II SÉRIE N.º 01
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BIMESTRAL €3.95 PORTUGAL - CONTINENTE
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II SÉRIE - MARÇO/ABRIL 2011 WWW.BLUE.COM.PT
HORTAS URBANAS ★ O CAMPO NA CIDADE É “BIOAGRADÁVEL”
JASON MILLER Design desempoeirado Made in USA
HELLA JONGERIUS O que é que Hella tem?
TREE HOTEL Uma cabana no topo do mundo
ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA O regresso do livro-objecto
N.º 01 - II SÉRIE
QUE VALORES DEFENDE? Os nossos protegem as próximas gerações...
Venha connosco! [ Veja pág. 04 ]
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M I SS ÃO B LU E | O S N O SS O S VA LO R E S
PORQUÊ MUDAR?… Revendo-se na mudança que desponta no mundo, a Blue será mais solidária com os valores inerentes às “boas práticas”. Solidariedade, Sustentabilidade e Consciência, são algumas das palavras de ordem. Mantendo a qualidade que o mercado sempre lhe reconheceu, responderá através da sensibilização e da criação de soluções ajustadas à realidade, quer para o universo dos seus leitores, quer para as marcas que estiverem a seu lado. Juntos percorreremos esse caminho.
CONSUMO INTELIGENTE O novo paradigma do mercado assim o exige.
PRÁTICAS CONSCIENTES Por uma sociedade mais verdadeira.
SUSTENTABILIDADE Para um Mundo à escala humana.
SOLIDARIEDADE Porque não estamos sozinhos.
MÉRITO Premiar e promover quem merece.
DEFESA DO PLANETA Um bom testemunho para as próximas gerações. Os nossos filhos merecem e aí seremos intransigentes!
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…POR UMA VIDA NOVA!
II SÉRIE
II SÉRIE
II SÉRIE
MENSAL
BIMESTRAL
BIMESTRAL
New! UMA NOVA MARCA, UMA NOVA REVISTA
[ BY BLUE ]
Mais do que querer muito, do que ser grande ou mesmo enorme, é ser IMENSO. É ter vontade de mudar, de fazer, de ser, de estar, de marcar cada momento do dia-a-dia, criando à nossa volta um movimento de boas atitudes, boas práticas e maior consciência, uma corrente com uma aura positiva, generosa, universalista e aglutinadora que chegue a muitos, a todos!
Mensal IMENSO é tudo o que já se faz e tudo o que falta fazer!
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editorial :: blue design
Um passo gigante, uma pequena pegada UMA CAIXA DE SAPATOS É só uma caixa de sapatos. Mas o trabalho de redesign das embalagens da Puma, levado a cabo pelo estúdio Fuseproject, de Yves Behar, no final de 2010, mostra como um pequeno passo para o packaging pode ser um passo gigante para a humanidade. Estes sapatos foram feitos para andar, mas a caixa que os envolve, e na qual são distribuídos pelo mundo, reduz significativamente a pegada ambiental: a nova embalagem, baptizada de “Clever Little Bag”, usa menos 65% de cartão que as caixas tradicionais, e reduz 60% o consumo de energia na etapa de produção. Uma folha de cartão monta-se como um jogo de crianças, fazendo dobras (sem agrafos, sem cola, sem nada) e um saco de polipropileno, encarnado vibrante, envolve-a, dando-lhe estrutura. Mas a inteligência da “Clever Little Bag” não se esgota aqui. Ela é “clever”, sobretudo, porque o seu ciclo de vida não termina quando chegamos a casa e arrumamos os sapatos no armário. Ela é “clever” porque, em todas as etapas do projecto, foi pensada, desenhada, para ser reinventada. Porque pode ser reutilizada: as duas partes (cartão e saco de poliéster) separam-se, e temos um saco de viagem para sapatos. Ou para uma ida à mercearia. Ou para levar o jornal de domingo. Claro que isto acontece com todas as coisas que reaproveitamos nas nossas vidas. A diferença aqui é que, desde o princípio, esta caixa foi feita para isso. E funciona. Apesar do nome, a caixa de Behar não é só uma caixinha. Ela é grande porque é fina, astuta, inteligente, criativa. É “clever”. E é esta atitude, altruísta, solidária, consciente, responsável, e absolutamente criativa, que valorizamos e celebramos na blue Design. Sempre o fizemos, e basta recuar a Dieter Rams, que nos anos 80 enunciou os dez princípios do bom design, para perceber que ser “amigo do ambiente” era já uma questão em cima da mesa. Hoje, pelas razões óbvias, é ainda mais relevante. E urgente. Só que ser verde hoje não é a mesma coisa que há 30 anos. O verde, hoje, não é simplesmente bom. É bonito. Da mesma maneira que um objecto bem desenhado, honesto, claro, legível, duradouro, simplesmente não pode evitar ser belo. Com este número, inauguramos a segunda série da blue Design, que agora passa a bimestral. Vamos estar mais vezes consigo e também mais perto das coisas, pequeninas e grandes, que realmente importam nas nossas vidas. Porque o design é das pessoas
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e para as pessoas. Porque a vida está nos pormenores. Desenhe a sua vida.
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MADALENA GALAMBA mgalamba@blue.com.pt
CLEVER LITTLE BAG YVES BEHAR
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INSPIRAR
SUMÁRIO
B L U E D E S I G N 01
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W W W. B LU E . C O M . P T
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10 B R A N D N E W D E S I G N As últimas novidades das primeiras marcas.
20 A S C O I S A S D E L E S O chef Lujbomir Stanisic escolhe 8 objectos sem maneiras.
22 LIVRO: PAUL FELTON Os dez mandamentos da tipografia. E o reverso.
24 S P O T : T R E E H O T E L Uma cabana no topo do mundo.
26 P E R F I L A designer Marcela Brunken e os arquitectos do Plano B.
30 T E N D Ê N C I A : H O R T A S U R B A N A S Em Lisboa e em Berlim, a cidade veste-se de verde.
36 DESIGN GUIDE: CATARINA CARREIRAS Cidades criativas com um olhar de insider. Nova Iorque é a estreia.
42 E N T R E V I S T A : J A S O N M I L L E R A beleza das coisas imperfeitas segundo o independente do design americano.
50 DESIGN GURU: HELLA JONGERIUS
VIVER
CRIAR
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88 C U L T O : C I N E C L U B E D A M A I A A tradição cinéfila ainda é o que era.
90 S P O T : S O L E P E S C A Num lugar contemporâneo, o sabor conserva-se.
Retrato ilustrado da grande dame do design Holandês.
60 F O C O : I L U S T R A Ç Ã O N A C I O N A L
94 L I V R O S Para folhear o design.
O regresso do livro-objecto made in Portugal.
95 E X P O S I Ç Õ E S A arte que vem.
68 T H E C O I L I N G C O L L E C T I O N O estúdio Raw Edges mistura lã e silicone.
72 P E T I T H B Y H E R M È S
Procure e encontre.
98 N O T E B O O K E R I A Ilustração em agenda.
O luxo também se recicla.
76 A R T E C N I C A O design consciente e socialmente responsável da editora de Los Angeles.
84 W H A T Y O U S E E I S N O T Nem tudo o que parece é neste projecto de Fernando Brízio
86 C O L L E G I E N B R É T I L L O T As meias vestem a casa.
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para a droog design.
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PROJECTAR
96 M O R A D A S
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OFEREÇA UMA ASSINATURA BLUE DESIGN CONTACTOS PARA ASSINATURAS: Tel.: 214 142 909; Fax: 214 142 951; E-mail: assinaturas@jmtoscano.com
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Cheque à ordem de: JMTOSCANO-Comunicação e Marketing Lda Transferência Bancária: N I B 0 0 4 5 4 0 6 0 4 0 1 0 2 9 7 2 0 7 3 1 9 , da Caixa Crédito Agricola
A FORMA SEGUE A EMOÇÃO
BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237 DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORA Madalena Galamba, mgalamba@blue.com.pt DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, pantunes@blue.com.pt COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) | Nuno Miguel Dias, ndias@blue.com.pt, Gui Abreu de Lima, glima@blue.com.pt (Textos) DIRECÇÃO COMERCIAL Paulo Ferreira, pauloferreirablue@gmail.com PRÉ-IMPRESSÃO Nuno Barbosa, nbarbosa@blue.com.pt | DISTRIBUIÇÃO Logista | IMPRESSÃO União Europeia DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A. { INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS }
O seu comentário é fundamental para melhorarmos a blue Design a cada edição. Assim, criámos este e-mail para que nos possa apontar todos os defeitos que for encontrando na sua revista. Muito obrigado! qualidade@blue.com.pt
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HORTAS URBANAS TREE HOTEL PLANO B
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BRAND NEWS
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RUCHÉ, DE INGA SEMPÉ PARA A LIGNE ROSET
Segunda Volta DEPOIS DO SUCESSO da linha de sofás Ruché, a designer francesa Inga Sempé traz-nos uma sequela igualmente cativante: as camas e mesinhas de apoio que reproduzem a mesma filosofia. Uma estrutura simples de madeira de faia é coberta com uma manta levemente almofadada, e o efeito, leve e acolhedor, está criado. Nas camas, as combinações de cores (azul céu/madeira natural e cinza/encarnado) estão particularmente conseguidas. As mesas, em vários tamanhos e formatos, têm um cesto de pele na base, que pode servir para guardar tudo, de revistas a mantas, dependendo se as queremos ao lado do sofá ou da cama. Talvez o total look (sofá+cama+mesa) seja exagerado mas Ruché não deixa de ser uma colecção extremamente atractiva. E, neste caso, o sucesso comercial vem acompanhado de boas críticas.
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www.ingasempe.fr MG
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FLOWER PAPER, DE SANDRA BAUTISTA PARA A INTUNUBE
Notícias Frescas ideou este Flower Paper, um jornal ilustrado com 32 magníficas fotografias de flores solitárias. O método é fácil: escolhe-se a flor, põe-se na capa, enrola-se o jornal e põe-se num jarro. Depois é só olhar. E fruir. Hortênsias, Rosas, Margaridas ou Yoko Onos (sim, o nome existe e são verdes) à mão de semear. Não precisam de água. Estão sempre maravilhosas. Resistem ao calor. Só não têm perfume, mas inspiram, e a imaginação fará o resto. Em Lisboa, estão à venda na Fabrica Features. www.intunube.com MG
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diário. Como as notícias, estas flores (de papel) são sempre frescas. A ideia é da designer Sandra Bautista que
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FAÇA CHUVA OU FAÇA SOL, flores novas todos os dias, com a regularidade e a novidade de um jornal
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THE COPENHAGEN WHEEL PROJECT, PARA UMA FREGUESIA DE COPENHAGA
Sentido e Sustentabilidade É UMA RODA DE BICICLETA INTELIGENTE, um híbrido entre a pedalada natural e poder da electricidade. A Copenhagen Wheel acopla-se à bicicleta e vai armazenando a energia que produzimos, ao pedalar e travar, para depois a usar (em modo eléctrico) quando precisamos de um empurrãozinho. Mas não é tudo. À medida que pedalamos, a roda Copenhagen vai recolhendo
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informação sobre a nossa performance (que esforço estamos a fazer, quantas calorias estamos a
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queimar), ao mesmo tempo que os sensores incorporados captam informação sobre o ambiente: níveis de monóxido de carbono, trânsito, ruído, temperatura e níveis de humidade. Toda esta informação é reunida numa aplicação no Smart Phone, o que nos permite escolher a melhor rota e ainda partilhar a informação que vamos recolhendo com os outros ciclistas urbanos ligados. O projecto, desenvolvido pelo SENSEable City Lab do MIT, para uma freguesia de Copenhaga será lançado em Junho. http://senseable.mit.edu/copenhagenwheel/ MG
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IE TAG, YURE NARUSE E JUN INOKUMA
Construtivo PARTINDO DE UMA FORMA ARQUETIPAL e usando um material reciclado (a madeira utilizada nas obras como suporte da construção, e que, finalizado o edifício, se transforma em lixo) os japoneses Yure Naruse e Jun Inokuma criam uma paisagem doméstica com memória. A madeira, transformada em papel, é regenerada, e ao mesmo tempo retém, na forma que permanece, a história do que foi. Cada casa é um bloco de etiquetas autocolantes de papel que servem para marcar livros e documentos, mas é também a evocação do momento da construção. Assim, nada se perde, tudo se transforma, e de casa em casa, compõe-se uma cidade verde, para alinhar, como o perfil de uma povoação, em cima da secretária.
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www.narukuma.com MG
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ACADEMIA DE ARTE UNIQA, DELTA Q
Cápsula Criativa O NAMORO ENTRE as máquinas de café de cápsulas e a produção gráfica e artística está na moda, e a Delta Q não é excepção. Mas fazê-lo com tanta inspiração e arrojo já não é tão comum. Com o projecto Academia de Arte úniQa, um espaço vibrante e cheio de onda, que durante o mês de Fevereiro serviu de plataforma criativa para os jovens artistas nacionais mostrarem o seu talento, a Delta Q mostrou como o universo do café pode ser inspirador. No coração do Bairro Alto, a galeria temporária expunha as peças criadas pelos artistas da agência Who, no último Natal: alinhadas nas paredes, as máquinas Delta Q Qosmo personalizadas pelos ilustradores não deixavam ninguém indiferente. Para além da mostra Q, os visitantes do espaço podiam assistir ao vivo à customização das máquinas, levada a cabo pelos artistas da Academia, e participar no
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intenso programa de actividades, que incluía workshops de desenho, duelos de produção
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artística entre criadores (Ilustra Battles) e acções apaixonadas, como a convocada para o Dia dos Namorados, onde os casais especialmente criativos tinham carta branca para fazer uma declaração de amor pública, e gráfica. Pela Academia de Arte úniQa, entre tertúlias e intervenções gráficas (o mural, feito ao vivo, é um prodígio) passaram artistas, mas também estudantes de design, ilustração e Belas Artes à procura do lado mais criativo e estimulante do café. www.mydeltaq.com MG
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LOSANGES DE RONAN & ERWAN BOUROULLEC, PARA A NANI MARQUINA
Kilim Geométrico Losanges é único, porque a lã afegã é fiada manualmente, dando origem a combinações cromáticas “subtilmente aleatórias”. São 13 cores e um bonito perfil recortado que reproduz a forma geométrica do losango (que também vibra, em diferentes tamanhos e tons, na superfície do tapete). Os manos Bouroullec em grande forma, mais uma vez a reinterpretar um clássico, ainda que distante, e a torná-lo incrivelmente próximo. www.bouroullec.com MG
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do kilim que é uma mistura delicada entre o rústico e o fino”, explicam Ronan & Erwan Bouroullec a propósito do seu novo projecto para a marca espanhola Nani Marquina. Feito à mão no norte do Paquistão, cada tapete
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“SEMPRE NOS SENTIMOS fascinados pelos tapetes Persas tradicionais, especialmente pela técnica ancestral
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brand new :: arquitectura
A HOUSE IN LUANDA: PATIO AND PAVILLON, PARA A TRIENAL DE ARQUITECTURA DE LISBOA
A Luanda, com saudade CONCEBER uma habitação unifamiliar de construção sustentável e de baixo custo para a capital de Angola, foi o repto do concurso A House in Luanda:
Patio and Pavillon, lançado pela 2ª Trienal de Arquitectura de Lisboa, em parceria com a Trienal de Luanda. Os 30 projectos em competição foram vistos no Museu da Electricidade e o júri elegeu vencedor o projecto português da equipa coordenada por Pedro Sousa, composta pelos arquitectos Tiago Ferreira, Madalena Madureira, Tiago Coelho e Bárbara Silva. Na lógica da sustentabilidade, da execução por etapas, passíveis de realizar pelos moradores, trata-se de uma casa em taipa – sistema rudimentar de construção de paredes que consiste em comprimir a terra às camadas em moldes de madeira – com interessante planta, que lança um corredor central ligado a seis pátios e aos espaços destinados às diversas funções da casa. Fica, assim, assegurada a comunicação permanente do interior com o exterior, e a privacidade dos membros da família.
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www.trienaldelisboa.com | www.tma.pt GAL
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CERÂMICA CUMELLA, GRES PER A L’ARQUITECTURA PARA O OCEANÁRIO DE LISBOA
O canto da sereia O NOVO EDIFÍCIO que expande o Oceanário de Lisboa, projectado pelo arquitecto Pedro Campos Costa em parceria com a especialista de aquários Coutant, está a vestir-se, e a fatiota foi talhada pela Cumella. A reputada
concebida para a entrada de luz. A montagem conta com a supervisão assídua de Toni Cumella e as peças serão colocadas de forma aleatória, a pressagiar um resultado surpresa. O rigor aconteceu na produção, com critérios de proporção na cor, mas agora é o acaso que vai ditar o ritmo da desordem. Ansiosos pois, sabemos que o melhor spot para gozar a obra do galardoado Cumella é o restaurante. Vista para o Tejo, 400m2 luminosos e menus saudáveis de raiz mediterrânica. A descobrir nos últimos suspiros de Março. www.cumella.net GAL
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a três tons, num total de 4000 “escamas” opacas e 800 de gelosia, reservadas à área de fachada perfurada,
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fábrica de cerâmica catalã de Toni Cumella, foi escolhida para elaborar o revestimento, que terá a cor branca
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AS COISAS DELES
LJUBOMIR STANISIC TEXTO E FOTOGRAFIA NUNO MIGUEL DIAS
É o homem de quem todos falam. Um falatório por vezes indistinto, por causa da água na boca. Afinal, Ljubo tem a mão em duas das melhores cozinhas lisboetas, o 100 Maneiras e o homónimo Bistro. Mas há toda uma vida fora delas. É aí que entram todos estes objectos. Ljubo gosta destas coisas. Vai poder falar sobre outros assuntos que não a cozinha, onde passa a maior parte do seu tempo, e receitas que cria ou reinterpreta. Foi por isso que lhe coube a inauguração desta rubrica. Quando chegámos ao Bistro, à hora do almoço (um horário estrategicamente planeado para aproveitar a hospitalidade jugoslava, que assoma sempre na forma de um inevitável “Queres comer alguma coisa?”, shame on me), Ljubo estava numa reunião com os sócios (à mesa, claro). Mudava-se, naquele momento, uma ementa na qual eu não ousaria tocar, festejava-se a chegada de outro vinho da sua criação e experimentava-se um prato novo. Provei destes últimos e lancei-me ao trabalho. Sobre o chão de ardósia do 100 Maneiras Bistro, jaziam retalhos da vida de um Chef jugoslavo sem o qual Lisboa já não consegue viver. e
1. Bola de Basquete | Jogador desde os nove anos,
3. MOJ KUVAR | Ou “O Meu Livro de Receitas”.
6. Discos | Não conseguiria viver sem música.
passou pelas equipas Sarajevo e Partisan. Em Portugal,
É uma obra de 1825 de e sobre cozinha tradicional
Tem a “escola” dos Blues e Gospel mas, hoje, é a música
chegou a disputar, pelos Estrelas de Lisboa, um lugar
jugoslava que considera uma bíblia. Foi, provavelmente,
electrónica que o faz vibrar. O gira-discos é essencial
na Liga Inatel. Ainda hoje segue as competições mais
o livro que mais folheou na vida (embora leia tanto
em casa e considera-se, a esse nível, antiquado.
importantes e, como bom jugoslavo que é (quem não
que não vê, sequer, TV) e ainda hoje retira das gastas
se lembra do Vlad Divac ou do Drasdan Petrovic),
páginas ideias valorosas, que acabam sempre por
brilham-lhe os olhos quando relembra as derrotas
se provarem excelentes.
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inflingidas aos E.U.A. em duas olimpíadas seguidas (Los
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7. Cadeira Barcelona | Um ícone do design mundial e uma presença obrigatória em sua casa. Não há outro sofá ou similar que proporcione a mesma
4. Navalha | Ljubo não é Alentejano mas parece.
Angeles 84 e Seul 88). Por cá, costuma “bater bolas”, mas
Instrumento de trabalho, talher e fiel amiga na pesca
a impopularidade do desporto que considera rei leva
dos tempos livres, a navalha está sempre ao seu alcance.
relação conforto/beleza. 8. Piaggio Vespa | O melhor meio de transporte
a que os seus adversários sejam vexados (como o próprio
Porque nunca se sabe quando e de onde pode aparecer
do mundo, “e chega. Não escrevas mais nada”, pede-me.
cunhado, que na última partida perdeu por 30-4).
um queijo de cabra bem curado e salgado.
Mas eu tenho que referir que a preferência recai sobre
2. Os seus vinhos | Não falamos da sua selecção. São
Como deve ser, portanto.
a 150 Sprint dos anos 60 e 70. Peço desculpa, Ljubo.
mesmo os que FEZ, com a ajuda de alguns dos melhores
5. Relógio Snyper | Não é um objecto muito conhecido
9. The Man | Ljubomir Stanisic nasceu na Jugoslávia
enólogos da praça. Solar dos Lobos by Ljubomir (branco
em Portugal, mas é um instrumento de precisão
não interessa há quantos anos. Interessa, isso sim,
e tinto), o elegantíssimo Lhubinho e o novíssimo e já
de fabrico suíço que, para um correcto desempenho
há quantos anda nisto da Alta Cozinha. Há muitos.
imperdível LHU BAV (ou LHUBÃO). Aos outros, desde
da sua profissão (os tempos de forno ou cozedura a vácuo
E há quantos trocou o seu país pela Lisboa por quem
que bons, gosta de degustá-los com demora, de apreciar
podem ser quase medidos em milésimas), precisa
se enamorou? Há alguns. Foi por isso que lhe ofereceu
cada pormenor. Não concebe boa comida sem eles.
de ter ao pulso. Mas não o tira nos tempos livres.
dois dos melhores restaurantes do momento.
Um gourmand, pois.
Não que precise de ver as horas. Só porque sim...
Toda a Europa (e o Tripadvisor.com) o sabe. e
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PAUL FELTON THE TEN COMMANDMENTS OF TYPOGRAPHY | TYPE HERESY
Porque para quebrar as regras temos de as conhecer. Um guia para paginadores modernos feito bíblia do design gráfico. Para saber, precisamente, onde e como pecar da melhor maneira. E que bem que sabe. TEXTO E FOTOS NUNO MIGUEL DIAS
OS “DEZ MANDAMENTOS DA TIPOGRAFIA”
repetida consulta só se poderá levar a cabo porque
ou “Heresia na Impressão”, se virarmos o livro
convém, aos profissionais da área, lembrar que estes
horizontalmente (e numa tradução absolutamente livre
não são tempos de nos rendermos ao convencional.
que, por acaso, não existe para português) é, antes de mais, um apontamento humorístico. 80 páginas que ora
Num tempo em que se questiona (mais em Portugal do
expõem os mandamentos que comandam a mais
que em qualquer outro centro de produção de conteúdos
convencional forma de paginar o lettering, seja qual for
de valor), se o papel, como suporte, tem algum futuro,
o suporte (livros, revistas, artes gráficas em geral),
quem realmente sabe responde com publicações
ora apelam ao derrube de todas as barreiras para que
verdadeiramente inovadoras e que ultrapassam, em
se possa inovar e surpreender de uma forma mais
contemporaneidade, qualquer produção milionária
desafiadora, ou herética, dependendo da forma como
destinada ao iPad, gritando palavras de ordem que
incidimos o nosso olhar sobre o livro
suplantam modas ou tendências efémeras. Paul Felton
(ou de que lado o abrimos).
dedica, neste que é, à partida, um objecto de culto “lado” aos “mandamentos” do ordeiro alinhamento do texto em página, apelando à doutrina da legibilidade e
caracteres sobre uma página em branco. Depois, e com
às regras da correcta capitalização, entre outros e, no
o devido conhecimento de causa, perverter tudo em
final deste, que é, afinal, o início do outro, à sacrílega
nome de uma contemporaneidade que cabe a cada um
subversão dessas regras, apresentando alternativas.
de nós. No que toca ao design, afinal, tudo vale,
Suportando quaisquer argumentos contra ou a favor,
desde que envolva paixão.
Felton inclui tanto uma lista de “discípulos” cumpridores
Paul Feldon sugere, expondo dez regras como
internacionalmente reconhecidos (Eric Gill, Jan
mandamentos, que as mesmas sejam quebradas,
Tschichold e Erik Spiekermann) como “Anjos Caídos”,
ilustrando como fazê-lo, num registo humorístico que dá
os “gurus” do experimentalismo do design gráfico como
vontade de ler, partilhar e, pois, seguir religiosamente!
sejam David Carson, Jeffery Keedy, Phil Baines
Como petiz que aprendeu, na escola, a cartilha da
e Jonathan Barnbrook.
paginação de texto e, agora, qual revolucionário lutando
De entra as várias conclusões que poderão ser retiradas
contra o sistema que o agrilhoou durante décadas,
desta obra, uma soa como um mantra: “Seguir fielmente
apregoa a mudança, o autor opta por um “golpe” de
as regras é a forma mais fácil de fazer o trabalho”.
mestre: um livro que é, tanto pelo que encerra como
E, se para bom entendedor, meia palavra basta,
pelo que sugere, à primeira vista, ser, uma obra de arte
esperemos que uma frase inteira chegue para que,
gráfica ele próprio. Este livro não é um guia e a sua
no mínimo, uma revolução, esteja em curso. e
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Primeiro, aprender os cânones que “regularizam”, desde Gutenberg, a mais convencional forma de dispor os
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conseguido de forma engenhosamente criativa, um
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VIDA DE ESQUILO
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A inspiração surgiu do documentário de Jonas Selberg Augustsen, Tree Lovers, que conta a história de três homens urbanos que constroem uma casa de madeira. Um filme que reflecte sobre o significado histórico-cultural da “árvore” na vida da Humanidade. Se o projecto excitou arquitectos e designers, imagine-se o que é passar uns dias no Tree Hotel. TEXTO GUI ABREU DE LIMA | FOTOS TREE HOTEL 24
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spot :: tree hotel
UMA VILA NO TOPO DO MUNDO, um vale, um rio, um hotel. A uma hora da cidade sueca de Luleå, a pacata povoação de Harads tem casas que convidam à mais transcendente experiência. Ficam na floresta, brotam dos troncos dos pinheiros, confundem-se com eles ou destacam-se plenamente, e acolhem-nos com o seu aroma a pinho e o irresistível charme irreverente do design contemporâneo. Viver no bosque, acordar ao ritmo do seu despertar, sentir o movimento da natureza, a sua música e as suas cores, é uma estadia inspiradora, divertida e única, seja verão ou inverno. Não será para todos, mas existe, e tem um propósito de elevado valor. O já badalado Tree Hotel de Harads, nasceu para louvar um dos tesouros
THE MIRRORCUBE
mais valiosos do planeta e do país a que pertence
Na página da esquerda,
– as árvores.
o projecto do atelier Tham & Videgård Arkitekter
Todas as casas são diferentes. Do cubo de vidro
(www.tvark.se). A estrutura de alumínio com 4x4x4 metros
que reflecte a paisagem, ao quase genuíno ninho
suporta paredes de vidro que
gigante ou, em alto contraste, o futurista UBO,
reflectem a envolvente
que parece uma nave espacial acabada de aterrar,
paisagística. Acessível por pontes suspensas, evita eventuais
todas elas desafiaram a criatividade aos
colisões de aves através de cores
arquitectos que, com muita madeira e vidro q.b.,
ultravioletas transparentes
conseguiram tornar mágico este pedaço de bosque escandinavo. Foram vários os ateliers envolvidos e a eles se juntaram outros profissionais e marcas, criando sinergias de cooperação com o objectivo de tornar a actividade do sui generis hotel sustentável e a sua filosofia coerente. Os produtos da região, a comida local, a qualidade do design sueco a reforçar, nos têxteis, nas loiças, nas luzes, na tecnologia, o ambiente familiar da guest house Brittas, ponto de recepção e mesa de refeições, as actividades outdoor, a certeza de dias de paz em comunhão com a natureza, todos contribuem para esta novidade com que a Suécia mais uma vez surpreende e se destaca. Um cenário, mil méritos para aplaudir, uma cultura com contornos imperdíveis para conhecer.e www.treehotel.se
no interior dos painéis de vidro.
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design :: perfil
Marcela Brunken
INSPIRAÇÃO INFINITA A designer Marcela Brunken é o rosto e a alma da Fabrico Infinito, a concept store que se tornou um símbolo da nova movida do Príncipe Real. Para Brunken, a loja, como a vida, é um work in progress apaixonante. TEXTO: MADALENA GALAMBA FOTOGRAFIA: RICARDO POLÓNIO
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design :: perfil
“COSTUMAM DIZER-ME que não só reciclo coisas, que reciclo pessoas”, conta Marcela Brunken, a designer brasileira fundadora da Fabrico Infinito, a concept store da Rua D. Pedro V que, há três anos, maravilha os lisboetas com criações originais de artistas e designers vindos dos quatro cantos do mundo. O seu trabalho divide-se entre a vida da loja, a criação de projectos próprios, e a procura de novos talentos, que abraça, como uma madrinha quase maternal, no espaço que pôs de pé. “Procuro a criatividade, a diferença. Além do produto, muitas vezes envolvo-me com as pessoas.”, explica Brunken. “Há pessoas que têm vidas complicadas e não se apercebem do potencial que têm. Trabalho com os designers e ajudo-os a desenvolver o seu potencial. Fazem coisas belíssimas.” Para Marcela Brunken (Espírito Santo, 1968) a reciclagem é muito mais que uma tendência. Está-lhe no sangue, faz parte dela. “O lado ecológico dos objectos... é ali que eu me derreto”, confessa Brunken. A frase “o verde é bom e bonito”, parece ter sido feita para ela. “Queria fazer um espaço criativo focado na ecologia” explica Brunken, que estudou design gráfico no Rio de Janeiro antes de viajar, durante um ano, pela Europa, até se fixar em Munique. “No Brasil, fui voluntária da Greenpeace. O meu projecto de fim de curso envolvia lixo reciclado, e foi feito para eles. Já na Alemanha, fiquei vidrada com o desenvolvimento ecológico do país.” Um dos seus mais recentes projectos, um banco ainda sem nome, transforma garrafas de plástico cheias de água com gás num assento confortável e versátil. Ainda está em fase de protótipo e precisa de afinações (por exemplo, perceber como encher as garrafas de gás e até misturar pigmentos para que tenham cor), mas já tem despertado muita curiosidade. Para além dos objectos e das pessoas que estão por trás deles, Brunken recicla espaços. A Fabrico Infinito, eleita a 17ª tendência do mundo pelo site coolhunter (ao lado de computadores, gadgets, e roupa de designers), começou por ser uma casa decrépita habitada por ratazanas. Hoje, é um paraíso para quem procura inspiração ou quer introduzir uma boa dose Bernardes, as últimas criações de Jorge Moita, os headphones búzio
tem hoje e praticamente só havia antiquários. Havia o Maurício das flores
de Joana Astolfi, candeeiros vintage, peças de roupa de autor
(Em nome da Rosa) e a (charcutaria) Moy. Mais nada.”
(por exemplo em PackLight, a Pop Up Shop, de Kalaf Ângelo e Armando
Agora, é quase impossível encontrar um espaço disponível na Rua D.
Cabral, e, em breve, a colecção de Bono Voxx), e um sem fim de peças
Pedro V, citada pelo The New York Times como uma das artérias mais
únicas e memoráveis. “Eu sei que se tivesse produtos de catálogo,
trendy de Lisboa, graças ao impulso de Marcela.
de produção industrial, seria muito mais rentável”, desabafa Marcela
Na loja, Marcela Brunken encontrou o cenário perfeito para mostrar
Brunken. Felizmente para nós, não foi esse o caminho que escolheu.
as suas criações e as preciosidades que a deslumbram por esse mundo
Assim, podemos sentar-nos numa cadeira fantasma, como a Ghost of
fora. A Fabrico Infinito ficou conhecida pelas suas montras,
a Chair (design de Valentina Gonzalez Wholers) e quase flutuar,
tão surpreendentes e inesperadas quanto o seu interior (e o maravilhoso
percebendo que a verdadeira beleza está nas coisas invisíveis. e
e soalheiro jardim nas traseiras), povoado de objectos cheios de vida e de histórias. Podemos encontrar as jóias maravilhosas de Mana
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que era perfeito para o meu projecto. A rua não tinha o movimento que
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de poesia à sua volta. “Encontrei um espaço abandonado mas percebi
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Plano B arquitectura
ALTOS PLANOS São três arquitectos portugueses. Eduardo Carvalho, Francisco Freire e Luís Gama. Colheitas de 74 e 75, trazem os ventos da revolução ao século XXI, com a sua marca registada em 2002, a que chamaram Plano B arquitectura. TEXTO: GUI ABREU DE LIMA FOTOGRAFIA: PLANO B
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design :: perfil
“PLANO B” é sempre uma expressão de esperança, porque é uma
EDUARDO
alternativa. E as alternativas calham às vezes melhores que os projectos iniciais. Retórica à parte, interessa o que os jovens arquitectos andam a congeminar por esta terra. É terra mesmo, desde que o Eduardo conheceu, em 2001, numa conferência em Berlim, um senhor do Novo México que lhe sugeriu receber formação em adobe, nos Estados Unidos. Depois, foi só contagiar os condiscípulos e aproveitar o desejo de alguém muito próximo que queria uma casa “plano B”, que é o mesmo que dizer, uma edificação em que o material de excelência é a terra. Em taipa, em adobe, em todas as variantes possíveis. E até agora, inúmeros são os exemplos já erguidos aos céus, aqui e ali, para habitação ou como soluções em explorações agrícolas e industriais. Como a Casa do Garrano, em Ourém, ou os Apoios nas Salinas do Samouco, ou o coberto Colunas de Terra, na Benedita, para a Quinta Pedagógica da Barafunda, levantada em modo de workshop e com mão-de-obra voluntária. A sustentabilidade no coração?
LUIS
Sem dúvida, mas na voz dos três arquitectos, com sérios contornos de sensatez. Para eles, essa filosofia tem de ser bem entendida. Que não descarte matéria-prima de outra natureza, que não se feche num purismo enganador. Porque afinal ser ecológico e andar de carro, ser sustentável mas cobiçar o lucro, é ter dois galos no mesmo poleiro. Então, o Plano B arquitectura, o que faz, é apartar-se dessa guerra ideológica e honestamente assumir todas as possibilidades. Incorporando materiais industriais a uma estrutura o mais natural possível. O esqueleto é uma gaiola pombalina, as paredes, preenchidas de terra compactada, mas uma rampa de acesso pode ser pavimentada em alcatrão, as fachadas revestidas de membranas de plástico, e a cobertura engalanar-se de painéis fotovoltaicos... Da indústria, chegam mil opções “de uma beleza singular”, garantem.
FRANCISCO
Na prática, todos “resultam da composição de várias substâncias, por processos químicos, físicos ou outros, seja vidro, cimento, até mesmo madeira laminada ou terra estabilizada.” Importa-lhes “utilizar materiais naturais como elemento estrutural”, até porque a durabilidade é, obviamente, um valor acrescido. E enquanto sabemos que há casas de terra com 10 mil anos, estamos a ser confrontados com a incógnita da validade do betão. Para o Plano B, as casas também têm coração. E como nas pessoas,
CASA EM ARRUDA DOS VINHOS, 2008 “Utilizar madeira, terra ou palha em simultâneo com asfalto, aço ou betão, permite-nos reflectir sobre aspectos éticos, sociais, políticos e económicos da arquitectura num contexto industrializado. Porém, une-nos sobretudo o interesse pela arquitectura de
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www.alejandroaravena.com
D E S I G N
ele faz toda a diferença. Quanto mais puro, melhor. e
terra, a procura de novas soluções, a vontade de a recriar hoje”. Plano B 29
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Tendências :: agricultura urbana
FOTOS RICARDO POLÓNIO, MARCO CLAUSEN
POR GUI ABREU DE LIMA
UM DIA, AS CIDADES SERÃO ASSIM. Com espaços verdes onde crescem hortaliças, legumes, frutas, flores e ervas de cheiro. Um dia, a utopia passa à história, e os urbanos vivem livremente o amor à terra, desenhando as suas hortas, entre avenidas e ruas tortas.
HORTAS URBANAS
É CAMPO A CIDADE
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”UMA HORTA NA CIDADE É HOJE SÍMBOLO E PARTE da estratégia de defesa da Terra. Um universo onde as ‘boas práticas’ se encontram, a sustentabilidade se implanta e a consciência ecológica ganha asas.”
HORTA DO MONTE Entre a Graça e a Mouraria, com vista sobre a cidade
AS HORTAS URBANAS GANHAM CORPO
a assegurar a justa distribuição de talhões. A adesão é total
em muitos lugares do Planeta e em Portugal também.
e as pequenas hortas urbanas representam uma
Juntam gente de todas as idades, profissões, raças
contribuição preciosa à subsistência
e credos. Nacionais, estrangeiros, pessoas do bairro
de tantas famílias que viram a paz dos dias desmoronar-se
ou vindas de outras freguesias e concelhos. Adultos
com a crise e o desemprego. Mas nem todas as hortas
e crianças, reformados, saudosos de um passado rural
urbanas se fazem através da Lipor. Uma breve pesquisa
ou citadinos de gema que, entusiasmados, embarcam
na internet basta para ver exemplos similares, fruto
na aventura de cultivar a terra. Para uns é terapia, para
da vontade de cidadãos anónimos, que transformaram
outros, puro prazer. Comer o que se planta e viu crescer,
terrenos abandonados, públicos ou privados,
é um gozo desmedido. E o sabor de produtos livres
e invariavelmente depósitos de lixo, em hortas onde
de químicos e saudáveis é uma nova sensação.
crescem as mais inesperadas culturas. Investigam,
Uma horta na cidade é hoje símbolo e parte da estratégia de
procuram informação, adoptam técnicas da agricultura em
defesa da Terra. Um universo onde as boas práticas
modo biológico e até da Permacultura, procuram sementes
se encontram, a sustentabilidade se implanta
não manipuladas e autóctones, espécies regionais, fertilizam
e a consciência ecológica ganha asas. É o homem
com composto orgânico, aproveitando o lixo doméstico, e
em diálogo com a Natureza, aprendendo lições para uma
conhecem os truques para afastar pragas e doenças típicas.
vida que exige respeito pelo meio ambiente.
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Há anos que a Calçada do Monte, entre a Graça e a
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A Lisboa, Coimbra, Porto, Maia, juntam-se já outros
Mouraria, via o seu pequeno espaço verde, miradouro
municípios, através do projecto gerido pela Lipor (empresa
da cidade, repleto de dejectos caninos, entulho de obras, lixo
de gestão resíduos sólidos urbanos), a entidade que em
de toda a espécie. Até chegar um grupo de jovens que, após
articulação com as autarquias, procura disponibilizar terra
um encontro sobre hortas urbanas, no Centro Social
a quem a queira cultivar, emparcelando-a, dando formação
da Mouraria, promovido pelo Gaia - Grupo de Acção
básica para que certas regras de cultivo sejam mantidas,
e Intervenção Ambiental, e com o seu apoio inicial, lhe deu
e abrindo inscrições sob critérios simples, de forma
um fim mais digno. Nasceu a Horta do Monte, que hoje
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se vê viva e viçosa, apesar dos golpes de vandalismo
Acelgas, alfaces, espinafres, flores comestíveis, rúcula,
e maldade que sofre de quando em vez. Desde abrirem
beterraba, cenoura, canónigos, alhos, urtigas...” (?!) “São
as torneiras dos depósitos de água da chuva, a partirem
óptimas na sopa”, garante. Todos os dias, saladas e caldos
pequenas árvores, a roubarem plantas, a atirarem lixo
com aromas e sabores genuínos. “O que se vende
e a deixarem os “presentes” dos seus cães. Doloroso para
no supermercado é uma fraude.” À chegada, as pessoas têm
todos os que semanal ou diariamente vêm tratar
muito que aprender. Há os que insistem nos químicos,
das plantações e sementeiras ou colher para o jantar.
os que não podem ver uma erva daninha, ávidos de capinar
No bairro há quem olhe com muito agrado para a horta
e deixando à mercê do frio, do vento ou do sol, plantas
e há quem ache que aquilo devia ser um jardim com bancos
que estavam protegidas pela vegetação espontânea.
e flores, que hortas não é coisa de se ter numa cidade.
Os mais velhos são mais ciosos das suas parcelas,
Há os que esquecem os dias em que aquele pedaço
desconfiam dos granjeios alheios.
da Calçada do Monte não passava de lixeira a céu aberto
Mas tudo se conversa, o respeito acaba por reinar
e os que, convidados a participar, devolvem
e a amizade constrói-se. Nas idas à horta, as crianças
um olhar com novo brilho.
brincam por ali, são curiosas e aprendem por tabela. Em Julho, o piquenique foi uma festa profícua. Agora,
Uma manhã fria mas ensolarada de Janeiro, apanhei
a primavera anuncia-se e vai haver muito trabalho para
o eléctrico, apeei-me na Graça, e segui à horta, pela Rua
as culturas de verão. É o tempo de semear, boa época para
Damasceno Monteiro. Pouco depois, chegou a Inês C..
conviver, abrir mentalidades e renovar a esperança
Vive “noutra colina” mas já cá anda há três anos
de que a Horta do Monte perdure.
e é a coordenadora do grupo actual. Sim, porque os hortelãos vão saindo, vão entrando, vão-se organizando
MAIS PREVENIDOS foram os mentores de um projecto
para os trabalhos e outras acções. Há muitos jovens a fazer
em Berlim. O Jardim da Princesa é o orgulho de Kreuzberg.
Erasmus que gostam de ter aqui o seu talhão. Quando
Numa esquina devoluta da Moritzplatz, dois amigos
regressam a casa, doam a sua terrinha portuguesa a outro
aventuraram-se a erguer uma horta urbana. Foi no verão
que a estime e cultive. Inês fala-me das pessoas formidáveis
de 2009. Ano e meio volvido, entre prédios e grafitti, há
que ali se cruzam. Gente cheia de capacidade de realização,
uma autêntica tribo de agricultores de altíssima categoria,
das mais diversas profissões, interessada em fazer bem
a merecer o grau de mestres em arquitectura paisagista
e melhor, que procura seguir os métodos de uma agricultura
e certificado de sustentabilidade. Aos olhos, é uma obra
sã, que se entrega de coração, que ajuda a resolver
de arte, e o espanto da genialidade é que o éden
problemas e a trazer soluções. A água, por exemplo, é uma
de Moritzplatz é móvel. Sim, uma horta nómada que, caso
questão central nas hortas urbanas, quase sempre
o terreno onde se insere seja vendido, se transfere para outro
indisponível ou de difícil acesso. Aqui, a grande conquista,
lugar. Tudo cresce dentro de caixas, os alfobres em
além da autorização camarária para manterem o projecto,
embalagens tetra pack, as couves em sacos de polietileno.
foi poderem contar com os Bombeiros que, periodicamente,
Ver para crer, soluções de cultivo rigorosamente pensadas,
vêm encher os depósitos. Ainda assim, o futuro é uma
plantas bem nutridas e catalogadas, em que as espécies
incógnita. No papel, há uns anos, o local estava destinado
mais sensíveis às condições climatéricas extremas, do verão
a parque de estacionamento...
ou do inverno, podem ser levadas e resguardas.
Mãos à obra! No quintal, na varanda, na marquise ou num projecto comunitário, há sempre quem ajude, ensine e partilhe experiências com todo o gosto. Viaje por estes domínios fora e encante-se. - Conheça as hortas http://hortadomonte.blogspot.com e http://couvesparatodos.blogspot.com e pouse os olhos no berlinense www.prinzessinnengarten.net e no americano www.oneseedchicago.com. - Fique a saber mais em http://trumbuctu.blogspot.com, em http://cantinhoverde.blogspot.com, e informe-se sobre as hortas da Lipor em www.hortadaformiga.com. SE PRECISA DE AJUDA . contacte o http://abchortasgourmet.wordpress.com . peça ao http://jardimehorta.blogspot.com ou . consulte o http://maosahorta.wordpress.com e o http://dasementearvore.blogspot.com.
os habitantes contemporâneos da capital alemã não ´
anos. Mora rente à horta e sempre a catrapiscou. Um dia,
se coíbem de inverter a tendência. Os dois pioneiros
recebeu um mail de uma amiga que findara o Erasmus
do Prizessinengarten inspiraram dezenas de famílias
em Lisboa, e a convidava a ficar com o seu canteiro lá
das redondezas a dar alma à empreitada. Vêm tratar
da Calçada. Passou quase um ano e a lista de produtos
e colher alimentos frescos, confraternizar e relaxar,
que colheu nos seus três metros quadrados e na zona
provando que se as grandes cidades derem espaço
comum, abre o apetite. “A colheita de verão foi maravilhosa.
à Natureza, todos serão mais saudáveis e felizes. e
B L U E
Virginie D. é francesa mas vive em Portugal há mais de 15
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Se a velha Berlim industrial negligenciou os espaços verdes,
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A VIVER EM NOVA IORQUE HÁ OITO MESES, a designer Catarina Carreiras é o nosso primeiro guia para conhecer por dentro o lado criativo de algumas das cidades mais irresistíveis do mundo.
UMA FLÂNEUSE EM NOVA IORQUE
DES GN GU DE CATARINA CARREIRAS
designer Catarina Carreiras nasceu em 1985, em Lisboa. Licenciada em design de comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, é um dos talentos mais promissores do design nacional (três bolsas de mérito da Universidade de Lisboa e duas vezes finalista na categoria de Design Gráfico do concurso Jovens Criadores). A trabalhar desde 2008 na Fabrica, o centro de pesquisa em comunicação do grupo Benetton, trocou a pacata vila de Treviso, no norte da Itália, pela selva de betão de Manhattan. Ou Williamsburg, o bairro mais hip e criativo de Brooklyn (and beyond) onde vive num apartamento com vista sobre a cidade. Catarina arrasa no campo do design gráfico, mas o seu talento e energia são igualmente visíveis em projectos de design de espaços e de produto. A trabalhar no estúdio Karlssonwilker, continua a colaborar com a Fabrica, como consultora. Entre os seus projectos mais recentes, estão o design da exposição permanente, merchandising e website do Museum of Moving Image, e a colecção Ornament, para a Vista Alegre, esta última, em conjunto com Sam Baron. www.catarinacarreiras.com
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Porque é que foste para NY?
uma loja, e do facto dessa loja ter mais interesse do que
Vim, literalmente, perder-me. Depois de viver dois anos
uma rua cheia delas. Gosto de conhecer os meus
em reclusão numa vila pequenina no norte italiano, quis
vizinhos, de viver num prédio que tem só três andares,
pôr-me à prova numa escala consideravelmente maior.
da skyline de Manhattan no canto da janela.
Quis perder-me a conhecer, passear, ver, sentir, ouvir
Em Williamsburg, do meu sofá, as luzes do Empire
uma cidade tão grande — e tão pequena.
dão-me as boas noites todos os dias —
E quando tive a oportunidade de vir trabalhar com os
sou uma privilegiada.
Karlssonwilker, um estúdio que me intrigava (e muito), meti-me num avião.
Qual a tua maneira favorita de te deslocares em NY?
O que é que gostas mais na cidade?
A pé. Mesmo com um frio terrível, ou um calor agoniante,
Gosto de viver todos os dias num cliché. Das escalas
andar a pé em Nova Iorque é sempre a melhor história por
grandes e dos detalhes mínimos. Dos extremos. Gosto
contar. Tento sempre olhar à volta, ver uma vida diferente,
de não conhecer ninguém, mas de sentir que podia
descobrir uma coisa nova, todos dias. E consigo.
conhecer toda a gente. Das ruas, dos jardins, da arquitectura, do rio. Gosto do flâneur. Da juventude,
Que passeio recomendarias em NY
do passado recente, das gerações. Gosto de lhe conhecer
para estar em contacto com a natureza
segredos — quando há tanta coisa para contar.
mesmo dentro da grande urbe?
Gosto de me afogar no díspar — de pessoas, paisagens,
A High Line, em Chelsea — um projecto de arquitectura
experiências, contextos, lugares. E de poder
paisagística e design urbano exemplar.
ir do 8 ao 80 — só com um bilhete de metro no bolso.
E claro que um passeio no Central Park será sempre "um passeio no Central Park". Mas não tem de ser só a
E o que é que gostas menos?
acompanhar a carneirada típica de turistas: pode ser
Não gosto do barulho, da poluição, das filas, das esperas,
uma tarde num barco a remos, uma volta de bicicleta,
do frenesim, da demência, dos desesperados, da
um piquenique, um concerto ao ar livre, um monte e
superficialidade, dos iPhones e dos iPads na rua e à mesa,
um saca-rabos (e com a neve torna-se tudo ainda mais
e de todos os apps que te dizem o que fazer, e onde e como.
bonito, surreal). Mas para quem evita seguir o guia,
Mas, ao mesmo tempo, gosto desta falta de perfeição. Seria
também o Prospect Park, em Brooklyn, e o seu jardim
tão aborrecido apagar todas estas coisas dos meus dias.
botânico, são uma boa opção. www.thehighline.org
O que podes dizer-nos O que é que te inspira em NY?
(quase) pequena, à beira mar, a um pé de Lisboa.
Os detalhes. É uma cidade que se constrói e que
Williamsburg é isso mesmo: sentir-me em casa, à beira
se entranha em ti nos detalhes. Gosto de me inspirar no
rio, a um pé de Manhattan. E tem uma lista incrível de
que só conhece quem não veio apenas de visita. De me
histórias por descobrir. São milhares de caças ao tesouro
perder no Lower East Side, de decorar a Bleecker Street
à volta de casa — como quando era pequenina. Cada
desde Greenwich Village ao Soho. De passar a ponte de
ida ao supermercado é uma cena a la Mary Poppins:
Brooklyn e aterrar em Dumbo, a espreitar os ateliers que
uma wonderland de pessoas, restaurantes, lojas,
existem em cada esquina. De vaguear pelo Met e perder-
galerias, objectos, armazéns de segunda mão, murais
me nos seus milhares de salas. Continuar a saltar de
gráficos, mercados vintage, episódios, coisas que
museu em museu no Upper East Side e acabar a
nascem de coisas. De vidas simples, mas desenhadas,
descobrir o cheesecake do Eli Zabar no E.A.T. Ou, entrar
que se desdobram atrás das janelas grandes dos lofts
em todas as galerias de Chelsea, e acabar a lanchar no
das fábricas antigas. De uma avenida enorme só com
Ace Hotel. Inspira-me ver pessoas a passar. >>>
B L U E
Gosto muito de cidades grandes, mas venho de uma vila
D E S I G N
sobre o bairro onde vives?
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LOJA DE SEGUNDA MÃO EM WILLIAMSBURG
>>>
Tentar teimosamente conhecer todas as pequenas e grandes salas de concertos, teatros, escolas de bailado, bares de música ao vivo, parlours, e os seus programas incansáveis de concertos e espectáculos. Roubar um
”GOSTO DE UMA AVENIDA ENORME SÓ COM UMA LOJA,
Village Voice da rua e decidir instantaneamente o que
e do facto dessa loja ter mais interesse
no mapa para ter a certeza que nada me vai escapar
do que uma rua cheia delas.
www.elizabar.com
Gosto de conhecer os meus vizinhos...”
www.acehotel.com
vou fazer a seguir. Sair de casa de manhã, e só voltar à noite, quando o plano é passear sem fim. Ah, e tenho esta aspiração (que me inspira) de um dia conhecer todas as ruas de downtown, de ir fazendo ziguezagues antes de deixar Nova Iorque.
www.villagevoice.com (semanário cultural de distribuição gratuita) Hora do dia preferida em NY, e porquê? O pôr-do-sol. É dos mais bonitos que já vi. Pelas cores,
B L U E
D E S I G N
pelo sol a desaparecer nos arranha-céus, pelo que
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promete — o encerrar de tudo o que se fez de dia e a passagem para tudo o que a noite ainda oferece. Qual o teu restaurante preferido? Five Leaves, em Greenpoint. Óptimo para panquecas de ricotta num brunch e para truffle fries e sea scallops ao jantar. www.fiveleavesny.com >>>
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MUSEUM OF THE MOVING IMAGE, ASTORIA, QUEENS
HIGH LINE, CHELSEA
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guide :: design
CERÂMICA AMERICANA
FIVE LEAVES,
NO APARTAMENTO DE CATARINA CARREIRAS
WILLIAMSBURG
>>>
Café ou diner preferido?
Museu preferido?
Café Colette, em Williamsburg. Um diner versão século
Hum... tenho o coração dividido entre o MAD (Museum
XXI, onde te sentes um local, com as melhores
of Art and Design), pela curadoria surpreendente,
omeletas do mundo e, no verão, uma keylime
e o Met (Metropolitan Museum of Art), pela diversidade:
pie de chorar por mais.
uma colecção incrível de máscaras tribais da Oceânia
www.freewilliamsburg.com/listings/cafe-colette
e uma exposição do Baldessari na sala a seguir. www.madmuseum.org
Cinema preferido?
www.metmuseum.org
Museum of the Moving Image, em Astoria, Queens. O museu reabriu este mês e funciona também como
Livraria preferida?
cinemateca, com um programa de excelência, que pode
Não consigo reduzir a lista a menos de três: Strand, em
ser assistido numa das salas de cinema de arquitectura
East Village (quilómetros e quilómetros de livros novos e
surrealista, pelo dedo de Thomas Leeser.
antigos a preços reduzidos), Printed Matter, em Chelsea
www.movingimage.us
(livros de artista e fanzines) e Spoonbill and Sugartown,
B L U E
D E S I G N
em Williamsburg (la créme de la créme da literatura Loja preferida?
contemporânea e muitos livros e revistas de arte).
Kiosk, no Soho. Uma colecção de objectos tão simples
www.strandbooks.com
quanto diferentes, que se compram acompanhados por
http://printedmatter.org
uma história. http://kioskkiosk.com
www.spoonbillbooks.com
Galeria preferida? The Future Perfect, em Williamsburg e no Soho. Porque é um blogue de design ao vivo e a cores. www.thefutureperfect.com
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CRIAR
ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA
B L U E
HELLA JONGERIUS
D E S I G N
JASON MILLER
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projecto :: espaço público
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design :: entrevista
JASON MILLER
SACODE A POEIRA
Jason Miller tem tanto de santo como de pecador. Ao mesmo tempo que a imprensa o apelida de “santo padroeiro do novo design americano”, Miller continua a encarnar a figura de cavaleiro solitário. Depois de um percurso imaculado
o maverick de Brooklyn parece estar mais atinado.
ENTREVISTA MADALENA GALAMBA
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Miller decidiu oficializar a coisa. Com a Roll & Hill, empresa que edita luminárias de luxo,
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a celebrar a imperfeição, com projectos independentes na fronteira entre o design e a arte,
FOTOS MILLER STUDIO 43
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”ARRANHADOS, POEIRENTOS, PARTIDOS, REMENDADOS, OS OBJECTOS de Jason Miller estão sempre e inegavelmente vivos. E na sua imperfeição resplandescente, desempoeiram-nos a vista e a existência. ”
aquela que, para muitos, foi a melhor exposição da Experimentadesign 09, onde Miller marcou presença com os seus objectos com rasto (um deles era uma cadeira “Papyrus” dos irmãos Bouroullec, devidamente customisada com pó e dedadas). Miller encarna o “lone fighter” americano, e os objectos que faz “mostram a imperfeição como uma afirmação de vida”. Arranhados, poeirentos, partidos, remendados, os objectos de Jason Miller estão sempre e inegavelmente vivos. E na sua imperfeição resplandescente, desempoeiram-nos a vista e a existência. Nos seus arranhões carregam histórias e memórias. Tempos e discursos. Acabam quase sempre num sorriso. Mexem BEAUTIFULLY BROKEN (2004)
NAS RUAS DE BROOKLYN, onde vive, não
connosco porque, como Miller escreveu, tornam
Uma série de jarras que foram
o imaginamos a descer do cavalo e a sacudir o pó das
“o humano visível”.
botas, mas é a figura romântica do cowboy solitário
O humano, já sabemos, é imperfeito. E é nessa
que melhor define o percurso e a atitude de Jason Miller.
imperfeição que nos reconhecemos. “Revemo-nos
Não só porque o seu trabalho é, em grande medida, uma
em cada arranhão”, diz Miller, por isso, a ideia é assumir,
apropriação/reinvenção da cultura americana
em vez de esconder, essas marcas da história e do tempo,
(da natureza inóspita das paisagens do Oeste ao brilho
torná-las completamente visíveis, relevantes.
metálico de uns óculos de aviador), mas também porque
É isso que acontece em Duct Tape Chair, uma poltrona
a sua maneira de ver o mundo – e o lugar que o design
remendada que foi capa de revista. É o objecto preferido
nele ocupa – é convictamente contra a corrente.
de Miller, e encarna a sua obsessão em pôr as feridas
Sem se preocupar demasiado com o “sustainism”
a nu, tornando-as incrivelmente belas. Aqui, a fita adesiva
ou a preocupação do design se tornar sustentável
que encontramos em todas as garagens americanas
a partir de dentro, Miller apropria-se dos objectos
(na verdade é uma recriação da fita adesiva, feita de pele)
correntes, gastos, maltratados, esquecidos, de todos
é cosida ao estofo da cadeira, antes mesmo de precisar
as segundas escolhas, de todos os irremediáveis, e dá-lhes
de um remendo. É uma espécie de medalha que se
um novo fôlego. Transforma os párias em príncipes, torna
pendura na cadeira, em reconhecimento da sua (longa)
os preteridos, preferidos. Está de tal maneira convencido
vida e serviços prestados. Se a imperfeição é bela,
da beleza das coisas imperfeitas que não espera que
e humana, e real, porquê escondê-la? É a mesma atitude
os objectos se degradem para os fazer renascer. Ele
que vemos em Beautifully Broken, uma série de jarras
trabalha nas fendas, e provoca-as. Celebra o erro, o lapso,
de vidro que depois de quebradas, são recompostas,
e o descuido.
sem nenhuma ilusão quanto à restituição da sua forma
Como escreveu Hans Maier-Aichen, que comissariou
original, com as cicatrizes bem à vista. Ou em Dusty
partidas e depois reconstruídas.
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D E S I G N
Os cacos celebrados.
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design :: entrevista TINTS (2009) Mesas com estrutura de madeira e tampo de vidro colorido. Uma homenagem aos óculos de aviador “uma peça icónica do design americano”.
SECONDS (2004) As “sobras”, os restos, são glorificados nestas peças de porcelana deslocadas. “Quem disse que um pássaro inteiro é melhor que meio?”
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pergunta Miller.
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”ACHO QUE OS DESIGNERS DEVIAM PERGUNTAR-SE PORQUE FAZEM O QUE FAZEM, antes de se porem a pensar como é que vão resolver determinado problema formal”
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Tables, onde o pó que inevitavelmente se agarra às coisas se transforma numa patine luminosa, intercalada por dedadas que nos recordam que estivemos ali. É uma questão de honestidade, mas também de provocação. Jason Miller nasceu em 1971, em Nova Iorque. Estudou arte na Universidade de Indiana e na New York Academy of Art. Trabalhou como director de arte na agência de publicidade Ogilvy & Mather, foi assistente de Jeff Koons e (improvável, mas certo) designer na equipa de Karim Rashid. Sacudiu o pó e avançou. Fundou o seu estúdio em 2001 e, em 2008, criou a Roll & Hill, uma empresa que edita luminárias desenhadas pelo melhor sangue novo do design norteamericano, de Rich, Brilliant, Willing a Lindsey Adams Adelman. Em 2007, foi nomeado “best breaktrough designer” pela revista Wallpaper e eleito um dos “tastemakers” do ano pela revista Forbes. A direcção de arte da Roll & Hill (que produz dois candeeiros de Miller: Superordinate Antler Lamp, feita a partir de chifres de alce moldados em cerâmica, e o cluster Modo) é compaginada com os projectos como as novas mesas Tints, uma estrutura de madeira com um tampo de vidro (colorido: uma lâmina de plástico ensanduichada entre duas peças de vidro) que colhe inspiração nos clássicos óculos de aviador americanos. Outro elemento da cultura americana, os
de partida para o design, também. E é algo que muitas
CULTURA MATERIAL
bisontes nas pastagens do Oeste, é recuperado em Wolly
vezes não é tido em conta nas escolas de design. Acho
O candeeiro Superordinate Antler
Chair. Entre o “whatever” e o “leftover” (de pauzinhos de
que os designers deviam perguntar-se porque fazem o
gelado a peças de porcelana com imperfeições,
que fazem, antes de se porem a pensar como é que vão
recompostas assumindo o pecado original) Jason Miller
resolver determinado problema funcional.
com inscrições de grafitti retiradas das ruas de Nova Iorque, são dois exemplos do talento de Miller para revisitar a
desdramatiza a falha, glorifica-a, para nos lembrar que errar é humano, e é tão bom.
(ao lado) e a mesa I Was Here,
O que é que faz os seus projectos não serem
cultura americana em todas as suas faces.
conceptual neles...
tornar designer. Como é que este caminho
Não são objectos de arte porque lhes chamo objectos de
“alternativo” influenciou o seu trabalho?
design. Sei que parece uma resposta escorregadia, mas
Os artistas têm de se perguntar, em última análise,
acredito que é verdadeira. Há uma grande mistura entre
porque é que fazem o que fazem. Não há nenhuma razão
certas disciplinas, como a arte e o design, por exemplo.
prática para fazer arte, por isso o artista tem de inventar
Chega um momento em que temos de decidir de que lado
um motivo. Este tipo de pensamento é um óptimo ponto
queremos estar.
B L U E
Escolheu estudar arte... mas acabou por se
D E S I G N
objectos de arte? Há uma grande carga
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Design :: entrevista
”A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE. TUDO É IMPERFEITO. PODEMOS FICAR EXTREMAMENTE desiludidos com esse facto, ou abraçá-lo. Grande parte do meu trabalho procura ir ainda mais longe e celebrar a imperfeição.”
DUSTY TABLES (2006)
Muitos dos seus projectos, e até a maneira
que veste. Pode-se extrapolar e dizer que os objectos de
“É inevitável. As mesas ganham poeira.
como os comunica, parecem ser uma
design fazem muito mais do que simplesmente funcionar.
reinterpretação do imaginário americano
Eles exprimem ideias. Em muitos dos meus projectos,
fixa o desarranjo e o desalinho num
(“Americana”). É uma atitude intencional?
estou apenas a tentar ver até onde posso levar esta ideia.
objecto belo.
Parece-me que à medida que o mundo se torna mais
Na página ao lado, o lustre Modo (2009),
global, a cultura local é cada vez mais importante. Não
Há, no seu trabalho, um fascínio com a
diferentes formas e tamanhos a partir das
acredito que caminhemos para uma cultura internacional
imperfeição, os substitutos, a beleza das
peças base. Editado pela Roll & Hill.
uniformizada (seria muito triste se fosse esse o nosso
coisas partidas e que não encaixam. Quando
caminho). Por isso, tento afirmar a minha cultura no meu
é que descobriu que essa ideia do “whatever”
trabalho, torná-la reconhecível. Sou americano, e isso
era tão importante para si?
influencia a minha maneira de ver o mundo. Tento ser
A perfeição não existe. Tudo é imperfeito. Podemos ficar
honesto com esse ponto de vista.
extremamente desiludidos com este facto, ou abraçá-lo.
Porquê preocupar-se?”. Dusty Table é um dos projectos seminais de Miller, onde
um sistema versátil que permite compôr
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D E S I G N
Grande parte do meu trabalho procura ir ainda mais longe
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Outro tema que reaparece no seu trabalho
e celebrar a imperfeição. A ideia de “whatever” (o que quer
é o modo como os objectos contam uma
que seja) é muito semelhante. Tem a ver com confiança.
história, e a própria ideia de memória,
A confiança dá-nos a capacidade de estarmos bem com
pessoal e colectiva. Pode explicar como
o que quer que seja.
é que isso acontece? Os objectos de design têm uma função. É a partir deste
Qual é o papel do humor no seu trabalho?
prisma que os avaliamos. No entanto, há muitos objectos
Não há necessidade de levarmos as coisas tão à séria.
de design que têm uma importância muito maior nas
Especialmente o design. Parece-me que é bom
nossas vidas. O mobiliário é um excelente exemplo.
mantermos o sentido de humor sobre aquilo
A casa de uma pessoa diz tanto sobre ela como a roupa
que fazemos.
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design :: entrevista
O que é que espera dos objectos
lugar incrivelmente vibrante, especialmente agora
que desenha quando interagem com
que Manhattan está cada vez mais homogéneo.
as pessoas?
Brooklyn é o coração de Nova Iorque.
Simplesmente quero que as pessoas sejam felizes. Como é que um objecto as faz felizes, depende delas.
Como é que a Roll and Hill, a editora de iluminação que fundou, começou?
A sustentabilidade tornou-se parte do ADN
A minha namorada estava à espera do nosso primeiro
do “bom design”. Como é que aborda isto no
filho e decidi que era altura de começar a ganhar
seu trabalho?
algum dinheiro... Mas estava a produzir duas linhas
Procuro dar o meu melhor e não me preocupo com
de candeeiros no meu estúdio, por isso pensei que era
muito mais para além disto.
altura de expandir e comecei a editar peças de outros designers, e assim nasceu a Roll & Hill.
Foi apelidado de “Santo Padroeiro dos novos designers Americanos”.
Qual é o seu projecto favorito até agora?
O título fica-lhe bem? Concorda?
Duct Tape Chair.
Brooklyn no panorama do design americano contemporâneo? Eu diria que mais ou menos metade do design actual dos Estados Unidos vem de Brooklyn. Brooklyn é um
Um estádio. e
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E o projecto de sonho? Qual é o peso da “design scene” de
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Não sou nenhum santo...
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design :: foco
O QUE É QUE
HELLA TEM?
Uma retrospectiva em Roterdão e uma monografia definitiva, editada pela Phaidon, são dois bons
a linguagem artesanal para o seio da produção industrial. TEXTO MADALENA GALAMBA FOTOS CORTESIA JONGERIUSLAB
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Jongerius, a grande dame do design holandês que trouxe
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motivos para olharmos de perto para o trabalho de Hella
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guru :: design
Aí é que começam a perguntar: acha que isto tem uma lógica feminina?.” Hella Jongerius, que se apresenta, no seu site, como uma das mais “individuais e influentes” designers contemporâneas, desconfia dos media, não lê revistas de design e raramente dá entrevistas. Independente, portanto. Mas isso não a impede de seleccionar criteriosamente os meios com quem colabora (por exemplo, a revista daMN, a quem concedeu recentemente uma entrevista, conduzida, é bom lembrá-lo, por Jerszy Seymour, em que, curiosamente “desancava” nos media), do mesmo modo que escolhe a dedo as empresas a quem decide emprestar o seu talento. “OS DEFEITOS SÃO A MINHA PERFEIÇÃO” Hella Jongerius (n. 1963) formou-se na Design Academy de Eindhoven, em 1993. Durante os anos 90, apanhou a onda da Droog Design, o que lhe traria grande notoriedade, mas acabou por seguir o seu caminho, desligando-se do movimento no ano 2000, para se entregar ao seu próprio estúdio, Jongeriuslab, dividido entre Roterdão © LOUISE BILLGERT
e Berlim (desde 2008). A partir daí foi sempre a subir. A colaboração com a Vitra deu asas industriais às suas
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criações (o Polder Sofa, uma peça que contém vários tipos
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À PRIMEIRA VISTA, os objectos desenhados por Hella
de materiais e texturas, nuances de cor, botões retro
Jongerius são estranhos. Levemente toscos, sim, talvez
e almofadas de tamanhos desiguais, foi a primeira peça
inacabados, muitas vezes femininos (a palavra horripila-a,
de mobiliário de Jongerius produzida industrialmente,
é sabido), delicados e deliciosamente defeituosos,
embora tudo no sofá grite “feito à mão”). Para empresas
seguramente inadaptados num mundo de linhas direitas.
como a Maharam e a Royal Tichelaar Makkum,
Mas um olhar mais atento, e sobretudo o contacto com estes
desenvolveu projectos únicos que foram fundamentais para
pequenos párias da produção industrial, e a história é outra.
varrer definitivamente (e respectivamente) os têxteis
De repente, parecem-nos perfeitos. Hella pode não desenhar
e a cerâmica das margens do design.
a regra e esquadro, mas acaba sempre por escrever direito
Com a mesma desenvoltura com que remistura o low tech
por linhas tortas.
e o high tech, Hella subverte a lógica de produção de massas
Estes objectos revelam uma sensibilidade invulgar. As suas
introduzindo pormenores aparentemente desajustados
falhas são a sua força. Muita segurança também. Hella
(porque oriundos da produção, do saber e da cultura
Jongerius chama-lhe “intuição”, a capacidade inata de
artesanais) neste contexto standardizado. É o que acontece
distinguir o que é bom (e bonito) do que não passará nunca
quando na superfície dos pufes Boivist (2005), produzidos
de desinteressante.
pela Vitra, aparecem bordados que contêm referências
Se a intuição é classicamente feminina, a designer
a um quadro de Johannes Vermeer, que representa,
holandesa mostra as suas garras quando tentam reduzir
justamente, uma menina a fazer renda. Ou quando
o seu trabalho a uma questão de género, e foge dos rótulos
o serviço de porcelana B-Set (1997, reedição 2006),
como o diabo da cruz. “Quando trabalho com têxteis
da Royal Tichelaar Makkum, introduz pequenas variações,
ou cerâmica, as pessoas nunca me perguntam se o trabalho
pois cada peça é ligeiramente distorcida, pelas altas
tem um toque feminino.“, disse numa entrevista à revista
temperaturas a que é cozida, tornando-se ao mesmo tempo
ICON. “Isso só acontece quando desenho mobiliário.
“igual” a todas as outras e “única”. B-Set foi um dos
>>>
© GERRIT SCHREURS FOTOGRAFIE
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300 COLOURED VASES
© LOTTE STEKELENBURG
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HELLA JONGERIUS: MISFIT A exposição monográfica no museu Boijmans de Roterdão é a primeira grande retrospectiva de Hella Jongerius na Holanda.
“COM A MESMA DESENVOLTURA COM QUE REMISTURA o low tech e o high tech, Hella subverte a lógica de produção de massas introduzindo pormenores aparentemente desajustados (porque oriundos da produção, do saber e da cultura artesanais) neste contexto standardizado.”
ANIMAL BOWL
TRIBUTE TO CAMPER
LAYER, MAHARAM
POLDER SOFA, VITRA
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design :: guru
>>>
primeiros projectos de Hella a inserir a individualidade
de produção – e obtidos a partir de cádmio (encarnado), ferro
na produção em série. Com estes e outros exemplos, Hella
(castanho), cobalto (azul) , etc. – combinada com cores “fast
resolve o dilema do Modernismo: é possível produzir
food” actualmente usadas na indústria. Jongerius chama-lhe
objectos em massa sem os esvaziar da sua identidade
“pointillisme sobre porcelana” e o resultado é deslumbrante:
(ou humanidade). Na monografia editada pela Phaidon,
ao justapor e misturar pigmentos, e experimentar com
numa das conversas hipotéticas com a escritora e comissária
diferentes temperaturas de cocção, aparecem novas cores,
holandesa Louise Schouwenberg (que Hella conhece desde
policromáticas e irrepetíveis. As cores “mudam” dependendo
1997, e sobre quem diz “Eu trato do design, tu tratas das
da hora do dia, e da incidência da luz. A designer que trouxe
palavras”), Jongerius confessa a sua “dívida” para com
as artesanias para o seio da produção industrial,
o movimento Memphis. “Eles inauguraram um sentimento
antecipando o movimento glocal que hoje é central
de liberdade.” E acrescenta: “A função do design assumiu
no design contemporâneo, está agora a experimentar
um conteúdo completamente diferente. Não podes conceber
de novo, imbuindo a tradição com as descobertas
a função unicamente em termos de conforto ou uso.
tecnológicas mais recentes. Não é um olhar nostálgico.
Às vezes a questão está – paradoxalmente –
A ideia é reinventar a tradição, recompondo as memórias
na não-funcionalidade, na medida em que os produtos
num quadro inteiramente novo e individual.
apelam, acima de tudo, à nossa imaginação.”. A BELEZA DO ERRO. O modus operandi de Jongerius dramático que se tornou imagem de marca da designer para
a partir daquilo que já conhecemos.
perceber que a cor não é um simples acessório na sua visão
De misturar o inesperado. De dar sentido, todo o sentido,
do mundo. Hella Jongerius foi pioneira numa nova
ao contraditório. O artesanato com o industrial, o velho com
percepção do papel da cor no mundo do design e hoje
o novo, o polido com o rugoso, o impoluto com o defeituoso.
é consultora da Vitra neste domínio. A cor já não é um
A crítica de design Alice Rawsthorn, que assina um dos
odiado apêndice decorativo que se acrescenta ao objecto.
ensaios publicados na nova monografia dedicada
A cor faz parte do projecto, é uma variável ao mesmo nível
a Jongerius, chama-lhe “o factor humano”, ou a capacidade
que a forma e a função. A cor é estrutural, e geralmente não
inata e intuitiva que Hella tem de conciliar o ideal Modernista
vem sozinha. Não é perfeita. Claro que mais uma vez
da uniformização (para todos), com a individualidade
Jongerius foge do esperado. A ideia não é compilar um
(e a imperfeição). Aquilo que é comum a todo o trabalho
manual de cor anunciando quais serão as tendências
de Jongerius (seja um produto industrial disfarçado
cromáticas para o ano seguinte, como fazem os estilistas
de “artesanato”, como nos sapatos para a Camper, ou uma
deste mundo. A ideia é investigar, compôr, ousar, sobrepôr.
edição limitada onde o valor da mão é claramente
O objectivo não é homogeneizar o mundo pintando-o de um
assumido) é a sua assinatura. A marca da mão, a celebração
só tom (ou de uma paleta mais ou menos reduzida de tons
da individualidade. À volta das texturas, dos materiais,
que são tendência), mas fazê-lo explodir em combinações
das cores. Nos esmaltes quebrados, nos fios de algodão
e nuances audazes e incrivelmente belas. Criar escolhas.
que se desprendem de miniaturas de porcelana.
É isso que acontece no programa interactivo Colour Lab,
Está o designer, o artesão, e estamos todos.
desenvolvido para a Vitra, onde as pessoas podem pesquisar
É porque assume que o design, como o erro, é humano,
as cores que melhor combinam com os produtos
que Hella Jongerius é capaz de criar objectos tão formosos
da colecção. Mas a investigação à volta da cor aplica-se
e familiares. Serão estranhos, idiossincráticos, heterodoxos,
ao próprio trabalho de Jongerius. Para a retrospectiva
em queda e em falha. Irregulares e imperfeitos.
no Museu Boijmans Van Beuningen de Roterdão, criou uma
Belos e frágeis. Objectos como nós. e
instalação, 300 Coloured Vases, onde as jarras desenhadas para a Royal Tichelaar Makkum (o mais antigo fabricante de cerâmica da Holanda) são esmaltadas a partir de uma
www.jongeriuslab.com
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é extremamente feminino: trata-se de combinar e fazer novo
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O PAPEL DA COR. Basta olhar para o batom vermelho
camada de pigmentos ancestrais, retirados do processo 57
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Hella Jongerius: Misfit Phaidon Press Fevereiro 2011, 39,95€
Hella Jongerius: Misfit Este livro não é para tablets, mas pode ser para todos. Publicado em Fevereiro de 2011, e coincidindo com a primeira retrospectiva de Hella Jongerius na Holanda (a exposição no Museum Boijmans van Beuningen de Roterdão), Hella Jongerius: Misfit (Phaidon Press) é uma monografia exaustiva do trabalho da designer. O livro é uma beleza (desta vez, redondamente acabada) e uma delícia. A começar pela capa (mole, e agradece-se), onde podemos completar o Red White Vase de Jongerius colando-lhe uma etiqueta translúcida que resulta numa combinação cromática única (à semelhança do que a designer fez em 300 Coloured Vases). O deleite prolonga-se no interior, onde temos acesso a toda a obra relevante de Jongerius organizada cromaticamente: viajamos (deslizamos, flutuamos) da candura dos brancos iniciais à frescura dos verdes e amarelos, passando por todas as nuances dos vermelhos, para fechar de novo o círculo (o espectro) com mais objectos pintados de si. A lombada, de onde pende um fio que parece ter sido toscamente cosido à mão, oferece uma ilusão de artesania que nos remete para o trabalho de Hella. As fotografias são de pasmar: estão lá as partes e o todo, os pormenores e o caos. E depois, os textos: o fio condutor são as entrevistas imaginadas com Louise Shouwenberg, o alter ego narrativo de Jongerius, que espreitam por entre os ensaios fotográficos, e estão povoadas de reflexões e desabafos inteligentes e envolventes. Duas grandes senhoras da crítica e curadoria do design, Alice Rawsthorn e Paola Antonelli, versam sobre a figura e a obra de Hella Jongerius, com perspectivas luminosas e claras sobre o seu lugar na história do design. Se Rawsthorn destaca o factor humano do design de Hella (que aponta como uma corrente alternativa ao design sustentável, para digerir o Modernismo no contexto pós-moderno), Antonelli realça a imperfeição que o caracteriza e nos faz pasmar. Visual e táctil, o livro é poesia impressa sem palavras. Inspiração instantânea para designers e não só, devia ser obrigatório nas escolas. Um livro para percorrer, folhear e mastigar. Um objecto, como poucos, para contemplar.
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LONG NECK E GROOVE BOTTLES
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NOVÍSSIMA ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA Já lá vai o tempo em que o panorama editorial português era feito, essencialmente, de conteúdo. As capas, essas, faziam qualquer banca livreira parecer um alfarrabista. Agora, porém, há sangue novo. E nunca mais um livro em português vai ser o objecto que era antes. TEXTO NUNO MIGUEL DIAS
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Design :: spot
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ATÉ HÁ BEM POUCO TEMPO, o amor pelo livro
vontade de renovar o segmento dos livros infantis
como objecto só era possível, em Portugal, e na maioria
e juvenis e acabou por agitar, da melhor forma,
dos casos, depois de o ler. Por um lado, não deixa de ser
o panorama editorial português. As obras são criadas
interessante que assim fosse. Que a atracção exercida
de raiz por uma equipa de criativos (os textos saem,
por determinada obra se devesse ao seu conteúdo.
na sua maioria, da cabeça de de Isabel Minhós Martins)
Mas é demasiado erudito. E contraria a lógica que
e designers (Madalena Matoso, Bernardo Carvalho
estava por trás do livro-objecto aquando da sua criação,
e Yara Kono) e o resultado são objectos de puro design,
mesmo que a sua importância como livro-conteúdo
com ilustrações verdadeiramente originais, textos
fosse um dado adquirido.
exímios e materiais de topo. Cada livro da Planeta
Da primeira bíblia à era Gutenberg, o livro foi sempre
Tangerina desperta os mais novos mas apaixona
algo do qual a beleza era indissociável. Iluminuras
os pais. Madalena Matoso, lisboeta da colheita de 74,
de valor incalculável, caracteres cuidadosamente
lembra-se do dia em que a ilustração entrou, como
elaborados pelos melhores calígrafos, capas de couro
objectivo, na sua vida: Uma exposição no Palácio Foz
com bordados a folha de ouro, encadernações
que vinha de itália, com ilustradores de todo o mundo.
milionárias a proteger conteúdos que influenciariam
Antes disso, “O Leão e o Ratinho”, ilustrado por Brian
(ou não) a Humanidade no seu rumo. Livros traduzidos
Wildsmith, os livros da Sophia de Mello Breyner ou “Puff
em quase todas as línguas do mundo, obras
e os seus amigos”, faziam parte do seu imaginário.
propositadamente omitidas do conhecimento
Estudou Design de Comunicação e Design Gráfico
dos homens, conhecimentos herméticos, declarações
Editorial mas, antes de concluir a licenciatura ou
de amor, decretos de ódio, odes a Mephisto. Quase
a pós-graduação, já havia publicado dois livros de
invariavelmente, o livro era uma obra de arte que se foi
imagens. Quase todas as obras que fez pelo Planeta
degradando proporcionalmente às suas reedições, até
Tangerina (que também é obra sua) receberam prémios
chegar ao tempo em que as editoras dão a escolher:
ou menções especiais. Não admira, quando tem
Capa mole ou brochada? Como quem pergunta “livro-
objectivos bem traçados naquilo que faz: “Gosto
conteúdo” ou “livro-obra”. Não obstante, e à medida
de experimentar coisas diferentes, andar por territórios
que o progresso acomete como o martelo de Thor,
novos, mas procuro deixar espaços em branco para
com os e-books a serem lidos no iPad, irrompe também
que cada pessoa os possa completar. Para além disso,
o saudosismo, a nostalgia de manusear, com o amor,
o texto e a imagem devem complementar-se para contar
um livro. Um acto que encerra, em si, beleza.
uma história. Podem viver separados, mas que sejam
Atire a primeira pedra (expressão que vem,
muito felizes juntos. E se cada livro for como um
precisamente, num dos mais antigos livros-conteúdo-
caminho que acaba numa bifurcação (para mim e para
obra) quem não se recorda de quão solene era, em
os leitores), a viagem não acaba.”
criança, o acto de folhear um livro da Anita, do Petzi
Bernardo Carvalho, 37 anos, também nasceu em
ou o “Nungu e a Senhora Hipopótamo” da incontornável
Lisboa, também estudou Design de Comunicação
ilustradora infantil Babette Cole. Pois bem: E se o livro
(e Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes)
ilustrado, comummente associado à literatura infanto-
e também fundou o atelier e a editora Planeta
-juvenil, estivesse a ser injustiçado e passasse a ser, tal
Tangerina, pela mão da qual já recebeu vários prémios
como aconteceu com a banda desenhada, avidamente
nacionais e internacionais. Pela editora Caminho,
consumido por graúdos com muito bom gosto e poucos
ilustrou textos de Richard Zimler (“Dança Quando
complexos? É um pouco o que aconteceu com o Planeta
Chegares ao Fim”). O seu estilo é inconfundível
Tangerina, a vanguardista editora portuguesa (mas
(“As Duas Estradas” é uma obra incrível) mas isso não
também um atelier especializado em comunicação para
admira, quando diz que se lembra perfeitamente de ter
crianças e jovens) que, no ano passado, venceu
“despertado” para a ilustração aos quatro meses
o Prémio de Editora Revelação, na categoria Prémios
de gestação. Já nascido, foi influenciado pela BD
de Edição Ler/Booktailors. Arrancou em 1999, com
e, particularmente, pelo “Eternus 9”, do Vítor Mesquita
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TINTA DA CHINA, ANTÍPODAS DO HABITUAL Um dos muitos exemplos do já invejável portfólio de uma ainda jovem editora. Sob a direcção de arte de Vera Tavares, a Tinta da China marca a diferença
A MANTA - UMA HISTÓRIA AOS QUADRADINHOS (DE TECIDO) As ilustrações são de Yara Kono, o texto de Isabel Minhós Martins. Não é banda desenhada, mas cada quadradinho (de tecido) conta uma história.
“TROCOSCÓPIO”, DO PLANETA TANGERINA É o terceiro volume da Trilogia "Histórias Paralelas", a ideia é do João, da Isabel, do Bernardo e da Madalena e as ilustrações do Bernardo Carvalho
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design :: spot
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”YARA KONO, ILUSTRADORA DO PLANETA TANGERINA, (um “must” da adolescência dos trintões de hoje). Não crê que o Planeta Tangerina tenha criado um estilo, apenas que “Experimenta e arrisca contar histórias de maneira diferente.” Yara Kono é a exótica desta história. Paulista de gema, começou por desenhar, em tenra idade, nas paredes da sala. Daí passou para o papel e do papel para
começou por rabiscar nas paredes da casa. A diferença é que a mãe encorajou-a, ao invés do que acontece na maior parte das vezes. Daí passou para o papel e do papel para o computador.
o computador. Surpreendentemente, a formação em Farmácia-Bioquímica (pela Universidade Paulista —
assume um papel determinante. “Parte da mobília” desde
UNESP) foi a sua primeira opção, antes de ingressar
a criação da editora, passou ainda antes por uma agência
no curso de Design e Comunicação na Escola
de publicidade, depois de terminado o curso de desenho
Panamericana de Arte, no fim do qual partiu para
do Ar.co. e até chegar ao ponto em que a Tinta da China foi
o Japão, como bolseira no Centro de Design
a vencedora nas categorias de Melhor Design de Não-
de Yamanashi. Faz, desde 2004, parte da equipa do
Ficção (“Uma Ideia da Índia”, Alberto Morávia) e Melhor
Planeta Tangerina, como ilustradora e designer gráfica.
Design de Gastronomia (“Receitas Go Natural”), dos
Da infância recorda (além dos sarrabiscos na parede, que
prémios Edição Ler/Booktailors de 2009, e conta, para
fazem mais parte da memória da mãe) uma coleção de
a edição de 2010, com um total de oito obras candidatas.
contos tradicionais japoneses (entre eles o Momotaro e o Kaguyahime) que havia lá por casa
Agora, para algo completamente diferente. A primeira
e, hoje, sorri ao observar que o albúm ilustrado vem
edição de “O Novo Guia de Conversação em Portuguez
ganhando terreno, a crescer e a dar bons frutos
e Inglez, em Duas Partes”, foi originalmente publicado em
no panorama editorial, para a qual o Planeta Tangerina,
Paris, no ano de 1855. Bastaram 30 anos para a sua
ousando, contribuiu.
consagração nos países de língua inglesa, data desde
a aparência das montras dos livreiros portugueses (e
e Pedro Carolino, careciam do conhecimento da língua
elevou o nível literários das obras traduzidas para a língua
inglesa a um tal nível que transformaram expressões
portuguesa), foi a Tinta da China. Criada em 2005, conta já
do vocabulário português em perfeitos absurdos
com um número considerável de lançamentos,
gramaticais e semânticos. Ainda para mais, supostamente
de incontornáveis obras da literatura universal (de autores
auxiliados por uma introdução à fonética onde o rigor
como Voltaire, Ernesto “Che” Guevara, Washington Irving,
é nulo. O sentido original chega a perder-se
Rudyard Kipling, Edgar Allan Poe ou Mark Twain),
irremediavelmente, mas em prol de alguns momentos
novíssimos autores portugueses (Fernanda Câncio,
de pura boa disposição do leitor. A University of Califórnia
Alexandra Lucas Coelho e Rui Tavares) e, claro, a colecção
disponibiliza o download do texto integral no Google
Literatura de Humor, de Ricardo Araújo Pereira. Inseridos
Books, mas a Atlas Projectos editou uma re-impressão
nesta última, “Os Cadernos de Pickwick”, de Charles
verbatim e literatim, com uma encadernação exímia e que
Dickens, “Jacques, o Fatalista, e o seu amo”,
apetece, do original. O mesmo pode ser encomendado
de Denis Diderot e “Wit, Ensaios Humorísticos”, de Robert
pelo site e o preço é de €18. Porque há coisas que todos
Benchley, contam com capas que sobressaem daquilo
deveríamos ter na biblioteca. E cada vez é mais difícil
que pode ser considerada a “corrente” das capas das
escolher entre tantas coisas que apetecem. Graças a uma
editoras portuguesas. E é disso que aqui se fala, de gente
nova geração de editores que delegam, nos seus designers,
que vai “contra a corrente” (alusão óbvia à desde sempre
uma grande parte da responsabilidade nas criações. e
refractária Antígona — obrigado, Sr. Luís Oliveira), que agitam, que inovam arriscando. No caso da Tinta da China, a Direcção de Arte, na pessoa de Vera Tavares,
www.planetatangerina.com | www.tintadachina.pt www.atlasprojectos.net
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como livro humorístico. É que os autores, José da Fonseca
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a qual se tem mantido sempre em notável circulação, mas OUTRA EDITORA QUE “REFRESCOU”
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PROJECTAR
WHAT YOU SEE IS NOT PETIT H
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DESIGN WITH CONSCIENCE
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RAW EDGES
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THE COILING COLLECTION, DE YAEL MER & SHAY ALKALAY, RAW EDGES, PARA A FAT GALERIE
ENCARACOLADO Para a Fat Galerie, em Paris, os Raw Edges criaram uma colecção de objectos em feltro 100% lã, cobertos de silicone. Em The Coiling Collection, uma longa banda de feltro, plana, transforma-se em estrutura. TEXTO MADALENA GALAMBA
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FOTOS RAW EDGES
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design :: projecto
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(um pedestal ou uma prancha). Depois de enrolado, o feltro é pincelado com silicone colorido, mas apenas de um dos lados. A fibra absorve o silicone e endurece. Assim, obtém-se um material híbrido: com a rigidez necessária para fixar a estrutura, e a suavidade dócil da lã. Os designers explicam que, para chegar a este material, se inspiraram nos materiais compostos: por exemplo, a palha que funciona como aditivo para endurecer e dar estrutura aos tijolos de barro (adobe). The Coiling Collection, uma colecção de 7 objectos autoproduzidos pelos designers em edição limitada, é um projecto atraente e suficientemente “responsável” (emprega um material 100% natural, a lã) para agradar a muita gente. Representa mais um passo, seguro e original, no caminho para transformar uma matéria plana (uma fibra, uma folha de papel) num objecto tridimensional, onde a matéria é a própria estrutura. E é vibrante: nas cores e nas formas que tendem naturalmente para o orgânico. Desde que concluíram a sua formação no prestigiado Royal College of Art de Londres, os designers israelitas, vencedores do prémio Designer of the Future da design Miami/Basel em 2009, não têm parado de surpreender com as suas criações. Em 2007, fundaram o seu próprio estúdio, que baptizaram de Raw Edges, e em 2008 já tinham editado, com a Established & Sons, um dos incontornáveis hits do ano: a estante com gavetas Stack, uma entrada directa (para continuar com a metáfora musical) para a colecção do MoMA de Nova Iorque e do Design Museum de Londres. Também em 2008, a elegante e inteligente cómoda Pivot (editada pela Arco) venceu um Dutch Design
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Award, Wallpaper Design Award e um Elle Decor YAEL MER E SHAY ALKALAY, dupla no design
International Design Award, na categoria de melhor
e na vida, acabam de ver nascer o seu maior projecto.
peça de mobiliário do ano. Na realidade, os Raw Edges
The Coiling Collection, a série de objectos para interiores
não são apenas capazes de passar das duas às três
de feltro e silicone que criaram para a Fat Galerie, em
dimensões num abrir e fechar de olhos, usando
Paris, podia até ser um bom candidato a momento auge
materiais à partida planos (o papel, os têxteis). Também
do ano. Mas não é o vencedor. Yael e Shay acabam de
conseguem que os seus projectos mais experimentais,
ser pais: o primeiro filho do casal nasceu poucos dias
destinados, em princípio, ao circuito restrito das edições
depois da inauguração da exposição e naturalmente
limitadas em autoprodução, dêem o salto e se adaptem
eclipsou tudo o resto.
à produção industrial (como é o caso dos bancos
Ainda assim, continua a não ser fácil passar ao lado
Tailored Stool, originalmente em papel, e editados pela
desta colecção onde as cores, os materiais e as formas se
Cappellini, com o nome de Tailored Wood). Pode bem
conjugam numa combinação genética invulgar.
ser este o destino de The Coiling Collection. Para já, são
O processo é simples: uma longa banda de feltro
sete objectos (bancos, cadeira, recipiente, mesa e tapete)
(foram precisos 326 metros de feltro para fazer os sete
tão autênticos quanto encantadores. e
protótipos que compõem a mostra) é enrolada, como um caracol, e colocada sobre uma base de madeira
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www.raw-edges.com, www.fatgalerie.com
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“THE COILING COLLECTION, UMA COLECÇÃO DE 7 OBJECTOS autoproduzidos em edição limitada, é um projecto atraente e suficientemente “responsável” (emprega um material 100% natural, a lã) para agradar a muita gente. “
SILICONE + LÃ Depois de enrolado, o feltro é pincelado com silicone colorido, mas apenas de um dos lados. A fibra absorve o silicone e endurece.
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Style: François Delclaux para M&Oxygène SAF 2009
Foto: Sylvain Thomas
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design :: projecto
HERMÈS SUSTENTÁVEL Muita inspiração, ideias a fervilhar e boas práticas, são o impulso da Petit h, a mais recente aposta da Hermès. Quem diria que a catedral do luxo havia de dar tamanha energia a um projecto onde o verbo maior é recriar... TEXTO GUI ABREU DE LIMA FOTOS VICENT LEROUX
ENQUANTO NA ALTA FINANÇA se jogavam todos os trunfos para a aquisição de acções em Bolsa, com a Louis Vuitton a alcançar uma posição na Hermès, a marca francesa que dá ao mundo o melhor do luxo em acessórios, roupas e perfumes, perpetuado por tantas estrelas ao longo das décadas, que desde a sua criação, em 1837, nunca fechou uma única loja, andou ocupada numa novíssima empreitada – o lançamento da sua Petit h. Petit h, uma “sub-marca” muito especial, um conceito que nada me admira venha a constituir um exemplo de peso na história contemporânea, no que toca à sensibilização para a necessidade de a Humanidade evoluir em consciência ecológica, na óptica do combate ao desperdício, na ideia central da ordem concertada pela Organização das Nações Unidas, denominada Sustentabilidade. Petit h, é uma colecção de objectos que a Hermès apresentou em Paris, em Novembro de 2010, e que seguirá a outros países ao longo deste ano, com viagens já traçadas para o Japão e os EUA. Objectos inesperados, extraordinários, diferentes, funcionais e executados com toda a perícia das equipas de artesãos com longa experiência de trabalho e conhecimento adquirido ao serviço da Hermès. Costureiras, ourives, artífices do couro, do cristal e da porcelana, juntam-se agora a designers de renome e a outros artistas admiráveis, num espaço só seu, autêntico laboratório de ideias, onde se dedicam a dar asas à criatividade e à arte para que nasceram. Quando uns imaginam, os outros realizam. Uns e outros, sem descurar o rigor, a exclusividade e a qualidade que a casa-mãe, com
A única diferença na Petit h, prende-se com a matéria-prima. Apenas ela poderá ditar o produto final. E ela, é tão-só o material que resta da produção da Hermès, sejam sobras de peles e tecidos ou objectos que, por conterem pequenas falhas ou irregularidades, estão interditos ao circuito comercial. O grande desafio de todos os que laboram para a Petit h
CEILING PENDANT By Adrien Rovero
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H maiúsculo, exige.
é, pois, voltar a criar a partir do que existe. 73
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É dar uma nova vida a peças descartadas nas oficinas e ateliers da marca, corroborando a maior lição da Natureza – nada se perde, tudo se transforma – mantendo incólumes os valores de sempre, a herança de seis gerações de comerciantes exemplares, cujas raízes perduram no tempo: os melhores materiais, a íntima relação com artesãos, a maravilhosa alquimia entre o espírito, a criatividade e a arte manual. E ASSIM SE RECUPERA um copo de cristal que ganhou uma bolha no pé ao ser soprado, uma carteira irremediavelmente marcada numa queda da mesa de trabalho do seu artesão, um retalho de pele de crocodilo desigualmente tingido, um lenço de seda beliscado... tudo é lançado às “feras” do Petit h, para renascer com um novo sentido estético ou funcional, numa segunda oportunidade de brilhar, espelhando o talento dos criadores. Está de parabéns a directora artística, descendente da sexta geração de Thierry Hermès, Pascale Mussard, pela iniciativa, onde a sua faceta “caça-talentos” se espraia em beleza, e em que, além de peças lindíssimas, com um passado para contar, oferece aos artistas a oportunidade de criarem desenfreadamente e de se descobrirem, em íntimo diálogo com aqueles que transformam ideias em arte visível. Livres, sem amarras, como uma banda de jazz que improvisa por paixão... Assim os quer a senhora Mussard, reciclando peças e recriando objectos cheios de poesia.
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By Marjolijn Mandersloot
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e
NADA SE PERDE TUDO SE TRANSFORMA, mantendo os valores de sempre, a herança de seis gerações, cujas raízes perduram no tempo: os melhores materiais, a íntima relação com artesãos, a alquimia entre o espírito e a arte manual
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design :: foco
ARTECNICA:
O SOL NASCE PARA TODOS A editora de Los Angeles Artecnica, pratica um design com consciência, assente nos valores da sustentabilidade e da responsabilidade social. Apadrinhando o trabalho de autores consagrados como o de designers anónimos, espalha o design do mundo pelo mundo, como a mesma convicção que se investe
FOTOS CORTESIA ARTECNICA
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TEXTO MADALENA GALAMBA
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num projecto humanitário.
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encontro :: design
permeados, numa etapa ou na outra, por preocupações de sustentabilidade, a missão da empresa cristalizou-se, a partir de 2002, no programa Design with Conscience. Trata-se de um projecto quase “humanitário” onde a Artecnica trabalha directamente com comunidades de artesãos de países em vias de desenvolvimento, para dar corpo a objectos de design com uma forte componente artesanal, que empregam o saber e as técnicas locais, de acordo com princípios de sustentabilidade. Um exemplo vivo de como o design pode ser um catalisador de mudança, integrando a especificidade local num contexto global, e o artesanato na indústria, para mudar o mundo. Blue Design: “A viagem do produto é tão bonita quanto o próprio produto”. A Artecnica foi dos primeiros editores a assumir a sustentabilidade como parte integrante do ADN do design. O que vos levou a escolher este caminho? Tahmineh Javanbakht: Foi a evolução natural. O trabalho do Enrico como arquitecto tinha-nos levado a colaborar com uma organização não governamental que ajudou a construir casas para as vítimas do furacão O SOL DA CALIFÓRNIA ILUMINA com a mesma
na República Dominicana. Foi uma sensação extraordinária,
intensidade as criações de autores consagrados do design
ao completar o projecto, e pensámos “Porque não trazer esta
internacional e os projectos de artistas e artesãos anónimos,
boa energia para a nossa empresa de objectos para a casa?”.
a quem é dada uma oportunidade para brilhar. Esta
O nosso projecto Design with Conscience nasceu porque
é a convicção, e a missão, dos fundadores da Artecnica,
queríamos mostrar o trabalho de muitas pessoas com
o italiano Enrico Bressan e a iraniana Tahmineh
talento que, de repente, se viam pouco reconhecidas num
Javanbakht. Arquitecto e artista plástica, criaram, em 1986,
mercado industrial global. Foi uma decisão orgânica,
a editora de objectos de design, que começou por fazer
simplesmente fazia sentido e foi um daqueles “momentos
projectos de atelier de arquitectura e design de interiores
Aha!”.
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para clientes como Gianni Versace e Sebastian International.
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O compromisso com os valores da sustentabilidade
BD: Agora o “sustentismo” está na moda, e toda
ambiental e da produção responsável é uma constante no
a gente quer apanhar a onda. Mas para lá das
caminho da Artecnica, uma postura que se reflecte na sua
palavras e dos rótulos, o que é que acha que
máxima “A viagem do produto é tão bonita como o próprio
os designer e as empresas deviam fazer para
produto”. Na viagem, embarcam autores consagrados com
serem realmente sustentáveis?
os irmãos Campana, Hella Jongerius, Heath Nash, Inga
TJ: Penso que começam em gestos mínimos, e depois
Sempé e Tord Boontje, talentos emergentes como Rich,
podemos levar a ideia a um conceito tão abrangente quanto
Brilliant,Willing, Stephen Johnson e Paula Arntzen, e uma
quisermos. Pode-se começar por fazer o packaging tão
míriade de artistas espalhados pelo mundo, de um grupo
eficiente quanto possível, usando materiais não tóxicos,
de ex-marginais em Los Angeles a uma comunidade
amigos da terra. Podemos olhar para a pegada de carbono
de artesãos numa aldeia no Perú. Embora praticamente
e fazer embalagens o mais planas possível, ou então levar
todos os produtos do catálogo da Artecnica estejam
esta preocupação para o próprio produto e usar materiais
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design :: foco
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“O PROJECTO DESIGN WITH CONSCIENCE NASCEU PORQUE QUERÍAMOS MOSTRAR o trabalho de muitas pessoas com talento, que, de repente, se viam pouco reconhecidas num mercado industrial global. Foi um daqueles momentos ‘Aha!’”.
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design :: foco
>>>
verdes. Há tantas maneiras de fazer as coisas de outra
“curatorial” do design. Parece-me que esta
forma, mais inteligente do que o habitual. Por exemplo,
atitude faz toda a diferença. O que é que
acabámos de lançar o projecto Homeboy Tot Bag project,
procuram quando seleccionam os designers,
produzimos um saco de lona com caligrafias imprimidas
os projectos e o designer para cada projecto?
pelos antigos membros do gang de Los Angeles Homeboy.
TJ: Nós fazemos a curadoria com o coração. Fazer um
Os slogans impressos foram criados pelo padre jesuíta que
produto é muito difícil. Costumava dizer aos meus alunos
fundou a organização, o Padre Greg Boyle. Homeboy
do Art Center de Pasadena: se quiserem defender o vosso
Industries (HI) é o maior programa de intervenção em gangs
portefólio e o vosso trabalho, têm de estar extremamente
dos Estados Unidos e dá uma segunda oportunidade a
envolvidos e convencidos daquilo que fazem, porque se não,
ex--membros dos gangs e jovens em risco (12 mil por ano).
há tantos elementos envolvidos, que o projecto não vai
Actualmente, existem mais de 86 mil membros activos
avançar a menos que tenha esse suporte. Trabalhamos com
de gangs em LA, a maioria estão desempregados e vivem
designers que sempre admirámos e cujo trabalho
em condições de pobreza. Os artistas que trabalham nestes
adoramos. Trabalhamos com designers que estão
projectos têm muitíssimo talento, mas em vez de ir para
a começar e vemos que há ali muito talento, magia, energia
prestigiadas escolas de arte, como eu e os meus colegas
e esperteza. Simplesmente bate certo.
fomos, aprenderam a desenhar nos becos da cidade, fazendo graffiti, e nas prisões, fazendo tatuagens. Agora
BD: Os dois fundadores da Artecnica vêm
estão na Homeboy a tentar começar uma nova vida e com
de Itália e do Irão. Como é que estas raízes
uma nova esperança (como disse o fundador, os problemas
influenciaram a missão da Artecnica
deles começam na desesperança). Têm um talento
e a maneira como vêem o design?
extraordinário, produzimos cinco sacos diferentes, feitos por
TJ: Levamos a nossa história, a nossa cultura e educação
eles, e estamos muito contentes.
para a mesa, quando nos sentamos no escritório. Juntamos
BD: Arrancaram com o programa Design with
Os ornamentos, as cores e os padrões tiveram uma enorme
as experiências de cada um. Eu nasci no Irão, em Isfahan. Conscience, em 2002. Como é que começou?
influência em mim. Depois, vim viver paras os Estados
TJ: Começámos com um projecto feito com a Lidewij
Unidos, aos 16 anos, e a experiência em si teve também
Edelkoort, presidente da Design Academy Eindhoven,
uma enorme influência em mim. Tenho a certeza que tudo
e a ideia era levar alguns estudantes ao Brasil para trabalhar
isto teve um enorme impacto na minha maneira de ver
com artesãos locais, através da Fundação Cusenza.
e de me relacionar com os objectos que me rodeiam. Tenho
Infelizmente, o projecto não funcionou porque mesmo com
a certeza que o mesmo se passa com o Enrico, já que ele
óptimo design, óptimos artesãos e boas intenções as coisas
viveu em Itália, em Espanha e, depois, nos Estados Unidos.
só funcionam se estiveres lá fisicamente e organizares a parte logística. E é preciso muita paciência.
BD: Como é que o design pode ser mais humano, no futuro?
BD: Mas mesmo fora do programa DWC, há
TJ: Não tenho a certeza do que quer dizer com “humano”,
muitos projectos da Artecnica que levam esta
mas tenho a certeza de que o design se torna muito
marca da responsabilidade. Faz parte do brief,
funcional e utilitário, mas com mais poesia. e
quando contactam os designers?
e reciclado. Por exemplo, acabamos de lançar o banco Kactus, um design do Enrico, feito de alumínio reciclado. BD: Mais do que uma empresa que produz objectos, a Artecnica tem uma abordagem
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o produto deve ir em flat pack, num material verde
www.artecnicainc.com, www.mundano.pt
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TJ: Desde o início, o nosso brief normalmente indica que
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DESIGN :: PROJECTO
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encontro :: design
VER PARA CRER What You See is Not é o nome do novíssimo projecto de Fernando Brízio para a droog design. Uma cómoda (ou uma gaveta suspensa) em trompe l'oeil que, no limite, depende do utilizador para existir. TEXTO MADALENA GALAMBA
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FOTOGRAFIA STEFANIE GRITZ, DROOG DESIGN
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BUSTER KEATON E AS IGREJAS DE ROMA
De lado, a imagem deforma-se e percebemos
inspiraram o mais recente projecto de Fernando
que o volume que víamos é afinal uma ilusão,
Brízio para a editora holandesa droog design: What
uma imagem plana. Que está lá, e não está.
You See Is Not. “Não acredito na 'inspiração
De repente, percebemos que mais do que ver, criámos
repentina', vinda do nada,” explica o designer
uma imagem. Imaginámos. E perdemos a segurança
português “Uma boa ideia vem de um trabalho
da referência arquetipal: mas afinal o que é isto?
contínuo, da pesquisa a longo prazo e de todas
Brízio é perito nestes jogos de ilusões (a ilusão óptica
as camadas das nossas próprias referências
é similar ao mecanismo usado no banco Alice)
culturais.” Vamos então pela justaposição.
que são tão divertidos quanto desafiadores.
Primeira camada: Buster Keaton no filme The High
Está constantemente a tirar-nos o tapete de baixo
Sign, a desenhar um cabide (2D) para pendurar o seu
dos pés, a desafiar a (ilusória) estabilidade da nossa
chapéu (3D). Segunda camada: uma viagem a Roma,
mente e da nossa percepção da realidade.
as igrejas com fantásticos trompe l'oeil, no fio
“Interessa-me este tipo de interacção que nos envolve
da navalha entre a bidimensionalidade
com a nossa visão; fazendo-nos sentir
BRÍZIO + DROOG:
e a tridimensionalidade, onde nem tudo o que parece
que o que vemos e a maneira como olhamos para
A crème de la crème do design
é, e muitas vezes não é mesmo.
as coisas revelam quem somos. Aquilo que realmente
num projecto que semeia
vemos é um resultado do que somos, da maneira E o que é, afinal, What You See is Not? Uma cómoda,
como pensamos e da nossa constituição física
uma gaveta suspensa, um objecto 3D, uma imagem
e mental.”
a dúvida. E ainda bem.
e
plana. É tudo isto e nada disto. É sobretudo um exercício, inteligente e emocional, é mais uma
www.droog.com
paragem na viagem de Fernando Brízio à volta da dimensão relacional do design. “Tenho tentado perceber e demonstrar através de objectos do dia-a-dia, o modo como as pessoas se relacionam emocionalmente, culturalmente e fisicamente com eles.” explica Brízio “Às vezes os objectos produzem uma experiência emocional, outras vezes o enfoque está na questão da usabilidade. Às vezes levantam questões sobre a relação entre a cultura e a significância. Outras, revelam gestos, mostrando de que maneira os designers condicionam o nosso corpo, o nosso comportamento e as nossas acções, e são, por isso,
“pendurada” numa fotografia (um autocolante de vinil que é uma imagem de uma cómoda). Os dois elementos estão instalados de maneira a criar um efeito trompe l'oeil. A percepção do objecto altera-se consoante a nossa posição no espaço. De frente é uma cómoda com uma gaveta aberta.
“É BOM VER AS PESSOAS SORRIREM quando olham para o meu trabalho porque é uma reacção emocional visível.”
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What You See is Not é um gaveta (de MDF)
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coreógrafos da nossa vida diária.”
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design :: projecto
TUDO A MEIAS Duas executantes reconhecidas criaram uma colecção de objectos para a casa, que em Janeiro se deu à mostra no Salon Maison & Objet. Uma, faz meias de andar nas nuvens, outra, desenha o luxo com uma perna às costas. TEXTO GUI ABREU DE LIMA | FOTOS AGENCE 14 SEPTEMBRE
DIZ QUE NAO FOI FÁCIL adaptar-se à matéria-prima disponÍvel. Longos tubos de malha... mon Dieu. Certo é que a limitação se dissipou, o enchimento brilhou e os padrões fazem toda a diferença, de tão divertidos. A designer Mathilde Brétillot e a marca francesa de collants e pantufas, Collégien, conheceram-se através do programa “Tecnologia e Design”, tutelado pela R3iLab – a rede criada pelo Ministério da Indústria francês, ponte entre fabricantes têxteis e designers, com vista ao desenvolvimento de projectos inovadores –, e fizeram nascer a Linha Collégien-Brétillot, objectos para a casa. Uma esteira para todas as eventualidades, um cesto de arrumos, balões com bancos para sentar e outras relíquias.A alma é a cara do dono. Quem não conhece os irresistíveis sapatos-de-andar-por-casa-(que-apetece-é-levar-para-a-rua), corra já a www.collegien-shop.com, e atesta num segundo a inspiração de madame Brétillot. Encheu de espuma os seus desenhos e vestiu-os, ou talvez os tenha calçado, de malha da melhor qualidade, pensando no que merece uma criança e como podem e devem os adultos tirar partido do que merece uma criança. Peças pequenas que cabem em qualquer lugar, para relaxar, improvisar as mais loucas brincadeiras ou cair redondo no sono, num sonho. A enfeitar, coloridas e lúdicas, espalhadas pela casa ou arrumadinhas no seu canto, a ideia da designer mima toda uma família numa casa e derrama a energia primordial da parceria: conforto, muito conforto, todo o conforto. e
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VIVER
EXPOSIÇÕES LIVROS NOTEBOOKERIA
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SOL E PESCA
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CINECLUBE DA MAIA
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Style: François Delclaux para M&Oxygène SAF 2009
Foto: Sylvain Thomas
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design :: culto
CINECLUBE DA MAIA
EM NOME DE UM CINEMA Alcatifa, balaústres, cadeiras de veludo vermelho e lâmpadas fluorescentes numa velha/nova sala, onde se quer estabelecer uma cultura cinematográfica que convide a um olhar mais crítico. Descentralizar o cinema, retirando-o das grandes superfícies, e promover um culto pela tela que não passa pelas pipocas e os óculos 3D. Esta gente acredita. Ideólogos ou visionários? TEXTO NUNO MIGUEL DIAS | FOTOS TIAGO CASANOVA E INÊS DE CASTRO
É O PURO CULTO PELO CINEMA que nem sempre cinema de culto. Mas, às vezes, as coisas misturam-se. Inevitavelmente. Porque, agora, é preciso ser-se quase anti-social para sonhar com uma sala onde não se oiça o mastigar de pipocas e o último sorvo no refrigerante. Sacrificar, no seu último grito, as tecnologias, sonora e de imagem, em favor de uma expressão cultural que resistiu sempre, na sua faceta mais poética, a todos os progressos. Os objectivos do Cineclube da Maia remetem-nos, obrigatoriamente, para outros tempos. Ou espaços. Não porque a natureza da iniciativa não seja, afinal, progressista. Mas porque há, no imaginário de todo o cinéfilo, por muito contido que o seja, um pouco do profundo romantismo que está por trás do Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore. Ou, na versão portuguesa, a recordação do Cine Girassol, em Vila Nova de Milfontes, no tempo em que exibia ao ar livre, os espectadores em cadeiras de fórmica, o calor do Sudoeste Alentejano, as osgas passeando na tela que era a típica parede caiada, por vezes a fachada de uma igreja, quando o projeccionista se deslocava a praças desse Alentejo profundo para levar a magia num feixe de luz. A tradição cinematográfica é, cada vez mais, o que era. Amar uma forma de arte e propor a discussão que pode daí surgir, fazer de uma exibição um acontecimento, na acepção mais emotiva do termo, é ao que se propõe o Cineclube da Maia. Criado por estudantes do ensino superior, foi oficializado enquanto associação sem fins lucrativos, a 8 de Fevereiro de 2010. A simples vontade de exibir cinema no centro de uma cidade periférica, numa sala que tende, nas metrópoles, a morrer. O Cinema Venepor tem toda a beleza romântica que envolveu, em tempos, uma ida ao cinema como acto social. A Câmara Municipal, proprietária do espaço,
... como veículo para obrigar a
relacionada – um concerto, uma peça de teatro, uma performance – a desenrolar-se durante a meia hora anterior à película. Projectos destes têm como falhar? Não. Pelo menos, não é o que queremos. E não é esse, todo o poder do mundo?
e
questionar a própria sociedade, participando num acto cultural.
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O VELHO PROJECTOR...
exibição num formato “cinema+1”, isto é, o filme conciliado com uma experiência com ele
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acolheu a iniciativa de braços abertos e, hoje, colhe os frutos de uma sala que vai servindo, devagar, de ponto de encontro e divulgação da vida cultural da cidade. Uma vez por mês, uma
www.cineclubedamaia.org | www.facebook.com/pages/cineclube-da-maia/174443961564 89
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COMER, BEBER,
SOL E PESCA de dois arquitectos que deu num estabelecimento que, à primeira vista, seria improvável. Meio ano depois de ter aberto as portas, é só essencial.
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afinal, por trás de um dos mais inovadores espaços de Lisboa. Porque foi, também, o ímpeto criativo
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Não falaremos, aqui, de arquitectura. Pelo menos, para lá do facto de ser essa que está,
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spot :: design
na decoração foram feitas, mas subsiste o mobiliário, que continua a guardar ou a exibir anzóis, linhas, amostras, bóias e caixas de utensílios. No tecto, há chalavares e covos, nas paredes estão as mesmas canas, a mesma imagem de Santo António (com o logotipo da Bayer?!), cartazes publicitando carretos com paisagens norte--americanas, para as quais as nossas barragens e rios serão fraco substituto, e fotografias de clientes exibindo, com orgulho, achigãs dentudos e carpas portentosas. Mas há, também, um senhor armário que guarda uma das grandes mais valias da Sol e Pesca. As mais variadas conservas provenientes das mais tradicionais e antigas fábricas lusas, do tempo em que um naco de pão e uma latinha faziam o farnel do dia (bem mais apetitoso que os mini-pratos de snack-bar de hoje, responsáveis pelo lento assassinato da gastronomia nacional), com embalagens e rótulos a condizer, esperam ali pela escolha do cliente mais exigente ou consumo na casa. É aí que entra Bárbara Carreira, que já foi proprietária do mui assinalável “O Cometa”, em Miragaia, vista para as
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praias da Invicta. Agora atarefa-se, numa correria por DO CAIS DO SODRÉ, ESPERA-SE TUDO.
gosto, proporcionando aos clientes os gostos de outros
Ou quase. Ninguém estranhará ao imaginá-lo, nos
tempos. Pica cebolinho e alho sobre alguns carapauzinhos
primórdios, como cenário possível para uma escala
da Conserveira de Lisboa para que fiquem mais alimados,
do The Pequod, antes de Ahab prosseguir a sua
dispõe batata doce cozida em volta, e serve um branco
tresloucada busca pelo grande cachalote branco. Quase
da casta verdelho, um Campolargo da Bairrada.
ninguém estranhará que a sua má fama tenha vindo,
Acrescenta algumas malaguetas verdes sobre sardinhas
precisamente, desses tempos em que era o único lugar
em tomate da Minerva ou enguia com aroma de fumo
de extravaso para mareantes (os tais que se aviam em
da Comur e abre uma garrafa de tinto da Quinta
terra) que aportavam em Lisboa, durante grande parte
da Califórnia (comprado directamente ao produtor,
do século XX. Poucos estranharão que, ainda antes do
em Azeitão). Sobrepõe à ventresca de atum Santa
advento do Bairro Alto, nos anos 80, a Rua Nova
Catarina, a conserveira de São Jorge, Açores,
do Carvalho fosse poiso obrigatório do divertimento
o imprescindível funcho e enche uns copos de tinto
nocturno da capital, com bares que, ainda hoje,
da Quinta do Perdigão, Dão 2007. Nas poucas mesas
subsistem (um suspiro pelo defunto Shangri La) e até
ou ao balcão, degustam os já assíduos clientes, estes
ganharam novo fôlego com a recente imposição
pequenos tesouros. Ouve-se, num volume que possibilite
de encerramento dos estabelecimentos
o ameno convívio, o “The Greatest” de Cat Power.
do Bairro Alto às 3h00, como o Jamaica (com 40 anos)
A ambiência que os arquitectos Henrique Vaz Pato
ou o Roterdão, que Ruka Rebelo e Silva (pseudónimo
e Gonçalo Carvalho conseguiram aqui criar, é de uma
de banda-desenhista do D’Artagnan do Incógnito)
sofisticação ímpar, sem deixar de ser profundamente
revitalizou em 2010. Mas serão muitos os que estranharão
portuguesa. Grita, até, e bem alto, por um orgulho
ver outra vez iluminado o letreiro “Sol e Pesca” da “loja
no que é muito nosso. Mas só o que é bom. e
do Marreco”, antiquíssima casa de material para pesca desportiva, encerrada desde 1994. Uma vez lá dentro, continuarão a estranhar. Porque as mudanças
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Sol e Pesca, Conservas e Bebidas Rua Nova do Carvalho, 44 Tel.: 213.467.203 | solepesca@gmail.com
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MICHEL CORBOU
Les Editions de La Martinière, na sua secção Arte Editions, acaba de dar à estampa uma obra
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BIG - BJARKE INGELS GROUP
Mais um manifesto da arquitetura, produzido pelo famoso grupo dinamarquês BIG,
WOOD ARCHITECTURE NOW!
PHILIP JODIDIO
Madeira, esse material que enche as casas de alma, conforto e aromas inspiradores.
de Michel Corbu, jornalista e fotógrafo bem
que junta talentosos arquitectos, designers,
Sólida, bonita, renovável e sustentável,
conhecido em França, que propõe a reflexão
construtores e pensadores da ciência
é usada desde sempre na construção.
sobre esses espaços públicos cada mais
de construir.
Dos mais nobres materiais à disposição,
importantes para os habitantes das grandes
Editado pela Taschen em versão impressa,
é uma dádiva da Natureza a quem
cidades: os jardins.
acaba de chegar em formato digital ao iPad,
o reconhecido autor desta obra faz questão
O autor apresenta um inédito testemunho
disponível no iTunes, versão essa que inclui
de prestar homenagem, numa altura em
de reconhecidos paisagistas, que através
25 vídeos, imagens a 360°, contando, ainda,
que a arquitectura contemporânea elege
de plantas de projectos e de fotografias, revelam
com três capítulos extra, sobre os projetos mais
a madeira como a matéria-prima do momento.
a sua visão do jardim dentro do espaço urbano.
recentes, desenvolvidos pelo BIG.
E porque os Homens não páram de inovar,
Das muitas entrevistas elaboradas e da análise
Interessante e original a escolha da banda
Philip Jodidio revela-nos extraordinários
dos trabalhos dos arquitectos, resulta também
desenhada, para contar a história da
exemplos do que andam arquitectos e estúdios
um inevitável périplo pelo passado e pelo
arquitectura contemporânea, bem ao jeito
de todo o mundo a talhar. Útil, surpreendente,
presente, numa perspectiva evolucional.
da filosofia do grupo BIG, em que o método,
belo e a mostrar com quantos paus se fazem
Jardins belíssimos e famosos, imagens
o processo, os instrumentos e os conceitos, são
umas quantas coisas realmente fascinantes.
encantadoras, ideias para acarinhar e, no final,
constantemente questionados e redefinidos.
São 416 páginas e um rol de projectos nos
um caderno fotográfico que dá a conhecer jovens
A não perder. Em papel, 20€, digital, 10€
mais variados lugares do Planeta. 30€
arquitectos paisagistas através das suas criações.
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YES IS MORE AN ARCHICOMIC ON ARCHITECTURAL EVOLUTION
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DES JARDINS DANS LA VILLE
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WWW.EDITIONSDELAMARTINIERE.FR
livros :: media
Um livro de utilidade pública. 40€
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Expos ... E PROPOMOS ALGUMAS EXPOSIÇÕES QUE NÃO VAI QUERER PERDER. CHARLOTTE CHARBONNEL
C O O R D E N A D A S S O LTA S A Hermès convidou para a sua galeria La Verrière, em Bruxelas, a talentosa artista francesa Charlotte Charbonnel, que concebeu uma instalação muito divertida. Chama-se Vibrato Con Sordino e é uma bola de vidro com água, de onde saem dezenas de fios de cores, que preenchem o espaço da sala de uma forma leve e musical. Os fios fazem sons e os visitantes interagem com a peça, criando ritmos diferentes. Há mesmo quem não consiga parar! A sempre cobiçada e imperdível Trienal de Milão apresenta a primeira grande exposição dedicada ao design gráfico internacional. Disciplina em constante mutação, que toca em diferentes campos, revela-se aqui num desafio à reflexão. Sob a batuta de Giorgio Camuffo, Graphic Design Worlds impõe-se, pois, neste certame milanês. No Design Museum Holon, em Israel, a mostra Post Fossil merece atento olhar. Mais de 100 obras, 63 designers, israelitas e de outros países. Em cada peça, matéria-prima natural POST FOSSIL
e sustentável. Objectos que falam do porvir através de materiais, formas e rituais do passado, ou seja, um universo Flintstone projectado no futuro. Imperdível. Ao Palácio Quintela, a experimentadesign leva Ordem de Compra. A exposição mostra a relação do design industrial nacional com a produção. Um olhar sobre a crescente sinergia entre unidades e empresários fabris e o design, com repercussões positivas na economia! A segunda edição do projecto Contentores inaugura, em parceria com a P28, o Centro Cultural de Belém e o Museu Colecção Berardo. Desta vez, à entrada do Centro Cultural de Belém, com o espírito inicial: dinamizar a arte pública contemporânea e revelar reconhecidos artistas, nacionais e estrangeiros, num formato pouco convencional. Cinco exposições, vários momentos diferentes, muitas e boas sensações verão afora. A abrir, Francisco Aires de Mateus, até 14 de Maio. É ano de Bienal de Arte de Cerveira. É cedo, sim, mas convém programar com antecedência essa viagem ao Minho, para lhe dedicar alguns dias e aproveitar bem outras maravilhas da região. Para a 16ª edição o tema é Redes 2011, e parte para um diálogo com outras bienais internacionais, numa agenda vasta e tentadora. Exposições, debates, workshops, indústrias criativas, visitas guiadas e concertos. Um programa de luxo, a arte e os seus artistas num cenário perfeito. CHARLOTTE CHARBONNEL'S VIBRATO CON SORDINO, La Verrière, 50 Boulevard de Waterloo, Bruxelas, até 26 de Março, www.hermes.com
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GRAPHIC DESIGN WORLDS, Trienal de Milão, Design Museum, Itália, até 27 de Março, www.triennaledesignmuseum.it
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POST FOSSIL, EXCAVATING 21ST CENTURY CREATION, Design Museum Holon, Israel, até 30 de Abril, www.dmh.org.il ORDEM DE COMPRA, Palácio Quintela, Rua do Alecrim, 70, Lisboa, de 10 de Março a 15 de Maio, www.experimentadesign.pt
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CONTENTORES, CCB, Praça do Império, Lisboa, de 9 de Abril a 31 de Agosto, www.contentoresp28.com
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16ª BIENAL DE ARTE DE CERVEIRA, Vila Nova de Cerveira, de 16 de Julho a 17 de Setembro, www.bienaldecerveira.pt
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CONTENTORES
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lista :: contactos
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AFECTO (representante) Rua Eugénio de Castro, 248, sala 144 Porto. Tel: 226 003 727 afecto@iol.pt | www.afectodesign.com
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E OS LUGARES ONDE AS PODE ENCONTRAR... >>> GALANTE Rua Rodrigo da Fonseca, 21C Lisboa. Tel: 213 512 440 galante@galante.pt | www.galante.pt GANDIA BLASCO Rua Dr. Melo Leote, 20. Porto Tel: 226 181 355 gbporto@gandiablasco.com www.gandiablasco.com HELDER GONÇALVES (representante) Largo do Co, 145. Penamaior Tel: 255 866 001. helder@spring.mail.pt JANELA DA MINHA CASA Rua Capitão Filipe de Sousa, 76 Caldas da Rainha. Tel: 262 836 404 janela@oninet.pt JOÃO FARIA Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, Vila Frescainha. Barcelos. Tel: 253 802 210 IN A IN INTERIORES Rua João de Deus, 753. Porto Tel: 226 084 830. inain@inain.com www.inain.com
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POR ORDEM ALFABETICA, O ELENCO DE DESIGNERS QUE PARTICIPAM NESTE NÚMERO
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UMA IDEIA DA TAILÂNDIA SEM CIRCUNFLEXO PORQUE SIM Uma Ideia da Tailândia porque o livro devorado no avião que me levou ao desconhecido Sião foi “Uma Ideia
da Índia” escrito por um Moravia que visitara o Subcontinente na companhia do amigo Pier Paolo Pasolini (olha que dois). Diz que “a Índia é algo que se sente”. Decidi, por isso, que a
primeira ilustração do diário de viagens deveria ser feita quando a Tailândia era apenas uma ideia de exotismo, baseada em imagens com que fui, a vida toda, construindo una ideia. É a escolhida para aqui porque também o Sião é algo que se sente.
NOTEBOOKeria :: Nuno Miguel Dias
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