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A ARQUITETURA ASIÁTICA NA LIBERDADE
Como os imigrantes japoneses influenciaram na arquitetura do Bairro Liberdade, desde construções históricas até prédios modernos por RAFAEL CORPODATTO fotos MANECO MAGNESIO
Imigrantes estão na região desde 1912 e transformaram o bairro em um pedacinho do continente, bem no meio da capital paulista localizado no centro de São Paulo, o bairro da Liberdade é um dos mais visitados da cidade, especialmente, por conta de suas lojas e restaurantes orientais, além de construções típicas do continente asiático. No início de sua construção, o bairro era bastante habitado por imigrantes portugueses e italianos, mas, em 1912, chegaram por lá os primeiros japoneses, que vieram em busca de oportunidades.
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De lá pra cá, chineses e coreanos também começaram a habitar o bairro, deixando a região cada vez mais a cara de seus países de origem. Um dos aspectos que, definitivamente, foi influenciado é arquitetura. Muitos comércios têm fachadas escritas em chinês e japonês, que, misturadas às características de construção tipicamente orientais, ressaltam o estilo e fazem com que quem visita o bairro realmente se sinta um como se estivesse em um pedacinho da Ásia.
Tradição e modernidade andam juntas, os imigrantes, inicialmente, ocuparam as habitações deixadas pelos antecessores do próprio bairro, mas logo começaram a construir suas próprias casas e comércios, com a marcante estética arquitetônica japonesa, a qual o tradicionalismo que foi séculos sendo construído se junta a modernidade que se evolui com o passar dos anos.
Na arquitetura japonesa tradicional grande parte das obras são feitas de madeira, que proporciona um conforto térmico
A combinação dessas construções com os arranha-céus, e as largas avenidas do centro da capital paulista, cria um contraste muito interessante, que faz da Liberdade um local único, onde é possível tirar fotos icônicas. Não é à toa que todo turista faz pelo menos uma selfie por lá.
O design japonês está por toda parte. Às vezes, apenas em pequenos detalhes da fachada de prédios e lojas, outras, em um prédio inteiro construído em estilo oriental. A beleza dos telhados de estilos variados, comuns na Ásia, é um dos charmes particulares do bairro.
Uma curiosidade é que os telhados de beirais servem para diminuir a incidência de raios solares e ajudam a melhorar a ventilação, já que o verão japonês é bastante abafado. Como os verões em São Paulo também podem ser bem quentes, além de estilosas, as construções com esse tipo de telhado são mais fresquinhas nessa época.
Em vários locais do bairro, predominam as marcas do Art Nouveau, um estilo internacional de arquitetura, que começou na Europa, mas foi bastante influenciado pela perspectiva plana e as cores fortes das impressões japonesas em madeira. Assim, também se tornou muito popular em vários países da Ásia.
Um dos locais mais influenciados pelo estilo é a rua Galvão Bueno, onde também foram instaladas lanternas suzurantõ, tradicionais do Japão. Os inconfundíveis postes vermelhos são sucessos entre os turistas e uma das características mais marcantes do bairro.
Karaokês são presenças marcantes
Com os anos, a cultura asiática também foi se fazendo muito presente no bairro. O número de karaokês, por exemplo, é crescente. Muito populares na Ásia, eles também fazem cada vez mais sucesso entre os paulistanos e os turistas que visitam a cidade.
Por fora, eles parecem bares normais ou, às vezes, são apenas uma portinha. Mas, por dentro, a maioria desses ambientes traz muitos elementos do design e da arquitetura japonesa, como colunas e cores naturais, que contrastam com os arranjos coloridos da decoração.
Jardim Oriental é um charme à parte Bem no meio de uma das ruas mais turísticas da Liberdade, há um pequeno parque, com características dos parques asiáticos, que ajuda quem o visita a se sentir mesmo em outro país: O Jardim Oriental. Com plantas e paisagismo típicos do Japão e um largo artificial, o local consegue transmitir um pouco da tranquilidade oriental, no meio do caos de São Paulo. De modo geral, pode-se afirmar que a arquitetura desenvolvida pelos imigrantes foi concebida através de uma técnica híbrida que nasceu a partir dos materiais encontrados em cada região e o ajuste às condições climáticas locais, todas essas questões adaptadas ao domínio técnico dos japoneses. O desafio de superar os limites de uma natureza desconhecida se concretizou na paisagem produzida pelo imigrante, foi uma tarefa árdua, mas necessária.
É evidente a construção identitária formada ao longo do tempo através dos elementos construtivos citados uma vez que adquirem significados próximos de memória cultural dos imigrantes japoneses. Em contrapartida, simultaneamente, a estética nipônica acabou sendo limitada a um mero componente decorativo ao estabelecer, por exemplo, um paralelo com o bairro da Liberdade SP, conhecido como bairro oriental pelo fato de parte de sua formação histórico-social estar atrelada a intensa ocupação de imigrantes de origem asiática.
A Liberdade passou a ser vista como o ponto ideal para abrigar a Little Tokyo ou a Chinatown brasileiras através da reprodução de um Oriente que pouco tivesse a ver com aquele construído pelos imigrantes e descendentes. Sem o comprometimento com a tradição cultural local, mas desfrutando de sua autenticidade, a orientalização no bairro da Liberdade pelo processo de reprodução e replicação de um oriente fake se consolida cada vez mais na cidade de São Paulo.
A arquitetura contemporânea japonesa usa o estilo high tech, criativa nos cortes e integração entre os ambientes internos e externos