Pensando o Brasil
Um universo de oportunidades
Educação e cultura são fundamentais para que nossos jovens construam sua cidadania e futuro Jorge Bragança*
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A arte importa porque a vida não basta.
s artes têm um espaço especial na história da humanidade. As rudimentares e criativas pinturas nas cavernas préhistóricas já mostram isso. Percebeuse que o choque de um objeto contra outro produzia um efeito sonoro interessante, e daí evoluir para a harmonia, o ritmo, a altura e a melodia foi uma questão de tempo. De maneira geral, a música desempenhou e desempenha papel essencial na vida de todos nós. Ela simboliza o elo – às vezes perdido – entre o físico e o espiritual, e cumpre ainda o papel de grande educadora. Sem a educação, sob qualquer forma, e a cultura, de maneira especial, sobretudo neste ambiente tão carente e precário que vivenciamos hoje, uma criança e um jovem não têm, definitivamente, chance alguma na sua trajetória, absolutamente excluídos que estão de acesso às oportunidades. Não é por acaso que a decadência das artes – e, de modo especial, da música – precede e anuncia a decadência de uma civilização. Esta edição da nossa revista enfoca a beleza de projetos sociais no campo da música voltados, principalmente, à juventude. De passagem, registramos que é facilmente constatável que, na atualidade, as oportunidades para os jovens encontram-se nos setores da tecnologia, da arte e do esporte. Nem mais, nem menos. Daí a beleza e a importância de projetos como o Sol Maior, em Londrina, sob a batuta
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Rotary Brasil JUNHO de 2021
Ferreira Gullar
(sem trocadilhos) e o comando firme do maestro Roney Marczak, e o apoio do Rotary Club de Montes ClarosOeste ao Projeto Social Jabs. Exemplo na Serra Fluminense Em Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, a Fundação Educacional Serra dos Órgãos (Feso), mantenedora do Centro Universitário Serra dos Órgãos, também desenvolve a missão de apoiar a cultura por meio do Centro Cultural Feso Pro Arte. Um exemplo ímpar de instituição-cidadã que vem consolidando uma orquestra de jovens e oferecendo excepcionais oportunidades a uma nova geração de músicos da cidade e da região. Cumpre enfrentar corajosamente um desafio que persiste em nossos dias: uma mentalidade terceiro-mundista que precisa ser superada, e que defende o que na verdade é uma subcultura para poder manter o subdesenvolvimento, erguendo o espantalho do que diz combater. Como disse Décio Pignatary: “O universo não é uma variedade ou modalidade brasileira. O Brasil, sim, é uma modalidade do universo. Somos primeiro humanos; depois, brasileiros”. E aqui está um caso surpreendente: certa ocasião, foi apresentada ao professor Hans Helm, diretor do Arquivo Nacional de Munique, na Alemanha, a mais alta autoridade europeia em música clássica, uma peça musical sem título e sem identificação do
autor. Indagou-se ao professor se, pelas características da peça, ele poderia identificar de onde a mesma provinha, seu estilo e demais características. Após inúmeras audições, ele afirmou tratar-se de “música de primeira qualidade, escrita por um grande mestre”, e indicou como região de origem mais provável o sudeste alemão, o noroeste da Áustria ou talvez o norte-nordeste da Itália, por onde circularam Bach, Gluck, Vivaldi e Mozart. O professor Hans Helm errou por quase 10 mil quilômetros. A peça foi escrita em 1782 em pleno sertão brasileiro pelo talentoso Lobo de Mesquita, filho de um português e de uma escravizada. Encontramos esse caso no livro Música impopular, do maestro Júlio Medaglia, que confirma o que disse Silvio Romero em sua História da literatura brasileira, a saber “que houve em Minas Gerais música notabilíssima e muito apreciada”.