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A cadeira inexistente SINAIS DOS TEMPOS, UM VULCÃO DE NOME IMPRONUNCIÁVEL e uma cadeira sem pernas marcaram a agenda da Semana do Design de Milão, que neste número ocupa as nossas páginas centrais. Em Abril, o vulcão islandês não conseguiu parar o mundo, no qual a Europa é apenas uma migalha, mas parou o mundo do design, deixando retidos em Milão todos quantos se haviam deslocado à cidade italiana para participar na 49ª edição do Salone del Mobile. Já a cadeira Chairless, do arquitecto chileno Alejandro Aravena (que perfilamos nesta edição) deixou meio mundo pasmado. Inspirada na tradição dos índios ayoreo, que utilizam um cinto colocado à volta do corpo, para os suportar quando se sentam no chão, Chairless é uma cadeira “muito engraçada”, que como a casa de Vinicius, não tinha pernas, não tinha nada. Produzida por um gigante da indústria do mobiliário, a anti-cadeira de Aravena, é vendida online por 20 euros, e foi uma saudável pedrada no charco. Para além de ser um emblema fortíssimo da nossa realidade glocal (e uma espécie de Papalagui do design), é a imagem perfeita do que é preciso fazer, e com urgência: reduzir. Que significa, sobretudo, repensar, questionar, criar não a partir do zero mas a partir do que já existe (seja um conceito, um material, um objecto). A ideia de redução foi o motivo recorrente desta edição do Salone: as marcas apresentaram-se em menor número, lançaram menos produtos ou relançaram êxitos do passado em modo remix, e aprenderam a fazer mais com menos. Enquanto alguns editores de luxo apostaram em lançar colecções a preços mais acessíveis, outros intervenientes agitaram a bandeira da reutilização. Foi o caso da droog design, que desafiou designers conceituados a aproveitarem objectos de massas, adquiridos em leilões no Ebay, para criarem, a partir deles, novos objectos, reunidos na exposição (e venda) Saved By Droog. São novas linhas que se abrem e que podem muito bem anunciar uma mudança de paradigma no campo do design, onde nos movemos, cada vez mais, para terrenos intangíveis, sensoriais, feitos de experiências ou de vivências. Que é precisamente o que fazem, de maneiras muito diferentes, os dois
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designers que entrevistamos neste número: o francês Mathieu Lehanneur, perito em casar o design
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e a ciência, e o catalão Martí Guixé, um dos pais do food design e que procura novas matérias (digitais?) para dar azo ao seu talento.
MADALENA GALAMBA mgalamba@blue.com.pt
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SUMÁRIO
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9 BRAND NEW DESIGN As últimas novidades das primeiras marcas.
22 P E R F I L Luís Buchinho, Alejandro Aravena e Fabio Novembre traçados a régua e esquadro.
28 E N T R E V I S T A : M A T H I E U L E H A N N E U R O laboratório do dernier-cri do design francês.
40 DESIGN GURU: MARTÍ GUIXÉ É um ex-ex designer e explica-nos porquê.
50 E S P E C I A L M I L Ã O 2 0 1 0 O Salone aperta o cinto debaixo das cinzas de um vulcão.
66 FOCO: RAPHAEL BORDALLO PINHEIRO Escrevemos uma carta ao mestre, do presente para o passado.
76 P R O J E C T O D E S I G N : E L L I O T T B U R F O R D IS SPAM O design ilustrado de Elliott Burford.
80 PROJECTO DESIGN: ART IN STORE Júlio Dolbeth e Rui Vitorino Santos numa performance nas montras florentinas da Sisley.
80 PROJECTO DESIGN: REVOLUTION 99-09 A EXD inaugura parceria com o IADE numa exposição sobre design português.
82 PROJECTO DESIGN: WASTE.NOT Os três “erres” segundo a Danese Milano.
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15 B R A N D N E W A R Q U I T E C T U R A Espaços privados e públicos que brilham.
92 PROJECTO ARQUITECTURA: CITÉ RADIEUSE
IDEIAS
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106 B L O G G E R : T H E S E L B Y O voyeurismo é hip em theselby.com
108 C U L T O : M Ú S I C A À segunda é de vez com os Grizzly Bear.
Os irmãos Bouroullec sentem-se em casa com Le Corbusier.
114 S N E A K P R E V I E W 100 H O T E L A R E I A S D O S E I X O
Levantamos o véu e descobrimos o design mais fresco.
Sustentabilidade e bom gosto em Santa Cruz.
110 E X P O S I Ç Õ E S A arte que vem.
111 L I V R O S Para folhear o design.
112 M O R A D A S
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Procure e encontre.
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ARQUITECTURA & INTERIORES
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BD-FICHA TÉCNICA 2010
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A FORMA SEGUE A EMOÇÃO
BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237 DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORA Madalena Galamba, mgalamba@blue.com.pt DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, pantunes@blue.com.pt | COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) DIRECTOR COMERCIAL Paulo Ferreira, pferreira@blue.com.pt | DEPARTAMENTO DE MARKETING & PUBLICIDADE Maria Reis, mreis@blue.com.pt; Fax publicidade: 217 203 349 PRÉ-IMPRESSÃO Nuno Barbosa, nbarbosa@blue.com.pt | DISTRIBUIÇÃO Logista | IMPRESSÃO União Europeia DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A. | Tiragem: 20.000 exemplares | Julho de 2010 { INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS }
O seu comentário é fundamental para melhorarmos a blue Design a cada edição. Assim, criámos este e-mail para que nos possa apontar todos os defeitos que for encontrando na sua revista. Muito obrigado! qualidade@blue.com.pt
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DESTINATION: PORTUGAL NO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA IORQUE
É com certeza uma casa... NO ÂMBITO DO PROJECTO DESTINATION: Design, desenvolvido nas lojas do MoMa, que traz a si trabalhos de novos designers do mundo, e com o apoio da TemaHome, da Fundação de Serralves, do Turismo de Portugal, do Aicep Portugal Global e do Ministério da Cultura, chegou a vez de Portugal dar à mostra alguns dos seus talentos. Apelidada de Destination: Portugal é uma colecção exclusiva para ser comercializada pelo museu. Vários artistas nacionais, dezenas de peças, na sua maioria para a casa, o charme e graça de materiais tradicionalmente portugueses, como a cortiça e a cerâmica, e o efeito útil que se quer. Reminiscências do nosso artesanato, sim, mas em versão contemporânea e de inspiração certeira, que apetece ter. A colecção está disponível por tempo limitado e pode ser adquirida também nos MoMa de Tóquio e da Coreia, e online, através dos sites www.momastore.jp e www.momaonlinestore.co.kr Espreite e encante-se em www.momastore.org
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CORNELL BOXES, DA TECTA
Small is Beautiful AS CAIXINHAS DE JOSEPH CORNELL, o artista e escultor americano, fizeram sucesso pela sua graciosidade e magia. Guardavam variadíssimos objectos, tesouros e segredos, inspirados na sua enorme paixão por raridades e niquices sentimentais, que recolhia nos bric-à-brac da sua época. Podemos agora ter em casa o
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aroma dessa magia, através das Cornell Boxes, lançadas este ano pela empresa alemã Tecta, em forma de estantes. São três exemplares de madeira lacada e ferro, desenhadas em 1988 pela dupla inglesa Alison & Peter Smithson, que se inspirou, obviamente, em Cornell. O artista americano terá dito que as suas caixas nunca estão acabadas, por isso, aqui temos uma continuação desse universo misterioso de belas caixinhas, onde o conteúdo pode ser o mais variado, mas sempre a dimensões reduzidas. E porque a vida está repleta de pequeninos objectos que adoramos guardar e contemplar, eis que a ideia lhes junta a doçura, quase infantil, que merecem. www.tecta.de 10
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NORMANN COPENHAGEN BIKE, DE ANNE LEHMANN PARA A NORMANN COPENHAGEN
Pedalar em beleza A SIMPLICIDADE AGRADA, num mundo tão cheio de extras tecnológicos. E afinal o que é uma bicicleta? Duas rodas, um quadro,
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pedais, volante, travão... e ei-la, irresistivelmente bonita. A Normann Copenhagen espelha a alma nesta sua Bike, desenhada por Anne Lehmann, que imaginou um velocípede clássico ideal para o homem urbano desta sua Dinamarca do século XXI. Entre o cinza antracite da estrutura, reluzem faíscas verdes - no celim de couro, no guiador, na corrente! Leve e com uma só velocidade, molda-se à cidade, à viagem rápida, ao percurso tranquilo. E é claro que uma Normann Copenhagen Bike pode estar à altura de muitos portugueses. De falta de diversidade no relevo não nos queixamos. A marca vai fabricar meia centena de bicicletas, vendê-las a partir de Outubro, directamente, e em algumas lojas seleccionadas do mundo. A aquisição é fácil e se o stock esgotar, há a esperança de que a Normann volte à fábrica. www.normann-copenhagen.com/bike 12
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PLAIN AIR, DE PATRICK NORGUET PARA A TLV E PHILIPS
Puro artificial O AR LIMPO É VITAL À VIDA, mas em parte alguma estamos imunes à presença de substâncias tóxicas. É pois óptima notícia a chegada ao mercado do pequeno Plain Air, um purificador do ar desenvolvido pela TLV, fabricante de material hospitalar e equipamento médico, em parceira com a Philips e a Ahlstrom, especialista em fibras compostas para uso industrial. Originalmente concebido para espaços profissionais de saúde, agora está vocacionado ao público em geral, graças ao designer de mobiliário Patrick Norguet, que revelou o seu talento, criando uma peça que se adapta às nossas casas e escritórios, sem criar atritos visuais. O Plain Air purifica o ar, através de tecnologia que permite a eliminação de CO2, dioxinas e outros gases nocivos permanentes na atmosfera, a desinfecção eficiente de possíveis bactérias, fungos e vírus, e resolve maus odores químicos e biológicos do espaço onde actua. À venda por 1500 euros, foi testado pelo Instituto Pasteur e em hospitais universitários de Lyon. A próxima novidade será uma versão de pé que nos
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persiga. Não é natural, mas é ar puro, e isso todos merecemos respirar. www.patricknorguet.com
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COLECÇÃO FLAT, DE MARIO RUIZ PARA A GANDIA BLASCO
Bronzeada VENCEDORA DE UM RED DOT AWARD, a nova colecção Flat, desenhada por Mario Ruiz, é a mais urbana das
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linhas de exterior da Gandía Blasco. Com perfil de alumínio soldado termolacado e tábuas de polietileno, Flat prende o olhar pela sua simplicidade, mas também pela novidade da cor, o bronze, que junta os seus reflexos ao clássico branco da Gandía Blasco. Outra das novidades é o revestimento das almofadas e colchões, tecidos de exterior em telas jacquard disponível em seis modelos diferentes. A modularidade de algumas peças (como os sofás e os pufes) permite inúmeras combinações e é mais um sinal da contemporaneidade de Flat, uma colecção muito ampla, que inclui espreguiçadeiras, mesas de refeições, mesas de apoio, cadeira, cadeirão baixo e bancos de várias alturas. www.gandiablasco.com 14
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CANDEEIRO STRABI, DE PIO & TITO TOSO PARA ARTEMIDE
Luzes na noite DESDE 1996 A CONSTRUIR PROJECTOS DE DESIGN, engenharia e arquitectura em sociedade, contando com um curriculum recheado de execuções dentro e fora de Itália, participações várias em exposições e concursos, e uma mão cheia de prémios, os irmãos venezianos Pio e Tito Toso, arrecadaram um Good Design Award, em 2009, e o seu nome está associado a dezena e meia de reputadas marcas italianas. Em 2010, conceberam para a Artemide o Strabi, este simpático candeeiro de exterior em forma de X, que tem a particularidade de emitir dois feixes de luz para direcções diferentes. Um “dois em um”, que garante a iluminação à largura e a alturas diferentes. Jogo de efeito prático e bem democrático, numa estrutura de alumínio pintado, e design simples, como se quer num jardim ou mesmo em terraços urbanos. www.studiotoso.com
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GALERIE BSL, PARIS, PROJECTO DE NOÉ DUCHAUFOUR-LAWRANCE
Tríptico de Luxo UMA NOVA GALERIA em Paris inaugura um tríptico de luxo. A ideia, de Béatrice Saint-Laurent, é explorar o campo das peças exclusivas e em edição limitada em três esferas diferentes, mas comunicantes: o design, a joalharia de autor e a criação de moda. O objectivo é “renovar os códigos do género”, afirmação patente no projecto de arquitectura entregue a Noé Duchaufour-Lawrance, onde o previsível white cube é substituído por uma escultura em espiral de Corian. Esta estrutura, uma espécie de passerelle é o primeiro objecto que ocupa a galeria, atravessando-a e criando uma perspectiva arrojada. Mas conserva intacta a neutralidade de uma “página em branco” onde tudo pode ser escrito. A ideia da BSL é reunir uma série de objectos raros, preciosos, e colocá-los em diálogo. De Ron Arad a Joe Colombo, de Ettore Sottsass a Nacho Carbonell, a aposta, à partida, está ganha.
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DEPILADORA FRESH EXTREME BIKINI, DA ROWENTA
Brains & Beauty A BELEZA NÃO É TUDO, por isso a Rowenta acrescenta-lhe inteligência. Isso fica bem claro na nova depiladora Fresh Extreme Bikini, que alia uma estética harmoniosa e compacta à frescura da inovação tecnológica do sistema Fresh Extreme. Especialmente concebida para as zonas sensíveis (com acessórios específicos para as axilas e linha do bikini), a depiladora possui um duplo sistema anti-dor, que funciona através do frio e ao mesmo tempo proporciona uma massagem relaxante. Com duas velocidades, 24 pinças planas que arrancam o pêlo pela raiz, cabeça oscilante de grande amplitude e luz de precisão, é o girl’s gadget por excelência.
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CAPA MOLESKINE, PARA O AMAZON KINDLE
Kindleskine OURO SOBRE AZUL, ou preto no branco, é assim a nova capa da Moleskine para o e-book reader da Amazon, o Kindle. Um híbrido analógico-digital, reúne o melhor de dois mundos. De um lado, o clássico:
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o caderno com folhas branco-marfim onde podemos tomar notas “à antiga”. Do outro, o livro do futuro, com teclas e ecrã táctil, personificado no leitor de e-books da Amazon. Por fora, é igual a todos os cadernos Moleskine: cantos arredondados, uma banda elástica para fechar, e a lendária capa negra. A ideia partiu da comunidade cibernética: os auto-intitulados “hackers dos cadernos Moleskine” que procuram maneiras de entrelaçar o papel com a tinta electrónica, concebendo novos artefactos e acessórios customizados que casam os dois mundos. www.moleskine.com 18
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LAMPALUMINA, DE RONAN & ERWAN BOUROULLEC PARA A BITOSSI CERAMICHE
Imaculado ESTE CANDEEIRO desenhado pelos irmãos Bouroullec para a italiana Bitossi Ceramiche é um exemplo de como a exploração de novas tecnologias e materiais é cada vez mais determinante no design. É feito num material improvável, pelo menos no contexto da esfera doméstica: um tipo de cerâmica high-tech, altamente resistente ao calor, e por isso muito utilizada em electrónica e areonáutica. Ao toque, parece veludo. À vista, é difícil de bater a sua pureza e exactidão. É claro que sem o talento dos Bouroullec tanta tecnologia seria em vão. Mas assim, agradece-se.
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TOKYO BABY CAFÉ, DE NENDO
Brinca, pula, ri à vontade SOFÁS QUE PARECEM INSUFLÁVEIS, cadeiras e mesas baixinhas, ou mesas grandes decoradas com bonecos por baixo do tampo, corredores largos para a circulação fácil de carrinhos de bebé, brinquedos a condizer com a decoração, livros ilustrados, poltronas à escala da pequenada, interruptores e puxadores de portas inacessíveis aos mais afoitos, janelas grandes e pequenas, salas mais recatadas e espaços destinados a mudas de fraldas, fazem esquecer o lugar estanque que é este Tokyo Baby Café. Uma ideia nipónica, engendrada pelo atelier de arquitectura nendo, com representação em Milão. O objectivo foi projectar num espaço enorme, um interior para ser vivido a duas escalas - para miúdos e graúdos, já se vê, para pais e filhos, já se percebeu. Sim, um café para estar à vontade com as crianças, onde se divertem sem interferir com o sossego de ninguém, nessa cidade amante da vanguarda, que é a capital do Japão.
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APA LONDON, PARA STELLA MCCARTNEY EM MILÃO
Sustentabilidade na moda A FAMOSA ESTILISTA STELLA MCCARTNEY marcou o ano com mais uma loja, agora em Milão. Activista militante da filosofia “vegan” e das “boas práticas” que trarão a mudança ao mundo, Stella propaga o seu estilo sem reservas, e a nova loja ergue a bandeira da sustentabilidade, nos dois pisos que ocupa. O projecto é do atelier londrino APA, que já concebeu várias lojas da estilista no mundo, e estreita relações entre a moda, a arte e o design. Num antigo Palazzo Milanês da Via Santa Spirito, há um cheirinho a galeria, com peças suspensas ou tangentes às paredes,e uma ambiência interior serena, fresca e alegre, talhada para deixar respirar o brilho das elegantes toilletes de Stella. O chão de madeira, da autoria de Yael Mer e Shay Alkalay, foi colorido “taco a taco”, surtindo um efeito original e felicíssimo. O recurso a materiais naturais impera. Madeirae pedra, objectos de bronze, candeeiros de cerâmica e caixas de feltro tecido à mão, são alguns pormenores que espelham o espírito aberto dos envolvidos, num apelo à vida sustentável.Em Milão, Stella McCartney obteve o certificado LEED,
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concedido a edifícios cujo projecto arquitectónico inclui a máxima eficiência energética e design amigo do ambiente. www.apalondon.co.uk
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Luís Buchinho
CARREIRA ILUSTRADA A Galeria Dama Aflita expôs, de 24 de Abril a 29 de Maio, alguns desenhos, croquis e ilustrações de Luís Buchinho. Um outro olhar sobre o processo criativo de um dos mais sonantes nomes da moda Made in Portugal, uma outra forma de comemorar 20 anos de uma carreira incontornável. T E X T O : N U N O M I G U E L D I A S
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LUíS BUCHINHO É QUEM É. E qualquer resumo, ainda que prolixo, da sua carreira, seria repercutir algo que deveria ser do conhecimento dos portugueses orgulhosos de si. A Galeria Dama Aflita é um dos espaços mais interessantes da Invicta. Uniram-se e vasculharam 20 anos de carreira escolhendo, em conjunto, alguns desenhos, croquis e ilustrações que estavam “perdidos no baú”, ou “escondidos lá para casa”. Não será bem este o caso. Mas é design de moda a sério, ainda antes de assumir forma na passerelle. Essa é a fase terminal, quando a maior parte do público toma conhecimento da obra do criador. Há, porém, uma outra magia quando tudo não passa de meia dúzia de traços. Estes poderão, ou não, tomar forma no futuro mas, enquanto isso, têm já vida própria. Muito própria. Um outro prisma sobre o processo criativo do português que está na moda do mundo, disponível para venda ao público naquele espaço portuense de 28 de Abril a 29 de Maio passados. Quando tentámos falar com o criador, este estava a poucas horas de partir para Buenos Aires. O regresso seria muito depois do fecho da nossa edição. E a entrevista, que seria idealmente presencial, foi uma conversa telefónica informal que confirmou, por uma lado, o balanço positivo tanto dos vinte anos de carreira como da exposição que os celebrava e, por outro, que por mais tempo que se esteja em Buenos Aires, sabe sempre a pouco. Porquê a inauguração na Pedras e Pêssegos e, só depois, a Galeria Dama Aflita? A Dama Aflita era pequena para uma inauguração
E são só essas as mudanças [nos desenhos e não nas criações
onde esperávamos à volta de 250 convidados. Foi o triângulo possível.
de moda] que estavam patentes na exposição?
Identifico-me bastante com a filosofia da Pedras e Pêssegos e esta cedeu
Não. Nota-se perfeitamente que mudei com as tendências. Não tinha essa
o seu espaço para a inauguração de uma exposição que estaria presente
ideia. Julgava que tinha uma linha e, na altura da escolha — que foi feita
na Dama Aflita, um lugar que é de uns amigos e que tem uma identidade
por mim e pela própria Dama Aflita —, olhando para desenhos
muito próxima da minha, em termos ideológicos.
de que já nem me lembrava e colocando-os por ordem cronológica, conclui que essa tal linha não existia.
Sendo Setubalense, sente que o Porto é cada vez mais a sua cidade?
Agora, que é um habitué na Semana da Moda de Paris,
Sou um saudoso do Sul. Adoro-o e, quando posso... Mas já são 24 anos
pode facilmente apontar qual destas ilustrações coincide
de Porto, uma cidade que oferece uma qualidade de vida rara. Há, depois, a
com a sua primeira internacionalização?
questão logística deste ramo de actividade e, para tal, esta é a cidade perfeita.
GRUPO 3/4/5 a PB com uma ligeira coloração no cabelo coincidem com o meu primeiro desfile em Paris com a minha marca. A grande maioria destas ilustrações foram feitas a partir
sentem confortáveis com retrospectivas do seu trabalho.
do momento em que ingressa no CITEX. Agora, que lecciona
Isso faz todo o sentido. Não digo que não me reveja em certos trabalhos
na escola que o formou, sente que há alunos seus que
que foram ali expostos mas é indiscutível que, muitos deles, estão muito
poderiam, já, exibir os seus desenhos?
relacionados com um estado de espírito em determinada altura no passado.
Não na Dama Aflita, porque esta exposição teve um contexto muito especial.
Há alguns que se tornam, até, e por isso, engraçados.
Mas sim, tenho alunos muito talentosos. Se auguram um futuro auspicioso para o panorama de criação de moda portuguesa, não sei,
Então qual considera que tenha sido o seu melhor período?
mas apenas na medida em que só o talento não chega.
1989/90. Tinha acabado o curso e estava cheio de vontade. Para além disso,
Tem que haver muita vontade e esforço. e
estava com todas as técnicas ainda muito frescas e dominava-as. Isso nota-se muito nos desenhos. Com o tempo, esse tipo de coisas dilui-se.
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aperfeiçoamento. E, por isso, nem todos os criadores se
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Adstrita ao ímpeto criativo está a busca contínua do
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Alejandro Aravena
CHAIRLESS–UMA IDEIA COM ASSENTO Alejandro Aravena é obra. E há sempre mais por trás do muito que faz. Como esta Chairless, uma cadeira que não o é. Ou que já o era antes de o ser. Porque o objectivo por trás do objecto é, afinal, chamar a atenção do mundo para a questão dos índios ayoreo, os reais detentores da patente. Aos ayoreo o que é dos ayoreo, grita Aravena. TEXTO: NUNO MIGUEL DIAS
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O CHILE POSSUI METADE DOS RECURSOS NECESSÁRIOS para resolver a questão da habitação social. A falta de resposta à demanda resultaria no eterno problema das favelas sul-americanas. A solução proposta por Alejandro Aravena ficou-se, pois, pela metade, A fim de resolver um problema por inteiro. A Elemental S.A. fornece meia casa, cobrindo exactamente a metade do custo que uma família chilena não poderia suportar. Promoveu-se o estudo profundo sobre as questões da habitação social, em estreita colaboração entre Harvard e a Pontifica Universidad Católica de Chile e, hoje, a Elemental é uma empresa de construção real, com uma forte componente social e ligada aos problemas reais das gentes. E já são muitas as famílias chilenas que beneficiaram de um projecto que é, afinal, bastante simples: Uma estrutura de baixo custo (desenhada pela exímia mão de Aravena) é erguida às expensas da companhia e terminada em função das possibilidades dos compradores. São evitadas quaisquer despesas desnecessárias, o desordenamento arquitectónico das cidades (bairros sociais, bairros de lata e guetos em geral) pode ter um fim à vista e, claro, está dado um grande passo em direcção a uma melhor qualidade de vida dos homens e um planeta grato. Alejandro Aravena, Director Executivo da Elemental S.A., sediada em Santiago, recebeu por isto o Marcus Prize para Arquitectura 2009. Tem uma expressão séria. Mas deve esconder um grande sorriso. Aravena tem talento. Que se reflecte num imenso rol de prémios (entre eles o Leão de Prata na Bienal de Veneza), em inúmeros edifícios
aquilo que denomina de “aparelho de sentar para o nómada moderno”.
E o que faz um arquitecto tão conceituado assumir a autoria da Chairless,
Que não é mais que um cinturão de tecido, comercializado agora pela Vitra,
conseguindo mesmo que a Vitra, esse ícone alemão do mobiliário de design,
que permite ao seu usuário sentar-se de uma maneira confortável, tal como
o comercialize? Fácil. Basta olhar para o currículo do homem e perceber
os ayoreo sempre o fizeram. Pelas palavras do próprio Aravena,
que são as causas sociais que movem grande parte do seu pesado ímpeto
apresentando a foto de um ayoreo usando a sua Chairless, a original:
criativo. E as notícias dos últimos anos, que dão conta do avanço
“Primeiro, porque este homem não tem posses para comprar nada que não
dos bulldozers de criadores de gado sobre o território dos índios ayoreo
seja esta modesta tira de pano como cadeira. Saber como fazer design
(que habitam no Chaco, uma vasta extensão de floresta Paraguaia, Boliviana
com parcos meios é de uma importância primordial. Segundo, este homem
e Argentina), não poderia passar indiferente a Aravena.
é um nómada. Assim, qualquer outro tipo de cadeira, mesmo que a pudesse
O sub-grupo de ayoreo-totobiegosode teve o seu primeiro contacto
comprar, não faria qualquer sentido. O design tem de ser, também,
com os brancos entre 1940 e 1950, quando agricultores estabeleceram
relevante. Terceiro, este pedaço de tecido é o limite antes do substantivo
colónias no seu território. Em 1969, muitos foram forçados a deixar
(cadeira) se torne no verbo (sentar). O design deve tornar-se irreduzível”.
o seu meio, a selva, e os primeiros confrontos tiveram lugar. O isolamento
Aravena quis dar o exemplo numa época em que se torna urgente criar
deste povo indígena é tal que, em Maio de 2008, um dos índios, chamado
objectos cuja utilidade seja indiscutível, possam ser comprados por todos
Parojnai, morreu de tuberculose após ser forçado a contactar
e, ainda assim, não sejam dispensáveis. A sustentabilidade na verdadeira
com um dos condutores das bulldozers, dos quais fugia com a família
acepção do termo parte deste pressuposto. Os índios ayoreo foram
há anos, assegurando: “Parecia que nos perseguiam. Para onde quer
a parábola escolhida. e
que nos mudássemos, eles vinham atrás”. Inspirado por tudo isto, o arquitecto chileno decidiu levar avante a Chairless,
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na Universidad Católica (desde 1994) ou em Harvard (2000-05).
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que ergueu pelo mundo, nos livros publicados ou até nas suas aulas
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Fabio Novembre
O REGRESSO DO CORREDOR DE FUNDO Corredor de fundo do design italiano, Fabio Novembre regressa em força com pinta de racer e uma postura mais altruísta. A sua cadeira Abarth, inspirada no automóvel com o mesmo nome, e editada pela Casamania, é um furacão em movimento.
FOTO: SETTIMO BENEDUSI
TEXTO: MADALENA GALAMBA
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FABIO NOVEMBRE JÁ FOI O MENINO-BONITO DO DESIGN ITALIANO. Hoje, aos 43 anos, é um guru contemplativo que só faz aquilo que quer. O seu design provocador explodiu na viragem para o século XXI, e continua a causar estragos. Nos projectos de interiores que realiza, dá largas à sua energia sem limites. Depois de alguns dos seus objectos mais recentes terem tido um acolhimento frio por alguma parte da crítica, regressa em força com a velocíssima cadeira Abarth, editada pela Casamania. Este ano lançou um novo projecto com a Casamania, a cadeira Abarth. Qual foi o ponto de partida para este projecto e qual foi a decisão mais difícil que teve de tomar ao desenhá-la? A decisão mais difícil foi fazê-la ou não... (confesso que não adoro carros). Mas tenho que admitir que a marca realmente atiçou a minha fantasia: Karl Abarth era acima de tudo um sonhador, só depois um engenheiro, e trabalhava no interior da produção industrial acrescentando vários níveis de personalização para atingir o seu objectivo final: a velocidade. Eu interesso-me mais pela velocidade das ideias do que pela velocidade
Ainda tem dificuldade em separar o design da vida?
dos veículos, e assim nasceu a cadeira (risos).
O design é sobre a vida. Não se pode separar o que está junto à partida.
Como é que descreveria a cadeira Abarth a alguém
Do mote “Sê o teu próprio messias” para “eu/nós”.
que não a pudesse ver?
O que é esta mudança significa para si?
Um logotipo desenhando uma forma dinâmica num túnel de vento.
Significa envelhecer, amadurecer. Ao princípio precisas de te definir através das diferenças, depois evoluis através das semelhanças.
A Casamania também lançou uma versão transparente da cadeira Her (na fotografia, o modelo original).
O design move-se numa direcção nova, mais intangível,
É a beleza no seu estado mais puro?
e alguns designers afirmam que já não precisamos
É uma experiência usando novas tecnologias que estamos a trabalhar.
de mais objectos. O que pensa sobre isto? Ainda somos entidades 3D. Tornar-se intangível é um pouco
Também lançou um novo livro, “Il design spiegato
contraditório. Precisaremos sempre de objectos para os nossos rituais,
a mia madre”, (o design explicado à minha mãe).
mais do que as nossas necessidades. E os bebés verdadeiros ainda são
O que é que queria dizer com este livro?
feitos “à antiga”. Não é maravilhoso? (risos)
É sobre as minhas teorias do design explicadas com palavras simples. Uma simplicidade que até uma mãe pode entender.
Onde é que se vê daqui a 20 anos?
nos dois significados da palavra? O presente é um presente!
Ela só queria que eu fosse honesto e feliz, e é isso que tento ser. Algum projecto novo de que possa falar? O seu trabalho inspira-se no cinema, na literatura,
Estou a fazer uma entrevista com uma revista portuguesa muito
na música. Mas não é a vida a sua maior inspiração?
interessante chamada Blue Design... (mais risos) e
E onde é que que acha que o cinema, a literatura e a musica se inspiram? A vida é o diamante, as disciplinas são as suas faces.
www.casamania.it www.fluxograma.com
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futuro parte de uma consciência total do presente. E depois, já pensou
A minha mãe nem sequer sabia o que era um designer.
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Não faço ideia! Acho que temos de tomar conta do presente. Um melhor A sua mãe queria que fosse designer?
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LABOBRAIN
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UM A QUESTÃO DE QUÍMICA
MATHIEU LEHANNEUR Mathieu Lehanneur
empurra o design para o terreno da ciência,
mas não tem nada de rato de laboratório. É um designer no mundo, com os dois pés no chão e o coração num alvoroço permanente. Os objectos aborrecem-no. Só lhe interessam na medida em que interagem com o ser humano. Contemporâneo, inquieto, chegou há algum tempo a um lugar onde agora muitos dos seus pares ambicionam chegar. O lugar onde o design pode até ser intangível, mas não imaterial. Não é um cientista, não. Também não é um artista. É um experimentador. E mesmo a experiência não é mais do que uma etapa, para chegar mais longe. Ce n'est qu'un début. ENTREVISTA MADALENA GALAMBA IMAGENS CORTESIA BUREAU MATHIEU LEHANNEUR
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foto: Fabien Thouvenin
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“PRECISAMOS DE MAIS UMA CADEIRA?” é a primeira pergunta, quase obrigatória, que quero fazer a Mathieu Lehanneur. Mesmo sabendo, de olhos fechados, que me vai dizer que não. Que não precisamos de mais nada, ou que precisamos de muito pouco, neste mundo over à beira do game over. “Estou completamente de acordo. Precisamos de cadeiras e de mesas, mas não é a prioridade. Parece-me que temos cadeiras suficientes para sentar todas as pessoas do mundo, e talvez até de outro planeta. Estes objectos ocupam os designers, mas são objectos muito tradicionais. Parece que há uma necessidade de sentar as pessoas: mas porque não pô-las de pé, fazê-las mexerem-se?” responde Mathieu Lehanneur, 35 anos, designer, particularmente interessado nas interacções entre os seres humanos e o ambiente, os sistemas vivos e a ciência. “Não sei, mas parece-me que temos de relançar a questão, pensar no que é que precisamos realmente. Eu trabalhei em projectos sobre o ar. O ar que respiramos e que nos atravessa. Parece-me muito mais importante.” Fala de Bel Air (2007), um sistema de filtragem do ar através de plantas, desenvolvido em colaboração com Dave Edwards, da Harvard University, que começa
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por ser um protótipo, - uma ideia de um cientista louco
”A MAIOR PARTE DOS OBJECTOS QUE NOS RODEIAM SAO OBJECTOS MORTOS.
empenhado em despoluir o mundo - e que hoje
Podem ser muito bonitos, mas são
que nos rodeiam) e o limpa (através das folhas
objectos autónomos, desligados.
Claro que podemos fazer mais ou menos o mesmo
Interessam-me os objectos que precisam
rodeando-nos de plantas que absorvam toda a porcaria
do ser humano para existir”
que filtrem os venenos invisíveis e libertem oxigénio
está em produção, com o nome de Andrea. O sistema não é mais do que uma cápsula com uma planta no seu interior, que aspira o ar que nos envolve (poluído, cheio de elementos tóxicos e cancerígenos libertados pelos objectos e das raízes) devolvendo-o, purificado.
que nos rodeia. Pequenos pulmões domésticos purificado. Mas não seria a mesma coisa. Talvez precisemos de Andrea e outras “design solutions”. Talvez daqui a uns anos seja ainda mais claro.
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ONCE UPON A DREAM (2010) 31
Uma sleeping capsule para a Veuve Clicquot. Temperatura ideal, luminosidade e som optimizados, o sossego do futuro.
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LOCAL RIVER (2008) Piscicultura e horticultura domésticas.
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Para além de Bel air, e o seu sucessor, Andrea, há outros projectos ainda mais etéreos. Intangíveis, mas não imateriais. Lehanneur continua: “O ar, o som, os efeitos da luz, a poluição. Todas estas coisas são invisíveis ou “imateriais”, mas para mim não. Quando trabalho estas matérias intangíveis, para mim é muito importante dar-lhes uma forma, uma visibilidade. Mesmo que não consiga ver essa matéria, através da relação com o objecto, o utilizador toma consciência dela. Acredito que a forma do objecto deve ser capaz de levar o utilizador a participar. É a relação com os objectos que me interessa”. Partindo desta noção de materialidade, é fácil perceber porque é que os objectos tradicionais interessam tão pouco a Mathieu Lehanneur. Parecem-lhe chatos. O tédio. “A maior parte dos objectos que nos rodeiam são objectos mortos. Podem ser muito bonitos, e úteis, mas são objectos que não se colocam a questão do seu estar no mundo. São objectos autónomos, desligados. A mim interessam-me os objectos que precisam do ser humano para existir. Só assim têm sentido”. Um dos projectos mais interessantes nesta linha de “objectos vivos” é Db, uma pequena bola que limpa a poluição sonora, e que nos segue como um cãozinho onde quer que vamos, emitindo um som que absorve ou eclipsa os sons “maus”. “Na vida actual vivemos num mundo sonoro onde muitos sons são poluentes. Não existe, na realidade, um sistema que nos proteja desta poluição sonora, em casa, no trabalho, onde quer que estejamos” , explica Lehanneur “Comecei a trabalhar à volta de um som – o chamado som branco – que é uma espécie de “psssssssssh”, semelhante ao som que fazemos quando queremos que não se faça barulho. Quando o cérebro ouve esse som concentra-se nele e desfaz-se do resto. No Japão, existem open
spaces, onde este tipo de som branco é difundido, absorvendo os sons poluentes. As pessoas podem concentrar-se, dialogar, mas estão protegidas do ruído. Foi assim que pensei nesta pequena bola, uma espécie de brinquedo, que identifica os sons poluentes e os persegue, para os absorver, emitindo o som branco. É apenas um protótipo, mas adoraria que alguém a produzisse”. Esta ideia de um objecto vivo, que nos segue para todo o lado, remete-nos para o universo da ficção-científica, que, Lehanneur não esconde, é uma forte inspiração (cita com frequência os filmes de Stanley Kubrick). E como quase toda a ficção-científica, tem um lado assustador. “A mim parece-me muito mais assustador um cãozinho robot, uma espécie de inteligência mais sensível que o ser humano”. É evidente que o trabalho de Mathieu Lehanneur bebe muito (embora não exclusivamente) da biologia, da tecnologia, e pode muito bem situar-se na intersecção entre o design (a arte?) e a ciência. O fascínio pelo corpo, pela física, pela química, adivinha-se desde cedo. Para ajudar a pagar o curso (na ENSCI- Les Ateliers), Mathieu Lehanneur serviu de cobaia num laboratório farmacêutico. Qualquer um teria pensado noutra coisa (mais facilmente o imaginamos a trabalhar como manequim nas horas vagas), mas Lehanneur não. Uma opção extravagante mas justificada. “Sim, há sem dúvida um fascínio pelo corpo, e um gosto por partir à descoberta do que não se conhece. Mas era uma maneira muito rápida, muito prática de ganhar algum dinheiro. É um bocadinho perigoso, porque afinal somos cobaias, e hoje de certeza que não o faria outra vez. Tenho uma família (risos)”. A experiência nos laboratórios farmacêuticos não fez mais do que aguçar um interesse que já lá estava e foi o ponto de partida de um dos projectos mais interessantes de Lehanneur, “Objets Thérapeutiques”, que hoje faz parte da colecção permanente do MoMA.
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para farmacêuticas, e que, como o nome indica,
questionam a forma tradicional dos medicamentos e
se ocupa de tudo menos da química. A ideia de criar
propõem novos modos/fórmulas de administração
esta empresa foi a de separar o trabalho de design
desenhados para facilitar, acelerar ou potenciar o
“clássico” desenvolvido pelo estúdio, dos projectos
tratamento. Tudo isto faz todo o sentido, é claro. Se as
de índole farmacêutica. E foi fundamentalmente
flores no quarto de um doente, ou a música, podem
para tranquilizar os fabricantes de medicamentos,
ajudar na convalescença, porque não o design?
ainda receosos de entregar um projecto “científico”
Se o medicamento se torna parte de nós, porque
a um “designer”.
não fazê-lo mais funcional, mais inteligente,
Ou um cientista louco, que é a imagem que Mathieu
mais emocional, mais bonito? Mas em vez de estarem
Lehanneur projecta, apesar de reiterar que não
num museu, estes objectos terapêuticos não deviam
é cientista (e não é) e apesar dos seus projectos estarem
estar na farmácia, ou na nossa mesa de cabeceira,
bem ancorados na realidade.
para nos ajudarem a curar mais rapidamente?
Na série “Objets Thérapeutiques” há um objecto
“Claro que sim. Eu sou um designer. Não sou um artista
que sobressai: chama-se Troisiéme Poumon (terceiro
experimental. Faço todos os possíveis para
pulmão), e é uma câmara como as utilizadas
que o meu trabalho possa ser produzido
pelos asmáticos para tomarem a sua dose diária
industrialmente, idealmente a um preço acessível.
de broncodilatador. A diferença — fundamental —
Mas ao mesmo tempo, infelizmente não passo
é que a relação entre medicamento e paciente
de um designer. Sobretudo no campo da indústria
inverte-se. À noite, depois de administrar
farmacêutica, há muitas questões envolvidas, para além
o medicamento, o”terceiro pulmão” repousa sobre
da composição química, há a regulamentação, etc.
a mesa de cabeceira, e vai-se esvaziando, de maneira
Neste projecto trabalhei com um laboratório,
que de manhã, quando o asmático acorda e toma
com um psiquiatra (que abordava o efeito deste objectos
a sua nova dose, sente que está a ajudar o pulmão
no comportamento das pessoas) e um médico
a encher-se de novo. Já não é o paciente que depende
generalista (que avaliava se passaria uma receita
do medicamento, mas o medicamento que depende
com estes objectos). Os objectos terapêuticos estão
do paciente. Um tamagochi de bata branca, portanto.
longe do propósito para o qual foram desenhados.
“É sem dúvida um dos objectos mais estranhos
Obviamente, sinto-me lisonjeado pelo facto de estarem
da colecção. Um dos objectos que pode ser mais
no MoMA. Mas para mim isso é uma etapa,
assustador, também. Era o objecto preferido
não o objectivo final. Os objectos não são quadros”.
do psiquiatra e do laboratório, porque funciona muito
Foi para tentar fazer a ponte entre os dois mundos —o
bem. Através da estratégia do jogo, da brincadeira,
design e a indústria farmacêutica (que Lehanneur
cumpre-se o objectivo. E lá está, aqui a forma do objecto
apelida de “universo paralelo”) —que Lehanneur criou,
(cheio ou vazio de ar) é bastante explícita, ela conta
Jarras cuja forma deriva das pirâmides
em 2009, a empresa Everything But the Mollecules,
o que se vai passar e depende da interacção com
demográficas de cada país.
especializada em soluções de design
o utilizador para existir realmente.”
L’AGE DU MONDE (2010)
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Estes objectos não são placebos. São artefactos que
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”ESTAS INCURSÕES NA ESCULTURA, NOS OBJECTOS DE EDIÇÃO LIMITADA, são apenas mais uma forma de experimentação. Um terreno onde posso testar ideias, fazer protótipos, enganar-me ”
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”FOI ASSIM QUE PENSEI NESTA PEQUENA BOLA, UMA ESPÉCIE de brinquedo, que identifica os sons poluentes e os persegue, para os absorver,
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emitindo um som branco ”
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design :: entrevista FLAT SURGERY Uma incursão na anatomia do design-art, para a Carpenter’s Workshop
O interesse pela ciência, a biologia, a medicina é evidente. Transparece em muitos projectos, mas não em todos. E a pesquisa, como se faz? Queremos saber se Mathieu Lehanneur faz o seu próprio trabalho de casa, se lê publicações científicas, como se mantém informado para estar a par dos avanços da ciência. Não há nada nele de inventor frustrado. Simplesmente, tem uma ideia e parte à descoberta. Ou parte à descoberta e surge uma ideia. Procura textos, estudos, investiga. E só numa fase bastante avançada do projecto, quando já não pode avançar mais sozinho, é que recorre aos “grandes especialistas” científicos. Nós chamamos-lhe colaboração, Lehanneur prefere o termo “encontro”. E é desse encontro entre o design e a ciência que saem alguns dos projectos mais entusiasmantes de Lehanneur. Mas o designer não faz só isso. Para além da vertente científica, existem outros projectos: design de interiores, design de exposições, packaging e vitrinismo para as grandes marcas de luxo, um flirt com o design art. Entre os seus clientes, contam-se a Cartier, a Christofle, a Paco Rabbane, a Bombay Sapphire, a Poltrona Frau. Ainda assim, a matriz científica está lá, mesmo que adormecida. “Nos trabalhos que faço para as grandes marcas, como a Cartier, por exemplo, não faria nenhum sentido incluir a biologia ou a ciência” explica Lehanneur, para depois justificar essa separação das águas usando termos... científicos “Eu tento
ANDREA Um vegetal numa cápsula funciona como um filtro de ar
compreender o ADN da marca, até para perceber porque é perdeu, porventura, um pouco desse código genético. Perceber o que faz da marca o que é, o que lhe falta. Neste trabalho para a Cartier, em que fiz as montras das lojas nos Estados Unidos na celebração do centenário da marca, tentei penetrar no cérebro da Cartier, para perceber o que se passava”. O cérebro, e os seus mistérios, estão na base de um projecto de interiores, Labobrain, o escritório de um cientista em Paris. O cliente (David Edwards, da Harvard University, com quem Lehanneur colaborou no projecto Bel Air) queria um espaço onde pudesse trabalhar da melhor maneira. Lehanneur partiu da anatomia do cérebro para imaginar o espaço, e dividiu-o em duas zonas diferenciadas (os dois hemisférios): uma parte mais
é fluido, orgânico, mas as duas zonas estão bem compartimentadas, o que, como hoje sabemos, não corresponde exactamente à maneira como funciona o cérebro (a emoção é indisssociável da razão, com explicou, por exemplo, António Damásio n'”O Erro de Descartes”). “Bem, o cérebro, a realidade,
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e uma parte mais emocional, imaginativa, intuitiva. O espaço
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Cartesiana, racional, destinada aos arquivos, à organização,
são muito mais complexos que este escritório. 37
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OBJETS THÉRAPEUTIQUES O design alia-se à farmácia para ajudar as pessoas.
Eu sou muito menos inteligente que a 'Senhora Natureza' e neste caso o projecto distancia-se da realidade científica por razões práticas. Se estivesse tudo misturado no Labobrain, não seria possível trabalhar”.Quanto às suas incursões no mundo do “design art” (como Flat Surgery, uma série de tapetes que reproduzem órgãos vitais, criada para a galeria Carpenter's Workshop de Londres, ou a recente participação na exposição Préliminaires, inspirada pelo amor e o erotismo, em Milão) a ideia é a mesma: experimentação. “Odeio o termo designerartist. Para mim, estas incursões na escultura, nos objectos em edição limitada são apenas mais uma forma de experimentação. Um terreno onde posso testar ideias, fazer protótipos, enganarme. E se me enganar numa série de 10 objectos não é assim tão grave. Dá-me prazer, mas é uma etapa. Não é o fim último do meu trabalho”. A questão é saber como se sente a navegar entre os projectos mais científicos e os mais comerciais. “Dá-me muito prazer poder conciliar as duas coisas. Fazer design integrando esta aproximação científica ou biológica é muito bom, mas também é bom fazer coisas que não têm nada a ver com isso. Os dois tipos de trabalho são complementares e necessários. Preciso dos trabalhos mais comerciais. Se só fizessemos trabalhos “científicos” no estúdio ficaríamos loucos”. E não sobreviveriam, provavelmente. Mathieu Lehanneur desdobra-se e é um dos designers mais solicitados do momento. Foi um dos eleitos de Philippe Starck, um dos dez nomes que o rei do design francês apontou como decisivos para moldar o futuro na última edição da Maison & Objet. Lehanneur não arrisca prognósticos. Diz que prefere deixar tudo em aberto, para não influenciar ninguém. Entre mãos, um projecto para para a Biotherme, à volta de princípio activo (o plancton termal) trabalhado pelo laboratório. E tem outro projecto, para um grande grupo de energia eléctrica, que consiste em desenvolver produtos que nos ajudem a consumir menos energia, através de
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uma leitura em tempo real do consumo. Biologia, ciência, mas
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”À NOITE, O TERCEIRO PULMÃO REPOUSA SOBRE A MESA DE CABECEIRA, e vai-se esvaziando, de maneira que
também espaço para o espaço: a reconstrução do altar de uma igreja do século XI, em Melle, que estará pronta em Setembro, e o projecto para um atelier para adolescentes, no Centre Pompidou, em Paris “será um lugar híbrido, uma sala de exposições, uma sala de concertos, um espaço muito aberto onde as pessoas podem fazer o que quiserem. Entrar em contacto com a arte e a cultura ou simplesmente relaxar, no lounge. Não é uma escola, não há obrigações”. Um híbrido,
quando o paciente acorda de manhã
científico-bio-humano. Como o design de Mathieu Lehanneur. e
terá de ajudá-lo a encher-se de novo. ”
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MARTÍ GUIXÉ
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Senhoras e senhores, este é Martí Guixé, Ex-ex designer,
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revolucionário, contemporâneo, poeta, reinventor do catalaníssimo pà amb tomaquet, que jura a pés juntos desconhecer como se faz um ovo estrelado. E no entanto, não deixa de ser o guru do food design. ENTREVISTA MADALENA GALAMBA IMAGENS INGA KNOLKE / IMAGEKONTAINER.COM E DANESE MILANO 40
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GRAPHIC PIE (2010), Danese Milano
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MARTI GUIXÉ É UM TIPO COM SORTE. Vive algures entre Berlim e Barcelona (onde nasceu, em 1964), duas das cidades mais bonitas da Europa, não porque tenha escolhido uma cidade do centro do Velho Continente para assentar arraiais, mas porque se movimenta realmente entre estas duas urbes, porque a sua vida se faz “a meias” entre estes dois “bês”. Mas também é um tipo inquieto, insatisfeito por natureza, e por isso não nos surpreende quando anuncia que está à procura de um terceiro sítio para viver. Ou estar em trânsito. Martí Guixé parece estar sempre em movimento. E esse movimento é tão forte, e ao mesmo tempo tem tanto swing, que geralmente leva-o a estar uns passos largos à frente do comum dos mortais. Vejamos. Em 2001, quando metade do mundo do design espremia os neurónios à procura da “next big thing” do universo das cadeiras (e a outra metade meditava, sem fazer nenhum, à procura dessa mesma coisa) Martí Guixé já estava “noutra”. Bem fora. As mesas, cadeiras, candeeiros, sofás, chaise-longues e quejandos tinham o fim à vista. O mesmo poderia dizer-se dos copos, telefones, malas, secretárias, computadores. Todos datados, todos passados. Para combater o tédio que se instalara na profissão que, apesar de tudo, escolhera, Martí Guixé fez duas coisas: autodenominar-se Ex-designer (numa tentativa de redefinir os limites da disciplina) e começar a trabalhar à volta de objectos feitos com materiais perecíveis, que, precisamente porque hoje estão mas amanhã talvez não, são o mais perto que podemos chegar da vertigem contemporânea. E qual era o material perecível mais urgente, mais óbvio, aquele que, por assim dizer, estava mais à mão? A comida, naturalmente. Foi assim, sem tirar nem pôr, que Martí Guixé, formado em design industrial numa instituição de peso como o Politécnico de Milão, se transformou numa figura tão volátil quanto um food designer.
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Pioneiro no campo, apressou-se a esclarecer, com
”ACHO QUE A COMIDA É MUITO PRIMITIVA. COMPARO-A À HISTÓRIA DA ARTE. A nova gastronomia, que está muito na moda agora, seria comparável à descoberta da perspectiva.”
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a ajuda da companheira Inga Knolke (que assina as fotografias deste artigo) que “a food designer is somebody working with food, with no idea of cooking”. E foi assim que este catalão reinventou um dos ex-libris da dieta mediterrânica, o tradicional pà amb tomaquet (pão com tomate... e azeite, e alho, porque nem todos temos de ser nulidades na cozinha) transformando-o numa “tecnotapa”, e revolucionando a forma como o preparamos (através de instrumentos parecidos aos que se usam para preparar sushi, por exemplo) e como o comemos.
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FOOTBAL TAPE Um Do It Yourself redondo, produzido pela Magis. Fita adesiva para criar o que se quiser.
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O projecto SPAMT (uma contracção fonética da frase “es pà amb tomaquet”) foi apresentado em 1997 na galeria H2O, em Barcelona, e foi marcante no percurso de Guixé. Um ano mais tarde, inicia a sua colaboração com a Camper, que o leva a desenvolver as primeiras “temporary shops” da marca, e que lhe dá estatuto para pronunciar “statements” provocadores (literais tiros no pé, tratando-se de uma marca de sapatos) como o “se não precisas, não os compres” impresso na caligrafia inconfundível de Guixé, nos sacos de papel da marca maiorquina. Para além dos projectos que envolvem comida, e sapatos (ou as duas coisas, porque já aconteceu) Martí Guixé esmera-se em projectos “clássicos” de design de produto, para os quais, afinal, parece estar talhado. Bons exemplos são os trabalhos recentes para a Danese Milano (uma editora que parece ter sido feita à medida para ele) e para a Alessi (a recente série Collection of Objects), para além da Magis (a Football
relação entre forma e função não passa
Tape, uma fita adesiva com um print de “esférico” para
necessariamente pela procura
fabricar com qualquer coisa uma bola de futebol DIY)
da imaterialidade. Por onde passa, então?
a Droog Design e a Nani Marquina. No fim, é ele
Vivemos num mundo onde tudo muda,
quem melhor define o que faz “concepts and ideas
se metamorfoseia, e é um problema fazer isso com
for commercial purposes”, como se lê no seu site.
a matéria. Desde o princípio que tentei manter
O revolucionário a partir de dentro.
as funções do objecto sem a matéria, ou seja, podias
PROVOCADOR O slogan subversivo criado para a Camper é a afirmação de um estilo.
pôr duas funções num objecto, para que uma função, Ainda se vê como um Ex-designer?
mesmo sem matéria (ou tornando-se gráfica),
A expressão foi criada em 1997,
continuasse a existir. Continuo a pensar que é preciso
mas como é que interpreta hoje?
desenhar funções que estejam livres das formas
Já não. Na realidade, em 2007, porque passavam dez
ou dos materiais. Quando é que percebeu que odiava os
com ex-designers. Ex-designer foi uma definição
objectos, e como é que se liberta deles?
que me permitiu trabalhar de uma maneira alternativa
Quando decidiu que queria estudar design,
e para além das fronteiras da disciplina, mas agora
já tinha consciência que não
tudo mudou muito. Agora algumas pessoas
gostava de objectos?
chamam-me ex-ex designer.
Bom, eu não disse que odiava os objectos. Eu disse que odiava possuir objectos, pela razão que expliquei
Os designers estão a desviar a sua atenção
antes. Eu distingo os objectos dos produtos, e posso
dos objectos para as experiências, e o
desenvolver um produto que seja um serviço,
design está cada vez mais intangível.
ou um protocolo, e não necessaramente aquilo
Mas no seu caso, passou toda a vida a
a que chamamos um objecto. Eu estudei design
tentar desfazer-se das formas! E a sua
no princípio dos anos oitenta, o mundo era
maneira de questionar a tradição e a
completamente diferente: não havia telemóveis,
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a ideia de ex-designer numa marca, que trabalha
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anos da minha primeira exposição, decidi transformar
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”TENHO A CERTEZA QUE DAQUI A CINCO ANOS TODOS OS NOVOS RESTAURANTES SERAO TEMPORÁRIOS. Há muitos caminhos que explorei que se tornaram normais com os anos, como a interacção com os objectos...”
Ainda que não esteja muito interessado na gastronomia e na culinária, tem de alimentar-se. Come comida saudável? Tem alguns pratos favoritos? NÃO, é impossível comer comida saudável, onde? Teria de estar numa posição muito privilegiada para poder manter uma horta para a sua própria subsistência. Mas claro, mesmo sabendo que não é possível comer coisas saudáveis, gosto de comer coisas extraordinariamente simples.
nem Internet, dá para acreditar? Os designers que desenhavam coisas naquela altura pensavam
Disse: “Vamos assistir ao aumento dos
que essas coisas durariam para sempre, mas hoje
consumidores-curadores, assistentes
sabemos que não é assim, que tudo está em evolução,
pessoais de consumo, ou, falando de
e que as percepções da realidade mudam
informação, interfaces de consumo
constantemente e têm de mudar se queremos
interactivos. O que está a acontecer é que
melhorar as nossas vidas.
algumas pessoas que fazem isto estão a transformar-se na marca. É o interface que
“Um food designer é alguém que trabalha
deve dar confiança ao consumidor naquilo
com comida, mas que não sabe cozinhar em
que consome, e não tanto o produto”. Acha
absoluto”. Esta afirmação de Inga Knölke
que a blogosfera, ou os bloggers são
assenta-lhe como uma luva, porque gosta de
jogadores importantes neste
frisar que não cozinha. A comida interessa-
novo mapa? Confia nos bloggers?
o na medida em que é um produto de
Bom, como lhe disse, eu faço uma distinção entre
consumo de massas e perecível. Consegue
produto e objecto e para mim um produto é alguma
pensar noutro assunto/material que
coisa, não necessariamente física, que pode
pudesse suscitar o seu interesse?
ser vendida, e um objecto é um bocado de matéria
Sim, penso que os direitos de autor são um tema muito
com um fim. Sim, penso que os produtos (como os
interessante, assim como a ideia do trabalho
blogues, por exemplo) estão a tomar um papel
como desportp (o meu projecto Park Life).
relevante, mas no universo dos produtos, como no universo dos objectos, há bons e maus, dependendo do
A comida transforma-se em energia. “Somos
conteúdo. Afinal, é tudo uma questão de qualidade.
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o que comemos”. Acredita que também
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somos “como” comemos?
O “contemporâneo” interessa-lhe muito.
A frase “somos o que comemos” é uma afirmação muito
Como o definiria?
simples. Acho que a comida é muito primitiva.
Bem, parece-me que é uma percepção daquilo
De uma certa maneira, comparo-a à história da arte:
que se está a passar agora, e também passa por ver
a nova gastronomia, que está muito na moda agora,
até que ponto estás envolvido no desenvolvimento ou
seria comparável à descoberta da perspectiva... Agora
na utilização destas mudanças. Mas esta percepção
imagine tudo o que pode acontecer se pensarmos
pode variar dependendo de factores culturais, sociais,
na arte dos nossos dias, onde a pintura é a mais
económicos e geográficos.
conservadora das artes... O modo como comemos
Nesta Collection of Objects, para a Alessi,
é a maneira como vivemos a nossa contemporaneidade.
tenta reinventar os nossos gestos banais, quotidianos.
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COLLECTION OF OBJECTS: o quotidiano reinventado para a Alessi.
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XARXA LLIT: um sofá in progress editado este ano pela Danese Milano.
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”VIVEMOS NUM MUNDO ONDE TUDO MUDA E SE METAMORFOSEIA, e é um problema fazer isso com a matéria. Os objectos são muito divertidos e inteligentes. Como se fossem uma micro-antologia do seu trabalho,
Desde o princípio que tentei manter as funções do objecto sem a matéria. ”
das suas preocupações e atitudes. É assim? Bom, é um projecto que também tem um lado comercial, e estou feliz com ele. Tem alguma coisa de anarquista “se não precisas, não compres”. Houve quem o descrevesse como o revolucionário a partir
Vive entre Barcelona e Berlim, dois dos
de dentro, porque trabalha a partir do
melhores sítios da Europa. Mesmo que já
interior do sistema. Às vezes, há pessoas
não importe muito o sítio físico onde
que chegam a um ponto na vida onde acham
vivemos (porque podemos estar
que foi tudo em vão... ficam desiludidas.
em qualquer lado a qualquer hora) tem
Como é que a vida o tem tratado? Sente que
consciência de que é um tipo com sorte?
deu o seu grão de areia para mudar as
E se pudesse fazer uma terceira cidade
coisas, e que valeu a pena?
com o que gosta e o que não gosta,
É estranho, mas eu fiz uma data de coisas
de Barcelona e Berlim, como seria?
que com o tempo se tornaram normais, o food design
Eu cheguei a Berlim antes de ser trendy, apenas cinco
está a tornar-se cada vez mais relevante, mas quando
meses depois da queda do muro. Ainda estou à procura
eu comecei em 1995 era completamente raro.
de uma terceira localização, acho que três sítios para
As fitas adesivas é a mesma coisa, com a Camper,
viver e o movimento contínuo que isso implica são
fizemos a primeira “temporary shop” em 1999
o meu estilo de vida favorito. Estamos
e agora é normal e chamam-lhes pop up stores,
à procura desta terceira cidade mas não é fácil.
e tenho a certeza que daqui a cinco anos,
Eu vivi todas as mudanças dos jogos Olímpicos de
todos os novos restaurantes serão temporários.
Barcelona, e também todas as mudanças de Berlim,
E há muitos caminhos que explorei que se tornaram
deveria ser uma cidade em mudança?
“normais” com os anos, como a interacção
Por agora, estou mais inclinado para uma situação rural,
com os objectos, a performance no design...
mas ainda não sei.
Agora estou a apontar noutras direcções e acredito que daqui a dez anos estejam a acontecer
Quais são os próximos projectos
massivamente. Também, o meu modo de vida,
de que pode falar?
entre Barcelona e Berlim, ao princípio era muito difícil,
Mobiliário para empresas italianas. E o projecto de sonho?
na direcção daquilo que tento viver, o problema
Nutrição com sais minerais e não mais gastronomia?!
é que começo sempre cinco ou dez anos antes, e os produtos que preciso vão aparecendo
(Martí Guixé respondeu às nossas perguntas
lentamente, nunca lá estão.
estando em Barcelona) e
Provavelmente daqui a dez anos será possível comermos comida saudável.
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era terrível... Parece que os desenvolvimentos vão
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sem telemóveis, sem Net, trabalhar com Fax
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A 49.ª EDIÇÃO DO SALONE DEL MOBILE DE MILÃO FICOU MARCADA POR DOIS FENÓMENOS APARENTEMENTE IMPROVÁVEIS:
a erupção de um não-tão-longínquo vulcão islandês e o registo de um sismo de magnitude ainda não determinada provocado por um cinto, que afinal é uma cadeira, que por acaso é uma não-cadeira: Chairless, obra de Alejandro Aravena, editada pela respeitável Vitra. É isto que fica, em substância, de Milão 2010, uma edição do Salone como —dizem os especialistas — há muito não se via. Este Milão que aperta o cinto, foi, para muitos, o melhor dos últimos anos. O pandemónio causado pelas cinzas vulcânicas flutuando sobre os céus da Europa, que acabou por deixar o mundo do design retido em Milão, e Chairless, a cadeira do arquitecto chileno Alejandro Aravena, inspirada no modo de sentar dos índios ayoreo, são duas imagens poderosas do estado a que chegou o nosso mundo globalizado, para o mal e para o bem (respectivamente). Só num mundo assim é possível que os caprichos de um vulcão perdido nos confins da Europa paralizem as vidas das pessoas correntes. Só num mundo assim, um índio de pernas cruzadas, descalço, sentado num chão de terra batida, lança a faísca de onde partirá a “revolução” do design , a milhares de quilómetros de distância da sua aldeia. >>>
MILÃO APERTA O CINTO (E O MUNDO AGRADECE)
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AVIVA Directo ao assunto, Marc Berthier assina esta cadeira de madeira editada pela Magis.
>>> E o vulcão e a não-cadeira são, no fundo, duas faces da mesma moeda. Querem dizer a mesma coisa, ou pelo menos lançam a mesma questão, que é a de saber de que é que este mundo precisa, e como é que o design pode ajudar. As revistas de design renderam-se à evidência, e dedicaram páginas às novidades do Salone, como é habitual (e nós não escapamos à regra) mas também ao vulcão e aos seus efeitos. Houve quem fizesse crónicas ilustradas, contando as peripécias dos participantes no Salone (designers, empresários, produtores, jornalistas, fotógrafos) para conseguirem sair de Milão, no meio do caos aéreo, depois de terminada a festa. Alguns encontraram um lugar no último comboio, outros partilharam carros alugados, atravessando a Europa “on the road” para regressar a casa, e retomar as suas vidas, apertados mas felizes. Aliviados. >>>
SEDIA 1 Um projecto do-it-yourself concebido por Enzo Mari em 1974, como parte de Autoprogettazione, é agora editado pela Artek. Os maestri estão de volta
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e continuam grandes.
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STACK Uma nova edição da cómoda Stack, de Shay Alkalay para a Established & Sons, é uma aposta segura.
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DOWN SIDE UP Quatro caixas de madeira e quatro pernas é tudo quanto precisamos para criar mobiliário em mudança, um encontro entre a experimentação e o consumo, na linha Down Side Up da Fabrica.
JEAN Disponível em várias cores, Jean é um banco alto desenhado por Stefan Diez para a E15.
STEELWOOD A Magis amplia a bem sucedida colecção Steelwood, de Ronan & Erwan Bouroullec, com este banco alto.
EUGENE A cadeira Houdini, hit do ano passado, foi o ponto de partida para uma linha que inclui sofás, lounge chairs e mesas,
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desenvolvida por Stefan Diez para a E15. Eugene é talvez o exemplo mais conseguido.
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MILAN DESIGN WEEK 2010 NEW ORDER Uma estrutura de alumínio colorido e vários elementos opcionais (portas, prateleiras e separadores) dão versatilidade a este sistema modular de armazenamento desenhado por Stefan Diez para a Established & Sons.
CRASH Konstantin Grcic está fora de si com este sofá “explosivo”, onde o tecido é protagonista, desenhado para a Established & Sons.
>>> As cinzas do Eyjafjallajökull, como a cadeira de Aravena, obrigaram-nos a parar. Pairando sobre Milão, foram um oportuníssimo convite à contemplação, e isso só pode ser bom. Não só pudemos ver tudo com mais tempo (e a semana do design de Milão está cada vez maior, desdobrando-se até ao infinito virtual, e por isso impossível de ver na sua totalidade), mas também deter-nos, com toda a calma, em cada coisa, e voltar a ela se fosse preciso. Para além das
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apresentações clássicas, no recinto da Feira, o design espraiou-se pela Zona Tortona, e pelo novíssimo “design district” de Ventura Lambrate. Entrou nos parques, a céu aberto, e nos restaurantes e lojas,
Tokujin Yoshioka à procura
e até bateu à porta dos velhos Palazzi milaneses, onde foi bem
da invisibilidade da matéria na série
recebido (na série de exposições que cruzavam design
The Invisibles, para a Kartell.
contemporâneo com arquitectura clássica, “Ospiti Inaspetati”, hóspedes inesperados). >>>
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THE INVISIBLES
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H&H GREEN Uma nova edição, verde, da estante H&H, desenhada em 2007 por Paolo Rizatto encarna o espírito rejuvenescido da Danese Milano, que, evidentemente, goes green.
ALODIA O banco de Todd Bracher, disponível em duas alturas, é facilmente um dos objectos do ano, de tal maneira se aproxima da perfeição. Produzido pela Cappellini.
SPIN Esta mesa sobre rodas díspares é uma das estrelas da novíssima colecção Estd, lançada pela Established & Sons.
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A ideia é produzir design anónimo a preços acessíveis.
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DIVERSITY Nacho Carbonell pôs em cena um dos espectáculos mais assombrosos de Milão, com Diversity, variações da sua cadeira-carteira que habitaram o espaço Gianfranco Ferré, povoando-o de espinhos, relva, resinas e outras experimentações com materiais e texturas.
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VIGNA Martino Gamper foi um dos designers em destaque e mostra porquê nesta cadeira Vigna, que como o nome indica, se inspira no crescimento contínuo de uma videira. Em plástico moldado por dupla injecção, permite a combinação de duas cores. Editada pela Magis.
5 O’CLOCK A hora do chá segundo Nika Zupanc, mais um olhar retro para a Moooi.
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Para a Kartell, e em plástico,
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naturalmente, Patricia Urquiola pisca o olho ao passado e revisita um modelo tradicional (em madeira, naturalmente)
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>>> Já a cadeira de Aravena foi a metáfora exacta, de que todos precisávamos, para (re)lançar a questão, que a crítica de design Alice Rawsthorn colocava na sua LOLITA
crónica para o The New York Times de 11 de Abril:
O candeeiro Lolita, de Nika Zupanc
“Será que o mundo precisa de outra cadeira?”.
para a Moooi, em versão de pé.
Num contexto de crise, mas sobretudo de insustentabilidade, parece evidente que não. E é por isso que o design, transversal, se posiciona, como é o seu “dever”, à frente, abrindo novos caminhos, explorando novas áreas onde nos distanciamos dos objectos só para nos reaproximarmos deles, através de experiências renovadas. E é por isso que as marcas, com orçamentos reduzidos, lançam menos produtos novos, arriscam menos, e apostam na “reciclagem”, assuma ela o rosto que assumir (através da reedição de peças, com novas cores ou materiais, mas também através de novas tecnologias mais limpas, ou com produtos realmente “verdes”, em todas as etapas do processo, ou reinventando novas tipologias a partir de objectos existentes, como fez a Droog e a Danese). Claro que este “jogar pelo seguro” pode ser “mau”, pois os sacrificados serão, tendencialmente, os novos talentos que ainda não tiveram tempo de se afirmar. E assim arriscamo-nos a ver não só mais do mesmo, mas também mais dos mesmos. >>>
Patricia Urquiola é exímia na actualização dos clássicos e demonstra-o nesta beldade produzida pela Moroso.
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KLARA Desta vez, a palhinha é mesmo a sério.
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MEMORY Mais um ensaio do japonês Tokujin Yoshioka, Memory é uma cadeira de formas ilimitadas, o que significa que a cadeira, em alumínio reciclado,
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“memoriza” o corpo de quem nela se senta.
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MILAN DESIGN WEEK 2010 CABANA Os irmãos Campana aproximam-se do Neo-barbarismo com esta estante
dolmen coberta de ráfia (e com prateleiras no interior), para a Edra.
INSTANT ARM SEAT A segunda colecção da Moustache foi tão bem sucedida como a estreia, como atesta esta Instant Arm Seat, vestida de peles, criação de Matali Crasset.
JUMPER A fantasia de Bertjan Pot bem explícita nesta cadeira “vestida” com uma camisola de lã oversized que entretanto encolheu para se colar à estrutura de madeira.
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Da Established & Sons.
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SESSANTUNA A Cassina arrisca pouco e reedita os clássicos, mas com este projecto Sessantuna, de Gaetano Pesce, mostra alguma ousadia. É uma série de 61 mesas únicas, pintadas à mão pelo maestro, que juntas formarão o mapa de Itália.
TAILORED WOOD Os Raw Edges vêem o seu talento premiado com esta edição, pela Cappellini, dos seus bancos Tailored Wood, uma imitação, em madeira, da rugosidade do papel.
WOOD CHAIR As suecas Front inspiraram-se nos assentos de taxistas revestidos com bolinhas de madeira para esta proposta para a Moroso.
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MILAN DESIGN WEEK 2010 >>> Olhando para esta edição do Salone, no entanto, verificamos que não foi bem isso que aconteceu, e temos de agradecer ao vulcão e à crise, basicamente porque nos tornam mais criativos (para encontrar uma alternativa para o avião, e uma alternativa para a cadeira). Não houve tantas novidades, mas ainda bem. Melhor pouco mas bom, do que em excesso e mau. O design de autor, e as propostas mais experimentais, continuam a ter o seu espaço, e esse espaço é cada vez maior, mais visível, mais determinante. Forçados a parar, a questionar, a contemplar, estaremos provavelmente mais próximos da essência, daquilo que realmente importa. METAL WORK
Menos é mais. E depois desta “meditação colectiva”, em que é
Outra das coisas acertadas que a
que ficamos? Num Salone aparentemente espartano
editora francesa Moustache fez foi pôr em produção protótipos de jovens
(o regresso da madeira, da pureza geométrica, da simplicidade
estrelas do design europeu.
do do-it-yourself) mas decididamente lúcido, onde os
Um bom exemplo é este candeeiro
designers se dedicaram sobretudo a desmontar para fazer
Metal Work, do colectivo Big Game.
de novo (a cadeira de Martino Gamper para a Established & Sons é um bom exemplo, como também o é o olhar para as tipologias do passado), onde as marcas se retraem (rebaralhando o seu ADN, ou lançando linhas mais acessíveis) e onde ainda assim há espaço para tudo, da sustentabilidade à extravagância, mas em pequenas doses. e
PAPER PLANE Uma cadeira origami, é um projecto da dupla Doshi Levien que a Moroso eventualmente porá
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em produção.
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MIYAKE LAMP Ahiro Miyake desenhou este prodígio do equilíbrio e a Moooi fez-nos o favor de o editar. O candeeiro, em dois tamanhos, para estar na mesa ou no chão, assenta numa base poliédrica que é o contraponto perfeito à sua ligeireza.
PETITE GIGUE Uma cadeira com três pernas, de François Azambourg para a Moustache. A técnica inspira-se na construção naval, e com efeito, as pernas de quem se senta ajudam a mantê-la de pé.
SILVER LAKE A Califórnia dos anos 50 é a inspiração deste jogo de volumes geométrico, de Patricia Urquiola para a Moroso.
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ETERNO E NOSSO
RAPHAEL BORDALLO PINHEIRO Num desejo sofrido, como apraz a toda a obra grandiosa, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha moldou no barro um talento ímpar, feito da coragem, da ironia, da criatividade e da arte de Raphael Bordallo Artísticas Bordallo Pinheiro, orgulha Portugal. Pudesse eu contar-lhe de viva voz, Mestre... POR GUI ABREU DE LIMA FOTOS NUNO CORREIA / GRUPO VISABEIRA
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Pinheiro. 126 anos depois, a agora Faianças
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… OS RODOS DE TINTA QUE CORREM POR CÁ.
A crise económica mundial é tão aguda como aquela oficialmente declarada em 1892, a que V. Exa. assistiu, e quase lhe leva a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Mas vaso ruim não quebra, e 126 anos volvidos desde que iniciou o sonho e se atirou à roda, a sua Fábrica está que não se aguenta de esperança e força, os seus moldes enchem-se a cada dia e a sua cerâmica atravessa fronteiras, percorre oceanos, lê-se em jornais, transmite-se em televisões, emprateleira-se nos mais dignos escaparates. V. Exa. continua a dar que falar Mestre, anda na boca e na mente dos novos artistas! Mas fique sabendo que nem há um ano, como em 1891, estava por um fio a contemporânea Fábrica de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, por seu filho Manuel Gustavo reencaminhada em 1908, de tal modo que – e eis que o diabo da história se repete – um rol de almas com sentido artístico e responsabilidades na cena cultural, apelou à salvação desse património das nossas delícias, onde o seu génio brilha e a nacionalidade se espraia. Reuniram consensos e esforços, e conseguiram. O governo desta ainda frouxa República, veiculou forma de ajuda a uma empresa do sector, empenhada em perpetuar e manter o “design” ceramista (é agora palavra universal), que V. Exa. teve a gentileza de nos ensinar e pôr à mesa; que engalanou orgulhosamente fachadas e salões; que alegrou humildes casinhas com o chilrear das suas andorinhas. Das Caldas a Lisboa, de Lisboa ao Minho e ao Algarve, até às colónias portuguesas, as airosas avezinhas voaram, enchendo de ternura e primaveras os mais duros invernos das almas lusas.
PUDESSE EU CONTAR-LHE DE VIVA VOZ, MESTRE, os rodos de tinta que correm por cá. A crise econó-
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mica mundial é tão aguda como aquela oficialmente declarada em 1892, a que V. Exa. assistiu, e quase lhe leva a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Estamos a caminho da bancarrota ilustre compatriota, nunca a tanto chegaram as agruras da Nação, mas por si, há festa, e haverá sempre motivos de sentida celebração. Valha-nos pois V. Exa, Mestre Raphael, e suas oportunidades. É tempo de revelar afincadamente a sua arte, de a trazer à luz do dia, de a expor, homenagear e admirar, de atirar contra as ventas do mundo o seu design moldado ao barro, a sua genialidade criativa, colorida, luminosa, aromática e gráfica. Sim, que em cada serviço, púcara ou tigela, o cheiro dos campos, das hortas, dos cereais, das frutas, das nossas flores, vê-se e sente-se, e a vida simples de toda a bicharada que gosta dos ares de Portugal, emana radiosa. Portugal, Portugal...
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Disse-se que o génio de Rafael não teve a merecida projecção internacional, pela simples razão de ser português... creio seriamente que tal coisa nunca o beliscou. E com toda a franqueza, desde que seja nosso e sempiterno, que importa? Pois digo-lhe, se V. Exa. passar pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque ou de Tóquio, não se espante em dar com os olhos num prato familiar, numa gamela de sua autoria, numa travessa que, desenhada à luz da vela, ilumina e prende qualquer olhar. A Fábrica está que é um mimo. Tem um museu, um restaurante de boa ementa, uma equipa motivada, uma missão claríssima de preservar, divulgar e projectar a sua obra como justamente merece. As Caldas da Rainha celebraram o centenário da sua partida com toda a pompa, sentido orgulho e saudade. A sua indústria corres-lhes nas veias com a desenvoltura da sabedoria secular, e a tradição, caríssimo, não há quem a mate. À missão de levar o negócio avante, junta-se a vontade de estimular a criatividade, de produzir faiança decorativa e utilitária de alta qualidade, de adoptar uma postura empreendedora e moderna, mantendo a integridade do passado, reforçando a sua identidade. Queira saber ainda, Senhor, que a usina manda ventarolas, e da melhor categoria. Moderníssima, debaixo dos seus 9.400m2 de área coberta, desenrolam-se perante os olhos e em permanente laboração, doze fornos, seis prensas, duas máquinas de roller, dez linhas de enchimento, e uma equipa de 170 colaboradores para as mais diversas artes e ofícios, que garantem a produção diária de 6.000 peças. O mercado comprador não se pode queixar Mestre Rafael. O catálogo é um luxo ao alcance de um clique, completíssimo, e escolher um serviço entre as três dezenas disponíveis, é obra. De jarros e bules, V. Exa. sabe melhor que ninguém o ror de carrancas patuscas que nos deixou. Que irresistível colecção.
Bordallo Pinheiro, consoante a predilecção do espírito ou a maleita da saudade – da bananeira ao castanheiro, da doce cana à rama de ananás – que beleza, Mestre. Na secção das queijeiras, o mais refinado gourmand esquecer-se-á do intenso paladar do queijo e respectivo odor, rendido à alegre presença dos seus ratitos, ou numa hipótese mais prazenteira, apreciá-lo-á com o redobrado gosto da sua companhia. Mestre Rafael, torna-se-me árduo descrever toda a panóplia de peças decorativas que a fábrica produz, não só pela quantidade apreciável, mas pela força visual, que nos deixa tontos de admiração, pasmados até às vísceras, maravilhados com os caminhos da sua imaginação.
”DAS CALDAS A LISBOA, DE LISBOA AO MINHO E AO ALGARVE, até às colónias portuguesas, as airosas avezinhas voaram, enchendo de ternura e primaveras os mais duros invernos
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mais irredutível carnívoro, preenche a oferta da Faianças Artísticas
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O viço das folhas nervuradas capazes de exaltar novos apetites ao
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”POIS DIGO-LHE, SE V. EXA. PASSAR PELO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA IORQUE ou de Tóquio, não se espante em dar com os olhos num prato familiar, numa gamela de sua autoria, numa travessa que, desenhada à luz da vela, ilumina e prende qualquer olhar. ”
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São imensas as reproduções, as idas vidas perpetuadas deste pequeno Portugal, que superiormente o inspiraram e de quem V. Exa. era exímio observador, deixando certamente trémulos e em cuidado, todos os figurões da nossa praça social. Do nobre povo ao mais respeitável membro da Nação, a pente fino, ainda hoje o país ri consigo, e muitos haverá gratos ao céu de não serem contemporâneos de V. Exa.. Em Lisboa, Mestre, um Museu em seu louvor existe desde 1916, bem situado ao 382 do Campo Grande, crescendo pelas décadas em benfeitorias, sendo hoje uma casa de incontornável relevância cultural da cidade, recentemente renovada, e a cargo da edilidade. Nos alvores deste ano, no jardim que lhe pertence, aconteceu um fenómeno muito inédito e feliz. Sabe Mestre, o seu espírito é um trovão nas ideias de quem ama o desenho e o raio é tal que só se contentam quando vêem sua obra enaltecida na matéria. Vai daí que duas jovens mulheres já famosas entre as nossas artes e comércios, se envolveram com a fábrica das Caldas e seus colaboradores, para a feitura de peças que nenhum português houvera visto. Ora nem mais, Senhor, exactamente sua fauna e flora avantajada, projectada e entalhada, mas que nunca V. Exa. fez chegar à arte final. Fizeram agora estas mulheres, de vontade férrea e gostos bem nutridos, depois de saturada pesquisa e recuperação de tudo o que foi necessário – da técnica ao molde, do modelo ao método – o favor à Pátria. A bicharada renasceu para tomar de assalto os buxos e as árvores desse jardim da capital. Convivem perante o olhar de quem quer ver e vê embevecido, macacos, caranguejos, caracóis, sardões, lagostas, anafados cogumelos, e da autoria de seu filho, a fonte ornada de sapos, que só lhes falta falar. Mais que
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isto se promete Mestre. Tocaram no seu universo, já não
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”DO NOBRE POVO AO MAIS RESPEITÁVEL MEMBRO DA NAÇÃO,
conseguem parar. Vêm aí novidades, desta feita bem
a pente fino, ainda hoje o país ri consigo,
efeitos. Com esta me despeço, Mestre Bordallo,
e muitos haverá gratos ao céu de não
deixando-lhe só um pedido: ria-se!
serem contemporâneos de V. Exa.”
www.bordallopinheiro.pt
diferentes, mas sempre no seu encalço. Desafios foram feitos, a reputados designers, para lhe irem às entranhas, aos fundilhos do pensamento, e sentindo-lhe os trejeitos, criarem novos e outros
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ELLIOTT BURFORD IS SPAM, POR ELLIOTT BURFORD
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REPORT SPAM MOVE TO NOT SPAM
[SELECCIONE A OPÇÃO DESEJADA] Em Mac, é arrastar para o trash. Em ambiente Windows, fica na reciclagem até que “a máquina” decida que já passou tempo suficiente. Um dos mais marcantes designers da Fabrica achou que o spam na sua caixa de email daria um belo produto se reinterpretado à sua (boa) maneira. Nasce Elliott Burford is Spam, uma provocação que desafia a própria contemporaneidade. POR NUNO MIGUEL DIAS
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projecto :: design SE A AUSTRÁLIA TEM A FAMA, Elliott Burford tem o proveito. Porque tem ideias. Das boas. Exemplo: Em Julho de 2008, Ratzinger visitou Sidney. Para isso, os contribuintes viram “fugir” 184 milhões de dólares australianos (128 milhões de euros). Viram, também, aprovadas pelo governo, algumas leis temporárias, entre elas uma que permitia aos polícias levar a cabo revistas e prender “causadores de aborrecimentos” aos participantes desse World Youth Day, que era, afinal, a principal causa da visita papal. Incluídos nas proibições estavam o uso de t-shirts com mensagens, entrega de preservativos, andar de skate ou mesmo tocar qualquer instrumento. Os prevaricadores seriam multados em A$5.500 (€3.850). No primeiro dia do evento, a legislação foi considerada inválida pelo Supremo Tribunal, mas era já tarde para que quaisquer protestos pudessem beneficiar da exposição mediática. E Burford já havia pensado numa t-shirt que, à primeira vista, tem impresso um mosaico de Ratzinger acenando sorridente mas que é, na realidade, constituído por milhares de minúsculas imagens de sexo explícito nas modalidades gay e lésbico. O projecto foi abandonado por óbvias impossibilidades de execução atempada, mas encontra-se no site. Para que se perceba que Elliott não está para brincadeiras! Vindo da Fabrica, o centro de pesquisa e comunicação da Benetton (ou o seu laboratório de criatividade, como os próprios preferem denominá-la), nada nos poderia surpreender em Elliott Burford. Mesmo quando decidiu fazer arte a sério com os emails que costumamos, num gesto quase mecânico, apagar. Não são propriamente aqueles que vêm do aborrecido amigo que nos pede, invariavelmente, para adoptar um golden retriever (cuja foto continua a ser a mesma desde a primeira vez que o vimos, num outro mail recebido há três anos) ou para reencaminhar a mensagem para 50 amigos (caso contrário cair-nos-á um piano em cima durante a próxima semana). Falamos de enlargement pills, free trials, successful marketing e todo um rol de coisas que, por serem desinteressantes para a maioria, requerem chavões no campo do “assunto” (subject) engenhosamente apelativos. Nos dias de hoje,
”NOS ÚLTIMOS ANOS, A ELABORAÇÃO DO SUBJECT DOS EMAILS DE SPAM TORNOU-SE UMA ARTE. Elliott Burford
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também o acha. E viu aí uma oportunidade para criar algo muito ao seu género, aplicando as tais frases que, de uma forma genial, abordam os mais incautos.”
em que quase ninguém consegue sobreviver sem uma consulta à sua inbox, tais frases podem ditar a diferença entre uma curiosa leitura ou a cruel indiferença. Talvez por isso havemos de convir que, nos últimos anos, a elaboração do subject dos emails de spam tornou-se uma arte. Elliott Burford também o acha. E viu aí uma oportunidade para criar algo muito ao seu género, aplicando as tais frases que, de uma forma genial, abordam os mais incautos, a imagens que todos conhecemos sob a forma de fotos mas que ele decidiu desenhar. Elliott Burford is Spam é uma exposição (que já passou pelo espaço Fabrica, na Benetton do Chiado) mas também é um livro (ou um “acordeão” de postais) onde a ilustração assume uma outra dimensão. É a criatividade sem limites feita comunicação que, aviso aos mais sensíveis, chega mesmo a ser agressiva. Mas não o será também o spam? www.elliottburford.com
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design :: projecto
ASSOCIAÇÃO LIVRE ART IN STORE, DE JÚLIO DOLBETH E RUI VITORINO SANTOS PARA A SISLEY
Dois artistas portugueses desembarcam em Florença para uma performance de ilustração nas montras da Sisley, que teria apaixonado os Medici. Júlio Dolbeth e Rui Vitorino Santos deram rédea solta ao seu imaginário e plasmaram-no num fresco moderno e inspirado. POR MADALENA GALAMBA
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FOTOS CORTESIA SISLEY
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”E É ESTE LET IT FLOW LIBERTÁRIO O PONTO DE PARTIDA para o magistral trabalho dos dois ilustradores portuenses, Júlio Dolbeth e Rui Vitorino Santos, convidados pela Sisley para realizar uma
performance nas montras das suas centralíssimas lojas de Florença e Milão ”
em todas as lojas. Em Milão será a Semana da Moda. Debaixo de focos ardentes, rodeados pelos props da ocasião (toda a loja se vestiu de supermercado, numa encenação que prolonga a campanha de Richardson, e assim vemos, para além da “Warholiana” composta por embalagens de detergentes e outros produtos de fabrico industrial, outros elementos, como courgettes, cenouras e fruta, espalhados entre a roupa) Dolbeth e Vitorino Santos sorriem para os transeuntes, mas ao mesmo tempo parecem totalmente
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embrenhados no seu trabalho: ilustrar duas enormes
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“LET IT FLOW” É O TAGLINE da nova campanha
montras de vidro cristalino (as de Milão serão ainda
publicitária fotografada por Terry Richardson para
maiores, garantem) e ainda um painel preto, colocado
a Sisley. As imagens do irreverente Richardson
como fundo no interior da montra. É a primeira vez
(que volta a trabalhar para a marca italiana do grupo
que experimentam este suporte e o efeito – a
Benetton, depois de alguns anos de jejum) são uma
justaposição do desenho na superfície da montra ao
celebração do quotidiano, da vida que flui, da
quadro no seu interior – é maravilhoso. São duas
banalidade dos dias que correm num bairro de Nova
leituras, já que quando nos colamos à montra podemos
Iorque (ou de Nova Deli, porque no fundo é indiferente),
apreciar o que está no seu interior, e se nos afastarmos,
num supermercado, numa lavandaria ou num bar,
temos a percepção da sobreposição.
uma banalidade interrompida pelas coisas mais
Dolbeth e Vitorino Santos são admiradores confessos
insuspeitas que podem explodir a qualquer momento
de Terry Richardson por isso não foi nada complicado
(daí os salpicos de erotismo e ironia que irrompem
partirem da ideia do fotógrafo para darem rédea solta
das imagens de Richardson) se simplesmente
ao seu imaginário, numa espécie de associação livre
nos deixarmos levar... E é este “Let it flow” libertário o
de desenhos, em vez de palavras. O resto foi liberdade
ponto de partida para o magistral trabalho de dois
total. Inicialmente, tinham pensado em fazer cada
ilustradores portuenses, Júlio Dolbeth e Rui Vitorino
um uma montra, mas depois acabaram por preferir o
Santos, convidados pela Sisley para realizar uma
mano a mano criativo. Ainda bem. Assim, um narigudo
performance, intitulada Art in Store, nas montras das
de Vitorino Santos cruza-se com uma sereia de Dolbeth,
suas centralíssimas lojas de Florença e Milão.
tudo isto no meio de cenouras, courgettes, beringelas,
Munidos de marcadores Sakura (as únicas canetas
cerejas, ananases e outros víveres fresquíssimos, num
com tinta branca que é possível encontrar) e de um
carrinho de supermercado que é uma cornucópia digna
balde de gesso (uma revisitação contemporânea
de Dionísio. Apesar de não ter nenhuma tatuagem,
dos frescos renascentistas) os dois ilustradores
ultimamente Dolbeth não se cansa de lhes prestar
entregaram-se a uma Jam Session de ilustração,
homenagens na sua ilustração, como noutro
desenhando lado a lado ou um sobre o traço do outro,
momento foram os diamantes, os troncos, os pássaros
exactamente aquilo que lhes passava pela cabeça. Do
(e voltarão de novo...).
outro lado da montra, passava-se outra coisa: são
Esta performance dos portugueses (fundadores da
centenas, milhares de pessoas que passam na rua – a
galeria de ilustração e desenho Dama Aflita, no Porto,
concorrida Via Roma, em Florença —para ver as
e colaboradores do blogue Pandora Complexa, onde
previews que as marcas (grandes e pequenas) fazem
fazem um post de ilustração diário) marca o início
das suas colecções de Outono/Inverno. Em Florença, é a
de um projecto mais vasto onde a Sisley se aproxima
Pitti Uomo, um evento que reúne marcas e retalhistas.
do mundo da arte. A ligação “do fenómeno da moda,
A Sisley não precisa de fazer contactos, uma vez que
transitório por definição, à expressão artística, eterna
tem a sua própria rede de distribuição, mas obviamente
por natureza” é tendência, e os italianos não
apanha a onda e não prescinde de fazer a festa, que de
podiam ser excepção.
resto está aberta a absolutamente toda a gente, e isto
www.sisley.com
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A REVOLUÇÃO É UM SONHO
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expo :: design
A exposição Revolution 99-09
inaugura a parceria entre a experimentadesign e o IADE.
e de produto que marcaram a década. POR MADALENA GALAMBA FOTOS RICARDO POLÓNIO
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do Palácio Quintela, em Lisboa, a contemporaneidade explode com força, em 190 projectos de design gráfico
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Um olhar assumidamente autoral sobre os últimos dez anos do design português. No ambiente setecentista
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”NÃO SE ESPERE DESTA RETROSPECTIVA UM RETRATO EXAUSTIVO do design português feito na última década. A perspectiva escolhida pela equipa curatorial da EXD é assumidamente autoral. ”
Apesar da crise, Revolution vai bem sobretudo na maneira como aproveita os recursos que tem ao seu dispôr: o cenário do Palácio Quintela, que se transforma num palco de excepção para receber os seus “hóspedes inesperados”, um acervo de mais de 400 peças do melhor do design português da primeira década do século XXI.Não se espere desta retrospectiva um retrato exaustivo do design português feito na última década.
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A perspectiva escolhida pela equipa curatorial da EXD é O FÔLEGO “ANARCA” da imagem da exposição
assumidamente autoral: é o design dito “de autor”, mais
Revolution 99-09 diz muito. Porque a retrospectiva, que
exploratório e experimental, que aqui ganha
marca o início da parceria entre a experimentadesign
protagonismo. Por isso, no capítulo do design gráfico, as
(EXD) e o IADE, começa por ser uma “okupação”
agências de publicidade ficaram de fora, e a mostra
criativa do Palácio Barão de Quintela e Conde de
centra-se nos trabalhos de designers “mais
Farrobo, um edifício setecentista no coração de Lisboa
experimentalistas” fortemente ligados à indústria
que, durante um ano (até 16 de Junho de 2011) se
cultural. Em grandes cartazes, convites e brochuras,
transformará no palco de uma programação cultural
mas também nas áreas do design editorial, packaging e
“acessível e estimulante” cuja direcção curatorial está a
design de fontes, surge a força e a heterogeneidade do
cargo da Experimenta. E isso nota-se desde o momento
design gráfico português, que, fica claro, não tem nada a
em que passamos as pesadas portas do palácio para
dever ao que de melhor se faz lá fora. Na área de design
mergulhar num white cube transitório com as paredes
de produto, são de novo os “autores” - os de referência e
cobertas por algumas das melhores obras do design
as novas gerações- que preenchem as divisões do
gráfico português da última década. É um arranque
palácio: dos salões nobres no piso superior às
poderoso para uma exposição que aproveita da melhor
profundezas da cozinha (e que maravilhosa cozinha!),
maneira (e aqui nota-se a “máquina” da experimenta
as peças (a maioria únicas ou em edição limitada, mas
em acção, na preparação da próxima bienal) o seu
também algumas destinadas à produção industrial)
contexto. Com desequilíbrios (o primeiro é a fractura
encontram uma nova casa para morar (e brilhar). Outra
entre a quantidade de design gráfico e de design de
das escolhas assumidas em Revolution 99-09 é a de
produto que neste país se produz), Revolution 99-09 é,
separar com toda a nitidez possível o design de produto
como o nome indica, um sonho em evolução (é Guta
do design gráfico. O percurso expositivo está organizado
Moura Guedes que, durante a apresentação da
por autor (no site da exposição pode construir-se um
exposição, nos chama a atenção para o facto de a
itinerário alternativo, cronológico) e as duas vertentes
palavra Revolution — em inglês, ou não tivesse a EXD
abordadas nunca se encontram, são estanques. Ao
uma vocação internacional — conter em si a semente
todo, são 10 anos de “design nacional”, 190 projectos,
do sonho, “rêve” em francês, e assim somos ainda mais
420 peças e 70 designers e ateliers representados (35
internacionais). E este sonho, que se fabrica em vários
designers de produto e 35 designers gráficos) que
momentos, tipologias, materiais, atitudes, formatos,
celebram, numa feliz coincidência, os dez anos da bienal
vocabulários, acaba por ser um retrato extremamente
na cidade de Lisboa. Revolution 99-09 encerra a 4 de
vivo do design português, da sua habilidade para
Setembro com o mesmo ímpeto com que começou: um
contornar as limitações de um tecido industrial pobre,
programa especial que explora os cruzamentos entre
da sua capacidade de invenção e reinvenção (através de
design gráfico e música (quantos designers gráficos são
abordagens contemporâneas da tradição ou das
também músicos e vice-versa?).
artesanias, por exemplo, ou através da
A revolução faz-se ouvir. e
sustentabilidade), e do seu forte, e importantíssimo, “sentido de humor e do lúdico”.
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DANESE WASTE.NOT
VIDA NOVA Regenerar é a palavra de ordem do projecto Waste.Not onde a Danese Milano dá mais um passo no caminho para a sustentabilidade. POR MADALENA GALAMBA
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FOTOS CORTESIA DANESE MILANO
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A MELHOR MANEIRA de reduzir o impacte ambiental da produção industrial é simples: deixar de produzir. Mas como isso não é possível, regenere-se. É essa a ideia da Danese Milano, que com o projecto Waste.Not propõe reutilizar recursos existentes —materiais, trabalho e ideias— dando-lhes uma nova vida (e forma, e função). Não se trata aqui, em rigor, de reciclagem. São os outros “erres” da trilogia verde da sustentabilidade —o “r” de “reduzir” e o “r” de reutilizar— que aqui entram em jogo. Reduz-se porque se reaproveitam materiais, moldes, peças, técnicas, conceitos, as sobras da produção industrial, as margens das ideias que são novas ideias. Não é preciso fabricar outros. Aproveita-se o que já existe, todo o capital criativo e material que de outra forma se desperdiçaria. Reutiliza-se porque as velhas partes são reconfiguradas para formar objectos inteiramente novos. Neste processo, não se obtêm novos materiais a partir de materiais usados, o que corresponderia à reciclagem tradicional. É um processo de regeneração total, onde objectos, ou partes de objectos, são recombinados em novos objectos, e inauguram tipologias.É uma nova linguagem que emerge a partir da gramática fundadora da Danese. E não é pouco. Uma série de encontros surpreendentes (uns mais que outros, mas quando é que não é assim?) entre clássicos do design e peças contemporâneas. Aqui um candeeiro de Naoto Fukasawa despe-se da luz e transforma-se num jardim flutuante, repousando sobre uma base inesperada . Waste.Not pode até não passar de uma utopia, mas a mensagem é fortíssima. Evidencia de que forma a sustentabilidade, sobretudo a um nível micro, dos nossos quotidianos, passa muito pela
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criatividade, pela nossa capacidade de recompor. De não desperdiçar
”AS NOVAS CRIATURAS SÃO SUSTENTÁVEIS TAMBÉM NAS TIPOLOGIAS QUE ASSUMEM:
nada, porque nada se cria, nada se perde e tudo se transforma.
são microjardins, hortas domésticas,
e chegam à primeira linha. Há peças em Waste.Not que parecem
objectos que nos ajudam a viver o tempo de outra forma ou a iluminar as nossas
As novas criaturas são sustentáveis também nas tipologias que assumem ou reinventam, maioritariamente ligadas à temática verde: são microjardins, hortas domésticas, objectos que nos ajudam a viver o tempo de outra forma (a cultura slow) ou a iluminar as nossas vidas sem precisar de ligar a luz. Peças defeituosas, descontinuadas, ou segundas escolhas, que se transformariam em detritos, ganham uma nova vida funcionar melhor que outras, mas em cada uma delas pulsa a capacidade de (se) reinventar que caracteriza o ser humano. E é divertidíssimo experimentar, no encontro com estes objectos,
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uma “arqueologia” do design, procurando nestes artefactos
vidas sem precisar de ligar a luz”
contemporâneos, com vidas novas, vestígios de outras vidas.e www.danesemilano.com, www.fluxograma.com
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projecto :: arquitectura
REMODELAÇÃO EFÉMERA D O A P A R TA M E N T O 5 0 DA CITÉ RADIEUSE DE LE CORBUSIER, MARSELHA, POR RONAN & ERWAN BOUROULLEC
QUE SEJA ETERNO ENQUANTO DURE A intervenção efémera dos irmãos Bouroullec nos interiores do apartamento número 50 da Cité Radieuse de Le Corbusier, em Marselha, durará o tempo de um Verão. Um projecto onde as cores e as formas resplandecem no silêncio, concentrando a eternidade num instante luminoso. POR MADALENA GALAMBA FOTOS CORTESIA STUDIO BOUROULLEC & FLC/ADAGP PARIS D E S I G N
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A CULPA FOI DE JASPER MORRISON, que fez as apresentações. Em 2008, o designer inglês ocupou-se de um projecto efémero, que consistia em “remodelar” temporariamente, o apartamento número 50 da Cité Radieuse de Marselha, o edifício icónico, revolucionário e polémico projectado por Charles- Édouard Jeanneret, Le Corbusier, e inaugurado em Outubro de 1952 num turbilhão de polémica e incompreensão. Talvez por isso, em 2008, Morrison tenha escolhido os seus objectos mais controversos e incompreendidos (a série Crate, que reduzia o mobiliário de luxo a caixotes de madeira) para povoar a arquitectura de Corbusier. Mas voltemos às apresentações. No início de 2010, Jasper Morrison apresentou os actuais proprietários do apartamento aos irmãos Ronan e Erwan Bouroullec, a quem “passou o testemunho” para realizarem uma nova “remodelação efémera” do espaço. O desafio parece ter sido feito à medida dos Bouroullec, cujo design se sente como peixe na água contra o pano de fundo do mobiliário original, desenhado por Charlotte Perriand e Jean Prouvé. Com efeito, a cuidadosa e respeitadora intervenção de Ronan e Erwan Bouroullec é um eco do design de Perriand e Prouvé e uma vénia humilde e silenciosa ao projecto de Le Corbusier. Em 1950, numa entrevista radiofónica a Frederic Pottecher, uma espécie de visita guiada à Cité Radieuse, ainda em construção, Le Corbusier afirmou ter feito ali “uma casa para a brava gente que tem famílias e crianças” e é essa ideia de casa habitada, viva e vivida que prima também no projecto dos Bouroullec. “O apartamento 50 não é um museu, é um espaço habitado que remodelámos, pela
”O APARTAMENTO 50 NAO E UM MUSEU, E UM ESPAÇO HABITADO QUE REMODELAMOS, com a duração do Verão. Decidimos
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instalar uma série de objectos da nossa colecção que se encaixavam perfeitamente neste apartamento.”
duração do Verão”, dizem os Bouroullec, referindo-se à sua intervenção efémera que se mantém até 15 de Agosto. “Decidimos instalar uma série de objectos da nossa colecção que se encaixavam perfeitamente neste apartamento e na maneira como os seus proprietários o vivem”. Assim, escolheram a magnífica colecção Steelwood, produzida pela Magis, como núcleo da sua intervenção: uma mesa, algumas cadeiras e estantes. Depois, numa homenagem consciente ao “interesse de Le Corbusier pelas tapeçarias” , escolheram, para além do tapete Zip, uma das suas microarquitecturas têxteis, Clouds, editada pela Kvadrat, e fixaram-na na parede. E finalmente, iluminaram um espaço radioso por natureza com as suas últimas criações no campo da iluminação: os candeeiros Lampalumina (Bitossi) e Lighthouse (Established & Sons/ Venini). A isto se resume a intervenção efémera dos Bouroullec na cidade eterna (e vertical) de Le Corbusier. São golpes de bisturi com um efeito grandioso, que revelam a sensibilidade dos designers para prolongar, sem esforço, e sessenta anos depois, o espírito do projecto revolucionário do mestre.
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Inaugurada em 1952, a Cité Radieuse de Marselha foi um edifício experimental, onde Le Corbusier conseguiu pôr em prática, contra ventos e marés, ideias que o ocupavam há muito: o sonho da “cidade vertical”, que substituiria a cidade deitada do século XIX, e a aplicação do seu sistema de medida harmónica, à escala humana, o “Modulor”, desenvolvido entre 1942 e 1945. O edifício assenta sobre 36 “estacas” de betão, que criam um espaço de circulação na sua base e contribuem para aligeirar uma impressão maciça. É atravessado por ruas interiores que os seus detractores qualificaram, passando-lhes ao lado como passaram ao lado de quase tudo, de “sombrias”, é coroado por um terraço superior com uma vista deslumbrante sobre o bosque e o mar Mediterrâneo: “Há pessoas que não vêem, que não olham. Aquele que não sabe olhar não sabe viver”, disse Le Corbusier, contundente e claro, como sempre. Tamanha audácia, mesmo no contexto do pós-guerra, foi mal compreendida. Surgiram reacções de todos os lados, institucionais e populares, apelidando a cidade radiosa de “casa dos loucos” e os seus apartamentos luminosos, onde a luz penetrava a Este e a Oeste, agarrando as subtilezas do Sol de inverno e do Sol de Verão, de “favelas”. Resguardando-se na serenidade e no silêncio que procurava (a insonorização dos apartamentos também é inovadora, estudada para interromper o fluxo do som, que como a àgua, é líquido) Le Corbusier responde que tudo é claro “perfeitamente claro”. Na visita guiada ao jornalista (a transcrição integral da entrevista está online, em www.appt50lc.org) Le Corbusier deixa muito claro que o projecto foi concebido “pelo amor do homem”. Porque é o homem, em contacto com “o sol, o espaço e o verde”, que está no centro da Cité Radieuse, que pretende “restituir o homem às condições naturais”. Mas o bon sauvage de Le Corbusier vive confortavelmente: num espaço à sua medida (uma “altura íntima”, equivalente a um homem de pé com o braço esticado), com divisões compridas mas não estreitas, que enaltecem a perspectiva. À frente do seu tempo mas também inescapavelmente um homem do seu tempo, Le
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Corbusier não perdoa o seu lado “moralista”. 97
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A descrição da cozinha, que comunica com a sala, é especialmente elucidativa, toda feita à volta da mulher :“A cozinha (…) é um bar dentro de um bar. Um bar onde a dona de casa se encontra, sobre uma mesa de trabalho disposta em leque à sua volta, ou seja, em três faces, onde ela terá o seu magnífico forno, eléctrico, completamente esmagador. E depois uma mesa para preparar as carnes, as massas, tudo o que ela quiser, os seus legumes”). No conjunto, Le Corbusier descreve o espaço amorosamente: aqui é o “quarto dos miúdos” (“la chambre des gosses”) onde uma porta deslizante pintada com tinta de ardósia serve para separar duas àreas, mas também serve de quadro para estimular a criatividade: “as meninas desenharão padrões de moda, os artistas farão flores ou figuras”. Nesta casa moderna, existem espaços para “ensinar as pessoas a despirem-se” (sem desaparecer no caos, a desarrumação, as “coisas às vezes repugnantes” como diz Le Corbusier), uma abertura para o exterior, na cozinha, para receber as compras, e umas escadas “deliciosas de subir”, que levam ao quarto dos pais. Foi este paraíso que os novos proprietários do apartamento 50 quiseram manter intacto, retrocedendo ao momento anterior ao pecado original. Num processo zeloso de restauração, procuraram, sempre que possível, substituir as alterações pelos elementos originais. Ao longo dos anos, os 336 apartamentos da Cité Radieuse sofreram, naturalmente, inúmeras alterações, em nome da “modernização”. Alterações que não
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respeitaram, necessariamente, o original. No apartamento 50, os
”NO APARTAMENTO 50, OS PROPRIETÁRIOS CONSEGUIRAM
proprietários conseguiram que todos os elementos de origem fossem
que todos os elementos de origem fossem
(uma policromia em verde esmeralda, castanho, azul real, cinzentos,
conservados, restaurados ou mantidos, e os que faltaram foram recuperados. ”
“conservados, restaurados ou mantidos” e os que faltavam foram recuperados (alguns comprados a proprietários de outros apartamentos). Assim, a cozinha desenhada por Charlotte Perriand voltou ao seu aspecto original, e as cores usadas no apartamento preto, ocre claro e branco), que ritmavam a “promenade” original, foram repostas, com base em fotografias de arquivo. Um reencontro que abriu as portas para este encontro prodigioso entre os Bouroullec
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e Le Corbusier. Como exclamou o mestre a propósito da vista “Exciting. Comme disent les américains”. e www.appt50lc.org, www.bouroullec.com 98
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WILD WEST HÁ UM PEQUENO TESOURO NA COSTA DE PRATA QUE DIZ: “BEM VINDO A UM CONCEITO SUSTENTÁVEL”. E É MESMO. INOVADOR, REVOLUCIONÁRIO, ATÉ, E, PRINCIPALMENTE, BONITO. ORGULHOSAMENTE
WILD WEST MAS À BOA MANEIRA PORTUGUESA. E ESTAMOS CHEIOS DE ORGULHO. POR NUNO MIGUEL DIAS | FOTOS RICARDO POLÓNIO
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A OESTE, TUDO DE NOVO. OU NÃO. Porque é bom que muitas coisas se quedem como de há anos para cá. E na faixa costeira de Santa Cruz, mais exactamente na Praia do Seixo, este novo hotel de charme inova, mas mantém imutável tudo o que é bom. Com 10 quartinhos apenas se escreve o lugar do Areias do Seixo na hotelaria portuguesa. E cada um (com nomes tão sugestivos quanto Nha Cretcheu, Terra, Três Desejos ou Sem Hora Marcada) conta a sua história, com pormenores decorativos preciosos, desde o poema escrito na porta à varanda, em deck, sobre as dunas, passando pela lareira. Venha e deixe-se ficar de consciência tranquila. Porque o lixo orgânico serve de adubo para a horta e outras actividades agrícolas, o isolamento térmico do edifício é feito por cortiça entre paredes duplas, as coberturas ajardinadas permitem a reposição de algumas espécies características desta região e tornam o tal isolamento térmico mais eficiente, e até os autoclismos têm um circuito paralelo de águas recuperadas da chuva, utilizadas também para regas e lavagem de pavimentos. A horta orgânica, essa, “alimenta” não só o restaurante e bar O Lugar da Horta – uma nota para este lugar onde a Terra oferece, dadivosa, um mundo novo de sabores e aromas – como também a mercearia, que para além de vegetais e ervas aromáticas que nunca viram químicos, ainda disponibiliza produtos artesanais que intentam recuperar o potencial que as
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comunidades locais, afinal, nunca deixaram de ter.
VENHA E DEIXE-SE FICAR DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA. A sua estada em
A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL por trás do conceito do
nada incomodará o meio onde se insere
mexilhão e pescam à cana. Na Horta Connosco significa que
o Areias do Seixo. Ajudará, inclusivamente, a comunidade local a despertar para a sua real importância se, claro, algumas coisas ficarem como estão
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Areias do Seixo faz com que o hotel tenha um papel determinante de sensibilização junto da comunidade local, colaboradores e hóspedes. Os programas disponíveis revelamno. Com As Mãos No Mar quer dizer que os hóspedes apanham é-lhes concedido um pedaço de terra para que a possam cultivar e dar-lhe vida pelas próprias mãos. O Circuito da Compostagem leva-os à descoberta de como funciona a reutilização dos resíduos orgânicos produzidos durante a estada. Por fim, o Céu na Terra, um programa intimamente ligado ao spa do hotel (que vale, por si só, uma visita) significa muito mais.
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QUARTO SETE SENTIDOS À Porta, o poema “Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro. No interior, a celebração de quantos sentidos houver a despertar
Inclui o Toque do Seixo, uma fusão de técnicas de massagem que resultam num terapêutico e profundo relaxamento, que passa ainda pelo acesso à sauna, banho turco, piscina exterior aquecida, ritual de chá e uma recordação que perdurará na memória (esta última não está inclusa no preço). Vasco Vieira, responsável pelo genial projecto arquitectónico, ergueu o Areias do Seixo aproveitando, como fundações, as ruínas de um aviário abandonado existente no terreno. Depois foram surgindo as ideias até que tudo tivesse tomado a forma que hoje assume, orgulhosamente (e com razões para isso), contornos de pérola de bom gosto num país que sofreu, durante anos demais, o desordenamento da orla costeira. Agora, e se tomado o exemplo por outros, de futuro, sabe a
trilhos até Santa Rita, sentir o aroma dos pinheiros e, à noite, conviver em torno do Círculo de Fogo, onde todas as noites se acende uma fogueira que, geralmente, proporciona amenas e prolongadas cavaqueiras. Que não é comer cavacas das Caldas até não poder mais. Mas é uma hipótese e
O DESIGN DE INTERIORES, A CARGO DE ROSÁRIO GABRIEL, é descontraído, fluído, mas acutilante, exacto. Tudo está onde
AREIAS DO SEIXO CHARM HOTEL & RESIDENCES
devia e, no entanto, partilhamos no interior
Praceta do Atlântico – Mexilhoeira Póvoa de Penafirme
do Areias do Seixo o mesmo espaço que,
Tel.: 261.936.340 www.areiasdoseixo.com
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espaço como base para olhar o mar, caminhar por
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progresso a sério chegar aqui e usarmos este magnífico
lá fora, as dunas e o mar. 105
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culto :: blogger
TODD SELBY: PEEP SHOW Todd Selby oferece-nos em bandeja um “gostinho” das vidas dos tastemakers culturais. Artistas, músicos, escritores e modelos abrem-lhe as portas das suas casas divinais e deixam-se querer. Do outro lado do espelho, nós espreitamos pelo buraco da fechadura em theselby.com. POR MADALENA GALAMBA
Todd Selby descobriu uma brecha e abriu-a, alargou-a, até que por ela passasse uma luminosidade resplandescente, a beleza que cega. A brecha (que é um buraco de fechadura para um mundo hip) tem dois lados: o exibicionismo de uns, devidamente alimentado pelo voyeurismo de outros. São dentadinhas diminutas na vida dos ricos e famosos (e interessantes, queremos crer) que satisfazem, ao mesmo tempo ,o desejo de ser vistos dos que se deixam fotografar, e o impulso de ver dos que estão do outro lado. Só assim poderia funcionar. E é por isso que The Selby, que começou em Junho de 2008 como um fotoblogue onde Todd Selby “postava” as casas dos seus amigos com bom gosto, é um dos sites do momento, com 35 mil visitas diárias. O californiano Todd Selby é um dos bloggers mais influentes da actualidade. Mas não deixa de ser um coscuvilheiro inveterado. Foi a curiosidade que o levou a meter o nariz nas casas das pessoas, para tentar descobrir como os espaços que habitam reflectem o que são (ou querem parecer). Como fotógrafo de moda e retratista (trabalhou durante muitos anos para a Dazed & Confused e a Details) percebeu que a melhor maneira de retratar uma pessoa era mergulhá-la no seu ambiente, rodeada por objectos por ela escolhidos e que a representam. Primeiro, disparou. Depois, “postou” tudo no seu blogue. Pouco a pouco, dos amigos passou aos amigos dos amigos, e de repente tinha uma galeria online dos interiores onde se movem os criativos da cena internacional, mais ou menos conhecidos, o que importa pouco, afinal, desde que aspiremos a ser como eles. São casas, mas também ateliers (ou casas-ateliers) de escritores, músicos, designers e artistas, que posam, com um inevitável ar
blasé —de quem não quer a coisa, mas no fundo até quer— para a câmara de Selby. Para além de fazer maravilhas com a máquina (as imagens são um misto de improvisação e encenação, e oscilam entre o plano aberto e preciosidade dos pormenores) Todd Selby é um talentoso ilustrador (ele prefere chamar-se pintor) e os seus retratos a aguarela são tão translúcidos quanto a “realidade” que se dá a ver nas suas imagens. No site, é possível navegar pelas cidades (ou bairros, porque Brooklyn não é o mesmo que Manhattan), de Londres a Paris, de Milão a Tóquio, mas também pelos nomes dos criativos de luxo, e o mais certo é não nos aborrecermos com estes interiores ecléticos, profusos e coloridos. Claro que tanto flash só podia dar em livro, e aí está “The Selby is in Your Place”, uma colecção de trinta perfis (muitos deles nunca antes publicados), com fotografias das casas, retratos a aguarela dos donos das casas, e um questionário onde os retratados revelam os pormenores da sua vida semi-íntima, “as suas casas, posses e gostos pessoais”. O livro é publicado pela editora Abrams e pode ser comprado online t-shirts, sacos, e outros souvenirs de autor, feitos em colaboração com os amigos criativos). Claro que antes de chegar ao grande público, foi lançada uma edição limitada de 250 cópias numeradas e assinadas, com capa pintada à mão, vendidas em exclusivo na Colette, em Paris, onde Mr. Selby montou
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(aliás, no site também há uma área shopping onde podemos trazer um bocadinho de Selby para casa, em
www.theselby.com www.abramsbooks.co.uk
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uma pop up store com direito a montra viva. À grande, portanto.
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culto :: mĂşsica
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culto :: música
G R I Z Z LY B E A R
SECOND GO Quando o primeiro disco faz furor, o segundo traz consigo uma pílula de cianeto. Nem Veckatimest é o segundo disco da banda de Edward Droste, nem os Grizzly Bear incorreriam, avaliando pelo tsunami criativo que os caracteriza, em tal erro. Outros há...
a Factory à falência, o segundo disco separa os
qualquer. Para não ferir sensibilidades.
bons dos medianos. O ano transacto trouxe-nos,
As dos fãs, que são bem piores que as das
pois, o segundo GRANDE disco dos Grizzly Bear,
bandas. Uma banda qualquer tem dez anos de
depois de Yellow House (Horn Of Plenty e Sorry
existência. Tudo começou com uma brincadeira
For The Delay não foram editados pela WARP e,
entre amigos. Que é, provavelmente, uma das
logo, não contam). 2010 chega e tenta, o
desculpas mais ouvidas de sempre. No início, era
manhoso, desviar-nos a atenção para o
o desalinho, a inexperiência. Entretanto, a coisa
Congratulations, o segundo dos MGMT, onde
torna-se mais séria, com uma ou outra
estes já não são um bando de miúdos-prodígio-
desmarcação de ensaios porque o baterista teve
fenómeno-novidade de Brooklyn contidos no
de ir com o pai à bola ou porque a vocalista e o
primeiro Oracular Spectacular. São agora
baixista deixaram, finalmente, de contrariar
maduros músicos preocupados com a estética
ímpetos mais básicos e estão sem força nas
que ainda nem sabem se resulta em concerto.
perninhas. Até que, concert after concert, o rigor
E, quase aposto, sentaram-se horas a fio a ouvir
aparece, os ainda poucos fãs congregam-se e,
a discografia dos Belle & Sebastian. Mas é um
pouco depois, vem o convite para entrar em
pouco depois disso que os Grizzly Bear dão o seu
estúdio. É, muitas vezes, um pacto com o demo.
primeiro espectáculo em Portugal, no Coliseu dos
Com a diferença de, ao invés de ser numa
Recreios. Apontam dois micros para a plateia,
encruzilhada à meia noite, ser normalmente num
para que o eco da sala possa também fazer parte
qualquer Café Central. A haver, o sucesso que daí
do som (como nos discos) e fazem, durante uma
nasce é perigoso. Porque, sequiosas de lucro em
hora e meia, um exercício de coral e multi-
dano da livre criação, as editoras obrigam os
instrumental que eleva a folk a níveis inauditos.
meninos a repetir o feito num muito mais curto
O público, esse, deixa saudades de quando os
espaço de tempo que foram os tais dez anos de
concertos em terras lusas eram raros. Porque
refinamento. E, convenhamos, são poucos os que
parece-me que, cada vez mais, se vêem
o conseguem. Dos Stone Roses, cujo Second
espectáculos de música como quem vai ao café.
Coming manchou a aura quase mítica do
E uma banda como esta merecia, pelo menos,
homónimo, aos Coldplay, que usaram o A Rush
que se pedisse uma bagaceira velha a
Of Blood Into The Head como faca para espetar
acompanhar. Só para ficar mais morninho! e
nas costas de quem esperava outro Parachutes,
www.grizzly-bear.net
passando pelos Happy Mondays que condenaram
ttp://www.myspace.com/grizzlybear
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TOMEMOS COMO EXEMPLO uma banda
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TEXTO E FOTOS NUNO MIGUEL DIAS
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Expos ... E PROPOMOS ALGUMAS EXPOSIÇÕES QUE NÃO VAI QUERER PERDER. PEDRO CABRITA REIS
C O O R D E N A D A S S O LTA S Pedro Cabrita Reis, Uma casa e outros sítios mais, é uma exposição que se desenrola em duas galerias vizinhas e que apresenta “uma reflexão sobre o tema da impossibilidade da autobiografia enquanto expressão artística exterior”. Pedro Cabrita Reis tem realizado trabalhos que apontam uma vertente autobiográfica e, desta vez (na casa onde nasceu e que por coincidência se viria mais tarde a tornar numa galeria de arte), viaja através de inúmeros sítios por onde passou. Uma incursão para ir ver e sentir na Caroline Pagès Gallery e na Galeria Miguel Nabinho, em Lisboa, no simpático bairro de Campo de Ourique. Na capital dos E.U.A. anunciou-se uma mostra premente para o futuro. Rising Currents: Projects for New York’s Waterfront, é uma instalação que apresenta propostas desenvolvidas pelos vários arquitectos envolvidos no programa de residência elaborado pelo MoMa, em 2009, que reflecte sobre a inevitável subida do nível das águas do mar, resultante das Alterações Climáticas, na orla costeira de Nova Iorque. Modelos, desenhos e materiais de análise, RISING CURRENTS
apontam outras formas de infraestruturar o terreno, soluções ecológicas e mudanças no conceito de ocupação daquele território. Imperdível, no The Museum of Modern Art. Madrid prepara-se para a sua II Bienal Ibero-Americana de Design. Depois da estreia, em 2008, a inciativa prossegue o objectivo de a converter numa das mostras mais relevantes para a promoção do design contemporâneo com origem na América Latina, em Espanha e em Portugal. Este ano ilustra dois grandes temas: “Design para todos” e “Design para o desenvolvimento”, e inclui a exposição dos vencedores do concurso “Design contra a pobreza”, lançado pelo Ministério da Cultura de Espanha, no âmbito do Ano Europeu contra a Pobreza e a Exclusão Social. Acontece no Matadero Madrid, mas saiba mais em www.bid-dimad.org. A IV Trienal de Design de Nova Iorque decorre no Cooper-Hewitt, National Design Museum, com a exposição Why Design Now?. “Como é possível dotar o mundo com energia limpa? Como podemos mover pessoas e produtos de forma segura e eficiente? Como podem as comunidades criar ambientes sustentáveis? Como gerar riqueza e compartilhá-la? Como melhorar a qualidade de vida inovando os cuidados de saúde? Como podemos comunicar eficazmente as idéias e criatividade?” Designers de todo o mundo responderam às questões através da criação de produtos, protótipos, edifícios, paisagens e mensagens para enfrentar os novos desafios sociais e ambientais, para minimizar conflitos entre homens e ecossitema.
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■ PEDRO CABRITA REIS, UMA CASA E OUTROS SÍTIOS, Galerias Caroline Pagès e Miguel Nabinho, Rua Tenente Ferreira Durão, 12 - 1ºDto e 18B, respectivamente, em Lisboa, até 31 de Julho, www.carolinepages.com, www.miguelnabinho.com
110
■ RISING CURRENTS: PROJECTS FOR NEW YORK’S WATERFRONT, The Museum of Modern Art, Nova Iorque, até 11 de Outubro, www.moma.org
■ II BIENAL IBERO-AMERICANA DE DESIGN, Matadero Madrid, Centro de Creación Contemporánea, Madrid, de 22 a 26 de Novembro, www.mataderomadrid.com
■ NATIONAL DESIGN TRIENNIAL: WHY DESIGN NOW?, Cooper-Hewitt, National Design Museum, Nova Iorque, até 9 de Janeiro de 2011, www.cooperhewitt.org
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biblioteca pública de Seattle, a Casa da Música, no Porto, ou a embaixada da Holanda, em Berlim, Rem Koolhaas, o arquitecto e professor universitário que arrecadou o Prémio Pritzker
Mais uma edição promovida pela agência Design Hotels.com, que elege os mais belos hotéis “Design”, desta vez destacando 170 unidades localizadas, como sempre, nos quatro cantos do mundo. Uma obra ilustrada
MARION VIGNAL
Nascido no início do século XX, o design cresceu num mundo de homens, de engenheiros, de arquitectos, das indústrias. As mulheres estiveram ausentes por muito tempo do sector, mas algumas houve, porém, a desempenhar papéis fundamentais na
em 2000, surge mais uma vez na forma de livro,
com imagens apaixonantes, lugares
num documento que reúne três textos sobre a
paradisíacos, insólitas supresas, espaços
história do mobiliário e ainda mais
cidade, seguindo a linha de Nova York Delirante
verdadeiramente pensados ao pormenor.
amplamente no espaço do nosso “habitat”.
(1978), o já clássico manifesto retroactivo de
A emoção que provocam, a paixão do design,
Decorrido um século, as mulheres ocupam
Manhattan, que oferece uma visão lúcida das
as experiências que oferecem aos hóspedes
o primeiro plano nas mais diversas áreas
forças ingovernáveis que regem o espaço da
e a criatividade que nos enche e preenche os
abrangidas pelo design e é sobre esse universo
cidade contemporânea. O texto “Grandeza, ou o
sentidos, ao longo de 423 páginas
feminino que Marion Vignal nos dá conta
problema do grande” constitui uma elaboração
deslumbrantes e que merecem forte aplauso.
e testemunho. De Marianne Brandt, ícone da
teórica sobre a arquitectura, abordada a partir do
Portugal também se faz representar neste The
Bauhaus, a Zaha Hadid, passando por Andrée
problema da dimensão dos objectos na cidade;
Design Hotels Book 2010, e bem, com oito
Putman e Matali, a autora analisa, através
“A cidade genérica” reflecte sobre a importância
hotéis orgulhosamente nossos. Três na
de mais de trezentos documentos, a alma
dos grandes fenómenos vinculados ao
Madeira, dois em Lisboa, um em Cascais,
dos maiores nomes do design, desde
desenvolvimento global das sociedades
outro no Douro, e ainda outro, no Algarve.
os tempos da Arte Nova até hoje. 45€
ocidentais; e “Espaço-lixo” volta a explorar a
Um livro para guardar e folhear antes de partir.
natureza do espaço que essa mesma cidade
44€
genérica gerou. 15€
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Autor de obras de grande impacte visual, como a
EDITION 2010
FEMMES DESIGNERS UN SIÈCLE DE CRÉATIONS
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THE DESIGN HOTELS BOOK
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D E S I G N
POR ORDEM ALFABÉTICA, O ELENCO DE DESIGNERS QUE PARTICIPAM NESTE NÚMERO
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BD-SNEAK PREVIEW
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SNEAK PREVIEW
Espreitamos pelo buraco da fechadura e mostramos-lhe o design que há-de vir. E que muito pouca gente viu.
FORMAFANTASMA, AUTARCHY
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Mão na Massa Chamam-se Formafantasma, são italianos mas estudaram na Design Academy
“auto-inflinge um embargo sereno onde a natureza é pessoalmente cultivada,
Eindhoven e por lá ficaram. Andrea Trimarchi e Simone Farresin pertencem ao
colhida e processada” para providenciar alimento e fabricar instrumentos.
selecto grupo de jovens talentos do design europeu para seguir com atenção, e
Autarchy é um mergulho autoproposto no nosso lado “selvagem”, que toma forma
apesar de serem “pão fresco” (apresentaram a sua tese de mestrado, sobre o
numa colecção de jarras e candeeiros, secos ao ar ou cozidos a baixa temperatura,
artesanato/folclore Siciliano, em Julho de 2009), no seu percurso contam já com
feitos num bio-material composto por 70% de farinha, 20% de desperdícios
vários projectos consistentes. Bem consistentes, como a massa do pão que
agrícolas e 10% de calcário natural. As diferenças cromáticas entre os objectos
comemos e que está na base de alguns dos objectos que criam, geralmente à volta
também têm uma origem natural: os pigmentos são feitos a partir de vegetais,
da artesania, que reescrevem, e das ligações entre a cultura local e o global . Com
especiarias e raízes. Por vezes, pinta-se com ovo, para se conseguir um efeito
a mão na massa, os Formafantasma abraçam a causa natural e procuram
brilho (como no pão que se quer resplandecente). Por vezes, empregam-se
aproveitar todos os materiais que a natureza lhes dá (palha, farinha, vegetais)
técnicas de lacado e impermeabilização que remontam ao Renascimento.
integrando-a no projecto / processo criativo de tal forma, que tudo se aproveita.
Seja qual for a forma que assume, Autarchy é sempre uma homenagem a uma vida
Autarchy, apresentado este ano no Fuori Salone, na galeria Spazio Rossana Orlandi,
simples e descomplicada, ao quotidiano sereno, como deveria ser.
em Milão, é a extensão natural, em termos materiais e conceptuais, do projecto
WWW.FORMAFANTASMA.COM
Baked, onde utilizavam a farinha como se fosse barro para fazer recipientes. A hipótese na base de Autarchy é um cenário onde uma comunidade ficcional se
114
TO BE CONTINUED… ( NO PRÓXIMO NÚMERO DA BLUE DESIGN )
blue LINK
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