto em
de Quintal. É nessa cadeia de precursores e
de uma moradora do morro a reveladora
Veja-se, por exemplo, que toda a estrutura me-
maior da música nacional. Como falar em
Branco e Preto e Teresa Cristina, o gênero tem
sucessores que se forma um quadro de referên-
afirmação de que “o samba para no carnaval;
lódica e harmônica do samba e, inclusive, boa
margem estando, assim, tão no centro?
atraído meio mundo da MPB nos últimos anos.
cias relativamente estável, fundamental para os
o funk tem toda sexta-feira”.
parte da instrumentação vieram da herança
Marisa Monte e Maria Rita que o digam.
anseios de identificação do público.
Outra saída mais poética do que histórica no universo do samba é a de tingi-lo com fortes
“O samba para no carnaval; o funk tem toda sexta-feira”
tons de marginalidade. Acontece que, entre o final dos 20 e o início dos 30, esse samba já não era algo tão pouco aceito socialmente como no passado. Acontece que, depois de ter caído nas graças da intelectualidade modernista, o samba carioca viveu uma situação ambígua: era praticado principalmente pela
portuguesa. As raízes do samba, enfim, não
Contudo, se está correto dizer que a tradição
O termo “raiz” no samba é algo que exige uma
são formadas em terras de além-mar nem
do samba é recente, urbana, com sensíveis
O que se chama hoje de samba de raiz é algo
É interessante notar, aliás, que as escolas de
reflexão maior. Uma tendência forte é procurar
em grupos transplantados, mas nesse solo
influências midiáticas e até políticas, tal cons-
que retoma a tradição nascida com as escolas
samba, ponto de partida dessa história toda,
as origens na africanidade, aproveitando as
comum que é o Brasil. Mais especificamente,
tatação não encerra a questão. Afinal, assim
19
Fotos: Paula Cinquetti
prosa
como os arvoredos de mangue, o samba mos-
A própria roda, como princípio de organi-
da em outras localidades. Boa parte do seu
maior ou menor frequência, essa ainda é uma
música nacional, difundido midiaticamente
tra uma insuspeita resistência às intempéries,
zação, é um elemento valioso da cultura
sucesso se deve a essa receita de roda, que
receita partilhada pela maioria dos sambistas
e amparado pela intelectualidade naciona-
donde achar que tudo é cenário ou encena-
popular, já que estabelece uma relação direta,
tradicionais, inclusive pelos de sucesso.
lista ajudam muito. Mas o fundamental é
ção desmerece a inteligência e a sensibilidade
horizontal, entre os participantes, evitando
de quem o pratica. É verdade que não se deve
a diferenciação hierárquica entre músicos e
mais apostar as fichas na ideia de um purismo
plateia. Daí sua capacidade de semear algo
redentor, mas ainda é tempo de retomar
muito caro ao imaginário popular brasileiro: a
o tema das raízes do samba com olhos e
noção de comunidade. Compor, tocar ou can-
ouvidos abertos para alguns traços culturais
tar para uma comunidade já formada é algo
profundos e difusos. Qualquer roda de samba
muito, mas muito diferente do dia-a-dia mi-
é rica nesses traços, tais como o destaque ao
diatizado da música profissional. Ouvir música
batuque sincopado, o acompanhamento com
no interior de uma comunidade, também.
palmas também sincopadas, o canto coletivo
Um ótimo exemplo disso é o Samba da Vela,
com preferência pelas regiões agudas, a
nascido na Zona Sul paulistana, no ano 2000,
dança requebrada e as temáticas de amor e
uma iniciativa das mais radicais no campo do
valentia, entre outros.
samba de raiz – e incansavelmente replica-
“O samba tem a capacidade de semear algo muito caro ao imaginário popular brasileiro: a noção de comunidade.”
que, dentro de uma rede de relações tão Apenas o samba, tem se mostrado capaz de
complexa como essa, os sambistas populares
sustentar esses elementos numa esfera de
não deixaram de investir na preservação de
consumo ocupada pelos grandes modismos.
uma série de traços culturais profundos. E
É curioso observar que todos os elementos
tiveram êxito. Quem pensa que o comercia-
aqui citados independem do samba para
lismo, a mídia, a política ou a academia são
existir. Bem podem ocorrer num coco, numa
necessariamente venenos letais para a cul-
congada ou em diversas outras manifesta-
tura popular, toma como vulneráveis demais
ções brasileiras. A diferença é que o samba,
as raízes finas e aéreas do mangue. Não são.
e apenas o samba, tem se mostrado capaz
Zeca Pagodinho não sobrevive apesar de to-
de sustentar esses elementos numa esfera de
dos os interesses que o cercam; vive a partir
formou e sustentou a comunidade ao longo
consumo ocupada pelos grandes modis-
de todos os interesses que o cercam.
dos seus 11 anos de existência. Aliás, com
mos. Na certa, o fato de ter sido elevado à
21
Foto: Arquivo pessoal de dona Lúcia Madre, viúva de José Madre, o “Zé da Caixa
prosa Uma das primeiras escolas de samba de São Paulo, a Escola de Samba dos Lavapés em 1937
SAMBA SP Por Edgard Steffen Jr.
Fotos Yves Barros e Vic Parisi
Comprei uma casinha pra mim e ela morar
Resolvi fazer um chá
Fui morar no pé da serra
Só não convidei tristeza
E levei felicidade para lá
Mas tristeza chegou lá
Tristeza não foi preciso convidar Pra comemorar o ano
Tristeza não foi preciso convidar.
(“Pé de serra” - Toniquinho Batuqueiro, CD Memória do Samba Paulista)
L
endo a letra acima ficamos imagi-
Olhando para São Paulo vemos um cenário
nando de que modo os cariocas
que nos surpreende. Escutar o samba paulista
como Cartola, Nelson Cavaquinho
é se defrontar com uma música que guarda
ou Zeca Pagodinho iriam se inspirar
um jeito próprio e de forte acento, fruto da
pelo chá das cinco? Essa herança da
mixagem de influências amplas: indígena, afri-
ocupação ferroviária desenhada pelos ingleses no estado de São Paulo no final do século XXI, é só um dos diferenciais do samba paulista. O samba sempre reconhecido pelo batuque, tem na poesia
cana e europeia. Crescida em meios distintos
“São Paulo é o lugar onde mais se toca, se canta e se renova o samba no Brasil”
outra força incontida.
migra da roça para a fábrica, trazendo para o samba essa identidade característica de quem é caipira de nascença e urbano de criação. Essa identidade muitas vezes não percebida, vem sendo
Ambos, batuque e poesia, revelam as origens
reenergizada pela juventude paulistana em di-
que o moldaram como uma arte especial.
versas manifestações e organizações na busca
Uma manifestação que envolve música, dança,
do espaço perdido na competição dos desfiles
comportamento e, principalmente, a socializa-
na Avenida e na programação musical das
ção para sua plena realização: roda, pagode,
mídias. Afinal, a realidade do samba paulista é
cordão, bloco, escola de samba, comunidade...
rica em batuque e poesia.
23
Foto: Vic Parisi
Foto: Yves Barros
prosa
Plínio Marcos.
ONG Kolombolo Diá Piratininga
Vindo de Pirapora, Sorocaba, Laranjal
migram para os grandes centros urbanos e
São Paulo chamava-se Dionísio, o deus grego
a festa de momo foi sendo “enquadrada” em
da Cuíca e Isaurinha Garcia. Mas se falarmos em
Paulista, Tietê, só para citar as cidades mais
vão construindo a cidade, trabalhando nas fá-
da celebração. Dionísio Barbosa, negro da
um espaço oficial e se afastando do cotidiano
Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde, Toniquinho
recorrentes, o samba de São Paulo finca suas
bricas e se agrupando para celebrar a batida
primeira geração de escravos livres que veio
da cidade, assim como os instrumentos musicais
Batuqueiro, Talismã, Sílvio Modesto, Jangada,
raízes de fora para dentro. Caipira do interior
dos terreiros ancestrais.
morar em São Paulo. Foi beber na fonte do
sendo substituídos pelo padrão e necessidades
Henricão, Vassourinha, Paulistinha, todos nomes
carnaval no bairro da Penha carioca, fundando
dos desfiles na avenida.
importantes para o samba paulista, vamos saber
rural paulista, campeado pela influência indígena e do ciclo cafeeiro, vem explodir como
Assim, seu ritmo é definido por Plínio Marcos,
posteriormente o Cordão Barra Funda em
manifestação no meio urbano. Não é à toa,
um dos maiores entusiastas do samba paulis-
1914, que mantendo as cores verde e branco
Hoje, o Sambódromo do Anhembi, deixa a festa
online. Da nova safra tem se destacado o Quin-
que Mario de Andrade tenha classificado de
ta, como: “samba de trabalho, durão, puxado
desde sua origem, se transmuta em uma das
simbolicamente às margens do Tietê, enquanto a
teto em Branco e Preto e, mais recentemente o
rural, o samba praticado no Estado.
para o batuque”, ou na opinião de Renato
mais tradicionais Escolas de Samba de São Pau-
cidade pulsa solene o seu dia a dia, sem ter que
Kiko Dinucci, mas são muitos os compositores
Dias, do Kolombolo: “mais no chão, como a
lo, o Camisa Verde e Branco. Não por acaso,
limpar as serpentinas e as lantejoulas na calçada.
do samba paulista em diálogo constante com
“São Paulo é o lugar onde mais se toca, se
dança dos índios”.
ser a Zona Norte paulistana o reduto de gran-
Rotina que tem sido alterada em parte pelos Blo-
as velhas guardas das Escolas de Samba, que se
canta e se renova o samba no Brasil”. Essa é
Samba de bumbo x de surdo; marcha samba-
de parte das Escolas de Samba paulistanas.
cos e Cordões, que ganham as ruas, não só da
reconhecem e são reconhecidos num relação
a afirmação de T. Kaçula, um dos expoentes
da x partido alto; metais x reco-reco, tambo-
capital paulista, como da carioca também. Nessa
harmônica e positiva.
da nova geração de sambistas paulistanos,
rim e agogo; porta estandarte x mestre sala
onda dos blocos, temos hoje um forte movimen-
desafiando a voz corrente de que São Paulo é
e porta bandeira; chocalho x repinique; as
rock e Rio de Janeiro é samba.
diferenças são muitas na ponte São Paulo-Rio.
São mais de sessenta grupos organizados na
O Arnesto nos convidou
Associação de Sambistas e Comunidades do
pra um samba, ele mora no Brás
Samba de São Paulo (ASCSS), 68 filiados da
Nós fumos não encontremos ninguém
UESP (União das Escolas de Samba Paulis-
(“Samba do Arnesto” – Adoniran Barbosa)
tanas), além da Liga das Escolas de Samba
“No samba, nossa Lapa é a Barra Funda”
muito pouco sobre eles, mesmo em uma busca
to da juventude da metrópole paulistana resga-
No sentido desse entendimento da história e da
tando o samba de raiz e o reinventando com
construção do novo, com fortes apelos de resis-
novas melodias e combinações. O Kolombolo, da
tência cultural expressos de maneira direta, é que
Vila Madalena, começou em 2002 com pouco
movimentos de resgate ao samba de raiz tem
mais de 100 pessoas e no último carnaval saiu
ganho força em todo estado paulistano. Num
com mais de 1.500 foliões cantando os temas
breve painel vemos na Capital: Samba da Vela,
Adeus, tá chegando a hora
do samba paulista, além de manter constante
Samba da Ponte e Samba de Todos, na Zona Sul;
Acabou o samba, adeus Barra Funda,
programação mensal no projeto Praça do Samba.
Samba da Tenda, em São Miguel; Samba da Fei-
de São Paulo com a presença das maiores
A poesia não é diferente, além dos temas
eu vou-me embora
Escolas de Samba da capital paulista.
universais de todo samba, como solidão,
Veio o progresso, fez do bairro uma cidade
Afinal, no Sambódromo, no dizer do mestre Seu
No interior temos: Pagode do Sobrado e Samba
ra, na Zona Norte; Samba do Livro, em Pirituba.
tristeza, amores perdidos, traz à tona palavras
Levou a nossa alegria, também a simplicidade
Carlão do Peruche: “Não existe carnaval, existe
da Arca, em Guarulhos; Panela do Samba, em
Contabilizando o número de bares em todo
próprias como chá, fubá, serra, garoa e tantas
(“Último sambista” - Geraldo Filme)
uma competição entre agremiações”.
Sorocaba, Afromix, em Campinas, Terreiro do
Estado de São Paulo, que harmonizam a clien-
expressões paulistas e paulistanas, abusando
tela na cadência do samba, vemos que essa
das conjugações verbais onde o verbo está no
O carnaval é a festa maior do samba. Em São
“Os caras ficam tocando maracatu de Pernam-
cultura e essa música, comprimida nas quadras
singular e o sujeito no plural numa mistura de
Paulo acontecia nas ruas de maneira espontânea,
buco, sem saber que eles tem uma cultura pró-
Convidamos todos a conhecer esse universo
de suas escolas pelo carnaval e nas rádios
aldeia, quilombo e continente europeu andan-
capitaneada pelos cordões, seguida pelas guerras
pria, atrás da sua casa”. Alerta o Renato Dias, do
do samba, expresso com garra, amor à camisa
pelo pop e sertanejo, se mantém como hit no
do todos juntos nas ruas da capital São Paulo.
de confetes, corsos de automóveis, fantasias as
Kolombolo, sobre o desconhecimento que ainda
e muito profissionalismo pelo joves músicos
mais criativas. Os cordões com as suas balizas em
impera sobre o samba das terras de Piratininga.
paulistas. Abaixo, mais referências para seu conhecimento e diversão.
coração dos paulistas.
Samba, em Araraquara, só para citar alguns.
No samba, nossa Lapa é a Barra Funda.
performance de ginasta e malabares à frente,
Conhecemos Adorinan Barbosa, cujo sotaque
O samba paulista começa a contar sua his-
Predestinação ou não, a figura reconhecida
cumpriam papel de liderança e aglutinação
ajudou a afirmação do samba caipira paulista. Al-
tória pelos negros das lavouras de café, que
como fundador do samba organizado de
em seus entornos urbanos. Gradativamente,
guns conhecem Germano Mathias, Oswaldinho
Esquente o chá e aumente o som.
25
Fotos: Yves Barros
prosa
UMA DUPLA DA PESADA DO SAMBA PAULISTA
R
enato Dias e T. Kaçula foram
Nascido na Vila Medeiros, na Zona Norte pau-
“O samba sofria com o desdém e o racismo,
parceiros e guerreiros do samba
listana, com família oriunda da Bahia e Minas
não era bem-visto pelas elites”, arrematando
de São Paulo, embora hoje nave-
Gerais, Renato sempre conviveu com o samba
com a importância dos espetáculos, que Plínio
guem em voo solo.
e a Umbanda, que frequentava desde menino.
Marcos realizou nos anos 70, “colocando o
Não é por acaso que o Kolombolo tem como
samba de São Paulo nos teatros”. “Balbina
Deixam um legado inestimável no resgate das
patrono Nho João de Camargo, o Exu Caveira
de Iansã”, de Plínio tem como trilha sonora o
velhas guardas das escolas de samba e no novo
saído do quilombo sorocabano do Cafundó.
samba paulistana. Mas foi em “Quebradas do
repertório que compuseram, gravaram e em-
Mundaréu” o momento mais marcante desse
prestaram até para sambistas consagrados como
Renato no seu resgate do samba e sambistas
momento, no espetáculo registrado em disco,
Toniquinho Batuqueiro cantar.
paulistas, muitas vezes, “deixados de lado pelo
com a presença no palco de Geraldo Filme,
Pavilhões das Escolas que adoram”, segundo
Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro.
No projeto “Memória do Samba Paulista”,
ele, tem um discurso afiado para narrar a
Renato e Kaçula são idealizadores e produtores
história do samba de São Paulo.
musicais. A ação pretende registrar os represen-
Ainda hoje o entendimento da sua relevância continua tênue. “Nos último 3 anos, nenhum
tantes da velha guarda do samba de São Paulo
Conta com brilho nos olhos sobre o Lava
sambista paulista tocou nas viradas culturais de
em 12 CDs. Já foram lançados os quatro primei-
Pés, primeira Escola de Samba de São Paulo,
São Paulo”, aponta Kaçula.
ros: Embaixada do Samba Paulistana, Toniquinho
fundada no dia 09 de fevereiro de 1937, por
Batuqueiro, Tias Baianas Paulistas, Velha Guarda
Madrinha Eunice e José Madre, o “Zé da
Kaçula é ativo na liderança do projeto cultural
da Escola de Samba Unidos do Peruche.
Caixa”, ambos já falecidos.
“Samba Autêntico” que está construindo na
Outros projetos tem acontecido nos últimos
No seu dia a dia, Renato além de músico e
formação. É vice-presidente da Escola de Sam-
anos, como o documentário “Osvaldinho da
compositor, realiza pesquisas, oficinas culturais,
ba Camisa Verde e Branco. E está preparando
Cuíca: Cidadão Samba” da diretora Simone
encontros, produções de CD’s e de shows, com
um novo CD.
Soul ou o projeto “É Tradição e o Samba
o intuito preservar e divulgar o samba paulista.
Renato Dias na sede ONG Kolombolo Diá Piratininga
T Kaçula fala sobre o samba paulista
Freguesia do Ó como um centro de pesquisa e
Para saber mais:
Continua...”, que reuniu sambistas de várias gerações em homenagem a Geraldo Filme no
T. Kaçula Plínio Marcos:
palco do Centro Cultural Banco do Brasil. Mas, tem muita lenha na fogueira do samba.
T. Kaçula é Tadeu Augusto Matheus, vem de
www.pliniomarcos.com
família de sambistas, seu pai José Roberto é Ambos, Renato e Kaçula, vem da Zona Norte,
pandeirista, os irmão na liderança de Escolas
Sociedade Amantes do Samba Paulista:
tem a história do samba paulista na ponta
de Samba Mocidade Alegre, Unidos do Peru-
www.sasp.com.br
da língua e respostas articuladas para as ques-
che e Pérola Negra. Liga SP:
tões políticas que envolvem o tema. Afinal, como eles afirmam, estão ai para virar a mesa
Nascido e criado na Casa Verde, Zona Norte de
à favor do samba paulista.
São Paulo é um protagonista ativo, que através
Renato Dias e o Kolombolo
www.ligasp.com.br
de sua intensa vivência no mundo do samba
UESP:
vem mexendo com toda a cadeia da música:
www.uesp.com.br
composição, produção, divulgação, shows, Renato é a face mais musical do Kolombolo,
seminários. T. Kaçula compõe, toca vários
Kolombolo:
esse grêmio de “resistência cultural” no dizer
instrumentos, produz músicos, articula com a
www.kolombolo.org.br
do próprio sambista, enquanto os demais
sociedade civil e o governo na busca de recur-
parceiros Max Frauendorf e Ligia Fernandes
sos, escreve artigos, além de ser da diretoria de
Memória do Samba Paulista:
cuidam de outros processos.
Escola de Samba.
www.myspace.com/memoriadosambapaulista
27
prosa
FEMININA RESISTÊNCIA CARIOCA
Por Thereza Dantas
R
O Samba é feito de múltiplas
dos compositores pelas mãos da Dona Ivone
média intelectual carioca nos processos de
de sertanejo e forró não faz muita questão de
e o reconhecimento ao samba. Quando saí da
raízes. Bahia, Rio de Janeiro, Ma-
Lara e se mantiveram fiéis às raízes nas vozes
redescobertas do samba.
ser diferente musicalmente. Nós, sambistas,
Penha (bairro da Zona Norte do Rio) em 1996
ranhão, Minas Gerais, São Paulo,
de tantas intérpretes como Carmen Miranda,
estamos tentando fazer arte!
e vim morar na Zona Sul, percebi o trabalho
mas não se pode negar que as
Aracy de Almeida, Clara Nunes, Beth Carvalho,
O samba está passando por uma fase de
mulheres foram motivo de inspira-
Maria Bethânia, Nara Leão, Marisa Monte,
renovação. Como você avalia a produção dos
Os sambas antigos eram feitos e cantados por
classe média!
Dona Inah, Fabiana Cozza, Mariana Aydar,
novos sambas? Citaria alguns artistas com os
homens. A participação de mulheres no samba
E acho que o poder público poderia fazer mui-
Teresa Cristina, Lucinha Guerra e Roberta Sá.
quais se identifica?
mudou algo na composição?
ta coisa pelos sambistas! Eles estão em idade
As pastorinhas, personagens importantíssimos
E é nessa resistência musical, que a intérpre-
O que tenho visto é muita gente cantando,
Sabe que eu gosto de cantar sambas que
avançada, a maioria é gente humilde, um
na história das escolas de samba, eram um
te e compositora Teresa Cristina, tem sido a
interpretando sambas, mas há poucos compo-
traduzem as vozes femininas? Gostei muito de
apoio social seria importantíssimo. Penso que
grupo de mulheres que inspirava os autores
melhor tradução do samba. Carioca do bairro
sitores. Há poucos e especiais, como é o caso
cantar o samba da Adriana Calcanhoto (Beijo
uma aposentadoria e um tratamento médico
dos sambas-enredos e a elas cabia escolher a
da Penha, ela iniciou sua carreira em 1998,
do Pedro Holanda e o Edu Krieger. A renova-
Sem) “vou a lapa decotada/viro todas/beijo
bacana, seriam formas de reconhecimento
melhor música para representar a sua escola
quando reuniu os músicos Bernardo Dantas,
ção de que você fala pode ser em função do
bem”, [cantarola] … Há poucos compositores
muito justas. Vejo que o MinC (Ministério da
na avenida nos dias do Carnaval. No terreiro
João Callado, Pedro Miranda e Ricardo Cotrim
movimento que fez ressurgir o samba na Lapa.
que falam pela mulher, lembro dos antigos
Cultura) e o Iphan (Instituto do Patrimônio His-
de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, mãe
com o objetivo de fazer um show frustrado
O samba estava esquecido, e pelas mãos dos
como Assis Valente e Chico Buarque de
tórico e Artístico Nacional) tombaram o samba
de santo, curandeira e cozinheira dos quitutes
em homenagem a Candeia. O show não
músicos foi recriado um espaço cultural no Rio,
Holanda. Eu mesmo como compositora, não
de roda da Bahia, porque não apoiá-los com
baianos, nasceu o primeiro samba, “Pelo tele-
aconteceu, mas a carreira de Teresa Cristina
que é a Lapa. Esse movimento saiu dos bares e
consigo escrever pensando em gênero, mas
aposentadorias especiais? Reconhecidos eles já
fone”, de Donga e Mauro de Almeida. Reza a
sim. Do bairro e dos bares da Lapa carioca, a
deslanchou pelas ruas e rádios do país. Então
gosto dessa possibilidade.... Sim, gostei de
são como patrimônio humano.
lenda que o terreiro de Tia Ciata era alvo de
artista cantou sambas com o grupo Semente e
acredito que pelas mesmas mãos esse “novo
cantar Beijo Sem e vejo uma possibilidade real
perseguições policiais e após um trabalho de
hoje defende as tradições e a modernidade do
samba” ainda vai aparecer.
nesse caminho.
“cura” na perna do então Presidente da Repú-
samba em outras cidades, outros países. Fruto
blica, Venceslau Brás (1914 a 1918), o espaço
de um movimento de resistência cultural que
Outros movimentos musicais - forró, sertanejo
O samba é um dos estilos musicais que repre-
Olha, eu sempre misturei tudo. Nunca gostei
não foi mais invadido. A pequena África do Rio
aconteceu na Lapa, reduto eterno do samba
- estão com arranjos bastante padronizados, as
sentam o país. Você acha que o poder público
da tradição pela tradição e também não sou
de Janeiro, como era conhecido do terreiro da
dos anos 90, os bares onde Teresa Cristina
letras muito parecidas. Você avalia que o samba
investe na cadeia da produção do samba?
só modernidade. A música brasileira sempre
Tia Ciata, pôde então respirar como um local
iniciou sua carreira, hoje são frequentados
consegue fugir dessa padronização?
O poder público sempre teve pouca participa-
teve essa cara misturada e eu sou da nova
de resistência cultural com suas rodas de sam-
por centenas de jovens e turistas que estão a
Graças a Deus!!! Mas acho que cada um escu-
ção na vida dos sambistas e do samba. Quem
geração de sambistas que revisita o samba.
ba que duravam dias e que recebeu composi-
procura das rodas de samba e de shows de
ta o que quer. Nessa mesma linha, há alguns
resgatou o samba nos anos 90 foi a classe
Eu não quero imitar os antigos, quero cantar
tores como Sinhô, João da Baiana, Pixinguinha
gente do porte da Beth Carvalho, Arlindo Cruz
anos surgiu o pagode paulista e creio que
média da Zona Sul. Aliás, quem resgatou o
com a minha voz, imprimir minha cara e
e Heitor dos Prazeres.
ou Diogo Nogueira.
alguns grupos conseguiram se firmar e criar
Cartola do esquecimento foi o escritor Sérgio
marca nessa história!
uma identidade musical, cito o Exaltasamba e
Porto, e outro que também deu sua contribui-
Fotos: Divulgação
ção, proteção e projeção desse estilo musical.
de resgate que o samba viveu pelas mãos da
Tradição e modernidade, o que há de cada um, no seu samba?
Mas já tem algum tempo que as mulheres
Dona de uma interpretação contida e limpa, a
o Alexandre Pires. Mesmo o pessoal dos gru-
ção para que o Samba não fosse esquecido,
Para saber mais:
saíram do papel de musas e subiram ao palco
sambista Teresa Cristina, conversou por telefo-
pos de axé da Bahia trataram de mostrar uma
foi o jornalista Sérgio Cabral. A classe média,
Site oficial da cantora e compositora Teresa
através da voz primeira de Clementina de Jesus
ne sobre essa resistência cultural, a carência de
preocupação com a qualidade de seus músicos
entre jornalistas, pesquisadores, intelectuais e
Cristina: www.teresacristina.com.br/
e Jovelina Pérola Negra, entraram na roda
novos compositores e a importância da classe
e sua música, mas essa corrente de bandas
estudantes da Zona Sul, sempre deu o suporte
29
Foto: Acervo Lucy Seki
verso
BARULHOS
NA TABA
DE COMO FINALMENTE SE COMEÇA A ROMPER O SILÊNCIO AO REDOR DA LITERATURA INDÍGENA 31
Foto: Acervo do Museu do Índio/FUNAI – Brasil
verso
Darcy Ribeiro com índios Kadiwéu em 1947, no Mato Grosso.
DARCY E OS ÍNDIOS O cineasta Zelito Viana tem um filme chamado
e conhecia as terras, fazeres, desejos e aspira-
sempre - com os habitantes dessa faixa con-
estudo abrangente das questões de terra, - luta
“Terra dos Índios” rodado em 1978, que mostra
ções dos índios brasileiros.
tinental de terra que os portugueses vieram a
e busca dos índios - seja como marco demar-
chamar de Brasil.
catório da luta pelos direitos indígenas - que na
como inúmeras comunidades indígenas Brasil afora tiveram suas terras roubadas e seus direi-
Darcy viveu de 1922 a 1997 e em vida exerceu
tos vilipendiados na triste rotina da predação
protagonismo em todas as áreas onde atuou,
“Os índios e a civilização”, que tem como subtí-
verdade são direitos humanos, o que nos parece claro mas é obscuro aos inúmeros fazendeiros
empreendida pelo homem branco. O título do
legando-nos além de um lindo romance com
tulo “A integração das populações indígenas no
e grileiros desse país gigante que continuam a
documentário cabe como uma luva no antropó-
temática indígena (“Maíra”) e os belíssimos
Brasil moderno”, é um clássico da antropologia
insistir na tese de que índio bom é índio morto.
logo, escritor, político, professor Darcy Ribeiro
“Diários Indios“, uma obra fundamental para
que lançado originalmente em 1968 e relançado
um homem que viveu muitas vidas em uma só
quem quiser conhecer o que se passou - desde
em 1996, continua atualíssimo seja como um
33
Acervo Lucy Seki
verso Os irmãos gêmeos Kwat “Sol” e Jay “Lua” Desenho de Wary Kamaiurá, 2006. Acervo Lucy Seki
Por Ricardo Soares
D
esde que aqui chegaram em 1500
Mas, para nossa sorte, no mercado editorial
ção dos Tamoios” de Gonçalves de Magalhães,
com as suas caravelas, roupas
pouco a pouco esse silêncio vem sendo que-
importante autor a difundir as histórias ao redor
malcheirosas, escorbutos,
brado, notadamente nos últimos anos com a
da cultura indígena a ponto de muitos acadêmicos
mareados e cansados da viagem,
aprovação em 2008 da Lei 11.645, que criou a
atribuírem a ele a criação de uma vertente literária
os portugueses tentaram vestir
obrigatoriedade de se tratar a temática indígena
chamada de “indianismo”.
os índios e a nossa história com outras vestes.
e afro-brasileira no currículo escolar brasileiro.
A primeira delas foi o silêncio, como já se nota
Assim, nomes como Daniel Munduruku, Graça
Também o índio “civilizado”, cordato, sereno
na carta de Pero Vaz de Caminha - que entre
Graúna, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Cristino
e romântico teve lugar no imaginário literário
o deslumbre e o escândalo com a nudez nativa
Wapixana estão ganhando mais visibilidade inclusi-
do passado sobretudo pela atuação e obra do
inaugurava uma forma peculiar de contar
ve com as compras governamentais, via PNBE,
cearense José de Alencar e a sua “Iracema”,
o que se passou.
o Programa Nacional Biblioteca da Escola.
a virgem dos Lábios de Mel, e “O Guarani”
A história contada pela versão deles, coloniza-
Alguns críticos podem argumentar que é ilegítimo
um lado, pasteurizou os nossos silvícolas (eita
dores, que erroneamente dizem ter descober-
fazer com que se conheça nossos autores de raízes
termo esquisito); por outro lado, deu a eles
to o que aqui já havia. Desde então existiu em
indígenas e as suas respectivas histórias dessa ma-
status de clássicos da nossa literatura.
relação aos índios e sua cultura uma conspi-
neira obrigatória.
com o idealizado casal Peri e Ceci - que se por
Também os rituais, crendices, lendas, histórias e
ração do silêncio. Os portugueses e brasileiros Mas, se ficasse a livre critério de “mestras”
culto aos mortos foram de alguma forma valoriza-
como as de São José do Rio Preto será que
dos nas nossas letras sejam pelos múltiplos relatos
Em meados de 2008, tive a sorte de mediar
se leria esse tipo de literatura? É bem provável
dos irmãos Villas Boas em “Xingu, seus índios e
um encontro entre o escritor indígena
que o silêncio perdurasse.
seus mitos” seja pelo talento extraordinário de
contam, os índios escutam passivos.
Antonio Calado no seu
Daniel Munduruku e o público numa tenda improvisada na feira do livro de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Crianças
“Desde então existiu em relação aos índios e sua cultura uma conspiração do silêncio”
que é o nome do ritual indígena que celebra os mortos e os traz de volta à vida. Fato é que quando começam a
afogueadas e mal
se extinguir inúmeras
educadas entravam aos borbotões e não respeitavam a fala pausada e didática do
antológico “Quarup”,
Na literatura, tradição antiga
línguas indígenas paradoxalmente se valorizam iniciativas como a da professora Lucy Seki, que está
palestrante. As professoras não continham a turba mirim e eu delicadamente pedi
Mas, justiça seja feita, não é de hoje que os índios
lançando um belo trabalho de resgate do idioma
silêncio em respeito ao escritor. Lembro
ocupam lugar nas nossas letras. No século XVIII,
e das narrativas míticas dos Kamaiurá que recebe
perfeitamente do olhar de censura que
mesmo antes foram personagens de relatos épicos
o sugestivo título de “O que habitava a boca dos
algumas “mestras” me dirigiram como
mesmo que impregnados do já aqui citado “olhar
nossos ancestrais”. Importante mesmo saber
se ofensivo fosse pedir silêncio às crianças
do colonizador”. Nesse contexto se enquadram
o que esses povos ainda tem a dizer para que
brancas que não respeitavam a fala do escritor
os poemas “A morte de Líndóia” de Basílio da
não fiquemos eternamente apenas com o relato
indígena. Daniel Munduruku ponderou
Gama (1741-1795) e “A morte de Moema” de
daqueles portugueses maltrapilhos que um dia
que as cidades e a nossa civilização com
Santa Rita Durão (1722-1794) ou ainda o relato
chegaram às nossas praias com a presunção de
tanto barulho perderam o senso e o sentido
em prosa “Cativeiro dos Índios” de João Francisco
terem descoberto o Brasil. O Brasil já havia.
do silêncio. Não suportamos o silêncio.
Lisboa (1812-1863) ou o famoso “A Confedera-
E era dos índios e suas lendas.
35
LUIS ERNESTO KAWALL O PATRIMÔNIO DA VOZ
Luis Ernesto Kawall é da primeira turma de jornalismo da Cásper Líbero, escola que conta a tradição da capital São Paulo e da Avenida Paulista, onde está estabelecida até hoje. Os dois, aluno e escola, são aqueles que fazem a diferença na monta da cultura nacional. De gênio inquieto, Luis Ernesto vai construindo pedaços da nossa história em seu percurso de cidadão e profissional. É recurso chave na criação do MIS
Foto: Nicolas Hallet
Foto: Yves Barros
Fotos: Divulgação
figuras
OS REGISTROS CULTURAIS
DE ISABELA CRIBARI
(Museu da Imagem e do Som) do Rio de Janeiro com o então governador Carlos Lacerda, com quem trabalhou. Seguindo para São Paulo, agora com o
Procedente de uma família de colecionadores de arte, a pernambucana, radicada em São Paulo e descendente de italianos Isabela Cribari desde cedo
governador Laudo Natel, São Paulino como ele, funda o MIS paulistano também. Mais recentemente funda também o Museu Caiçara, na cidade litorânea
convive com a paixão pela área cultural. Embora formada em psicologia, o cinema sempre esteve muito presente em sua vida e não demorou muito para
de Ubatuba, São Paulo.
ela enveredar pelo mundo do audiovisual ao participar de um vídeo institucional sobre uma pesquisa em psicanálise. Daí para a mais frequente atuação como documentarista foi um pulo: Isabela participou do Via Brasil, projeto audiovisual dirigido por Sérgio Bernardes enfocando a cultura nordestina com
Depois de participar da fundação de dois bastiões do registro de nossa identidade e de seus protagonistas, que são os Museus da Imagem e do Som, Luis
um olhar mais contemporâneo; integrou a equipe do Expresso Brasil, série de 14 documentários que retratava a visão de várias personalidades culturais
Ernesto cria a Vozoteca LEK, um acervo de quase seis mil vozes. Se o MIS carioca e o paulista são prédios importantes em seus entornos, a Vozoteca de
sobre diferentes partes do Brasil; e participou de outros projetos audiovisuais sobre cultura brasileira, exibidos, inclusive, no exterior; até, finalmente,
Luis Ernesto acontece na sala de estar do seu apartamento, localizado no bairro de Pinheiros na capital paulista. Nem por isso deixa de ser um dos museus
montar a própria produtora, a Set Produções Audiovisuais.
mais interessantes de se visitar em São Paulo, com considerável organização e acervo. O seu museu de vozes (vozoteca) coleciona declarações e frases de personalidades históricas do país e do estrangeiro. Começamos ouvindo Gandhi em seu último discurso; depois Muhammad Ali falando com a imprensa;
O destaque na carreira audiovisual resultou no convite para assumir, em 2003, a Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, cargo que ocupou até
em seguida Carlos Lacerda sempre lancinante e esbravejando nos microfones; vamos para o futebol com Leônidas da Silva, nosso eterno diamante negro,
setembro deste ano, instituição federal sediada em Recife e ligada ao Ministério da Educação. De lá para cá, a Fundaj vem produzindo trabalhos de relevo
contando como inventou a bicicleta, e assim, passeamos em uma manhã por muitas vozes, mundos e sonoridades. Como todo museu tem suas precio-
com cinema, artes plásticas, livros e vídeos educativo-culturais. Como amostras estão os projetos relacionados à questão do Patrimônio Imaterial como o
sidades, assim é a Vozoteka, com a primeira voz humana gravada em fonograma, ou sons das Copas do Mundo de Futebol. A lista é grande: Marechal
livro Inovação Cultural, Patrimônio e Educação (com textos que convidam a uma reflexão sobre patrimônio e musealização, tendo como foco a inovação
Cândido Rondon, Rui Barbosa, Santos Dumont, Washington Luiz, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Monteiro Lobato, Dalva de Oliveira, Orlando Silva,
cultural); o projeto Poetas do Repente (reunindo livro, cd e quatro dvds sobre o universo da cantoria nordestina); alguns vídeos participantes dos concur-
Vicente Celestino, Carmen Miranda e Corifeu de Azevedo Marques - e estrangeiras - como as de Thomas Edison, Sigmund Freud, Lênin, Adolf Hitler,
sos promovidos pela Massangana Multimídia Produções; e o Museu do Homem do Nordeste, vinculado à Fundação Joaquim Nabuco, e que, desde o seu
Benito Mussolini, Winston Churchill, De Gaulle, Gandhi, John Kennedy. A sala de Luis Ernesto está lotada de fitas cassetes, CDs, DVDs e discos de vinil;
surgimento em 1979, vem desenvolvendo projetos de documentação sobre comunidades tradicionais e seus patrimônios culturais.
organizados por assunto: cantos de pássaros, efeitos sonoros, esportes, fatos históricos, folclore, música brasileira, política e religião. A marca prolífica da atuação de Isabela Cribari é percebida independentemente de sua inserção como gestora pública. Mais recentemente, ela lançou o Para saber mais:
livro “Nordeste Feito à Mão” (Ed. Coqueiro), registro escrito surgido após a série de 11 documentários, resultado de uma expedição ocorrida em 2000
Basta ligar para marcar hora e aparecer para uma degustação de vozes e sons. Uma
Vozoteca LEK
e 2001 pelo Nordeste brasileiro, que percorreu 16 mil quilômetros com o objetivo de registrar o artesanato da região. Foram entrevistados 420 artesãos
audição particular de raridades e curiosidades, além do bom papo do Luis Ernesto
Praça Benedito Calixto, 86, ap. 62, Vila Madalena, São Paulo – SP.
nordestinos em 120 cidades. “Há achados do saber do povo que me fascinaram muito para essa expedição, para a gente contar essa história tanto de
contando a história de cada fonograma e das histórias que estas gravações guardam
Tel: (11) 3062-0015.
uma forma audiovisual, como contar também em livro”, destaca Isabela. Nordeste feito à mão, no formato livro, se configura num catálogo em edição
na sua Vozoteka. da Redação
E-mail: vozoteca@terra.com.br
bilíngue com expoentes do artesanato nordestino de várias vertentes e de diferentes técnicas. Muitos desses artesãos são verdadeiros patrimônios vivos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Ernesto_Kawall
que carregam consigo os saberes de um povo e expressam na sua arte as vivências populares. Nice Lima
37
Foto: Divulgação
figuras
Foto: Rafael Vilarouca
MUSEU CASA DO PONTAL O MUNDO DA ARTE POPULAR
O Museu Casa do Pontal é um espaço de 12 mil metros, situado na região oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ) que abriga mais de oito mil peças criadas por artistas populares brasileiros. São peças de barro, madeira e metal, colecionadas pelo francês Jacques Van de Beuque, um apaixonado pelo país e pelo povo que o acolheu na década de 40 e onde veio a falecer no ano 2000. “As obras do acervo foram coletadas não somente a partir de sua importância formal, mas também porque elas eram significativas e remetiam, por seus conteúdos, à história da vida, dos costumes, da religiosidade e da imaginação do povo brasileiro”, avisa a coordenadora, Angela Mascelani. O artista plástico francês, durante os 60 anos em que viveu no Brasil, tratou de reunir peças de Mestre Vitalino, Mestre Didi, Noemisa, Antonio Poteiro, GTO, Itamar Julião, entre outros artistas populares, que fazem parte desse importante acervo. Hoje, o Museu Casa do Pontal é dirigido pela antropóloga
SOCORRO LUNA A SOLTEIRONA DOS MIL MATRIMÔNIOS
Angela Mascelani que dá significado ao trabalho conceitual do espaço. O Museu possui diversos patrocinadores e parceiros, projetos editoriais e educacionais que mantém a discussão sobre a Arte Popular e seus artistas na pauta das mesas redondas e encontros nacionais e internacionais sobre o tema.
Entre as muitas figuras populares de Barbalha,CE, uma se destaca pela relação com as características casamenteiras ressaltadas durante a Festa de Santo
“Esses conceitos são, de certa forma, complementares, pois indicam a complexidade do próprio campo e apontam para um dinâmico e saudável interesse
Antônio. É a advogada Socorro Luna, conhecida na cidade como a “solteirona”, por ter participado de vários programas de TV destacando a festa e
pela diversidade cultural em nosso país”, avalia. É ela quem une o material, captado por Jacques Van de Beuque, ao imaterial, quando inicia projetos edu-
falando sobre a tradição das moças que recorrem às simpatias como último recurso na busca por um marido.
cacionais e editorias que tratam de revelar o protagonismo dos autores e suas criações no “mundo da arte popular brasileira”, nome de seu livro (Mauad Editora, 2002) onde analisa as peças do museu e seus criadores no seu contexto social.
“Aqui mora a solteirona mais famosa do Brasil”, lê-se em garrafais à porta da casa da senhora que prepara o chá da casca do Pau da Bandeira e, na barraca montada na quermesse durante a festa, vende os “kits” destinados a pôr fim à angustiante espera por uma condução ao pé do altar. No saquinho,
Para a antropóloga, o conceito de patrimônio imaterial ainda é muito novo e carrega dúvidas na sua novidade. Ainda que a noção de “patrimônio imate-
vendido a cinco reais, um cordel sobre as simpatias, fitinhas de Santo Antônio, medalhinha e, o mais importante, pedaços da casca do Pau, para que as
rial” não seja amplamente entendida (seja pela novidade ou pelo próprio termo que induziria equívocos, porque supostamente deixaria de fora a cultura
preces possam ser reproduzidas além-fronteiras, com o mesmo simbolismo de quem, em Barbalha, toca o mastro e pede ao santo um companheiro.
“material” das coletividades) temos visto que o efeito da acentuação da “imaterialidade” tem resultado na renovação do entendimento ampliado dos fenômenos culturais, inclusive dos resultados palpáveis por eles gerados”, explica. da Redação
Dona Socorro se esforça para, anualmente, ser a primeira a tirar lascas do pau, destinadas à produção de chá e à continuidade das simpatias que, garante, dão resultado. “Aqui é a grande esperança. Isso aqui vai dar tanto matrimônio!”, exalta, escorando-se em exemplos e apontando novidades em
Para saber mais:
sintonia com o noticiário. “Já teve casamento do Oiapoque ao Chuí. E agora, com a aprovação da união civil de pessoas do mesmo sexo, eles vão ver que
www.museucasadopontal.com.br
o chá da casca funciona também”, afirma, sem temer discórdias com a Paróquia. “Santo Antônio não tem preconceito”. Dalwton Moura
39
OBASHANAN DOA A QUEM DOER Mestre Obashanan se apresenta sem rodeios: “Alabê, baterista, percussionista, etnomusicólogo, escritor, umbandista e brasileiro. Doa a quem doer, arda em quem arder!! “. William do Carmo Oliveira se transmuta em Yan Kaô como músico e Mestre Obashanan como sacerdote de seu templo de umbanda Estrela Verde, em São José do Rio Preto, SP. Todos se unem em sua editora e gravadora Ayom, voltada para o cultura dos cultos afro-brasileiros, iniciativa que toca com sua mulher Vivian Lerner, a Yatacyara.
A ÁFRICA OESTE EM
LUIS KINUGAWA Saindo da Rodovia Anhanguera, na capital São Paulo, em apenas alguns minutos a autoestrada se transforma numa estradinha de terra, que nos leva até
Ayom a deusa da música e dos tambores, a Santa Cecília dos católicos, é a inspiração de Obashanan para seu deleite de colecionador e editor. O Acervo Ayom, criado para promoção das tradições musicais dos templos brasileiros de Umbandas, Encantarias e Nações é a fonte da extensa pesquisa realizada por Obashanan. O acervo já apresenta problemas da falta de espaço dado o volume considerável de LPs, CDs, objetos e tambores - entre os quais um africano de 200 anos, rústico e, embora conservado, guardando austero a sua idade centenária.
o Pico do Jaraguá. Lá vamos encontrar o Instituto África Viva. É nesse espaço que se encontra Luis Eduardo Ferreira Kinugawa sempre ativo, gravando, ensaiando, produzindo ou consertando o telhado. Um dos grandes percussionistas paulistas, é também um ativo produtor cultural, pesquisador e músico. Tranquilo, Luis Kinugawa tem convicções profundas e que as realiza, não importando o esforço. Sua paixão pelo tambor Djembê levou Luis a viver na África, onde buscou o maior conhecimento desse instrumento de percussão e da cultura que o reveste. Lá conheceu as agruras africanas nos campos de refugiados de Serra Leoa onde foi voluntário. Lá também conheceu sua mulher, Fanta Konatê, africana da Guiné, e onde os laços Brasil-África ficaram
Ancorado em blogs, a Ayom tem divulgado significativo volume de produtos culturais próprios, através de diversos registros fonográficos e livros publicados. Todos produzidos musicalmente e editorados pelo Mestre Obashanan.
definitivamente estabelecidos. O Instituto África Viva é uma ONG que tem seus olhos voltados para a Africa Oeste, nem sempre contemplada pelas pautas da imprensa. O Instituto é
“Terreiros de Aruanda”, pontos dos pretos velhos, “Karibokas”, índios que praticantes de umbanda, “Ayom Lonan” com 22 toques ritualísticos; “O senhor dos encantos”, com Mãe Iberecy de Campinas, SP; são alguns dos registros fonográficos gravados.
composto por núcleos: núcleo Fanta Konatê e a Trupe Djembedon que realiza shows, danças e performances. O Centro Cultural Famoudou Konatê promove capacitação de professores e oficinas de percussão, dança e culinária da Guiné africana, além de projetos de filmes e criação de acervo, e o núcleo Biomúsica Sem Fronteiras - que realiza musicoterapia, treinamentos para músicos e atendimento terapêutico.
Seu lançamento mais recente é sobre o temido e desconhecido “Exu – O Grande Arcano”,
Não importa se o público são os moradores de rua, ou pessoas hospitalizadas em instituições psiquiátricas, estejam em parques ou áreas públicas, lá
em uma edição luxuosa com o acabamento das folhas em dourado. “Para confundir com
Para saber mais:
uma Bíblia, assim o cara pode ir lendo no metrô, que ninguém vai pegar no pé dele”, nas
Editora Ayom
palavras do próprio Mestre Obashanan. O livro, segundo os editores, foi ditado pelo próprio
(11) 3499-6152
Para saber mais:
Exu incorporado e já está na quarta edição. Ainda vem acompanhado de um CD com
(11) 9761-8058
Instituto África Viva
cânticos invocatórios de várias “escolas” afro-brasileiras como Bantu, Iorubá, Quimbanda,
www.myspace.com/ayomrecords
Tel: 11 3368-6049 / 11 25013913
Umbanda e outras.
twitter.com/ayomrecords
skype : djembedon1 ou Africa Viva
ayomrecords.blogspot.com
MSN : institutoafricaviva@hotmail.com
acervoayom.blogspot.com
www.africaviva.com.br
Essa é a Ayom, esse é o Mestre Obashanan. Doa a quem doer, arda em quem arder!! da Redação
Foto: Yves Barros
Foto: Yves Barros
figuras
estará o Luis Kinugawa, dando o seu melhor para a música e a cultura afro-brasileira. da Redação
www.fantakonate.com
41
Foto: Yves Barros
figuras
ALFIO LAGNADO SURFANDO NA ARTE POPULAR Alfio Lagnado é surfista e empresário bem sucedido. É também um dos maiores colecionadores de arte popular brasileira, formando um painel amplo e significativo que compõe visualmente o seu dia a dia. Em sua casa, por todo lado, uma invejável quantidade de artistas importantes; no escritório mais telas e esculturas; na casa da praia, arte com temática marinha e mais; obras arquivadas, sempre circulando por espaços por onde Alfio vai movimentando a coleção para seu deleite sensitivo. Coleção gerada não só aos apelos do acúmulo, mas pela alegria de poder compartilhar e preservar um visual tão especial em diversidade, cores, formas, materiais e intenções da nossa arte popular. Visitar sua residência é o mesmo prazer de estar em um grande museu ou exposição. Lá nos deparamos com diversas abordagens artísticas. Em três dimensões temos Carrancas das mais bonitas; esculturas de Vitalino, GTO, Artur Pereira, Isabel Mendes da Silva, Agnaldo, Ulisses Pereira; ex-votos escolhidos a dedo; originais das xilogravuras de J. Borges; arte indígena, inclusive a arte plumária dos tempos possíveis, uma vez a caça pelo insumo estar proibida por lei para a preservação da fauna ameaçada pela grande demanda. Nas duas dimensões, telas e pinturas com a maioria de nossos grandes artistas: Maria Auxiliadora, José Antônio da Silva, Sérgio Vidal, Ranchinho, Agostinho B. Freitas, Mirian, Alcides e outros. Mais uma característica particular de Alfio, uma vez a pintura popular brasileira nem sempre ser entendida e absorvida pelos nossos colecionadores. E apenas citamos alguns exemplos de seu grande acervo.
“O espaço e as paredes da residência-galeria de Alfio falam por si. Uma explosão de beleza instigando todo o tempo os nossos sentimentos e sensações.” A curadoria de Alfio sempre foi seu coração de surfista, viajante das ondas e da natureza. Tocado pela beleza da arte do povo, só tomou conhecimento da importância das obras que adquiriu em suas múltiplas viagens, quando esteve na Exposição “Brasil 500 Anos” e viu os mesmos artistas ali representados. Lá começou a decupar o valor daquelas peças e telas compradas no seu contato com a arte do Brasil. A partir daí sua coleção e sua disposição para incrementá-la só cresceram. Tendo o mar como espaço de formação de um espírito, que aprendendo com as tradições vai construindo o novo, Alfio Lagnado, além das bermudas e pranchas de surf que negocia, apoia empresarialmente a promoção da arte e da cultura brasileiras. Com suas marcas mais conhecidas, a Hang Loose e Quicksilver, exporta para dez países da Europa e América Latina, também patrocina dezenas de atletas do surf, skate, wakeboard e outros esportes. É um investidor de projetos culturais que o sensibilizam. Foi assim com o longa-metragem “Fábio Fabuloso”, premiado documentário sobre o surfista Fábio Gouveia e, recentemente, com o livro “A arte visionário de Ranchinho”, uma publicação de tema inédito sobre o pintor popular Sebastião Theodoro Paulino da Silva (1957-2003). “A arte pura é a que vem de dentro, sem filtros, é isso que me sensibiliza, que me emociona. Essa é a minha busca e minha identificação com a arte popular brasileira”, define com propriedade o Alfio entre as belas obras de sua coleção. da Redação
Para saber mais: www.surfco.com.br
43
raiz da questão
Deputada Jandira Feghali e a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em reunião com artistas e produtores culturais no dia 16 de agosto de 2011.
LEIS DE PROTEÇÃO da Redação
Q
de Fomento e Incentivo à Cultura (Procul-
apoio a um ponto de cultura no sertão do
tura) e altera as regras de financiamento da
país ou em partes remotas da amazônia. Uma
Para o Ministério da Cultura, MinC, “mani-
área (PL 6722/10). O ato teve como objetivo
solução, segundo a deputada Jandira Feghali
festações favoráveis às políticas públicas são
marcar uma posição do legislativo contra
seria “criar mecanismos mais eficientes,
benéficas ao sucesso da pauta e colaboram
cortes orçamentários na área da Cultura,
com o andamento da mesma no Congresso”,
cujo Ministério já tem um dos menores or-
mas envia no dia 22 de agosto o seguinte co-
çamentos da esplanada apesar da presença
uais são os símbolos conheci-
como o PL 5798/09 (que institui o Vale Cul-
forte e crescente do setor da cultura no PIB
dos do país chamado Brasil no
tura); PEC 324/01 (que estabelece um gasto
nacional.
exterior? Essa pergunta é tema
mínimo na área pelos governos municipais,
para uma boa discussão, mas
estaduais e federal e o PEC 416/05 (que cria
No caso do PL Cultura Viva, a aprovação no
dois pontos não se pode deixar
o Sistema Nacional de Cultura, com a defi-
Congresso consolida este importante pro-
de reconhecer: o futebol e a
nição de obrigações que prefeitos, governa-
grama como política pública permanente de
música são dois “produtos de exportação”.
dores e o presidente da República terão com
Estado. O Cultura Viva é um programa criado
Então porque tanta dificuldade para se viver
o desenvolvimento do setor). Outro projeto
pelo MinC durante o governo Lula, cuja
da música, teatro, dança, artes plásticas, lite-
de interesse dos produtores culturais, que
ação estruturante e mais conhecida são os os
ratura, poesia, cinema num país conhecido pela qualidade de sua arte? Sob o sabor dessas dúvidas, os dias 16 e 17 de agosto tiveram um tempero especial para quem trabalha e vive na área da Cultura. Um ato de mobilização foi organizado para a aprovação das pautas da Cultura no Congresso Nacional, iniciativa da Frente Parlamentar de
pontos de cultura, que hoje reúnem em torno
“O assunto tem levantado discussões sérias entre os produtores, artistas e poder público.”
de suas iniciativas e atividades permanentes cerca de 8 milhões de pessoas, segundo dados do IPEA. Há problemas que devem ser levantados para a criação uma relação transparente entre instituições, produtores, artistas e o dinheiro público. Contudo, os mecanismos de conveniamento entre o governo
“A lei 8.666 tem critérios que valem tanto para a construção de uma ferrovia como para o apoio a um ponto de cultura no sertão do país ou em partes remotas da amazônia.”
municado aos Pontos de Cultura: “por ordem da Presidência da República atualmente cada Secretaria dos Ministério deverá ter somente um programa. No caso do MINC o programa proposto está no PPA 2012- 2015 - Programa N047 - CULTURA: PRESERVAÇÃO, PROMOÇÃO E ACESSO. E que os programas das Secretarias do MinC, como o Programa Cultura Viva, da SCC e o Brasil Plural, da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, SID se adequarão as ações prioritárias da nova secretaria, a Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural, SCDC/MINC”. O assunto tem levantado discussões sérias entre produtores, artistas e poder público. Entre adequações e respostas lacônicas do MinC, as redes sociais criam e agendam diversas campanhas e mobilizações virtuais
e a sociedade existentes para os pontos de cultura são baseados em uma legislação ina-
inteligentes e desburocratizados, como os já
ou presencialmente. São várias frentes
ghali (PC do B) e que tem encontrado amplo
dequada para o porte e o tipo de atividades
existentes em programas de transferências de
“brigando” pela Cultura do país mas sem
apoio e adesão da sociedade civil. Existem
desenvolvidas pelos pontos de cultura.
renda e recursos públicos investidos direto na
encontrar canais de diálogos entre eles. São várias frentes e a velha lição da História de que divisões só interessam ao inimigo.
Cultura, presidida pela deputada Jandira Fe-
diversos projetos de interesse da cultura que
aguarda votação na Comissão de Finanças e
A lei 8.666 tem critérios que valem tanto para
ponta, a exemplo do Bolsa Família (MDS) e
estão prontos para a votação em plenário,
Tributação, é o que cria o Programa Nacional
a construção de uma ferrovia como para o
do Dinheiro Direto na Escola (MEC)”, explica.
45
Foto: Divulgação
raiz da questão
PRAÇAS DO ESPORTE E DA CULTURA:
AVANÇO OU RETROCESSO?
N
atividade produtiva, entre os quais a indústria naval, automobilística e a agroindústria Posso estar equivocado, afinal o plano estratégico para área de economia criativa prometido pelo Ministério da Cultura para agosto deste ano, ainda não foi ofertado à análise da sociedade. De toda maneira, a valoração dada segmento nos discursos do Ministério da Cultura, geram uma expectativa muito à frente do que R$ 4,8 milhões suportariam pagar. Como sujeito da atividade formativa, produtiva
Por Junior Perin
e artística do circo, quero ainda levantar outra
ão resta dúvida de que as “Praças
todas as outras áreas elegidas pelo Ministério
preocupação relacionada às Praças do Esporte
do Esporte e da Cultura” que inte-
da Cultura como alvo de investimentos terão
e da Cultura, a de que boa parte delas oferece
gram o Eixo Comunidade Cidadã
de dividir os 33% que restarem.
risco à sustentabilidade dos empreendimentos
do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – 2, constituem-se
circenses itinerantes. Não são poucos os atores
CULTURA ALÉM CONSAGRADO
DO
Por Fernanda Estima
O
Brasil mudou e mudou também a forma de ver e
em um dos exemplos mais citados, o Vídeo nas Aldeias, o desen-
fomentar a cultura, incluindo aí tudo que se produz,
volvimento de um projeto de inclusão digital de aldeias indígenas.
desde o artesanato até os grupos tradicionais de forró,
Instituído desde 2005, esse ponto conseguiu colaborar com a
passando pela união de forças entre descendentes de
formação de cineastas, roteiristas, diretores e editores índios. “O
quilombolas e pomeranos no Sul do país.
índio na frente e atrás das câmeras”, explica Vincent Carelli, reali-
O mais curioso, da proposta orçamentária de cul-
sociais do circo brasileiro que, por diferentes
em um importante investimento na construção
tura para 2012, é a área de Economia Criativa cuja
meios, vêm apresentando ao Ministério da
de lugares/equipamentos públicos de mobiliza-
previsão de investimentos/gastos com atividades
Cultura uma justa preocupação – a de que
ção sociocultural, integrando, como aponta o site
ligadas apenas a estudos, vai ficar com 1%
os municípios que apresentaram propostas
Cultura Viva do Ministério da Cultura – sempre rende conversas
do Ministério da Cultura, “num mesmo espaço
do orçamento público federal de cultura. Resolvi
ao programa de construção das praças estão
longas, relatos variados e conclusões diversas, mas há um consen-
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou os Pontos de
físico, programas e ações culturais, práticas
destacar esta área, por ser ela aquela que a Mi-
fazendo para áreas onde tradicionalmente se
so: a experiência pode mesmo fomentar o que já existe e estimular
Cultura como “espaços permanentes de experimentação, encanto,
esportivas e de lazer, formação e qualificação
nistra de Estado da Cultura Ana de Hollanda usa
montam circos nos municípios contemplados.
o surgimento de variadas formas de expressão cultural do Brasil.
transformação e magia”. São produtores de conhecimento, do mo-
para o mercado de trabalho, serviços sócio-
para consubstanciar o discurso que produziu para
Assim, quero crer que, para não contradizer a
-assistenciais, políticas de prevenção à violência e
apontar qual será a marca da sua gestão.
ideia essencial declarada pela Ministra de “criar
De 2003 a 2009, foram sete mil projetos financiados em mais
inclusão digital, de modo a promover a cidadania
Em entrevista à Folha de São Paulo datada de
condições para que o agente cultural possa viver
de duzentos editais públicos – que antes não existiam. É nesse
em territórios de alta vulnerabilidade social das
13/02/2011 a Ministra declarou sua intenção de
da sua produção com dignidade,” a menos que
contexto que nasce o programa e os pontos, tendo como pano de
Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, falava que os pontos eram uma
cidades brasileiras”.
rever “a forma de tratar a criação artística e cul-
os empreendimentos circenses itinerantes não
fundo a diminuição da segregação social no país, multiplicando os
espécie de “do-in” antropológico, massageando pontos vitais, mas
tural” afirmando que “existiam ações, iniciativas
sejam considerados agentes da cultura brasileira
espaços e as chances reais de milhões de pessoas.
momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo
A construção destas praças, sem dúvida
isoladas” e decretando que “falta uma política
e que as famílias e artistas que vivem das artes
alguma, tem uma significativa importância
consistente”. Ao cotejar tais declarações da
circenses não mereçam ter garantido áreas de
Condição para ser
para ampliar a rede de equipamentos públicos
Ministra com o orçamento previsto para o desen-
montagem como elemento essencial a dignida-
um ponto de cultura
de cultura, em ambientes onde ela coexistirá
volvimento da área de economia criativa que é de
de da sua existência, que o Ministério da Cultura
é estar em rede, a
com outras áreas essenciais à promoção da
R$ 4,8 milhões, não é difícil identificar a distância,
vai pronunciar-se sobre o seu compromisso com
fim de trocar infor-
cidadania plena e em territórios e cidades onde
entre o que se fala e o que efetivamente será feito.
a sustentabilidade de uma linguagem artística
mações, experiências
secular que vive a ameaça de extinção e até ago-
e realizações. Segun-
sequer existem equipamentos que permitam
zador desta ação. É a continuidade da cultura tradicional por meio
Falar sobre Pontos de Cultura – capítulo importante do programa
da utilização de técnicas e ferramentas digitais.
derno ao tradicional, englobando tudo que se possa alocar debaixo do guarda chuva da diversidade.
cultural do país.
“São produtores de conhecimento, do moderno ao tradicional, englobando tudo que se possa alocar debaixo do guarda chuva da diversidade.”
Para além das explicações mais românticas, os pontos são vistos como experiência para
esta relação entre cultura e desenvolvimento
Os parcos recursos previstos no orçamento para
ra só recebeu da gestão pública o recado frágil e
do as regras publi-
social e humano. O grande problema é que o
a economia criativa me fazem crer que a “es-
descompromissado expresso numa mesma frase
cadas no site do MinC, organizações e entidades interessadas “devem
Estado, são resultado dos debates ocorridos na preparação da cam-
Governo Federal através do Ministério da Cul-
tratégia” que o Ministério da Cultura pretende
padrão colocada na boca de todos os agentes
solicitar a criação da rede de Pontos de Cultura ao MinC, indicando o
panha presidencial de 2002, que culminou em momento importante
tura ao mesmo passo que propõe este avanço,
adotar para o desenvolvimento e fortalecimento
ligados direta ou indiretamente a gestão cultural
número de pontos a serem selecionados (uma rede é constituída por,
da história do avanço das políticas culturais. A ação do MinC muda
sinaliza com um retrocesso nas outras áreas que
dos empreendimentos criativos no Brasil, vai se
no Governo Federal: “vamos ver o que pode
no mínimo, quatro pontos) e dispor de contrapartida financeira mínima
o foco, levando em consideração que em cada lugar remoto do país
deveriam conformar os campos do investimento
limitar à mediação de relações entre organi-
ser feito”; quando o correto deveria ser: “não
de um terço do valor total do convênio a ser firmado”.
existe quem crie cultura de alguma forma, e, por isso, o Estado deveria
público para efetivamente colocar em prática
zações públicas e privadas que entendem a
vamos admitir que isso seja feito”. Afinal, se as
o discurso que se produziu de ter na cultura
importância do mercado de cultura como um
artes circenses não contar com o Ministério da
Mas o ponto não tem um modelo único, nem exige instalações
um eixo estratégico do desenvolvimento desde
campo de experimentação para a construção
Cultura como fiel depositário da sua existência,
físicas, programação ou atividade. Um aspecto comum a todos é
a gestão passada do Governo Federal.
de um novo modelo de desenvolvimento. Claro
com que outro órgão do Governo Federal ele
a transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder
Em 2003, Célio Turino levou sua experiência na Secretaria de Cultura
que não se pode desvalorizar tal estratégia,
poderia contar?
público e comunidade.
do município de Campinas (SP) para a Secretaria de Programas e Pro-
A diversidade brasileira
criar políticas de
reconhecer e dar sustentabilidade ao que já existe - mas que estava até aquele momento desprovido de qualquer apoio.
Um análise superficial da proposta orçamentá-
mas o desenvolvimento da economia criativa
ria enviada ao Congresso Federal, aponta que
requer recursos para investimento em inovação
JUNIOR PERIM - Produtor e ativista cultural,
para o exercício de 2012 o Ministério da Cul-
e tecnologia, bem como benefícios e incentivos
co-fundador do circo Crescer e Viver e Ponto
tura pretende investir 67% do seu orçamento
fiscais como aqueles, bastante generosos, que
de Cultura Crescer e Viver – site oficial:
Os exemplos são variados, já existe bibliografia sobre o tema, que
da soma de autonomia e progresso elevado à potência, que é igual a
nas Praças do Esporte e da Cultura, enquanto
o Governo Federal oferece à outros ramos da
www.crescereviver.org.br
também é objeto de teses acadêmicas. O programa possibilitou,
empoderamento/emancipação. Muito mais do que só cultura.
jetos Culturais do Ministério da Cultura. Entusiasta e um dos responsáveis pelo início de tudo, Célio desenha uma equação para explicar os pontos: PC = (a + p”) = E. Traduzindo: ponto de cultura é o resultado
47
raiz da questão O programa Cultura Viva fica com R$ 80
facetados brasis que se espalham pelo enorme
do os primeiros passos e iremos ao Fórum de
milhões dos R$ 800 milhões do orçamento
território nacional.
Política, Cultura e Juventude levar esta ideia”.
e contratação de mais dois profissionais por
Um livro que emociona pela simplicidade do
No Peru, Paloma Carpio, do projeto Mundo
região para acelerar os processos. Além de am-
relato e pela profundidade do significado da
Tarumba, vai na mesma direção. E já há muita
pliar e implantar novos pontões a partir de ação
ação dos pontos, que podem ser pautados
coisa acontecendo, apesar do pouco tempo:
conjunta com estados e municípios, o MinC
pelos interesses e cultura indígena, de idosos,
no último dia 21 de agosto, ocuparam as ruas
pretende lançar novas redes e vem atuando em
culinária, religião e até manicômios. Os pontos,
do bairro onde atuam, Nova Lima, e levaram
ações interministeriais. Nesse sentido, Marta
para Célio e outros entusiastas, provam que a
aos vizinhos e crianças espetáculos de teatro
anunciou várias atividades e editais com as
cultura é diversa e não tem cercas.
e música. “Cultura Viva para Nova Lima é o
do MinC. Foi feito investimento nas regionais
secretarias de Direitos Humanos, de Juventude e de Políticas para as Mulheres. Manisfestação em frente ao Congresso Nacional.
Demanda da sociedade
programa cultural central mais importante da Além de escrever - e muito - sobre pontos de
atual gestão. Esperamos fortalecer a produção
cultura, Turino tem sempre o que contar. Entre
artística existente na cidade e contribuir para
exemplos da vida real, como do nada um grupo
a construção de uma maior consciência cidadã
ergue um super projeto que atenda à juventude
na capital,” defende Paloma.
Em 2004 havia R$ 5 milhões disponíveis para os pontos de
estudos sobre os pontos de 2008 a 2010. O levantamento foi
O Coletivo Digital, grupo de São Paulo, foi
nas periferias, ou como idosos encontraram em
cultura. Esse valor passou a R$ 55 milhões em 2005, graças
feito diretamente com os pontos e a partir das respostas obti
idealizado no final de 2004 para levar adiante
um ponto a forma de mostrar à comunidade
Todos os contatos procurados retornaram
a uma emenda parlamentar inédita em termos de investi-
das será apresentada proposta de andamento do programa.
a experiência de seus integrantes nas áreas de
sua vida, dá também a receita de como resolver
mostrando não só entusiasmo, mas projetos
inclusão digital, disseminação e utilização do
os problemas administrativos do projeto.
e propostas e pelo visto se encaminha para
mento na área. O primeiro edital conveniou 210 inscritos, passando a 400, em 2005; 700 em 2006; mais de 2 mil
Marta havia adiantado o compromisso e prioridade para
em 2007, e em 2011 são mais de 3 mil conveniados pelo
os temas voltados para questões da gestão administrativo-
Brasil afora, atuando em redes sociais, estéticas e políticas.
-financeira dos pontos e acelerar a força tarefa, que já está
Os jovens do Coletivo Digital contam que o
de construção ou aglutinação de pessoas e
(*A reportagem “Cultura além do consagrado”
Segundo os cálculos de Turino, são 8 milhões de pessoas
trabalhando, para colocar em dia as prestações de contas
surgimento dos pontos de cultura, em 2003, foi
ideias, Turino também defende que os pontos
de Fernanda Estima, editora assistente, saiu na
envolvidas ao custo mensal de R$ 5 mil.
com problemas, e assim finalizar os pagamentos pendentes.
resultado de pressão para que o governo investis-
têm dimensão econômica e cita como exemplo
edição 92 da revista Teoria e Debate)
se no que já estava em andamento, apoiar o que
o Vale do Araripe, Ceará, onde a pré-história, as
No Almanaque Cultura Viva, editado pelo MinC, com o ba-
A então secretária, que integrou o conselho consultivo do
já acontecia, respeitando a diversidade brasileira.
pinturas rupestres e os fósseis fazem parte da vida
lanço das ações do programa na apresentação, o então mi-
programa Cultura Viva em seu começo, falou que, do ponto
A gestão de Gilberto Gil apostou nas “peque-
da comunidade. A movimentação é grande, os
nistro Juca Ferreira escreveu que “o governo compreendeu
de vista político, o governo federal espera introduzir em to-
nas” ações culturais, fazendo o país descobrir
jovens produzem de música a exposições e para a
Com enfoque na reflexão e no debate de temas
que a Cultura é uma ferramenta poderosa para a redução
das as suas áreas ações de combate à miséria, que é o carro
várias experiências, do rock ao candomblé.
economia da cidade, com a demanda de turistas,
pertinentes à esquerda brasileira e internacional,
das desigualdades e para a universalização de conquistas
chefe do governo Dilma. E a cultura não fica fora disso.
também gerou dividendos para Nova Olinda.
assim como polêmicas em economia, sociedade
software livre, e do conhecimento colaborativo.
ser um projeto de todo Mercosul. Além de serem espaços de continuidade cultural,
O ponto de cultura parte do princípio que se
“O ponto de cultura parte do princípio que se o governo investe, fazendo girar o ecossistema cultural das comunidades, gera cultura e público.”
Teoria e Debate agora é digital
e cultura, Teoria e Debate manteve como
o governo investe, fazendo girar o ecossistema
Para ele, seria simples dar continuidade ao pro-
princípio básico a pluralidade de opiniões desde
cultural das comunidades, gera cultura e públi-
jeto dos pontos. Lembrando que há problemas
o primeiro número.
co. O pessoal do Coletivo Digital vê os pontos
somente em 15% do total do projeto, Turino
de cultura “como resultado das demandas
defende a proposta de algo como o programa
Diante das profundas mudanças que a
da sociedade civil e da coragem de Gil, que
bolsa família. “Os pontos são como as famílias
internet tem provocado no panorama de
entrou no ministério para comprar brigas”. Mas
que o Estado deve amparar. Um cartão de micro
publicações, Teoria e Debate, uma experiên-
de qualidade de vida, permitindo ao cidadão comum o
“Em conjunto com outros programas, de outros ministérios,
relatam problemas, como atraso no repasse das
financiamento, com prestações de contas a
cia editorial bem-sucedida por mais de duas
desenvolvimento de suas capacidades, da inventividade
vamos atuar no fortalecimento dos pontos de cultura como
verbas, dificuldades nas prestações de contas e,
partir dos resultados e não da burocracia proce-
décadas, atualiza seu projeto.
e do senso crítico. Estratégica para a economia, tanto na
espaços nos quais os agentes culturais são protagonistas que
com o início da atual gestão, pouco acesso aos
dimental,” propõe.
participação do PIB nacional, quanto na inserção global
podem articular políticas setoriais”, explicou Marta, ponde-
gestores no MinC. Para o Coletivo, o ministério
do país no mercado internacional”.
rando que há uma variedade imensa de pontos de cultura.
precisava avançar na continuidade do projeto
O próximo passo será fazer levantamento de toda tipologia
e também encaminhar questões que são caras
Redesenhar o programa
existente entre os pontos.
ao movimento de cultura. Entre eles, a reforma
Há dúvidas sobre como ficarão os pontos de
revistas dedicam-se à produção de conteúdo
da Lei Rouanet e o projeto de lei de direitos
cultura, mas isso é só no Brasil, porque outros
para a web; redes sociais, blogs e sites levantam
Marta Porto foi secretária de Cidadania e Diversidade Cultu-
Redesenhar o programa, assim Marta Porto descreveu o fu-
autorais, que ainda não foi apresentado.
países da América Latina, como Guatemala,
pautas, rastreiam e neutralizam desinforma-
ral do MinC até o dia 1º de setembro. Sua demissão estava
turo dos pontos. “São três compromissos básicos: definição
Costa Rica, Argentina e Peru, já estão colocan-
ções. Nesse universo também há espaço
em vias de ser anunciada oficialmente quando finalizamos
do que fazem os pontos e sua atuação, política de fomento
O livro mais recente de Célio Turino, “um
do o projeto em ação.
para formulação, análise, debate e reflexão.
este texto. Mas antes disso, ela e sua equipe ficaram dois
mais apropriada, levando em conta as características regionais
radical, utópico e comunista”, como ele mesmo
meses trabalhando e discutindo as soluções de problemas
e dos projetos de forma a pensar alternativas de sustentabi-
se define, “Ponto de Cultura – O Brasil de baixo
Billy Ochoa, gestor cultural comunitário do Co-
revista da Fundação Perseu Abramo (www.
e a ampliação do programa Pontos de Cultura.
lidade, além da implantação real do pacto federativo
para cima”, apresenta uma sensível radiografia
lectivo Caja Lúdica, da Guatemala, relata com
teoriaedebate.org.br) torna-se um instrumento
são apresentados por Marta como o que virá para o futuro.
de como são e o que fazem os pontos de cul-
animação a construção da proposta para fora
mais acessível, ágil e dinâmico, chegando a
Em setembro será divulgado o resultado da segunda fase
E, também, a consolidação de legislação para garantir
tura de Norte a Sul, de Leste a Oeste, exemplos
do Brasil. “Estamos iniciando esta construção na
seu público de forma mais eficiente. Por isso,
do termo de cooperação assinado com Ipea, englobando
as iniciativas que expressem a diversidade nacional”.
variados e que de fato “des-silenciam” os
Guatemala e na América Central. Estamos dan-
agora é mensal.
Atualmente, os caminhos para a circulação da Ocupando a América Latina
informação, bem como a construção da pauta diária passam pela internet. Os jornais e as
Ao oferecer seu conteúdo na internet, a
49
A (RE) CRIAÇÃO DA CULTURA POPULAR
Por Carlos Henrique Machado Freitas
Q
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
raiz da questão
uando andei de viagem pelo Nordeste e me dediquei especial-
Churrasqueiras de diferentes desenhos na exposição permanente do Pavilhão das Culturas Brasileiras.
mente em conhecer a musica-
da Redação
lidade da região, me interessei desde logo pela feitiçaria. Isso
O
Pavilhão das Culturas Brasileiras,
fruto do amadurecimento da museologia e da
que o Pavilhão não caísse na armadilha de ser
aberto em abril de 2010 dentro
museografia em geral, que se reflete também na
um espaço depositário de lembranças esque-
do Parque do Ibirapuera em São
parte dedicada à arte popular. O desenvolvimen-
cidas. “O Pavilhão das Culturas Brasileiras está
Paulo, é fruto de embate de ideias
to do pré-projeto do Pavilhão foi de dezembro
voltado para o diálogo entre as culturas e para a
e conceitos e propostas e projetos.
de 2007 a abril de 2008. Foi retomado sob a
valorização das culturas dos estratos populares. A
Mas o que não é fruto de embates na formação
coordenação da jornalista Adélia Borges no final
proposta é mostrar, no mesmo espaço, a cultura
da Cultura Brasileira?
de 2009 e, em abril de 2010, a exposição “Puras
da periferia das grandes cidades e das sociedades
Misturas” materializou os conceitos do projeto.
indígenas, por exemplo”, explica a jornalista.
do Brasil foram adornadas por obras onde os
O CONSELHO DOS TAMBORES
tambores foram testemunhados como uma
O que há de diferente entre o início de dois sé-
Nosso processo dialético permanentemente
(cerâmicas, roupas, gravuras, pinturas, esculturas,
Guimarães Rosa porque ela expressa com poesia
Com a promessa de que o prédio passará por
sólida carta de resistência. Em alguns momentos,
culos distintos para o planejamento do desejado
reconstruído por definição a partir de nossa
etc.), 2.200 fotografias, 400 registros sonoros e
essa característica fundante da cultura brasileira,
reformas para as adequações necessárias a partir
a opressão a esta espécie de conferência de sons
futuro do Brasil depende, sobretudo, de uma
cultura não aceita que os atores hegemônicos
9750 livros e documentos, grande parte reunidos
que é a miscigenação”, explica Adélia Borges.
de setembro de 2011, segundo projeto elabora-
era lógico, porque feitiçaria e
música sempre andaram fundidas uma na outra. Um autor esotérico apelidou mesmo a música e a alquimia de “filhas mais velhas da magia”. Mário de Andrade. Música de Feitiçaria no Brasil. Desde os primeiros contos as relações sociais
Dono de um acervo de cerca de 3.600 objetos
“Tomamos emprestada essa linda expressão do
advertia que, por trás daquelas batidas hipnóticas
reforma prática nas nossas relações institucio-
nos imponham uma obediência alienada,
pelo folclorista Rossini
existia um trabalho sério e científico que daria
nais que hoje sofrem uma aglomeração de
subalternizada e hegemoneizada como quer a
Tavares de Lima, que
caráter definitivo a uma civilização que se
técnicas contemporâneas para o “exercício da
SEC – Secretaria da Economia Criativa do MinC,
fundou o museu do
expandia todos os santos dias num projeto
inventividade”. Como disse Milton Santos, há
conduzida por um mercado cego, indiferente às
folclore em São Paulo
do pelo escritório de
“Tomamos emprestada essa linda expressão do Guimarães Rosa porque ela expressa com poesia essa característica fundante da cultura brasileira, que é a miscigenação”
Pedro Mendes da Rocha, com a aquisição de obras de artistas como Poteiro, Artur
que continuava com os pés descalços no chão,
no fundo dessa baixa visão uma tentativa de
heranças e às realidades dos lugares e da socie-
na década de 40. Com
mas com o compromisso de trabalhar feito
realizar a mesma história a partir dos vetores
dade como é típico da visão de troco miúdo dos
a montagem da Mostra
um guardião das tarefas de conversão onde os
“de cima” para que as classes dominantes rea-
gestores do capitalismo corporativo.
do Redescobrimento,
indicadores buscariam uma forma de datilografar
lizem a nossa história a partir de um comando
em 1999, o Museu do
tratados que seriam a própria referência biblio-
em que os vetores “de baixo”, ou seja, a
As nossas realidades gritam por um período
Folclore deixou a OCA
gráfica de uma nação de tambores.
sociedade volte a um período anterior de toda
histórico, gritam pela totalidade do Cultura Viva
e durante mais de dez
a nossa metamorfose com o mesmo grau de
que tem, como idealizado, as mesmas concep-
anos ficou entre o esquecimento das autorida-
Tratando de celebrar a cultura mestiça, dentro
Indígenas, sob a curadoria de Cristiana Barreto
docilidade que as primeiras expedições civilistas
ções Andradinas, em que a cultura não é vista
des e a defesa dos folcloristas, antropólogos e
do Pavilhão Armanda Arruda Perreira, nos 11 mil
e Luis Donisete Benzi Grupioni, iniciando no dia
como negócio, mas como principal ativo do
historiadores preocupados com o destino do
metros quadrados projetado pelo arquiteto Oscar
10 de setembro, nesse um ano e meio de vida,
Imaginar tudo isso para ter uma interpretação do mundo e do lugar onde estamos agora, no
nos impuseram.
Pereira, Lorenzato, Mestre Galdino, José Valentim Rosa, Maria Lira e José Bezerra e a exposição ArteFatos
Brasil para nos impulsionar a um modernismo
acervo. Foi nesse embate que surgiu a proposta
Niemeyer, os coordenadores entenderam que
o Pavilhão das Culturas Brasileiras já recebeu
acima de tudo, de buscar uma outra história
Neste início de século se há uma nova divisão
econômico do século XXI, onde o desenvol-
da Secretaria Municipal de Cultura de montar
tradição e modernidade, que popular e erudito,
grafiteiros, indígenas, mestres da cultura popular,
diferente do totalitarismo da mídia. Eis a nossa
internacional, temos que observar o que nos
vimento seguiria o sentido da amálgama da
em um dos prédios do Parque do Ibirapuera, o
periferia e centro são nomes diferentes para uma
filósofos, antropólogos, jornalistas, poetas, entre
Pavilhão das Culturas Brasileiras.
mesma cultura. Ainda com alguns problemas
tantos brasileiros que fazem, no dia a dia do
sentido de fortalecer a busca pela cidadania e,
tarefa urgente, pois os gigantes da comunicação
oferece a herança conjunta existente nas cul-
Semana de 22 que criou um círculo de luz e
trabalham mais do que nunca para transfor-
turas populares solidamente estabelecidas pela
impulsionou o Brasil do século XX.
mar tudo em objeto de mercado como se em
vontade e pelo poder do povo. Deste modo,
nenhum lugar as comunidades fossem formadas
com uma estrutura dotada de movimento pró-
ligados às questões de infiltrações no prédio e
seu trabalho, a cultura popular brasileira. Afinal,
Em meio a discussões burocráticas e conceituais,
de guarda de objetos do acervo, o trabalho e a
segundo Adélia Borges, “a arte popular está
Carlos Henrique Machado Freitas
o Pavilhão das Culturas Brasileiras, tornou-se um
preciosa colaboração de Cristiana Barreto, Mar-
sempre se renovando, não se estagnou.”
celo Manzatti, Maria Lúcia Montes, José Alberto Nemer e Vera Cardim, criaram propósitos para
por pessoas onde tudo é imposto pelo senso
prio, o Brasil pode ser um dos principais atores
é músico e ativista cultural -
dos espaços com uma proposta e programação
comum e pelo pensamento único.
das novas soberanias globais.
www.myspace.com/carloshenriquemachado
bem diferente de outros espaços ligados ao tema
51
patrimônio
TRADIÇÃO, SAGRADO E PROFANO, PELAS RUAS DE BARBALHA
UMA DAS MAIS EMBLEMÁTICAS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR TRADICIONAL, A FESTA DE SANTO ANTÔNIO DE BARBALHA, NO CEARÁ, UNE ELEMENTOS SAGRADOS E PROFANOS, EM UMA SINGULAR E INSTIGANTE APROXIMAÇÃO Por Dalwton Moura Fotos Rafael Vilarouca
53
E
Fotos: Rafael Vilarouca
patrimônio
pifania, emoção, intensidade.
Tudo começa com o Corte do Pau, aos 13
centenas de orgulhosos “carregadores do
Os festejos incluem trezenas, missas, quer-
foi lançado o documentário “Festa do
Multidão, expectativa, celebração.
dias do mês de maio, marco primeiro das
Pau”. Todos sob a voz de comando de Rildo
messes, leilões, apresentações folclóricas,
Carregamento do Pau da Bandeira de
Esforço, alegria, participação
reverências da região ao santo mais popular
Teles, o “capitão do Pau”, que, momentos
festas populares e uma vasta programação
Santo Antônio”, do cineasta cearense
popular. Ou, em uma palvra,
do País. Em tempos de atenção com a
após a impressionante derrubada, em uma
musical – das bandas de forró de maior
Rosemberg Cariry, com apoio do Instituto
tradição. A Festa de Santo Antônio
natureza, a árvore é escolhida cuidadosa-
clareira aberta no Sítio São Joaquim, festejou
de Barbalha, no Ceará, atrai centenas de
mente, em comum acordo com as entidades
ter conseguido impedir a queda de outra
milhares de pessoas à região do Cariri, no
responsáveis pela proteção ambiental,
árvore. “Usamos cordas e conseguimos
sul do Estado, para rituais que se renovam
mantendo a característica da festa, mas
evitar derrubar outra rama branca, que
e reinventam a cada ano. Calcada na reli-
contando com o plantio de 100 mudas
estava muito perto”, detalhou o homem
-giosidade popular, oficialmente legitimada
de árvore, por parte da Prefeitura, como
que carrega, além do peso do fardo e do
através das homenagens ao padroeiro do
medida de compensação.
comando dos demais, na tarefa entremeada
município, a festa tem seu lado “mundano” com os shows que ajudam a atrair moradores de cidades e mesmo estados vizinhos, além de barbalhenses radicados em outras paisagens, que se reencontram anualmente para as festividades. Também marcadas pelo apelo das simpatias casamenteiras e
de cansaço, calor e cachaça, toda a tradição
“Tudo começa com o Corte do Pau, aos 13 dias do mês de maio.”
pelas cores vivas da cultura popular, com
do Pau da Bandeira.
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
“Sob os olhares de nada menos que 350 mil pessoas, e fincado em frente à Igreja Matriz.”
nal (Iphan), que reconheceu a festa como patrimônio cultural brasileiro. Se o caráter casamenteiro de Santo Antô-nio dá o tom ao longo de toda a festa, com as várias simpatias que prometem “desencalhar” até mesmo as mais desalentadas moças, o Dia dos Namorados é um dos momentos de destaque.
Após o corte, o futuro Pau da Bandeira perma-
repercussão comercial a sutilezas como
Mas beleza mesmo se vê no dia 13 de
nece secando no local conhecido popularmen-
a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto,
junho, quando o encerramento da festa
te por “cama do Pau” na entrada do sítio. De
do Crato, passando por grupos como
é marcado pela procissão, ao fim da tarde,
lá, foi levado pelos carregadores, no dia 29 de
o pernambucano Quinteto Violado e os
com a imagem de Santo Antônio percor-
maio, sob os olhares de nada menos que 350
jovem-guardistas Águias de Barbalha, em
rendo em carro-andor as principais
a apresentação de quase uma centena de
Este ano, o Pau da Bandeira foi uma rama
mil pessoas, e fincado em frente à Igreja Matriz
atividade desde os anos 60, com muitas
ruas da cidade, ante a presença dos
grupos folclóricos, do reisado ao maneiro-
branca de 23 metros de comprimento, com
de Santo Antônio, onde sua presença, até o
histórias para contar, em uma antro-
moradores dos distritos e comunidades
-pau, das telúricas bandas cabaçais aos
estimadas duas toneladas e meia, conduzi-
13 de junho, reiterava que a cidade estava em
pofagia cultural pré-tropicália que se
mais distantes, emocionando-se na
misteriosos penitentes.
das ao longo de seis quilômetros por duas
festa, em louvor ao santo.
estende à atualidade. Este ano, também
reverência ao padroeiro dos pobres.
55
Fotos: Rafael Vilarouca
patrimônio
Renovada tradição
“Eu pequeno, minha mãe já trazia. A gente vê a procissão chegando na cidade, dá uma emo-
Entre os carregadores do Pau da Bandeira, a des-
ção muito grande, uma vontade de participar. E
contração e a euforia se somam à emoção. Gente
a cada ano vai renovando. Lá em casa já são três
como Francisco Cândido Barros, autodenominado
gerações” testemunhava Marcos Antônio Silva
guia turístico-cultural, que há 38 anos toma parte
Francelino, sem esconder o sorriso por participar
nas festividades. “Venho todo ano e trago o baião
da festa.
pros carregadores” conta Francisco, citando o
“A euforia é visível no rosto dos carregadores e de quem acompanha o momento.”
A euforia é visível no rosto dos carregadores e de quem acompanha o momento. Em clima de confraternização e de espontânea manifestação de alegria pela continuidade da tradição, muitos brincam contando piadas e jogando terra uns nos outros. Em meio ao público, muitos fazem questão de tocar o mastro. Como Antônio Reginaldo Bezerra, o “Região” que levou o filho Antônio Roberto, de apenas 10 meses, para tirar foto sobre o tronco caído no chão, entre brincadeiras: “Ele é o ‘Raminha Branca’”. Este ano,
prato típico cearense, feito com arroz e feijão,
a sacrificada jornada dos carregadores, iniciada
e exaltando com orgulho “Todo o folclore e a
ainda na manhã do 29 de maio, só encontrou
riqueza da cultura de Barbalha. A gente par-
término após as 21 horas, quando o Pau da
ticipa com muita alegria, sempre. É uma coisa
Bandeira foi erguido, sob aplausos e fogos, ao
que vem desde menino, de família” comentou
fim de uma cuidadosa operação, no pátio da
Roberto Maguila, 40 anos, que desdeos doze
Matriz. Para ser visto, tocado, fotografado. Tátil
comparece às festividades.
tradução da tradição.
57
políticas
A ARTE E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Atividades desenvolvidas pela Fundação Crear Vale la Pena em Rosário, Argentina. Por Christian Saez Fotos Divulgação
P
or não menos de três décadas novos paradigmas foram criados
e Transformação Social. Esses movimentos procuram seus pares e geram
com uma força incomum nos países emergentes. Novas ideias
políticas públicas que promovem o continente cultural. Um bom exemplo
sobre a economia, a sociedade e a cultura, efeito da eterna
é a criação e organização dos Pontos da Cultura no Brasil que fez surgir a
gravidade das economias desenvolvidas e um centro de ideias
Rede Latino-Americana de Cultura, onde se articulam pessoas e referências
das “periferias do mundo”. Ideias desafiadoras dentro de uma
culturais, como Inés Sanguinetti, Eduardo Balan, Blandon Jorge, Carpio
realidade de grande pobreza e fragmentação social. Mas como surgiu
Paola, Patrícia Cornils e gestores culturais da Argentina, Colômbia, Peru,
esse pensamento sobre a crise do Estado e as ações criadas nas periferias
Brasil. Eles trabalham principalmente nos setores de vulnerabilidade social
DE ESTADOS EM CRISE
do mundo? Essa ruptura de pensamentos aconteceu em silêncio nos bair-
onde através do teatro, da dança, da música e da comunicação, estão
ros de várias cidades latino-americanas, espaços de resíduos de diversas
realizando diversos programas e projetos de arte e organização. E essa
épocas, e começaram a respirar sua arte. Nada tradicional, pelo menos em
grande cena cultural americana está acontecendo ao mesmo tempo e
sua formação, combinado com uma “necessidade natural” das ideias de
neste momento!
Serviço:
Começou nas pequenas cidades, bairros vizinhos, grupo de pessoas, todas
Da Argentina, socióloga e coreógrafa, diretora / fundadora do Crear Vale la
O texto original em espanhol pode ser lido no Portal RAIZ. (www.revistaraiz.com.br)
sedentas de mudanças e cuja nova atitude cultural é conhecida como Arte
Pena, organização que “promove a educação artística, produção artística
expressão e de ação. E assim surgiu a comunidade, um espaço de resgate de novos pensamentos, mudanças, valores, cores e sons novos.
Assim conta Inés Sanguinetti, da cidade de Rosario (Argentina), a 300 km de Buenos Aires, onde está realizando workshops para jovens e adultos.
59
Fotos: Divulgação
políticas
Inés Sanguinetti, coordenadora da Fundação Crear Vale la Pena.
e organização social através do acompanha-
Como foram as reações a essas alternativas nas
O que a Arte recupera em territórios de grande
mente. É uma fase posterior do processo mas
há um programa nacional e na província de
mento do desenvolvimento territorial, bem
comunidades?
pobreza econômica?
contamos com o apoio de pessoas como o
Buenos Aires chamado Pontos de Cultura.
como a construção redes multissetoriais e
No início é difícil. Começamos nosso
A possibilidade de ter uma comunidade
Celio Turino (ex-secretário da Secretaria da
Há um orçamento, que tem aumentado nos
parcerias, e que foi entrevistada via e-mail.
trabalho em arte e transformação social nas
reconhecida socialmente! Recuperar a dig-
Cidadania Cultural do Ministério da Cultura
ministérios da cultura nacional e provincial,
comunidades de bairros muito pobres da
nidade, a capacidade de sonhar! As pessoas
nas gestões Gil/Ferreira) que está girando na
mas o investimento ainda é insuficiente. Por
Grande Buenos Aires, e percebemos que as
nunca esquecerão de momento vitais como
América Latina. Graças ao trabalho dele junto
exemplo o projeto Pontos de Cultura argentino
A arte e as organizações sociais geram uma
as experiências estéticas. A primeira ação é
aos Pontos de Cultura no Brasil, observamos
começou com um orçamento de dois milhões
estratégia que sugere uma “transformação
recuperar a capacidade de viver plenamente.
uma construção política e entendemos isso
de pesos. Mas precisamos de pelo menos
Sabemos que nem todos os que vivem em
como um “farol a seguir na América Latina.”
260 milhões de pesos para trabalhar com as
situação de vulnerabilidade serão artistas.
Montamos uma campanha e uma plataforma
organizações dos povos e da cultura em todo
Primeiro, tentamos que aqueles que querem
continental para a ação em onze países ao
o continente. Este “milagre” vai fortalecer o
O que pretende a Arte e Organização Social?
social”. A arte por si só não produzirá mudanças sociais. Mas os programas de arte e cultura ligados às comunidades criam novas instituições que podem sofrer processos de transformação. Tem como objetivo construir um novo paradigma no patrimônio “arte, educação e social”. A palavra que melhor indica a combinação de arte e estratégia social da organização é a “transformação social”.
“A toda esta nueva actitud cultural determinada al cambio se le llama Arte y Transformación Social.”
Como foi a experiência de Crear Vale la Pena?
ser artistas o sejam, depois mostramos que expressão artística é um trunfo para que as pessoas com interesses, habilidades e profissões muito diferentes usufruam dessa possibilidade de manifestação. Como é a experiência de trabalhar com o Estado?
processo do Brasil que foi a inspiração, porque
“Logramos que el Parlamento del Mercosur sancionara la primera ley de Puntos de Cultura sin Fronteras.”
infelizmente o governo Dilma Rousseff vem retirando os investimentos nos Pontos de Cultura e enfraquecendo um movimento. Diante disso, o trabalho na América Latina tornase a força motriz por trás da “ordem pública” do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, mais que a própria política de governo no Brasil.
O primeiro estágio foi o desenvolvimento de
pessoas iam aderindo aos poucos, até que a
É muito interessante quando você trabalha
“centros culturais” como um espaço de lider-
massa crítica fosse gerada e o projeto crescesse
com o Estado. Ela dá uma possibilidade de
ança juvenil no contexto de vulnerabilidade
exponencialmente. Nessas localidades há
ação que você não possui quando trabalha
social. A segunda etapa foi a construção de
muita impotência, perturbação social e uma
sozinho. Por outro lado, envolve conhecer
um programa de formação artística profissional
certa incapacidade de imaginar sociedades
novos “códigos” que algumas organizações
destinados aos jovens sem acesso a oportuni-
integradas, por exemplo, cidade e campo.
não conhecem mas que temos que conhecer
longo de 300 organizações que estão articu-
herdeiros da arte que transforma a lógica
dades desta qualidade de formação. A terceira
Existe pouco diálogo, movimento, participação
para poder nos comunicar. É mais ou menos
ladas e trabalhando dentro e fora de cada
de “desenvolvimento local”. Onde a função
etapa foi o desenvolvimento de uma formação
e contatos entre as pessoas de localidades
como juntar contextos de pobreza com
país. No Parlamento do Mercosul aprovaram
central é o desenvolvimento do indivíduo. O
de formadores. Agora estamos focados no que
muito próximas, que deveriam criar projetos
oportunidades, bailarinos com músicos ou
a primeira lei de Pontos de Cultura Sem
prazer é algo que acontece durante a ação de
chamamos “a construção fora do território
regionais de “empoderamento”.
antropólogos com gerentes de negócios.
Fronteiras. Estamos impulsionando essa política
desenvolvimento e não é esperado como um
legislativa em vários países, alguns dos quais
produto final.
original”, o desenvolvimento de um programa
O trabalho da Rede Latino-Americana é uma transformação social que vai da periferia para o centro? Sim, exatamente. Todos os movimentos são
de arte e desenvolvimento local, para tentar
Nada disso acontece naturalmente e tudo deve
Como estão acontecendo essas mudanças
foram reforçadas por ações coletivas. Mesmo
gerar fora das grandes cidades da Argentina, a
ser estimulado fortemente para se alcançar
culturais e políticas?
que ainda não tenhamos conseguido montar
construção de novos circuitos culturais.
algum resultado.
Estamos tentando mudar as políticas ultima-
como lei em nenhum país, na Argentina já
61
ensaio poesia
VOMITEMOS
SERVIÇO: “Os Dentes da Memória – Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e uma trajetória paulista de poesia” Camila Hungria e Renata D'Elia
TOUJOURS Q (TRECHO FINAL DO POEMA AUTOMÁTICO DE PIVA E WILLER - 1965)
Editora Azougue Preço: R$38,50
uatro poetas desterrados de sua época. Roberto Piva,
A jornalista cultural continua: “Sabíamos de uma série de histórias rebeldes,
Claudio Willer, Antonio Fernando de Franceschi e Roberto
algumas engraçadas, que poderiam compor uma espécie de anedotário
Bicelli, são paulistas e vivem São Paulo de uma forma bem
e dar um “sabor” especial à história mas, além de contá-las, procuramos
diferente dos seus contemporâneos separados da dicotomia
contextualizar a criação poética e oferecer ao leitor os subsídios para en-
da direita x esquerda. Queriam viver o que escreviam, vivem
tender a vivência, a agitação cultural e a atuação artística da turma”.
o que escrevem, escrevem, nunca pararam. Somente
Roberto Piva não vive mais o que escrevia.
Agora a “turma” invade a seção Ensaios da revista RAIZ., dedicada a fotografia, com suas palavras de transgressão. Transgressão continuada.
O livro das jornalistas Camila Hungria e Renata D’Elia “Os Dentes da
Vomitemos sempre.
Memória – Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e uma trajetória paulista de poesia” eram os mestres de suas vidas. A autora Renata D’Elia explica como surgiu o livro: “ começamos a estudar esse grupo em 2007 e fizemos um TCC em Jornalismo em 2008. Este TCC deu origem ao livro. O que nos levou a estudá-los era a combinação irresistível entre uma poética nada convencional no Brasil e a não separação entre poesia e vida”. 63
ensaio poesia
Roberto Piva 25/09/1937 a 03/07/2010
São Paulo’s Improvisation
Libelo
Ruas do meu São Paulo,
Wo Exército da Salvação:
A culpa do insofrido,
“Não acham os senhores
Onde está?
que Deus está em toda a parte?”
Mário de Andrade
_Por isso mesmo não está em parte alguma,
De um bar qualquer
grito minha inocência pagã...
do Largo do Arouche
“Malditos sejam os que...”
assisto São Paulo passar por dentro de mim
Escondo-me do mau agouro.
imerso em paisagem cinza-úmida
Duas garotas
pela “água-benta das garoas monótonas”
em rancheiras azuis
como disse Mário de Andrade.
adolescem na calçada
Do bar recorto no asfalto umedecido
fugidas da neurose territorial
o olhar dos pederastas
da pequena-burguesia
mariscando colegiais farfalhantes nas esquinas.
paulistana.
O cheiro morno dos hamburgers
O peso da solidão
assalta-se
me espreme
como uma náusea íntima
para fora de mim.
desprendida do vapor da alma.
Recomponho-me na noite
Doces olhos das loucuras simples.
não dando chance
“Mais um gin, todavia...”
ao mar interior
Escorrego pela noite
que urra de tristeza.
Não mais trarei justificações Aos olhos do mundo Serei incluído -pormenor esboçadoNa grande Bruma. Não serei batizado, Não serei crismado, Não estarei doutorado, Não serei domesticado Pelos rebanhos Da terra. Morrerei inocente Sem nunca ter Descoberto O que há de bem e mal De falso ou certo No que vi.
cavalgando
65
ensaio poesia
Claudio Willer 02/12/1940
Mais Uma Vez mergulho no amor
A Palavra
com a cega convicção dos suicidas penetro passo a passo declarar réu confesso
vocês não entenderam nada, vocês não sabem nada poesia não é querer escrever bem
poesia é névoa
sem
o áspero ruído do gume de diamante sendo testado por dois
outra familiaridade nas coisas
um núcleo raivoso anterior à Queda
tudo é conivência e signo o espaço
estou falando de filosofia, de essência,
o Marquês de Sade nem precisava daquele teatro todo
o que aquele bando de malucos fazia na rua àquela hora
o que sei é onde penetrei, o telefonema que traz lembranças de trinta anos atrás, de ontem, de agora, seu som a vibrar neste ar parado de noite antes
a outra noite, aquela (no HC, minha pressão caiu, e depois
com um cuidado enorme, pesando cada palavra, para não me
que fala ao transformar-se em memória
- Gnone
mundo acordando para ver que espécie de confusão era essa,
poesia é escrever
a realidade
o conhecimento animal
uma exploração do desconhecido pelo corpo, através do corpo,
é ela dizer: “como você me revoluciona por dentro”
que se reduz a traços da presença
poesia é o que sempre soubemos
daquelas janelas abrindo-se todas ao mesmo tempo, todo
poesia é dizer
o mundo
poesia é isso, é isto, também é aquilo, é agora
carro) (se houvesse cedido, levávamos tudo)
ainda tive que dar a notícia aos amigos)
agora formas de lembrar-se
poesia grossa (cacete rombudo, que tal essa imagem?)
armas a 80m. De distância de uma delegacia (eu esperava no
poesia é noite
esta calma permanência dos objetos
universidade contra esses desta,
especialistas em arrombamento na vitrine daquela loja de
poesia é luz
e sinto
algo bem melhor do que abriga de scholars, aqueles da outra
do disparo de revólver verdadeiro,da janela, no automóvel
poesia é som,
aberta pelos encontros dos corpos
poesia é porrada
poesia é velocidade
que ia passando por aquele alvo escolhido ao acaso,
opaca
conseguir parar
para depois reler e dar risadas, imaginando o espanto de quem vier a ler o que escrevi
turva
de fumaça enchendo o quarto, todo mundo a dar risadas
poesia é o que eu ainda irei relatar em prosa poesia é o que ainda pretendo escrever
nesta região misteriosa
de
uma extensão do gesto
as coisas matéria de evocação qualquer coisa treme dentro da noite como se fosse um som de flauta e a cidade
mais uma tempestade
se contorce e se retrai MAIS UMA VEZ ao abrir-se para este turbulento silêncio de olhar frente ao olhar pele contra a pele sexo contra sexo
67
ensaio poesia
Roberto Bicelli Nasceu em algum momento do século XX
Antonio Fernando de Franceschi 1942 Natal
Profissão de Má Fé
pergunto ao olho
Os poemas devem ser gordos
que vê:
e ter penas
o que me trava
como os frangos
no limitar da festa?
os frangos úmidos dos quintais
Livrai-nos Deus da Corrução
Silêncio sem cultivo
os belos frangos
Do Chaos da Anarchia
na boca que não abro?
que ciscam o chão &
Da Excecionalidade
Gosto que não gosto?
bicam os pés de urtiga
Tenhamos Tacto y Tecto
Trago que não trago?
rasgado o peito
Façamos Gymnástica
está o coração
Combatamos a Infecção
pobre balão
A Sciência a Sucção
Sonho desfeito
Sítio do Caminho
ante a mesa posta:
Tyco Ticho No Fubrahel
da hora nua
águas sulcando fendas
sangue suor e nostalgia
Pas du tout W
esta
seixos polidos
amar é passar o dedo
Aplainemos a Língua
não tiro efeito
e galhos hirtos pelo chão
numa agulha de vitrola
De Pycos Phalésias e Promonthórios
nem qualquer resposta
resvaladas nas vertentes
as poças d’água
Circunspecto Aspecto
esparso leque das graminhas
as flores ásperas
Evitemos Italianizmos, Francezismos, Españolismos
sob as frondes
os poemas frouxos
Y ultimamente o Abril Portucalense
verde espessura
cordas soltas de celo
Sejamos....fotográficos
aflorações
esse som
Optimistas
vertigens e serpentes
que vem de dentro
Sociológicos
e mais além
soprado pela boca indizível
Nostálgicos
o mistério intocado
que tentamos saber
Sem nevroses nem Zunzuns
das nascentes
que tentamos traduzir
No afã de que o flautim
essa onomatopéia delirante
abafe o Uivo
que nos obriga a dizer
Que vem de Nós
Eu te amo
Para mim.
quando queremos sussurar Ben Close dinamite & sempre teus lábios matam.
69
Serviço:
bens de raiz
Livro “A arte visionária de Ranchinho” - textos de Antonio Fernando de Franceschi, Oscar D’Ambrosio e Roberto Rugiero – Editora RAIZ. Quanto: R$ 60,00
C
“Grande colorista, observador sensibilíssimo da realidade, mas trilha um caminho próprio, onde o movimento e a cor definem o momento emocional.”
Por Roberto Rugiero
om textos de Antonio Fernando de Franceschi, Oscar D’Ambrosio e Roberto Rugiero, está sendo lançado o tão aguardado livro sobre a obra do artista Sebastião Theodoro Paulino da Silva, o Ranchinho.
Nascido em 1923 no Município de Oscar Bressane e falecido em Assis, também no Estado de São Paulo, em 2003, Ranchinho criou cerca de 3000 obras, uma parte delas de excepcional qualidade. Equiparado a José Antonio da Silva, pelo nível de sua criação, Ranchinho teve três obras recentemente adquiridas pelo Pavilhão das Culturas Brasileiras,
A ARTE VISIONÁRIA DE
RANCHINHO
embrião de um museu destinado à cultura popular, já instalado no antigo prédio do Prodam, no Parque do Ibirapuera, na capital São Paulo. Deficiente físico e mental, o artista teve uma existência muito difícil, à margem da sociedade, até ser recolhido por seu irmão Antonio e reintegrado à família. Acometido de exibicionismo, sofreu inúmeras agressões: foi preso algumas vezes, perdeu todos os dentes, viveu só e abandonado em ranchinhos da periferia, daí seu apelido. Analfabeto e com deficiência de fala, Ranchinho criou algumas das mais originais imagens da arte brasileira. Nenhum artista dedicou tanta atenção aos animais domésticos como ele: galinhas, cães, cavalos, gatos aparecem com frequência em seu trabalho. Outro de seus temas favoritos, ao qual voltava constantemente, são os circos, onde também deixou uma obra incomparável. Ranchinho foi descoberto no final da década de 1960 pelo corretor de seguros e poeta José Nazareno Mimessi. Perambulando pelas ruas da cidade, o artista costumava distribuir aos conhecidos desenhos que fazia à noite, em seu mísero refúgio. Um dia, o corretor, que passou a frequentar a Praça da República - onde travou contato com vários artistas populares -, comprou um jogo de
Fotos: Divulgação
guache e pincéis e incentivou Ranchinho a fazer um trabalho mais elaborado. Em pouco tempo Ranchinho produzia obras de surpreendente beleza e simplicidade
Numa edição conjunta entre a RAIZ. e a Galeria Brasiliana, de São Paulo, com o apoio
que o projetaram como um dos mais interessantes casos
da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura (MinC), a obra pode ser adquirida
de expressão artística espontânea ocorrido entre nós.
nas melhores livrarias, ou pelo Portal da Revista RAIZ ( www.revistaraiz.com.br).
71
bens de raiz ‘ang, ymawara ‘ang ore poroneta akawe’eng ko’yt. Ore ‘ypya poroneta, a’ehera ‘ang oja’uwara okome ko’yt, ikawe’eng wemyminõmera upe. Omanõm, amoa wa’yrera upe ikawe’eng. A’ea wite warera te ‘ang akawe’eng a’ang wejote ko’yt, ‘anga pupe, anga pupe kõ. A’ehera te’ang, ore remyminõmera okwaha korine wã, wetep ore poroneta ‘ang akawe’eng wejote ko’yt, ‘ame kõ.
KAMAIURÁ
Kanutary (Koka) “As histórias que estou contando agora são histórias muito antigas, histórias de nossas origens. Elas vêm sendo passadas de geração em geração, contadas pelos avós para seus netos. Quando os avós morrem, outros contam as histórias para seus filhos. De modo similar, eu vim contar, para que as nossas histórias fiquem registradas na máquina. Assim, nossos netos kamaiurá, todos, poderão conhecer as histórias que eu vim aqui contar.”
A publicação do livro é uma iniciativa da FUNAI e do Museu do Índio, no âmbito do Programa de Documentação das Línguas Indígenas.
Fotos: Acervo Lucy Seki
O
que habitava a boca de nossos
Oito narrativas, tradicionalmente transmitidas de
próprio olhar dos Kamaiurá sobre si próprios,
ancestrais” é o resultado de
forma oral, foram registradas e traduzidas a partir
a sua maneira de estar no mundo. Além dos
mais de quarenta anos de
do relato dos monoretajat, os “Senhores das
mitos, o leitor conta com um passeio histórico,
pesquisa da linguista Lucy Seki
Histórias”, e auxílio de diversos índios. As histórias
um diálogo promovido com a bibliografia
(UNICAMP), a maior especia-
são ilustradas por desenhos feitos pelos índios,
existente sobre o tema. A autora empreende
lista do mundo nas línguas Krenak e Kamaiurá,
e acompanhadas por uma contextualização inicial
também uma análise sobre diferentes traços
e que em 2010 foi eleita membro honorário da
e diversas notas etnográficas, as quais aprofundam
da organização social, da indumentária, da
Linguistic Society of America (Baltimore).
a leitura, esclarecendo ou detalhando diferentes
caça, peça e agricultura. Aborda as caracterís-
aspectos socioculturais do povo kamaiurá.
ticas da língua e da narrativa mítica, e conta
Trata-se de uma coletânea bilíngue (Língua
de que forma se deu a pesquisa e a organi-
Portuguesa e Kamaiurá) de narrativas míticas
Os mitos remontam a cosmologia kamaiurá,
zação da coletânea, seus principais desafios
dos índios Kamaiurá, habitantes das margens
retratando eventos fora da experiência direta
e dificuldades. No final do livro, há também
da lagoa Ypawu, na área atualmente denomi
dos falantes da comunidade, situados no
um glossário com os principais termos kamaiurá
nada Terra Indígena do Xingu, região nordeste
passado e transmitidos pela tradição, eventos
que aparecem nos mitos.
do Estado Mato Grosso.
esses que fazem parte da construção do
73
bens de raiz
Serviço: Exibição da série “Sobre a Congada de Ilhabela” no CNU - Canal Universitário de São Paulo e pelo número11 da NET, 71 da TVA analógica e 187 da TVA digital – Mais informações no site da TV USP: www.usp.br/tv/
C
ongada é uma encenação
Foram gravados os bailes da Congada de 2004
TV USP, integrante da Coordenadoria de Comu-
apresentada em espaços públicos
a 2010 (a Congada sempre se apresenta no 3º.
nicação Social da Universidade de São Paulo.
(ruas, praças), desde a época da
fim de semana de maio), além de outras mais
Trata-se portanto de um trabalho aprofundado
escravidão. Esta encenação inclui
de trinta visitas à ilha fora da época da Congada,
e de longo fôlego, interdisciplinar, unindo
enredo, personagens, figurinos,
que contou com a ajuda dos pesquisadores
saberes diversos da Universidade de São Paulo
diálogos, músicas instrumentais e cantadas,
Vagner Gonçalves da Silva (antropologia da USP,
através de consultorias e colaborações na
coreografias. De origem banto, mistura
especialista em religiosidade afro-brasileira),
pesquisa e roteiro, apoios de diversas editoras,
português arcaico com palavras em quimbundo.
Mourivaldo Santiago (letras clássicas e vernácu-
entidades, instituições e comerciantes, e das
Essa manifestação ocorre em todo o país, com
las, USP), Ana Pereira (pesquisadora portuguesa,
prefeituras e secretarias de cultura de Ilhabela
diversos nomes, e por iniciativa de Giovanni
colaboradora na pesquisa de documentos
e de São Sebastião, e a colaboração das comu-
Cirino, que começou este trabalho enquanto
históricos obtidos na Torre do Tombo, Portugal).
nidades negra e caiçara do litoral norte do
fazia seu mestrado em etnomusicologia, foi
estado de São Paulo.
produzida a série “Sobre a Congada de Ilhabela”
O trabalho “ Sobre a Congada de Ilhabela” é
junto com a TV USP.
uma série de 7 documentários produzidos pela
CONGADAS DE
CAIXEIRAS DA FAMÍLIA MENEZES Serviço:
Cópias do CD serão distribuídas gratuitamente a 1.450 instituições educacionais
ILHA BELA A
de São Paulo e São Luís do Maranhão. Mais informações podem ser obtidas no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho (98) 3218-9924, ou no site da Associação Cultural Cachuera! (www.cachuera.org.br) ou pelo telefone: (11) 3872-8113 / 3875-5563
s Caixeiras do Divino são respon-
No período elas também ministraram uma
maranhense, entre elas a tradição dos toques
sáveis por conduzir os rituais desta
oficina para mulheres, com ensinamentos de
das Caixas do Divino Espírito Santo, mantida por
bela manifestação do catolicismo
toques e cânticos relacionados à Festa do Divi-
Dindinha, Zezé, Graça e Bartira.
popular. Presentes em todas as
no. Seguindo a tradição maranhense, esta festa
etapas dos festejos, elas cantam
respeita o tempo do ritual nordestino e integra
O encarte do CD O Divino Som abre com um
e tocam caixa (tambor) para homenagear o Divino
cortejos, ladainhas, música, dança e o ofereci-
texto de Renata Amaral, integrante do grupo
Espírito Santo. Cânticos tradicionais, aliados
mento de refeições.
paulista A Barca e caixeira aprendiz em São Paulo. O CD também apresenta um ensaio da
Fotos: Divulgação
a versos improvisados, tornam bela e original a musicalidade da Festa do Divino de tradição
A Festa do Divino Espírito Santo é uma antiga
antropóloga Maria Lúcia Montes, especialista
maranhense, e esta musicalidade também está
tradição luso-brasileira do catolicismo popular.
em tradições afrobrasileiras. Os textos, em síntese,
presente no CD “O Divino Som”, lançado no dia
No Maranhão, onde ainda é celebrada em diver-
explicitam como acontecem os rituais da festa
22 de julho em São Luís do Maranhão (MA).
sos municípios, ela é considerada uma das mais
e valorizam o aspecto histórico e sociológico
importantes manifestações culturais e religiosas
da Festa do Divino Espírito Santo no Espaço
Neste ano foi realizada, ao longo do mês de
do estado, mobilizando milhares de devotos.
Cachuera!, que vem permitindo aos paulistanos
maio, a 12° Festa do Divino Espírito Santo no
Esse festejo chegou ao Maranhão no início do
conhecer a rica tradição maranhense e tem sido
Espaço Cachuera!. Dindinha, Zezé, Graça e
século XVIII na cidade de Alcântara, e de lá se
responsável pela ‘formação’ de várias Caixeiras
Bartira encerraram o ciclo de festejos em São
espalhou por todo o estado. A Família Menezes
do Divino aprendizes em São Paulo.
Paulo com o lançamento de seu segundo CD.
é guardiã de muitas manifestações da cultura
75
bens de raiz
Serviço: CD O Sonho não envelhece – Jairo Periafricania Quanto: R$15,00 nas lojas da Galeria 24 de Maio em São Paulo ou pelos sites www.jairoperiafricania.com.br jairoperiafricania.blogspot.com ou pelo e-mail: Jairo-periafricania@hotmail.com
E
Serviço:
Em meados de 2003, no sarau do
Empenhado e com afinco foi em busca do seu
Envelhece” e passou a adotar o nome Jairo Periafri-
Binho, Jairo Periafricania conheceu
objetivo. Reuniu-se com alguns amigos e os con-
cania. O álbum tem 12 faixas e foi lançado com
o poeta Sergio Vaz, idealizador do
vidou para fazer parte desse sonho: Claudinha,
o apoio da Cooperifa e da Ação Educativa, e teve
Sarau Cooperifa. Na ocasião foi con-
Mario Bibiano e Kennya, e assim criaram o
a direção musical do rapper Crônica Mendes,
vidado para conhecer o movimento
grupo Periafricania. Lançaram seu primeiro disco
do grupo A Família. O disco tem participações
que se construía. Ali, no Sarau, descobriu a arte
demo, de seis faixas, produzido por Erick 12 no
de vários artistas do gênero rap e também da
periférica e descobriu que é possível fazer, criar,
estúdio Reviravolta Máfia, em meados de 2005.
música popular: Pop Black, do grupo Inquérito,
realizar... Em busca de um sonho contido desde
O trabalho contou com as participações de Du
Nicole, Sérgio Vaz, poeta e fundador do sarau da
a infância, percebeu no RAP a possibilidade de
Gueto, Gaspar Záfrica Brasil e Guinão da Banda
Cooperifa, Thym Silva, Paulo Saraiva, Preto Will,
realizá-lo. Jairo costuma dizer que não transfor-
Preto Soul.
do grupo Versão Popular, Martinha, Dj Edmilson
ma ninguém em artista, simplesmente desperta
e Crônica Mendes. Agora Jairo está produzindo
no íntimo de cada um a relação entre
Sentindo a necessidade de ampliar seu repertório
seu primeiro videoclipe oficial e também o seu
a arte e a cultura.
e investir mais na sua carreira, Jairo concluiu
segundo disco.
seu primeiro disco solo intitulado “O Sonho não
O SONHO NÃO
ENVELHECE
O livro “Padrões” está a venda nas livrarias do país pelo preço de R$80,00
PADRÕES DE
DE ZAIDA
Fotos: Divulgação
A
fotógrafa Zaida Siqueira lançou
valores e recriar diversas formas, com diversos
sagrada”. “Ele pode ser útil aos estilistas e
em 2006 um livro sobre cozinha
materiais. Um cesto indígena da Amazônia
designers pois mostra através dos padrões,
brasileira, o “Cozinha do Brasil -
guardará o mesmo desenho da pintura corporal
a cosmologia do nosso país”, defende.
Alimentos e Ritos”, e após cinco
do povo que o fabrica. O desenho pintado
O livro Padrões, que tem o patrocínio da Cerâ-
anos lança “Padrões”, um livro com uma
numa peça de cerâmica de Maragojipinho (BA)
mica Atlas e da ABIT (Associação Brasileira da
infinidade de variações sobre os mais diferentes
pode se repetir em uma colcha tecida por artesão
Indústria Têxtil e de Confecção), foi editado em
suportes. No livro, a fotógrafa mostra através
mineiro. Ela acredita que o Brasil precisava de
um ano mas faz parte do trabalho fotográfico
de suas fotos que os padrões expressam valores
uma publicação que registrasse os padrões da
de toda a vida de Zaida Siqueira. “Foi um pro-
e crenças de diferentes grupos humanos, que
cultura brasileira. Padrões são desenhos - ponto,
cesso de desenvolvimento aleatório, as imagens
nascem de uma íntima relação do homem com
linha e forma - repetidos infinitamente e que
estavam em outras investigações, mas que
a natureza e da capacidade humana de retribuir
segundo a fotógrafa formam “uma geometria
percebi que formavam um conjunto”, explica.
77
bens de raiz FILME: O samba que mora em mim AUTOR: Georgia Guerra-Peixe documentário, 72 minutos, 2010 PRODUÇÃO: BossaNovaFilms CO-PRODUÇÃO: Filmes do Tejo II PRODUTORES: Denise Gomes CO-PRODUTORES: François d’Artemare e Maria João Mayer PRODUTORA EXECUTIVA: Paula Cosenza DIRETORA: Georgia Guerra-Peixe DIRETOR DE FOTOGRAFIA: Marcelo Rocha ROTEIRO: Ticha Godoy e Georgia Guerra-Peixe MONTAGEM: Mair Tavares, Nani Garcia e Jair Peres DESENHO DE SOM E SOM DIRETO: Leandro Lima TRILHA ORIGINAL: Dimi Kireeff MIXAGEM: Pedro & Branko MIXADOR: Branko Neskov PÓS PRODUÇÃO DE IMAGEM: Post Republic SUPERVISÃO CRIATIVA DE IMAGENS: Giuliano Saade ASSISTENTE DE DIREÇÃO E PESQUISA: Gisela Camara PESQUISA: Fernando Antonio Guerra-Peixe LOCUÇÃO: Georgia Guerra-Peixe COM: Fotos: Divulgação
Timbaca, Cosminho, Lili, Vó Luciola, Hevalcy, Mestre Taranta e DJ Glauber
O SAMBA QUE MORA EM MIM
O
Estamos do outra lado da história, sem personalidades e patrocinadores, só as pessoas e as suas emoções em telas de TV salpicando a Mangueira solene. “O samba que mora em mim” é um documentário singular de uma temática que endereça grandes possibilidades, o samba. No filme de Georgia o samba também sai do berço.
toque das mãos adquire o significado da bateria de
Como ela mesma diz:
escola de samba no filme “O samba que mora em mim”
“O samba que mora em mim é uma partitura visual. Um samba-enre-
Ela nos conta:
de Georgia Guerra-Peixe. O detalhe do toque
do-documental duma largueza as vezes melancólica, as vezes cômica
“Passei a infância ouvindo sambas-enredo em casa, todos os domin-
é expandido para todo o filme, onde nada escapa ao
e sempre ardente”.
gos. Hoje, meu pai é uma espécie de historiador do gênero no Rio de Janeiro. ... Tem paixão por isso. E trouxe esse som para dentro de
olhar da diretora. Cheio das sutilezas do samba que
mora em Georgia.
Embora seja um documentário ambientado no Morro de Mangueira,
casa de uma forma contundente”.
na cidade do Rio de Janeiro, no período do pré-carnaval, é um filme
Cantinhos do morro, gatos animais e gatos emaranhados de fios,
sem estereótipos e, portanto, instigante e desafiador. Outra Manguei-
Oriunda do mercado publicitário, Georgia imprime um acabamento
papelzinho sobre o corrimão, texturas, becos, pés, mãos, bocas, morro
ra, diferente daquela normalmente retratada. No dia do desfile na
e tratamento de imagens digno da poesia filmada. A produção é
e o Maracanã. Tudo adquire seu papel no filme conduzido quase como
Sapucaí, Georgia coloca suas câmeras no morro, ao invés da avenida.
da Bossa Nova Films em co-produção com a Filmes do Tejo II. Com
um soneto. A Mangueira da delicadeza, que só a alma poética da
Filma os mangueirenses assistindo, quase calados, a sua escola desfilar.
roteiro da própria diretora e Ticha Godoy. Conta com a direção de
diretora pode proporcionar.
fotografia de Marcelo Rocha.
79
Fotos: Divulgação
bens de raiz
Filme: Daquele instante em diante REALIZAÇÃO: Instituto Itaú Cultural e Movieart DIREÇÃO: Rogério Velloso PRODUÇÃO EXECUTIVA: Carol Dantas ROTEIRO DE EDIÇÃO: George Queiroz DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Cristianny Almeida ASSISTENTE DE DIREÇÃO E DECUPAGEM: Mariana Fagundes FOTOGRAFIA: Hélcio “Alemão” Nagamine EDIÇÃO DE SOM E MIXAGEM: Sérgio Fouad
OS LIMITES DE ITAMAR
U
Mais informações detalhadas sobre o filme e agenda no site oficial: daqueleinstanteemdiante.tumblr.com
com muito material a ser publicado. Inquieto, “Daquele instante em diante” passeia irreverentemente por uma abordagem multifocal e detalhista da vida do homem e artista Itamar Assumpção. As lentes de Velloso retratam de maneira investigativa os fatos e acontecimentos narrados. Um filme da era Google, Wikipédia e redes sociais, que ampara ricamente
m teste de limites intenso. É assim, brevemente, nas
Artista pautado na busca por alternativas à indústria fonográfica
o diálogo apresentado com farto material de fotos, manuscritos, vídeos e
palavras de seu diretor Rogério Velloso, que podemos
massificante, amparado em linguagem própria e leitura singular da
gravações. Num ritmo vivo, o documentário vai intercalando os depoimen-
definir a experiência de assistir ao filme “Daquele instante
canção brasileira. Guru de um momento criativo muito particular
tos com a música e os shows. Particularmente, é tocante o momento em
em diante”, sobre o compositor, cantor, instrumentista,
da nossa música. Referência de uma safra de artistas com identidades
que Itamar canta a capela a dor da doença que o acometia e o levou jovem
arranjador e produtor musical Itamar Assumpção.
próprias e inovadoras como Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque,
aos 54 anos, em 2003.
Testando os limites de um dos maiores nomes da cena independente
Grupo Rumo, Língua de Trapo, e outros. Como um movimento, do
e alternativa dos anos 80 e 90, o documentário é detalhista e nos traz
qual Itamar era expoente, aqueles artistas trouxeram para São Paulo
Rogério Velloso vem da videoarte, da produção de TV e do cinema pu-
a riqueza da vida e obra do artista, de maneira natural e intimista.
a vanguarda da MPB da época. Até hoje, vários de seus participantes
blicitário. “Daquele instante em diante” é um projeto iniciado em 2008.
continuam ativos, cantantes e opinantes na música atual e no docu-
Contou, desde o início, com a parceria do Núcleo Audiovisual do Instituto
mentário do Nego Dito.
Itaú Cultural, que já vinha conduzindo pesquisas sobre o Itamar. Além de
Com o filme impregnado de Itamar, as horas passam em deleite para o
contar com material inédito de um show realizado por ele, no espaço do
espectador. A banda de Itamar, o “Isca de Polícia”, já continha em seu nome de batismo a saga a ser narrada. Pura poesia urbana paulistana
No documentário, personagem e filme caminham juntos no rompi-
Instituto. Assim, o que era inicialmente um “extra de um DVD” virou um
na veia, que o artista tão bem soube retratar em seus sambas e canções.
mento das fronteiras artísticas. Um personagem, inquieto e irreverente,
longa metragem a altura do artista. Um filme para não esquecer.
81
música
SEU OSVALDO Por Cris Astolfi
Fotos Yves Barros
Chegando na Vila Guilherme
Q
uem abre o portão é o filho Tadeu, sorridente, confiante,
“São Paulo já era uma terra de oportunidades”. O irmão mais velho,
mostrando a casa, as fotos, documentos, circulares (ancestrais
pedreiro, morava na capital com uma tia, na Rangel Pestana. Quando conse-
dos flyers), LPs e tudo mais que possamos registrar. Ele dá im-
guiu arranjar uma casa própria no Carandiru, a família toda se mudou para lá.
portância à memória. Acredita que o caminho para a melhoria
Seguiram para a Vila Guilherme em 1950, onde Osvaldo vive até hoje.
da vida do artista e da arte tupiniquim passa pelo conheci-
mento da sua própria história... “Tem gente que não entende.
O que despertou esse interesse pelo rádio, pela música? Ele demora
Toca e não sabe o porquê, não sabe que tem uma história lá atrás. Tudo tem
a responder, como se resgatasse as imagens da memória naquele
um começo. Então você vai atrás do começo. Tem que ir atrás do começo.”
momento. Lá em Muzambinho, o pai era meeiro, cuidava de uma roça de milho, arroz e feijão; a mãe, lavadeira. Ele a acompanhava na entrega
Seu Osvaldo chega mais de mansinho, com a roupa alinhada, social, e alegre,
das roupas para as madames. E foi na casa de uma delas que ouviu rádio
solar, camisa amarela. Apresenta-se como o cavalheiro que é. Osvaldo Pereira.
pela primeira vez, surpreso pela “mágica daquelas vozes saindo de dentro
Magro, esguio, inteligente, analisa bem o interlocutor antes de falar com suavi-
da caixa misteriosa [...] A Hora do Brasil, a ópera do Guarani”. Rádio dele
dade, as mãos desenhando as ideias no ar. Sua vivacidade mente os 77 anos.
mesmo só foi ter mais tarde, em São Paulo, no Carandiru, presente do irmão mais velho. Quando o rádio dava defeito, era ele menino que se
Chegou aqui vindo de Minas, Muzambinho, com onze para doze anos.
dirigia à Rua das Noivas para providenciar o conserto. 83
Fotos: Yves Barros
música
Seu Osvaldo e a pick-up válvulada. Surge a Orquestra Invisível
Em 1954, esse inquieto resolveu fazer um
de comer. Osvaldo pôde aprimorar os seus
nal, de orquestra? Nunca. O acesso era impossí-
da Bahia e não se dava muito bem com os pais
curso de Rádio e TV propagandeado na Revista
conhecimentos técnicos. Também tinha acesso
Cruzeiro. Era um curso gringo por correspon-
livre aos discos logo que eram lançados e/ou
O contexto da loja do Shalom, a inovação
vel do ponto de vista financeiro. Só frequentou
adotivos, muitas vezes pernoitava na casa de
tempos depois, quando era um discotecário
dência, da National High School, dois anos de
importados. E mais: levava apenas os que lhe
Osvaldo. Ele também estudou eletrônica, mas no
técnica do transistor e da alta fidelidade, o
consagrado e ganhara ingressos como convidado
duração e quatro livros por mês. O pagamento
Instituto Edson, na Avenida Consolação. “Mas
interessavam, tendo o privilégio de ouvi-los antes
gosto musical e o autodidatismo de Osvaldo,
de honra. A difusão das informações musicais
o Francisco gostava mais de dançar do que de
era feito em dólar. Todo mês lá ia o Seu Osvaldo
de comprá-los. A relação com o patrão era ótima
foram todas essas condições, costurando
para o grande público acontecia pelo rádio.
tocar e acabou seguindo por outros caminhos.”
no Citybank da Praça Antônio Prado fazer a
e se tornou simbiótica quando Osvaldo ficou
percurso de vida e contexto sociocultural, que
Em um quartinho de dois metros por um, Osval-
transação. Nessa época, ele frequentava as
famoso e passou a ser formador de opinião,
possibilitaram o surgimento do primeiro DJ do
do apresenta, orgulhoso e com a generosidade
festas de aniversário e casamento dos amigos e familiares na Vila Guilherme. Ia para se divertir, dançar um pouco. E “sempre dava um jeito de ficar perto do toca-discos, pedia para tocar um pouquinho e acabava ficando. Antes de fazer baile na cidade, a experiência veio daí, das festinhas.” Electro Fluorescentes Arpaco Ltda.
As músicas mais tocadas nas festas do bairro
Brasil, senão o primeiro DJ do
“Eu podia ouvir e se era do agrado eu comprava. Eu tive um tempo muito favorável.”
mundo. DJ Paulão comenta: “De tudo o que eu já li, não vi nada antes da década de sessenta que fosse similar ao caso do Osvaldo. O jamaicano Kool Herc aparece
eram populares. Tinha muito
“Ele tira a casca do amplificador e aponta o emaranhado de válvulas, fios e ligações, todas feitas artesanalmente.”
chorinho de Jacob do Bandolim, Luiz Gonzaga e Jamelão. E claro, os que agradavam a todos: Elza Soares, Miltinho, as orquestras do Silvio Mazzuca, do Chiquinho e a Tabajara.
só no início dos anos sessenta. Haviam os bailes ligados a programas de rá-
dos bons professores, como funcionava (e ainda
As pessoas achavam o som tão real, que o nome
dio. De levar o som e fazer discotecagem não
funciona!) o equipamento da Orquestra Invisível:
Orquestra Invisível pegou e a fama do discote-
Foi então que recebeu o convite para montar
transformando as bolachas em sucessos no
temos registro nenhum.” Ao que Osvaldo res-
rádios e fazer aparelhos de alta fidelidade, tecno-
baile, as quais se tornavam uma febre de venda
ponde: “É verdade, no Rio tinha o Chacrinha,
“O toca-discos Thorens mandava o sinal para o
para trabalho não faltaram mais, a ponto dele
logia que estava chegando no Brasil, na Electro
semanas depois...
que fazia isso (baile a partir do programa) na
pré-amplificador, que ampliava o som até as três
ter sempre “três meses de agenda fechada com antecedência”.
Fluorescentes Arpaco Ltda. (Rua Guaianases,
cário correu as noites de São Paulo. Os convites
Mayrink Veiga”. De outros DJs, ele se lembra
potências. Das potências, o som era enviado para
209, esquina com Rua Vitória. Loja de rádios,
Paulo Sakae Tahira, o DJ Paulão, estudioso
apenas do Souza, da Zona Norte. “Cheguei a
as caixas acústicas.” Ele tira a casca do amplifi-
aparelhos portáteis, iluminação fluorescente,
da música brasileira, lembra da fila de DJs,
consertar equipamento dele.”
cador e aponta o emaranhado de válvulas, fios e
LPs e assistência técnica). A irmã fazia limpeza
já mais tarde (início dos 1970), que se
na loja e havia comentado com o dono, Sharom
formava em frente ao Museu do Disco,
Osvaldo montou, então, a própria apare-
— que se dizia libanês e falava cinco línguas —
todos esperando alguém comprar um lança-
-lhagem e começou a discotecar. Primeiro,
Devidamente aparelhada, a Orquestra Invisível
- que Osvaldo se apressa em traduzir como
sobre os conhecimentos técnicos do irmão,
mento para poder ouvir: “o disco só saía do
nas festinhas particulares, casamentos e
Let’s Dance nasceu da parceria entre Osvaldo
“uma espécie de rave” (com a naturalidade
que já consertava rádios nas casas das pessoas.
plástico depois de comprado . E disco
aniversários. Depois, nas festas maiores,
e Francisco Salles, que teve a ideia do nome.
de quem já foi descoberto por jornalistas), nas
era caro. Ouvi história de DJ que trocou
nos piqueniques e, finalmente, nos bailes.
Francisco era quase da família. Na época do
quais os convidados chegavam de ônibus ou
fusca por cinquenta LPs.”
Se ele já tinha frequentado algum baile tradicio-
Carandiru foi vizinho de Osvaldo. Tinha migrado
trem em lugares como Santos, Guarujá,
Daí para frente juntou a fome com a vontade
O baile mecânico
ligações, todas feitas artesanalmente. Na cidade de Itapeva, em um dos piqueniques
85
música
“Na minha época era chamado de samba solto [...] Pega a dama e gira, faz os floreados [...]” Remete aos tios, amigos e irmão, mais
bém gosto das coisas modernas. Eu e meus
velhos. “Eles pegaram isso, de não pode-
filhos ainda tocamos às vezes.” As últimas
rem entrar em determinados bailes [dos
apresentações foram na Virada Cultural
brancos]. No Salão 28, na Rua Francisco de
e na confraternização dos funcionários do SESC,
Abreu, no Paulistano da Glória, na Rua da
no SESC Pompéia, ambas em 2010. A volta
Glória, no Som de Cristal, da Rua Arrigo
dele às vitrolas aconteceu no lançamento do
Freitas, travessa da Consolação” Difícil
livro “Todo DJ já Sambou” (2003), da jornalista
mesmo na época do Osvaldo era ter dinhei-
Claudia Assef: “Foi uma sensação de muita
ro suficiente para entrar nos bailes da elite
alegria tocar para a Praça Benedito Calixto
branca. É, parece que a exclusão já tinha
lotada”, diz eufórico.
a mesma roupagem de hoje.
Fotos: Yves Barros
“E você gosta dos DJs de hoje? Acompanha?”,
DJ Paulão e Seu Osvaldo na caminhonete de trabalho.
Economia da cultura
pergunta o DJ Paulão ao Osvaldo. Ao que ele responde: “Vocês inovaram muita coisa bonita
Para montar um clube na época era preciso
que lá atrás era uma simplicidade”. E emenda
cerca de cinco, seis pessoas, as quais com-
com uma história curiosa. “Uma vez eu fiz um
punham a diretoria. O produtor assumia
estereofone e uma entrada para dois toca-dis-
também a função de tesoureiro, e era quem
cos. Eu cambiava os dois simultaneamente. O
costumava faturar com a festa.
patrão emprestou um toca-discos e comecei a
Cantareira, e duravam até doze horas seguidas
Soares e Jamelão, as Big Band, Ray Charles,
vários sentidos. A cultura do baile mecânico,
- surgiu o convite para ele fazer o primeiro
Benny Goodman (a abertura do Osvaldo),
da dança, a organização socioeconômica
A diretoria batizava o clube, arrumava o
mais isso! Era o momento de trocar de parceira.
baile, nas domingueiras (das 18h às 24h) do
entre outros.
que se formou, são elementos que foram
salão, contratava o Osvaldo e organizava a
Aquilo matava a mudança de cavalheiros. O
ressignificados e se misturaram a outros para
chapelaria e a portaria. Também se respon-
bom da festa era dançar com várias damas . Os
a constituição do samba rock.
sabilizava pela distribuição das circulares,
que tavam namorando continuavam de mãos
Clube 220, Edifício Martinelli. Foi um sucesso. Foi também em um baile que Osvaldo
emendar as músicas. O pessoal falou: não faça
Daniel Sebastião Gomes, tesoureiro (e depois
conheceu a esposa, no Salão Brasil, da Vila
que ocorria sempre no Viaduto do Chá e
dadas. Os outros trocavam. Não pegou de jeito
diretor) do Clube 220, foi um visionário e
Guilherme, ao som de um bolero. Casaram-se
A indumentária era um ponto importante no
na Rua Direita. Além disso, na Praça do
nenhum. Foi só aquela vez.”
influenciou muitos produtores. Percebeu o
em 1959. Ela tinha ciúmes dele? Tinha nada!
baile, o pessoal que frequentava era elegante,
Correio, logo que desce do prédio Martinelli
potencial do baile mecânico e convidou Osval-
“Meu pai teve sorte por esse lado, comenta Ta-
as damas se produziam muito, os homens
pra entrar na São João, tinha o bar Ponta
Surpreendentemente, na discotecagem contem-
do para tocar aos sábados (das 22 às 4h) na
deu, encontrou uma mulher que o entendia.”
tinham que usar a gravata, ou não entravam.
da Praia, ponto de encontro do pessoal que
porânea a mixagem é justamente a linguagem
Av. Rio Branco, 82. Deu o nome para o clube
Tiveram cinco filhos, dois deles se tornaram
Lembra rindo que “no Salão do Povo, que
fazia festa. Ali, alguns rapazes pegavam as
predominante. E estava lá no ovo, nas inovações
recém-fundado de Abassador. “Ele ganhou
DJs, Tadeu e Luiz Claudio.
ficava no primeiro andar, acontecia de alguém
circulares para “pulverizar” nos bairros.
do Primeiro DJ brazuca! “Bom DJ hoje é o que
muito dinheiro e incentivou muita gente a
da janela jogar uma gravata para o amigo
sabe colar as músicas”. Diz Paulão. “E o curioso
formar clube. O negócio dele era faturar.”
E o samba rock? “Na minha época era chama-
lá debaixo entrar. Tinha uns macetes.”
Osvaldo tinha um preço fixo mais o transpor-
também é que até hoje no baile do samba rock
Osvaldo tentou também formar um clube, o
do de samba solto. Pega a dama e gira, faz os
As bebidas mais pedidas eram a cuba livre
te. O ganho não era alto. Ele já possuía o seu
todo mundo dança com vários parceiros, foi
Luís XV, em 1961, juntamente com a esposa
floreados. O samba rock se consolidou com o
e o samba (coca-cola com pinga).
ganha-pão. O trabalho de discotecário era um
mantido o caráter comunitário do baile.”
Carolina, o cunhado e outras pessoas. “Mas
Jorge Ben, na época em que meu filho Tadeu
não deu certo. Quando dinheiro está envolvido
começou como DJ. Jackson do Pandeiro que
Quando eu pergunto sobre discriminação
era tão grande em ganhar dinheiro, mas em
E depois de 68, os bailes estouram nos anos 70,
é difícil,” diz evasivo. Os bailes tinham um
fez uma música americanizada (Chiclete com
racial, Osvaldo desliza com a sagacidade de
divertir o pessoal. Até hoje a minha alegria de
como foi isso? “Ah, a frequência era grande.
público de trezentas a quinhentas pessoas.
Banana), misturando o samba com o rock,
quem soube transitar entre os vários grupos
ver o pessoal dançando é muito forte.”
O pessoal dançava com muito amor, para se
Havia alguns nos bairros, especialmente na
a gente tocava, era o samba-rock. O LP Chá
e tirar proveito disso. Sua época foi “muito
Zona Norte, mas a maioria era no centro, pois
Dançante, na década de 50, do Valdir Cal-
feliz. Não tinha muita discriminação”. Nos
na época os bairros convergiam para o centro.
mon, simboliza o samba-rock da modernida-
bailes dele alguns brancos “vinham
Enquanto nos bairros despontavam músicas
de. Tinha também o Louis Prima, italiano, que
com um pouquinho de receio, tinha os cole-
O que você colocaria na sua vitrola hoje? “Eu
geração seguinte. Quem sabe o filho Tadeu não
mais populares, nos bailes do centro o sucesso
fazia muito sucesso”. O samba rock surge
gas [negros] que [os] traziam, apresentavam
mesclo. Dependendo do baile eu vou lá nos
nos ajuda a contá-la?
ficava por conta do Ray Conniff, Miltinho, Elza
como um desdobramento do samba solto em
as damas e depois ficavam à vontade.”
anos cinquenta, Miltinho, Ray Conniff. Tam-
hobby para ele. “A minha preocupação não
divertir. Mas ali eu já não tocava mais, comecei E hoje?
a trabalhar na Philco e só tocava de vez em quando. É, isso já é uma outra história, da
87
Fotos: Yves Barros
música
É DISCO QUE EU GOSTO! Por DJ Paulão
Fotos Yves Barros
O discotecário Osvaldo lembra-se bem de
Mocotó, em 1970; o groove de Eddie Harris em
Vídeo:
alguns discos que faziam o pessoal vibrar, no
It’s all right now do seu disco “That is why you’re
História dos bailes black de São Paulo
começo dessa história toda: o disco “Music”
overweight” de 76; e pra não dizer que esqueci
Conferir no Youtube
do Ray Conniff, que tinha o hit Besame mucho;
dos compactos, aqueles discos pequenos de
Ray Anthony e seu “Young Ideas” com a mú-
sete polegadas que serviam de teste pra futuras
Sites:
sica Moonglow; Elza Soares e seu disco de es-
produções, aqui vai um petardo, que foi hit em
Samba Rock na Veia:
tréia, “Se Acaso você Chegasse”, de 1960, que
1971, ano de seu lançamento, e de lá pra cá
www.sambarocknaveia.com.br
tinha a faixa título e Cartão de visita tocadas à
nunca saiu de qualquer lista das dez mais: Noriel
Dj Paulão:
exaustão; Jamelão e uma coletânea, “Jamelão e
Vilela e o seu “16 toneladas”, versão brasileira
www.djpaulao.com
seus grandes sucessos”, com as músicas Matriz
do som de Merle Travis.
ou filial, Solidão e Ela disse-me assim; o grande Miltinho e seu hit Palhaçada “que não podia
Entre a geração do seu Osvaldo e a minha existe
DJ Paulão, 37 anos, 19 deles dedicados
faltar”, segundo Osvaldo. E Billy Mays e Rico
mais uma, a que viu a explosão dos bailes nos
à musica, primeiro como radialista e logo
Mambo Orchestra com seu LP “Arthur Murray
anos 70 e 80, com shows até no Ginásio do
depois como DJ. Pesquisa sobre a historia da
Cha Cha Cha Mambos” com o hit Frenesi,
Palmeiras, festas com grandes convidados inter-
musica brasileira, em particular a sua discografia.
“Esse disco eu dei pra um dançarino da época,
nacionais e tudo o mais. Venho de uma geração
Colaborou com a exposição Tropicalia: A revolu-
Helio Bagunça, quando me aposentei”.
que viu uma cena de bailes mais restrita nos anos
tion in Brazilian Culture, realizada pelo Museum
90, e sua volta com força, sob a batuta do samba
of Contempo-rary Art of Chicago e pelo Bronx
Toco desde meados da década de 90, e destaco
rock, na virada do milênio. Ouça as músicas e
Museum of Art.Com uma coleção beirando
alguns sons que fizeram o pessoal rodar
verá que elas têm pouco em comum, apenas
os 7.500 títulos, recebeu em 2006 da Câmara
pelas minhas pistas: o primeiro LP do Clube
um estilo de dança que atravessou o tempo e o
Municipal de Campinas o Diploma de Mérito
do Balanço, “Swing & samba rock” (2001),
espaço: o samba rock.
Zumbi dos Palmares, pelo “destaque na defesa e na integração social dos membros
que marca toda uma geração de bandas que tocavam exclusivamente o samba-rock, e uma
Para saber mais
da comunidade, bem como na difusão da cultura afrobrasileira”.
batida que favorecia a dança; o furioso teclado de Jimmy Smith em I got my mojo working,
Livros:
nome tanto do LP como da música que emba-
Todo DJ já Sambou. Claudia Assef.
lava os casais; Jorge Ben Jor, na época apenas
São Paulo: Editora Conrad, 2003.
Ben, também um divisor de águas da história
Bailes. Org. Márcio Barbosa e Esmeralda
do samba-rock, e O telefone tocou novamente,
Ribeiro. Quilombhoje/Fundação Cultural
do seu seminal LP “Força bruta”, já com o Trio
Palmares - MINC, 2006.
DJ Paulão na discoteca de discos raros.
89
Foto: acervo Associação Raiz
viagens
OURO PRETO,
300 ANOS
OU O CASO DA CIDADE ONDE A FAVELA DESCEU O MORRO 91
Foto: acervo Associação Raiz
viagens
A centenária Praça da Inconfidência convivive hoje com o pesado trânsito de carros e ônibus. Por Augusto Franco
E
ssa é a história de uma cidade muito
caminhões que abastecem os supermercados e
especulação imobiliária comparáveis aos do
– agora o minério de ferro, mas ainda ouro,
famílias ricas e comércios, sobraram para quem
antiga, pelo menos para os padrões
levam para longe o lixo de toda essa gente.
primeiro capítulo dessa história.
magnésio e outros metais. Como as mineradoras
chegou depois os vales no entorno da cidade,
se estabeleceram por lá, os trabalhadores das
longe das vistas de moradores e turistas.
encravada nas Minas Gerais. E que
Mas mantém quase intacto o casario de uma
Porque a Universidade Federal de Ouro Preto
lavras precisam de casa, comida, banco, escola, hospital, transporte.
das cidades no Brasil. Uma cidade ao contrário da maioria das cidades
cidade fundada sobre as montanhas três sé-
(UFOP), graças a uma série de incentivos do
do Brasil, não começou a ser com uma popu-
culos antes, e ruas de calçamentos feitos, no
Governo Federal, vai aumentar suas vagas de
No ano passado, depois de uma briga que se
lação de 70 mil habitantes, o tráfego de uma
máximo, para o trânsito de carruagens. E que
5 mil, em 2009, para 12 mil até 2012. E porque
E como os morros já estavam ocupados desde
Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan),
população de 70 mil habitantes, com carros e
passa por um período de expansão urbana e
Minas Gerais nunca exportou tanto minério
muito antes pelas igrejas, irmandades, casas de
a ocupação de cinco bairros populares
arrastou por uma década entre prefeitura e o
93
Foto: acervo Associação Raiz
viagens
Restauração das ruas históricas de Ouro Preto para melhoria do trânsito.
foi flexibilizada. O maior deles, o Bairro Bauxita,
A solução, aponta o prefeito Ângelo Oswaldo,
O próximo passo do prefeito é conseguir verba
linha de trem que transporta o minério de Minas
pelos estudantes da República Aquárius, que
mais próximo ao campus da Ufop, já está
é uma alternativa ao crescimento, uma forma
para construir uma linha de bonde morro acima,
para os portos do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
aos 43 anos de funcionamento é uma das mais
tomado de puxadinhos, sobrados e quartos para
de manter conservado o patrimônio da área
um funicular. O projeto do plano inclinado prevê
Para disfarçar a intervenção, a encosta vai receber
antigas entre uma centena de repúblicas federais
aluguel. Agora, os donos dos imóveis podem
histórica. “Ouro Preto é cidade viva, que procura
uma cabine sobre trilhos, que sairia da Praça da
mais árvores.
da cidade. O casarão da Aquárius pertence ao
elevar suas construções para até quatro andares.
compatibilizar a planta urbana do século XVIII
Estação Ferroviária, no vale, para o Campus do
E, mesmo assim, os amontoados de gente conti-
com a vitalidade do século XXI. Não é uma cida-
Morro do Cruzeiro. Os carros ficarão em uma
Se conseguir o dinheiro para a obra, a Prefeitura
nuarão escondidos, avaliam as autoridades.
de cenográfica, uma Disneylândia colonial.”
ampla área de estacionamento bem ao lado da
pode reduzir problemas como os enfrentados
Governo Federal, e os alunos pagam uma taxa simbólica de administração para usufruírem. 95
Foto: acervo Associação Raiz
viagens
Fotos: acervo Associação Raiz.
“OS NOVOS BAIRROS SÃO MENOS OURO PRETO QUE A OURO PRETO HISTÓRICA. SEM PAISAGEM, SEM CASARIO, SEM IGREJAS REVESTIDAS EM OURO. ”
Os casarios antigos da antiga Vila Rica, Ouro Preto vive novo processo de urbanização.
Acontece que a parede frontal da Aquarius está
fica um ponto de ônibus. “É uma rachadura
lanchonetes, salões de beleza. Os novos bairros,
Entre seu rebanho, o religioso cobra um plane-
com uma rachadura transversal, possivelmente
estrutural”, assegura.
no entanto, são menos Ouro Preto que a Ouro
jamento urbano mais profundo, pensado para
Preto histórica. Sem paisagem, sem casario, sem
os próximos 30 ou 40 anos, e não para três ou
igrejas revestidas em ouro.
quatro anos. “É preciso conter este crescimento
graças ao trânsito de carros e caminhões na rua em frente. As paredes são de adobe e a casa é
Motivos como estes levam cada vez mais alunos
tombada pelo patrimônio histórico.
a buscarem os bairros novos, onde moradias
desordenado. A cidade carece de um plano
estudantis e casas simples, alugadas para
“Tirar as Igrejas e as celebrações religiosas de
diretor mais consistente” Para isso, o pároco
“A reforma é cara, e demanda um licenciamento
funcionários do comércio e mineração, têm piso
Ouro Preto é como tirar a alma do corpo; a
cobra que as mineradoras cumpram a lei, mas
acompanhado pelo Iphan. Os estudantes não
de cerâmica e paredes de tijolos furados, muitas
cidade perderia o seu encanto”, prega o padre
que ofereçam para a cidade mais que isso.
têm dinheiro, e não sabemos ao certo o que
sem reboco. Onde as reformas podem ser feitas
Marcelo Moreira Santiago, Pároco da Paróquia
Cobra políticas de compensação criativas,
fazer”, diz o estudante de engenharia civil
sem perícia e autorizações especiais e as igrejas
Nossa Senhora do Pilar e Coordenador de Pasto-
voltadas para meio ambiente e moradia.
Mario Nasser, o Borat, presidente da Aquárius,
evangélicas ganham espaço, instalando-se
ral da Arquidiocese de Mariana. “Muito da alma
Antes que a favela resolva subir o morro.
que ocupa o quarto da frente. Sob sua janela
em imóveis que poderiam abrigar padarias,
mineira e nacional vem de Ouro Preto”.
97
comidas
TAPIOCA, PATRIMÔNIO DE UMA VIDA, PATRIMÔNIO DE UMA CIDADE Por Felipe José Dantas Cabral de Melo Fotos Luiz Santos
N
o Brasil temos povos de culturas diversas, de geografias tão
porque esta nada havia feito de errado. O cacique obedeceu prontamente
diferentes em clima e fontes de alimentação animal e vegetal,
ao mestre, e a criança, que era muito linda e inteligente, começou a andar
além de processos históricos e culturais longínquos no tempo
e a falar no primeiro dia de vida, recebendo o nome de Mani . Acontece que
e no espaço que determinaram nossos hábitos alimentares.
o grande deus Tupã reservara a Mani um outro destino: sem ter tido qualquer doença, a menina morreria de repente, antes de completar um ano de idade.
Aqui estavam milenarmente instalados os nossos índios, com suas artes de
Seu pai, o cacique da tribo, enterrou-a na maloca e, conforme o costume
plantar, colher, caçar, pescar e preparar seus alimentos. A mandioca fazia
indígena, regou o seu túmulo diariamente. Um dia, ele percebeu que, do chão,
parte de sua alimentação.
brotou uma planta desconhecida. Nela apareceram flores, frutos e, a seguir, raízes. Ao serem descascadas, estas últimas eram brancas como Mani. Diante
De acordo com Semira Adler Vaisencher, pesquisadora da Fundação
do ocorrido, os índios agradeceram a Tupã e, desde então, não deixaram de
Joaquim Nabuco, há uma lenda do Norte do Brasil com o seguinte relato
plantar e de se alimentar daquela raiz, dando-lhe o nome de Mani-oca, que
”[...] um cacique teve uma filha branca como o leite, diferente dos membros
significa “casa de Mani”. Através da elaboração dos beijus e do cauim - uma
de sua tribo. Considerando-se desonrado, o cacique resolveu matá-la.
bebida popular entre eles - a mandioca se transformou em um dos elemen-
Em seus sonhos, porém, apareceu Sumé, o grande mestre dos índios, dizen-
tos importantes da alimentação dos índios. Trazida por eles, a mandioca
do-lhe que, se não quisesse ser castigado, nada de mal fizesse à menina,
incorporou-se à culinária brasileira.”
(1)
99
Fotos: Luiz Santos
comidas
Processo de preparação da tapioca pelas mãos de Tia Lú. Os portugueses, aqui chegando, com seus conhe-
mico que faz a festa dos turistas e de todos os
os clientes não pagavam e demoravam,
- E como era o fogareiro? “Usava fogareiro
- Tem algum benefício para a saúde, a tapioca?
cimentos técnicos sobre o processo de transfor-
que ali vão. Lá, encontramos como a mais antiga
às vezes, muito. Eu tinha que pagar minhas
de barro com o carvão dentro, o pegador de
“A goma não faz mal nenhum, é até bom
mação da uva em vinho e da azeitona em azeite,
tapioqueira do Alto da Sé, “Tia Lú”, de 84 anos.
despesas. Aí fui vender tapioca, porque
carvão e o abanador de palha.”
para disenteria.”
transportaram essas experiências para a criação
Ela faz tapiocas há meio século, e passou o
recebia o dinheiro na hora.”
das Casas de Farinha. Nessas Casas, a mandioca
conhecimento para as suas três filhas, que tam-
- A senhora ainda usa o fogareiro de barro?
- E como é vender hoje tapioca na Sé? “Hoje
passa por um extenso e delicado processo até
bém exercem a profissão de tapioqueiras. Tia Lú
- Sua mãe sabia cozinhar? “Ela era uma bolei-
“Hoje eu uso um fogareiro de ferro de 4 bocas,
está melhor para vender tapioca, tem muita
a sua transformação nos seus vários derivados,
divide, hoje, uma barraca de tapioca com a sua
ra de mão cheia, fazia bolo de mandioca, pé
à carvão. Pois na hora do movimento rende
gente prá comprar, mas em compensação tem
inclusive a goma utilizada para fazer a tapioca.
filha Loura – Barraca da Tia Lú e da Loura.
de moleque, cuscuz de mandioca, manuê. Ela
mais. Mas tem gente que usa ainda
muita tapioqueira, a concorrência é demais.”
fazia um fuxico, feito de goma de mandioca.
o de barro.”
A tapioca tornou-se um alimento fortemente
Tia Lú - Lúcia Rosa do Nascimento - nasceu em
Peneira a goma, mistura com o coco e leva
incorporado à culinária nordestina, serviu para
06 de dezembro de 1926 no Sítio Histórico de
ao forno para assar, fica uma delícia.”
cida pela Prefeitura como Patrimônio Imaterial
Brasília, prá São Paulo e fui até para o Rio
Cultura da Cidade de Olinda? “Foi um reconhe-
- Todo mundo aprendeu a fazer tapioca na sua
Grande do Sul (eventos do governo do Estado
cimento ao trabalho da gente, eu acho é bom.”
família? “Todas as minhas irmãs aprenderam
de Pernambuco).Meu marido fazia também uns
a cozinhar e fazer tapioca.”
fogareiros de lata grande de leite. Lá ninguém
parcelas da gente da terra como verdadeira fonte de sobrevivência, saindo das casas e ganhando as ruas das cidades. Em Olinda, como em outras localidades o comércio da tapioca, uma atividade notadamente realizada pelas mulheres, encontrou nessa cidade histórica e centro das mais variadas manifestações da cultura brasileira, um espaço único para seu desenvolvimento, sendo reconhecida como verdadeiro patrimônio da cidade.
“A mandioca se transformou em um dos elementos importantes da alimentação dos índios.”
- E qual a senhora prefere? “Sequinha, sem nada.”
conhecia a tapioca e eu voltava sem nenhum - Mas como foi que a senhora começou a vender?
fogareiro que o povo comprava tudo.”
- E como fazia a goma nessa Casa de Farinha?
“Minha irmã vendia tapioca no Bonfim, ela
“Pegava a mandioca descascava e botava
passou prá mim o material de fazer tapioca,
dentro de umas tinas com água. Depois de três
e aí eu comecei a vender tapioca.”
O Decreto Federal nº 3.551, do ano de 2000,
- Em que ano foi isso? (calculou pela idade
criou o Registro do Patrimônio Cultural Ima-
das filhas a localização no tempo)
terial Brasileiro, distinguindo, entre esses bens
Olinda/PE. Nas suas palavras, “nasci e fui criada
intangíveis os saberes tradicionais, ou seja, os
em Olinda, na rua da Palha. Nesta mesma rua.
conhecimentos e modos de fazer enraizados
Aqui tudo era casa de mocambo. A minha mãe foi
- A senhora casou-se? “Casei-me tarde, tive cin-
no cotidiano das comunidades. Dentro desse
abandonada pelo meu pai quando eu tinha três
co filhos, tive um homem e quatro mulheres,
espírito, em 2006, a Prefeitura e o Conselho
anos de idade, e ela ficou cuidando de oito filhos.”
uma faleceu e as outras trabalham como
de Preservação do Sítio Histórico de Olinda,
- O que a senhora acha da tapioca ser reconhe- E a senhora já viajou? “Fui quatro vezes prá
“1965.”
“Peneirava a goma, botava um pouquinho de sal, deixava a frigideira bem quente. ”
e o que assentava era goma; e daí tirava a massa de beiju, e para farinha. Hoje é tudo mal feito, fazem a goma muito depressa, por isso é que dá trabalho de achar a goma boa.” - O que é a tapioca na sua vida? “Devo tudo a ela.” - E essa casa que a senhora mora?
tapioqueiras, aprenderam tudo comigo. - Qual o segredo para uma boa tapioca?
“Foi as minhas tapiocas que eu fiz, e construí
“É saber escolher uma boa goma, a frigideira
junto ao terreno do mocambo da minha mãe.”
considerando a tapioca como um modo de
Com um sorriso aberto, e bastante receptiva, Tia
fazer tradicional, concederam-lhe o título
Lú nos recebe em sua casa, próxima ao Alto da Sé,
de Patrimônio Imaterial e Cultural da Cidade.
para contar a sua história de vida, que passa pelas
- Como era a tapioca que a senhora vendia no
Em Olinda, é no Alto da Sé onde se
costuras e chega a tapioca por tradição gastronô-
início? “Era só de coco que é a da tradição.
concentram as tapioqueiras organizadas
mica familiar mas é hoje o sustento da sua casa.
Peneirava a goma, botava um pouquinho de
- E se fizer no fogão a gás, a senhora. já
crição da entrevista, a forma original das
sal, deixava a frigideira bem quente. Usava
experimentou? “Acho igual à que é feita no
respostas de Tia Lú.
numa associação fundada há 5 anos.
E hoje trabalham no Alto da Sé.”
dias passava na prensa. Lavava bem a massa
bem limpinha e quente.” *O autor Felipe Melo manteve na trans-
Todos os dias, dezenas de barracas são armadas,
- Como chegou na tapioca? “*Com o passar do
frigideira de alumínio e virava dos dois lados
fogareiro à carvão. Acho mais gostosa quan-
promovendo um verdadeiro festival gastronô-
tempo, me desgostei com a costura, porque
e depois botava o coco.”
do é no fogareiro com o carvão.”
101
INTERAÇÕES ESTÉTICAS “A alegria de ser Ponto de Cultura, a alegria de misturar as estéticas, a alegria de expressar o desejo, manifestar a potência em meio ao afeto. O envolvimento que antes de tudo tem uma escolha baseada no entendimento de que ser vem primeiro e é muito mais necessário do que ter.” O programa Interações Estéticas já viabiliza-
rede sócio-cultural, o Circuito Interações Esté-
R$ 4,5 milhões. Apesar de ter gerado espe-
ram um total de 216 projetos e mobilizaram
ticas, que levou para Minas Gerais, São Paulo,
táculos musicais e cênicos, documentários
quase 200 Pontos de Cultura das cinco regiões
Pernambuco, entre outros estados, o resultado
e exposições fotográficas e um blog (www.
brasileiras. Para a consultora do programa, a
do trabalho de alguns contemplados para o
funarte.gov.br/interacoesesteticas), em 2011
pianista Chris Lafayette, a troca entre artistas e
público. Mas essa não é premissa do programa,
não houve lançamento de novo edital. Mas
os integrantes dos Pontos de Cultura pode gerar
“o tempo paradoxal que rege os encontros dos
para Chris Lafayette toda essa produção é
encontros muito especiais. “A alegria de ser
conteúdos internos do espectador com o artista
apenas uma das facetas de toda essa troca, esse
Ponto de Cultura, a alegria de misturar as esté-
em cena, que gera um espaço tempo que deixa
intercâmbio. Ela acredita que: “fazer artístico e
ticas, a alegria de expressar o desejo, manifestar
marcas para o dia, a semana, o ano seguinte,
modos de consumo no capitalismo – surge aqui
a potência em meio ao afeto. O envolvimento
a vida, ainda não pode ser aprisionado. Esse
uma tensão que permeia toda essa discussão e
que antes de tudo tem uma escolha baseada
encontro que não depende em sua primazia
aponta para o impulso inicial dos dois processos:
no entendimento de que ser vem primeiro e é
da intelecção para vir a ocorrer, mas antes de
o desejo que move o fazer artístico e o desejo
muito mais necessário do que ter.”, avalia.
outros tantos saberes corporais, ainda não foi
de consumo no capitalismo”. Consumo, fazer
capturado pelos modos de produção. Ainda
artístico, capitalismo ou que outro nome se dê,
O programa Interações Estéticas, apoiado pela
não, não no tempo presente, não querendo ser
não paga a alegria do contribuinte que assiste
Funarte e pela Secretaria da Cidadania Cultural,
tão pessimista quanto Adorno (1970)”, explica
a um espetáculo ou evento cultural gerado por
foi criado em 2008 e apoia ações de diferentes
a pianista.
editais ou programas governamentais.
segmentos artísticos, viabilizando um intercâmbio entre artistas e Pontos de Cultura. Desse
O último edital aconteceu em 2010 e contem-
diálogo em 2010, surgiu uma nova e importante
plou 127 projetos, com investimentos de
103
CULTURA
VIVA
PARA VER, REVER E REFLETIR “Os conteúdos apresentados não têm a intenção de esgotar os temas propostos, mas estimular o pensamento crítico de maneira dinâmica e poética em diálogo com as formas expressivas da contemporaneidade.”
“Sob a égide do processo colaborativo, artistas, produtores e instituições definiram, juntos, os caminhos conceituais e estéticos que deram forma aos vídeos.”
Num momento em que a cultura e as artes
com informações complementares sobre os
caminhos conceituais e estéticos que deram
suscitam tantas perguntas e discussões, a
temas tratados em cada um dos vídeos.
forma aos vídeos.
o objetivo de difundir conceitos e promover
Os conteúdos apresentados não têm a intenção
A Coleção Viva Cultura Viva integra o projeto
reflexões sobre questões relacionadas ao campo
de esgotar os temas propostos, mas estimular
Prêmio Cultura Viva – Formação, uma iniciativa
da cultura em suas diferentes dimensões: o pro-
o pensamento crítico de maneira dinâmica e
do Ministério da Cultura – MinC, com patrocínio
cesso criativo, as artes, a participação cidadã, a
poética em diálogo com as formas expressivas
da Petrobras e coordenação técnica do Centro
sustentabilidade, as redes sociais, a cultura digi-
da contemporaneidade. Os depoimentos e
de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e
tal, a educação e outras. Composta por onze ví-
reflexões sobre os temas são pontuados por
Ação Comunitária – Cenpec.
deos (cinco minutos cada um), com entrevistas e
imagens ou palavras com função de abstração,
imagens de Pontos de Cultura; seis debates com
demonstração ou mesmo fuga para além da
Para ter acesso ao conteúdo:
especialistas (vinte minutos cada um), realizados
composição ali estabelecida, resultado de um
www.vivaculturaviva.org.br
entre abril e junho de 2009 e pelo website, que
diálogo aberto entre seus realizadores. Sob
além dos vídeos e debates apresenta conteúdos
a égide do processo colaborativo, artistas,
sobre o tema Gestão Cultural e um Saiba Mais
produtores e instituições definiram, juntos, os
Coleção Viva Cultura Viva foi desenvolvida com
105
CINEMA DE ANIMAÇÃO NO 21º FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUS (PE)
“O Ponto de Cultura Cinema de Animação é um espaço dedicado à cultura pernambucana, focando o desenho animado através de técnicas artesanais de produção.”
A primeira imagem do Nordeste é a de muito
Cinema de Animação é um espaço dedicado
sol e praia mas quem conhece essa região
à cultura pernambucana, focando o desenho
do país sabe que um dos mais tradicionais
animado através de técnicas artesanais de
festivais de artes acontece em pleno inverno
produção.
pernambucano: o Festival de Inverno de Garanhuns, terra do ex presidenta da República,
Para o coordenador geral do projeto Cinema
Luiz Inácio Lula da Silva, fica na serra da
de Animação, foi uma grande alegria realizar
Borborema, a 200km de distância de Recife, em
as oficinas na cidade de Garanhuns. “O Festival
Pernambuco.
de Inverno de Garanhuns (uma das etapas do circuito dos Festivais Nação Cultural), acontece
Foi na vigésima primeira edição do evento que
no agreste de Pernambuco, é de uma grandeza
aconteceram as oficinas oferecidas pelo Ponto
que impressiona. É um dos mais importantes
de Cultura Cinema de Animação, o CINE
festivais de cultura do país e neste ano foi
ANIMA Itinerante, coordenado por Luiz
montado o Casarão dos Pontos de Cultura de
Gonzaga de Oliveira e Silva, o Lula Gonzaga.
Pernambuco, no espaço aconteceram debates,
Na estrada desde 1981, em 2004 tornou-se
mostras artísticas e oficinas selecionadas a
Ponto de Cultura, hoje é um dos mais atuantes
partir de edital, uma das oficinas, foi a nossa
com uma agenda de oficinas e exibições das
de Cinema de Animação, o CINE ANIMA
animações em todo o país. O Ponto de Cultura
Itinerante”, avalia. 107
MUSEUS E EDITAIS O Ministério da Cultura e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC) lançaram no mês
Veja abaixo os detalhes de cada edital:
de agosto o Programa de Fomento aos Museus Ibram 2011. Resultado de duas emendas
três anos. Os projetos atendidos terão valores entre R$ 100.000,00 e R$ 150.000,00.
parlamentares, aprovadas pela Comissão do Fundo Nacional de Cultura, totalizam
Edital para Criação e Fortalecimento de Sistemas
R$ 16.860.203,00. Esse valor será destinado a prêmios e projetos relacionados à construção
de Museus
Edital Modernização de Museus
e modernização de museus, ao incentivo a artistas contemporâneos, à divulgação do
Voltado para entidades públicas que atuam no
Selecionará projetos para conveniamento
tema museu em diversas mídias e ao apoio a iniciativas e experiências de memória social
âmbito museal, o Edital para a Criação e Fortale-
voltados à cultura, à memória e ao patrimônio,
desenvolvidas por comunidades e grupos populares.
cimento de Sistemas de Museus visa ao apoio à
para modernização dos espaços museais. Tem
Mais informações no site do Ibram:
estruturação, à modernização e ao fortalecimen-
por objetivo ampliar, estimular e viabilizar a
www.museus.gov.br
to do Sistema Brasileiro de Museus. São
continuidade e a sustentabilidade das atividades
R$ 2.064.203,00 para aporte de projetos.
das instituições selecionadas, a fim de fomentar
Podem participar entidades públicas, nos
o processo sociocultural nacional. São
âmbitos municipal, estadual e distrital.
R$ 3.800.000,00 para premiação de projetos e despesas administrativas, com valores de
Edital Mais Museus
R$ 100.000,00 a R$ 300.000,00.
Este edital, no valor de R$ 3.050.000,00, visa ao conveniamento de projetos para a implantação
Edital Modernização de Museus – Microprojetos
de museus em municípios com menos de
O objetivo é selecionar 50 iniciativas voltadas
50 mil habitantes que ainda não tenham
à cultura, à memória e ao patrimônio, a fim
instituição museológica estruturada. Podem
de fomentar o processo sociocultural nacional.
participar pessoas jurídicas de direito público
Foi destinado R$ 1.255.000,00 para premiação
e privado, sem fins lucrativos, com finalidade
de projetos e despesas administrativas. Serão
cultural. No caso de pessoas jurídicas de direito
entregues 10 prêmios de R$ 20 mil; 10 prêmios
privado, deverão estar instituídas há pelo menos
30 mil; e 10 prêmios de 50 mil.
109
“Prêmios e projetos relacionados à construção e modernização de museus, ao incentivo a artistas contemporâneos, à divulgação do tema museu em diversas mídias e ao apoio a iniciativas e experiências de memória social desenvolvidas por comunidades e grupos populares.”
Prêmio Ibram de Roteiros Audiovisuais 2011
Produção de Mídias Digitais
Prêmio Ibram de Arte Contemporânea
possuam em sua estrutura unidades museais,
Premiará 18 roteiros inéditos para produção
20 prêmios de R$ 5 mil
É a primeira distinção de arte contemporânea
e instituições museais de direito privado sem
audiovisual, com 60% de ambientação em
organizada pelo Ibram. São R$ 895.000,00
fins lucrativos. Os valores dos prêmios para
museus brasileiros e 20 produções de mídias
Prêmio Pontos de Memória 2011
em prêmios. Busca ampliar, estimular, viabilizar
1º, 2º e 3º colocados são, respectivamente,
digitais com argumentação museológica.
Busca reconhecer iniciativas de práticas museais
práticas artísticas contemporâneas e fomentar o
R$ 15.000,00, R$ 10.000,00 e R$ 8.000,00.
e de processos dedicados à memória social,
processo artístico nacional. Dez artistas e artistas
Incluindo as despesas administrativas, o prêmio
que se identifiquem com a perspectiva da
revelação serão contemplados. O objetivo é
totaliza R$ 65.000,00.
museologia social, da diversidade sociocultural
selecionar projetos para produção de obra
e da sustentabilidade. É voltado para grupos
inédita.
Serão entregues as seguintes premiações, totalizando R$ 1.245.000,00:
Prêmio Mario Pedrosa Voltado para trabalhos jornalísticos veiculados
Roteiro de Longa Metragem
étnicos-culturais, tais como indígenas,
Três prêmios de R$ 100 mil
afrodescedentes, ciganos, ribeirinhos,
Prêmio Darcy Ribeiro 2011
na mídia impressa nacional, que tiveram
quilombolas, rurais, urbanos, de periferia,
O Prêmio Darcy Ribeiro está na 4ª edição e é
como tema “Mulheres, Museus e Memórias”.
Roteiro de Curta Metragem
cultura litorânea, comunidades brasileiras no
voltado para práticas de educação não-formal
São prêmios de R$ 10.000,00, R$ 7.000,00
Cinco prêmios de R$ 50 mil
exterior, entre outros.
que visem a convergência entre cultura, arte
e R$ 5.000,00 para 1º, 2º e 3º lugares,
e educação, com o objetivo de contribuir para
respectivamente. Incluindo as despesas administrativas, o prêmio totaliza R$ 55.000,00.
Roteiro de Documentário
São 45 prêmios de R$ 30.000,00 para pontos
ampliar o acesso da sociedade às manifestações
Cinco prêmios de R$ 50 mil
de memória no Brasil e três prêmios de R$
culturais e ao patrimônio cultural brasileiro.
50.000,00 para pontos de memória no exterior,
Podem participar instituições museais públicas
Roteiro de Cine-TV
totalizando R$ 1.565.000,00, já incluídas as
não vinculadas à estrutura do Ministério da
Cinco prêmios de R$ 50 mil
despesas administrativas.
Cultura, órgãos ou entidades públicas que
111
A FESTA DA PIMZADA! O PIM comemorou no mês de setembro onze
oito municípios, através das ações do PIRPIM,
A partir de uma metodologia transversal o even-
anos. A Sociedade Musical Nossa Senhora da
com a proposta de desenvolvimento de ações
to propõe ações colaborativas para atingir seu
Conceição, Instituição onde o Programa Inte-
colaborativas que promovam a valorização,
público alvo e garantir o incentivo à qualificação
gração pela Música, PIM, é desenvolvido tem 30
mobilização e capacitação dos agentes culturais
e crescimento da cadeia produtiva da música, se
anos e seu como principal objetivo,
locais e contribuam para a consolidação de
traduzindo em um espaço fértil direcionado para
contribuir para o desenvolvimento social,
ações de fomento de políticas públicas culturais.
o desenvolvimento econômico e sociocultural
cultural e econômico das Regiões Centro Sul
O Programa Cultura Viva possibilitou a expansão
sustentável do Estado do Rio de Janeiro, com
Fluminense e Médio Paraíba, através de ativida-
das atividades, a formação de uma Banda e da
foco nas Regiões Sul Fluminense e Médio Paraí-
des geridas e realizadas com a presença direta
Orquestra Sinfônica Jovem Regional, além de
ba, que promove capacitação para empresários,
das comunidades locais, com foco na juventude,
ampliar o atendimento a todos os interessa-
jovens profissionais, estudantes, gestores de
incentivando a apropriação do conhecimento e
dos nas atividades desenvolvidas. Muito mais
cultura, produtores e instituições com ou sem
dos meios de produção por novos atores sociais,
importante que o aporte financeiro é o reco-
fins lucrativos.
no exercício amplo da cidadania, favorecendo a
nhecimento com Ponto e Pontão de Cultura, a
consolidação de ações de fomento de políticas
oportunidade de participar de uma rede cultural
Serão oferecidos 20 oficinas de música; palestras
públicas culturais, elaboradas com a participação
viva e atuante.
e debates sobre empreendedorismo cultural
da sociedade civil em diálogo com os setores públicos e privados.
com quatro profissionais diferentes; palesAgora os coordenadores e a PIMzada se prepa-
tras e oficinas de educação musical com dois
ram para organizar dois eventos importantes :
profissionais, mostra artística com dois grupos/
Desde o primeiro dia todas as dificuldades, conquistas, decisões, foram compartilhadas entre
artistas diferentes, além de artistas locais, grupos Através do Tuxáua, prêmio que receberam
formados por alunos e professores do evento
a PIMzada e a comunidade. Para celebrar esses
do Ministério da Cultura, mapear todas as
e Orquestra Sinfônica e Banda Jovem Regional
onze anos de caminhada e tantas conquistas
linguagens culturais da região sul fluminense,
do PIM, anfitrião do evento. A oficina inédita
o mês de setembro foi recheado de atividades.
para fortalecer essa rede, para que um possa
desta edição será “Cultura Digital e Música” na
Foram oferecidos os Painéis Funarte de Regência
contribuir com o crescimento do outro e a partir
qual serão explorados os temas de operação de
Coral, cursos de técnica de regência, dinâmica
dai, mostrar pro Brasil inteiro, pro mundo, toda
áudio, gravação e webrádio.
de coro, técnica vocal e percepção musical, além
beleza cultural que existe nessa região.
da apresentação da Orquestra Sinfônica e Banda Jovem Regional do PIM.
Todas as atividades serão gratuitas e o evento III Fórum de Música, Gestão, Educação e
subsidiará a alimentação e hospedagem/alo-
Cidadania do PIM, de 12 a 16 de outubro, em
jamento de todos os participantes através de
Atualmente o PIM está presente em dois municí-
Vassouras. A terceira edição terá a duração de
parcerias com os hotéis, restaurantes, supermer-
pios do sul fluminense através de parcerias com
05 dias contemplando a programação de ofici-
cados e comunidade local.
o Ministério da Cultura, a Secretaria de Cultura
nas diversas de instrumentos musicais, palestras
do Estado do Rio de Janeiro e as Prefeituras de
e grupos de trabalho sobre gestão, empreen-
Vassouras e Mendes onde multiplica sua tecno-
dedorismo cultural e educação musical, além
Mais informações sobre o Programa Integração
logia social de ensino musical com profissionais
da mostra artística que ocupará os dois dias da
pela Música pelo site oficial:
e jovens monitores em formação e, em mais
semana do período acima citado.
www.pim-org.com
113
RESULTADOS DO PRÊMIO
PROCULTURA “Os editais Procultura foram homologados na primeira reunião da Comissão do Fundo Nacional da Cultura (CFNC) da atual gestão do MinC.” O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) e da Fundação
O QUE É DE RAIZ TAMBÉM ESTÁ NA REDE
O tambor de crioula, o maracatu, o carnaval de rua, o cordel. A Arte e a Cultura de do nosso Brasil vem que cada canto, de cada gueto, vem do sertão, vem do artesão mineiro, da escritora baiana, do cordel pernambucano, da pintora catarinense, vem da Raiz do nosso país.
Nacional de Artes (Funarte), divulgou a lista dos habilitados e inabilitados em cinco editais Procultura,
E da Raiz, vai pra todos os lugares. Onde existir alguém
lançados em outubro de 2010. São eles: Prêmio Palcos Musicais Permanentes; Prêmio de Apoio a
conectado vai haver um artista brasileiro em destaque,
Festivais e Mostras de Música; Prêmio de Estímulo às Artes Visuais; Prêmio de Apoio à Banda de Música; e Prêmio de Estímulo ao Circo, à Dança e ao Teatro.
seja nas páginas impressas da Raiz, no Portal, no Tablet ou nas redes sociais.
Os editais Procultura foram homologados na primeira reunião da Comissão do Fundo Nacional
A #NovaRevistaRaiz vai trazer muito mais informação,
da Cultura (CFNC) da atual gestão do MinC, de acordo com os compromissos firmados pela
dicas e acesso a uma cultura genuinamente brasileira.
ministra da Cultura, Ana de Hollanda, o que garantirá o pagamento até o final do ano. Com recursos do FNC, constituído de verbas destinadas exclusivamente à execução de programas, projetos
wwww.revistaraiz.com.br
ou ações culturais, os editais contemplam, entre outras áreas, circo, dança, teatro, artes visuais, música, livro e leitura e diversidade cultural, com um total de R$ 57 milhões.
Lista de Habilitados e Fichas de Recursos no site da Ministério da Cultura: http://www.cultura.gov.br/site/2011/09/16/editais-premio-procultura/
www.facebook.com/revistaraiz
@revistaraiz