The President

Page 1

por Lu iz Maciel Nº 35 DEZEMBRO 2018

dezembro 2018 nº 35 R$ 28,00

Nº 35 | DEZ/2018 - jan/2019 • paulo morais e ygor moura

os pequenos espaços do construtor Alexandre frankel

paulo morais E Ygor Moura

Criadores da Espaçolaser O jeito brasileiro de depilar toma conta do planeta

de mcLaren a 300 por hora

bourbons: veja A nossa seleção dos melhores

anthony hopkins: o leão no inverno

por Marcos diego nogueira

por mau ro marcelo alves

por ana maria Bahiana

revCAPALASER_TP35.indd 1

28/11/2018 16:20



por Lu iz Maciel Nº 35 DEZEMBRO 2018

Alexandre FRankel CEO DA VITACON A REVOLUÇÃO DOS PEQUENOS ESPAÇOS

dezembro 2018 nº 35 R$ 28,00

Nº 35 | DEZ/2018 - jan/2019 • ALEXANDRE FRANKEL

espaçolaser: O jeito brasileiro de depilar toma conta do planeta

de mcLaren a 300 por hora

bourbons: veja A nossa seleção dos melhores

anthony hopkins: o leão no inverno

por Marcos diego nogueira

por mau ro marcelo alves

por ana maria Bahiana


Honda.indd 2

27/11/2018 12:03


Honda.indd 3

27/11/2018 12:03


Julio Okubo.indd 4

28/11/2018 19:59


Julio Okubo.indd 5

28/11/2018 19:59


LEXUS.indd 6

28/11/2018 20:01


LEXUS.indd 7

28/11/2018 20:01


Corsage.indd 8

28/11/2018 20:05


Corsage.indd 9

28/11/2018 20:05


JEEP.indd 10

28/11/2018 20:03


JEEP.indd 11

28/11/2018 20:03


CacauShow_Dupla.indd 12

28/11/2018 20:07


CacauShow_Dupla.indd 13

28/11/2018 20:07


AUDI.indd 14

28/11/2018 20:08


AUDI.indd 15

28/11/2018 20:08


ANUNCIO_TP_BOUCHERON.indd 16

27/11/2018 12:14


ANUNCIO_TP_BOUCHERON.indd 17

27/11/2018 12:14


An Dupla Rest_Kinoshita.indd 18

27/11/2018 12:15


An Dupla Rest_Kinoshita.indd 19

27/11/2018 12:15


Hotel Rio Quente.indd 20

27/11/2018 12:16


Hotel Rio Quente.indd 21

27/11/2018 12:16


ROCHAS_TFS.indd 22

27/11/2018 12:17


ROCHAS_TFS.indd 23

27/11/2018 12:18


OFNER.indd 24

27/11/2018 12:18


OFNER.indd 25

27/11/2018 12:19


TAM JATOS EXECUTIVOS.indd 26

27/11/2018 12:19


TAM JATOS EXECUTIVOS.indd 27

27/11/2018 12:20


Royal Palm Plaza.indd 28

27/11/2018 12:21


Royal Palm Plaza.indd 29

27/11/2018 12:21


Seara.indd 30

27/11/2018 12:22


Seara.indd 31

27/11/2018 12:22


Cafe Orfeu.indd 32

27/11/2018 12:23


Cafe Orfeu.indd 33

27/11/2018 12:23


e d i to r i a l

thepresident tem muito a comemorar nesta edição especial de Natal. Pela primeira vez desde que foi lançada, há oito anos, estamos circulando com duas capas. É uma maneira de fazer justiça a três personagens dignos de nota. Os dois primeiros são o cuiabano Ygor Moura e o paulistano Paulo Morais. Exemplos da força do empreendedorismo brasileiro, eles criaram a Espaçolaser. Como o nome indica, trata-se da maior rede de depiladoras a laser do mundo, com mais de 400 unidades no Brasil às quais já se somam duas em Buenos Aires e, em breve, outras pela América do Sul. Acompanhe na seção Negócios as saborosas histórias da dupla – que tem Xuxa Meneghel como sócia – na construção desse império. Outro construtor nativo merecedor de uma entrevista de capa é Alexandre Lafer Frankel, CEO da Vitacon. Ele simplesmente revolucionou o mercado paulistano de imóveis com apartamentos de luxo que chegam a ter somente 10 metros quadrados. Ao decidir por esse tipo de edifício, ele apostou que os moradores não iriam se incomodar com a falta de espaço em casa, pois poderiam frequentar uma academia bacana, trabalhar num escritório compartilhado, reservar cozinha e sala de refeições para receber amigos. Pela rapidez com que vendeu as quase 8 mil unidades dos 52 prédios que lançou, não há dúvida de que Alexandre ganhou a aposta. E, já que o assunto é aposta, anote: a partir de 2019, THEPRESIDENT deixa de ser trimestral e passa a ser bimestral. Mais: acabamos de ampliar nossa circulação de 12 mil para 35 mil exemplares. Prova de que acreditamos num novo Brasil.

Novidades: duas capas, tiragem de 35 mil exemplares e bimestral

Bom Natal e que 2019 seja um ano de realizações para todos.

andré cheron e fernando paiva Publishers

34 |

| dez .2 01 8

revEDITORIAL_TP35.indd 34

27/11/2018 12:25


TagHeuer.indd 35

27/11/2018 12:26


e xpediente the president Publicação da Custom Editora Nº 35

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE Diretor Marcelo Rainho assistente Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br PROJETO GRÁFICO Marcelo Rainho COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Ana Maria Bahiana, Celso Arnaldo Araujo, Daniel Benevides, Françoise Terzian, Jorge Allen, Luiz Maciel, Marcos Diego Nogueira, Mauro Marcelo Alves, Raphael Calles, Roberto Muggiati, Ronaldo Bressane, Ronny Hein, Silvio Lancellotti, Ubiratan Leal e Xavier Bartaburu Fotografia Tuca Reinés ilustraçÕES Negreiros Tratamento de imagens Daniel Vasques e Marcelo Arguelles Revisão Goretti Tenorio Capa 1 Alexandre Frankel por Tuca Reinés Capa 2 Ygor Moura e Paulo Morais por Tuca Reinés (Ygor usa terno Aramis e relógio TAG Heuer. Paulo, terno Aramis e relógio Rolex) Produção: Viviane Ahumada THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident

COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Andrea Ballario andreaballario@customeditora.com.br Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Marilu Neme marilu@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

www.customeditora.com.br

36 |

| DEZ .2 01 8

revEXPEDIENTE_TP35.indd 36

28/11/2018 14:24


Triumph.indd 37

27/11/2018 12:28


su m á r i o d e zem b ro 201 8

70

140

146

70 VISÃO

100 Adega

134 motor

74 AUDIÇÃO

106 NEGÓCIOS

140 velocidade

80 paladar

114 ENTREVISTA

146 PROA

86 olfato

122 cinema

156 ESPORTE

92 TATO

128 GIFTS

164 TECNOLOGIA

Charlotte Casiraghi, a princesa que prefere a filosofia aos encantos da nobreza

Há 80 anos morria Robert Johnson, um artista fundamental na música americana

O filé à cubana (que não existe em Cuba) e outros pratos cujo nome difere da origem

Sala de cinema tem odor de pipoca? Claro que sim. Mas vêm aí os filmes com cheiro

O fliperama deu tilt para as novas gerações. Mas ainda desperta paixão entre os hipsters

38 |

revSUMARIO_TP35.indd 38

Americaníssimo, o bourbon é bem mais que a bebida dos cowboys e dos roqueiros

Ygor Moura e Paulo Morais têm a maior rede de depilação a laser do mundo

O máximo de luxo e o mínimo de tamanho nos apartamentos de Alexandre Frankel

À beira dos 81 anos, o ator Anthony Hopkins faz um revelador balanço da carreira

De joias a gadgets, dezenas de indicações de presentes para o fim de ano

117

Bem antes da palavra SUV, a Mitsubishi Motors já fazia carros 4x4 de alto conforto

Nosso repórter enfrenta o desafio de levar um McLaren aos 300 km/h na pista

Elegemos os cinco melhores navios de cruzeiro marítimo do planeta

Por que a Taça Libertadores da América é o mais épico e maluco torneio do futebol

O smartphone dobrável chegou. Confira até que ponto os celulares vão evoluir

| dez .2 01 8

28/11/2018 14:26


The_Graces.indd 39

27/11/2018 12:30


co l a b o r a d o r e s

40 |

CAPA

CAPA

visão

Luiz maciel

tuca reinés

daniel Benevides

O mais requintado são-paulino da Serra da Canteira preparou mais uma capa para THE PRESIDENT. Maciel deixou seus domínios nas montanhas – e seu Chardonnay com pastrami de fim de tarde, diante da mata atlântica original – para duas reportagens: a entrevista com o construtor Alexandre Frankel, da Vitacon; e o perfil de Ygor Moura e Paulo Morais, da empresa do ramo esteticista Espaçolaser.

Ele sabe tudo de aviões, pratica mergulho de alta performance e toca bateria de jazz e rock, com muito estilo. Mas sua paixão maior é mesmo a fotografia. Arquiteto por formação, Tuca tem técnica e senso estéticos refinados, obras em coleções de museus internacionais e livros lançados pela editora Taschen, na Alemanha. Para esta edição, fotografou os personagens das duas capas.

Assim como Chico Buarque e Guilherme Arantes, estudou arquitetura na FAU-USP e não se formou. Também como eles, adora música. Nas horas vagas atuou como letrista e cantor do grupo Tres Hombres. Jornalista cultural de primeira, há mais de três décadas, passoupor Bizz e Trip, entre outras revistas, pelo Jornal da Tarde e foi diretor da MTV.

audição

Paladar

TATO

ROberto Muggiati

Silvio Lancellotti

RONALDO BRESSANE

Jornalista desde 1954, este curitibano dono de um texto saboroso tem uma longa obra em livros sobre música popular. Incluam-se nesse rol Blues-da Lama à Fama e New Jazz- de Volta para o Futuro, além do clássico Rock, o Grito e o Mito. Desta vez, escreveu sobre um de seus músicos preferidos: o blueseiro Robert Johnson, que morreu envenenado há 80 anos.

Comemorar 50 anos de jornalismo na linha de frente não é para qualquer um. Nosso ativo colaborador começou nas Olivettis e Remingtons na equipe inicial da revista Veja, em 1968. Já então arquiteto formado, destacava-se pela versatilidade. Homem viajado e de curiosidade intensa, domina as mais variadas disciplinas, da música popular aos esportes olímpicos. A gastronomia decerto é uma delas.

Nos anos 1980, este escritor, jornalista, tradutor e professor economizava tostão por tostão para comprar fichas de fliperama. É o seu assunto neste número. Ele conta: “Na época, eu era um programador amador de videogames”. Seu orgulho daqueles idos? “Minha magnum opus foi o game Pacheco, um Pac Man dependente de burritos, tacos e LSD. Programei num CP400.”

| dez .2 01 8

revCOLABORADORES_TP35.indd 40

27/11/2018 12:32


WorldWine.indd 41

27/11/2018 12:34


ADEGA

MAURO MARCELO ALVES

42 |

cinema

ana maria bahiana

proa

ROnny Hein

Ele sabe muito sobre fermentados. Daí ter publicado o livro Vinhos – A Arte da França. Também conhece tudo sobre um fermentado com leve adição de destilado, tema de outra obra de sua lavra: Vinho do Porto, Muito Prazer. Que dizer então dos destilados? Mauro também escreveu o livro O Espírito da Cachaça. Nesta edição, é autor de texto esclarecedor sobre outro destilado, o americaníssimo bourbon.

Escritora e jornalista carioquíssima, apesar do sobrenome, começou em 1972 na imprensa musical. Seus textos na revista Rock - A História e a Glória, em meados daquela década, são antológicos. Ana mora em Los Angeles há 31 anos e, a partir daí, especializou-se em cinema. Entrevistou Anthony Hopkins diversas vezes. Por isso, o ator galês teve a confiança de lhe abrir o coração na entrevista desta edição.

Depois de dirigir diversas revistas de viagem e dedicar grande parte da vida a registrar o que viu e aprendeu nos 82 países em que esteve, decidiu ancorar no meio do oceano. Dedica-se hoje, entre outras atividades, ao blog navegarpelomundo. com. Nesta edição, o experiente viajante elenca os cinco melhores navios de cruzeiros marítimos do planeta. “Podem discordar à vontade”, antecipa.

Esporte

esporte

tecnologia

Ubiratan Leal

negreiros

xavier bartaburu

Em 1985, a Rede Globo transmitia ao vivo jogos do Campeonato Italiano de Futebol, então o melhor do planeta. Sim, a Rede Globo. Diante da telinha (sim, os televisores ainda tinham telas pequenas), o garoto Ubiratan apaixonou-se por futebol. Formado em jornalismo pela PUC de Campinas, trabalhou nas revistas Placar e Trivela , entre outras. É comentarista dos canais ESPN.

Basta ver uma ilustração de Roberto, seu primeiro nome, para sacar: trata-se de um Negreiros. Seu traço é mais do que marcante. É inconfundível. “Minhas ilustrações não se restrigem à aquarela sobre papel”, diz o artista, Prêmio Esso de criação gráfica. “Também faço modelagens em vários materiais, que só entram em contato com o mundo virtual quando digitalizadas nas redações.”

Ele é um dos raros jornalistas que escrevem tão bem quanto fotografam, o que fica claro em seu livro mais recente, Sacracidade. Não bastasse, Xavier, nascido em Montevidéu e criado em São Paulo, também comanda o grupo musical Nhambuzim. Ali, compõe, faz os arranjos e toca piano. Para esta edição, ele prospectou o futuro dos smart­phones, que, adianta, não será tão longo quanto poderíamos imaginar.

| dez .2 01 8

revCOLABORADORES_TP35.indd 42

27/11/2018 12:33


iJet_Traders.indd 43

27/11/2018 12:37


44 |

| dez .2 01 8

revMulheresQuenia_TP35.indd 44

27/11/2018 12:38


foto g r a fi a P o r f e r n a n d o pa i va

No fim de novembro de 2018, nas quantidades, na hora de o fotógrafo Tuca Reinés realipadronizar seus desenhos. zou uma exposição na galeria A exemplo da maioria dos Estação, de Vilma Eid, em São vilarejos quenianos, JerusaPaulo. Os retratos foram tiralém é composta de pequedos em abril último na aldeia nas cabanas construídas de de Jerusalém, província de barro e grama, cobertas de Laikipia, centro do Quênia, palha ou por telhas de zinÁfrica. Com cerca de 300 haco, que abrigam até dez bitantes, a aldeia congrega pessoas da mesma família. três das principais etnias do Os desafios são constantes: norte do país: Samburu, ausência de água potável, Turkana e Borana. Trata-se de sa ne a mento, e ducação. pastores cuja identidade culNuma palavra, pobreza. tural se expressa por meio do Em 2010, a Fundação Zeitz artesanato em miçanga e iniciou um grupo empresacontas: um trabalho belíssirial baseado na comunidade. mo e intricado, tradicional e O empreendimento, batizado simbólico, realizado por mãos de SATUBO Women Group, femininas há 400 anos. utiliza as duas primeiras leColares, pulseiras e guias tras do nome de cada tribo. não servem apenas para emA ideia é que as mulheres belezar as mulheres e os honão apenas tenham renda mens das três tribos. Reprecomo preservem seu passasentam o valor de cada um na do. A venda do artesanato sociedade e marcam também é feita na própria aldeia ou os diversos estágios da vida. no Segera Retreat – resort a Adereços usados por meninas poucos quilômetros dali, jovens são diferentes daqueles fundado pelo alemão Joexibidos por garotas mais vechen Zeitz, presidente da lhas, mulheres casadas e fundação e criador do Zeitz Venda de retratos de Tuca Reinés ajuda a avós. Há ainda peças especíMocaa – Museum of Concons­truir creche para artistas tribais africanas ficas para ocasiões como nastemporary Art Africa, na Cicimento, casamento e morte. dade do Cabo, África do Sul. Cada etnia tem um padrão diferente e utiliza cores diA venda dos retratos da exposição será revertida para a versas nos seus trabalhos. Os samburu usam muitas contas construção de uma creche na sede da SATUBO Women pequenas – vermelhas, laranja e amarelas. Os turkana dão Group, no Quênia. Com isso, as mulheres de Jerusalém popreferência a miçangas de tamanho médio nas cores preto, derão ficar perto de seus filhos enquanto trabalham mais verde, vermelho e amarelo. Já os borana trabalham com tranquilas para que a beleza de sua arte não desapareça. contas grandes, marrom brilhante e prateadas, em pequeInforme-se pelo e-mail tuca@tucareines.com.br

Mulheres do quênia

de z .2018 |

revMulheresQuenia_TP35.indd 45

| 45

27/11/2018 12:38


e sti lo Por R aphael Calles

Ainda mais inteligente O Summit 2, da Montblanc, é a segunda geração dos smartwatches Com um olho nos avanços tecnológicos do mercado e outro em sua expertise relojoeira, a Montblanc apresentou a segunda geração de seu relógio inteligente, o Summit. A peça ganhou esportividade. Tornou-se mais compacto. Tem agora 42 mm de diâmetro - não mais os robustos 46 mm da primeira geração. Conta, também, com botões programáveis na lateral da caixa. Tudo isso para comandar o que há de mais up to date em tecnologia de processamento de dados para wearables. O chip Snapdragon Wear 3100 do novo Summit é o mais moderno e veloz a equipar um smartwatch de luxo. “Criamos este modelo para pessoas que querem ampliar os limites em tudo o que fazem”, explica Nicolas Baretzki, CEO da Montblanc. Com as novidades, o relógio se conecta facilmente a celulares com sistema operacional Android ou iOS e oferece uma infinidade de funções. Entre elas, o mais recente recurso que permite ao usuário diminuir o jet lag. Trata-se do

46 |

aplicativo Timeshifter. Dotado de tecnologia usada por astronautas e atletas de elite, ele orienta o usuário com base em seu padrão de sono, cronotipo e plano de voo. Há também assistente de voz, aplicativo auxiliar para atividades físicas e o Google Pay, para pagamento por aproximação. A cada dia, com o mesmo relógio, o proprietário pode mudar o design do mostrador. São cerca de 70 mil possibilidades de combinações estéticas. Tudo isso é possível graças ao sistema operacional. Sem esquecer das muitas variedades de caixa (de aço DLC preto, aço inoxidável, ou na combinação de aço e titânio Grau 2) e outras 11 opções de pulseira. O desenho da caixa se inspira na simbólica coleção 1858 da marca, que traz uma pegada vintage. Outro destaque: a autonomia de bateria de um dia completo pode ser estendida para os finais de semana. A função weeklong-time desativa funções e, dessa maneira, prolonga a autonomia de três a cinco dias. montblanc.com

| dez .2 01 8

revMONTBLANC2_TP35.indd 46

27/11/2018 12:40


Dá para escolher

...unidade pode

o material da

ter o mostrador

caixa e o da

totalmente

pulseira. Muito

mudado várias

mais: a mesma...

vezes ao dia

Da caneta para o celular

Augmented Paper: dispositivo que une escrita e smartphone

É possível perpetuar a arte de escrever à mão. Mesmo em tempos de hi tech. Essa é a proposta do gadget Augmented Paper, da Montblanc. A tradicional marca de canetas de altíssimo padrão não deixou que o advento dos diversos recursos tecnológicos a intimidasse. Criou um dispositivo, guarnecido de estojo de couro, que integra a escrita à mão à alta tecnologia. O Augmented Paper lê e armazena anotações feitas nas páginas posicionadas sobre a plataforma eletrônica. Sua memória é de 100 páginas. Elas podem ser enviadas a um smartphone ou tablete, dentro dos quais são armazenadas de acordo com a data e podem ser agrupadas ou reorganizadas com o uso de palavras-chave e temas. montblanc.com

de z .2018 |

revMONTBLANC2_TP35.indd 47

| 47

27/11/2018 12:41


SH OT P o r WA LT E R S O N S A R D E N B E RG Sº

Sal, jamais!

O hábito mais abominável, porém, é o de colocar sal na borda do masu. Trata-se de um recurso usado para mascarar bebidas de má procedência durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, não faz qualquer sentido. “O sal torna um estupendo saquê igual a outro qualquer”, diz Ya smin Yo n a sh iro.

História antiga

Aconteceu em torno do ano 300 da nossa era, no Japão. Algum desmazelado (coisa rara no país) esqueceu uma porção destampada de arroz cozido. Em contato com as leveduras do ambiente, o alimento fermentou. Al­guém experimentou e aprovou. Começava a saga da bebida que só requer dois ingredientes: arroz e água.

Álcool

O tempo de descanso após a produção vai de seis meses a um ano. Não varia muito o teor alcoólico. Anda pela casa dos 14 aos 16 graus. No máximo, 20 graus e olhe lá. O que pode mudar é o modo de produção. No jummai, o álcool resulta só da fermentação. No honjozo, há uma diminuta adição de álcool de s tila do.

48 |

revShot_TP35.indd 48

Receita de mestre

Martini Midori Por Henrique Medeiros • 50 ml de saquê • 10 ml de suco de limão siciliano • 15 ml de Cointreau • 1 colher (café) de wasabi • 1 colher (chá) de açúcar Dissolva o pó de wasabi na água até virar uma pasta. Em uma coqueteleira, despeje os ingredientes, com seis pedras de gelo. Bata até gelar. Coe e sirva em uma taça Dry.

| dez .2 01 8

27/11/2018 14:55


Escolha o seu Futsushu

Saquê comum, sem um percentual mínimo de polimento. 70%: significa que 30% do grão de arroz foram removidos. O aroma é mais leve e o produto final, mais fácil de beber.

Ginjo

Polimento de ao menos 40% do grão. Além disso, a fermentação ocorreu a baixas temperaturas e todas as etapas passaram por controle rigoroso. São saquês leves, frutados e elegantes.

Daiginjo

No mínimo, metade do grão foi eliminada. Controle da produção elevado. A quintessência da arte de produzir saquê.

Tokubetsu Considerado de nível superior, seja pela qualidade do arroz, do polimento ou do método.

História recente

A versão moderna do saquê, porém, tem menos de um século. Só se tornou possível com as novas técnicas de polimento do arroz. Quanto mais o grão de arroz sakamai (o mais indicado) for reduzido pelo polimento, que retira as impurezas, tanto melhor o saquê. Ele só pode ser considerado de primeira categoria a partir de um índice de remoção de 30% de cada grão. A qualidade da água também é fundamental.

Quente ou frio?

O saquê pode ser servido quente ou na temperatura ambiente. Jamais gelado ou, pior, bem gelado. “Em um país tropical como o Brasil a temperatura ideal é a do vinho branco: de 10 a 15 graus centígrados”, instrui a sommelière Yasmin Yonashiro, especialista na bebida.

Fora da caixa

O masu, recipiente de madeira para servir saquê, não é o ideal. Deve-se dar preferência a taças ou frascos de cerâmica ou vidro. “A madeira influencia no sabor e, além disso, a largura excessiva do masu provoca a evasão do aroma”, alerta a restauratrice Ana Nakamura, especialista na bebida.

FOTOs: istock, reprodução

revShot_TP35.indd 49

27/11/2018 14:56


av i aç ão P o r M ARIO C I CCO N E

A frota de Rogerio Andrade inclui o Phenom 100

A retomada Após anos de crise na aviação executiva, o mercado reagiu. Nessa nova economia, a Avantto apresenta solução de propriedade compartilhada O mercado de aviação executiva encarou um céu nebuloso nos últimos anos. A edição mais recente da feira de aviação Labace, no entanto, mostrou alguns raios de luz. “Em 2018, o mercado começou a dar sinais de retomada, ainda que de forma tímida”, diz Rogerio Andrade, CEO da Avantto, empresa especializada em compartilhamento e gerenciamento de aeronaves. As soluções da Avantto acompanham essa nova realidade do mercado. “O compartilhamento revelou-se uma ótima solução no período de crise, quando os empresários tiveram de adequar as despesas de ter uma aeronave com sua real utilização”, constata Andrade. Usuários constantes de aeronaves consideram os altos custos de aquisição e manutenção. Rogerio Andrade defende a vantagem econômica dessa alternativa. É a Avantto que cuida da operação dos voos. Além disso, garante 100% de disponibilidade. O voo pode ser solicitado com antecedência de seis horas (helicópteros) e 24 horas (aviões). “Táxis aéreos só atendem os clientes se tiverem aeronaves naquele momento”, diz. A sustentabilidade

50 |

também conta muito na escolha desse novo modelo. “É preciso otimizar o uso de ativos e respeitar os recursos do planeta. Isso se tornou fundamental. E a Avantto surfa nessa onda.” Fundada em 2011, a companhia é comandada por Rogerio Andrade e tem como sócio majoritário o banco de investimentos Rio Bravo. Contabiliza 750 decolagens por mês para 400 usuários. Sua frota reúne 60 aeronaves. Entre elas, os jatos Phenom 100 e 300, além dos helicópteros Agusta AW109, Colibri H120 e Esquilo B3/B4. A Avantto também promove eventos de relacionamento com palestras do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, também sócio do Rio Bravo. Nessa nova realidade do mercado, não é exagero dizer que, para a empresa, o céu está cada vez mais azul. Avantto.com.br

| dez .2 01 8

revAERONAVES_TP35.indd 50

27/11/2018 12:42


Regent_ Norwegian.indd 51

27/11/2018 12:44


b eb i da P o r M a r i o C i cco n e

A joia do Porto Edição limitada, o Croft 430th celebra a história de um dos mais antigos produtores do vinho símbolo de Portugal O ano: 1588. O Brasil e as Américas eram descobertas ainda recentes e a Reforma Protestante se espalhava pela Europa. Nesse contexto efervescente, a Croft dava os primeiros passos na produção de vinho do Porto. A empresa foi fundada por Henry Thompson, na Inglaterra. Apenas em 1736, a família Croft se uniu a essa operação, inclusive alterando o nome original da vinícola. O seu primeiro Porto Vintage (safra especial, muito superior às demais) data de 1781. Mas foi na compra da propriedade Quinta da Rôeda, em 1889, que a marca deu seu grande salto de qualidade. Nas palavras do poeta Veiga Cabral, temos uma definição desse lugar: “Se o Douro fosse um anel de ouro de Portugal, a Quinta da Roêda seria o seu diamante”. Toda essa história foi celebrada em uma garrafa. Trata-se do Croft 430th Anniversary, uma edição limitada vendida em

52 |

revCROFT430_TP35.indd 52

apenas 35 países. “A Croft ficou conhecida pelos seus vinhos do Porto Vintage com aromas de fruta pungente e taninos sedosos”, diz o diretor de enologia da casa, David Guimarães. “Esta edição é um Porto Reserva Ruby. Soberbo, exibe o seu caráter frutado, característico do produtor.” O Croft 430th, que está chegando ao Brasil importado pela La Pastina, faz boa parceria com queijos. Em especial, o cheddar. Para acompanhar sobremesas, prefira aquelas à base de chocolate amargo ou meio amargo ou frutas vermelhas. lapastina.com

| dez .2 01 8

27/11/2018 12:45


SKR.indd 53

27/11/2018 12:46


E Sti lo P o r R a p h a e l C a l l es

Homenagem a Senna Dois novos relógios da TAG Heuer celebram o grande piloto

Acima, o automático. O da direita tem turbilhão. Ambos são cronógrafos

54 |

Ayrton Senna acaba de ganhar mais homenagens da TAG Heuer. Agora, a coleção Carrera da maison tem mais duas peças com o nome do tricampeão. Uma chance para apaixonados por automobilismo, relojoaria, fãs do piloto ou, claro, tudo isso junto. Há traços em comum entre os modelos. A começar pelo cronógrafo, essencial no automobilismo. Ele oferece precisão de um quarto de segundo. Os dois modelos têm também taquímetro e a esportiva combinação de preto e vermelho. Além disso, apresentam o “S” na posição das 9 horas. Há, ainda, a gravação de “Senna” em vermelho na moldura. O primeiro dos dois modelos, o Carrera Calibre HEUER 02, automático, tem inovação nos números do mostrador. Em vez de seguirem de 1 a 12, chegam a 60 – o que facilita a contagem dos minutos. Uma janela de data entre 4 e 5 horas proporciona maior precisão na visão do calendário. Além disso, uma área vazada permite apreciar o mecanismo. No verso da caixa, da mesma maneira, observa-se o mecanismo em funcionamento através de um cristal de safira. O relógio, de aço, é à prova d’água e permite mergulhar a até 100 metros. A segunda peça destaca-se pelo turbilhão, função que anula os efeitos da gravidade sobre o mecanismo. Nesta versão, os algarismos dão lugar a indicadores, que tomam menos espaço a fim de revelar com mais visibilidade o precioso turbilhão. A caixa em cerâmica fosca em tom negro é finalizada por uma pulseira que combina couro de vitelo e borracha. Pelo verso da caixa de cristal de safira, admira-se o mecanismo escurecido, assim como a estampa em vermelho com o logo do campeão. O modelo é limitado a 175 unidades. Os 10 primeiros chegarão ao Brasil. tagheuer.com

| dez .2 01 8

revTAG_HEUER_FINAL_TP35.indd 54

27/11/2018 12:48


revTAG_HEUER_FINAL_TP35.indd 55

27/11/2018 12:48


aç ão SO CI A L P o r M AR I O C I CCO N E

Na pista da solidariedade Instituto Ingo Hoffmann abriga crianças carentes com câncer Em sua extensa galeria de conquistas, o piloto Ingo Hoffmann tem um orgulho especial pelo seu legado fora das pistas. Trata-se do instituto que leva seu nome e acolhe crianças em tratamento de câncer em Campinas (SP). A ideia de atuar no terceiro setor surgiu em 2003. Na ocasião, uma parceria da Mitsubishi Motors com Ingo distribuiu 52 toneladas de cestas básicas no Rally dos Sertões. No ano seguinte, foram 72 toneladas entregues à população carente no roteiro da competição. Com o sucesso do projeto, Ingo criou o instituto. “Minha esposa e eu conversamos com a dra. Silvia Brandalise, do Centro Infantil Boldrini, hospital referência na América Latina no tratamento do câncer infantil”, conta. “Ela nos ofereceu o terreno vizinho ao do hospital, em Campinas.” A instituição começou a abrigar as famílias em abril de 2007. Ali foram construídos 30 chalés, que já acolheram 1.200 crianças desde então. Contando os familiares, o número sobe para 3.600 pessoas. Além das moradias, há refeitório, brinquedoteca e sala de ginástica. “Queremos que as famílias permaneçam ao lado das crianças, em um momento tão difícil”, diz Ingo. “A casa proporciona aos familiares tranquilidade e segurança por estar bem próxima ao hospital”, lembra Maria de Lourdes de Rezende Borges, assistente social do Centro Infantil Boldrini. “O projeto teve resultados louváveis.” O instituto não recebe verba estatal. Crianças de todo o Brasil são enviadas pelo SUS para tratamentos no hospital Boldrini e ficam hospedadas durante o tratamento na ONG. Se estiverem internadas no hospital, seus pais ficam no instituto recebendo alimen-

56 |

Instalada numa vila em Campinas (SP), a entidade já acolheu 1.200 pacientes, sem verba estatal

tação e apoio psicológico. Antes da criação do instituto, essas famílias dormiam na recepção do próprio hospital. As famílias não pagam um tostão sequer. Por essa gratuidade, a instituição depende de mantenedores e de doadores. “É possível fazer doações não identificadas”, informa o piloto. Por meio de incentivos fiscais, empresas podem utilizar até 2% do lucro operacional. Outra opção é a Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), que permite às pessoas jurídicas deduzirem 4% do imposto devido. Já as pessoas físicas podem deduzir até 6%. As contribuições podem ser feitas via cartão de crédito ou depósito na conta do instituto. A sua doação pode fazer a diferença na vida dessas crianças. ingohoffmann.org.br; (Instagram)/institutoingohoffmann (facebook)/instituto-ingo-hoffmann; Tel. (19) 3287-8000/5834

| dez .2 01 8

revINGOHOF_CORINNA_TP35.indd 56

28/11/2018 14:28


Faber Castell.indd 57

27/11/2018 12:53


58 |

revCELLEP_TP35.indd 58

| dez .2 01 8

27/11/2018 12:54


ensi n o P o r M a r i o C i cco n e

Inglês para empresas Cel.Lep adapta seus cursos de línguas a funcionários de companhias de acordo com o vocabulário e jargões de cada segmento

No desafio de ganhar novos mercados, o Grupo Cel.Lep volta as suas atenções para o atendimento às empresas. A tradicional rede de ensino de idiomas, fundada em 1967, oferece agora o programa In Company. É uma forma de ajudar companhias na qualificação do seu pessoal, adquirindo a fluência na língua inglesa. A iniciativa conta com cursos regulares adaptados às necessidades de cada organização. Há a alternativa de utilizar de forma remota os laboratórios eletrônicos de línguas da escola, uma das marcas registradas desta rede. Não é preciso, portanto, deslocar-se para uma escola. O In Company permite o uso da estação de trabalho ou do computador de casa. Sem nenhum prejuízo à aprendizagem. O programa tem aulas individuais ou em turmas pequenas. A periodicidade também é flexível. Pode ser intensiva, semi-intensiva ou extensiva. Além disso, oferece o diferencial do conteúdo focado no segmento de atuação de cada empresa. Os colaboradores de uma instituição financeira, por exemplo, terão aulas muito diferentes do pessoal das empresas de tecnologia, infraestrutura ou varejo. Isto é pensado para ninguém perder tempo – empresa e funcionário. E também para que todos consigam os melhores resultados no desenvolvimento do trabalho. “Procuramos entender a cultura e as necessidades das empresas para oferecer uma solução adaptada e focada para cada organização”, afirma Alexandre Garcia, presidente do Grupo Cel.Lep. “Queremos que os colaboradores Os grupos desenvolvam o inglês de uma forde alunos ma prática, eficiente e integrada ao são sempre seu negócio, sem precisar se deslopequenos car para fora da organização.”

Tecnologia leva o laboratório até o aluno

As turmas serão formadas de forma homogênea, com alunos de nível de conhecimento semelhante da língua inglesa. Para aferir os resultados, a empresa terá à sua disposição um relatório de cada aluno, com monitoramento do seu departamento de Recursos Humanos. O mundo corporativo não é o único novo mercado no foco do Grupo Cel.Lep. Com 51 anos de vida, a empresa incorporou ao portfólio a MadCode, escola de programação e robótica voltada para crianças e adolescentes. O grupo passou a atuar também dentro das escolas regulares para auxiliar não só com cursos de inglês, mas com todo ensino bilíngue de outras disciplinas. Com a expertise da MadCode, oferece ainda o ECC (Everyone Can Code, o curso de programação estruturado pela Apple). As escolas passam a ter à sua disposição ferramentas para ensinar programação e até desenvolvimento de aplicativos. “O Cel.Lep tem uma tradição voltada à educação de alta qualidade, com inovação e excelência em tudo o que fazemos”, diz Garcia. “Temos soluções pioneiras e disruptivas, que ajudam a preparar nossos alunos para os desafios do século 21.” br.cellep.com

de z .2018 |

revCELLEP_TP35.indd 59

| 59

27/11/2018 12:54


g a r ag em P o r m a r i o c i cco n e

Carro inteligente Novo Honda Accord faz de tudo para evitar colisões e continuar na faixa O estilo, o espaço e a potência do Honda Accord já são mais do que conhecidos. Seu sucesso também. O modelo teve 11 milhões de unidades vendidas somente nos Estados Unidos. Ainda assim, o Accord, já em sua décima geração, não para de evoluir. Além da cara nova, o foco dessa renovação está em tecnologia de bordo e segurança. Os novos recursos do Accord não tiram a responsabilidade do motorista, mas facilitam muito a vida dele. A grande estrela é a tecnologia Sensing, que vem como equipamento de série. Ela funciona a partir de uma câmera posicionada na parte superior do para-brisas e um radar instalado na grade. O conjunto detecta objetos e faz o reconhecimento. Dessa maneira, o carro consegue evitar colisões antes da ação do motorista. Tal recurso aciona os freios ao detectar perigo iminente. A montadora alerta, no entanto, que nem todos os objetos podem ser detectados e que essa frenagem não é capaz de evitar

revGARAGEM_HONDA_TP35.indd 60

todo e qualquer acidente. Outro recurso possibilita estabelecer velocidade e distância constantes em relação ao veículo da frente. Pelo sistema ACC, é possível estabelecer uma velocidade cruzeiro entre 40 e 145 km/h. O novo Honda Accord também tem um sistema para detectar faixas de rodagem. O próprio veículo ajusta a direção e busca uma posição centralizada. Já disponível no Brasil, este sedã ainda tem controle de tração, monitoramento de pressão dos pneus e oito airbags. O motor 2.0 Turbo VTEC de 256 cavalos na versão Touring e a transmissão automática de dez velocidades garantem bom desempenho e muito prazer ao dirigir. Não é pouca coisa para um carro que até vai ajudá-lo a andar na linha. honda.com.br

Motor 2.0 turbo de 256 cavalos

Aceleração automática de 10 velocidades

tecnologia Honda Sensing

30/11/2018 12:30


TEGRA_1_ILBOSCO.indd 61

28/11/2018 14:35


h oteL P o r F r a n ço i s e T e r z i a n

Único e renovado O Unique chega aos 15 anos com upgrade na suíte presidencial e também no badalado bar e restaurante Skye Excepcional. Assim pode ser definida a vista de 180 graus que se tem a partir da nova - e singular suíte presidencial do Unique. A joia da hotelaria de São Paulo completa 15 anos com elegantes retrofits no exclusivo “apartamento” de 300 metros quadrados e também no badalado Skye Restaurante e Bar, instalado na cobertura do hotel. Com deck exclusivo e jacuzzi, a renovada suíte cuja diária custa R$ 25 mil/casal propicia experiências únicas e também deliciosas dúvidas. Por exemplo: tomar café da manhã no quarto ou no Skye, que tem acesso exclusivo por porta privativa? Depois do desjejum, mais uma dúvida: retornar ao “quarto” para o dolce far niente em uma banheira de mármore preto com amenities da marca italiana Acqua di Parma ou visitar a sala spa Caudalie para um tratamento revigorante de 50 minutos com cosméticos à base de sementes de uvas francesas? Todos os 94 apartamentos agora são abastecidos com a grife italiana de perfumaria. “Queremos oferecer uma experiência completa aos hóspedes”, diz a diretora-geral Melissa Fernandes. “Acqua di Parma é uma marca com muita sinergia com o Unique.” Por fora, as linhas arrojadas do Unique o tornaram conhecido como “melancia” e “navio”. De autoria do mestre Ruy Ohtake, elas o tornaram um marco da arquitetura da cidade. Não havia por que mudar. A rigor, as transformações deste cinco estrelas com ar de boutique ocorreram nas áreas internas. Para isso, foi convoncado o arquiteto João Armentano, um dos poucos a entender a essência desse endereço cativo da cidade. “Unique, como diz o próprio

62 |

revUNIQUE_TP35.indd 62

| dez .2 01 8

27/11/2018 13:01


Restaurante e Bar Skye: o mesmo chef Bassoleil criador de delícias, mas nova concepção estética

Suíte presidencial: 300 metros quadrados sob a tutela de João Armentano

nome, é único em todos os detalhes”, ele define. “Logo, sua nova suíte deverá ser única na América.” A proposta era mudar o visual sem perder o conceito e agregar novas tecnologias de sistemas e materiais. Na suíte, esse olhar resultou na unificação dos quartos existentes em um único espaço, ampliando-o e integrando-o aos demais. Seguindo esse conceito, no closet e banheiro, foram utilizados caixilhos de vidro no lugar de paredes. O uso do cimento queimado no piso trouxe modernidade ao espaço em contraponto aos painéis de madeira, que deixam o ambiente aconchegante. As paredes centrais foram revestidas pelo sofisticado mármore Nero Marquina. Singular também é o lustre Kelp, do artista holandês William Brand, que adorna a sala de jantar.

O Skye mantém a assinatura do chef Emmanuel Bassoleil, um dos festejados do país. Mas também passou por um elegante retrofit com direito a troca de todos os mobiliários e acessórios. O deck da piscina foi renovado. Um longo balcão, vindo de dentro para fora do bar, acomoda mais convidados. No lugar dos degraus, há agora uma rampa de acesso, um convite para contemplar a charmosa vista de São Paulo, numa área em que há muito verde. O deck privativo, no lado oposto da piscina, agora está climatizado. Ganhou ainda mais personalidade. O destaque fica por conta da grande parede monolítica de pedra. Fotogênica e totalmente “instagramável”. Não por acaso, os cliques do espaço nunca estiveram tão em alta na rede social.

de z .2018 |

revUNIQUE_TP35.indd 63

| 63

27/11/2018 13:01


Motor Biturbo 450 cv

Velocidade máxima 312 km/h

Aceleração 0 a 100 km/h: 4,1 s

Cada vez mais veloz O Porsche 911 Carrera GTS tem mais que potência. Representa um estilo de vida Sem meias palavras. Tudo o que já foi dito e escrito sobre o Porsche 911 Carrera GTS não é exagero. Você percebe isso já nas primeiras arrancadas. O motor biturbo de 450 cv é uma sinfonia esportiva, vibrante e rouco a cada impulso de aceleração. Um pé direito um pouco mais pesado já mostra por que esta versão leva Carrera na carroceria. A palavra espanhola para nomear as corridas deu nome a essa linha de Porsche em 1963. A partir daí, tornou-se sinônimo de velocidade. De fato, o modelo se tornou mais rápido que o seu antecessor. No teste realizado no histórico circuito de Nürburgring, na Floresta Negra, na Alemanha, com 73 curvas e 20,83 quilômetros de percurso, o GTS completou a volta em 7 minutos e 26 segundos. Ou seja, 12 segundos mais rápido que seu predecessor.

64 |

Entre os modos de direção, é possível acionar o novo Carrera e ter uma resposta ainda mais direta e rápida. Os tempos do câmbio ficam mais curtos, ideais para acelerar mais e mais. Já no modo Sport Plus, a esportividade é elevada à máxima potência, inclusive com o a função Launch Control para fazer uma partida como se fosse numa corrida de automóveis. Incrível como este Porsche te faz grudar no banco. Para não dizer que não falamos de tecnologia, os novos 911 Carrera GTS apresentam o Porsche Communication Management. O sistema tem comando de voz, tela sensível ao toque de 7 polegadas e navegação online. Porém, mais do que conectado ao smartphone ou até ao Apple Watch, ele está ligado à alma do fã da Porsche. Aquele tipo de fã saciável a mais de 300 km/h. porsche.com.br

| dez .2 01 8

revGARAGEM_PORSCHE_TP35.indd 64

28/11/2018 14:45


TEGRA_2_ILFARO.indd 65

28/11/2018 16:17


brands with content

A ciência da saúde e da beleza A teoria do raio laser já tem mais de um século e leva a assinatura de Albert Einstein. Mas foi só nos anos 1960 que ele virou um dispositivo e passou a ser aplicado na dermatologia e na estética Assim como os Raios-x e as micro-ondas (as mesmas do forno), o laser é um tipo de radiação eletromagnética, que transporta energia ao se propagar. Visível, monocromático, concentrado em pequenos feixes e muito potente, ele é um exemplo perfeito de como funcionam as descobertas da ciência: muitas vezes, décadas se passam entre a formulação de uma teoria, sua comprovação e sua colocação em prática. Pode-se dizer que o laser (sigla em inglês para “amplificação da luz por emissão estimulada da radiação”), como hipótese, foi inventado em 1917 pelo físico alemão Albert Einstein. No entanto, a construção de um dispositivo capaz de produzi-lo só veio em 1960, pelas mãos do engenheiro e físico americano Theodore Maiman. Rápida difusão Não demorou para que essa inovação, obtida a partir de gases, líquidos ou sólidos (como cristais e pedras), encontrasse uso na medicina. “A aplicação na dermatologia surgiu já nos anos 1960, quando médicos observaram que o laser de CO2 destruía a pele, estimulando a produção de colágeno para sua recuperação e, assim, provocando o efeito de rejuvenescimento”, explica André De Nardi, gerente de marketing da Skintec, que importa o equipamento utilizado pela Espaçolaser. A primeira versão especialmente desenvolvida para depilação, o laser de diodo, possui ação bem mais direcionada ao atingir apenas o pelo, não a pele. O mesmo princípio aparece no laser de alexandrita, pedra de coloração verde-oliva comum nos montes Urais, na Rússia, e na região mineira de Antônio Dias. Esse tipo de laser alcança ainda mais eficácia graças a seu comprimento de onda, que permite maior absorção pela melanina do pelo e, por consequência, maior potencial de destruição da matriz celular de pelos finos e claros. Sorte nossa Einstein acreditar que a imaginação é mais importante do que o conhecimento.

66 |

Saiba mais Veja as principais dúvidas que surgem quando você decide eliminar de vez os pelos inconvenientes

Como devo proceder se o local da aplicação do laser ficar mais sensível depois da sessão? Ana Carolina Cury Normalmente as regiões que recebem a aplicação de laser podem ficar mais sensíveis por alguns minutos, pois é uma resposta gerada pelo calor intenso que a pele recebe durante o tratamento. Caso você sinta um incômodo mais acentuado, converse com a gente. Temos algumas sugestões específicas para aliviar rapidamente o desconforto. Antes de terminar as sessões recomendadas, posso fazer outro tipo de depilação? Qual e por quê? Ana Carolina Cury Durante todo o tratamento a laser, não recomendamos o uso de métodos que removam os pelos pela raiz, a exemplo da cera, da linha ou da pinça. Isso porque, com essas técnicas, as raízes ficam sem os pelos e a condução do laser fica comprometida. Porém pode-se utilizar alternativas que removam apenas a superfície dos pelos, como a lâmina, o creme depilatório ou a máquina elétrica. Ana Carolina Cury Fisioterapeuta e gerente de treinamento da Espaçolaser

| dez .2 01 8

revESPACOLASER_MATERIA_TP35.indd 66

28/11/2018 14:47


O laser de alexandrita também retira algumas manchas e, pelo calor que confere à área, promove o estímulo de colágeno, rejuvenescendo a pele.

Ygor Moura, sócio-fundador da Espaçolaser

revESPACOLASER_MATERIA_TP35.indd 67

28/11/2018 14:47


Pissani.indd 68

28/11/2018 14:50


OS 5 sentidos

v i s ã o

|

a u d i ç ã o

|

o l f a t o

|

p a l a d a r

|

t a t o

74

86

70

80

92 de z .2018 |

revCINCOSENTIDOS_ABRE_TP35.indd 69

| 69

28/11/2018 15:03


v i s ã o Princesa às avessas Charlotte Casiraghi, neta de Grace Kelly e filha de Caroline de Mônaco, prefere a filosofia à vida mundana da nobreza POR DANIEL BENEVIDES

A avó foi uma das maiores estrelas de Hollywood; a mãe vivia cercada por paparazzi; a tia acumulava escândalos. Ela, no entanto, embora tenha herdado a beleza da família, não está nem aí. Trabalhou como modelo, sim. Tornou-se até embaixadora da marca Montblanc. Mas prefere estudar filosofia. Ou praticar equitação. E quando se espera que vá, enfim, assumir de vez o papel de princesa, ela some do principado. Seja como for, Charlotte Marie Casiraghi, aos 32 anos, mamãe recente de seu segundo filho (nascido em outubro, ainda não tinha nome anunciado um mês depois) é bonita demais para passar despercebida. Muito parecida, sim, com a mãe, Caroline de Mônaco. Só que com mais harmonia de traços. Sua boca carnuda tem desenho perfeito. O nariz, pequeno, instalado entre os lindos olhos verdes, se insinua com sutil petulância. Seu ar sério inspira determinação. Mas há um tanto de me­ lancolia em sua expressão. Isso a torna ainda mais misteriosa. E há ainda a classe: postura impecável, no andar discretamente sensual, sorriso na medida certa. Também está estampada em saber usar as palavras adequadas para cada ocasião, e ainda no humor sutil. Boa parte desses atributos foi herança da avó, Grace Kelly, unânime em sua capacidade de encantamento. Grace tinha entre seus maiores fãs Alfred Hitchcock, que a dirigiu em Janela Indiscreta, Disque M para Matar e Ladrão de Casaca, e Gary Grant, seu par neste último. O ator a considerava a maior atriz com quem atuou. Grace ganhou prêmios como o Oscar e o Globo de Ouro. O casamento com Rainier 3º, príncipe de Mônaco, encerrou sua carreira de atriz, mas alçou-a talvez

70 |

revVISAO_TP35.indd 70

com mais força na imaginação das pessoas, que sucumbiram ao conto de fadas. Paraíso fiscal, centro de um cassino luxuriante e da corrida mais charmosa da Fórmula 1, Mônaco é, entretanto, menor que o Central Park de Nova York. Ainda assim, exerce um fascínio permanente. Muito por conta das histórias de tragédia, glamour e reviravoltas amorosas da família Grimaldi – que permanece no poder desde 1297 (sim, há 721 anos!). Em 1982, Grace Kelly morreu num acidente de carro, aos 52 – a filha Stéphanie, adolescente, estava no banco de passageiros; houve mesmo especulações de que estaria dirigindo. O industrial e atleta Stefano Casiraghi, segundo marido de Caroline, e pai de três de seus filhos (ela ainda teria Alexandra, com Ernst de Hanover), morreu numa prova de lanchas offshore. Charlotte tinha só 4 anos; seu irmão mais velho, Andrea, 5; e Pierre, 2. Para evitar expô-los à mídia, Caroline mudou-se com os filhos para Saint-Rémy-de-Provence, na França. Numa coincidência sinistra, o atual marido de Charlotte, Dimitri Ras-

Seu traje de equitação em homenagem aos indígenas americanos causou polêmica

| dez .2 01 8

28/11/2018 15:05


de z .2018 |

revVISAO_TP35.indd 71

| 71

28/11/2018 15:05


sam, filho da atriz Carole Bouquet, teve o pai morto por overdose de remédios, quando ele também tinha de 3 para 4 anos. A beleza foi uma benção e uma maldição para a família. Quer dizer, Caroline e Charlotte dão a impressão de se incomodarem mais com o assédio da imprensa, apesar dos sorrisos e da costumeira boa disposição. Já Stéphanie fez a festa: foi modelo e cantora, teve filhos com dois guarda-costas e se casou com um trapezista português. Era chamada pela mãe de “minha pequena selvagem”. Apesar da diferença de temperamento, Charlotte se dá muito bem com a tia, assim como com seus primos americanos. Para aumentar a cota de escândalos da dinastia monegasca, o príncipe Albert 2o tem dois filhos ilegítimos, que não disputam o trono. Nos estudos, Charlotte mergulhou no denso universo de Espinoza e Nietzsche, formando-se em filosofia na Sorbonne. Segundo ela, o interesse surgiu da paixão pela leitura de poesia e romances, desde pequena. Chegou a escrever um prefácio para um livro da pensadora Julia Kristeva, ícone dos anos 1960 e 70, e uma obra em parceria com um de seus professores, Robert Maggiori. Archipel des Passions (Arquipélago de Paixões) chamou atenção não só pelo conteúdo, é claro, mas pela coautora. Presença frequente em revistas de fofocas ou de esporte – neste caso, em virtude do seu amor pela equitação amadora

72 |

revVISAO_TP35.indd 72

–, ela se viu lançada aos programas de TV de debate de ideias, tão comuns na França. E, tirando algumas obviedades, não se saiu mal. Charlotte defende seus pontos de vista com eloquência… apaixonada. É uma mulher independente, com personalidade forte e uma voz que já se mostrara sedutora: mais para o grave, ligeiramente rouca. Aqui não importa tanto sua frondosa árvore genealógica, ainda que essa sombra (fresca?) sempre esteja projetada em seu rosto. Aqui não importa tanto sua vida amorosa ou as roupas que usa. Importa que ela diga: “Tenho dúvidas o tempo inteiro!” e “a filosofia é algo que te deixa inquieta permanentemente”. Não lê Pascal ou Montaigne como autoajuda. Busca o questionamento, a compreensão do mundo e a fragilidade da existência. Diz que é necessário se deixar queimar pela luz intensa das paixões, que “é preciso

Três gerações de pura beleza: vovó Grace, mamãe Caroline e ela – uma das herdeiras “mais enigmáticas do mundo”, segundo a Forbes

| dez .2 01 8

28/11/2018 15:05


em dupla com seu professor na sorbonne, escreveu um livro

aceitar o risco de viver essa intensidade. Não há garantias, não estamos protegidos”. Para seu professor, a quem enviou uma carta, dois anos depois de findo o curso, com a ideia de escreverem juntos, o livro é uma tentativa de lutar contra a arrogância, contra quem vocifera, e ao mesmo tempo defender quem é tímido, quem hesita. Um pouco como a própria Charlotte. MUITOS NAMORADOS Tímida, hesitante. Sim, mas com uma beleza que provoca paixões intensas. As milhares de jovens que a seguem a imitam, com seu jeito ao mesmo tempo chique e despojado. Ela só usa roupas e acessórios das melhores marcas, mas sem ostentação, e costuma circular com os cabelos presos num rabo de cavalo e um cigarro na mão. Isso faz com que Charlotte seja uma das herdeiras mais desejadas e, segundo a Forbes, “mais enigmáticas” do mundo. Ela não age como estrela, é avessa a festas e eventos glamourosos. Teve vários namorados, mas sempre os escolheu pela cartilha dos Grimaldi: ricos, de boa origem, da sua idade, amigos das amigas e responsáveis.

FOTOs: getty, reprodução

revVISAO_TP35.indd 73

Capa da Vogue francesa em 2011 e descrita maldosamente pela Rolling Stone, como “uma princesa que parece saída de um vídeo de Robert Palmer”, fez par duradouro com Alex Dellal, dono de uma galeria de arte em Londres (e filho da ex-top model brasileira Andrea Dellal), e tem um filho, Raphael, com o ator francês Gad Elmaleh. Namorou o nobre austríaco Hubertus Herring e o também aristocrata italiano Lamberto de Felice. A única “mancha” na sua vida pública é uma polêmica numa disputa de equitação em 2012, em Paris. Suas roupas copiavam o modelo indígena americano, o que foi considerado “apropriação cultural”. De resto, sempre foi tida como “das mais bem-vestidas do mundo”. Uma de suas grandes amigas é a estilista Stella McCartney, filha de Paul. Charlotte a entrevistou para a revista Above. Como jornalista, ainda escreveu para o inglês Independent - uma de suas matérias era sobre uma coleção de sapatos-fetiche desenhada por David Lynch. Chegou perto de montar uma revista própria, com a amiga franco-brasileira Alexia Niedinsky. Seria algo no esquema da Tatler, sobre atualidades, cultura e sociedade. O projeto não vingou. E daí? Logo mais Charlotte será notícia de novo. Como sempre.

de z .2018 |

| 73

28/11/2018 15:05


74 |

revAUDICAO_TP35.indd 74

| dez .2 01 8

28/11/2018 15:07


AU DIç ÃO He and the Devil Da lama à fama, a trajetória trágica de Robert Johnson, o gênio do blues morto há 80 anos POR ROBERTO MUGGIATI

O mundo de Robert Johnson está mergulhado no mito. É o filho em busca do pai desconhecido; é o errante eternamente com o pé na estrada, deixando mulher e filhos para trás; é o homem que fez um pacto com o demônio. Viveu apenas 27 anos, gravou apenas 29 canções – pouco para os padrões do blues. Robert Johnson nunca foi famoso em vida. Morto em 1938, ficou ignorado até os anos 1960, quando de repente se tornou um verdadeiro deus para estrelas do rock. Como foi que um músico modesto de raízes rurais conseguiu criar uma obra tão universal e duradoura? Só há uma explicação: seu gênio musical. O blues – nascido às margens lamacentas dos grandes rios do sul dos Estados Unidos – foi feito para exorcizar as dores sociais e existenciais de toda uma raça. Robert Johnson, mais do que qualquer outro, viveu na carne todos os sofrimentos que cantou. Filho de um segundo casamento da mãe, abandonada pelo primeiro marido, Robert Leroy Johnson, desde o dia em que nasceu, 8 de maio de 1911, é jogado de casa em casa. Um novo “pai” – terceiro ou quarto marido da mãe – o matricula numa escola de comércio. Robert usa o pretexto de uma catarata num olho para largar a escola. Começa a fazer música no berimbau de boca (Jew’s harp), passa para a harmônica e finalmente se encontra no violão. Os templos do blues são as juke joints, biroscas fétidas onde a única coisa de qualidade é a música.

Depois do anoitecer o menino sai às escondidas de casa e vai à juke de Robinsonville onde tocavam seus ídolos, Son House e Willie Brown, que lhe ensinam alguns truques. Perfeccionista na música, Johnson também o era na aparência e fazia sucesso com as mulheres. Um companheiro de viagem descreve: “A gente estava na estrada muito tempo, sem dinheiro. Sem um lugar decente para passar a noite e, muitas vezes até sem comida, tocando em ruas poeirentas ou em cabarés sujos. Eu me olhava no espelho e me sentia um cão e lá estava Robert, todo limpo e elegante. Parecia ter saído da igreja...” Mal completa 18 anos, Johnson se casa com Virginia Travis, de 16. Em pouco tempo, a moça engravida, mas morre no parto, com o bebê. Cansado de Robinsonville, Robert parte à procura do pai, Noah. A busca o leva a sua cidade natal, Hazlehurst, Mississippi, um paraíso no meio da Depressão. Um programa governamental de construção de estradas leva dinheiro à região e as juke joints vivem cheias. Johnson encontra um novo mentor, Ike Zimmerman, blueseiro que gostava de tocar à noite em cemitérios. Em Hazelhurst ele não encontra o pai, mas uma mulher, Calletta “Calie” Williams, dez anos mais velha, veterana de dois casamentos, com três filhos. Casam-se em 1931, mas Johnson faz sigilo.

REI DO DELTA Johnson no traço de Robert Crumb (à esquerda) e na capa de um disco da Columbia

de z .2018 |

revAUDICAO_TP35.indd 75

| 75

28/11/2018 15:07


bluseiro elegante Uma das raras fotos do cantor e compositor. Sempre na estica

Prefere dar a impressão de que é sustentado por uma dona mais velha que o adora e faz qualquer coisa por ele. Cacoetes do blues. Um dia ele reencontra os antigos mestres Son House e Willie Brown. Os dois ficam espantados com o que ouvem. O garoto promissor se transformou num bluesman de mão cheia, com uma magia incomparável. Surge daí a hipótese do pacto com o demônio, reforçada por certas canções de Johnson: “Preaching Blues (Up Jumped the Devil)”, “Hellhound on My Trail” e “Me and The Devil Blues”. Desde os anos 1920 as grandes gravadoras trabalhavam os race records (eufemismo para “discos de negros”). Com uma faixa de, no máximo, três minutos de cada lado, custavam 75 centavos e eram vendidos nos bairros negros ou pelo correio nas zonas rurais. Já em 1923, o primeiro disco de Bessie Smith chegava a vender 800

76 |

revAUDICAO_TP35.indd 76

| dez .2 01 8

mil cópias. Caçadores de talento corriam o país em busca de cantores de blues para abastecer o mercado. Eles bobearam no caso de Robert Johnson: ele só faz sua primeira gravação aos 25 anos, em 23 de novembro de 1936, num estúdio improvisado num quarto de hotel em San Antonio, Texas. UÍSQUE BATIZADO Sentam o cantor diante de um microfone com uma garrafa de uísque de milho a seus pés. O técnico explica que o músico deveria começar quando a luz azul fosse acesa; três minutos depois, luz vermelha, era hora de parar. O artista tinha de compactar naqueles três minutos o máximo de técnica e emoção. Johnson tocava balançando a cabeça e por isso sua voz se afastava às vezes do microfone. Mas as deficiências técnicas seriam superadas por sua arte. Já na primeira sessão, ele fez seu primeiro hit, “Terraplane Blues”. O Terraplane era um carro sedã acessível à classe média entre 1933 e 38. Vinte anos antes de entrar para a mitologia do rock’ n’ roll, o automóvel é usado por Johnson como um bem-humorado símile sexual: “Me sinto tão solitário, você ouve meu lamento/Mas quem andou dirigindo meu Terraplane para você desde que eu viajei?/Eu disse que ia acender seus faróis, mulher, sua buzina nem mesmo

FOTOs: reprodução

28/11/2018 15:07


Victorinox.indd 77

28/11/2018 15:10


toca./Alguém andou arriando minha bateria nessa máquina./Deu um curto nessa ligação, ora veja só, garota, é bem lá embaixo./Vou levantar o seu capô, mulher, e acho que vou checar o seu óleo...” Johnson já tinha largado sua coroa Calletta e era de novo um franco-atirador com as mulheres. Assolado pelo Wanderlust do blues, se torna um rambler, um andarilho – e bota o pé na estrada mais uma vez. Seu carma demoníaco o leva de volta às juke joints de Robinsonville. Comenta o musicólogo Stephen C. LaVere, especialista em Johnson: “Era uma ocupação perigosa ser músico naqueles dias. Os outros músicos odiavam quem tocava melhor que eles. As mulheres o odiavam se ele botava o olho em outras mulheres. E os homens odiavam o músico que era adorado pelas mulheres. Um músico de talento tinha de ter cuidado, especialmente se não sabia com que tipo de mulher estava se envolvendo. E, àquela altura da vida, Robert era famoso por esse tipo de confusão.” Johnson tocava aos sábados numa espelunca de Greenwood, Mississippi, chamada Three Forks (até aí a forquilha do demo...) e caiu nas graças da mulher do dono. Na noite de 13 de agosto de 1938, o garçom serviu a ele uma garrafa de uísque já aberta. O gaitista Sonny Boy Williamson, macaco velho,

78 |

revAUDICAO_TP35.indd 78

| dez .2 01 8

sempre um errante A saga de Johnson em uma HQ de Robert Crumb, seu admirador

jogou a garrafa ao chão, antes que Johnson bebesse. Irritado, Johnson pediu a Sonny Boy que nunca mais tocasse na sua bebida. Veio uma segunda garrafa, também com o lacre aberto, e Johnson emborcou. O dono da birosca, o marido ciumento, tinha colocado estricnina no uísque. Mesmo envenenado, Johnson varou a noite cantando. Foi depois arrastado para a casa de um amigo, onde morreu de pneumonia no dia 16 de agosto. Bizarramente, inaugurava o 27 Club – a lista de cantores mortos aos 27 anos, que inclui, entre outros, Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse. Trinta anos mais tarde, Robert Johnson seria cultuado e gravado por estrelas do rock como Rolling Stones (“Love in Vain”), Cream (“Cross Road Blues”), Steve Miller Band (“Come On In My Kitchen”) e Steve Ray Vaughan (“Sweet Home Chicago”). Meio século depois de morto, conquistou um disco de ouro e um Grammy com o álbum Robert Johnson/The Complete Recordings, que contém, além das 29 canções lançadas, 12 alternate takes. É um universo poético que fala de perdas e danos – mais emocionais do que materiais –, de vida e morte, medo e magia, sexo e religião. E, principalmente, de amor e desamor. Uma verdadeira fusão da Divina Comédia e da Comédia Humana ao som do blues.

FOTOs: reprodução

28/11/2018 15:09


Glem_MGPB_BR.indd 79

28/11/2018 19:05


PA L A DA R Nomes impróprios O batismo de algumas receitas nada (ou quase nada) tem a ver com a origem delas

Por Silvio Lancellotti

Não foi alguém de tal batismo que inventou as pommes Anna, as lascas amanteigadas e enfornadas de batata que nasceram do talento de um certo Adolphe Dugléré (18051884), o chef da família Rothschild, já bilionária naqueles idos. O Ali Baba au rum, do qual a preguiça e o correr dos anos tiraram o Ali, não nasceu na indigitada caverna dos Quarenta Ladrões. O hot dog obviamente não leva carne de cachorro. Seu criador apenas se inspirou na caricatura de um bassezinho. O molho madeira não leva pedaços de pau, mas somente o vinho fortificado na Ilha de Portugal. Não foi Gengis Kahn o idealizador do steak tartare. Muito menos o filet Wellington surgiu à mesa do general britânico que derrotou Napoleão Bonaparte. Na longa história da gastronomia existe uma infinidade de formulações cujos nomes brotaram de homenagens, nem sempre justificáveis, ou de acidentes, habitualmente curiosos. Este texto se propõe a contar as verdades que de fato pairam por trás de alquimias eternizadas por nomes que basicamente nada têm a ver com as suas pressupostas loca-

80 |

revPALADAR3_TP35.indd 80

lizações geográficas. Muito pelo contrário, aliás. Eis aqueles que reuni para apreciação do caríssimo leitor.

O pilafi, em primeiro plano: origem do arroz à grega

ARROZ À GREGA Na tradição da culinária dos helênicos se sobressai uma única alquimia fundamentada na gramínea de origem na Ásia e para as suas plagas levada, provavelmente, pelas tropas macedônias do bravo Alexandre (356 aC-323 aC). Chama-se pilafi e contém, além dos grãos, cubinhos de cenoura, ervilhas, milho-doce, eventualmente brotinhos de brócolis, pedacinhos de presunto ou de linguiça. Por aqui, sabe-se lá quem ou quando, em algum restaurante de raízes internacionalizadas, se trocaram quase todos os ingredientes essenciais por pimentão e/ou uvas-passas.

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:06


de z .2018 |

revPALADAR3_TP35.indd 81

| 81

27/11/2018 15:06


BATATA-INGLESA Os ibéricos e os britânicos reivindicam a descoberta das tuberosas, nativas da América do Sul. Efetivamente foi o espanhol Francisco Pizarro (1476-1541) quem deparou com a maravilha, nos entornos de 1530, uma iguaria que os incas idolatravam. Mas coube ao inglês Francis Drake (1540-1596) a sua disseminação na Europa. Por volta de 1570, numa das suas investidas ao Novo Mundo, Drake e os seus corsários, empacados por causa de uma calmaria, se alojaram em Cartagena, na Colômbia, durante várias e várias semanas. E Malcolm Marsh, o imediato de Drake, se engraçou com Potato, a filha de um cacique local. Assim que o vento despontou e os britânicos começaram a preparar a saída, o cacique deteve Marsh, anunciou que não o deixaria partir. O engenhoso Drake, então, encenou uma festa e embebedou a tribo. Enquanto todos dormiam, sub-repticiamente escondeu-lhes as armas e principiou a viagem de fuga, em botes, rumo aos seus navios. Só que um dos nativos despertou e notificou os companheiros, que se lançaram no encalço dos britânicos. Mas como, e sem armas? Sumariamente os atacaram com as tuberosas. Claro, Drake carregou o que pôde aos seus navios. Já em Londres, a rainha Elizabeth 1ª ofereceu um banquete aos corsários. Drake ensinou os cozinheiros da monarca uma maneira de preparar as tais novidades. Elizabeth adorou. E perguntou como se chamava a maravilha. Obviamente, ninguém sabia. Drake, porém, num lance de bom humor, olhou para Marsh e informou: “It is Potato, madam!”.

82 |

TAGLIARINI À PARISIENSE Pode ser fettuccine, ou spaghetti, ou taglierini, com o E no lugar do A, termos que de fato existem no idioma da Itália. Sobre a tal da receita parisiense, todavia, há apenas uma legítima, razoavelmente assemelhada, que lá tem o nome de bersagliera: a massa num molho cremoso com ervilhas e dadinhos de presunto. Foi invenção de um general, Alessandro La Màrmora (1799-1865), o comandante das tropas vencedoras da Guerra da Crimeia, em 1855. Para o banquete de comemoração do triunfo da Turquia sobre a Rússia, os otomanos aliados aos italianos, aos franceses e aos ingleses, La Màrmora cuidou pessoalmente do menu, com os ingredientes ao seu alcance. Algum dos franceses, de volta à sua pátria, rebatizou a delícia de parisiènne. E as cantinas cá do Brasil acreditaram nesse improvável.

| dez .2 01 8

revPALADAR3_TP35.indd 82

27/11/2018 15:06


La Pastina.indd 83

27/11/2018 15:07


FILÉ À PARMIGGIANA O parmegiana, ou parmiggiana, qualquer que seja a sua grafia, é um prataço opulento e delicioso, convenhamos. Mas não existe em Parma e nem em qualquer outra cidade da Velha Bota. Diz a lenda que a mamma de um cozinheiro do Spadoni, requisitado restaurante paulistano dos anos 1930 e 40, fazia em casa um filé à milanesa coberto pelas sobras do molho de tomates da macarronada. Despejava ainda, em cima, o que havia restado do parmesão ralado no domingo. Do Spadoni a bela iguaria se transportou às cantinas que desandaram a proliferar a partir da década de 1950. Só que, em vez do parmesão, em certos casos se usou a mozzarella. Sem problemas. Apenas o seu nome, convenhamos, deveria mudar para mozzarelliana.

PÃO FRANCÊS Também apelidado de cacetinho, na Bahia e no Rio Grande do Sul. De carioquinha, no Ceará. Ou de massa grossa, no Maranhão. De careca, no Pará. De jacó, em Sergipe. Antes da sua introdução, no Brasil, o pão leve e de casca crocante, imitação da baguete gaulesa, tinha o miolo escuro e o aspecto de madeira. Visitas de gente da elite à Europa, no início do século 20, provocaram uma paixão arrebatadora pelo modelo francês. Claro que o resultado ficou diferente. Não importa. Os de lá que já comeram o pão francês por aqui adoraram e levaram consigo o conceito da coisa. Tanto que em lugares até de Paris é possível se encontrar o pãozinho brasileiro – como se diz por lá.

84 |

revPALADAR3_TP35.indd 84

FILÉ À CUBANA Na realidade, um mero PF, ou Prato Feito, que ostenta um bifão à milanesa, uma banana idem, arroz, batatinha palha, alface e, eventualmente, uma rodela de abacaxi. Nada, convenhamos, de particularmente caribenho, o filé à cubana data das décadas de 1920 ou de 30, quando Fidel Castro (1926-2016) não passava de um pivete. Diz a lenda que a combinação nasceu em Porto Alegre, com o chefe de cozinha Geraldo Zeferino, pai de José Roberto Zeferino, hoje no comando do restaurante do Grêmio, que ainda incluiu grãos de milho e ervilhas na mistura.

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:05


Copacabana_Simples.indd 85

27/11/2018 15:09


86 |

revOLFATO2_TP35.indd 86

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:10


O L FATO Cheiro de cinema Pipoca? Por enquanto. O futuro são os filmes aromatizados. Logo mais no shopping mais próximo Por Celso Arnaldo Araujo

Digite “cheiro de cinema” no Google, e à sua frente, na tela, vai estourar uma única palavra: pipoca. Tente agora “smell movie theaters” e surgirá “popcorn”. Sim, na era global dos multicomplexos, em que as pessoas adentram a sala de projeção segurando um megabalde de milho em 3D a preço de trufas brancas, esse aroma fake de manteiga pipocada é o que, grosso modo, nos identifica com a, vá lá, sétima arte. Mas estudos recentes sugerem que dos próprios cinemaníacos e de seus dedos lambuzados emanam aromas de vários matizes orgânicos, dependendo do gênero do filme. Sim, nossas emoções têm cheiro – da abertura das cortinas (quando os cinemas tinham cortinas) ao The End. Com relação aos seres humanos, a excentricidade das pesquisas que provam qualquer coisa também campeia – os cientistas têm interesse em virtualmente tudo, mesmo naquilo que não faça a menor diferença para nossa existência na face deste planeta esquisito por si próprio. Que tal um estudo sobre cheiro de cinema? Não, a pipoca não entra aí.

FOTOs: istock, reprodução

revOLFATO2_TP35.indd 87

Estamos falando de aromas exalados pelas pessoas que vão ao cinema. Não propriamente os cheiros humanos clássicos – como suor e eventuais perfumes cosméticos. Mas emissões celulares que combinam éteres, ésteres, compostos aromáticos nitrogenados, mercaptanas, indóis, ácidos inorgânicos, aldeídos, cetonas, enxofre. Hoje, o cheiro de cinema – além da indefectível pipoca de balde – é mais cinematográfico do que nunca diante dos tais 48 quadros por segundo e na vigência de nossas legítimas emoções. Não são, simplesmente, ondas de testosterona. Isso seria simplório demais – como um filme com The Rock, por exemplo. As nuanças aromáticas, diante de uma tela, são mais delicadas – sugere estudo alemão publicado na revista científica Nature. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram emissões químicas sutis ao longo de

de z .2018 |

| 87

27/11/2018 15:10


Cientistas estudaram o cheiro da plateia em 108 sessões de cinema

108 sessões de 16 filmes diferentes. E concluíram que o ar das salas de cinema tende a misturar “assinaturas” químicas baseadas em como a plateia reage ao que se passa na tela. Na verdade, todos os organismos vivos, de plantas a bactérias, emitem diversos elementos químicos nos habitats que frequentam – e alguns deles oriundos de sensações internas. O bafo humano pode denunciar desde uma língua saburrosa a uma hérnia de hiato. Mas os aromatologistas já identificaram nada menos que 872 compostos voláteis no hálito humano – e só uma fração deles é produzido internamente. É o caso dos odores cinematográficos. FUMAÇA DE CHURRASCO A sala de cinema jamais havia sido pesquisada como ambiente aromático antes do estudo dos cientistas germânicos publicados na Nature. Os achados sugerem que cenas cômicas e de suspense, como parece lógico, produzem as mais fortes emissões olfativas, pela respiração e através da pele. O estudo destaca o segundo episódio da série Jogos Vorazes – durante o qual os pesquisadores coletaram no ar níveis crescentes de gás carbônico e isopreno, um composto orgânico tóxico que é utilizado na fabricação da borracha. O pico dessas emissões, durante o citado filme, foi na cena em que o vestido de Katniss (Jennifer Lawrence) pega fogo, antes da batalha final. Mas por que diabos um organismo humano exala esse tipo de elemento químico? Bem, picos de CO2 provavelmente correspondem a picos de excitação – enquanto os saltos na produção do tal de isopreno podem ser causados pelo ato de segurar a respiração e contrair os músculos. Você sabe como e quando – é provável que alguma cena da franquia Jurassic Park tenha produzido esses instintos selvagens. Claro, tais odores não podem ser captados a “nariz nu” nem por quem os produz, quanto mais na plateia ao

88 |

revOLFATO2_TP35.indd 88

O Regresso: o filme mais malcheiroso da história

redor – com exceção daqueles supostos degustadores de vinho que detectam aroma de estrebaria ou xixi de gato num Lambrusco safra 99. Como destaca o estudo, seres humanos são muito bons em cheirar coisas. Entretidos com o vestido em chamas de Jennifer Lawrence, no entanto, possivelmente passarão batido pelos seus próprios odores cinematográficos, só captáveis por técnicas científicas. Mas, afinal, para que servirão ou serviriam tais achados? Bem, o destaque dado à alta resposta olfativa aos filmes de suspense sugere, por exemplo, que o estado de ansiedade de um paciente deve ser levado em conta em futuros estudos sobre o hálito humano. Os cientistas garantem que os aromas de certas emoções diante de uma tela – como o legítimo terror de raiz na cena em que Dustin Hoffman tem

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:10


Gulfstream.indd 89

27/11/2018 15:13


A queima do vestido de Jennifer Lawrence em Jogos Vorazes: o pico da emissão de fragrâncias durante um filme

os dentes perfurados a frio pelo nazista criado por Laurence Olivier em Maratona da Morte – são inspirados em experiências pessoais. Naquele instante, o espectador sentiu, é bem provável, instintivamente, aquele cheiro de queimado que o motorzinho do dentista nos traz, junto com o pânico. Enquanto robôs já instalam pontes de safena em corações doentes, o velho motorzinho ainda nos aterroriza nas mãos sádicas do dentista, como no tempo de nossos dentes de leite. Saiba que O Regresso, com Leonardo DiCaprio estripado pelas garras de um urso, é o filme mais malcheiroso da história – diz a tal pesquisa publicada na Nature. Mesmo com um balde de pipoca no colo, lambuzada por uma manteiga que Erick Jacquin não usaria para cozinhar uma unha de galinha, o filme inspira odores intrínsecos, de nojo e ojeriza. Os pesquisadores da Nature também se dizem impressionados com a uniformização popcorniana das salas dos multicomplexos. Jamais um odor foi tão onipresente em ambientes separados por milhares de quilômetros. Sim, nos cinemas da Tanzânia a pipoca também impera – e há uma razão econômica para isso: ela rende mais do que o ingresso, em qualquer parte do mundo. Não era o caso do drops de anis, no escurinho do cinema.

90 |

revOLFATO2_TP35.indd 90

Hoje os aromas são outros – e podem até ser capitalizados pelos empresários da exibição cinematográfica. Nas chamadas “salas premium”, com poltronas que mexem e remexem e óculos 4D, o cheiro deve ser a próxima atração, em filmes bem escolhidos. O grupo suíço Givaudan, que lida com fragrâncias e sabores, trabalha em uma pesquisa sobre o modo como o olfato pode melhorar a experiência de assistir a um filme. Em futuro próximo, certos filmes poderão ter algumas cenas “aromatizadas” – com um intervalo de cinco a dez minutos entre uma e outra, para não haver interferência de um perfume de mulher com a fumaça de um churrasco. Os dispositivos que elaboram o cheiro deverão ser instalados nos braços das poltronas, trazendo cartuchos com substâncias químicas, misturadas de acordo com o odor que se deseja produzir. E já há diversas fragrâncias à disposição dos diretores: florestas, pântanos, suor. Ou, quem sabe, o perfume que o personagem estiver usando – de preferência com Al Pacino em cena.

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:11


Casa Grande.indd 91

27/11/2018 15:14


TATo Diversões eletrônicas Como os vinis e os óculos do vovô, os fliperamas são a última novidade entre os hipsters

Por RONALDO BRESSANE

O tempo é uma convenção tão elástica que a novidade mais quente pode ser a velharia mais esquecida. Vejam os fliperamas. Eu tinha uns 12 anos quando assisti pela primeira vez a Tommy, a ópera rock da banda inglesa The Who, dirigida por Ken Russell e estrelada por Ann Margret, Roger Daltrey, Elton John, Keith Moon, Eric Clapton e Tina Turner. Como tudo o que acontecia no Brasil durante a ditadura, o filme chegou atrasado por aqui – eu o vi em 1982, sete anos depois do lançamento. Mas fiquei siderado com a odisseia do garoto que nasceu cego, surdo, mudo e bobo, e que, graças ao fliperama – ou pinball –, se conectava com o mundo ao redor, tornando-se um ídolo, para no fim largar tudo em nome da liberdade total. Na minha cabeça adolescente, a síntese funcionava assim: fliperama era um veículo para a liberdade. Muita gente também pensava desse jeito. E, como eu, se viciou nas diversões eletrônicas. Febre nos anos 1980, as lojas de diversões eletrônicas, ou simplesmente fliperamas, eram ambientes onde as máquinas eletromecânicas se ofereciam a adolescentes espinhentos, num clima meio clandestino (muitos também eram botecos, em alguns prostitutas e traficantes batiam ponto). Ou seja, uma ida rápida ao fliperama era uma viagem ao underground, onde você tinha que ficar esperto para não ser roubado por trombadinhas, poderia fazer amizade com uma dama da noite, levar para casa um estupefaciente barato (tipo cola ou esmalte, no máximo um estimulante ou maconha, ou só filava um cigarro), e topava com seres esquisitos como você, que se relacionavam quase sexualmente com as máquinas. Tinha um jeito de você dar umas porradas no console pra fazer com que a bolinha desse um twist maluco quase orgástico quando funcionava, sem contar a posi-

92 |

revTATO2_TP35.indd 92

ção de jogo, montado sobre o pinball. Mas lembre-se: se você batia na máquina sem a manha e a fazia sair do chão, o jogo terminava inesperadamente, e às vezes a máquina quebrava – era o famoso tilt (do inglês inclinar, elevar, mover rispidamente). No auge dos fliperamas, eu economizava o dinheiro do ônibus pra gastar em fichas e mais fichas nas máquinas (ficha, meu caro millennial, é um tipo de moeda específico para ser usado em coisas velhas como fliperamas, caça-níqueis ou telefones públicos). Quando a fissura batia e a grana miava, usava a limalha de fuligem que se formava no escapamento do carro do meu pai e as moldava em fichas falsas. Eram horas antes e depois da escola, sem almoçar, tudo para atingir o objetivo de bater um recorde na Cavaleiro Negro, minha máquina favorita (guardo em uma das minhas gavetinhas mais afetivas a voz de robô dizendo “Sou o Cavaleiro Negro, estou à procura de um desafiiiiiiio”.) Hoje vejo meu filho adolescente gastar horas no GTA com certa inveja – mas também certo desdém. Eu o invejo por poder passar tanto tempo com um jogo zilhões de vezes mais sofisticado do que aquele que eu praticava. Por outro lado, ele nunca saberá a graça de sentir aquela bolinha prateada quase caindo no buraco desviar para um dos flippers, levar um toco e, depois de bater em duas ou três barreiras piscantes e ziguezaguear por algumas chicanas, ser catapultada para um prêmio no topo do painel – que

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:15


NBoruptium exped ex et ex et dolo dese

revTATO2_TP35.indd 93

27/11/2018 15:15


A taito japonesa chegou a fabricar máquinas no Brasil

Paulo Coelho: o mago é velho fã das diversões eletrônicas

poderia me dar umas cinco moedas, ou duas bolas grátis e me garantir mais alguns minutos de fuga do trabalho. E aqui aproveito para diferenciar os fliperamas dos arcades, que vieram logo depois e mais tarde foram substituídos pelos videogames. Os fliperamas, uma derivação das bagatelles – mesas mecânicas de jogos que existiam desde a França do século 18 –, não são eletrônicos, a não ser pelas inovações trazidas pela empresa japonesa Taito na década de 1970, povoando as máquinas de luzes e LEDs com placares. Basicamente um fliperama – assim chamado por conta dos dois flippers que o jogador move, apertando os botões laterais, para repor a bola ao jogo – lida com as imprevisibilidades das esferas zanzando numa superfície inclinada povoada por ímãs e alavancas, enquanto acende luzes e toca sons eletrônicos de baixa resolução; uma boa conversa com a lei da gravidade, claro, é essencial para o sucesso do pinball wizard. Pinballs e videogames Os jogos eram abrasileirados: a Cavaleiro Negro, maior sucesso nacional, era produzida pela Taito do Brasil, uma subsidiária da Taito japonesa (criada pelo judeu ucraniano Michael Kogan). Entretanto, os militares criaram uma bizarra reserva de mercado para “estimular a indústria nacional” (não funcionou, como sabemos). As máquinas, no começo importadas, passaram a ser fabricadas no Brasil. No entanto, não eram inventadas aqui – daí a reserva de mercado virar salvo-conduto para estimular a pirataria mais chinela. A Taito do Brasil copiava jogos de outras empresas americanas e europeias, passava um pano e ficava por isso mesmo – a Black Knight nacional falava um português com sotaque do Kentucky. Mes-

94 |

revTATO2_TP35.indd 94

mo com toda a cara de falsificação, os fliperamas do centro da cidade de São Paulo viviam lotados. Nos anos 1980, os pinballs passaram a ser substituídos pelos arcades, que são videogames mais toscos (a capacidade de processamento de um game desses é parecida com a de uma calculadora). Contudo, muitos jogos marcaram época e tiveram sucesso mundial, como o Space Invaders – tão popular no Japão que mexeu com a economia do país: houve uma crise motivada pela falta de moedas no mercado. Pop até a medula (sempre encurvada, pois alguns adolescentes ficavam corcundas de tanto jogar), os fliperamas, além do supracitado The Who, ganharam a atenção de um gênio da música brasileira: Arrigo Barnabé. Em sua ópera pop Clara Crocodilo, de 1980, o homem que criou o samba dodecafônico brincou com sintetizadores atonais na canção “Diversões Eletrônicas”, que transformava os fliperamas paulistanos em cenários de uma história em quadrinhos: “Só você não viu/ Mas ela entrou, entrou com tudo/ Naquele antro, naquele antro sujo/ Você nunca imaginou, mas eu vi/ No luminoso estava escrito:/ 'Diversões Eletrônicas'/ Era um balcão de bar de fórmica vermelha/ e você ali, naquele balcão/ - de quê?/ De fórmica vermelha/ Chorando, embriagado, pedia:/ 'Garçom, mais um/ gin tônica'/ Mas ele te avisou:/ 'Você já bebeu muito, já bebeu demais/ Vai pra casa, moleque'/ E você foi, cambaleando/ Até... até o telefone/ Telefone público.../ Blim, blim, blim/ E discou, discou, discou/ Novamente o mesmo número.../ número/ No fliperama, ela entregava toda sua grana/ - Pra quem?/ Prum boy, prum boyzinho sacana/ Ex-motorista de autorama/ Agora viciado nessas máquinas de corrida.../ Viciado!/ Que tinha ganho fama pela sua perícia/ no volante/

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:15


Marakuthai.indd 95

28/11/2018 15:57


Para nostálgicos do mundo a ficha ainda não caiu: eles permanecem fiéis aos flippers

E pelo tratamento violento que dispensava/ Às suas amantes/ Depois, quando clareou/ e eles foram pro hotel/ ela viu um bêbado jogado no chão/ E sorriu perversa.” Game over? Curiosamente, ao contrário do que aconteceu com os videogames, os fliperamas estão conhecendo uma impressionante revalorização. Uma máquina Cavaleiro Negro toda restaurada não sai por menos de R$ 7 mil; há quem pague R$ 20 mil para reformar uma Vortex. Já um arcade Space Invaders não tem o mesmo apelo – porque os games podem ser emulados em qualquer PC ou Mac. Um fliperama, além do mais, é uma máquina supercool – combina lindamente com seu soundsystem Technics, sua biblioteca de livros de papel, suas luminárias de luz indireta – e também com sua barba comprida. Assim como um arcade é visto como um CD – mídia que tinha vantagens em relação à mídia anterior, mas não o mesmo apelo –, o fliperama hoje tem o charme de um disco de vinil. Hipsters de 20 a 50 anos ganham um ar sexy retrô ao ostentar fliperamas no Ins-

96 |

revTATO2_TP35.indd 96

| dez .2 01 8

tagram. Sem esconder a minha própria inveja por seus brinquedos, conversei com dois desses hipsters para compreender esse estranha fixação pelas máquinas Taito: o escritor Michel Laub e o livreiro Ricardo Lombardi. Ambos, aliás, dividem o mesmo técnico – o divino Spina, um ex-funcionário da Taito do Brasil, e hoje o mago que conserta muitos dos fliperamas que sobraram no país. Algumas coisas só ele sabe. Por que jogar fliperama na meia-idade? “É como comprar uma edição do Julio Verne que você leu quando criança”, diz Lombardi. “Certamente algo a ver com a próstata”, brinca Laub. Que graça tem jogar um troço tão primitivo? “O pinball é um jogo mecânico em que o acaso é muito importante”, explica Lombardi. “Você pode conhecer as estratégias do jogo para pontuar – mas a bolinha percorre o campo de jogo como um átomo descontrolado. Os melhores jogadores perdem partidas. Nesse sentido, parece com o futebol. Já o videogame permite que o jogador

FOTOs: getty

27/11/2018 15:18


Varanda Gril.indd 97

27/11/2018 15:20


difícil mesmo é achar técnicos para consertar fliperamas O escritor Michel Laub tem uma máquina em casa

aprenda a estratégia: depois de um tempo, o jogo não traz mais nenhum segredo, e fica chato”, analisa. “Fliperama e videogame são bem diferentes”, entende Laub. “Fliperama tem um fator físico, uma aleatoriedade vinda da topografia da máquina (e da gravidade, que controla tudo), tornando impossível você dominar o jogo de modo tal que nunca possa perder como um amador. Cada partida é começar do zero, em vários aspectos, inclusive porque quem escolhe o desafio de cada jogo é você (dá para jogar por pontos, por ‘créditos’, por ambos, por algo específico que você inventa etc.). E tem a estética da máquina, a memória afetiva, o perrengue que é a manutenção – e que faz você valorizar o raro funcionamento perfeito dela.” FICHAS FALSAS Laub, que passou boa parte da infância em Porto Alegre em função dos fliperamas – roubava chumbo das rodas dos carros para fabricar fichas falsas –, é um apaixonado pelas máquinas da Taito dos anos 1980. “A Taito produziu uns 25 modelos de pinball naquela época, depois quebrou. Por isso são tão raros. Os pinballs da geração seguinte já começam a incorporar elementos do videogame, com roteiros de jogo ditados por um computador. E os da geração anterior são eletromecânicos, com menos recursos. Máquinas como a minha [Vortex, de 1983] são um elo perdido entre o mundo analógico e o digital. Gosto também das Sure Shot, Shark e Hawkman. Clássicos tipo Cavaleiro Negro e Fire Action são lindos, mas acho os jogos mais primitivos”, con-

98 |

revTATO2_TP35.indd 98

| dez .2 01 8

sidera. E, a quem estiver interessado, o autor de Diário da Queda lembra: esses brinquedos quebram direto. “Tem muito pouca gente que sabe fazer essa manutenção. Só sei de três caras no Brasil todo, e um deles morreu ano passado”, lamenta o escritor. Lombardi, dono do sebo Desculpe a Poeira, em São Paulo, e portanto acostumado a fazer diariamente viagens espaço-temporais, recorda que frequentar fliperamas nos anos 1980 era uma experiência meio marginal – adolescentes fumavam, trombadinhas se divertiam. “Era um point de rebeldia da classe média paulistana”, ri. Hoje, ter um fliperama é como ter um carro antigo. “Dá trabalho e é preciso ter paciência, procurar peças, encontrar um técnico com tempo.” A aleatoriedade, o improviso e a delicadeza dessas máquinas envenenadas explicam um pouco do seu fascínio, que, de certa forma, metaforiza a própria vida. “Se minha vida fosse um fliperama, eu teria que lidar com todos os tilts. Nesse sentido, já é”, brinca Lombardi. “Minha vida já foi como um fliperama, em sentido não metafórico”, diz Laub. “Mas, pelo menos em alguns momentos, e de novo sem metáfora, ainda é.” Em 1985, depois de 25 mil máquinas produzidas, a Taito do Brasil fechou. Videogames como Atari e Odyssey e computadores clones de americanos como TK2000 e CP 400 já eram mais populares – embora o Brasil precisasse esperar até que Fernando Collor, sim, elle mesmo, terminasse em 1992 com a inútil reserva de mercado para computadores, quando o mercado nacional passou a trocar clones e piratas pela importação das máquinas originais gringas. Após um momento de desvalorização, em que os fliperamas foram sucateados, canibalizados ou mesmo destruídos, na virada dos anos 2010 o hipsterismo viu nessas máquinas uma ilha de charme. E então o que parecia ser game over virou um novíssimo start.

FOTO: compania das letras

27/11/2018 15:19


Som Maior.indd 99

28/11/2018 15:58


American whiskey Dos cowboys aos roqueiros, o bourbon, bebida batizada (no bom sentido) por um pastor, se tornou um símbolo da América profunda

100 |

| dez .2 01 8

revADEGABOURBON3_TP35.indd 100

27/11/2018 15:21


A D EG A P o r M au ro M a rc e lo A lv e s

Antes mesmo de construir suas casas e fazendas, os pioneiros irlandeses e escoceses que chegavam à Costa Leste dos Estados Unidos erguiam uma tenda e nela instalavam seus alambiques. Nascia o bourbon, feito com um cereal apresentado a eles pelos índios: o milho. A água calcária do Kentucky seria perfeita para a nova bebida, sucesso entre os homens rudes daquele tempo. Aos poucos, o bourbon ganharia o Sul e o Oeste americano para chegar aos dias de hoje, em todo o mundo, com centenas de milhões de garrafas vendidas por ano e títulos nobres em lançamentos especiais, vintages, a preços inebriantes. Para as novas gerações, parte desse atrativo veio de roqueiros como os Rolling Stones, Janis Joplin, Led Zeppelin e Lemmy, notórios fãs de bourbon. Mas por que bourbon em francês, se é um whisky na origem escocesa ou whiskey, na grafia dos irlandeses? Há um pastor protestante nessa história, Elijah Craig, que alambicava seu próprio álcool de milho no condado de Bourbon, no Kentucky. O lugar recebeu esse nome em homenagem a Luís 16, quinto rei da Casa de Bourbon e um aliado dos colonos americanos em sua luta pela independência contra os ingleses. Diz-se que o bom pastor, feliz com a qualidade de sua bebida, batizou-a – no bom sentido – como “bourbon”. A propósito, o condado continua com esse nome e sua cidade-sede chama-se Paris, mas... ali ninguém bebe seu mais famoso produto. Pelo menos não em público, pois os mórmons, maioria da população, decretam a lei seca no condado. Na época do tolerante pastor Craig, em meados do século 18, o único jeito de estocar e transportar o destilado era em velhas barricas de carvalho

Jim Beam capricha nas edições especiais

de z .2018 |

revADEGABOURBON3_TP35.indd 101

| 101

27/11/2018 15:21


trazidas na mudança para o Novo Mundo. Para acabar com maus odores e micróbios, o interior de cada uma delas era rapidamente queimado, gerando o gosto defumado característico do bourbon, em um processo hoje chamado de charring. Essa queima transforma o amido da madeira numa fina camada caramelizada que cobre o interior das barricas. Os barris se tornaram o grande veículo de propagação da bebida por outras áreas do imenso território - o primeiro bourbon vendido em garrafas só foi comercializado em 1870, o Old Forester - e seus maiores garotos-propaganda eram os cowboys. Charles (Chuck) Cowdery, autor de Bourbon, Strange: Surprising Stories of American Whiskey, conta de forma saborosa que “o cowboy, ao chegar numa cidade e com dinheiro no bolso, tinha três opções para se distrair: o saloon , que oferecia

Gary Cooper tomava, feliz, bourbons mais simples. E não o Willett Pot Still

O defumado vem da queima rápida do interior do barril antes de inserir a bebida

102 |

whisky, mulheres e jogo; o salão de dança, que oferecia whisky, mulheres e música; e o bordel, especializado em whisky e mulheres”. O destilado se tornou tão presente que, ao longo da Guerra de Secessão (1861 e 1865), era comum uma cidade ser arrasada, mas a destilaria local permanecer intacta. É o que se pode ver ainda hoje em Frankfort, a capital do Kentucky. Ela foi tomada e retomada quatro vezes por nortistas e sulistas, mas a destilaria Buffalo Trace continua tão inteira e preservada como antes. Os tempos correram e o american whiskey seguiu trotando, com exceção do período da famigerada lei seca (1920 a 1933), quando poucas destilarias sobreviveram produzindo o “bourbon terapêutico” receitado por médicos: uma dose a cada dez dias, três vezes ao mês... bem, o que poderia curar? Em 1964, o congresso americano regulamentou sua fabricação e hoje a maioria dos bourbons é elaborada com uma mistura (mashbill) de três cereais: milho, centeio e malte de cevada. O milho tem de participar com um mínimo de 51% na conta final (leia mais no quadro). O Kentucky continua sendo a maior referência da bebida, sobretudo por causa de suas grandes reservas de água de enorme pureza, filtrada pelos sedimentos calcários que, desde o pastor Craig, abençoa os alambiques do estado. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, não há um atestado de origem indicando que o bourbon legítimo só é produzido no Kentucky. Ele pode ser feito em qualquer estado americano, segundo os termos do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), apesar de o kentuckian mais tradicional torcer o nariz e a boca para isso. Envelhecer ou não? Para o envelhecimento do bourbon são empregadas, por lei, barricas de carvalho-branco (Quercus alba) novas, de 180 litros, os barrels. Já vimos que passam por uma queima interior. Ela pode, à escolha do master distiller, ter quatro graus diferen-

| dez .2 01 8

revADEGABOURBON3_TP35.indd 102

27/11/2018 15:21


Um trio da pesada: Robert Plant, Jimmy Page e... Jack Daniel

tes: quanto mais forte, maior será a intensidade de aroma e sabor que o destilado irá adquirir. É comum associar as sensações ao cheirar e beber com lembranças de baunilha, caramelo e frutas secas, características legadas pela madeira, que também irá imprimir a cor âmbar ao líquido. Mas há uma polêmica envolvendo o envelhecimento do bourbon: é comum considerar que quanto mais tempo nas barricas, melhor será. No entanto, Chris Morris, da Brown-Forman, pensa diferente: “A idade não é tudo no bourbon. Alguns a usam para concorrer com os scotchs, e isso não é bom. O que identifica o bourbon é a utilização de barricas novas e o fato de que nosso clima é bem mais quente. Entre nós, não é a idade que define a maturação. É o sabor”. E quem é Chris Morris? Apenas o cara responsável pelas 120 milhões de garrafas anuais de Jack Daniel's, o bourbon mais vendido no mundo, produzido no Tennessee. Ele ainda é o master distiller de um bourbon maravilhoso, o Woodford Reserve, e perpetua o pioneiro Old Forester, estes feitos no Kentucky. E, já que o assunto é marca, vamos adiante com uma lista das mais populares e também das mais caras. A gigante Brown-Forman, além dos citados, apresenta um enorme portfólio liderado pelo onipresente Jack Daniel's Old No. 7, seguido por outros de maior pompa: Single Barrel, Gentleman

Jack Double Mellowed, Jack Daniel’s No. 27 Gold e o espetacular Sinatra Select, que homenageia o cantor, um dos mais encorpados fãs do bourbon. A VEZ DE NEW ORLEANS A destilaria Jim Beam é outra gigante do setor, igualmente com produtos de diferentes estilos, inclusive os “saborizados” (mel e canela, por exemplo, também cometidos pela Brown-Forman). Outras marcas de boa presença no mercado americano e em outros países, inclusive no Brasil, são Wild Turkey, Evan Williams, Four Roses, Mark Twain e Maker’s Mark. Há também o Elijah Craig, em honra ao pastor alambiqueiro.

de z .2018 |

revADEGABOURBON3_TP35.indd 103

| 103

27/11/2018 15:21


Agora, uma lista especial para adquirir em sua próxima viagem aos EUA, com alguns bourbons de exceção, que podem chegar a algumas centenas de dólares a garrafa: Blanton’s Single Barrel, George T. Stagg, Colonel E.H. Taylor Jr., Elmer T. Lee Single Barrel, Eagle Rare Single Barrel e Eagle Rare 17YO, todos da Buffalo Trace, de Frankfort, Kentucky; Pappy Van Winkle’s Family Reserve 20 Year, também de Frankfort; W.L. Weller 12 Year, outro de Frankfort, assim como o A.H. Hirsch Reserve; Noah’s Mill, de Bardstown, Kentucky; Hudson Baby Bourbon Whiskey, de Gardner, Nova York; Widow Jane 10 Year, de Rosendale, NY e Jefferson’s Ocean Aged at Sea, de Crestwood, Kentucky (o nome indica que os barris deram várias voltas ao mundo dentro de um barco). O bourbon é cultuado na maioria dos estados americanos (Portland, no Oregon, e Chicago destilam bons produtos) mas há uma cidade onde seu

nome está intimamente associado a festas e sobretudo a um louco carnaval: New Orleans, com sua famosíssima Bourbon Street. A cidade foi uma importante via de difusão do bourbon com seu porto, mas o estado da Louisiana, onde se situa, é mais conhecido pela produção de rum. Última dose: você percebeu que há um bourbon chamado Mark Twain, homenageando o genial escritor e frasista americano. Uma das suas: “Se eu não puder beber bourbon e fumar no paraíso, eu não vou!”.

Os ajudantes de palco de Keith Richards

ENTENDA OS RÓTULOS Bourbon Whiskey Produzido nos EUA sem exceder 80% (160 proof) em volume de álcool a partir de um mosto fermentado com pelo menos 51% de milho, estocado com um máximo de 62,5% em volume de álcool em barricas de carvalho carbonizadas. Proof A porcentagem de álcool indicada em alguns rótulos de forma dupla (exemplo: 80 proof é um bourbon com 40% de álcool). Botled in Bond Produto com regras bem específicas: só pode ser produzido em um determinado período de destilação (janeirojunho ou julho-dezembro), nas mãos

104 |

de um só destilador em uma destilaria determinada, com período de envelhecimento de pelo menos quatro anos.

mistura de dois ou mais straight whiskies, desde que elaborados no mesmo estado da federação.

Sour Mash Técnica que usa o mosto de uma destilação anterior na nova fermentação. O sour mash impede que leveduras selvagens entrem no novo mosto, provocando infecções.

Wheated Bourbon com um teor de trigo mais elevado do que o percentual normal, sendo que o grão principal continua a ser o milho. Fica mais suave, menos picante.

High Rye Um bourbon com um nível de centeio mais elevado que o normal, o que o deixa com sabor mais intenso, “apimentado”.

Single Barrel Envelhecido em barris únicos, permitindo que o sabor ganhe características específicas daquela madeira, com boa variação de sabor em relação aos demais.

Straight Bourbon Whiskey Deve ser estocado por pelo menos dois anos, podendo ser mais. Pode conter

Non-Distiller Producers (NDP) Empresas que compram o bourbon em destilarias e fazem suas próprias misturas.

| dez .2 01 8

revADEGABOURBON3_TP35.indd 104

27/11/2018 15:21


Alluier.indd 105

27/11/2018 15:22


n egรณ ci os

Paulo e Ygor: empreendedores em tempo integral

106 |

| dez .2 01 8

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 106

30/11/2018 12:47


Ou como Paulo Morais e Ygor Moura montaram a Espaçolaser, a maior rede de depilação a laser do mundo, com mais de 400 unidades no Brasil

Por LUIZ MACIEL retratos tuca reinés

de z .2018 |

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 107

| 107

30/11/2018 12:48


Paulo e Ygor: de olho em toda a América do Sul

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 108

30/11/2018 12:48


Um formou-se em direito. O outro, em Medicina. mas, a rigor, a maior vocação da dupla era empreender

Um deles é cuiabano. O outro, paulistano. Um formouse em medicina. O outro, em direito. Juntos, eles comandam a Espaçolaser. É simplesmente a maior rede de depilação a laser do planeta, com mais de 400 unidades es­­palhadas no Brasil. Esta história começa com o cuiabano Ygor Moura. Ele estava destinado a ser médico radiologista. Vários familiares haviam abraçado essa especialidade, inclusive seu pai, Dario, que além de clinicar era professor da matéria na Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá. Ygor passou em medicina na Federal de Alfenas (MG) e fez o primeiro ano de especialização em radiologia. Mas em seguida anunciou um desvio de rota: decidiu ser dermatologista. Não porque essa área lhe interessasse como pesquisador, mas pelas oportunidades que enxergava – como empreendedor – nesse ramo da medicina. “As pessoas querem melhorar a aparência, mas não sabem como”, disse ao pai. “Quero investir nisso, na estética.” Já o caminho de Paulo Morais para chegar ao mesmo objetivo foi mais tortuoso. Filho mais velho de Guilherme e Rosália, o paulistano Paulo só pensava em se formar o mais rápido possível para ajudar a família. Fez o colegial, atual ensino médio, em técnica agrícola na Unesp de Jaboticabal, interior paulista – onde até o alojamento e as refeições eram gratuitos. Em seguida, prestou vestibular para direito. Passou na USP e voltou para São Paulo. “Depois de formado tudo vai melhorar”, prometeu ao pai, a quem ajudava no pequeno escritório de contabilidade da família. Paulo, hoje com 50 anos, tinha ainda outro projeto na cabeça quando entrou na tradicional faculdade do largo São Francisco: a política. Ele diz que virou líder estudantil durante o curso em Jaboticabal e que atuou bastante na cam-

panha das Diretas Já, entre 1983-84. “Fiquei empolgado com aquilo, mas o dia a dia no escritório prevaleceu e deixei pra lá o projeto político”, afirma. “Ainda bem que desisti.” Ygor, cinco anos mais novo que Paulo, só veio para São Paulo em 2000, mas já com um plano de voo definido: terminar a residência em dermatologia e, em seguida, comprar uma moderna máquina de depilação a laser, ainda pouco conhecida no Brasil, para montar uma clínica que pu­desse oferecer esse serviço por um valor quatro a cinco vezes menor do que o cobrado pelos especialistas que faziam o procedimento manualmente, fio a fio. O problema era o preço do equipamento novo, importado dos Estados Unidos: cerca de R$ 400 mil. “Encontrei uma máquina seminova por R$ 180 mil e fechei negócio”, recorda-se. “Dei os R$ 100 mil que tinha recebido de herança do meu avô e parcelei o restante.” Com ela, montou uma clínica no bairro paulistano de Moema que oferecia vários serviços. A depilação a laser, porém, era o grande diferencial.

de z .2018 |

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 109

| 109

30/11/2018 12:48


Paulo teve de empresa de coleta de lixo a restaurantes antes de achar o caminho

A essa altura, Paulo Morais já estava com escritório próprio de advocacia e até conseguira deslanchar na carreira depois de ganhar uma bolada numa causa tributária que um anjo lhe fez cair no colo. Pela primeira vez na vida tinha dinheiro sobrando, o que despertou nele a veia empreendedora. “Investi em todo tipo de negócio: empresa de coleta de lixo, editora de revistas, restaurantes e automação comercial”, enumera. “Ganhava dinheiro numa coisa, perdia noutra e continuava procurando um negócio que realmente bombasse para eu poder me dedicar só a ele e fechar o escritório.” A tacada perfeita viria no dia 4 de novembro de 2004, quando os caminhos de Ygor e Paulo se cruzaram por intermédio de um amigo deste, Tito Vieira Pinto. Tito havia feito uma consulta na clínica de Moema de Ygor e se impressionara com o entusiasmo do dermatologista de Cuiabá. “A

110 |

clínica ia bem, mas eu estava louco para encontrar um sócio e abrir novas unidades”, relata Ygor. “Já havia convidado várias pessoas, mas só o Tito se mostrou interessado mesmo. Ele ficou de voltar no dia seguinte com o advogado dele, que era o Paulo. Não acreditei muito, mas eles vieram.” Não só vieram, como os três que tinham acabado de se conhecer fecharam negócio em questão de horas. Decidiram montar uma segunda unidade no Shopping Morumbi, que a princípio dividiria a depiladora com a clínica de Moema, até que o faturamento permitisse a compra de um novo equipamento. A Espaçolaser nasceu aí. Merecia celebração, mas eles não foram comemorar o acordo em um restaurante, não abriram um vinho, nem sequer tomaram umas cervejas. Workaholics assumidos, passaram o dia todo e os seguintes cuidando de detalhes da nova sociedade. Passados 14 anos, Ygor e Paulo mantêm o controle da Espaçolaser – Tito permanece com uma parte menor –, que se transformou também na maior rede mundial de depilação a laser. Das mais de 400 unidades espalhadas pelo país, metade é de propriedade da empresa, metade operada por franquias. A dupla de comandantes continua focadíssima, dando expediente até as 19 horas na sede em São Paulo e permanecendo online nos fins de semana. A diferença agora é que eles passam os dias de (quase) folga com a família e amigos nas respectivas casas de veraneio: Ygor com a namorada na praia de Maresias; Paulo com a mulher e filhos (ele tem quatro) em Aldeia da Serra. A meta sonhada em 2004, de

| dez .2 01 8

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 110

30/11/2018 12:48


chegar a dez unidades, foi substituída por objetivos bem mais ambiciosos, à medida que a Espaçolaser passou a receber novos investimentos. O FIM DO PADRÃO TONY RAMOS O primeiro empurrão fundamental veio com Xuxa Meneghel, em 2015. A apresentadora, que não havia renovado o contrato com a Globo, estava à procura de um empreendimento para investir e achou que a Espaçolaser poderia ser uma boa alternativa. Ficou mais interessada ainda quando experimentou a depilação e gostou do resultado. A participação de Xuxa abriu uma nova frente na empresa, a de franquias, que em dois anos dobraria o total de unidades da rede. Além disso, ela virou a embaixadora da marca e passou a ter a sua imagem estampada em todas as clínicas. Xuxa e seu sócio, José Carlos Semenzato, passaram a deter 50% da rede de franqueados, enquanto Ygor e Paulo dividiam os 50% restantes. Um ano depois, a Espaçolaser receberia novo impulso, com a oferta de compra de 30% da companhia por parte do fundo de investimentos americano L Catterton, que tem US$ 15 bilhões de patrimônio pelo mundo. Os sócios brasileiros toparam, tendo em vista a possibilidade de expansão com esse dinheiro novo. A meta agora é dobrar o número de clínicas no Brasil e abrir 90 unidades em Buenos Aires e cidades vizinhas (a primeira foi inaugurada agora em setembro, na avenida Santa Fé na capital argentina).

Os planos não param por aí: a partir do segundo semestre de 2019, uma nova rede da empresa, a Estudio Face, oferecerá também outros tratamentos estéticos, como botox, preenchimento, luz pulsada para rosto, fio de sustentação e fotona – um revolucionário processo de rejuvenescimento da pele, inclusive da virilha, com aplicação de laser. “Nossa ideia é dar um padrão de qualidade a esses tratamentos, da mesma forma como fizemos com a depilação”, revela Ygor. “E trazer para as nossas clínicas o público masculino, que não conhece direito o nosso trabalho e por isso não sabe como pode se beneficiar dele.” Os homens representam apenas 6% da clientela da Espaçolaser, muito pouco em relação ao índice de 30% que já é regis-

O sonho de ygor era comprar a primeira máquina a laser. Só conseguiu com a herança do avô

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 111

30/11/2018 12:48


revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 112

30/11/2018 12:48


a espaçolaser abriu em setembro a primeira filial na argentina. o plano é inaugurar 90 unidades por lá

trado em vários países da Europa e nos EUA. Mas o que pode levar os homens a procurarem a depilação a laser? “Há uma tendência crescente, principalmente entre os jovens, de se livrar de pelos em várias regiões do corpo, que só trazem incômodo”, argumenta Ygor. “Esqueça o padrão Tony Ramos: o homem peludo deixou de ser atraente para as mulheres, basta perguntar a elas. Muitos homens na Europa, por exemplo, depilam o peito e os ombros por sugestão das mulheres e namoradas.” O CHILE NO CAMINHO Para quebrar o preconceito, a Espaçolaser já inaugurou uma unidade mais voltada para o público masculino na região da avenida Paulista, em São Paulo, e pretende abrir outras. Enquanto as mulheres costumam depilar buço, axilas, virilha e meia perna, os homens podem se interessar pela depilação do peito, costas, cabeça, pescoço e orelhas. Paulo, por exemplo, depilou as orelhas (“Nunca mais vou me preocupar com aqueles pelinhos traiçoeiros”) e Ygor, o contorno da barba, que costuma usar bem aparada (“Os pelos do pescoço, que viviam inflamando, não me incomodam mais”). Pessoas calvas que se preocupam em raspar os fios que restaram nas bordas da cabeça também podem, com a depilação a laser, dispensar de vez a lâmina. O sucesso da Espaçolaser – que detém 75% do mercado de depilação a laser no país e emprega 4,5 mil pessoas, 90% delas mulheres – foi construído a partir do convencimento das clientes do dinheiro que elas poderiam poupar ao longo do tempo. O pacote completo oferecido pela clínica (buço, axilas, virilha e meia perna) sai por pouco mais de R$ 3 mil, parcelados em até 18 vezes sem juros. Para os homens há planos para cada região do corpo, calculados conforme a área a ser depilada, mas em geral mais baratos. “Esse foi o nosso pulo do gato: mostrar que o custo de uma depilação definitiva equi-

Ygor e Paulo vestem aramis. Ygor usa relógio TAG-Heuer; Paulo, Rolex. make-UP Wanda Pavanello. produção Vivianne Ahumada

revPERFIL_ESPACOLASER2_TP35.indd 113

vale ao valor que a pessoa gastaria em dois anos de depilação tradicional”, diz Paulo. “Se fizer regularmente depilação com cera, por exemplo, uma mulher vai gastar de R$ 80 mil a R$ 100 mil ao longo da vida. É muito mais caro!” Na depilação a laser feita por máquina, cada aplicação elimina os pelos de uma área equivalente à de uma moeda de 50 centavos. Por isso, para completar o procedimento no pacote feminino, são necessárias de seis a dez sessões, com intervalo de no mínimo 45 dias entre uma e outra. Encerrado o trabalho, porém, vale para a vida toda. “Em alguns casos podem surgir pelos novos na área depilada, mas sempre poucos e fáceis de controlar”, lembra Ygor. “Já os pelos antigos são eliminados completamente.” Outros planos para o futuro? A dupla já definiu seu roteiro. “Depois da Argentina iremos para o Chile e outros países da América do Sul, porque não há nada igual ao que fazemos aqui no resto do continente. E o que fazemos é democratizar a beleza”, afirma Ygor, meio brincando, para não parecer pretensioso, mas levando o que diz muito a sério.

de z .2018 |

| 113

30/11/2018 12:48


entr e v ista

QUANTO MENOR,

MELHOR

Alexandre Frankel revolucionou o mercado de imóveis paulistano com apartamentos de luxo que chegam a ter somente 10 metros quadrados – mas oferecem o máximo em serviços Por LUIZ MACIEL retratos tuca reinés

CEO da Vitacon tem muito mais o estilo de um estagiário do que o de um presidente de incorporadora com dezenas de lançamentos de sucesso em São Paulo. A lexandre Lafer Frankel é do tipo que dispensa gravata e muitas outras formalidades. Acabou de completar 41 anos, mas aparenta ter menos de 30, graças às sessões diárias de exercícios e, em especial, às caminhadas e pedaladas entre a casa e a sede da empresa, ambas na região da Faria Lima. No dia da entrevista, ele se viu obrigado a quebrar a rotina porque São Paulo amanheceu com chuva. “Tive de pedir um Uber”, lamentou, referindose ao fato de não ter vindo trabalhar de bicicleta. “Mas, se no final do dia o tempo estiver bom, volto pedalando.” Para ter sempre uma bicicleta à mão, Frankel mantém pelo menos duas delas em casa e outras duas na empresa. A Vitacon, criada por ele em 2009, é famosa por construir prédios com apartamentos enxutos, minúsculos até, mas com áreas comuns cheias de equipamentos e serviços. Ao decidir por esse nicho de mercado, até então desprezado pelo setor da construção, ele apostou que os moradores não iriam se incomodar com a falta de espaço dentro de casa, pois ganhariam

114 |

vários motivos para passar mais tempo do lado de fora. Poderiam frequentar uma academia bacana, trabalhar num escritório compartilhado, reservar cozinha e sala de refeições para receber amigos, curtir uma happy hour no restaurante e um longo etc. Pela rapidez com que vendeu as quase 8 mil unidades dos 52 prédios que lançou – desses, 43 já entregues –, não há dúvida de que ganhou a aposta. A grande inspiração de Frankel ao investir nos apartamentos compactos foi sua própria experiência pessoal na altura dos 20 anos. “Eu não aguentava mais passar tanto tempo no trânsito”, conta, lembrando os tempos em que morava com os pais no Morumbi, estudava engenharia em São Caetano do Sul e trabalhava no centro de São Paulo. “Na primeira oportunidade, fui morar num apê de uns 30 metros quadrados e perto do trabalho, para poder ir a pé.” O dono da Vitacon continuou nesse endereço acanhado mesmo quando se casou com Fernanda, mãe de seus filhos Maya, de 10 anos, e Benny, de 8. “Quando nasceu a Maya, mudamos para um apartamento maiorzinho. E depois, com a chegada do Benny, para a casa onde vivo hoje, que deve ter uns duzentos e poucos metros quadrados”, diz. O tino para os negócios imobiliários Frankel herdou do pai, Abrão Frankel, que era dono da Reid Construções. “Eu o acompanhava no trabalho desde os 5 anos e fiz a primeira venda de um apartamento aos 13”, conta, orgulhoso. Mas ele não queria replicar o pai e montar uma incorporadora tradicional. Para isso, bastaria ter continuado vendendo imóveis com o velho Abrão. Apaixonado por inovação e tecnologia, Frankel já havia trabalhado em uma corretora online e aberto uma bem-sucedida empresa de games, a Banana, que lhe rendeu um bom dinheiro ao ser vendida. Aos 32 anos estava inquieto, à procura de uma boa ideia para abrir uma nova empresa com a marca da inovação. Foi quando veio o estalo de criar a Vitacon – e ele juntou a fome com a vontade de comer.

| dez .2 01 8

revFRANKEL2_TP35.indd 114

27/11/2018 15:27


de z .2018 |

revFRANKEL2_TP35.indd 115

| 115

27/11/2018 15:27


THE PRESIDENT: O que o levou a investir na construção de apartamentos compactos? Deixe eu contar como começou a história. Sou de uma família judaica que sempre teve uma pegada de empreendedorismo muito forte. Meus avós vieram da Polônia e da Rússia, fugindo da guerra, determinados a vencer aqui também. Sou o mais velho de três irmãos e fui muito influenciado por essa tradição de trabalhar duro. Com 5 anos eu já ia com meu pai à empresa de construção dele. Também ia muito às lojas de meus avós. Um tinha confecção no Brás e o outro uma loja de móveis no Cambuci. Comecei a vender imóveis com 12, 13 anos. Às vezes, um corretor faltava e eu atendia os clientes. Você encaminhava a conversa e aí alguém maior de idade fechava o negócio? Lembro-me de ter mostrado o apartamento e depois ver a venda ser concretizada. Teve até o caso de um cliente que deu o carro como parte de pagamento e eu esperei alguém chegar para pegar o carro, porque eu não podia dirigir. Com 17 anos, entrei no curso de engenharia e fiz meu primeiro estágio numa construtora.

116 |

“Mudei para perto do trabalho e comeceia andar a pé ou de bicicleta. Ganhei quatro horas por dia!”

Era a empresa do seu pai? Não, eu queria ter uma experiência diferente. Saí distribuindo currículos nas obras. Em uma delas, pertinho de casa, um cara me chamou. Fiquei lá um tempo contando ferro, aquelas coisas de estagiário, e saí para trabalhar na primeira corretora online do país. Isso foi em 1995, 1996. Estava começando aquele boom da internet. Puta experiência. A corretora fez sucesso, acabou vendida para o Santander e eu saí para abrir a minha empresa. O fundador da corretora foi meu investidor-anjo. A empresa se chamava Banana e era especializada em jogos digitais. O mais famoso foi o Show do Milhão, para o Sílvio Santos. Fizemos também para a Globo, a GM, a Kellogg’s. Passei muitas noites lá no Projac,

na Globo, para terminar os jogos e dormia numas espeluncas no centro do Rio. Foi divertido. Uns três anos depois eu vendi por perto de US$ 5 milhões, peguei minha parte e saí. Fui trabalhar com meu pai de novo. Não quis fazer um ano sabático? Não. Fiquei uns cinco anos trabalhando com meu pai. Muito incomodado, mas aprendendo muito. Era uma construtora tradicional, que fazia loteamentos. Hoje nem está mais ativa. Nesse meio-tempo, casei e fui morar num apartamento de mais ou menos 30 metros quadrados. O mais importante pra mim era a localização. Na época em que eu trabalhava na corretora chegava a passar até cinco horas no trânsito. Não aguentava mais aquilo. Eu morava no Morumbi, estudava na [Faculdade de Engenharia] Mauá, que fica em São Caetano, e trabalhava no centro de São Paulo. Quando mudei para esse apartamento, comecei a ir a pé ou de bicicleta ao trabalho. Ganhei quatro horas por dia! Usava o carro só no fim de semana? É, fui deixando o carro aos poucos. E a ideia de fundar de novo uma empresa também foi amadurecendo. Abri a Vitacon

| dez .2 01 8

revFRANKEL2_TP35.indd 116

27/11/2018 15:27


em 2009. Éramos só eu e um estagiário numa salinha na avenida Faria Lima. Na época, 400 mil pessoas trabalhavam na Vila Olímpia e só 2 mil moravam no bairro. Lançamos apartamentos de 40 metros quadrados na região e foi um puta sucesso. Qual foi o pulo do gato? Apartamentos pequenos já existiam aos montes em São Paulo... Mas o que havia eram quitinetes, em prédios decadentes, sem estrutura, ou então flats, que haviam virado um mico também. Já os nossos eram apartamentos bacanas, com uma pegada de lifestyle, em prédios com academia, piscina com raia. Eram apartamentos de luxo, só que pequenos, e passamos a chamá-los de estúdios. Diziam que eu era louco por lançar aquilo, mas vendi tudo em uma semana. Esse primeiro prédio tinha 200 apartamentos e 100 conjuntos comerciais. Seu pai apoiou a ideia de investir em apês compactos? Não só me apoiou como veio me ajudar quando estava com aquela montanha de contratos para assinar. Virou meu sócio. Meus dois irmãos, que moravam em Nova York, também entraram na sociedade dois anos depois.

“os apartamentos foram encolhendo para 38 metros quadrados, depois 35, 32, 30, 22. Chegamos a 10”

E, enquanto a empresa crescia, os estúdios encolhiam... Sim, foram encolhendo gradativamente, para 38 metros quadrados, depois 35, 32, 30, 22. Em 2014 fizemos estúdios de 18 metros, e no ano passado, de 10 metros quadrados. Vocês também fornecem a decoração? No início só sugeríamos, mas hoje a gente entrega o apartamento já com mobília inteligente, se o cliente quiser. Também fomos oferecendo mais soluções. Ninguém precisa ter lavadora de roupa, por exemplo, porque existe a lavanderia do prédio. Se o cara quiser receber amigos para jantar, ele pode usar uma sala bacana no térreo. Se precisar de cozinha, também vai ter uma lá. Pode trabalhar num escritório com-

partilhado. Ou seja, o morador de um apartamento de 10 metros quadrados pode dispor de uma área comum enorme, onde encontra tudo de que precisa. Para aumentar a área comum você eliminou as garagens? No início foi um desafio, porque era obrigatório equipar os prédios com garagens aqui em São Paulo. Nosso primeiro edifício, de 300 unidades, tinha 300 vagas de carro. Depois descobrimos uma brecha na lei e passamos a construir garagens só para metade dos condôminos. Até que a nova Lei do Zoneamento, de 2014, derrubou a exigência de garagem. Assim, acrescentamos mais serviços, como um depósito refrigerado para receber compras online e um ponto de compartilhamento de carros. O morador paga a mais por esses serviços? Muitos são de graça, como o acesso ao coworking e o depósito para receber compras. Outros, como o compartilhamento de carros e de bicicletas, oferecidos por parceiros nossos, são pagos. O importante é que esses serviços são disponibilizados pelo próprio condomínio. No espaço de coworking,

de z .2018 |

revFRANKEL2_TP35.indd 117

| 117

27/11/2018 15:27


basta ocupar uma das posições e trabalhar, com wi-fi à vontade. Isso aproxima os moradores e estimula até a realização de negócios entre eles. Os prédios mais recentes têm garagem? Alguns já não têm nenhuma, outros têm algumas. Um prédio de 300 apartamentos pode ter, digamos, 30 vagas, para moradores que ainda não podem dispensar um carro, como um cadeirante, por exemplo. Você mora em casa ou apartamento? Hoje eu moro em casa. Saí daquele apartamento de 30 metros para outro um pouco maior, quando nasceu a Maya, e daí para essa casa, quando veio o Benny. Tem uns duzentos e poucos metros quadrados. Se o cara puder morar em mil metros quadrados eu acho bárbaro. Mas, como nem todo mundo pode ter uma casa assim, nossa proposta é oferecer imóveis compactos, mas com fácil acesso a todos os serviços, e próximos a estações de metrô ou corredores de ônibus. Todos os nossos empreendimentos levam em conta a mobilidade. Escolhi para morar uma casa que fica bem ao lado de uma ciclofaixa. Pego minha bicicleta e já embalo direto. Dá para andar de bicicleta numa boa em São Paulo? Claro que dá. Outro dia, fui com ela a um evento na Casa Fasano e o manobrista disse que eu não podia deixá-la no estacionamento. Amarrei a bicicleta numa árvore e entrei no Fasano de capacete na mão, vestindo camiseta e agasalho. Eu deveria ter tirado uma foto para te mostrar.

118 |

“na vitacon, a gente fala mais sobre bytes, códigos e programação do que sobre cimento. é muito louco, cara”

Como os seus estúdios evoluíram, depois de atender à mobilidade dos moradores? Estamos diante de uma nova onda, que é a de encarar a moradia não como uma propriedade para a vida toda, mas como algo que deve ir mudando conforme as nossas necessidades em cada período da vida. É melhor não ficar preso a uma propriedade que pode te servir muito bem hoje, mas virar um problema depois. Um apartamento pequeno perto da faculdade pode ser o ideal para um estudante. Depois de formado, quando o cara já estiver ganhando um salário bacana, um apartamento um pouco maior, perto do trabalho, será mais indicado. Quando casar, ele deve querer outro mais confortável. Quando vierem os filhos, vai precisar de mais espaço. Quando os filhos saírem de casa, é o contrário: ele vai querer uma residência menor. O imóvel deve acompanhar essas mudanças. Você pensa em fazer prédios voltados para a terceira idade? Já temos o projeto. Acabamos de inaugurar um prédio só para locação, operado por nós, que poderia ser voltado para pessoas mais idosas, mas decidimos testar antes com um público mais amplo. As pessoas

alugam os apartamentos pelo período que quiserem. Pode ser por uma hora ou por três anos, não importa. O prédio oferece até refeições. Fica na [rua] Bela Cintra e tem 100 apartamentos de 27 a 60 metros quadrados. Você pode descer num domingão e pegar uma mesa no restaurante do seu prédio, abrir um jornal e pedir ao garçom o prato favorito, que ele já sabe como você gosta. Depois, sair com um carro compartilhado. Hoje o chique é ter esse desprendimento. Eu me senti muito chique ao chegar de bicicleta na Casa Fasano. Está investindo mais nesse modelo de aluguel agora? Acredito que essa vai ser a tendência. O cara que trabalha na [avenida] Paulista vai morar aqui na Bela Cintra com toda a comodidade. Se ele passar a trabalhar na [avenida] Faria Lima, é só sair daqui e alugar um estúdio lá perto. Acho que a expansão do nosso setor hoje está muito mais atrelada a serviço do que a tijolo. Na Vitacon, o departamento de tecnologia já é maior do que o financeiro. A gente fala mais sobre bytes, códigos e programação do que sobre cimento. É muito louco, cara. E, conforme o tamanho e a localização, vai atendendo a públicos diferentes. Isso. Estamos tendo muita procura por parte de pessoas que têm filho, mas são separadas. Nesse caso, escolhem um loft com espaço para um sofá-cama para o filho dormir no fim de semana. Há pessoas mais velhas também, que estão morando na casa da praia ou no interior, e querem ter uma base em São Paulo. Hoje esse público com mais idade talvez já seja meu first mover. É a dinâmica da sociedade.

| dez .2 01 8

revFRANKEL2_TP35.indd 118

27/11/2018 15:27


de z .2018 |

revFRANKEL2_TP35.indd 119

| 119

27/11/2018 15:27


“Já tenho barco, helicóptero, mulher bonita. entrar num negócio só por dinheiro não tem sentido pra mim”

Frankel em um apartamento de 28 metros quadrados contruído pela Vitacon. Ele descobriu um nicho do mercado

Fale um pouco do seu apartamento de 10 metros quadrados. O prédio está em construção em Santa Cecília, foi lançado no ano passado. Vai ter oito andares e 130 unidades. Está todo vendido. Custava R$ 90 mil no lançamento. Tem todo o básico ali: minicozinha, banheiro, armários até o teto. Óbvio que fica mais legal o cara escolher uma decoração planejada, mas se ele for à Tok&Stok e comprar uma cama, uma cadeira e uma mesa ele monta igual. Funciona. Qual será a próxima ação da Vitacon? Nosso foco agora é digitalizar a moradia. Essa história de procurar apartamento na imobiliária ou ir anotando plaquinha na rua vai acabar. Hoje você pode ter todo o inventário de imóveis disponíveis a qualquer momento. Então, juntando o que a tecnologia já permite com esse conceito de hipermobilidade, esse novo urbanismo, o mercado imobiliário vai ter uma transformação exponencial.

120 |

revFRANKEL2_TP35.indd 120

Você vai investir mais na locação? Sim. A nossa plataforma de locação, a VN Stay, já administra cerca de 10 mil diárias por mês. Nos apartamentos que administramos, tanto os nossos como os dos investidores, cuidamos de tudo: a curadoria de quem vai ocupar o imóvel, as regras do condomínio, os meios de pagamento e as opções de decoração. Antes os apartamentos eram entregues sem nada, nem piso, hoje eles já vêm com toda a obra civil pronta. O próximo passo é entregar já com cozinha e móveis, porque as pessoas querem solução, agilidade. E vamos fazer a gestão do prédio também, plena. Das unidades que vendeu, quantas foram para investidores? Cerca de 75%. São 6 mil unidades entregues e outras 2 mil em construção. Hoje cerca de 30% das residências em São Paulo são alugadas e esse índice está crescendo, vai romper a casa dos 50% logo mais. As pessoas estão deixando de

ser patrimonialistas. A taxa de ocupação dos apartamentos que a VN Stay administra já está batendo em 96%. Quantos apartamentos estão a cargo da VN Stay? Devemos fechar o ano com uns 500. Minha meta é ter 100 mil, dentro de três anos. Acho que é pouco, sabia? O déficit habitacional do Brasil está em quase 8 milhões de unidades e é muito mais fácil resolver isso com locação do que com projetos como o “Minha Casa, Minha Vida”. Veja, o cara recebe uma habitação popular, se endivida durante 40 anos e vai morar na casa do chapéu. Fica seis horas no trânsito. É desumano. E daí ele muda de emprego, no bairro dele não tem escola pública para o filho, não tem creche. Não seria mais razoável subsidiar o cara para morar num lugar mais perto do trabalho dele? Aqui em São Paulo o déficit é de quanto? Cerca de 600 mil moradias, só na capi-

| dez .2 01 8

27/11/2018 15:27


tal. Ou seja, há 600 mil famílias morando em sub-habitações ou comprometendo mais de um terço da sua renda para pagar aluguel ou prestação da casa. Você apoia seus projetos em algum tipo de pesquisa? A gente pesquisa muito, tá? Fazemos dinâmicas com proprietários e estamos muito presentes no dia a dia dos prédios. Outro dia mesmo, organizamos uma aula de ginástica aberta a moradores de vários prédios nossos. Enquanto eles se exercitavam, a gente ouvia as sugestões deles: “Pô, meu prédio não tem essa puta academia”; “Meu apartamento podia ter uma máquina para eu lavar roupa íntima”. Essas experiências são muito valiosas para a gente. Você aprende também com as experiências de outros países? Eu nem viajo tanto, mas fico horas e horas na internet, pesquisando tendências, que vêm principalmente dos Estados Unidos e da China. Andar de patinete, por exemplo, é uma onda que pegou lá fora e vai acabar chegando aqui – por isso a gente já começou a ter patinete compartilhado. Outra novidade que vou implantar no prédio da [rua da] Consolação é espalhar os espaços comuns pelos vários andares. Vai ter um pub no quinto andar, por exemplo. Isso reforça o papel do prédio na dinâmica social da pessoa. A legislação ainda atrapalha a construção de prédios inovadores em São Paulo? Sim, embora a nova Lei de Zoneamento tenha sido um avanço importante. O ga-

“O número de apês alugados vai aumentar. as pessoas estão deixando de ser patrimonialistas”

barito dos edifícios, por exemplo, tem de ser revisto. Veja, um prédio ao lado do metrô, com toda a infraestrutura de serviços que colocamos nele, só pode ter oito andares em várias regiões de São Paulo. Como é que vamos adensar o centro da cidade, deixar as pessoas mais próximas do trabalho, se não podemos fazer prédios mais altos? Em cidades desenvolvidas, como Hong Kong e Nova York, um projeto bacana desses poderia ter até cem andares. Mas eu aprendi que o importante é fazer, dentro das regras existentes, e contar com a evolução natural das coisas. Quando a Netflix foi lançada, por exemplo, não havia banda larga instituída. Mas ela foi em frente e a banda larga chegou. Hoje não há postos de recarga para os carros elétricos, mas quando eles começarem a ser vendidos pra valer as tomadas vão surgir rapidinho. A burocracia também atrapalha? Também. O prédio que estamos fazendo na [rua] Oscar Freire, por exemplo, que fica ao lado da nova estação de metrô, poderia ter um acesso da calçada bem em frente até a linha, que seria bancado por nós. Fizemos a proposta ao Metrô, mas a companhia não topou, por pura burocracia. Não quiseram nem analisar o projeto, que seria

do interesse público, porque o prédio vai ter no térreo uma loja de conveniência legal, um coworking. Em vez disso, vão fazer um negócio de concreto horroroso. Não querem pensar adiante. Quando eu quis colocar carro compartilhado também tive dificuldade. Até que uma empresa enxergou a demanda potencial do negócio e topou. E veja só que interessante: 35% de todos os carros vendidos no Brasil no primeiro semestre de 2018 foram para locadoras de veículos. O modelo que implantamos de ferramentas compartilhadas também sinaliza uma tendência. Assim como as montadoras vão vender cada vez mais carros para as plataformas de compartilhamento, a Bosch daqui alguns anos não vai mais vender furadeira na Leroy Merlin. A saída será alugar a ferramenta para o condomínio por, sei lá, R$ 100 por mês, com o compromisso de cuidar da manutenção, da atualização do equipamento. Você pensa em construir em outra cidade? Quase fizemos um lançamento no Rio, em 2014, mas desistimos na última hora – o que foi uma bênção, tendo em vista o que aconteceu com o Brasil depois. Nossa meta é expandir de outra forma, sem sair de São Paulo. Tenho um amigo gringo que costuma dizer que no Brasil o diferencial é a execução. Você tem de vencer a burocracia, garantir um bom fluxo financeiro, interagir com 50 milhões de stakeholders. As boas ideias, 99% delas, morrem aí. Eu, felizmente, estou conseguindo executar algumas.

de z .2018 |

revFRANKEL2_TP35.indd 121

| 121

30/11/2018 12:33


PER FI L P o r A n a M aria B a h ia n a , d e Los A n g ele s

Memória

afetiva Anthony Hopkins faz o balanço da vitoriosa carreira, que incluiu desvios como os loucos anos de alcoolismo Não pergunte a Anthony Hopkins como ele se prepara para um papel. Num passado não muito distante, ele rugiria algo como “aprendo o texto e pronto!” – jogando a resposta na cara do interlocutor com um olhar digno dos raios mitológicos de Júpiter. Ele ainda não gosta da pergunta, mas sorri. “É, sou impaciente mesmo”, diz, entre goles de chá com leite no jardim privado de um hotel de luxo em Beverly Hills. “Não sou uma pessoa de ficar falando sobre uma coisa em vez de fazê-la. Não tenho tempo a perder. Sempre fui assim. E agora, ainda mais.” No último dia de 2018, Hopkins estará completando 81 anos. Desde o ano passado quando ultrapassou o marco dos 80, ele vem vivendo, em suas próprias palavras, “um momento de reflexão”. “Penso no que deu certo e deu errado, em meus triunfos e meus erros, e em como fui incorreto com muitas pessoas”, diz. “Não perco tempo ficando furioso. Tive e tenho uma vida abençoada, sou grato por 60 anos de algo que começou praticamente por acaso e foi além de qualquer coisa que eu poderia ter planejado.” O ator toma mais um gole, suspira e abre ainda mais o sorriso. “Te-

122 |

nho uma vida linda. Sou muito feliz. Não era para eu estar aqui. Fiz muitas loucuras. Jamais esperava ter chegado aonde cheguei.” Ele veio de sua casa em Malibu para o hotel em Beverly Hills a fim de divulgar seu trabalho mais recente, uma produção de Rei Lear, de Shakespeare, para a BBC e a Amazon. A viagem de Malibu, na praia, até a cidade foi, ele diz, “a definição de felicidade – o calor do sol, o perfume da brisa do mar… é fácil ignorar até o engarrafamento. Sou mesmo muito feliz”. Nem sempre foi assim. Até 1975, Hopkins era um alcoólatra que, na sua própria definição, vivia “ou bêbado ou de ressaca”. “Eu era uma pessoa muito, muito difícil e instável”, resume. “Não sei como consegui avançar na carreira. Não sei como fiz tantos amigos. Devem ser pessoas muito generosas e pacientes.” No dia depois do Natal de 1975, ele acordou num hotel de Phoenix, Arizona, sem a menor lembrança de como havia chegado até lá. Mas ainda não foi o fim da “fase sombria” de sua vida. Passados alguns meses e outros episódios semelhantes, encontrou

| dez .2 01 8

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 122

27/11/2018 15:28


uma integrante dos Alcoólicos Anônimos. “Era uma pessoa muito generosa que sugeriu que eu confiasse em Deus. Eu nunca tinha tentado isso. Achei uma boa ideia.” Quarenta e três anos depois, Hopkins continua frequentando o AA, embora se defina como “agnóstico”: “Acredito no poder da vida e em uma sabedoria superior que habita em todos nós”. LAURENCE OLIVIER, O MENTOR Além da sobriedade, lista seu casamento – o terceiro, com a atriz e antiquária colombiana Stella Arroyave – como o outro apoio de sua vida. “Minha mulher gosta de antiguidades, por isso me tolera tão bem”, diz às gargalhadas. E um pouco mais sério: “Que sorte a minha de estar vivo, com saúde, casado com uma mulher maravilhosa, morando em Malibu. Ela me chama de O Hipopótamo Feliz porque me recuso a dançar e ela adora sair, jantar fora, dançar”. Philip Anthony Hopkins nasceu no ano de 1937 em Port Talbot, no País de Gales, Grã-Bretanha, cidade famosa por sua siderúrgica, a Port Talbot Steelworks, uma das maiores do mundo. Seus pais

eram donos de uma padaria de bairro. O menino cresceu ajudando na loja – e aprendendo sozinho a tocar piano, instrumento favorito da mãe. Não queria ser ator. Seu sonho era tornar-se músico e compositor. Uma de suas memórias mais antigas é a do pai, padeiro e confeiteiro, preparando os tradicionais pãezinhos de Páscoa (pães doces, com canela e passas). “Ele fazia de madrugada, e o aroma subia pela casa, pois morávamos ao lado da padaria”, recorda-se. “Meu trabalho era pegar os pães e colocar nas prateleiras. Até que uma bela manhã de Páscoa fui saudado pelos gritos do meu pai. “Philip! Onde você está?! Estou ouvindo o piano e os pães ainda estão na cozinha! O que você está tocando?” “Beethoven”, respondi. E meu pai: “Ainda bem que ele é surdo”. Hopkins se dobra de rir. “Meu pai era bem assim, uma pessoa boa, mas durona. Ainda bem que ele entendia que eu não seguiria os passos dele.” A expressão de Hopkins muda um breve instante, um pouco triste, um pouco distante. “Penso muito em como aquele menino chegou até aqui. Aquele menino não sou mais eu – mas ainda sou eu.”

Silêncio dos Inocentes (1991), Thor (2011) e Hitchcock (2012)

de z .2018 |

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 123

| 123

27/11/2018 15:28


“falhei em todos os muitos internatos em que estudei.

O Hopkins adolescente queria ser “um grande músico, um compositor, um maestro”, mas tinha dificuldades na escola. (Já na meia-idade, seria diagnosticado com síndrome de Asperger, parte do espectro do autismo.) Por isso, o rapaz foi despachado pelos pais para uma série de internatos. “Falhei em todos”, rende-se. “Aos 17 anos, eu me achava o cara mais idiota do mundo.” Por acaso, um amigo chamou-o para fazer parte de uma peça teatral religiosa. “Minha única fala era ‘Bem-aventurados são os mansos porque eles herdarão a Terra’. Mas gostei da experiência.” Logo se inscreveu no Royal Welsh College of Music and Drama, em Cardiff, inspirado por Richard Burton, também galês. “Peguei o autógrafo dele quando eu tinha 15 anos”, rememora. “Ele era um ídolo na cidade, vivia visitando Port Talbot, com seu Jaguar cinza.” No Royal Welsh College of Music and Drama, no entanto, a vida não era fácil. “Eu não sabia o que estava fazendo, me sentia perdido.” Depois de dois anos, Hopkins desistiu e foi prestar o serviço militar. “Aquilo me deu tempo para pensar.” Após a baixa, fez as malas, mudou-se para Londres e en-

124 |

trou para a Royal Academy of Dramatic Art. “Aí tudo mudou”, evoca, sorridente. “Tive logo no começo dois grandes professores, seguidores de Stanislavski. Aprendi muito sobre psicologia, tanto a do personagem quanto a do ator. Tudo o que eu não sabia que queria se abriu à minha frente”, avalia. “Enfim entendi o que eu queria ser e fazer. Compreendi que dentro de mim, nos meus nervos e nos meus músculos, havia um ator. E não havia outra coisa que eu quisesse ou mesmo pudesse fazer.” Rapidamente abriu caminho pela tradicional, prestigiosa e muito competitiva cena teatral de Londres. Como ele mesmo admite, teve “uma dose espetacular de sorte”. Em 1965, depois de pequenos papéis em peças de repertório, foi convidado para um teste no Royal National Theatre, uma das companhias de teatro mais célebres do mundo. “Fui convidado pessoalmente por Laurence Olivier, que tinha me visto numa dessas peças de repertório!”, exclama. “Acima de tudo, que sorte!!!” Hopkins foi aceito na companhia e trabalhou com Olivier em várias produções, começando com um pequeno papel em Otelo, de Shakespeare.

Os Amores de Picasso (1996), O Leão no Inverno (1968) e 84 Charing Cross Road (1987)

| dez .2 01 8

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 124

27/11/2018 15:28


AOS 17 anos, eu me achava o cara mais idiota do mundo”

Vestígios do Dia (1993) e Bobby (2006)

“Aprendi muito com ele”, admite. “Foi um amigo, um mestre, um mentor. Ele me ensinou a ter coragem, a ter o que chamava de ‘a certeza da coragem’. Dizia: 'Seja valente! Ouse! Arrisque-se! Arrisquese até a ser ruim!' Isso ficou comigo para sempre. Ousar e falhar é excelente – aprendi como ser cada vez melhor, até que o momento em que ousar dá certo. É um aprendizado perigoso, mas excelente.” PETER O'TOOLE, O MESTRE NO CINEMA Em 1967, Hopkins era o substituto de Olivier. E numa noite, com Olivier no hospital vitimado por uma apendicite, foi chamado para o papel principal. “Eu estava pronto, sabia todas as falas e marcações, mas fiquei muito nervoso, uma pilha”, lembra-se. “Todas as roupas do figurino cabiam em mim perfeitamente. Menos os sapatos. Tive de entrar em cena assim mesmo. Interpretei o primeiro ato como uma metralhadora. Acho que durou cinco minutos.” Ele ri bastante com a lembrança, e continua. “Nas coxias, Robert Stevens, que dividia muitas cenas comigo, me disse: ‘Respire fundo, vamos em frente mais devagar’.” Hopkins faz uma pausa lon-

FOTOs: reprodução

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 125

ga. “Ele foi muito generoso comigo. Larry [Olivier] também. Pessoas fundamentais foram generosas comigo, muito mais do que mereci.” O ator Peter O’Toole foi outra dessas pessoas. Uma noite, logo após o final da peça Três Irmãs, de Tchekhov, ele bateu na porta do camarim de Hopkins. Era uma oferta de trabalho, desta vez no cinema. “Peter disse que gostou muito do meu trabalho no palco, me perguntou se eu já tinha feito cinema e marcou um encontro para um teste, dali a dois dias, no Chelsea Park.” Hopkins passou no teste. “Foi tudo improvisado, e ele me ajudou a ignorar as câmeras, uma novidade para atores de teatro.” Uma semana depois, embarcava para a Irlanda, para se tornar o Ricardo Coração de Leão de O Leão no Inverno, no qual O’Toole era Henrique II, e Katharine Hepburn, Leonor de Aquitânia. Como Hopkins estava sob contrato com o Royal National Theater, tinha de pegar um avião para Dublin toda noite depois do espetáculo, correr para o set nos estúdios Ardmore, filmar, dormir, e voltar para Londres na tarde seguinte… para fazer tudo de novo.

de z .2018 |

| 125

27/11/2018 15:28


“Hannibal Lecter? Nada mais apavorante do que

“Peter teve uma cena comigo e eu tremia de nervoso”, confessa. “Ele era um grande nome do cinema e do teatro. Peter sussurrava: ‘Use isso, eu sou o rei da Inglaterra’. Katharine também foi maravilhosa. Eu tinha uma cena com ela, nós dois enfeitando uma árvore de Natal. Passamos a cena uma vez – eu morrendo de medo”, conta. “Lá estava ela, uma estrela que eu admirava há tanto tempo, a estrela de Uma Aventura na África, que eu tinha visto tantas vezes… E ela me disse: ‘Não tente fazer uma grande performance estando de costas para a câmera. Eu vou roubar a cena, de todo modo. Você tem uma bela cabeça, ombros ótimos. Não tente representar, só diga suas falas. Sua voz é ótima. Tudo isso junto já resolve a cena’.” Hopkins pausa. “E aí eu aprendi uma lição importante: a da economia. E passei a estudar os atores americanos – Hepburn, claro, mas também Marlon Brando, Robert Mitchum, Burt Lancaster. Eles entendem a câmera, e fazem muito sem aparentemente fazer nada.” O Leão no Inverno foi um marco na vida e na carreira. Com ele veio um interesse pelo cinema

126 |

que, aos poucos, foi se tornando quase uma paixão. O ator nunca abandonaria o teatro, mas migraria cada vez mais para o que chama de “a experiência intensa e fugaz de fazer um filme.” “Não sei como amigos meus como Ian McKellen e Judi Dench fazem isso – atuar todas as noites, ao vivo. É preciso muita coragem, muita força, muita persistência. Sou inquieto demais para isso.”

Um Viúvo em Ponto de Bala (1989), O Inocente (1993) e Nixon (1995)

DE GRANDE ATOR A ASTRO A vasta e eclética carreira de Hopkins nas telas inclui desde filmes autorais como O Homem Elefante, de David Lynch, e Vestígios do Dia, de James Ivory, ao Odin dos filmes Marvel. E um papel que se tornou absolutamente icônico e transformou Hopkins de “grande ator” em “astro de cinema”: o dr. Hannibal Lecter, de O Silêncio dos Inocentes e suas continuações. Ele conta que estava em seu camarim, no teatro, quando recebeu o roteiro. “Comecei a ler e, depois de dez páginas, pus o roteiro na mesa e liguei para meu agente”, conta. “Então, este projeto é para valer? Eles fizeram uma oferta?” Meu agente ficou nervoso: “Por que

| dez .2 01 8

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 126

27/11/2018 15:28


uma pessoa absolutamente controlada e calma”

Westworld (2017) e Rei Lear (2018)

você pergunta?”, ele disse.“Porque é o melhor papel que já me ofereceram. Não preciso ler mais, nunca tive um personagem tão interessante.” O diretor Jonathan Demme voou de Nova York para Londres no dia seguinte. Os dois passaram dias conversando. Pela primeira vez em sua vida de ator, Hopkins resolveu tentar pesquisar a psicologia de um serial killer, lendo sobre um dos mais famosos, Ted Bundy. “Não consegui. Parei no meio do primeiro texto sobre ele”, relembra. “Era horrível demais.” Na época, em 1991, quando o filme foi lançado, Hopkins, respondendo a uma pergunta minha, descreveu sua abordagem na criação de Hannibal Lecter como “um trabalho editorial – um ator não precisa demonstrar tudo de uma vez só. Escolhi o lado não psicopata de Lecter: sua inteligência, seu charme. E optei por uma interpretação quieta, serena”. “Nada é mais apavorante do que uma pessoa absolutamente controlada e calma”, ele me responde hoje, quando recordo sua resposta, 27 anos atrás. “Sei o que assusta as pessoas. Alguma coisa nos subterrâneos da minha mente se conecta com o

conceito do medo, do pavor”, diz. “Faz parte da minha natureza. E, sim, ser calmo e quieto é algo que realmente apavora as pessoas. Quanto mais quieto e calmo, mais apavorante você fica.” Há uma agenda cheia para os próximos meses. Primeiro, o lançamento do Rei Lear. Ele diz que o papel chegou na hora certa. “Fiz Lear pela primeira vez quando eu tinha 47 anos”, diz. “Era jovem demais. Você tem que ter idade para compreender Lear.” Em seguida será visto vivendo o papa Bento 16 no novo filme de Fernando Meirelles, Pope, sobre o papa Francisco, vivido por Jonathan Pryce. “Foi divertido, aprendi alemão e latim para o papel.” E mais dois filmes depois desses. Para fechar a conversa, pergunto que conselho daria a um jovem ator. Ele não perde um segundo para responder: “Leia. Leia muito, leia de tudo – história, poesia, ficção. Conheça o texto profundamente. Não chegue atrasado. Leve sua carreira a sério, mas saiba ser leve. Não tenha ego. E seja gentil. Com você mesmo, com seus colegas, com os técnicos, com o pessoal do set, ou dos camarins. Ser gentil é melhor do que ser cool”.

de z .2018 |

revANTHONYHOPKINS_TP35.indd 127

| 127

27/11/2018 15:28


Brinco de ouro 18k com pérola branca, da coleção de Natal, da joalheria Julio Okubo

Rolex Deepsea tem mostrador D-Blue, que vai gradualmente do azul brilhante ao preto. É ultrarresistente Brincos de ouro branco 18k, com diamantes e turmalina paraíba, da Corsage

128 |

Canivete de bolso

Elegante e

Victorinox Wine

moderna, a

Master com estojo

fragrância Quatre

de couro. Abre

for Woman, da

o vinho e corta

Boucheron, une

o queijo

frutado e floral

| dez .2 01 8

revPRESENTES2_TP35.indd 128

27/11/2018 15:29


Montblanc 1858 Geosphere, alta relojoaria a serviço do alpinismo. Combina aço, cerâmica e aventura

Seleção Premium O melhor da tecnologia, alta relojoaria e tudo mais para fazer bonito na hora da troca de presentes nas festas

Caneta-tinteiro banhada a platina O harmonioso

e com mármore

bracelete de ouro

Carrara da linha

branco, diamantes

Império Romano,

e turquesa da

da Faber-Castell

coleção Perlée, da Van Cleef & Arpels de z .2018 |

revPRESENTES2_TP35.indd 129

| 129

27/11/2018 15:29


Galaxy Note9, da Samsung, tem câmera inteligente.

Elegante e

Reconhece o tipo de cena e ajusta as cores

esportivo, o TAG Heuer Formula 1 Lady é um clássico. Tem caixa de aço polido e escovado

Montblanc faz Anel de ouro 18k da Coleção Barcelona, da joalheira The Graces

edição especial em homenagem a James Dean. Opções esferográfica, rollerball e tinteiro

130 |

| dez .2 01 8

revPRESENTES2_TP35.indd 130

27/11/2018 15:30


QLED TV tem exclusivo Modo Ambiente, que troca a tela preta por texturas que combinam com a decoração

Acer Spin 3 oferece tela sensível ao toque e dobradiças que movimentam 360 graus. É notebook e tablet

Apple Watch Series 4 com tela maior e caixa mais fina. Apresenta sensor cardíaco e nova interface

de z .2018 |

revPRESENTES2_TP35.indd 131

| 131

27/11/2018 15:30


Caneta-tinteiro Sonnet Special Edition, da Parker. Tem pena de ouro 18k banhado a ródio

Mais fino, o novo Mac Book Air inclui tela de 13 polegadas, sensor de impressão digital e pesa apenas 1,25 kg Mala rígida Lexicon Hardside, da Victorinox. Disponível nas cores preto ou titânio, é 100% policarbonato

Anel de prata e safiras negras, da Vivara. Coleção tem opções de ouro branco ou rosé, com diamantes

Panerai Luminor 1950 “Carbotech”. Seu verso é de titânio e suporta até 300 metros de profundidade

revPRESENTES2_TP35.indd 132

27/11/2018 15:30


Hausen Bier.indd 133

27/11/2018 15:31


M OTO R P o r j o rg e a l l e n

Muito antes de a sigla entrar na moda, a Mitsubishi já reunia com sucesso o melhor dos mundos on e off-road Naquele 1973, um inovador carro-conceito arregalava os olhos dos visitantes do Salão de Tóquio. Não se sabia ainda, mas a Mitsubishi Motors estava criando uma categoria que entraria para sempre na história da indústria automobilísitca mundial – veículo utilitário-esportivo, ou sport-utility vehicle, sintetizado depois pela sigla SUV. Tratava-se de um utilitário que não era bem um utilitário e um automóvel de passeio que não era bem um automóvel de passeio. Chamava-se Pajero, nome de origem latina que os japoneses conseguiam pronunciar sem dificuldade. Difícil, mesmo, era definir o que viam – no mesmo pacote, o melhor de dois mundos: a aparência, os recursos mecânicos e a valentia de um utilitário embalados com os confortos e a facilidade de manejo de um automóvel. Intrigante. Mas genial. A marca dos três diamantes, é bom que se diga, era pioneira no uso da transmissão 4x4. Já em 1934 lançava o PX33, um conversível de quatro portas,

134 |

| dez .2 01 8

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 134

27/11/2018 15:32


O novíssimo Pajero Sport 2019

de z .2018 |

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 135

| 135

27/11/2018 15:32


Pajero 1981. O primeiro a ser fabricado Mitsubishi PX33. No Salão de Paris de 2006, o modelo do primeiro 4x4 japonês

em série, aqui na versão capota rígida

o pajero estreou no salão de tóquio de 1981 com suspensão elevada, pneus de uso misto e tração integral. Na sequência, a Mitsubishi Heavy Industries (da qual surgiria a Mitsubishi Motors) assinou um contrato com o Exército Imperial japonês para a versão militar do PX33. Ele se tornaria o segundo modelo a ser produzido pela empresa, depois do pioneiro Modelo A, de 1917. Com seu engenhoso sistema de tração 4x4, o PX33 lançou as bases do que seria, meio século mais tarde, uma das maiores potências do mundo na produção de veículos off-road. Quatro protótipos foram construídos. Uma versão estava em desenvolvimento usando motor 6.7 de 69 cavalos – primeiro motor diesel de injeção direta do Japão. No entanto, o projeto foi cancelado em 1937, depois que o governo japonês decidiu priorizar a capacidade de fabricação da Mitsubishi na área de caminhões e ônibus. A versão definitiva do Pajero como um SUV purosangue, pronto para enfrentar o mercado, estrearia no Salão de Tóquio de 1981, numa carroceria de duas portas, com 3,99 metros de comprimento. As linhas eram retas; os faróis, redondos, e o veículo tinha boa área envidraçada. O teto podia ser rígido ou de lona. Por dentro, já trazia no painel o inclinômetro (aparelho que mostra os ângulos de inclinação do carro), instrumento clássico de veículos off-road, presente até hoje no modelo. Mais: direção assistida e suspen-

136 |

são dianteira independente, exclusividades entre os SUVs japoneses. O motor 2.0 a gasolina desenvolvia 110 cavalos; o diesel 2.3, 84 cavalos (95 com turbo). Uma variante de carroceria alongada e portas traseiras foi adicionada à linha em julho de 1983, com opção de sete assentos – os dois bancos da terceira fila podiam ser dobrados para os lados ou combinados com os da segunda fila, para formar uma cama. Uma transmissão automática desenvolvida pela própria Mitsubishi estreou em 1985. Dois anos depois surgia a versão topo de linha com pintura de dois tons, rodas de liga leve de aro 15 e aquecimento dos bancos dianteiros. Motores V6 a gasolina e também diesel turbo com intercooler (recurso inédito em modelos 4x4 japoneses) foram incorporados ao Pajero em 1988. Enquanto isso, os fundamentos de resistência foram melhorados, com novas molas, freios a disco nas quatro rodas, suspensão traseira multilink e amortecedores reguláveis. Isso melhorava o desempenho no fora de estrada, sem comprometer o conforto ao volante em trechos de asfalto. Essa passou a ser uma marca registrada do Pajero ao longo das décadas seguintes, e a principal razão de seu sucesso. Além de suas características inovadoras, o predomínio do Mitsubishi Pajero no Rally Dakar foi o impulso de que o modelo precisava para se tornar

| dez .2 01 8

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 136

27/11/2018 15:32


PAJERO 1983. No Dakar, a primeira

PAJERO 1996. Redesenho total do modelo, com

PAJERO FULL 2006. A linha chega à

de 12 vitórias, um recorde até hoje

novos para-choques, para-lamas e grade frontal

quarta geração e se torna uma lenda viva

referência de qualidade, robustez e confiabilidade no segmento de SUVs. Ele obteve bons resultados na prova mais desafiadora do planeta logo em sua primeira tentativa, em 1983. Dois anos depois, o Pajero Evolution faturou pela primeira vez o campeonato geral, feito que se repetiria por 11 vezes. Sete desses 12 campeonatos foram em sequência, entre 2001 e 2007, período que consolidou a esportividade da Mitsubishi e o respeito do público pelo Pajero, em todas as suas variações. O sucesso nas trilhas de rali ajudou a marca a ingressar no competitivo mercado americano na década de 1980. As agruras dos desertos africanos eram o laboratório perfeito para desenvolver tecnologias, não só para o Pajero, mas também para seus carros de passeio. Em 1987, a Mitsubishi lançou o sedã Galant VR-4, primeiro veículo a apresentar suspensão ativa eletronicamente controlada. Em 1990 surgia o primeiro sistema de controle de tração eletrônico do mundo, hoje um item de segurança obrigatório em muitos países. Em 1996 seria a vez do primeiro motor com injeção direta de gasolina, o GDI. A segunda geração, de 1991, trouxe novidades como o Super Select 4WD, freios ABS adaptáveis e amortecedores eletrônicos. O Super Select inovou ao combinar as vantagens de tração parcial ou integral em um comando com quatro opções: 2H (tração nas

rodas traseiras), 4H (tração nas quatro), 4HLc (tração nas quatro com bloqueio do diferencial) e 4LL (tração nas quatro com reduzida). Pela primeira vez, o motorista podia alternar entre tração nas duas ou nas quatro rodas com o carro em movimento (até 100 km/h). Foi essa versão que apareceu no Brasil após a reabertura das importações, nos anos 1990, e que logo se tornaria um sucesso nacional. Já nos anos 2000, o Pajero ganharia produção local em Catalão (GO), nas configurações TR4, Sport e Dakar. Linhas arredondadas marcaram a terceira geração do carro, que primava também pelo acabamento ainda mais requintado. Na parte mecânica, os destaques ficaram por conta do motor 3.5 V6 GDI de 230

PAJERO FULL 2019. Um clássico, ele mantém dezenas de milhares de admiradores mundo afora

de z .2018 |

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 137

| 137

27/11/2018 15:33


Outlander 2019. Sistema autônomo de aceleração e frenagem

Em 2006 surgia o pajero full: "The car, the legend" cavalos, além da segunda versão da transmissão Super Select. Em 2006 surgia a quarta geração, que adotou motores com comando variável de válvulas, controle eletrônico de estabilidade e várias outras novidades em segurança ativa e passiva. Na apresentação da quarta geração, durante o Salão de Paris de 2006, surgia o Pajero Full. Robusto e volumoso, na versão cinco e três portas, foi exibido ao lado do histórico PX33, forma que a Mitsubishi encontrou para relembrar que o DNA 4x4 já estava presente em suas origens, desde a década de 1930. “Pajero Full – The Car, The Legend”, anunciava a publicidade, fazendo jus à reputação de lenda viva do SUV. Muito daquele pioneiro se manteria no Pajero e em todos os seus derivados (Pajero Mini, Junior, iO, Sport, Dakar, TR4). Todas essas derivações fizeram do Pajero praticamente uma franquia dentro do universo Mitsubishi. Até mesmo um kei car (microcarro) foi lançado no Japão com visual inspirado nele. O DNA do PX33, renascido 50 anos depois no primeiro Pajero, também foi emprestado a uma série de SUVs da marca ao longo das últimas décadas. Modelos como Outlander e ASX se beneficiaram da boa fama do Pajero nos ralis e nas ruas. E neles a tecnologia embarcada sempre falou alto.

138 |

Os melhores e mais recentes exemplos são o Eclipse Cross e o Pajero Sport – a quinta geração do modelo, que acaba de chegar ao mercado brasileiro. Ambos, além do Outlander, vêm com sistema autônomo de aceleração e frenagem. E os três utilizam a inovadora MiTEC – Mitsubishi Motors Intuitive Technology. Por meio de sensores espalhados por todo o veículo, esse conjunto de tecnologias intuitivas pensa e reage antes mesmo de o motorista saber. Em síntese: trabalha para proteger, alertar e conectar o condutor ao seu SUV Mitsubishi.

ASX 2019. Tecnologia intuitiva pensa e reage antes mesmo de o motoriststa saber

| dez .2 01 8

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 138

27/11/2018 15:33


Eclipse Cross 2019. Tecnologia intuitiva por meio de sensores em todo o carro

de z .2018 |

revCONCEITOSUV2_TP35.indd 139

| 139

27/11/2018 15:33


v elo ci da d e P o r M A rco s DIEG O N o g u e i r a

Nosso repórter não imaginava, mas aconteceu: ele acelerou até o fim em um McLaren 600 LT no autódromo de Hungaroring 140 |

| dez .2 01 8

revMcLAREN3_TP35.indd 140

27/11/2018 15:34


O 600 LT em ação: muito poder de fogo

de z .2018 |

revMcLAREN3_TP35.indd 141

| 141

27/11/2018 15:34


M Bastaram três palavras e uma busca no YouTube para a jornada ganhar ares de aventura. A união entre os termos “Senna”, “Piquet” e “Hungria” leva a dezenas de opções do mesmo vídeo. Uma delas com o título bem instrutivo de “A Melhor Ultrapassagem da História da Fórmula 1”. E é exatamente isso o que se vê. A cena aconteceu em 1986, quando o jovem Ayrton e o experiente Nelson se envolveram em um embate pessoal nas pistas do circuito de Hungaroring, a 20 quilômetros de Budapeste, capital da Hungria. Entre as diversas manobras dos dois pilotos, Piquet faz uma ultrapassagem “meio de lado”, como comentou o Galvão Bueno. Agora, veja você. Quem diria que, 32 anos mais tarde, um jornalista paulistano, proprietário de um carro dos mais básicos – o famoso “popular” –, estaria desfilando toda a sua (falta de?) habilidade automobilística nesse centro húngaro da velocidade? Logo ele – digo, eu –, cujas aventuras ao volante sempre se limitaram aos 120 km/h de uma rodovia dos Bandeirantes nos fins de semana? Explico. A McLaren convidou alguns jornalistas internacionais para testar em Hungaroring seu novo modelo 600 LT. Trata-se de uma máquina com valor em torno de R$ 2,5 milhões. O bólido chegará ao Brasil por meio da Eurobike, único representante da marca no país. O 600 LT é tão exclusivo que o felizardo comprador pode escolher

142 |

“O bravo mclaren que dirigi chegará ao Brasil em seis meses. Preço: perto de R$ 2,5 milhões”

seu modelo do jeitinho que quiser. Por exemplo: com assentos ajustáveis e aquecíveis por acionamento elétrico. Tudo é feito sob medida na fábrica no Reino Unido, onde jamais se ultrapassa o limite de 6 mil veículos por ano. NASCE UMA LENDA Para o grande público, a McLaren é a escuderia que deu o segundo título mundial de Fórmula 1 a Emerson Fittipaldi, em 1974. E que também levou Ayrton Senna ao tricampeonato mundial de Fórmula 1 em 1988, 1990 e 1991. A marca, na realidade, muito antes de fabricar carros esportivos para serem usados fora da pistas, começou como escuderia, em 1963. Uma criação Ao alto, Marcos do piloto neozelandês Bruce Diego e seu McLaren, que morreu em 1970. anjo da guarda, A escuderia acabou comprada Charlie Hollings

| dez .2 01 8

revMcLAREN3_TP35.indd 142

27/11/2018 15:34


A nova versão

nos anos 1980 pelo chefe de equipe Ron Dennis, recebeu investimentos árabes na décaem 100 quilos da seguinte e hoje tem base na para correr cidade de Woking, a 40 quilôainda mais metros de Londres. A televisão sem som exibia um jogo de futebol qualquer no bar do hotel em Budapeste, na noite húngara de verão que antecedeu o test drive. Ali a equipe da McLaren reuniu os jornalistas convidados para esclarecer as primeiras dúvidas. “Por que a escolha por Hungaroring?” foi a primeira. O diretor de comunicação Wayne Bruce (sim, o nome do Batman ao contrário – ele já está acostumado com as piadas): “É uma pista cheia de mudanças de direção, perfeita para mostrar o quanto esse carro responde imediatamente aos comandos”. A segunda: “O que torna o 600 LT um modelo tão especial em relação aos outros da McLaren?”. Bruce retomou: “É a mais poderosa máquina da fábrica em sua série Sports”. Segundo ele, para tornar o carro ainda mais veloz, diminuíram-se 100 quilos de peso em relação aos modelos anteriores. do LT foi aliviada

de z .2018 |

revMcLAREN3_TP35.indd 143

| 143

27/11/2018 15:35


Na volta ao bar, Paul Chadderton, assessor de comunicação da marca e britânico típico, observando o melancólico empate em 0 a 0 na televisão, bradou: “Ninguém marcou? É por isso que eu gosto de corrida de carros. Ao menos sempre tem um vencedor”. O recinto estava cheio de jornalistas especializados. Sameer Uchi, do Bahrein, estrela o programa Arabia Motors no Netflix gringo. Bahi Qutub, da Arábia Saudita, tem mais de 500 mil seguidores em seu canal no YouTube, o Almurabanet. O libanês Fahed Abu Salah carrega para onde vai seus 27 mil seguidores no Instagram. Em meio a tantas feras, me dirijo ao sr. Chadderton e questiono na humildade se deveria me preocupar em ser um piloto de primeira viagem. A resposta é tranquilizadora: “Pelo preço que a pessoa paga para ter um carro desses, o mínimo que ela pode esperar de garantia é ter um pouco de diversão”. Manhã de sol e van preparada rumo a Mogyorod, o distrito a 19 quilômetros da capital húngara. A ansiedade vai aumentando à medida que a pista se aproxima. As boas-vindas à arborizada Hungaroring não poderiam ser melhores: café da manhã de primeira,

144 |

capacete personalizado, balaclava. Cada jornalista é apresentado ao piloto que ficará como passageiro passando instruções durante todo o dia. Meu anjo da guarda é Charlie Hollings, profissional experiente que, em frente a um PowerPoint com detalhes da pista, explica cada movimento a ser feito. Exemplo: "Nesta sequência de curvas logo após a reta há uma diminuição brusca de velocidade e uma troca de marcha, da sexta para a segunda. Você ouve o estalo a cada marcha diminuída". Foi fantástico ver isso acontecendo na prática. "Ta!Ta!Ta!Ta!", as marchas se reduzem em alto e bom som e o motor acusa desaceleração. Divertido!

Esportividade é pouco para definir o 600 LT

FULL POWER! FULL POWER! No programa, três sessões ao longo do dia, com cinco voltas cada. As primeiras duas voltas são feitas com o modelo 570S para “se familiarizar com a pista e perceber as melhorias da estrela principal”. De fato, mesmo a 570S sendo uma máquina dos deuses, ela é logo esquecida já nos primeiros ajustes em uma 600 LT. As primeiras voltas são tensas. É difícil confiar 100% na máquina – sobretudo em uma que faz de

| dez .2 01 8

revMcLAREN3_TP35.indd 144

27/11/2018 15:35


“Ao meu lado, o instrutor bradava: 'Full Power!'. SUEI FRIO no carro que faz de zero a 300 km/h em 24,9 segundos”

Motor, volante e câmbio: tudo pronto para pisar fundo

zero a 300 km/h em 24,9 segundos. Na reta principal, Charlie brada:“Full Power!”, o equivalente ao “tacalhe pau nesse carrinho, Marcos!”. O visor mostra: 186 mph. Chegamos aos 300 km/h. Suo frio. Charlie retoma: “Break hard!”. Hora de afundar o pé no freio e se preparar para a curva. Percebendo a tensão de principiante, Charlie pede que eu tire as mãos do volante. Em seguida, com apenas um dedo (!), faz a curva a quase 200 km/h. “Não precisa colocar tanta força nem na direção e nem nos freios, porque a qualquer comando a McLaren vai responder bem.” Ele é muito gentil de não bocejar de sono nas voltas seguintes. Como se sabe, a tranquilidade – e, sua consequência, a velocidade – vem com a experiência. Na segunda sessão, o embarque nessa nave a pouquíssimos centímetros do chão já é diferente e com mais

segurança. Aí vêm as instruções “de piloto para piloto”. “Você tem que aproveitar a pista toda”, diz Charlie a respeito de deixar o carro te levar pelas curvas. Já na terceira e derradeira sessão, chega o momento de experimentar. O instrutor mostra-se algo apreensivo diante dos lampejos de “irresponsabilidade sadia” do piloto iniciante. Mas nada que chegue perto aos movimentos “meio de lado” de Nelson Piquet. “Estou começando a ficar viciado nisso!”, comento. E não é para menos. Tudo compõe um brinquedo que todo mundo sonha em ter um dia: o som rouco do motor, o cheiro de carro novo, a facilidade em ajustar comandos e acelerar e frear. No final da tarde a terceira sessão tem gosto de saudosismo e despedida. Algumas voltas depois, troco de lugar com Charlie e, do banco do passageiro, entendo na prática as técnicas que ele tentou me passar ao longo do dia. Acho que posso confessar: ele usou demais as zebras, ao contrário do meu estilo de pilotagem. Em compensação, chegou mais próximo do tempo de 1:19.071 minuto, o recorde da pista estabelecido por Michael Schumacher em 2004. Fim dos testes, hora de voltar ao hotel e, no dia seguinte, ao Brasil. Como parte da brincadeira da vida é sonhar, ainda aguardo aquele telefonema do descobridor de talentos que percebeu o potencial nas aceleradas por Hungaroring. Enquanto não vem, segue a arte de se fazer valer o carro 1.0 pelas marginais paulistanas. Full power!

de z .2018 |

revMcLAREN3_TP35.indd 145

| 145

30/11/2018 13:02


TOP

146 |

Solte as amarras e embarque nos navios mais exclusivos do planeta

| dez .2 01 8

revCRUZEIROS2_TP35.indd 146

27/11/2018 15:38


PROA P or Ro n n y H e i n

O Oceania Marina em Veneza: majestoso

T

oda lista é potencialmente controvertida. Quando o tema é navegação, o mar pode estar para almirante se a avaliação for objetiva – baseada em fontes de avaliação confiáveis, como revistas, sites e críticos do setor. Ou então repleto de temidos cavalinhos brancos – se o levantamento for feito com aficionados de uma ou outra armadora. Um maître especialmente delicado, um prato inesquecível, a espessura do forro de uma chaise-longue ou a sorte que o passageiro levou em suas últimas jornadas no cassino são, nesse caso, fatores determinantes de uma avaliação. O fato é que, no nível AAA dos navios de cruzeiro, coisas elementares nem sequer importam. Quase sempre está tudo incluído no valor da passagem, há espaço de mais e filas de menos, os vinhos são da melhor qualidade, a gastronomia é similar, melhor ou até idêntica à dos mais incensados restaurantes do mundo. Ainda assim, esta seleção tem critérios – que você vai poder conferir navio por navio.

de z .2018 |

revCRUZEIROS2_TP35.indd 147

| 147

27/11/2018 15:38


Até as massagens estão incluídas no preço da passagem

Seven Seas Explorer

O exclusivo do inclusivo

O

que há de mais exclusivo do que ser totalmente inclusivo? A resposta é simples: o que está incluído também precisa ser exclusivo – e raro. O Regent Seven Seas Explorer foi eleito pelo respeitado site ruisecritic.com como o navio mais luxuoso do planeta. Ele é quase novo: foi inaugurado pela princesa Charlene, de Mônaco, em 2016. Você pode até esquecer o dinheiro ou o cartão de crédito. Os 750 passageiros a bordo não têm por que usá-lo (a não ser que queiram arriscar-se no cassino). As taxas estão incluídas, idem para as refeições, excursões em terra, gorjetas, bebidas alcoólicas (até um nível suficientemente alto de qualidade), além da vista permanente (todas as cabines têm varandas) e o serviço atento da tripulação. Com a inédita taxa de 1 tripulante para cada 1,5 passageiro, é quase possível um casal escolher um serviçal para chamar de seu.

148 |

Trata-se, porém, de um navio americano e, como tal, gosta de jactar-se de certos aspectos grandiosos. Por exemplo: orgulha-se de seus 473 lustres de cristal, sendo que apenas o que decora o lobby tem mais de 6 mil peças octogonais encaixadas à mão. Outra: sua quantidade de mármore de Carrara seria suficiente para cobrir um campo de futebol (americano, claro). Novecentos quilos de lagosta são consumidos em um cruzeiro típico de 14 dias de duração nos diversos restaurantes gourmet da embarcação. Ah, o Explorer tem uma das maiores suítes entre todos os navios, com 360 metros quadrados de simplicidade. Informa-se aos que nem estão interessados que só a cama de casal dessa suíte custou US$ 90 mil. Mas – o que é uma pena – não se diz tudo o que ela faz. pt.rssc.com

| dez .2 01 8

revCRUZEIROS2_TP35.indd 148

27/11/2018 15:38


O submersível pode descer a até 300 metros

Crystal Esprit

Com mordomo e submarino

A

penas 62 suítes. Um mordomo para cada uma delas. O Crystal Esprit, da Crystal Cruises – e primeiro produto com a marca Crystal Yacht Expedition Cruises –, não quer saber de mais ninguém. É seu jeito, sua proposta. Não lhe falta nada, ou quase nada: as suítes têm 26 metros quadrados com todos os luxos disponíveis nos iates de luxo; os restaurantes são abertos e a variedade é ampla. O conceito de “campo à mesa” tenta significar frescor o tempo todo – nos ingredientes, no espírito e em tudo o mais. Sobre o quase nada, poder-se-ia reclamar da ausência de varandas. Em iates dessa dimensão, porém, nem todos os sonhos cabem de uma vez só.

O mordomo compensa qualquer dissabor. Assim como a marina privativa do Crystal Esprit. Se você gosta de mar, preste atenção: ela é equipada com praticamente tudo o que os hóspedes podem desejar. Uso gratuito de esquis aquáticos, pranchas de surfe, remo, caiaques, jet skis e equipamento para mergulho com snorkel. Há um adicional para aventuras a até 300 metros de profundidade em um submersível privativo. Os hóspedes do Crystal Esprit têm a primazia de pelo menos duas excursões em terra gratuitas em cada porto, uma delas gastronômica; a outra, cultural. Em portos determinados, há ainda atividades esportivas ou ligadas à natureza. Birdwatching é uma delas (leve seu binóculo!). pier1.com.br

de z .2018 |

revCRUZEIROS2_TP35.indd 149

| 149

27/11/2018 15:38


Dez restaurantes a bordo. Resistir quem há de?

Oceania Marina

Degustação e harmonização

D

iversos navios do primeiro time disputam o título de melhor cozinha. No momento, há dois líderes nessa competição – e, mais uma vez, a questão é decidida pelos inúmeros prêmios oferecidos por entidades mais (ou menos) sérias. Nos últimos anos, são os navios da Oceania, sobretudo os dois maiores, Marina e Regatta, que mais frequentam as listas de aquinhoados por galardões diversos. Sob o comando gastronômico geral do chef francês (radicado nos Estados Unidos) Jacques Pépin, celebridade mundial para quem vê programas de disputa culinária, o Oceania Marina oferece dez restaurantes, seis deles gourmet-open seating. Entre eles, o Jacques, de gastronomia francesa, o Red Ginger, de culinária tailandesa, japonesa e vietnamita, o Yacht Club, que acena com degustações de vinhos, e o Biscottos Coffee Bar, com delícias em petiscos e cafés.

150 |

A comilança, no entanto, não para por aí. Para os seus 1.250 passageiros há, também, a possibilidade de um jantar de degustação no La Réserve by Wine Spectator, reservado a 24 comensais por noite e, claro, com vinhos de rara qualidade em harmonia. Para humilhar os adversários – dizem que o mais próximo é o Silver Muse, com seus oito restaurantes –, o Marina ainda oferece o Privée, para oito almas superiores, que vão degustar pratos como kobe beef japonês, lagostas da Bretanha, caviar, trufas e outras iguarias. No resto, o Oceania Marina é trivial: suas suítes são decoradas com tecidos Ralph Lauren Home, as áreas comuns têm cristais Lalique e porcelanas Versace e as paredes guardam quadros de Picasso, Miró, dos cubanos vanguardistas Wifredo Lam e Cundo Bermúdez, entre outros, num acervo estimado em US$ 5 milhões – ótimo para apreciar durante a digestão. oceaniacruises.com

| dez .2 01 8

revCRUZEIROS2_TP35.indd 150

27/11/2018 15:38


PORTUS IMPORTADORA.indd 151

28/11/2018 16:00


Grifes como Gucci e Saint Laurent são irmãs do navio

Le Lapérouse

Em ótima companhia

N

avios pequenos estão na moda. Explorações estão na crista da onda. Os franceses ainda mandam no luxo. Pois são essas três características, amalgamadas com rigor, que fazem do Le Lapérouse (um lindo navio, batizado em homenagem ao conde de La Pérouse, explorador do Pacífico) um dos membros desta relação. Será, aliás, o único gaulês entre os melhores, porque pertence à Companhia Ponant de Navegação. Que, por sua vez, faz parte do grupo Artémis, de um certo François Pinault, talvez o homem mais rico da França. Ou seja, o Le Lapérouse é fração do portfólio que inclui Gucci, Saint Laurent, Bucheron, Bottega Veneta, Balenciaga, Alexander McQueen e outros destaques do mundo da moda. Também é irmão, por parte de pai, dos vinhos Château Latour,

152 |

da revista Le Point, da casa de leilões Christie’s e do teatro Marigny, entre outros pequenos negócios. Calcula-se que Pinault possua cerca de US$ 34 bilhões, parte dos quais está pondo em sua frota. O Le Lapérouse tem um navio irmão, mas destaca-se por ser o mais novo e ter sido batizado pela própria Maryvonne Pinault, mulher do magnata. E, diante de todo esse pedigree, é quase desnecessário dizer que suas cabines são luxuosas, sua gastronomia é... bien... francesa e seu casco sólido o bastante para enfrentar pesados blocos de gelo em expedições pelos polos. Quando em águas mais quentes, o iate da frota de Pinault transforma sua popa em uma marina, para que os passageiros pratiquem esportes náuticos e banhem-se nas águas do glamour. qualitours.com.br

| dez .2 01 8

revCRUZEIROS2_TP35.indd 152

27/11/2018 15:39


Parker.indd 153

28/11/2018 16:02


Ele não tem excessos. Mas é considerado o melhor de todos

Europa 2

Sonata de Brahms

T

odo ano, mr. Douglas Ward, um simpático inglês de 85 anos, embarca em todos os navios que pode. Há cinco décadas, mr. Ward é tido como a maior autoridade no assunto. Seu célebre Berlitz Cruising & Cruise Ships Guide é o guia esperado por agentes de viagem do mundo inteiro. Ele analisa, um por um, todos – todos mesmo! – os navios de cruzeiro do planeta. Mais ainda: por setores. Cabines, restaurantes, serviço, entretenimento e assim por diante. Gigantes sobem e descem no seu ranking. E, quando descem demais, sabem que chegou a hora de ir para o estaleiro em busca de uma remodelação ou, no mínimo, um make-up. As notas do guia de mr. Ward vão até as cinco estrelas. Mas há um único barco que alcança o índice

154 |

de cinco com um sinal de mais anexo – tornandose, portanto, tão luminoso quanto Vênus na hora do poente. Ele é alemão, pertence à centenária empresa Hapag-Lloyd e os passageiros americanos dificilmente dariam mais do que um 4.5 a ele. Explica-se: assim como o seu antecessor, o MS Europa , que já foi o melhor do mundo antes dele (e segue singrando com a segunda melhor nota do mundo), o iate alemão MS Europa 2 – que só leva 500 passageiros – tem a discrição preferida pelos europeus. Não há cascatas de cristal ou adereços excessivos. Tudo é discreto como um automóvel clássico germânico ou uma sonata de Brahms. qualitours.com.br

| dez .2 01 8

revCRUZEIROS2_TP35.indd 154

27/11/2018 15:40


Laco Rosa.indd 155

27/11/2018 15:43


156 |

| dez .2 01 8

revLIBERTADORES_TP35.indd 156

27/11/2018 15:44


e spo rte P o r U B I R ATA N L E A L I lus t r aç ão N eg r e i ros

¡Hasta la

victoria, siempre!

Tem coisas que só acontecem na Libertadores da América. Incluindo as piores. Mesmo assim, passamos o ano sofrendo o diabo quando o nosso time participa

de z .2018 |

revLIBERTADORES_TP35.indd 157

| 157

27/11/2018 15:44


Em uma partida do Boca Juniors contra o Sporting cristal, o juIz expulsou 19 jogadores

“Os Estados Unidos conversam para entrar na Copa Libertadores.” Por que não? O México também não é da América do Sul e já teve representantes em várias edições desse torneio internacional de clubes de futebol. A proposta de incluir equipes americanas não é nova. Mas ganhou força no segundo semestre de 2018 (bem, isso foi antes dos sucessivos e surreais adiamentos da finalíssima). Os americanos enviariam representantes ao torneio - assim como os mexicanos voltariam a ter os seus - e até receberiam de presente o direito de sediar uma final em 2020. Do ponto de vista dos sul-americanos, mais afeitos às coisas da bola e nem tanto às dos negócios, seria um passo graúdo para a transformação da competição em uma versão deste lado do Atlântico da Champions League. Mas será que é possível? E será que os americanos têm noção disso? Provavelmente nenhuma grande competição esportiva carregue tanto a cultura de sua região quanto a Libertadores. Bem, talvez a liga indiana de críquete, com clubes criando clipes bollywoodianos para apresentar seu time, mas isso fica para outra hora. Nem se alguém juntasse um livro do Gabriel García Márquez, um carro alegórico do Carnaval carioca, um prato de ceviche e um CD da Mercedes Sosa e batesse em um liquidificador conseguiria algo tão intrinsecamente sul-americano quanto o torneio de futebol que faz milhões de pessoas passarem nervoso em duas quartas-feiras por mês. O nome já ajuda. “É o mais lindo de todos os torneios esportivos do mundo”, derrete-se Mauricio Noriega, comentarista do SporTV, canal que transmite a Libertadores há mais de uma década. “Digo

158 |

isso por tudo que o termo representa, pelo som da palavra, por não ser algo que se resuma apenas ao óbvio como Copa dos Campeões, Liga”, delicia-se. De fato, a Libertadores evoca sentimentos nacionais, elementos em comum à história dos povos das Américas, sua luta para sobrepujar a força de quem queria mandar nessa terra. Tudo bem, a historiografia já colocou em cheque o papel de muitos desses líderes anticolonialistas. Ainda assim, o nome é imponente. E tão poderoso que serve até aos americanos. Basta emparelhar o rosto de George Washington aos de Dom Pedro, José de San Martín, Simón Bolívar e Bernardo O’Higgins. Ninguém achará tão estranho. O mesmo vale para o mexicano José Maria Morelos. Seja como for, os ianques se surpreenderiam com certas particularidades. A Libertadores é um estilo de vida. Torcida pulsando de paixão. Arquibancada balançando como se fosse cair. Dirigente louco para

| dez .2 01 8

revLIBERTADORES_TP35.indd 158

27/11/2018 15:44


te quanto o técnico. E o tubo de oxigênio pode se tornar quase parte do uniforme. No meio de tudo isso, tem uma bola e às vezes ela entra no gol. Quando dá sorte, é a favor do nosso time e o juiz não anulará (mas, fica o conselho, não conte sempre com isso). Afinal, o torneio não tem história – tem ficha corrida. Seria necessário um livro para contar tudo, mas aí vão alguns momentos marcantes:

1962

O Santos de Pelé precisava de um empate em casa para conquistar o título. Mas perdia por 3 a 2 para o Peñarol (URU). Um torcedor atirou uma garrafa no árbitro chileno Carlos Robles. O jogo ficou paralisado por uma hora e meia. Depois da retomada, o Santos empatou a partida. Campeão? Não. Dias depois, a Conmebol (a Confederação Sul-Americana de Futebol) informou que Robles deu o jogo por encerrado durante a paralisação, com vitória uruguaia. O complemento da partida foi só para a torcida não ficar mais revoltada. O título do Peixe veio apenas em um jogo extra, realizado em Buenos Aires.

aprontar. Jogador pronto para tirar vantagem de qualquer brecha. Policial transformando escudo em guarda-chuva de cuspe e pedras para proteger atacante do time visitante na hora de bater escanteio. A sensação de batalha se reforça até pelo aspecto geográfico. Não se ganha apenas um jogo. Conquista-se um território. Nenhum torneio de alto nível expõe jogadores a verão e inverno, deserto e umidade tropical. Em um intervalo de uma semana joga-se no nível do mar e, depois, no topo da cordilheira. A cidade europeia mais alta entre as que recebem a Champions League é Madri, com 667 metros. São Paulo tem 800. Curitiba, 930. Bogotá, 2.640. La Paz, 3.640. Para complicar ainda mais, as equipes são submetidas a traslados quase épicos, exigindo viagens com quase 24 horas de duração, incluindo espinhosos trechos de ônibus. O responsável pela logística é quase tão importan-

1971

Após uma briga generalizada durante um Boca Juniors (ARG) x Sporting Cristal (PER), o árbitro expulsou 19 jogadores. O placar ficou em 2 a 2, com mais gols do que jogadores aptos a seguir em campo.

1983

Uma vitória classificaria o Grêmio para a final contra o Estudiantes (ARG), em La Plata. O time gaúcho chegou a fazer 3 a 1, mas o 3 a 3 pareceu um grande resultado considerando ameaças de morte recebidas na concentração, chuva de pedras no ônibus, rojão em direção aos jogadores na entrada no gramado, arbitragem caseira e uso dos vestiários como abrigo até a madrugada do dia seguinte. Por fim, o Estudiantes empatou com o América de Cáli (COL) uma semana depois e os gremistas foram à decisão.

de z .2018 |

revLIBERTADORES_TP35.indd 159

| 159

27/11/2018 15:44


A libertadores de 2018 contou com o var. Para quê? aquilo que serviria para esclarecer aumentou a confusão

1991

O Colo-Colo (CHI) vencia o Boca Juniors por 3 a 1 no jogo de volta da semifinal. Perto do fim da partida, houve uma batalha campal que incluiu jogadores, o técnico Óscar Tabárez (sim, o da seleção uruguaia, na época comandante do Boca) e até jornalistas. Na confusão, o cão de um dos policiais mordeu a perna do goleiro boquense Navarro Montoya.

2006

A torcida do Corinthians derruba o alambrado e tenta invadir o gramado do Pacaembu enquanto seu time era eliminado em casa pelo River Plate (ARG). Pouco mais de duas dezenas de policiais evitaram o desastre.

2007

Torcedores do Flamengo fazem foguetório em frente ao hotel no bairro de São Conrado para atrapalhar o sono do Defensor Sporting (URU) na véspera de um confronto. Naquele mesmo dia e local, a CBF realizava um congresso para cidades que desejavam receber jogos da Copa do Mundo de 2014. Membros da Fifa se assustaram achando que se tratava de tiroteio na favela da Rocinha e chamaram a polícia, que dispersou a manifestação dos rubro-negros.

2015

Torcedores do Boca Juniors soltam gás de pimenta no túnel do visitante durante o retorno ao gramado do River Plate para o segundo tempo. Vários jogadores foram atingidos e a partida acabou encerrada. O River ficou com a vitória.

2017

O voo que levaria o Atlético Tucumán (ARG) de Guaiaquil para Quito no dia do jogo contra o El Nacional (EQU) não teve sua decolagem autorizada por problemas de documenta-

160 |

ção. O clube conseguiu - com intervenção do embaixador argentino no Equador - atrasar o início da partida em 1h30 e pegou outro avião. Mas parte da delegação não embarcou, assim como o kit de camisas. Por sorte, a Argentina disputava o Sul-Americano Sub-20 em Quito na mesma semana. Bastou à federação argentina emprestar as camisas ao Tucumán, que, por coincidência, também veste listrado azul e branco. O mais bizarro: os argentinos venceram a partida e se classificaram.

2017

O River Plate teve três jogadores suspensos por doping após a primeira fase do torneio. A Conmebol mudou o regulamento e permitiu aos clubes inscreverem seis novos jogadores para o mata-mata (o limite anterior era de três), ajudando o clube argentino a recompor o elenco e ainda se reforçar para a reta final.

2018

Dedé, do Cruzeiro, subiu na área do Boca para tentar empatar um jogo e acabou acertando o goleiro Andrada. Acidente que não chamou a atenção de ninguém naquele momento. Até que o árbitro Éber Aquino consultou o vídeo - novidade desta edição do torneio - e decidiu expulsar o zagueiro brasileiro. A vocação de confusão da Libertadores não perdoa nem o VAR. A lista poderia seguir indefinidamente. Em especial, com casos de arbitragem suspeitas. O torcedor de qualquer clube que vá à Libertadores com alguma frequência tem história de algum jogo “estranho”. Por trás de tudo estão as relações políticas da cartolagem sul-americana. A Conmebol, organizadora do torneio, não é o que se pode chamar de organização transparente.

| dez .2 01 8

revLIBERTADORES_TP35.indd 160

27/11/2018 15:45


“Hugo Moyano é o líder do poderoso Sindicato de Caminhoneiros da Argentina, entidade capaz de paralisar o país. Também é presidente do Independiente e sogro de Claudio Tapia, presidente da AFA (federação argentina) e vice-presidente da Conmebol”, explica Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN e um dos principais especialistas em futebol argentino no Brasil. “O eixo do poder está diretamente ligado ao clube vermelho de Avellaneda.” Não são elementos muito diferentes do que leríamos em um noticiário político de qualquer país latino-americano. E isso tudo ocorre apenas três anos depois de o FBI mandar prender diversos dirigentes da Conmebol e derrubar quase todo o alto escalão da entidade. Não é leviano acreditar que a situação estava ainda pior até pouco tempo atrás. Não admira que torcedores e a imprensa de tempos em tempos se levantem sugerindo o boicote dos clubes caso não haja uma revolução na organização do torneio.

Tudo isso é verdade, mas o pior é que… todos amamos a Libertadores. Basta nosso time se classificar para a próxima edição que já dá aquela palpitação no peito. As coisas ruins são esquecidas, e só surgem na mente as coisas boas do torneio. E elas existem, acreditem. Basta lembrar esquadrões dos mais diversos, como o Santos de Pelé, o Peñarol de Spencer, o Cruzeiro de Jairzinho, o River Plate de Francescoli, o Flamengo de Zico, o São Paulo de Telê, o Boca Juniors de Riquelme. Mesmo os times menos talentosos se tornam históricos a partir do momento em que aquele volante tosco xingado pela torcida o ano todo ganha o apelido de Capitão América e ergue a bela taça, que logo receberá uma nova plaquinha na base, com o distintivo do seu clube. “No futebol, o que temos de lúdico para oferecer supera com folga os problemas”, filosofa Douglas Ceconello, colunista do Globo Esporte e ex-editor do site Impedimento, especializado em futebol latino-americano. Para ele, o que será vivenciado em uma noite de Libertadores, em estádio possivelmente acanhado, provavelmente defasado, tem grande probabilidade de se tornar inesquecível. Trata-se de um arrebatamento. “A Libertadores é uma imponente sinfonia de Beethoven, movida a sinalizadores, mãos que seguram alambrados e jogos com desfechos ensandecidos, dentro e fora do campo”, diz Ceconello. “Já a Champions League, em termos de ambiente no estádio, de se vivenciar o futebol, se revela, no fundo, intimista e depressiva, como uma sonata de Chopin”, compara. Por tudo isso, quem quiser entrar na Libertadores precisa entender seu espírito. Não é como pegar um bonde andando. Mais do que isso, é entrar em uma carruagem em que cada cavalo está correndo ensandecido para um lado diferente e o sujeito responsável por domá-los talvez prefira que continuem assim. Quem está dentro corre o risco de sair voando pela janela e se machucar todo. Mas não trocaria aquilo por nada.

de z .2018 |

revLIBERTADORES_TP35.indd 161

| 161

27/11/2018 15:45


Giuliana Flores.indd 162

27/11/2018 15:46


Giuliana Flores.indd 163

27/11/2018 15:46


Mais smart,

O smartphone dobrável da Samsung sairá agora. O celular em pílula demora um pouco mais

164 |

| dez .2 01 8

revTECNOLOGIA3_TP35.indd 164

30/11/2018 14:54


t ecn o lo g i a P o r x av i e r b a rta b u r u

menos phones Prepare-se: vem aí uma revolução total no conteúdo e na forma dos celulares

Sabe o último smartphone top de linha que você comprou? Parabéns: você acaba de adquirir uma relíquia. Um dos últimos exemplares de uma espécie destinada à extinção, da qual você se lembrará daqui a dez anos da mesma maneira com que hoje recorda, provavelmente com pouca saudade, aquele primeiro tijolão que um dia você chamou de telefone celular. “2018 é o começo do fim dos smartphones”, vaticinou, em uma manhã de domingo, Amy Webb, professora de futurismo estratégico na Universidade de Nova York e fundadora do Future Today Institute, focado no estudo de tecnologias emergentes. A declaração se deu em março deste mesmo 2018, durante uma palestra do SXSW, um dos principais eventos globais dedicados à inovação, diante de uma plateia atônita que, a despeito do prognóstico, empunhava seus celulares para fotografar e registrar cada profecia que Amy Webb projetava no telão. E não eram poucas: o relatório elaborado por seu instituto, e pela primeira vez apresentado em Austin, no Texas, detectara 225 tendências de tecnologia para os próximos anos. Uma delas era a morte de iPhones, Galaxies e congêneres. E com data marcada: “2027 será o fim dos smartphones da forma como os conhecemos”, disse Amy na ocasião. Considerando que o primeiro smartphone “da forma como o conhecemos”, o iPhone, veio ao mundo em 2007, o dispositivo que mudou nossa maneira de se relacionar com o mundo terá tido uma curta existência de apenas duas décadas. Não é muito. Mas pode ser o suficiente para o salto que precisávamos dar entre os tijolões de um passado não tão remoto e a fusão definitiva entre o mundo físico e o digital. Afinal de contas, um smartphone não é exatamente a coisa mais prática do mundo. Deixe seu apego de lado

e reflita: que utilidade tem um aparelho que nos obriga a olhar para ele o tempo todo e nos força a ler notícias, ver filmes e consultar mapas em uma tela ridiculamente pequena? (Sem contar as dores no pescoço.) “Eles têm uma vida útil de bateria péssima”, diz Chris Matyszczyk, o mais influente consultor de marketing de conteúdo dos Estados Unidos. “São pegajosos também: precisam o tempo todo estar na nossa mão. Essa simplesmente não é uma boa base para um relacionamento de longo prazo.” E quem chega na frente com o firme objetivo de estragar o feliz casamento com seu iPhone será o Samsung Galaxy X, aguardado para algum momento entre o fim de 2018 e o início de 2019. Ele terá a primeira tela dobrável do mercado, feito que todas as grandes empresas vêm buscando há anos e que a sul-

de z .2018 |

revTECNOLOGIA3_TP35.indd 165

| 165

30/11/2018 15:06


o celular do futuro será tão flexível quanto uma folha de papel

coreana foi a pioneira em obter com viabilidade comercial, graças ao investimento pesado que vem fazendo nas telas OLED, mais maleáveis que os displays de cristal líquido usados na maioria dos smartphones. O Galaxy X se dobrará como uma carteira. Fechado, será um celular; aberto, um tablet de 7 polegadas. Ou seja, o começo do fim das lajotinhas fluorescentes que há dez anos não mudam de formato. Embora inovador, será um aparelho de transição: o objetivo é que o celular do futuro seja flexível como uma folha de papel. Os chineses já inventaram um que se enrosca no braço como uma pulseira. E a Apple, pelo que se sabe, andou patenteando outro cuja tela se abre em forma de rolo, como um pergaminho digital. Ambos ainda apresentam entraves técnicos para a produção em massa, mas que em breve devem ser contornados com o desenvolvimento do grafeno, uma forma cristalina do carbono descoberta há pouco mais de dez anos. É o material mais fino, leve e resistente conhecido até agora, rijo como um diamante e 300 vezes mais forte que o aço. Além disso, pode assumir qualquer forma sem se quebrar. Telas, porém, serão o de menos. Até porque, nos aparelhos do futuro, elas não serão apenas telas, e sim o suporte que nos fará enxergar o mundo real da forma que quisermos. A realidade aumentada já está aí, e funciona mesmo com os dispositivos mais básicos. Baixe o Google Tradutor, por exemplo, e aponte a câmera para uma placa em inglês ou russo – a tradução aparecerá na tela, em tempo real. Você também pode direcionar seu celular para o céu para enxergar as constelações, visualizar a rede de veias e artérias que corre sob sua pele e ainda vislumbrar como ficará uma tatuagem impressa no seu braço. No app criado pela rede europeia de lojas de móveis Ikea, você já pode projetar um sofá na sua sala

166 |

antes de comprá-lo, enquanto pelo app da Sephora é possível ver-se na tela do celular com a maquiagem já estampada no rosto. Tudo isso já existe e a tendência é que fique cada vez mais útil e interessante: em breve você poderá consertar um carro quebrado visualizando no celular as peças avariadas do motor, testar roupas novas em um provador digital e enviar mensagens por meio de um teclado virtual projetado nos dedos – uma letra para cada falange, acionada pelo toque dos polegares. “Em um futuro não tão distante vamos tornar intercambiáveis os mundos físico e digital”, disse Amy Webb. Nada distante, na verdade, pois já circula em fábricas e hospitais a nova geração de óculos inteligentes – herdeiros recompostos do fracassado Google Glass, lançado em 2014 ainda como protótipo, e portanto cheio de falhas. A gigante do Vale do Silício bateu em retirada depois do fiasco. Mas outras empresas toparam o desafio e terminaram desenvolvendo smartglasses mais avançados, com o mesmo princípio: uma camada de imagens digitais projetadas na lente e sobrepostas à realidade física. Dado o alto custo desses dispositivos, eles até agora permaneceram em grande

| dez .2 01 8

revTECNOLOGIA3_TP35.indd 166

27/11/2018 15:47


Os smartwatches farão de tudo. Até pagar contas. E os smartglasses retornarão sem o fiasco de outrora

medida restritos a usos profissionais – ajudando, por exemplo, um cirurgião a enxergar um órgão em 3D, guiando um operário na montagem de uma peça de alta precisão ou permitindo que um engenheiro visualize um edifício pronto a partir da planta. Mas não tardará para que você também tenha seu par. Guarde estes nomes: Vuzix e Magic Leap. E guarde também um bocado de dinheiro, pois você precisará dele quando essas duas marcas puserem à venda seus dispositivos de realidade aumentada para o consumidor comum. Se vale o investimento, só pagando para (literalmente) ver, mas é bem provável que um smartglass seja seu novo melhor amigo, capaz inclusive de fazer você deixar de lado, ao menos em parte do tempo, seu iPhone top de linha. Até porque esses óculos poderão fazer quase as mesmas coisas: tirar fotos, gravar vídeos (e compartilhá-los nas redes sociais instantaneamente), atender chamadas, ouvir música, ler notícias, visualizar as últimas mensagens, acompanhar trajetos no mapa e monitorar os batimentos cardíacos durante um exercício. E, é claro, povoar seu mundo real com as imagens

tridimensionais que você quiser. Bem-vindo ao século dos wearables, os aparelhos vestíveis. “Na próxima década, começaremos a fazer a transição para a nova era dos dispositivos de conexão, aqueles que vestiremos e iremos controlar usando a voz, os gestos e o toque”, diz uma das primeiras linhas do relatório do Future Today Institute, a consultoria sob o comando de Amy Webb. O documento não prevê a extinção das telas – elas ainda serão usadas para leitura de textos mais longos, já em sua futura forma dobrável –, mas dá como certo que a inteligência artificial moldará de modo irreversível nossa relação com o universo digital. Afinal, quem precisa de telas quando tem à sua inteira disposição um par de ouvidos digitais sempre a postos para atender às necessidades mais urgentes? Os números falam por si: enquanto a venda de smartphones se mantém estável, a de smartspeakers – caixas de som dotadas de assistente de voz digital – cresceu 187% entre 2017 e 2018, alcançando um número estimado de 100 milhões de unidades. Nos Estados Unidos, na China e na Europa, aparelhos como Google Home, Amazon Echo e Apple HomePod estão lentamente destronando os celulares e assumindo diversas funções acionadas com o comando de voz – entre elas realizar chamadas, tocar música,

de z .2018 |

revTECNOLOGIA3_TP35.indd 167

| 167

27/11/2018 15:48


ligar o Netflix, fazer buscas na internet, acender as luzes da casa, controlar a temperatura e até acionar a cafeteira. “As telas do futuro serão caixas de som”, acredita Joy Howard, CEO da Sonos, fabricante de alguns dos melhores smartspeakers do mercado Talvez sejam uma moda passageira, mas sensores de voz certamente não são. Eles estarão embutidos – como já estão no seu smartphone – em tudo o que está à sua volta, juntamente com sensores de imagem, de contato e de movimento, fazendo com que cada vez seja menos necessário puxar o celular do bolso e levar o dedo à tela. Na China, já é possível sacar dinheiro no banco e pedir uma refeição no KFC apenas com reconhecimento facial. Você também já pode comprar fones de ouvido que reconhecem os movimentos da sua cabeça: “sim” para atender uma chamada, “não” para rejeitá-la. E sutiãs inteligentes já são capazes de detectar padrões de respiração e de frequência cardíaca, útil em caso de treinamento esportivo. Os wearables são o equivalente portátil dos smartspeakers: estes você usa em casa, os outros na rua. E é bem provável que ambos terminem por substituir os smartphones nas mais diversas funções, sobretudo aquelas que exigem foco total do usuário, como dirigir, caminhar e cozinhar. Afinal, é bem mais prático fazer um pagamento no caixa encostando seu relógio inteligente na máquina de cartão ou tirar uma foto encostando o dedo na haste do seu smartglass. Imagine uma ida ao supermercado: enquanto a assistente de voz dita no seu ouvido os itens da sua lista, os óculos guiam você pelos corredores, iluminando os produtos na prateleira ao mesmo tempo que projetam, em 3D, o preço e a avaliação de outros consumidores. E ainda sugerem receitas. O que Amy Webb prevê é que, no lugar de apenas um aparelho, terminemos usando vários, de acordo com a necessidade. Vai viajar? A Google já lançou um fone de ouvido inteligente que faz tradução simultânea em 40 idiomas. Está acabando a bateria dos seus óculos inteligentes? Vista seu casaco inteligente, cujo tecido tem a capacidade de armazenar energia solar e recarregar aparelhos eletrônicos. Na hora da corrida,

168 |

Acredite: com sensores implantados no cérebro, você pensa e eles realizam basta calçar seus smartshoes dotados de acelerômetro, giroscópio e Bluetooth para armazenar dados como distância e velocidade. Sim, e já estão sendo concebidos também os ingestibles – aparelhos ingeríveis em forma de pílulas que farão diagnósticos mais precisos, transmitirão à nuvem informações sobre nossa atividade corporal e aliviarão a dor. Soa muito Black Mirror? Pois saiba que logo teremos entre nós os thinkables, sensores implantados em nosso cérebro que nos permitirão realizar uma série de atividades usando apenas o pensamento. Ou seja: um dia, e mais cedo do que você pensa, você irá engolir seu smartphone com um copo d’água ou voltar da loja com ele implantado no cérebro. Como disse Christopher Ferrel, diretor de Estratégias Digitais de uma das maiores agências de publicidade americanas, a The Richards Group, no mesmo SXSW do qual participou Amy Webb: “O passado está num celular no meu bolso, o presente nos comandos de voz usados hoje por mais de 60 milhões de americanos e o futuro em nossas cabeças”.

Aplicativos da Ikea e da Sephora mostram como ficarão a sala e o rosto

| dez .2 01 8

revTECNOLOGIA3_TP35.indd 168

27/11/2018 15:48


Mercearia Sao Roque.indd 169

27/11/2018 15:49


Catarata do Iguacu.indd 170

28/11/2018 16:04


VOLVO.indd 171

27/11/2018 15:52


Montblanc.indd 172

27/11/2018 15:51


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.