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GABRIELA VALADÃO | CASA ARRUMADA PARA RECEBER VISITA
Casa arrumada para receber visita
Gabriela Valadão
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Você recebeu uma visita. Você estava cansada, se sentia desmotivada. Durante todo o dia você pensou que estava sozinha, que não merecia que ninguém soubesse disso. Quando você fechou os olhos à noite a escuridão virou cor. Tudo ficou cor de rosa. Depois veio o som, era possível que estivesse em casa ou dentro de uma floresta. Esse não foi o único som, nem a única cor. Mas, eventualmente, você foi capaz de enxergar. Você tinha visita, um banco embaixo de uma cerejeira em flor. Na vida real, elas ficam floridas por 3 dias. Mas essas? Provavelmente são assim há anos, 5 anos. Foi aí que percebeu que apesar de essa ser a sua mente, você era a visita. Você estava lá, se você se convencer que existe um paraíso. Ela com certeza era o tipo de pessoa que merecia um. Seu próprio paraíso, embaixo da cerejeira e com um cigarro na mão. Ela te olhou, na maioria das suas visitas ela não dizia muito. Ela não dizia muito antes também. Mas ela estava lá, assim como estava quando te disse a primeira vez que te entendia. Ela olhava de lado e balançava a cabeça. Era como assistir à cena e não estar nela, mas havia cor, som e conforto. Talvez quando você abrir os olhos pela manhã você não se lembre que ela veio te visitar e permitiu que você visse, que estivesse lá. Mas você talvez acorde mais calma, lembrando que ela te entendia muito antes de você se entender. A vida tirou ela de você antes de você entender como ela era necessária, como era mais fácil viver com ela. Como ela era parecida com você. Ela conheceu dificuldades diferentes das suas e você vai pensar novamente que deveria visitar seu túmulo, mas do que isso adiantaria? É melhor receber as visitas dela nos seus sonhos, ela sempre está lá por que ela existe em você.
Gabriela Valadão |Cruzeiro, Brasil | Engenheira ambiental. Atua como Educadora ambiental em Delfim Moreira. Escolheu participar da oficina por querer estar em busca de inspirações e contato com outras pessoas interessadas em escrita.
OFICINA SONHOS PANDÊMICOS URBANOS E RURAIS| 7
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