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GLORIA GROOVE CELEBRA DESAFIO

Sem a caracterização da drag queen, Daniel Garcia, de 27 anos, bateu um papo aberto e empolgado

O que você traz de memória afetiva, desde quando era criança e admirada as apresentadoras de TV, que pretende trazer para esse momento do ‘Música boa ao Vivo’?

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Quando penso em programa de TV, em alguém cantando e apresentando, minha cabeça vai diretamente pra Xuxa e Eliana, que participaram muito da minha construção. Eu era muito aficionado pelas músicas e CDs da Eliana. Sabia todas, fazia parte do meu desenvolvimento e tive a chance de estar com ela várias vezes por conta do ‘Balão mágico’ (grupo infantil do qual ele fazia parte). E claro todas as referências que tive na minha préadolescência, com RBD, ‘High School Musical’, o que não faltou para mim foram referências de pessoas jovens no comando de alguma coisa.

Te assusta chegar nesse momento tão importante, de ser apresentador de um programa tão importante para o Multishow?

Quando eu via a Ru Paul em Nova Iorque, quando ela tinha 20 e poucos anos e o que era depois, quando ela levou pra TV e como moldou isso com o tempo são coisas muito diferentes, coisas muito distintas. Eu venho tentando entender o quanto da minha própria identidade artística vai chegar nessa Gloria apresentadora e o quanto de coisas novas vão chegar, o quanto que desse novo comportamento. Tenho que ser 100% eu e ao mesmo tempo ser 100% o que o programa sempre foi porque sempre tive essa vontade de incorporar o próprio espírito do programa, que tem uma vibe específica.

Você apresentou o TVZ, então já era meio que uma preparação…

Desde o TVZ eu venho estudando que apresentadora seria essa Gloria que se comunica, que fala com o público, e no TVZ tive essa chance de exercitar isso bastante. Foi muito gostoso, mas agora vou expandir isso. É um show, um mini festival por semana, de 2h. Claro que a isso adiciona várias camadas, mas estou muito pronto. Das últimas vezes que vi uma pessoa comandando fiquei observando e disse que deve ser muito louco fazer todo esse malabarismo, mas deve ser legal.

O que você apontaria como maior característica de seu comando no Música Boa ao Vivo?

Diversidade. Sinto que a chave dessa temporada de glórias é mostrar que no Brasil a gente faz de tudo. O meu próprio trabalho é algo que já passa essa mensagem, já mostra o o que é possível fazer no nosso país com as ferramentas e as referências que temos. Sinto que meu trabalho é um forte representante disso e acho que os convidados vão ter que dar esse tom. É assim que traremos um pouco de tudo em uma temporada de glórias. Confesso que a minha vontade é aprender com essas pessoas que vão passar por aqui. Vou conhecer pessoas no palco, assim como é incrível receber amigos de longa data, com quem você já tem familiaridade, como vou fazer logo de cara convidando os três amores da minha vida.

Você é a primeira drag comandando o programa. Pesa essa representatividade a você?

São muitas primeiras vezes marcantes. Acabei de ser a primeira drag num show solo num line-up de um festival como o Rock in Rio. Agora, a primeira vez de uma drag queen num programa dessa importância, que tem uma continuidade, um formato que a gente já conhece. Quem ainda não conhece o meu trabalho e a minha personalidade, já sabe o que é o ‘Música Boa’ e vai ter esse processo de entender que eu sou e como estou fazendo. É isso que gera essa ansiedade boa de pensar qual a expectativa que a gente tem de furar o teto, de exceder. Mas acredito que passa uma mensagem muito importante. O canal mostra um posicionamento fortíssimo de mostrar como as pessoas LGBTQIAP+ são capazes de estar em posições que nós nunca imaginamos. Na maioria das vezes, há falta de oportunidade desses espaços abertos para que a pessoa mostre seu trabalho. Tive o privilégio de construir uma carreira que não começou

só na Gloria Groove. Sou artista desde criança, então acredito que o ‘Música Boa’ nessa fase da minha vida vem como uma confirmação e o resultado de uma vida toda dedicada à arte.

MINHA POP FAV!!

Você tem a noção dessa responsabilidade?

Eu tenho noção do quanto ocupando esse espaço eu faço refletir em vidas ao

meu redor. Acabo sendo um espelho, sendo um exemplo de que é possível sim. Porque uma drag queen não poderia apresentar um programa de música, um programa que tem esse nível de importância, respeito e credibilidade para nossa cultura. É muito forte, representa coisas muito fortes, é muito plural. Eu acabo criando uma realidade que a gente não sabia que era possível. Quando eu faço uma coisa pela primeira vez, estou trazendo todo mundo junto comigo. Nunca faço nada só por minha causa”.

Sua carreira sempre foi moldada por versatilidade entre gêneros musicais. Algum deles te deixa apreensiva?

Fico me cobrando a vida inteira e agora abri uma pesquisa de fato, é o samba. Sempre me questionei: se um dia eu cair numa roda de samba, o que vou cantar? Imagina! Uma cobrança que fica no meu subconsciente, um repertório de uns cinco sambas. Das coisas que lembro de ter tirado em repertório de banda de baile, o samba nunca ficava comigo. Me entregavam os boleros, as músicas atuais, os pops românticos que conhecia por causa da minha mãe… a gente fica reparando no que falta e isso quero aproveitar para aprender com os melhores, porque na minha vida, hoje, tenho gênios do samba a um telefonema de distância, é surreal. Uma vivência artística muito privilegiada saber que posso aprender direto da fonte, com as pessoas mais incríveis. E o ‘Música Boa’ vai ser isso, vou ter que me preparar para cantar com essas pessoas.

Que mulherão da porr@

Quais seriam, então, os elementos principais para ter, de fato, uma música boa, parafraseando o nome do programa, trazendo toda a sua bagagem desde a infância?

O conceito está muito aberto ao conceito de cada um. O que soa bem pra Gloria Groove é uma música que tenha um tema legal, adoro temas interessantes, uma letra que tenha objetos que fujam do comum, que não rime substantivo com substantivo. Gosto muito de títulos impactantes. Geralmente a composição para mim acontece a partir de um título, de um refrão que ficou na minha cabeça ou um tema que gostaria de abordar. No karaokê, por exemplo, que faz uma boa música é o fator surpresa, a dinâmica, mostra várias nuances num tempo de 3 minutos. Gosto de brincar cm dinâmica, faz a emoção acontecer.

Em algum dia você pretende se apresentar como Daniel?

Quando entro nesse momento da performance, me agarro muito na imagem da Gloria. Não é uma questão tão prática e profissional para mim, pessoalmente. A Gloria Groove é uma armadura mesmo. Eu acho que é muito importante mencionar para as pessoas entenderem a insegurança. Apesar de eu me apresentar como criador nessa ou aquela situação, a Gloria Groove tem um peso gigante para mim ainda. Ela é essencial para eu sentir que estou aramado mesmo, de peito aberto para encarar o que vier pela minha frente. Acho que esse é o poder que a persona drag faz entrar na sua vida, que é muito difícil de explicar. Sei que sou capaz de fazer tudo com ou sem ela, mas a chegada da Gloria Groove na minha vida representa justamente o corpo cênico que precisava para me sentir seguro em cena, para sentir que eu não estava nu em cena, só com a minha alma. Claro que a minha relação com isso mudou muito de lá para cá, desde que consegui fazer com a Gloria Groove fosse algo muito maior do que somente produto da minha imaginação, fazer todo mundo dançar nessa fantasia, com essa entidade musical chamada Gloria Groove, que hoje está muito além da minha pessoa. Para mim seria mais um entre tantos experimentos artísticos entre tantos que faço. Mas tenho certeza de que vou curtir muito mais vendo a Gloria Groove, que representa a projeção, a construção. Ela é a diva que eu gostaria que existisse. Gosto da ideia de ter a Gloria Groove e não o Daniel Garcia apesentando esse programa. Tem vários valores o fato de ser uma pessoa montada, uma drag queen. Essa brincadeira de ser a Gloria se tornou muito importante na minha vida.

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