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pensando o Brasil Um universo de oportunidades: educação e cultura são fundamentais para que nossos jovens construam sua cidadania e futuro

Um UniveRso de opoRtUnidades

educação e cultura são fundamentais para que nossos jovens construam sua cidadania e futuro

Jorge Bragança*

A arte importa porque a vida não basta.

as artes têm um espaço es- (sem trocadilhos) e o comando firme pecial na história da huma- do maestro Roney Marczak, e o apoio nidade. As rudimentares e do Rotary Club de Montes Claroscriativas pinturas nas cavernas pré- Oeste ao Projeto Social Jabs. históricas já mostram isso. Percebeuse que o choque de um objeto contra ExEmplo na SErra outro produzia um efeito sonoro FluminEnSE interessante, e daí evoluir para a har- Em Teresópolis, na Região Serrana monia, o ritmo, a altura e a melodia do Rio de Janeiro, a Fundação Edufoi uma questão de tempo. cacional Serra dos Órgãos (Feso),

De maneira geral, a música desem- mantenedora do Centro Universitário penhou e desempenha papel essencial Serra dos Órgãos, também desenvolve na vida de todos nós. Ela simboliza o a missão de apoiar a cultura por meio autor. Indagou-se ao professor se, elo – às vezes perdido – entre o físico do Centro Cultural Feso Pro Arte. Um pelas características da peça, ele e o espiritual, e cumpre ainda o papel exemplo ímpar de instituição-cidadã poderia identificar de onde a mesma de grande educadora. Sem a educa- que vem consolidando uma orquestra provinha, seu estilo e demais caracção, sob qualquer forma, e a cultura, de jovens e oferecendo excepcionais terísticas. Após inúmeras audições, de maneira especial, sobretudo neste oportunidades a uma nova geração de ele afirmou tratar-se de “música de ambiente tão carente e precário que músicos da cidade e da região. primeira qualidade, escrita por um vivenciamos hoje, uma criança e um Cumpre enfrentar corajosamente grande mestre”, e indicou como jovem não têm, definitivamente, chan- um desafio que persiste em nossos dias: região de origem mais provável o ce alguma na sua trajetória, absoluta- uma mentalidade terceiro-mundista sudeste alemão, o noroeste da Áusmente excluídos que estão de acesso que precisa ser superada, e que defende tria ou talvez o norte-nordeste da às oportunidades. Não é por acaso que o que na verdade é uma subcultura para Itália, por onde circularam Bach, a decadência das artes – e, de modo poder manter o subdesenvolvimento, Gluck, Vivaldi e Mozart. especial, da música – precede e anuncia erguendo o espantalho do que diz O professor Hans Helm errou a decadência de uma civilização. combater. Como disse Décio Pignata- por quase 10 mil quilômetros. A

Esta edição da nossa revista enfoca ry: “O universo não é uma variedade ou peça foi escrita em 1782 em pleno a beleza de projetos sociais no campo modalidade brasileira. O Brasil, sim, é sertão brasileiro pelo talentoso da música voltados, principalmente, à uma modalidade do universo. Somos Lobo de Mesquita, filho de um juventude. De passagem, registramos primeiro humanos; depois, brasileiros”. português e de uma escravizada. que é facilmente constatável que, na E aqui está um caso surpreendente: Encontramos esse caso no livro atualidade, as oportunidades para certa ocasião, foi apresentada ao pro- Música impopular, do maestro Júlio os jovens encontram-se nos setores fessor Hans Helm, diretor do Arquivo Medaglia, que confirma o que disse da tecnologia, da arte e do esporte. Nacional de Munique, na Alemanha, Silvio Romero em sua História da Nem mais, nem menos. Daí a beleza a mais alta autoridade europeia em literatura brasileira, a saber “que e a importância de projetos como o música clássica, uma peça musical houve em Minas Gerais música Sol Maior, em Londrina, sob a batuta sem título e sem identificação do notabilíssima e muito apreciada”.

Ferreira Gullar

Jovens músicos da Orquestra Feso Pro Arte, mantida em Teresópolis pelo Centro Cultural da Fundação educacional Serra dos Órgãos

InvestImento na socIedade

Projetos como os abordados nesta edição representam um forte incentivo aos talentos que precisamos salvar e impulsionar. Que as empresas e o Rotary empenhem esforços nessa iniciativa, assumindo que as artes em geral e a música em particular, como também o esporte, representam uma importante ferramenta de transformação e desenvolvimento social.

Não se trata de apoiar a realização de sonhos e carreiras individuais, por consistentes e grandiosos que sejam. É um investimento na elevação de toda uma sociedade, com todas as consequências nos demais planos da atividade humana. Não foi à toa que Carlos Drummond de Andrade disse que “não se pode afirmar que a vida de Mozart foi curta se ela dura até hoje”. E temos diante dos olhos a advertência – que esperamos seja profecia – de Dostoiévski, de que “só a beleza salvará o mundo”.

Concluo com a reflexão dolorosa (mas, nem por isso, menos verdadeira) de Gladstone Chaves de Melo, a qual precisamos considerar se realmente quisermos fazer do Brasil o país que ele merece e pode ser: “Deus fez Bach ou Mozart grandes músicos para que eles, compondo obras imortais, convidassem os homens do seu tempo e do futuro a elevar-se acima do cotidiano banal, da disputa mesquinha do lugar na praça, da cansada luta pelo pão-nosso-de-cada-dia; a lembrar-se da sua vocação transcendente. E não só mas também para que esses gênios oferecessem um compensatório contraponto ao desolador espetáculo da degradação humana, tantas vezes conscientemente buscada”.

*O autor é presidente da revista Rotary Brasil, governador 1995-96 do distrito 4571, associado ao Rotary Club do Rio de Janeiro, RJ, e presidente do Conselho Cultural do Centro Cultural Feso Pro Arte.

As artes em geral e a música em particular, como também o esporte, representam uma importante ferramenta de transformação e desenvolvimento social

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