Edição 31 • dezembro 2017 • Omar Peres
Edição 31 dezembro/janeiro/fevereiro 2018
thepresident
Omar Peres
Novo dono do Jornal do Brasil
O REI DO RIO
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editorial
E
sta THE PRESIDENT tem um pé no Rio de Janeiro. Não só porque é verão – e dos mais quentes. Mas sobretudo porque nosso personagem de capa é o empresário Omar Peres – embora mineiro, ele se tornou carioca honorário. Tão carioca que, otimista como poucos, acredita numa breve recuperação do Rio de Janeiro. É o que defende, enfático, na caudalosa entrevista concedida a Tom Cardoso. Omar, mais conhecido por Catito, de fato sabe recuperar e impulsionar ao êxito o que, à primeira vista, parecia fadado a um final melancólico. Foi assim com o estaleiro Mauá e com restaurantes legendários como o Bar Lagoa e o La Fiorentina. Irrequieto, ele reinaugurou neste ano a casa noturna Hippopotamus – em sociedade com Ricardo Amaral –, comprou o Bar Luiz (que tem 130 anos), a marca Jornal do Brasil e pretende reabrir a casa de espetáculos Canecão. O samba carioca também aparece por inteiro nas fotos do carioquíssimo Walter Firmo, nascido no bairro de São Cristóvão. Ao completar 80 anos, o fotógrafo conversou com o jornalista Marcos Diego Nogueira. Marquito traçou um inspirado perfil desse artista refinado, sempre incumbido de retratar outros artistas refinados – Pixinguinha, Clementina de Jesus, Cartola, Chico Buarque, Moreira da Silva. Para equilibrar, publicamos um delicado passeio por São Paulo. Gaúcho radicado na capital paulista há mais de quatro décadas, Renato Modernell compôs um roteiro histórico-sentimental da rua Nestor Pestana, que tem apenas um quarteirão. Impressiona no texto, mais do que a qualidade e a riqueza de informações, a importância histórica dessa centenária ruela do centro. Ela presenciou as grandes jogadas do craque de futebol Friedenreich, o auge da boêmia e o despertar da moderna televisão no Brasil. Finalmente, São Paulo ainda está presente nos perfis de três CEOs da área de alta tecnologia digital, todas mulheres, todas apaixonadas pelo que fazem. Caso da jornalista Lúcia Helena de Oliveira, autora da reportagem.
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expediente
the president Publicação trimestral da Custom Editora edição 31
publishers André Cheron e Fernando Paiva
REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br editora de viagem e gastronomia Luciana Lancellotti luciana@customeditora.com.br ARTE Diretor Guilherme Freitas guilhermefreitas@customeditora.com.br assistente Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br PROJETO GRÁFICO Alessandro Meiguins e Ken Tanaka COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto André Borges Lopes, Lúcia Helena de Oliveira, Luiz Guerrero, Marcos Diego Nogueira, Mauro Marcelo Alves, Raphael Calles, Renato Modernell, Ronaldo Bressane, Silvana Assumpção, Silvio Lancellotti e Tom Cardoso Fotografia Angelo Pastorello, Jorge Bispo e Tuca Reinés Tratamento de imagens Daniel Vasques e Felipe Batistela ilustração Ariel Bertholdo, Guilherme Freitas e Raphael Alves Revisão Goretti Tenorio Capa Omar “Catito” Peres por Jorge Bispo THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident
PUBLICIDADE Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Oswaldo Otero Lara Filho (Buga) oswaldolara@customeditora.com.br Gerente de Publicidade e Novos Negócios Alessandra Calissi alessandra@customeditora.com.br executivOs de negócios Northon Blair northonblair@customeditora.com.br Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 12.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Bandeirantes Soluções Gráficas Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702
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foto tuca reinés
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sumário
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16 VISÃO
62 tempo
110 vento
20 AUDIÇÃO
72 tecnologia
117 esporte
24 OLFATO
78 perfil
122 mulher
28 PALADAR
86 memória
130 viagem
32 TATO
92 história
138 THE PRESIDENT
36 CAPA
100 velocidade
51 blackbook
102 motor
Em matéria de poder, as mulheres da série House of Cards bancam todas as apostas
Lizzie, a fã brasileira que gravou com os Beatles há 50 anos em Abbey Road
A perfumaria Diptyque, de Paris, também vende velas. E é incensada pelos connaisseurs
Quem faz o melhor churrasco: brasileiros ou argentinos? Essa polêmica vai longe
Todo mundo passa a mão nas estátuas públicas que, reza a superstição, dão sorte
Omar “Catito” Peres torna sucesso todas as empresas que adquire
Do novo vinho da Bodega Garzón à novíssima biblioteca na China
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78 Fomos ao México conferir as novidades do Salón Internacional Alta Relojería
As mulheres que comandam, no Brasil, as grandes empresas de informática
Walter Firmo, o fotógrafo carioca que não tira os olhos do Brasil, faz 80 anos
A Nestor Pestana, em São Paulo, é só uma ruela. Mas tem muito caso para contar
Há 100 anos, a Mitsubishi Motors detonava uma revolução no Japão
Roland Garros não era tenista. Mas sim um símbolo dos tempos heroicos da aviação
Eles foram grandes atletas. Mas não rejeitavam nem confusão nem briga
Seja no Japão ou em Taiwan, onde morou, a paulistana Bárbara Nogueira é linda
Pelos caminhos da Noruega, o país mais próspero do planeta
Em Moscou, o encontro de Vladimir Putin, Pelé e Diego Maradona
Quem olha o Lexus vê um trabalho baseado nos mestres do tradicional artesanato japonês
O que vem por aí nos lançamentos das montadoras de primeiríssimo time
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colaboradores
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CAPA
CAPA
Tom cardoso
jorge bispo
silvana assumpção
Carioca radicado em São Paulo, filho do
Nascido numa família de atores,
Ela não escolhe assunto. Escreveu sobre
jornalista Jary Cardoso, Tom se revelou
bem que pensou em seguir essa alta
economia, negócios, cultura e estilo em
um cronista de humor sagaz e, também,
linhagem. No meio do caminho, porém,
veículos da envergadura de CartaCapital,
olfato
raro ouvido para os diálogos. Pudera. Ele
tinha alguma timidez – e uma câmera.
Exame e Forbes. Carioca radicada em
é ótimo de conversa. Entrevistou para a
Um clique aqui, outro ali e Bispo se
São Paulo, a versátil Silvana conta nesta
capa de THE PRESIDENT os empresários
transformou em um dos melhores
edição a vitoriosa saga da Diptyque, que,
Boni, Roberto Medina e, agora, Omar
fotógrafos do país. Para esta edição,
mais do que uma perfumaria parisiense,
“Catito” Peres.
retratou Omar “Catito” Peres.
é uma criadora de estilo.
paladar
Tempo
tecnologia
mauro marcelo alves
Raphael Calles
Lúcia helena de oliveira
Qual é o melhor churrasco: o nosso ou
Trabalhou na TV Bandeirantes, RedeTV!
Em uma longa carreira na Abril e, agora,
o dos argentinos? O jornalista e chef
e Diário do Grande ABC, além de revistas
em seu blog no UOL, Lúcia sempre
de cozinha Mauro Marcelo responde,
de lifestyle. Tornou-se um dos raros
escreveu sobre saúde. Mas espichava
acima das xenofobias e ufanismos.
jornalistas brasileiros especializados
os olhos para a THE PRESIDENT.
Das parrillas portenhas aos chulengos
em relojoaria. Foram quase cinco
O assunto aqui seria outro: tecnologia.
perto dos Andes; do espeto corrido
anos à frente do WatchTime Brasil.
Justo para quem se atrapalha até com
de Porto Alegre ao fogo de chão nos
Nesse período, fez mais de 30 viagens
controle remoto. Ousada, entrevistou
pampas, ele mastigou muita carne.
internacionais para cobrir o assunto.
três mulheres na liderança desse setor.
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paulo fridman
colaboradores
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Perfil
Perfil
memória
Marcos Diego Nogueira
tuca reinés
RENATO MODERNELL
Entre assuntos como viagem, tecnologia
Baterista de rock na adolescência,
Aos 22 anos, cobriu as eleições na Itália
e cerveja, a música é o que se destaca
formou-se em arquitetura e urbanismo
para um grande jornal. Depois, passou
no gosto deste jornalista, baixista
em Santos. Já então demonstrava um
por muitas revistas como repórter,
e barman paulistano. Entrevistar o
óbvio talento para a fotografia. Seu
editor ou redator-chefe, até virar
fotógrafo Walter Firmo, lenda viva que
trabalho pode ser visto em vários
professor de jornalismo do Mackenzie,
retratou músicos como Pixinguinha e
museus, fundações e coleções de
em 2006. Diz ele: “Muito do que vivi
Cartola, teve um sentimento especial.
diversos países. Para esta edição,
está resumido na Nestor Pestana, a rua
“Firmo é uma enciclopédia”, resume.
retratou o colega Walter Firmo.
que retrato nesta edição”.
Memória
vento
esporte
Ariel Bertholdo
ANDRÉ BORGES LOPES
silvio lancellotti
Estudante de artes visuais, desistiu
Era para ter sido médico em Minas
Jornalista desde os números zero de
da carreira de pedagogo para seguir seu
Gerais. Mas fugiu da faculdade para
Veja, em 1968, coube a ele acompanhar
verdadeiro talento: o lápis e o papel. No
estudar história e jornalismo. Tornou-
a saga de Pelé em busca do seu gol de
desenho, usa a experiência pedagógica
se consultor em tecnologia editorial e
número 1.000, no final de 1969. No
para adaptar e traduzir conceitos
gráfica. A miopia impediu que o gosto
ano seguinte, cobriu a Copa no México.
em traços, geralmente em grafite e
por aeronaves se convertesse em brevê
O esporte sempre foi um dos seus
branco. Ilustrou a seção “Paladar” e a
de piloto. Mas não impossibilitou que se
assuntos prediletos, seja em IstoÉ, Folha
reportagem sobre a rua Nestor Pestana.
tornasse pesquisador do assunto.
de S.Paulo ou diversas emissoras de TV.
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visão POR ronaldo bressane
todo o poder para elas House of Cards marcou época por diversas razões artísticas, mas talvez o motivo por ter entrado na história das séries deve-se a um fato extratelevisivo: trata-se da primeira produção que equipara (ou perto disso) o salário de sua estrela à de seu astro. Com o sucesso das duas primeiras temporadas, a texana Robin Wright, 51 anos, bateu a ponta do salto agulha e fez ver aos executivos da Netflix que Claire Underwood era tão importante quanto Frank Underwood, o franco-atirador que chega à presidência dos Estados Unidos. Sendo assim, ou receberia a mesma quantia que seu parceiro Kevin Spacey ou não faria mais a série. Segundo reportagem do Business Inside, enquanto Robin faturava US$ 420 mil, Spacey ganhava 500 mil verdinhas por episódio Robin Wright em MulherMaravilha e em House of Cards
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– até a terceira temporada, quando passou a receber US$ 1 milhão, o que fez dele um dos atores mais bem pagos do mundo do streaming. Ao descobrir que, apesar de ser mais popular do que Spacey, ganhava menos, a atriz aproveitou sua força nas redes sociais e colocou a boca no mundo. Hoje, Robin Wright afirma ter conseguido um aumento substancial, além de se tornar uma das produtoras executivas da série e dirigir alguns episódios. Ainda assim, não tem certeza se ganha o mesmo que Spacey, um dos cocriadores de House of Cards. “Me disseram que eu estava recebendo o mesmo e acreditei, mas recentemente descobri que não é verdade”, disse ela ao site Net-a-Porter. “Claire e Francis são equivalentes no poder, na união e no argumento da série. Posso não falar tanto quanto Francis, mas Claire não precisa verbalizar para parecer poderosa. Francis é um orador, um poeta, um sedutor. Claire é o ego que se senta por trás e o dirige, mas são pilotos do mesmo avião. Então minha luta continua”, contou Robin, que, ao lado de atrizes como
Jennifer Lawrence e Patricia Arquette, combate pela causa da paridade salarial de gêneros em Hollywood. Só para dar uma ideia da disparidade bizarra, a fantástica Gal Gadot levou US$ 300 mil por sua Mulher-Maravilha, o maior sucesso da temporada (aliás Robin Wright ali comparece como a general Antiope), enquanto o pouco carismático Henry Cavill embolsou US$ 14 milhões por seu fraco Super-Homem. Robin Wright é um caso totalmente à parte em uma sociedade desigual e injusta. O fato de ser branca, rica e detentora de um considerável número de fãs deu a ela superpoderes para aumentar seu cachê. A verdade é que, nos EUA, em média, as mulheres ganham 79 centavos para cada dólar faturado pelos homens – mulheres negras fazem 63 cents e latinas, 54. Robin Wright se ressente de um longo período longe do estrelato, e por motivos tipicamente machistas. Quando estrelou Forrest Gump, aos 28 anos, era uma das mais promissoras atrizes americanas. Mas estava casada com o selvagem Sean Penn, com quem teve dois filhos – que lhe tomaram a atenção e o foco dos anos seguintes, fazendo com que sua carreira desse uma estacionada. Nem todas as mulheres são Beyoncés
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As atrizes que mais influenciam os bastidores da política em House of Cards, a principal série da Netflix
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visão
Neve, Molly e Kate: papéis de destaque em uma série que, continue ou não, marcou época
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capazes de equacionar maternidade, família, carreira e ainda manterem o sex-appeal (nem sequer deveriam ser pressionadas a isso). O casamento com Penn foi atribulado: teve várias idas e vindas, nas quais ela usou e depois dispensou o sobrenome do então marido, até se separarem em 2010. Depois disso, Robin namorou outro bad boy, o ator Ben Foster (Hell or High Water), 14 anos mais novo, relacionamento que teve também muitas reviravoltas entre 2012 e 2015. Nos últimos tempos, a atriz deu um tempo dos encrenqueiros para focar suas atenções sobre suas plataformas de petróleo (tem duas no Texas), a filantropia e o ativismo. Ela luta pelos direitos humanos da República Democrática do Congo, criou a Pour les Femmes, companhia que produz roupas de dormir para mulheres com ênfase no conforto e na segurança, e destina os lucros a favor da Action Kivu e Synergie des Femmes,
organizações que apoiam mulheres que sofrem violência no Congo. Além disso, Robin é embaixadora oficial de uma fundação de apoio às vítimas de miastenia grave e porta-voz honorária da Fundação Gordie, organização sem fins lucrativos que alerta jovens a respeito dos perigos do álcool e trotes nas universidades. Notável por escolher papéis de mulheres fortes, enquanto rodava House of Cards Robin Wright descansou usando seu rosto poderoso em duas singulares ficções científicas: Blade Runner 2049 (em que chefia Ryan Gosling) e no sensacional O Congresso Futurista (em que, raridade concedida a pouquíssimos atores, como John Malkovich, faz o papel de si mesma). Quanto à vida pessoal, ainda é cedo para comemorar a solteirice da cinquentona mais sexy do mundo. Há pouco ela foi vista dando uma voltinha com... sim, ele mesmo, Sean Penn. Parece que entrar na lista das 100 mulheres mais influentes do mundo não fez com que Robin Wright escolhesse melhor seus parceiros. Mas isso não é da nossa conta. Escândalos sexuais Robin Wright não é a única mulher poderosa de House of Cards. A canadense Molly Parker, 45, brilhou como a deputada Jaqueline Sharp, líder da oposição no Congresso – bem como namorada do lobista Remy Danton, com quem estrelou as melhores cenas de sexo da série (a não ser que você conte os ménages à trois capitaneados pelos Underwood). Foi um importante contrapeso para Claire Underwood submergir a seu maquiavelismo e ser usada como títere nas mãos de Frank Underwood, que minou suas ambições de se lançar à presidên-
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Kate Mara e Kevin Spacey na cena mais erótica do seriado
cia. Talvez seja escanteada na próxima temporada. Afinal, em 2018, Molly Parker promete brilhar em sua própria série, no papel de Maureen Robinson no remake de Perdidos no Espaço – a lendária série dos anos 1960 que mostrou uma família vivendo em uma espaçonave. Como seu ex-partner, Mahershala Ali, também vai sair de House of Cards, ficaremos com saudades da alta octanagem erótica do casal Remy Danton e Jackie Sharp. A também canadense Neve Campbell, 42, foi um misterioso símbolo sexual ao estrear na terceira temporada de House of Cards. Apesar de nunca estrelar um ensaio sensual e jamais se deixar fotografar nua, a estrela da série Scream sempre esteve na lista das mulheres mais sexies do mundo — o famoso beijo em Denise Richards no filme Garotas Selvagens talvez explique. Mas Neve teve vida curta em House of Cards, onde trabalhou como a tensa estrategista dos Underwood. Depois de duas temporadas, foi assassinada. Carreira rápida na série também teve Kate Mara, que deixou saudades. A nova-
Robin Wright tem 51 anos. Molly Parker, 45. Neve Campbell, 42. Maduras e sexies, elas representam a nova mulher. Ainda assim, em geral, as estrelas ganham menos que os astros -iorquina de 33 anos, irmã da também atriz Rooney Mara (de A Garota com o Dragão Tatuado), fazia o papel da intrépida jornalista investigativa Zoe Barnes. Vegana, ativista anticarne viciada no programa de treinamentos físicos crossfit e fã de futebol americano (sua família é dona dos New York Giants, por parte de mãe, e dos Pittsburgh Steelers, por parte de pai), Mara ficou pop na série Nip/Tuck ao interpretar a cheerleader bissexual Vanessa. Estrelou uma penca de filmes independentes, causou furor nas cenas em que desfilou o corpo perfeito em The Shooter, de Mark Whalberg, até ganhar o estrelato como a Mulher Invisível dos Quatro Fantásticos, em 2015 – quando conheceu seu atual marido, Jamie Bell. Em House of Cards, Kate Mara durou 14 episódios, em que escalava o poder no jornal onde trabalhava graças às inside information obtidas junto a Frank Underwood, que então buscava derrubar o presidente
dos EUA. Nervosa, ambiciosa, inteligente e muito sexy, Zoe foi a única mulher que abalou sexualmente o ambíguo Underwood. Até que ele a empurrasse na frente de um metrô, quando a repórter estava próxima de descobrir seu dedo na morte do deputado Peter Russo. Mais vistoso esqueleto no armário do sanguinário presidente, por certo as revelações de Kate Mara ressurgirão na próxima temporada – quando a queda de Frank marcará a ascensão de Claire. No entanto, num plot twist em que a vida imita a arte, a série foi suspensa pela Netflix por conta dos recentes escândalos sexuais envolvendo Spacey. Na retomada das gravações da última temporada, ele está fora da jogada. Ao que tudo indica, quem dará as cartas no encerramento da história será a personagem de Robin Wright. Ao menos na ficção, veremos, enfim, uma mulher no comando da Casa Branca? Faça sua aposta. P
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audição POR WALTERSON SARDENBERG Sº
a day in the life Há 50 anos, em 4 de fevereiro de 1968, a carioca Lizzie Bravo gravava com os Beatles em Abbey Road
O
dia 4 de fevereiro de 1968 foi um domingo gelado em Londres. Mas isso não impediu a carioca Elizabeth Villas Boas Bravo, a Lizzie, 16 anos, de cumprir um ritual diário: passar horas diante dos estúdios da gravadora EMI, em Abbey Road, para ver os Beatles entrando e saindo, e – quem sabe? – descolar um autógrafo, tirar fotos e trocar algumas palavras com os rapazes. Naquele dia, ela estava com algumas amigas quando Paul McCartney abriu a porta do corredor dos estúdios – onde o porteiro tinha deixado que ficassem por serem poucas –, examinou o grupo e perguntou à queima-roupa: “Alguma de vocês consegue sustentar uma nota aguda?”. Lizzie levantou a mão com rapidez. “Foi uma atitude natural. Eu era soprano
e semprei cantei nos corais da escola”, explica. Nas duas horas seguintes, Lizzie e sua amiga Gayleen fizeram o que nenhum fã jamais poderia imaginar: gravar com a maior banda de rock de todos os tempos. A música era a balada “Across the Universe”, composta por John Lennon. Aquela foi a primeira gravação da canção, pensada para um compacto duplo, e que também apareceria, com mudanças feitas pelo produtor Phil Spector – inclusive tirar os vocais das meninas –, no derradeiro LP lançado pelos Beatles, Let it Be. A versão
original chegou às lojas em 1969, em um álbum beneficente e coletivo em prol do World Wildlife Fund, que acabou se chamando No One’s Gonna Change Our World. Aliás, uma paráfrase do refrão “Nothing’s gonna change my world” (“Nada Vai Mudar Meu Mundo”), que Lizzie e Gayleen entoaram dezenas de vezes no estúdio. “O ambiente era muito descontraído, com um fazendo piada com os outros o tempo todo. Era uma turma divertida e sem estrelismos”, relembra Lizzie, que deu muita sorte: cantou no mesmo microfone de John, seu beatle preferido, enquanto Gayleen cantava ao lado de Paul. Depois trocaram de lugar. Também estavam no estúdio um técnico de som – não, não era o engenheiro Geoff Emerick – e seu assistente, além de dois faz-tudo Lizzie hoje, com Lennon em 1967 e o LP em que saiu a gravação
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audição
Diante de Abbey Road, George e John Lennon (autografando o Sargent Pepper’s)
dos Beatles, os britânicos Neil Aspinall e Mal Evans. “O Mal, muito simpático, fotografou tudo com uma câmera de 35 milímetros. Mas acho que o filme rodou em falso, pois não saiu nenhuma foto, como fiquei sabendo depois”, diverte-se. Mal, que entre outras coisas bate a bigorna com martelo na gravação de “Maxwell’s Silver Hammer”, também fez um chá com
me perguntam se cheguei a ser amiga dos Beatles, relato esse episódio”, diz. “Se fôssemos amigos, acho que me convidariam para o restaurante”, brinca. Lizzie tem esse apelido por causa do rock’n’roll “Dizzy Miss Lizzy”, de Larry Willians, regravado pelos Beatles em 1964. Ela morou dos 3 aos 12 anos em Caracas, na Venezuela, onde o pai, funcionário da Encyclopaedia Britannica, trabalhou. De volta ao bairro de Botafogo, no Rio, apaixonou-se por John Lennon
Lizzie costumava ficar até as 4 da madrugada na frente dos estúdios da Abbey Road. Também fazia plantão na porta da casa de Paul McCartney. O resultado: dúzias de fotos inéditas biscoitos. “Ele me serviu o chá com leite, mistura que os ingleses amam e eu detesto, mas bebi assim mesmo.” Alguém no estúdio reclamou de fome e saíram todos para comer alguma coisa. Menos as duas adolescentes, que retornaram ao corredor, onde as demais fãs estavam ansiosas por ouvir as novidades. Uma hora depois, os rapazes voltaram e retomaram as gravações, de novo com a little help de Lizzie e Gayleen. “Quando
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e sua banda. Aos 15 anos, em 1966, leu numa revista que os Beatles nunca mais se apresentariam ao vivo. Daí por que decidiu ir encontrá-los na Inglaterra, plano em conjunto com uma amiga, Denise. She’s leaving home Enfim, desembarcou em Londres em 14 de fevereiro de 1967. Denise já estava por lá e retornou no final das férias escolares. Lizzie foi ficando. Apesar da
pressão da família. “Quando viajei, já sabia que não retornaria tão cedo”, confessa. O pai de Lizzie, depois de meses de insistência para que a filha voltasse ao Rio, tomou uma atitude drástica: parou de enviar dinheiro. A garota se viu obrigada a trabalhar. “Virei cozinheira e arrumadeira de um hotelzinho de quinta”, conta. “Logo eu, que nunca havia feito a própria cama.” O dono do hotel sem estrelas notou essa particularidade – e a despediu. Lizzie se deu melhor como au pair, seu segundo emprego. Ainda bem que sobrava algum dinheiro para shows. Ela viu entre outros, Blind Faith, The Hollies, T. Rex, Joe Cocker e duas vezes Jimi Hendrix – “inclusive aquela apresentação em que ele abriu solando Sargent Pepper’s, dias depois de a gravação dos Beatles chegar às lojas”. Sobrava também tempo para o sagrado périplo diário. Além das idas aos estúdios da EMI – “ninguém ainda chamava de Abbey Road” –, onde costumava ficar até as 4 da matina, Lizzie fazia plantão na frente da casa de Paul, o único que morava em Londres, e não nos subúrbios. “O John ia sempre de tarde, para comporem juntos antes de ir
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Em 2015, Lizzie lançou um livro com suas recordações londrinas adolescentes: Do Rio a Abbey Road
Ringo em frente à casa dele (1967) e Paul saindo do estúdio (1969)
para os estúdios”, rememora. “Também vi por lá Mick Jagger.” Paul, por sinal, residia tão perto que, muitas vezes, ia aos estúdios a pé. E sem seguranças. “A fase histérica da beatlemania tinha passado. Já não havia aquela gritaria em torno dos Beatles”, conta. “Eu via o Paul chegando descalço, que era como gostava de andar de vez em quando no verão. Achei muito natural ele ter posado assim para a capa do Abbey Road.” Get back Lizzie só voltou ao Brasil de vez em outubro de 1969. No mês anterior havia sido lançado justamente Abbey Road, o último disco gravado pelos Beatles – o álbum Let it Be saiu depois, mas foi gravado antes. Em março do ano seguinte, Lizzie, então trabalhando como secretária bilíngue no Rio, conheceu numa mesma noite Milton Nascimento e o grupo que acompanhava o cantor, o Som Imaginário. Ficaram amigos. Tanto que Lizzie se casou, nove meses
depois, com um dos integrantes da banda, o saudoso compositor, cantor e músico Zé Rodrix, com quem teria sua única filha, Marya, hoje com 46 anos, mãe de sua neta Morgana, de 24. Milton foi padrinho de casamento. “Sabe a ‘esperança de óculos’ da letra de “Casa no Campo”? Sou eu”, diz, referindo-se à canção que Rodrix fez com Tavito, sucesso na voz de Elis Regina. Começava ali a longa carreira de Lizzie como vocalista de apoio de Joyce, Milton, Egberto Gismonti. A lista é interminável. Ela cantou nos palcos e em gravações com os maiores astros da MPB, de A a Z. Não se trata de força de expressão. Com a letra “A”, por exemplo, pode-se citar Alcione, Alceu Valença e Amelinha. Já com “Z”, a lista reúne, entre outros, Zé Rodrix, Zé Renato e Zé Ramalho. Em 2015, enfim, lançou um livro sobre seus tempos londrinos. Chama-se Do Rio a Abbey Road e teve a primeira edição, publicada de forma independente, esgotada. Hoje, a autora, aos 66 anos,
procura editor para uma segunda edição e está traduzindo, também, o texto para o inglês. O livro reúne os diários de adolescente de Lizzie e surpreende pela quantidade de fotos inéditas dos Beatles, quase todas com composição rigorosa, tiradas por uma garota muito jovem, com uma câmera rudimentar. “Era uma imitação da Instamatic da Kodak, feita na Itália e vendida em uma rede de drogarias na Inglaterra, a Boots. Só tinha um botão.” Em 1990, Paul participou de uma pequena coletiva em Indianápolis, nos Estados Unidos, em que anunciou os shows da sua primeira vinda ao Brasil. Na ocasião, ao apertar a mão de Lizzie, perguntou-lhe porque se lembrava dela. “Eu disse que ele se recordava porque tínhamos cantado no mesmo microfone. Paul botou a mão na cabeça e se lembrou de tudo. Foi muito legal.” P
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olfato POR SILVANA ASSUMPÇÃO colagem guilherme freitas
Vive la différence!
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em só das marcas icônicas do luxo francês como Chanel, Dior, Guerlain e outras mundialmente conhecidas vive a perfumaria fina, mas é inegável que a simples assinatura “parfum de Paris” já eleva qualquer produto ao topo dessa poderosa indústria. E o melhor é que há ainda muitas marcas francesas além daquelas superfamosas para se descobrir. É o caso da Diptyque, embora para conhecedores essa grife de nome bizarro seja cultuada há muito tempo. Mas, como nem todo mundo é bom entendedor, vale contar a história da marca nascida há mais de 50 anos em Paris com uma aura personalíssima de criatividade e vanguardismo. Até porque, no Brasil ela só chegou há cerca de um ano, integrando o portfólio de fragrâncias e cosméticos da Dominique Maison de Beauté – mix de loja e spa aberta em São Paulo, nos Jardins, por essa época. Talvez a única marca de luxo entre as fragrâncias que não deve sua origem a alguma grande grife de moda, nem à própria indústria do setor, a Diptyque nasceu como uma loja de criações exclusivas para decoração fundada por três artistas: a francesa Christiane Gautrot, mosaicista, designer de interiores e de tecidos;
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o pintor inglês Desmond Knox-Leet (morto em 1993 e cuja biografia inclui ter trabalhado no ultrassecreto serviço de inteligência britânico em Bletchley Park, durante a Segunda Guerra Mundial) e Yves Coueslant, este morto aos 87 anos em 2013. Nascido na França e criado em seus primeiros anos na Indochina, antes de fundar a Diptyque já tinha longa estrada como pintor, cenógrafo, decorador (para clientes notáveis como o escritor Jean Cocteau e os atores Jean Marais e Michèle Morgan), ator, empresário teatral e agente de grandes companhias como os circos de Moscou e Pequim. Os dois primeiros já trabalhavam juntos na criação de papéis de parede para renomados magazines de artigos para decoração quando se juntaram a Coueslant para abrir sua loja em Paris. O ano era 1961 e o alvo era ter um espaço próprio de venda dos tecidos criados por Gautrot e Knox-Leet, enquanto Coueslant cuidava
da administração. A Diptyque ainda hoje ocupa o mesmo endereço no número 34 do Boulevard Saint-Germain, um pequeno e charmoso imóvel de esquina que antes abrigava um café. O nome da loja foi inspirado em sua arquitetura, com a porta de entrada ladeada por duas vitrines idênticas, numa associação que, por sinal, apenas ocorreria a artistas plásticos: diptyque – ou díptico em português – é uma forma de apresentação de pinturas complementares feitas sobre dois suportes iguais ligados por dobradiças, de tal forma que a obra pode ser fechada ou aberta. Voilà. O fundamental é que a trinca compartilhava estéticas e paixões similares, entre elas a de viajar e garimpar antiques, artesanato e collectibles em geral. Graças a esta última, a Diptyque, que além de seus tecidos vendia velas coloridas desenhadas pelos mesmos artistas para combinar com eles, fabricadas por um fornecedor, logo foi se transformando numa espécie de bazar elegante e estiloso. Seu mix inusitado incluía brinquedos de madeira, caleidoscópios, teatri-
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A marca de fragrâncias Diptyque, de Paris, é tão exclusiva que chegou a descartar a publicidade
Yves Coueslant, Christiane Gautrot e Desmond Knox-Leet: os criadores de um clássico da perfumaria
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Em 1964, com três anos, a Diptyque foi descrita pelo guia Gault et Millau como uma “revendedora de quinquilharias”. Ainda naquela década se tornaria muito mais do que isso nhos, mantas galesas, toalhas de mesa criadas pela então jovem designer galesa Laura Ashley – depois famosa estilista e empresária da área –, pomanders (amuletos recheados com ervas aromáticas, usados na Idade Média como proteção contra pragas e doenças), pot-pourris (jarras cheias de pétalas de flores e ervas secas para perfumar ambientes) e mais uma miríade de pequenos itens. Entre eles, colares artísticos fabricados por Gautrot e Knox-Leet no misto de escritório, oficina e residência de Coueslant, em cima da loja. Por conta dessa eclética variedade a Diptyque foi descrita como “revendedora de quinquilharias” na edição de 1964 do guia Gault et Millau de Paris. Desde o ano anterior, a loja também começara a produzir velas aromáticas, um artigo raro na época, por sugestão do fornecedor que já tinha velas coloridas. Foi por meio delas que as fragrâncias entraram e se entranharam no DNA do
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negócio. As primeiras três velas perfumadas da Diptyque tinham aromas de bagas de espinheiro, chá e canela, todas hits instantâneos. O leque não cessou de se ampliar para outras variedades aromáticas finamente escolhidas e sempre fabricadas com a máxima qualidade, trazendo em seu rótulo o emblemático logotipo oval criado por Knox-Leet que caracteriza todos os produtos Diptyque até hoje. Antes de entrar na perfumaria, o que veio a acontecer alguns anos depois, as velas aromáticas da marca já tinham se tornado (como ainda são) um cult entre o público seleto que não precisava se preocupar com seus altos preços. Uma vela Diptyque em seu frasco de vidro, com 9 centímetros de altura e capacidade
de queima de 60 horas custa R$ 300 no site da Dominique Maison de Beauté, e as maiores, de 10,5 centímetros de altura e capacidade de queima de 90 horas, R$ 450. É o preço da perfeição, o mínimo que se pode dizer de velas que sempre foram e ainda são o carro-chefe da marca, embora sua perfumaria dispute com elas essa primazia há bastante tempo.
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O endereço número 1, no Boulevard SaintGermain, no ano de abertura da loja e hoje
O início da modernização Apesar do sucesso desses primeiros itens aromáticos, o resultado financeiro da loja era ainda precário, afundando especialmente no mítico ano de 1968, quando as constantes manifestações estudantis em Paris reduziram drasticamente o movimento das lojas do Boulevard Saint-Germain. Mas foi naquele ano também que Knox-Leet, que era fascinado por perfumaria desde a infância, convenceu seus parceiros a criar uma colônia própria.
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A escolha recaiu sobre uma receita do século 16 e surgiu a L’Eau, um aroma tanto para homens quanto mulheres, numa intuição avant la lettre do que hoje é uma tendência na perfumaria. Vieram depois a Vinaigre de Toilette (1973), a L’Eau Trois (1975), a Virgilio (1990) e a Philosykos (1996), esta ainda agora uma das mais apreciadas da marca. O negócio começou a deslanchar sem que o trio abandonasse jamais o espírito avant-garde da primeira loja. Por exemplo, os sócios eram contra fazer publicidade e mantinham em linha até perfumes que davam prejuízo para não decepcionar clientes que haviam se habituado a eles. Quando a morte de Knox-Leet em decorrência de uma simples operação de apendicite, em 1993, pegou todos de surpresa, Coueslant assumiu a criação de rótulos e fragrâncias e trouxe outra pessoa para a administração. Só então entrou no escritório o primeiro computador (até então, mesmo o fax era visto por Coueslant com reservas) e a Diptyque começou a se modernizar, abrindo suas primeiras lojas no exterior, em Londres, Boston e San
Francisco. O negócio foi vendido em 2005 para uma firma de private equity londrina, Manzanita, mas Coueslant seguiu envolvido com os produtos e a viver em cima da loja. Até sua morte podia ser visto com frequência sentado a um canto lá dentro. Natal dos artistas plásticos A Diptyque não parou mais de crescer e hoje a marca se espalha por pontos de vendas selecionados em mais de 40 países, dos Estados Unidos à Ásia, e mais de 20 lojas próprias em Paris e outras cidades da França, além de Londres, Chicago, San Francisco, Nova York, Doha, Dubai e Hong Kong. Nenhuma delas tem o charme particularíssimo do Boulevard Saint-Germain 34, mas procuram preservar seu estilo. As linhas para ambientes incluem mais de 50 aromas de perfumes líquidos e velas de diversos tamanhos, cores e modelos, inclusive fotóforos (lindas velas cuja luminescência provém de uma reação de substâncias químicas), sem esquecer de assessórios como vaporizadores e difusores. Os produtos para uso pessoal compreendem todo o leque da perfumaria além
A coleção 34 celebra a história da marca
dos perfumes e colônias propriamente ditos: sabonetes, espumas de banho, desodorantes, hidratantes, esfoliantes, óleos e cremes faciais e corporais. Um ícone de bom gosto parisiense, tudo que diz respeito à estética da Diptyque é cultuado por designers em todo o mundo – a forma oval, o branco e preto das letras e rótulos, seu característico papel de seda para presente com padronagens listadas e combinações de cores específicas para cada fragrância. A própria marca reverencia sua história com uma coleção batizada de “34”, da qual faz parte uma fragrância que procura capturar a complexa mistura aromática da loja do Boulevard Saint-Germain. Uma vez por ano, no Natal, artistas plásticos são chamados para criar edições limitadas de velas vendidas em caixas de três unidades. Toda perfumaria tem uma bela história, enfim, mas nenhuma, como a Diptyque, nasceu da paixão pela beleza e da arte do olhar. P
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paladar POR Mauro Marcelo Alves ilustração ariel Bertholdo
prova de fogo
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oucas coisas na alimentação humana são tão primitivas quanto o ato de colocar um pedaço de carne em cima do fogo. Certamente significou, para o homem das cavernas, um passo além da barbárie completa, ao acrescentar sabor e, nas circunstâncias da época, até um certo requinte: ele já não trincava nacos de carne crua como os animais selvagens. E também pouca coisa mudou nos milênios seguintes até hoje, se considerarmos que a mais significativa alteração em relação aos primórdios fumegantes está na adição de sal à carne. Mesmo assim, brasileiros e argentinos costumam degustar polêmicas ao defender o modo de uso do churrasco ou da parrilla. Qual é melhor? Para aferir esse pódio surgem as sutilezas em meio ao fogo bruto: carvão direto ou lenha queimando para virar carvão? Sal grosso ou sal fino? Carne espetada ou não? Grelha ou fogo de chão? E mais: quais cortes bovinos Carlos “Paty” López é o mais incensado parrillero argentino
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mais derretem o coração do parrillero ou do churrasqueiro, já que os restantes bichos em carne e osso ou espremidos numa tripa só fazem figuração? Bem, assim que as brasas viram cinzas, tudo se resume ao costume. Até uma ou duas décadas atrás os argentinos sempre estiveram à frente de nós quanto à raça de gado com a carne mais adequada, um fator primordial. Eram comuns no Brasil churrascarias levando às mesas carnes duras e beeem passadas. Mas as coisas melhoraram demais por aqui. Generalizando, os argentinos também têm a seu favor um envolvimento maior da população com as carnes braseadas, enquanto no Brasil a prática familiar é mais comum no Sul. A primeira grande diferença de estilos vem do uso da madeira na parrilla, nome que na realidade equivale à churrasqueira, em vez do carvão largamente utilizado por aqui. Isto é,
primeiro os hermanos queimam pequenos troncos que se transformarão nas brasas. O mais incensado parrillero argentino, Carlos “Paty” López, autor de livros sobre o assunto, diz que “a lenha agrega uma variedade de sabores, inclusive o gosto defumado”. Mas ele não descarta o uso direto de carvão, se necessário (é bom lembrar que o tempo de espera até a lenha virar carvão é mais longo). Esse processo prevê um recipiente gradeado em forma de “V” ao lado da parrilla, onde a madeira é colocada. As brasas que caem são puxadas para a parte central, na maioria das vezes uma grelha em posição inclinada, onde serão depositadas as carnes e assemelhados. Aqui entra outro detalhe distinto do nosso, que é a profusão de miúdos servidos antes: molleja, riñones, chinchulin e morcillas doce e salgada são alguns. Para acompanhar, salada, batatas fritas ou legumes grelhados e o sempre presente molho chimichurri, mistura de azeite ou óleo com alho, salsinha, orégano, vinagre, sal e pimenta calabresa. O churrasco no Brasil é um pouco mais anárquico, valendo acompanhar com arroz, vinagrete, mandioca e batata cozidas, pão de alho, farinha pura e nossa gloriosa farofa, que eles estranham. Usa-
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Afinal de contas, o que é mais saboroso: o tradicional churrasco brasileiro ou a parrilla argentina?
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paladar mos quase sempre sal grosso para temperar, enquanto o sal “entrefino”, a meio caminho dos dois, é o preferido por lá. Outra notória diferença está na matéria-prima. As raças bovinas típicas da Argentina são de procedência europeia, como a Red Angus, Aberdeen Angus, Hereford e Black Angus, enquanto no Brasil a maioria do gado tem origem indiana, da raça Nelore, embora já seja comum o cruzamento de Angus com Nelore, chamada Brangus. O Rio Grande do Sul cria também Aberdeen Angus e Hereford. Os cortes, tanto na Argentina como no Uruguai, que segue mais ou menos os mesmos rituais do fogo, são um pouco diversos dos nossos, sobretudo por causa do biotipo das raças. As de origem europeia têm carnes mais macias por terem finas camadas de gordura em seu interior (marmoreio), enquanto a zebuína Nelore é mais rústica, mas ganha em
sabor por ter mais gordura externa. O exemplo maior disso é a deliciosa picanha, imbatível nos nossos churrascos, enquanto o corte equivalente das raças europeias, tapa de cuadril, é menos denso e untuoso. Numa parrilla são unânimes o vacio (ponta de agulha), o asado de tira (costela), o ojo de bife, o bife ancho e o bife de chorizo (todos retirados do contrafilé), hoje já muito assimilados entre nós. Excetuando as raças bovinas, o cordeiro é bem apreciado em ambos os países, com aceitação mais reduzida no Brasil. Por fim, rodízio é coisa nossa espalhada pelo mundo, com o imprescindível espeto que argentinos e uruguaios esnobam, a menos que estejam fazendo o asado criollo, com o fogo de chão comum nos pampas e sobre ele peças inteiras espetadas. Mas no crepitar das brasas e res-
pondendo à pergunta lá do início sobre qual método pode ser melhor, o que vale mesmo é a alegria em volta do primitivo fogo, cervejinha gelada e caipirinha daqui ou Malbec de lá, carnes assim ou assadas. Simples, embora com os hermanos a coisa possa ter um forte tempero nacionalista. Veja por que a seguir. Pátria chamuscada Os “causos” envolvendo jeitos diferentes de fazer parrilla/churrasco normalmente ficam restritos ao local e à duração da comilança, mas naquele 14 de junho de 2015 o assunto ganhou ares de tragédia nacional. Bem longe, em Gotemburgo, na Suécia, ao final do World Barbecue Championship (Campeonato Mundial de Churrasco), o célebre orgulho argentino tinha virado cinzas. A equipe que representou o país, batizada
Lá e cá, os cortes são bem distintos. Mas há uma aproximação cada vez maior nos hábitos de consumo
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de Fuegos de Oktubre, ficou em 52º lugar no certame. E eram 52 participantes. “¿Qué pasó, qué pasó?” era a pergunta aflita que pipocava nas redes sociais e nas versões digitais da imprensa dos nossos vizinhos. Após algumas angustiantes horas, a resposta da equipe foi clara como o Sol de Maio que brilha no centro da bandeira argentina: ela simplesmente resolveu peitar as regras do concurso, que mandava fazer o asado em churrasqueiras tipo tambor (chulengos) e, quase como uma afronta aos costumes argentinos por parte dos organizadores da World BBQ Association, servi-lo com o famoso molho agridoce barbecue, o BBQ dos americanos. Estufando o peito como Maradona, os hermanos decidiram fazer fogo de chão e levar aos jurados (entre eles, um argentino) não o BBQ, mas seu molho nacional, o chimichurri. Esclarecida a razão
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da lanterninha no concurso, a pátria se dividiu entre os que apoiaram a decisão, chamando os membros da equipe de “heróis” por defender os símbolos da nação, e outros que não aceitaram o “papelón
da Argentina, mesmo que isso significasse deixar de lado a competição e as aspirações de ganhar. Nem molho BBQ, nem chulengo. Um chimichurri de partida, e fogo ardendo no chão para arrebatar
Uma grande diferença é a matéria-prima. Os argentinos criam gado de procedência europeia, como o Hereford, enquanto por aqui a raça preferida é o Nelore, de origem indiana mundial” protagonizado em Gotemburgo. A coisa esquentou entre os críticos, até com viés machista, quando souberam que a equipe Fuegos de Oktubre era capitaneada não por um experimentado parrillero, mas por uma mulher, Marcela Garavano. E mais: na equipe havia uma vegana! Os comentários a esse detalhe são impublicáveis. Marcela justificou: “Nós decidimos fazer o nosso, um churrasco ao estilo
um pouco de frio neste canto do norte da Europa. Gostaria que pudessem sentir a alegria que sentimos e o significado de termos participado dessa experiência. Como é bom ser argentino!”. No World Barbecue Championship de 2017 – o concurso é realizado a cada dois anos –, realizado em outubro em Limerick, na Irlanda, com 91 participantes e no qual o Brasil ficou em 74º lugar, a Argentina não participou. P
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Tato POR WALTERSON SARDENBERG Sº
toca aqui! Apesar das provas em contrário, visitantes passam a mão em monumentos mundo afora em busca de sorte
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cemitério Père-Lachaise, em Paris, recebe mais de 3,5 milhões de visitantes por ano. Estranho? Nem tanto. A rigor, as Pirâmides de Gizé e o Taj Mahal, que recepcionam ainda mais turistas, não passam de criptas. Além disso, o Pére-Lachaise tem a maior concentração de moradores ilustres, chamariz imortal iniciado em 1817 quando seu primeiro dono, vivaldino, ali guardou os supostos restos de Molière, La Fontaine e do casal Abelardo e Heloísa. Estranha, no duro, é a peregrinação ao mausoléu do jornalista Victor Noir, enterrado no Père-Lachaise em 1870 e cercado de vizinhos muito mais célebres, de Proust a Jim Morrison. Ainda mais esquisito: um imenso contingente dos visitantes esfrega a mão na estátua do escriba bem na área do bronze que um comentarista de Carnaval na TV chamaria de genitália. O pobre Victor morreu assassinado na flor dos 21 anos, às vésperas de se casar. Baleado, sofreu um acesso de priapismo, num crime que abalou Paris – não pela involuntária ereção da vítima, mas pela importância política do algoz, primo do imperador Napoleão 3º, a quem o jornalista atacava num periódico. A estátua, realista, mostra Victor no instante seguinte ao
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crime, incluindo a nuança do instrumento em riste. O hábito de apalpar a escultura, instituído pelo populacho ainda no século 19, se deve a uma superstição: acredita-se que, no caso das mulheres, promova a fertilidade e, no dos homens, vigore a vida sexual. Embora seja o mais insólito, este não é o único monumento em que os visitantes passam a mão para melhorar de vida. Longe disso. Até porque as superstições são tão antigas quanto a raça humana. Já dizia Millôr Fernandes: “Não tenho superstições. Ser supersticioso dá azar”. Em geral, esfregar a mão ou outra parte do corpo nos monumentos tem o objetivo de atrair sorte. Um rito surgido, quase sempre, sem maiores explicações. Foi assim com o Charging Bull (Touro de Carga), em Nova York. Sabe-se lá como, o autor da escultura, Arturo Di Modica, juntou os amigos, em 2009, e conseguiu depositar a pesadíssima obra, de 3,2 toneladas, bem diante da Bolsa de Valores de Nova York, em Wall Street. Falou-se, à época, que o touro era um comentário irônico sobre a duvidosa
força da bolsa, que quebrara de modo estrepitoso dois anos antes. Por via das dúvidas, a prefeitura guardou o monumento, embora voltasse atrás pouco depois, em virtude do clamor popular. Por dúvida das vias, escolheu outra rua, a Broadway para instalar o bovino. É ali que, todos os dias,
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os transeuntes apalpam os genitais do touro. Sim, dizem que dá sorte. A casa de Julieta Em Milão, na Itália, ocorre algo similar. Da mesma maneira, em um endereço histórico, a Galeria Vittorio Emanuele II, finalizada em 1877. No centro da construção, há um mosaico no chão em honra à Casa de Savóia, família que então reinava na Itália. O desenho tem um brasão onde se destaca a figura de um touro. Dizem que dá sorte pisar com o calcanhar nos genitais do animal. Pegou. Desde aí, as partes pudendas foram tão pisoteadas que o desenho acabou danificado, transformando o touro em boi. Por ironia, a belís-
sima galeria não deu sorte a seu arquiteto, Giuseppe Mengoni. Ele morreu ao cair de um andaime, dias antes da inauguração. A própria construção foi em boa parte destruída por bombardeios na Segunda Guerra Mundial. Sem esquecer que os nobres da Casa de Savóia se viram banidos do país. Sorte para quem, afinal? É o que devem se perguntar os pesquisadores da história americana ao saberem que a ponta do nariz do busto do presidente Abraham Lincoln em Springfield, Illinois – uma das 38 cidades com este nome nos Estados
Unidos, sem contar a dos Simpsons –, está desgastada e rogando por reforma, tamanho o assédio em busca de sorte. À parte ser considerado, com justiça, um dos maiores estadistas dos EUA, Lincoln não foi um homem afortunado pelo destino. Perdeu a mãe aos 9 anos e viu apenas um de seus quatro filhos chegar à idade adulta, o que o arrastou à depressão. Eleito presidente, não evitou a guerra civil que matou 600 mil americanos entre 1861 e
O Touro de Carga, de Nova York, e a estátua de Victor Noir, em Paris
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Tato 1865. Morreu assassinado aos 56 anos, cinco dias após o término do conflito, enquanto assistia a uma peça de teatro em Washington. Sorte?
está o seio esquerdo da estátua de Julieta, esculpida em 1963 por Nereo Constantini. Há sempre uma mão atrevida bolinando a musa de bronze. O ato, dizem, promove
As estátuas que são alvo da superstição estão espalhadas pelo planeta, seja na Itália, na Alemanha ou na França. Uma delas cintila no centro de São Paulo, ao lado do Theatro Municipal Pensando bem, se a superstição tivesse algo a ver com a realidade, não seria o que é: a explicação das relações entre causa e efeito por meio do pensamento mágico. Não admira, portanto, que até personagens da ficção tenham se tornado objeto de ritos, caso de Julieta Capuleto, da romântica peça teatral Romeu e Julieta, escrita em 1595 por William Shakespeare. Sua suposta casa, uma construção de três andares em Verona, no norte da Itália, tem trechos das paredes ocupadas por derramadas pichações dos visitantes, sejam garranchos amorosos, corações mal traçados ou arremedos de poesia. Ainda mais ocupado
alvíssaras no amor – ainda que a infeliz Julieta seja o maior símbolo da paixão não realizada e terminada em tragédia. De qualquer maneira, Julieta é um dos mais conhecidos personagens do bardo. Quem não ouviu falar dela desde fedelho? Muito mais complicado é encontrar alguma explicação para o fato de a estátua em homenagem à ópera O Condor, de Carlos Gomes, instalada nas imediações do Theatro Municipal de São Paulo, ter se tornado amuleto. A obra faz parte de outras 12 esculturas da lavra do italiano Luiz Brizzolara instaladas lado a lado, conjunto terminado em 1922 e que homenageia, uma a uma, as óperas
do compositor erudito paulista de sucesso internacional. A superstição indica apalpar o dedo médio da mão esquerda da escultura, que retrata uma figura masculina. Tal ritual pode surpreender a muitos, sobretudo aos paulistanos, mas tornou-se tão frequente que o tal dedo ficou desgastado a ponto de desprender-se da estátua. Em 2010, o vendedor Wellington Paulino Bezerra Júnior passeava com a namorada nas proximidades da escultura quando viu um pedaço de metal solto. Guardou-o na mochila. Era o dedo. Wellington levou-o para casa, em Taubaté, a 135 quilômetros da capital, sem saber da impor-
Lincoln, O Condor, um dos leões do Residenz eo porcellino: sorte?
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tância do objeto. Só dois anos mais tarde foi alertado do que tinha em mãos. Embora cheio de dedos, temendo ser mal interpretado pela posse indevida, devolveu-o à prefeitura paulistana. Detalhe: Wellington não percebeu qualquer sinal de sorte pessoal ao longo do período em que o amuleto esteve sob sua guarda. Talvez porque a ópera O Condor, homenageada pela estátua, não tenha sido pródiga nem mesmo com o seu autor. Muito mal recebida quando lançada, em 1891, a peça musical foi a derradeira obra de Carlos Gomes. O compositor morreu quatro anos depois, frustrado pela incompreensão de público e crítica em relação a O Condor. O seio direito de Julieta e a derrière das Showgirls: objeto de ritos
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Rei da pá virada Vale a ressalva: alguns monumentos ao menos parecem mais próximos da sorte. Em Florença, na Itália, legiões esfregam uma moeda no nariz de Il Porcellino, a estátua de um javali instalada no Mercato Nuovo. Atrai dinheiro, informa a crendice. Faz sentido. As finanças de Florença, no século 15, ganharam tal desenvolvimento que ali foi criada a letra de câmbio. À época, a moeda local, o florim d’oro, era tão forte quanto o poder da família Médici. Também faz algum sentido tatear a derrière das sete dançarinas do monumento Showgirls, em Las Vegas, apesar do gosto para lá de duvidoso da obra – o que, em absoluto, não destoa na cidade. Ao menos esse ícone de bronze teve, ele próprio, a sorte de sobreviver ao hotel-cassino onde estava instalado – o Riviera, implodido em 2015, depois de meio século de vida – para continuar sua saga, intrépido, em novo endereço, o Planet Hollywood. Sorte, também, tem tudo a ver com a história que cerca os
quatro leões de bronze à frente do Palácio Residenz, em Munique, onde moravam os soberanos da Baviera – hoje uma fração do sul da Alemanha. Narra a história que, no século 17, um jovem súdito ousou escrever ao rei Ludwig 1º criticando-lhe o estilo de vida. Sua majestade era, de fato, da pá virada. Estava mais preocupado com a esbórnia do que com o bem-estar do povaréu. Ainda assim, subiu nas tamancas com a carta do súdito, que, digamos, foi convidado – sob coação – para uma tertúlia. Apesar de tudo, o rapaz caiu nas graças de Ludwig 1º. Saiu do Residenz não só são e salvo como recompensado pelo monarca. Para comemorar, apalpou, saltitante, o focinho dos leões de bronze, tal como fazem os visitantes mais de dois séculos depois. Ludwig 1º, contudo, não se deu tão bem. Em 1848, pressionado, renunciou em favor do filho mais velho. Um ano antes, havia soerguido ao título de condessa sua amásia plebeia Lola Montez, uma cortesã irlandesa que se passava por dançarina espanhola. A nobreza não tolerou. Era fim de linha para Ludwig 1º. Não houve leão de bronze que desse jeito. P
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capa Por tom cardoso retratos jorge bispo
o rei do rio Omar “Catito” Peres se especializou em comprar empresas que ninguém queria e transformá-las em sucesso, caso do estaleiro Mauá e dos restaurantes Fiorentina e Bar Lagoa. Por isso, ri à beça. Agora, tem no radar o Canecão e o Jornal do Brasil. Seu sonho maior: ser governador do Rio de Janeiro
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Catito aos 60: mineiro carioquĂssimo
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Assistente de fotografia: Mari Cavalcanti
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O
mar Peres é, antes de tudo, um empreendedor. Alguém sempre atento às oscilações e demandas latentes do mercado. Mais do que isso, alguém disposto a pagar para ver. Catito, como é conhecido desde a infância – quando cantarolava com insistência o hit “Cachito”, da mexicana Consuelo Velázquez, a mesma autora de “Besame Mucho” –, ganhou fama por comprar, nota sobre nota, empreendimentos de passado memorável no Rio de Janeiro, quando ninguém mais acreditava que se pudesse lucrar com eles. Foi assim com a Fiorentina, restaurante do Leme, no Rio de Janeiro, lendário ponto da boêmia artística, fundado pelo seu padrasto, Sylvio Hoffman e pela primeira mulher dele, a atriz Zélia Hoffman, em 1957 – o ano em que Catito nasceu. A casa estava fechada havia 18 anos quando o novo dono resolveu lhe dar improvável sobrevida. Hoje, é um dos poucos estabelecimentos do ramo na zona sul imunes à crise que assola a cidade. Apostando na tríade “bom, bonito e barato”, a casa vive lotada, assim com o Bar Lagoa, inaugurado em 1934, que, sob a recente gestão de Catito, deixou de ser o restaurante dos garçons mais mal-humorados do Rio para se tornar um lugar aconchegante. Foi ali, em um genuíno ambiente art déco, que o homenzarrão de 1,88 m e sorriso franco, nascido em Leopoldina (MG) há 60 anos mas radicado no Rio desde os 5 anos, conversou com THE PRESIDENT. Casado com a jornalista Lenise Figueiredo, ex-correspondente da Rede Globo em Roma, Catito tem duas filhas de uniões anteriores: Maria Clara, 33 anos, administradora formada, casada e que reside em Barranquilla, na Colômbia; e Maria Eduarda, 19 anos, estudante de Comunicação da PUC-Rio, solteira, que se mudará para a Inglaterra, onde cursará Fashion Business. Irrequieto, Omar Resende Peres Filho, seu nome por inteiro, continua a comprar. É agora sócio da rede de padarias Gue-
rin, da reedição da casa noturna Hippopotamus (em dupla com Ricardo Amaral) e do Piantella, o restaurante que é ponto de encontro do poder em Brasília. O apetite de Catito é tamanho que, na semana em que foi entrevistado por THE PRESIDENT, fechou, na prática, dois novos negócios: será o dono do Bar Luiz, aberto há 130 anos no centro do Rio, e da marca Jornal do Brasil, periódico fundado em 1891, que voltará às bancas depois de deixar de ser impresso em 2010. O seu próximo alvo é a casa de shows Canecão, fechada em 2008. Catito almeja voos ainda maiores. Quer ser político. Ele foi derrotado nas quatro candidaturas ao Legislativo, mas fez barulho. Em 2006, com 26 segundos de televisão, recebeu quase 400 mil votos ao disputar uma cadeira no Senado por Minas Gerais. A seu ver, só não venceu as eleições porque Aécio Neves decidiu na última hora retirar o apoio à sua candidatura. Catito, na época próximo da família Neves (namorou Andrea, irmã do senador), rompeu relações com Aécio. Para voltar à política, ele tem o apoio de outro padrinho: Ciro Gomes, que tenta convencer o PDT a apoiar a candidatura de Catito para o governo do Rio de Janeiro nas eleições de 2018. Quer dar um choque de capitalismo na falida administração do Rio, mas sem defender o Estado mínimo. Brizolista ferrenho, sua bandeira é a educação, com investimento forte do Estado. Pretende turbinar o hoje minguado cofre do governo podando privilégios. Se eleito, vai começar cortando boa parte dos 50 mil cargos de confiança do governo. Catito diz ter experiência de sobra para fazer um bom governo no Rio de Janeiro. Antes de apostar em restaurantes, fez fortuna no setor naval. Ali começou a se revelar expert em reverter situações. Comprou o estaleiro Mauá falido, e o transformou numa potência. Para chegar à governança, conta com os votos da classe artística, que o conhece de perto – seus restaurantes patrocinam dezenas de eventos –, e dos moradores das regiões fluminenses de São Gonçalo e Niterói, que reconhecem, segundo ele, o seu papel na retomada do setor naval – hoje, por sinal, de novo em crise.
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capa THE PRESIDENT: Omar, queria
começar falando de seu pai, também Omar. A morte dele, precoce, tem ligação direta com sua vinda para o Rio, aos 6 anos.
Ele era de origem espanhola. Meu avô paterno era um imigrante espanhol, um homem muito simples, lenhador, que chegou ao Brasil vindo da Galícia. Ele ganhou fortuna ao derrubar milhares de hectares de mata virgem no interior de Minas Gerais para fazer dormentes para estradas de ferro. Com o tempo, se tornou um comerciante de sucesso e sua família exerceu certa importância em Leopoldina.
grandes perspectivas em Leopoldina, decidiu se mudar com a família para o Rio. Um ato de coragem.
Sim. Ela era uma mulher exuberante, muito bonita, loura de olhos azuis. Achou que, numa cidade como o Rio, a família teria mais chances de prosperar. O acaso também a ajudou. A gente foi morar numa casa atrás do restaurante La Fiorentina, no Leme, cujo dono era o Sylvio Hoffman, o ex-jogador da seleção brasileira, recém-separado. Ele era uma personalidade do futebol brasileiro.
Sim! Foi um dos que iniciaram o profissionalismo no esporte. Jogou no Botafogo,
“Doei para a CBF a camisa que meu padrasto usou na copa do mundo de 1934. Uma raridade. Alguém lá dentro roubou. Valia US$ 100 mil” Seu pai também era comerciante.
Sim, ele foi o primeiro revendedor Volkswagen de Minas Gerais, em 1950, assim que a montadora chegou ao Brasil. Depois fez carreira na política. Com 19 anos, elegeu-se vice-prefeito em Leopoldina. Naquela época, votava-se para prefeito e também para vice, separadamente. Ele ganhou, mas o seu companheiro de chapa, não. Em 1962, seu pai se candidatou a prefeito de Leopoldina. E aí veio a fatalidade.
Sim, tudo indicava que ele ganharia. Até que um dia, em plena campanha, foi dar um rasante com seu teco-teco, para jogar panfletos da candidatura. O avião pegou um fio de eletricidade e explodiu. Meu pai morreu na hora, exatamente no dia em que o Brasil se tornou bicampeão mundial de futebol, em Santiago, no Chile. Minha mãe, Maria Amália, tinha 28 anos e cinco filhos pra criar. Sem
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no Fluminense, no Vasco e no São Cristóvão, que era um clube grande na época. Também atuou pelo São Paulo, Santos, Peñarol e Milan. E jogou a Copa do Mundo de 1934, na Itália. Eu era um garoto e ouvia histórias fascinantes sobre aquela viagem até a Itália, de navio. Os jogadores chegaram dois dias antes da partida contra a Espanha e só perderam porque, segundo o Sylvio, ainda estavam tontos, mareados da viagem. Perderam por 3 a 1 e foram eliminados. Sylvio parece ter sido uma figura fascinante.
Sim, ele e minha mãe se apaixonaram. Ele não é meu pai biológico, mas foi quem me criou. Uma figura maravilhosa, muito importante na minha vida, na minha formação, que eu chamo de pai toda vez que me refiro a ele. Morreu em 1991, aos 83 anos. Tempos depois você decidiu doar a camisa que ele usou na Copa de 1934
para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Era a única camisa que sobrou daquela equipe brasileira do Mundial de 1934. Eu achava que era um patrimônio do nosso brasileiro e tomei a decisão de doá-la para a CBF. Houve todo um cerimonial: entreguei a camisa para o então presidente da entidade, Ricardo Teixeira. A ideia é que a camisa ficasse exposta no Museu do Futebol, no Pacaembu, que seria construído. Um dia, almoçando com um amigo, jornalista da SporTV [canal de esportes por assinaturas do Grupo Globo], ele comentou que estava indo fazer uma reportagem na CBF e que aproveitaria para dar uma olhada na camisa do meu pai. À tarde, esse meu amigo me liga: “Catito, sua camisa não está lá, não”. A camisa sumiu?
Sim. Liguei imediatamente para o departamento jurídico da CBF, que me respondeu dizendo que mandaria fazer uma varredura no acervo técnico para ver se achavam a camisa. Na semana seguinte, recebo uma carta da CBF, dizendo que a camisa havia sido comida pelas traças. Comida pelas traças?
Mentira, né? Alguém roubou. Antes de doar para CBF, eu havia cotado a camisa num leilão. Valia, por baixo, US$ 100 mil. Era uma peça única, raríssima. Não por acaso a CBF é chamada de Casa Bandida do Futebol.
Pois é. Voltando ao tempo, quando sua mãe se casou com o Sylvio, a vida da família começou a se ajeitar.
O Sylvio era filho de almirante, um homem muito educado, com formação sólida. Mas era jogador de futebol, uma atividade marginalizada, sem muito futuro, tanto que
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1. Aniversário de 4 anos; 2. Catito e o irmão Roberto, ainda em Leopoldina (MG); 3. Já no Rio, aos 6 anos; 4. No casamento de sua mãe com Sylvio Hoffman; 5. A última foto com seu pai biológico. Catito é o terceiro da direita para a esquerda; 6. Com o então chanceler Magalhães Pinto, seu padrinho de casamento e ex-patrão. Catito foi gerente da agência do Banco Nacional, em Nova York
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capa ele só topou jogar a Copa de 34 se conseguissem pra ele um emprego no consulado brasileiro em Gênova, na Itália. A Copa acabou e ele ficou por lá 12 anos, quando decidiu, com dois amigos italianos, fundar uma oficina mecânica no largo do Machado, no Rio, no final dos anos 1940. Em seguida montou a La Fiorentina, o grande sucesso da vida dele. A Fiorentina permitiu que sustentasse a família inteira de sua mãe.
Sim, somos quatro homens e uma mulher. Todos estudaram em bons colégios. Fiz sociologia na Universidade de Lyon (na França), estudei na Suíça e em Los Angeles (nos Estados Unidos). Aos 21 anos, retornei ao Brasil e entrei no Banco Nacional. Era o comecinho dos anos 1980 e os bancos brasileiros estavam se direcionando para o exterior, abrindo agências no mundo inteiro. Na época, participei de uma seleção para o Banco Nacional. Entrei em primeiro lugar e fui direcionado para subgerente da agência do Nacional em Nova York. Aí comecei para valer minha vida profissional. Aproveitei para me aperfeiçoar. Cursei administração bancária pelo American Institute of Banking, com mestrado em crédito bancário pela Universidade de Nova York. Estava com a vida encaminhada.
Pois é, mas sou um cara que lutei a vida inteira pela minha liberdade. Eu tinha um belo emprego, ganhava US$ 200 mil por ano como gerente do Nacional em Nova York. Hoje ainda é um boa grana, mas nos anos 1980 era muito mais. Só que eu não queria ser empregado dos outros a vida inteira. Queria ter o meu próprio negócio. Quando voltei ao Brasil, surgiu uma oportunidade única para eu mudar de vida. Qual?
Um amigo meu, Carlos Leal, tinha uma empresa de navegação, a Netumar,
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que andava muito mal. Ele me pediu ajuda para levantar recursos. Naquele momento, começo dos anos 1990, havia uma desregulamentação do setor naval brasileiro, com a quebra de monopólios, o que fez com que muitas empresas do ramo petrolífero, que detinham esse monopólio, entrassem numa fria. A Netumar era cliente minha em Nova York, eu conhecia com profundidade a empresa, e achava que enxugando aqui e ali dava pra tocar o barco. Nesse processo todo, o dono perguntou se eu não queria comprá-la. Comprei. Por um dólar. Um dólar?
Sim, por causa do endividamento. Em quatro anos, paguei todas as dívidas e consegui recuperar a Netumar. A experiência como executivo do mercado financeiro me ajudou muito. Aí eu fiquei conhecido na praça como o cara que tinha resolvido o problema da Netumar. Foi quando me ofereceram o estaleiro Mauá. Uma outra encrenca.
Pois é. Na época, o setor vivia outra grande crise, muito por conta dos desdobramentos do Escândalo da Sunamam [eclodido no final do governo João Figueiredo, quando se descobriram várias irregularidades nos repassses de recursos da Superintendência Nacional da Marinha Mercante (Sunamam) para os construtores navais]. A indústria naval brasileira havia parado. O estaleiro Mauá era uma grande sucata. Mesmo assim você resolveu topar o negócio?
Sim. Enxerguei que havia uma grande mina de ouro ali. Por quê?
Era início do governo Fernando Henrique Cardoso, que começava e abrir o mercado de exploração de petróleo para as empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro
está em alto-mar e, por isso, não há exploração sem navios. Você não pode construir uma plataforma no interior de Duque de Caxias. Tem que fazer no mar, não tem jeito. Comprei o estaleiro sabendo de tudo isso. Foi um tiro certeiro. Comprei a empresa com 50 funcionários e quando a vendi, para o Germán Efromovich [atual dono da Avianca], ela tinha 4 mil empregados com carteira assinada. Ganhei uma grana bonita. Muito, muito dinheiro. Por que decidiu vender o estaleiro?
Porque a relação do setor naval com o Estado é muito forte e sempre foi baseado na corrupção. Eu não sou santo, mas pensei: “Não quero isso pra mim, vou ganhar o meu dinheiro e vou embora. Não quero participar disso”. Saí de lá como entrei: limpo. Não tem um “uai” contra mim. Daí a sua guinada radical como empreendedor. Mas por que trocar um grande estaleiro para ser dono do jornal O Panorama, em Juiz de Fora (MG)?
Sempre gostei de escrever, sempre gostei de notícia, de jornalismo. Achava aquilo a minha cara. Mas quebrei a cara. O jornal foi meu grande fracasso. Minas Gerais tem o pior índice de leitores per capita do Brasil. Juiz de Fora, uma cidade com mais de 600 mil habitantes, deve vender, por dia, só 2 mil jornais. Também comprei a afiliada da TV Globo na cidade, achando que poderia fazer jornalismo, mas o alcance era muito limitado. Outro grande erro. Mas não me arrependo, sabe? Os fracassos também são importantes. Foi nessa fase, aliás, entre 2006 e 2010, que me meti com política, mas de maneira totalmente independente, sem aliados, sem tempo de TV, sem nada. Mesmo assim, conseguiu 400 mil votos para senador em Minas, pelo PDT.
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Eram 26 segundos de televisão contra cinco minutos do Eliseu Resende. Foi nessa época que rompi minha relação com o Aécio [Neves]. Por qual motivo?
Fui pedir apoio para a minha candidatura. Minhas chances eram realmente boas. Eu concorreria, apoiado por Aécio, contra o Newton Cardoso, o Paulo Maluf de Minas Gerais, um candidato sem a menor credibilidade. O Aécio disse que me apoiaria, mas no fim, por “conjecturas políticas”, fechou com o Eliseu Resende. Eu fiquei puto, o que não deixava de ser uma ingenuidade no mundo da política. Eu era um idealista, não um político de carreira. Não devia favores pra ninguém, muito menos para o Aécio.
Napoli, já aposentado, para treinar o Tupi. Eu conhecia o Alemão porque ele era genro do Oswaldo Loureiro, o ator, frequentador assíduo da Fiorentina. Fiz o convite e o Alemão topou. E onde entra o Romário na história?
O Alemão se deu tão bem como treinador que colocou o time na primeira divisão do Mineiro. A cidade ficou em festa, todo mundo se empolgou, a ponto de eu dizer: “Vamos agora montar um time para ganhar o Campeonato Mineiro”. E o Alemão: “Vamos! Vou chamar o Romário”. Todo mundo
decadência, com muitos restaurantes e lojas fechando, num processo parecido com o enfrentado agora, fui procurando pelo sobrinho do Sylvio. A La Fiorentina estava fechada há 18 anos. Ele me perguntou: “Por que você não compra e reabre a Fiorentina?”. Eu tinha experiência só com o setor naval, não entendia nada de restaurante. Ele insistiu: “Mas a Fiorentina é uma referência na história do Rio”. Resumindo, fui lá e comprei. Abri a porta e vi tudo abandonado, com as paredes pintadas de branco. Não dava mais para ver nenhuma assinatura de cliente ou de artista
“Eu tinha um belo emprego de gerente do banco nacional em nova York. Mas não queria ser empregado dos outros a vida inteira”
Vocês eram próximos na época?
Sim. Eu namorei a Andrea [Neves, irmã de Aécio], durante minha temporada em Nova York. O namoro durou um ano. Ela é uma pessoa muito legal. Com Aécio, depois do apoio ao Eliseu, não falei mais. Hoje, quando o encontro, cumprimento. E mais nada. Mas não há mais amizade. Nessa sua temporada em Juiz de Fora, houve a tentativa, quase bem-sucedida, de trazer o Romário para jogar no time da cidade, o modesto Tupi. Como foi essa história?
Eu estava jantando em Juiz de Fora quando chegou um gerente de futebol do Tupi, dizendo que o clube iria acabar, porque não havia dinheiro nem sequer pra inscrever o time na Série B do Campeonato Mineiro. Perguntei quanto eles precisavam. Era algo em torno de R$ 4 mil. Paguei e, quando vi, já estava tomando decisões administrativas, ajudando no dia a dia do clube. Foi quando tive a ideia de convidar o Alemão, o exjogador do Botafogo e da seleção brasileira, companheiro de Maradona e Careca na
achou que era piada, que o Baixinho não viria jogar num time desconhecido como o Tupi. E o Alemão, sério: “Pagando, ele vem. E tem outra coisa: ele vai pirar com a noite da cidade”. A noite em Juiz de Fora é famosa…
Sim, as melhores boates da região ficam todas na cidade. A negociação, então, não foi difícil.
O Romário topou na hora. Mas, no fim das contas, ele tinha contrato com outro clube e não conseguiu negociar com os dirigentes de lá, e, por isso, acabou não jogando pelo Tupi. Como não jogou, eu também não paguei. O que foi ótimo, pois o clube ganhou uma publicidade imensa e gratuita na época, determinante também para o desempenho do time. Chegamos em terceiro lugar no Campeonato Mineiro. Depois dessa fase mineira, o senhor voltou os seus olhos para o Rio e hoje praticamente só investe na cidade.
No fim dos anos 1990, quando o Rio de Janeiro vivia um período de grande
nas paredes e colunas, que era uma marca do restaurante. Esfreguei uma chave na parede, e logo vi uma das assinaturas. Chamei restauradores e conseguimos recuperar tudo. O restaurante reabriu em janeiro de 2000. Lembro até hoje a primeira página do Jornal do Brasil: “Ela está de volta”. Jornal do Brasil, aliás, que o senhor também pensa em comprar.
Quero arrendar a marca. As conversas com o [Nelson] Tanure estão bem adiantadas. Eu tenho um lema: “O que mora na alma não morre”. O Jornal do Brasil, assim como a La Fiorentina e como o Bar Lagoa, são marcas cariocas, ícones de grande identidade com a cidade. É claro que não sou louco de fazer um jornal nos moldes de antigamente, enquanto o mundo inteiro vai em direção oposta. Será um jornal de banca, voltado exclusivamente para o Rio, mas com muita força na internet. Quero estabelecer parcerias com agências de notícias. Enfim, já tenho um plano de negócios. O Jornal do Brasil vai voltar.
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capa Mas como manter esse otimismo num momento tão difícil para o Rio? Há de novo uma explosão da violência, sem falar na crise financeira do estado. Nunca se fechou tanto restaurante. Enquanto isso, você rema na direção contrária. Abriu a Hippopotamus e pensa em novos investimentos. Não é correr riscos demais?
Com exceção do Hippo, que é direcionado para um público mais elitizado, os meus outros empreendimentos, mesmo sediados na zona sul do Rio, se diferenciam da concorrência por oferecerem preços mais justos. É por isso que permanecem lotados mesmo em tempos de crise. Estão ancorados na tríade BBB: bom, bonito e barato.
questão de cidadania. O que fizeram com o Canecão foi um crime contra a cidade. A esquerda radical da universidade pegou o imóvel de volta para não fazer nada, alegando que o aluguel pago pelos administradores do Canecão era muito baixo. Por isso, deixou um templo da cultura carioca fechado por dez anos, não rendendo um tostão sequer.
Eu li o artigo. O Ricardo tem todo direito de ter a opinião dele. Ele apoiou o Crivella, eu votei no Marcelo Freixo, mesmo não sendo um entusiasta de sua candidatura. Não acho que o Crivella seja uma pessoa do mal, mas ele ainda tem que dizer a que veio.
Pelo que tem saído nos jornais, o
Eu sou brizolista. Nunca fui amigo de Leonel Brizola, mas tenho profunda admiração por ele. Eu acho que o Brasil precisa viver a experiência de um capitalismo democrático, não esse dirigido por oligarquias. Hoje o Brasil é governado por três bancos. Defendo um regime de livre iniciativa, desde que todo mundo tenha oportunidade.
seu plano mais ousado está na política: concorrer ao governo do Rio.
Não é um objetivo de vida. Eu estou tentando. Mas é pra valer ou não?
Se depender de mim, sim. Estou tentando construir uma possibilidade. Já levei ao meu partido, que é o PDT.
“O Brasil precisa de capitalismo democrático. Não esse dirigido por oligarquias. Hoje, o país é governado por três bancos” Outro empreendimento icônico do Rio é o Hotel Glória, hoje desativado. Pensa em comprá-lo?
Aquilo é um desastre. Infelizmente, não há solução. Por quê?
Cheguei a dar uma sondada. São US$ 150 milhões só de dívidas. Pelo menos foi o último número que vi após consultar o BNDES. Fora as outras encrencas. É uma operação de, no mínimo, US$ 200 milhões. Não se paga, claro. Não vou entrar nessa. Mas está disposto a comprar o Ca-
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O senhor é filiado?
Eu era. Depois me desfiliei e agora vou me filiar de novo, com apoio de Ciro Gomes. Na conversa que tive com o [Carlos] Lupi, presidente do PDT, eu disse o seguinte: “Olha, esse sou eu, um ficha limpa. Pode me revirar de cabeça para baixo que não sai nada que me desabone”. Minha biografia não se resume apenas a isso, claro. Sou o cara que recuperou a indústria naval do Rio. E fui um dos protagonistas do processo de recuperação da economia do estado. O seu sócio Ricardo Amaral assi-
necão, outro marco da cidade, também
nou um artigo nos jornais elogiando
desativado.
a administração do prefeito Marcelo
Aí é outra história. O terreno pertence à UFRJ, que, enfim, tem um plano para reabrir o Canecão, oferecendo contrapartidas para quem investir. Ótimo. Tenho paixão pelo Canecão. Claro que estou interessado. É
Crivella, sobretudo na área cultural – a mesma que vem sofrendo fortes críticas, muito por conta da ingerência nas decisões da escolas de samba. Qual sua opinião sobre a gestão Crivella?
Nem Crivella, nem Freixo. Qual a sua linha ideológica?
Não existe um peso de ser brizolista hoje em dia? Para boa parte do eleitorado carioca, ele foi leniente com a violência no Rio, não reprimindo como deveria o narcotráfico.
Isso é uma injustiça. Sabe por quê? Porque 99% das pessoas que moram nas favelas são honestas, não estão envolvidas com nenhum tipo de criminalidade. São pessoas do mais alto gabarito, que acordam às 5 da manhã para trabalhar. O que Brizola fez foi proibir que a polícia invadisse a favela sem nenhuma ordem judicial, sem nenhum planejamento. A direita reacionária do Rio, para quem bandido bom é bandido morto, tomou isso quase como um afronta e vendeu a imagem de que Brizola era permissivo. Ele investiu em educação, construindo os Cieps, que eu, se eleito, quero retomar. Depois de Brizola, a violência só cresceu, os investimentos em educação minguaram, houve a roubalheira toda de Sérgio Cabral. Mesmo assim, ainda tem gente que tem a coragem de colocar a culpa no Brizola. Mas o Brizola, socialista de formação, não era um grande defensor, como
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1. Com Ziraldo, que se preparava para autografar uma coluna da Fiorentina; 2. Ao lado de Antônio Pitanga, Benedita da Silva e Anselmo Duarte; 3. Posando com Cristovam Buarque e Fernanda Montenegro; 4. Com Ayrton Senna, que foi patrocinado pelo Banco Nacional quando Catito trabalhava lá; 5. Feliz, com Leonel Brizola, uma de suas admirações; 6. Com Itamar Franco, de quem foi secretário estadual do Comércio, em Minas Gerais. Outra de suas admirações
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Sorriso em conjunto com as filhas Maria Clara e Maria Eduarda
você é, de um capitalismo democrático. Não há um paradoxo aí?
Não acho. Eu comungo das ideias de Ciro Gomes, que são muito próximas das de Leonel Brizola. Precisamos sim ter um Estado forte, o que não significa sair estatizando tudo. Temos de mudar esse conceito de que o Estado não pode fazer nada. Ele tem a obrigação de proporcionar boa educação, boa saúde, como em qualquer país no mundo. É verdade que Brizola o indicou para ser secretário de Indústria e Comércio de Minas, quando Itamar Franco foi governador de Minas
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Casa Civil, perguntando se eu poderia viajar a Belo Horizonte para falar com o Itamar. Uma namorada, que estava comigo, até comentou: “Acho que o Itamar vai convidá-lo para ser secretário”. Achei estranho. Não tinha absolutamente nenhum tipo de convivência com ele. Sua namorada acertou.
Sim, chegando lá, o Itamar foi direto comigo: “Olha, eu estou precisando de um bom secretário de Indústria e Comércio e o Brizola me disse que senhor tem muito experiência na indústria do Rio de Janeiro. Aceita o convite?”. Itamar era tido como um político
[1999-2003]?
um tanto folclórico.
Sim. E eu nem esperava. Nunca pedi nada ao Brizola, e vice-versa. Eu estava na minha fazenda em Vassouras (RJ) quando recebo uma ligação do Palácio da Liberdade. Atendi brincando, fazendo graça, achando que era algum amigo querendo passar trote. Até que entra uma voz séria, do secretário da
Outra injustiça. Ele era um político absolutamente sério, republicano. Quando presidente, poderia ter mudado a Constituição para se reeleger. Tinha 85% de aprovação, mas preferiu passar a faixa para o Fernando Henrique. FHC, ao contrário da Itamar, mudou a Constituição para
continuar no poder. A bronca do Itamar com FHC era essa. Tenho horas de papo gravado com Itamar. Quais são as suas reais chances ao governo do Rio?
Existe um vácuo. O Rio é governado pelos mesmos políticos há 30 anos. Diante da crise atual, eles terão enorme dificuldade para angariar votos. O PT, tradicionalmente, nunca foi forte no Rio, mesmo nos bons tempos. Agora, menos ainda. O Freixo já disse que não quer ser candidato. Então, há um espaço a ser ocupado. E no plano nacional? Como vê o cenário?
É preciso saber se o Lula será candidato. Se não for, as coisas melhoram fundamentalmente para o Ciro, já que os outros partidos estão com enormes dificuldades para emplacar nomes. Sou fã do Ciro. É um democrata que sabe da importância de fazer reformas estruturais. Precisa apenas controlar o temperamento. É um cara que
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A jornalista Lenise Figueiredo, sua mulher, foi correspondente da Rede Globo em Roma
não leva desaforo pra casa. Se bem que eu também não levo. É também explosivo?
Não, não como o Ciro, mas não engulo certas coisas. Vou contar uma história. Quando fui dono do Mauá, o maior estaleiro do Brasil, e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval [Sinaval], eu me relacionava com todo o núcleo de poder da Petrobras, a maior compradora de equipamentos navais do país. A corrupção, claro, já ocorria de forma desenfreada. Não se vendia um parafuso sem propina. Por manter essas relações, por ocupar o cargo que ocupava, acabei sabendo das mutretas, como a compra de um estaleiro virtual em Pernambuco. Fiquei indignado e mandei uma carta para o Renato Duque [ex-diretor de Serviços da Petrobras, preso na Operação Lava Jato], dizendo que o que eles estavam fazendo era um absurdo, um crime contra o país, despejar dinheiro num estaleiro virtual enquanto faltavam recursos para o Rio de Janeiro. Eu estava
“O equilíbrio orçamentário depende de medidas radicais. O Rio tem 50 mil cargos de confiança. Se você não mexer nisso, você não governa” de saída, vendendo o Mauá, poderia ficar quieto, mas não aguentei. O Duque, claro, nunca me respondeu a carta. Se eleito, como governar um estado praticamente quebrado?
Cortando privilégios. O equilíbrio orçamentário depende, num primeiro momento, de decisões muitas vezes radicais. Por exemplo: o Rio tem 50 mil cargos de confiança. Se você não mexer nisso, você não governa. Qual a sua opinião sobre as privatizações?
Sou totalmente a favor, desde que não exista uma transferência de monopólio. Se é pra fazer assim, como se tem feito, melhor não fazer. Sei que vou mexer num vespeiro, pois quebrar privilégios num país como o Brasil é quase uma ofensa. Graças à contribuição da Fiorentina
a eventos culturais, imagina-se que boa parte da classe artística apoiará sua candidatura. Mas isso não basta. Onde está o seu eleitorado?
Posso garantir que, apesar do apoio da classe artística, estou longe de ser um candidato da zona sul. Se fosse assim, não tentaria me candidatar, pois minhas chances seriam mínimas. E de onde vem seu eleitorado?
De São Gonçalo, de Niterói e de outras cidades. Muito por conta da minha atuação na indústria naval. Lá todo mundo sabe que eu peguei o setor fechado e entreguei funcionando. Administrar diversos empreendimentos, numa época de crise, demanda muita dedicação. Uma campanha para viabilizar uma candidatura ao governo
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Otimista, ele acha que o Rio de Janeiro tem jeito
no restaurante Piantella, em Brasília, que virou ponto de encontro de políticos muito diferentes entre si. O senhor também comprou o Piantella.
Sim, comprei e quase mudei para valer a história do país. Como assim?
Vou te contar essa história. Pouca gente sabe. A ideia de comprar o restaurante foi do [Ricardo] Noblat [jornalista]. Ele me disse: “Catito, compra o Piantella. É igual ao Fiorentina, um restaurante de que todo mundo gosta”. Fui lá e comprei. Fiz uma grande reforma, coloquei fotos de 500 políticos, deixei tudo muito bonito, e falei pro Noblat: “Vou comemorar os seus 50 anos de carreira aqui”. Aí apareceu a República inteira. Todo mundo, quem você possa imaginar. Eu estava lá, na maior animação, com um monte de gente, quando minha irmã me avisa: “Catito, o Temer acaba de chegar”. Você era e é um feroz crítico do governo Temer.
do estado, também. Sobra tempo para mais alguma coisa?
Ah, eu sempre arrumo um tempo para ir até minha fazenda, em Vassouras. É lá que pratico o meu grande hobby: receber as pessoas. Comprei, há 20 anos, uma fazenda com 30 suítes, só para abrigar os amigos, pessoas que eu gosto. Se um dia aparecer por lá, você vai se surpreender. Por quê?
Porque consigo reunir na mesma casa, sob o mesmo teto, gente completamente diferente. Acho que sou o único anfitrião a conseguir essa façanha. Quem são os habitués?
Tem de tudo. Até gente da extrema
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esquerda e da extrema direita. Por exemplo?
O Chico Andrade [jornalista]. Não consigo pensar em ninguém mais à esquerda. Assim como não consigo imaginar ninguém mais à direita do que o Francisco de Orleans e Bragança, meu querido amigo. E não tem briga?
Que nada! Todo mundo bebe da minha cachaça, a Catito, produzida na fazenda. Fica todo mundo numa boa. Democracia é isso. Tem que parar com esse sectarismo. Não vejo problema nenhum em conversar e ter amigos em várias esferas. Os seus encontros em Vassouras devem ser parecidos com os jantares
Sim, mas apesar de ser “Fora, Temer!” total, sou um cara educado. Fui até ele, disse que estava agradecido por ter vindo, que ficasse à vontade e coisa e tal. Uma hora depois, no máximo, minha irmã se aproxima de novo: “Olha lá o Temer, já está indo embora”. Fui até a porta e falei: “Presidente, fique mais um pouco”. E ele: “Obrigado, tenho um compromisso”. Eu insisti: “Está cedo ainda, presidente”. Ele abriu a porta e me disse, já do lado de fora: “Não tenho como faltar a esse compromisso”. Não tinha mesmo: foi justamente o encontro com o Joesley Batista, no porão do Palácio Jaburu. A fatídica noite do dia 7 de março de 2017?
Exatamente. Se o senhor fosse mais incisivo…
Ele estaria me agradecendo até hoje!
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Mercearia Sao Roque 50
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V i n h o V i ag e n s a r q u i t e t u r a b a r e s Pa n e r a i
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fotos reprodução
O ator em O Rei do Show: parceria com a Montblanc
montblanc
É hora do show
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Filme com Hugh Jackman traz a história do circo e peças icônicas da marca
hineas Taylor Barnum (1810–1891), um dos inventores do circo moderno, não se conformava com o convencional.
A maison lançou itens especias para lembrar a superprodução
“Ninguém nunca fez diferença sendo igual ao resto”, diz
e a própria história do circo. A começar por uma caneta, clato.
Hugh Jackman, no papel de P. T. Barnum, no filme O Rei do Show (The Greatest Showman). A produção é uma parceria da Fox Film com a Montblanc, que na história expõe algumas
Há também um bloco de notas com capa amarela de couro e desenhos que aludem ao universo circense. “Estamos encantados de apoiar esse filme, que coloca em foco
de suas peças mais famosas. Entre elas, o relógio
a influência cultural de um homem que inventou o
de bolso Minerva e a caneta Meisterstück, com
entretenimento moderno”, celebra Nicolas Ba-
gravação exclusiva para o filme. “Essa produção levou sete anos para ganhar vida”, diz Hugh Jackman. “Es-
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tou muito animado que a Montblanc faça parte dessa aventura”.
retzki, CEO da Montblanc. (Mario Ciccone) montblanc.com
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Panerai
o novíssimo luminor
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simbólica caixa Luminor 1950 foi retrabalhada pela equipe de design e engenharia da
Panerai em 2016. O resultado: uma espessura até 40% menor e um novo nome: Luminor Due. Para a temporada 2018, a marca apresentou quatro novas variações que integram a coleção. Duas com 42 mm de diâmetro e outras duas com 45 mm. O destaque fica para o modelo
Luminor Due 3 Days Automatic Acciaio, de 45 mm, que combina a robustez do aço AISI 316L polido com ponteiros dourados. Já os indicadores arábicos são elaborados no estilo “sanduíche”, em que recortes no mostrador apresentam uma camada de material luminescente em coloração areia. Horas e minutos centrais e pequenos segundos na posição de 9 horas varrem o mostrador em tom antracite com acabamento de raios solares. A entrega dos dados é responsabilidade do movimento de fabricação própria. Visível por meio de um cristal de safira no verso da caixa, ele permite ao usuário ver detalhes do mecanismo em funcionamento. Um microrrotor elaborado em ouro rosa dá a corda automaticamente – e proporciona energia para até três dias. Tudo isso em cerca de 10 mm de espessura. (Raphael Calles) panerai.com
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Grande Hotel campos do jordão
Para o ano todo
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ode ser para bater os dentes de frio ou simplesmente vestir um agasalho quando no resto do Brasil faz calor. Uma visita a Campos do Jordão (SP) tem uma parada obrigató-
ria: o Grande Hotel. Em mais de 440 mil metros quadrados, o lugar une uma ampla área de vegetação com elementos arquitetônicos dos anos 1940, como lustres e arandelas da época. O Grande Hotel
é um centro de formação como hotel-escola Senac. Tem até serviço de mordomo. Também atrai o público pela tradição do serviço e assinatura de sua gastronomia. Hoje, quem está no comando é o chef executivo Mauro Sierro, com passagens por Grupo D.O.M, de Alex Atala, e Hotel Terminus, na Suíça. Um dos destaques da gastronomia do Grande Hotel é o Restaurante Araucária. Não por acaso coleciona prêmios na imprensa especializada. No menu, gastronomia internacional e uma carta de vinhos de 200 rótulos. Outra atração são os chefs convidados, que comandam a cozinha em dias especiais. (MC) grandehotelsenac.com.br
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bodega Garzón
Rótulo com lastro
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alastro ou lastro é a camada que cobre o fundo de qualquer coisa. Aquilo que serve de base. Lastro de navio, lastro mo-
netário. Em geologia, designa formação rochosa antiquíssima,
coisa de 2,5 bilhões de anos. Um solo de camadas superpostas: seixos rolados no fundo, pedrinhas no meio e areia granulada na superfície. Uma delícia para qualquer vinha do mundo. Acontece que balastro não dá em árvores. Poucos lugares têm esse privilégio. Entre eles, Garzón, no Uruguai, arredores
Restaurante de Francis Mallmann na Garzón
do elegante balneário de José Ignácio. A apenas 16 quilômetros do Atlântico, ali o balasto – balastro em espanhol – conta ainda
–Tannat, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan – e,
com a umidade regular, generosa, e as chuvas que o vento traz
desse blend cuidadoso, surgiu Balasto 2015. Vinhão, vi-
do mar. Agora, invista US$ 200 milhões nesse terroir. Foi o que fez o empresário argentino Alejandro Bulghe-
nhaço, um ícone. Chame do que quiser. Mas não deixe de provar. E que uma tonelada de balastro caia sobre
roni com sua Bodega Garzón. Plantou mais de mil lotes indivi-
minha cabeça, se eu estiver errado. (Fernando Paiva)
duais com uma dúzia de cepas. Selecionou as mais adequadas
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Escondidos e exclusivos
Conheça os bares mais íntimos e confortáveis de são paulo
Henrique Fogaça, um dos sócios
de gim, ele pode passar despercebido aos desavisados, e muitas vezes serve de repouso para quem está nas longas filas de espera por uma mesa do restaurante Sal Gastronomia, localizado na
No estilo inglês
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parte de baixo da construção em estilo galpão. A excelência no atendimento e o conforto dos sofás de couro – que, somados ao papel de parede e sua decoração clássica, dão
Em uma parte não óbvia da Consolação, ali na rua Minas Ge-
ao ambiente um ar de clube inglês – arrebatam seus visitantes, que
rais, uma pérola está incrustada entre as pesadas construções
costumam ficar lá por mais tempo que o planejado. Efeito da sua
da região: o bar Admiral’s Place. Com uma carta de uísques com
atmosfera agradável e da chancela do chef Henrique Fogaça, um de
mais de 80 rótulos, a variedade honesta de drinques clássicos
seus proprietários, para as harmonizações com petiscos como o sal-
– como o gim-tônica ou o tom collins – e mais de 20 opções
mão curado e o ragu de javali. admiralsplace.com
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“My way” de fazer drinques “Prefere algo cítrico, amargo ou seco?” Essa é uma das primeiras indagações feitas por Spencer Amereno Jr. ao visitante do Frank, bar localizado no clássico hotel paulistano Maksoud Plaza e que carrega no nome a lembrança das históricas e intimistas apresentações de Sinatra por lá em 1981. Spencer segue a conversa: “Você tem alguma base alcoólica de preferência? Mais alcoólico ou menos? Nutritivo ou refrescante? Gosta dos clássicos?”. A partir desse bate-papo informal, o premiado barman Spencer Amereno Jr, o barman
vai propondo uma viagem pelos sabores do menu por ele criado e que tem periodicidade anual. “Esse cardápio eu demorei mais de um ano para elaborar, pesquisando o tempo todo”, conta. “Tenho uma coleção de livros antigos que são uma parte importante do processo de criação. Adoro pegar receitas das quais ninguém ouviu falar, os chamados clássicos esquecidos, e dar a elas uma nova leitura.” A carta mais parece um almanaque, com histórias e receitas. Chamam a atenção as técnicas de Spencer, como a infusão de carvão ativado que faz parte do drinque Ataraxia. A trilha sonora, em um bar com esse nome, tem importância primordial. Quer entrar no clima? Acesse no Spotify: Frank Bar – blues/jazz/rock. (Marcos Diego Nogueira) maksoud.com. br/frank-bar.html
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Tianjin Binhai
Biblioteca 2.0 Um ousadíssimo Projeto holandês na china
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Xangai. O mais recente deles é a biblioteca Tianjin Binhai, cidade 100 quilômetros ao sul de Pequim. Trata-se de um centro cultural de mais de 33 mil metros quadrados e comporta 1,2 milhão de livros. Mas o que seriam esses números sem o visual de cascata das estantes de livros, do chão até o teto. De acordo com o escritório, o interior foi pensado para ser
escritório holandês MVRDV já se sente em casa na
quase que uma gruta, com uma estante contínua. No centro, uma
China. Os arquitetos de Roterdã colecionam projetos
esfera tem auditório com projeções. Além da leitura, o lugar deve
no gigante asiático, tanto que mantêm uma filial em
estimular os visitantes a promover encontros e até debates. (MC) No centro, uma esfera com auditório e projeções
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As maquetes e obras do arquiteto e seu projeto Arbre Blanc
japan house
Mundos integrados Exposição de Sou Fujimoto mostra sinergia
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entre projetos e o ambiente ma torre de madeira de 50 metros em Bordeaux ou uma casa transparente e vertical em Tóquio. O arquiteto japonês Sou Fujimoto mostra em suas obras o quan-
to seu estilo é único. Ele valoriza a integração das pessoas com a arquitetura e o ambiente. Essa visão de mundo desembarcou no Brasil na exposição Futuros do Futuro, na Japan House, em São Paulo, até 4 de fevereiro. A mostra é dividida em dois espaços. No primeiro, apresenta 68 peças do arquiteto para propor uma aproximação do público com a “arquitetura a ser encontrada”. Para ele, até um amontoado de batatas chips ou caixas de fósforos empilhadas podem formar ideias arquitetônicas. Em outro andar, a exposição tem mais 48 peças e também 17 painéis dos principais projetos de Fujimoro espalhados pelo mundo. Destaque para a Arbre Blanc, uma torre erguida em Montpellier, na França, que mais parece uma imensa árvore projetada para 100 apartamentos. “A estrutura está ligada a um cinturão verde, ao mesmo tempo que o volume era uma forma orgânica”, comenta o arquiteto sobre o seu projeto premiado. (MC) japanhouse.jp/saopaulo
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Regent Seven Seas
Os reis marinhos
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Companhia de cruzeiros de luxo leva a mais de 350 destinos bordo de um navio da Regent Seven Seas Cruises,
e Seven Seas Explorer –, o viajante tem à disposição passeios
o viajante se torna um autêntico explorador. Em sua
como mergulho entre arraias na Polinésia Francesa ou um
Exotics Collection, a companhia proporciona pas-
safári para observar elefantes na África.
seios em terra firme que vão de Machu Picchu a Angkor Wat,
As embarcações, por sua vez, não economizam no con-
no Camboja. No total, são mais de 350 destinos em quase
for to, espaço das cabines, alta gastronomia e na car ta de vi-
todos os continentes.
nhos e destilados. Para quem não consegue se desligar, há
Depois de se instalar em um dos navios da empresa – Seven Seas Navigator, Seven Seas Mariner, Seven Seas Voyager
Wi-Fi de primeira. Essa é, porém, a menor das preocupações de quem pode cruzar o mundo pelo mar. (MC) rssc.com
Visão geral e a piscina do Seven Seas Navigator
Colaboraram neste número: Fernando Paiva, Marcos Diego Nogueira, Mario Ciccone e Raphael Calles
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Tempo Por Raphael Calles
um salão de pulso O SIAR, no MéXICO, mostra toda a força da alta relojoaria
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elo 11º ano, as principais maisons da alta relojoaria se reuniram na Cidade do México para apresentar seus lançamentos. O Salon Internacional Alta Relojería (SIAR) é o maior e mais importante evento do segmento na América Latina. A escolha do forte mercado do México para sediar a feira pode ser vista também como uma homenagem histórica: ali viveram os maias, a civilização pré-colombiana que se adiantou nos estudos do tempo. Este ano, o evento abraçou uma causa nobre: arrecadar fundos que serão encaminhados para a Cruz Vermelha mexicana, com o intuito de auxiliar as vítimas do grande terremoto que acometeu a região em 19 setembro deste ano, exatamente um mês antes do encerramento do salão.
Zenith Com alta frequência Um relógio que promete ser dez vezes mais preciso do que modelos comuns. Esse foi o desafio aceito – e cumprido – pela relojoaria Zenith, que apresentou seu mais novo modelo Defy Lab semanas antes do SIAR. Tamanha exatidão foi obtida com uma alteração na roda de ajuste do mecanismo, também conhecido como oscilador, que é responsável pela precisão geral do movimento. O novo sistema funde todos os componentes de um oscilador comum em uma única peça e realiza sua operação a
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Carlos Alonso, diretor-geral do SIAR, disse que a edição de 2017 se revelou uma das mais bem-sucedidas da história. “Para nós, como organizadores, foi uma surpresa esse resultado”, confessou. “A maioria dos 34 expositores realizou vendas importantes, mesmo sendo o primeiro grande evento que ocorreu na Cidade do México após o grande terremoto que acometeu a região.” Alonso ainda afirma que “esses resultados acompanham o crescimento nas exportações de relógios suíços registrados pela Indústria Relojoeira Suíça”. Ele espera um 2018 bastante promissor, “caso não haja intercorrências externas”. Confira, nas próximas páginas, as principais novidades apresentadas no Salon Internacional Alta Relojería.
uma altíssima frequência (108 mil vibrações por hora, quase quatro vezes mais que relógios comuns). “Quisemos melhorar o sistema de pêndulo, criado no século 19, que já era fantástico”, diz Julien Tornare, CEO da Zenith. “Ele traz uma melhoria impressionante em precisão, que nos coloca no futuro, algo essencial para o mercado relojoeiro.” A primeira tiragem do relógio é de apenas dez unidades voltadas para colecionadores, que contarão com uma precisão de até 0,3 segundo por dia. A marca já anunciou: o mecanismo deve fazer parte de suas coleções. zenith-watches.com
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Richard Mille Em cima da magrela Célebre pelo sucesso nas pistas, Alain Prost, tetracampeão de Fórmula 1 (1985, 1986, 1989 e 1993), não esconde, como bom francês, sua paixão pelo ciclismo. Sua relação com esse esporte, aliada à sua amizade com o relojoeiro Richard Mille, resultou em uma peça, no mínimo, exótica. Mas que promete ser de grande utilidade para ciclistas. Seu formato curvo foi desenhado para ser utilizado no pulso direito. Desta forma, a coroa do relógio não machuca o punho no momento de corridas. Além disso, o material de elaboração, em carbono TPT, entrega alta resistência e leveza para as atividades. Dentre todas as funções, uma indicação de reserva de energia permite saber quando a corda do relógio está próxima ao fim – depois de ao menos 70 horas de uso. Mas o destaque está no hodômetro com cinco dígitos. Ele permite ao usuário marcar a quantidade de quilômetros rodados em uma temporada com apenas dois botões localizados na lateral direita da caixa – em um total de até 99.999 quilômetros. Uma conta difícil de ser realizada com aparatos tecnológicos comuns. richardmille.com O novo 1858 encampa mais de 150 anos de tradição
O ciclista Alain Prost. Conhece?
Montblanc Esportividade clássica Um ano para não ser esquecido: 1858 marca a fundação da manufatura Minerva, uma das mais importantes da relojoaria suíça e que, hoje, é responsável pelos relógios mais especiais da Montblanc. Quase 160 anos depois, a companhia apresentou uma nova edição de sua linha que também se chama 1858. O modelo tem caixa elaborada de bronze, material bastante apreciado por colecionadores pelo poder de desenvolver uma pátina única ao longo dos anos. Já um mostrador salmão com acabamento em raios solares faz referência direta aos modelos antigos da manufatura suíça. A peça apresenta uma função cronógrafo operada por um único botão com um taquímetro. Ela permite a marcação da velocidade média baseando-se no tempo de deslocamento em um minuto. Já os grandes algarismos revestidos em material luminescente trabalham em conjunto com os largos ponteiros centrais para apresentação de horas e minutos. Os demais ponteiros, em azul, apresentam segundos, segundos do cronógrafo e contagem de minutos do cronógrafo. montblanc.com
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Tempo Hublot UltraCampeão Oito. Esse poderia ser um número qualquer, ou apenas um número importante para algumas culturas. Mas ele ganha um destaque ainda maior se considerarmos que esse é o número de medalhas olímpicas conquistadas pelo jamaicano Usain Bolt. “Desenvolvemos oito relógios especiais em homenagem às oito medalhas olímpicas conquistadas por Bolt”, explica Ricardo Guadalupe, CEO da Hublot. Uma das variações da peça é Big Bang Unico Sapphire Usain Bolt, que vem acompanhado de um par de tênis e meias de corridas idênticos aos utilizados pelo campeão durante os Jogos Olímpicos de 2016. O relógio em si é pura ousadia. Uma caixa elaborada em safira transparente permite a visualização dos mínimos detalhes do mecanismo. Itens em dourado lembram as medalhas olímpicas, enquanto o verde faz uma referência a seu país natal. A bandeira do país ainda aparece em baixo-relevo na pulseira, de couro dourado. O relógio apresenta função cronógrafo, ideal para a marcação de tempos decorridos, e o ponteiro de segundos possui formato de raio, como uma referência direta ao apelido do atleta. hublot.com
Fluidos mostram as horas neste HYT
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O novo Hublot: homenagem a Usain Bolt
HYT Sólido como líquido A indicação de horas realizada por meio de fluidos – ou seja, líquidos – é uma marca registrada da relojoaria HYT. O mais recente lançamento da companhia aposta na sensação de profundidade, tanto para a caixa quanto para o mostrador. Um cristal de safira bastante curvo abraça o dial e permite uma leitura das horas no formato de 12 e 24 horas. Mais que a permissão de leituras de formatos diferentes de horas, o novo design adotado pela HYT neste modelo permite, desta vez, uma visão rápida de alguns itens do mecanismo que antes eram quase que completamente abertos ao olhar do usuário. Mas a organização do mostrador foi mantida: um arco com indicação líquida apresenta as horas, enquanto um submostrador menor apresenta a indicação dos minutos. À esquerda dele, pequenos segundos e, à direita, uma referência para aferir a reserva de energia. O relógio está disponível nos tons preto, laranja e branco prateado. A coloração do líquido, de detalhes do mostrador e da pulseira variam de acordo com a tonalidade do dial. hytwatches.com
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Baume & Mercier De olho na estrada O modelo mais incensado pela Baume & Mercier ao longo do SIAR foi o Clifton Club Shelby Cobra, um cronógrafo disponível em duas versões: com mostrador branco prateado e detalhes em azul, ou mostrador azul com detalhes em branco prateado. Ambas as versões apresentam ponteiros do cronógrafo em vermelho e pulseira de couro de bezerro com textura de lona com detalhes em vermelho. Cada uma delas é limitada a somente 1.964 unidades. O novo modelo é uma parceria entre a marca suíça com a fabricante de carros Carroll Shelby. Além da tonalidade bicolor, a esportividade dos modelos é reforçada pelo taquímetro ao redor do mostrador. Ele permite o cálculo da velocidade média de acordo com o tempo decorrido ao percorrer um quilômetro ou milha. O ponteiro central de segundos do cronógrafo é apresentado com o famoso logo do modelo Shelby Cobra como contrapeso. Uma função extra é dada pela indicação de dia e dia da semana por meio de duas janelas na posição de 3 horas. baume-et-mercier.com
O Shelby Cobra: parceria com a grife de carros
Bulgari junção de duas lendas
Uma união da Bulgari com a Maserati
Pense em duas lendas do design italiano. Imagine uma afinada parceria entre elas. Assim nasceu o modelo Octo Maserati, uma união da Bulgari com a fabricante de automóveis Maserati. As indicações simples de horas e minutos foram elaboradas mecanicamente para a entrega de informações precisas ao usuário. No lugar de ponteiros tradicionais para horas e minutos, o modelo apresenta uma indicação “digital” para a apresentação das horas e um único ponteiro para os minutos. Mas não se trata de um ponteiro tradicional. Ele viaja por um arco no mostrador e retorna ao ponto inicial a cada hora cheia. “Nunca vamos para o caminho convencional”, explica Guido Terreni, responsável pela divisão de relógios da companhia. “A Bulgari não é uma marca que você compra para parecer com outras pessoas, mas sim para ser diferente.” A complexidade mecânica é abrigada pela simbólica caixa Octo da companhia, que pode ser confeccionada em aço com revestimento DLC preto ou em ouro rosa. O Octo Maserati será vendido exclusivamente em lojas Bulgari. bulgari.com
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Tempo Audemars Piguet Áudio Cristalino A ousadia estética da Audemars Piguet foi deixada de lado por alguns instantes para a apresentação de seu recente repetidor de minutos. O Jules Audemars Minute Repeater Supersonnerie é uma peça clássica, que carrega referências de modelos históricos da companhia, inclusive a tonalidade azul do mostrador, vinda de um modelo esmaltado de 1892. A nova peça carrega também a herança técnica do modeloconceito apresentado em 2016: um repetidor de minutos com acústica superior pertencente à coleção Royal Oak. O sistema de som, que realiza a indicação de horas, quartos de horas e minutos, é ligado a um dispositivo que atua como uma placa sonora. Além disso, a construção da caixa evita a absorção do som e permite uma ressonância muito maior em comparação a modelos similares. Clássico sem deixar de ser contemporâneo, o relógio combina o tom prateado da platina com o azul (uma tendência da relojoaria), realiza a apresentação de horas e minutos centrais e pequenos segundos com ponteiros elaborados em ouro branco sobre algarismos romanos e algarismos arábicos para os minutos.
Um Audemars Piguet com referências históricas
audemarspiguet.com
Mr. Monopoly dá as caras
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TAG Heuer Arte no dial O Mr. Monopoly alude não apenas ao nome do artista parceiro da TAG Heuer, Alec Monopoly. Mas também ao apelido da divertida figura que estampa o mostrador desta edição especial do modelo Formula 1. O personagem, um banqueiro, foi criado pelo artista durante a crise de 2008 como uma forma de provocar e inserir irreverência no tenso cenário da época. Ele está presente no mostrador, sob ponteiros centrais de horas, minutos e segundos e bem ao lado de uma janela que realiza a indicação de data. Esses dados, por sinal, são entregues por um movimento de quartzo. A caixa do modelo é elaborada em aço escovado. Já o aro externo, que permite a marcação de tempos decorridos, tem revestimento em PVD preto e rotação unidirecional. A pulseira é confeccionada em borracha preta e possui perfurações, como já se via na linha Formula 1. O modelo está disponível sob encomenda no Brasil, pois se trata de uma edição especial. tagheuer.com
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Bomberg Duplo tempo
Para o pulso ou para o bolso
O novo modelo Bolt-68 GMT, da Bomberg, tem caixa de aço com revestimento em PVD preto e traz a combinação de preto e laranja no mostrador. Dotada de um movimento de quartzo, a peça realiza indicações de horas, minutos e segundos centrais. Uma janela à esquerda do mostrador faz a apresentação de data, enquanto um segundo fuso horário pode ser lido à direita. São 45 mm de diâmetro e uma coroa posicionada às 12 horas. Ela pode ser removida da base onde se encontra a pulseira e transposta para uma segunda base. Desta forma, o relógio se transforma em uma peça de bolso. Na versão de pulso, o acabamento é dado por uma pulseira de borracha com detalhes em laranja. Já como de bolso, tem uma corrente de titânio com revestimento PVD preto. bombergwatches.com
MB&F Sóbrio, mas diferente A relojoaria MB&F apresentou o modelo Legacy Machine Split Escapement, que tem um escapamento “flutuante” central no mostrador e três subdials independentes com apresentação de horas e minutos, reserva de energia e data comum. Esta última função é ajustada por meio de um botão lateral, o que facilita a vida de colecionadores e entusiastas, principalmente quando a corda do relógio chega ao fim enquanto ele está guardado. O Legacy Machine está disponível em quatro opções de cores. mbandf.com O modelo tem três subdials
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Tempo
Urwerk Visibilidade protegida
Indicaçõessatélite: marca registrada
As indicações-satélite da relojoaria Urwerk são uma marca registrada da companhia há pelo menos 18 anos. A leitura da hora da maioria de seus relógios segue o padrão no lançamento mais recente, o UR-105CT. Um algarismo anexado a um carrossel “passeia” ao longo de uma escala por exatos 60 minutos. As horas são lidas pelo algarismo viajante, enquanto os minutos são indicados na escala logo abaixo. Este novo modelo ainda acrescenta uma armadura conversível, que permite a visualização de detalhes do mecanismo através do cristal de safira, protegendo-o das ações do tempo. urwerk.com
Arnold & Son Precisa herança Pequena, mas que passou a integrar o Grupo Citizen recentemente, a relojoaria Arnold & Son lançou seu modelo Tourbillon Chronometer No. 36. A peça presta uma homenagem aos 240 anos da apresentação do primeiro cronômetro de John Arnold, relojoeiro inglês que dá nome à companhia. A disposição dos elementos do mecanismo no mostrador transparente remete a uma série de “8”, número da sorte para muitas culturas. Com isso, os barriletes de corda estão na porção superior, enquanto a indicação de segundos e um turbilhão – que anula a força da gravidade – estão logo abaixo. A indicação de horas e minutos é feita de maneira central. O relógio conta com versões em ouro rosa ou aço. arnoldandson.com
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Ele celebra os 240 anos do primeiro modelo
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Um clássico revisto
A versão em cerâmica de um ícone
Girard-Perregaux Material arrojado
Chopard Ouro consciente
O icônico modelo Girard-Perregaux Laureato ganhou uma versão em cerâmica este ano. A peça tem tom preto, desenho sóbrio e caixa de 42 mm de diâmetro. Isso permite que o modelo frequente diversos ambientes e ocasiões. O mecanismo automático entrega uma reserva de energia de 54 horas, realiza a indicação de horas, minutos, segundos e data e está protegido a até 100 metros sob a água. girard-perregaux.com
Jet Liner II: máquina à vista
Os traços clássicos do modelo Chopard L.U.C XPS Twist QF Fairmined ganham um quê de descontração graças à textura apresentada no dial cinza antracite e no subdial de segundos deslocado para as 7 horas. Além disso, o ouro de elaboração da caixa é extraído de uma mina certificada, que assegura as condições dos mineiros na extração do material em minas da América do Sul com o suporte da ONG Alliance for Responsible Mining. chopard.com
Cvstos Radical e funcional As indicações de horas, minutos e segundos são feitas por ponteiros que f lutuam sobre um cristal de safira, que permite visualizar detalhes do movimento automático com tratamento em plasma preto. O modelo Cvstos Jet Liner II conta com uma caixa em formato tonel. Os algarismos do mostrador são produzidos com uma fonte desenvolvida pela companhia. A posição de 6 horas é reservada para a data, apresentada por meio de um disco esqueletizado. cvstos.com
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tecnologia
Por lúcia helena de oliveira Monica, Cristina e Viveka são líderes em grandes empresas da área de informática, setor em que as mulheres lutam ainda mais para vencer os preconceitos
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á 25 anos, a IBM apresentou o Simon, o primeiro smartphone da história. Era um trambolho, mas tinha agenda, acesso a e-mails e, opa, uma touchscreen. Também em 1992, Bill Gates, da Microsoft, profetizou que o computador se livraria dos tubos, teria tela plana e caberia em uma bolsa. Para fechar aquele ano emblemático, a Mattel instalou um chip na quarentona Barbie, só que acabou dando voz esganiçada a um preconceito: “Math class is tough” (“Aula de matemática é difícil”). Diante das reações, dureza foi calcular o prejuízo até a boneca calar o bico e voltar às prateleiras. Hoje todo mundo carrega um smartphone no bolso — no Brasil, fechamos 2017 com um celular inteligente ativo por habitante, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas — e, na era da transformação digital, eles ainda são uma das meninas dos olhos do pulsante setor de tecnologia. Ah, ponto para o menino: Bill Gates acertou em cheio. E
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ponto para as meninas: a IBM, do velho celular Simon, hoje é presidida globalmente por uma mulher, a engenheira de computação americana Ginni Rometty. Já a Microsoft, fundada por Gates, é liderada no Brasil por outra bacharel em computação, Paula Bellizia. São apenas dois exemplos. No cenário atual, há uma constelação feminina na liderança de um setor em que as mulheres têm dificuldade histórica de participação, ocupando em média 30% das cadeiras, sendo que metade delas em funções que não envolvem tecnologia pra valer. “A dificuldade, aqui e lá fora, está na base: atrair meninas para os cursos de Exatas. Não à toa, empresas como a nossa investem cada vez mais em programas com esse objetivo”, diz Katia Gianone, diretora de comunicação da Microsoft Brasil. No imaginário, essas carreiras são mais difíceis e… mais masculinas. Pois é, Barbie, a brincadeira de gosto duvidoso continua um quarto de século depois e o mundo da tecnologia ainda não é aquele cor-de-rosa. Me-
lhorou? “Aumentou de 14% para 15% a proporção de alunas que ingressaram nos cursos de computação e engenharia”, continua Katia. “Mas ninguém se engane: a população cresceu, daí que o número absoluto despencou.” Pior: oito em cada dez brasileiras desistem dos cursos de Exatas no primeiro ano. O que as mulheres líderes no setor de tecnologia mostram, como as entrevistadas por THE PRESIDENT a seguir, é que a participação feminina nas empresas constitui o melhor termômetro para acusar se essas companhias estão preparadas para a diversidade. “E, sem isso, em uma área que depende de inovação, estamos todos fritos”, diz, sem rodeios, Cristina Palmaka, CEO no Brasil da alemã SAP. Viveka Kaitila, a nova CEO da GE no país, completa: “O desafio de trazer o diferente para dentro das companhias não é só pela beleza da igualdade de direitos ou para espelhar a sociedade. Empresas com maior diversidade geram mais resultados.” Bem, esse “x”, mais do que os do cromossomo, é o da questão.
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tecnologia Corrida da inovação Cristina Palmaka, CEO da SAP
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té hoje a cena é comum: reunião cheia, cartões enfileirados sobre a mesa com os nomes de todos. No primeiro coffee break, as pessoas já estão se confundindo. “Você é Paulo, né? Não? Pedro! Sim, Pedro. Mas meu nome nunca erram. Também pudera, é o único nome feminino para gravar”, diz, rindo, Cristina Palmaka. Ela usa a cena para ilustrar a importância, “nesse momento fantástico do setor”, de ser uma mulher em um ninho de homens. “As mulheres, nesse contexto, representam o diferente e, portanto, têm maior possibilidade de endereçar as perguntas estranhas. E, se a gente não as fizer, ficaremos bloqueados para pensar em tudo o que ainda podemos criar tecnologicamente”, declara a CEO da SAP. “Isso seria um desastre para um setor que depende de inovação.” Formada em ciências contábeis, com quase três décadas de atuação na área de tecnologia, Cristina diagnostica um erro comum no ambiente corporativo. “Não adianta ter uma aparente diversidade se o dia a dia no trabalho induz todo mundo a pensar mais ou menos igual”, avalia. “Assim como não adiantaria ser a única mulher em uma reunião, se ninguém percebesse uma voz diferente e não só no sentido figurativo, já que muitas vezes quem não se encaixa no grupo ou pensa de modo diverso fica calado.” Nesse sentido, acre-
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dita, as empresas de tecnologia, ainda tão homogêneas em gênero — “mas que precisam se abrir para que sobrevivam na competição acirrada” —, paradoxalmente tendem a se tornar modelo para as de outros setores. “Será mais forte quem sair da zona de conforto”, aposta. Ela traz ainda para a SAP, gigante alemã de softwares e aplicativos empresariais, a vivência como esportista. Desde o ano 2000, Cristina corre ao lado do marido, também CEO, só que do setor de saúde, com quem tem uma filha, Katarina, de 11 anos. Já participou várias vezes da São Silvestre, a tradicional corrida de rua na virada do ano em São Paulo, e contabiliza nada menos que 12 maratonas. “Treino cedo, trabalho cedo, porque quero chegar em casa a tempo de ler histórias para a minha filha Katarina, sem tablets, celulares nem qualquer outro device.”
“Leio histórias para minha filha sem tablets, celulares ou outro device” A vida de executiva ensina à corredora que, às vezes, não dá para treinar como queria, mas é bom competir, mesmo sabendo que não estará nas condições ideais. E o que a rotina de esportista ensinou à CEO? “Quando me ofereceram essa cadeira, em 2013, estremeci, pois não estava pronta. Mas aí lembrei que, na prova, o que vale é o treinamento feito até o instante da largada. Portanto, o que eu tinha aprendido até o momento, apesar de não me dar garantia absoluta de vitórias como CEO, já seria muito útil.”
Ela tem quase três décadas de atuação na área de tecnologia
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A executiva está na mesma empresa há 25 anos
Matemática até para dançar Monica Herrero, CEO Brasil da Stefanini
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frustração de dona Adélia foi o dia em que a filha não deu a mínima para a boneca que ela lhe trouxe de presente. “Já a grande sacada dela foi não ter forçado a barra”, diz Monica Herrero, matemática de formação, curso que escolheu só porque gostava da matéria. “Sou de Exatas até fazendo aula de dança com o meu marido. Quando percebo, já estou calculando os passos.” Ansiosa, Monica não perdeu um minuto ao ouvir o sopro dos colegas de que uma empresa estava buscando estagiários. Preencheu a ficha da Serpro sem saber o que era a Serpro, uma das maiores companhias públicas de tecnologia de informação do mundo. “E nem sequer existia uma especialização em TI”, lembra.
Ali, já empregada, atendia a Caixa Econômica Federal. Pegou as manhas do setor financeiro e, por isso, passou por bancos de investimento até aterrissar no que era uma startup há 25 anos, a Stefanini, bem quando nascia sua filha mais velha. Monica é mãe de um casal e adora os finais de semana em família. Nas quase três décadas de casamento, recebeu todo o apoio do marido, Marco, e nesse contexto viu sua carreira decolar até virar CEO em uma empresa que sempre apresentou muitas mulheres em seus quadros — na Stefanini, fora da curva, elas são 40% dos funcionários. “Nunca tivemos um programa específico para promover o crescimento de mulheres”, diz Monica, que é contra cotas para seja lá quem for. “Devemos é garantir que o processo seletivo não barre pessoas por gênero, orientação sexual, condições físicas, etnia, idade e até por classe social. Por que só buscar talentos em universidades renomadas, por exemplo? Parto do princípio de que, uma vez aqui dentro, todos terão condições iguais de competição.”
“Sou de exatas até em aula de dança. Quando percebo, estou calculando os passos” Monica considera que o DNA da Stefanini é menos a tecnologia em si e mais o foco em cada cliente. “É dificílimo ganhar um novo. Por isso, há um zelo absurdo para manter os que já estão conosco”, diz. “Faz parte do esforço compreender que eles têm culturas organizacionais e necessidades bem diferentes entre si. E, nesse ponto, contar com um time plural cria uma sensibilidade extraordinária.” Está dando muito certo. A Stefanini hoje oferece suas soluções em software em 41 países. “E a maioria dos clientes, multinacionais, foi conquistada no Brasil, indicando a nossa companhia lá fora.”
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tecnologia Concentração de energia Viveka Kaitila, CEO da GE do Brasil
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m outubro de 2017, Viveka Kaitila completou 20 anos de General Electric, três meses depois de ter assumido a liderança da empresa no país e menos de dois anos após ser diagnosticada com câncer de mama. Ironia, a GE é líder absoluta em tecnologia de ponta de prevenção da doença e, claro, a executiva finlandesa, que veio para o país aos 4 anos, se cuidava. Mas aconteceu. A notícia chegou bem em uma terça-feira na qual o novo presidente tinha assumido e só restou a ela, então sua vice para a América Latina, fazer sua primeira interação com ele mais ou menos assim: “Olha, termino o que comecei, deixo tudo na sua mesa na quinta e daí vou focar na minha saúde”. E foi o que fez. Mas não parou de trabalhar. “Fui aberta com a GE porque precisava de flexibilidade. E consegui.” E esse é um ponto que pretende ressaltar ainda mais na sua gestão. “No ambiente de trabalho precisamos livrar a pessoa de gastos de energia com tudo aquilo que não promove o seu talento e, portanto, tira a sua cabeça dos objetivos do negócio”, afirma. “Ela não pode ter receio de falar de uma condição de saúde e pedir horários flexíveis. Ou, em vez de usar a cabeça para resolver as demandas da empresa, se perder em pensamentos de como expressar uma orientação sexual no escritório, ter medo do que falar por ser mulher, de uma etnia diferente da maioria, ter outra
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Ela proibiu longas apresentações em reuniões
“quando entrei na sala, perguntaram se eu era a professora de inglês” religião, o que for… Precisamos dar espaço para o indivíduo para que sobre espaço para o trabalho.” A GE, diga-se, foi a primeira empresa do mundo a formalizar a proibição de qualquer forma de discriminação, ainda em 1936. E cabe à gestão de Viveka implantar um novo treinamento, presencial, pelo qual passarão todos os funcionários. “O objetivo é perceber atitudes discriminatórias que todos têm e das quais não se dão conta”, resume. O programa é global.
Formada em administração na Brown University, nos Estados Unidos, bem no período em que a família retornava para a Finlândia, Viveka preferiu comprar sua passagem de volta para o Brasil, onde se casou. “No início de carreira, quando entrei na sala, perguntaram se eu era a professora de inglês”, relembra. “Já há cinco anos, me confundiram com a hostess. Não me ofendo.” Hoje divorciada, vive no país com seu único filho, Ilan, de 27 anos. “Sempre achei que minha formação faria mais diferença por aqui”, diz. E uma de suas características – já notória nos poucos meses como CEO – é não ter muito gosto por longas apresentações. Foram proibidas. “As pessoas perdem tempo para fazê-las e ganharíamos muito mais em 15 minutos de café conversando sobre o assunto. De novo, é sempre uma questão de não perder tempo com aparências e só com as soluções. E elas não estão nos arquivos do computador e, sim, no diálogo criativo.” P
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perfil Por Marcos Diego Nogueira fotos walter firmo Retrato tuca reinĂŠs
O SOM E A LUZ Aos 80 anos, o fotĂłgrafo Walter Firmo continua na ativa, retratando o Brasil e os brasileiros com arte e manha
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perfil
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im de tarde de outubro no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A abertura da exposição Um Passeio pela Nobreza, do fotógrafo Walter Firmo, está para começar e há um alvoroço na entrada. Firmo vive rodeado de pessoas – e presta atenção à fala de cada uma delas. A euforia se abranda e ele responde a todos, com calma. “Na vida tudo é muito simples. Não tem que existir a soberba”, costuma dizer, aos 80 anos. Desta vez, um detalhe chamava a atenção. A roda que cercava Firmo, entusiasmada, era formada por gente carregando algo em comum: câmeras fotográficas profissionais. Muito simples: a nata da fotografia brasileira estava presente reverenciando Walter Firmo. Os retratos expostos na Ggaleria Mario Cohen eram um resumo bem selecionado da obra do homem que se consagrou por retratar de forma única rostos e lugares do país – com especial atenção para grandes nomes da nossa música. Poucos sabem, mas o próprio Firmo, nascido em 1º de junho de 1937, na “Época de Ouro” da canção popular, poderia ter sido um desses nomes. Antes de se aventurar na arte de perpetuar imagens, ele tentou a carreira de cantor.
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“Aos 14 anos, cantei no Clube do Guri”, conta, referindo-se ao programa infantil de calouros que ia ao ar aos domingos das 10h ao meio-dia na Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. “Era produzido pelo Samuel Rosenberg, ali ao lado da praça Mauá. Quem também cantava no programa era a Claudette Soares.” Está provado, portanto, que a ligação com a música sempre esteve no seu sangue – ou na “consciência afetiva”, como gosta de dizer. Ainda que cantar fosse o primeiro sonho, dele desistiu com rapidez. A explicação: “Para fazer sucesso na música tem de fazer conchavos, pertencer a confrarias. Aos 14 anos, eu, um menino suburbano, concluí: ‘esse mundo não me pertence’. Fiquei vagando mais um ano até que a fotografia veio ao meu encontro”. Nascia o fotógrafo. “O que me atraiu foi, sobretudo, a possibilidade de historiar, de me sentir um bruxo, me comunicar com milhares de pessoas pelo silêncio das imagens.” Era o início dos anos 1950. Como seria de esperar, os pais de Firmo – ele, policial militar; ela, empregada doméstica – não reagiram bem à notícia de que o filho abandonaria os planos universitários em troca de
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Clementina de Jesus na Quinta da Boa Vista (1978). Moreira da Silva no Rio Comprido (1991). Chico Buarque em Copacabana (1997)
uma câmera. “Minha mãe queria que eu fosse doutor: médico, advogado, engenheiro. Já o meu pai achava que eu seguiria a carreira dele.” Na realidade, trabalhar como fotógrafo de jornal não exercia o fascínio de hoje. Ao contrário. “Havia fotógrafo que não tinha onde cair morto”, relembra Firmo. “Não era fácil.” Por que então a insistência com a câmera? “Assim como um compositor de música, você trabalha sozinho. E tira prazer dessa solidão.” Sempre a música. De qualquer gênero. Firmo gosta de “música operística, clássica ou fundo de quintal”. No momento, está ouvindo muito jazz. Em especial, a orquestra de Duke Ellington. Aos 20 anos, foi contratado como repórter fotográfico da Última Hora. Visto aos olhos de hoje, pode parecer glamouroso participar no inovador jornal criado por Samuel Wainer. No cotidiano, porém, era um trabalho intenso, numa época em que, no mesmo dia, um fotógrafo podia clicar criminosos pela manhã e craques do futebol em ação, já de noite. Da Última Hora, Firmo seguiu para o Jornal do Brasil e, já na segunda metade dos anos 1960, rumo à lendária revista Realidade. Para o falecido Paulo Patarra, redator-chefe da publicação, o fotógrafo era o seu “farol”. Patarra escreveu: “Carioca, casado com mulher linda, Firmo nem imaginava que funcionava como
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Pixinguinha em Ramos (1964). Dona Zica e Cartola em Jacarepaguá (1976)
meu controller. No Bar Redondo ou no Bar Leo, discursava sobre as matérias, sempre com palpites percucientes”.Em paralelo, Firmo foi se aproximando dos trabalhos publicitários e também das gravadoras, clicando capas de discos e material de divulgação para artistas. Outra ligação com a música. Foi quando começou a fotografar feras do samba. Pixinguinha, Clementina de Jesus, Carlos Cachaça, Cartola, Candeia, Paulinho da Viola e Dona Ivone Lara, entre outros. “Pixinguinha era um dos meus ídolos, mas eu jamais pensei que um dia chegaria a ficar perto dele”, confessa. “Foram a fotografia e o jornalismo que me aproximaram do meu ídolo. Agradeço.” Apaixonado pela cultura popular, o fotógrafo vascaíno de coração foi, pouco a pouco, se aprofundando no meio musical. “Mergulhei de cabeça”, diz. “Me relacionei com os artistas como se fossem a minha família, ou como se eu pertencesse à família deles.” Com todo o carinho, corria os olhos pelo ambiente em busca do melhor cenário para retratar os artistas. Decidia na hora. “Eu me sentia como um diretor de ópera e os colocava à minha mercê”, resume. “Clementina sentada em um gramado recostada em uma árvore. O Cartola diante de umas flores de
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plástico. Ou Pixinguinha em uma cadeira de balanço. Foi assim também com o Paulinho da Viola recostado em uma árvore na Barra da Tijuca, na rua da casa dele. Eu tinha uma missão visual a ser cumprida.” A imponência do povo Quem foi o artista mais próximo? Cartola. Foram 15 anos de coleguismo – Firmo tem o cuidado de ressalvar que não era uma amizade. “Sempre fiquei meio distante porque, afinal, era o Cartola!” No bairro carioca de Jacarepaguá em algum momento da década de 1970, Firmo estava de passagem quando Cartola o chamou para a sua garagem. “Waltinho, Waltinho, quero que você veja uma coisa.” Chegando lá, bateu os olhos em um carro coberto por uma capa, que, com todo o cuidado, foi retirada pelo compositor de “O Mundo É um Moinho”, desnudando um Fusca amarelo, novinho. “Comprei pra mim”, disse Cartola, feliz da vida com o automóvel e com o dinheirinho que seus primeiros discos como cantor, lançados havia pouco, renderam. Firmo ri ao compartilhar essa memória. “Para o cara ter essa atitude é porque tinha uma ligação especial”, emociona-se.
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Um dos objetivos do trabalho pessoal de Firmo é, há muitas décadas, clicar o negro brasileiro – seja artista ou um simples anônimo. “O negro só era retratado na época do Carnaval, ou no Maracanã, no teatro de Grande Otelo, ou nas páginas policiais”, diz. “Eu queria mudar isso.” Para cumprir esse objetivo, Firmo baseou-se na arte de dois fotógrafos: José Medeiros, seu grande ídolo, que fez parte da equipe da revista O Cruzeiro e depois seguiu caminho no cinema nacional, e o francês Pierre Verger, que retratou os baianos. “Meu negócio é gente”, diz. “E aí entra uma questão política brasileira. Procuro fotografar os pobres, mas não os miseráveis. Quero mostrar aqueles que, apesar de todas as carências, conseguem ser felizes a seu modo. É gente altaneira. E sempre o céu azul por detrás deles.” Aposentado desde 2007 pela Funarte, onde atuou por muitos anos, Firmo ainda ministra cursos e workshops. A função permite que continue viajando pelo Brasil adentro – e, claro, fotografando o país. Suas cidades preferidas para clicar são o Rio de Janeiro, onde nasceu, Salvador – “tem a consideração racial, a imponência do povo” – e Paris, onde morou por seis meses. Aos 60 anos de profissão, permanece, como adora definir, “com muito gosto pela brincadeira da luz”. E explica: “Gosto de me entender com a luz, de analisá-la, de desenhá-la. E me refiro também à luz do meu olhar, da minha vã consciência em relação à minha própria psicologia barata”, filosofa. “Não sou psicólogo, mas sou um homem dado à leitura de ver o outro e me surpreender.” Fora do Brasil, o retrato mais famoso de Firmo é o de Bob Marley. O jamaicano foi fotografado ao lado de Chico Buarque
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perfil
Noiva em favela alagada em Salvador (2002). Madame SatĂŁ no Rio de Janeiro (1976)
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por ocasião de um jogo de futebol no campo deste, no Rio de Janeiro, em 1980. Apesar do sucesso que a chapa faz até hoje, ela não está entre as favoritas do autor. “Não a considero um ato de criação do fotógrafo”, diz. “Apenas apertei o botão ali e registrei um fato”, conta ele, que estava por lá como contratado pela gravadora Ariola, responsável pelo evento. “Curiosamente, anos depois essa foto virou uma camiseta. Todo mundo acha o retrato maravilhoso. Mas é porque há uma questão política. São dois artistas engajados e fenomenais.”
Firmo confessa que, na época, não ligava para a música de Marley. “Um dia me perguntei por que não gostava”, conta. “Comecei a escutar e a me enfronhar naquele ‘tan, tan, tan’ e mudei de ideia. Passei a gostar”, relata, bem-humorado. “Aconteceu assim também com o jazz. Achava uma chatice e depois me apaixonei.” Do alto de seus 80 anos – que sempre vêm acompanhados de um “sou mais jovem do que você”–, Firmo vai dando ao mundo a sua versão dos fatos em imagens cheias de luz e musicalidade. P
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memória Por RENATO MODERNELL ilustração ariel bertholdo
A ruela que não dorme Há mais de um século, a pequena e boêmia Nestor Pestana agita a vida cultural e social de São Paulo
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á dois anos, a Nestor Pestana completou um século de existência. E daí? – perguntam em coro os 12 milhões de paulistanos. Neste labirinto de 50 mil ruas, que diferença faz uma ruela em formato de anzol, que parece levar do nada a lugar nenhum? Pois é: parece. Só parece. O que menos importa é dizer que a Nestor liga a praça Roosevelt à rua da Consolação. Sua função viária é mínima. Muito além dela, trata-se de uma rua que nos leva do dia para a noite. Mil e uma noites. Um século de vida boêmia, artistas inspirados, luzes a piscar, uma síntese da metrópole em 300 metros de extensão. E uma curva no meio. No final do século 19, quando São Paulo nem contava 250 mil habitantes, os rapazes da elite trouxeram uma moda da França: o ciclismo. Uma aristocrata do café, Veridiana da Silva Prado, brindou o neto Antônio – aos 15 anos recordista sul-americano nessa modalidade –, cedendo uma fatia de suas chácaras para Silva Prado: criador do velódromo
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construir o Veloce Club Olympic Paulista, réplica do parisiense Parc des Princes. Cercado de pinheiros, o velódromo tinha raia inclinada de cimento, com 380 metros de comprimento e 8 de largura. Mas pouco depois o governo proibiu a importação de bicicletas. Os rapazes trocaram o ciclismo pelo futebol. Com a ocupação da área interna da pista, o Velódromo da Consolação transformou-se em 1901 no Campo do Velódromo, casa do alvirrubro Club Athletico Paulistano, onde foram disputados os primeiros certames estaduais e grandes jogos internacionais. Foi o primeiro estádio de São Paulo, com arquibancadas para 700 pessoas e apto a acolher 4 mil espectadores. Isso equivalia ao triplo da capacidade do Estádio do Morumbi em relação à população atual da cidade. Ali o ídolo Arthur Friedenreich encantou com fintas de corpo e chutes de efeito. No fim de 1915, disputou-se a última partida no lendário Campo do Velódromo. Na ocasião, a seleção paulista massacrou a carioca por 8 a 0. A área, pertencente aos descendentes de dona Veridiana, falecida havia cinco anos, foi desapropriada para a abertura dessa estranha rua recurva que recebeu o nome da
filha de um dignitário do município, Florisbella, e em tese deveria ter chegado até a Augusta, mas nunca chegou. Pessoas de fino trato foram residir na Florisbella. Em 1925, a pintora e atriz chinesa Lili Wong e seu marido alemão instalaram-se em uma casa em estilo cottage cujos salões recebiam artistas e intelectuais. Um deles era Nestor Pestana, diretor do jornal O Estado de S. Paulo e secretário da prestigiosa Sociedade Cultura Artística. Ele não digeria bem o modernismo. Apostava em Anita Malfatti mas decepcionou-se com a polêmica exposição de 1917. Amigo da família, preferiu transferir a incumbência de criticá-la ao jovem Monteiro Lobato, que desancou a pintora. Mesmo assim, ao morrer, esse intelectual refinado mas conservador teve o seu nome associado a uma rua destinada a ser o reduto de gente ousada e inovadora. Em 1933, a Florisbella virou Nestor Pestana. Após a Segunda Guerra, os casarões da rua foram sendo demolidos para dar lugar a edifícios altos, com paredes vazadas e outros detalhes modernos, saídos da prancheta de arquitetos recém-chegados ao Brasil como o ucraniano Gregori Warchavchic e o alemão Adolf Franz Heep, este responsável pelo Edifício Itália.
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Rua da consolação
Paróquia Nossa Senhora da ação sol n o C Em março de 1950, a Sociedade Cultura Artística inaugurou sua sede própria quase ao final da Nestor, perto da Roosevelt. O prédio projetado por Rino Levi exibia na fachada o maior mosaico concebido por Emiliano Di Cavalcanti. Com 8 x 48 metros, o painel Alegoria das Artes reuniu cerca de 1 milhão de pastilhas vitrificadas. Os concertos inaugurais tiveram regentes do porte de Camargo Guarnieri e Villa-Lobos. Daí em diante, a Cultura Artística exibiria os maiores astros e orquestras do mundo. Em frente ao teatro, estabeleceu-se em 1949 uma cantina que a família Lenci inaugurara pouco antes da guerra, em 1938, na avenida Rio Branco, e que ostentava um nome italianíssimo: Gigetto. Porções generosas e horário elástico, noite adentro, aliados a uma localização estratégica, em meio ao circuito cultural e os órgãos de imprensa, das casas de espetáculo e das redações de jornais, logo atraíram notívagos e artistas. Após os espetáculos, o pessoal de teatro como Procópio Ferreira, Paulo Autran, Plínio Marcos e Antunes Filho gostava de se reunir nas mesas do Gigetto para degustar o capeletti com
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A ruela já não tinha o velódromo, ao ganhar nome do jornalista Pestana, em 1933
Teatro tica tís ra Ar u t l Cu
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S lo u Pa
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Bar (ex Gigetto)
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memória A fachada do Teatro Cultura Artística, onde cantaram astros como Ray Charles, exibe o maior mosaico de Di Cavalvanti. Foi salvo de um incêndio
fotos reprodução
quinta-feira, e um bilhete para assistir à segunda partida da final do mundial interclubes no Maracanã. Bruno teve a oportunidade de ver o grande Santos aplicar no Milan uma virada épica de 4 a 2. Meses depois, veio a descobrir que seu misterioso benfeitor havia sido o psicanalista e escritor Roberto Freire, na época cronista da Última Hora, que logo se tornaria conhecido como diretor da peça Morte e Vida Severina e repórter da revista Realidade. Telenovelas e festival de música o molho à romanesca (creme de leite, cogumelos, ervilhas e cubinhos de presunto) concebido por um garçom que servia entoando canções de Pepino di Capri ou trechos da ópera La Bohème, de Puccini. Tendo embarcado sozinho, aos 14 anos, em um navio com destino ao Brasil, o italiano de Casalbuono (perto de Nápoles) Giovanni Bruno virou lenda na Nestor Pestana por encarnar em sua figura efusiva essa tão paulistana síntese entre comida e inspiração. Os artistas o adoravam. Em fins de 1963, recebeu de um diretor teatral um envelope anônimo com passagens aéreas para ir pela primeira vez ao Rio de Janeiro, na sua folga de
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Por essas e outras, a Nestor passou a ganhar ares de Via Veneto, à qual, por sinal, se assemelha em forma e extensão. Essa pequena rua de Roma se tornou famosa em 1960 após o lançamento de A Doce Vida, de Federico Fellini, clássico do cinema que trata da vida de notívagos, aspirantes ao sucesso e celebridades perseguidas por caçadores de fotos que, a partir daí, passaram a ser chamados paparazzi. Naquele mesmo ano, um movimento desse tipo começou a surgir na Nestor. Isso porque o Cultura Artística arrendou por três anos suas instalações para a recém-criada Rede Excelsior, empenhada em fazer frente à Record e à Tupi, líderes de audiência entre os canais de TV.
Os suculentos filés do Gigetto passaram a fazer parte também do cotidiano de artistas ligados ao mundo da televisão. Jô Soares, Moacyr Franco e Chacrinha eram alguns dos nomes que os moradores da Nestor, onde ainda se jogava futebol de rua, podiam agora ver entrando ou saindo da barbearia do Vitorino ou do empório de Manoel Souto, conhecido como Manolo. E se acaso se visse uma multidão alvoroçar-se em frente ao teatro, contida por policiais, era porque um cantor internacional chegava para dar o seu show, como aconteceu com Ray Charles em setembro de 1963. O Canal 9 turbinou o pedaço. Pena que Fellini, que em 1958 hospedou-se no Hotel Jaraguá, tão próximo dali, não tenha escolhido essa rua como cenário para sua diva sueca Anita Ekberg. Por conta do frisson da Excelsior, a dolce vita da Nestor deve algo, de forma indireta, a um dos homens mais influentes do Brasil em meados do século passado: Mário Wallace Simonsen, filho de banqueiro e sobrinho do fundador da Fiesp, Roberto Simonsen. Esse empresário era dono de um conglomerado de empresas que incluía a Panair, líder no setor aéreo. Ao criar o Canal 9, ele expandia seu império. Tinha cacife para contratar grandes artistas, e o fez, embora cometendo a falha de deixar escapar a emergente Elis Regina.
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Com um time de primeira, a Excelsior deu um salto de qualidade na TV brasileira, imprimindo rigor empresarial, visão inovadora e pontualidade na programação. As telenovelas já existiam, mas de uma forma quase amadora: os capítulos, representados ao vivo, iam ao ar só algumas vezes por semana. Tirando partido da grande inovação tecnológica do videoteipe, a Excelsior instituiu um padrão diário, nacional, e colocou a novela no dia a dia das famílias que tinham aparelhos de TV. Pela primeira vez, o telespectador contava com uma grade de programação orgânica tanto no sentido vertical quanto no horizontal. Ao longo do dia, cada atração tinha afinidade de conteúdo com as que vinham antes e depois dela. A vida urbana no Brasil passava a ser pautada por imagens eletrônicas. A Excelsior logo assumiu a liderança do horário nobre. Seu show Brasil 60, apresentado por Bibi Ferreira, tomou de assalto as noites de domingo. Em 1962, o Jornal de Vanguarda inovou o telejornalismo ao adotar uma linguagem informal e mesclar locutores, comentaristas, colunistas sociais e humoristas, o que dava um toque de espetáculo ao noticiário, em contraste com a sisu-
1938
O lendário Gigetto e seu capeletti à romanesca
dez do Repórter Esso, da Tupi. Em abril de 1965, a emissora inaugurou uma fase marcante na cultura de massa nacional ao promover o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Elis levou o Berimbau de Ouro com a música Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. A segunda edição do evento teve de concorrer com uma iniciativa semelhante por parte da rival Record, que daí em diante monopolizou os festivais. A Excelsior, como a Panair, teria de nadar contra a correnteza após o golpe de 1964, por ter antes defendido o presidente deposto João Goulart. Simonsen foi perseguido pelos militares, que o cercearam para favorecer a decolagem da Varig
A excelsior reinventou a TV no Brasil. criou até a telenovela diária A ruela viu desfilar de Chacrinha a Moacyr Franco; do jovem Jô Soares a Flávio Cavalcanti e Rose di Primo
Vida A Doce made in brazil
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memória e da Rede Globo. A Excelsior definhou. Mas seu legado ficou nessa rua do centro, transformada em um dos lugares mais pulsantes da metrópole. No número 111, a boate Ton Ton Macoute (alusão à polícia política que espalhava o terror no Haiti) servia lagosta
O Kilt era o castelo do sexo explícito. Até bob Dylan foi conferir a ousadia e uísque de primeira à elite paulistana, entre a qual circulavam beldades de capa de revista como, em diferentes momentos, Rose di Primo, Vera Fischer e Monique Evans. Um dos donos dessa casa noturna, Roberto Loscalzo (hoje proprietário da Pizzaria Veridiana, em Higienópolis), também foi sócio de outra mais popular logo na virada da Consolação, a Cave, que de fato tinha a entrada em forma de caverna e oferecia picadinho grátis no fim da noite. Era ponto de encontro de estudantes e de ídolos da Jovem Guarda. A TV Record (Canal 7) ficava próxima e seus artistas também frequentavam a Nestor. No começo da rua, um cassino clandestino ocupava o andar de cima de uma das sete boates que chegaram a funcionar ao mesmo tempo na rua. Quando o Gigetto foi embora da Nestor, em 1968, um restaurante e churrascaria aberto 24 horas passou a atrair
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os notívagos: o Eduardo’s, que também marcou época. Eram outros tempos. Entrava-se no período tenebroso da ditadura. Era preciso falar baixo e ficar de olho na mesa ao lado. Nos salões do Eduardo’s, a política e a contracultura se entrelaçavam. O musical Hair anunciava a Era de Aquário e incitava à salvação individual: “Let the sunshine in”, dizia a canção. Dependendo do ponto de vista, aqueles podiam ser os anos de chumbo ou do milagre econômico, quando o Brasil chegou a crescer mais de 12% ao ano. Curiosamente, o homem ao qual se atribuiu tal façanha, Antonio Delfim Netto, manteve seu escritório no prédio número 125 da Nestor no ano de 1975, quando deixou o Ministério da Fazenda para, pouco depois, se tornar embaixador em Paris. Na primeira metade da década de 1970, a Nestor se lançou na vertente erótica. Não muito distante da catedral presbiteriana em estilo gótico, com seu sonoro órgão de 1.600 tubos, e do prédio pioneiro da Associação Cristã de Moços (ACM), mas já depois da curva, surgiu em 1971 o Kilt Shows, ainda hoje estabelecido na rua, mas em outro ponto e com outro dono. A fundadora, Tânia Maciel, que na mocidade teve aulas de catecismo e boas maneiras, treinou suas pupilas na elegância das gueixas, em vez de querer faturar logo, deixando-as assim com mais chances de fisgar um cliente estrangeiro
O escritório de Delfim Netto ficava não muito longe do Kilt
disposto a virar marido e levar sua princesa para terras distantes. Para competir com o fulgurante La Licorne, na Vila Buarque, o Kilt passou a apresentar moças seminuas em balanços e pedestais, além de espetáculos de striptease. Isso atraía todo tipo de gente: plantadores de cacau do Nordeste, empresários japoneses, pilotos de automobilismo, astros como Bob Dylan, Ben Johnson, Michael Douglas, e também casais nativos em busca de alguma aeromoça americana para arriscar um ménage à trois. A nova era da ruela O Kilt Shows bateu o recorde de vendas de uma das grandes marcas de uísque escocês. Tânia recebeu como prêmio uma viagem a vários países da Europa. Isso a inspirou a criar, na volta, aqueles que se tornariam os destaques de sua casa noturna. Para começar, implantou algo que
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Entre os senhores que passaram pelas mesas que as moçoilas frequentavam no Kilt estão Ben Johnson, Bob Dylan e Michael Douglas
havia visto em Amsterdã: sexo explícito. Por fora, o Kilt se tornou uma (quase) réplica do castelo de Mary Stuart, a rainha de destino trágico que governou a Escócia no século 16. Durante quatro décadas, a esquina da Nestor com a Roosevelt teve um certo aspecto de Disneylândia, descontado o fato, é claro, de que no interior do prédio havia fornicação ao vivo. A rainha da Nestor teve seu castelo desapropriado e demolido em setembro de 2012. O Kilt mudou-se para o número 189, bem na curva da rua, em um local que também tem histórias para contar. Até a década de 1960, o prédio de pedras do Clube Escandinavo abrigava o tradicional restaurante Vikings, nos domingos aberto ao público externo, embora poucos se aventurassem no smörgåsbord, termo sueco para uma refeição típica composta de vários pequenos pratos frios. Bem depois, em outubro de 1986, no mesmo
local passou a funcionar a revista Retrato do Brasil, chefiada por Raimundo Pereira, que congregou jornalistas de esquerda. A publicação teve vida curta como jornal diário, mas atravessou três décadas com outros formatos. Agora, a curva da Nestor é ocupada pela fachada escura e clean do novo Kilt, sob nova direção, com moçoilas que nunca ouviram falar de Tânia Maciel. Na esquina da Roosevelt, antes dominada pela réplica do castelo de Mary Stuart, vê-se hoje uma rotatória ajardinada que servirá de conexão para as futuras instalações do Teatro Cultura Artística. Em um futuro incerto, será erguido o edifício de sete andares projetado pelo arquiteto Paulo Bruna, discípulo de Rino Levi. Ele prevê duas salas de espetáculo, a maior com 1.130 lugares e palco de 400 metros quadrados. Do prédio original, consumido pelas chamas em 2008, restou apenas a fachada tombada pelos órgãos do
patrimônio histórico, com o painel de Di Cavalcanti, já restaurado. Esse incêndio, tão seletivo, insuflou rumores de que poderia ter sido também intencional, em favor da especulação imobiliária. A curiosa rua em forma de anzol dá sinais de uma nova era. No antigo casarão de Lili Wong, que já foi até pensionato, agora funciona o estiloso restaurante Drosophyla, onde Bono Vox tomou uns tragos em sua passagem mais recente. No bar Por um Punhado de Dólares, jovens descolados chegam de bicicleta, computador portátil e fones de ouvido. Ao lado, a Andreus Galeria cultiva uma atmosfera cult no local onde bombava a Ton Ton Macoute. Enquanto isso, os bares Arte Pizza e Grafitti exploram o karaokê. A rua volta a pulsar. Só falta o teatro para fazer ressurgir das cinzas a nossa Via Veneto. P
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história Por luiz guerrero
A revoluÇão de 1917 Há um século surgia no japão o primeiro mitsubishi. Depois dele, os carros jamais seriam os mesmos
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primeiro veículo Mitsubishi, o Model A, lançado em 1917, era 74 centímetros menor que o Lancer de hoje. Com seus 3,83 metros de comprimento, levava sete adultos e tinha 35 cavalos de potência. Manufaturado nos estaleiros da Mitsu bishi Shipbuilding Company, em Kobe, era uma verdadeira peça de artesanato – interior ornamentado com madeira
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de cipreste branco e bancos revestidos de tecido nobre. Foi um dos carros de construção mais esmerada do Japão da Era Meiji. Mas, por ser caro, teve a pro dução interrompida cinco anos – e 22 unidades – depois, em 1922. Foi com o Model A que a Mitsubishi iniciou sua história como um dos principais fabricantes do mundo. Depois do pioneiro A, que inaugurou o sistema de produção em sé r ie no Japão, veio o PX33, já fabricado pela Mitsubishi Hea vy Industries Mo tor and Car Business, o braço automotivo do cong lomera do. O PX33, lançado em 1937, era um Modelo A sedã para uso
militar e vinha equipado com sistema de tração nas quatro rodas, recurso que se tornaria uma das marcas registradas do fabricante. Em 1945, o fim da Segunda Guerra marcou a divisão da Mitsubishi Heavy em três empresas dedicadas à construção de veículos. Delas surgiram o 500, um carro popular, o Debonair, automóvel de luxo, e o Colt, uma linha de modelos de médio porte lançada em 1963 e que acabou dando origem ao Lancer, ao lado do Pajero talvez o carro mais emblemático da marca. O Lancer surgiu em 1973 como uma família de quatro integrantes (além dos sedãs de duas e de quatro portas, havia o cupê e a perua) para ocupar o espaço deixado pelo Colt no segmento de compactos. Chegou com inovações entre os modelos japoneses, como a coluna do volante com ajuste de altura e a plataforma extremamente rígida: na prática, imune a torções da carroceria,
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Nova L200 Triton Sport HPE S 2018
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história qualidade que dava ao carro excepcional conforto de marcha. O tetra do Lancer Uma das opções de motor, o 1.6 de 92 cavalos, foi a base da versão de rali, a versão GSR A73, com 100 cavalos. O GSR deu os quatro primeiros lugares à marca no Southern Cross Rally, uma difícil prova de cross-country disputada na Austrália entre 1966 e 1980, logo na estreia do modelo em competições internacionais. O Lancer dominaria a categoria ao longo dos quatro anos seguintes. Mas já em 1974 a Mitsubishi Motors se deu conta de que tinha um vencedor nas mãos. E escalou o GSR A73 para voos mais altos – o Campeonato Mundial de Rali. A estreia aconteceu em 1974 no East African Safari Rally, no Quênia, já com vitória. Pilotado pelo queniano Joginder Singh, o Lancer deixou para trás rivais respeitáveis – como o Porsche 911 e o Lancia Fulvia – depois de 5.200 quilômetros de disputa. Dois anos depois, repetiria a façanha. Obviamente os resultados nas pistas se refletiram nas vendas da versão de rua – e não apenas no Japão. O Lancer foi exportado (e também fabricado sob diferentes nomes) para vários continentes. No Brasil, começou a ser produzido em Catalão, Goiás, em 2012. O grande salto, no entanto, se daria na terceira geração do Lancer com o amadurecimento da versão Evolution, criada em 1992 com o único objetivo de conquistar o Mundial de Rali. O primeiro Evo era equipado com suspensão tra seira independente, tração integral e
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motor de 250 cavalos. Em 1995, com as versões Evo II e III, a Mitsubishi Motors foi vice no mundial de construtores. E nos quatro anos seguintes, sempre nas mãos do finlandês Tommi Mäkinen, levaria o título. A dinastia Evo duraria até 2016 com a Last Edition, série especial da décima evolução do carro. No Brasil, foi produzida a versão exclusiva John Easton (engenheiro especializado bri t ânico, tetracampeão do WRC que preparou a série, limitada a 100 unidades, com motor de 340 cavalos). Airtrek, Outlander, ASX E aqui entramos em outro capítulo: o dos crossovers, veículos que reúnem a elegância das station-wagons com a praticidade dos utilitários esportivos. O primeiro da safra foi o Mitsubishi RVR, lançado no Japão em 1991. A sigla RVR vem de Recreation Vehicle Runner e o apelo eram as jovens famílias que viviam a fase próspera da economia japonesa. O modelo teve grande acei tação pelo generoso espaço interno e pela versatilidade. Era um veículo que servia tanto para a cidade como para as viagens de lazer. A linhagem dos crossovers seguiu com o Airtrek. A fusão das palavras air e trek já apontava para essas características do modelo, marcado pelas linhas mais limpas e pela espessa travessa da grade dianteira. Nos diferentes mercados, a montadora oferecia opções de motores 2.0 e 2.4 litros, a gasolina ou a diesel. Com ele a Mitsubishi Motors criou e patenteou o flap-fold tailgate, solução simples e engenhosa para facilitar
carga e descarga do porta-malas: o segmento central do para-choque traseiro era integrado à tampa do bagageiro. O Airtrek continua sendo produzido no Japão, na Rússia e na China, já na terceira geração. No Brasil, deu origem ao Outlander. O conceito do pioneiro RVR também serviu de base para outros modelos, inclusive mais compactos. Entre as versões de crossovers Mitsubishi, a mais desejada pelos jovens era o Hyper Sports Gear-R, equipado com motor de quatro cilindros e 200 cavalos do Galant VR4. A versão tinha duas portas, parachoques pro nunciados, aerofólio na traseira e rodas esportivas. A segunda geração desse veículo representou a transição para o Active Smart Crossover. Ou seja, o ASX, como o modelo ficou conhecido no Brasil e em outros mercados. Já em 2010, o veículo assumia plenas características de utilitário, com suas linhas mais fluidas, grade frontal marcante e carroceria recortada por vincos. L200 e Pajero A Mitsubishi Motors soube capi talizar o investimento nas provas de rali, o mais perfeito laboratório para qualquer fabricante. E aplicou o conhe cimento tirado das pistas em toda a sua linha, incluindo a de veículos comer ciais. Foi com esse know-how que, em 1978, lançou a picape L200. O utilitário teve enorme aceitação em vários paí ses, muito em função da robustez e da manutenção simples. Vinha com seis opções de motor – do 1.6 a gasolina ao
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Acima, o Lancer 1600 GSR (1973). Abaixo, a versão Evo John Easton
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Galant GTO 1970
ASX 2018
2.5 a diesel, sempre com transmissão manual de quatro ou cinco marchas – e podia contar com sistema de tração in tegral com reduzida. Em 1986 chegaria a segunda geração, que passaria a ser fabricada no Brasil 12 anos depois. Foi o veículo que inaugurou a fábrica de Catalão. Na terceira geração, a cabine dupla ganhou requinte de veículo urbano sem, no entanto, perder suas características utilitárias. Recebeu comodidades, sua caixa au tomática foi ajustada para trabalhar com mais suavidade e a suspensão re calibrada para o conforto. Cresceu em tamanho e em sofisticação e ganhou versões esportivas para disputar provas regionais de rali. Em 2005, estreou no Rally Dakar ainda disputado entre a Europa e o norte da África. O desenho marcante surgido na quarta geração, de
2006, obra do atual chefe de design da empresa, Akinori Nakanishi, hoje com 63 anos, consagrou a L200 – rebatizada de L200 Triton – como uma das mais belas picapes disponíveis no mercado. Esse veículo foi marcante para a história da Mitsubishi Motors no Brasil. Tornou-se não só um sucesso de vendas como também referência no segmento. Cinco anos antes do lançamento da L200, a Mitsubishi Motors criou tendência ao apresentar no Salão de Tóquio de 1973 o primeiro protótipo do utilitário esportivo que receberia o nome de Pajero – mas que sairia às ruas apenas em 1982, como um dos primeiros veículos a reunir a disposição para enfrentar terrenos difíceis com as comodidades de um automóvel de passeio. O Pajero surgiu como SUV de três portas e chassi curto, de 3,99 metros de comprimento,
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história
Pajero Full 2017 e o Pajero de 1982
mas logo evoluiu para a versão cinco portas e chassi longo o suficiente para a instalação da terceira fileira de bancos. Em 1999, uma vez mais a marca antecipou tendências e surpreendeu o mundo com um Pajero desenhado pelos estúdios Pininfarina, ainda mais equipado com itens de conforto, característica que seria mantida na geração seguinte do modelo. O Pajero consolidou sua fama de resistência e confiabilidade ao vencer 12 vezes a competição off-road mais exigente do planeta, o Rally Dakar. Esse fato inédito, somado a outro, o de sete vitórias consecutivas na mesma prova, acabou dando ao carro o status de verdadeira lenda viva no universo 4x4. Um feito que a Mitsubishi Motors sintetizou no slogan que, ele próprio, se tornaria lendário: “Pajero – The car, the legend”. P
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velocidade Por marcio ishik awa
A busca pela perfeição Dos projetos à linha de montagem, Lexus une tradição do artesanato japonês e tecnologia de ponta
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akumi. A palavra milenar significa “mestre-artesão” e representa o símbolo máximo de uma doutrina intimamente ligada à cultura japonesa: a da perfeição artesanal aplicada aos mínimos detalhes. Os takumis dedicam a vida para aperfeiçoar habilidades em uma única atividade. E a referência à Lexus é automática. A marca nasceu em 1983, quando
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Eiji Toyoda, presidente da Toyota Motor Corporation, desafiou seus engenheiros a criar o melhor carro de luxo do mundo. Essa jornada para o topo da indústria foi chamada The Hard Way. Embarcaram nesse conceito ao menos 1.400 engenheiros e 2.300 técnicos. Até o primeiro modelo ser lançado foram necessários 450 protótipos.
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O sedã ES 350, que une potência, tecnologia e estilo. Acima, o trabalho de um dos takumis da Lexus, marca produzida com esmero artesanal
A partir do Hard Way, a Lexus não se limitou a confiar apenas em especialistas atrás de teclados, mas apostou todas as fichas no tato de artesãos. Por isso, a fábrica da Lexus em Tahara tem um grupo de dez takumis, engenheiros com ao menos 25 anos de dedicação em sua área de atuação. Por exemplo, há um takumi responsável por testar protótipos e modelos de produção, garantindo a excelência na condução dinâmica, ergonomia e acústica. Já o seu colega da oficina de pintura precisa assegurar a aplicação perfeita das tintas e vernizes, além de realizar um polimento manual à base de água para criar um acabamento espelhado. Os recursos da tecnologia da informação são instrumentos, segundo a montadora, para apurar o que o olhar humano quiser elevar ao estado de arte. A Lexus tem verdadeiro encanto pelo trabalho artesão. Tanto isso é verdade que os takumi são reconhecidos como artistas da marca. A partir desse DNA de tecnologia e trabalho manual, a montadora lançou, em 1989, os seus dois primeiros modelos, os sedãs LS 400 e ES 250. Menos de dez anos depois, a Lexus não se
A Lexus nasceu do desafio de Eiji Toyoda: fazer o melhor carro de luxo do mundo contentou em apresentar um novo modelo, o RX 300. Inaugurou o segmento de SUVs de luxo. Hoje, um dos mais rentáveis da indústria automobilística. Outro pilar da marca é o omotenashi, conceito de hospitalidade. No Japão, procura-se antecipar a tudo o que o hóspede precisa e deseja. Esse princípio foi incorporado ao DNA da Lexus. Isso vale para elaborar um design fluido dos veículos, mas também no atendimento nas concessionárias. No Brasil, além das concessionárias convencionais, a Lexus inaugurou uma boutique no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e em outros shoppings de luxo do Brasil. Não basta vender carros. Tem de apresentar todo o conceito de lifestyle que a Lexus incorpora. O cliente percebe princípios de esportividade, sofisticação e tecnologia na ousadia do Spindle Grille. A grade frontal é a assinatura da marca e harmoniza com diferentes tipos de carro: o sedã ES 350, o hatchback híbrido CT 200h e os SUVs NX 300 e RX 350. Com o indispensável toque da tradição, esses carros têm o poder de antecipar o futuro. P
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motor Por luiz guerrero
pré-estreia 2 0 18 Conheça os carros e motos que chegarão ao Brasil no ano que vem
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otimismo ainda é contido. Mas há sintomas de recuperação do mercado de automóveis nos próximos anos. A produção está aumentando gradativamente e, embora a maior parte seja destinada à exportação, as vendas no país sobem pouco a pouco. Daqui a pouco você começará a perceber reação da indústria aos novos ares – os sinais evidentes serão os modelos que chegarão às vitrines nos próximos meses. Da lavra nacional, haverá a obrigatória modernização da frota para se enquadrar nas normas de emissões e de segurança; e as novidades importadas começarão a chegar embaladas pela redução do IPI de 30% imposto às empresas que não têm fábrica no país. A depender das negociações da indústria com o governo, 2018 também poderá ser marcado como o ano da importação em grande volume dos modelos híbridos e totalmente elétricos.
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Audi A Audi reforça sua vocação para esportivos de luxo – qualidade que seus rivais alemães destacam com menos intensidade. Entre as novidades para 2018 estão o belo cupê RS5, a perua RS4 e o superesportivo R8 Spyder V10 Plus conversível. Também virá o novo A8, sedã de luxo autônomo homologado para vias públicas – e que será a principal atração do portfólio da marca. Renovado, o A8 chegará ao país no segundo semestre de 2018 com motor V8 de 460 cavalos. Muitos dos dispositivos de condução autônoma do modelo deverão ser desabilitados no Brasil. Mas o carro manterá seu painel com comandos sensíveis ao toque, que substituem os botões convencionais, a suspensão que se adapta ao terreno e o mesmo padrão de qualidade de acabamento e construção. O novo A8 chegará no segundo semestre
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O (nem tão) misterioso X2
BMW Esperava-se que a versão definitiva do X2 fosse revelada no Salão de Frankfurt, em setembro. Foi, mas não foi. Para tentar disfarçar as linhas do modelo, a BMW mostrou um carro camuflado. Imagens do modelo pronto, porém, já circulam na
internet e, dentro de mais alguns meses, você poderá conhecer o crossover nas revendas. O X2 será o principal lançamento da marca alemã no Brasil – e há fortes indícios de que poderá ser fabricado em Santa Catarina, onde a BMW mantém sua linha de produção. O renovado X3, outro crossover, também faz parte dos planos. Na linha de esportivos, o objetivo é começar a importar a versão M do Série 5, derivado do sedã lançado aqui no começo deste ano, mas com motor V8 de 592 cavalos e, novidade, câmbio automático convencional.
O E-Pace, um SUV compacto
Jaguar Depois do F-Pace, o E-Pace. O primeiro SUV compacto da Jaguar, lançado em julho na Inglaterra, deve chegar ainda no primeiro semestre para seduzir compradores de Audi Q3, BMW X1 e Mercedes-Benz GLA – e para ser o primeiro Jaguar de alguns brasileiros. Ele vem com motor 2.0 turbo a gasolina de 300 cavalos e com os obrigatórios recursos de conectividade projetados no para-brisa. Mas o que deve chamar atenção é a lúdica imagem de um jaguar seguido pelo filhote nos filmes publicitários. O XF, renovado, e a versão 2.0 do F-Type também estão na lista de importações da marca.
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motor Land Rover
O Velar está chegando com preço menor
A marca deve continuar investindo em seu mais novo lançamento, o Range Rover Velar. Para 2018, é prevista a chegada das versões mais em conta do modelo que começou a ser vendido com o motor V6 de 3 litros a partir de R$ 383 mil. O Velar 2.0 deve chegar por menos de R$ 300 mil – e, o melhor, trará os mesmos recursos dos modelos mais caros. O destaque, além do porte, são as duas telas de 10 polegadas que ocupam o centro do painel e pelas quais o motorista pode comandar os recursos fora de estrada do carro ou algo mais simples, como regular a temperatura interna. A expectativa é que a Land Rover também mostre no Salão do Automóvel de São Paulo a segunda geração do Evoque, a ser lançada em 2018 na Europa.
Lexus Com 14 lojas no país, oferta reduzida de modelos e sem grandes investimentos em propaganda, a divisão de requinte da Toyota permanece tímida. Seu grande lançamento previsto para 2018 é o novo LS, criado para enfrentar os sedãs de alto
luxo alemães. Com aparência agressiva, por conta da grade que domina a dianteira do carro, o LS deve chegar apenas na versão V6 híbrida, combinação de um 3.5 a gasolina com dois motores elétricos. O novo LS, lançado em janeiro deste ano, também conta com recursos de direção autônoma e interior mais espaçoso. É um carro para quem aprecia fino artesanato. O SUV compacto UX, mostrado como conceito nos Estados Unidos em setembro, ficará para mais tarde – provavelmente só no primeiro trimestre de 2019.
O LS: para quem aprecia fino artesanato
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Mercedes-Benz A expectativa recai sobre a chegada da primeira picape da marca, a Classe X, criada em cooperação com a Aliança Nissan-Renault-Nissan. A picape foi lançada no começo do ano e já apareceu em junho no Salão de Buenos Aires, Argentina, país em que começará a ser produzida. Mas não há confirmação sobre o começo das vendas no Brasil. O que é certo é a importação das duas versões do novo Classe S, a sedã e o cupê, modelos de luxo que acabaram de ser renovados na Europa. Se por fora as mudanças
Mitsubishi motors Um dos maiores destaques do último Salão de Tóquio, em outubro, o Eclipse Cross é o principal lançamento da marca japonesa no Brasil em 2018. Com 4,40 metros de comprimento
foram sutis, os novos Classe S estão mais equipados. Um dos dispositivos regula o som, temperatura e luminosidade interna conforme o humor do motorista. Os carros também contam com recursos de direção autônoma.
e 2,67 metros de entre-eixos, o Eclipse Cross é equipado com motor quatro cilindros 1.5 turbo de 163 cavalos e transmissão CVT. O comprador tem opção da versão com tração dianteira ou integral. Suas linhas são fluidas, mas o que chama atenção é a bela composição dianteira com sua grade cromada e grandes fendas laterais.
O Eclipse Cross foi destaque no Salão de Tóquio
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motor Porsche A terceira geração do Cayenne, revelada no Salão de Frankfurt, é apenas uma das novidades da Porsche para 2018. A marca, que comemora aumento de mais de 20% nas vendas nos primeiros oito meses do ano, também trará três variações do cupê 911. A mais explosiva delas, o GT2 RS, é o Porsche de rua mais potente até hoje fabricado. Tem 700 cavalos, com aceleração de 0 a 100 km/h em 2,8 segundos. Mas para os puristas da marca, o carro a ser desejado é o GT3 Touring Package, uma recriação moderna dos 911 clássicos, com uma traseira discreta sem o aerofólio que caracteriza a versão GT: com 507 cavalos,
A terceira geração do Cayenne
tem tração traseira e só será oferecida com câmbio manual. Mais exclusivo (apenas 500 unidades fabricadas), o 911 Turbo S Exclusive Series de 607 cavalos vem no tom Amarelo Speed, tração integral e detalhes de construção em fibra de carbono.
Eis o maior SUV da marca: o Atlas
Volkswagen Depois do lançamento do Polo, a Volkswagen vai investir nos demais componentes da família. No começo do ano, chegará o sedã Virtus, e no último semestre, o SUV T-Cross. Todos
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erguidos na mesma base modular. E, como o Polo, devem se caracterizar pelo excelente comportamento dinâmico e pelo amplo espaço interno. A linha Polo, vamos chamar assim, é parte do plano de modernização da marca. Entre os importados, chega o novo Tiguan de sete lugares e é quase certo que o Atlas, maior SUV da empresa, com seus 5 metros de comprimento, também virá em quantidade reduzida para sondar terreno.
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Volvo O menor SUV da Volvo, o XC40, lançado em setembro, não é exatamente pequeno – tem o mesmo porte do Jeep Compass. Mas é com esse modelo que a marca quer se impor no Brasil em 2018. O XC40 trará itens de segurança (os mesmos do XC60 e do XC90) inéditos no segmento, como o sistema de detecção de pedestres e dispositivos de condução autônoma. Por dentro, a preocupação é com o aproveitamento do espaço e com a fartura de porta-objetos. Concorre com o Compass em porte, mas não em preço: cerca de R$ 200 mil, a depender da versão. Outra novidade é a terceira geração do sedã S60: agora com nova plataforma e desenho mais atraente, é alternativa aos sedãs alemães como o Mercedes-Benz Classe C.
Vem aí o XC40, lançado em setembro
vroom vroom BMW Antes prevista para este ano, a
O ano de 2017 não foi generoso para o mercado de motos. Mas, ainda assim, os fabricantes apostam na retomada em 2018. E anteciparam suas
principais novidades para o próximo ano no Salão Duas Rodas, realizado em novembro, em São Paulo.
A G 310 GS: porte de moto grande
versão que segue o mesmo estilo da R 1200 GS, a G 310 GS chegará no primeiro semestre para se juntar à naked G 310 R. Apesar da baixa capacidade cúbica, 313 cc e 34 cavalos, a 310 GS tem porte de moto grande e se caracteriza pela qualidade de construção e pela agilidade no trânsito.
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motor harley-davidson A linha Road Glide, nas versões Special, Ultra e CVO, é a maior novidade da Harley para 2018. As tourings são equipadas com o Milwaukee-Eight 117, de 1.933 cc, considerado o motor de maior capacidade cúbica já instalado em uma moto da marca. Entre os destaques, a central multimídia e o sistema wireless que permite a comunicação de piloto e garupa via Bluetooth com até dez motociclistas. Uma legítima Road Glide, modelo Ultra
Ducati A marca italiana confirma a chegada da SuperSport – que, como o nome sugere, é uma esportiva de 937 cc e 113 cavalos de potência. Equipada com o motor bicilíndrico em L, chamado de Testastretta por conta da inclinação de 11 graus dos cilindros, tem câmbio de seis marchas.
A SuperSport tem nada menos que 113 cavalos
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Honda A sexta geração da GL Goldwing, a touring lançada em 1974, foi mostrada no Salão de Tóquio, no fim de outubro, e logo depois no Salão de Milão, simultaneamente ao Salão Duas Rodas em São Paulo. Chega ao Brasil como uma das grandes novidades da Honda. Agora com motor 1.200, como na terceira geração, de 1983 a 1987, a Goldwing ganhou tela multimídia com as funções de navegador e computador de bordo e novos recursos aerodinâmicos. É uma moto para poucos, ao contrário do X-ADV, espécie de SUV entre os scooters. A sigla remete a aventura: é um mix de moto aventureira com scooter.
A sexta geração da GL Goldwing
Scout Bobber: aparência agressiva
Indian Não se pode negar que a Bobber, uma das variações da Scout, tem estilo com aquele tanque recortado, os generosos pneus calçando as rodas raiadas, suspensão rebaixada em 2,5 em relação à Scout e a dupla saída de escape na lateral direita. A cor, o preto fosco chamado Thunder Black, uma das cinco opções de cores da moto, também contribui para a aparência agressiva da Bobber. Lançada em julho nos Estados Unidos, a Scout Bobber é uma das novidades da Indian para 2018. Além
dela, a marca americana oferecerá aos modelos Chieftain e Roadmaster o sistema Ride Command, uma central multimídia com tela de 7 polegadas sensível ao toque que, segundo a Indian, se caracteriza pela rapidez de operação. P
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vento Por ANDRÉ BORGES LOPES ilustração raphael alves
No céu, bem acima do saibro Acredite: Roland Garros nunca foi tenista. Preferia a aviação. Foi o primeiro a voar sem escala entre continentes, inventou os caças e fez peripécias até no Brasil
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e você gosta de tênis, já ouviu falar de Roland Garros. Ele dá nome ao Aberto da França, um dos quatro torneios que compõem o Grand Slam. É disputado desde 1928 no Stade Roland Garros, em Paris. Mas pouca gente conhece os feitos do tenista Eugène Adrien Roland Georges Garros. Não se tem notícia de um único campeonato vencido por ele. Até porque preferiu o ciclismo e o rúgbi às raquetes. Na verdade, não foi nas quadras que Roland Garros conquistou a fama que o imortalizou. No início do século passado, ele era um dos milhares de jovens apaixonados por mecânica, velocidade e aventura. Uma paixão que o levou ao céu – ao pé da letra – e à glória. Essa história começa longe de Paris. Roland nasceu no ano de 1888 em Saint Denis, na pequena ilha La Reunión – possessão francesa no Índico. Seu pai, um bem-sucedido advogado de empresas de comércio, transferiu-se
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pouco depois com a família para uma colônia ainda mais remota: Saigon, na Cochinchina, atual Ho Chi Minh, capital do Vietnã. Aos 12 anos, Roland mudou-se para Paris, onde completou os estudos no prestigioso Collège Stanislas. A Cidade Luz, no início dos 1900, era “o lugar mais perigoso do mundo para um rapaz” – nas palavras de Henrique Dumont, o pai de outro jovem um pouco mais velho, mas com história semelhante. Roland Garros e Alberto Santos Dumont não apenas sobreviveram a esses perigos como construíram na capital da Belle Époque suas carreiras de sucesso. Suas histórias não tardariam a se encontrar. Alberto já flanava pelos céus de Paris com seu dirigível nº 4 quando Roland, com pneumonia e longe da família, superou uma demorada recuperação. Aconselhado pelos médicos, passou a se dedicar aos esportes ao ar livre, em especial o ciclismo – no qual ganhou
algumas competições. Disputou ainda um campeonato de futebol e venceu um concurso de piano interpretando Chopin. No final de 1906, Santos Dumont chegava ao ápice com os voos do 14-bis, enquanto Roland Garros concluía os estudos secundários. Em seguida, matriculou-se na Faculdade de Altos Estudos Comerciais (HEC), onde passou a praticar o rúgbi. São dessa época suas disputas nas quadras de tênis, mais como lazer que competindo. Com o diploma nas mãos, Roland conseguiu um emprego na Automobiles Gregoire. Ali descobriu uma paixão pela mecânica que superava o gosto pelo comércio. Resolveu montar uma loja própria, mas seu pai – que o queria advogado – lhe cortou as asas e a mesada. Foi preciso buscar apoio financeiro junto ao pai de Jacques Quellennec, um colega na HEC, para que abrissem em sociedade, bem ao lado do Arco do Triunfo, a Roland Garros
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VENTO Garros e Santos Dumont se encontram na Paris da Belle Époque
Automobiles, especializada em carros esporte – moda entre os jovens bem-nascidos da capital francesa. Em agosto de 1909, foi do sócio Jacques a ideia de irem juntos visitar a Grande Semaine d’Aviation de la Champagne, evento aeronáutico que acontecia em Reims. Já haviam se passado quase quatro anos desde o voo pio neiro de Santos Dumont no Campo de Bagatelle. O desenvolvimento de máquinas voadoras era uma febre na Europa. Em maio do ano anterior, o americano Wilbur Wright havia desembarcado na França trazendo a bordo um dos seus misteriosos aeroplanos Flyer. Suas apresentações de voos controlados, que se estendiam por vários minutos, surpreenderam os europeus – acostumados a assistir a breves decolagens e pousos, sem grandes evoluções no ar. A Semaine d’Aviation era a chance de os construtores franceses mostrarem aos Wright e seu conterrâneo Glenn Curtiss que estavam em busca do tempo perdido. Um mês antes da feira, Louis Blériot, um deles, vencera uma disputa inédita: cruzou voando os pouco mais de 30 quilômetros do Canal da Mancha, em 36 minutos. Os Wright, satisfeitos com os contratos de venda dos seus biplanos, preferiram não correr esse risco. O próprio Santos Dumont, mordido pelos que colocavam em dúvida o seu pioneirismo, desenvolvia um novo e
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revolucionário avião, mais leve e barato que os con correntes: o Demoiselle, com o qual ha via feito alguns voos em Paris. Ao todo, 23 aparelhos foram apresentados em Reims, disputando prêmios. Rolland Garros ficou fascinado. Naquele momento, decidiu que seria aviador. Na primeira década do século 20, concretizar o sonho de voar dependia de construir ou comprar um avião. Sem o apoio de seu contrariado pai, os recursos de Roland eram limitados. Foi salvo pela generosidade de Santos Dumont, que permitia a fabricação e venda dos Demoiselles sem entraves de patentes. De construção simples e relativamente fácil de pilotar – precursor dos ultraleves –, um Demoiselle era vendido por 7.500 francos, uma pechincha perto dos 30 a 40 mil cobrados por um Blériot XI. Como não existiam escolas de aviação, restou a Garros aprender a pi lotar por contra própria, contando com a ajuda do próprio Santos
Dumont. Em meados de 1909, ele já dominava a má quina e foi convidado e fa zer uma demonstração nas comemorações d0s 120 anos da Re volução Francesa. Dias depois, aos 21 anos, passou nos testes do Aeroclube da França e recebeu o brevê número 147. Sua vida começava a mudar. Aviador de circo Hoje parece óbvio o valor comercial da aviação. É difícil entender que as coisas não eram tão claras em 1910. Os militares acompanhavam o desenvolvimento dos novos apa re lhos, mas os homens de negócio, burocratas de governos e grande parte da população viam a aviação apenas como uma divertida curiosidade de jovens ricos e aventureiros. Afora a disputa por prêmios oferecidos a quem cumprisse missões arriscadas ou estabelecesse recordes de voo, havia poucas formas de ganhar dinheiro como piloto. Construído com seda e bambu e projetado para o transporte pessoal de um piloto leve e franzino, o Demoiselle não era adequado a esse tipo de desafio. Foi quando Garros
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industrial americano Willis McCormick decidiu patrocinar uma turnê aérea de divulgação pela América do Sul. Contratou alguns pilotos, entre eles Garros, que colocou seu Blériot XI num navio e partiu para o Brasil. Desembarcou no Rio de Janeiro, onde encantou a população com longos voos sobre as montanhas, em muitos deles levando passageiros. Aproveitou para contatar os primeiros aviadores militares do país. Ao final, entre prêmios, patrocínios e voos remunerados, arrecadou 100 mil francos. Mas o motor do seu Blériot não suportou o esforço. Quebrou. Na Serra do Mar Roland foi para São Paulo, onde ficou mais de um mês parado, aguardando as peças para o reparo. Terminou salvo pelo aviador paulista Eduardo Pacheco Chaves, o Edu Chaves, filho de uma família de ricos cafeicultores, que estudou na Inglaterra, onde foi
picado pelo fascínio da aviação. Edu, gentilíssimo, lhe emprestou o material necessário. Com o avião funcionando, Roland ganhou um prêmio de 30 mil francos ao fazer pela primeira vez o trajeto de ida e volta entre São Paulo e Santos. No trecho de volta, Chaves o acompanhou com o seu próprio avião. O tour latino do francês prosseguiu até Montevidéu e Buenos Aires.
Em 1912, ele encantou os cariocas com vários voos sobre a baÍa de Guanabara De volta à França em 1913, Roland recomeçou a disputar corridas e a
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conheceu dois americanos: a milionária Hart Berg e o piloto John Bevin Moisant. Ambos promoviam a aviação nos EUA e convidaram o jovem francês a se juntar ao Moisant International Aviators. Era um circo aéreo mambembe que viajava de trem pelas cidades da América do Norte apresentando shows de acro bacias com aviões Blériot. Na trupe dos irmãos Moisant, Garros viajou durante meses pelos EUA, México e Cuba. Em maio de 2011, voltou à França para participar de corridas aéreas entre as capitais europeias. Apesar de alguns bons resultados, não conseguiu nenhuma vitória e passou a dedicar-se a bater recordes de altura em voo. Em 4 de setembro daquele ano, consagrou-se ao atingir a marca inédita de 3.950 metros. A notoriedade facilitou sua reconciliação com o pai. Se os aviões eram populares nos EUA e na Europa, o mesmo não acontecia no resto do mundo. No início de 1912, o
Garros no início dos anos 1910: charme e simpatia
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VENTO preso pelos inimigos na Primeira Guerra, fugiu vestido de oficial alemão quebrar recordes. Contratado como piloto de testes do fabricante MoraneSaulnier, realizou a façanha de sobrevoar o Vesúvio e atingiu, na Provença, a marca histórica dos 5.600 metros de altitude. Como homenagem, a fábrica Bugatti batizou uma série limitada de carros esportivos com seu nome. Mas seu maior feito ainda estava por vir. Na alvorada do dia 13 de setembro, Roland decolou em seu monoplano Morane-Saulnier modelo G da cidade de Fréjus, no litoral sul da França, rumo à África. Sobrevou a Córsega e a
Sardenha e, quase oito horas depois, pousou em Bizerta, na Tunísia – com apenas 5 litros de combustível restando nos tanques. Pela primeira vez, um avião ligava sem escalas dois continentes. Estava aberta a porta do transporte aéreo global. A grande ilusão Em 1914, os primeiros tiros da Primeira Guerra Mundial pegaram Roland Garros de surpresa na Alemanha, visitando como convidado as fábricas de aviões do inimigo. Ao volante do seu Bugatti, o aviador voltou às pressas à França antes do fechamento das fronteiras. Aos 25 anos, colocou seu talento a serviço do Exército francês para o longo conflito que se iniciava. No começo da Primeira Guerra, havia pouco uso para os aviões além de realizar voos de reconhecimento sobre as tropas adversárias. No máximo, o piloto ou seu acompanhante jogavam algumas granadas, ou disparavam tiros de pistola e fuzil. Aviões adversários se cruzavam nos
Com o MoraneSaunier da Primeira Guerra
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ares sem oferecer grandes riscos uns aos outros. Mas isso estava prestes a mudar. Nas fábricas, pilotos e engenheiros pensavam em um modo de equipar os aviões com metralhadoras frontais, que fossem acionadas pelo piloto. O problema era impedir que seus tiros atingissem as hélices de madeira do próprio avião. Em abril de 1915, Roland resolveu o problema: instalou nas pás da hélice do seu avião dois defletores de metal, que se encarregavam de desviar os tiros. Era uma gambiarra perigosa: os projéteis podiam ricochetear de volta no próprio avião, mas funcionava. Nos dias seguintes, Roland abateu três aeronaves inimigas e semeou pânico nos alemães. Estava inventada a aviação de caça. A surpresa durou pouco. Em 19 de abril seu Morane-Saulnier foi avariado por fogo antiaéreo, obrigando-o a pousar atrás das linhas inimigas. Roland acabou capturado antes de conseguir atear fogo na aeronave. O segredo caiu nas mãos dos oponentes. Os engenheiros da Fokker aperfeiçoam a ideia, instalando em seus caças metralhadoras sincronizadas, que atiram nos intervalos entre as pás das hélices. Começaria um longo período de supremacia alemã nos céus da Europa. Prisioneiro de guerra, Roland passou por diversos cativeiros durante quase três anos, enquanto novos aviões e armamentos eram desenvolvidos pelos dois lados e consolidava-se a importância da aviação nas guerras modernas. Em fevereiro de 1918, ele e o tenente Anselme Marchal conseguiram fugir do campo de Magdebourg, fantasiados de oficiais alemães. A façanha serviu de inspiração para o roteiro do filme La Grande Illusion,
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Sua fuga inspirou um clássico de Jean Renoir no cinema e rendeu-lhe a comenda da Legião de Honra. O paulista Edu Chaves foi um de seus fiéis amigo no Brasil
dirigido em 1937 por Jean Renoir. De volta a Paris, Roland Garros foi recebido como herói e laureado cavaleiro da Legião de Honra da França. Mas o inquieto piloto insistiu em voltar à linha de frente, embora debilitado e fora de forma. Sua visão estava comprometida. Por isso, passou a usar em segredo óculos de grau para pilotar um biplano Spad S.XIII, muito diferente dos aviões que estava habituado a conduzir. Novos ases do ar haviam se consagrado em combate: o alemão Manfred von Richthofen, o Barão
Vermelho, abatera 80 aviões e o francês René Fonk contava 75. Com a guerra no final, seria impossível para Roland sequer se aproximar desses números. Em outubro de 1918, ele se envolveu em um combate sobre a Bélgica. Derrubou um Fokker alemão. Três dias depois, seu Spad foi atingido por fogo antiaéreo nas Ardenas. Em chamas, o avião desceu incontrolável até se espatifar no solo, nas imediações de Saint Morel. Pouco antes de completar 30 anos, morria uma das lendas da aviação. A guerra acabaria 40 dias depois.
Herói da França, seu nome seria imortalizado a partir de 1927, quando foi atribuído ao conjunto de quadras de saibro onde é disputado o torneio internacional de tênis. Em 1906, Roland chegou a frequentar como sócio o antigo Stade Français, levado por um colega de HEC, Emile Lesieur. Duas décadas depois, eleito presidente da associação, Lesieur bancou a homenagem ao velho amigo. Já em São Paulo, Roland Garros é nome de uma avenida na zona norte. Ela corta o bairro de Parque Edu Chaves, nas terras em que o pioneiro da aviação paulista mantinha o seu campo de aviação. P
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Por SILVIO LANCELLOTTI Seis esportistas, todos celebradíssimos na fama e nas glórias. E, no entanto, todos estigmatizados pelo comportamento no mínimo extravagante dentro de um gramado, uma piscina, uma quadra, um ringue. Quatro ainda vivos e dois mortos dramaticamente – ah, ironia cruel, em circunstâncias alheias à postura que exibiam nos seus idos de apogeu físico e de controvérsias éticas e morais. Rebeldes. Provocativos. Eles são…
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esporte de 1950. Acalentou a fantasia de pisar no gramado do Maracanã, recém-inaugurado, e quando pôde realizá-la, em 4 de novembro de 1951, com a camisa do América do Rio, diante do São Cristóvão, não demorou além de 34 minutos. Pelas costas, desferiu um carrinho brutal num adversário e foi expulso. Assolado pela sífilis, endoideceu. Foi internado em um sanatório em 1954. Morreu cinco anos depois, já então sofrendo de paralisia progressiva. Tinha 39 anos.
Brigou até o último dia
ALMIR MORAIS DE ALBUQUERQUE Nunca houve um craque como ele
HELENO DE FREITAS São João Nepomuceno, MG, 12 de fevereiro de 1920 Barbacena, MG, 9 de novembro de 1959
E
legante, charmoso, um craque inteligente e capaz de um drible refinado – e arriscadíssimo – dentro da sua própria área de defesa. Paralelamente, um cidadão culto, estudioso, formado em direito. Mas um homem de temperamento incontrolável, irascível, capaz de um gesto de ternura e, no instante seguinte, de uma explosão. Tratava os próprios companheiros de equipe com tamanha rebeldia em campo que a torcida o apelidou de “Gilda”, inspirada na exuberância de Rita Hayworth num filme de Charles Vidor, de 1946. Herdeiro de um fazendeiro milionário, o mineiro Heleno de Freitas se mudou para o Rio de Janeiro como aluno do Colégio São Bento e começou a se destacar como peladeiro de praia e, mais tarde, amador e atacante no Botafogo. Em 1940, iniciou a carreira profissional, que o levaria a vestir a camisa do Boca Juniors, na Argentina, e do Junior de Baranquilla, na Colômbia. Até 1948 disputaria 233 prélios e registraria 203 gols pelo Botafogo. Mas também se tornaria um adicto do lança-perfume e do uísque. Um boêmio inveterado. Embora já namorado de Ilma, com quem se casaria e teria Luiz Eduardo, o seu único rebento, não abandonava as boates. Intempestivo, brigava com cartolas, colegas, treinadores. De 1944 a 1948 atuou pela seleção em 18 jogos e anotou 19 tentos. Mas se indispôs com o treinador Flávio Costa e, por isso, não disputou a Copa
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Recife, PE, 28 de outubro de 1937 Rio de Janeiro, RJ, 6 de fevereiro de 1973
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a tarde de 18 de dezembro de 1966, o Maracanã viu a maior batalha campal da sua história. Uma batalha pré-anunciada. Na véspera da final do Campeonato Carioca daquela temporada, entre Bangu e Flamengo, o meia Almir, apelidado “Pernambuquinho” e famoso pelo jeitão grosseiro e pelas reações violentas, havia prometido que o adversário do seu clube não celebraria impunemente um título eventual. Pois logo no início do segundo tempo o Bangu fez 3 x 0 e, no lance seguinte, o avante Ladeira atrapalhou a cobrança de um lateral e Almir se eriçou. Começou uma briga tão absurda que o árbitro Airton Vieira de Moraes, o “Sansão”, encerrou o prélio. Apenas uma das façanhas nada sutis daquele que também fora chamado de “Pelé Branco” mas que, Heleno (ao alto) e Almir: figurinhas carimbadas
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em função do temperamento inconsequente, apenas vestiu a camisa da seleção em oito ocasiões, quatro gols anotados. Numa das suas partidas pelo Brasil, em 21 de março de 1959, no Sul-Americano ocorrido na Argentina, atuou ao lado de Pelé e também protagonizou um forrobodó monumental. Acabou expulso, mas o Brasil ganhou por 3 x 1 e ainda venceu a “Celeste”, inusitadamente, no tapa e no chute. Já aposentado da bola, parecia feliz ao bebericar alguns chopes com amigos no bar Rio Jerez, em Copacabana, quando percebeu que, em outra mesa, os irreverentes atores do Dzi Croquettes, rapazes que se vestiam com trajes femininos, eram ofendidos por um grupo de turistas portugueses. Num ímpeto característico da sua personalidade, interpelou os lusitanos e levou um tiro à queima-roupa, desferido por Artur García Soares. Apesar dos depoimentos de uma dezena de testemunhas, o assassino alegou “Legítima Defesa” e se escafedeu.
Encrenqueira brilhante
DAWN FRASER Balmain, Austrália, 4 de setembro de 1937
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oi indubitavelmente a nadadora mais brilhante da história das piscinas de sua pátria. A caçulinha dos oito filhos de um imigrante escocês que não estacionava num emprego, aprendeu a dar braçadas sob a orientação de Don, o mano mais velho, numa praia da sua cidadezinha. Um treinador de Sydney se impressionou com a naturalidade do seu estilo e a convidou a se instalar na metrópole. Don, à essa altura, já havia falecido num acidente. Individualista, impulsiva, Dawn aceitou, sem pedir autorização à família. Na sua carreira acumularia três ouros olímpicos nos 100 livres, em Melbourne/56. Roma/60 e Tóquio/64. E mais pódios nos 400 livres, nos 4 x 100 livres e nos 4 x 100 medley. Foi a primeira a completar os 100 Livres em menos de 1 minuto. Bateu o próprio recorde mundial sucessivamente ao longo de oito anos. Não tolerava as crí-
Dawn e McEnroe: nota 10 como atletas e zero em comportamento
ticas, porém. Em Melbourne, abalroou a sua vice de prata, Lorraine Crapp, depois da premiação. Em Roma, além de se indispor com toda a delegação, comemorou a vitória com uma macarronada que a tornou lenta no revezamento 4 x 100. A Austrália se limitou à segunda posição na prova. Quatro anos depois, em Tóquio, estimulada por alguns bons goles de saquê, ao passar diante do Palácio Imperial furtou a bandeira do Japão. Salvou-a de uma punição a clemência do monarca Hirohito, que inclusive a presenteou com o pendão.
Campeão desbocado
JOHN McENROE Wiesbaden, Alemanha, 16 de fevereiro de 1959
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ohn Patrick, o pai, agregado à Força Aérea dos Estados Unidos numa base militar de Hesse, na Alemanha, carregou no colo o bebê Johnny quando se transferiu a Nova York em 1960 e começou
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esporte a trabalhar numa agência de publicidade. No bairro havia quadras públicas de tênis e um clube especializado. E aos 8 anos de idade o garoto, um canhoto de braço forte, desandou a dar as suas raquetadas. Com 18, ele se tornaria o primeiro profissional a sair de um qualifying e chegar às semifinais de Wimbledon. Daí, num total de 1.075 partidas, somaria a beleza de 877 vitórias, 77 títulos de simples, nove nos quatro Grand Slams, e fulguraria como o número um do planeta 14 vezes entre 1980 e 1985. Como duplista, também excepcional, acumularia 78 títulos e brilharia como número um ao longo de 270 semanas consecutivas. Ironicamente, porém, na mesma proporção do seu talento com os voleios e as paralelas, era um desastrado, um intolerante, um falastrão. Celebrizou-se por infernizar os fiscais de linha e os árbitros de cadeira, por arrebentar a pancadas os seus próprios equipamentos e, em especial, por declarações de uma infelicidade atroz. Por exemplo: “O (G. W.) Bush é um idiota e virou presidente. Quer dizer que tudo é possível”. Ou, pior ainda: “Se a Serena Williams jogasse com os homens, não ficaria nem entre os 700 melhores do ranking”. A sua autodefinição: “Gostaria de ser lembrado como um grande jogador de tênis. E entrarei na História pelas cagadas que cometi”.
ted e o Manchester United. Disputou, profissionalmente, 369 pugnas e registrou 131 gols. Na seleção francesa, porém, prejudicou a carreira ao não segurar as explosões nervosas. Eram comuns as brigas com os próprios colegas, as tentativas de agressão aos rivais, as cusparadas em torcedores e outras mimosidades. Em 25 de janeiro de 1995, depois de revidar a um puxão de camisa de Dick Shaw, do Crystal Palace, e receber o cartão vermelho, ao abandonar o gramado, às vaias, se atirou sobre um grupo de fãs do adversário e desferiu uma voadora de Kung Fu. Levou uma suspensão de nove meses e ainda foi banido dos Bleus da Copa de 1998, campeões mundiais. Trocaria a bola pelo cinema. Logo naquele ano interpretou, e bem, um nobre francês, em Elizabeth, ao lado da estrela Cate Blanchett.
Atacante voador
ERIC CANTONA Marselha, França, 24 de maio de 1966
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atizado Eric Daniel Pierre, desde garoto Cantona já se sobressaía pela impertinência. Fazia questão de mandar nos colegas de peladas infanto-juvenis, definia as posições de cada um e se autoescalava como desejasse, inclusive de goleiro, à imitação do pai. Era, todavia, um atacante nato. E, aos 15 de idade, convidado a treinar nas categorias de base do Auxerre, da primeira divisão da França, se destacou como um artilheiro instintivo, sucessivamente contratado por Olympique de Marseille, Bordeaux, Montpellier e Nîmes, antes de atuar pelos britânicos Leeds Uni-
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Fera ferida
MIKE TYSON Brownsville, Nova York, EUA 30 de junho de 1966
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os seis esportistas que este texto aborda, Mike Gerard Tyson foi quem mais depressa teve a possibilidade de se afastar das suas raízes e mais grotescamente desperdiçou a chance de preservar um conforto com que nunca havia sonhado na meninice. Abandonado pelo pai aos 2 anos, cresceu numa vizinhança de delinquentes juvenis, brigou muito como resposta às piadas que sofria por causa da sua língua presa, perdeu a mãe aos 16 e teve a sorte de se tornar uma espécie de filho adotivo de Cus D’Amato, o treinador que o encaminhou ao boxe. Profissionalizado aos 19, venceu 37 lutas consecutivas, apenas quatro por pontos. Na 28ª, aos 2,35 minutos do segundo assalto, derrubou o canadense Trevor Berbick e se tornou campeão mundial dos pesados. Enriqueceu com rapidez, e mastodonticamente, a ponto de colecionar vistosíssimos casacos de pele que vestia mesmo no calor. Em 1992, membro do júri do concurso de Miss America, acusado de estupro por uma candidata, foi condenado a seis anos de prisão. Solto após cumprir menos de três, retornou aos ringues. Então, em 28 de junho de 1997, tentou resgatar o antigo título numa decisão contra Evander Holyfield. Impactou o planeta ao lhe arrancar um pedaço da orelha com uma mordida brutal. E foi desclassificado. Fracassado em três casamentos, teve sete filhos, dilapidou a fortuna, virou alcoólatra, se converteu ao islamismo e aderiu ao veganismo. Diagnosticado com o transtorno bipolar, em 2016 bateu o último recorde da carreira ao anunciar, numa rede nacional de TV, que votaria em Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. P
Cantona agrediu torcedores enquanto Tyson esgremia contra tudo e todos
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Por angelo pastorello
anywhere A modelo paulistana BArbara Nogueira morou no Japão, México, Taiwan e Chile. É linda em qualquer lugar
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Produção de moda: Márcia Jorge Beleza: Mari Pereira
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viagem Por walterson sardenberg Sº
o país mais próspero
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Sognefjord: fiorde de 180 quilômetros
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Håvard Myklebust/ visitnorway.com
A Noruega tinha tudo para dar errado. das temperaturas de gelar os ossos à intromissão dos vizinhos. Veja como esta bela nação contornou as adversidades
ense em um lugar que, ao longo de quatro meses no ano – de novembro a fevereiro –, quase só tem noite. Às 3 da tarde já é puro breu – e só volta a clarear às 10 da manhã do dia seguinte. Sim, pode ser o sonho dourado de um frequentador de raves. Mas complica uma barbaridade a economia. Agora, imagine que esse tal lugar é tão montanhoso que apenas 4% de seu solo tem serventia para a lavoura. OK, os visitantes acham a paisagem admirável – e os alpinistas gostam ainda mais. Os agricultores, no entanto, têm muito do que se queixar. Para piorar, saiba que esse lugar pouco maior que o Maranhão acomoda temperaturas de até 54 graus negativos. Não por acaso, fica aqui a maior geleira da Europa Ocidental, a Jostedalbreen, com 487 quilômetros quadrados. É como se um terço da cidade de São Paulo fosse o congelador da sua geladeira. Só de imaginar essas imposições da natureza, a caríssima leitora e o pre zado leitor já estão, é bem provável, ba tendo o queixo. Ou pensando em sair à rua, com urgência, para se abastecer de lanternas e espessos cobertores. Sim, a Noruega tinha tudo para dar errado. No entanto, é, disparado, o país campeão de desenvolvimento humano no mais recente ranking da ONU. Aquele mesmo em que o nosso ensolarado rincão varonil logrou conquistar a 79a posição, entre as pujantes nações do Azerbaijão e de Granada.
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viagem A Noruega provoca inveja. Dói o cotovelo constatar como esse que é o país mais ao norte da Europa Ocidental – daí o nome, que significa Caminho do Norte – conseguiu superar as condições adversas. O saudoso desenhista Odd Børretzen, uma espécie de Millôr Fernandes local – se Millôr também gravasse discos cantando música folclórica –, publicou uma história da Noruega em quadrinhos em que registra um traço característico dos conterrâneos: a teimosia. Ele narra, de forma bem-hu morada, como, há 10 mil anos, com o fim da Era Glacial, boa parte das populações
da Escandinávia se bandeou para o sul do continente, em busca de temperaturas mais tépidas. Uma parcela renitente desses povos primitivos, todavia, preferiu permanecer nas terras frias, apesar das agruras geográficas e climáticas. Desses cabeças-duras descendem os 5,2 milhões da Noruega de hoje. Até o início do século 20, a Noruega era só uma edícula
caminho do norte
das decisões políticas das suas vi nhas na Escandinávia. zi meiro da Dinamarca, que Pri comandou o país de 1384 a 1814 – até hoje a família real norueguesa é de origem dinamarquesa. Depois, da Suécia. É bem verdade que, na troca de mandatário, ganhou de presente um parlamento e uma administração em separado. Ainda assim, permaneceu um Estado sob a tutela da Suécia. Mais um motivo para invejar as maravilhas da Noruega de hoje, um país tão soberano que esnobou a União Europeia; e tão civilizado que suas bancas de jornal ou de frutas não precisam de vendedor. O freguês pega o que quer, deposita o dinheiro, faz o troco e sai saboreando framboesas e lendo o Aftenposten, jornal com 157 anos de vida e ainda muito forte na versão impressa. E não é para invejar um lugar em que educação e saúde são de primeiríssima e gratuitas? Ou em que até os presidiários – que o Bolsonaro não nos ouça – têm o conforto de celas individuais, boas ca mas, aparelho de TV, nenhum cascudo e,
Noruega quer dizer “Caminho do Norte”. É o país mais ao norte da Europa Ocidental, pouco menor do que o nosso Maranhão. Suas temperaturas
chegam
54 graus negativos.
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mesmo assim, os índices criminais não aumentam? Deu no Aftenposten: em 2015, o PIB per capita da Noruega foi de US$ 74.822. Ou seja, cada cidadão recebeu, em média, US$ 6.235 por mês. Mas não adianta nem tentar ler o Aftenposten. O idioma norueguês – estabelecido oficialmente só no início do século 20, a partir dos estudos do filólogo Ivar Aasen, que amalgamou o dialeto das aldeias – é tão complicado que agrega três letras a mais (å, ø e æ), difíceis de encontrar até no teclado do computador. Em todo caso, você não precisa decifrar nenhuma palavra em norueguês para saber por que raios a Noruega encabeça aquele ranking da ONU. Basta colocar os pés em Oslo, a capital, tão limpa quanto segura, e acolhedora nos cafés ao estilo vienense. A hidrodinâmica dos vikings Esqueça os 54 graus negativos do pri meiro parágrafo. Oslo fica no sul do país, numa região menos fria, onde a tem pe ratura raramente desce aos 20 graus negativos. Os vikings, que fundaram a ci dade no ano 1.050, podiam ser truculentos. Mas não eram bestas. Também fugiram do frio. Escolheram viver na baía de Oslo. Baía em norueguês se escreve vik, donde se depreende que viking quer dizer aqueleque-mora-na-baía. Ou, numa leitura livre: baianos. Infelizmente, sobraram na cidade raros vestígios arquitetônicos dos 250 anos da Era Viking. Oslo sofreu um incêndio devastador em 1624. A rigor, a maior herança do período viking só veio à luz no século 19, quando um fazendeiro dos arredores de Oslo en controu, ao escavar suas terras, um barco milenar. Novas escavações nas redondezas
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Mårten Teigen/The Viking Ship Museum, Museum of Cultural history, University of Oslo/ Visitnorway.com
O Museu das Embarcações Vikings, em Oslo
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Nancy Bundt/ Visitnorway.com
O prédio da prefeitura de Oslo e o Parque Vigeland
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revelaram outras duas embarcações do mesmo período (circa 840 d.C.). Um grande achado. Não eram simples navios. Eram câmaras mortuárias dos poderosos, carregadas de objetos que ajudaram a resgatar a saga – palavra de origem nór dica – dos vikings. Mas o melhor são os próprios barcos. Entre outras inovações, eles têm quilhas. Ao vê-los expostos no Museu das Embarcações Vikings, em Oslo, compreende-se por que os noruegueses antecederam em quatro séculos a Era dos Descobrimentos. A bordo de barcos ro bustos e, com o perdão da palavra, hidro dinâmicos, os vikings chegaram primeiro à Islândia, à Groenlândia e, afirmam alguns historiadores, também ao Canadá. Frutas vermelhas Visitar o Museu das Embarcações é programa tão previsível em Oslo quanto o salmão e a batata nas refeições. (Curioso: o norueguês não liga para o bacalhau, embora seja o maior exportador, responsável por 80% do consumo global.) E dá para apostar um filé de rena – outra iguaria por aqui – que você também visitará o prédio da prefeitura e a área de Aker Brygge. São vizinhos. O edifício da prefeitura, de 1950, tem linhas tão retas quanto a legislação do país para bebidas alcoólicas – os super mercados, por exemplo, vendem apenas cerveja e, mesmo assim, com restrições nos fins de semana. Ali dentro, todo dia 10 de dezembro, é entregue o Prêmio Nobel da Paz. Na fachada, uma estátua chama a atenção. Foi erguida em honra às prosti tutas. Não se alarme. Na ética local, quem trabalha sempre merece consideração, a despeito do ofício. Já Aker Brygge é uma área pra lá de moderna, repleta de bares, erguida por
ironia na região mais remota: o cais, de onde os vikings zarpavam. Você estará nessa região à noite, ainda que não seja para provar um filé de alce (pois é, também comum por aqui). Mas ao longo do dia o programa será passear pelos mais de 400 parques, responsáveis por um paradoxo delicioso: Oslo tem só 635 mil viventes (menos que João Pessoa), mas foi escolhida a Capital Verde da Europa para 2019, em virtude da área preservada. Basta uma nesga de sol atravessar as nuvens, e os no ruegueses correm para os parques. Assim acontece especialmente em julho, quando escurece em Oslo apenas às 11 da noite; e clareia às 3 da madrugada.
O parque vigeland, em oslo, tem 212 estátuas do mesmo escultor É curioso ver as mulheres saindo do escritório às 5 da tarde e, logo depois, tirando a roupa para se deitar na grama dos parques em trajes menores (que aqui são sempre maiores) e apanhar um bronze. Fazem isso com tal nonchalance que afastam olhares insinuantes, nesse enclave onde a nudez não é bicho de sete cabeças. Mas o parque mais visitado não atrai moças de lingerie. Nem precisa. O parque Vigeland tem 212 estátuas, retratando 670 figuras humanas, todas sem traje algum. Foi a obra de toda uma vida do escultor Gustav Vigeland, que morreu aos 74 anos, recémunido a uma moça de 17. O casal está
devidamente moldado em pedra no parque. Ao financiar essa obra, a partir da dobrada para o século 20, a Noruega ce lebrava sua independência da Suécia, enfim conquistada em 1905, depois de um plebiscito que teve seu resultado acolhido pelo rei sueco, Oscar II. O país também reforçava sua identidade, numa época pró diga em artistas de gênio como o próprio Vigeland, o pintor Edvard Munch (que to mou outra namoradinha do escultor e é o autor de O Grito, exposto na Galeria Nacional de Oslo) e o violinista Ole Bull, um virtuose – e ídolo pop avant la lettre, tão famoso no seu tempo que a água em que lavava as mãos era vendida em vidrinhos. Bull, visionário, descobriu, lançou e apresentou um ao outro os dois maiores nomes da arte norueguesa: o compositor Edvard Grieg e o criador do teatro moderno, Henrik Ibsen. Se lhe disserem que a cidade de Bergen é bem menor (280 mil moradores), menos provida de parques e recepcionada pelas chuvas 200 dias ao ano, você pensará em descartá-la. Ainda mais se lhe obrigaram, fedelho, a ingerir o intragável fortificante de óleo de fígado de bacalhau. A matériaprima vinha do porto de Bergen. Mas você acabará passando pela cidade, uma vez que os melhores cruzeiros para os fiordes zarpam daqui. Aproveite, abra a guarda (e o guarda-chuva) e percorra o formidável cais dessa cidade que foi a primeira capital do país. Boa parte dos prédios, de madeira, é dos primeiros idos do século 18. Do porto de Bergen você navegará para uma paisagem única. Outros 11 países do mundo foram presenteados com fiordes, incluindo a Islândia, o Chile, a Alemanha e Montenegro. Em geral, não se comparam em beleza e dimensões aos da Noruega. Aqui está um dos maiores: o Sognefjord,
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O casario de madeira em Bergen
com 180 quilômetros. Fiordes derivam da infiltração dos rios sob as geleiras no decorrer da Era Glacial. A ação milenar dessas correntezas, em meio às montanhas congeladas, criou fissuras que viraram leitos, embora aprisionados sob densas massas de gelo. Com o final da Era Glacial, essas cavidades foram ocupadas pelo mar. Surgiam os fiordes. Eles são cercados de montanhas altas e próximas, têm grandes profundidades submarinas (o que permite a travessia de navios de porte) e, em geral, uma cor verde-esmeralda, resultante da mescla da água do mar com a do degelo. Navegar pelos fiordes, em meio a pai sagens de embalagem de lápis de cor, já seria tão adorável quanto ver, nas regiões mais ao norte do país, o Sol brilhando à meianoite. Tudo fica ainda mais agradável ao jogar as amarras em vilarejos com hotéis aconchegantes, encravados nos pontos mais cênicos dos fiordes. Muitos deles estão nas mãos da mesma família há mais de três gerações, o que constitui a certeza de provar
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E não é que eles ainda deram a sorte de encontrar muito petróleo no mar? receitas particularíssimas de doces de fru tas vermelhas, ainda que, no desjejum, o café venha servido com algum peixe de sabor pronunciado, como o arenque. Ah, sim, você ainda deve estar encafifado pelo fato de um país tão sacrificado pelas imposições geográficas e climáticas e tão tutelado pelos vizinhos ter se transformado no campeão do desenvolvimento humano – e econômico. É a nação mais próspera do mundo. Pois bem, impedida pela natureza de investir em agricultura, a Noruega semeou sua vocação marítima, herdada dos vikings. Os frutos viriam na forma de uma marinha
mercante poderosa (tem hoje uma das dez maiores frotas do mundo), uma exploração de pescados superlativa – que evoluiu para um processamento industrial irretocável – e no aproveitamento sagaz da generosa bacia de rios, transformada em muita energia hidrelétrica. Os lucros dessa bem irrigada vida econômica, cultivada no valor dado ao trabalho pela ética protestante, foram reinvestidos numa indústria e num setor de serviços eficazes, garantidos por um Estado que cobra bastante em impostos, sim, mas reverte em políticas transparentes de bem-estar social, sistema intacto apesar do na moro com a globalização. Tem mais. A Noruega também teve sorte. E, diria Nelson Rodrigues, “sem sorte, não se chupa nem chica-bon. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha”. Nos anos 1960, o país descobriu tanto petróleo no Mar do Norte que se tornou o maior produtor na Europa Ocidental. Nem precisava. Os noruegueses haverão de perdoar a nossa dor de cotovelo. P
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TRÊS REIS CONSTRANGIDOS Putin e a mão de ferro que se pretende suave. Pelé e o trono que o mundo não imaginava. Maradona e o beijo da compaixão
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