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Cabelos brancos, moda e essência
A escritora, publicitária, mãe, palestrante, influenciadora digital, tatuada Cris Guerra é múltipla, como ela mesma se define. Autora do livro “Moda Intuitiva”, entre outros, e criadora do primeiro blog de look do dia do Brasil, nos primórdios das redes sociais, falou um pouco com a gente sobre como pensa ser o caminho da moda no pós-pandemia, e como foi a decisão de deixar os cabelos grisalhos. Também falou que envelhecer é deixar os pensamentos rígidos da juventude para traz, mas trazer junto os ensinamentos de todas as idades. Contou sobre seu novo projeto, o podcast “50 Crises”, em que pretende mostrar todas as mulheres que estão dentro dela.
Mudança
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“Tenho no DNA uma coisa de mudança. Gosto de experimentar coisas novas. Isso me faz bem, mas isso é coisa minha. Não significa também que vou ficar com o cabelo branco eternamente. Mas nesse momento eu quero. Eu achei que não fosse aguentar ficar muito tempo. Com três meses estava difícil, mas fui me acostumando e hoje eu estou amando. Já sei como lidar, como cuidar, como tratar com a textura.”
Moda x pandemia
“Tenho pensado muito nisso. A quantidade de roupa que eu tenho para esse momento é absolutamente tranquilo. Não preciso de mais, estou bem satisfeita mesmo. Está sendo um grande aprendizado rever nossas necessidades e ficar com o que só realmente preciso. Será que faz sentido tudo isso? A moda vai ter que se reinventar e se conectar com um propósito e com necessidades. Não dá para ficar lançando só porque é novidade e está na moda. Será que a gente precisa tanto de novidade? Umas das coisas que aconteceram nesse período é que percebemos que o nosso passo, depois desse novo normal, não deve ser para a frente, mas para trás. Acho que a moda vai se conectar com mais sentido e menos quantidade.”
Essência
“A palavra essência que significa aquilo que é o mais básico, o mais central, a mais importante característica de um ser, está permeando a vida de todos nós como um todo. Não dá mais para querer alguma coisa só porque tem uma nova coleção em uma loja que gosta ou porque tem dinheiro disponível para gastar. Ficou sem sentido esse exagero todo. Mas também não sei como a conta vai fechar. Como uma loja vai sobreviver, como vai manter os funcionários. Me dá um pouco de angústia isso, mas é preciso haver uma redução, um reestudo, uma revisão. As pessoas olharem e perguntarem: faz sentido continuar produzindo uma coleção tão grande, trocando de coleção com tanta frequência? Faz sentido continuar produzindo com tanta frequência? A gente sabe que a pandemia foi causada por um desequilíbrio ecológico e social. Temos a responsabilidade com o material que a gente fabrica e utilizaw no mundo, com o que a gente consome.”
Cabelos brancos
“Nunca achei que eu ia fazer isso na minha vida. Mas aí comecei a falar sobre essa questão do envelhecimento. E meu namorado, o Ale (Alexandre Braga), começou a reparar nas mulheres, comentava sobre os cabelos grisalhos delas. Achei muito legal. A minha cabeleireira também começou a me incentivar. Quando eu levei a ideia para ela, disse que ia ficar lindo. Isso foi em agosto do ano passado, achei que ia ficar tipo gambá, branco no meio e preto no resto. Na verdade, sempre que começava a crescer sem tingir, olhava a cor e achava que estava tão bonito o prateado. Fiquei igual adolescente, juro, esperando o cabelo branco vir. Não deu dois meses, cheguel lá na cabeleireira e já tinha uns 2 cm de branco. Ela sugeriu raspar deixando os branco no comprimento que estava. Perguntou se eu tinha coragem. Cortou então bem curtinho, sem máquina, com a tesoura. Foi muito interessante. Primeiro, a experiência de ficar careca foi muito legal. Nunca tinha tido o cabelo tão curtinho. Fui encontrar com meu namorado e já tinha avisado que tinha raspado a cabeça. Ele me disse que parecia que eu tinha vindo de Londres e disse que tinha se apaixonado de novo. Curti e me reconheci.”
Idades
“Tenho todas as características das idades em mim. às vezes, eu sou uma velhinha, às vezes, eu sou uma criança. Outro dia ouvi um termo, acho que do psicanalista Christian Dunker, que o termo melhor não é ‘ageless’, mas ‘agefull’ (cheias de idade), porque nós não somos sem idade, mas temos muitas idades. Isso significa que a gente tem 40, 50, 12, 2. Todas essas pessoas estão em nós. Tenho às vezes a impressão, quando lembro de determinadas coisas, que parece qu aconteceu em outra vida. Mas o que eu falo dos jovens, como quando fiz a frase “ a juventude é uma coisa que o tempo cura”, é que em uma determinada idade da vida, a gente tem muitas certezas imutáveis. Isso tem a ver com a adolescência, com a juventude, em que existe uma rigidez de pensamento e opiniões, que faz mal. Um jeito ranzinza de encarar as coisas. Com o tempo a gente percebe que não vale a pena comprar essa briga. Envelhecer é ligar o foda-se. Quando a gente pode ligar o foda-se, é muito bom.”