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O fast fashion é o único vilão?
Fast fashion x slow fashion
Sabe o que está mais na moda do que roupas, acessórios e sapatos? Entender mais profundamente sobre a indústria têxtil
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por NATHALIA MIRANDA
Por acaso você conhece os termos “moda sustentável”, “moda consiente”, “slow fashion e fast fashion”? Tais termos têm se popularizado no Brasil, com cada vez mais pessoas repensando seus hábitos de consumo.
Para entendermos um pouco mais sobre esses termos, foi feita uma pesquisa usando a Stilingue, onde foi analisado o que está sendo falado nas redes sociais sobre esses movimentos da moda e por que eles estão crescendo.
Movimentos contrários no mercado da moda, o Fast e Slow Fashion tem propostas e atuações distintas. Enquanto o movimento Fast preza pela produção em massa e rapidez, o movimento Slow atua de mais forma lenta. As diferenças desses dois movimentos estão presentes desde o processo de produção.
A roupa sustentável é aquela que já tem
Entendendo os termos
No Fast Fashion são lançadas várias coleções e subcoleções ao longo do ano. Em contrapartida, no movimento Slow Fashion são desenvolvidas pequenas coleções. Além disso, no movimento Slow, há também uma preocupação maior com a humanização da confecção, ou seja, a marca faz com que o consumidor tenha acesso a vídeo ou foto de quem produziu aquela peça, entendendo seu procedimento.
Antes de iniciarmos, abaixo há um glossário com termos importantes na sustentabilidade e que podem aparecer ao decorrer do artigo.
Upcycling é uma técnica de reaproveitamento de materiais já existentes, transformando peças que seriam descartadas em aterros sanitários e dando um novo sentido para elas; já a Handmade é um termo que foi adotado para se referir a itens feitos de forma artesanal, ou seja, objetos fabricados sem a utilização de processos industriais e automatizados. Eco fashion é um conceito de moda que preza pela consciência de sustentabilidade no processo produtivo das peças.
Dados Gerais
Essa pesquisa analisou o período do dia 01 de Janeiro até o dia 15 de Agosto deste ano (2021), e foram retornadas mais de 16 mil publicações dentro dos assuntos de Fast Fashion e Slow Fashion. O Twitter foi o canal de maior presença de publicações, com uma parcela significativa, isso demonstra que os consumidores debatem e citam muitos dos assuntos relacionados a moda, nessa rede social.
A discussão entre Fast fashion e o Slow fashion acontece em picos de notícias em que os usuários falam sobre marcas e expressam suas opiniões, geralmente dividindo os pensamentos e reflexões. No gráfico abaixo é possível identificar alguns picos que ficaram em evidência dentro desse período.
O primeiro pico, acontece dia 05 de Fevereiro, e tem como evidência o termo Fast Fashion, que ganhou destaque dentro de discussões no Twitter estando ligado às maiores marcas de Fast Fashion do Brasil e do mundo, como: Riachuelo, c&a, Shein e Zara.
Dentro de mais de 550 publicações coletadas nesse dia, 295 (mais de 50%) apresentam sentimento negativo, pois estão dentro de um contexto em que as pessoas questionam o funcionamento do mercado Fast Fashion relacionado ao consumo e capitalismo.
O maior pico de publicações ocorreu no dia 13 de Junho e essa repercussão se deu por conta de um vídeo de um usuário do TikTok em que ele insinuava que apenas pessoas com alto poder aquisitivo conseguem comprar roupas na Zara; esse vídeo circulou, virou meme e se tornou um dos assuntos mais comentados dentro de inúmeras redes sociais.
Álvaro Carvalho
Fast fashion é o único vilão?
Pense em trabalho análogo à escravidão, pilhas de roupas se acumulando em aterros e pessoas comprando cada vez mais
por MARINA COLERATO
Provavelmente, quando falamos sobre isso o que vem à mente são grandes redes de fast fashion, produzindo e vendendo roupas a baixo custo, que são descartadas com facilidade. Não por menos, o desastre do Rana Plaza escancarou, mais uma vez, o problema por trás da produção das nossas roupas e reacendeu o debate sobre a produção de roupas baratas.
Vez ou outra, imputamos a responsabilidade também em empresas de médio custo. No Brasil, M.Officer, Cori, Animale, recentemente Brooksfield Donna, entre outras já foram expostas quando o assunto é responsabilidade social e isso não foi esquecido.
Mas onde fica o mercado de luxo nessa história? Por que nós parecemos sempre esquecer de colocar essa fatia bilionária crescente nesse cenário? Talvez porque não tenhamos noção do seu tamanho, considerando que ele só serve a uma ínfima parcela da população mundial. Entretanto, quando olhamos para o ranking mundial das marcas mais valiosas do segmento, várias delas são do mercado de luxo, e uma delas, inclusive, tem lugar garantido no pódio.
Mulher consumida pelas suas compras
O tamanho do mercado
O conglomerado de luxo LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy), responsável por marcas como Louis Vuitton, Fendi e Dior, apareceu em terceiro lugar em valor de mercado na Global Top 10 of Largest Fashion Companies, mas suas vendas totais somaram mais de 40 bilhões de dólares em 2015, frente a 30 bilhões da primeira colocada, a Nike. Inditex, grupo responsável pela Zara, contou com 24 bilhões em vendas totais, enquanto a Chanel ficou com 7.5 bilhões de dólares e Hermés com 7 bilhões. É muito dinheiro para ser esquecido.
Outro motivo pelo qual as marcas de luxo sempre escapam das críticas provavelmente reside na consciência coletiva de que produtos caros são feitos com maior responsabilidade socioambiental. Se uma bolsa custa cinquenta mil reais, provavelmente toda a cadeia foi fiscalizada e bem paga.
O discurso “pague mais, mas compre menos e com mais qualidade” ajuda a fortalecer essa sensação de que uma peça cara é, necessariamente, uma peça feita com respeito às
É muito dinheiro para ser esquecido
pessoas e ao meio ambiente, além de reforçar a imagem errônea de que quem consome bens de luxo consome pouco e que esse consumo é muito mais aceitável porque ele é mais ético. De Paris Hilton à Thassia Naves, sabemos que isso não é verdade e que essas duas celebridades não são exceções à regra.
As empresas não ficam alheias no fortalecimento dessas falsas impressões. Quando olhamos para todo o marketing da Hermés envolto na manutenção de uma escola de artesãos em Lion, na França, rapidamente nos esquecemos das condições miseráveis dos trabalhadores e dos animais não-humanos em sua principal fornecedora de couros de crocodilos, no Texas. Como nos lembrou Tansy Hoskins, é bastante ingênuo da nossa parte esperar ética por parte das pessoas mais ricas do mundo.
Falta de transparência
Em abril do ano de 2021, o movimento Fashion Revolution, em parceria com a Ethical Consumer, lançou o Fashion Transparency Index, que é, basicamente, um relatório analítico que traz informações, por meio de
Amanda Almeida
diferentes índices quesitos empresariais de produção como “política e compromisso”, “rastreamento e rastreabilidade”, “auditorias e reparação”, e “governança”.
Os resultados foram divididos em “baixa avaliação”, ou seja, “pouca ou nenhuma evidência de que a empresa não tem nada mais do que um “código de conduta”, que é padrão para ser seguido em momentos.
No papel. A empresa faz pouco ou nenhum esforço. No sentido de ser transparente sobre suas práticas da cadeia”; “avaliação média baixa”; “avaliação média alta”; e “avaliação alta”, onde “a empresa está fazendo esforços significativos nas áreas indicadas e torna algumas, ou a maioria das, informações publicamente disponíveis”.
Todas as empresas de luxo presentes no Global Top 10 of Largest Fashion Companies, incluindo lvmh, Hermés e Chanel, foram avaliadas com “baixa avaliação”, junto com diversas outras empresas de fast fashion como Forever 21. Entre as melhores avaliadas aparecem Zara e h&m. As empresas mais valiosas e com os mais altos dígitos de vendas são, também, as mais relapsas.
“A falta de transparência custa vidas”, afirma o relatório. “É impossível para as empresas garantir que os direitos humanos sejam respeitados e que as práticas ambientais são sólidas sem saber onde seus produtos são feitos e sob quais condições são produzidas”.
Inserindo O Luxo No Debate
Essas informações são suficientes para colocar o debate sobre os problemas da indústria da moda em perspectiva. Estamos focando tanto em marcas e peças de roupa, que esquecemos completamente sobre conglomerados, monopólios, homens bilionários e como toda a produção de qualquer produto funciona em escala global. Passamos tanto tempo discutindo a equação preço versus produto versus sustentabilidade, que dedicamos mais esforços em questionar o valor da produção das pequenas marcas do que em acessibilidade e a crescente desigualdade social.
Tanto as cifras quanto as organizações que expõe os problemas na produção dos bens de luxo servem para não nos esquecermos de que não é só moda e moda barata que explora pessoas, animais não-humanos e meio ambiente. A fatia mais significativa da moda de luxo está praticamente passando imune às críticas feitas à indústria e, por isso, não está fazendo absolutamente nada para melhorar. Quando falamos sobre os problemas da moda, é urgente falar, também, sobre mercado de luxo, desigualdades e valorização excessiva da posse.
COMO A REALIDADE É AFETADA PELA INDÚSTRIA
A moda nacional é composta majoritariamente por PME e isso é um dos maiores desafios para a sustentabilidade
texto MAGALI CABRAL imagens ALEXANDRE NEUMANN
Acalça jeans que provavelmente você tem pendurada no guarda-roupa pode ter percorrido até 75 mil quilômetros pelo mundo antes de ser sua. Isso sem considerar a viagem dos insumos que a compõe: o algodão que sai do campo e segue para fiação, lavagem e tingimento; os metais que das mineradoras vão para a indústria de botões, rebites e zíper; as etiquetas que, se forem feitas de poliéster, têm origem nos campos de petróleo e passam por muitos processos até estampar o nome de uma grife e, se forem de couro, acrescentem-se mais alguns milhares de quilômetros, além de ‘toneladas’ de outros impactos.
Some-se a toda essa quilometragem muita quantidade. Se 20 anos atrás as marcas produziam apenas quatro coleções por ano, uma para cada estação, hoje a chamada fast fashion, que abastece as grandes lojas varejistas internacionais, produz 52, uma por semana, despejando no mercado global 80 bilhões de peças de vestuário por ano – isso sem contar o que rola no mercado informal, e no médio e pequeno varejo, onde o controle é ainda menor que sobre as grandes marcas.
No Brasil, apenas 20% do mercado nacional é dominado pelo grande varejo. A moda nacional é composta majoritariamente por pme e isso, de acordo com a designer de moda e fundadora da plataforma Modefica, Marina Colerato, é um dos maiores desafios para a sustentabilidade. “Por um lado, é ótimo para a descentralização, por outro, é um inferno para a formalização.” Esses dados dão uma ideia da complexidade da cadeia produtiva da moda.
Produzir grandes quantidades de roupas e calçados sem parar só faz sentido se na outra ponta as pessoas puderem comprar sem parar. Para isso, o preço tem de ser baixo, o custo de produção o menor possível e o ritmo de trabalho incessante. E está criada a fórmula do mal, responsável por situações degradantes de condições de trabalho, muitas vezes trabalho escravo, e de desrespeito ao meio ambiente.
Quem se sentiria confortável dentro de uma camiseta de marca que pudesse ter sido costurada por uma jovem costureira morta no desabamento do Rana Plaza, em Bangladesh (em péssimas condições de conservação, o prédio abrigava diversas confecções de várias
A moda representa diversidade
Quem fez minhas roupas? É o que o fashion revolution incentiva todos a indagar!”
empresas globais famosas e ruiu no dia de 24 de abril do ano de 2013, matando 1.134 trabalhadores, a maioria mulheres jovens e adolescentes, e deixando mais 2,5 mil feridos)?
E se você soubesse que o algodão utilizado naquela calça jeans pendurada e largada no seu guarda-roupa veio de uma lavoura do Nordeste que intoxica trabalhadores rurais e polui diversos rios e lençóis freáticos com agrotóxicos contrabandeados e usados além do limite permitido?
O que dizer das peças vendidas por confecções que exploram mão de obra de imigrantes ilegais, vivendo em situação análoga à escravidão em porões nos bairros do Bom Retiro, Brás, Pari, em São Paulo, ou no interior do estado? Presume-se que qualquer pessoa minimamente empática repudiaria produtos oriundos desse processo sujo da moda. Mas como saber o quanto de tragédia carrega uma peça de roupa que veste um manequim na vitrine glamorosa da loja do shopping center?
Eis aí um inadiável desafio de sustentabilidade para a indústria têxtil: dar transparência aos processos de produção, tanto no que diz respeito aos aspectos sociais como ambientais.
O desabamento do prédio de Bangladesh serviu como marco de um movimento de reação global contra o estado de descalabros no setor. Começou com o protesto dos jornalistas que faziam a cobertura da tragédia, que se despiram das peças de roupa cujas marcas estavam relacionadas às confecções do Rana Plaza.
Nos dias seguintes, um grupo de líderes da indústria da moda sustentável fundou a Fashion Revolution. O movimento, hoje presente em 92 países, entre eles está o Brasil, criou a Fashion Revolution Week. Durante a semana, são promovidas diversas ações de conscientização dos consumidores para o fato de que a compra é o último passo de uma longa cadeia de valor que envolve milhares de pessoas que podem estar trabalhando em condições muito precárias de salubridade e de renda. O consumidor pode fazer pressão, boicote e até pedir transparência.
Processo de produção
Quem fez minhas roupas? É a pergunta que o Fashion Revolution incentiva os consumidores a fazer. É o chamado consumo consciente, como explica a professora de design e sustentabilidade no Instituto Europeu de Design (ied) em São Paulo, Eloisa Artuso, responsável pela área educacional do movimento.
Para ela, nas últimas décadas nos deixamos levar pelo fast fashion e passamos a consumir muito mais roupas do que realmente precisamos. Por isso, sugere: “Além de pensar duas vezes, vamos fazer com que as peças durem mais, vamos consertá-las. Vamos comprar de segunda mão. O que pode não servir mais para uma pessoa pode virar uma peça nova para outra. Vamos comprar do pequeno, promover o comércio local”.
Não bastasse Bangladesh ter sido palco da tragédia do Rana Plaza, o país abriga também um dos dez locais mais poluídos do planeta, o distrito de Hazaribagh, onde operaram até
O plástico tem se tornado a película do mundo
abril deste ano, 90% dos seus 270 curtumes. Esse elo da cadeia da moda internacional, que compra couro para a fabricação de calçados, bolsas, casacos e acessórios, explorava mais de dez mil trabalhadores, entre os quais muitas crianças e adolescentes. Todos os dias, os curtumes despejavam 22 mil litros cúbicos de resíduos tóxicos cancerígenos, sem nenhum tratamento, em córregos, lagoas e canais da região.
Couro Sujo
Segundo levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (oms), 90% dos trabalhadores desses curtumes não vivem mais do que 50 anos. “Essa taxa de longevidade é pior do que a dos escravos do Sul dos Estados Unidos no século xix”, disse o jornalista, fundador da Transparentem, organização americana sem fins lucrativos que investiga casos de abusos humanos e ambientais em cadeias de suprimento. Presente à Conferência Ethos 2017, em São Paulo, ele comemorou o resultado do trabalho da Transparentem em Bangladesh:
“Detectamos fornecedores de couro de 11 marcas conhecidas internacionalmente comprando insumos nos curtumes de Hazaribagh. Começamos a conversar com as empresas em outubro de 2016. Em 25 de março, a Associated Press fez uma reportagem sobre esse trabalho da Transparentem e, no dia 28 do mesmo mês, nos sentamos com os investidores de mais de US$ 2,3 trilhões da indústria e comércio calçadista para expor a situação. Em 8 de abril, o governo de Bangladesh cancelou todos os serviços de concessão de água, luz e energia desses curtumes ilegais, que foram obrigados a fechar as portas. É muito bom vencer de vez em quando”, disse Skinner. “Muitos varejistas sabiam de onde vinha o sapato, mas não o couro usado para fabricá-lo.
Um caso de cadeia
Esse mesmo tipo de rastreamento nas cadeias de suprimento nacionais é feito pela ong Repórter Brasil, cuja missão desde 2003 é identificar e tornar públicas situações que ferem direitos trabalhistas e causam danos. O jornalista e cientista social Leonardo Sakamoto, presidente da ong Repórter Brasil, conselheiro
Há mais pessoas ou lixo na Terra?
no Fundo da onu contra a escravidão e neto de costureira, não acha correto responsabilizar completamente a extensão ou a complexidade da cadeia de valor da moda pelo desconhecimento do que acontece no setor. “Se organizações de tamanho médio como a Repórter Brasil e a Transparentem identificam os problemas, como grandes empresas multinacionais, cujos proprietários estão entre as pessoas mais ricas do mundo, não conseguem rastreá-los?”, questiona.
Segundo Sakamoto, essa situação de precariedade no trabalho e de desrespeito ao meio ambiente sempre esteve presente na indústria têxtil. Ela é histórica e remonta ao seu nascedouro, à Revolução Industrial. “Na Europa, quando os trabalhadores consolidaram seus direitos, a indústria têxtil migrou para países com farta mão de obra e baixa proteção trabalhista ambiental”, conta. “Primeiro foi o Brasil, depois a China e agora é Camboja, Vietnã, Bangladesh, entre outros.”
A partir do momento em que os países começam a efetivar direitos, os trabalhadores empoderam-se e a sociedade passa a exigir padrões mínimos, a empresa de capital internacional volta a migrar. “Se hoje a bola da vez é a Ásia, daqui a pouco será a Somália, e outros diversos países da África.”
Atualmente, um grupo de trabalho ligado ao Conselho de Direitos Humanos nas Nações Unidas, está criando, segundo o jornalista, princípios vinculantes para substituir os princípios voluntários no emprego dos direitos humanos. A ideia, diz ele, é responsabilizar os países pelo mau comportamento de suas empresas. Assim, o próprio governo terá de obrigar os seus empresários a adotar determinados comportamentos necessários.
A ong Repórter Brasil lançou no ano passado o aplicativo Moda Livre, onde estão listadas mais de 100 marcas de vestuário com avaliação do que fazem para combater o trabalho escravo na cadeia de valor. Gratuito, o aplicativo já teve mais de 100 mil downloads. A ideia é ajudar o consumidor a fazer pressão na hora das compras.Para Sakamoto, comprar é um ato político. “Quando uma pessoa compra, deposita o seu voto na forma como aquele produto foi feito. Se estou comprando de você, eu quero que você continue produzindo.” Por isso, é preciso garantir informação ao consumidor. “As pessoas precisam saber que uma costureira terceirizada ou ‘quarteirizada’ recebe entre R$ 2 e R$ 6 para costurar um vestido inteiro que será vendido em lojas famosas.”
Na opinião de Sakamoto, mais efetivo são os movimentos de boicote de curto prazo, que provocam um efeito fogo de palha: “Dentro das empresas há departamentos de responsabilidade social e de compliance que vivem ‘apanhando’ do departamento de produção porque tentam mudar as coisas. Quando surge uma denúncia seguida de um boicote é a oportunidade desse pessoal das empresas de empoderar-se e de agir.
Escravos de Jó
O Brasil ocupa o quarto lugar entre os produtores mundiais de roupas e abriga a cadeia produtiva completa das atividades relacionadas à indústria da moda. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (abit), o faturamento do setor foi de R$ 37 bilhões em 2016. A parte mais agressiva desse contexto é a existência de trabalho escravo ao longo dos processos. Mas a diretora-executiva do Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPacto), Mércia Silva, trouxe pelo menos uma boa notícia à Conferência Ethos: “No caso da cadeia da produção do algodão, os resultados positivos já começaram a prevalecer”.
No entanto, o mesmo não é verdade no meio da pecuária, setor com muitas empresas na lista suja do mte e que, em grande parte, ainda trabalha na fase de capacitação de pessoal para rastrear a cadeia. Essa lacuna na pecuária impede que empresas pequenas e médias atinjam o grau de transparência da cadeia produtiva que almejam.
Um dos elos que impedem a Vert de atingir suas metas em sustentabilidade é a cadeia do couro. A empresa consegue rastrear o insumo a partir de sua entrada nos curtumes. Antes disso, os empresários garantem aos seus consumidores apenas que o couro que utilizam não provém de áreas desmatadas da Amazônia. Ficam sem transparência quesitos éticos como bem-estar animal e boas relações trabalhistas nas fazendas.
As grandes varejistas também começam a apresentar as primeiras iniciativas de sustentabilidade, para reduzir impactos ambientais como sociais. Recentemente a marca de roupas c&a lançou uma nova linha de camisetas com Certificação Cradle to Cradle, nível gold.
Essas camisetas foram feitas com algodão “sustentável” e preparadas para serem recicladas no futuro, ou levadas para a compostagem. “Os varejistas já têm se movimentado nesse sentido, mas, pelo tamanho e pelo tanto de impacto que causam”, arremata Artuso.
Uma aposta multi milionária
Os mineiros Aloysio e Matheus fundaram a Urbô, que aposta em peças feitas com borra de café e fibra de banana
por PAULO GRATÃO
Aloysio Rebello e Matheus Menezes, ambos com 29 anos, se conheceram na faculdade de engenharia e hoje são sócios. Os dois são donos da Urbô, empresa de moda minimalista, que faturou R$ 9 milhões em 2021 com peças feitas a partir de matérias-primas sustentáveis, como borra de café e fibra de banana. Eles vendem por meio do próprio e-commerce e em mais de 300 varejistas multimarca. O plano é tornar a marca mais conhecida nacionalmente, e faturar R$ 12 milhões.
De onde a ideia surgiu
Quando se formaram, em 2015, ambos estavam insatisfeitos com seus antigos empregos e já buscavam algum setor para empreender. A ideia da Urbô surgiu quando Rebello tentou comprar uma camiseta pela internet e percebeu como o processo era cheio de atritos. Os dois pensaram, então, em empreender com um e-commerce de camisetas. Quando eles começaram a pesquisar sobre produtos, viram que seria necessário ter um diferencial significativo. “Queríamos uma variável que fosse nos potencializasse no mercado. Fomos estudar o efeito da indústria na natureza e como era feito lá fora”, explica Menezes. Na época, o mercado já falva sobre como minimizar os efeitos da indústria têxtil sobre o meio ambiente, e os empreendedores tinham contato com startups de pegada mais consciente. Isso os inspirou a criar a Urbô, no ano de 2016.
O jeans é sustentável ou é poluente?
O início de um sonho
A dupla sabia que montar uma empresa não seria uma tarefa fácil de fazer, por isso, o primeiro passo tomado por eles foi mapear as possibilidades de fornecedores para seu negócio. Menezes diz que eles priorizaram o impacto ambiental, mas também o custo-benefício do item durante a seleção. O uso de matérias-primas como borra de café e fibra de banana é recente e, por essa razão, o custo é devidamente maior. “Ainda não trazem lucro, mas bancamos o produto porque entendemos que tende a baratear com o passar do tempo”, afirma. Além dessas opções, eles trabalham com itens como cânhamo, garrafa pet reciclada e algodões natural, egípcio e pima.
Victor Andrade
Os dois começaram vendendo camisetas e bonés por um e-commerce próprio, mas em pouco tempo conseguiram fechar parcerias com lojas multimarcas que se interessaram pela proposta da Urbô. Quando os empreendedores perceberam esse interesse, resolveram ir atrás de possíveis parceiros. “Colocamos a mala no carro e fomos bater de porta em porta em lojas de Minas Gerais”, lembra Menezes.
Esse movimento coincidiu com o início da pandemia, o que fez com que os jovens empreendedores tivessem vantagens sobre grandes marcas, segundo Menezes, por terem um custo operacional mais baixo e mais margem para negociação. “Os parceiros enxergaram uma marca jovem, com característica sustentável e um viés interessante.” Assim, passaram a ocupar lugar nas prateleiras ao lado de nomes já consolidados no mercado.
Eles também apostam nas estratégias de marketing online e off-line. “Do ponto de vista online, todos os produtos são fotografados com foto still, foto externa, vídeos de coleção, sugestões de stories, enfim, um amplo arsenal para o trabalho diário dos lojistas e usamos estes materiais nas nossas redes sociais”, diz Menezes. Para o off-line, a proposta é enviar sinalizadores de loja, por exemplo.
Deu tudo certo
Com o crescimento, a marca passou de um patamar de 25 itens por coleção para mais de 350 intens. Um dos chamarizes, segundo Menezes, é a grande variedade de jeans, com modelagens diversas: carrot, skinny, straight e slim fit. Hoje a Urbô tem uma fábrica de 1,1 mil metros quadrados e um centro de distribuição de cerca de 700 metros quadrados. A empresa emprega diretamente 35 funcionários e mais de 150 de forma indireta.
Além das coleções próprias, os jovens já têm planos de colaborações com marcas de outros segmentos para este ano, além de parcerias com influenciadores digitais nacionais e internacionais, com aderência ao tema de sustentabilidade. “Isso vai nos ajudar a gerar mais faturamento e conhecimento de marca, o que pode potencializar nossa venda no varejo”, finaliza o empresário.
Se moldando a uma cultura
A grife de luxo britânica Burberry adere ao movimento “see now, buy now”, com objetivo de levar as peças às lojas logo após o desfile
por MAURÍCIO NEVES
Em tempos de compras online e lojas de departamento lançando coleções novas a cada semana, o tempo passa a ser decisivo entre as marcas que lideram o número de vendas. Passamos para 2019. O termo “slow fashion” começa a se popularizar, ainda que timidamente, e corrompe todos os conceitos promovidos até então. Moda, mais do que seguir tendências, agora é sustentabilidade.
De acordo com um estudo da revista Environmental Health, publicado em 2018, aproximadamente 85% do vestuário que norte-americanos consomem são enviados para aterros sanitários como resíduos sólidos. Apesar de ser um mercado que fatura 1,2 trilhão de dólares anualmente, cerca de R$ 4,8 trilhões, seu impacto ambiental preocupa: a indústria da moda é a segunda que mais polui o meio ambiente, ficando atrás apenas do petróleo.
Em contrapartida à fast fashion, conceito que prioriza a venda de produtos baratos, de pouca qualidade e que chegam rápido às lojas, um novo termo passa a integrar o vocabulário: batizado de slow fashion, seu objetivo é desacelerar o consumo de produtos na industria da moda. Por um lado, as mercadorias possuem maior qualidade e durabilidade. Por outro lado, o preço um pouco elevado pode desagradar o cliente afetando sua decisão de compra.
Roupas da moda são a melhor solução?
Aproveitamento de peças
Em 2015, a especialista em consumo consciente Chiara Gadaleta criou o Prêmio Ecoera em prol da sustentabilidade nos universos da moda, beleza e design. No ano passado, a premiação homenageou a marca Coletivo de Dois por aliar comércio justo, práticas sustentáveis e empoderamento de gênero. “Nós compramos materiais com defeitos de impressão, sobras de rolo, peças que para o comércio tradicional não tem mais valor. Aproveitamos o material, só descartamos o que não tem mais como emendar”, revela Daniel Barranco, que fundou a marca com o parceiro Hugo Mor. Nesse período, costuraram mais de duas mil peças e conseguiram reaproveitar aproximadamente 150 quilos de retalhos, que iriam para o lixo.
Segundo um levantamento feito pelo site ThredUP, a compra de produtos de segunda mão aumentou 25% em apenas um ano. Esse tipo de mercado pode se enquadrar como disseminador da moda sustentável, já que incentiva o comércio de segunda mão e prolonga a vida útil das peças em bom estado.
Gabriela Petroni
Desapegos
“A principal missão da Boutique é difundir o consumo consciente, minimizar danos, aumentar a vida útil de itens descartados e reutilizá-los”, conta Rebeca Oksana, que fundou a Boutique São Paulo há quatro anos. A princípio, a jovem de 24 anos vendia “desapegos” pelo Instagram, mas viu o negócio crescer quando passou a visitar brechós de São Paulo para garimpar novas peças. Com a demanda, criou o e-commerce para vender não somente produtos de segunda mão, mas também peças novas. “Meu foco era trazer peças autênticas, únicas e de qualidade, que não seriam encontradas em lojas de fast fashion. Era uma insatisfação minha e que eu acreditava que algumas pessoas compartilhavam”, explica.
Segundo estimativas do Sebrae, o mercado têxtil brasileiro produz cerca de 170 mil toneladas de resíduos por ano. Para Rebeca, é preciso diminuir o impacto ambiental causado pela moda, seja não adquirindo peças novas ou diminuindo o consumo desenfreado. “Acredito que o garimpo e o consumo de peças de segunda mão andam de mãos dadas com um estilo de vida mais consciente. O mundo da moda precisa de uma revolução e nós estamos tentando, aos pouquinhos, fazer isso acontecer”, vibra o empresário.
No mercado de calçados há cinco anos, a Insecta Shoes acumula números surpreendentes de reciclagem: 21 mil garrafas plásticas, 2 mil metros de tecido, quase uma tonelada de algodão, mais de 1.600 quilos de papelão e 6.800 quilos de borracha já foram reciclados pela marca paulistana.
Fundada por Bárbara Mattivy, a marca surgiu com a ideia de aproveitar peças com pequenos defeitos. “Nós tentamos ao máximo tirar materiais que estão no lixo e ressignificá-los, transformando tudo em sapato”, conta. O solado, por exemplo, é feito de borracha reaproveitada, enquanto os tecidos vêm de garrafas pet recicladas.
O processo de produção da Insecta Shoes é artesanal e livre de crueldade animal, demonstrando uma preocupação além da sustentabilidade. Além disso, trabalham com a logística reversa: “quando o cliente não quer mais usar o sapato, nós recebemos ele de volta para fazer a reciclagem da forma correta”, comenta; pensando nos consumidores.
FICA na MODA
Blazer Emiliana Stella Mc’Cartney
R$1.298,00
Cropped jeans winnie GINGER
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R$428,00
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Camiseta OSKLEN
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Shorts OSKLEN
R$297,00
Sapatênis RESERVA
R$419,90
O MUNDO ESTÁ PAGANDO ALTO PELA MODA
Produção em massa de tecidos causa danos ambientais ao planeta; pessoas têm tendência a descartar mais rápido vestuário barato
texto ISABELLE GERRESTSEN imagens HUGO COMTE
Clientes entraram na loja da h&m do centro de Londres no último verão, a primeira coisa que viram foi um vestido azul marinho florido, pendurado no ponto de maior destaque da loja. Colocado à venda por apenas 4 libras (ou cerca de R$ 28), o vestido trazia mais do que o preço baixo: havia nele uma etiqueta verde com a palavra “Conscious” (consciente). Mais à frente no corredor, lixeiras de reciclagem foram colocadas ao lado de uma coleção de camisetas e vestidos listrados. Tal configuração não é incomum nas 4.473 lojas da h&m em todo o mundo, já que a empresa quer ser vista como campeã da luta contra as mudanças climáticas.
O império sueco de roupas executa uma série de programas de sustentabilidade, incentivando os clientes a trazer de volta roupas indesejadas para reutilização. Desde 2002, a empresa divulga relatórios anuais de sustentabilidade. Sua primeira coleção Conscious, usando algodão orgânico e materiais reciclados, saiu em 2010. Mais recentemente, o h&m Group anunciou um plano para fabricar todo o seu vestuário a partir de materiais reciclados ou de origem sustentável até 2030. Outra ideia foi criar estações de costura de “conserto e reforma” em lojas selecionadas e testar o aluguel de roupas em Estocolmo.
Não somos descartáveis!
Como seus outros rivais da fast fashion, como é conhecida a indústria da moda rápida, a h&m tem como principal modelo de negócios os preços baixos, consumo rápido e as tendências que mudam rapidamente – elementos que estão em conflito direto com sua missão de sustentabilidade. A indústria da moda global produz uma enorme quantidade de resíduos – um caminhão de lixo carregado de roupas é queimado ou enviado para um aterro sanitário a cada segundo, de acordo com um relatório da Ellen MacArthur Foundation, organização sem fins lucrativos que trabalha para melhorar o registro de sustentabilidade do setor da moda.
Quando uma camisa custa 5 dólares, ela é rapidamente mirada como descartável. Temos maior probabilidade de desvalorizar roupas mais baratas produzidas em grandes quantidades do que itens mais caros, de acordo com um estudo de 2009 sobre hábitos de consumo. A h&m está bem ciente do problema. Hendrik Alpen, gerente de engajamento em sustentabilidade da empresa, admitiu que o setor de fast fashion está lutando para equilibrar seu compromisso climático com o desejo de atender às demandas dos consumidores.
“Não é tão complicado quanto é estudar física quântica, basta observar e analisar como a população global se desenvolverá até o ano de 2040, quando a população do mundo poderá ser de nove bilhões de indivíduos. Naturalmente, isso é incrível da perspectiva de ter um número maior de clientes em potencial”, disse Alpen à cnn Business. “Mas se dermos uma olhada mais a frente, para as fronteiras planetárias, a conta não fecha”, admite ele.
As roupas estão prejudicando o planeta
Coletivamente, a indústria global da moda produz quase quatro bilhões de toneladas métricas de emissão de gases de efeito estufa, ou 8,1% do total mundial, de acordo com a Quantis, uma consultoria climática que analisa o impacto ambiental da indústria da moda. Esse cálculo inclui os sete estágios da vida de uma peça de vestuário, começando com a criação das fibras usadas para fabricá-la (o cultivo do algodão, por exemplo), até a montagem da roupa e, por fim, seu transporte e venda. As estimativas consideram vestuário e calçados.
Quando você vai ao shopping, é difícil entender as consequências globais dessas aquisições individuais. Mas considere o impacto de uma camiseta de algodão ou uma calça jeans por exemplo. O processo de confecção de uma camiseta de algodão emite cerca de cinco quilos de dióxido de carbono – a mesma quantidade gerada em uma viagem de carro de 20 quilômetros. Além disso, a fabricação usa 1.750 l de água. Isso ocorre porque o algodão é uma cultura que usa muita água. A irrigação ineficiente, assim como o processo de branqueamento e tintura, aumentam o uso da água, explicou a Quantis à cnn Business.
A produção de uma calça jeans consome ainda mais água (cerca de 3.000 litros) devido ao tingimento e ao branqueamento envolvidos no seu precesso de produção, segundo cálculos da Quantis. Fabricar apenas uma única calça emite cerca 20kg de gás carbônico, praticamente a mesma quantidade produzida durante uma viagem de carro de 80 quilômetros.
Existem algumas maneiras mais sustentáveis de cultivar o algodão, que incluem o uso prioritário da água da chuva, rotação de culturas para preservar a qualidade do solo e o uso limitado de pesticidas. No entanto, o algodão sustentável permanece sendo um dos produto de nicho, representando apenas cerca de 15% do total global do ano de 2017, de acordo com a CottonUp Initiative (um recurso prático para informar e orientar líderes empresariais e equipes de abastecimento sobre os problemas,
benefícios e opções para o abastecimento de algodão de uma maneira mais sustentável). Em 2017, a indústria da moda sugou cerca de 79 bilhões de metros cúbicos de água, o suficiente para encher quase 32 milhões de piscinas olímpicas. E só deve piorar. A Global Fashion Agenda (gfa) e o Boston Consulting Group (bcg) estimam que o uso de água na indústria da moda aumente outros 50% até o ano de 2030.
Segundo eles, esse uso abusivo da água ameaça principalmente os países produtores de algodão, que estão rapidamente ficando sem acesso a esse recurso natural. Pesquisadores do Twente Water Centre, da Universidade de Twente, na Holanda, afirmam que quatro bilhões de pessoas sofrem de escassez severa de água por pelo menos um mês por ano. Quase metade dessas pessoas vive na Índia e na China, os dois países mais produtores de algodão do mundo.
Outro país fundamental na produção de algodão é a Ásia Central, onde essa cultura foi parcialmente responsável pela seca de um dos Mares da região, o Mar de Aral. Ele que já foi um dos quatro maiores lagos de água doce do mundo. A questão não se encerra com a produção. Lavar roupas também pode ter um efeito prejudicial ao meio ambiente, principalmente por causa de materiais sintéticos, como o poliéster, que contêm fibras plásticas. Após muitas lavagens, essas fibras se decompõem em microplásticos, que podem chegar aos oceanos e prejudicar a fauna marinha.
“Sessenta por cento dos materiais usados pela indústria são fibras plásticas, cuja lavagem polui os oceanos com resíduos equivalentes a cinquenta bilhões de garrafas plásticas por ano”, comentou Francois Souchet, que lidera o programa Make Fashion Circular (mfc), da Ellen MacArthur Foundation, unindo os principais atores do setor para desenvolver uma moda cada vez mais sustentável.
O fabricante de jeans Levi Strauss está em uma missão para substituir isso. Durante anos, a empresa incentiva seus clientes a reduzir o número de vezes que lavam seus jeans. Um relatório do ano de 2013 encomendado pela empresa revelou que a lavagem costumeira era responsável por 23% da água usada no ciclo de vida de seus jeans.
A marca Levi’s também encontrou uma outra maneira para fabricar seus jeans desbotados. Ela inclui utilizar apenas um dedal de água e gás ozônio ao invés do método considerado tradicional, que pode desperdiçar até quarenta e dois litros de água. A empresa também aproveita de pedras ao invéz de água para obter a aparência de “danificados”, uma técnica que reduziu em noventa e seis por cento o volume de água utilizada no acabamento de vestuário desde o ano de 2011, segundo a empresa. O fabricante de jeans Levi Strauss está em uma missão para substituir isso. Fabricar apenas uma única calça emite cerca de vinte quilos de gás ozônio.
O alto preço da sustentabilidade
A marca h&m lançou sua Coleção Conscious em 2010. Para se qualificar para a etiqueta consciente, as roupas necessitam conter pelo menos 50% de materiais sustentáveis, como por exemplo algodão orgânico ou poliéster reciclado, de acordo com o site da h&m. A empresa foi acusada pelos clientes de fazer greenwashing por ser vaga sobre as credenciais de sustentabilidade da coleção. No meio do ano passado, a Autoridade Norueguesa do Consumidor (nca) enviou uma carta à h&m, acusando a empresa de enganar os consumidores com reivindicações de sustentabilidade excessivamente vagas associadas à sua coleção Conscious. A nca disse à cnn Business que as informações no site da marca h&m não especificavam a quantidade de material reciclado usado em cada peça.
“Nós acreditamos que essa é uma informação a qual o consumidor deve ter em mãos, pois a roupa é comercializada como reciclada”, opinou Elisabeth Lier Haugseth, diretora geral da nca. “É preciso ter consciência se isso representa 2% ou 50% do material da roupa.” Quando perguntado sobre o tópico, Alpen, gerente de sustentabilidade da marca h&m, pronunciou que a empresa assumiria as críticas e aprenderia a “comunicar esse valor extra” aos consumidores do produto.
A coleção Conscious inclui itens como uma jaqueta rosa vegan feita de Pinatex, um material bastante similar com couro feito de resíduos de abacaxi e poliéster reciclado, em vez de couros de animais. O problema é que seu preço de saída é de 299 dólares. Esse preço, que se destaca em um mar de roupas superbaratas, ilustra uma dura verdade: embora a marca h&m esteja se esforçando mais para falar sobre as mudanças climáticas, é muito difícil ampliar práticas sustentáveis e ainda manter os preços reduzidos.
O problema é que seu preço de saída é de US$ 299. Desenvolvido pela especialista em artigos de couro Carmen Hijosa, a Pinatex tornou-se um material bastante procurado. Hijosa se juntou a diversos estilistas de luxo, incluindo Hugo Boss, Dolce Gabbana, Gucci, Prada e Louis Vuitton e Trussardi, além de colaboração na marca h&m.
Quanto você quer essa peça?
Cada um faz sua parte
A empresária busca desenvolver a sua empresa para que a Pinatex possa eventualmente fornecer a uma maior quantidade de fabricantes de roupas uma alternativa de couro por um preço mais baixo. Por enquanto, ela reconhece que a jaqueta de US$ 299 de dolares da h&m provavelmente está além do alcance de muitos dos indivíduos que consomem da marca.
Mas Carmen Hijosa também disse à que cabe aos clientes desempenhar o seu papel – comprando produtos menos descartáveis e que durem mais tempo. “Nós, consumidores, temos muito poder. Acho que todos nós sabemos que não precisamos de vinte camisetas. Talvez seja melhor pagar um valor mais caro e ter apenas duas camisetas”, observou. “Acho que nós estamos muito, muito mais conscientes do que eramos no passado”, acrescentou. “As pessoas agora, param por cinco segundos e pensam: ‘se eu comprar esta peça, será um desperdício na minha vida daqui a alguns meses, se eu comprar aquilo, vai durar um período maior de tempo. Custa mais caro, mas também é algo que eu vou utilizar em maior quantidade, então valerá bem mais a pena!”.
As empresas que geram fast fashion produzem bilhões de peças de vestuário a cada ano para levar as últimas tendências do mundo da moda aos seus clientes. Os críticos, do Greenpeace ao Parlamento do Reino Unido, dizem que essa produção em grandes quantidades ajuda a promover a convicção de que as roupas são descartáveis e incentiva os indivíduos ao desperdício excessivo. Mais da metade dos itens de fast fashion são descartados em menos de um ano, de acordo com estimativas da consultoria McKinsey & Company.
Em seu relatório “Fixing Fashion” de 2019, o comitê de auditoria ambiental da Câmara dos Comuns do Reino Unido propôs que o governo inserisse um imposto de fast fashion para combater a mentalidade descartável dos consumidores.
O custo da moda não devia ser o planeta”
O verdadeiro problema da indústria
“O verdadeiro e grande problema que a indústria da moda rápida (fast fashion) enfrenta em meio a sociedade diariamente, é que, se você estiver vendendo um produto por 5 libras, as pessoas não vão tratá-lo com nenhum respeito por se tratar de um produto mais barato e, no final de sua vida útil, ele estará na lixeira e em aterros sanitários”, disse Mary Creagh, a parlamentar que presidiu o comitê.
O imposto proposto era pequeno, apenas um centavo por item. Os legisladores queriam usar da receita para impedir que as roupas fossem parar em um aterro sanitário. Por fim, o governo rejeitou a ideia, dizendo que queria se concentrar na eliminação do plástico descartável primeiro, que esse era o foco principal deles. Em uma tentativa de fazer sua parte, a marca h&m lançou um programa de reciclagem no ano de 2012, permitindo que os clientes trocassem roupas indesejadas por cupons de desconto.
O último relatório de sustentabilidade da empresa h&m declarou que, das peças de roupas coletadas, 50% a 60% foram classificadas para reutilização. Cerca de 35% a 45% foram reciclados para se tornarem produtos fora do mundo da moda, como por exemplo panos ou materiais de isolamento, ou se transformarem em novas fibras têxteis. Os 3% a 7% restantes que não puderam ser reciclados foram queimados para a produção de energia. E 0% acaba em aterros sanitários.
A empresa pretende operar um modelo de negócios 100% circular até o ano de 2030, o que significa garantir que “não haja fim da vida útil dos materiais, mas criando um ciclo fechado em que tudo seja usado pelo máximo de tempo possível até ser finalmente reciclado”, detalhou Alpen.
Em todo o planeta a partir de 2015, 73% das roupas tiveram como seu destino final os aterros sanitários ou incineradores porque não podem ser recicladas, de acordo com a Ellen Mac Arthur Foundation. O principal e grande desafio no mundo da moda é a grande falta de infraestrutura de reciclagem de têxteis. A tecnologia permite que menos de 1% das roupas sejam recicladas, disse à cnn François Souchet, que lidera o programa Make Fashion Circular da Ellen MacArthur Foundation. “Os produtos não foram projetados para ser transformados em novos itens. Com os materiais usados você não pode reciclar economicamente as roupas”, acrescentou ela.
A maioria dos especialistas e empresas de moda reconhece que a tarefa à frente exigirá uma infinidade de soluções e tecnologias que ainda não estão disponíveis. “Não acho que exista um negócio de moda verdadeiramente sustentável, mas, olhando para o resto da indústria da moda hoje, posso dizer com muita confiança que a marca h&m é uma das opções mais sustentáveis dentro desse cenário”, sustentou Alpen.
A grande e verdadeira fortuna
O slow fashion consegue espaço
Em entrevista à Bússola, empreendedora explica conceito que une modelo de produção com responsabilidade ambiental
por RENATA RUSSO
O termo slow fashion, criado por volta de 2004, em Londres, por Angela Murrills, escritora de moda da revista Georgia Straigh, virou tendência no setor de vestuário. Visto como um movimento que valoriza a produção desacelerada, esse conceito se aplica em respeito ao meio ambiente e também às condições de trabalho dos profissionais do setor, o que atrai, principalmente, consumidores que colocam o propositivo como fator decisivo de compra.
O conceito vai totalmente na contramão do fast fashion, uma linha de produção que prioriza a fabricação em massa e oculta os impactos ambientais do ciclo de vida do produto. A Bússola conversou com a diretora de marketing e sócia-fundadora da grife Toda Frida, Daiana Moreira. A marca catarinense de moda retrô apostou no conceito slow fashion desde sua criação.
Bússola: O slow fashion tem ganhado espaço no Brasil, com marcas em buscando um consumo mais consciente. Diante disso, você acredita que a prática é apenas um movimento ou um mercado para a moda?
Daiana Moreira: Eu acredito ser um movimento sim, mas também um mercado com oportunidade de crescimento para empresas que querem atingir um público mais consciente de suas escolhas e mais preocupado em consumir produtos que façam sentido em seu lifestyle. Fundamos a Toda Frida em 2014 e o termo slow fashion e o conceito eram algo ainda muito desconhecido no Brasil.
“Estar” na moda vale todo esse problema?
Dispostos a pagar?
Ao longo dos anos, começamos a trazer isso para nossas clientes e para as futuras compradoras da marca. O que constatamos foi um público que valoriza produtos duráveis, que ao consumir busca saber quem fez a peça e como o fez. Para nós é uma forma de unir um movimento de produção melhor para o planeta no longo prazo, com a oportunidade de negócios e crescimento de um mercado disposto a pagar por isso, por ter a mesma visão de mundo.
Com o crescimento do slow fashion no país, a concorrência também aumenta. Como a Toda Frida se destaca nesse meio e o que a marca busca transmitir com essa prática?
A meu ver, o aumento da concorrência é algo positivo. Significa que mais marcas estão alinhadas no mesmo propósito e isso é melhor tanto para o planeta quanto para quem
O que a marca quer com esse movimento?
consome. Na Toda Frida trabalhamos com produtos 100% autorais, você não vai encontrar nada totalmente igual ao que a Toda Frida faz., esse é um dos nosso maiores critérios.
Isso, por si só, já faz com que tenhamos destaque para o público que consome produtos slow fashion no estilo retrô romântico que é nosso nicho de mercado. Além disso, damos às consumidoras uma experiência de compra diferenciada das demais marcas, sempre trazendo novidades que vão além dos produtos em si: presentes, embalagens especiais e atendimento pré e pós venda humanizado e eficiente.
Como você acredita que a moda vai se desenvolver no mundo pós-pandêmico e, talvez, ainda muito consumista?
Tenho visto um movimento crescente de brechós e marcas novas dentro do slow fashion. Ao mesmo passo, observo as fast fashion cada vez mais produzindo aceleradamente as roupas das tendências de influencers, principalmente visando um público mais jovem e imaturo. Penso que as pessoas vão continuar neste modelo de consumo. Com o crescimento do slow, a concorrência também aumenta. Durante a pandemia notamos o aquecimento do mercado de moda. Ao mesmo tempo, percebo que a forma de consumo irá se modificar ao longo do tempo, dos anos e das gerações.
Bruno Siqueira
Somos Alme
@somosalme Somos Alme é uma marca nova de sapatos criada com o intuito de levar conforto a todos e ao mesmo tempo prezando a sustentabilidade. A marca utiliza uma tecnologia de palmilha de memória ao desenho anatômico das formas.
Care Natural Beauty
@festivalpath A primeira marca brasileira de skincare e skincare colorido. Produtos cruelty-free com os melhores ativos orgânicos da natureza em sua máxima concentração.
Festival Path
@festivalpath É o maior evento e mais diverso de inovação e criatividade do Brasil. Palestras, shows, filmes e entre outras atividades fazem do Path uma rica e experiência incrível envolvendo educação, negócios e entretenimento.
Caudalie
@caudalie Caudalie é uma das marcas pioneiras do mundo da estética, sempre oferecendo a fórmula mais natural e eficaz possível. A empreendedora Mathilde Thomas viu a oportunidade de ouro nas uvas sem uso da vinícula de seu marido.
Menos 1 Lixo
@menos1lixo Um movimento focado em empoderar o indivíduo capaz de trasnformar o mundo através de pequenos gestos. Propõem um consumo consciente e sustentabilidade na prática pra você!
LAB 77
@lab77store A Lab Sete Sete é um laboratório criativo, para o desenvolvimento de produtos autênticos, sustentáveis e com a melhor qualidade. O seu objetivo como marca é criar aquela peça que vira seu objeto de desejo. Acreditam que sustentabilidade e responsabilidade social são obrigações no mundo de hoje.
6 dicas para ser mais sustentável
Quer ser mais sustentável ao se vestir? Nem sempre as pessoas param para refletir sobre esse assunto
por AMANDA STUCCHI
A sustentabilidade está no nosso dia a dia, desde o momento em que acordamos até o momento que dormimos. Podemos escolher usar menos água ao escovar os dentes, apagar a luz quando saímos do cômodo, reutilizar materiais, comprar de forma consciente, buscar alimentos que causam menos impacto ambiental.
Portanto, o jeito com que nos vestimos também causa impacto ambiental. Já falamos aqui no Vegan Business que a indústria da moda é responsável pela emissão de 10% de carbono global (isso é mais que todos os voos internacionais e transportes combinados!).
Além disso, essa é a segunda indústria mais poluente, só perdendo para a do petróleo. Pensando nisso, que tal conhecer dicas para se vestir de forma mais sustentável? Assim, você traz a sustentabilidade para seu guarda-roupa, outra esfera da sua vida cotidiana.
1# Maneirar no consumismo
O título pode até parecer óbvio, entretanto, comprar menos ajuda o meio ambiente. Vamos combinar, se você tem dez pares de sapatos provavelmente não precisa de outro. Se comprar muitas roupas faz parte do seu estilo de vida, é necessário dizer: ter a moda mais sustentável no seu guarda-roupa, ainda assim, causa impacto ambiental. É claro que comparado a produtos que não pensam nesse assunto ao ser produzido, o impacto será menor. Porém, já considerou o transporte dessas vestimentas? Vai causar a emissão de gás carbônico. Ou seja, ser consciente começa quando começamos a pensar toda a cadeia do produto, desde a produção até a entrega, assim, maneiramos no consumismo e só compramos o que precisamos.
Muitas vezes as pessoas compram para se sentirem mais felizes, essa é uma felicidade que normalmente é passageira. Por isso, é necessário lidar com seu estado emocional de outra maneira, seu bolso e a natureza agradecem. Dessa maneira o minimalismo é uma pauta de estrema importância nos dias de hoje.
A roupa verde é sustentável?
Você precisa mesmo de outro par de sapato? Se sim, opte por comprar de marcas sustentáveis e veganas, essas auxiliam o planeta e os animais.Se você não conhece nenhuma marca sustentável e vegana, vamos te dar sugestões!
Já fizemos uma lista com as principais marcas de moda vegana e calçados veganos. Um exemplo para ilustrar é a Insecta Shoes, essa marca de moda utiliza plástico reciclado, algodão reciclado, peças de roupas usadas, borracha reaproveitada, tecidos de reuso e resíduos de produção que seriam descartados para transformá-los em novos sapatos.
3# Compre roupas com qualidade
A ideia aqui é simples: o que dura mais, permite o melhor uso dos recursos naturais. Portanto, caso seja possível dentro da sua realidade, procure comprar roupas de melhor qualidade. Essa atitude também pode ajudar as marcas a perceberem a necessidade de desenvolver roupas com duração superior.
Como sabemos, algumas marcas podem criar roupas com baixa qualidade só para vender, o que não é consciente. Logo, produtos com qualidade superior é uma forma de ser mais sustentável.
4# Dê uma segunda chance
Se sua roupa “estragou” e você está pensando em jogá-la fora, verifique se existe uma solução. Às vezes é uma questão de costurá-la, dessa forma é possível consertar a peça, para evitar que ela seja descartada.
Gabriel Ramos
Gabriel Ramos
Caso não exista jeito, pode-se utilizar o tecido dessa roupa para transformá-la em outra. Agora, se o problema é porque você cansou daquela roupa, também pode se desfazer dela de uma maneira mais sustentável.
Um exemplo é doando essa peça para seus amigos e familiares que desejam ou doando para uma instituição. Lembre-se, porém, que a roupa precisa estar em bom estado para isso.
Outra opção é vendê-la. Para isso, você pode usar as plataformas on-line ou mesmo procurar um brechó para efetuar a venda (alguns acabam te pagando em dinheiro ou você pode comprar outra roupa pelo mesmo valor).
Por último, se essas opções não funcionarem, coloque o tecido para a reciclagem de têxteis.Uma dica é o sistema do portal eCycle, lá você pode colocar o que precisa descartar e a sua região, assim, é possível encontrar postos de reciclagem e doação mais próximos.
5# Vá ao brechó
Ao comprar suas roupas nessas lojas você evita que peças acabem indo parar no aterro sanitário e economiza as emissões de carbono que seriam utilizadas na produção de novas roupas. Portanto, ao comprar de um brechó você ajuda o meio ambiente. Essa é uma opção para encontrar roupas de melhor qualidade em um preço mais barato do que nas lojas tradicionais. Agora, se na sua região não tem um brechó: que tal trocar roupas com suas amizades? É possível combinar a data, o lugar e a hora com outras pessoas para realizar essa troca.
Se mexer para fazer mudança
6# Em certas ocasiões, alugue
O aluguel de roupas é uma opção para aquelas peças que as pessoas não vão usar sempre. Aqui podemos dar os seguintes exemplos: vestidos de festas, fantasias de carnaval ou halloween e roupas de gravidez. Alugar essas roupas também pode compensar na economia, já que não é necessário utilizá-las o tempo todo.
Mas, se você quiser roupas do cotidiano, um exemplo brasileiro de empresa é a Weuse. A marca tem um plano de assinatura que disponibiliza 16 peças por mês para os consumidores. Outra dica é usar as roupas por mais tempo antes de lavar. Se sua camiseta não está suja ao tê-la vestido é possível usá-la novamente, evitando lavagens desnecessárias.
Vestimentas x atemporalidade
Roupas tem data de validade? Saiba quais são os benefícios e as principais peças desse segmento da moda
por MARINA DA UHNIKA
A moda é puramente conhecida por sua temporalidade. As tendências vão e voltam ao longo dos anos, renovando conceitos e estilos. Mas existe um estilo que nunca sai de moda, são as roupas atemporais. No mundo do fast fashion e das tendências que não ultrapassam uma temporada, o estilo atemporal tem ganhado espaço em muitos guarda-roupas, visando a durabilidade das peças.
O que são roupas atemporais?
As roupas atemporais são peças que não tem data de validade. Claramente não são aquelas tendências que surgiram neste ano ou no ano passado e ficam pipocando na linha do tempo das nossas redes sociais. Também não são aquelas peças super exuberantes e marcantes, e sim a aposta no básico, já que com ele é possível criar város looks com as mesmas peças.
Você pode encontrar peças atemporais nas lojas e até mesmo no seu guarda-roupas. São aquelas que já foram compradas há anos, mas que conseguimos usá-las sem parecer que saíram diretamente do armário das nossas famílias, produtos atemporais não combinam com a realidade do fast fashion, pois são duráveis e podem ser combinados com vários tipos de looks em ocasiões distintas.
As peças atemporais são voltadas para a linha básica, mas não necessariamente ficam dentro do conhecido branco e preto e de forma alguma podem ser consideradas monótonas, muito pelo contrário!
As peças chaves são as melhores aliadas
Por que vale a pena investir em roupas atemporais?
As roupas atemporais estão completamente associadas à discussão da sustentabilidade, afinal, o setor têxtil é um dos mais poluentes do planeta. A indústria têxtil fica atrás apenas do setor petrolífero, o segundo mais poluente, sendo responsável por 8% das emissões de gás carbônico na atmosfera.
Em vários âmbitos, temos consumidores mais exigentes quanto àquilo que consomem e quanto à responsabilidade das marcas. E não seria diferente dentro da moda. Não à toa, a procura por peças mais sustentáveis tem crescido ao redor do mundo, assim como o
surgimento de propostas como o armário-cápsula e o slow fashion. O consumo e o uso de roupas atemporais contribuem com o planeta, reduz o descarte de roupas e nos propõe um consumo mais consciente visando a sustentabilidade. Com tecidos mais resistentes e de boa qualidade, não é necessário renovar as peças com tanta frequência e você pode adquiri-las sem medo de que daqui algum tempo ela fique parada no seu guarda-roupa, por não fazer mais sentido para você.
Roupas atemporais são mais econômicas, ainda que o valor de compra da peça seja um pouco mais alto que o de grandes redes de departamento. Além disso, um guarda-roupa atemporal é mais harmônico, muito mais sólido do que seguir tendências.
Conclusão
Agora que você já conhece roupas atemporais e seus benefícios para o seu guarda-roupa, estilo e para o nosso planeta, não deixe de se informar sobre a sua responsabilidade ambiental. Avaliar as nossas escolhas de roupas faz parte do futuro do planeta.
Elaine Matos
Entrevista: Sasha Meneghel
Filha de Xuxa Meneghel e Luciano Szafir, formada em moda, vegana e com 23 anos, fala sobre sustentabiliade, veganismo e consumismo
por RENATA TELLES
De lá pra cá, Sasha precisou aprender a lidar com a fama, analisar o lado bom e o ruim das redes sociais, se descobriu na moda sustentável e acabou de anunciar o noivado com o cantor João Figueiredo. Em entrevista à Glamour Brasil, a noiva do ano contou que está nos planos uma futura adoção, quando o veganismo estrito entrou em sua vida.
Alfinete: Em um dos stories recentes, o João brinca que você teria comprado vários sapatos no México e voltado com a mala cheia. Queria que você falasse um pouquinho da sua relação, primeiro, com sapatos. Realmente é uma addict? Ou é do tipo que ama três pares e só usa aqueles? Quantos sapatos aproximadamente você tem hoje? E quais modelos mais ama? Salto, rasteira… Prefere cores ou é mais clássica?
Sasha Meneghel: Não, não foi isso o que aconteceu! (risos). Acho que o story não foi entendido di reito. No post que citaram, eu disse que o João foi quem encheu a minha mala com sapatos dele. Eu gosto muito de sapatos, mas cada vez mais priorizo o consumo consciente. Peças-chave já te abastecem com uma infinidade de possibilidades e combinações. Por isso, é tão importante escolher uma peça especial e que tenha a ver com a sua personalidade. Sobre modelos e cores, sou bem eclética. Em um dia, uma rasteirinha confortável pode ser meu maior desejo. Já no dia seguinte, uma bota com salto alto ou um tenis pode finalizar meu look, varia bastante. O que me guia é o que eu estou sentindo no momento, a energia que sinto no momento.
Alfinete: Você é superligada em sustentabilidade/veganismo e queria que falasse um pouco de como escolhe seus calçados, roupas… O que leva em conta? Esse é um cuidado que você adotou desde que virou vegana? O dia/momento ou situação específica que você falou: “isso não tá certo. Vou mudar o meu estilo de vida e ajudar o planeta”?
Sasha Meneghel: Quando me mudei para Nova Iorque, para estudar moda na Parsons, me atentava pouco à matéria-prima dos produtos e ao processo que aquela peça tinha passado até chegar em minhas mãos. Já no começo do segundo ano de faculdade, vi um documentário chamado The True Cost, que expõe questões como o trabalho escravo e retrata profissionais colocando suas vidas em risco, trabalhando em condições desumanas. Além disso, mostram como a indústria da moda pode ferir o meio-ambiente. Desde então, nunca mais olhei para a moda da mesma forma. Cada vez mais, procuro consumir conscientemente, entendendo sempre o verdadeiro custo de cada produto. E não falo somente de custos financeiros, mas especialmente o custo ambiental e humano por trás de cada peça produzida. Gosto de apoiar e divulgar marcas que buscam mudanças, seja no método de reciclagem, na embalagem, na
matéria-prima, entre tantas outras inovações possíveis e necessárias. Sobre o veganismo, é um estilo de vida. Uma nova forma de enxergar nosso impacto no mundo. Há três anos, eu sigo uma alimentação que exclui todo tipo de derivados animais. Não sou integralmente vegana, mas procuro consumir conscientemente e, sempre que há opções disponíveis, opto por produtos veganos e métodos sustentáveis de produção.
Alfinete: Vi uma entrevista sua no SuperBonita onde você conta que a Xuxa a ajudou no processo do veganismo. Já tem quantos anos que não consome carne? Qual foi a maior diferença que sentiu no corpo e na mente? O que mais gosta de comer atualmente?
Sasha Meneghel: Sigo uma alimentação vegana. Inclusive, recentemente aprendi que se fala “vegetariano restrito” porque vegano é um ‘mindset’ por inteiro. Acho que isso tem muito a ver com sustentabilidade Faz mais ou menos três anos que escolhi ser vegetariana estrita. Minha mãe foi, sim, um grande exemplo e também me ajudou nesse processo. A maior diferença que senti foi minha motivação. Passei a me sentir mais disposta. Minhas comidas preferidas são arroz e feijao, qualquer tipo de massa com um bom molho de tomate e açaí. E também gosto muito de brócolis.
Alfinete: Incentivou o João a adotar o veganismo ou vegetarianismo também? Como foi o processo?
Sasha Meneghel: Incentivo ele todos os dias. Ele já não come mais carnes vermelhas e nem frango, há quase um ano, mas come peixes e queijos. É um processo individual, por isso acho que devemos respeitar o tempo e a vontade de cada um.
Alfinete: É verdade? Antes mesmo da missão, era algo que sempre sonhou?
Sasha Meneghel: Eu sempre quis ter irmãos. Demorou 15 anos para o David [filho de Szafir com Luhanna Melloni] chegar em minha vida! Com três anos de idade, comecei a visitar orfanatos, por isso a ideia de adoção sempre esteve na minha cabeça. Sempre sonhei em ser mae, e se Deus quiser eu ainda serei, sei que o João sonha com isso que nem eu. A ideia de adotar está muito presente nas nossas metas e nos planos futuros.
Alfinete: Muita gente diz que “se transformou” durante o isolamento. Outros, para não pirar, descobriram novos hobbies. Como encarou a quarentena? Você e o João tiveram a fase de tie dye, curso on-line, momento Masterchef...? Como encararam, ele te ajudou em algo? E você com ele? Acredita que passar ao lado dele foi crucial?
Sasha Meneguel: Tive momentos onde estava mais ativa, outros onde me sentia menos motivada. Estar perto de pessoas que amo, me ajudou bastante. A arte sempre esteve presente na minha vida. Faço desenhos - em guardanapos, telas, papeis, jaquetas, costumizo roupas, e entre outros. Nunca me faltou lugar para rabiscar. Minha desde nova também era assim, e foi ela a responsável por me passar isso desde pequena. Sou muito grata por ter conseguido trabalhar durante um período tão caótico. Me manter ocupada e ativa fez, e ainda faz muita diferença na minha vida e saúde mental principalmente.
Alfinete: Quais suas inspirações no universo fashion?
Sasha Meneghel: Minha inspiração é Stella McCartney. Acho incrível como ela decidiu não usar couro de animais e procurou uma alternativa para prejudicar o meio ambiente o menos possível, mostrando que é possível fazer isso com classe.
Sasha Meneghel é discreta com a vida pessoal, mas contou algumas curiosidades respondendo perguntas pouco exploradas pela mídia. Ao ser questionada sobre o tema que gostaria de falar em entrevistas, a estilista foi direta: “Sou muito reservada, principalmente em relação à minha vida pessoal. Gostaria que as pessoas me perguntassem mais sobre o veganismo, porque isso me faz querer aprender mais, querer me informar mais.
Carbono neutro na moda brasileira
texto PAULA MELLO ilustração KEZIA GABRIELLA
APantys foi a primeira marca de moda brasileira a adotar a etiqueta carbono neutro, no ano passado, enquanto a Amaro anunciou recentemente que passa a ser uma empresa carbono negativo. Mas o que isso significa na prática? A sustentabilidade é um assunto urgente na indústria da moda e o setor vem se esforçando para evitar (e reverter) seus impactos negativos no meio ambiente.
Em 2019, Gabriela Hearst, que preza por uma moda com práticas sustentáveis, se tornou a primeira marca a neutralizar as emissões de carbono de um desfile. No mesmo ano, a Gucci anunciou que compensaria todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (gee) de suas próprias operações e de toda a cadeia de suprimentos. Logo depois foi a vez do Grupo Kering, conglomerado que detém a marca italiana e outras como Balenciaga e Bottega Veneta. O movimento não se restringe ao exterior e também está sendo aderido pela moda nacional. Caso da Pantys, marca de calcinha absorvente que utiliza tecidos biodegradáveis, que adotou a etiqueta carbono neutro em suas peças em 2020, detalhando a pegada de carbono dos produtos. “A nossa intenção com essa iniciativa é realmente conscientizar e trazer acesso à essa informação para a linguagem dos consumidores, possibilitando que eles saibam como suas compras impactam o meio ambiente”, afirma a sócia fundadora Emily Ewell.
Mas, afinal, o que isso significa na prática? “É a empresa que calcula, monitora, reduz o máximo suas emissões de carbono e outros gases de efeito estufa e então, o que ainda emite, compensa de alguma forma”, explica Fernanda Simon, editora contribuinte de sustentabilidade da Vogue. No caso de marcas de moda, por exemplo, é preciso mapear desde a extração da matéria-prima, processo produtivo, distribuição, uso, pós-uso e assim por diante”. Ela diz que, normalmente, a compensação acontece por meio do mercado de crédito de carbono, em que 1 é proporcional a uma tonelada de gás. A Pantys, que optou por calcular e neutralizar a pegada de carbono de todos os seus produtos, escolheu projetos de redução do desmatamento na Amazônia, geração de energia a partir da captura de gás metano no aterro sanitário de Manaus e geração de Energia Eólica no nordeste do Brasil para compensar suas emissões de gás.
A Amaro anunciou recentemente que se tornaria a primeira empresa de consumo brasileira 100% carbono negativo, ou seja, desde janeiro deste ano passou a neutralizar em dobro to da a emissão de gás oriunda de seus produtos, que em 2021 tem volume estimado de 15 mil toneladas. A Hering, mais uma empresa a se tornar carbono neutro este ano, também compensou em dobro a emissão de gás e do ciclo de vida da sua camiseta ícone, a World, em celebração aos seus 30 anos. A iniciativa tem como objetivo a conservação da Amazônia, com mais de 4,4 milhões de árvores preservadas em 2021.
Para Fernanda, esse é sim um esforço em prol do desenvolvimento da sustentabilidade. “É imprescindível que as empresas se assumam responsáveis por suas emissões de carbono”, afirma ela, mas acrescenta que a sustentabilidade é uma pauta complexa, pois exige uma visão integral nos pilares social, cultura e econômico, além do ambiental. “É importante manter o empenho para mitigar os impactos negativos em todos os setores e caminhar com uma visão sistêmica em busca de novas soluções”, completa a estudiosa.
Atributos na moda sustentável
texto CHIARA GADALETA ilustração KEZIA GABRIELLA
Olhando por um lado, as marcas se apressam para abrir uma agenda que priorize a sustentaniliade no setor, olhando para seus impactos negativos e discutindo verdades inconvenientes, e de outro, consumidores finais que, com a pandemia, estão cada vez mais exigentes e mais preocupados com a origem das peças e com a pegada que a forma de adquirir bens.
A preocupação com o impacto do consumo no planeta não é de hoje. O conceito de desenvolvimento sustentável foi reconhecido internacionalmente no começo da década de 1970 na Conferência das Nações Unidas realizada em Estocolmo, na Suécia, e a ideia apontou um caminho em que as questões do desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente podiam e deviam andar lado a lado. Nos anos 1990, para organizar e expandir essa narrativa, foi criado o tripé da sustentabilidade ou 3Ps.
O pilar de profit ou de lucro refere-se ao resultado financeiro da empresa, o de people, ao capital humano e o planet, ao capital natural. De lá para cá, as empresas são capazes de medir seus resultados e, assim, analisar suas operações sob essa ótica.
Nessa jornada em que a transparência é premissa, as corporações inseridas em toda indústria da moda podem se aproximar de toda sua cadeia de valor, ou seja, seus fornecedores e stakeholders disseminando seus valores e mostrando como olham para o futuro das próximas gerações. Na outra ponta, clientes, muitas vezes ativistas, também podem colaborar valorizando peças que carregam boas histórias em seu processo de produção e materiais.
Mas como saber se uma marca de moldadas pelas suas dificuldades, fazem análises constantes, produzem relatórios de sustentabilidade e os publicam em seus sites, mostrando metas de melhorias no que diz respeito a emissões de carbono e ao uso de recursos naturais, como água e energia. Além disso, marcas que acreditam que a moda pode colaborar para um mundo melhor, usam suas vozes dentro e fora de seus portòes para falar sobre a biodiversidade e as questões sociais, como antirracismo e igualdade.
E na hora do consumo propriamente dito? Como alinhar o planeta, as pessoas e a moda no mundo pós-pandemia? Como fazer boas escolhas, aquelas em que mostramos posicionamentos nesse novo mundo em construção? No Movimento Ecoera, divi dimos produtos e peças em algumas categorias e cada uma delas leva um atributo que confere uma porta de entrada para processos, matérias ou iniciativas que diminuem os impactos negativos e que podem funcionar como guias. Faz-se necessário um olhar apurado e detalhado para a cadeia de produção, além de saber identificar melhorias e implementar projetos de impacto positivo. A produção de qualquer bem de consumo tem impacto no meio ambiente e na sociedade. No caso da moda, estamos falando de uma indústria que emprega milhões de pessoas, que utiliza água e energia, além de produzir descarte têxtil. Esses desafios precisam ser olhados como ferramentas de medição, em busca da redução com metas de melhor gestão.
Nessa forma de consumir, baseada em valores e propósito, a comunicação dos atributos sustentáveis de cada roupa ou acessório é fundamental. Por meio de informações consistentes nas etiquetas, nos tags ou através de selos e certificações, cada um pode tomar decisões, escolher seus looks e se vestir com mais consciência. Vamos juntos!
Um montanha de roupa abandonada
texto CAROL ABUMRAD ilustração KEZIA GABRIELLA
Aestilista Stella McCartney disse que a indústria da moda “gera um incrível desperdício, que é prejudicial para o meio ambiente”, e revelou uma nova visão para o futuro da indústria junto com a ambientalista Ellen MacArthur. McCartney e MacArthur uniram forças para convocar a indústria da moda para resolver seu problema de desperdício depois que um relatório.
De acordo com o relatório, um valor estimado em 500 bilhões de dólares é perdido a cada ano devido a roupas que mal são usadas, além de raramente serem recicladas e, se nada mudar, o setor vai usar até um quarto do carbono mundial até 2025. Além disso, meio milhão de toneladas de microfibras são jogadas no oceano todos os anos, o equivalente a mais de 50 bilhões de garrafas plásticas. MacArthur culpou o modelo atual “take-make-dispose” (pegue-produza-descarte) da indústria pelo problema de desperdício. “A indústria têxtil de hoje é construída em um modelo linear desatualizado, take-make-dispose, poluente e que gera enorme desperdício e poluição. A new textiles economy: Redesigning fashion’s future apresenta uma visão ambiciosa de um novo sistema baseado em princípios de economia circular, que oferece benefícios à economia, à sociedade e ao meio ambiente. Precisamos que toda a indústria da moda se baseie nisso”, diz Ellen. MacArthur e McCartney acreditam que as roupas devem ser projetadas para durarem mais tempo, serem mais usadas e facilmente alugadas ou recicladas, e as marcas devem explorar novos materiais para garantir que a roupa possa se biodegradar sem liberar toxinas e poluição. “O que realmente me empolga em A new textiles economy: Redesigning fashion’s future é que ele oferece soluções para uma indústria que gera um incrível desperdício, que é prejudicial para o meio ambiente”, comenta Stella McCartney.
Os ativistas de sustentabilidade disseram que encontrar novas maneiras de escalar melhores tecnologias, e explorar novos modelos de negócios são necessários para criar uma nova economia têxtil, bem como uma profundidade de colaboração sem precedentes em toda a indústria. Os líderes da indústria, incluindo os parceiros centrais, h&m, Lenzing e Nike Inc., e a Fundação c&a como financiadora filantrópica, já aprovaram a nova visão.
No deserto do Atacama, milhares de peças de roupa e calçados são descartados diariamente formando uma imensa montanha de lixo advindo dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Perto de 40 mil toneladas, importadas e não vendidas, acabam desprezadas no porto de Iquique, a 1800 km de Santiago. Conforme a Organização das Nações Unidas (onu), a indústria da moda é responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do desperdício de água no mundo.
Com o passar do tempo estas peças se desgastam e liberam microplásticos que acabam na atmosfera, sem contar o número de incêndios clandestinos tidos como “solução” produzindo uma preocupante poluição do ar. Comerciantes e donos de empresas selecionam entre roupas premium, de primeira e segunda categorias e lixos. Queremos um mundo melhor, e quando se fala em compras, a forma mais consciente é adquirir produtos second hand. Precisamos fazer com que a roupa circule, para assim durar mais tempo sendo usada e automaticamente evitar que ela seja jogada no lixo poluindo o meio ambiente.