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Se liga aí Fast fashion X Slow fashion 44
O excesso pode nos iludir
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O relatório conclui que, se as grandes marcas não rastreiam as emissões de carbono de sua rede produtiva absoluta, logo, não se torna possível calcular com precisão seus impactos climáticos no mundo. Enquanto 62% das marcas pesquisadas globalmente divulgam as emissões de carbono de suas próprias instalações, somente 32% das empresas analisadas no Brasil divulgam esses materiais.
Quando falamos apenas sobre dados gerais de fornecedores, essa rede também não é bem clara. Menos da metade das marcas (40%) divulgam sobre seus fornecedores de nível 1 (instalações de corte, costura, acabamento, montagem, produto acabado, embalagem). Sobre os de matéria-prima, esse valor cai para 8%. Essa falta de visibilidade abre brechas para que condições de trabalho degradantes aconteçam – lembramos que a informalidade, baixas remuneração e trabalho análago à escravidão na moda ainda são tópicos recorrentes somente sabendo o real valor dos impactos dessa rede é que poderemos cobrar um real progresso de metas socioambientais. No painel “Descarbonização Com Netzero? A Arquitetura da Privatização Florestal”, que foi apresentado na Cúpula dos Povos, no dia 8 de novembro, Larissa Packer, da organização Grain, apontou duas proposições falsas sobre o mercado de carbono: a primeira proposição foi, a equivalência entre os distintos gases do efeito estufa. “Pressupõe que haveria uma equivalência entre as emissões de gees (Gases de Efeito Estufa) e a capacidade de remoção destas emissões e a reintrodução disso no solo – seja por bases tecnológicas ou por bases naturais”, explica, “Como se isso fosse possível”.
Moda e superprodução
A superprodução das grandes marcas e varejistas também foi um tópico levantado pelo relatório. As discussões sobre sustentabilidade na moda pairam muito em soluções como “novo design”, “novos materiais” e a crença de que, como indivíduo, podemos consumir de forma mais sustentável – sei lá o que esta palavra representa – para escapar da crise climática. Porém, o itmb traz luz ao elefante na sala: “os modelos de negócio em si, que têm como meta produzir mais e mais, precisam ser trazidos para o centro dos debates”.
O relatório aponta que entre 80 bilhões a 150 bilhões de roupas são produzidas e consumidas a cada ano no mundo. Como revela o relatório Fios da Moda, no panorama brasileiro não existem dados que contabilizem com exatidão a quantidade de resíduo têxtil que vai parar em aterros, lixões e no mar. No entanto, é possível encontrar dados, como: somente na região do Brás são coletadas 45 toneladas de resíduo têxtil por dia. Fibras têxteis demoram de 10 a 20 anos para se decompor, no caso do algodão, de 100 a 300 anos, para tecidos sintéticos. O poliéster, em especial, leva 400 anos.
Informações pouco acessíveis
O formato da divulgação de informações continua bastante problemático entre as grandes marcas e varejistas. Segundo um levantamento mundial, 77 por cento dos consumidores acham difícil de entender as afirmações de sustentabilidade das marcas.
Aqui no Brasil, o itmb (Índice de Transparência da Moda Brasil) enumera as dificuldades levantadas pelo público: algumas empresas comunicam informações relacionadas a direitos humanos e meio ambiente de forma pouco acessível, com falta de cuidado em relação à organização, formato, local ou até mesmo qualidade do que está sendo divulgado. Tudo isso torna os dados significativos custosos de serem encontrados e compreendidos por clientes e interessados nos tópicos. O relatório ressalta que, por vezes, dados cruciais estavam “escondidos em anexos e notas de rodapé de longos relatórios técnicos ou a dezenas de cliques a partir da página inicial”. Essa constatação é válida, inclusive, especialmente para as empresas que tem os melhores desempenhos no índice. Em outros casos, uma grande parte das informações se tratavam à respeito a apenas aos princípios da empresa ou planejamentos pontuais relacionados a uma pequena fração de suas coleções ou de sua rede produtiva. As empresas devem tornar as informações mais acessíveis a qualquer público, com uma linguagem bastante clara, com detalhamento sobre como elas identificam e tratam seus impactos.
Visto isso, a contribuição de todos os indivíduos é fundamental importância para que cause, de fato, uma mudança na sociedade e nos hábitos de consumo que estamos acostumados. É preciso contribuir com ferramentas de transparência como o itmb (Índice de Transparência da Moda Brasil), campanhas como #QuemFezMinhasRoupas e Moda Sem Veneno, que incentivam grandes empresas e varejistas a mapear suas redes de fornecimento e se mobilizar para que a indústria da moda seja cada dia mais limpa, justa e de acordo com a realidade socioambiental brasileira. Assim o planeta Terra será um lugar mais limpo e saudável para todos viverem.
Júlia Codogno
@juliacodogno Júlia é uma ifluencer digital que aborda temas como sustentabilidade e moda. Além de trabalhar com educação, comunicação e mentorias.
Carol Abumrad
@caroldatrend Empreendedora, arquiteta, vegetariana e apaixonada por moda, Carol fundou a Trend2box, uma plataforma digital de marketing place que atende todo o país.
Chiara Gadaleta
@chiaragadaleta Além de ser stylist e consultora de moda, Chiara é embaixadora do projeto EcoEra e se tornou sinônimo de sustentabilidade e consumo consciente no Brasil.
Nátaly Neri
@natalyneri Cientista Social, Influencer e Youtuber, Nátaly mostra uma vida repleta de sustentabilidade e fala sobre movimentos vegano, feminista, racial e lgbtqia+.
Elaine Vilatoro
@livemoretravelmore Elaine é uma criadora de conteúdo digital que encoraja e valoriza esperiências de vida através de viagens. Seu Instagram é repleto de dicas relacionadas à sustentabilidade e viagens.
Alice Treiwinnard
@alicetrewinnard Com mais de 300 mil seguidores no Instagram e cujo mote dos seus vídeos e publicações passou sempre pelo lifestyle, mergulhou recentemente no universo da inovação e criatividade e, juntamente com dois amigos e sócios, criou a Tarwi, uma marca de tremoços.