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GRASIELA FRAGOSO | O CONTO DA MENINA AFRICANA

O CONTO DA MENINA AFRICANA

GRASIELA FRAGOSO | Niterói, RJ.

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Era tarde quando chegou a notícia. Uma criança nascera para aquela casa. Reuniram-se os anciãos. Buscaram os papéis. Desenrolaram em tinta e letras quase 350 anos de ancestralidade. Como há de se chamar a menina? Não havia ali um nome de mulher. A construção de todo aquele passado familiar fora apossado pela rubrica do nome do homem. O pai agora estava no assento da dúvida. “Que nome escolher?” Perguntava-se enquanto desenhava com os dedos a leitura daqueles atávicos nomes a compor o sentido no papel. “O que espero eu dessa pequena criança que chega a minha casa?” – percorria o pai em seus pensamentos. O que carregava no peito em perguntas, não era o fato de receber uma criança, já cuidava de dois meninos, era pai há quase uma década! Mas o fato de ser uma menina... isso lhe acordou o juízo de aperceber-se. “O que será da minha menina?” Murmurava-lhe a preocupação... Quanto apagamento que pesara sobre aquela genealogia! Sua mãe, suas irmãs, as irmãs de seu pai, de sua mãe, a cozinheira, sua ama de leite, a mulher que o fizera homem... Com a dor do discernimento, refazia a sua inquieta pergunta - “O que será da minha menina?” A lembrança que vinha lhe falar nessa hora era um conto de quando menino, que falava sobre um fazedor de tecidos.

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Diz-se que há muito tempo atrás, havia naquelas redondezas um fazedor de belos tecidos. Um homem educado, de bons tratos e lindas filhas. Cada visita de encomenda que recebia, o tal homem contava a mesma estória sobre o presente que queria dar para as filhas. Havia ele separado uma caixinha para cada uma delas, eram três. Dentro de cada caixinha, dizia o incauto homem guardar àquilo que a vida tem de melhor, e quando chegada a hora de cada uma partir para o mundo daquilo que há de vir a ser, levaria consigo seu presente. Assim terminava a lembrança do Pai sobre o tal conto. A caixinha, pensava ele, já a tenho, mas o que era esse melhor da vida que o tal fazedor de tecidos tanto dizia... Nesse breve tempo de ler nomes e escolher, repetiam os anciãos a pergunta ao Pai - “Como há de se chamar a menina?” Reuniu o Pai em uma palavra – Possibilidade, que em Iorubá se diz – Seese. Bem vinda menina Se!

GRASIELA FRAGOSO é Mestre em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Atualmente estuda Psicologia nas Faculdades Integradas Maria Thereza - FAMATH- Niterói. Dedica-se, como estagiária, à Clínica Psicanalítica, na Associação Fluminense de Reabilitação – AFR – Niterói, RJ. Autora do blog www.finatempera.wordpress.com | GRASIFRAGOSO@GMAIL.COM

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