Dados Editoriais Ano XI - Número 25 - 1º Semestre de 2015
Jornalista Responsável
ISSN - 1678-3824 Publicação Semestral da FUCAPI - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica
Cristiane Barbosa Mtb 092 DRT/AM
Conselho Editorial
Coordenação Nancy Claudiano Cavalcante
Isa Assef dos Santos Alexandre Santos de Oliveira Ademir Jesus Lourenço Cinthia da Cunha Mendes Francisco Elno Bezerra Herculano Hellen Cristina Medeiros de Souza Niomar Lins Pimenta Renilson Rodrigues da Silva
Projeto Gráfico
Designers Anna Carolina Azulay Refkalefsky Emmanuelle Bezerra Cordeiro Osvaldo Relder Araújo da Silva
Capa Núcleo de Design - Nude/FUCAPI
Conselheiros Ad hoc
Revisão
Ginarajadaça Ferreira dos Santos Oliveira Maria Evany do Nascimento Cristiane de Lima Barbosa Jhones Lemos Alves Joice de Jesus Machado Fernando Santos Folhadela Eneida Regina Nascimento Oliveira
Jesua Maia
Diagramação Osvaldo Relder Denys Pinheiro Serrão
Editor Científico Dr. Alexandre Santos de Oliveira
As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.
E D I T O R I A L A 25ª edição da T&C Amazônia traz um tema bastante discutido recentemente: a Economia Criativa. Assim como no mundo, o Brasil está cheio de atividades relacionadas a essa área, tais como áreas de arquitetura, design, Pesquisa & Desenvolvimento, mercado editorial, mídia, publicidade, artes, artes cênicas, biotecnologia, desenvolvimento de softwares, computação, telecomunicações e expressões culturais. O cenário para economia criativa é bastante promissor, tanto que em 2013, quase 6% do total de empresas nacionais – 320 mil empresas – estavam orientadas à produção cultural empregando formalmente cerca de 3,7 milhões de pessoas, e respondendo por 8,5% dos postos de trabalho. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), apontam que a economia criativa tem sido vista como um dos setores mais dinâmicos do desenvolvimento no século 21, sendo responsável por 10% do PIB mundial.
O Amazonas é um dos Estados que se destacam nesse setor, mas as instituições ainda estão se organizando para levantar dados sobre a economia criativa gerada no Estado. Dados oficiais apurados pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) apontam sobre o potencial pujante da economia criativa para o desenvolvimento regional no Amazonas frente a outros Estados da Federação. A Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) tem vanguarda nessa iniciativa no Norte. A instituição iniciou esse movimento ainda no início dos anos 2000, visto que em 2003, a Fucapi criou o Laboratório Wireless (Lanwireless), para desenvolver jogos para celulares. Então caro leitor, acompanhe a reportagem completa e os artigos científicos desta edição. Participe dos próximos números enviando textos e divulgue suas pesquisas voltadas à tecnologia, inovação, sustentabilidade e empreendedorismo. Boa leitura!
S U M Á R I O
Seções
Editorial
02
Reportagem
Criatividade transforma economia Cristiane Barbosa
04
Artigo
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software Eliane Collins, Gisele Macedo, Luana Lobão, Arilo Dias Neto Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa Dênis de Freitas Castro, Raimundo Ribeiro Passos, Consuelo Alves da Frota e Leandro Aparecido Pocrifka A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos Gabriele Aparecida de Souza e Souza
13
21
30
A importância da interconexão elétrica TucuruíMacapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica Willamy Moreira Frota, Roland Céspedes Arteaga, Whylker Moreira Frota, Brígida Ramati Pereira da Rocha e José Pissolato Filho
37
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico do Polo Industrial de Manaus Ádria de Azevedo Araújo , Maria da Glória Vitório Guimarães, Nixon Diniz Pereira e Patrícia Auxiliadora Ribeiro de França
45
Brasil inicia produção de componentes eletrônicos de base cerâmica Thiago Alves e Hansu Birol
54
Entrevista América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais Cristiane Barbosa
58
AO S L E I T O R E S A T&C Amazônia é uma publicação semestral criada com o intuito de discutir temas relevantes de interesse do País e, em especial, da Região Amazônica. Desde a 20ª edição, a T&C abriu espaço para contribuições relacionadas ao desenvolvimento regional em seus diferentes aspectos, desde que aderentes ao perfil da revista. Portanto, serão bem-vindos estudos que contemplem ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. O teor dos textos é de inteira responsabilidade dos autores. Os interessados em publicar seus trabalhos devem encaminhá-los para o e-mail tec_amazonia@fucapi.br, para que sejam submetidos à análise do Conselho Editorial. O envio de um artigo não garante a sua publicação. Os artigos publicados
não concedem direito de remuneração ao autor. O artigo deverá ser enviado exclusivamente por meio eletrônico, em arquivo texto, digitado em editor de texto Microsoft Word, formatado em papel Carta, com margens laterais de 3,0 cm, superior de 3,5 cm, inferior de 2,5 cm, fonte Arial tamanho 12 e espaçamento simples. Os textos devem ser inéditos. O artigo deve conter um resumo, breve currículo do autor e pode apresentar gráficos e figuras, desde que o tamanho do artigo permaneça entre 8 e 12 páginas. A publicação também deverá ser autorizada pelo(s) coautor(es) e encaminhada carta de anuência anexa ao artigo submetido à aprovação.
Reportagem
Criatividade transforma economia Amazonas tem forte potencial para alavancar iniciativas criativas Por Cristiane Barbosa
A criatividade como matéria-prima pode trans-
de trabalho do núcleo criativo gera um Produto
formar a economia amazonense. A estimativa é
Interno Bruto (PIB) equivalente a R$ 110 bilhões,
de que o faturamento do conjunto de atividades
ou seja, 2,7% de tudo o que é produzido no Brasil.
que movem esse setor seja da ordem de R$ 380 bilhões ao ano, o que representa 16% do Produto
Esse resultado coloca o Brasil entre os maiores
Interno Bruto (PIB). No entanto, esse volume
produtores de criatividade do mundo, superando
ainda se concentra em São Paulo, que detém
Espanha, Itália e Holanda. O mapeamento indica,
10% dessa movimentação, segundo dados da
ainda, que o mercado formal, de trabalho criativo
Escola Criativa de SP.
era composto por 810 mil profissionais (em 2011, quando foi realizado o estudo), o que representa
Já outro estudo apresentado em 2012 pela
1,7% do total de trabalhadores brasileiros.
Federação das Indústrias do Estado do Rio de
04
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Janeiro (Firjan), considerada uma das mais
O segmento de Arquitetura e Engenharia é o que
importantes no País, mostra que o mercado formal
detém maior representatividade, seguido das
Criatividade transforma economia
áreas de Design e Publicidade, que empregam
O conceito consiste em uma evolução das defi-
mais de 100 mil trabalhadores cada. O setor de
nições propostas pela United Nations Conference
tecnologia também é destaque entre as principais
on Trade and Development (Unctad), que define
profissões criativas, além de ser exemplo de como
as indústrias criativas como “ciclos de criação,
as atividades criativas demandam trabalhadores
produção e distribuição de bens e serviços que
qualificados, conforme resultados da Firjan.
usam criatividade e capital intelectual como insumos primários”, e pelo Department for
No Amazonas e em Minas Gerais, a atividade
Culture, Media and Sport (DCMS) do governo
criativa mostra força. Apesar de um perfil
britânico, que estabelece “as indústrias criativas
econômico bastante distinto, segundo o relatório
como aquelas que têm sua origem na criativi-
da Firjan, os Estados mostram, ao lado do líder
dade, habilidade e talento individuais e que têm
Rio de Janeiro, as maiores participações do
potencial para a criação de renda e empregos,
segmento de Pesquisa & Desenvolvimento no
por meio da geração e exploração da Propriedade
núcleo criativo: o percentual no Amazonas chega
Intelectual”.
a 7,4% e em Minas fica em 5,6%. As principais diferenças entre o conceito proposNo livro ‘The Creative Economy’, o autor inglês
to pelo MinC e os demais são a substituição do
John Howkins conceitua a economia criativa
termo “indústria” por “setor”; a ênfase posta no
como um conjunto de atividades que resultam
valor simbólico que é a principal consequência
em indivíduos exercitando a sua imaginação e
do ato criativo; e a merecida inclusão do termo
explorando seu valor econômico. Pode também
“riqueza cultural” no mesmo patamar da “riqueza
ser definida como processos que envolvam
econômica”. O movimento desses segmentos só
criação, produção e distribuição de produtos e
fica atrás da indústria do petróleo, segundo a
serviços, usando o conhecimento, a criatividade
Escola de Economia Criativa de São Paulo.
e o capital intelectual como principais recursos produtivos.
“Nos últimos anos, a indústria cultural virou um negócio, é o que acontece com a moda e o
A economia criativa é formada por atividades
cinema”, disse Isabella Prata, diretora da Escola
relacionadas às áreas de arquitetura, design,
de Economia Criativa, em entrevista ao canal de
Pesquisa & Desenvolvimento, mercado editorial,
vídeos da instituição.
mídia, publicidade, artes, artes cênicas, biotecnologia, desenvolvimento de softwares, computa-
Este novo olhar para a indústria criativa ganhou
ção, telecomunicações e expressões culturais.
força nos anos 1990, na Austrália, em um momento de crise. Naquela ocasião, os austra-
Segundo o Ministério da Cultura (MinC), a econo-
lianos pararam para olhar o que eles tinham de
mia criativa é composta por setores criativos, que
diferencial para se lançar no mercado competi-
são todos aqueles “cujas atividades produtivas
tivo. Hoje, são vários países, tal como Alemanha
têm como processo principal um ato criativo
e Holanda, que buscam junto a seus governos
gerador de valor simbólico, elemento central da
consolidar essa perspectiva econômica.
formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econômica”. Assim, a economia
“Essa nova perspectiva econômica permitiu que
criativa pode ser entendida como as dinâmicas
os países percebessem que tudo aquilo produzido
sociais, culturais, econômicas e territoriais exis-
culturalmente influencia o mundo e que a criati-
tentes a partir da criação, produção, distribuição
vidade é um importante diferencial competitivo”,
e consumo dos bens e serviços produzidos pelos
contou a assessora em economia criativa para a
setores criativos.
Organização das Nações Unidas (ONU), Ana Carla
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
05
Criatividade transforma economia
Fonseca Reis.
para eles sobre o que é esse campo, exemplos de projetos de Design caracterizados como
O setor têxtil, por exemplo, é um dos setores
economia criativa e um pouco de políticas
que mais absorvem mão de obra no Brasil, mas
públicas”, destacou.
os produtos desenvolvidos por essa indústria só serão consumidos se houver o setor de moda.
Narle Teixeira contou que foi dessa disciplina
Assim, a moda irá determinar o que deve ou não
que nasceu o ‘Moda de Cabide’, que consiste
ser fabricado e decidir também o que deve ou
em uma empresa de customização de roupas,
não ser consumido. “Os setores que agregam
no ramo da moda e design. “Os alunos criaram
criatividade e, portanto, valores tradicionais são
a empresa na disciplina, e hoje, é um negócio
responsáveis por formar a economia criativa”,
real”, disse.
diz Reis. “A criatividade passa a ser reconhecida como um recurso econômico”, completou.
Uma outra importante iniciativa da Fucapi voltada ao estímulo da economia criativa é a
Fucapi: vanguarda na economia
sua Incubadora de Tecnologia, que, em dezembro
criativa no Norte
de 2014, completou dois anos de atuação em
A Fundação Centro de Análise, Pesquisa e
Manaus. O processo de incubação é considera-
Inovação Tecnológica (Fucapi) tem vanguarda
do um dos mais eficazes mecanismos de forma-
nessa iniciativa. Segundo recorda Ademir
ção de empresas, na visão do Ministério da
Lourenço, engenheiro de telecomunicações e
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Segundo
pesquisador da Fundação, a empresa iniciou
dados de estatísticas norte-americanas e
esse movimento ainda no início dos anos 2000,
europeias, a taxa de mortalidade de empresas
visto que, em 2003, a Fucapi criou o Laboratório
que passam por incubação é de 20%, enquanto
Wireless (Lanwireless), para desenvolver jogos
entre as demais empresas vai a 70%.
para celulares. É nesse sentido que, ao completar dois anos de Nesse mesmo ano, a Fucapi inaugurou, junto
implantação, a Fucapi Incubadora de Tecnologia
à Siemens, o Laboratório GSM, para detectar
(FIT) está com forte atuação no Amazonas nas
problemas que vinham a ocorrer nos telefones
áreas de Bionegócios, Engenharia de Automação
celulares produzidos na fábrica Siemens
Industrial, Engenharia Mecânica, Engenharia
Eletrônica de Manaus, e também para fornecer
Ambiental, Tecnologia da Informação, Design
apoio ao Centro de Desenvolvimento de
e Comunicação, inclusive startups que atuam
Celulares na Alemanha. O Lanwireless concluiu
com economia colaborativa.
mais três jogos, dos quais, dois foram comercializados na Europa e Ásia, através de parceria
“Conseguimos estruturar nossa operação,
com a empresa sueca Synergenix.
montar e organizar os três laboratórios que fazem parte da FIT. E, principalmente, sele-
A coordenadora do Núcleo de Produção de
cionamos empresas inovadoras com bastante
Conteúdos e professora de Design da Faculdade
potencial durante esta fase inicial”, explicou o
Fucapi, Narle Teixeira, afirmou que tem traba-
coordenador da FIT, Euler Guimarães.
lhado o conceito de economia criativa ainda
06
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
na perspectiva da graduação. Segundo ela, no
Gestão de empreendedores
primeiro semestre de 2014, lançou o desafio
A empresária Rozana Trilha, de forma visionária,
da disciplina ‘Projeto em Design’; voltado à
está à frente da Associação Zagaia Amazônia,
criação de produtos e/ou negócios no campo da
juntamente com seu sócio, designer Ricardo
economia criativa.“Para tal, fiz algumas aulas
Tavares, com o propósito de melhorar a vida
Criatividade transforma economia
Figura 01 - Empresária Rozana Trilha, de forma visionária, está à frente da Associação Zagaia Amazônia. Foto: Divulgação.
na Amazônia, proporcionando a gestão de
ribeirinhos do Estado.
empreendedores nas iniciativas criativas. “Dentre os objetivos da instituição estão o
O engenheiro florestal Robervando Gonçalves,
desenvolvimento de projetos e prestação de
líder do Núcleo de Design Tropical da Fucapi,
serviços, inclusive de comercialização, focados
informou que o resgate da riqueza artística das
na Economia Criativa com prioridades para
culturas caboclas da Amazônia tem despertado
expressões culturais, artesanato e arte popular”,
interesse do mercado mundial. Segundo ele,
explicou Trilha.
diversos países querem comercializar as peças.
Atualmente, segundo ela, a associação está
“Nós trabalhamos com uma estratégia de
sendo estruturada e em fase de levantamento
inovação dos nossos produtos. Pensando nisso,
de profissionais interessados em empreender.
nós promovemos, em cada peça, o resgate das
“A associação fornece informações de mercado
habilidades artesanais e dos traços de culturas
e traz diversos benefícios relacionados a
tradicionais da nossa região. Para isso, o uso
treinamentos e também busca reunir um grupo
sustentável dos insumos da floresta é
com interesses em comum”, disse.
indispensável”, explicou.
Especialista em Marketing e Finanças e com
O processo de construção das peças envolve
uma vasta experiência em negócios inovadores,
técnicos e artesãos de Manaus, mas também de
publicidade, comunicação e no empreendedoris-
comunidades ribeirinhas de outros municípios
mo, Rozana Trilha é diretora da Native Original
do Amazonas. Cerca de 700 trabalhadores do
Products, que comercializa as peças do projeto
interior, dentre eles indígenas, participam da
‘Design Tropical da Amazônia’, desenvolvido na
confecção das peças em diversos municípios do
Fucapi. A filosofia do projeto é aliar o negócio
Estado, como Itacoatiara, Maués, Novo Airão e
com a sustentabilidade e responsabilidade
Barcelos. O projeto promove, ainda, programas
social, valorizando o trabalho dos caboclos e
de qualificação para melhor utilização dos
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
07
Criatividade transforma economia
Figura 02 - Presidente do Fadec, Luciana Monteiro ressalta potencialidades deste tipo de economia. Foto: Divulgação.
recursos naturais no interior do Estado.
de Convivência da Ufam, para debater este assunto.
Gonçalves informou, ainda, que o projeto já teve itens premiados em feiras nacionais e interna-
“O encontro cultural teve o intuito de debater
cionais, como a Bienal de Designer e o Prêmio
o uso da economia criativa como vetor de
Idea Brasil. Além disso, uma linha de móveis
crescimento econômico e cultural, mostrando
do projeto deverá compor a decoração dos
a potencialidade deste novo tipo de economia”,
principais salões da Arena da Amazônia durante
disse a presidente do Fadec, Luciana Monteiro.
o período da Copa do Mundo, que tem Manaus como uma das sedes.
A iniciativa teve o objetivo de despertar o interesse dos empreendedores para o uso da
Fadec e Obec/AM: estudos sobre
“criatividade” como matéria-prima básica do seu
a economia criativa
trabalho. A grande importância está em contri-
No Amazonas, existem dois institutos vol-
buir para o desenvolvimento socioeconômico,
tados à Economia Criativa Amazônica, com
do Amazonas, gerando novos postos de trabalho
vistas a estudá-la como forma de verificar
e oportunidades na difusão e socialização dos
seu impacto sobre a economia formal. Devido
conhecimentos produzidos em pesquisas do
a este novo cenário, o Fórum Amazônico de
Observatório Estadual de Economia Criativa e
Desenvolvimento Econômico e Cultural (Fadec),
obter, através de um questionário os primeiros
em parceria com o Observatório Estadual
dados do setor.
de Economia Criativa (Obec/AM) e com a
08
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
“O potencial empregador, produtivo e inovador
juntamente com a Pró-Reitoria de Inovação
das atividades culturais e criativas ainda é
Tecnológica (Protec), realizou, nos dias 22 e
pouco discutido em nossa região, porém discutir
23 de julho de 2014, o 1º Fórum de Economia
este assunto leva a resultados jamais obtidos, o
Criativa do Estado do Amazonas, no Centro
que potencializa a importância da nossa região
Criatividade transforma economia
pela diversidade que possuímos”, frisou ela.
O potencial empregador, produtivo e inovador das atividades culturais e criativas ainda é pouco discutido em nossa região, porém discutir este assunto leva a resultados jamais obtidos, o que potencializa a importância da nossa região pela diversidade que a qual possuímos
Durante o fórum, foi elaborada a 1ª Carta de Economia Criativa do Estado do Amazonas, que servirá como norte para o mapeamento do diagnóstico dessas atividades na Região Norte. O documento é feito de uma construção coletiva das demandas apresentadas durante o Fórum por empreendedores, pesquisadores, profissionais do
Luciana Monteiro, presidente do Fadec
terceiro setor e instituições governamentais. No Amazonas, são identificados polos de grande potencial no setor nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Presidente Figueiredo, Parintins e Maués. A utilização de cascas de sementes, restos de madeira e resíduos, em geral, pode ser alternativa sustentável, inclusive, para a Zona Franca de Manaus. “Temos um enorme potencial criativo no Estado e na região que precisa ser incentivado. No Lago Janauari, pertencente ao município de Iranduba (a 25 quilômetros de Manaus), o Fadec também identificou projetos com alto potencial em economia criativa”, revelou a gestora. Na visão do Fadec, a ideia é transformar a cultura como alternativa para a economia formal ou até mesmo para a Zona Franca de Manaus, inserindo este “novo modelo” em políticas públicas de Estado, fortalecendo a presença do setor cultural no parlamento e nas ações do governo. “Isso se daria por meio da construção de novos mecanismos de fruição através de um debate programático, amplo e democrático”, disse. Entre as soluções apontadas para dar mais ênfase a essa iniciativa em Manaus, o Fadec tem como bandeiras: ampliar as políticas de fomento, incentivo, investimento e financiamento à cultura, por meio da aprovação da proposta de veiculação de orçamento para a cultura e reforma do Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura); e massificar os editais públicos de seleção de projetos sociais culturais, propiciando a sustentabilidade dos processos de criação, produção, distribuição, circulação,
difusão, fruição, consumo e preservação dos bens simbólicos. “Esperamos que as vastas potencialidades existentes no Estado do Amazonas sirvam para a constituição de um novo modelo de economia baseado na criatividade, em princípios de sustentabilidade, favorecendo novos empreendimentos, educação para competências criativas e que a ampliação da produção de conhecimento seja reconhecida”, destacou a presidente do Fadec. Por ocasião do lançamento da Obec-AM, a próreitora de Inovação Tecnológica da Ufam, Socorro Chaves, que atua como coordenadora do Obec-AM, relatou a alegria de vivenciar a inauguração do Obec no Estado. Em entrevista para o Portal da Ufam, a coordenadora disse que há razões para otimismo acerca do trabalho a ser desempenhado pelo Observatório. “É a possibilidade que nós temos de conhecer, através de trabalho científico, o que está sendo produzido no âmbito da economia criativa. Com isso, vamos fornecer informações qualificadas para que os órgãos que trabalham com economia
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
09
Criatividade transforma economia
Figura 03 - Ruth Mello, economista e pesquisadora da PUC-Rio: economia criativa abre novas possibilidades aos que trabalham com cultura. Foto: Divulgação.
criativa possam ampliar os investimentos na área.
dora brasileira a fazer parte dos 25 primeiros
É um processo extremamente relevante para
selecionados. Dentre os critérios de escolha,
alavancar o desenvolvimento do nosso Estado”,
destacaram-se a qualidade do atendimento
acentuou a professora que revelou o segredo
aos clientes e o impacto econômico gerado na
para o sucesso do Observatório. “A Ufam possui
região. Foram avaliadas cerca de 300 incuba-
uma equipe qualificada e compromissada, que
doras, em 67 países.
transmite confiança para o sucesso do Obec-Am”, finalizou.
Em 16 anos, o Instituto Gênesis gerou 140 empreendimentos que, juntos, somam um
Economia nacional e iniciativas criativas “A economia criativa é um conceito recente que acolheu segmentos econômicos importantes na promoção à cultura através do desenvolvimento de negócios sustentáveis”. Essa é a explicação da economista e doutoranda em Ciências Sociais (PUC-Rio), Ruth Mello, que atua como assessora da Gerência Institucional de Empreendedorismo do Instituto Gênesis da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O Instituto Gênesis da PUC-Rio é considerado uma referência nacional e internacional, já que ganhou a nona posição do Global Top 25, ranking elaborado pela UBI Index, instituição de pesquisa sueca que avalia e reúne as melhores incubadoras do mundo. Selecionado na categoria ‘Melhores Incubadoras Associadas a Universidades’, o instituto foi a única incuba-
10
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
faturamento superior a R$ 1,5 bilhão, com crescimento médio de 25%, ao ano. Em 2013, as empresas do Gênesis geraram um faturamento de R$ 751 milhões, valor 80% maior do que no ano anterior. Na avaliação de Ruth Mello, que também é professora de Planejamento de Empreendimentos Sociais da PUC-Rio, a economia criativa evoca como valor agregado elementos tangíveis e intangíveis, já que tem como recursos a criatividade e o conhecimento, recursos infinitos que se renovam e são abundantes no Brasil. “Avalio que o desafio é o da compreensão de que a economia criativa abre novas possibilidades às pessoas que vivem e trabalham com cultura. Elas podem passar a se observar como agentes
Criatividade transforma economia
econômicos que podem se projetar para além do ciclo de vida de projetos, de editais governamentais, legislação de incentivo e programas de fomento”, declarou.
A riqueza amazônica e da cultura de seus povos tem muito a oferecer às indústrias criativas, apoiando a dinâmica virtuosa, sustentável e participativa de desenvolvimento local, regional e nacional Ruth Mello Economista e assessora do Instituto Gênesis (PUC-RJ)
A especialista informou que a economia criativa no Brasil tem crescido mais que o PIB nacional, tendo sido acima de 6% o crescimento médio anual dos setores criativos, frente aos 4% do aumento médio do PIB nacional, nos últimos anos, conforme dados levantados junto ao Ministério da Cultura. Em 2013, quase 6% do total de empresas nacionais – 320 mil empresas – estavam
regional no Amazonas frente a outros Estados
orientadas à produção cultural, empregando,
da Federação.
formalmente, cerca de 3,7 milhões de pessoas, e respondendo por 8,5% dos postos de trabalho.
“A biotecnologia é a mais bem paga do País, com
Dados da Conferência das Nações Unidas sobre
salário médio de R$ 9.009, mais que o dobro
Comércio e Desenvolvimento (Unctad), apontam
da média nacional para o segmento. No Estado,
que a economia criativa tem sido vista como um
também a música se destaca, já que tem o maior
dos setores mais dinâmicos do desenvolvimento
salário do Brasil, com destaque para músicos
no século 21, sendo responsável por 10% do PIB
intérpretes instrumentistas”, revelou ela.
mundial. Ruth Mello afirma que como se trata de um “Observo que a economia criativa no Brasil está
conceito novo em nível nacional é ainda mais
se inserindo de forma competitiva internacio-
importante a elaboração sistemática de dados
nalmente e tem muito a somar à dinâmica do
que ajudem a entender suas particularidades
chamado Setor 2,5 - dos negócios sociais e da
e dinâmica, tanto para apoiar a concepção de
economia solidária, de forma a prover geração
políticas públicas quanto para acompanhar a
de trabalho, renda e riqueza de forma social e
efetividade de sua implementação.
ambientalmente justa e sustentável”, explicou
“Entendo que é muito importante incitar a coo-
Ruth Mello.
peração e colaboração de diferentes instituições e coletivos no território de forma articulada e
No Amazonas, as instituições ainda estão se
transparente visando complementar competên-
organizando para levantar dados sobre a econo-
cias e otimizar esforços.
mia criativa gerada no Estado. Entretanto, Ruth
A riqueza amazônica e da cultura de seus povos
Mello informou que dados oficiais, apurados
tem muito a oferecer às indústrias criativas,
pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
apoiando a dinâmica virtuosa, sustentável e
(Firjan), apontam sobre o potencial pujante
participativa de desenvolvimento local, regional e
da economia criativa para o desenvolvimento
nacional”, frisou.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
11
Criatividade transforma economia
Fonte: Relatório Firjan
Saiba Mais
As indústrias criativas, que são aquelas relacionadas às artes,
Brasil
como moda, artesanato, rádio e TV, propaganda, arquitetura,
O Brasil está, aos poucos, se inserindo nessa nova
artes cênicas, música, entre outros, são as que mais crescem
economia do século 21. Em ações práticas, o Banco
no mercado e que devem receber investimentos. Nos Estados
Nacional do Desenvolvimento (BNDES) criou um
Unidos, por exemplo, as indústrias criativas contribuíram com
departamento voltado ao financiamento inatin-
11,12% do PIB e 8,49% na geração de empregos. A Economia
gível e o Sebrae lançou uma carteira de cultura e
Criativa mostra importantes resultados, mas é preciso lembrar
entretenimento para investir em pequenos negócios
que o papel da cultura na economia não é o de apenas agregar
que têm difícil acesso a crédito.
pontos no PIB. Ela deve fortalecer a criatividade que vai influenciar a economia.
Mesmo assim, ainda há muito por fazer. Uma das soluções apontadas por Ana Carla Fonseca Reis é de
12
Cidades Criativas
que órgãos públicos e privados trabalhem juntos e
O termo Economia Criativa criou o conceito de Cidade Criativa,
que todas as cidades e países sejam tratados como
que busca explorar e investir na criatividade urbana para que
tendências e processos e não como projetos. “É
haja uma economia melhor e cidadãos satisfeitos. Assim, o
preciso entender qual é o papel da cultura além do
conceito de Cidades Criativas procura investir em mudanças
simbólico e social porque a economia criativa tem
inovadoras que sejam capazes de ter resultados econômicos e
um impacto social importantíssimo, que vai além de
sociais eficientes.
um bom resultado na economia”.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Artigo
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software Eliane Collins, Gisele Macedo, Luana Lobão e Arilo Dias Neto Resumo Este artigo descreve um projeto de parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INdT) e o Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas (IComp/ UFAM) para o desenvolvimento de capacitação na área de verificação e validação de software. Em virtude do crescimento do Polo Industrial de Manaus (PIM) e dos incentivos fiscais providos pelo governo federal houve o aumento de empresas de desenvolvimento de software. Com isso, também observou-se o baixo índice de pessoas com alta capacitação para atuarem na área de teste de software e contribuírem para a satisfação dos clientes dessas empresas. À vista disso, essa parceria buscou por pesquisas que pudessem ajudar no desenvolvimento desta competência na região. A partir dessa parceria, foram conquistados resultados bastante satisfatórios para nossa região, como: produtos de software gerados a partir de customizações de ferramentas conhecidas para apoiar o processo de teste de software; processos de software criados; publicações a partir de eventos e periódicos nacionais e internacionais; capacitação de recursos humanos; trabalhos de conclusão de curso e dissertações geradas; parceria com empresas locais; realização de um evento local sobre a área de teste de software, dentre outros resultados importantes para o desenvolvimento da competência em nossa região. Os detalhes dos resultados serão discutidos na seção Resultados Obtidos deste artigo. Palavras-chave: verificação e validação de software, teste de software, desenvolvimento de competência
Introdução A Engenharia de Software, atualmente, tem se adaptado às constantes evoluções que têm ocorrido no cenário de desenvolvimento de software global. Com essa evolução, os clientes dos produtos gerados pelo desenvolvimento de software estão cada vez mais exigentes e preocupados com restrições como prazo, custo e qualidade dos projetos de software. Muita demanda tem sido gerada para os mais variados tipos de produtos de software, tais como: software web, software para dispositivos móveis, software para aplicações gerenciais, dentre outros. Visando à demanda gerada pelo Polo Industrial de Manaus (PIM), diversas empresas de Tecnologia da Informação (TI) estão sendo sediadas na região. Como consequência desse aumento de empresas de TI, houve um progressivo aumento na demanda de profissionais qualificados, tanto em desenvolvimento quando em verificação, validação e teste de software (VV&T). O foco desse artigo está no desenvolvimento de pessoal local nas competências de VV&T de produto de software. Isso se deve ao fato de que a formação de profissionais especializados na área de Teste de Software em nossa região ainda é bastante escassa. Ainda existe pouca vazão dos cursos de graduação em Computação para atender à indústria. Além disso, no Amazonas existem apenas dois doutores atuando na área de Qualidade de Software, sendo que apenas um deles atua na área de Teste de Software.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
13
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
Objetivos e Justificativa O principal objetivo do projeto de colaboração foi propiciar um ambiente para realização de um programa continuado de formação de recursos humanos. Com isso, promover a capacitação de profissionais para atuarem na indústria de software e em pesquisas científicas, transformando o IComp em um centro de excelência na área de Verificação, Validação e Teste de Software. Isso ocorreu a partir: • Do treinamento de alunos em teste de software e ferramentas de automação; • Da realização de eventos para a comunidade de profissionais e estudantes da área de desenvolvimento de software no Amazonas; • Da qualificação da mão de obra através de incentivo para que alunos adquiram certificações internacionais em Teste de Software; • Da publicação de artigos e resultados das pesquisas em congressos nacionais e internacionais da área. As principais justificativas para a execução deste projeto foram: • Efetivação de uma colaboração entre academia (UFAM) e indústria (INdT); • Aumento da demanda por VV&T nas empresas sediadas no Estado do Amazonas; • A escassez de recursos humanos especializados para trabalhar com pesquisas e desenvolvimento em projetos da indústria na área de VV&T em Manaus e no restante do Brasil; • Aumento do número de oportunidades para pesquisa e projetos nas áreas de VV&T. No caso do Estado do Amazonas, isso se torna ainda maior devido aos incentivos providos pelo programa federal da Zona Franca de Manaus;
14
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
• Crescente demanda por parte do INdT por parceiros de alta qualidade técnica nas áreas deste projeto, para o estabelecimento de atividades de cooperação tecnológica visando à criação de inovações; • No Brasil, há poucas iniciativas voltadas à VV&T, o que coloca o País em uma posição marginal diante da comunidade internacional; Implementação 1. Formação de uma Equipe de Teste de Software Foi organizado um time disposto a trabalhar com Teste de Software formado por profissionais da indústria e estudantes da Ufam de diferentes níveis de formação (graduação, mestrado e doutorado), com o objetivo de prover experiência em projetos reais da indústria na área de testes, desenvolvidos pelo INdT. Entre 2011 e 2014, 24 estudantes que participaram do grupo ExperTS (Experimentação e Teste de Software), coordenados pelo Professor Dr. Arilo Cláudio Dias Neto, atuaram nesta equipe de teste. Destes, um era doutorando, 10 eram mestrandos e 13 eram graduandos. Estes alunos eram supervisionados pelas profissionais Eliane Collins, Gisele Macedo e Luana Lobão, todas pertencentes à área de Validação de Produto do INdT. Além de possuir o papel de supervisão dos resultados e andamento dos trabalhos, era a equipe do INdT quem demandava novas pesquisas para a criação de novas ferramentas e processos. 2. Treinamento de Profissionais da Indústria O time de alunos da Ufam organizou vários treinamentos visando à capacitação técnica de profissionais em temas específicos da área de teste de software, foram eles: •
Automação de Teste de Plataforma Móvel: Curso de 20 horas de duração que aborda treinamento em ferramentas de automação de teste de software para as plataformas iOS, Android e Windows Phone;
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
•
Teste de Unidade: curso de 20 horas de duração que abordou aspectos conceituais de testes de unidade e treinamento em ferramentas de automação para diferentes plataformas (Java, C/C++/C# e PHP);
3. Pesquisas Científicas Neste projeto, atividades de pesquisas contextualizadas para as necessidades do cenário local puderam ser identificadas e iniciadas. Assim, a linha de pesquisa de Engenharia de Software do Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI) da Ufam incluiu em seu edital de seleção de candidatos para mestrado/doutorado tais temas. Alguns dos temas de pesquisa abordados pelo grupo de pesquisa ExperTS da Ufam foram iniciados a partir desta cooperação entre IComp/ Ufam e INdT. Além das atividades realizadas para apoiar os projetos reais da indústria, a parceria entre Ufam e INdT também patrocinou publicações de artigos em importantes eventos referentes às pesquisas aplicadas nos projetos, como serão listados na seção de resultados. 4. Capacitação Profissional por meio de Certificações Foram realizadas provas das certificações internacionais em Teste de Software CTFL (Certified Tester – Foundation Level) e CTAL (Certified Tester – Advanced Board) afim de prover indicadores de que o projeto estava, de fato, ampliando a capacitação técnica dos profissionais do Estado do Amazonas. Como estratégia do projeto, foi feita a divulgação destas certificações em eventos locais e visitas a empresas para ampliar o interesse local. Eram oferecidas duas vagas gratuitamente para que os alunos da Ufam a realizassem. Os resultados obtidos nesta estratégia serão descritos na seção de resultados. 5. Organização de Eventos Locais O objetivo dessa iniciativa foi gerar eventos locais de pequeno e médio porte a fim de discutir a área de Teste de Software com a comunidade em geral e não apenas aqueles que fazem parte do
dia a dia do projeto. Assim, dois workshops com entrada gratuita foram planejados para o período do projeto, nos quais empresas e universidades puderam participar. Como evento principal, foi planejado um encontro regional, batizado de Encontro Amazônico de Teste de Software – EATS, com profissionais e pesquisadores de renome nacional, sendo formado por palestras técnicas, minicursos, mesas-redondas e uma maratona de testes de software, que foi realizada pelos alunos de graduação, para promover uma “caça por talentos” nesta área. As empresas locais foram contatadas para patrocinar o evento, com o objetivo de aproximar academia e indústria, que é um dos focos deste projeto. Os resultados desta estratégia também serão descritos na seção de resultados. Resultados • Produtos de Software Gerados O desenvolvimento/evolução de ferramentas neste projeto tinha o objetivo de envolver os alunos nos problemas reais da indústria relacionados à VV&T. Foram passados a eles demandas de integração, customização e desenvolvimento de ferramentas em projetos reais executados na indústria. Foram desenvolvidos: • Customização da ferramenta Testlink para integração com a ferramenta Jira em relação ao rastreamento entre falhas de casos de teste e as falhas registradas na ferramenta, facilitando a geração métrica de teste e falhas; • Customização da Ferramenta Jira para geração automática de relatórios, adequando-os às necessidades dos projetos; • Customização da ferramenta Fitnesse para testes funcionais de Server-side, permitindo a automação de testes a nível de Application Programming Interface (API) em uma plataforma na qual não havia interface cliente; • Criação de um pluggin para testes funcionais de aplicativos web baseados, em banco de dados usando a ferramenta Selenium
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
15
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
RC, facilitando a automação da verificação de mudanças em banco de dados realizadas a partir das aplicações web e promovendo economia de tempo nos testes automáticos; • Evolução da ferramenta Maraká (Dias-Neto et al., 2006), visando à adição de novas funcionalidades de apoio ao planejamento e controle de teste de software. • Processos Criados Com o intuito de envolver os alunos em projetos reais de desenvolvimento de software, foi gerado um processo para gerenciar equipes de testes distribuídas. Outro benefício da parceria foi que, através dela, um conjunto de boas práticas de procedimentos para a realização e manutenção de automação de testes em projetos ágeis pôde ser desenvolvido, resultando em um Modelo para Automação de Teste Funcional para Desenvolvimento Ágil. Esses processos e modelo foram institucionalizados no INdT e publicados em várias conferências nacionais e internacionais, além de ser publicado também como resultado de uma dissertação de mestrado. • Publicações Científicas A partir das iniciativas realizadas neste projeto nos seus diferentes níveis (ensino, pesquisa e extensão), foram publicados vários artigos em conferências da área em eventos nacionais e internacionais, além de um artigo em um periódico. Isto superou a expectativa de dois artigos publicados, como meta inicial. São eles: • AST 2012 (Collins e Lucena-Jr., 2012) e 2013 (Castro et al., 2013): Workshop on Automation of Software Test. • ICGSE 2012 (Collins et al., 2012a): IEEE International Conference on Global Software Engineering. • ESELAW 2012 (Brito e Dias-Neto, 2012): Experimental Software Engineering LatinAmerican Workshop. • SBQS 2012 (Brito et al., 2012; Maia et al., 2012): Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software.
• STA 2012 (Collins et al., 2012): Workshop on Software Test Automation. E o periódico onde um artigo foi publicado foi: • CLEI EJ 2013 (Brito e Dias-Neto, 2013): CLEI Eletronic Journal. • Capacitação de Recursos Humanos Ao todo, foram participantes desse projeto, 13 alunos da Ufam. Dentre eles, graduandos e mestrandos. Deste total de estudantes, 4 foram contratados por empresas ou institutos de software para trabalharem com teste de software. Outro medidor do crescimento de especialistas nessa área no Estado é o número de profissionais que obtiveram a Certificação Internacional em Teste de Software (CTFL), promovida pelo órgão Brazilian Software Testing Qualifications Board (BSTQB). Esse número aumentou quase que 100% comparado com o ano de 2011. Em 2011, 13 profissionais do Amazonas possuíam esta certificação, sendo que desses, 7 eram pessoas que atuaram neste projeto, ou seja, alunos da Ufam ou profissionais do INdT. A partir de 2012, esta certificação foi divulgada de forma intensa no Estado e o número de pessoas aprovadas saltou para 40 profissionais (Fonte: Site do BSTQB – http://www.bstqb.org.br). Destes, 39 conseguiram aprovação no exame CTFL (Certified Test Foundation Level) e 1 no exame CTAL-TM (Certified Test Advanced Level – Test Manager). •
Trabalhos de conclusão de curso, Dissertações ou Teses Geradas Na lista a seguir podem ser observados os trabalhos de graduação e mestrado que foram gerados a partir da execução desse projeto. Isso foi possível a partir das atividades práticas realizadas que serviram como estudo de caso para os trabalhos. Todas as pesquisas foram aplicadas na indústria, e os resultados da pesquisa foram colhidos, reunidos e detalhados nos trabalhos dos alunos. 1. Mestrado: • Eliane Collins: Modelo para
16
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
Automação de Testes Funcionais para Desenvolvimento Ágil; • Jaderlane Brito: Testcheck – Uma Abordagem Baseada em Checklist para Inspecionar Artefatos de Teste de Software; • Jeanne Trovão: Definição e Integração de Processos de Apoio à Qualidade do Processo de Teste; 2. Graduação: • Regras de Transformação de Diagramas de Atividades em UML para Casos de Teste na Ferramenta Selenium IDE; • Testes Unitários Automatizados para Aplicativos Windows Phone 7 Utilizando o Framework Nunit; • Extensão da Ferramenta Selenium RC para Realização de Testes Funcionais com Bases de Dados; • Prêmio Esse projeto ganhou o 2° lugar nacional do Prêmio Dorgival Brandão Júnior da Qualidade e Produtividade em Software 2013, concedido pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação. •
I Encontro Amazônico de Teste de Software Para concretizar a estratégia de divulgação da área de VV&T para a comunidade de computação de Manaus, foi idealizado e realizado a partir de 2012 um evento local, batizado de Encontro Amazônico de Teste de Software (http://eventos. icomp.ufam.edu.br/eats2014/). Esse evento mobilizou empresas e universidades que se uniram para debater sobre teste de software, sua importância para o desenvolvimento de software com qualidade, inovações e tecnologias nas áreas de qualidade e teste de software. Em 2012, com o apoio de 6 empresas do PIM, o evento reuniu em torno de 250 pessoas, entre estudantes e profissionais da indústria de dentro e fora do Estado.
O evento durou 2 dias (19 e 20 de outubro de 2012) e teve o seguinte formato: • No primeiro dia (Figura 1), foram realizadas apresentações dos patrocinadores e convidados a respeito de teste de software e mesa-redonda com profissionais atuantes na indústria respondendo a perguntas sobre o cenário atual do teste de Software nas empresas locais e as oportunidades na área; • No segundo dia (Figura 2), foi realizada uma maratona de teste de software que contou com a participação de 30 alunos, divididos em duplas. Também foram realizados 4 minicursos, sendo eles: Automação de Teste de Software para Plataformas Móveis (ministrado por alunos da Ufam participantes deste projeto); Oficina de Teste de Desempenho (Cristiano Caetano – convidado externo); Conhecendo Técnicas de Testes Unitários (Prof. Dr. Márcio Delamaro do ICMC/USP – convidado externo); Como Relatar Bugs Encontrados nos Testes Usando o Mantis (Wágner Seixas). Com os bons resultados do evento em 2012, ocorreu uma nova edição deste evento com o mesmo formato em 2013 e em 2014. Com a parceria junto à Universidade de São Paulo, foi realizada uma edição especial chamada de Escola
Figura 01 - EATS: Primeiro dia de palestras
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
17
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
• Qualificação de alunos e profissionais da indústria para que adquiram uma certificação internacional profissional na área de teste de software.
Figura 02 - EATS: Maratona de testes
Avançada de Teste de Software, que contou com grandes nomes nacionais e internacionais da área de engenharia de software. A Aplicação Todas as iniciativas descritas neste artigo poderão ser aplicadas em outros locais do País com características similares às do Amazonas que é uma região do País em constante evolução na área de tecnologia. Apesar dos resultados bastante significativos obtidos e citados anteriormente, o projeto permanece ativo visando novos resultados a curto e longo prazos, sempre focado no desenvolvimento da área de Engenharia de Software da nossa região. Principais Inovações Algumas inovações para a Região Norte podem ser citadas nessa parceria: • Estudantes universitários envolvidos em projetos reais da indústria, aplicando na prática conhecimentos teóricos e provendo soluções a partir de customizações e criações de novos processos e ferramentas. • Organizações de software, possibilitando e patrocinando pesquisas na área de teste de software a partir de participações em eventos acadêmicos e publicações científicas; • Divulgação da área de qualidade de software e sua importância na comunidade, através da realização de workshops internos e o evento EATS;
18
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Conclusão e Projetos Futuros Essa programa de parceria possibilitou a aproximação entre universidade e indústria por meio de um programa de cooperação que envolveu e capacitou os alunos de graduação e pós-graduação, promovendo o aumento de profissionais qualificados na área. Por outro lado, este programa beneficiou a indústria também, pois os profissionais puderam aumentar suas qualificações e se envolverem em pesquisas gerando melhorias para problemas do dia a dia. Como trabalhos futuros, o INdT renovou a parceria com o IComp/Ufam para o período de 2014/2015 e planeja gerar mais soluções nas áreas de teste de software, além de manter como meta publicações científicas, realização de eventos abertos para a comunidade e certificações internacionais. As principais áreas onde haverão pesquisas relacionadas são referentes a: teste para jogos, testes em linhas de produto, testes em ambientes sensíveis ao contexto, criação de ferramentas para dar suporte ao processo de teste, teste de mutação, teste como serviço, teste de compatibilidade e usabilidade, e teste de portabilidade. A maioria dessas áreas será focada para a plataforma mobile. Bibliografia Collins, E.; Macedo, G.A; Dias-Neto, A.C.. Programa de Desenvolvimento de Competências em Verificação e Validação de Software. Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) 2013. Brito J.;Dias-Neto, A. C.. Conducting Empirical Studies to Evaluate a Technique to Inspect Software Testing Artifacts. CLEI Electronic Journal, v. 16, p. 9, 2013. Brito, J. ;Dias-Neto, A. C.. Conduzindo Estudos Experimentais para Avaliação de uma Técnica de Inspeção de Artefatos de Teste de Software. In: Experimental Software
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
Engineering Latin American Workshop, 2012, Buenos Aires. Experimental Software Engineering Latin American Workshop, 2012. Brito, J.;Trovão, J.; Dias-Neto, A. C. . TestCheck Uma Abordagem Baseada em Checklist para Inspecionar Artefatos de Teste de Software. In: Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software, 2012, Fortaleza. Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2012. p. 113-127. Castro, A. M. F. V.; Macedo, G. A.;Collins, E.;Dias-Neto, A. C.. Extension of Selenium RC Tool to Perform Automated Testing with Databases in Web Applications. In: Workshop on Automation of Software Test, 2013, San Francisco. Workshop on Automation of Software Test, 2013. v. 8. Collins, E.; Macedo, G.;Maia, N.;Dias-Neto, A.. An Industrial Experience on the Application of Distributed Testing in an Agile Software Development Environment. In: 2012 7th IEEE International Conference on Global Software Engineering (ICGSE), 2012, Porto Alegre. 2012 IEEE Seventh International Conference on Global Software Engineering, 2012. p. 190-194.
Collins, E. ;Dias-Neto, A,; Lucena Jr., V. F. . Strategies for Agile Software Testing Automation: An Industrial Experience. In: 2012 IEEE 36th IEEE Annual Computer Software and Applications Conference Workshops (COMPSACW), 2012, Izmir. 2012 IEEE 36th Annual Computer Software and Applications Conference Workshops, 2012. p. 440. Collins, E. F.;Lucena Jr, V. F.. Software Test Automation Practices in Agile Development Environment: An Industry Experience Report. In: 7th International Workshop on Automation of Software Test (AST) - ICSE 2012, 2012, Zurique - Suiça. Workshop AST 2012 - Proceedings. New York: IEEE, 2012. v. 1. p. 57-63. Dias-Neto, A. C.; Travassos, G. H.; (2006). “Maraká: Uma Infra estrutura Computacional para Apoiar o Planejamento e Controle de Testes de Software”. Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software, 2006, Vila Velha. Maia, N.; Macedo, G. A.; Collins, E.; Dias-Neto, A. C. . Aplicando Testes Ágeis com Equipes Distribuídas: Um Relato de Experiência. In: Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software, 2012, Fortaleza. Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2012. p. 365-372.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
19
Inovação na capacitação de profissionais na área de verificação e validação de software
Eliane Collins possui graduação em Engenharia da Computação, pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e é mestre em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Possui experiência de 9 anos na área de Teste de Software. Possui artigos publicados em eventos importantes da área de computação nacionais da SBC (SBQS e SAST), internacionais IEEE (STA, ICGSE, AST) e revistas técnicas (Revista Engenharia de Software Magazine – ESM – DEVMedia). Atualmente, é gerente da área de Validação de Produto do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INdT). Possui certificação Internacional ISTQB Certified Tester Advanced Level Test Manager (CTAL–TM), CSD (Scrum Developer), COBIT e ITIL. Gisele Macedo é graduada em Ciência da Computação, pela Ufam. Trabalha na área de Validação de Produto do INdT. Líder técnica em projetos de parceria entre o INdT e a Ufam para desenvolvimento de competências dos alunos participantes. Possui MBA em Gerenciamento de Teste de Software e certificações internacionais como ISTQB Certified Tester e Certified Scrum Developer. Realiza publicações científicas em eventos como ICGSE, ICSE da IEEE e SBQS.
20
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Dr. Arilo Claudio Dias-Neto é professor adjunto do Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas. Possui o título de doutor e mestre em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ. Coordena o Grupo de Experimentação e Testes em Software ExperTS) da Universidade Federal do Amazonas. Prof. Dias-Neto participa em projetos de pesquisa e desenvolvimento com a indústria. Informações adicionais podem ser obtidas em http://www. icomp.ufam.edu.br/arilo. Luana Lobão é mestranda em Informática pela Ufam (Ciência da Computação – UFAM - PPGI/ ICOMP), possui duas certificações técnicas na área de desenvolvimento e teste de software (CTFL – Certified Test Foundation Level (BSTQB/ ISTQB) e CSD – Certified Scrum Developer (Scrum Alliance).Tem artigos publicados em eventos nacionais e internacionais (SBQS, ICTSS, SAST, TDC, ENCOSIS, ERIN) e revistas técnicas (Revista Engenharia de Software Magazine – ESM – DEVMedia). Trabalha, atualmente, no grupo de Validação de Produto do INdT.
Artigo
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa Dênis de Freitas Castro, Raimundo Ribeiro Passos, Consuelo Alves da Frota e Leandro Aparecido Pocrifka.
Resumo O estudo do solo como meio corrosivo é considerado de grande importância, em função do elevado número de tubulações e reservatórios instalados dentro do mesmo. A deterioração dessas estruturas, com o passar dos anos, pode representar um problema real para a economia e para o meio ambiente. Diversos métodos têm sido propostos para estudar e monitorar processos de corrosão, tais como: ensaios de perda de massa, análise de solução, análises eletroquímicas e microbiológicas. Nesta pesquisa, utilizou-se o aço AISI 1020, devido a sua composição química ser similar aos aços da maioria dos gasodutos e oleodutos — caso do gasoduto Urucu-Coari-Manaus. Neste contexto, determinou-se a corrosividade de um solo argiloso da região Amazônica utilizando a técnica de perda de massa. Na caracterização geotécnica do solo amazônico determinaram- se a massa específica, os limites de liquidez e plasticidade, e a granulometria, de acordo com as normas da American Society for Testing and Materials (ASTM). As análises de perda de massas realizaram-se com amostras do solo in natura e com esterilização em autoclave. No primeiro caso, fizeram-se três tipos de análises: uma colocada em um frasco contendo o aço 1020 e enterrada no solo in natura; e as outras duas amostras com o aço em extrato aquoso do solo (sem e com limpeza do aço com isopropanol). Completando, uma última determinação com duas amostras esterilizadas. Calculou-se a taxa de corrosão (normas NACE-RP-07-75 e ASTMG1- 90) por meio de medidas diárias, em um período de 30 dias. Os resultados geotécnicos foram: a) a massa
específica igual a 2,571 g/cm³; b) curva granulométrica indicando matriz argilosa da ordem de 76,08%; e c) limite de liquidez de 83% e LP igual a 41%, portanto um IP = 42%. O conjunto desses valores enquadrou o material natural, conforme a classificação do Transportation Research Board (TRB), no grupo A-7, relativo aos solos argilosos. Referente à análise de perda de massa, esta indicou que se tratam de amostras severas. segundo a resolução da norma NACE-RP-07-75, tanto para as amostras in natura como para as amostras esterilizadas. Ressalta-se que estas últimas apresentaram taxas mais baixa alusivas àquelas in natura. Por meio desses resultados, pode-se confirmar que as taxas de corrosão expressam a velocidade do desgaste verificado na superfície metálica. A avaliação correta desse parâmetro, de modo geral, indica uma grande importância na determinação da vida útil provável de equipamentos e instalações industriais enterradas. Nesta perspectiva, verifica-se o bom desempenho do estudo da corrosão do aço AISI 1020 em um solo argiloso da região Amazônica. Palavras-chave: Corrosão, Solo Argiloso, aço AISI 1020, Região Amazônica, Perda de Massa. Abstract The study of the ground is considered as corrosive environment of great importance in view of the large number of pipes and tanks installed therein. The deterioration of these structures, over the years, can be a real problem for the economy and the environment. Several methods
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
21
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
have been proposed to study and monitor corrosion processes, such as mass loss tests, solution analysis, electrochemical and microbiological analyzes. In this research we used the steel AISI 1020, due to its chemical composition is similar to steel in most gas and oil pipelines - if the Urucu-Coari-Manaus pipeline. In this context, we determined the corrosivity of a clayey soil from the Amazon region using the weight loss technique. In the geotechnical characterization of the Amazonian soil determined to density, the limits of liquidity and plasticity, and the particle size, according to the guidelines of the American Society for Testing and Materials (ASTM). The mass loss of analyzes were carried out with soil samples in natura and autoclaving. In the former case, there have been three types of analysis: one placed in a jar containing 1020 steel and buried in soil in nature; and the other two samples to steel in an aqueous soil extract (with and without steel cleaning with isopropanol). Completing a last determination with two sterile samples. Corrosion rate was calculated (RP-07-75-NACE standards and ASTMG1- 90) by means of daily measurements over a period of 30 days. The geotechnical results were: a) density equal to 2.571 g / cm³; b) grading curve indicating clay matrix of the order of 76.08%; c) liquid limit of 83% and 41% equal to LP, then an IP = 42%. All these values framed the natural material as the classification of the Transportation Research Board (TRB) in group A-7 on the clay soils. Concerning the loss of mass analysis, it is indicated that severe samples. Resolution according to NACE Standard RP-07-75, both for fresh samples and for sterilized samples. It is noteworthy that the latter had lower rates alluding those in nature. Through these results, it is confirmed that the corrosion rates observed expressing the speed of the metal surface wear. The correct evaluation of this parameter generally indicates great importance in determining the probable useful life of equipment and industrial installations buried. In this perspective there is good steel corrosion study of the performance AISI 1020 on a clay soil of the Amazon region. Keywords: Corrosion, Soil Argillaceous, AISI 1020, Amazon Region, Mass Loss.
22
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Introdução Segundo Gentil (1996), a corrosão pode ser definida como a deterioração ou mesmo destruição de um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente aliada ou não a esforços mecânicos. Pode ser causada por interações físico-químicas entre o material e o meio a que se encontra exposto. Ocasiona alterações prejudiciais ao desempenho da estrutura enterrada, tornando-a inadequada para uso ou possibilita danos, como o seu rompimento e contaminação do meio por vazamento de substâncias que a constituem. A corrosão de metais em contato com o solo é um fenômeno bastante complexo em que estão envolvidas múltiplas variáveis. Comparada à corrosão atmosférica e a outros tipos, esta ainda, é um assunto menos investigado, dada a complexidade do citado material como meio corrosivo (NÓBREGA & CHANG, 2003). São diversos os fatores que contribuem para a corrosividade dos solos, entre estes se incluem o tipo de solo, suas características estruturais, texturais (composição granulométrica), permeabilidade, teor de umidade, posição do nível do lençol freático, grau de aeração, conteúdo de sais solúveis, acidez, presença de micro-organismos etc. Para tornar o meio ainda mais complicado, alguns destes fatores são inter-relacionados. (NÓBREGA & CHANG, 2003). A corrosão provocada pelo solo em dutos enterrados é um assunto particularmente de interesse para a área de petróleo, já que envolve custos relativos a possíveis perdas de produtos e à necessidade de métodos de proteção dos dutos. Pesquisas têm privilegiado a abordagem de questões específicas relacionadas, por exemplo, a casos em que ocorrem correntes de fuga e ao detalhamento de soluções de engenharia (revestimentos e proteção catódica). O conhecimento dos processos corrosivos no solo é de extrema importância para o estudo adequado e perfeita aplicação de técnicas de combate à corrosão, tais como a aplicação
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
de revestimentos protetores e a sua proteção catódica (YANG, 2008). O estudo do solo como meio corrosivo é considerado como sendo de grande importância, em função do elevado número de tubulações e reservatórios instalados sob o solo, sendo que a deterioração dessas estruturas pode representar um problema real para a economia e para o meio ambiente, com o passar dos anos. Os métodos mais utilizados para medir a corrosividade são apenas “representativos”, não levando a valores absolutos. A corrosão pode causar perda de espessura das paredes de equipamentos, além de falhas estruturais localizadas. A avaliação destes danos é de suma importância, pois tais deteriorações podem levar ao comprometimento das características mecânicas do material, fazendo com que não se ajustem às especificações exigidas para o trabalho e ocasionem perda de produção. Assim, o ensaio de perda de massa (taxa de corrosão) apresenta-se útil para inspeções industriais não destrutivas. Diversos métodos têm sido propostos para estudar e monitorar processos de corrosão, como: ensaios de perda de massa (avalia-se a corrosividade absoluta do solo pela observação direta e por um tempo suficientemente grande), análise de solução, detecção de corrente galvânica, medição de resistência elétrica e medidas eletroquímicas (critério comparativo de avaliação da agressividade do solo segundo o potencial livre do material metálico e o potencial de equilíbrio da reação de evolução do hidrogênio, de acordo com o pH), entre outros (MACDONALD et al.,1998). A técnica de perda de massa é o método de avaliação da corrosão mais simples e extensivamente utilizado. Procede-se a inserção de chapas de materiais, similares aos que se deseja avaliar, em regiões cuja corrosividade é representativa do sistema. Normalmente os corpos-de-prova (cupons) são submetidos: a um primeiro exame visual, quando se deseja caracterizar o tipo de corrosão (uniforme, localizada) e na sequência,
um de caráter quantitativo, que permite a determinação da taxa de corrosão por medição da perda de massa (diferença entre a massa inicial e a final do cupom, ou seja, antes da sua instalação e após a sua remoção). O acompanhamento do processo de corrosão por meio de medidas de perda de massa ou da profundidade do pite nas condições reais de aplicação do material é, sem dúvida, a forma mais precisa e confiável de se avaliar a agressividade de um solo. No entanto, deve ser conduzido durante longos períodos, muitas vezes incompatível com os projetos de engenharia. Por outro lado, a necessidade em avaliar a agressividade do solo em curtos períodos de tempo tem levado vários pesquisadores a estudar métodos de medidas indiretas, que se baseiam na correlação das propriedades do solo com a corrosividade absoluta do mesmo (TRABANELLI et al., 1972). Esse é um dos fatores que faz com que essa técnica se sobressaia e apresente resultados precisos e com maior rendimento para a região Amazônica. Objetivo Tendo em vista a carência de trabalhos e pesquisas sobre esta temática, bem como a sua relevância para futuros estudos, o presente trabalho tem como objetivo examinar a corrosão do aço 1020, quando em contato com o solo natural argiloso da região Amazônica, utilizando a técnica de perda de massa, devido a sua composição química ser similar aos aços da maioria dos oleodutos e gasodutos. Particularmente, mostra-se de grande importância tecnológica para a Região Norte, em decorrência da presença do gasoduto Urucu-Coari-Manaus. Material e Métodos Aço – corpo-de-prova Utilizou-se o aço AISI 1020 (Figura 1), que possui composição química semelhante aos usados na indústria petrolífera. É um aço de médio teor de carbono que se presta muito bem para ser endurecido ou beneficiado por tratamento térmico. Pode ser tratado seletivamente por indução ou chama. Devido a isso, encontra grande aplicação no fabrico de forjados, partes estruturais de máquinas e eixos, em geral. A Tabela 1 mostra a composição química do Aço 1020, de acordo com
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
23
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
Figura01 - Amostra de aço 1020. Fonte: www.dominik.com.br
Os resultados obtidos foram: a) a massa específica igual a 2,571 g/cm³; b) curva granulométrica indicando matriz argilosa da ordem de 76,08%; e c) limite de liquidez de 83% e LP igual a 41%, mostrando um IP = 42%. O conjunto desses valores enquadra o mencionado material no Grupo A-7, atinente aos solos argilosos, de acordo com a classificação do Transportation Research Board (DAS, 2012), corroborando, assim, com a análise granulométrica.
Tabela 01. Composição química do Aço AISI 1020
Composição, peso %
Propriedades Mecânicas
C
Mn
P
S
Resistência a Tração (MPa)
400
0,19
0,4
0,04
0,05
Resistência ao Escoamento
255
Alongamento
36
Fonte: NBR 87:2000/ABNT 1020
as normas da ABNT 1020. Amostras de solo Como solo típico da região, empregou-se o material argiloso (Figura 2) abundante na camada superficial do subsolo regional, coletado no Campus da Universidade Federal do AmazonasUfam, quando da realização de serviços de ampliação de blocos do Campus Manaus, Setor Norte. Foi caracterizado pelos seguintes ensaios geotécnicos: a) massa específica dos grãos (Ys), de acordo com os procedimentos descritos pela ASTM D 854 – 02; b) análise granulométrica seguindo a metodologia preconizada pela ASTM D 422 – 63; e c) limites de liquidez e plasticidade, com base na ASTM D 4318 – 00.
Figura 02 - Amostra de solo argiloso. Fonte: Arquivo pessoal (Dênis Castro)
24
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
As propriedades de um solo argiloso são de extrema importância para se obter um conhecimento mais aprofundado sobre como ocorre o processo de corrosão dos metais enterrados. Por exemplo, quanto mais úmido for esse solo mais próximo servirá como nutriente para a formação de metabólitos microbianos que colaboram como agente de corrosividade, posto que a água promove a ionização dos eletrólitos presentes no solo, completando, assim, o circuito do processo corrosivo. Ressalta-se também a existência da relação inversa entre o volume d’água e a concentração de oxigênio no solo. Em solos secos, as condições tornam-se mais aeróbias e as taxas de difusão de oxigênio são maiores (SEDRIKS, 2004).
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
Técnica de Perda de Massa/Taxa de Corrosão A determinação da perda de massa (diferença entre a massa inicial e a final do corpo-de prova) permite calcular a taxa de corrosão e, por conseguinte, avaliar a intensidade do processo corrosivo e estimar o desgaste do material metálico em um dado ambiente. Para realização desses ensaios, os corpos-deprova foram tratados e pesados, imediatamente antes do início dos experimentos. O tratamento consistiu em lixamento numa politriz (lixas 240, 300 e 600) para melhor visualização da corrosão (Figura 3). Quanto aos eletrodos, foram pesados numa balança analítica diariamente em um período de 30 dias para o cálculo da velocidade de corrosão.
avalição e tratamento do aço no solo foram: a) tratamento 1 com o solo in natura + aço 1020; b) tratamento 2 contendo o extrato aquoso do solo + aço 1020; e c) tratamento 3 com extrato aquoso do solo + aço 1020. Nota-se, que no tratamento 2 o aço é retirado do extrato aquoso e limpo com álcool isopropílico, procedimento não executado no tratamento 3 (Figura 4). Realizou-se, igualmente, uma avaliação e tratamento do solo esterilizado: a) tratamento 1* com solo in natura esterilizado + aço 1020; e b) tratamento 2* com o extrato aquoso do solo esterilizado + aço 1020 (Figura 5). Ressalta-se que a esterilização das amostras de solo in natura e do extrato aquoso do solo executou-se em um autoclave por 25 minutos e à temperatura de 121 ºC.
Os corpos-de-prova foram submetidos a situações que simulam um aço de uma tubulação ou um duto enterrado no solo. As três formas de
Figura 3. Lixamento do aço na politriz. Fonte: Arquivo pessoal (Dênis Castro)
Figura 4. Tratamento do solo + aço 1020. Fonte: Arquivo pessoal. (Dênis Castro)
Figura 5. Amostras esterilizadas. Fonte: Arquivo pessoal (Dênis Castro)
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
25
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
Calculou-se a taxa de corrosão a partir dos resultados de perda de massa, de acordo com a seguinte norma vigente:
de comparar a intensidade da velocidade do processo corrosivo alcançado com os dados normativos.
a) Norma ASTMG1-90 (2003)
b) NACE-RP 07-15 (1999)
Taxa de Corrosão=
k.W
Onde:
A.T.D
Onde:
S = área exposta da superfície (mm2) k = constante para definir unidades (8,76 x 104 mm/ano)
T = tempo de exposição em dias
T= tempo de exposição em horas
D = densidade do metal em g.cm-3
A= área em cm2 W = perda de massa em gramas D = densidade em g.cm-3 para o aço carbono (7,86 g.cm-3). Para maior confiabilidade nos resultados utilizou-se como parâmetro de referência a norma NACE-RP 07-15 (1999), com a finalidade
Taxa de Corrosão (mm/ano)=
Resultados Como resposta à análise de perda de massa/ taxa de corrosão verificaram-se os dados obtidos experimentalmente para os tratamentos sem esterilização e com esterilização do solo, dispostos nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. Para avaliar a taxa de corrosão do aço carbono durante o ensaio de perda de massa, adotou-se a norma NACE RP-07-75 (1999) como parâmetro de referência que define a intensidade do processo corrosivo (Tabela 4).
perda de massa (g).365(dias/ano).1000 S.T.D
Tabela 2. Taxa de Corrosão do tratamento sem esterilização. TRATAMENTO
TEMPO APÓS SOLUÇÃO (h)
TAXA DE CORROSÃO mm/ano
1
720
0,4824
2
720
2,7000
3
720
8,1590
Fonte: Dados experimentais da dissertação de mestrado do autor: Dênis Castro Tabela 3. Taxa de Corrosão do tratamento com esterilização TRATAMENTO
TEMPO APÓS SOLUÇÃO (h)
TAXA DE CORROSÃO mm/ano
1
720
0,2307
2
720
0,2936
Fonte: Dados experimentais da dissertação de mestrado do autor: Dênis Castro Tabela
26
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
4. Classificação da Corrosividade Corrosão Uniforme (mm/ano)
Corrosão por pite (mm/ano)
Corrosividade
< 0,025
< 0,13
Baixa
0,025 a 0,25
0,13 a 0,20
Moderada
0,13 a 0,25
0,21 a 0,38
Alta
> 0,25
> 0,38
Severa
Fonte: NACE-RP-07-75 (1999)
Observou-se que os tratamentos sem esterilização 1, 2 e 3 apresentaram-se como taxas de corrosão classificadas como severas, em comparação com a classificação da norma NACERP-07-75. Contudo, vale ressaltar que houve um significativo diferencial da taxa de corrosão no tratamento 1 em comparação com o tratamento 2 e 3, já que o mesmo refere-se a uma análise com o solo argiloso in natura e as outras tratam-se de amostras com extrato aquoso de solo. Também deve ser mencionado que no tratamento 2, realizou-se o processo de limpeza do aço com álcool isopropílico fazendo com que se obtivesse uma resposta bem distante daquela apresentada no tratamento 3 (sem limpeza), confirmando, assim, que a corrosão é sempre mais elevada nas amostras de extrato aquoso. Notou-se, igualmente, que ao realizar a limpeza do aço tem-se a retirada da camada protetora do material, fazendo com que a reação de oxidação ocorra somente na superfície metálica (sem que haja o aprofundamento do ataque), ou ainda, a reação ocorreu somente com cromo, formando uma nova camada, não sendo destruída em pequeno intervalo de tempo. O mesmo não aconteceu com o tratamento 3 (sem a limpeza da amostra), que apresentou maior taxa de corrosividade, visto que a solução saturada de ferro é mais corrosiva, tendo mais facilidade de quebrar a camada protetora e continuar o ataque no material metálico. Para as análises com o solo esterilizado em autoclave, os tratamentos 1 e 2 mostram-se com alta e severa taxa de corrosão, respectivamente, de acordo com a norma NACE-RP-07-75. Então, pode-se inferir que utilizando o processo de esterilização do solo houve uma colaboração
significativa na minimização da corrosão. Porém, lembra-se, ainda, que não houve uma diferença considerável em termos de perda de massa entre ambas as amostras. Conclusões Por meio desses resultados, pode-se confirmar que as taxas de corrosão expressam a velocidade do desgaste verificado na superfície metálica e, de modo geral, mostram-se de grande importância para a determinação da vida útil provável de equipamentos e instalações industriais. De acordo com os dados da literatura, os aços de baixo carbono como o AISI 1020, devido a sua composição, se oxidam com extrema facilidade, apresentando baixa resistência à corrosão (PANOSSIAN, 1993). Mas, apesar dessa característica, essa liga metálica é, ainda hoje, o material mais comumente utilizado na construção de adutoras, oleodutos, gasodutos e minerodutos. Contudo, a corrosão mostra-se mais intensa quando o material é exposto a extratos aquosos, uma vez que a presença de íons como o cloreto potencializa o efeito corrosivo. Considerando que os tubos de aço carbono correspondem, hoje, a cerca de 90% das tubulações industriais, é primordial investir em métodos de controle ou prevenção da corrosão, em particular, quando há presença de micro-organismos em número expressivo (> 104 células/mL), cujo metabolismo concorre para intensificar o processo corrosivo. De acordo com Videla(2002), a concentração e a atividade dos microorganismos podem interferir intensamente na forma de prevenção da corrosão, inviabilizando economicamente a sua aplicação ou tornando-a ineficiente.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
27
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
Recomendações A realização do presente trabalho abre um leque de opções para estudos, que podem contribuir para uma profunda análise da corrosividade de metais no solo natural argiloso da região Amazônica, colaborando, também, em termos ambientais, ou seja, recomenda-se: a) Realizar um estudo mais aprofundado com um maior número de amostras com tratamento e com outros materiais (aço) utilizados em gasodutos regionais; b) Aplicar a técnica de Espectroscopia de Impedância eletroquímica na solução do extrato aquoso do solo, de forma a permitir a avaliação do efeito dos processos localizados de corrosão na curva de taxa da corrosão; c) Estudar a biodeterioração do aço AISI 1020 por micro-organismos; d) Estudar a aplicação de biocidas e a eficiência da bioeletroquímica aplicada à inibição de biofilmes em superfícies de metais; e) Estudar os mecanismos e reações envolvidas na corrosão do aço AISI 1020 por meio da Técnica NMP – número mais provável de bactérias e micro-organismos presentes na solução do extrato aquoso do solo, que podem agir como cofatores de corrosividade. Bibliografia ASTM - American Society for Testing and Materials. “ASTM D 422: Standard Test Method for Particle-Size Analysis of Soils” USA, 1998. ASTM - American Society for Testing and Materials. “ASTM D 4318: Standard Test Methods for Liquid Limit, Plastic Limit, and Plasticity Index of Soils” USA, 2000. ASTM - American Society for Testing and Materials. “ASTM D 854: Test Methods for Specific Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer” USA, 2002
28
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
ASTM G1 - 90/ 2003 - “Standard Practice for Preparing, Cleaning, and Evaluating Corrosion Test Specimens”l. DAS, B.M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. Editora Cengage Learning. Tradução da 7a edição norte-americana, 2012. GENTIL, V., Corrosão, 3 ed., Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científico Editora, 1996. G. TRABANELLI, F. ZUCCHI and M. ARPAIA, Chimica Pura Ed. Applicata, 3, 4, 43 (1972). MACDONALD, J. A., HOLBROOK, S., ISSIKI, T., WEISS, J., DOE, C. Q. and Mellerick D. M. (1998). Dorsoventral patterning in the drosophila central nervous system: the vnd homeobox gene specifies ventral column identity. Genes Dev. 12, 3603-3612. NACE Standard RP0715 - 1999, Control of External Corrosion on Underground or Submerged Metallic Piping Systems, (Houston, TX: NACE, 1999). NOBREGA, C.A.; CHANG, H. K. Avaliação Preliminar da Corrosividade de Solo com o Emprego de Resistividade Elétrica em uma Planta Industrial Utilizada para Armazenamento de Derivados de Petróleo, São Paulo, UNESP, Geociências, v, 22, N, Especial, 2003, p, 83-93. PANOSSIAN, Z. Corrosão e proteção contra a Corrosão em Equipamentos e Estruturas Metálicas, 1 ed, São Paulo: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1993, v. 2, 356p. SEDRIKS, A. J. Advanced materials in marine enviroments. Materials Performance, v. 3, n. 2, p. 56-63. 2004. VIDELA, H.A. Biocorrosão, Biofouling e Bioterioração de materiais. 1ª ed., Edgard Blücher Ltda. São Paulo, 2002.148 p.
Estudo da avaliação da corrosão do aço 1020 em um solo argiloso da Região Amazônica por meio da técnica de perda de massa
YANG, L. Techniques for corrosion monitoring, CRC Press, Cambridge - England, 2008. Dênis de Freitas Castro: Possui graduação em Química, pela Universidade Federal do Amazonas-Ufam e mestrado em Engenharia de Recursos da Amazônia, Ufam. Atualmente, é professor assistente nível 1 da Universidade Nilton Lins e membro do Grupo de Pesquisa, Educação, Saúde e Sustentabilidade na Amazônia, pela Universidade Nilton Lins. (denisodocort@yahoo.com.br) Raimundo Ribeiro Passos: Possui graduação em Licenciatura Plena em Química, pela Universidade Federal do Piauí (1997), mestrado em Físicoquímica, pela Universidade de São Paulo (2001), e doutorado em Físico-química, pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas. (rdopassos@gmail.com). Consuelo Alves da Frota: Bacharel em Engenharia Civil (1978) pela Universidade Federal
do Amazonas (Ufam), Mestra (1981) e Doutora (1985) em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Doutora, pela Universidade do Tennessee (UT), nos Estados Unidos (19901992). Atualmente, é Professora Associada da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade Federal do Amazonas, com atuação no âmbito da Engenharia Civil, com ênfase em Geotecnia. (cafrota@ufam.edu.br) Leandro Aparecido Pocrifka: Graduado em Química/Bacharelado, pela Universidade Estadual de Maringá (2001), mestrado em Físico-Química na Universidade Federal de São Carlos (2005), doutorado em Físico-Química, na Universidade Federal de São Carlos (2009), e Pós-Doutorado na Universidade de São Paulo (2010). Desenvolve projetos na área de Química de Materiais, com ênfase em: Eletroquímica, Sensores, Corrosão, Desenvolvimento de Novos Materiais e Nanotecnologia. Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas. (pocrifka@ufam.edu.br).
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
29
Artigo
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos Gabriele Aparecida de Souza e Souza
Resumo O presente artigo tem por finalidade apresentar aspectos gerais acerca da gestão de resíduo e lixo tecnológico no Polo Industrial de Manaus, cuja atuação, inquestionavelmente, tem sido de grande relevância para o desenvolvimento sustentável da região da Amazônia Ocidental. Eis que, nos tempos atuais, a tecnologia se encontra presente em quase todos os ambientes e, assim, a problemática a envolver a destinação dos resíduos tecnológicos já é uma realidade que interessa, também, ao Direito. Nesse sentido, o tema será abordado também à luz do Direito, em quatro tópicos, quais sejam: 1) o lixo tecnológico na era da tecnologia; 2) o Polo Industrial de Manaus como instrumento de preservação ambiental; 3) a gestão de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus e 4) aspectos jurídicos gerais da gestão de resíduos tecnológicos. Palavras-chave: resíduos tecnológicos; gestão; Polo Industrial de Manaus. Abstract The present article aims to present the general aspects about technological waste management in the Industrial Pole of Manaus, whose has undoubtedly been of great importance to the sustainable development of the western Amazon region. Nowadays, technology makes itself present in almost all environments and, therefore,
30
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
the problematic that involves the allocation of technological waste is already a reality that also matters to the Law. Under these circumstances, the main subject will be addressed, in the light of the Law too, in four topics, namely: 1) the technological waste in the age of technology; 2) the Industrial Pole of Manaus as an instrument for environmental preservation; 3) the management of technological waste in the Industrial Pole of Manaus, and 4) general legal aspects of the management of technological waste. Keywords: technological waste; management; Industrial Pole of Manaus. Introdução: o lixo tecnológico na era da tecnologia A tecnologia, indubitavelmente, está presente em quase a totalidade das coisas a nossa volta. Computadores, notebooks, celulares, tablets... Ar condicionado, televisores, geladeiras, fogões, microondas... Aparelhos leitores de DVD e de CD, carros, motos, brinquedos... Todos os citados e inúmeros não citados, para serem produzidos, passaram por um processo que envolve a utilização de tecnologia. Seguindo nesse raciocínio, a problemática do lixo tecnológico surge já do fato da produção, vislumbrando-se que, adiante, após o término do ciclo de vida dos produtos, a estes deverá
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
ser dada alguma destinação. Qual o destino adequado para os resíduos tecnológicos¹, essa é a indagação que motiva a presente explanação. E, sendo assim, é importante diferenciar, desde logo, o lixo do resíduo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS (Lei n° 12.305/2010), promulgada em meados de 2010, é esclarecedora quanto à diferença entre lixo e resíduo. O primeiro, na legislação, é chamado por rejeito e se refere, conforme o art. 3º, inciso XV da Lei, aos resíduos sólidos que, após passarem por todos os tratamentos possíveis para a sua reutilização ou reaproveitamento na cadeia produtiva, não apresentam outra possibilidade que não serem dispostos em locais criados para a finalidade de servi-los como depósito, a exemplo dos aterros sanitários. O resíduo, por sua vez, é, com fulcro no Art. 3º, XVI e outros da PNRS, o material, substância ou bem descartado, proveniente das atividades humanas, ao qual pode ser dado tratamento ou recuperação por meio de processos tecnológicos e economicamente viáveis. Dessa feita, a reutilização² e a reciclagem³ para os resíduos sólidos surgem como instrumentos para que os mesmos retornem, seja no estado em que se encontram ou em estado diverso, à cadeia de produção. Veja-se que, em nenhum momento, se está a afirmar que a solução para a questão posta é parar de produzir. De fato, a geração de lixo é inevitável, sendo presumida a existência de rejeitos ao fim de toda e qualquer cadeia produtiva. Deve-se, contudo, sempre que possível, combater
a inadequação no descarte de resíduos, diminuindo-se, dessa maneira, os efeitos negativos que ocasionam aos seres humanos. O cerne do problema a envolver o descarte dos produtos tecnológicos é mesmo não aplicar, na prática, a diferença entre resíduo e rejeito, constatando-se que não raras são as vezes em que os resíduos são tratados como lixo, tanto pelas pequenas comunidades (casas de particulares, consumidores...) quanto pelas grandes comunidades (indústrias, comércios, produtores...). As consequências disso se manifestam, sobretudo, nos inúmeros inconvenientes ambientais e nas incalculáveis perdas econômicas e sociais. O Polo Industrial de Manaus como instrumento ambiental Todo o exposto anteriormente, quando pensado no contexto da região amazônica ganha elevadíssima potência, já pela relevância de se preservar a floresta, da qual, é sabido, depende o equilíbrio de inumeráveis ecossistemas no planeta. Afora isso, à conta de muitas disputas políticas, as quais não cabe aqui detalhar, a região possui a Zona Franca de Manaus – ZFM –, a atuar como instrumento de manutenção do meio ambiente sem, entretanto, deixar de gerar emprego e renda através da atividade industrial (um paradoxo, ao menos aparentemente). O fato é que a ZFM, da qual o principal expoente é o complexo de indústrias conhecido como Polo Industrial de Manaus – PIM –, tem por objetivo o desenvolvimento regional concomitantemente à promoção da sustentabilidade da Amazônia
¹ No presente artigo, a expressão lixo tecnológico é utilizada sob a definição trazida na Diretiva 2002/96/EC de 27 de janeiro de 2003 sobre lixo eletrônico, do Parlamento europeu. Na conceituação trazida pelo documento, o lixo eletrônico é aquele sobrevindo ao ciclo de vida de ‘’equipamentos elétricos e eletrônicos, incluídos todos os componentes, subconjuntos e consumíveis que fazem parte do produto no momento da devolução’’. (WEEE. Diretiva 2002/96/EC de 27 de janeiro de 2003 sobre lixo eletrônico, do Parlamento europeu. Disponível em <http://www.weeeregistration.com/ weee-directive.html>, Acesso em 29 de julho de 2012). Ao resíduo, conforme será explanado adiante, pode ser dado tratamento ou recuperação por meio de processos tecnológicos e economicamente viáveis, diferentemente do lixo. ² No Art. 3o, Inciso XVIII, da Lei no 12.305/2010, a reutilização é um processo por meio do qual se aproveitam os resíduos sólidos sem que estes sejam transformados em sua concepção biológica, física ou físico-química. ³ O conceito de reciclagem encontra-se disposto no Inciso XIV do Art. 3º da Política de Resíduos e, consoante o dispositivo, é um processo em que os resíduos sólidos são transformados, alterando-se as suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, visando à sua utilização como insumos ou novos produtos.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
31
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
Ocidental. Conforme relatório sobre a gestão de resíduos industriais feito pela Japan International Cooperation Agency (JICA) em cooperação com o governo brasileiro: O objetivo da Zona Franca de Manaus (ZFM), um modelo de desenvolvimento econômico desenvolvido pelo governo brasileiro, não é de explorar os valiosos recursos naturais da Amazônia, que são reconhecidos em todo o mundo, mas sim de proporcionar a sustentabilidade da Amazônia Ocidental4. Afora isso, (...) a presença do PIM, em Manaus, por desenvolver atividades econômicas com ausência ou baixa utilização de recursos florestais em seus insumos e por impulsionar outros setores da economia com o mesmo padrão produtivo, como o de serviços, colabora com a redução de 85% a 86% do desmatamento na região de Manaus. Portanto, a existência do PIM contribuiu para a preservação da floresta amazônica, evitando o desmatamento de cerca de 5,2 mil km2, no ano de 19975. Segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa –, a referida Zona responde pela criação de, aproximadamente, 400.000 empregos indiretos e 100.000 diretos, nas mais
de 600 empresas, nacionais e multinacionais, instaladas no Polo Industrial. Ainda, em 2008, seu faturamento foi superior a US$ 30,1 bilhões, lançando o Amazonas na terceira posição no ranking de Estados brasileiros que mais arrecadam com o setor industrial6. Nessa esteira de pensamento, a ZFM bem está atendendo ao propósito para o qual foi criada, que é o de manter a floresta em pé. Se não fosse o complexo industrial, a renda de considerável parte da população local, certamente, dependeria da extração direta de recursos naturais, nem sempre plenamente controlável pelos órgãos de fiscalização ambiental, o que comprometeria muito mais a integridade do meio ambiente. Apesar disso, em tendo como objetivo a promoção do desenvolvimento sustentável da região em que atua, o PIM deve sempre pôr em pauta a destinação que dá aos resíduos que produz. Sendo o objetivo do presente artigo a explanação sobre tal temática, adiante, abordaremos algumas questões sobre a gestão de resíduos tecnológicos pelo referido complexo industrial. A Gestão de resíduos tecnológicos no Polo Industrial Um pouco mais interessa aos propósitos do presente texto observar os resíduos tecnológicos gerados pela ZFM. Dessa forma, sem embargo, o PIM reúne indústrias que utilizam tecnologia de ponta, com destaque para a produção de eletroeletrônicos, veículos de duas rodas, produtos
SUFRAMA. Estudo para o Desenvolvimento de uma Solução Integrada Relativa à Gestão de Resíduos Industriais no Polo Industrial de Manaus – Relatório Final (agosto de 2010), realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em cooperação com a República Federativa do Brasil, p. 34. Disponível em: <https://www.suframa.gov.br/ download/ publicacoes/jica/relatorios/GEJR10089%20RELATORIO%20PRINCIPAL.pdf>, Acesso em: 13 de maio de 2014. 5 MOTA, José Aroudo; JR, José O. Cândido. O efeito PIM: análise contrafactual. In: RIVAS, Alexandre Almir Ferreira; MOTA, José Aroudo; e MACHADO, José Alberto da Costa (organizadores). Instrumentos econômicos para a proteção da Amazônia: a experiência do Polo Industrial de Manaus. 1ª edição. Curitiba: Editora CRV; Coeditora: PIATAM, 2009, p. 151 e p. 152. 6 SUFRAMA. Modelo Zona Franca - Desenvolvimento regional sustentável. Disponível em: <http://www.suframa.gov.br/ zfm_desenvolvimento_regional.cfm>, Acesso em 13: de maio de 2014. 7 SUFRAMA. Modelo Zona Franca – Indústria. Disponível em: <http://www.suframa.gov.br/zfm_ industria.cfm>, Acesso em: 13 de maio de 2014). 4
32
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
ópticos e produtos de informática7. Conforme estudo disponibilizado no sítio virtual da Suframa8, em 2010, os eletroeletrônicos e materiais de comunicação, conjuntamente, foram responsáveis pela geração de 174,1 tonelada/dia de resíduos. Deste montante, 16,77% se referiu a resíduos perigosos ou, em números, 29,2 tonelada/dia. O estudo também divulgou dados relativos à gestão interna e à gestão externa de resíduos no Polo Industrial de Manaus. Quanto ao primeiro tipo de gestão citado, este se consubstancia no tratamento dos resíduos anteriormente ao seu descarte além-muros das fábricas que os geraram, tendo estreita relação com a política adotada em cada empresa para a reutilização ou reciclagem de insumos, para serem reaproveitados na própria cadeia de produção. A gestão externa, por sua vez, tem a ver com os resíduos descartados pelas fábricas e recolhidos pelas empresas de coleta oriundas de fora do ambiente fabril. Chegou-se nos seguintes percentuais quanto aos resíduos industriais produzidos no PIM9:
Notadamente, é baixo o percentual referente ao descarte interno e alto o descarte externo, representando, na prática, o desperdício de insumos, a oneração do meio ambiente e as consequentes perdas econômicas e sociais advindas desse cenário. Isso porque se acaba antecipando o fim da vida útil do insumo, todas as vezes que é descartado sem passar por processos que lhe possibilitem ser, novamente, produtivo, com a sua reutilização, reciclagem ou outro processo técnico possível e viável do ponto de vista financeiro. É conclusão do mesmo estudo-base que, apesar de se presumir que no futuro haverá aumento da quantidade de resíduos industriais gerados pelo PIM, a maioria das fábricas ainda não formulou um plano de melhoria de gestão para os resíduos que gera. E, diante disso, as indústrias ainda não se sentem motivadas a criar um sistema de gerenciamento interno para seus resíduos. A razão para um percentual tão baixo de descarte interno de resíduos é o custo drasticamente baixo do descarte externo. Particularmente, provavelmente isto se deva ao fato de que o aterro da cidade de Manaus, local para onde é enviada a maior parte dos RI [Resíduos Industriais], não
Tipo de Resíduo
Percentual de Descarte Interno Percentual de Descarte Externo
Resíduo Industrial
4,5%
95,5%
Resíduo Industrial Não Perigoso
4,7%
95,3%
Resíduo Industrial Perigoso
3,5%
96,5%
SUFRAMA. Estudo para o Desenvolvimento de uma Solução Integrada Relativa à Gestão de Resíduos Industriais no Polo Industrial de Manaus – Relatório Final (agosto de 2010), realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em cooperação com a República Federativa do Brasil, p. 204. Disponível em: <https://www.suframa.gov.br/download/publicacoes/jica/relatorios/GEJR10089%20RELATORIO%20PRINCIPAL.pdf>, Acesso em: 13 de maio de 2014. 9 Os dados expostos na tabela podem ser encontrados em: SUFRAMA. Estudo para o Desenvolvimento de uma Solução Integrada Relativa à Gestão de Resíduos Industriais no Polo Industrial de Manaus – Relatório Final (Agosto de 2010), realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em cooperação com a República Federativa do Brasil, p. 129. Disponível em: <https://www.suframa.gov.br/download/publicacoes/jica/relatorios/GEJR 10089%20RELATORIO%20PRINCIPAL.pdf>, Acesso em: 13 de maio de 2014. 10 SUFRAMA. Estudo para o Desenvolvimento de uma Solução Integrada Relativa à Gestão de Resíduos Industriais no Polo Industrial de Manaus – Relatório Final (Agosto de 2010), realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em cooperação com a República Federativa do Brasil, p. 204. Disponível em: <https://www.suframa.gov.br/ download/publicacoes/jica/relatorios/GEJR10089%20RELATORIO%20PRINCIPAL.pdf>, Acesso em: 13 de maio 8
de 2014.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
33
Imagens:Google Images
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
cobra taxa de descarte10. Ao que parece, há um desconhecimento geral sobre as reais consequências do descarte externo, como a existência de empresas de coleta nem sempre regulares com os órgãos ambientais. Além disso, parece faltar compreensão sobre os benefícios trazidos com a gestão interna, dentre os quais a própria redução nos custos da produção, com a economia para a extração de novos insumos. Aspectos jurídicos gerais da gestão de resíduos tecnológicos O Art. 225 da Constituição Federal11 inicia o capítulo, dessa Carta Magna que é voltada especificamente ao meio ambiente, estabelecendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental reconhecido a todos e que todos por esse direito devem zelar. No contexto ambiental desses tempos atuais, surgem
com força as questões acerca da gestão dos resíduos sólidos. Tanto é assim que existe a Lei n° 12.305/2010 a regulamentar a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a prever diversos instrumentos para a redução dos impactos surgidos da sua geração. Prosseguindo no raciocínio, nessa era da tecnologia, inevitavelmente se farão notar as questões sobre os resíduos oriundos das atividades industriais. Computadores, notebooks, celulares, tablets... Ar-condicionado, televisores, geladeiras, fogões, micro-ondas... Quando não servirem mais ao consumidor, onde findarão? Assim é que a Política de Resíduos prevê, no seu Art. 30 e seguintes, a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos para o adequado gerenciamento de resíduos sólidos.
Veja-se o dispositivo mencionado, in verbis: ‘’Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações’’. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>, Acesso em: 13 de maio de 2014). 11
34
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
Viabiliza-se, através da logística reversa, a coleta e a restituição dos resíduos às indústrias e o seu reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, por meio de procedimentos tecnicamente possíveis e economicamente viáveis. Isso ou outra disposição ambientalmente adequada.
Observe-se que a destinação correta de qualquer espécie de resíduo, tecnológico ou não, compete, de modo compartilhado, ao setor produtivo, ao Estado e também à sociedade. Contudo, é inegável a importância da colaboração das indústrias para o cumprimento dos objetivos da Lei no 12.305/2010.
Tal política de resíduos, a englobar a ação de diversos grupos na sociedade, também favorece a todos. Inegavelmente, são muitos os benefícios surgidos relativamente ao meio ambiente, já pela simples economia de matéria-prima virgem. Afora isso, indubitavelmente há melhorias econômicas e sociais com o descarte correto desses materiais.
No que se refere ao gerenciamento de resíduos sólidos gerados no Polo Industrial de Manaus, constatou-se ser muito superior o descarte externo quando em comparação com o seu descarte interno, o mesmo se verificando quanto aos resíduos industriais, dos quais grande parte é composta de equipamentos eletroeletrônicos (televisores, celulares, microcomputadores, entre outros).
Sobre o aspecto ambiental, as políticas de resíduos, se bem aplicadas, representam a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, por meio da identificação e correção, tempestivamente, dos possíveis danos causados ao meio ambiente e, finalmente, da redução da quantidade de lixo encaminhada aos aterros. Nas esferas econômica e social, a Lei de Resíduos propicia, entre outros, a aproximação entre órgãos públicos de proteção ao meio ambiente e as associações de catadores, com cooperação mútua em prol de objetivos comuns. Há, também, por consequência, melhorias na estrutura dessas associações e nas condições de negociação dos seus produtos com o mercado, com a dinamização e autonomia do trabalho que desempenham. Ao final, com a gestão adequada de resíduos sólidos, somente o rejeito/lixo, que não pôde ser reaproveitado (reutilizado, reciclado, compostado, ou outros), será distribuído ordenadamente em aterros, de modo que se evitem danos e/ou riscos à saúde pública e que sejam minimizados os impactos ambientais e seus efeitos negativos à comunidade. Considerações finais Com a presente explanação, não se quer dizer que a responsabilidade pela gestão adequada de resíduos seja unicamente das indústrias.
Na prática, isso significa que continuamente há um enorme desperdício de recursos ambientais, além daqueles econômicos e os sociais, estes últimos nem sempre estimáveis do ponto de vista financeiro. É preciso, então, estimular as empresas, inclusive aquelas do Polo Industrial de Manaus, à prática da logística reversa, de maneira que resíduo não se torne lixo antecipadamente e que se vivenciem os benefícios que esse instrumento representa para toda a sociedade. Bibliografia BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>, Acesso em: 13 de maio de 2014. BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/ l12305.htm>, Acesso em: 13 de maio de 2014. MESQUITA Júnior, José Maria de. Gestão integrada de resíduos sólidos. Coordenação de Karin Segala. Rio de Janeiro: IBAM, 2007. Disponível em: <http:// livroaberto.ibict. br/handle/1/796>, Acesso em: 15 de maio de 2014.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
35
A geração de resíduos tecnológicos no Polo Industrial de Manaus: Aspectos gerais de gestão e alguns apontamentos jurídicos correlatos
WEEE. Diretiva 2002/96/EC de 27 de janeiro de 2003 sobre lixo eletrônico, do Parlamento europeu. Disponível em <http://www. weeeregistration.com/weee-directive. html>, Acesso em: 29 de julho de 2012. SUFRAMA. Estudo para o Desenvolvimento de uma Solução Integrada Relativa à Gestão de Resíduos Industriais no Polo Industrial de Manaus – Relatório Final (agosto de 2010), realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em cooperação com a República Federativa do Brasil. Disponível em: <https://www. suframa.gov.br/download/publicacoes/jica/ relatorios/GEJR10089%20RELATORIO%20 PRINCIPAL.pdf>, Acesso em: 13 de maio de 2014. SUFRAMA. Modelo Zona Franca Desenvolvimento regional sustentável. Disponível em: <http://www.suframa.gov. br/zfm_desenvolvimento_regional.cfm>, Acesso em: 13 de maio 2014. SUFRAMA. Modelo Zona Franca – Indústria. Disponível em: <http://www.suframa.gov. br/zfm_industria.cfm >, Acesso em: 13 de maio de 2014. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO
36
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
AMAZONAS. Relatório de Auditoria Operacional realizada no Programa de Governo “Manaus mais Limpa”, na área de Resíduos Sólidos Urbanos – RSU. Disponível em: <http://www.tce.am. gov. br/portal/wp-content/ uploads/relatorio_RSU.pdf>, Acesso em: 14 de maio de 2014. RIVAS, Alexandre Almir Ferreira; MOTA, José Aroudo; e MACHADO, José Alberto da Costa (organizadores). Instrumentos econômicos para a proteção da Amazônia: a experiência do Polo Industrial de Manaus. 1ª edição. Curitiba: Editora CRV; Coeditora: PIATAM, 2009. Disponível em: <http:// www.suframa. gov.br/riomais20/documentos/instrumentos-economicos-para-a-protecao-da-amaz onia_portugues.pdf>, Acesso em: 15 de maio de 2014. Gabriele Aparecida de Souza e Souza: Acadêmica do Curso de Bacharelado em Direito na Universidade do Estado do Amazonas. Pesquisadora-bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa Científica – PAIC/FAPEAM – no biênio 2011/2012 na área de Direito Ambiental, com o tema ‘O descarte de resíduos sólidos na cidade de Manaus’, projeto de pesquisa desenvolvido sob a orientação do Prof. MsC. Daniel Antonio de Aquino Neto.
Artigo
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica Willamy Moreira Frota, Roland Céspedes Arteaga, Whylker Moreira Frota, Brígida Ramati Pereira da Rocha e José Pissolato Filho
Resumo O elevado custo da produção de energia elétrica na região Amazônica, utilizando óleos combustíveis derivados de petróleo, e a dificuldade da segurança energética no atendimento ao seu mercado podem ser considerados como fatores de limitação ao desenvolvimento regional. Nesse contexto, o presente trabalho analisa os custos dessa energia primária e identifica que a projeção de redução desses custos, estimada a valor presente, será da ordem de R$ 1,5 bilhão por ano, com a substituição da energia produzida, com derivados de petróleo, nas usinas termoelétricas do Sistema Elétrico da Cidade de Manaus (AM), pela energia equivalente proveniente da sua interconexão elétrica, na tensão de 500 kV, com o Sistema Interligado Nacional (SIN), através da Linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus; que possibilitará, também, o suprimento à capital Macapá (AP), em 230 kV, e o planejamento da expansão do Sistema de Transmissão para as capitais Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), permitindo aumentar a segurança energética e a integração elétrica de todos os Estados da região Amazônica. Palavras-chave: Energia Elétrica, Sistemas Elétrico de Manaus, Linhas de Transmissão, Desenvolvimento Regional. Abstract The high cost of electricity production, using pe-
troleum oils and the difficulty of energy security to attend the demand in the Amazon region, may be considered as a limiting factor for regional development. In this context , this paper analyzes the costs of primary energy and identifies that the projection to reduce these costs, estimated in the present days, will be around R$ 1,5 billion per year, by the substitution of the energy produced, with petroleum oils, by the thermal power plants of the Electrical System of the City of Manaus (AM) by the energy equivalent from its electric interconnection, voltage of 500 kV, with the National Interconnected System (SIN), through Transmission Line Tucuruí-Macapá-Manaus, which will also permit the supply to the capital Macapá ( AP ), voltage of 230 kV, and the expansion planning of the transmission system to the capitals Boa Vista ( RR ) and Porto Velho ( RO ), which increase the energy security and electrical integration of States of the Amazon region. Keywords: Electrical Energy, Electrical System Manaus, Transmission Lines, Regional Development. Introdução O sistema elétrico brasileiro é constituído por um grande sistema interligado de porte continental, que conecta as regiões Sul, Sudeste, CentroOeste, Nordeste e parte da Região Norte, e de centenas de pequenos sistemas isolados, localizados, principalmente, na região Amazônica.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
37
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
Esses sistemas isolados são responsáveis pelo fornecimento de energia elétrica a consumidores localizados nos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Amapá e Mato Grosso, bem como na ilha de Fernando de Noronha (PE). A geração nesses sistemas é, predominantemente, térmica, à base de combustíveis derivados de petróleo, e caracteriza-se pelo elevado número de pequenas unidades geradoras e pela grande dificuldade de logística de abastecimento. Nesse cenário, é fundamental a definição de um planejamento energético para a região Amazônica, em especial para o Estado do Amazonas, que possui a maior geração térmica a óleo combustível do Setor Elétrico Brasileiro, baseado na concepção de desenvolvimento sustentável, que vise aos seguintes objetivos principais: (i) promover a modicidade tarifária, que é o fator essencial para o atendimento da função social da energia e que concorre para a melhoria da competitividade da economia; (ii) garantir a segurança do suprimento de energia elétrica, condição básica para o desenvolvimento econômico sustentável; (iii) assegurar a estabilidade do marco regulatório, com vistas
à atratividade dos investimentos na expansão do sistema; e (iv) promover a inserção social por meio do setor elétrico, em particular dos programas de universalização de atendimento. O atendimento às necessidades de energia elétrica a essa Região adquire, portanto, prioridade dentre os objetivos constitucionais de redução de desigualdades regionais (FROTA, 2004). Na figura 01, está apresentada a relação de concessionárias estaduais e federais de energia elétrica que atuavam na região Amazônica em 2014. A Eletrobras Amazonas Energia (AmE) é a concessionária responsável pela geração, transmissão e distribuição de energia elétrica em todo o Estado do Amazonas, que possui o maior mercado de energia elétrica da Amazônia Ocidental, atendendo à estrutura de consumo das classes residencial, comercial e industrial, que apresentou a maior participação da estrutura de consumo (38%) do Sistema Manaus, no ano de 2012 (AmE, 2012), seguido pelas classes residencial (24%) e comercial (22%), conforme pode ser observado na Figura 02.
Figura 01 – Concessionárias Distribuidoras de Energia Elétrica da Amazônia. Fonte: Própria (2014).
38
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
Figura 02 – Estrutura de Consumo por Classe do Sistema Manaus – Ano 2012 Fonte: AmE (2012)
A expressiva participação da classe industrial foi decorrente das indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM). A classe outros, que corresponde a 16% do consumo total da capital Manaus, está associada ao consumo das seguintes classes: poder público, iluminação pública, serviços públicos e consumo próprio da empresa concessionária. Para atender esse mercado, nesse ano de 2014, o Estado é atendido por sistemas isolados, exceto a capital Manaus e as cidades de Iranduba, Manacapuru e Presidente Figueiredo, que registraram uma demanda máxima histórica de 1.365,10 MW, no dia 24.09.2013, que são atendidas pelo parque de geração hidrotérmico da empresa AmE. Esse parque de geração é composto pela Usina Hidroelétrica (UHE) de Balbina, com 250 MW de capacidade nominal instalada (AmE, 2012), e pelo parque termoelétrico, sob gestão técnica e operacional da concessionária Eletrobras Amazonas Energia; e, ainda, pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), através da Linha de Transmissão em 500 kV, circuito duplo, da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, no Estado do Pará, até a cidade de Manaus.
responsáveis pelas ações em planejamento e desenvolvimento energético, contemplou, até o presente ano, o atendimento ao Sistema Elétrico de Manaus com dois projetos estruturantes e integrados: (i) o aproveitamento do gás natural da província de Urucu, no município de Coari (AM), para as máquinas térmicas que foram convertidas e estão em operação comercial; e um novo empreendimento, que está em construção, de uma usina a gás natural, em ciclo combinado, com potência na faixa de 570 MW, no parque gerador de Manaus, para a utilização desse potencial energético, em função do volume de gás disponibilizado e contratado; e (ii) a interconexão elétrica Tucuruí–Macapá–Manaus, que possibilitou, no ano de 2013, a conexão elétrica desse sistema elétrico à rede básica de transmissão do Sistema Interligado Nacional. Essa interconexão elétrica do Sistema Manaus ao Sistema Interligado Nacional (SIN) está criando uma real expectativa de desenvolvimento industrial na região Amazônica, ao oferecer uma energia de menor custo e com a mesma qualidade e confiabilidade da rede básica de transmissão que atende às demais regiões do País.
Nesse cenário, observa-se que o planejamento energético brasileiro, através do Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que são os órgão institucionais
Metodologia A metodologia adotada neste trabalho consiste; primeiramente, em identificar as variáveis que
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
39
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
influenciam os custos da produção de energia elétrica, que utilizam óleos combustíveis derivados de petróleo, no Sistema Elétrico de Manaus, bem como o levantamento das informações econômico-financeiras e operacionais através de pesquisas nos relatórios do Grupo Técnico Operacional da Região Norte–GTON/Eletrobras (GTON, 2013) e da empresa Eletrobras Amazonas Energia (AmE, 2012). As informações disponíveis nesses relatórios serviram de referência para a elaboração do cenário de projeção de redução de custos anuais, a valor presente, com óleos combustíveis, para geração térmica, utilizando-se os custos dos diversos tipos de combustíveis associados às características e ao consumo de cada usina do parque térmico do Sistema Manaus. Com essas premissas, foram consideradas e analisadas as condições de atendimento a esse mercado de energia elétrica com a integração do Sistema Elétrico da cidade de Manaus ao Sistema Interligado Nacional (SIN), através da Linha de Transmissão Tucuruí–Manaus, circuito duplo em 500 kV, que iniciou sua operação comercial no início do segundo semestre de 2013. Em seguida, foram simulados os impactos econômicos com o cálculo da redução de custos com a aquisição de óleos combustíveis derivados de petróleo para a geração térmica em função da
entrada em operação da Linha de Transmissão Tucuruí – Manaus, na matriz elétrica da cidade de Manaus, considerando a mesma quantidade de energia elétrica produzida pelas usinas térmicas versus a energia fornecida pela interligação com a rede básica de transmissão. Parque gerador à base de óleo diesel e óleo combustível do sistema elétrico de Manaus Para realizar o atendimento ao Sistema Manaus, bem como às cidades de Iranduba, Manacapuru e Presidente Figueiredo, a Eletrobras Amazonas Energia dispõe de geração hidráulica (UHEBalbina – Potência instalada de 250 MVA) e térmica próprias, geração contratada dos PIE Breitener Tambaqui, Breitener Jaraqui, Manauara, Gera e Amazonas Energia, bem como geração de aluguel contratada de diversas empresas nas Usinas Termelétricas–UTEs Cidade Nova, Flores, São José, Mauá Bloco V, VI e VII, Distrito (Electron Expansão) e em Iranduba; além da Linha de Transmissão, na tensão de 500 kV, Tucuruí– Manaus. Os custos dessa geração térmica são suportados, em grande parte, pelas transferências de recursos obtidos através de subsídios da Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), fundo setorial destinado a cobrir os gastos com a produção de energia térmica nos sistemas isolados e pago por todos os consumidores brasileiros. A tabela 01 apresenta a composição desse parque
Tabela 01 – Parques de geração térmica que utilizam combustíveis derivados de petróleo – Sistema Manaus – Ano 2013
SISTEMA MANAUS – USINAS QUE UTILIZAM ÓLEOS DERIVADOS DE PETRÓLEO COMBUSTÍVEIS USINAS
COMBUSTÍVEL
POTÊNCIA NOMINAL [MW]
POTÊNCIA EFETIVA [MW]
APARECIDA
PTE [l]
40,0
40,0
BLOCO IV - WARTSILA BLOCO I - MAUÁ
PGE [kg] 157,5 ÓLEO COMBUST. OC-1A [kg] 136,0
ELETRON
PTE [l]
60,0
ÓLEO DIESEL [l]
470,0
470
863,5
832,5
UTEs (GERAÇÃO ALUGADA) TOTAL Fonte: AmE (2012)
40
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
COMO
157,5 114,0
51,0
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
de geração térmica, que utiliza os energéticos óleo combustível e óleo diesel para atender ao
concessão do empreendimento.
mercado de enérgica elétrica dessas localidades.
A conclusão desse empreendimento, no ano de 2013, e dos sistemas de transmissão associados nas cidades de Manaus e Macapá, que estão sendo executados pelas concessionárias Eletrobras Amazonas Energia e Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), respectivamente, com previsão de conclusão para o ano de 2015, beneficiará uma população superior a 2 milhões de habitantes (IBGE, 2010), principalmente nas capitais Manaus e Macapá, planejadas para ser regiões de Zona Franca, que ainda apresentam algumas restrições de disponibilidade de energia, requerendo soluções de curto prazo, principalmente para a capital do Estado do Amazonas, que possui o Polo Industrial de Manaus (PIM), composto por mais de 500 indústrias que empregavam, em dezembro de 2013, mais de 125 mil trabalhadores, entre efetivos, temporários e terceirizados, e que registrou um faturamento de R$ 83,28 bilhões, no ano de 2013 (SUFRAMA, 2014).
Observa-se que a maior participação do parque térmico são as UTEs que utilizam o óleo diesel, com potência total de 470 MW. Em seguida, são as usinas: (i) Bloco IV-Wartsila, com potência de 157,5 MW, que utiliza o combustível PGE (óleo pesado para geração de energia); (ii) Bloco I-Mauá, com potência de 136,0 MW, com óleo OC-1A (óleo combustível para turbinas vapor); e (iii) Aparecida (40,0 MW) e Electron (60,0 MW), que utilizam o PTE (óleo leve para turbinas elétricas) como energético. Interligação elétrica dos sistemas isolados de Manaus e Macapá ao Sistema Interligado Nacional (SIN) Ao longo das últimas décadas, os agentes do setor elétrico brasileiro vinham desenvolvendo estudos com o objetivo de atender ao mercado da cidade de Manaus (AM), por meio de um sistema de transmissão interligando a Usina Hidrelétrica (UHE) de Tucuruí, com potência total instalada de 8.370 MW, no Rio Tocantins, no Estado do Pará, àquela cidade, que permitiria, também, atender aos mercados da margem esquerda do Rio Amazonas, nos Estados do Amazonas e Pará, além de propiciar uma conexão elétrica para o Estado do Amapá. Esses estudos direcionaram a decisão do governo brasileiro, através dos agentes institucionais do setor elétrico, de construir a Linha de Transmissão Tucuruí–Macapá–Manaus. Essa Linha de Transmissão, objeto do Leilão Nº 004/2008 – ANEEL, Lotes A, B e C, nas tensões de 500 kV (Manaus) e 230 kV (Macapá), circuito duplo, com investimentos superiores a R$ 3,0 bilhões e extensão total da ordem de 1.800 km (ANEEL, 2012) é formada por cinco trechos: Tucuruí-Jurupari (500 kV e 509 km), JurupariOriximiná (500 kV, 349 km), Jurupari-Macapá (230 kV, 333 km), Oriximiná-Silves (500 kV, 334,5 km) e Silves-Lechuga (500 kV, 223,7 km), que permitirá aos investidores a geração de uma Receita Anual Permitida (RAP) de, aproximadamente, R$ 250 milhões ao longo dos 30 de
A Linha de Transmissão Tucuruí–Manaus, circuito duplo em 500 kV (Lotes A e C), energizada no dia 9 de julho de 2013, possui uma capacidade de transformação de 1.800 MVA–500/230 kV na Subestação Lechuga, na cidade de Manaus, e está contribuindo com o atendimento ao mercado de energia elétrica do Sistema Manaus. O trecho associado ao lote B (Jurupari–Macapá), circuito duplo em 230 kV, está em fase final de conclusão, com previsão de energização para o ano de 2015, o que possibilitará a desativação do parque térmico que atende ao Sistema Macapá. Devido às peculiaridades da região Amazônica, a construção da Linha de Transmissão Tucuruí– Macapá–Manaus exigiu um esforço pioneiro da engenharia brasileira devido aos diversos desafios logísticos, ambientais, tecnológicos e de capacitação de pessoal para possibilitar a montagem de cada torre e o lançamento dos cabos condutores em um terreno instável e em meio a um longo e isolado trecho da floresta Amazônica. A Linha de Transmissão, em 500 kV, Tucuruí–Manaus, possui um comprimento de 1.481 km, com o maior vão entre torres de
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
41
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
3.200 metros, para possibilitar a travessia do Rio Amazonas, 2.870 torres com alturas de até 295 metros (figura 03), equivalentes a prédios de 100 andares e quase a altura da Torre Eiffel da capital Paris (França), sendo as maiores torres do Setor Elétrico Brasileiro. A derivação desse sistema de transmissão, em 230 kV, na ilha de Jurupari (PA) para a capital Macapá, possui um comprimento de 339 km e 708 torres. Economia financeira com a substituição de geração térmica a derivados de petróleo pela energia da linha de transmisão TucuruíManaus Para efeito de cálculos, foram considerados, para o ano de 2014, as usinas que utilizavam óleos derivados de petróleo para a geração de energia elétrica para atender ao Sistema Manaus, bem como: (i) as respectiva potências instaladas e efetivas; (ii) os consumos específicos das unidades geradoras; (iii) a energia gerada anualmente; e (iv) os custos dos respectivos combustíveis. Assim, os cálculos realizados, bem como a projeção anual de redução de custos estão apresentados na tabela 02.
Nessa análise, identifica-se que os maiores custos com combustíveis derivados de petróleo para a geração térmica de energia estão associados aos óleos combustíveis PTE e OC-1A, com valores de R$ 869,74/MWh e R$ 813,46/MWh, respectivamente. Enquanto que o custo com o óleo diesel é de R$ 685,00/MWh e com o óleo PGE é de R$ 421,95/MWh. Registra-se que esses custos seriam insuportáveis se fossem repassados integralmente para as tarifas de energia elétrica dos consumidores do Estado do Amazonas. Conclusão As análises desenvolvidas nesse estudo demonstram que haverá uma redução expressiva, de imediato, dos custos no processo de produção de energia térmica do Sistema Elétrico de Manaus com a substituição da energia elétrica gerada por usinas térmicas, que utilizam os energéticos óleo combustível e óleo diesel, derivados de petróleo, pela energia proveniente da Linha de Transmissão Tucuruí–Macapá–Manaus. Essa redução sinaliza uma economia com combustíveis derivados de petróleo da ordem de R$ 1,5 bilhão por ano (tabela 02) para o
Figura 03 – Alturas das torres do Sistema de Transmissão Tucuruí–Macapá–Manaus Fonte: Própria (2014)
42
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
Tabela 02 – Projeção de redução custos – Estimativa 2014
CUSTOS DOS COMBUSTÍVEIS DERIVADOS DE PETRÓLEO – USINAS TÉRMICAS DO SISTEMA MANAUS – ANO 2013 ENERGIA CONSUMO PREÇO CONSUMO COMBUSTÍVEIS GERADA EPECÍFICO [l/ [R$/l; R$/ CUSTO ANUAL [R$] [l; kg] [MWh] kWh; kg/kWh] kg] PTE [l] 16.914.568 42.120,38 0,402 2,1660 36.633.954,29 PGE [kg] 89.082.930 446.144,59 0,200 2,1132 188.250.047,68 OC-1A [kg] 81.237.004 185.999,22 0,437 1,8625 151.303.919,95 ÓLEO DIESEL [l] 489.183.917 1.718.434,62 0,285 2,4063 1.177.123.259,48 TOTAL
2.392.698,81
1.553.314.179,40
Fonte: Própria (2014)
parque térmico do Sistema Manaus, que poderá programar a desativação dessas usinas térmicas, representando uma expressiva vantagem econômica para o setor de energia do Estado do Amazonas e para toda a sociedade brasileira que subsidia a geração de energia com combustíveis fósseis do setor elétrico brasileiro, através da Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC). O estudo indica, também, que o empreendimento possibilitará o atendimento e o desenvolvimento de várias cidades localizadas ao longo de seu traçado nos Estados do Amazonas, Pará e Amapá; bem como a interligação elétrica do Sistema Manaus com a cidade de Boa Vista (RR), cuja linha de transmissão, em circuito duplo de 500 kV se encontra em fase inicial de construção ao longo da BR-174 Manaus–Boa Vista, como também a interconexão elétrica com a cidade de Porto Velho (RO), que poderá ser construída ao longo da BR-319, que interliga as cidades de Manaus e Porto Velho. Ele sinaliza, ainda, a possibilidade de outros estudos, visando ao intercâmbio de energia elétrica do Brasil com os seguintes países da fronteira norte: Venezuela, Guiana, Bolívia, Peru e Colômbia. Dessa forma, pode-se concluir que todos esses projetos estruturantes são complementares e não excludentes e, depois de concretizados, representarão a consolidação do setor de energia da região Amazônica, promovendo uma expressiva interiorização da energia elétrica nessa região,
com a garantia da mesma qualidade, segurança energética e economicidade do suprimento de energia das demais regiões atendidas pelo Sistema Interligado Nacional, possibilitando o início de um novo ciclo de desenvolvimento e crescimento para o Estado do Amazonas, para a região Amazônica e para o Brasil. Bibliografia AmE. Amazonas Distribuidora de Energia S.A. Relatório de Administração. Exercício 2012. Manaus, 2012. Disponível em: http://www.amazonasenergia.gov. br/portalgovernanca/wp-content/ uploads/2013/03/Relat%C3%B3rio-deAdministra%C3%A7%C3%A3o-20121.pdf. Acesso em: 26 de março 2014. ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Leilão de Linhas de Transmissão. Brasília, 2012. Disponível em: http://www.aneel. gov.br/arquivos/PDF/linhas%20de%20 transmissão.pdf. Acesso em 25: de abril 2014. FROTA, W. M. Sistemas Isolados de Energia Elétrica na Amazônia no Novo Contexto do Setor Elétrico Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Planejamento de Sistemas Energéticos). Campinas: Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 2004. GTON/Eletrobras, Grupo Técnico e Operacional
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
43
A importância da interconexão elétrica Tucuruí-Macapá-Manaus para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e da Região Amazônica
da Região Norte. Plano de Operação 2013 – Sistemas Isolados, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: http://www.eletrobras.com/ elb/data/Pages/LUMISF81A08D1PTBRIE. htm. Acesso em: 10 de abril 2014. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Brasília, 2012. Disponível em http://www. ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ censo2010/default.shtm. Acesso em: 23 de março 2014. SUFRAMA. Superintendência da Zona Franca de Manaus. Notícias. Manaus, 2014. Disponível em http://www.suframa.gov.br/ suf_pub_noticias.cfm?id=15475. Acesso em: 29 de abril 2014. Willamy Moreira Frota: Engenheiro Eletricista, Especialista e Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos, Doutor e Pós-Doutor em Engenharia
44
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
(wmfrota@gmail.com) Roland Céspedes Arteaga: Engenheiro Mecânico; Especialista em Tecnologias do Gás Natural; (arteaga.roland@gmail.com) Whylker Moreira Frota: Engenheiro Eletricista, Especialista em Tecnologias do Gás Natural e Mestre em Engenharia de Recursos da Amazônia; (whylkermoreirafrota53@gmail.com) Brígida Ramati Pereira da Rocha: Engenheira Eletricista, Mestre e Doutora em Geofísica, Pós-Doutora em Engenharia Elétrica e Professora Associada da Universidade Federal do Pará–UFPA; (rocha.brigida@gmail.com) José Pissolato Filho: Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica e Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas–UNICAMP; (pissolato@gmail.com)
Artigo
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus Ádria de Azevedo Araújo, Maria da Glória Vitório Guimarães, Nixon Diniz Pereira e Patrícia Auxiliadora Ribeiro de França
Resumo Diante de um mercado competitivo e exigente, faz-se necessário que as empresas adotem ferramentas estratégicas desde a fabricação ao descarte dos seus produtos, Tendo em vista este contexto, o marketing sustentável ganha evidência. Esta pesquisa objetiva verificar se e como ocorre o processo de inserção do marketing sustentável em uma, empresa, do Polo Industrial de Manaus, em adição se a empresa em foco apoia e fomenta a realização de projetos que envolvam seus colaboradores e consumidores visando à minimização dos impactos ambientais e, além do mais, busca-se analisar se existem produtos que são feitos a partir de matérias recicláveis. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, periódicos e documentos, que permitiu conceituar o tema e subtemas. A metodologia utilizada para a coleta de dados foi uma entrevista com perguntas abertas, o que permitiu maior liberdade aos entrevistados. Na análise dos dados, foi observado que a empresa estudada se preocupa com a elaboração dos produtos, desenvolve produtos menos maléficos à natureza e adota práticas sustentáveis. Na produção de aparelhos celulares, utiliza matérias-primas recicláveis, apoia-se em projetos sociais e culturais e ainda recolhe os produtos após descarte para a reciclagem. Em suma, além de produzir produtos que não colocam em risco os recursos naturais, a empresa busca educar ou reeducar os seus consumidores a adotarem
práticas menos nocivas ao nosso patrimônio, seja cultural, econômico ou social. Palavras-chave: marketing, sustentável e produtos Abstract Facing a competitive and demanding market, it is necessary that companies adopt strategic tools in terms from manufacturing to disposal of products in order this context sustainable marketing wins evidence. This research aims to verify whether and how sustainable is the marketing insertion process in a company, the Industrial Pole of Manaus, the company focus on supports and encourages the implementation of projects involving from its employees and consumers in order to minimize environmental impacts and, moreover, seeks to analyze whether there are products that are made from recyclable materials. Initially a literature search was performed in books, periodicals and documents that allowed conceptualize the theme and sub-themes. The methodology used for data collection was an interview with open questions which allowed greater freedom to respondents. In the data analysis showed that the studied company cares about the development of products, develop less harmful products the nature and adopt sustainable practices. In the production of cell phones is used recyclable materials, relies on social and cultural projects and still collects the products
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
45
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
after disposal for recycling. In short, in addition to producing products that do not endanger the natural resources the company seeks to educate or re-educate their consumers into less harmful practices to our heritage, whether cultural, economic or social. Keywords: marketing, sustainable and products Introdução Atualmente, as empresas estão adquirindo consciência do seu papel social na sociedade focalizando o marketing sustentável ou verde em detrimento do marketing tradicional. Até pouco tempo atrás, os empresários somente se focavam em gerar lucros, explorando os recursos ambientais de forma irracional e desprezando as reais necessidades dos consumidores. Sob esta ótica, o marketing sustentável ganha espaço e, assim, surgem vários conceitos, tais como: ecomarketing, marketing verde, marketing ambiental e marketing ecológico. Segundo Stringhini, 2009, p. 31: O Marketing verde é uma ferramenta que tem entre suas intenções e preocupações a sensibilização do cliente, modificando seu comportamento, ou um produto, ou um serviço através de um trabalho que gera mudanças no contexto ambiental e social, não basta atender às demandas e necessidades dos clientes, é necessário minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, ser sustentável. É uma ferramenta utilizada no processo de venda de serviços e produtos que possuem benefícios ambientais, este pode ser demonstrado na sua produção, no modo como foi embalado, na sua composição, no seu descarte e até na embalagem. Deste modo, esta pesquisa busca investigar a inserção do marketing verde ou sustentável em uma grande empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM) e, em seguida, compreender as práticas e ações relevantes tanto para economia quanto para o meio ambiente. Para tanto, foram trabalhados os seguintes objetivos específicos:
46
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
confrontar os achados teóricos sobre os conceitos de marketing e sustentabilidade com as práticas apontadas pelos colaboradores da empresa em relação ao meio ambiente e, por fim, apresentar os resultados da investigação acerca do marketing sustentável na empresa. A linha metodológica aplicada baseia-se na forma exploratória e em pesquisas bibliográficas tendo como referencial teórico para embasamento e contextualização os conceitos de marketing e sustentabilidade. Como método de coleta de dados foi utilizada uma entrevista com questões abertas, que estimula os entrevistados a responderem livremente sobre o tema proposto, entrevista esta que teve como objetivo pesquisar se a referida empresa utiliza técnicas sustentáveis na elaboração dos produtos. O caminhar histórico do marketing No limiar do século XX, nos Estados Unidos, a palavra marketing começou a ganhar significado. Conforme Pinho (2001), funda-se, em 1930, a American Marketing Association (AMA), entidade dedicada a congregar os profissionais para o desenvolvimento do setor. Somente a partir dos anos 1950 que o marketing chega ao Brasil trazido pelas multinacionais norte-americanas e europeias que aqui se instalavam. Pinho (2001, p.20) afirma que: No século XVIII com o advento da revolução industrial, os fabricantes tinham como preocupação básica assegurar os meios (matéria-prima, mão de obra e capital) para a produção de alguns poucos bens e serviços. Em razão do baixo poder aquisitivo das populações, mesmo nos países desenvolvidos, as firmas limitavam-se a produzir artigos padronizados, muitos de qualidade apenas razoável. As opções de escolhas eram poucas, não existindo uma competição pela preferência do consumidor, já que ele tinha a maior parte da renda destinada à satisfação das suas necessidades básicas. Essa orientação para a produção vai persistir nas empresas até o
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
final da década de 1920, caracterizando-se pela preocupação central com a produção e as finanças. Na percepção de Pinho (2004), no início da revolução industrial, os fabricantes focalizavam apenas nos métodos dos processos de produção e gestão das finanças. Os produtos eram comercializados de forma padronizada, não existindo uma preocupação em produzir artigos variados para atraír os consumidores, uma vez que as opções de escolhas eram, praticamente, inexistentes. Na perspectiva de Grecco (1997), a técnica concentra-se em adotar a promoção de vendas para se conseguir vendas em massa. Ainda no pensamento deste autor, antes de 1929 (crise americana) a preocupação das empresas era apenas saber fabricar, porém, com o desenvolvimento da tecnologia advinda da revolução industrial, a dificuldade não era mais somente fabricar, mas em saber vender, como atrair a atenção e a ação dos seus clientes. Nesse contexto, surge o marketing como ferramenta para alavancar as vendas, dando ênfase às necessidades dos consumidores. Agora, os consumidores passam a ter mais opções em relação a quais produtos adquirir e logo surge a concorrência entre as empresas e, neste embate, nasce o marketing como ferramenta essencial para o sucesso das corporações. Conceitos de marketing e sustentabilidade O marketing agregado à sustentabilidade, segundo alguns autores, pode ser um grande instrumento no embate pela defesa de preservação do meio ambiente. O conceito de marketing varia muito de autor para autor, não existindo apenas um conceito para este termo, pois há muitas controvérsias em torno do mesmo. Menciona-se, a seguir, os mais relevantes: Segundo Kotler e Keller (2006), o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais e, para defini-lo de
maneira prática e sucinta, pode-se dizer que ele supre as necessidades lucrativamente. Ou seja, as necessidades existem e o marketing é uma ferramenta que, aplicado corretamente, supre e fomenta estas necessidades de forma benéfica e lucrativa para ambas as partes (empresários e clientes). Para um produto obter êxito e, consequentemente, ser consumido pelo seu público-alvo faz-se necessário um estudo aprofundado para descobrir qual é o segmento de mercado mais apropriado, as vantagens de comercializar tal produto, estudar a concorrência, identificar as oportunidades e ameaças, analisar os fatores críticos de sucesso, enfim, realizar um estudo estratégico de marketing. Para Pinho (2001, p.23): Marketing é o planejamento e execução de todos os aspectos de um produto (ou serviço), em função do consumidor, visando sempre maximizar o consumo e minimizar os preços, tudo resultando em lucros contínuos e a longo prazo para a empresa. Continuando na perspectiva do pensamento de Pinho (2004), grande parte das empresas, independentemente de seu negócio ou atividade, existe para identificar e satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores, utilizando-se de um planejamento minucioso de seus produtos, sempre focalizando nos gostos e preferências do seu respectivo público-alvo, por meio do estudo de mercado, ou seja, o marketing. Porém, o lucro deve ser estimulado maximizando o consumo e as partes envolvidas devem ser estudadas, de forma que todos concretizem os objetivos empresariais e ambientais. Grecco (1997, p.23) resume o marketing como sendo a: “técnica que regula as atividades e funções mercadológicas da empresa e seu desenvolvimento”. Sustentabilidade Na segunda década do século XXI, as empresas contemporâneas precisaram adotar e seguir práticas mercadológicas que não afetassem significativamente o meio ambiente. Os recursos
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
47
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
do planeta são finitos, por conseguinte é preciso conscientizar e evitar ações maléficas sobre o meio ambiente, pois se não houver ações positivas agora a vida pode se tornar inviável futuramente e os problemas decorrentes da falta de conscientização podem se tornar irreversíveis. Além de se conhecer o conceito de sustentabilidade é preciso praticá-lo diariamente em nossas casas e empresas, pois esta ferramenta amiga do meio ambiente é um fator relevante para a transformação positiva da nossa sociedade. Este termo sustentabilidade precisa ser expandido e praticado pelas empresas, ser inserido em seus planos de metas, divulgado pelas mídias de massa, fazer parte do vocabulário das escolas para que não seja esquecido ou ignorado pela população; consumir é um verbo que todos conjugam, porém poucos agregam sustentabilidade em seus planos. Existem várias definições sobre o que é sustentabilidade, aborda-se, a seguir, as mais relevantes. Segundo Loures (2009), as empresas, seja de grande, médio ou pequeno porte, começaram a incrementar princípios de responsabilidade socioambiental em suas decisões e ações, e logo tais empresas passaram a ter uma visão de longo prazo em detrimento da tradicional, de curto prazo, que somente visava lucros irracionais e impactos negativos ao meio ambiente. Mikhailova (2004, p.25-26) define sustentabilidade, em seu sentido lógico, como: (...) a capacidade de se sustentar, de se manter. Uma atividade sustentável é aquela que pode ser mantida para sempre. Em outras palavras: uma exploração de um recurso natural exercida de forma sustentável durará para sempre e não se esgotará nunca. Uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco os elementos do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é aquele que melhora a qualidade da vida do homem na Terra, ao mesmo tempo em que respeita a capacidade de produção dos ecossistemas nos quais vivemos.
A atividade sustentável caracteriza-se por ter uma visão associada de longo prazo de forma benéfica, não focando somente no tempo presente e sim no futuro, nas possíveis consequências que nossas ações podem influenciar nas futuras gerações. Este termo sofre variações de autor para autor, Afonso (2006, p.11) aponta que: O termo implica na manutenção qualitativa e quantitativa do estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar a sua fonte ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser igualmente satisfeitas. Ainda no pensamento de Afonso (2006) esta noção de sustentabilidade é derivada do conceito de desenvolvimento sustentável, fruto de reflexões e debates ocorridos desde a década de 1960 e consolidados no relatório: ‘Nosso Futuro Comum’, publicado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, em 1987. Conforme o relatório publicado o “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (p. 20). Quando a sustentabilidade e inserida no marketing se tem o conceito de marketing sustentável, marketing verde ou ecomarketing. Segundo Ottman (1994), o marketing sustentável tem a preocupação em criar uma imagem inovadora e diferenciada da empresa, preocupando-se com os atributos que envolvem o produto e ao posicionamento da empresa perante o meio ambiente. Surgimento do marketing verde O marketing verde é uma nova ferramenta utilizada pelos empresários como diferencial estratégico para se destacar diante das demais empresas. Em um mercado altamente competitivo, torna-se necessária e de suma importância a criação de uma ferramenta sustentável para atrair mais consumidores, de forma benéfica e racional. Segundo Silva (2013, p.10) “o termo Marketing
48
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
Verde, Ecológico ou Ambiental surgiu nos anos 1970, quando a American Marketing Associaton realizou um workshop com a intenção de discutir o impacto do marketing sobre o meio ambiente”, ou seja, a partir deste evento começaram a ser veiculadas as primeiras preocupações a respeito do desenvolvimento sustentável. Ainda no pensamento do autor, após esse evento, o marketing ecológico foi assim definido: “O estudo dos aspectos positivos e negativos das atividades de marketing em relação à poluição ao esgotamento de energia e ao esgotamento dos recursos não renováveis”.
Filho (2004, p.70) sugere a seguinte caracterização de posturas ou perfil do consumidor verde: Busca pela qualidade com impactos ambientais mínimos; preferência por produtos e ações que demandem menos quantidade de recursos naturais e que sejam menos nocivos ao meio ambiente; opção por artigos recicláveis biodegradáveis e reutilizáveis; prestígio a empresas responsáveis socialmente e comprometidas com o meio ambiente; recusa a consumir produtos, utilizar serviços e apoiar ações que depreciem espécies em extinção.
Posteriormente, este novo conceito de marketing também foi discutido por Kotler (2006, p.10) que o classificou como “(...) um movimento das empresas para criarem e colocarem no mercado produtos ambientalmente responsáveis em relação ao meio ambiente”. Logo, este termo é bem recente, surge no final do século XX e as empresas informadas sobre as novas exigências do mercado podem obter êxito em relação às vendas dos seus produtos se aderirem a este novo desafio. Os novos consumidores no contexto contemporâneo De acordo com Ferreira (2011), houve uma mudança no perfil do atual consumidor, pois este prioriza alguns fatores essenciais no momento da decisão de compra, que, anteriormente, não tinham maior relevância. Informações como a reputação da empresa, seu envolvimento com causas sociais e ambientais exercem notória influência na definição do produto que será adquirido. Percebe-se que os consumidores têm grande importância no momento de comprar ou não determinado produto, por conseguinte, empresas que colocam em risco os recursos naturais e cometem irregularidades devem ser, gradativamente, esquecidas ou colocadas em um segundo plano, não consumindo o seu produto até que a mesma adquira práticas ecologicamente corretas.
Para Makower (2009, p.16): Ser um cidadão ambientalmente responsável está se tornando menos uma moda passageira para muitos e mais um modo de vida, nascido da preocupação genuína com o futuro. Pequenos hábitos como reciclar, trazer o seu próprio saco de lixo e desligar os computadores estão ajudando a fixar uma nova ética verde em um segmento de público cada vez maior. Seguindo o pensamento de Makower (2009), ser cidadão ambientalmente responsável é sinônimo de melhoria na qualidade de vida e podem-se mudar, gradativamente, as atitudes através de pequenos atos como: reciclar, trazer o seu próprio saco de lixo, utilizar apenas um copo descartável por dia e desligar os computadores. As empresas que buscam prosperar e atrair a atenção dos consumidores, devem se adaptar às novas exigências e não se esquecerem de focar na sustentabilidade ambiental. É possível gerar lucro de forma sustentável, à medida em que se cuida do patrimônio ambiental, pois surgem ideias benéficas a longo prazo e não se compromete a geração futura com ações nocivas ao meio ambiente. Metodologia Uma pesquisa constitui-se em um conjunto de atividades que objetiva validar novos conhecimentos, conforme Prestes (2007). Daí decorre
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
49
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
a necessidade de assegurar sua dimensão de cientificidade, descrevendo de forma clara como
c) Os produtos são feitos a partir de materiais recicláveis?
se deu sua realização. Nesse sentido, definiu-se o método adotado no presente estudo como uma pesquisa empírica, objetivando avaliar a problemática observada, possibilitando maior embasamento às argumentações, por mais tênue que possa ser a base fatual (DEMO, 1994). Tendo como locus o Polo Industrial de Manaus – PIM, os pesquisadores desenvolveram a coleta de dados através de entrevista, no mês de novembro, de 2013, com os colaboradores de uma indústria multinacional, com filial em Manaus, que atua no ramo de eletroeletrônicos. O instrumento adotado foi uma entrevista com cinco perguntas abrangendo o tema deste artigo, mas que apresentaram uma série de possíveis respostas, abrangendo várias facetas do mesmo tópico. As perguntas foram aplicadas a oito colaboradores da empresa pertencentes à área de Marketing , estes foram escolhidos por trabalharem nesta área proporcionando um maior esclarecimento sobre a temática abordada. Análise dos resultados Primeiramente, foi elaborada uma entrevista semiestruturada na qual foram desenvolvidas perguntas pertinentes ao assunto. Os participantes tiveram acesso ao instrumento de pesquisa por meio do e-mail. Objetiva-se, com esta entrevista, conhecer as práticas utilizadas pela empresa no processo de fabricação de seus produtos eletroeletrônicos, ademais a empresa foi consultada se possui lugares próprios para os seus clientes descartarem os produtos quando os mesmos não são mais úteis. Foram apresentadas as seguintes perguntas: a) Como a empresa tem contribuído para a sustentabilidade do meio ambiente ? b) Qual a preocupação na fabricação dos produtos na preservação do meio ambiente?
50
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
d) Como é feita a conscientização ambiental junto aos colaboradores da empresa ? e) Como foi a inplantação do marketing verde? Participaram da entrevista oito funcionários. Quando perguntados a respeito de como a empresa contribui para a sustentabilidade obteve-se as seguintes respostas: Funcionário A: “Trabalho há muito tempo na empresa e, de um tempo até agora, estamos cumprindo as normas da empresa na parte de sustentabilidade, pois tem uma vigilância na empresa pra ver se está tudo certo e quem não estiver fazendo isso, leva uma multa... nunca levei, mas tem gente que sempre deixa tudo bagunçado, por incrível que pareça”. Funcionário B: “ A empresa procura conscientizar as pessoas para não jogarem lixo fora das lixeiras e, quando jogam o lixo, devem procurar as seletivas onde tem a separação do lixo, depois, vejo que utilizamos materiais recicláveis, principalmente plástico e papel, às vezes assisto palestras sobre esses assuntos”. Funcionário C: “Implantação de serviços de recolhimento de resíduos de embalagens de materiais defeituosos, seleta coletiva do lixo, não degradando o meio ambiente e levando todos os resíduos líquidos para uma rede de tratamento de esgoto”. Funcionário D: “Pensando no meio ambiente e nos estragos que uma empresa de grande porte iria fazer com a natureza se despejasse o lixo nos rios são feitos cartazes e palestras. A empresa, em foco, trabalha com métodos de divulgação como etiquetas, livrinhos e placas de sinalização para a utilização de resíduos”. Funcionário E: “A empresa se preocupa muito com o seu nome envolvido em escândalos. Observo que existe coleta seletiva de lixo, distribuição de cartilhas sobre o meio ambiente
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
e sobre os estragos que podem ser evitados. Os produtos são fabricados com materiais recicláveis”. Três não souberam responder. Quando questionados se os produtos são elaborados a partir de materiais recicláveis, todos responderam que sim, ou seja, a empresa se preocupa desde a fabricação até o descarte de seu produto. Quando perguntados sobre como o marketing verde surgiu na empresa, obtivemos as seguintes respostas: Funcionário A: “Lenta... demorou um pouco para a gente entender como seria e que práticas tínhamos que tomar”. Funcionário B: “Começou em 2006, quando a empresa começou a se preocupar com a questão sustentável que a grande maioria das empresas estava ligada, tanto no poder econômico que isso traria para a marca, quanto na valorização dos produtos da empresa. Isso gera muito lucro”. Funcionário C: “De uma forma rígida na empresa, porque temos vistorias constantemente”. Funcionário D: “Foi caso de muitos questionamentos, porque isso nos ajudaria a melhorar a marca da empresa, mas também a não poluir o meio ambiente”. Com base nas respostas dos entrevistados pode-se constatar que a empresa adota práticas sustentáveis em defesa do meio ambiente e possui mecanismos para a coleta dos resíduos danosos ao nosso ecossistema. Percebe-se que dentro da empresa há um forte trabalho de conscientização para que os funcionários adotem práticas ecologicamente corretas. Segundo os funcionários, os materiais com defeitos não são depositados no lixo, mas sim reutilizados, isto é um diferencial competitivo da empresa, pois essas atitudes verdes chamam a atenção dos consumidores para comprarem os seus produtos em detrimento dos fabricados
irracionalmente pelos concorrentes. É válido ressaltar que a empresa possui normas verdes a serem cumpridas por todos, caso, porventura um funcionário a desrespeite irá, severamente, pagar certa multa devido ao engano. Isto ajuda, de forma significativa, na tomada de consciência quando se trata de nossos atos, pois quando há uma penalidade imposta claramente as pessoas, naturalmente, ficam mais atentas em relação a não infringir as leis estabelecidas. Pode-se constatar pelas respostas obtidas que ocorrem palestras focando na sustentabilidade, reuniões e cartazes espalhados pela empresa com o objetivo de informarem e conscientizarem os seus funcionários. Em relação à inserção do marketing verde segundo respostas esta ocorreu de forma lenta, começando com pequenas ações como jogar o lixo nos lugares apropriados, ou seja, a coleta seletiva que a empresa vem executando é muito importante tanto na economia quanto na diminuição da poluição do meio ambiente. Considerações finais A realização deste artigo possibilitou um maior esclarecimento sobre os conceitos do marketing agregado à sustentabilidade, além disso, mostra como uma empresa do PIM vem aplicando esses valores sustentáveis em seu dia a dia, bem como na fabricação dos seus produtos. A partir das respostas dos colaboradores percebe-se que a empresa se preocupa com as questões ambientais e que por meio de palestras, campanhas e multas aplicadas procura fomentar práticas ecologicamente corretas. Ademais, é possível associar ao nome da empresa boas práticas ambientais e isto favorece a comercialização dos produtos. Analisando o tema exposto neste artigo, fica evidente que se vive um novo contexto, onde a sustentabilidade ganha destaque em detrimento de práticas tradicionais. A literatura evidencia que as empresas necessitam focar em projetos
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
51
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
que diminuam o impacto sobre a natureza e, ao mesmo tempo, estimular o marketing sustentável a fim de melhorar seus lucros. Vale ressaltar que essa preocupação verde não pode ser apenas das empresas, mas também da sociedade, governo, escolas e universidades para juntos conquistarem uma consciência coletiva voltada para a sustentabilidade.
que a empresa vai além da teoria, ou seja, o marketing verde está presente dentro da política, na elaboração dos produtos, missão e na visão
Com relação ao objetivo geral que suscitou este trabalho, conclui-se que as empresas que desejam implantar o marketing verde em seu negócio, deve difundir esta ferramenta de forma ampla e geral, bem como alinhar o marketing as suas ações de sustentabilidade, pois a empresa que produz e apresenta ao mercado produtos verdes deverá ter um retorno financeiro com o aumento das vendas.
DEMO, P. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1994.
Constatou-se, durante a entrevista realizada,
52
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
estratégica. Bibliografia AFONSO, Cintia Maria. Sustentabilidade: caminho ou utopia?- São Paulo: Annablume, 2006.
FERREIRA, Anne Cristine. Um novo marketing para um novo consumidor. Disponível em < http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-00251.pdf > . Acesso em: 19 de Dezembro de 2014.
Inserção do Marketing Sustentável em uma empresa de grande porte, no ramo eletroeletrônico, do Polo Industrial de Manaus
FILHO, Gino Giacomuni. Ecopropaganda. São Paulo: Senac, 2004. GRECCO, Constantino. Marketing simplificado. Ibrasa, 1997. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de marketing. Prentice-Hall - 12ª edição, 2006. LOURES, Rodrigo C. Da Rocha. Sustentabilidade XXI: Educar e inovar sob uma nova consciência. São Paulo, Editora: Gente, 2009. MAKOWER, Joel. A economia verde: descubra as oportunidades e os desafios de uma nova era dos negócios. Tradução Célio Knipel Moreira; revisão técnica Leonardo Abramowicz.-São Paulo: Editora Gente, 2009. MIKHAILOVA, Irina. Sustentabilidade: Evolução Dos Conceitos Teóricos E Os Problemas Da Mensuração Prática. Disponível em: < http://w3.ufsm.br/depcie/ arquivos/artigo/ii_sustentabilidade.pdf > Acesso em: 19 de Dezembro de 2014. OTTMAN, J. Marketing verde. São Paulo: Makron Books, 1994. Pinho, J.B., 1951- Comunicação em marketing: Princípios da comunicação mercadológica/ J.B Pinho.- Campinas, SP: Papirus, 2001.
PRESTES, Maria Lucia de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3ª ed. São Paulo, Rêspel, 2007. SILVA, Camila Navarro da. Marketing Ambiental: uma valiosa ferramenta para conquistar clientes. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/monopdf/24/ CAMILA%20NAVARRO%20DA%20SILVA. pdf> Acesso em: 18 de Novembro de 2014. STRINGHINI, Simone Andreia. Implantação Do Marketing Verde Nas Empresas – Case Philips. São Paulo, 2009. Disponível em: < http://www.sustentabilidade.philips.com.br/pdfs/2009/ IMPLANTA%C3%87%C3%83O%20DO%20 MARKETING%20VERDE%20NAS%20 EMPRESAS%20-%20CASE%20PHILIPS.pdf >. Acesso em: 19 de Dezembro de 2014. Ádria de Azevedo Araújo: Acadêmica de Administração da Universidade Federal do Amazonas. (araujoadriaa@hotmail.com) Maria da Glória Vitório Guimarães: É professora doutora do Departamento de Administração da Universidade Federal do Amazonas. (gloriavitorio@ufam.edu.br) Nixon Diniz Pereira: É professor assistente do Departamento de Administração da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). (diz_pereira@ufam.edu.br) Patrícia Auxiliadora Ribeiro de França: É mestranda em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). (patrirbo@gmail.com)
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
53
Opinião
Brasil inicia produção de componentes eletrônicos de base cerâmica Thiago Alves e Hansu Birol
Tecnologia Low Temperature Co-fired Ceramics (LTCC), produzida pelo CSEM Brasil, permite que a indústria automotiva, aeroespacial e de óleo e gás deixe de importar componentes eletrônicos que exigem confiabilidade, alta precisão e resistência a elevadas pressões e temperaturas. O Centro de Desenvolvimento CSEM Brasil já está operando uma importante plataforma de microtecnologia, microssistemas e sensores voltados às indústrias automobilística, aero, de óleo e gás, semicondutores, entre outras. A produção de soluções baseadas na tecnologia LTCC (Low Temperature Co-fired Ceramics) foi iniciada com a perspectiva de gerar para o mercado nacional importantes alternativas de produtos de alto valor agregado que hoje precisam ser importados. A aplicação da tecnologia pode ser fundamental, por exemplo, para a meta de nacionalização de produtos a serem aplicadas nos projetos relacionados ao pré-sal, inovar-auto e inovar-defesa, que demandam alta complexidade tecnológica.
54
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
“O LTCC é uma tecnologia madura, que já é utilizada pelas indústrias de defesa e automotiva há décadas e hoje está se tornando disponível para os demais segmentos do mercado”, explica o CEO do CSEM Brasil, Tiago Alves. A plataforma tecnológica LTCC é baseada em cerâmica avançada, com propriedades químicas, mecânicas e elétricas ideais para integração e encapsulamento de circuitos. As propriedades físico-químicas muito estáveis do LTCC garantem a confiabilidade na transmissão de dados e permitem novas aplicações de circuitos e sensores com algumas vantagens: alto nível de integração e miniaturização, compatibilidade com ambientes hostis, baixa perda dielétrica, coeficiente de dilatação térmica compatível com CIs, transparência à radiofrequência e possibilidade de construção de sistemas microfluídicos. O uso da tecnologia é bastante amplo e tem uma curva de mercado ascendente. “As características físico-químicas do LTCC per-
Brasil inicia produção de componentes eletrônicos de base cerâmica
mitem resultados fantásticos para aplicações que requerem miniaturização, resistência a ambientes hostis e confiabilidade. Ou seja, abre uma gama de oportunidades para a fabricação de antenas, sensores, componentes elétricos miniaturizados e packages para altíssima performance”, ressalta Hansu Birol, PhD em Microengenharia pela universidade Suíça EPFL e que, hoje, é responsável técnico pela plataforma de LTCC do CSEM Brasil. “Estamos divulgando esta tecnologia para a indústria brasileira, que agora tem à disposição uma estrutura única nas Américas para desenvolver novos dispositivos de alto valor agregado”, completa Hansu.
microtecnologias, sensores e sistemas. Conta com equipamentos únicos na América Latina em seus laboratórios, voltados ao desenvolvimento de componentes e sistemas completos, e profissionais altamente qualificados com experiência em indústrias e instituições de primeira linha no Brasil e no exterior. Outras informações: www. csembrasil.com.br.
O CSEM Brasil conta com parceiros estratégicos para o desenvolvimento da tecnologia, inclusive com empresas multinacionais que detêm grande know-how nesse mercado e que definem o CSEM Brasil como referência da tecnologia na América Latina.
Masters em Marketing e Programas em Gestão da Inovação, Liderança e Negócios Internacionais na Universidade de Bakerley e Harvard
Sobre o CSEM Brasil Criado em 2007 pelo CSEM S.A. da Suíça e a gestora de capitais brasileira FIR Capital, com o apoio do Governo de Minas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), o CSEM Brasil possui infraestrutura única na América Latina. Localizado em Minas Gerais, no Centro de Inovação e Tecnologia Senai FIEMG – Campus Cetec, o CSEM Brasil possui duas linhas de desenvolvimento tecnológico prioritárias, baseadas em eletrônica orgânica e impressa e circuitos cerâmicos usando Low Temperature Co-fired Ceramics (LTCC), ambas com ampla utilização no mercado e perspectiva e ampliação de consumo. Hoje, o CSEM Brasil reúne pesquisadores, mestres e doutores de nove nacionalidades. O CSEM Brasil utiliza plataformas e experiências dos sócios e desenvolvimentos em parceria com universidades e centros de P&D brasileiros e estrangeiros. A instituição desenvolve tecnologias, transformando pesquisas em produtos com alto valor agregado nas áreas de nano e
Thiago Alves – Chief Execultive Officer (CEO) - MBA (First Honours) pela Universidade de Cambridge BSc. Eletrônica / Física pela UFPE
Experiência nas áreas: mercado financeiro, semicondutores, IT, telecomunicação, propriedade intelectual e consultoria estratégica na Europa Mais de 15 anos em gestão para empresas de alta tecnologia e inovação como IBM, DoCoMo, ARM, BT, entre outras nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Japão Hansu Birol- PhD em Microengenharia Engenheiro de materiais com doutorado em microengenharia (EPFL, Suíça) e MBA em Gestão Industrial (FGV, Brasil). 15 anos da experiência em desenvolvimento de produtos a partir de cerâmicas eletrônicas (piezoelétrica, dielétrica, termístor, piezoresistor) e em tecnologias de microeletrônica (thick-film, LTCC, HTCC) e de fuel cell. Atualmente, trabalhando como gerente de desenvolvimento de negócios científicos na programa de micro sistemas cerâmicas do CSEM Brasil com focos de promoter a tecnologia da LTCC no Brasil e de apoiar o desenvolvimento de componentes/dispositivos eletrônicos a partir de placas eletrônicas cerâmicas para ambientes hostis (indústrias automotivo, telecomunicações, defesa, aeroespacial).
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
55
Entrevista
América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais Por Cristiane Barbosa
O vice-presidente executivo de Energia do CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina, Álvaro Atilano, concedeu entrevista exclusiva à revista T&C Amazônia, abordando o atual cenário das patentes mundiais. A América Latina, e mais especificamente, o Brasil estão longe dos grandes centros quando se fala no volume de solicitações de registros, bem como de exportações e bem menos de concessões em nível mundial. Segundo ele, isso é preocupante e chamou a atenção do CAF para impulsionar essa cultura por meio de uma Chamada da Iniciativa Regional de Patentes Tecnológicas para o Desenvolvimento, que é basicamente uma incubadora de patentes tecnológicas para a região com propostas que podem ser desenvolvidas por meio de investimentos realizados pelo CAF.
58
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Coordenador da Iniciativa Regional para o Desenvolvimento da CAF, Atilano atuou como consultor internacional em mais de 10 países da América Latina, já viveu e trabalhou nos Estados Unidos, Venezuela, Costa Rica, possuindo uma larga experiência como consultor internacional em mais de dez países da América Latina. Ele esteve envolvido em projetos de investimento do Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Com um vasto currículo de atuação nessa área, o gestor é mestre em Engenharia Ambiental da Universidade do Sul da Califórnia e é formado em Química Orgânica da Universidade de Massachusetts. Ele também é um inventor e tem patentes concedidas nos Estados Unidos. Acompanhe a seguir a entrevista na íntegra:
América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais
T&C Amazônia – Por que existem as patentes e quais suas aplicações? Quais os impactos na economia e desenvolvimento tecnológico de um País? Álvaro Atilano - As patentes existem para incentivar inovadores, inventores, pesquisadores a tomarem o tempo e o risco de criar novas tecnologias, processos, desenhos industriais e serviços. Este incentivo se traduz na proteção da criação, geralmente por 20 anos, onde o inventor é o único que pode obter benefícios decorrentes da comercialização da criação patenteada em troca de tornar pública a sua invenção através da liberação de o mesmo. Após 20 anos, a criação patenteada entra no domínio público e qualquer pessoa pode comercializá-la. Os impactos sobre a economia de um país pode ser resumida na figura 01:
dos indicadores mais importantes associados para o desenvolvimento tecnológico da região, especialmente: pedidos de patentes via internacional, royalties derivados de licenciamento e venda de tecnologias e, em última instância, nas exportações de alta tecnologia desde a região, conforme as figuras 02 e 03 na página 60. Em particular, os pedidos de patentes em mercados internacionais do Brasil são baixos em relação com as potências tecnológicas como os Estados Unidos e a Coreia do Sul. As figuras 04 e 05, na página 60, apontam gráficos com dados . T&C Amazônia - Dados apontam que ainda falta muito para a América Latina chegar ao patamar dos países que encabeçam a lista nos números de pedidos e concessões de patentes. Na sua avaliação como a América Latina e o Brasil podem reverter essa situação?
Figura 01 - Relação entre inovação tecnológica patenteável e exportação de alta tecnologia na Coreia do Sul Fonte: O própio autor
T&C Amazônia - Como o senhor avalia o cenário de patentes na América Latina e, em específico no Brasil, frente aos grandes centros tecnológicos como os Estados Unidos e a Coreia? Álvaro Atilano - Os investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação na maioria dos países latino-americanos nas últimas duas décadas, têm contribuído pouco para o aumento de alguns
Álvaro Atilano - Aumentar o volume de pedidos de patentes via internacional (United States Patent and Trademark Office - USPTO, Patent Cooperation Treaty - PCT); Acrescentar a qualidade dos pedidos de patentes; Ênfase em patentes de tecnológicas da área de engenharias; Equilibrar o financiamento da inovação tecnológica entre o setor público (acadêmico) e o setor privado; Focalizar os pedidos de patentes em setores estratégicos.
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
59
América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais
T&C Amazônia - Como são tratadas as patentes no mundo? Álvaro Atilano - As patentes têm uma tradição mais formal nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde há a um arquebouço legal mais estrito para a proteção da propriedade industrial, especialmente de patentes de invenção. Figura 02 - Pedidos de patentes via PCT - Regional Fonte: Elaboração própia - OMPI (2014) (www.wipo.int)
T&C Amazônia - Como uma patente pode ser negociada? Álvaro Atilano – Por meio do licenciamento ou transferência direta. O licenciamento pode ser exclusivo para áreas geográficas, ou um licenciamento não exclusivo. T&C Amazônia - Quais são os números mundiais de exportações?
Figura 03 - Exportações de produtos de alta tecnologia - Regional Fonte: Elaboração própia - Banco Mundial (2014) http://Dados.bancomundial.org/
Figura 04 - Concessões de patentes USPTO por milhão de habitantes - Brasil Coreia do Sul Fonte: Elaboração própia - Portal USPTO (2014)
Álvaro Atilano – As exportações de produtos de alta tecnologia, segundo o Banco Mundial, são dominadas pela Ásia, com US$ 967.61 mil, enquanto que a Europa figura em segunda posição, com US$ 674.79 mil, seguida pela América do Norte, com US$ 170.29 mil e por fim, a América Latina e o Caribe, com US$ 60.31 mil. Já a porcentagem de exportações de produtos e alta tecnologia sobre o total de exportações é dominada pela Ásia, que chega perto dos 25%, depois vem a Europa, América do Norte, América Latina e o Caribe. Na página 61 são apresentandas as figuras 06 e 07 com gráficos desse cenário. T&C Amazônia - Nesse sentido, qual o papel do CAF no estímulo de formação de patentes tecnológicas no Brasil? Álvaro Atilano – Uma das mudanças propostas pela CAF é a divisão dos Sistemas Nacionais de Inovação em três subsistemas, que são ilustrados na página a seguir.
Figura 05 - Pedidos de patentes via PCT por milhão de habitantes - Brasil - Coreia do Sul Fonte: Elaboração própia - Portal de la OMPI (2014) e Banco Mundial (2014)
60
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
Neste contexto, há uma necessidade por abordagens e estratégias inovadoras que contribuam para melhorar a eficiência dos Sistemas Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação,
América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais
Figura 06 - Exportações de produtos de alta tecnologia - Regional Fonte: Elaboração própia - Banco Mundial (2014) http://Dados.bancomundial.org/
Figura 07 - Percentagem de Exportação de produtos de alta tecnologia sobre o total de exportações - Regional Fonte: Elaboração própia - United Nations Statistics Division (2014) e Banco Mundial (2014)
na geração de resultados práticos e comerciais. O objetivo geral da estratégia de inovação tecnológica da CAF é realizar intervenções nos subsistemas de SNCTeI com visando acrescentar o desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente do subsetor das engenharias, para contribuir com o aumento das exportações de alta tecnologias não só entre os países da região, mas também outras regiões do mundo. T&C Amazônia - O CAF lançou a 1ª Chamada da Iniciativa Regional de Patentes Tecnológicas para o Desenvolvimento focada
em energias renováveis e eficiência energética. Explique esse interesse focado na área energética. Alvaro Atilano - O CAF tem um compromisso com a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável. Perante esta premissa, o CAF promove a promoção do desenvolvimento de tecnologias que não só tenham um potencial comercial importante, mas também que ajudem a superar desafios próprios das condições de países em desenvolvimento. A abundância relativa de recursos naturais renováveis e não renováveis na
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
61
América Latina precisa avançar no mapa das patentes internacionais
região tem determinado um modelo de desenvolvimento pouco eficiente, principalmente pelos baixos custos energéticos. O foco em energias renováveis e eficiência energética decorre deste problema, como uma forma de impulsar um modelo de desenvolvimento mais apropriado com as premissas ambientais e sociais. T&C Amazônia - Como funciona a Iniciativa Regional de Patentes Tecnológicas e qual o objetivo? Alvaro Atilano - A Iniciativa Regional de Patentes Tecnológicas para o Desenvolvimento CAF é basicamente uma incubadora de patentes tecnológicas para a região. Previa identificação de áreas estratégicas, a CAF recebe propostas que, dependendo do seu potencial, podem ser desenvolvidas através de investimentos realizados pela CAF. As tecnologias desenvolvidas serão finalmente comercializadas e os benefícios económicos derivados serão compartilhados entre os inovadores e a CAF. T& C Amazônia - Qual a expectativa do CAF ao investir nesta 1ª chamada voltada para a América Latina e Caribe? Alvaro Atilano - O CAF elaborou uma série de indicadores que descrevem a situação atual da inovação tecnológica da região, e servem como linha base para a medição dos impactos do programa. Espera-se no médio prazo (2 e 3 anos) o aumento dos pedidos de patentes via PCT, e pedidos de patentes na USPTO e na EPO. No longo prazo (a partir de quatro anos), esperamos presenciar um aumento do valor real das exportações de alta tecnologia da região, assim como um aumento das receitas recebidas pelos países através do licenciamento da propriedade industrial criada neste programa. T&C Amazônia - Como os interessados podem participar da chamada e quais benefícios? Alvaro Atilano - A través do portal www.caf. com/patentes. Neste portal há uma seção em português, e os participantes devem entrar na
62
T&C Amazônia Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
seção “chamadas”, cadastrar-se e revisar a informação relativa de cada tecnologia. Aconselhamos ler o documento “Como participar da primeira chamada” que encontra se do lado esquerdo do site. T&C Amazônia - A Amazônia Ocidental, especificamente o Amazonas, apresenta um potencial enorme por conta de seus recursos naturais e seus rios navegáveis podem representar uma saída para a geração de energia para comunidades ainda desprovidas de energia elétrica. Como o senhor avalia esse potencial na perspectiva de patentes e investimentos do CAF? Alvaro Atilano - Precisamente uma das tecnologias identificadas pelo CAF é “geração de energia elétrica de rios navegáveis”, por isso visamos receber propostas que tenham o potencial de atender o problema de eletrificação das zonas rurais não conectadas com os sistemas de transmissão. Da mesma forma, tecnologias para o aproveitamento de recursos na Amazônia, ou para atender os problemas ambientais da exploração desses recursos são preocupações da CAF, e que tem o potencial de conformar em novos programas tecnológicos apoiados na Iniciativa. T&C Amazônia - Muito se fala em investimentos em ciência e na aproximação da academia com o setor produtivo. De que maneira iniciativas como essa do CAF podem estimular tecnologias para o mercado de maneira mais imediata? Alvaro Atilano - Nesse caso, estamos falando de questões de políticas públicas industriais e educacionais. No caso da Iniciativa, é um programa que tenta criar essa vinculação como um resultado indireto, através da criação de patentes tecnológicas as quais teriam o potencial de ser comercializadas por empresas da região (ou estrangeiras a través do licenciamento). Uma das atividades que o CAF tem realizado são reuniões com autoridades das áreas de ciência e tecnologia para apresentar os benefícios de implementar este tipo de programas nos seus países, o que teria um impacto nos mercados ainda maior.
T&C Amazônia
Ano XII, Número 25, I Semestre de 2015
63