Revista Sem Fronteiras

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C A R TA A O L E I T O R

N

os últimos anos, as ciências de um modo geral tornaram-se

muito mais precisas e complexas. Cada vez mais presentes em nossas vidas, nos desafiam a refletir sobre as profundas mudanças em curso neste início de século – climáticas, por exemplo, e a busca por fontes alternativas e limpas de energia, entre as quais a bioenergia, tema de capa desta edição. Nessa situação, um dos aspectos mais intrigantes é, sem dúvida alguma, equilibrar os novos postulados científicos com os conceitos sobre os quais nos apoiamos durante a maior parte do nosso aprendizado. Por isto, também não poderíamos, nesta edição, deixar de abordar assuntos das áreas da genética clínica; da biotecnologia; da física e da matemática; e da antropologia, entre outras. No processo de comunicação com o público, experiências como essa ao mesmo tempo em que fascinam quem está do lado da produção da informação certamente geram alguma expectativa por parte da comunidade científica e também do público leigo. Como catalisadores, jornalistas que atuam no meio procuram colaborar com cientistas e pesquisadores, transformando conteúdos altamente especializados em informação acessível à maioria. Mas esta nem sempre é uma tarefa fácil. É desejo da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, que promove e financia esta publicação sob a ótica de um mundo melhor, sem fronteiras, ampliar o diálogo com o público acadêmico e não acadêmico, bem como prestar contas da aplicação dos recursos investidos nessa área. Descontadas as inevitáveis lacunas de um primeiro número, desejamos que os artigos e as reportagens aqui tratadas contribuam minimamente para isso.


SEÇÕES 1

Carta ao leitor

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Ensaio Por Waldemiro Gremski Produção científica e qualidade de vida

6

Entrevista Salmo Raskin Genética clínica: Ela ainda não chegou ao SUS

82

Memória Caminhos do Pelourinho na Vila Nossa Senhora da Luz

10

Perfil Maria Helena Fungaro Uma vida dedicada à genética de microorganismos

Notícias de C&T 14

Descobrindo os mistérios do universo O maior acelerador de partículas já construído começa a funcionar

15

Linguagem sem números Tribo amazônica não tem palavras que expressam quantidades exatas

15

Desligamento de genes Terapia de silenciamento de genes combate o HIV em roedores

16

A família aumentou Fósseis do maior dinossauro brasileiro são encontrados em Minas Gerais

16

Laser para aplicação biomédica UEM desenvolve laser para ser usado em cirurgias

17

Ao estilo de Sherlock Holmes Método analisa vestígios de solo e diz se um suspeito esteve na cena de um crime

18

Evento - 60º Reunião Anual da SBPC Marco Antonio Raupp: “A ciência brasileira vive um bom momento”


reportagens 36

CAPA

Bioenergia. Brasil amplia vantagens O Brasil usa combustíveis limpos para atender 45,8% de suas demandas energéticas, enquanto a média mundial não passa de 13%. O país domina, desde os anos setenta, tecnologias de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e, nas últimas duas décadas, passou a produzir biocombustíveis, atualmente misturados ao diesel. Mas há ainda um longo caminho a percorrer para aumentar a produtividade destes combustíveis e ganhar escala para abastecer também o mercado externo.

CIÊNCIA

20

28

A força da biotecnologia

Pesquisas realizadas pela Universidade Estadual de Maringá na área chamam a atenção

de indústrias bioquímicas e de fármacos da região.

Um problema fundamental Jovens brasileiros não demonstram interesse por matemática e física na hora de escolher uma profissão.

HUMANIDADES

68

Festa no pedaço

Estudos do Núcleo de Antropologia Urbana da USP propiciam uma compreensão renovada da

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vida urbana e dos valores contemporâneos para além dos diagnósticos alarmistas.

Cuidadores de idosos: o país precisa desta profissão

O aumento do número de idosos na América Latina vai quadruplicar entre 2005 e 2050 e superar

a população jovem em 30%.

MEIO AMBIENTE

48

54

Rio de informações

Pesquisadores da Unioeste e da UEM preparam catálogo da ictiofauna do Baixo Iguaçu.

Urbanização impõe novos desafios

Cerca de 12% dos recursos hídricos mundiais estão no Brasil, mas os desafios não param de crescer.

TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

58

Mudanças em curso

Consolidação da política nacional de inovação, calcada principalmente na Lei do Bem é uma dessas mudanças.

89

LIVROS

87

RESENHA

Por Wander

Melo Miranda

Pop e política da cópia


EXPEDIENTE

REVISTA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SEM FRONTEIRAS

GOVERNADOR Roberto Requião VICE-GOVERNADOR Orlando Pessuti

SECRETÁRIA DE ESTADO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Lygia Pupatto

DIRETOR GERAL

CONSELHO EDITORIAL

Antônio Alpendre, Jairo Pacheco,

José Eduardo Gonçalves,

Patrícia Castro, Regina Célia Rocha

DIRETORIA TÉCNICA

Patrícia Castro

EDITORA CHEFE

Regina Célia Rocha

EDITORA ASSISTENTE

Helen Mendes

REPORTAGEM

Apolo Theodoro, Camilla Toledo,

Célio Yano, Ciméa Bevilacqua,

Cláudia Izique, Marcos Gouvea,

Miriam Karam, Rodrigo Apolloni,

Romeu de Bruns

FOTÓGRAFOS

Bruno Stock, Carllos Bozelli,

Diego Singh, Marcos Borges,

José Tarcisio Pires Trindade,

Thiago Terebezinsky

REVISÃO

Pluma Alvarenga Morato

COLABORADORES

José Carlos Veiga Lopes,

Maria Helena de Moura Arias,

Wander Melo Miranda,

APOIO

Alexandre Sfeir Conter,

Euzilene A. Silva,

José Lázaro Jr,

Marcelo Barão,

Jairo Pacheco

Waldemiro Gremski

Susana Branco,

José Tarcísio Pires Trindade

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da SETI.

DIAGRAMAÇÃO

Visualita Programação Visual

IMPRESSÃO

Imprensa Oficial do Estado

TIRAGEM

20 mil exemplares

CONTATO

revistasemfronteiras@seti.pr.gov.br

SETI Avenida Prefeito Lothário Meissner, 350 – Jardim Botânico – CEP 80210-170 – Curitiba – PR – Telefone (41) 3281-7300 – Fax (41) 3281-7334 – www.seti.pr.gov.br


A P R E S E N TA Ç Ã O

Romper fronteiras, construir o futuro Como professora universitária tenho uma enorme satisfação em participar do nascimento de uma revista que se propõe a difundir ciência e tecnologia dentro e fora das universidades, faculdades e institutos de pesquisa. Tenho repetido por onde ando que o desenvolvimento do país e a superação das nossas inaceitáveis desigualdades passam pela educação e pela capacitação em ciência e tecnologia. Mais que isso, tenho dito que a educação é capaz de realizar uma verdadeira revolução silenciosa, provocando uma ruptura em séculos de dependência e desigualdades sociais. Contemporaneamente, apesar de se produzir cada vez mais conhecimentos, não se tem conseguido fazer com que eles cheguem a todos que dele tenham necessidade. Este processo marginaliza pessoas e até mesmo países, tornando desigual o acesso aos benefícios gerados pela ciência. Esta revista visa, portanto, enfrentar o desafio de fazer chegar a pesquisadores e aos cidadãos em geral informações sobre os principais temas e avanços em ciência e tecnologia. A partir de uma abordagem que considera a produção mais relevante em nível nacional e internacional, apresenta as principais iniciativas desenvolvidas no Paraná em ciência, tecnologia e ensino superior. Vivemos atualmente num mundo que se transforma num ritmo nunca visto anteriormente e que tende a continuar acelerando este movimento. Neste mundo no qual “tudo que é sólido desmancha no ar”, a informação e o conhecimento são as ferramentas que permitem que os indivíduos e as instituições não apenas se adaptem melhor às mudanças, mas também que consigam nelas intervir, não ficando completamente subordinados aos ritmos da globalização e dos mercados.

Lygia Pupatto Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior


E N T R E V I S TA

SALMO RASKIN

Genética clínica

Ela ainda não chegou ao SUS HELEN MENDES

Os estudos da genética avançam em várias áreas do conhecimento – agricultura, medicina, antropologia e ciência forense – e ganham corpo com as discussões em torno de dilemas éticos relacionados às pesquisas com células-tronco embrionárias, à clonagem humana e aos alimentos geneticamente modificados, por exemplo. Nesta entrevista, o médico geneticista Salmo Raskin, reeleito presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, falou sobre políticas públicas em genética clínica, pesquisas nacionais e internacionais na área e também sobre as terapias gênicas e a genômica pessoal. Paranaense, Raskin é um dos poucos cientistas brasileiros

a

integrar

o

Projeto

Genoma

Humano. Em Curitiba, ele leciona na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Universidade Positivo e Faculdade Evangélica. Trabalha ainda nos Hospitais Pequeno Príncipe e Nossa Senhora das Graças e é diretor do Genetika - Centro de Aconselhamento e Laboratório de Genética.

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O senhor foi reeleito presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica para o período 2008-2010. Quais são as propostas para esta nova gestão?

SalmoRaskin

Existem várias, mas a mais

importante é a tentativa de incluir junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma política de atendimento voltada ao aconselhamento genético, além de exames

“Tomando os cuidados necessários, é possível usufruir dos benefícios que os exames de DNA podem proporcionar”.

laboratoriais que detectam doenças genéticas. Em 2004, o Ministério da Saúde instituiu um grupo de trabalho, que fez a parte técnica e elaborou uma política pública para a área de genética clínica. O projeto está pronto no Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde. Falta transformá-lo em realidade.

O que isto significa? O aconselhamento genético poderá prevenir novas doenças?

SalmoRaskin

Sim, novos casos poderão ser

prevenidos e as pessoas entenderão melhor porque seus filhos nascem com certas doenças. Às vezes, uma doença pode se repetir por causa da hereditariedade, mas existem tratamentos específicos para ela. Então, há um enorme conjunto de atitudes que poderiam ser tomadas e não são porque 140 milhões de pessoas não têm acesso à genética clínica.

Uma das principais causas da mortalidade infantil no Brasil são as anomalias congênitas. Elas representam 13% dos óbitos de crianças com menos de um ano, de acordo com a última avaliação da Fundação Oswaldo Cruz. Os índices desta doença também poderão diminuir com políticas públicas para a área da genética?

SalmoRaskin

Exatamente. O Brasil está em

um patamar em que as anomalias congênitas já ultrapassaram, e muito, os índices em que se deve incluir a genética no sistema público de saúde.

Neste ano, a Agência Nacional de Saúde incluiu exames laboratoriais de DNA para detecção de doenças genéticas nos procedimentos cobertos pelos planos de saúde. Quais doenças podem ser detectadas através destes exames?

SalmoRaskin

Essa foi uma batalha ganha

pela diretoria anterior da Sociedade Brasileira de Genética Médica, da qual eu era presidente. Mais de 1.200 doenças podem ser detectadas. Também é

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7


“Neste momento,

possível detectar se a pessoa tem predisposição para

o Brasil está

desenvolver certas doenças genéticas e se ela tem

à frente dos

riscos de ter filhos com tais doenças.

SalmoRaskin

Estados Unidos em relação à existência de uma lei aprovando a pesquisa com célulastronco”.

O senhor está otimista com os possíveis resultados que estas pesquisas podem ter aqui no Brasil? Quais são as perspectivas?

Hoje, com maior disponibilidade de exames genéticos, muitas pessoas temem que resultados que indicam predisposição a doenças de difícil tratamento dificultem a contratação de um plano de saúde ou mesmo o ingresso em um emprego. Os benefícios desta nova medicina personalizada poderiam ser perdidos diante de preocupações como estas? O que

essas pesquisas terão algum resultado prático daqui a dez, vinte anos, e não daqui um ou dois anos, como alguns vêm propagando. Também não se pode deixar de dizer que o Brasil ainda carece de muito investimento em pesquisa. Assim, no momento em que os administradores brasileiros entenderem a

poderia ser feito?

SalmoRaskin

Eu estou otimista, porém

cauteloso. É importante que a sociedade saiba que

importância da pesquisa científica, o país dará um Entendo que uma sociedade

de especialidade médica reconhecida pelo Conselho

salto enorme e poderá ser um dos líderes mundiais na área.

Federal de Medicina deve ter o papel de reguladora e controladora. É o que a Sociedade Brasileira de Genética Médica está propondo. Além disso, os resultados dos exames só podem ser acessados pelo paciente e seu

O Brasil está entrando em tempo de obter resultados nessa área?

médico, de modo que nenhum dos problemas citados

SalmoRaskin

acontecerá. Países mais desenvolvidos do que o nosso

algumas críticas, mas também temos que aplaudir

nessa área, onde os exames já são feitos há mais de

o que está sendo bem feito, e a aprovação da lei

uma década, já tomaram esses cuidados. Os Estados

veio em boa hora. Com isso, o Brasil fica ao lado dos

Unidos acabaram de aprovar uma lei federal tornando

países mais desenvolvidos na pesquisa com células-

crime a liberação dos resultados para outras pessoas

tronco. Nos Estados Unidos, e agora vou dar um

que não o paciente e seu médico. Tomando esses

exemplo negativo, o governo federal não aprovou

cuidados, é possível usufruir dos enormes benefícios

lei para a pesquisa com verba federal. Portanto,

que esses exames podem proporcionar.

podemos dizer que o Brasil, neste momento, está à

Está sim. Nós fazemos

frente desse país. Neste ano, o Supremo Tribunal Federal validou a Lei de Biossegurança, que libera pesquisas com célulastronco embrionárias sob certas condições. Como o

importante, sob vários aspectos. É como se dissessem:

Hoje, com a chamada genômica pessoal, uma pessoa já pode fazer um mapeamento de seu DNA por um preço razoável com a técnica de análise de SNPs - polimorfismos de nucleotídeo único. Qual a sua opinião sobre estes serviços? É possível fazer um planejamento de saúde com base nesses

“Vão em frente, a pesquisa científica é importante para

resultados?

senhor avalia esta aprovação?

SalmoRaskin Eu acho que foi um passo muito o Brasil passar para o patamar de país desenvolvido”. Acho que esta é a mensagem principal. Outras, secundárias, também foram dadas. Por exemplo, a de que o Brasil é um país laico, e, mesmo as religiões sendo, obviamente, importantes dentro da sociedade, “Estamos atrás na área das terapias gênicas. O sucesso dos resultados é mais lento do que se imaginava”.

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não são elas que definem, por si próprias, os rumos do país, elas definem apenas um dos componentes da sociedade. E a própria lei, que permite pesquisas com células-tronco embrionárias em certas circunstâncias, é uma abertura para que, no futuro, milhões de pessoas possam ter uma esperança.

SalmoRaskin

Eu acho que ainda há muita

desinformação sobre este assunto. Ainda não existe uma tecnologia capaz de fazer o mapa genético completo do indivíduo. Estes testes são bastante superficiais e não têm a capacidade de dar o retorno proposto. Algumas pessoas, leigas no assunto, são levadas a imaginar que este teste é um estudo completo do genoma humano, mas isto só vai acontecer dentro de uns cinco ou dez anos, não agora. Portanto, este é um teste que tem um intuito mais comercial. Existem, sim, centenas de testes genéticos, mas eles devem ser orientados para


uma determinada situação. É possível fazer testes

E N T R E V I S TA

absolutamente precisos para problemas que possam estar afetando uma família. O aconselhamento genético feito por médico especialista é o momento

então o número de casos diagnosticados é muito

no qual se identifica se existe nessa família alguma

grande, muito maior do que antes. Com o diagnóstico

situação de risco elevado.

precoce, a qualidade de vida dos pacientes tem aumentado de maneira exponencial.

As pesquisas com terapias gênicas vêm mostrando resultados promissores. Recentemente, foi anunciado que cientistas conseguiram combater o HIV em roedores através do desligamento de genes. O Brasil produz este tipo de pesquisa?

SalmoRaskin

O que a fibrose cística causa e como o diagnóstico precoce pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes?

SalmoRaskin

A fibrose cística é uma doença

Nesta área estamos um

que causa problemas no pulmão e no pâncreas,

pouco atrás. O motivo é que as terapias que

principalmente. No pulmão, ela causa pneumonias

pretendem corrigir o material genético alterado

repetidas. No pâncreas, ela altera a absorção de

vêm se desenvolvendo com sucesso lento, mais

gorduras, causando desnutrição no paciente. Então

do que se imaginava. Num dado momento houve

forma-se um ciclo vicioso: a desnutrição leva a

pessimismo e dúvidas quanto à continuidade das

pneumonias, que levam à desnutrição. Este ciclo leva

investigações científicas por causa dos problemas

os pacientes a óbito em torno da segunda década de

encontrados. Contudo, parece que os principais

vida. Com o diagnóstico, o tratamento da doença,

problemas de segurança e de eficiência começam a

de idade. Com o diagnóstico, é possível começar no

que é iniciado aos cinco ou seis anos, pode começar

ser contornados e a possibilidade de se corrigir um

primeiro ano de

já no primeiro ano de vida.

vida”.

erro genético retornou com bastante força. Claro,

“O tratamento da fibrose cística é iniciado aos cinco ou seis anos

ainda está em fase de pesquisa, mas há progressos em algumas áreas. Cito o tratamento de doenças neurológicas como o Mal de Parkinson: nos Estados Unidos, pesquisadores estão aplicando a terapia

Como um dos cientistas que integram o Projeto Genoma Humano, qual o balanço que o senhor faz da participação do Brasil neste projeto?

gênica num grupo pequeno de pacientes, o que é um

SalmoRaskin

avanço. Eu acredito que o Brasil precisa acordar para

secundário no projeto porque acordou muito tarde,

esta área, porque ela tem um enorme potencial.

somente dois anos antes de sua conclusão. As

O

Brasil

teve

um

papel

verbas para os pesquisadores brasileiros foram O senhor tem pesquisas importantes sobre a fibrose cística, não?

SalmoRaskin Esta é uma área pela qual eu

direcionadas, principalmente, para a compreensão da genética do câncer. O pesquisador brasileiro é muito bem preparado, habilitado e contribuiu de maneira significativa, mesmo em pouco tempo.

tenho um interesse muito grande e que eu pesquiso

Fora isso, não houve uma grande contribuição.

há mais de vinte anos. A fibrose cística é uma doença

Eu tive a oportunidade de ser um dos primeiros

genética e hereditária que ataca principalmente

pesquisadores brasileiros a fazer parte do projeto

o pulmão. Até poucos anos atrás esta doença era

por uma coincidência do destino: eu havia começado

pouco diagnosticada no Brasil, o que não significa

a fazer meu treinamento em genética nos Estados

que ela é rara. Ela não era diagnosticada porque os

Unidos quando o Projeto Genoma Humano começou,

médicos não a conheciam muito bem e os sinais às

em 1990. Foi uma coincidência porque a universidade

vezes se confundem com sinais de outras doenças

para a qual eu passei a fazer pesquisa foi chamada

mais freqüentes. Porém, com a ajuda dos nossos

para fazer parte do projeto, e eu fui de carona. Então,

trabalhos, conseguimos demonstrar ao governo

tive a oportunidade, durante três anos, de identificar

brasileiro porque era importante o SUS incluir o

os genes humanos relacionados à produção do

diagnóstico dessa doença no teste do pezinho. Isto

hormônio do crescimento. Nesse momento fui

foi feito há cerca de quatro anos no Paraná e desde

convidado a fazer parte do projeto.

semfronteiras |

9


p er f i l

Graduada em biomedicina, a professora e

pragas na agricultura, o Metharhizium anisopliae e a

pesquisadora Maria Helena Pelegrinelli Fungaro,

Beauveria bassiana, e análises de variação genética

que está completando trinta anos na Universidade

a partir de testes de DNA. “Essa metodologia não

Estadual de Londrina, encantou-se com a genética

existia na UEL e mesmo na maioria dos estados

molecular de microorganismos e fez uma carreira

brasileiros”, relata a pesquisadora. A terceira fase

brilhante.

começou há cerca de seis anos com os estudos

Hoje, ela diz que pode dividir sua trajetória em três fases. A primeira está relacionada aos estudos de um fungo modelo, o Aspergillus nidulans, e ao desenvolvimento de uma metodologia de introdução de um fragmento de DNA nesse microrganismo, com base num protocolo que não era descrito na literatura. “Eu considero esse artigo um marco na minha

sobre fungos que produzem toxinas em alimentos como algumas espécies de Aspergillus. “Eu adoro fazer pesquisa, mas antes de tudo sou professora”, afirma ainda. “Quando você ensina alguma coisa em que acredita, você tem uma resposta muito rápida. É diferente da pesquisa, que é mais de longo prazo. Ao final de cada semestre ou final de um curso de extensão, a resposta já está ali”.

carreira”, resume a pesquisadora. Constantemente citado pela literatura científica, o artigo é usado por pesquisadores para diferentes finalidades.

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Vida acadêmica Maria Helena nasceu em janeiro de 1959, em

A segunda fase é marcada por estudos sobre

Londrina. É neta de italianos. Possui graduação

fungos que se aplicam ao controle biológico de

em ciências biológicas pela Universidade Estadual


a implantação do Projeto Genoma , com o seqüenciamento do dna, e a pesquisa em proteômica, que estuda o conjunto de proteínas dos seres vivos, estão entres as principais atividades da pesquisadora na universidade estadual de londrina.

Uma vida dedicada à genética de microorganismos marcos gouvea

de Londrina (UEL) e mestrado e doutorado em

No mestrado, passou em primeiro lugar e foi

Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas)

contemplada com uma bolsa de estudos. Na lendária

pela Universidade de São Paulo (USP). Foi um

Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, da USP, ela ficou

caminho difícil. “Fiz o 1º grau e o 2º grau em Londrina,

entre 1982 e 1984, de onde saiu mestre em genética

sempre em colégio público. Estudei no IEL (Instituto

de microrganismos – nessa época, Maria Helena não

de Educação de Londrina) e no Vicente Rijo. Depois

tinha emprego. Ingressou no doutorado, no mesmo

ingressei na UEL e fiz biomedicina. Quando terminei a universidade ainda não tinha curso de pós-graduação e eu já estava encantada com a área de genética. Então as professoras Olivia Nagy Arantes, que foi minha orientadora, e Eleonora Marchesi me ajudaram a fazer um curso de trinta dias de aperfeiçoamento

grupo e área do mestrado. Seis meses depois, fez a seleção para trabalhar como professora temporária da UEL. “Estudei muito, fui admitida como professora temporária, mas precisei trancar o doutorado em março de 1985”. Surgiu então o concurso para a vaga definitiva e a carreira na UEL. A biologia molecular veio um pouco mais tarde. No doutorado, encerrado

na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,

em 1991, ainda trabalhou com melhoramento de

em Piracicaba”, lembra a pesquisadora. Nessa cidade

uma levedura para a produção de coalho. Na Luiz de

ela encontrou o professor João Lúcio de Azevedo,

Queiroz, Maria Helena viveu a experiência de professor

responsável pela implementação da genética de

visitante, participando ativamente de toda a rotina

microrganismos no Brasil. “Eu o considero meu pai

do Laboratório de Genética de Microrganismos. “Isso

científico”, sublinha a pesquisadora.

mudou a minha vida, eu cresci muito”, conta.

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ENSAIO

A importância do conhecimento como base para o desenvolvimento de uma região, estado ou país alcançou um consenso jamais visto. Considerado assunto de segurança nacional por boa parte das nações, constitui o diferencial entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento, entre a riqueza e a pobreza, a dependência e a independência, entre a inclusão e a exclusão. Sem ele o país torna-se um simples coadjuvante no processo econômico mundial, mero fornecedor de mão-de-obra barata, matéria-prima e commodities, obrigando-se a pagar um alto preço por tecnologias prontas,

Produção científica e qualidade de vida

muitas vezes superadas, por vezes verdadeira sucata. Países sem domínio em ciência e tecnologia estão destinados à pobreza, fadados a serem uma economia periférica, tendo que sempre vender mais, para receber menos. Quando se fala de conhecimento, porém, deve-se considerá-lo não apenas ciência, mas também tecnologia e inovação, além de educação e cultura. São patamares que coexistem entre si, entrelaçam-se e, juntos, respondem por um progresso abrangente e harmonioso. É o equilíbrio entre estas partes de um todo que possibilita o acesso aos bens resultantes do conhecimento a todas as camadas da população. Um país que investe em apenas um dos níveis que constituem o conhecimento, como é o caso

WALDE M IRO GR E M SK I

do Brasil, dificilmente irá alcançar um desenvolvimento com crescimento

Professor Titular Sênior da UFPR,

sustentável, do qual emane justiça social, inclusão e cidadania.

Professor Titular e Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUC-PR

No caso do Brasil, todos os indicadores apontam uma evolução substancial da sua pesquisa científica, tanto em quantidade como em qualidade. O país ocupa hoje a 15ª posição no “ranking” mundial, com mais de 19.400 papers publicados, participando com 2,02% da produção científica mundial, à frente de países como a Suécia e a Suíça. Trata-se, porém, de um conhecimento produzido essencialmente no âmbito das universidades, em especial nas públicas, que constitui a ciência, em boa parte dos casos ciência básica, fundamental para a formação de recursos humanos qualificados, mas que, isoladamente, não assegura o desenvolvimento de nenhum país. Ou seja, embora um sistema de pesquisa bem estruturado seja parte indispensável para encaminhar o país a uma independência econômica, será o uso criativo deste conhecimento que irá gerar o avanço tecnológico e a inovação, dos quais irão resultar, além de novos produtos, também estratégias, processos, tecnologias e serviços inovadores. São etapas indispensáveis para que o país sedimente um lastro sólido com vistas a um desenvolvimento que independa de choques e humores externos. Ocorre que o ambiente inovador por excelência é a empresa. A interação entre quem produz ciência com o setor produtivo é, portanto, etapa fundamental para transformar o conhecimento em novos produtos ou agregando-lhes valor tecnológico. Nessa relação, porém, chama a atenção

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a existência de um grande fosso entre a produção

nologia, etc.) nas empresas, hoje praticamente

científica do país, essencialmente universitária,

confinados à academia. Como atualmente não há

e o setor empresarial, algo ainda distante de ser

demanda de doutores por parte do setor produtivo,

superado. A Coréia do Sul é um exemplo de país

a pós-graduação brasileira dedica-se a formá-los

que conseguiu superar as barreiras do crescimento

para produzirem papers, mantendo o país como um

econômico. Com uma produção científica próxima à

grande produtor de ciência, fornecendo preciosas

brasileira, teve mais de cinco mil patentes registradas

informações para que outros países criem seus

nos Estados Unidos em 2006, o que representa

produtos com alto valor tecnológico, os quais

3% da inovação tecnológica mundial, o Brasil não

serão, por sua vez, importados pelo Brasil, com a

chegou a 300. Ressalte-se que há vinte anos, ambos

conseqüente dependência tecnológica e sangria de

os países exibiam números semelhantes: cerca de 80

recursos.

patentes por ano.

Por outro lado, exemplos da competência

Várias são as razões para explicar essa realidade:

brasileira

na

criação

de

tecnologia,

quando

um processo de industrialização que nunca ocorreu

há planejamento e financiamento apropriados,

com ênfase na inovação, agências de financiamento

não faltam. Basta ver o sucesso das pesquisas

que cobram essencialmente a publicação de

desenvolvidas pela Embrapa, uma das grandes

papers, ausência de incentivo para o registro de

responsáveis pelo sucesso do nosso agronegócio

patentes, problemas de ordem político-ideológica

em diferentes regiões do país, da Coope da UFRJ,

e corporativa das universidades que dificultam a

com a tecnologia da exploração de petróleo em

parceria universidade-empresa, ausência de cultura

águas profundas, da Embraer, da Fiocruz, das

de inovação empresarial, entre outras.

pesquisas na área de biotecnologia, entre tantos

A solução reside, portanto, na implementação de uma política voltada para a inovação tecnológica, da qual participem a academia e a empresa, além do Estado como ente planejador e normatizador. A inovação cria o desenvolvimento sustentável, pois independe de decisões externas, como autorizações de matrizes e afluxo de capitais, sendo, por esta razão, auto-estimulante. Quanto maior o nível

exemplos. Verifica-se que, mesmo havendo políticas adequadas de planejamento, o enorme atraso nesse campo tão estratégico poderá ser recuperado, como já aconteceu em outras situações. Há muito sabese que o desenvolvimento científico-tecnológico de um país não depende apenas do volume de recursos investidos, mas do destino que é dado aos mesmos, além da sua continuidade.

tecnológico agregado a um produto, maior é a

É imprescindível romper este círculo, profun-

escala de conhecimentos produzidos, com alto nível

damente vicioso, por interpor-se no caminho do

de competitividade e preço, com maior geração

desenvolvimento do país. Cabe aos três atores

de riqueza e, em muitos casos, com geração de

do processo – academia (universidade/centros de

empregos nos diversos patamares da escala de

pesquisa), empresa e Estado – juntar esforços nesta

produção do mesmo. Consolida, além disso, a

direção.

produção científica local na medida em que passa a exigir, de forma crescente, cada vez mais ciência e recursos humanos qualificados para a pesquisa. Outra

decorrência

será

a

fixação

de

pesquisadores das áreas de inovação (engenharias, tecnologias da informação, agroindústria, biotec-

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N O T í c i a S d e C&t HE L E N M E N D ES

Descobrindo os mistérios do universo No dia 10 de setembro deste ano, começou a funcionar o maior instrumento científico já construído para observar as menores partículas existentes no universo. O mais poderoso acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider (Grande Colisor de Hádrons), LHC, é uma estrutura colossal instalada em um túnel de 27 km de circunferência, 100 metros abaixo do solo, na fronteira da Suíça com a França, que vai permitir que físicos investiguem as origens do universo e do que ele é feito. O projeto é liderado pelo CERN (Organização Européia de Pesquisa Nuclear). O primeiro feixe de partículas percorreu com sucesso os 27 quilômetros do LHC, ainda sem colisões. Este evento marca a transição de mais de duas décadas de preparação para o período de descobertas científicas. “É um momento fantástico. Agora podemos esperar uma nova era de líder do projeto Lyn Evans. O acelerador vai produzir colisões entre feixes de prótons ou de íons, que viajarão em velocidades muito próximas à da luz, em um vácuo semelhante ao do espaço.

Divulgação CERN

compreensão das origens e evolução do universo”, disse o

Supercondutores magnéticos operando em temperaturas extremamente baixas (2 K ou -271º C) conduzirão os feixes através do anel. Cada feixe consistirá de cerca de 3000 grupos com até 100 bilhões de partículas, cujas chances de

A expectativa é que o LHC revolucione nosso conhecimento do minúsculo mundo do interior dos átomos até a vastidão do universo

colisão são minúsculas por causa do tamanho. Entretanto, como os feixes se cruzarão cerca de 30 milhões de vezes por segundo, o LHC poderá gerar até 600 milhões de colisões por segundo. Uma vez que serão produzidas colisões com as maiores

construída pelo CERN. Esta estrutura, chamada de LHC Computing Grid, ligará dezenas de milhares de computadores em todo o planeta e vai fazer com que cientistas do mundo todo acessem e analisem esses dados.

energias já observadas em laboratório, os físicos estão

“O LHC é uma máquina de descobertas. Seu programa

ansiosos para ver o que será revelado nesta escala de energia.

de pesquisa tem o potencial de mudar profundamente nossa

Quatro enormes detectores irão observar essas colisões para

visão do universo, continuando a tradição da curiosidade

que os físicos possam explorar novos territórios de matéria,

humana, que é tão antiga quanto a humanidade em si”,

energia, espaço e tempo. Quando as partículas colidem, a

afirma o diretor geral do CERN, Robert Aymar.

energia liberada forma novas partículas, de acordo com a equação de Einstein E=m.c2. Um dos objetivos do projeto é

Incidente

descobrir partículas que nunca foram vistas, mas que foram previstas em cálculos, como é o caso do bóson de Higgs, que daria massa a tudo o que existe no universo.

Um incidente ocorrido no LHC nove dias após sua inauguração vai suspender as atividades do acelerador até o segundo trimestre de 2009. Um grande vazamento de

Outra expectativa é detectar a partícula que constitui a

hélio ocorreu em um setor do túnel do LHC, provavelmente

matéria escura, que forma a maior parte do universo. Todas

por uma falha na conexão entre dois ímãs do supercondutor.

essas colisões vão gerar uma enorme quantidade de dados,

O setor teve que ser aquecido até a temperatura ambiente

cerca de 15 petabytes (15 milhões de gigabytes) anualmente,

para inspeção dos ímãs. Neste período, serão investigadas as

que vão ser armazenados e distribuídos por uma estrutura

causas do problemas e feitos os reparos.

14 | semfronteiras


Divulgação

Desligamento de genes Com um tipo de terapia gênica, cientistas conseguiram, pela primeira vez, combater o vírus HIV em camundongos. O grupo de pesquisadores, liderado pela Universidade Harvard, de Boston (EUA), relatou na revista Cell que não apenas reduziu a quantidade de vírus em camundongos infectados, como preveniu a infecção em animais saudáveis. A técnica aplicada, chamada RNA de interferência, ou RNAi, funciona com a interrompem a produção de proteínas específicas e “silenciam”

Uma das primeiras coisas que aprendemos quando crianças são

um gene. Neste caso, foram bloqueados dois genes do vírus

os números. Mas, contar pode não

e um encontrado nos linfócitos T dos roedores, as células do

ser tão universal quanto parece.

sistema imunológico que são atacadas pelo vírus.

Cientistas do MIT (Massachusetts

Uma das dificuldades em se pesquisar o HIV é que nenhum

Institute of Technology) descobriram

outro animal além dos seres humanos é infectado pelo vírus,

que uma tribo que vive no Amazonas

nem mesmo os macacos, nossos parentes mais próximos.

não tem palavras para os números

Para estas pesquisas, os cientistas usaram camundongos

em sua língua. Em 2004, a equipe

“humanizados”, ou seja, o grupo injetou células-tronco de

relatou que a tribo Pirahã parecia ter

cordão umbilical humano na medula espinhal dos roedores

palavras que significavam “um”, “dois”

recém-nascidos. Suas medulas passaram a produzir sangue com

e “muitos”. Esta conclusão foi baseada

características humanas, e assim, seus linfócitos se tornaram

em experimentos nos quais os

suscetíveis ao HIV. Para que o RNA chegasse até os linfócitos,

membros da tribo contavam objetos,

a equipe ligou a molécula a um anticorpo, uma proteína que se

como gravetos e sementes, que eram

liga especificamente aos linfócitos T, que levou o RNA de carona

dispostos pelos pesquisadores.

até as células infectadas.

Dessa vez, os cientistas pediram

Em ratos já infectados com o HIV, a carga de vírus no

aos indígenas que fizessem uma

sangue caiu significativamente depois do tratamento. Em

contagem decrescente dos objetos

animais saudáveis tratados com o RNAi, o vírus não conseguiu

à medida que estes iam sendo

se instalar. Se este tratamento se tornar disponível, ele poderá

removidos. Foi descoberto então que

ser usado para diminuir a quantidade de medicamentos

os membros da tribo usam a palavra

antiretrovirais e de efeitos colaterais sofridos pelos pacientes. O

que antes se pensava ser “dois” para

maior problema das drogas antiretrovirais é a sua toxicidade, e a

cinco ou seis objetos, e que eles

nova técnica, pelo menos para os camundongos, não foi tóxica.

usam a palavra “um” para qualquer quantidade menor que essa. Portanto, as palavras não significam números, mas sim quantidades relativas. “Nós mostramos que os Pirahãs não têm qualquer método lingüístico para expressar quantidades exatas, nem mesmo ‘um’”, dizem os pesquisadores no artigo publicado no periódico Cognition. Os resultados sugerem que a linguagem exata para números é uma invenção cultural, uma tecnologia cognitiva, e não uma linguagem universal.

iStockphoto

Uma linguagem sem números

inserção em uma célula de pequenos segmentos de RNA, que

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A família aumentou Fósseis de um titanossauro que viveu há 65

Reconstrução artística da espécie

milhões de anos no Brasil foram encontrados por paleontólogos em Uberaba, Minas Gerais. O mais novo membro da família de dinossauros brasileiros é também o maior a pisar por estas terras; o herbívoro Reconstrução artística: Rodolfo Nogueira

tinha 15 a 20 metros de comprimento, 3,5 metros de altura e peso entre 12 e 16 toneladas. Os fósseis do gigante pré-histórico foram encontrados em camadas de rochas que representam os últimos níveis do período Cretáceo, o que significa que o gigante viveu no finalzinho da era dos dinossauros. O Uberabatitan ribeiroi, batizado em homenagem ao local onde foi descoberto e ao geólogo e paleontólogo Luís Carlos Borges Ribeiro, foi descrito em artigo publicado na revista científica Palaeontology, por Ismar de Souza Carvalho, da Salgado, da Universidade Nacional do Comahue, na Argentina. Os paleontólogos puderam analisar farto material, correspondente a três indivíduos. A descrição da espécie foi feita com base nos ossos muito bem preservados de um destes indivíduos. “A importância desta descoberta é a possibilidade de se compreender melhor o contexto geológico, a evolução das espécies, o ambiente e a paleoecologia”,

Departamento de Geologia da UFRJ

afirma Ismar Carvalho.

Herbívoro gigante é a mais nova espécie da família de dinossauros brasileiros

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Laser para aplicação biomédica

Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Leonardo Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) está desenvolvendo um laser capaz de cortar tecidos humanos, para uso em cirurgias. A equipe já produziu e patenteou um vidro óptico que será usado na construção deste laser. A principal característica deste vidro é ser livre de íons OH-, o que permite que sejam introduzidos em sua estrutura metais de transição e terras raras, materiais específicos para que o laser emitido esteja na freqüência certa para o corte cirúrgico. O vidro será então inserido em uma cavidade ressonante, onde uma luz incidirá sobre ele para que seja emitido o laser. Por causa da estrutura do vidro, o laser operará na região espectral do infravermelho médio, ideal para o corte de tecidos biológicos. A próxima etapa será colocar o vidro no sistema e desenvolver o laser. A produção desse laser demanda alta tecnologia, que hoje o Brasil não possui – todas as opções no mercado são importadas. “Nosso desafio é produzir o laser para aplicação biomédica a um custo 10 a 15 vezes menor do que o existente no mercado internacional e popularizar as cirurgias”, diz Mauro Baesso, do Departamento de Física da UEM e coordenador do projeto. Para isso, os pesquisadores estão fazendo parcerias com instituições nacionais e internacionais.

N


Na ficção, o detetive Sherlock Holmes era capaz de dizer por onde seu companheiro Dr. Watson havia andado apenas olhando para a sujeira em seus sapatos. A ciência forense já pode ligar uma pessoa à cena de um crime a partir de vestígios de solo em sapatos, pneus e outros objetos. Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e uma perita criminal da Polícia Científica do Paraná construíram um método capaz de caracterizar o solo de uma região para compará-lo a amostras coletadas em objetos de suspeitos. O estudo foi feito com amostras do solo de três bairros de Curitiba: Sítio Cercado, Cajuru e Cidade Industrial, e dois bairros da região metropolitana: Alto Maracanã, em Colombo, e Rio Grande, em São José dos Pinhais. “A escolha dos locais se baseou em um estudo da Secretaria de Segurança Pública do Estado, que mostrou que estas foram as regiões com maiores índices de criminalidade, entre janeiro e outubro de 2004”, explica o professor do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da UFPR, Vander de Freitas Melo. O grupo conseguiu mostrar, com esse estudo, que duas amostras coletadas em um mesmo local são semelhantes entre si, e diferentes das de outros locais. A maior contribuição da pesquisa, publicada no periódico Forensic Science International foi gerar 56 variáveis, ou características químicas e físicas do solo, analisando-se apenas 1g de material. Atualmente, os estudos publicados na literatura internacional trabalham com um número muito menor de variáveis, o que torna mais difícil a confirmação forense. O maior desafio da pesquisa foi a necessidade de trabalhar com pequenas quantidades de amostras, de 1g de solo, para simular a situação real de investigação criminal, em que se tem apenas vestígios. Para contornar este problema, a equipe precisou fazer vários ajustes metodológicos aos métodos convencionais da análise de solo. O resultado foi um método que emprega 13 análises, começando pelas físicas e terminando com as químicas destrutivas, para determinar as 56 características do solo. “Se as amostras confrontadas forem semelhantes, é extremamente alta a probabilidade de que o investigado esteve no local do crime”, diz Melo.

Ao estilo de Sherlock Holmes Pequenas diferenças no solo podem significar evidências

SXC

N O T ÍCIA S d e C&t

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N O T í c i a S d e C&t

Marco Antonio Raupp

“Ciência brasileira vive um bom momento” Cláudia Izique

Em entrevista à revista Sem Fronteiras, o presidente da SBPC , Marco Antonio Raupp, faz um balanço da 60a reunião e fala sobre as demandas por inclusão de regiões como a Amazônia e o Semi-Árido

A 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira

Essa é a razão pela qual a próxima reunião anual da SBPC,

para o Progresso da Ciência (SBPC) reuniu cerca de

em 2009, será realizada em Manaus, Amazonas. “Temos que

15 mil pessoas no campus da Universidade Estadual

promover a melhoria das condições operacionais das instituições

de Campinas (Unicamp), entre os dias 13 e 18 de julho.

federais da Amazônia”, afirmou Raupp. Já estão agendadas

Os temas das conferências, mesas-redondas, cursos e

duas reuniões preparatórias para o encontro, nos municípios

seminários foram Energia, Ambiente e Tecnologias.

de Oriximiná, no Pará, e Tabatinga, no Amazonas, das quais

A reunião da SBPC voltou a Campinas depois de 60 anos. Em outubro de 1949, a cidade abrigou o primeiro encontro da então recém-criada Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência do qual participaram pouco

deverão participar cientistas e pesquisadores brasileiros e de países da região. “O Brasil é o país líder da região. Mas só isso não adianta, é preciso exercer a liderança. A SBPC será palco dessa cooperação entre países.”

mais de uma centena de pesquisadores e cientistas.

Raupp enumerou os desafios atuais que se colocam

“Esse primeiro encontro marcou a forma como a SBPC

para o país - a globalização, o desenvolvimento sustentável

se pronunciaria sobre os diversos eventos científicos

e a economia do conhecimento – e as saídas que, na sua

nacionais”, disse Marco Antonio Raupp na abertura da

avaliação, estão na educação de qualidade; na capacidade de

60ª reunião.

transformar conhecimento em “bens com valor econômico”;

Ao longo de seis décadas, o Brasil desenvolveu e consolidou um sistema forte de pós-graduação

na sustentabilidade econômica, ambiental e “político-socialcultural”; e na competitividade das empresas.

e pesquisa e a ciência brasileira ganhou papel de

Esse cenário, segundo ele, pauta as ações da SBPC,

destaque no cenário internacional. “Hoje, temos que

notadamente, o compromisso da entidade de ampliar a base de

trabalhar para construir novas estruturas para que

pesquisa “buscando mais qualidade” e “uma distribuição justa e

a ciência e o conhecimento possam levar os seus

estratégica” da pesquisa por todo o território nacional.

benefícios a todo o povo brasileiro”, afirmou, citando especificamente as demandas por inclusão de regiões como a Amazônia e o Semi-Árido.

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Em entrevista à revista Sem Fronteiras, Raupp avaliou os principais resultados do encontro.


Tomas May/SBPC

Qual a sua avaliação do encontro deste ano? A reunião foi muito boa em termos de participação e trouxe temas importantes para o debate, temas que a SBPC ainda trata muito pouco como a energia, o meio ambiente e a inovação tecnológica. Tivemos dois grupos de trabalho sobre o etanol, combustível que abre novas oportunidades para o país, o qual nos vários debates foi tratado também na perspectiva da segurança alimentar e da produção sustentável. A nossa intenção é discutir os caminhos que o país deve seguir na busca da inserção do conhecimento no setor produtivo e, como conseqüência, na capacidade de inovação de nossas empresas e serviços públicos com responsabilidade social e ambiental.

Qual a principal mudança na organização da 60ª reunião anual? Sempre trabalhamos em torno de temas, mas não com as características e com os procedimentos adotados na última reunião. O Brasil jamais teve tanta capacidade de investimento em ciência e tecnologia e precisa, agora, discutir as suas prioridades. Por isso, definimos as 16 temáticas fundamentais para o país. Os temas estratégicos, como energia e inovação, foram analisados paralelamente a questões relacionadas às políticas públicas. Tivemos várias conferências, mesas-redondas, mini-cursos e painéis sobre saúde, e outros tantos sobre biologia, em que foram avaliadas as perspectivas para a melhoria das pesquisas com células-tronco. Todos os debates dessa 60ª Reunião Anual tiveram um foco. Estivemos, por exemplo, analisando também questões relacionadas à biodiversidade. O governo está enviando ao Congresso um projeto de lei de acesso ao patrimônio genético do país que vai substituir a medida provisória 2.186, editada em 2000. Precisamos estar prontos para acompanhar e interferir nesse debate. A SBPC participa da proposta de um projeto de lei sobre o acesso à biodiversidade. Temos um grupo de trabalho e pretendemos fazer propostas, já que a medida provisória trata mal os pesquisadores.

A 61ª Reunião da SBPC será no Amazonas. Qual será o tema principal? A Amazônia é um dos grandes desafios do país. Uma instituição como o INPA (Instituto de Pesquisas da Amazônia), por exemplo, tem grande responsabilidade sobre pesquisa científica, mas não tem o tamanho adequado que essa responsabilidade exige. Não tem gente e nem equipamentos suficientes. Temos que promover a melhoria das condições operacionais dessas instituições federais da Amazônia. Já tivemos uma reunião no Pará, em 2007, onde foram levantados vários problemas. Agora temos uma proposta concreta para a ampliação da ciência e da tecnologia na região. É preciso ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade, criar condições de preservação do patrimônio genético e cultural para fundamentar uma política de desenvolvimento. Já estão agendados dois encontros preparatórios, para os quais estão convidados cientistas de outros países. O Brasil é o país mais forte da região, porém não adianta ser só o líder, é preciso exercer a liderança e a SBPC será palco da cooperação entre países.

Qual é, na sua avaliação, a missão atual da SBPC? Durante vários anos, lutamos por uma organização de um sistema permanente de ciência e tecnologia no país. Agora, o destaque está em o que a ciência e a tecnologia podem oferecer para a sociedade brasileira em matéria de inovação, desenvolvimento regional, entre outros. Essa é a nossa bandeira. Para tanto, precisamos de uma legislação adequada. Vamos apresentar projetos de lei no Congresso e defender projetos, como foi o caso da lei de Biossegurança que autorizou o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas, entre outros. Precisamos aproveitar esse bom momento, em que o Governo Federal prevê investir R$ 10 bilhões por ano em ciência e tecnologia. Esse é um valor razoável e, considerando o número de cientistas que atualmente existem no país, pode abrir boas perspectivas para incrementar a atividade de investigação científica.

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C i ĂŞ ncia

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A força da biotecnologia Pesquisas realizadas pela Universidade Estadual de Maringá na área de Biotecnologia chamam atenção de indústrias bioquímicas e de fármacos rodrigo apolloni Fotos Thiago Terebezinsky

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Diógenes Aparício Garcia Cortez, professor pós-doutor do Departamento de Farmácia e Farmacologia: “Graças ao trabalho da UEM, um clareador dental obteve registro na Anvisa e hoje está em quase todo o país”.

Lúcio Cardozo Filho, doutor em Engenharia de Alimentos, professor do Departamento de Engenharia Química: “Uma das interações mais efetivas na UEM é proporcionada pelas

iStockphoto

incubadoras”.

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C i ê ncia

Com mais de 250 grupos de pesquisa e cerca de dois mil pesquisadores, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) está entre as instituições brasileiras de ensino superior que mais produzem ciência e tecnologia. Indicador de relevância para a ciência no país, o número de bolsistas de pesquisa CNPq (categorias 1 e 2) reflete essa vocação: são cerca de 110, para uma população de dois mil professores. Um destaque é a área de biotecnologia, com pesquisas sobre bioprospecção de microorganismos endofíticos, aplicações em nanotecnologia e isolamento e identificação de bioativos da medicina popular. Por causa dessas e de outras pesquisas básicas na área, Maringá atrai para a região, há algum tempo, indústrias bioquímicas e de fármacos. Também cresce a interação entre a universidade e empresas do setor, segundo o professor Diógenes Aparício Garcia Cortez, do Departamento de Farmácia e Farmacologia da UEM. “Alguns de meus mestrandos vêm de empresas buscando experiência e capacitação, e os resultados chamam a atenção dos empresários”, afirma. Um exemplo recente é um clareador dental: “O interessado foi ao meu laboratório com a fórmula e queria melhorar o produto. Nós alteramos a fórmula e obtivemos excelentes resultados”, conta. Essa pessoa incubou uma empresa na própria UEM. “O produto foi tão bem desenvolvido que obteve o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, hoje, está em quase todo o país.” Outro exemplo envolve a medicina popular. “A partir de relatos de populares, verificamos a atividade biológica de algumas espécies vegetais. Fazemos o isolamento e a identificação de substâncias bioativas. Isto é algo inédito na UEM e está despertando interesse das indústrias”, explica Diógenes. O trabalho envolve professores da microbiologia, farmacologia e outros departamentos. “Recebi uma bolsa de doutorado de uma indústria local e ela sinalizou que poderá pagar outra bolsa para realizar uma pesquisa no nosso laboratório. Isso é muito importante.” O professor Lúcio Cardozo Filho, do Departamento de Engenharia Química, dá como exemplo a parceria com a Plaspet, empresa maringaense do setor de plásticos. “Essa parceria, junto com um projeto enviado à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), resultou na construção do Laboratório de Inovações Tecnológicas em Macromoléculas (Labitem), dirigido ao melhoramento do

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tipo de produto que a empresa comercializa.” O tempo de “namoro” com a Plaspet foi de sete anos e as perspectivas são animadoras. “Estamos desenvolvendo um material a ser incorporado à espuma, e outros relacionados à reciclagem de embalagens PET”, conta o professor Adley Rubira, do Departamento de Química. Para Rubira, parcerias como a firmada com a Plaspet indicam

Adley Forti Rubira, pós-doutor em Química,

uma inflexão. “Até recentemente, as empresas

professor do Departa-

não confiavam seus problemas à universidade. E

mento de Química: “As

os pesquisadores esperavam que as empresas

empresas não con-

viessem atrás daquilo que eles estavam fazendo.

fiavam seus problemas

Felizmente, isso mudou.” Para Lúcio Cardozo, um campo de interação

à universidade e os pesquisadores ficavam esperando. Isso mudou”.

importante é o das incubadoras tecnológicas. “Elas refletem a procura por novos produtos, criados a um baixo custo e com um rigoroso processo de desenvolvimento”. Segundo ele, as empresas fornecem algum tipo de apoio a praticamente todos os departamentos em que há pesquisa. E não fazem isso por boa vontade: “a competitividade do mercado e as leis ambientais impõem condições e determinam essa procura. E a universidade oferece esse suporte que é caro – quase gratuitamente”. Como avançar Na avaliação do diretor de Pesquisa da Pró-

Benedito Prado Dias Filho, professor pós-doutor e diretor de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação: “Este é o momento de identificar as vocações”.

Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UEM, professor Benedito Prado Dias Filho, é possível aprofundar a relação entre a universidade e as empresas. “As empresas brasileiras não têm tradição, é preciso incentivo e capital de risco para intermediar essa relação.” Segundo ele, agências de fomento – caso da Finep – desempenham esse papel. Para o professor Emerson Marcelo Girotto, do Departamento de Química, é preciso confiar

Edvani Curti Muniz, professor pós-doutor

mais na universidade. “Os empresários devem

do Departamento de

confiar não apenas para melhorar o que já existe,

Química: “O futuro da

mas para o desenvolvimento de novos produtos.”

biotecnologia é promis-

Ele também alerta para as dificuldades existentes

sor e o crescimento será exponencial”.

24 | semfronteiras


no momento de se negociar o porcentual de cada parte sobre as patentes de produtos criados na universidade. “Os envolvidos deveriam negociar de

Emerson Marcelo Girotto, professor

forma mais efetiva”, avalia.

pós-doutor do Departamento de Química:

O

professor

Edvani

Curti

Muniz,

do

Departamento de Química, lembra que há uma lei para definir os valores correspondentes ao recurso

“Nosso objetivo é implantar no Brasil um projeto da área de nanotecnologia que facilita o diagnóstico precoce do câncer a partir dos Labs-on-a-Chip (LOC)”.

aplicado e à exploração econômica da patente. A divisão depende do tipo de parceria, se envolve o desenvolvimento de produto ou, então, a prestação de serviço. “No desenvolvimento de um produto a universidade tem uma porcentagem maior, até porque fornece uma estrutura maior, assim como pesquisadores. Quando é uma prestação de serviço, ela define previamente o que vai fazer, ganha para isso e a porcentagem de participação pode ser pequena ou mesmo nula.” Para Benedito Prado Dias Filho, nos próximos anos é possível que a questão de patentes – a produção e patenteamento de produtos de base tecnológica – não seja o principal foco da UEM. “Na minha opinião, a prestação de serviços tecnológicos é que será muito forte.” Biocombustíveis O professor João Alencar Pamphile, do Departamento de Biologia Celular e Genética, vê como promissoras as possibilidades de interação entre universidade e empresas no setor de biocombustíveis. “Temos uma experiência interessante no curso de Biotecnologia Aplicado à Agroindústria. O curso atrai profissionais de usinas e empresas na região”, observa.

“Um desses

profissionais demonstrou interesse em estudar as linhagens empregadas na produção do etanol,

João Alencar Pamphile, profes-

principalmente de um subproduto, o creme, que é

sor doutor do Departamento de Biologia

utilizado como ração animal.”

Celular e Genética: “A bioprospecção de microorganismos endofíticos abre um campo importante para o melhoramento genético de culturas”.

C i ê ncia semfronteiras |

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A era da informática, que começou no final dos anos 1940, sucedendo a era industrial, tinha a previsão de durar pelo menos um século, mas atingiu o seu ápice

Divulgação IBMP

Biotecnologia sucede a era da informática

por volta do ano 2000. O setor continua em desenvolvimento, porém atualmente é visto como um coadjuvante de todo o complexo tecnológico mundial. A biotecnologia é a ciência mais promissora da atualidade e o Paraná tem tradição e ótimos exemplos nessa área.

Chips de DNA

Uma técnica bem

sucedida de estudo do genoma é a de microarray (microarranjo), ou chips de DNA. Esta análise permite a verificação da expressão de genes em resposta a diferentes situações ambientais. Uma aplicação prática dessa tecnologia é o estudo da interação entre patógenos e seus hospedeiros. Na UEM, uma nova linha de pesquisa usará essa tecnologia para bioprospecção de microorganismos endofíticos, ou seja, fungos e bactérias que existem

iStockphoto

Seqüenciamento do genoma humano

Instituto de Biologia Molecular do Paraná

no interior de praticamente todas as espécies vegetais, sem lhes causar doenças. Compreender A era da biotecnologia ganhou um importante impulso com o

a interação desses microorganismos com seus

seqüenciamento do genoma humano, concluído em 2003. O projeto, que

hospedeiros leva ao melhoramento genético de

levou treze anos e custou cerca de três bilhões de dólares, determinou a

culturas, pois permite mapear genes que determinam

seqüência de bases químicas que formam o DNA e identificou os 25 mil

as interações benéficas. Um grupo de pesquisadores

genes do genoma humano.

dessa universidade trabalha com microorganismos da região para aplicação econômica. Um exemplo é o

Hoje, qualquer pessoa pode ter o seu DNA decodificado, mas esse serviço, que já virou um grande negócio nos Estados Unidos, ainda é

Metarhizium anisopliae, microorganismo que atua no controle de insetos-praga.

inacessível para a maioria: o mapeamento de todos os seis bilhões de caracteres e probabilidades para cerca de duas mil doenças custa 350 mil dólares. Um outro tipo de exame custa mil dólares e analisa apenas as ‘letras’ de DNA que variam entre as pessoas. Neste caso, o cliente fica sabendo sobre possíveis riscos de condições como o mal de Alzheimer e outras menos graves, como a calvície. Contudo, muitos pesquisadores estão lutando para baratear o custo de exames que utilizam a tecnologia do DNA: é o caso dos testes para adrenal, que, no Paraná, têm o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

C i ê ncia

iStockphoto

detecção de um tipo raro de câncer em crianças, o câncer de córtex

Microscopia eletrônica de bactérias endofíticas no 26 | semfronteiras

interior da folha de milho


Um grande número de pesquisadores da área biotecnológica

ciência dos materiais, que permite construir

afirma que já conseguiu diminuir um laboratório de química para que

molecularmente um material de acordo com

ele caiba em um dispositivo do tamanho de um chaveiro. Os Labs-on-

as nossas necessidades. Essas duas ciências

a-chip são dispositivos que têm a capacidade de realizar reações de

estão inaugurando a era dos biomateriais, que

laboratório em escala miniatura. Esses laboratórios super compactos

abre caminho para a medicina preventiva e para

podem detectar bactérias, vírus e células cancerígenas através de

o tratamento do câncer e de outras doenças

ensaios imunológicos, fazer reações bioquímicas, analisar células,

importantes.

congresso

entre outros. As vantagens são a rapidez da resposta e a redução dos

realizado em Amsterdã, o pesquisador Teruo

custos nos testes de toxicidade. A UEM tem um projeto de laboratório

Okano mostrou que é possível implantar lentes

de pesquisa com nanofilmes que podem ser usados na criação

de contato que liberam medicamentos para

dos labs-on-a-chip. O projeto aguarda aprovação do CNPq para ser

o tratamento de doenças específicas do olho

instalado no Departamento de Química da universidade.

Neste

ano,

num

Laboratório compacto

A biotecnologia também avança ao lado da

humano.

iStockphoto

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Fusão da Biotecnologia com a Ciência dos Materiais

Grande concentração de conídios de Metarhizium anisopliae

Parcerias que dão certo O número de parcerias na UEM cresce a cada ano. No final da década passada, elas somavam 134 e em dezembro de 2006, chegaram a 246. Se considerados os convênios com empresas de economia mista, governo e órgãos de fomento, o total chega a 551. Esse volume de acordos viabilizou, por exemplo, lasers de aplicação biomédica, estudos biotecnológicos sobre a Stevia rebaudiana, mais comumente utilizada como adoçante, e sobre organismos que se alojam nas turbinas da hidrelétrica de Itaipu – nesse caso, o objetivo é prevenir problemas nas unidades geradoras decorrentes do processo de incrustação. Há, ainda, um extenso rol de projetos conjuntos com os setores elétrico, industrial, farmacêutico e agroindustrial, entre outros. “Essa aproximação possibilita à universidade ampliar o leque de novas tecnologias”, destaca o assessor

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de planejamento, Ariston Azevedo.

semfronteiras |

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CIÊNCIA

Waldemiro Gremski

Um problema fundamental

Jovens brasileiros não demonstram interesse por Matemática e Física na hora de escolher uma profissão

Ilustração Simon Ducroquet

Célio Yano e Miriam Karam

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Do exemplo clássico do chip de computador, que

de 9,65. Para física, a disputa foi ainda menos

através de bilhões de cálculos por segundo é capaz

acirrada: 2,98 candidatos por vaga. Nas duas

de exibir vídeos, organizar informações e simular

carreiras, o bacharelado teve menos inscritos do

jogos, até a organização do trânsito e a distribuição

que a licenciatura, e os índices são semelhantes aos

de energia nas cidades, para as quais são usadas as

verificados nos principais vestibulares do Brasil. No

matrizes e as equações diferenciais, praticamente

maior deles, da Universidade de São Paulo (USP),

tudo o que nos cerca depende da matemática e

a concorrência geral para o ano de 2008 foi de

da física. Em outras áreas do conhecimento, como

12,31 candidatos por vaga. Já a disputa por física

a medicina, aplica-se a teoria dos conjuntos para

e matemática teve pouco mais de três candidatos

informar a compatibilidade genética entre dois

por vaga. “A matemática ainda carrega o estigma

pacientes, enquanto na climatologia e na economia

da dificuldade”, lamenta o matemático e educador

buscam-se novas fórmulas para prever desastres

Edilson Roberto Pacheco, do Departamento de

climáticos ou oscilações na bolsa de valores.

Matemática da Universidade Estadual do Centro-

Na fronteira entre a física e a química, a

Oeste (Unicentro).

nanotecnologia é hoje uma das áreas com maior potencial no Brasil, afirma o físico e ministro da Ciência

Evasão

e Tecnologia, Sérgio Rezende. Estruturas e novos

Quanto aos índices de evasão, o último

materiais são desenvolvidos a partir da manipulação

levantamento realizado pelo Instituto Nacional de

de átomos – o prefixo nano significando a bilionésima

Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em 2005,

parte de uma unidade. Tintas não poluentes; madeiras

revelou que o curso de matemática registrava a maior

autolimpantes, impermeáveis e resistentes ao ataque

taxa no país – 44%. Isto significa que para cada dez

de fungos; borrachas termoplásticas recicláveis;

alunos que ingressaram no curso naquele ano, quatro

adesivos de alto desempenho, entre outros produtos,

desistiram de concluí-lo. Física ficou em quinto lugar,

estarão disponíveis em um futuro não muito distante

com 34%, atrás de normal superior (38%), marketing

graças a essa ciência. A física médica, na sua interface

e publicidade (36%) e educação física (34%). Cada

com a área de diagnóstico e radiologia, entre outras,

um dos cursos tem fatores próprios para explicar as

também tem crescido no país, trazendo perspectivas

desistências, mas, para o matemático e professor da

de novos empregos.

UFPR, Higídio Oquendo, as duas disciplinas da área

Apesar da relevância e da contribuição das

de exatas possuem semelhanças nesse aspecto. “São

ciências exatas para o desenvolvimento do país,

profissões que pressupõem uma capacidade muito

são elas, entre as demais, as que menos seduzem

grande de abstração e de raciocínio. Diferente do que

os jovens brasileiros atualmente. Para se ter uma

acontece em outros cursos, a compreensão integral

idéia, em 2007, no último vestibular da Universidade

de cada matéria é essencial para o entendimento do

Federal do Paraná, um dos mais disputados no

próximo módulo”, afirma. Em sua opinião, além de

Estado, a concorrência para o curso de matemática

habilidade, é preciso alguma afinidade com os números.

ficou em menos de quatro candidatos por vaga,

“Infelizmente, poucos têm tempo para dedicar várias

enquanto a média geral do processo seletivo foi

horas do seu dia para resolver um problema”, afirma.

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29


Para o professor Jorge Megid Neto, da Faculdade

Nesse caso, para quem segue a carreira de prof

de Educação da Unicamp, “os índices de desistência,

essor universitário (doutorado e dedicação exclusiva)

quando altos, refletem a falta de perspectiva de

os salários variam entre R$ 6 e R$ 8 mil, segundo a

trabalho e empregabilidade para carreiras como

Secretaria de Recursos Humanos do Ministério

a de matemático ou a de físico”. “É fato”, concorda

do Planejamento, Orçamento e Gestão. A renda

categórico o professor Edilson Roberto Pacheco, que

é comparável a de pesquisadores de países como

trabalha em mudanças, ainda pioneiras no Paraná,

Estados Unidos, Inglaterra e França. Para fazer suas

na grade curricular do curso de matemática, para

pesquisas, o docente pode ainda receber uma bolsa

vencer o principal desafio que se impõe aos

do CNPq, cujo valor varia de acordo com o edital

professores da matéria: ser interessante. Pacheco

correspondente ao seu projeto. Para os licenciados em

acredita que até mesmo os alunos que escolhem o

matemática ou física, o campo é inesgotável, avalia o

curso porque pensam gostar da matéria não têm

professor Megid. O déficit brasileiro de professores

noção clara do que vão encontrar pela frente. Nem

é tão grande que levaria pelo menos dez anos para

das reais dificuldades que virão quando o assunto

atender a demanda. Mas, uma vez atendida, haveria

chegar ao cálculo diferencial integral, por exemplo.

novo déficit por causa do crescimento populacional.

“Aí, começa a enroscar e eles patinam mesmo”. Depois

Para minimizar esse déficit, as instituições de ensino

de participar do Fórum Estadual das Licenciaturas

superior, incentivadas pelo Ministério da Educação,

em Matemática do Paraná no ano passado, Edílson

criam cursos de licenciatura à distância. O professor

Roberto Pacheco e um grupo de seu departamento

Megid, no entanto, é cético quanto à qualidade

na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro)

desses cursos, especialmente quando a carga horária

discutiram uma proposta alternativa, que será

presencial é muito baixa, menos de 20% da carga

votada pelo conselho da instituição. Além de incluir

horária total.

disciplinas como português e filosofia, a grade do curso de licenciatura procurou introduzir ‘uma pitada’ do curso de bacharelado, para permitir que os alunos que pretendam seguir a carreira acadêmica tenham base para enfrentar a seleção para a pós-graduação. Mudanças O professor Jorge Megid, no entanto, acredita não haver necessidade de mudanças de currículos, já adaptados às novas diretrizes curriculares dos cursos de graduação de 2001, e essas diretrizes estão – dentro do possível – coerentes com as inovações no campo da educação e com a atualidade dos conhecimentos

A professora Celi Espasandin Lopes, que está fazendo pós-doutorado na University of Georgia, nos Estados Unidos, aponta um problema “básico” para nossos professores: “uma meta importante seria conseguir centralizar o trabalho docente em uma escola; a quantidade de escolas que a maioria dos professores tem que percorrer para completar a jornada e melhorar seu salário inviabiliza que ele participe efetivamente de um projeto político pedagógico em uma escola”, afirma. Apartheid

de cada área. Reforçando a idéia de que é grande a

Para o diretor de Educação Básica da

diversidade entre as instituições de ensino superior do

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

país e entre as estruturas administrativas (públicas e

Nível Superior (Capes), Dilvo Ristoff, que falou na

privadas, estaduais, municipais e federais), Megid diz

60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o

que a indústria brasileira absorve pouco os físicos e

Progresso da Ciência (SBPC), em julho deste ano, em

os matemáticos, dando preferência aos engenheiros,

Campinas, há problemas de outra ordem afetando

ao contrário de outros países. Assim, de acordo com

a qualidade do ensino das exatas no país. “Existe

Megid, para os bacharéis a profissão fica restrita à

um apartheid que separa o campus da escola, a

carreira no ensino superior – mestrado, doutorado e

graduação do ensino básico e os professores das

pós-doutorado. Outra opção está em órgãos públicos,

licenciaturas dos professores das disciplinas do

como o IBGE e outros centros de estatística, por

ensino médio. Esses professores, que deveriam

exemplo, mas, novamente, as vagas não são muitas.

estar próximos uns dos outros, não só pertencem

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não o professor de química; o físico, não o professor

se declaram auto-suficientes, como dificilmente se

de física; o biólogo, não o professor de biologia.

encontram em algum evento acadêmico ou científico

“Enquanto isso continuar, a formação do professor

e raramente se comunicam”, disse na ocasião. Nessas

continuará sendo um rótulo, um título, sem conexão

condições, segundo ele, o que se forma é o químico,

com as demandas da escola”.

Impactos e popularização da ciência

divulgação MCT

a sistemas de ensino distintos, autônomos e que

“As tecnologias modernas influenciam na produção e na imaginação dos artistas” Trecho do depoimento do físico e ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, à revista Sem Fronteiras:

Impacto “A transmissão eletromagnética sem fio, o laser e os semicondutores presentes nos computadores e celulares são alguns exemplos do impacto da física na atualidade. Na medicina, há muitos aparelhos provenientes dos avanços dessa ciência. Além disso, seus conhecimentos são essenciais para muitas outras áreas, como as engenharias. Outra contribuição fundamental refere-se à construção da nossa visão do mundo, além de suas inter-relações com outras áreas do conhecimento, como as artes e as humanidades. No Brasil, a física também tem um papel significativo: a nanotecnologia, por exemplo, é uma área de grande potencial no país”.

Interação “A ciência é uma atividade social que tem interfaces com outros campos do saber, como as humanidades, as artes e as técnicas. Por exemplo, as grandes teorias da física, como a relatividade e a física quântica, foram revoluções do pensamento humano que contribuíram para alterar a nossa visão de mundo. Além disso, as tecnologias modernas influenciam na produção e na imaginação dos artistas”.

Popularização “A Sociedade Brasileira de Física tem tido um papel de destaque com as suas revistas de pesquisa e divulgação, com seus encontros e agora com um novo site voltado para a divulgação e a educação científica. Na realidade, a política de popularização da ciência e da tecnologia do MCT não privilegia a física, mas apóia atividades em todas as áreas. Há cinco anos, temos um programa para a divulgação científica que realiza editais para projetos nessa área em todo o país e gera também muitos programas novos. A popularização da C&T e a melhoria do ensino de ciências é hoje uma importante linha de ação dentro da IV Prioridade Estratégica para o Desenvolvimento Social do Plano de Ação 2007-2010”.

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E d u ca ç ã o cien t í f ica

A escola possível Apolo Theodoro

O ensino da matemática e das ciências naturais – física, química e biologia – nas escolas de ensino fundamental vem sendo questionado por profissionais da educação que discordam da metodologia aplicada atualmente. Para eles, em vez de privilegiar conteúdos específicos de cada disciplina, ensinados de maneira descontextualizada das demais áreas, a educação científica deveria estar conectada e atenta à realidade dos alunos e da sociedade em geral. Para os adeptos dessa educação divergente e questionadora, desvincular os conteúdos específicos de cada disciplina das práticas e finalidades sociais mais amplas não só é alienante como transforma a educação científica em um buraco negro que suga a curiosidade das crianças. As professoras Mira Roxo e Maria Inês Nobre Ota, de Londrina, Paraná, estão entre os que querem ver a educação científica trilhando outros caminhos. Com licenciatura em filosofia, psicologia e sociologia da educação pela PUC-SP e bacharelado em pedagogia, Mira é professora do ensino fundamental na Nossa Escol(h)a, em Londrina. Maria Inês é graduada em física pela Unicamp, mestre em ensino de ciências no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (Ifusp) e doutora em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp). Espaço de descobertas Elas defendem o envolvimento de alunos, professores e funcionários no processo educacional, aproveitando cada ocasião para impulsionar o conhecimento nas mais diferentes áreas. Segundo Mira, uma aula em que as crianças ficam sentadas na sala, apenas ouvindo o professor, é enfadonha e antipedagógica. “Sentada, a criança não tem relação com o deslocamento. O simples caminhar com as crianças pela escola tem uma conexão direta com a ciência”, observa. A escola deve ser um espaço de descobertas, na opinião das professoras. “Por exemplo, o trabalho na horta permite que os alunos criem conceitos que passariam despercebidos se ensinados com o enfoque tradicional”, observa Maria Inês. Para Mira, a cozinha é uma verdadeira aula de química, “porque, ali, podem ser vistas transformações de matérias. Isso desperta a curiosidade e abre um leque de possibilidades para a criança”. Na escola onde Mira

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Professoras defendem uma educação apoiada na realidade


Ilustração Simon Ducroquet

minhas aulas eu dava problemas aos alunos, mas eles não conseguiam argumentar por medo de errar”. A professora tributa tal postura à velha pregação de que a ciência é absoluta e tem a verdade sobre a natureza. “Não deveria ser nada disso, ciência é conhecimento construído a partir da trabalha, é Maria, a zeladora, quem cuida da horta. Por

interpretação da realidade”.

que a Maria? “Porque ela é quem mais sabe de horta na escola”, responde. Mas é a curiosidade das crianças o que mais preocupa as professoras: “De maneira geral, elas não são estimuladas a fazer perguntas, esperando a resposta pronta em vez de ir buscá-la”, critica Mira. “Essa maneira de ensinar dá respostas a questões que não foram formuladas pelos alunos. É o professor falando e as crianças ali paradas, sentadas, só ouvindo”, completa Inês. O método de ensino que prega uma única resposta a tudo e ignora a divergência, é chamado de

Prisão do conhecimento Mira acrescenta que o livro didático é outra manifestação da educação convergente, modelo que leva à fragmentação do conhecimento: “Essa fragmentação causa perda do todo e da parte porque o aluno não vê a parte inserida no todo e nem o todo composto das partes”. Para Inês, a educação científica “deve estimular as pessoas a questionar o tempo todo e a buscar outras fontes de informações para não convergir”.

“educação convergente”, um modelo que se reflete

Um projeto pedagógico consistente, na opinião

depois na formação dos professores segundo Mira: “nas

de Inês, deveria envolver todos os que estão na escola,

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em vez de apenas considerar os alunos. O papel do

“Alfabetização não é letração, abrange todas as áreas,

professor nesse processo é ter o espírito aberto para

todas as linguagens, todas as fontes e, principalmente,

buscar informações nas fontes, pesquisar em livros

o contexto. É uma alfabetização sem limites”.

e na internet e ter predisposição para investigar:

Para finalizar, a professora Maria Inês Ota

“o professor deve estimular o aluno a procurar

sustenta com convicção que essa escola é possível,

informação, a questionar tudo, pois educação cien-

basta ter vontade. “O discurso está pronto, o que falta

tífica é lançar o problema e fazer com que todos

é gente que chegue à escola e tente mudá-la. E essa

possam resolvê-lo”.

mudança só pode ser feita na escola pública, por uma razão: a escola privada transformou a educação em

“como o próprio nome diz, é prisão do conhecimento”,

mercadoria, que é fazer o aluno passar no vestibular”,

a professora Mira Roxo deixa um recado final:

defende.

Na rua de olho na lua

Ironizando a chamada grade curricular, que,

Em Jandaia do Sul, o encontro da universidade com o ensino básico

O encontro da universidade com a escola pública Professores de matemática, física,

“Os shows de química e de física duram em

química e biologia de universidades e facul-

média uma hora e reúnem até 300 alunos do ensi-

dades públicas paranaenses estão levando

no fundamental e médio. Nessas atividades, sempre

suas experiências em sala de aula às escolas

tentamos relacionar os experimentos com algo do

municipais mais distantes dos grandes cen-

cotidiano do aluno a fim de facilitar a sua compreen-

tros urbanos. Iniciado em 2007, como parte

são”, relata Patrícia Caldana, uma das 1.394 bolsistas

das atividades do programa Universidade

do programa. Ela participa, em 19 municípios com

sem Fronteiras, da Secretaria de Ciência,

baixo índice de desenvolvimento humano da região

Tecnologia e Ensino Superior, esse trabalho

norte do Estado, do projeto museu itinerante de

é realizado em parceria com os Núcleos

ciências, coordenado pela Universidade Estadual de

Regionais de Educação por meio de ofici-

Londrina (UEL), que também divulga astronomia:

nas, laboratórios, seminários, reuniões para

“Na rua de olho na lua” e “Chuva de meteoros sagi-

construção de materiais didáticos e de um

tarianos”, por exemplo, reúnem dezenas de crianças

museu itinerante de ciências.

e adultos interessados nos fenômenos da natureza.

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“Esse modo de ensinar, novo, diferente, mais próximo da realidade, portanto mais fácil de entender, desperta interesse pela ciência e também ajuda a quebrar certos tabus, como os que pregam que a física e a química não servem para nada, além de serem muito difíceis de compreender”, comenta ainda Patrícia. “Essa experiência também é positiva para os acadêmicos que participam do projeto; além disso, mostra as dificuldades que teremos de enfrentar futuramente, como professores”. (RR)

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BIOENERGIA

Brasil amplia vantagens Mas há necessidade de mais pesquisa e organização do processo produtivo cláudia izique Fotos: Marcos Borges

Óleo vegetal usado no Centro de Referência em Agroecologia (CPRA), na região de Curitiba, emprega girassol como matéria-prima

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O mundo começa a conviver com a idéia de que a era dos hidrocarbonetos pode estar próxima do fim: a produção de petróleo na Rússia parece ter alcançado seu pico, a Arábia Saudita anunciou a suspensão dos planos para aumentar sua capacidade produtiva e o preço do petróleo chegou a atingir, em julho deste ano, o valor recorde de US$ 147 o barril, mais de 100% acima da cotação de uma década atrás. O mundo também descobriu que os gases de efeito estufa (GEE) gerados, principalmente, pelo uso de combustíveis fósseis, ameaçam o equilíbrio do planeta. Os riscos de escassez e de aquecimento

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BIOENERGIA

oFERTA INTERNA DE ENERGIA - BRASIL 2007 RENOVÁVEL

238,3 milhões TEP (2% da energia mundial)

BRASIL: 46%

TEP: (tonelada equivalente de petróleo)

OECD: 6% MUNDO: 12%

BIOMASSA 30,9% PETRÓLEO E DERIVADOS 17,4%

HIDRÁULICA E ELETRICIDADE 14,9% URÂNIO 1,4%

CARVÃO MINERAL

GÁS NATURAL

BIOMASSA

9,3%

Lenha: 12%

6,0%

Produtos de cana: 15,7% Outras: 3,2%

No Brasil, quase metade da matriz energética corresponde às energias renováveis. No mundo, este percentual representa 12,7 %. Fonte: MME

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A capacidade de produção da Usina de Biodiesel instalada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) é de 500 a 1000 litros por dia

Marcos Borges

Silvane Trevisan Tonetti

As previsões para 2008-2012 são de um mercado de 1 bilhão de litros/ano de biodiesel B2. A partir de 2013, a demanda deverá subir para 2,4 bilhões de litros anuais


global – e, é claro, o instinto de sobrevivência -

20 bilhões de litros produzidos a partir do milho. Nos

desencadearam uma corrida mundial em busca de

últimos 35 anos, a produtividade das lavouras saltou

alternativas energéticas limpas e renováveis que

de três mil para seis mil litros de etanol por hectare de

podem mudar de forma dramática a geoeconomia

cana, aumentando a competitividade do combustível

mundial.

em relação à gasolina. “Mas o país investiu muito

O Brasil tem vantagens comparativas:

pouco em pesquisa para entender o que acontece na

utiliza combustíveis limpos para atender 44% de

planta quando ela converte a energia solar em energia

suas demandas energéticas, enquanto a média

química”, exemplificou Rogério Cerqueira Leite,

mundial não passa de 13%. O país ainda investe

coordenador do Centro de Pesquisa em Bioetanol que

timidamente em tecnologias de geração de

o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) pretende

energia eólica, solar ou marítima, mas domina,

inaugurar ainda este ano, em Campinas, no Estado de

desde a década de 1970, tecnologias de produção

São Paulo. É preciso, portanto, acelerar as pesquisas

do etanol a partir da cana-de-açúcar e, nas últimas

em toda a cadeia de produção de etanol para manter

duas décadas, passou a produzir biocombustíveis

a dianteira, já que os Estados Unidos, o principal

- extraídos de algumas oleaginosas, como a soja,

concorrente – e, potencialmente, o maior mercado

por exemplo –, atualmente misturados ao diesel.

consumidor – investiram US$ 1,5 bilhão em 2007

Mas há ainda um longo caminho a percorrer para

no desenvolvimento de tecnologias de produção do

aumentar a produtividade desses combustíveis e

biocombustível.

ganhar escala para abastecer também o mercado Iniciativas

externo.

Há várias em curso no país, como o Centro de Etanol

Pesquisa em Bioetanol, que vai realizar pesquisa básica

O Brasil produz anualmente mais de 17

e aplicada para superar deficiências tecnológicas e

bilhões de litros de etanol obtidos da sacarose

aumentar a competitividade do produto nacional. As

da cana-de-açúcar. É o segundo maior produtor

principais demandas foram identificadas por meio de

mundial, atrás dos Estados Unidos, com cerca de

um amplo diagnóstico do setor encomendado pelo

de álcool. Destes, 600 mil foram destinados à exportação

Agência Estadual de Notícias

Na safra 2007/2008, o Paraná produziu 2,8 milhões de toneladas de açúcar e 1,6 bilhões de litros

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União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica)

A produção de cana de açúcar deve aumentar 10% no Paraná em 2008. As regiões norte e noroeste do estado concentram a maior parte das lavouras

Ministério de Ciência e Tecnologia ao Centro de

pelos avanços realizados à cadeia produtiva do

Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), e levado a

etanol no país. “O Bioen vai criar um grande centro

cabo pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento

virtual de pesquisas para somar esforços das

Estratégico (NIPE) da Universidade Estadual de

universidades e empresas”, diz Carlos Henrique de

Campinas (Unicamp), com a coordenação de

Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp. O programa

Cerqueira Leite. Os pesquisadores da Unicamp

contará com várias linhas de investigação –

tinham como tarefa identificar as ações necessárias

biologia genômica, biomassa, alcoolquímica, entre

para expandir a produção brasileira de etanol de

outras -, parte delas desenvolvidas em parceria

forma a substituir de 5% a 10% a gasolina utilizada

com empresas como a Dedini, Oxiteno e Braskem.

no planeta até 2025. Concluíram que, para atingir

O governo de São Paulo – Estado responsável

essa meta, será necessário investir em tecnologias

por 63% da produção do etanol no país – anunciou

que permitam a utilização também da celulose,

a instalação de um Parque Tecnológico de

da palha e do bagaço da planta – que concentra

Biocombustíveis em Piracicaba, que contará com

2/3 da energia –, desenvolver a agricultura de

investimentos de R$ 100 milhões em pesquisas

precisão, otimizar processos industriais e garantir a

sobre matérias-primas renováveis, tecnologia de

sustentabilidade ambiental, social e econômica da

conversão de biomassa e resíduos agroindustriais,

produção. “Temos que reduzir o impacto ecológico

além de tecnologias ambientais. “O parque

e fechar com saldo positivo a conta dos gastos com

representará a convergência do conhecimento

energia, emissão de carbono, desgaste do solo,

na área de biocombustíveis, seja ele público ou

entre outros”, afirmou Cylon Gonçalves da Silva,

privado”, explicou Luciano de Almeida, secretário-

um dos coordenadores do projeto patrocinado

adjunto da Secretaria de Desenvolvimento.

pelo MCT.

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Estruturada a área de pesquisa, o desafio

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

será o de aumentar a produção de etanol sem

de São Paulo (Fapesp) também arquitetou um

comprometer a de alimentos. Para abastecer

programa de pesquisas em Bioenergia, batizado

10% da demanda mundial do combustível,

com o nome de Bioen. O Estado reúne importantes

além dos ganhos tecnológicos, o país terá que

universidades e centros de pesquisas responsáveis

ampliar as lavouras de cana-de-açúcar que


atualmente ocupam seis milhões de hectares para algo em torno de 42 milhões de hectares. Os especialistas garantem que, num país com uma área agricultável de 152,5 milhões de hectares, é possível aumentar a produção de cana sem deslocar a de alimentos. As áreas com potencialidade de plantio foram mapeadas pelos pesquisadores do NIPE: abrangem regiões como o norte do Tocantins, o sul do Maranhão, Mato Grosso, Goiás e Triângulo Mineiro. Biodiesel

de produção de biocombustíveis extraídos de oleaginosas. O principal insumo é a soja, grão que guarda 18% de óleo na semente. O produto é adicionado numa proporção de 3% ao diesel

Divulgação/Copel

O Brasil também domina a tecnologia

vendido nos postos de gasolina, desde o mês de

A competitividade em energia eólica ainda depende

julho, e deverá atingir o percentual de 5% em

de muita pesquisa e desenvolvimento

2010. “Temos que ter volume para atender essa imposição legal”, diz Frederico Durães, diretor da Embrapa Agroenergia, unidade de pesquisa criada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em 2006. Para atender essa demanda é preciso com potencial para gerar biodiesel, como o girassol, o algodão, o amendoim, o dendê, o pinhão-manso, entre outros, que atendam tanto

iStockphoto

ampliar, como ele diz, o mix de matérias-primas

ao agronegócio como a agricultura familiar. O pinhão-manso, por exemplo, pode gerar até duas toneladas de óleo por hectare, contra 0,5 tonelada por hectare produzida a partir da soja. O problema é que a soja ainda é a única oleaginosa sobre a qual o país tem domínio tecnológico, adquirido ao longo de mais de

Devido aos altos custos, a energia solar é pouco usada no Brasil, mas pode representar uma solução para parte dos problemas de escassez de energia

25 anos de pesquisa. Nas demais, ainda serão necessários vários anos de investigação para se obter volume, escala e para atender as demandas de sustentabilidade do produto.

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Biomassa: a contribuição do Paraná Até o final de 2009, o Estado deverá produzir cerca de 280 milhões de litros de biodiesel por ano

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Desde 2004, o Instituto Agronômico do

deve associar a produção de oleaginosas também

Paraná (Iapar), em parceria com a Empresa

à de alimentos. “Nesse caso, o amendoim pode

Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa)

ser uma boa opção”, sublinha Dalziza de Oliveira.

e a Empresa Paranaense de Extensão Rural

Para garantir maior eficiência em pequenas

(Emater-PR), vem desenvolvendo estudos sobre

propriedades, o Iapar investiga também a

a utilização de várias oleaginosas na produção

utilização das tortas residuais como ração animal

de biocombustíveis. As pesquisas integram o

e na adubação. “Nos próximos dois ou três anos,

Programa Paranaense de Bioenergia, criado em

teremos definidas tecnologias de plantio”.

2003 pelo governo estadual com o objetivo de

O Instituto divide as plantas com potencial

fomentar a pesquisa e o desenvolvimento, as

para a produção de biodiesel em três grupos. No

aplicações e o uso da biomassa, com foco inicial

primeiro estão a soja e o algodão, para os quais já

na produção de biodiesel, adicionando-o à matriz

se tem tecnologia de cultivo e cadeia de produção

energética estadual. À frente desse programa,

consolidada no Estado. O segundo grupo abrange

estão as secretarias de Ciência, Tecnologia

espécies sobre as quais já se tem conhecimento

e Ensino Superior (SETI) e da Agricultura e

agronômico, mas que ainda exigem maiores

Abastecimento (SEAB).

estudos, como é o caso do amendoim, mamona,

“Estamos trabalhando com oleaginosas e

girassol, nabo forrageiro e canola. E o terceiro

com opção de produção no verão, como o girassol

engloba espécies como o cártamo, linho, crambe,

e a mamona, e no inverno, com o amendoim e o

pinhão-manso e tungue, introduzidas há pouco

nabo forrageiro”, afirma Dalziza de Oliveira, do

tempo no Paraná, e sobre as quais ainda há muito

Iapar. As pesquisas começaram com o girassol,

que pesquisar.

que está sendo plantado na região de Londrina,

Recentemente, o Iapar concluiu o programa

e têm perspectivas interessantes. “O problema é

de zoneamento agroclimático da mamona, um

a grande população de pombas que destroem a

estudo fundamental para definir a melhor época

planta”, relata Dalziza, apontando um problema

de plantio em cada região do Estado, reduzir

que também precisa ser solucionado pela

riscos de perdas e facilitar a contratação de

pesquisa.

crédito e seguro agrícola. O zoneamento do nabo

As pesquisas buscam encontrar produtos

forrageiro e da canola deve ficar pronto no final

que atendam tanto às demandas do agronegócio,

do ano. “Nas culturas de soja, milho e trigo, já

como o girassol e a mamona, quanto à agricultura

constatamos que os fatores mais importantes

familiar, que não utiliza a colheita mecanizada e

são os extremos de temperatura e o excesso de


iStockphoto

Marcos Borges

Marcos Borges

Marcos Borges

Mini-usina compacta utilizada no Centro Paranaense de ReferĂŞncia em Agroecologia, regiĂŁo de Curitiba

Carro movido a Ăłleo vegetal

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umidade, porque estão relacionados à ocorrência

agrícolas, aumentando sua renda e gerando

de doenças”, esclarece Paulo Henrique Caramori,

riquezas”, adiantou o diretor de engenharia

especialista em agrometeorologia do instituto.

da Copel, Luiz Antonio Rossafa. O estudo foi

O óleo extraído de oleaginosas a partir das pesquisas realizadas pelo Iapar é testado numa usina semi-industrial de produção de biodiesel

encomendado pelo governador Roberto Requião.

Mestrado em bioenergia Com a expansão da produção de biodiesel

instalada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), na Cidade Industrial de Curitiba, com capacidade para 500 a mil litros por dia. “O produto é misturado ao diesel em diferentes proporções e testado em motores do ciclo diesel”, explica Bill Jorge da Costa, diretor técnico. A usina é uma das ações do Programa Paranaense de Bioenergia.

no Estado, o Paraná também investe na formação de

pesquisadores

para

criar

competências

regionais e fazer avançar as pesquisas na área de biocombustíveis. No início deste ano, por iniciativa da SETI e de 12 instituições de ensino superior e de pesquisa, foi estruturado o curso de mestrado em Bioenergia. O objetivo do curso, já submetido

Mercado

à avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento

No Paraná, três empresas de pequeno e médio

de Pessoal de Nível Superior (Capes), é formar

porte, todas em Rolândia, norte do Estado, têm

pessoal qualificado para atuar em pesquisa e

autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP)

desenvolvimento e no magistério superior.

para produzir biodiesel: a Biolix, com capacidade de nove milhões de litros por ano; a Big-Frango, com 12 milhões de litros por ano; e a Biopar, com 36 milhões de litros por ano. Duas novas usinas devem ser instaladas no Paraná – uma em Marialva, no norte, e outra, da Petrobras, em Palmeira, no sul – elevando a capacidade de produção de biodiesel no Paraná para 280 milhões de litros por ano até o final de 2009. Nos cálculos da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, esse volume deverá atender a demanda do Estado – de 120 milhões de litros por ano – e o excedente poderá ser exportado para outras regiões e até mesmo para outros países, segundo o engenheiro agrônomo Richardson de Souza.

Paraná (Copel) em parceria com secretarias de Estado, universidades e institutos de pesquisa, deve sugerir modelos para a instalação de pequenas e médias usinas de processamento de oleaginosas. “A idéia é estruturar arranjos produtivos que atendam, da melhor maneira, os pequenos produtores

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Marcos Borges

O estudo de viabilidade de produção do biodiesel, elaborado pela Companhia Elétrica do

Mini-usina compacta utilizada no Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, região de Curitiba


Mais empregos para a agricultura familiar

A expectativa do Programa Paranaense de Bioenergia é estender a produção de biodiesel também à agricultura familiar. De acordo com estudos desenvolvidos pelo governo federal, a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar, são gerados cerca de 45 mil empregos no campo. “A produção de oleaginosas em lavouras familiares faz com que o biodiesel seja uma alternativa importante para a erradicação da miséria no país, pela possibilidade de ocupação de enormes contingentes de pessoas”, afirma o agrônomo Richardson de Souza. Outra ação planejada pelo governo estadual é instalar miniusinas de extração de óleos vegetais a frio, por meio de prensagem mecânica, no interior, para atender pequenas cooperativas e associações de produtores que produziriam combustível para suas máquinas. O primeiro protótipo já está em operação na Colônia Witmarsum, em Palmeiras, apoiado pela rede evangélica de assistência social. A usina extrai o óleo a frio, com pequenas prensas. O processo não inclui produtos químicos, como solventes, e garante o aproveitamento das tortas para alimentação humana e animal. Também estão em operação as mini-usinas de Pitanga, na Associação dos Trabalhadores da Cidade e do Campo), e de Curitiba, no Centro de Referência em Agroecologia (CPRA). A produção de etanol também poderá contribuir para a integração de pequenos produtores ao mercado. A Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil Ltda (Cooperbio), na região de Redentora, no Rio Grande do Sul, por exemplo, está implantando um projeto-piloto de produção de biocombustíveis associada à lavoura de alimentos em pequenas propriedades em parceria com a Petrobras. Serão nove microdestilarias, cada uma delas

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com capacidade para processar o equivalente a sete toneladas de cana por dia para a produção de 500 litros de álcool. Três já estão em operação. Esse projeto piloto reúne 15 mil famílias de pequenos produtores de soja, milho, feijão e fumo e com uma área de produção de cana que não pode ser superior a dois hectares por família. A cana é colhida pelos agricultores, moída na propriedade - com moendas móveis oferecidas pela Cooperbio – e o suco é transportado para as microdestilarias patrocinadas pela Petrobras. O bagaço e o vinhoto são utilizados na recuperação do solo e no trato dos animais.

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Paraná cria uma via de inovação no estudo e aproveitamento da biomassa Centro Paranaense de Referência em Agroecologia – CPRA (Pinhais) O CPRA, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, vem usando óleo vegetal obtido a partir do girassol em tratores para testes de rendimento. Escola Latino Americana de Agroecologia (Lapa) No curso superior de Tecnologia em Agroecologia, professores e alunos fazem reflexões críticas sobre as fontes de energia, suas possibilidades e seus limites. Nos cursos técnicos, oferecidos em parcerias com movimentos sociais do campo, são produzidas oleaginosas como o girassol e a mamona. Fundação Assis Gurgacz – FAG (Cascavel) Promove pesquisas nas áreas de produção de biodiesel com óleos vegetais e gorduras animais. Também faz testes com motores e realiza estudos de viabilidade técnico-econômico-ambiental de matérias primas disponíveis no mercado nacional. Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar (Curitiba) Referência no Estado, o Tecpar trabalha com fontes renováveis de energia desde os anos 80. Em sua sede, na Cidade Industrial de Curitiba, estão o Centro de Referência em Biocombustíveis (Cerbio), da Agência Nacional do Petróleo (ANP), e uma usina própria de biodiesel com capacidade de produção de 500 a 1000 litros por dia.

Mini usinas comunitárias (Curitiba, Palmeira e Pitanga) São incentivadas pelo governo estadual: a primeira delas foi instalada na Cooperativa de Witmarsum, no município de Palmeira, sul do Estado. Cerca de 60 grupos de agricultores participam desse projeto, onde o óleo vegetal prensado a frio é aproveitado como alimento e como biocombustível. As outras duas funcionam em Curitiba (CPRA) e em Pitanga.

Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – Lactec (Curitiba) Testa o biodiesel em geradores de energia elétrica, para uso em locais onde não há rede pública de energia, e em indústrias, como fonte de emergência. Avalia resultados de desempenho de motores movidos a biodiesel, encaminhando-os ao MCT. Pesquisa células a combustível, que geram energia a partir de hidrogênio, obtido a partir de reforma de etanol e metanol, e a emissão de gases não regulamentados por lei. Um gerador movido a biodiesel abastece parte do prédio. Granja Colombari (São Miguel do Iguaçu) A granja de suínos Colombari armazena os dejetos dos animais em um biodigestor de biogás. A energia produzida é suficiente para abastecer a propriedade e ainda gera um excedente que é enviado à rede pública, através de uma parceria com a Itaipu e a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel).

Produção de álcool no Paraná (norte e noroeste do Paraná) Segundo maior produtor de álcool do país, com 30 indústrias do setor, o Paraná produziu 1,6 bilhão de litros de álcool na safra 2007-2008. A atividade está presente em 130 dos 399 municípios do Estado. As lavouras se concentram nas regiões norte e noroeste. Porto de Paranaguá (Litoral) Abriga o primeiro terminal público de embarque de etanol do país: sua capacidade de armazenamento é de 37,5 mil m3 do produto. Foi inaugurado em outubro de 2007. Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG Contará em breve com uma planta piloto para geração de biocombustíveis e um laboratório para análises. O objetivo é melhorar o aproveitamento dos resíduos gerados na síntese de biodiesel e desenvolver novas tecnologias para produção de catalisadores.

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Pesquisas desenvolvidas nas universidades e institutos paranaenses na área da Bioenergia revelam competências em várias frentes e tiram a produção acadêmica do anonimato. O objetivo é encontrar soluções que diversifiquem a matriz energética, diminuam a dependência dos combustíveis fósseis e reduzam a emissão de poluentes. A seguir, alguns exemplos dessa produção:

Universidade Estadual de Londrina – UEL Estuda a otimização da reação de transesterificação, com a mistura de catalisadores para melhorar o rendimento do processo de obtenção do biodiesel. Uma outra rota de obtenção de biocombustível, a pirólise catalítica (craqueamento) de óleos vegetais, também é objeto de pesquisa. A diferença é que esta reação não precisa do álcool e não gera sub-produtos como a glicerina, apresentando-se como uma solução interessante para pequenos empresários e agricultores. Universidade Estadual de Maringá – UEM Pesquisa o biodiesel e executa plantas de produção que ficam à disposição de empresários. Desenvolve nanocatalisadores, faz ensaios e análises do óleo. Também estuda o reaproveitamento dos subprodutos do biodiesel, bem como as linhagens especiais empregadas na produção do etanol. Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro (Guarapuava) Resultado de uma parceria com um grupo de empresários da região, a usina piloto Lumabio já publicou vários trabalhos científicos na área de biocombustíveis. Está instalada na Incubadora Tecnológica de Guarapuava. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste - Biodigestores (Oeste do Paraná – Toledo) Estuda o potencial de produção de energia renovável no meio rural, particularmente de biomassa vegetal e de resíduos rurais. Graças a esse trabalho, algumas propriedades do oeste do Estado já contam com biodigestores que processam os resíduos orgânicos de suínos e bovinos para geração de biogás e biofertilizantes. Universidade Federal do Paraná – UFPR A produção de biodiesel, a otimização de processos, o uso de co-produtos como a glicerina, a torta e o farelo de óleo vegetal e de compósitos plastificados com amido e glicerol estão entre as principais pesquisas da instituição. Além disso, desenvolve catalisadores e polímeros alternativos para uso em células a combustível. No Laboratório de Energia da Biomassa, pesquisa-se o potencial da biomassa florestal como fonte para a matriz energética. Há ainda estudos sobre o uso de resíduos de madeira como combustível renovável para o setor industrial, especialmente para produção de vapor e energia elétrica, e projetos relacionados à atualização de tecnologias de produção de briquetes de resíduos florestais e de briquetes de carvão vegetal. Pró-Natureza Limpa (Toledo) Graças a esse projeto, resultado de uma parceria entre a Unioeste e a Prefeitura de Formosa do Oeste, famílias poderão receber incentivos para separar o lixo orgânico de outros materiais. O lixo que iria para um aterro sanitário servirá de matéria prima para geração de energia elétrica e térmica. Todos os equipamentos usados pelo projeto foram construídos com material de ferro-velho. Companhia de Energia Elétrica do Paraná – Copel (Curitiba) Com o objetivo de diversificar e descentralizar a matriz energética paranaense, a Copel está investindo em novas tecnologias de fontes renováveis de energia. Está prevista a instalação de pequenas e médias usinas de processamento de oleaginosas, bem como a estruturação de arranjos produtivos que aumentem a renda de pequenos produtores agrícolas. Também serão formadas parcerias com usinas de álcool e açúcar para a construção de pequenas centrais termelétricas. As usinas, de até 120 MW, produzirão eletricidade a partir do bagaço de cana. Instituto Agronômico do Paraná – Iapar (Londrina) Pesquisa culturas de oleaginosas com potencial para produção de biodiesel, como amendoim, girassol, nabo forrageiro, colza, mamona, tungue e pinhão-manso. As pesquisas incluem o zoneamento agrícola, o manejo do solo, o melhoramento de materiais genéticos e o controle de doenças. Também são feitos testes de prensas para extração de óleo e análise de viabilidade econômica para cada cultura. O instituto destaca-se ainda na produção de sementes básicas e certificadas, a fim de disponibilizar os materiais genéticos aos produtores do Paraná. Também há estudos para o aproveitamento das tortas residuais para alimentação animal.

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MEIO AMBIENTE

Rio de informações Pesquisadores da Unioeste e da UEM preparam catálogo da ictiofauna do Baixo Iguaçu

Bruno Stock

rodrigo apolloni

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Desde a primeira vez em que foi descrito por um viajante europeu, no século 16, até o início do século 21, o Baixo Iguaçu – área da bacia hidrográfica compreendida entre União da Vitória e Foz do Iguaçu – sofreu transformações importantes. Tais mudanças – definidas, fundamentalmente, pela construção de reservatórios de usinas hidrelétricas e pela introdução de espécies exóticas de peixes – implicaram em efeitos sobre a fauna. Nos últimos anos, pesquisadores de universidades paranaenses vêm realizando um importante trabalho de detecção e análise desses efeitos. Ele inclui o levantamento e descrição das espécies – assim como um grande número de trabalhos científicos em áreas como taxonomia, ictiologia, limnologia, gestão ambiental e engenharia de pesca.

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MEIO AMBIENTE Um desses projetos resultará na publicação,

características de cada espécie; a parte voltada

em breve, de um catálogo da ictiofauna do

ao público leigo, informações sobre a biologia,

Baixo Iguaçu. O responsável, professor Gilmar

reprodução, hábitos alimentares e distribuição

Baumgartner – doutor em ecologia de ambientes

espacial na bacia hidrográfica. A obra será

aquáticos

oficialmente

continentais

e

coordenador

do

durante

o

XVIII

Grupo de Pesquisas em Recursos Pesqueiros

Encontro Brasileiro de Ictiologia, que acontece

e Limnologia da Unioeste, Campus Toledo –

em janeiro de 2009 em Cuiabá (MT).

explica que o levantamento começou em 1994,

Endemismo

por pesquisadores da UEM. “A partir de 2003 começamos a avaliar dois reservatórios de usina da Tractebel e, em 2006, iniciamos um trabalho com a Copel que abrange o trecho compreendido entre Salto Caxias e União da Vitória”, explica.

Para a pesquisadora Carla Simone Pavanelli, pós-doutora em Sistemática, curadora do Nupélia e participante do projeto, o trabalho ganha em importância na razão em que se está examinando de forma específica o Baixo Iguaçu. “É uma fauna

Ao todo, o monitoramento abrange oito

que apresenta uma série de peculiaridades e

reservatórios - Salto do Val, Foz do Areia, Segredo,

difere, por exemplo, da fauna da bacia do rio

Derivação do Jordão, Santiago, Cavernoso,

Paraná e de qualquer outra bacia.”

Caxias e Chopim 1 - e alguns afluentes do Baixo Iguaçu. Entre pesquisadores da Unioeste e do Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aqüicultura (Nupélia) da UEM, cerca de 80 pessoas participam do trabalho. Além de fazer coletas, as equipes também trabalham com materiais coletados anteriormente. Os espécimes vêm

sendo

detalhadamente

examinados,

medidos e fotografados. O catálogo, explica Baumgartner, trará informações sobre 83 espécies de peixes – número que pode aumentar, uma vez que o estudo ainda está em andamento. “O objetivo é atingir dois públicos, o científico e o leigo, que inclui estudantes e praticantes de pesca desportiva. O trabalho, portanto, vai auxiliar em duas frentes: no gerenciamento e na formação de consciência ambiental”. A parte científica trará um manual de identificação com todas as

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apresentada

Gilmar Baumgartner ressalta a riqueza da fauna estudada. “As características do Iguaçu acabaram por determinar o desenvolvimento de espécies endêmicas, ou seja, que só existem ali. Algumas, inclusive, estão adstritas a pequenos trechos do rio”, salienta Gilmar. A “descoberta” dessas espécies representa, em si, uma enorme riqueza de conhecimentos. Até o momento, as pesquisas revelaram coisas importantes. Cerca de 10% das espécies catalogadas, por exemplo, jamais foram descritas. As espécies “novas”, porém, permanecerão sem nome científico no catálogo. Isso acontece, explica Carla Pavanelli, em função de alguns requisitos necessários ao “batismo científico” de uma espécie, dentre os quais a publicação da descoberta em revistas científicas internacionais. “As descrições estão sendo feitas em separado. Assim, as que tiverem saído antes da publicação


do catálogo serão incorporadas à obra. As demais

Ao todo, 15 espécies exóticas foram identificadas,

serão elencadas sem nome científico, mas com

dentre elas o tucunaré, peixe-rei, carpas, tilápias,

todas as informações necessárias para que se possa

dourado, pintado e caxara. “Em minha avaliação,

identificá-las, checar se são mesmo novas espécies e

essa é a grande surpresa do estudo. Essas espécies,

chegar até elas na natureza.”

que podem ter sido introduzidas no rio de forma deliberada ou por acidente, ameaçam as espécies

Impacto A pesquisa também revelou o impacto da introdução de espécies exóticas no Baixo Iguaçu.

originárias. Nossa grande preocupação é com o tipo de substituição que pode acontecer no meio ambiente”, pondera Gilmar.

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Apareiodon vittatus – canivete

Astyanax sp B - lambari do rabo vermelho

Bryconamericus ikaa – pequira

Pimelodus britskii -

Pimelodus ortmanni – mandi

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Fotos de Gerpel/Unioeste

mandi pintado


Da demanda energética à pesquisa de impacto ambiental A relação entre hidroelétricas e pesquisas de ictiofauna não é gratuita. A partir do momento em que ocorrem alterações significativas em um curso de rio, fatalmente são verificadas mudanças nas populações de peixes. “A lei ambiental exige o monitoramento desse impacto”, explica Gilmar Baumgartner. “Nos estudos anteriores, o objetivo era mais o de levantamento das espécies. Com a construção dos reservatórios, passamos, também, a avaliar o impacto e a buscar subsídios para o manejo das populações.” E que tipo de impacto já foi verificado no Baixo Iguaçu? Como a bacia hidrográfica não possui espécies migradoras, ele foi minimizado. Mesmo assim, há registro de aumento do número de indivíduos de algumas espécies – caso, por exemplo, de certos tipos de lambaris. O estudo não identificou, porém, reduções significativas de indivíduos das

Bruno Stock

espécies originárias do próprio rio.

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meio ambiente

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Urbanização impõe novos desafios camilla toledo

Cerca de 12% dos recursos hídricos mundiais estão no Brasil, Mas os desafios não param de crescer O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em água doce. Seus rios totalizam vazões médias anuais de quase 180 mil metros cúbicos por segundo, ou o mesmo que 72 piscinas olímpicas por segundo – volume que corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade mundial. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), a quantidade de águas em território nacional seria suficiente para atender cerca de 57 vezes a demanda atual e abastecer uma população de até 32 bilhões de pessoas (quase cinco vezes a população mundial). Os desafios são inúmeros: o maior rio do Paraná, o rio Iguaçu, ilustra bem essa constatação. Ele nasce na Região Metropolitana de Curitiba e acaba 1.300 quilômetros depois, nas Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, região oeste do Estado. Mais de 1.200 quilômetros de suas águas estão em boas condições, segundo a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Paraná (Suderhsa), que há mais de 40 anos faz o monitoramento da qualidade da água dos rios paranaenses. O maior problema está nos seus primeiros 70 quilômetros: ao atravessar a capital e seu entorno, o Iguaçu ainda padece de problemas comuns aos grandes centros urbanos brasileiros (segundo a Companhia de Saneamento do Paraná, 85% da população de Curitiba conta com serviços de coleta e tratamento de esgoto).

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“Hoje, no país, muitos poços ainda são

meio ambiente

perfurados de forma clandestina, sem cadastramento ou outorga dos órgãos ambientais,

Ocupações irregulares e poluição “Ligações irregulares de esgoto e falta de saneamento básico representam a maioria dos problemas na área de recursos hídricos no Brasil, somados ainda às ocupações em área de manancial e à poluição das indústrias”, explica Eduardo Gobbi, professor doutor em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, pouco mais da metade (54%) dos domicílios brasileiros contam com coleta de esgotos, informa a Agência Nacional de Águas. Nas regiões com maiores coberturas – como na região hidrográfica do rio Paraná – os índices se aproximam de 70% Já nos rios do interior do Estado, os problemas são pontuais e típicos de regiões agropecuárias. “O processo erosivo, a expansão da produção agrícola, a retirada de matas ciliares, o lançamento de agrotóxicos e de dejetos de animais são alguns dos fatores de degradação da qualidade de rios nas regiões dedicadas à produção de alimentos no Brasil”, detalha o professor. Além das águas superficiais, muitas localidades recorrem às águas subterrâneas para abastecimento público. Sob o território paranaense, encontram-se 11 aqüíferos, dentre os quais destacam-se o Serra Geral, o Caiuá – amplamente utilizado para abastecimento público – e o Guarani. Este último possui mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados espalhados por oito estados brasileiros, além de Argentina, Paraguai e Uruguai, onde estão armazenados cerca de 48 mil quilômetros cúbicos de água. Na opinião do geólogo Everton de Souza, presidente da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, e vice-presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), os maiores desafios estão na identificação dos usuários e na ausência de uma rede eficiente de monitoramento da qualidade e quantidade dessas águas.

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em grande parte por falta de conscientização da sociedade. Portanto, podemos dizer que desconhecemos a totalidade de informações fundamentais para uma boa gestão, como a quantidade e a qualidade da água disponível ”, afirma o geólogo. Para superar estes desafios, Everton aposta na construção dos planos de recursos hídricos. “Eles irão integrar a rede de monitoramento de recursos subterrâneos com a de recursos superficiais e reconhecer suas interconexões”. Mundo moderno e urbano Devido às dimensões continentais do Brasil, os ciclos hidrológicos são muito variados e diferem de região para região. “Nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, não existem períodos tão definidos como nas demais regiões do Brasil, em que as fases são bem características e podem até mesmo ser denominadas de estação da seca ou das chuvas”, explica o engenheiro civil especialista em gestão de recursos hídricos, Edson Manassés. “Os ciclos são permanentes em suas regiões; o que muda são as demandas”, afirma. Neste sentido, a urbanização é sempre um grande desafio para a gestão das águas no Brasil. Além da ocupação irregular de mananciais, que compromete a qualidade da água, a impermeabilização do solo e a construção de calçadas e pavimentação de ruas, conseqüências desse processo, reduzem a infiltração da água no solo e diminuem a recarga dos aqüíferos. Os desmatamentos e a erosão também influenciam negativamente o ciclo hidrológico. O crescimento das cidades traz ainda outra preocupação: com a impermeabilização do solo também é necessário aumentar o potencial de escoamento da água para evitar enchentes. Isto é feito através da drenagem pluvial que direciona


Legislação tardia

a água da chuva a locais onde o lançamento destas vazões pode ser feito, geralmente rios e lagos. “A

Antes da gestão participativa que reconhece a água como elemento essencial à saúde da população e ao desenvolvimento sustentável, os recursos hídricos foram, por muito tempo, administrados apenas por setores que os aproveitavam comercialmente.

implantação de galerias pluviais em áreas urbanizadas, através de tubulações, canais, bocas de lobo e bueiros é a metodologia mundialmente utilizada”, destaca o engenheiro civil especializado em gestão de recursos

Entre 1910 e 1940, o modelo de propriedade conjunta terra-água era a tônica da gestão da água, que não era regulada pelo poder público.

hídricos, Carlos Alberto Galerani. “A tendência da grande maioria dos projetistas é aliar essas galerias à implantação de bacias de detenção, que tem função

É criado em 1934, o Código das Águas, trazendo profundas alterações no Código Civil.

inversa às galerias pluviais: deter o escoamento na fonte ou onde ele é produzido e, com isso, diminuir a

A primeira legislação contemplando o tema água foi redigida somente em 1981, quando os impactos da urbanização já apresentavam conseqüências negativas como enchentes e piora na qualidade da água. É então criada a lei da política nacional do meio ambiente.

ocorrência de cheias”, completa. Ele ressalta que as cheias são um processo natural do rio. “Elas se tornam enchentes quando a população ocupa uma área de escoamento do

É sancionada em 1997, a lei das águas, que institui

rio que não deveria estar ocupada”, comenta. Uma

a Política Nacional de Recursos Hídricos e prevê a participação popular. A instância superior do sistema é o Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Surgem, na seqüência, os sistemas estaduais de gerenciamento e os conselhos estaduais de recursos hídricos

das alternativas apontadas pelo especialista é a implantação de políticas públicas que favoreçam a saída das famílias desses locais ambientalmente inadequados para ocupação urbana. Além de trazer

Atualmente, a gestão participativa e descentralizada se dá através dos comitês de bacias hidrográficas. Já a execução do planejamento fica a cargo das Agências de Bacias.

prejuízos ambientais e econômicos, as enchentes colocam a saúde da população em risco. Por isto, a drenagem se apresenta como um dos quatro

Atualmente, apenas duas bacias hidrográficas em rios de domínio da União fazem a cobrança do uso da água: Paraíba do Sul e a Piracicaba-Capivari-Jundiaí, conhecida como PCJ. Em rios de domínio estadual a cobrança ocorre em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. A questão é polêmica.

pilares do saneamento básico – os outros três são o abastecimento de água, a coleta e tratamento de esgoto e a coleta e a disposição final de lixo.

Cálculos da Câmara Técnica de Cobrança do Comitê do Alto Iguaçu-Afluentes do Alto Ribeira indicam que a cobrança pelo uso da água em todas as 16 bacias hidrográficas paranaenses poderia direcionar, a cada ano, entre R$ 17 milhões e R$ 25 milhões à melhoria da qualidade dos rios.

“A gestão participativa é, sem dúvida, uma forma de garantir os usos múltiplos das águas sem prejuízos às futuras gerações”. José Luiz Scroccaro, Diretor Operacional

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de Águas da Suderhsa

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I N O VA Ç Ã O

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Mudanças em curso Romeu de Bruns

Consolidação da política nacional de inovação, calcada principalmente na Lei do Bem, é uma dessas mudanças

São evidentes os contrastes existentes no campo

Academia e iniciativa privada

da ciência e tecnologia, no Brasil. O país se destaca

Contudo, se o desempenho nos últimos anos

como um dos países que mais produzem artigos

é positivo e a perspectiva, otimista, o que leva a The

científicos no mundo (é o 15º, à frente de nações como

Economist a considerar o Brasil um ambiente pouco

Suíça e Suécia), ao mesmo tempo, ainda tem um

favorável à inovação? Uma primeira pista vem da

ambiente pouco favorável à inovação tecnológica está

qualidade desses artigos, refletida no chamado

na 43ª colocação, segundo definiu recentemente o

“ranking de impacto”, ou seja, o quanto esses artigos

Economist Intelligence Unit, braço de pesquisas

servem como referência mundo afora.

macroeconômicas

da

revista

britânica

The

Economist.

Esse ranking é elaborado com base no índice médio de citações por autores de cada país, e é liderado

O avanço na produção científica brasileira é

por Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Sob esse

inegável. Em 1970, foram publicados 64 artigos (0,019%

ponto de vista, o desempenho brasileiro se assemelha

da produção mundial). Neste ano, a participação chegou a 2,02%. Nessas três décadas, enquanto o total mundial pouco mais que dobrou, o montante brasileiro cresceu mais de 250 vezes, o que lhe permitiu chegar às primeiras colocações do ranking. E isso em um país que investe apenas 1% do PIB em ciência e tecnologia, enquanto a Coréia do Sul e boa parte dos países que apresentam maior crescimento no campo científico aplicam cerca de 3%.

ao de países em estágio similar de desenvolvimento, como México e Argentina. A comparação com a Irlanda, por exemplo, é interessante, já que esse país tem três vezes menos artigos que o Brasil, mas é duas vezes mais citado. Outro indicativo vem da baixa integração entre a academia e a iniciativa privada. O professor universitário e consultor Cláudio Roberto Vicente, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fez sua tese de mestrado exatamente sobre esse tema,

Esse bom desempenho indica que, apesar do

indicando como a gestão relacionamento-cliente

baixo investimento, os mecanismos que estimulam

(CRM) pode ser utilizada pelas instituições científicas

essas publicações – em especial a avaliação a que

como forma de aproximação com a indústria.

são submetidos os programas de pós-graduação nas

Um dos dados apurados por Vicente é

instituições de ensino, principal origem dos artigos

sintomático: enquanto apenas 12% dos engenheiros

– têm sido eficientes. Se o crescimento da ciência

e cientistas brasileiros estão alocados em pesquisa

brasileira continuar

– e nada indica que haverá

e desenvolvimento industrial, esse índice é de 79%

mudanças nessa área – a expectativa é que o Brasil

nos Estados Unidos e de 55% na Coréia – país que,

alcance a 10ª posição dentro de 10 anos.

há 25 anos, tinha indicadores de ciência e inovação

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similares aos nossos, mas com um programa de

mudança cultural no país, com a consolidação de

investimentos pesados em educação e na criação de

política nacional de inovação, calcada na Lei 11.196, de

institutos de pesquisa (eram pouco mais de 40 e hoje

2005 (lei do bem), Lei 10.973, de 2004 (lei de inovação

já passam de 10 mil), passou a competir em pé de

tecnológica), além das linhas de financiamento do

igualdade com as economias mais desenvolvidas do

BNDES, Fundos Setoriais e iniciativas de âmbito

planeta. “A Coréia fez o que o Brasil precisa fazer”,

estadual.

resume Vicente.

“O investimento em inovação tecnológica e

Essa pouca integração universidade-indústria

científica tem que ser bastante coordenado, não vai

se reflete no baixo número de patentes que o Brasil

ser um órgão governamental sozinho que mudará

registra. Sobre isso, mais uma vez vale o exemplo

o quadro. Temos que popularizar mais a ciência e a

da Coréia. Nos anos 1980, empresas coreanas e

sociedade é o principal ator no processo”, afirma o

brasileiras registravam em média 80 patentes por

coordenador geral de Programas Estratégicos da

ano nos EUA. Hoje, enquanto a Coréia faz mais de

Capes, Luciano de Azevedo Soares Neto.

6 mil registros por ano, o Brasil não passa de 200; a Universidade de Campinas (Unicamp), campeã nessa área, sugere que algo não vai bem nessa

Ele tem percorrido o país nos últimos meses divulgando

a

chamada

pública

MEC-MCT-MDIC,

relação. A questão não é nova: de um lado, critica-

uma fonte de recursos para projetos de inovação

se o isolamento da universidade; de outro, deve-se

científica e tecnológica sem prazo para se encerrar.

chamar a atenção para a inapetência das empresas

Um dos diferenciais dessa forma de financiamento

brasileiras em investirem em inovação.

é que ela permite às empresas se associarem a

De modo geral, as empresas costumam alegar falta de incentivos. Porém, vale destacar que a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, disponibilizou R$ 450 milhões em recursos não reembolsáveis para

instituições científicas públicas para desenvolverem suas propostas. Além de dois processos em fase final de análise, outros 114 estão inscritos – isto em apenas quatro meses. “Temos sido contatados por instituições do país inteiro”, comemora Soares Neto.

projetos inovadores, no ano passado. Desse montante,

O coordenador da Agência Paranaense de

um terço não chegou a ser repassado porque os

Propriedade Industrial (APPI), abrigada no Núcleo

projetos apresentados não foram adequadamente

de Inovação Tecnológica (Nitpar), da Secretaria de

elaborados, o que é sinal de que muitas empresas

Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), Marcus

não estão preparadas para acessar esses recursos.

Julius Zanon, reconhece que o tempo de registro de uma patente no país ainda é muito demorado.

Lei do Bem

“Enquanto aqui a concessão de uma patente pode

Apesar disso, as fontes entrevistadas são

levar até oito anos, na Espanha a demora é de três

unânimes em reconhecer que está em curso uma

anos, chegando a dois nos casos de urgência”, afirma.

Principais incentivos da Lei do Bem • Deduções de imposto de renda e da contribuição sobre o lucro líquido (CSLL) de gastos efetuados em atividades de P&D. • Redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) na compra de máquinas e equipamentos para P&D. • Depreciação acelerada desses bens. • Amortização acelerada de bens intangíveis.

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• Redução do imposto de renda retido na fonte incidente sobre remessa ao exterior resultantes de contratos de transferência de tecnologia. • Isenção do imposto de renda retido na fonte nas remessas efetuadas para o exterior, destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares.


“Mas o Brasil vem passando por um processo de modernização da área de propriedade industrial na última década”.

mais de cinco anos seja zerado até meados de 2009. “O problema maior, no entanto, é que há demandas novas. O Brasil pressiona para aderir ao

Desde 2005, o Instituto Nacional da Propriedade

chamado Protocolo de Madri, acordo que permite a

Industrial (INPI) triplicou o número de pessoal (os

integração de sistemas, fazendo com que o mesmo

examinadores de patentes passaram de 110 para os

registro de marca ou patente tenha validade em

atuais 295, com previsão de chegar a 400 até o final

quase uma centena de países”, informa Júlio Zanon.

do ano) e eliminou da fila de espera cerca de 100 mil

Esse crescimento da demanda é, portanto, a principal

processos só de registro de marcas. Por esta razão

motivação para que o sistema de registro de patentes

espera-se que o estoque de processos iniciados há

no Brasil se equipare aos padrões internacionais.

Vista aérea do Instituto de Tecnologia do

Divulgação Tecpar

Paraná, em Curitiba

Outra importante fonte de inovação reside nos institutos científicos. No Brasil, eles desempenham papel relevante no que diz respeito aos avanços tecnológicos, como é o

O papel dos institutos

caso da Embrapa no desenvolvimento do setor agropecuário, do ITA e da Embraer no setor aeroespacial, da Coope, da UFRJ, na prospecção de petróleo em águas profundas, Butantan e Fiocruz na saúde, entre outros. “O papel dos institutos de pesquisa é fundamental na transferência de conhecimento pois normalmente eles estão mais conectados com o mercado e a sociedade”, afirma Bill Jorge da Costa, diretor técnico do Tecpar, instituto paranaense que se dedica principalmente às tecnologias industriais básicas (prestação de serviços como análises, ensaios e calibrações) nos segmentos industriais e agrícolas, desde os anos 1940. Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, que substituirão os Institutos do Milênio, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) devem reforçar o setor. Eles foram anunciados pelo ministro Sérgio Rezende na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas. O programa, que terá R$ 270 milhões do governo federal nos três primeiros anos, poderá contar com recursos totais de R$ 400 milhões se somada a participação de outros ministérios, de agências estaduais de amparo à pesquisa e de entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Os Institutos do Milênio conseguiram excelentes resultados, mas têm recursos muito limitados. Os Institutos Nacionais vão substituí-los com mais sustentabilidade. Vamos entrar em uma fase de sistematização e de consolidação do apoio à ciência e à tecnologia”, disse Rezende. O novo programa já tem participação garantida do BNDES, dos ministérios da Saúde e da Educação e das fundações de amparo à pesquisa de São Paulo (Fapesp), Rio de Janeiro (Faperj) e Minas Gerais (Fapemig).

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I N O VA Ç Ã O

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I N O VA Ç Ã O

Apostando no futuro Políticas públicas para a área de ciência, tecnologia e inovação incluem a micro e a pequena empresa

A micro e a pequena empresa são as que mais geram empregos no país. No Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Fazenda, dos 218 mil estabelecimentos inscritos no cadastro de contribuintes do ICMS, 169 mil (77,5%) são pequenas e micro empresas. Um dos fatores condicionantes do sucesso deste setor é o acesso a novas tecnologias: por isso, políticas públicas que visam a maior sustentação do setor vêm sendo ampliadas nos últimos anos no país e no Estado. Em 2004, foi criado o programa Paraná Inovação, que funciona por meio de um acordo entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), a Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Reparte) e o Ministério da Ciência e Tecnologia/Finep, e tem recursos da ordem de R$ 8 milhões, divididos entre o governo federal e estadual. Desde a sua criação, o programa já financiou 70 projetos nas áreas de agronegócio, biotecnologia, energia e saúde, em praticamente todas as regiões do Estado. Entre os projetos concluídos estão: um cateter urinário, charque de galinha poedeira e um software para gestão de energia. “O Paraná Inovação fomenta projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos inovadores, empreendidos por pesquisadores e em cooperação com empresas de base tecnológica com vocação para a inovação e a utilização de técnicas avançadas ou pioneiras, e isto é fundamental para o sucesso da micro e pequena empresa”, disse a secretária Lygia Pupatto durante o lançamento do terceiro edital do programa, no final de julho deste ano, cujos recursos somam R$ 3,9 milhões. A preocupação com o acesso às novas tecnologias e com a geração de novos postos de trabalho no segmento inovação também está embutida em dois programas criados recentemente: o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), anunciado em novembro de 2007 pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, e o Extensão Tecnológica Empresarial, uma das atividades do programa Universidade sem Fronteiras, anunciado no início deste ano pela secretária. Neste caso, o diferencial é o público – exclusivamente municípios com baixo índice de desenvolvimento humano.

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é a Universidade Federal Tecnológica do Paraná

Ao oferecer um ambiente encorajador e infra-

(UTFPR), que conta com 10 campi e 16 mil alunos

estrutura de serviços necessários ao desenvolvimento

espalhados pelo estado. Ao todo, são desenvolvidos,

de empreendimentos inovadores, as incubadoras

por ano, cerca de 200 projetos de cunho tecnológico

tecnológicas também têm desempenhado papel

e outros 60 de cunho social, com empresas parceiras.

fundamental junto à micro e pequena empresa. No

A infra-estrutura conta com cinco pré-incubadoras

Paraná, por exemplo, muitas empresas de sucesso no

(chamadas de hotéis tecnológicos) e cinco incubadoras

mercado nacional e internacional já desenvolveram

que ao longo dos últimos anos graduaram 57 empresas

produtos

Tecnológica

e geraram casos de sucesso como a Esystech, a única

do Tecpar (Intec), nas incubadoras instaladas nas

companhia brasileira fora do eixo São Paulo-São José

universidades estaduais de Londrina (UEL), Maringá

dos Campos com projeto aprovado pela Financiadora

(UEM), Ponta Grossa (UEPG), Guarapuava (Unicentro)

de Estudos e Projetos (Finep) na modalidade de

e Cascavel (Unioeste), e nas incubadoras associadas à

adensamento da cadeia aeroespacial.

inovadores

na

Incubadora

Reparte. Os produtos desenvolvidos nesses ambientes vão desde infra-estrutura em telecomunicações, softwares, automação industrial até esportes e lazer.

Na avaliação da professora Isaura Alberton de Lima, pró-reitora de Relações Empresariais e Comunitárias da UTFPR, tanto as parcerias com

Uma das instituições de ensino de maior tradição

empresas de desenvolvimento de projetos incubados

no campo do desenvolvimento de tecnologias aplicadas

quanto o da Esystech são exemplos de como o

Conhecimento, criatividade e ousadia Produtos gerados nas incubadoras instaladas nas universidades estaduais mostram como anda a criatividade dos empreendedores paranaenses. Alguns exemplos:

Fotos: Divulgação

Incubadoras tecnológicas

Software Entre os produtos desenvolvidos pela empresa Guenka, na Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina (Intuel), estão os sistemas de gestão empresarial, controle de produção e gerenciamento de equipe de vendas. Uma equipe de 14 funcionários cria softwares para uma empresa multinacional, fornecedora de sistemas para montadoras automobilísticas.

Automação industrial Na Incubadora Tecnológica de Maringá, a Skin Tech criou um sistema de automação para máquinas industriais de lavar roupas. Sua principal vantagem é que o funcionário não precisa ter contato com os produtos químicos usados na lavagem. Este é o primeiro sistema automatizado que permite que sejam usados produtos em pó no lugar dos produtos líquidos. Um programa faz a dosagem dos químicos e controla todo o funcionamento das máquinas, informando por um monitor em que etapa está o processo. O sistema atende máquinas de lavar hospitalares, industriais e de hotelaria. Há uma unidade em teste no Hospital Universitário da UEM.

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conhecimento gerado na universidade é transferido

viabilizou 30 projetos que já estão sendo negociados

para a sociedade. “O contato com as empresas é

com empresas. “A mostra faz parte de um leque de

muito importante para a academia, porque permite

iniciativas que inclui também a construção de um

transformar problemas reais em temas de estudo”, diz.

parque tecnológico, a exemplo do que já existe na

Para facilitar a aproximação com a iniciativa privada, a

PUC do Rio Grande do Sul. A idéia é atrair e fomentar

Universidade Federal do Paraná (UFPR) criou o Portal de

empresas de base tecnológica”, afirma Marco Antônio

Relacionamento (www.relacionamento.ufpr.br/portal),

Barbosa Cândido, superintendente da Associação

em que é possível acessar um banco de patentes com

Paranaense de Cultura, instituição mantenedora da

as tecnologias desenvolvidas pela instituição. Até o

PUC-PR. Atualmente, a PUC paranaense detém 228

momento, são 40 patentes cadastradas. Uma delas é o projeto de biotecnologia que utiliza feromônios para atrair insetos e, desta forma, combater pragas agrícolas sem o uso de pesticidas. “A idéia do portal é unir a visão dos empresários com o conhecimento dos pesquisadores”, diz o coordenador da iniciativa, Wanderley Veiga. Na Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), a I Mostra de Pesquisa e Inovação, realizada em 2007,

termos de parceria com empresas localizadas no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, além de algumas estrangeiras. Nos cálculos de Cândido, esse volume deverá crescer 58% neste ano. A II Mostra de Inovação, em setembro, contou com 155 projetos ⎯ 31% a mais do que no ano passado. Em 2007, foram 10 patentes, além de sete depósitos de registro de software e 90 marcas registradas. “De maneira geral, a integração entre academia e setor produtivo é uma tendência que veio para ficar”, garante.

Telecomunicações A HI Technologies, empresa instalada na Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec), desenvolveu o OpenVida, sistema de telemedicina que permite o monitoramento dos sinais vitais dos pacientes em tempo real, através de qualquer computador conectado à internet, por meio de senha. Esse acompanhamento também pode ser feito em ambulâncias e na casa dos pacientes. Já foi implantado no Hospital Pilar, em Curitiba. Indústria têxtil Em vez de exportar o fio de seda cru, que tem baixo valor agregado, a empresa Bisa Overseas, de Maringá, vem exportando cachecóis de seda para a França. O projeto Seda Justa foi desenvolvido na Incubadora Tecnológica da Universidade Estadual de Maringá e o objetivo é proporcionar uma alternativa de renda às famílias produtoras do casulo de bichoda-seda na Vila Rural Esperança. A tecnologia de beneficiamento do fio de seda segue o conceito de comércio justo: a rede Artisans du Monde compra os produtos e paga diretamente às artesãs. (RR, HM e RB)

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A Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec)

graduou

34

empresas,

responsáveis pela criação de mais de 70 produtos e pela geração de cerca de 280 empregos diretos. Foi a primeira incubadora tecnológica do Paraná e está instalada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Conta, atualmente, com 11 projetos incubados.

Números que crescem Brasil: 400 incubadoras, em 25 estados Empresas graduadas: cerca de 1500 Parques tecnológicos em operação: 10 Empresas instaladas nos parques: cerca de 150 Empregos diretos gerados por incubadoras e parques tecnológicos: cerca de 33 mil Taxa de mortalidade: abaixo de 20% Total de empresas vinculadas: mais de 6.300 empresas Faturamento estimado das empresas graduadas nas incubadoras: R$ 1,6 bilhão Estimativa de impostos gerados anualmente: R$ 400 milhões Faturamento estimado das empresas incubadas: R$ 400 milhões Custo médio para geração de empresa inovadora: R$ 70 mil por empresa Fonte: Anprotec/2007

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Incubadoras no Paraná 21 incubadoras associadas à Reparte 1 incubadora em vias de se associar (Universidade Positivo) 2 incubadoras em formação (Francisco Beltrão e Guaíra) 349 empresas/ projetos hoje são residentes ou não residentes nas incubadoras do Estado

Entre 2000 e 2008: 115 pedidos de patentes e/ou pedidos de registro de propriedade intelectual foram feitos 730 produtos foram gerados por empresas/ projetos incubados 283 postos de trabalho foram gerados durante a incubação; destes, 80 são empresários ou diretores de empresa Mais de R$ 5 milhões foi o faturamento durante o período de incubação 165 empresas foram graduadas 147 projetos ou empresas foram inviabilizados 661 empresas e/ ou projetos ingressaram no processo de incubação Fonte: Reparte/2008

NITPAR O Núcleo de Inovação Tecnológica do Paraná (Nitpar) facilita o acesso das instituições de pesquisa aos incentivos oferecidos pela lei de inovação. Para isso, o núcleo abriga a Agência Paranaense de Propriedade Industrial (APPI), que dissemina a cultura de PI e orienta os pesquisadores a proteger os resultados inovadores; a Rede de Inovação e Prospecção Tecnológicas para o Agronegócio (Ripa Sul), que atua na criação e consolidação de indicadores de avaliação e de impacto dos investimentos em CT&I para o agronegócio no Paraná; e a Sede da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino

Rede Paranaense de Incubadoras e Parques

Superior, onde funciona o NITPAR

Tecnológicos do Paraná (Reparte), que coordena incubadoras e parques tecnológicos.

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humanidades

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Festa no pedaço cimÊa bevilacqua Fotos Bruno Stock

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As conseqüências do crescimento acelerado dos grandes centros urbanos brasileiros são bem conhecidas: déficit habitacional, falta de saneamento básico, aumento dos níveis de poluição, colapso do sistema de transporte. A deterioração dos espaços e equipamentos públicos, acompanhada de índices alarmantes de violência, conduz a uma crescente privatização da vida coletiva e ao esvaziamento das formas de sociabilidade. Enfim, as cidades vão mal, ninguém duvida do diagnóstico. Ou melhor, quase ninguém. “É evidente que não há como negar os inúmeros problemas das grandes cidades, mas será que este cenário degradado esgota o leque das experiências urbanas?”, questiona o antropólogo José Guilherme Cantor Magnani, professor da USP. “As metrópoles contemporâneas não podem ser vistas simplesmente como cidades que cresceram demais e desordenadamente, potencializando fatores de desagregação”, sugere o professor, para quem a

Estudos do Núcleo de Antropologia Urbana da USP propiciam uma compreensão

própria escala das metrópoles propicia a criação de novos padrões de sociabilidade e de outros espaços para os rituais da vida pública. Mas se vai longe o tempo em que os vizinhos

renovada da vida urbana e

instalavam cadeiras nas calçadas para apreciar

dos valores contemporâneos

o movimento e colocar a conversa em dia, é

para além dos diagnósticos alarmistas

preciso aprender a identificar e compreender as dinâmicas características das metrópoles atuais. “Contrariamente às visões que privilegiam, na análise da cidade, as forças econômicas ou as decisões dos planejadores, proponho partir dos próprios moradores, mas não como indivíduos isolados e submetidos a uma inevitável massificação”, explica Magnani. “A experiência urbana comporta diferentes arranjos coletivos, seja nas esferas do trabalho e das estratégias de sobrevivência, seja no âmbito da religiosidade, do lazer e da cultura, que se expressam no uso cotidiano do espaço, dos equipamentos e das

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instituições da cidade.”


A investigação desses arranjos característicos

no Pedaço: Cultura Popular e Lazer na Cidade,

das grandes metrópoles tem sido, nos últimos

hoje um clássico da antropologia urbana brasileira.

vinte anos, a tarefa do Núcleo de Antropologia

Contrariando a visão então corrente no universo

Urbana da Universidade de São Paulo (NAU-USP),

acadêmico, para a qual o lazer era uma questão de

coordenado por Magnani e reconhecido como um dos principais centros de excelência da antropologia brasileira. Tendo como fundo comum a atenção às experiências cotidianas e a convivência prolongada com os grupos pesquisados – um olhar “de perto e de dentro”, expressão utilizada por Magnani para diferenciar a perspectiva antropológica de outros enfoques –, esses estudos têm propiciado uma

pouca relevância no cotidiano dos trabalhadores pobres, a pesquisa registrou um amplo e variado leque de usos do tempo livre nos finais de semana dos bairros de periferia: circos, bailes, festas de batizado, aniversário e casamento, torneios de futebol de várzea, quermesses, comemorações e rituais religiosos, excursões de farofeiros. “Naquele

compreensão renovada da vida urbana e dos valores

universo monótono e carente, quando lido apenas

contemporâneos,

na chave da pobreza ou da exclusão, havia uma

para

além

dos

diagnósticos

alarmistas e dos grandes números.

Verdurada reúne straight edges, punks e drag queens, entre outros representantes de tribos urbanas

extensa rede de entretenimento que, embora não tivesse o brilho e a sofisticação das últimas

O lazer, da periferia ao centro

novidades da indústria do lazer, ia muito além

Um dos primeiros exemplos, que remonta a

da mera necessidade de reposição das forças

meados dos anos 1980, é a pesquisa que deu origem

despendidas durante a jornada de trabalho”,

à tese de doutoramento de Magnani e ao livro Festa

recorda Magnani.

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Uma

das

principais

contribuições

da

experiência na periferia de São Paulo foi revelar a importância daquilo que os moradores chamavam de pedaço, espaço intermediário entre o privado e o público, até então ignorado pela literatura acadêmica. Surgiu daí o interesse em investigar o que aconteceria nas regiões centrais, percorridas diariamente por milhares de pessoas: seriam esses espaços anônimos, distantes da vizinhança, o avesso da sociabilidade? A disposição dos pesquisadores do NAU para percorrer a pé centenas de quilômetros pelas ruas de São Paulo e consumir muitas horas de observação atenta revelou um quadro muito diferente da conhecida imagem da metrópole inóspita e impessoal. “Os freqüentadores dos espaços de encontro e lazer das regiões centrais da cidade não necessariamente se conhecem, mas se reconhecem como portadores dos mesmos símbolos que remetem a gostos, orientações, valores, hábitos de consumo e modos de vida semelhantes”, explica Magnani. “Gangues, bandos, turmas, galeras exibem – nas roupas, nas falas, na postura corporal, nas preferências musicais – o pedaço a que pertencem”.

Tribos urbanas? A presença na paisagem das grandes cidades contemporâneas de grupos de jovens que se diferenciam pela aparência física, pelos padrões de consumo e pelos lugares que freqüentam, não é propriamente uma novidade. A diferença apontada por um grande projeto de pesquisa desenvolvido pelo Núcleo de Antropologia Urbana sobre jovens na metrópole, que já produziu estudos sobre straight edges, góticos, pichadores e baladeiros evangélicos, entre outros, é que esses

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Renan Felipe Candido, adepto do movimento straight edge em festa na Casa do Estudante Universitário


grupos estão longe de corresponder à noção de tribos urbanas – metáfora proposta nos anos 1980 pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, e rapidamente popularizada na mídia, que evoca comunidades efêmeras, localizadas e desprovidas de organização, constituídas pela adesão a algum modismo. Em vez de partir de um elenco qualquer de itens de consumo, os pesquisadores do NAU privilegiaram as relações sociais e sua inscrição nos espaços da cidade. Com isso, foi possível perceber que esses grupos de jovens não somente são dotados de regularidade e organização, mas também que não são comunidades localizadas e exclusivistas. Ao contrário, desenvolvem redes de sociabilidade e formas de troca com outros grupos com os quais, à primeira vista, não teriam nada em comum. Um exemplo particularmente interessante é o trabalho desenvolvido pela pesquisadora Bruna Mantese de Souza sobre jovens que se autoidentificam como straight edges. Surgidos como uma variante do movimento punk, com o qual ainda compartilham a rejeição ao capitalismo, o estilo musical e o visual característico – piercings, tatuagens e outras modificações corporais –, os

em contraposição às costumeiras churrascadas

straight edges se singularizam por proibições

ou cervejadas. É isso o que explica o vínculo

expressas quanto ao uso de drogas e à ingestão

aparentemente paradoxal que os straight edges

de bebidas alcoólicas e pela adesão a uma versão

mantêm com os Hare Krishna, muitas vezes

radical do vegetarianismo, o veganismo. Se

encarregados da comida que é servida em suas

essas características pareceriam suficientes para

festas. Além disso, por seu estilo de vida e opção

definir os straight edges como um grupo exótico,

política, os straight edges também freqüentam

confinado a algum gueto obscuro, a pesquisa

espaços vinculados aos movimentos anarquista

mostrou que eles têm presença visível no cenário

e ambientalista. Desse modo foi possível mapear

urbano e participação ativa em sua dinâmica, por

um extenso circuito freqüentado pelo grupo,

meio de relações com uma série de outros grupos

com seus pontos de preferência na cidade, mas

em diferentes contextos.

também identificar a incidência de seu estilo de

Por sua posição contrária ao consumo de todo e qualquer produto de origem animal, as festas do grupo são denominadas verduradas –

Verdurada na Casa do Estudante Universitário, em Curitiba

vida particular sobre espaços institucionais já existentes e sobre a própria oferta de produtos de alguns estabelecimentos comerciais.

humanidades semfronteiras |

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Grafite nos muros de Curitiba

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humanidades

Outro pesquisador do NAU-USP, Alexandre Barbosa

encontros em regiões centrais, onde regularmente trocam

Pereira, escolheu como tema um grupo capaz de

papéis assinados com as marcas que picham pela cidade

despertar as mais furiosas acusações de irracionalidade:

e se informam sobre os lugares pichados, as situações

os pichadores, em sua maioria jovens moradores de

difíceis passadas com a polícia e sobre o bairro em que

bairros periféricos que se deslocam constantemente para

cada um mora. O point também é um espaço de resolução

deixar suas marcas no centro da cidade. “A pichação é um

de conflitos, surgidos principalmente quando um pichador

fenômeno que deve ser estudado sem preconceitos para

interfere nas marcas deixadas por outro.

que se possa apreender um pouco mais sobre o modo como os seus autores se organizam no espaço urbano”, afirma Pereira.

Um dos aspectos mais surpreendentes da pesquisa, porém, foi constatar o grande esforço dos jovens pichadores em preservar uma memória da pichação. As

O estudo mostrou que as marcas deixadas pelos

assinaturas de pichadores famosos e os convites para

pichadores em muros e edifícios, garatujas sem sentido

festas são cuidadosamente colecionados em pastas, ao

para quem não participa desse universo, expressam

lado de matérias de jornais e revistas sobre pichação.

elaborados códigos de pertencimento e reconhecimento.

Para esses jovens, tornar-se assunto na imprensa é algo

“O pichador, de um modo geral, não quer se comunicar com a cidade, embora acabe fazendo isso, mas sim se comunicar com os outros pichadores na cidade”, constata Pereira. Além dessa comunicação inscrita na arquitetura urbana, os pichadores também mantêm pontos de

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que aumenta a fama entre os parceiros e consolida uma reputação. “Por isso mesmo, reportagens condenando a pichação têm um efeito contrário ao esperado”, explica Pereira. “Em vez de desestimularem a prática, acabam motivando ainda mais o pichador a tentar ter sua marca divulgada em algum meio de comunicação.”


humanidades

Cuidadores de idosos: o país precisa desta profissão miriam karam Fotos: Bruno Stock

A atividade é tão rara no Brasil, e tão nova, que até uma palavra pouquíssimo usada teve de ser resgatada dos dicionários para descrevê-la. Cuidador é a pessoa que cuida de quem precisa, é claro. No caso, porém, o objeto do cuidado é que é preocupação nova nas políticas públicas brasileiras. E não porque, de repente, a população tenha começado a viver mais. De acordo com o IBGE, em 1980, 3% da população brasileira estavam com mais de 60 anos. Em 2006, os idosos já somavam 10%, cerca de 17 milhões de pessoas. O ritmo do envelhecimento da população é preocupante para quem trabalha pela criação de uma rede de proteção social para o idoso. Dados do Portal do Envelhecimento, mantido pela PUC de São Paulo, mostram que a população brasileira em geral cresce 1,2% ao ano; ao mesmo tempo, a população idosa está crescendo num ritmo superior a 3%. Segundo a Comissão Econômica para a

O número de idosos na América Latina vai quadruplicar

América Latina e o Caribe (Cepal), o número de

entre 2005 e 2050 e superar a

idosos no nosso subcontinente vai quadruplicar

população jovem em 30%

entre 2005 e 2050 e superar a população jovem em 30%. Basicamente são dois os motivos: aumento na expectativa de vida e diminuição da taxa de fecundidade feminina latino-americana. De 5,9 filhos, em 1950-1955, a taxa chegou, atualmente, a 2,4 filhos por mulher. A esperança de vida alcança hoje, em média, 73,4 anos para ambos os sexos.

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Viver melhor Chega-se, então, à conclusão lógica: quanto mais idosos, mais precisamos de cuidadores, e de políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável à população. Ou seja, já vivemos mais, o desafio agora é viver melhor. O problema é que, no Brasil, as políticas e os serviços para idosos não têm prioridade, diferente do Japão, onde a aposentadoria chega bem mais tarde, o respeito pelos mais velhos é maior e o país está bem equipado com serviços de apoio. Dados do Ministério da Saúde dão conta que 80% dos idosos são cuidados por mulheres da família, as quais também têm idade avançada. Há dois tipos de cuidadores – o profissional, geralmente técnico de enfermagem, que recebe por isso – e o familiar, que não é bem treinado. A dificuldade, explica a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa, Schirley Follador Scremin, é que o cuidador ainda não é uma profissão no Brasil. É apenas uma ocupação não regulamentada que enfrenta resistência de algumas entidades, o que está atrasando a aprovação do MEC. A Secretaria da Educação (SEED-PR) chegou a fazer concurso público para completar a necessidade de professores para criar o curso técnico de formação de cuidadores, um curso pós-médio com 1,2 mil horas/aula. “Sempre há algum problema quando o curso é novo, porque as pessoas demoram um pouco para entender”, diz a representante da Secretaria da Educação no Conselho, Bernadete Dal Molin Schenatto. Bernadete tem esperança que o curso comece a ser ministrado já no próximo ano, em dez escolas estaduais que demonstraram interesse. Esse será, então, o primeiro curso formal de cuidadores do Brasil, assim como o Paraná também foi pioneiro ao incluir nos livros didáticos temas sobre o envelhecimento, o estatuto do idoso e o respeito ao idoso.

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Cursinho rápido Medidas governamentais, elaboradas pelo governo federal, ainda são poucas e tímidas. O Estatuto do Idoso foi escrito em 2003 e, no ano seguinte, foi criada a Política Nacional de Saúde do Idoso. Mas quase nada aconteceu de fato. A campanha nacional de vacinação, talvez a primeira e única ação concreta que apresenta resultados, é o grande exemplo brasileiro, reconhecido até no exterior. Neste ano, em junho, o Ministério da Saúde lançou o Guia Prático do Cuidador, uma espécie de cursinho rápido para tratar de pessoas de idade avançada. O manual tem ilustrações e linguagem simples, permitindo aos profissionais da saúde orientar as pessoas que cuidam de idosos e proporcionar mais segurança a esses trabalhadores. O material explica, por exemplo, como proceder em caso de engasgo, queda ou maus-tratos. Foram impressos 30 mil exemplares. Como se vê, há outro desafio: o de formar pessoal para cuidar do idoso, uma vez que os trabalhadores da saúde não são treinados especificamente para isso. Enquanto a figura do cuidador profissional não se torna comum, a solução caseira é a que prospera, a mesma que resolve a vida de muitas mães e seus bebês. Em muitas delas as duas situações se cruzam e se completam num mesmo domicílio. Quando é possível. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revela um dado doloroso: um total de 27% dos idosos precisa de ajuda diária. Um número considerável de homens e mulheres com mais de 80 anos, cerca de 270 mil, é incapaz sequer de andar ou subir poucos degraus. Precisam de ajuda para tudo.

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Responsabilidade demais, atenção de menos

Pesquisa feita pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e pela Fundação Perseu Abramo revela que 88% dos idosos contribuem para a renda familiar, e muitas vezes o idoso é o principal provedor da família. Também o censo 2000 do IBGE verificou que 62,4% dos idosos brasileiros são responsáveis pelas famílias que viviam em suas casas. Em 2000, 20% dos domicílios tinham um idoso como responsável, com idade bem próxima dos 70 anos. As duas pesquisas trazem outros dados curiosos e/ou impressionantes. Cerca de um terço dos idosos brasileiros vive com netos e 16% são responsáveis por sua criação. A responsabilidade pelo sustento da casa está extremamente concentrada nos ombros dos idosos com renda mais inferior.

Por que envelhecemos? Tudo começou com os antibióticos, logo seguidos por outros avanços das ciências da saúde. No século passado, os países desenvolvidos conseguiram retardar o envelhecimento e aumentar a expectativa média de vida humana ao nascer. Vencida a morte prematura, a expectativa média de vida da população americana passou de 47 anos no começo dos anos de 1900 para a média de 77 anos no final do século – 75 anos para os homens e 80 para as mulheres.

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No Brasil, as políticas e os serviços para idosos não têm prioridade, diferente do Japão, onde o respeito pelos velhos é maior e o país está equipado com serviços de apoio

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MEMÓRIA

Caminhos do Pelourinho na Vila Nossa Senhora da Luz

Documentos para a História Paranaense (Moysés Marcondes – 1923/1926)

Fotos: Diego Singh

Columna Menio Em seu Vocabulário Português e Latino (1712-1728) Raphael Bluteau define pelourinho como uma espécie de coluna, em algum lugar público da cidade ou vila, em final de jurisdição, que tem de exercitar justiça com pena de morte. Pelourinho também responde ao que antigamente em Roma se chamava Columna, e algumas vezes Culumna Menio, porque um certo homem chamado Menio mandou levantar junto das suas casas uma coluna sobre a qual, em ocasião de espetáculos públicos, armava-se com tábuas um palanque, de onde os via. Como a dita coluna estava em uma praça de concurso, ladrões, criados, maganos e os que não tinham com que pagar as suas dívidas por sentença dos juízes eram a ela condenados, e com

Planta da baía de Paranaguá em aquarela, provavelmente de 1653,

grande ignomínia ficavam expostos ao ludíbrio

representando o que seria uma nova povoação nos campos de

do povo, assim como alguns delinqüentes presos

Quereytiba segundo alguns e de Curitiba segundo outros.

nas argolas dos pelourinhos.

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Padroeira de Curitiba

Em uma planta da baía de Paranaguá,

de Lisboa) está sob os cuidados

provavelmente do ano de 1653, localizada

do Instituto Histórico e Geográfico

no Arquivo Ultramarino de Lisboa pelo

do Paraná.

historiador paranaense Moysés Marcondes

contribuir

no início do século XX, aparecem em

dúvidas sobre as origens da cidade”,

primeiro plano a Vila de Paranaguá e logo

diz o pesquisador. Um segundo auto

acima da serra, mais tarde denominada de

para exame e vistoria no “Ribeiro das

Serra do Mar, os campos de Quereytiba e

Pedras” foi iniciado e concluído em

uma povoação nova, representada por

maio de 1650.

“Este documento deve para

esclarecer

muitas

duas casas, um cruzeiro, ou uma cruz, e um pelourinho. Esta nova povoação, localizada entre o rio Atuba (hoje Bairro Alto) e o rio Bacacheri, seria a origem de Curitiba, conhecida por Vilinha e mais tarde por Vila Velha, e onde havia, talvez em um tosco oratório ou em uma simples capelinha, a imagem de Nossa Senhora da Luz. Nessa região, os moradores teriam ficado pouco tempo, transferindo-se, por volta de 1660, para o local atualmente conhecido como Praça Tiradentes, no centro de Curitiba. A Vilinha teria sido o “ponto final” dos caminhos das minas de ouro. De acordo com as indicações feitas no mapa português, foi em 1639 que o general das canoas de guerra Eleodoro Ébano Pereira anunciou ao seu superior, o capitão-mor da Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, Gabriel de Lara, ter descoberto ouro nos “campos de

Quereytiba”

como

se

dizia

antigamente.

Testemunhas por ele inquiridas dez anos mais tarde, durante um auto (cerimônia pública) realizado em 20 de setembro de 1649, confirmaram a descoberta nos “ribeiros dos campos de Curitiba” segundo alguns ou nos “ribeiros de Curiitiba” segundo outros. Para o pesquisador José Carlos Lopes Veiga, estudioso da obra de Júlio Moreira, esse auto em manuscrito é o documento mais antigo de que se tem notícia sobre as origens do nome da cidade de Curitiba. A cópia do original (guardado no Arquivo

Documentação inédita Em tempos anteriores, o rio Atuba, provável local da primeira povoação de Curitiba, teria sido o Ribeiro das Pedras. “O rio Atuba em sua parte inferior percorre região de banhados, alagadiças, e não sabemos se havia pedras, o que só ocorreria em suas partes mais altas, próximas às suas cabeceiras”, afirma o pesquisador. Recentemente, ele encontrou, no primeiro tabelionato de notas de Curitiba, duas escrituras lavradas no final do século XVIII referentes à paragem Arruda, que seria um quarteirão do município de Colombo, onde foi fundada a colônia Antônio Prado. Na primeira escritura, de 15 de setembro de 1788, o capitão José de Andrade e sua mulher venderam para Manuel Vaz Torres e Antônio Ribeiro Batista 500 braças de terras que haviam comprado do capitão Luís Gomes na paragem ao pé da Campina do Arruda, que de uma parte corria o rumo da cabeceira do rio de Atuva. Na segunda escritura, de 14 de janeiro de 1793, Pedro Rodrigues Pinto vende a Manuel Machado de Oliveira 200 braças de terras

Espora da época

lavradias na mesma paragem. Conforme ainda o pesquisador, um detalhe interessante que chama atenção é que a paragem Arruda tinha início exatamente na subida do

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Ribeirão das Pedras, “correndo a testada rumo do este até entestar nos cantos das terras e linha de Manuel Vaz Torres, servindo esta linha a um e outro, da divisa seguindo até o segundo córrego que dividia este ao comprador e Antônio Ribas”. Levantamento do Pelourinho Moravam nos campos de Curitiba, entre outros, Baltazar Carrasco dos Reis e o capitão Mateus Martins Leme, que mais tarde receberia o título de Capitão Povoador. A comprovação está nas cartas de sesmaria concedidas a ambos em 1661 e em 1668,

Cantil da época

respectivamente, pelo capitão-mor e governador do Rio de Janeiro e capitão-mor e governador de Paranaguá. Segundo essa documentação, as terras de um acabavam quando começavam as de outro, nas bandas do rio Mariguy, ou seja, nos campos do novo povoado de Nossa Senhora da Luz. Como já havia um razoável número de famílias morando na região, estas queriam a criação de uma vila, mas só conseguiram o levantamento do pelourinho, em 1668. Gabriel de Lara levantou o pelourinho mas não convocou eleições para formar a Câmara e não escolheu outras autoridades além de Mateus Leme para administrar a nova vila. Documentos

históricos

encontrados

pelo

Ferraduras da época

pesquisador comprovam que o pelourinho da Vila de Nossa Senhora da Luz - que era de madeira - chegou a ser usado para fixar editais da Câmara Municipal, cujas sessões ocorriam numa igrejinha na Praça

Primeira urna eleitoral da municipalidade

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Arca das três chaves. Século XVIII.


Tiradentes, centro de Curitiba, onde hoje se encontra a Catedral Metropolitana. Um desses editais solicitava que ninguém pagasse ordenado “ao reverendo vigário” uma vez que “era a Câmara que recebia o dito dinheiro para fazer o pagamento e quem o fizesse seria condenado em 6$000 e trinta dias de cadeia”. José de Toledo violou a recomendação do Senado da Vila de Curitiba e foi preso. Na sessão de 27 de julho de 1734 o condenaram em 6$000, mas aliviaram a prisão de trinta dias que constava no edital. Quanto ao uso do pelourinho para exibição e castigo de criminosos, o pesquisador José Carlos Lopes Veiga afirma que não encontrou nenhum registro histórico a respeito. A criação da Vila Em 24 de março de 1693, os moradores da povoação de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, dizendo que esta já estava bastante

Grade de ferro da antiga cadeia da praça da matriz de Curitiba, atual Praça Tiradentes. Foi usada também na antiga cadeia pública de Campo Largo, construída em 1991.

crescida “por já possuir mais de noventa homens, e quanto mais crescia a gente se iam fazendo maiores desaforos, andando todos com as armas na mão, e de que em diante seria pior, por não haver justiça

Pinhais em atendimento ao despacho dado pelo

na dita povoação”, pediram a Mateus Leme, em um

capitão Mateus Leme, o qual disse que era justo tal

documento, que houvesse justiça.

pedido, e que se nomeassem os oficiais e realizassem

igreja de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos

O pelourinho da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais era de madeira. A comprovação está na receita e despesa da Câmara Municipal referente ao ano de 1704, onde consta: “por um pelourinho novo que se fez que o outro apodreceu e caiu 2$560”.

eleição. Foram então nomeados os juízes, vereadores, o procurador do conselho e o escrivão da Câmara.

Quadro de Euro Brandão

Em 29 de março de 1693, reuniu-se o povo na

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85


Diego Singh

Inventário da memória Entre fevereiro e junho deste ano, enquanto

dos utensílios cerâmicos feitos por indígenas, materi-

obras de revitalização eram feitas na Praça Tiradentes,

ais bélicos, como cartuchos e cápsulas, e ferraduras,

em Curitiba, uma equipe de arqueólogos fazia es-

pois o local funcionava como um ‘estacionamento’ de

cavações no local. Foi revelada uma calçada formada

cavalos e carroças. Também surgiram materiais mais

por grandes blocos de pedra, do século 19, que agora

recentes, como faianças industrializadas portuguesas

pode ser vista no local através de um piso de vidro.

e inglesas, dos séculos 18 e 19. Segundo o professor

Num mergulho mais profundo, os arqueólogos da

Igor Chmyz, do Departamento de Arqueologia da

Universidade Federal do Paraná resgataram objetos

UFPR e coordenador da equipe, esta foi a primeira

deixados no local em períodos tão antigos quanto o

pesquisa arqueológica feita na praça, que é o local

da formação da cidade. Do século 17, foram encontra-

mais antigo da cidade. (HM)

Pesquisa: José Carlos Lopes Veiga, a partir das seguintes fontes: Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; Arquivo Ultramarino de Lisboa; Livros de Notas do 1º Tabelionato de Curitiba; Júlio Estrella Moreira: Eleodoro Ébano Pereira e a Fundação de Curitiba; Raphael Bluteau: Vocabulário Português e Latino (1712-1728); Ruy Cristovam Wachowicz: A gênese da ‘urbe’ curitibana”. Edição: Regina Rocha • FOTos: diego singh/ ACERVO MUSEU PARANAENSE

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re s e n h a

Pop e política da cópia Wander Melo Miranda

BUNZ, Mercedes. La utopía de la copia: el pop como irritación. Sel. e trad. Cecilia Pavón. Buenos Aires: Interzona, 2007. 160p.

Em 1980, Sherrie Levine apresenta na Metro

são transportados sem que se distanciem de seu

Pictures Gallery, em Nova York, seu trabalho “After

lugar original; dois “originais” e dois “lugares” podem

Edward Weston”. São fotografias feitas por Levine de

multiplicar-se em escala imprevista.

conhecidas fotos documentais e realistas de Weston, sem nenhuma intervenção por parte da artista nas imagens reproduzidas, a não ser o acréscimo de sua assinatura artística.

A progressão sem centro também provoca mudanças na concepção do tempo, uma vez que o software sempre favoreceu sua expansão, ao não apresentar nunca um produto acabado, mas apenas

A arte da apropriação toma o modelo como um

uma versão. A reprodução se instala no interior do

outro idêntico, ao desencadear a repetição de uma

código, no interior mesmo da tecnologia, para redefini-

imagem que, por sua falta de diferença, demanda

la segundo uma lógica da repetição e desdobrar,

com insistência uma explicação para existir. A imagem

assim, o potencial utópico da cópia idêntica. Há um

repetida “irrita” a imagem anterior, ao levantar uma

lugar “u-tópico”, sem localização, que escapa às

série de questões que vão desde o que repetir e por

regras estabelecidas: “a cópia idêntica pode ser lida

que repetir até à da censura econômica do copyright.

como um signo utópico”.

O deslocamento ocorrido põe em xeque a concepção tradicional de criação artística e a do trabalho que se transforma em propriedade.

Para Mercedes Bunz, a aproximação entre o digital e a música é o que mais se assemelha a essa “utopia”. Ambos, digital e música, subtraem-se a uma

A situação pode ser vista como uma síntese do

origem e produzem uma instabilidade comum. Assim

que é tratado nos textos de Mercedes Bunz, crítica

como a música, a cópia digital não copia o original

cultural alemã, jornalista e diretora de uma das

precedente e sim o duplica; armazenar digitalmente

mais prestigiosas revistas eletrônicas de música, a

a música significa torná-la multiplicável, pronta a ser

DE:BUG. Suas reflexões levam a uma compreensão

copiada.

melhor da “logística da duplicação”, considerandose principalmente as mudanças resultantes da tecnologia da cópia digital, uma nova era da reprodutibilidade técnica.

Essa situação instável torna-se uma instância política em que o político é um ato que reordena o espaço ao tornar visível uma distribuição específica, uma

ordem

enquanto

tal,

retirando-lhe

toda

A cópia digital, enquanto cópia idêntica, inicia

“naturalidade”. Nesse ambiente, a forma do sujeito

um novo ordenamento topológico do espaço, no qual

não preexiste ao meio, é programada dentro dele.

mover-se não tem mais o sentido de abandonar um

Trata-se, ao contrário da duplicação especular do

lugar. Transporte e duplicação superpõem-se: dados

retrato tradicional, de condensar o rastro do sujeito,

semfronteiras |

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re s e n h a

sua aparição a partir de dados que permitem calcular

diferentemente da década de 1990 — reformulados

seus movimentos.

por artistas. A arte já não é mais hegemônica sobre

A entrada na “sociedade de controle” (Deleuze) está marcada por esse sujeito flexibilizado. A técnica da sujeição ou a tecnologia da subjetivação colhe e

outros campos, porque beleza e verdade não são exclusivas da arte; o poder não precisa mais de fronteiras na sociedade de controle.

recolhe dados por meio dos quais calcula de antemão

Sabemos, por Foucault, que onde há poder há

a margem de flutuação do rastro que o inscreve

resistência. Não há mais nenhum fora; não é possível

na rede. Se é o rastro que constitui o usuário e o

hoje retirar-se para uma ordem própria. O horizonte

torna controlável, não é a rede que aliena o sujeito,

que Mercedes Bunz descortina é o resgate do antigo

a própria figura do sujeito é que está alienada. A

conceito de utopia, adaptado às circunstâncias atuais

transformação em sujeito implica uma forma de

e apto a alimentar o regime da produtividade. O pop

subjetivação e com ela a sujeição a um determinado

e a política articulam-se de modo novo. A rebelião

formato visível e, portanto, controlável: o rastro.

estridente da contracultura é substituída por uma

Nesse sentido, o sujeito é tematizado como ausência,

“forma tênue de irritação”, que vai mais além do que

a tecnologia é descrita como terreno ameaçador que

um projeto idealista: “o pop entendido como rebelião

precisa ser civilizado — Explorer, Navigator, Outlook...

individual está para uma política do isolamento. O pop

O momento de resistência começa com a exposição da alienação, por meio da apropriação de

entendido como política dos nichos está para uma cultura das relações”.

uma forma que não será tornada própria, mas que

O desenvolvimento da técnica, enfim, não afeta

conserva sua alteridade. Por isso, enquanto a arte

apenas o modelo do homem contemporâneo, mas

da apropriação multiplica a autoria, a cópia digital

transforma na mesma medida o campo da técnica.

(idêntica) por sua vez altera a lógica do original, ao

Artistas se declaram máquinas e as mimetizam; a

sair da cadeia descendente entre original e cópia, ao

identidade de artista transforma-se em imagem de

tornar esta última independente do autor, do fator de

artista. Em última instância, a ciência em si deixa de

autorização — “basta um clic”.

ser o outro da estética e torna-se seu material, dá-lhe

A arte torna-se porosa, outros campos e

materialidade.

temas podem aparecer em seu interior. Isso é novo porque esses outros campos já não devem mais ser —

Em vista disso tudo, já entramos num outro admirável mundo novo?

Wander Melo Miranda é professor titular de Teoria da Literatura na UFMG.

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LIVROS

Maria Helena de Moura Arias helenarias18@yahoo.com.br

Risco e Prazer - os jovens e o imaginário

Gestão Estratégica para o Desenvolvimento

da AIDS

Sustentável

Leila Sollberger Jeolás

Marilisa do Rocio Oliveira; Sergio Escorsim;

EDUEL

Ivanilde Scussiatto Eyng; Patrícia Guarnieri; Luiz

264 páginas; 23 cm; ISBN 978-857216-455-9/ 2007

Alberto Pillatti; Antonio Carlos de Francisco

Preço: 38,00

Editora UEPG 254 páginas; 23cm; ISBN 978-85-7798-000-0/2007

O trabalho apresentado no livro Risco e Prazer

Preço: 25,00

- os jovens e o imag-

Este livro apresenta uma

inário

AIDS tem

coletânea de artigos dedi-

como objetivo a com-

cados à área de adminis-

preensão do imaginário

tração,

do risco da AIDS entre

ao desenvolvimento sus-

jovens e a forma como

tentável. São textos de

eles articulam represen-

alta qualidade que cer-

tações e ações frente a

tamente muito ajudarão

essa questão. Esta publi-

a refletir sobre os rumos

da

especificamente

cação será um importante instrumento de pesquisa

desta

a todas as áreas do conhecimento relacionadas a jo-

mente discutida na socie-

temática

ampla-

vens e adolescentes.

dade contemporânea.

Psicologia Educacional e Arte - uma

Em Busca da Mente Musical - ensaios sobre os

leitura histórico cultural da figura

processos cognitivos em música - da percepção

humana

à produção

Sonia Mari Shima Barroco

Beatriz Senoi Ilari (organizadora)

EDUEM

Editora UFPR

211 páginas; 23cm; ISBN 978-85-7628-100-9/2007

454 páginas, 23cm; ISBN 8573351403/2006

Preço: 35,00

Preço: 45,00

Neste livro apresentam-

Este livro tem como pro-

se

teóricos

posta buscar reunir textos

referentes à Psicologia,

de especialistas de áreas

Educação, Arte, processo

diversas, do país e do ex-

criador, aprendizagem e

terior, que têm como ob-

desenvolvimento huma-

jeto de estudos a mente

nos, sob a perspectiva

musical. Espera-se que o

da Psicologia Histórico-

mesmo possa responder

Cultural, encabeçada por

a algumas indagações do

L. Vigotski (1896-1934).

leitor, e que sirva de im-

aspectos

O livro tem o propósito de compreender o homem contemporâneo, o qual

pulso para novas pesquisas na área de cognição musical.

se revela naquilo que produz e reproduz.

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LIVROS

Dicionário de Trabalho e Tecnologia

Enciclopédia do Design

Antonio David Cattani e Lorena Holzmann

Mel Byars - tradutores: Aline Lacerda Menegat, André

(orgs)

de Godoy Vieira, Helena D. Chaves Barcellos Guaspary

Editora UFRGS

e Leila Ferreira de Souza Mendes.

358 páginas; 24cm; ISBN 85-7025-894-1/2006

Editora UNISINOS

Preço: 62,00

933 páginas; 24cm; ISBN 1-85669-349-X/2007 Preço: 390,00

Neste dicionário o leitor encontra, para cada termo, uma definição, sua

Esta enciclopédia é a

gênese e seu desenvolvi-

mais

mento histórico, correntes

de referência em design

e controvérsias em torno

já composta e permite o

do tema, assim como

acesso a toda a história

os principais autores e

do design moderno, com

referências bibliográficas

listagens de A-Z e com

que possam orientá-lo na

referências cruzadas.

ampliação de suas investigações, se assim for de seu interesse.

Noivas da Seca - cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha

Lalada Dalglish Editora UNESP 214 páginas; 26cm; ISBN85-7139-712-0/ 2006 Preço: 130,00

Arte e vida, natureza e cultura não se separam neste livro, fruto de anos de convívio de Lalada Dalglish com as mulheres ceramistas do Vale do Jequitinhonha. Em imagens e palavras, com

grande

sensibili-

dade, a autora apresenta o cotidiano e a obra dessas artesãs, que há gerações vêm transmitindo às filhas e netas os segredos da cerâmica, ocupação ancestral, misteriosa e sagrada.

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abrangente

obra


Planetário Colégio Estadual do Paraná

Anel de Diamante Provocados pelo alinhamento entre a Lua, o Sol e a Terra, eclipses solares totais produzem, em frações de segundos, fenômenos espetaculares. Um desses fenômenos é o Anel de Diamante, que ocorre no instante imediatamente anterior à totalidade do eclipse, quando as bordas do disco lunar deixam escapar a luz do Sol. Imagem similar a da foto obtida pelo astrônomo José Manoel Luís da Silva, do Observatório Astronômico do Colégio Estadual do Paraná, em 1994, na cidade de Medianeira, no Sudoeste do Paraná, só se repetirá no século XXII. Apesar de ocorrerem em determinados lugares da Terra a cada dezoito meses, em média, estima-se que os eclipses solares totais só se repetem numa mesma localidade a cada 300 ou 400 anos.

2009 Ano Internacional da Astronomia

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