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Uma nova economia global para um mundo resiliente
Laurent Babikian Laura Moreira
A ação climática estagnou em várias partes do mundo, mostrando que estamos falhando. As taxas de desmatamento no Brasil aumentaram: conforme o MapBiomas – iniciativa criada pelo Observatório do Clima para mapear a cobertura e uso do solo do Brasil e monitorar as mudanças do uso da terra – entre 1985 e 2021, 13,1% de toda a vegetação nativa foi eliminada. Com a guerra na Ucrânia, a Alemanha reativou usinas de energia com base em carvão; o governo dos Estados Unidos está explorando o novo petróleo offshore e investidores argumentam que o net zero não é de sua responsabilidade. Para resistir a crises sem despriorizar agendas como as de desmatamento e transição energética, temos de mudar nosso modelo econômico e o funcionamento dos mercados, nos questionando se o sistema atual ainda faz sentido. Aparentemente não, já que prioriza o lucro de um único stakeholder – no caso, os acionistas – em detrimento de todos os demais, incluindo a natureza. Nossa versão do capitalismo nem é sustentável, nem proporciona um progresso em direção ao net zero e à natureza resiliente.
O problema é que nossa economia considera a natureza – um bem comum global – um recurso livre e ilimitado. O cálculo do Produto Interno Bruto brasileiro, por exemplo, exclui o custo ambiental de bens e serviços, o que faz pouco sentido, pois todas as atividades humanas dependem da natureza. E, no entanto, a indústria não a vê dessa forma, tanto que nenhum grande produtor de petróleo e gás se comprometeu a encerrar a exploração.
Não podemos cumprir o Acordo de Paris usando velhas fórmulas. Como colocar o clima como a primeira e mais importante agenda, salvaguardando-o das novas dinâmicas geopolíticas? Quando incorporaremos as externalidades negativas – que significa o quanto empresas custam para a sociedade – como os custos do carbono? Como a tributação do carbono pode apoiar a equidade na ação climática?
Um estudo recente feito pela gestora de ativos holandesa, Kempen Capital Management mostra que uma taxa de carbono de US$ 150 aplicada às emissões de todas as empresas listadas geraria uma queda de 41% nos preços das ações, corroendo valores de acionistas e trazendo resistência da indústria ante à medida.
Investidores precisam de uma nova forma de medir seu desempenho, uma vez que a atual não é suficiente, pois o retorno financeiro não inclui valor intangível como benefícios para a sociedade e natureza. Para o Retorno do Patrimônio Líquido tradicional devemos somar o Retorno sobre o Impacto, que mede o impacto que as empresas têm na sociedade e na natureza.
Um sistema econômico que gera sistemicamente riqueza desigual e queda do poder de compra de gerações futuras não é o ideal. Hoje, se encaixarmos a sustentabilidade nesse processo, continuaremos a arruinar a riqueza natural de nosso planeta, da qual dependemos para a prosperidade futura.
Os mercados dependem de sinais claros sobre o custo das externalidades negativas para precificar os ativos considerando seu verdadeiro valor. Só assim, o investimento fluirá para financiar empresas sustentáveis. A transformação é possível. Por meio de novos padrões de sustentabilidade, a União Europeia (UE) fará com que as companhias relatem não apenas seus riscos, mas como seu modelo de negócios afeta nosso planeta e nossa sociedade. Esta abordagem pioneira, e necessária, impactará empreendimentos brasileiros com negócios em países da UE
Laurent Babikian