The President

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Nº 36 fevereiro | março 2019 Amanda capucho

THE WAY TO SUCCESS. O CEO DO CEL.LEP ENSINA COMO CHEGAR LÁ Por Lu iz Maciel Nº 36 fevereiro | março 2019

amanda capucho

CEO Da ORFEU cafés especiais

fev | mar 2019 nº 36 R$ 28,00

QUALIDADE GLOBAL NO MERCADO BRASILEIRO

OS MELHORES RELÓGIOS DO SALÃO DE GENEBRA

DEBORAH SECCO CHEGA AOS QUARENTA

MINHA LUA DE MEL COM UM NAZISTA

por R aphael Calles

por Joaqu im Ferreir a dos Santos

por Ronny Hein

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Nº 36 fevereiro | março 2019 ALEXANDRE garcia

A CEO Da orfeu CAFÉs especiais TRAZ A QUALIDADE GLOBAL PARA O BRASIL Por Lu iz Maciel Nº 36 fevereiro | março 2019

fev | mar 2019 nº 36 R$ 28,00

Alexandre garcia CEO Do cel.lep

ELE ENSINA THE WAY TO SUCCESS OS MELHORES RELÓGIOS DO SALÃO DE GENEBRA

DEBORAH SECCO CHEGA AOS QUARENTA

MINHA LUA DE MEL COM UM NAZISTA

por R aphael Calles

por Joaqu im Ferreir a dos Santos

por Ronny Hein

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e d i to r i a l

Não são poucos aqueles que preveem tempos cada vez mais cinzentos para a economia. Não só aqui, mas no planeta em geral. Seja como for, alheios aos meteorologistas do caos, vários comandantes de empresas destemidos apanham o robusto guarda-chuva da criatividade e da inovação e saem à rua, sem medo da tempestade. É o caso de Amanda Dias Capucho. Também o de Alexandre Velilla Garcia. Amanda, CEO da Orfeu Cafés Especiais, incentiva pesquisas de blends e variedades para continuar fazendo de sua marca um símbolo da excelência. Otimista, aposta que o mercado interno, cada vez mais adepto dos cafés gourmet, possa acolher toda a produção da empresa. Garcia, CEO do Cel.Lep, acredita nos melhores efeitos ao transportar seu tradicional e sólido curso de inglês para escolas de computação, formação de funcionários de empresas e até aulas de geografia e história no ensino médio. Outro otimista. Animado também está o mercado internacional de relógios de luxo. Depois de três anos mornos, o Salão Internacional de Alta Relojoaria, em Genebra, na Suíça, registrou uma efervescente melhora nos números. Raphael Calles foi até lá e mostra algumas das melhores novidades do evento – e foram muitas. Também nesta edição, reunimos diversos textos ótimos de ler. A começar por Joaquim Ferreira dos Santos registrando o ápice da carreira de Deborah Secco, à véspera de a atriz completar 40 anos (quem diria?). Recomendamos ainda as saborosas linhas de Rosangela Petta sobre o cineasta austríaco radicado nos Estados Unidos Billy Wilder e seu primoroso Quanto Mais Quente, Melhor. Vale ler também as lembranças de Ronny Hein, narrando como interrompeu sua própria lua de mel, lá se vão também 40 anos, para vasculhar a identidade de um carrasco nazista.

empreendedores Amanda Capucho, da Orfeu Cafés Especiais, e Alexandre Garcia, do Cel.Lep

Boa leitura. andré cheron E fernando paiva Publishers

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expediente the president Publicação da Custom Editora Nº 36

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE Diretores de arte J. Pequeno A. Neto e Rafael Pera designer Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Alberto Villas, Alexandre Taleb, Daniel Japiassu, Daniela Hirsch, Françoise Terzian, Joaquim Ferreira dos Santos, Luciana Lancellotti, Luiz Maciel, Raphael Calles, Renato Lombardi, Ricardo Prado, Ricardo Soares, Roberto Muggiati, Ronny Hein, Rosangela Petta, Silvio Lancellotti e Walter Bacellar Fotografia Tuca Reinés Tratamento de imagens Daniel Vasques Revisão Goretti Tenorio CapaS Alexandre Vellila Garcia e Amanda Dias Capucho foram fotografados em São Paulo por Tuca Reinés THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

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sumário fevereiro | março 2019

114 LUXO No resort Las Ventanas, no México, você recebe todos os mimos.

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54 VISÃO

84 ENTREVISTA

132 ESTILO

Deborah Secco vai fazer 40 anos (quem

Alexandre Garcia, do Cel.Lep, crê em novas

De vinhos a óculos, uma seleção de presentes para

diria?). E (acredite!) está ainda mais bela

maneiras de ensinar inglês. Mantendo o rigor

dar aos outros e a si próprio

60 AUDIÇÃO

94 NEGÓCIOS

138 cult

Meio milhão de pessoas. Meio século atrás.

Amanda Capucho fez o Café Orfeu, forte na

Há 60 anos, Billy Wilder rodava a maior comédia

Woodstock foi uma festança por inteiro

exportação, conquistar o mercado interno

do cinema: Quanto Mais Quente, Melhor

66 PALADAR

102 PERFIL

144 VIAGEM

O fettuccine do papa e outros 12 pratos

Procure o nome de Larry Page e você vai

Fim do mundo? A Patagônia argentina pode ser

que homenageiam gente de verdade

descobrir: ele simplesmente criou o Google

o começo de uma história de amor

72 OLFATO

108 ESPORTE

154 MEMÓRIA

Das caravelas ao wi-fi, os diversos cheiros

O mergulho livre fez do ousadíssimo

No Chile, a lua de mel do repórter foi interrompida

que emanam de quem se apropria do erário

Guillaume Néry um dos orgulhos da França

para encontrar um nazista

78 TATO

120 TEMPO

160 CRÔNICA

Os tempos românticos dos punguistas que

Escolha o seu relógio. As novidades do

O dia em que Augusto Boal ouviu o chorinho que

surrupiavam sem perder a elegância jamais

Salon International de la Haute Horlogerie

Chico Buarque fez para ele

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co l a b o r a d o r e s

capa

capa

direção de arte

O mais requintado são-paulino da serra da Cantareira admirava o crepúsculo em seus domínios, bebericando um vinho do Porto vintage acompanhado de chocolate amargo belga, quando o celular tocou. Maciel acendia um puro Cohyba, quando concordou em sair de Mairiporã para ir a São Paulo entrevistar as duas capas desta edição: Amanda Capucho, CEO da Orfeu Cafés Especiais, e Alexandre Velilla Garcia, CEO do Cel.Lep. Sorte nossa.

Craque nos retratos, ele é o fotógrafo das capas mais recentes de THE PRESIDENT. Incluindo a desta edição. A arte do portrait é só uma das artimanhas deste paulista boa-praça, fã de mergulho e aviação e formado em arquitetura – e, por sinal, também bamba em cliques de arquitetura. Reinés tem fotos em coleções de grandes museus mundo afora e livros publicados da Alemanha pela criteriosa Taschen.

Designer gráfico de formação, J. Pequeno vive o meio editorial desde 1975. Ao longo da carreira dirigiu departamentos de arte de títulos importantes como Claudia, Vogue, Casa Vogue e GQ. É ganhador dos prêmios Jabuti em 2000, com o livro Cozinha dos Imigrantes, e SND em 2011, com o projeto gráfico da revista Época Negócios. Nesta edição, divide a direção de arte de THE PRESIDENT com o designer gráfico Rafael Pera.

direção de arte

ESTILO

visão

Formado em criação publicitária, Rafael desenvolveu seu senso estético acumulando passagens pelas maiores editoras do país, desenvolvendo projetos gráficos e branded content como diretor de arte para marcas como Calvin Klein, LATAM, SPFW, Época Negócios, VIP, Asics e Levi’s. Nesta edição, assina a direção de arte com J. Pequeno A. Neto, trazendo um toque de modernidade e elegância para THE PRESIDENT.

Filho de comerciantes de tecidos da irrequieta rua 25 de Março, em São Paulo, cresceu na loja da família. Formou-se em administração de empresas, trabalhou na Emporio Armani e decidiu se especializar em consultoria de imagem. É professor dessa matéria na Fundação Armando Álvares Penteado na capital paulista. Concorrido palestrante, também teve quadros na TV em que ensina o homem a se vestir com correção.

Antônio Maria, Leila Diniz e Zózimo Barrozo do Amaral foram alguns dos personagens que este carioca de Vila Isabel biografou em livros. Também lançou o delicioso Feliz 1958 - O Ano Que Não Devia Terminar. Dono de um estilo divertido e muito criativo, Joaquim trabalhou em Veja, O Globo e Jornal do Brasil, entre outras publicações. É, antes de tudo, um senhor cronista.

luiz maciel

rafael pera

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Tuca Reinés

ALEXANDRE TALEB

j. pequeno a. neto

Joaquim Ferreira dos Santos

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tato

perfil

Esporte

Nascido em Nápoles, na Itália, chegou ao Brasil aos 7 anos. Garoto ainda, foi office boy – “dizia-se então contínuo” – da versão paulistana do jornal Última Hora. Ali mesmo tornou-se repórter aos 19 anos. Especializou-se na área policial e fixou-se em O Estado de S. Paulo, onde trabalhou por 27 anos. Desde 2004 decidiu se dedicar exclusivamente ao rádio e TV. Abriu uma exceção para THE PRESIDENT.

Filho de dois jornalistas de primeira linha (Moacir Japiassu e Márcia Lobo), iniciou-se na profissão aos 21 anos, no Jornal da Tarde. Três anos mais tarde, já na revista CartaCapital, passou a fazer reportagens sobre economia, área em que se especializou, inclusive com curso de pós-graduação. Gosta de escrever também sobre informática e tecnologia. Perfilou Larry Page, dono do Google, para este número.

Não, ele não é parente do nadador. Apenas um homônimo. Ainda assim, também tem intimidade com a água, herança dos tempos em que editou a revista Náutica. Eis aí um dos motivos de o convidarmos a escrever sobre o mergulhador francês Guillaume Néry. Eclético, Prado editou também as revistas Superinteressante, Horizonte Geográfico e Nova Escola, entre outras. É, ainda, talentoso romancista e roteirista.

Renato Lombardi

Daniel Japiassu

Ricardo Prado

tempo

cult

memória

Cercado nesta edição por dinossauros da imprensa, Calles é um quase garoto perto dos veteranos. Mas já rodou, Esteve na Band, na Rede TV! e no jornal Diário do Grande ABC. A maior parte de sua experiência vem de veículos de lifestyle. É um dos raros jornalistas brasileiros especializados em alta relojoaria. Como tal, foi a Genebra, na Suíça, cobrir o Salon International de la Haute Horlogerie.

Na infância, quase apanhou por deixar de fazer o dever de casa para ver mais um clássico do cinema americano na Sessão da Tarde, pela TV. Mas acredita que os filmes só ajudaram sua formação. Primeiro como jornalista, depois como dramaturga e escritora. Até hoje usa cenas em seu coaching de escrita criativa e é capaz de recitar diálogos inteiros escritos por Billy Wilder, cujo perfil escreveu para esta edição.

Ele criou e dirigiu duas das melhores revistas de viagem do país: Viagem e Turismo e Próxima Viagem. Também esteve à frente da Caminhos da Terra. Para escrever sobretudo matérias para esses veículos, este paulistano que vive à beira da represa Guarapiranga esteve em nada menos que 82 países. Para esta edição, relembra uma viagem nada profissional, a de sua lua de mel, que também acabou em reportagem.

Raphael Calles

© acervo pessoal

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Rosangela PEtta

Ronny Hein

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e sti lo P o r A l e x a n d r e Ta l e b

será a base de seu visual. O terno deve ser 100% de lã fria, e há diversas numerações: super 80, 100, 120, 180 etc. Números mais altos indicam fios mais finos e nobres – e, portanto, mais caros. Já numerações como 80 e 100 indicam que o terno é feito com fios mais espessos, que acabam dando um aspecto mais pesado e grosseiro ao conjunto.

Ternos, costumes & cia. Dicas para escolher e vestir bem a roupa mais tradicional do mundo corporativo. Sem parecer um personagem de história em quadrinhos O terno é a peça de maior destaque do guarda-roupa masculino, companheiro inseparável dos profissionais do mundo corporativo. Tradicionalmente, é composto de três peças (daí a origem do nome): paletó, colete e calças. Erroneamente, convencionou-se chamar de terno o conjunto composto apenas de paletó e calças – que, na verdade, chama-se costume. Como o

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Brasil é um país onde faz muito calor, o colete muitas vezes é deixado de lado, daí o uso comum do “terno de duas peças”. Para meu gosto pessoal, porém, é muito mais elegante usar as três peças do terno. Jamais compre um terno de material sintético! Não se pode fazer uma economia tola na hora de adquirir a peça mais importante de seu guarda-roupa, e que

Botões Ao vestir um terno de dois – ou três – botões, a regra manda que o último botão esteja sempre desabotoado. Os ternos de três botões já não estão mais na moda, são uma opção muito conservadora. Caso você seja conservador e goste de usar o paletó com três botões, é possível, em um ambiente mais informal, deixar também o botão de cima solto, abotoando somente o do meio. Os ternos de dois botões são a opção mais comum no Brasil hoje, ainda que a tendência atual da moda seja o terno de apenas um botão. Nem todas as lojas, porém, têm esse tipo de peça, essencial para quando se quer estar chique. Assim, vale a pena correr atrás de uma loja em que se possa encontrar a peça. A tendência de deixar o botão de baixo do terno desabotoado foi lançada pelo rei Eduardo 7º, da Inglaterra. Ele sempre teve muita preocupação com seu visual, e isso é notado pelos ternos de corte justo que usava. Com uma barriga um pouco avantajada, o rei tinha o hábito de deixar o último botão do paletó desabotoado, para obter mais mobilidade e conforto ao sentar-se. Logo o hábito passou a ser imitado por toda a corte, e assim entrou para a história.

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“No mundo corporativo no Brasil e em eventos sociais, só há três cores de terno possíveis: azul-marinho, cinza e preto. Indico para meus clientes somente o terno azul e o cinza, deixando o preto em último lugar"

Cores No mundo corporativo no Brasil e em eventos sociais, só há três cores de terno possíveis: azul-marinho, cinza e preto. Indico para meus clientes somente o terno azul e o cinza, deixando o preto em último lugar. Dessas três opções, a mais chique e bacana é o terno azul-marinho, que é mais elegante para trabalhar, ir a um casamento ou participar de uma entrevista de emprego. Quanto às tonalidades de cinza, cada uma tem suas especificidades. O cinza-claro só deve ser usado até as 18 horas. O cinza médio e o chumbo são mais versáteis nesse aspecto, podendo ser também trajados à noite. Tradicionalmente, o brasileiro prefere os ternos pretos, por julgar que é o mais seguro para usar em diferentes ocasiões. Enorme engano! Costumo recomendar que meus clientes evitem os ternos pretos – e, se você vai contar com poucas opções no guarda-roupa, é melhor nem tê-los. Fora do Brasil, o terno preto é muito pouco utilizado no mundo corporativo.

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O terno preto de pouca qualidade ressalta os defeitos da peça, que fica com aspecto de produto barato e mal-acabado. Não se pode esquecer, também, que o terno preto liso é a roupa típica dos seguranças – nada contra a profissão, mas, se você deseja estar apresentável no mundo dos negócios, a última coisa que você vai querer transmitir é uma imagem intimidativa. Para se ter um terno preto, ele precisa ser de muita qualidade, com um corte impecável, feito de um tecido muito bom, com algum tipo de padronagem (linhas em relevo ou risca-de-giz). Por fim, recomendaria uma peça dessas apenas para festas muito chiques, e nunca para o dia a dia no escritório.

Portanto, seu uso não é recomendado no dia a dia, especialmente para quem conta com poucos ternos. Assim, é mais interessante montar seu guarda-roupa dando ênfase aos lisos, nas cores já indicadas, e só partir para opções com padronagem se você já contar com outras possibilidades. Como dica pessoal, sempre sugiro o terno azul-escuro, peça essencial, a melhor opção para jamais errar. E as outras cores? Não recomendo o uso senão do azul-marinho e do cinza para o mundo corporativo. Ternos beges só caem bem em homens cheios de estilo e ambientes de trabalho que permitam algum tipo de casualidade. Também não recomendo os marrons. Eles podem ser comuns na Itália, sendo vestidos por homens superestilosos, com cortes justos, mas não combinam muito com o nosso país, que demanda mais formalidade em ocasiões sociais. Quanto aos ternos coloridos, jamais! – a menos que você seja um personagem de história em quadrinhos. TP nas livrarias Alexandre Taleb é publicado pela editora do Senac

Padronagens Além das cores, há diversas opções de padronagem dos tecidos, como xadrez, espinha de peixe, listrado, risca-de-giz, pied-de-poule. Por mais refinados e estilosos que sejam, esses tipos de terno apresentam uma desvantagem: marcam em demasia o visual do homem.

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h ospedag em P o r Lu c i a n a L a n c e llot t i

EM CASA EM LISBOA Um antigo prédio recuperado no centro histórico é uma das opções de hospedagem mais charmosas da capital portuguesa Localizado na Baixa, bairro mais central da área histórica de Lisboa, um prédio construído no século 18 é uma das opções de hospedagem mais envolventes da capital portuguesa, a Baixa House. Embora a fachada original, revestida com azulejos portugueses, tenha sido preservada, por dentro, tudo é novo: as instalações foram recuperadas após uma grande obra que trouxe ar de modernidade aos cômodos, sem descaracterizar a autenticidade do prédio. Pisos, tetos de madeira e janelas, por exemplo, ainda são os mesmos. A ideia é oferecer a quem passa pela cidade a sensação de se sentir em casa em Lisboa. O diferencial: com os confortos que um hotel oferece, como serviço de arrumadeira, reposição diária de ingredientes para preparar o café da manhã, wi-fi gratuito, cozinha completa e lavanderia, além de uma equipe à disposição para esclarecer dúvidas sobre o apartamento e a cidade. Originalmente residencial, o edifício tem quatro andares e 13 apartamentos, com um, dois e três quartos. Cada unidade recebe o nome de um dos jardins lisboetas: Alorna, Jerónimos, Príncipe Real… Detalhes genuínos Quem chega encontra a geladeira e os armários da cozinha abastecidos com ingredientes para o café da manhã e utensílios como cafeteira italiana e louça da tradicional marca Bordallo Pinheiro. As peças que decoram os apartamentos foram cuidadosamente garimpadas em feiras

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de antiguidades como a da Ladra, em Lisboa. No piso, os tapetes de lã, produzidos à mão, vieram do Alentejo. Sobre as camas, os famosos cobertores de papa, feitos de lã grossa de ovelha na Serra da Estrela. Detalhe por detalhe, a essência portuguesa está por toda parte. Outra diferença: toda manhã, entre 8h e 8h30, um saquinho de linho branco macio é pendurado nas maçanetas das portas principais dos apartamentos, com pães recém-preparados. Como a localização é central, a Baixa House fica a poucos passos de pontos estratégicos para os gourmets: nas proximidades, supermercados, queijarias e lojas

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lisboeta Não é um hotel, embora ofereça serviços similares. Na realidade, o hóspede vive a aventura de ser um morador

de vinho fornecem os ingredientes necessários para abastecer o preparo de um jantar especial feito "em casa" em Lisboa. perto do tejo Como em um edifício residencial, os hóspedes recebem a própria chave do prédio, e um porteiro eletrônico permite a comunicação com os apartamentos. Dali se chega, em poucos minutos e por agradáveis caminhadas, ao Mercado da Ribeira, à Ribeira das Naus, como é chamada a avenida que acompanha o Tejo, à praça do Comércio e vários bares e restaurantes. baixahouse.com

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h oteL P o r m a r i o c i cco n e

Selo de qualidade Siro Barino, CEO da Swiss Deluxe Hotels, fala sobre o DNA dessa seleção de 40 hotéis na Suíça

A carreira de Siro Barino é longa e mostra versatilidade. Como jornalista, teve passagens por emissoras de rádio e TV e revistas de economia da Suíça. Depois, vestiu a jaqueta de relações públicas para liderar a comunicação de Credit Suisse e Swiss Air. Em 2004, foi o momento de iniciar o seu voo solo e criar a sua própria consultoria, a Barino Consulting. Entre os seus principais clientes está a Swiss Deluxe Hotels. Há mais de seis anos, ele ocupa o cargo de CEO dessa associação que reúne 40 hotéis de excelência na Suíça - dois novos serão adicionados ainda este ano. Além disso, tem especial orgulho pelo seu trabalho com a Cruz Vermelha. Como é o seu trabalho com a Cruz Vermelha? É uma bela experiência, porque na prática salvamos vidas. Tem importantes ações em países com dificuldades. O importante é que a instituição não apenas ajuda de forma imediata. Quer assegurar que está deixando um legado, mesmo que seja simplesmente a gestão da água. As populações precisam ser autossuficientes. E nós ajudamos a arrecadar recursos, com jantares de gala. Um deles em St. Moritz e outro em Zurique. Já visitou os projetos? Sim. É muito bom ver o andamento das ações um ou dois anos depois. Muitos projetos sanitários e de salas de aula foram implementados em países da África e também no Equador, onde estive recentemente. Qual o próximo passo para a hotelaria e para a Swiss Deluxe? Teremos passos importantes rumo à digitalização e inteligência artificial. Isto é positivo e negativo ao mesmo tempo. O positivo é a transparência da informação, precificação e

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acesso fácil a novos mercados. Não sabemos ainda para onde a inteligência artificial nos levará. Por enquanto, nos leva a um panorama de maior eficiência. O que conta é o produto. Se o hotel não é bom, toda a energia digital do mundo não vai ajudar. As pessoas não voltarão mais. Investimos até US$ 400 milhões por ano nesses hotéis para garantir que sejam top level internacionais. É preciso investir no produto e no pessoal. Esta é uma boa combinação. Como é esse produto? Os hotéis não apresentam apenas spas incríveis, restaurantes fantásticos e grandes suítes. Há também a dedicação e a paixão do concièrge, de todo o staff que está em contato com os hóspedes. Essas pessoas têm paixão pelo que fazem. Daí surge a combinação perfeita com o luxo e a beleza do hotel. Até os próximos 30 anos, avançaremos para uma estrutura impecável. De nada adiantará se ali

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the boss Siro Barino e o grandioso Mont Cervin Palace, em Zermatt

trabalharem pessoas arrogantes ou despreparadas. Ótimos profissionais não são fáceis de encontrar. Esse mix é o grande desafio? Sim, mas também o próprio país, que precisa ter estabilidade política e econômica. No caso da Suíça, esse panorama favorável persiste há séculos. A segurança é importante para quem está em férias. Estamos falando também de pontualidade, beleza, qualidade de vida e medicina avançada. Esse é o DNA da Suíça. É possível ter uma referência com essa no Brasil? Uma marca como Swiss Deluxe Hotels faz sentido no Suíça, porque estamos falando de um país pequeno. Entre os 40 hotéis, não há uma distância maior do que três horas de viagem. Temos seis reuniões por ano entre todos os managers dos hotéis, diretores de compras, bem como executivos de marketing. Não sei se isso seria possível no Brasil, um país tão

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grande. Ainda assim, é preciso ter uma visão estratégica desse tipo de gestão. São 40 hotéis individuais. Não um grupo, com um dono. É muito mais difícil encontrar denominadores comuns. Mas conseguimos que os hotéis aceitem o nosso padrão de qualidade, porque isso garante valor, marketing internacional e até vantagens nas compras corporativas. Mais de 130 parceiros acreditam nisso, como Nespresso, San Pelegrino e BMW. Para o grupo, os contratos são melhores. Qual é o lugar para descobrir na Suíça? Na verdade, há uma estação a descobrir na Suíça: o verão. Os suíços vão muito a Ticino, por exemplo. Além disso, temos as regiões das montanhas. Se nas cidades as temperaturas excedem os 30 oC, nas montanhas, não vão além de 20 oC. Muita gente faz mountain biking e hiking. Um bom contingente de suíços sai do país nesse período. Então, o país é ainda mais calmo. O que os brasileiros mais buscam? Especialmente os jovens, querem esquiar e caminhar pelas montanhas. Buscam a combinação de gastronomia, compras e esporte. E todos os nossos hotéis têm esse mix. Em nível internacional, temos localidades muito procuradas, como St. Moritz (Suvretta House, Badrutt's Palace Hotel e Carlton Hotel St. Moritz) e Crans-Montana (Guarda Golf Hotel & Residences e LeCrans Hotel & Spa). O Guarda Golf, aliás, pertence à paulista Nati Felli e seu marido Giancarlo. O lugar foi reinventado por ela e vem atraindo muitos brasileiros. Até porque Nati Felli tem muito amigos em seu país. Entre as cidades, as mais procuradas pelos turistas brasileiros são Genebra e Zurique. TP

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n egÓci os p o r Da n i e l a H i r s c h

MULHERES NO TOPO A liderança feminina ainda é minoria no Brasil e no mundo, mas, quando ela acontece, ganham todos – a empresa, a profissional, seus pares e equipes. A Espaçolaser orgulha-se de ser uma referência de sucesso nesse quesito. Saiba por quê

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ob a bandeira da diversidade de gênero e meritocracia, as empresas deveriam apresentar mais mulheres líderes. Quando optam por uma carreira corporativa, as profissionais investem tempo e dinheiro em formação, aprimoram habilidades diferentes das dos homens – e, muitas vezes, complementares. Assim, soa óbvio que as oportunidades sejam as mesmas, para qualquer dos gêneros. “Apesar de sermos quase 50% da mão de obra no mercado de trabalho, uma das inúmeras pesquisas sobre o tema no Brasil indica

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que apenas 16% das mulheres ocupam posições de liderança, de gerente para cima”, analisa Bárbara Fortes, COO da Espaçolaser, maior rede de depilação a laser do mundo. A Pesquisa Panorama Mulher, realizada em 2018 com 920 empresas brasileiras e multinacionais, revela que apenas 32% dessas companhias declararam ter política interna de igualdade de gênero. O Guia Exame de Mulheres na Liderança, elaborado pela FGV, mostra que as multinacionais estão à frente nesse combate à antiga (e preconceituosa) cultura corporativa.

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“Acompanhamos a colaboradora

“Passei por empresas em que

“É essencial abordar este tema

durante a gravidez e, na volta

a maioria dos funcionários e toda a

dentro do universo feminino

da licença-maternidade,

direção era composta por homens.

pois os tabus existem ali também.

impulsionamos sua carreira, sem

Isso nunca me intimidou. No meu

A mulher capacitada pode disputar

deixá-la encostada. Para quem

planejamento pessoal, contemplo

uma posição com um homem,

está em início profissional: escolha

o lado mulher, esposa, mãe

de igual para igual. Mas, em alguns

uma empresa que pense na carreira

e profissional. É o que torna a mulher

casos, ela se retrai, acreditando

da mulher, como nós fazemos.

tão versátil e com facilidade

ser uma batalha perdida.

Confie em você mesma.”

para adaptação.”

E isso não é verdade!”

Bárbara Fortes,

Fernanda Milred,

Helen Maeda,

COO da Espaçolaser

diretora da franqueadora da Espaçolaser

CIO da Espaçolaser

Referência de sucesso no mercado. No time da Espaçolaser, 95% dos profissionais são mulheres. Essa característica já estimula uma autêntica consciência empresarial do protagonismo feminino. As que ocupam cargos de chefia entendem a importância de reter talentos, sejam homens, sejam mulheres, para a empresa decolar. “A gente se orgulha muito de ter um olhar diferenciado sobre nossas funcionárias. Tomamos decisões estratégicas junto com o board americano [do fundo L. Catterton, sócio da rede], que também tem alta representatividade feminina”, comenta Fernanda Milred, que dirige a franqueadora da

© Divulgação Espaçolaser/João Passos

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Espaçolaser, com mais de 400 lojas no Brasil e na Argentina. Há menos de um ano na casa, Helen Maeda, CIO da empresa, completa: “Vim de ambientes em que chefiava só homens. Aqui abraçamos a chance de usar da melhor maneira o lado cuidador e humano que a mulher naturalmente tem. Com esse amadurecimento coletivo, todos crescem”. Essas líderes planejam felizes a ascensão profissional de suas funcionárias, sempre tentando impulsioná-las para posições desafiadoras. Isso vai na contramão da mentalidade comum empresarial. Estão, definitivamente, à frente de seu tempo. TP

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sh ot

É tempo de Cachaça Appeal Sinônimo de brasilidade, o destilado brasileiro é reconhecido como um dos mais cobiçados do mundo A boa e velha cachaça saiu do campo. Chegou à cidade, cruzou fronteiras e hoje é inspiração para bartenders internacionais. Não à toa, o coquetel oficial do Golden Globe Awards, em Los Angeles, na primeira semana do ano, foi The Moët Belle, mix de cachaça com champanhe e frutas tropicais. O coquetel, preparado com Moët Chandon, foi apresentado pela bela Camila Belle. A atriz americana tem mãe brasileira, e realçou suas raízes na cerimônia de premiação, para mostrar ao mundo o novo status da cachaça: uma iguaria reconhecida como um dos mais cobiçados destilados do mundo. Não se trata, claro, de qualquer cachaça. Mas sim da cachaça Sebastiana, produzida no interior paulista com base nos mais elevados padrões de qualidade, técnicas únicas de envelhecimento e 27 premiações garimpadas entre concursos e festivais como o International Spirits Challenge, World Spirits Competition, World Wine & Spirits Competition e Miami Rum Festival. Também foi considerada a quarta melhor cachaça envelhecida do Brasil pela Cúpula da Cachaça e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Tudo isso com apenas quatro anos de vida. A cachaça é a única bebida brasileira reconhecida internacionalmente com IG – Identificação Geográfica. Vem conquistando o seu espaço também no mercado de luxo. De acordo com Carlos Alberto Mattos, master distiller e produtor da Sebastiana, apresentar a cachaça de qualidade em eventos de grandes marcas, como Mont Blanc, Ferrari e Tag Heuer, tem sido uma oportunidade ímpar. E com ótimos resultados.A Sebastiana está conquistando o mercado internacional, e já é exportada para o Canadá, Franca e Áustria. Considerada a segunda bebida alcoólica mais consumida no país, só perdendo no pódio para a cerveja, a cachaça vem conquistando a admiração do mundo, principal-

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mente por meio da coquetelaria. É tempo de Cachaça Appeal, e foi pensando nesta onda de valorização do nosso destilado que a Cachaça Sebastiana acaba de lançar um serviço exclusivo para o mercado corporativo e de eventos, oferecendo estrutura completa de bar para a preparação de drinques clássicos e coquetéis autorais elaborados com cachaça. Uma maravilha. cachacasebastiana.com.br

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v i n h os P o r m a r i o c i cco n e

Um novo conceito Domenico, marca experimental da Salton, é um brinde à qualidade O imigrante italiano Antonio Domenico Salton, que chegou ao Brasil em 1878, recebeu uma justa homenagem ao seu legado. A vinícola Salton levou o nome do seu fundador para uma nova marca, a Domenico. A ideia é trazer rótulos inovadores e manter um pé na tradição. O produto de estreia é o espumante Giornata 140, numa referência à jornada do imigrante. Todo o aprendizado de gerações da família está nesta garrafa. “Temos grande apreço pela trajetória de 140 anos iniciada pelo imigrante Antonio Domenico Salton”, diz Maurício Salton, presidente da empresa. “Agora é o nosso momento de traduzir a ousadia que está em nosso DNA em produtos distintos e que expressem o melhor de nossas regiões.” O espumante é 100% produzido com a uva Prosecco, variedade que se adaptou muito bem à região da Serra Gaúcha. A empresa começou a rastrear a qualidade das uvas em 2004. Resultado: uma expressão única da Prosecco no terroir do Sul do país. “Pudemos observar que, entre os diversos vinhedos existentes dessa variedade, alguns se destacavam sobre os demais”, revela Gregório Salton, enólogo da vinícola. “Eles produzem, ano após ano, uvas de qualidade íntegra, maturação ideal e expressão singular.” Em abril, a Salton prepara o lançamento do seu segundo rótulo Domenico. Será o vinho Campanha, que combina a força da uva Tannat e a acidez e leveza da Marselan. Essa dupla apresenta a alma da Campanha Gaúcha. “A produção será anual para que em cada rótulo possamos expressar as características únicas daquela safra”, ressalta Gregório Salton. Para a empresa, a nova marca é uma forma de expressar a linguagem do vinho brasileiro e torná-lo conhecido no mundo. salton.com.br

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Giornata 140 O primeiro Domenico homenageia os 140 anos da chegada do patriarca Salton à Serra Gaúcha

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e sti lo P o r F r a n ço i s e T e r z i a n

Ele trocou o carro pela bike Rodrigo Galvão, presidente da Oracle-Brasil, incentiva os funcionários a fazer o mesmo Líderes da nova geração não reclamam do trânsito. Eles se adaptam. Buscam alternativas viáveis em tempos de preocupação com a mobilidade urbana. Um dos casos mais marcantes dessa mudança é o de Rodrigo Galvão, presidente da operação brasileira da Oracle, provedora global de computação em nuvem corporativa, com receita de US$ 37,7 bilhões no ano fiscal de 2017, 430 mil clientes em 175 países e mais de 138 mil funcionários no mundo. Aos 36 anos, ele é um entusiasta dos esportes desde criança. Futebol, tênis e corrida sempre fizeram parte de seu cotidiano. Para não perder tempo e nem se estressar em meio ao trânsito caótico, Galvão deixa o carro na garagem de casa, em São Paulo, e segue para o trabalho de bicicleta elétrica. O trajeto de 7 quilômetros é percorrido em 20 minutos. A magrela reduz pela metade o tempo que gastaria de automóvel no percurso. “Quando estou de bike, sei em quanto tempo vou chegar na Oracle ou em casa”, conta Galvão, há 17 anos atuando na Oracle. Ao longo do trajeto, ele ouve música e noticiário. A estratégia, além dos benefícios para a cidade e o meio ambiente, faz bem para a saúde. Traz equilíbrio e reduz o estresse. Em certos dias, Galvão segue para o escritório ou volta para casa correndo. “Sinto-me revigorado em todos os sentidos.” Para Galvão, o esporte ajuda na carreira e no dia a dia. Ele encara como um estimulante da mente, auxiliando inclusive presidentes como ele (geralmente em posições solitárias) a tomarem decisões. “O que é obstáculo vira desafio e superação. O esporte te ajuda a ter calma, se preparar, ter resiliência e pensar positivo.” Não por acaso, às segundas-feiras ele joga tênis, às terças futebol de salão, às quartas faz musculação com a ajuda de um personal trainer, às quintas corre no par-

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NOVOS HÁBITOS “Vivemos em um novo tempo, novo momento, de total conscientização. É preciso acabar com a barreira de que, para ser bom, é preciso trabalhar 45 horas por dia, não fazer exercício e fumar.”

que e às sextas volta a encontrar o personal. Nos fins de semana, participa de um campeonato de futebol de salão. Em meio a isso tudo, joga squash. Seu estilo pessoal influenciou o dia a dia dos funcionários da Oracle. Na sua gestão, a empresa migrou de um bicicletário externo para um interno com mais de 60 vagas, além de banheiros masculino e feminino dotados de chuveiros. Tem mais: as escadas dos 12 andares do prédio da companhia foram pintadas de forma a lembrar uma pista de cooper, com frases que estimulam os cuidados com a saúde. TP

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A nova lenda Embalado num pacote de alta tecnologia, o novo Mitsubishi Pajero Sport chega ao Brasil ainda neste semestre – com a força e a resistência que todos conhecem

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Quando a maioria das marcas da indústria automobilística resolveu apostar no segmento dos SUVs de luxo, o Mitsubishi Pajero já era um sucesso consolidado. Havia enfileirado 12 títulos no Rally Dakar, o mais difícil do mundo. Reunia planeta afora fãs que amavam a robustez de um off-road – mas também faziam questão absoluta de conforto. É com esse mesmo DNA que o novo Mitsubishi Pajero Sport chega ao mercado brasileiro. Dentro do portfólio da grife dos três diamantes, ele vai conviver com o Pajero Full – imortalizado pelo slogan “The Car, The Legend”. “O Pajero Sport traz elegância, ótimo espaço interno e segurança aliados à mais alta tecnologia”, ressalta Reinaldo Muratori, diretor de planejamento da Mitsubishi Motors. “É um SUV completo.” O carro, aliás, já está sendo chamado de “The New Legend”. E não sem motivo. Equipado com o que há de mais contemporâneo em eletrônica automotiva, o Pajero Sport chega com a tecnologia MiTEC (Mitsubishi Motors Intuitive Technology). Esse sistema trabalha para proteger, alertar e conectar. Pensa e reage, antes mesmo de você saber. Isso acontece por meio de sensores e equipamentos do veículo. Vale destacar o piloto automático adaptativo (ACC), alerta de colisão com frenagem automática e detector de ponto cego. Tudo isso coloca a versão 2020 do Pajero Sport no nível dos principais SUVs de luxo. E com a vantagem de ser um off-road que não passa vergonha na lama, claro.

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versatilidade Ele é muito confortável e muito elegante. Mas encara todos os terrenos

Uma fortaleza

O novo Pajero chega em versão única, com sete lugares e teto solar. Aliado ao sistema 4x4, o veículo tem transmissão Super Select II. O conjunto agrega controle de descida de montanha (HDC) e partida em rampa (HSA), além dos controles de tração e de estabilidade.

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Não se trata apenas da beleza, mas de funcionalidade. A aerodinâmica garante estabilidade e baixíssimo nível de ruído interno

Outro destaque é a central 4WD-II. Ela permite escolher entre quatro modos diferentes: 2H (asfalto, com economia de combustível); 4H (estradas de asfalto e outros pisos irregulares, alternando tração entre os eixos); 4HLc (terreno acidentado e com baixa aderência) e 4LLc (rocha, lama e areia, com aclives e declives bem acentuados). Sob o capô, o motor é um robusto MIVEC 2.4 turbo diesel de 16 válvulas. Desenvolve 190 cavalos de potência e tem torque de 43,9 mkgf. A transmissão é automática de oito marchas. Assim, o carro entrega uma aceleração vigorosa com economia de combustível. Mesmo em baixas rotações, sente-se o torque por inteiro. Vigoroso e desafiador, o veículo reúne elegância e agressividade. É a moldura que a engenharia da Mitsubishi exigia. Não se trata apenas da beleza, mas de funcionalidade. A aerodinâmica garante estabilidade e baixíssimo nível de ruído interno. Segurança a toda prova

O visual do carro apresenta ainda rack de teto na cor preta, integrado ao chassi. Na dianteira, o Dynamic Shield se tornou a marca registrada da nova geração

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de SUVs da Mitsubishi. Os elementos cromados formam contraste com a grade frontal preta. Já os faróis de LED têm a regulagem automática de altura, inclusive com integração das luzes diurnas. No interior, encontramos quase uma nave espacial. O console central tem uma bela combinação do black piano com os detalhes cromados. O sistema multimídia

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última geração O sistema multimídia é compatível com Android e Apple. O SUV proporciona espaço para sete ocupantes

reúne tela de 7 polegadas, audio streaming e conexão wi-fi, além de ser compatível no Android Auto e Apple Car Play. Fica muito mais fácil acessar aplicativos como Waze e os de música, como Spotify. Outra boa notícia é o volante multifuncional. Ele reúne todos os comandos. Está tudo ao seu alcance, desde as funções de computador de bordo até o piloto

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automático, telefone, áudio e limitador de velocidade. Para quem prefere pilotar de modo esportivo, basta passar as marchas de modo manual – por meio das aletas atrás do volante. A segurança também é um ponto alto do novo Pajero Sport. Além do piloto automático adaptativo (ACC), o carro conta com prevenção de aceleração involuntária (UMS) e 11 airbags (até mesmo na terceira fileira). Por tudo isso, o modelo teve nota máxima nos testes internacionais de colisão. O que, em se tratando de um Mitsubishi, não é nenhuma surpresa. mitsubishimotors.com.br

Motor 2.4 turbo diesel de 190 cv

sistema de segurança UMS e 11 airbags

transmissão automática de 8 velocidades

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g a r ag em e m Pa rc e r i a co m l e x us

ES 300h

Futuro híbrido A Lexus mais uma vez é pioneira e terá à venda, ainda em 2019, um portfólio todo formado por carros híbridos

O visionário Eiji Toyoda desafiou: quero o melhor carro do mundo

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ano era 1983 quando Eiji Toyoda, presidente da Toyota, propôs aos engenheiros da companhia um desafio gigantesco: construir o melhor carro do planeta. Naquele momento era plantada a semente da marca Lexus. Desde o início de sua trajetória, ela se propõe a ser bem mais do que uma divisão de veículos premium. Acima disso, assume a missão de transformar o contínuo desenvolvimento da tecnologia automotiva em um estilo de vida. Eis a ideia: construir carros com design expressivo, desempenho surpreendente e cada vez mais sustentáveis. Esses três pilares de desenvolvimento, na Lexus,

são baseados no Omotenashi, milenar conceito japonês da hospitalidade, segundo o qual o anfitrião deve se antecipar às aspirações do hóspede. A marca leva a assinatura “Experience Amazing” e se coloca um degrau acima no mercado de veículos premium. Um dos trunfos da Lexus é a tecnologia híbrida, que une potência, eficiência energética e silêncio. Não por acaso, os takumis são personagens fundamentais nesse processo. Eles são engenheiros que se tornaram mestres em produzir carros cada vez melhores. Muito mais do que a técnica, eles têm um espírito artístico próprio de quem trabalha com esmero artesanal.

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À frente do seu tempo Lexus foi a primeira marca premium a lançar um híbrido Não é surpresa que a Lexus tenha sido a primeira marca premium do mundo a lançar um automóvel híbrido – ou seja, dotado tanto de propulsão a combustão quanto de motores elétricos. Em 2004, o utilitário esportivo RX400h chegou ao mercado e foi o responsável por mudar a visão geral do público. Até então, veículos híbridos eram considerados exóticos e nem um pouco apaixonantes. O RX400h derrubou esse preconceito. Era o primeiro passo do Lexus Hybrid Drive, a tecnologia híbrida top de linha do mercado atual. O grande diferencial do Lexus Hybrid Drive é o sistema de gerenciamento inteligente. Ele faz o motor a combustão e os elétricos trabalharem em sinergia, extraindo o melhor de cada um. Assim, se oferece sempre a melhor resposta para o motorista, de acordo com o seu estilo de dirigir ou de suas necessidades imediatas de condução. Dentro de um Lexus, todos desfrutam de silêncio e con-

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forto, com elevada eficiência energética e baixo nível de emissões de poluentes. Sem esquecer, claro, da performance e do prazer de dirigir. Na mais recente edição do Salão do Automóvel de São Paulo, realizado no final de 2018, o pioneirismo da marca mais uma vez foi um dos grandes destaques. Ali se anunciou que o Brasil será o primeiro país do mundo em que a Lexus irá oferecer somente modelos híbridos. Eis a lista: o sedã ES 300h e o utilitário compacto UX 250h (disponível para venda a partir de abril/19), apresentados durante o evento, se juntam ao sedã LS 500h, ao hatchback CT 200h e ao SUV NX 300h. No segundo semestre de 2019, é a vez de o SUV RX completar o portfólio 100% híbrido. O NX 300h foi premiado no Salão do Automóvel de São Paulo. Recebeu o selo CONPET por atingir os graus máximos de eficiência energética na categoria extragrande.

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g a r ag em e m Pa rc e r i a co m l e x us

ES 300h

Estreia no Salão O sedã ES 300h é o mais novo integrante da linha de híbridos da Lexus

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ais do que um sedã de linhas dinâmicas e ousadas, que fizeram os olhos do público brilharem no Salão do Automóvel de São Paulo, o novo ES 300h é uma parte fundamental da estratégia híbrida da Lexus. Ele estreia a quarta geração do Hybrid Drive System, com uma central eletrônica de controle do sistema híbrido mais inteligente. Assim, oferece respostas mais dinâmicas e uma condução mais prazerosa. O Hybrid Drive System tem freios regenerativos que, quando acionados, transformam a energia cinética em eletricidade e recarregam a bateria, dispensando conexão na tomada.

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A motorização híbrida conta com um modo de condução que permite dirigir, em baixas velocidades, apenas com a propulsão elétrica. A Lexus oferece quatro anos de garantia adicionais para o sistema híbrido, além da cobertura dos quatro anos convencionais do veículo. O ES 300h está maior, tanto por fora como por dentro. Sua cabine estreia o Lexus Future Interior. A novidade: o painel de instrumentos agora é digital e ficou mais compacto, melhorando a visualização e manuseio. Quem dirige conta ainda com sistema de head-up display e tela central colorida de 12,3 polegadas. lexus.com.br

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g a r ag em P o r m a r i o c i cco n e

Fortaleza alemã Blindado de fábrica, Audi Q5 Security mantém a esportividade mesmo com peso extra O uso de carro blindado para o primeiro escalão das empresas é tão comum quanto o cafezinho nas reuniões de board. Não é preciso mergulhar em dados da segurança pública. Basta dizer que, em 2016, mais 60 mil pessoas foram vítimas de homicídios no Brasil – 70% delas por arma de fogo. É uma bomba atômica por ano. O mercado de blindados no Brasil gira em torno de 150 mil unidades, segundo dados da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem). Para atender a uma necessidade tão clara dos clientes, a Audi tirou um curinga da manga (ou da linha de montagem). É o Audi

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Q5 Security. Importado do México, o SUV vem blindado de fábrica e já chegou às concessionárias brasileiras. O fato de ser concebido com a blindagem gera um ganho competitivo. Quem explica é o CEO e presidente da Audi do Brasil, Johannes Roscheck: “O grande diferencial do veículo é que ele não tem adaptações. Foi, de fato, desenvolvido desde o início para receber os recursos especiais de proteção em todos os processos de fabricação”. De acordo com o executivo, o Q5 Security consegue equilibrar segurança, tecnologia, conforto e sofisticação.

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SEm remendoS O Audi Q5 Security tem acabamento de primeira, sem interferência da blindagem

A versão blindada tem 500 quilos a mais do que a convencional. Era de se esperar que um SUV de 2.295 quilos, 4,6 metros de comprimento e 1,65 metro de altura fosse pesado e lento. Ao contrário, o Q5 Security oferece desempenho. O motor 2.0 TFSI a gasolina desenvolve 252 cv de potência e permite velocidade máxima de 235 km/h. Não é um carro difícil de dirigir. Tem boas respostas aos comandos do motorista, com agilidade em curvas. Isso é fundamental em possíveis fugas de situações de perigo. Freios e suspensão estão preparados para o aumento de peso. Teto solar? Nem pensar. O carro tem chapas de aço e acionamento elétrico do porta-malas. Os pistões também são reforçados. Além disso, o veículo pode rodar mesmo com pneus sem ar por até 80 quilômetros – isto a uma velocidade de até 80 km/h. As rodas foram calçadas com pneus

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Run Flat para que o motorista busque um lugar seguro. As janelas têm vidros multicamadas à prova de balas. Não importa de onde venham os disparos. A montadora projetou o carro para ser uma célula de sobrevivência para todos os ocupantes. O Q5 Security é resistente a disparos de Magnum 357, 9 mm (pistolas e submetralhadoras), espingardas calibre 12 e até de calibre .44. No interior, não existem remendos. Tudo tem acabamento de primeira linha, justamente porque a blindagem já veio da fábrica. Quanto à tecnologia de bordo, oferece os recursos de um sedã de luxo. Desde volante multifuncional e virtual cockpit até telas de alta resolução e som Bang&Olufsen. Em resumo, o Q5 Security tem tudo o que a Audi tem de melhor, com um bônus de segurança. Tudo pronto já na concessionária. audi.com.br

Motor 2.0 TFSI de 252 cv

VELOCIDADE MÁXIMA de 235 km/h

Vidros multicamadas e pneus Run Flat

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v i s Ão

Nota

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Deborah Secco não esquenta por completar quatro décadas em novembro. Pudera: está no auge da beleza

Por Joaquim Ferreira dos Santos

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Deborah Secco não queria, mas está fazendo 40 anos. Só de vingança, só para debochar dessa coisa de que o tempo passa e não ajuda em nada nas fotos, ela arrumou um jeito de parecer mais bonita ainda do que quando tinha 20. Deborah cortou os cabelos. Aproveitou que no final de 2018 precisou picotá-los numa cena da novela O Segundo Sol, e tosou um pouco mais, raspou a nuca. Ficou num estilo que os mais sofisticados identificam imediatamente como semelhante ao consagrado por Jean Seberg no clássico cinematográfico Acossado, de JeanLuc Godard, e que os mais objetivos, com uma navalha de malícia entre os dentes, chamam simplesmente “Joãozinho” ou “taradinho”.

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vida nas redes No Instagram, ela publica fotos, com o maridão Hugo Moura e a filhota Maria Flor. Mas também retratos de biquíni. Why not?

A atriz está deslumbrante, mas este é só o início de 2019. Ela se tornará quarentona no fim do ano, em novembro, no dia 26, e não será surpresa para esta revista, não será surpresa para ninguém que acompanha a carreira de Deborah Secco se, quando novembro chegar e lhe colocar um bolo à frente dos seus belos lábios, ela assopre as velinhas com uma juba de leão prateada. Em fevereiro, seu “Joãozinho” já tinha ficado blonde.

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Deborah Secco não é uma atriz que se coloque em nichos de conforto, tipo “artista da Globo” ou “queridinha do Brasil”. Ela está diante dos nossos olhos desde os 8 anos, quando apareceu faceira num comercial de brinquedos, mas já fez papel de vampira engraçada em O Beijo do Vampiro, garota de programa na cinebiografia de Bruna Surfistinha, e pobre coitada como a imigrante Sol na novela América. Foram mais de 20 novelas desde Mico Preto, de 1990, e mais um punhado de aparições televisivas em que chegou a quebrar duas costelas nos treinos para o concurso “Dança no Gelo”, do Programa do Faustão. Seu forte, como aponta Patrícia Kogut, crítica de televisão do jornal O Globo, é a empatia com a câmera, um desses fenômenos da comunicação que não há coaching capaz de ensinar. Não basta ser linda, como é o caso de Deborah, mas ter uma capacidade inexplicável de seduzir no olhar, de se fazer inesperada e improvável. Todas essas performances fazem dela uma das grandes atrações do espetáculo nacional. Na vida real, não é diferente. Em seu perfil no Instagram pode aparecer em trajes de noite, pronta para arrasar em alguma festa elegante, como metida quase nua dentro de um biquíni quase invisível, com o bumbum encarando provocativo o tesão da câmera. Seus 13 milhões de seguidores são generosos em likes e emojis com carinhas de espanto, com se perguntassem: qual é a próxima dessa diva sem pose, dessa mulher que não tira onda e leva a vida ao seu gosto, sem discurso de empoderamento? Deborah já tatuou no peito do pé uma declaração de amor ao cantor de rap Marcelo Falcão (depois apagou), já disse ter se interessado por mulheres e hoje ela é a mãe amantíssima de uma menina, Maria Flor, de 3 anos. Nas entrevistas, tem feito juras de amor eterno

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ao atual marido, o modelo e ator Hugo Moura, seu segundo casamento (o outro foi com o ex-jogador de futebol Roger Flores, sem esquecer os relacionamentos com o diretor de TV Rogério Gomes e os atores Dado Dolabella e Marcelo Faria). O Brasil torce por Deborah, uma atriz que transmite vitalidade e prazer no seu trabalho, mas todo mundo sabe – e nada será surpresa para os leitores – que ela é fiel acima de tudo à sua felicidade. ATRIZ DE OUTRA SAFRA que é mais importante numa relação amorosa?”, lhe perguntou uma vez a sexóloga e psicanalista Regina Navarro Lins, e Deborah respondeu que apostava tudo no dueto “liberdade e sinceridade”. Seu encontro com Hugo Moura é bom exemplo disso. Zero de contos de fadas, 100% de liberdade e sinceridade. Deborah viu a foto de Hugo no Instagram de uma amiga. Era o homem de sua vida. Começou a curtir suas fotos, um truque para chamar a atenção dele, e o moço caiu na armadilha. "Vi que você começou a me seguir”, Hugo respondeu, puxando papo e achando graça da “coincidência” de naquele mesmo dia ter falado sobre ela com a tal amiga em comum. “Coincidência não, querido", mandou Deborah de volta, sempre ao teclado da rede social. “Você vai ser meu marido, pai dos meus filhos.” “Então a gente precisa se encontrar, né?”, respondeu Hugo, tentando liderar o trâmite das negociações. Deborah, no entanto, era quem estava no controle. Partiu dela a ordem de que o rapaz fosse imediatamente ao seu apartamento, onde transaram numa sincronização que parecia desenhada há séculos. Lá pelas 3h30, quando ele disse que ia embora, Deborah mostrou que não estava para brincadeiras: “Não vai, não. Acho que você não entendeu: tá vendo esse armário aqui? É todo seu”. As atrizes da TV preferem se aproximar mais do perfil “namoradinhas do Brasil”. Poucas escapam desse esquema sem riscos. Os mais antigos devem

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vida nas telas Na TV: Confissões de Adolescente (1994), América (2005) e Celebridade (2003). No cinema: Bruna Surfistinha (2011) e Boa Sorte (2014); e no comercial de Havaianas (2018)

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lembrar que muito antes de Deborah Secco, que vai na contramão desse aceno ao politicamente correto, a Globo teve a revolucionária Leila Diniz e mais adiante, menos reverenciada, Sandra Brea, La Brea, gerava uma expectativa de que precisava, para sobreviver, ser apreciada em seus contornos de fêmea, em uma vulgaridade do tipo “não tô nem aí”, típica das que estão dispostas a pagar com antecedência pelos pecados que ainda estão por cometer. Isso sem falar de Vera Fischer, a deslumbrante loura catarinense com seu jeito incorreto de ser, de não se depilar nem quando ia posar para as fotos das revistas masculinas. Vera tinha um jeito insolente de encarar os machos à frente, às vezes já meio trôpega pelo aditivo que naquele dia tivesse escolhido para ficar trôpega, tudo com uma apetite bem interpretado de que estava disposta a “pegar” toda a plateia, a começar pelo câmera no estúdio. Essas atrizes talentosas, mulheres que em seu tempo enfrentaram o preconceito e a caretice da sociedade, estão sendo lembradas porque pavimentaram o caminho, às vezes com lágrimas, para que o Brasil pudesse aplaudir a vilã descontrolada que Deborah Secco fez em O Segundo Sol. Ela adora fazer uma gauche. Há quem se lembre de sua Natalie, a periguete que encarnou em Insensato Coração, de 2011. Se a sua geração está cheia de atrizes que fazem charminho low profile, preocupadas que a personagem lhes queime o filme para projetos publicitários, Deborah põe o drama em primeiro plano – e se for preciso põe também as coxas, os seios, os lábios umedecidos e toda a malícia de uma mulher moderna, ensolarada e inteligente. Foi-se o tempo das grandes damas, senhoras austeras que viviam no palco, e já dá para ouvir daqui o leitor sussurrando Fernanda Montenegro. Deborah é de outra safra. A superexposição moderna obriga que brilho profissional, personalidade midiática e estilo de vida se misturem – e lá vai Deborah, nota dez na TV, nota dez no bumbum do Instagram, a melhor tradução desse equilíbrio difícil que 2019 obriga a uma artista. O santo e o profano numa linda mulher aos 40. TP

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50 anos e lá vai fumaça

Há meio século, Woodstock reuniu meio milhão de pessoas, para surpresa até dos organizadores

Por roberto mugGIati

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Whaaaammmmmm – buuummm – ssshhhh – blammmm – rat – at - tat – rat – at – tat – whiiiizzzzzz - buuum - bummmmm. São bombas explodindo, granadas e napalm, rajadas de metralhadoras, em meio ao silvo dos jatos e ao ronco dos helicópteros. É 1969, o Vietnã está a milhares de quilômetros e, no entanto, muito presente aqui nas suaves colinas de Bethel. Depois de três dias avassaladores, o Festival de Woodstock está nos seus estertores. Mas o bruxo do blues eletrônico surpreende sempre: Jimi Hendrix se põe a desconstruir o hino americano, “Star Spangled Banner”. Ele assombra os 30 mil jovens que restaram do meio milhão. São as primeiras horas da manhã de segunda-feira, 18 de agosto.

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Um imenso sol alaranjado sobe no horizonte e ilumina o deus negro de roupas exóticas que – sozinho no palco com sua guitarra elétrica – enche os campos, as florestas e o céu, com os gritos torturados do seu estranho exorcismo sonoro. Chegava ao fim a Feira de Música e Arte de Woodstock, Três Dias de Paz e Música. Por conta da atmosfera de fraternidade que reinou entre o público de mais de 500 mil pessoas, o evento entraria para a história como “três dias de música, paz e amor”, desbancando o slogan mais agressivo e cínico “sexo, drogas e roquenrol”. Foi o auge da utopia do poder jovem – uma entidade difusa que englobava tribos tão heterogêneas quanto hippies, ambientalistas, pacifistas, feministas, ativistas políticos, religiosos alternativos, bruxas e alquimistas.

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Back to the garden Jefferson Airplane, uma banca de roupas e o casal da capa do primeiro LP

Woodstock foi um dos acontecimentos do século 20. Levou a grande imprensa a dar atenção à contracultura. Quando milhares de jovens cabeludos começaram a congestionar as estradas que conduziam ao local do festival, o New York Times – barômetro da opinião americana – perguntou: “Que tipo de cultura é esta capaz de produzir uma confusão tão colossal?”. Dois dias depois, o jornal se rendeu à dimensão do evento e, num editorial mais simpático, mostrou Woodstock como “essencialmente um fenômeno de inocência”. A revista Time dissecou o festival num ensaio intitulado A mensagem do maior happening da história.

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Uma das reportagens exalta o festival num título poético, O dia em que o homem pisou na Terra, referindo-se ao feito da Apolo 11: cinco semanas antes o homem pisava pela primeira vez na Lua. Uma estatística irônica: em 1969, os Estados Unidos tinham o seu maior contingente no Vietnã: 549.500 soldados, 11.616 dos quais morreriam em ação naquele ano. Quem organizou o festival? Em janeiro de 1969, quatro jovens – dois com grana e dois com gana – chegaram à ideia por vias tortas. Joel Rosenman e John Roberts construíam um grande estúdio de gravação em Nova York. Michael Lang e Artie Kornfeld foram pedir sua ajuda para montar um pequeno estúdio no interior do estado, em Woodstock. Joel e John fizeram uma contraproposta: por que os quatro não montavam um festival de música naquelas paragens frequentadas por roqueiros como Bob Dylan e The Band? Apostavam na experiência prévia de Michael Lang. No ano anterior ele organizara o Miami Pop Festival, que atraiu 25 mil pessoas em dois dias. Michael e Artie toparam. Em janeiro mesmo era fundada a Woodstock Ventures. A primeira coisa que os parceiros com gana fizeram – com a grana dos outros dois – foi submeter a uma decoração psicodélica o escritório de um andar na rua 57. Com o tempo, os parceiros com grana começaram a se preocupar. Foram eles mesmos escolher um lugar para o evento, ficando com a fazenda de laticínios de Max Yasgur em Bethel. Estava difícil contratar grandes nomes, pela exiguidade de prazos e proliferação de shows e festivais naquele verão. Em abril, o Creedence Clearwater Revival foi o primeiro a assinar, com um cachê de U$ 10 mil (US$ 70 mil, em dinheiro de hoje). Outros nomes se seguiram: Crosby, Stills, Nash & Young; Janis Joplin; o citarista indiano Ravi Shankar; a cantora de protesto Joan

hippie business Pôster, discos, filme, camisetas. O festival ganhou uma dimensão mitológica

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muita grana... John Roberts e Joel Rosenman foram os investidores

...e muita gana Artie Kornfeld e Michael entraram com a cara, a animação e a coragem

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Baez; bandas como Santana, Jefferson Airplane, The Band. O desconhecido cantor folk Richie Havens saltou para a fama ao abrir a primeira noite e prender o público por quase três horas (a pedido dos organizadores, pois os demais artistas estavam com dificuldades de chegar ao local). O desconhecido cantor inglês Joe Cocker tornou-se estrela da noite para o dia com sua interpretação de “With a Little Help from My Friends”: cabelos desgrenhados, camiseta manchada, além de cantar, simulou um convulsionado solo de guitarra. A venda de ingressos foi limitada a lojas de discos na Grande Nova York ou pela bilheteria na agência dos correios do Radio City Music Hall. Os bilhetes custavam US$ 18 os três dias; quem fosse comprar no local pagaria US$ 24. Cerca de 186 mil ingressos foram vendidos antecipadamente. Os organizadores previam um público de 200 mil. Ficaram apavorados quando viram que estava chegando uma multidão dez vezes maior. Milhares de pessoas com ingresso não conseguiram chegar; os outros milhares que chegaram sem ingresso entraram por baixo da cerca. Foi a maior boca-livre da história gerada pelo maior boca a boca da história: não houve uma campanha de divulgação que justificasse aquela gente toda, enfrentando lama, falta de água e de comida, assistência médica precária. Houve duas mortes e dois nascimentos: uma morte por uso de insulina; outra de um servente do festival atropelado por um trator quando dormia num campo de feno. Uma criança nasceu num automóvel preso num engarrafamento; outra num hospital para onde a mãe foi levada de helicóptero. Houve ainda quatro abortos, várias overdoses e bad trips. Os rapazes da grana ainda tiveram de acordar no meio da noite um banqueiro local para providenciar os cachês de U$ 15 mil de The Who e do Grateful Dead, que se recusavam a subir ao palco sem o dinheiro no bolso. Na manhã de segunda, quando Jimi Hendrix tocava para os atônitos últimos espectadores, Rosenman e Roberts se viam às voltas com um

mar de lixo e entulho, habitantes locais hostis, dívidas de mais de US$ 1 milhão e 70 processos envolvendo outros milhões. Embora saíssem do festival quase falidos, os direitos que detinham sobre o filme e os discos de Woodstock cobririam amplamente suas perdas já no ano seguinte. Deram-se ainda ao luxo de contar sua aventura no livro Young Men With Unlimited Capital – “a história secreta do lendário Festival de Woodstock contada pelos dois que pagaram por ele”. Já em 1970, a woodstockmania faturava alto: um álbum de três LPS, sucesso de vendas, seguido por outro de dois LPs; no cinema, com o filme multimilionário de Michael Wadleigh, depois vendido em vídeo; em publicações (livros, revistas, álbuns, fotografias), camisetas, buttons etc. Woodstock trouxe à contracultura a sua dimen-

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um longo caminho A interminável fila de carros para ver Janis Joplin, Santana e outros bambas da contracultura

são mitológica. Mas a utopia hippie sofreria dois rudes golpes ainda em 1969. Em Altamont, uma pista de corridas no norte da Califórnia, os Rolling Stones aceitaram ser a atração principal de um “concerto grátis”, no sábado 6 de dezembro. Mais de 300 mil pessoas se comprimiram no local inadequado e a segurança do palco ficou a cargo dos Hell’s Angels, que aceitaram ser pagos em cerveja. Fizeram tão bem seu trabalho que acabaram matando a punhaladas um jovem negro. Duas pessoas morreram atropeladas e um jovem se afogou num canal de irrigação durante uma viagem de LSD. Altamont entrou para a história como o festival que acabou com a era dos megafestivais. Outro fato que chocou ainda mais a opinião pública foi a revelação, nos primeiros dias de dezembro, da identidade dos autores dos massacres conhecidos como Tate-LaBianca, ocorridos justamente no sábado e domingo anteriores ao Festival de Woodstock. A atriz Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski, o bebê de oito meses que tinha na barriga, uma amiga e dois amigos – além de um amigo do caseiro – foram chacinados a facadas em sua casa de Los Angeles. No dia seguinte foi a vez do casal Leno e Rosemary LaBianca. O modus operandi é inconfundível, os assassinos pintam nas paredes lemas com o sangue das vítimas: PIG, DEATH TO PIGS, WAR e HEALTER (sic) SKELTER. Eram jovens da “Família”, obedecendo ordens do seu guru, Charles Manson. Viviam em profunda decrepitude física e mental numa fazenda afastada na região de LA. Nessa tragédia de erros, Manson queria se vingar do produtor musical Terry Melcher, que o reprovara num teste de gravação. Na época, Melcher morava na casa em Cielo Drive, depois alugada por Polanski. Manson queria também chamar a atenção, com os slogans pintados a sangue, para sua visão delirante de uma guerra entre brancos e negros, inspirado na enigmática canção dos Beatles “Helter Skelter”. A brutalidade do episódio mostrou ao mundo que a comunidade hippie não era só paz e amor e que havia muita violência e maldade nas suas dobras mais obscuras. No ano seguinte, John Lennon decretaria “O Sonho acabou” na famosa entrevista à revista Rolling Stone e na canção “God”. Mas nada disso chegaria a invalidar os momentos mágicos que meio milhão de pessoas viveram naqueles três dias suspensos no tempo em agosto de 1969. TP

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A César o que é de César Houve uma época em que os pratos homenageavam gente. Simples assim

Por silvio lancellotti

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A ARROZ BIRO BIRO

Ao criarem os seus cardápios da moda, os cozinheiros de plantão explicam os pratos com textos que mais lembram peças literárias. Tentativamente descritivos, enormes de longos e invariavelmente prolixos, eles pressupõem uma poesia que nem sempre existe na receita. Pior: fazem os clientes recorrerem ao

Frequentadores fiéis da Rodeio, que acaba de comemorar em São Paulo os seus 50 anos, habitualmente reclamavam, ao maître Ramón Mosquera López, da mediocridade do arroz trivial da churrascaria. Ramón achava desimportante o arroz como parceiro de um belo grelhado. No entanto, sucumbiu e bolou uma espécie de risoto em que mesclava os grãos a cebola frita, batatinha palha, nacos de bacon e ovos cozidos e picados. Batizou a novidade de arroz Rodeio. Em 1979, na celebração de um título do seu Corinthians, o publicitário Washington Olivetto provocou Roberto Macedo, o dono são-paulino, ao lhe dar o apelido de arroz Biro Biro, como o craque pernambucano que atuava pelo Timão. O cardápio do Rodeio não cita o Biro Biro. Mas a brincadeira pegou.

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BOLO SOUZA LEÃO

garçom que, por sua vez, pede socorro ao maître e, até, ao próprio chef que se arvorou em Fernando Pessoa. Nada, porém, como o velho sistema em que os pratos homenageavam gente.

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Doce provavelmente datado dos entornos de 1830, da região de Jaboatão dos Guararapes, que em 2007, pela Lei 357, Pernambuco decretou “Patrimônio Cultural e Imaterial”. Ideia da senhora Rita de Cássia Sousa Leão Bezerra Cavalcanti, mulher de um coronel que era dono de uma infinidade de engenhos de cana na área. De textura cremosa, leva a chamada massa puba, à base de mandioca, manteiga, leite de coco, ovos e açúcar. Pena que o tempo e a dispersão inevitável de ramos dos Souza Leão tenha pulverizado o bolo em infinitas variações.

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CHARLOTTE Doce em que “biscoitos ingleses”, ou tipo champagne, emolduram um bloco redondo de pudim ou correlato. Coisa de russos do século 18, que o feiticeiro Marie-Antoine Carême (1783-1833) transformou em uma das suas maiores especialidades. A relíquia levava o nome de Malakoff, mas virou Charlotte por causa da namorada e depois mulher de Jorge 3º da Grã-Bretanha (1783-1820), a quem Carême agraciou com um banquete antológico.

CRÊPES SUZETTE Em 1896, antes de se mudar aos Estados Unidos e virar exclusividade do bilionário John Davison Rockefeller (1839-1937), muito jovem o eclético Henri Charpentier já era o chef do Café de Paris em Montecarlo. Adorava flambar crêpes à frente dos visitantes. Por exemplo, o então príncipe de Gales e futuro rei Eduardo 7º(1841-1910) da Grã-Bretanha. Exagerou no incêndio e assustou uma das damas que acompanhavam Eduardo. O príncipe logo apaziguou a situação e perguntou como se chamava tal alquimia. Charpentier tentou adular a senhora e bradou: “Crêpes Princesse”. Não, emendou Eduardo: “Suzette”.

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FETTUCCINE AL PAPA PACELLI Ou alla Papalina, pitéu que o cardeal Eugenio Pacelli (1876-1958), mesmo depois de se tornar pontífice como Pio 12, em 1939, em suas fugas da reclusão do Vaticano costumava devorar no vizinho restaurante Ceseretto. A massa ganha um molho cremoso enriquecido por iscas de presunto cru.

FILÉ OSWALDO ARANHA Um mignon alto, eventualmente um contrafilé, coberto de alho frito e escoltado por arroz branco, rodelinhas de batatas fritas à moda portuguesa e farofa de ovos. Consta que o gaúcho Osvaldo Aranha (1894-1960), um político ligado a Getúlio Vargas (1882-1954), costumava almoçar diariamente, entre as décadas de 1930 e 40, no restaurante Cosmopolita, inaugurado em 1926 e até hoje existente no número 4 da travessa do Mosqueira, Rio. Sempre pedia a mesma combinação. Que, claro, recebeu o seu nome.

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Na sua deliciosa viagem Em Busca do Tempo Perdido, o escritor Marcel Proust (1871-1922) conta que resgatou o seu passado ao desfrutar uma madeleine. Num terno relato, Proust eternizou o biscoitinho de farinha de trigo, manteiga, ovos, sumo de limão e açúcar, no desenho de uma concha. Fora produzido pela jovem Madeleine, por volta de 1750, na cozinha do rei Stanisław Leszczynski (1677-1766), monarca destronado da Polônia, exilado na França sob a proteção de sua irmã Maria, esposa do rei Luís 15 (1710-1774). Também se deve aos confeiteiros de Leszczynski um outro doce de antologia, o baba ao rum.

Em visita a Londres, 1892, para uma encenação da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, a soprano australiana Nellie Melba (1861-1931) ganhou um jantar estupendo, no Savoy Hotel, então comandado pelo inefável Auguste Escoffier (1846-1945). Inspirado na cenografia da ópera, para a sobremesa Escoffier esculpiu um cisne gigantesco de gelo, repleto de pêssegos caramelizados, sobre um mar de sorvete de baunilha. Posteriormente, ele simplificou a maravilha e passou a servir os pêssegos sozinhos, apenas recheados com o sorvete e daí banhados com algum purê de frutas vermelhas. No Brasil, o improvisador usa fruto em calda e ignora o purê. Ah, é Mélba, jamais Melbá.

MADELEINE

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OSTRAS ROCKEFELLER

Obra de Jules Alciatore (1863-1934), do Antoine’s de Nova Orleans, em honra daquele mesmo John Davison Rockefeller, os moluscos gratinados em suas cascas, sob uma combinação de manteiga e de múltiplas ervas.

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PÊSSEGOS MELBA

S STROGANOV

Sim, com”v” no final, o combinado de tirinhas de mignon e lascas de champignons em molho à base de caldo muito espesso de carne, polpa de tomates, conhaque, mostarda, Worcestershire e um mínimo de creme de leite. Iguaria cossaca, primitiva, da família Stroganov, do século 19, que um certo francês de nome Thierry Costet, cozinheiro dos nobres, aperfeiçoou. Depois da Revolução de 1917, aristocratas fugitivos russos levaram o stroganov para Paris.

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TARTE TATIN Em 1895, uma das manas Tatin, confeiteiras de Lamotte-Beuvron, lugarejo a 100 quilômetros de Paris, em visita à capital se enamorou de Eugéne Cornuché (1867-1927), o maître que, posteriormente, seria um dos proprietários do celebrado restaurante Maxim’s. Na época, o Maxim’s apenas servia gelados como sobremesa. Nada mais. A garota, porém, convenceu Cornuché a colocar no cardápio uma torta de sua invenção, de maçãs caramelizadas em massa folhada ou massa podre. Assava-se a torta com as maçãs debaixo da massa, segundo a garota uma sua artimanha. Mentira. A inversão acontecera acidentalmente. Mas dera certo.

TOURNEDOS ROSSINI Incontrolável glutão, o compositor Gioacchino Rossini (1792-1828), autor de preciosidades como O Barbeiro de Sevilha, idealizou a combinação de medalhões de filé sobrepostos a fatias de pão de miga e daí recobertos por lâminas de foie gras e de trufas. Numa noitada, depois de uma récita em Paris, o compositor levou um séquito de bajuladores ao Café Anglais e exigiu que o chef do lugar, Marcel Magny, preparasse a combinação diante de seus convivas, à mesa, num réchaud. Magny aceitou a determinação. Só que, ousadamente, provocativamente, trabalhou de dos tourné, ou de costas para Rossini. A malvadeza se cristalizou por intermédio da expressão tournedos no cardápio. E, por favor, fim dessa coisa de "tornedor"...

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V VACHERIN

Alcunhado Vaccarinus, em 1265 um monge misterioso, proveniente da Suíça, solicitou guarida num mosteiro de Monserrat, na Espanha. Nos seus alforjes, carregava uma provisão de um queijo supergorduroso e, por isso, muito resistente às agruras da viagem. De modo a impressionar os seus anfitriões, numa ceia noturna lhes preparou uma sobremesa com uma montanha do queijo derretido com algum creme e, ao seu redor, uma coroa de merengue. A opulência provocou a desconfiança de diversos internos, suspeitosos de que fosse o Vaccarinus um malfeitor em fuga. O prior, um comilão, todavia, protegeu o rapaz e ainda batizou o pitéu de caseus Vaccarini. O correr do tempo paulatinamente modificou a receita original. Hoje, um vacherin se perpetra com um merengue recheado de sorvetes de cores e de sabores variegados e a cobertura de abundante chantilly. E na helvética Friburgo ainda existe o queijo gorduroso, vacherin, excelente para fondues. TP

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o l fato

m ara cut ai a A questão que não quer calar é: de onde vem o mau cheiro da senhora das impudicícias, madame Corrupção?

Por ricardo soares

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escravos tigres cariocas Eles carregavam os excrementos dos ricos. Desenho de Jean-Baptiste Debret (1768-1848)

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Navegantes atrevidos, Pedro Álvares Cabral e seus parceiros chegaram a Pindorama encalorados e com o olfato apurado, a farejar novas oportunidades. Já então sentia-se a bordo o cheiro da maracutaia. Desembarcados de suas vistosas e sujas caravelas, imersos em destilados baratos, escorbuto e dentes cariados, os invasores barganharam a aceitação dos índios em troca de bugigangas. O tempo passou. As quinquilharias viraram votos, malas de dinheiro, apartamentos de cobertura, carros de luxo, helicópteros, quilos de cocaína. A sempre lembrada expressão “há algo de podre no reino da Dinamarca”, embutida no Hamlet de Shakespeare, parece ter errado de endereço. Já se aplicava perfeitamente ao Brasil quando foi escrita, em 1601. Daí a pergunta: de onde vem o mau cheiro da senhora das impudicícias, madame Corrupção?

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Você pode subverter a linha do tempo e estacionar na era da colônia, quando os escravos tigres – corpo salpicado pelos dejetos que caíam dos imensos jarros que carregavam nos ombros ou na cabeça – recolhiam o excremento doméstico para jogá-los nas lagoas. Sim, a obra daqueles que mandavam o produto dos butins para Portugal. Eis então que era de cocô a nhaca da corrução, como dizem os nordestinos. Com o tempo, a mandracagem adquiriu outras nuances. Foi se sofisticando. Ao redor das mesas onde ela sobrevive como pièce de résistance, os olores variam. Aliás, como escreveu Millôr Fernandes (1923-2012): “Uma característica curiosa do corrupto se oberva em restaurantes. O corrupto está sempre nas outras mesas”. Por exemplo, o que acompanha melhor uma boa comissão de 10% na construção de um porto?

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primeiro ele O desenho de Debret mostra uma família carioca passeando, na prineira metade do século 19. A hierarquia faz a fila

ce se mantenham estanques, apenas ao redor dos ricos, bem amados e poderosos? A bem da verdade, eles também se atracam no meio dos nossos varejos. Como não sentir cheiro de corrupção ao olhar por sobre o muro do vizinho, modesto salário de investigador de polícia, e topar com piscina, três carros blindados e quatro viagens a Miami por ano? Como não sentir um futum estranho vindo da conta bancária daquele ex-PM e ex-motorista que movimentou milhões alegando ter vendido duas chimbicas ano/modelo 1973/1974? É isso o cheiro de laranja? Na terra do saci, bicho que deixa um rastro inconfundível de enxofre, dá pra fazer fácil, de bate-pronto, uma lista de malfeitos aromáticos. O aroma de acarajé e dendê tomou conta do país durante o "escândalo dos anões do orçamento" ou dos bilhetes premiados. Trata-se do rombo de R$ 800 milhões (valores de hoje) em que sete deputados de baixa estatura (moral, inclusive) da Comissão de Orçamento do Congresso faziam emendas de lei remetendo o dinheiro a entidades pilantrópicas ligadas a parentes. Também cobravam propinas de Cheiro de ostras com champanhe? E se a propina for mais modesta? Sabe a feijoada com caipirinha ou a buchada com cerveja? Suponhamos que o capilé venha da área do agronegócio: sentiremos a fragrância característica do empadão goiano? Uma coisa é inconteste: na pessimamente administrada área da mineração nas Gerais, o cheiro é de torresmo – coberto por muito, muito tutu. O certo é que esse miasma se espalha, com vigor e rapidez. “Negociata é aquele bom negócio para o qual não fomos convidados”, mangava o gaúcho Aparício Torelly, o barão de Itararé (1895-1971). Ou alguém acredita que os eflúvios da sem-vergonhi-

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LUCKY MAN João Alves atribuiu seu farto dindim à sorte na loteca

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propina da boa Jader Barbalho foi condenado, mas deu a volta por cima. Jorgina

empreiteiras para a inclusão de verbas em grandes obras. Para justificar o ervanário que brotava em sua conta bancária qual cogumelos depois da chuva, o deputado João Alves alegou ter ganho diversas vezes na loteria. Sortudo, o baiano.

cumpriu pena. E está solta

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LALAU, O BOM VELHINHO Mais ao norte, a Amazônia misteriosa e com seus aromas característicos do pato no tucupi, do ensopado de pirarucu, do tambaqui na brasa e da casquinha de muçuã, pequeno cágado apreciadíssimo, apesar de ter seu consumo proibido, embalaram no passado diversas pilantragens com o dinheiro público. Entre elas se destaca, nos anos de 1998-1999, o caso Sudam. O rombo de R$ 214 milhões (valor atualizado) foi orquestrado por dirigentes da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, que desviavam dinheiro por meio de falsos documentos fiscais e contratos de bens e serviços. Dos 143 réus, apenas um foi condenado e recorreu da sentença: o paraense Jader Barbalho, acusado de ser um dos pivôs do esquema. Renunciou. Mas, como ensina Lulu Santos, a vida vem em ondas. Jader foi reeleito em 2011 e acaba de reeleger o filho. Poderá preferir o amável leitor elencar jogadores de cheiros e estilos diferentes, escalados em tantas posições e oposições de nossa historia republicana. Aí entramos no Fiat Elba da era Collor, devidamente abastecido pelo gigantesco esquema PC Farias – o assassinato mais mal esclarecido de nossa crônica política ao lado daquele de Marielle Franco. Podemos seguir na carruagem de privatizações da era principesca de FHC. Eram os idos das distribuições a granel de concessões de emissoras de rádio e TV para aumento de mandato, quer dizer, da regência do príncipe. De novo com motor a explosão, aceleremos nos escândalos superlativos da era petista todos terminados em “ão” e nas múltiplas rotas da Lava Jato. Continuemos na goleada perpetrada durante nossa Copa do Mundo – e seus estádios também terminados em “ão” – e dos Jogos Olímpicos do Rio, com os finos perfumes – ouro, incen-

so e mirra? – do ex-governador paulista José Maria Marin (hoje cumprindo pena numa penitenciária federal americana) e Carlos Arthur Nuzman. Sem esquecer as 1.001 fragrâncias do Ali Babá de Bangu, Sérgio Cabral Filho, um campeão do gênero. Abraçado ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, Cabral multiplicou por milhões as presepadas de seu xará do século 16, o tal Pedro. A galeria é extensa, os personagens e aromas, inumeráveis, e é de se imaginar qual eflúvio poderíamos associar ao juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, o cara de pau, implicado no escândalo da construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Um rombo de R$ 923 milhões que tem no imbróglio o probo ex-senador da República Luiz Estevão, amigo do senador Fernando Collor de Mello – e que engordou os bolsos de muita gente para não entregar a obra para a qual foi contratado. Aos 90 anos, o bom velhinho Lalau está solto, após se beneficiar de um indulto.

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de mãos dadas Luiz Inácio Lula da Silva, Sérgio Cabral, Carlos Arthur Nuzman e Nicolau dos Santos Neto: adeptos de um tutuzinho extra no menu

DAS CARAVELAS AO WI-FI Cheiro de prato feito exalou em 2005, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP), renunciou ao cargo depois que flagraram seu particularíssimo jeton: o idôneo parlamentar cobrava R$ 10 mil mensais (pode isso, Arnaldo? Só dez mil?) de propina do dono de um dos restaurantes do Congresso. Depois disso, ainda conseguiu se eleger prefeito de sua cidade natal, João Alfredo (PE). Já um odor de imprevidência emanou da ação da procuradora previdenciária Jorgina de Freitas. Sua pilhagem no INSS foi tamanha que um único beneficiário – um motorista de empilhadeira – embolsou R$ 90 milhões. Jorgina fugiu para a Costa Rica, foi presa em 1997 e solta 13 anos depois. Sem fatalismos ou pessimismos, a verdade é que navegamos desde os tempos do Descobrimento no lugar-comum do mar de lama. Como se comprovou recentemente na tragédia de Brumadinho, em Minas, onde, evidentemente, há um fedor bastante peculiar. Um cheiro que mistura água suja, terra estragada, minério de ferro e muita trambicagem. “Dejeitos”, como diz o presidente da República. Por isso não dá para não dizer que, a par os cheiros, e de tudo o que for sólido não se desmanchar no ar, muitas vezes nos sentimos como os escravos tigres que levavam os jarros com os excrementos dos seus patrões nas costas. O cheiro de corrupção, por mais que seja uma mistura de aromas, ao fim e ao cabo exala os nossos erros. Fétidos ou perfumados, suaves ou encorpados. Aqueles que vivemos combatendo, mas dos quais nunca ficamos livres. O ideal seria inspirar e expirar só bons odores. Mas a nossa linha do tempo não colabora. Das caravelas ao wi-fi, tudo mudou – e continua igual. Aliás, corrupção, dizem, é como wi-fi: sabemos todos que está no ar, mas apenas quem conhece a senha pode participar. TP

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MĂŁos Mas sem o romantismo dos antigos batedores de carteira

A punga resiste, mesmo nestes tempos violentos.

leves

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forchetta Imortalizada no filme Pickpocket (1959), de Robert Bresson

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Punguista. Mão-leve. Batedor de carteira. Os punguistas ainda estão por aí: em metrôs, trens, ônibus, praças públicas, lojas, grandes shows. É gente muito hábil. Num esbarrão, leva-se a carteira do bolso das calças ou do paletó de um homem. Ou da bolsa de uma mulher. Basta um segundo e a pessoa fica sem dinheiro, cartões, documentos. Depois resta tentar relembrar como aconteceu. Na São Paulo dos anos 1960 havia quadrilhas de batedores de carteira. Agiam em longas linhas de ônibus como Penha-Lapa ou Circular Avenidas. Quase sempre em duplas. Os mais hábeis nem encostavam nas vítimas. Tinham o apelido de forchetta (garfo em italiano) porque agiam apenas com dois dedos: o indicador e o pai de todos. Sim, os forchetti faziam malabarismos. E se vangloriavam de levar uma carteira cheia sem serem notados.

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ra uma São Paulo da garoa, das reuniões de políticos na Sé, das apresentações das grandes companhias no Theatro Municipal. E dos tremendos punguistas. O delegado João Belão, do antigo Departamento de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, tornou-se especialista em prendê-los. Antes de entrar para a Polícia fora guarda-civil, trabalhara em cinemas do Centro, como Marrocos e Metro, e no policiamento preventivo das principais praças, como Sé, Clóvis (“Na praça Clóvis minha carteira foi batida/ Tinha 25 cruzeiros e o seu retrato/ 25 eu francamente achei barato/ Pra me livrarem do meu atraso de vida”, diz um samba de Paulo Vanzolini), República, João Mendes, largo do Paissandu. “Na Sé, eles agiam em ônibus e, quando desciam, entregavam as carteiras para alguns dos engraxates”, conta Belão, hoje aposentado. “Se detidos, nada era encontrado. Não havia como prendê-los em flagrante.” Entre as muitas prisões de punguistas, Belão recorda a de um casal que por anos agiu em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas não só. Também atuou em países como França, Itália e Argentina.

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Ela era loira, bonita, alta, insinuante. Usava vestidos justos mostrando toda a sua plástica. Quando encostava num homem a carteira do infeliz tinha destino certo: as mãos do companheiro. Ele vestia gravatas francesas e ternos feitos por um alfaiate italiano da rua Dom José de Barros. Tinha um álibi se por acaso fosse detido. Andava com uma carteira de trabalho com registro e cartões de visita que o apresentavam como dono de uma empresa de exportação e importação de chapéus na rua Barão de Itapetininga. O escritório até existia. Tinha duas mesas, um telefone, mas estava sempre fechado. Foi uma investigação de fôlego para a prisão do casal. Aconteceu pela excentricidade

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ponto de mãos-leves Estação de ônibus na Luz, São Paulo. Anos 1960

do forchetta. Conta o delegado Belão que era difícil apanhar os dois em flagrante. Quando estavam em São Paulo, muitas vezes agiam sozinhos. A polícia não sabia os nomes nem o endereço. Um punguista detido na praça da Sé, depois de levar a carteira de um juiz de direito, aceitou colaborar. Os policiais fizeram ao juiz um relato da ação do casal e pediram a ele que não levasse adiante o processo do mão-leve. Era um trato para que o gatuno ajudasse na localização dos dois principais batedores de carteiras de São Paulo. Uma prévia do que hoje se chama delação premiada. O GATUNO DO TERNO DE LINHO INGLÊS avia um bar, o Gouveia, no térreo de um prédio entre a praça da Sé e a Clóvis Bevilácqua, frequentado por ladrões, policiais, cafetões, prostitutas, jornalistas. Todos chegavam de madrugada para uma cerveja e o churrasquinho à vinagrete. O tal casal era freguês. Também assíduo do Gouveia, o preso disse que a loira e o marido haviam estado uma semana antes no bar. Mas viajaram para Buenos Aires, onde ficariam por

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algumas semanas para agir no Teatro Colón, que comemo­ rava o aniversário exibindo a principal companhia de Milão, apresentando a ópera Aída, de Giuseppe Verdi. O informante contou mais. Sempre depois de uma viagem prolongada, o punguista passava no alfaiate, trazendo tecidos de linho inglês para novos ternos. Numa tarde, três policiais chegaram à alfaiataria no primeiro andar e explicaram ao italiano do que se tratava. “Foi surpresa para o alfaiate”, relembra Belão. “Jamais imaginou que estava costurando para um ladrão internacional.” Dois investigadores se passaram por auxiliares do alfaiate. O delegado ficou no corredor, trajando um macacão como sendo responsável pela limpeza com balde e panos de chão. Pontualmente, às 4 da tarde, o forchetta chegou. O sinal para alertar os policiais era elogiar o corte de tecido. Quando o alfaiate disse que o linho era de "una bella qualità", os investigadores agarraram o forchetta. No Deic, o mão-leve tentou fazer um trato. Denunciaria outros punguistas se a mulher fosse excluída da investigação e dos processos. Numa conversa preliminar, falou de um grupo, de homens e mulheres, todos da mesma família, que deixava o Brasil para agir nos países onde se realizava a Copa do Mundo de futebol ou os Jogos Olímpicos. As informações permitiram a prisão de quadrilhas. Convocada pela polícia, a loira prometeu parar com os crimes. Permaneceu em liberdade com a anuência da Justiça. A polícia a acompanhou por um bom tempo. Pensava que ela voltaria a agir, mesmo sem o companheiro. Mas o delegado chegou à conclusão de que, com o dinheiro que conseguiram, ela montou um negócio e se afastou das ruas, dos ônibus, das aglomerações. O número de queixas contra o casal era grande. E sua história daria um filme. Bem

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A arte da punga começou na França e passou pela Itália e Argentina antes de chegar ao Brasil

jovens, se conheceram no plantão policial do Pateo do Collegio, no centro de São Paulo. Ele fora preso pelo furto de uma carteira de um oficial de Justiça embriagado. Ela, por prostituição. Com 18 anos, frequentava uma casa da rua Aurora. Ficaram detidos na mesma sala por algumas horas e combinaram de se encontrar. Ela saiu no mesmo dia. A cafetina tinha um habeas corpus da Justiça mandando soltar "suas meninas". Um mês depois, libertado, ele foi ao encontro dela. Ainda não tinha habilidade. A carteira que levara quando preso foi na trombada, sem nenhum refinamento. O “PROFESSOR” FRANCÊS E O FILÉ COM ALHO FRITO onversando com os companheiros de cela no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, conheceu um argentino que morara na Itália. Com ele, aprendeu a arte da mão-leve. Ao deixar a detenção e reencontrar a loira – era mesmo loira –, começaram a ensaiar a arte de furtar carteiras. Ela aprendeu rápido. Foram meses de testes até que se tornou uma brincadeira – que rendeu muito dinheiro. Que rumo tomou o punguista? O delegado não tem ideia. A última vez que soube dele estava num presídio do interior. O centro de São Paulo dos anos 1960, 70, e 80 era bem diferente. Uma época de punguistas, cafetões e traficantes sem a violência de hoje. Na praça Júlio de Mesquita, pertinho da Boca do Lixo, onde se misturavam entre os moradores, prostitutas, pequenos traficantes, cafetões, mãos-leves, o chafariz vivia cheio de crianças e babás durante a manhã. À noite, homens e mulheres. Alguns prédios vizinhos, habitados só por

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prostitutas, não tiravam a tranquilidade do lugar. Durante a madrugada, um outro público frequentava a praça: músicos, boêmios, artistas, gente em busca de uma boa carne coberta de alho frito e servida com salada de agrião, no Filé do Moraes. A decoração era modesta. Azulejos brancos, mesas de madeira com toalhas xadrez. Entre os fregueses havia um francês, grande batedor de carteiras. Preso algumas vezes pela então Delegacia de Vadiagem, da Polícia Civil, fazia amizade com facilidade. Fora casado com uma brasileira, aprendera o nosso idioma e ensinava o segredo de como levar as carteiras. Era um catedrático. A punga, segundo os delegados estudiosos no assunto, como Guido Fonseca, começou na França, chegou à Itália e de lá à Argentina. E de Buenos Aires o método veio ao Brasil, aplicado sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. O francês ensinou muitos jovens. Acabou se envolvendo com a Máfia Corsa descoberta em São Paulo pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que depois se tornou um dos maiores torturadores. Eram outros tempos. A máfia francesa queria instalar aqui a venda de cocaína. O Brasil só começava a se tornar rota do tráfico. O francês acabou extraditado para o seu país, onde era procurado como punguista. Talvez tenha sido o elo perdido da São Paulo dos grandes mãos-leves. TP

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entr e v ista

o CEO d o C e l . L e p,

Al e x a n d r e V e l i ll a G a r c i a ,

e s t á r e vo l u c i o n a n d o o e n s i n o d e i n gl ê s n o pa í s f i r m a n d o pa r c e r i a s e s t r a t é g i c a s c o m a Appl e , Fa c e b o o k , e s c o l a s , c u r s o s pa r a f u n c i o n á r i o s d e e mp r e s a s e m u i t o m a i s

t h e way t o

s u cc e s s P or Lu i z M ac i e l

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E c o n o m i s t a c o m M BA n o I n s p e r e c u r s o d e g e s t ã o e x e c u t i va n a u n i v e r s i d a d e d e N ava r r a , n a E s pa n h a , Al e x a n d r e V e l i ll a G a r c i a , CEO d o C e l . L e p, é u m h o m e m p r a gm á t i c o q u e e q u i l i b r a b e m a c a r g a d u r a d e t r a b a l h o c o m m o m e n t o s d e d e s c o n t r a ç ã o.

Por coincidência, suas duas maiores conquistas vieram ao mesmo tempo, em meados de 2017: a nomeação para presidir uma das mais tradicionais e conceituadas redes de ensino de idiomas e de programação no país, saltando do posto de diretor financeiro que exerceu durante cinco anos, e o

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nascimento de sua primeira filha, Maria Helena. “Quando chego em casa é ela que recarrega a minha bateria”, derrete-se, enquanto mostra fotos da pequena no celular. Garcia, 44 anos, está casado há três anos com a dentista Cinthia Leão Ferraz, de 31. Pega cedo no batente e costuma ir

direto até as 20 horas, num expediente cheio de reuniões, devido as muitas iniciativas que estão sendo colocadas em prática pelo Cel.Lep. São várias as novidades lançadas pela escola nos dois últimos anos – e há muitas outras no gatilho, conforme se verá nas páginas seguintes. Em 2017, o Cel.Lep incorporou a escola de programação MadCode. Em 2018, levou o curso de programação para a grade das escolas regulares, numa parceria com a Apple. Lançou, ainda, o Cel Lep Sistemas, um sistema de ensino de inglês para a grade intracurricular das escolas, que treina professores para abordar assuntos de qualquer matéria escolar em inglês. Em 2019, após 52 anos de história, vai ganhar alcance nacional com a assinatura de contratos com escolas fora do estado de São Paulo. Em 2020/2021, quer surpreender o mercado com um curso virtual de inglês que possa garantir um curso de qualidade, sua marca registrada, que está nas aulas presenciais das suas 24 unidades fixas ou das dezenas de cursos que leva para dentro das escolas regulares (In School) ou das empresas (In Company). “Estamos cautelosos para entrar no mercado de cursos virtuais, porque não podemos errar e comprometer uma imagem de excelência e qualidade”, pondera Garcia. Criado em 1967 por dois professores do Liceu Eduardo Prado, de São Paulo, a escola de idiomas foi vendida em 2012 para o fundo de investimentos americano H.I.G. Capital, que trouxe dinheiro novo para expandir o grupo, mas teve a sensatez de zelar pela qualidade dos cursos do Cel.Lep, missão que hoje é comandada por Alexandre Velilla Garcia.

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THE PRESIDENT _ Dos nossos quase 210 milhões de brasileiros, quantos se comunicam razoavelmente em inglês? Eu diria que uns 5% conseguem se comunicar, com alguma dificuldade. E uns 2% se comunicam bem. Ou seja, há uns 10 milhões que se viram, falando o básico, e 4 milhões que podem ter uma conversa mais avançada. E 50 anos atrás, como era? Ah, muito pior. Naquela época, menos de 1% da população falava alguma coisa. O domínio da língua era restrito à elite, mesmo. E continuamos bem abaixo da média mundial dos falantes de inglês... Sem dúvida. Cerca de 1,3 bilhão de pessoas são versadas em inglês no mundo, o que dá cerca de 17% da população mundial. É quase tanto quanto os que falam mandarim. O Cel.Lep é mais caro do que a maioria das escolas de inglês. Por quê? Temos uma proposta de valor mais arrojada. Nosso objetivo exclusivo é educar os alunos a se comunicarem fluentemente. Além disso, se você fizer uma conta do investimento no longo prazo, arrisco dizer que vai gastar bem menos num curso nosso do que em qualquer outro. Em dois anos, dois anos e meio, nossos alunos saem falando fluentemente inglês. Inclusive nós nos comprometemos a devolver o dinheiro para o aluno que não estiver fluente na língua, depois de cumprir seis módulos do nosso curso. Vocês são os únicos que garantem isso? Sim. Fizemos uma pesquisa de mercado em 2016 para entender como o Cel. Lep era reconhecido pelas pessoas e percebemos que somos uma referência de qualidade, mas vimos também que

havia uma noção de que nosso curso era muito caro. Para quebrar essa barreira, tivemos a ideia de garantir a flu­ ência a todos os alunos que cumprirem pelo menos seis dos 12 módulos de nosso curso completo. O que mais se vê por aí é gente fazendo inglês em várias escolas, muitas vezes apelando para professor particular, sem sair do nível intermediário. Passa cinco, dez anos estudando e não atinge a fluência. Acaba gastando muito mais sem alcançar o resultado desejado. Quantas horas por semana é preciso estudar para cumprir os seis módulos? Depende da intensidade do curso. O mínimo são quatro horas, que podem ser divididas em duas aulas ao longo da semana, ou cumpridas de uma vez só, nas noites de sexta-feira ou nas manhãs de sábado. Nesse modelo, o aluno faz um módulo por semestre e completa os seis primeiros módulos em três anos. Se agregar mais duas horas de aula por semana, pode fazer três módulos por ano. Com mais quatro aulas por semana, num curso intensivo de segunda a quinta-feira, em um ano fará quatro módulos. Além disso, se fizer o superintensivo, que oferecemos nas férias de janeiro e

longa

tr a d i ção Considerado o melhor curso de inglês do país, o Cel.Lep foi fundado há 52 anos e tem hoje 24 unidades fixas

julho, pode concluir um mó­dulo inteiro num mês. Nosso curso completo para adultos tem quatro módulos básicos, quatro intermediários e quatro avançados. O aluno precisa estar presente em 85% das aulas, no mínimo, e só passa para o módulo seguinte se conseguir bons resultados na prova final e não interromper o curso. Ao concluir os módulos vançados, ele é submetido ao teste de fluência desenvolvido pela Universidade de Cambridge. Se não for aprovado nesse teste, que é uma referência mundial, devolvemos todo o investimento dele. Já teve de devolver o dinheiro para alguém? Ainda não. E nossa meta é continuar assim: preparando e educando bem nossos alunos, para nunca precisar fazer esse reembolso. O aluno não dá uma relaxada depois que aprende o básico? Sim, isso é muito comum. Depois de um ano, um ano e pouco de curso, a gente tem de reforçar a proposta de fluência, porque muitos alunos acham que já estão se virando bem. Mas só o curso completo vai resolver o inglês para o resto da vida. É um pouco como andar de bicicleta: se você já consegue dar umas pedaladas, mas tem de parar a cada minuto para se equilibrar, é porque ainda não aprendeu direito. Quem interrompe o curso na metade acaba esquecendo o que aprendeu? Essa é a tendência. O aprendizado completo do inglês exige repetição e exposição sempre. O ideal é estar exposto à língua de algum jeito, vendo filmes ou programas de TV sem legenda, viajando, conversando com estrangeiros, traduzindo letras de música etc.

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Aulas particulares ajudam a desenferrujar? Ajudam, claro, mas nem sempre solucionam o problema. Porque é muito frequente que elas sejam dadas por quem sabe falar inglês, mas não tem formação pedagógica para tal. Eu sei falar português fluentemente, por exemplo, mas não me considero habilitado a ensinar a nossa língua, porque não sou professor de português. Então é preciso ver se esse professor particular de inglês é um docente ou só alguém que tem o inglês como língua nativa e está ali apenas quebrando o galho. Nós também damos aulas particulares em nossas unidades, num programa que chamamos de Aulas Individuais, para resolver deficiências específicas ou até mesmo para um desenvolvimento mais rápido da fluência do idioma. Esse curso é bastante procurado por profissionais que estão no C-level das empresas e precisam conquistar a fluência com rapidez. Ainda temos dentro de nossas unidades o programa de SOS, que visa atuar em deficiências específicas dos alunos.Se alguém tem mais dificuldade com phrasal verbs, por exemplo, nós montamos aulas de reforço. E não cobramos mais por isso. O SOS é gratuito. Além da garantia de fluência e do SOS, o Cel.Lep tem algum outro diferencial? Temos vários... Nossas aulas são em salas de reunião, com o professor e os alunos dividindo a mesma mesa, muito próximos uns dos outros. Não colocamos 40 alunos numa sala grande, uns de costas para os outros, olhando para um professor que fica num tablado escrevendo na lousa. Nossas classes

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de adultos têm 12 alunos, no máximo. As de crianças, 15. Outro grande diferencial é a nossa metodologia, que se apoia num tripé formado pela sala de aula, pelo laboratório e pela lição de casa. Nós fomos os primeiros a trazer o laboratório para dentro dos cursos. Nos módulos básicos o aluno tem aula com um professor e depois passa 50 minutos no laboratório, treinando individualmente numa cabine, assistido por um professor. No aprendizado de inglês você tem que se expor, se jogar, errar e ir se corrigindo. É nesse exercício de repetição e exposição que o conhecimento da nova língua vai se sedimentando. Já nas classes mais avançadas, fazemos o inverso: o aluno vai primeiro para o laboratório e depois para a sala de aula. Os exercícios na cabine servem para deixá-lo mais confiante para participar dos debates na aula. Em 2012 o Cel.Lep foi vendido para o fundo de investimentos H.I.G. Capital. O que mudou desde então? Em termos de qualidade de ensino, nada mudou. Continuamos com o mesmo nível de exigência implantado pelo fundador da escola, o professor Walter Toledo Silva, porém procurando incorporar novos processos tecnológi-

de olho no

f utu ro Em 2017, o Cel.Lep adquiriu a MadCode para unir o ensino de inglês com a programação

cos e inovadores, como sempre foi a marca do Cel.Lep. Isso está no nosso DNA desde a fundação: excelência e inovação. O que mudou foi a nossa abrangência. Estamos nos expandindo, aproveitando oportunidades de mercado para criar novos cursos, novas parcerias e até novas especialidades. Em 2017, por exemplo, adquirimos a MadCode, escola de programação para crianças, porque acreditamos que cada vez mais programação e inglês vão andar juntos. Uma habilidade reforça a outra, é isso? A linguagem do futuro é a programação. O inglês continuará sendo a ferramenta indispensável para você ter acesso à programação, mas você precisará ir além e se aprofundar na linguagem cibernética. Os jovens que ingressarem no mercado de trabalho daqui a oito ou dez anos têm de saber aliar a tecnologia com inovação, criatividade e raciocínio lógico. A programação ensina linguagens de bloco e depois linguagens mais estruturadas nos cursos avançados, que abordam inteligência artificial, robótica, desenvolvimento de aplicativos e jogos. Ou seja, a gente traz todo esse mundo digital para o aluno resolver problemas do cotidiano. Tanto é que as nossas aulas começam sempre com a pergunta: “Qual é o problema que você quer resolver hoje?" O professor Walter fez alguma exigência no momento da venda? Nenhuma. Ele percebeu que estava negociando com um grupo sério que cuidaria muito bem do legado dele. Tinha 92 anos quando vendeu e sempre foi muito ativo e presente na escola. Faleceu dois anos depois da venda.

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“NA s c l a s s e s d e a d u lt o s t e m o s no m á ximo 12 a lunos. é u m d i f e r e n c i a l”

Foi lançado algum curso novo? Sim, vários. Um bem interessante que criamos em 2017 é o Friday Night, com quatro horas de aula na sexta à noite. Nosso convite é: “Troque o happy hour e o chope da sexta-feira por um curso que vai mudar a sua vida”. E pagando apenas R$ 650 por mês. Só às sextas-feiras? Sim, com aulas começando às 18h ou às 19h e terminando às 22h ou 23h. Cabe ao aluno a disposição de estudar com perseverança e disciplina. Lançamos também, em 2018, os cursos In Company, dados dentro das empresas, com nossos professores e nossos materiais didáticos. Além disso, estamos investindo muito numa nova modalidade de parceria com as escolas, o Cel.Lep Sistemas, que é um sistema de ensino de inglês para a grade intracurricular das escolas regulares. Entramos também no mercado bilíngue. Como funciona isso? Na solução bilíngue, o próprio professor da escola, treinado por nós, e dentro de uma carga horária semanal de quatro a dez horas, conversa em inglês com os alunos sobre o que eles estão aprendendo em matemática, história, biologia, o

que for. Temos um material didático e uma metodologia bastante robustas. Estamos ainda entrando para a grade intracurricular das escolas por meio do Cel.Lep Sistemas. Começamos esses novos produtos firmando parceria com três escolas em 2018 e agora em 2019 devemos expandir para mais de 30. Passaremos assim a ser uma marca nacional, porque já fechamos contratos com

escolas de quatro estados fora de São Paulo e estamos negociando outros, podendo chegar a dez estados no total. Qual foi o resultado da experiência de 2018? O aprendizado dos alunos em inglês melhorou visivelmente, porque eles passaram a ter mais horas de exposição ao idioma, e de uma maneira coloquial, mais divertida. O professor sugere um

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tema, que pode ser a Revolução Industrial ou a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, e todos expressam seus comentários em inglês. É diferente do nosso programa In School, que oferece especificamente aulas extracurriculares da língua inglesa nas escolas. Isso não vai acabar conflitando com o In School de vocês? Talvez possa haver um certo conflito, mas ainda não percebemos isso. O novo programa é um In School ampliado e dentro do ambiente das escolas regulares, para alunos de 4 até 17 anos, pegando educação infantil, fundamental I, II e ensino médio. Acho que a única diferença é: não é um professor do Cel.Lep, embora seja treinado por nós e o material didático também seja nosso. Vamos atuar em três frentes nas escolas: Sistema In School, com até quatro horas semanais, a Solução Bilíngue, com até 10 horas semanais, e as aulas de programação da MadCode, em parceria com a Apple. Como serão as aulas de programação na grade? Adotamos o ECC, o Everyone Can Code, o curso de programação da Apple, que nos certificou. Damos o treinamento para os professores de programação das escolas e providenciamos o material didático, incluindo um iPad para cada aluno. A mensalidade começa em R$ 60 por aluno, com o fornecimento do iPad em comodato. O iPad fica lá na escola? Sim. A gente começou em 2018 num colégio e vamos estender o curso agora para cinco daquelas 30 escolas que aderiram ao Cel.Lep Sistemas. Nesses dois produtos a gente pode ter uma

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amplitude nacional porque eu não preciso fornecer os professores, só o sistema. Se fechar um contrato com uma escola no Acre, por exemplo, mandamos nosso pessoal para dar uma semana de treinamento intensivo ao professor deles. Nós nos com­­pro­metemos a dar assessoria pedagógica ao longo do ano para aqueles professores, além do coordenador de cursos da cadeira de inglês e para a direção da escola. E o que mudou no In Company, o curso customizado para funcionários de empresas? Instituímos o nosso laboratório para acesso remoto. Assim, tudo ficou mais prático. Nossos professores vão até a empresa para as aulas presenciais. Para as aulas de laboratório, o aluno recebe um link para fazer o o mesmo remotamente. Quando ele quiser, de onde ele quiser. Assim contemplamos a comodidade dos funcionários, que é ter o curso dentro da empresa, sem abrir mão do treinamento de reforço feito em laboratório, base de nossa metodologia pedagógica. Dá para medir a importância do inglês na carreira de um profissional? Sim, muito. Há diversos estudos que mostram que um profissional que fale bem inglês pode ganhar até 60% mais do que um colega da mesma área que não fale. O leque de conhecimento é muito mais amplo para quem sabe inglês, e as empresas valorizam isso. Se você pesquisar no Google um assunto em português, por exemplo, pode chegar a milhares de resultados. Mas, se buscar o mesmo assunto em inglês, chegará a milhões de resultados. Essa é a diferença.

“u m prof i s s iona l q u e fa l a i n g l ê s p o d e ga n h a r at é 6 0% m a i s ”

Além de se expandir para as escolas e para as empresas, o Cel.Lep ganhou mais unidades fixas? Sim, estamos atualmente com 24, oito a mais do que quando assumimos, em 2012. Todas ficam no estado de São Paulo. São 17 na capital e as demais em Alphaville (Barueri), Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. Não tem franquias? Chegamos à conclusão de que, se a gente franqueasse a operação do Cel.Lep, poderíamos perder o controle da qualidade dos nossos cursos. E qualidade é a espinha dorsal de tudo o que fazemos. Dos atuais 10 mil alunos, quantos fazem inglês? A grande maioria. Cerca de 8,5 mil estudam inglês, uns 500 fazem espanhol e os outros mil estão no curso de programação. Nessa conta também estão incluídos os cursos de programação que damos em algumas comunidades carentes, em ações de responsabilidade social. Vocês oferecem esses cursos de graça? Nós somos contratados por grandes empresas para dar essas aulas de programação em comunidades carentes. Um projeto muito bacana, que ensina adolescentes que moram em favelas a

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resolver problemas do dia a dia com a ajuda da programação. Vou te contar o caso real de uma menina da comunidade de Heliópolis, que fica na zona sul de São Paulo. Ela contou que precisava levar a avó para fazer tratamento no SUS, mas muitas vezes perdia a viagem porque o médico não tinha ido trabalhar ou havia gente demais na fila. “A minha vó não paga o ônibus”, ela disse, “mas eu pago e esse dinheiro faz falta lá em casa.” É dramática essa história, não é? Ajudamos a resolver esse problema ensinando-a a desenvolver um aplicativo que mostra como está o atendimento na unidade do SUS, se o médico está atendendo, se tem muita fila etc. Um aplicativo que está servindo para todos os moradores da comunidade. O Cel.Lep participa de outros programas de responsabilidade social? Sim. Um muito bacana, sob a gestão e coordenação do Facebook, é a Estação Hack, aqui em São Paulo. É o primeiro centro do gênero criado pelo Facebook no mundo. São cinco parceiros no Brasil para tocar esses projetos sociais, sendo que a MadCode foi o parceiro ecolhido na área educacional, com a missão de dar cursos de desenvolvimento de aplicativos. Em 2019, o Cel. Lep foi convidado a integrar esse seleto programa, ministrando aulas de inglês básico instrumental, focadas para tecnologia (coding). Como esses alunos são recrutados? Os cursos são divulgados em nosso site – é só acessar http://madcode.com.br/ estacao-hack. Os jovens fazem a inscrição e têm aulas na sede da Estação Hack, na avenida Paulista, de graça. São dois dias de aula na semana, num total

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de seis horas, ou uma esticada de oito horas aos sábados, com turmas de até 40 alunos. Este ano os cursos também serão divulgados nas escolas públicas. Qual é o público predominante no Cel. Lep? Jovens ou adultos? Está bem dividido. Há mais adultos nas unidades de rua, mas os alunos do In School equilibram o jogo. Antigamente os adultos predominavam, mas com o lançamento do In School, em 1998, a proporção de jovens foi crescendo ano após ano. Hoje está empatado. Vocês também vão investir, enfim, em cursos online? Sim, no médio prazo. Nosso grande desafio será levar para os cursos virtuais a mesma perspectiva de qualidade que é a marca do Cel.Lep. Um curso online seria bem mais barato e popular, mas garantiria a fluência em inglês, como nossas aulas presenciais garantem? Será que combinando duas horas semanais de aulas presenciais com outras oito de reforço online vamos conseguir o resultado que queremos? Estamos avaliando as possibilidades. Quando você fala médio prazo é o quê? Pode ser 2020? Entre 2020 e 2021. Mas a solução que iremos trazer, pode apostar, será disruptiva para o mercado. Aguardem. Todas essas iniciativas mostram um lado muito empreendedor do Alexandre. Isso se reflete em outras áreas? Sim. Acho que desde a faculdade, quando me engajei na formação da empresa junior. Isso há mais de 25 anos. De lá para cá venho amadurecendo essa veia empreendedora, sempre buscando mercados com demanda não assistida ou negócios que sejam inova-

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família Reunida Alexandre Garcia valoriza os momentos com a mulher, Cinthia, e com a pequena Maria Helena

dores e até disruptivos. Por exemplo, em 2008, com mais cinco amigos, entrei no ramo de construção civil, focado em empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida na região metropolitana de Curitiba. Fundamos a empresa Valor Real Constuções, que hoje entrega anualmente mais de 500 unidades imobiliárias por ano. Estamos em franco crescimento. Mais recentemente, como investidor, avaliando negócios relacionados ao ramo de joias e semijoias, além de soluções de alta tecnologia, envolvendo realidade aumentada e inteligência artificial. Meus finais de semana são bem disputados entre os

momentos de família, os eventos representando o Cel.Lep e esses investimentos pessoais. Me dá muito prazer, por exemplo, estar na praia num final de semana, pé na areia com a esposa e filha, brincando e descansando e, ao mesmo tempo, estar analisando e avaliando essas novas frentes. Entendo que nada é excludente. Por outro lado, temos de estar sempre vigilantes no equilíbrio, para que o ser humano – na condição de pai, marido, filho, amigo, executivo, empresário, cidadão – esteja na sua essência, de forma harmoniosa. Difícil, mas possível. Essa, na minha opinião, é a verdadeira batalha. TP

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n egÓci os

Q ua n d o a O r f e u d e c i d i u i n v e s t i r n o m e r c a d o in t er no de c a f é s e speci a is, dei x a n do u m pouco d e l a d o a e x p o r t a ç ã o, f o i b u s c a r

A M ANDA DIAS CA P UC H O

pa r a c o m a n d a r

a v i r a d a . El a f e z m a i s d o q u e i s s o : e l e vo u o s e u p r o d u t o a u m o u t r o pa t a m a r

A hor a do

CAFÉ

P or Lu i z M ac i e l

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r e t r ato s t uc a r e i n é s

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Am a n d a D i a s C a p u c h o é u m a CEO s uav e e r i s o n h a , q u e n ã o a pa r e n t a o s 3 8 a n o s q u e t e m . M a s e s s e a r j ov i a l , q u e é u m a d á d i va pa r a q ua lq u e r m u lh e r , já f o i u m p r o b l e m a pa r a e l a . “ E u e n t r e i n a fa c u l d a d e m u i t o m e n i n a , c o m 1 7 a n o s i n c o mpl e t o s , e e s c o n d i a a i d a d e n a s e n t r e v i s t a s d e e mp r e g o pa r a n ã o s e r d e s c a r t a d a l o g o d e c a r a”, c o n t a .

A estratégia rendeu a Amanda o primeiro trabalho, aos 19, como trainee na auditoria KPMG, experiência que ela considera fundamental na sua carreira. “O auditor tem acesso a todo mundo numa empresa, até ao presidente.” O fato de ser conversadeira e demonstrar empatia com os colegas não atrapalhou em nada a trajetória de Amanda, muito ao contrário. Quando

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foi convidada por um headhunter a se candidatar ao cargo de CEO da Orfeu Cafés Especiais, em 2016, seu jeito transparente contou pontos a favor. Na última entrevista, com Roberto Irineu Marinho, o chefão da Rede Globo que também é dono da Orfeu, ela não escondeu a surpresa por ter sido cogitada para um cargo que nunca havia ocupado. Admitiu que teria

muito o que aprender na nova função, mas deixou claro também que estava empolgada com o desafio e muito disposta a enfrentá-lo. Roberto Irineu gostou. O chefão global, apaixonado por café desde o período em que morou em Roma e frequentava o Sant Eustacchio il Caffè, deve ter percebido ali a paixão de Amanda pelo trabalho bem-feito. Antes de desembarcar na Orfeu, Amanda atuou em vários departamentos da Basf (onde conheceu o marido, Leandro Capucho, empresário), por mais de sete anos, e foi diretora das áreas de marketing e de vendas da Nespresso, de 2009 a 2016. Sua experiência no marketing seria um capital valioso para fazer da Orfeu – até então uma fornecedora de nicho, que distribuía seu produto premium apenas em cafeterias e restaurantes sofisticados – um player importante no setor de cafés especiais que estava ganhando as gôndolas dos supermercados brasileiros. Mãe de Júlia, 7 anos, e de João, 4, Amanda não vai mais tanto a Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, onde ela e o marido costumavam passar os fins de semana em passeios de barco. “Hoje o que mais quero é curtir os filhos com programinhas tranquilos aqui em São Paulo mesmo”, diz. Também por causa dos pequenos, Amanda criou uma rotina de trabalho saudável. Chega ao escritório por volta das 9h e procura sair antes das 19h. Nos fins de semana, conta com os assessores para resolver possíveis pendengas de última hora – eles só a acionam em casos mais sérios. Sábia Amanda.

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THE PRESIDENT _ O café Orfeu construiu uma imagem de produto especial. O que ele tem de tão especial? Ah, são vários fatores! Em primeiro lugar, ele é produzido em terras altas, acima de mil metros, com as melhores técnicas. E todo o processo de produção, do plantio até a embalagem, é feito por nós, com controle de qualidade em todas as etapas. Além disso, estamos sempre introduzindo novas variedades e métodos inovadores que possam melhorar ainda mais a qualidade do produto ou deixá-lo mais sustentável. Como resultado, Orfeu é o café brasileiro mais premiado do mundo e já conquistamos 26 vezes o Cup of Excellence, considerado Oscar dos cafés especiais. Onde ele é produzido? Hoje temos cinco fazendas, quatro no sul de Minas e uma em São Paulo, que somam 3 mil hectares. Um terço dessa área, a de terras mais nobres, é reservado ao café. São 4 milhões de pés de café. Outro terço é ocupado por reservas florestais, e o terço restante é destinado a outras culturas. Nós conservamos mais matas nativas do que é exigido por lei, porque sabemos da importância delas para o controle de pragas. Em vez de virem para os cafezais, o percevejo, o grilo, a joaninha vão para a mata, que é mais interessante, tem muito mais biodiversidade. A fazenda onde tudo começou é a Sertãozinho, que fica em Botelhos (MG) e pertencia a uma tradicional família de cafeicultores. ...e foi comprada pelo Roberto Irineu Marinho, certo? Sim, ele é o dono, mas prefere não fazer alarde disso, é uma pessoa muito discreta.

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sempr e

n a va n g ua r da A Orfeu não para de pesquisar novas variedades. A próxima a ser lançada será o Acauã

Todas as fazendas já produziam café quando foram compradas? Todas já produziam café de qualidade, mas fomos renovando as plantações aos poucos e incorporando nova s te cnolo g i a s. E s s e pro c e s s o con­­tinua, não tem fim. Vão renovar tudo? Vamos renovando na medida do necessário, buscando sempre aumentar a qualidade. Introduzimos tipos mais resistentes às pragas, por exemplo, que exigem menos defensivos. Algumas áreas que não davam café na qualidade que a gente queria, aproveitamos com outras culturas. Plantamos milho, azeitonas e temos criação de gado e de porcos. O milho é para alimentar os porcos, e os dejetos dos porcos são o melhor adubo para o café. Uma coisa puxa a outra.Toda a parte do agronegócio das nossas fazendas é dirigida pelo José Renato Gonçalves Dias, um dos principais agrônomos de café do país e que vem de uma tradicional família de produtores. Ele é da sexta geraçãotrabalhando com café. E as azeitonas? Vocês vão fazer azeite? Vamos. A colheita é agora e a nossa ideia é fazer um pré-lançamento este ano ainda. As oliveiras são delicadas, levam dez anos para começar a produzir bem. Desde cin-

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co anos atrás, quando deram os primeiros frutos, estamos fazendo testes para achar a mão de qualidade, de poda. O Brasil não tem know-how para essa cultura, mas a nossa região tem altitude, é seca, é maravilhosa para a azeitona. Não tem mais essa história de que azeitona só dá no Mediterrâneo. Com as novas técnicas, acabou esse paradigma. Da mesma forma como hoje se faz vinho bom em muito mais países do que antigamente. O café também exige tempo, né? Também. São três anos para um pé de café dar os primeiros frutos e mais um ano para saber se ele tem a qualidade esperada. Tem de ter paciência e visão de longo prazo. O café especial que temos hoje é o resultado de mais de 20 anos de experiências e aprimoramentos. Uma das primeiras providências, lá atrás, foi tra­zer de volta as famílias de colonos para as fazendas, para ter mão de obra engajada. A colheita manual, feita por trabalhadores experientes, faz muita diferença. Eles sabem que devem colher só o fruto maduro e que é importante preservar a folhagem na ponta dos galhos. Fazem o serviço com delicadeza. Não há trabalhadores eventuais? Temos 300 colaboradores fixos, registrados em carteira, e contratamos mais 100 a 150 como CLT temporários na época da colheita, que vai de abril a julho. A maioria desses colaboradores eventuais são parentes dos próprios colonos: a mulher, o filho, o tio. Só uma pequena parte vem da cidade. E a gente não contrata ninguém de fora do município. Os cafés premiados vêm de onde? Depende do ano, depende da varieda-

de, sabia? No ano passado fomos premiados no Cup of Excellence, o mais prestigiado concurso mundial, com o café 100% orgânico da Sertãozinho. No retrasado, ganhamos com o Bourbon Amarelo da fazenda Rainha, que fica em Poços de Caldas (MG). O orgânico dá muito trabalho? Dá. Levamos oito anos para desenvolver. Os produtores sempre acharam que seria impossível conseguir um café orgânico, por causa da broca, um besourinho que adora botar ovo dentro da cereja do café. É uma praga tão comum que café com até 20% de broca é considerado próprio para consumo. A primeira coisa que fizemos foi reservar um talhão bem alto para a plantação orgânica, acima de 1.300 metros, pois a altitude é uma barreira natural às pragas. Não deu certo na primeira tentativa, mas depois acertamos com a variedade Arara, que é super-resistente. O investimento compensa? Como o nosso principal objetivo é fazer um produto de alta qualidade, com um olhar de longo prazo, claro que compensa. Mas se você me perguntar se o café orgânico já está dando lucro, longe disso. A rigor, a operação inteira

“A O r f e u p r o d u z no br asil um dos melhores cafés d o m u n d o, s e m d ú v i da a l g u m a”

ainda não dá lucro, porque continuamos na fase de investimento. Como assim? Depois de 20 anos? Sim, porque continuamos expandindo as culturas e aprimorando os processos. Três anos atrás, compramos uma fazenda vizinha e dobramos a produção da Sertãozinho. E não paramos de pesquisar novos blends e variedades. Além do orgânico, lançamos a variedade Japy, no ano passado, e vamos lançar agora a Acauã, ambas desenvolvidas em parceria com a Fundação Procafé. Cada novo produto desses demanda de 20 a 30 anos de pesquisa. É um privilégio trabalhar com essa visão de futuro, sem a pressão do lucro fácil e rápido. Mas o maior investimento já foi feito, não é mesmo? Sim, mas os esforços continuam. Se a meta nos primeiros dez anos era produzir um café de nível superior, nos dez anos seguintes foi manter essa alta qualidade com volume. Uma coisa é produzir um lote de café com qualidade. Outra é produzir mil hectares de café de alto padrão. Isso exige uma grande estrutura de armazenamento, de pesquisa, de seleção de blends adequados para entregar um produto com frescor o ano todo, e não só logo depois da safra. Como é que se chega aos blends ideais? Com tecnologia, paciência, estoque... É fundamental armazenar bem o café, num ambiente sem umidade, e fazer muitos testes de degustação para definir as misturas mais suaves ou mais intensas. A torra também pode variar, num caso e no outro. Em termos mundiais, o café Orfeu está em que nível? Estamos entre os melhores do mundo,

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sem dúvida nenhuma. Aliás, a reputação do café brasileiro lá fora sempre foi muito boa, pois o que temos de melhor é exportado. O colombiano não tem mais prestígio do que o nosso no exterior? Quem entende de cafés especiais valoriza muito o café brasileiro, tá? Se você for em grandes cafeterias no Japão, nos Estados Unidos ou na Espanha, vai encontrar em destaque produtos do Brasil, da Costa Rica e do Quênia. Acontece que o Brasil também faz o pior café do mundo, aquele vendido aqui a preços populares, cheio de impurezas e torrado além da conta para disfarçar o amargor. Mas isso também está mudando. Basta ver a quantidade de cafeterias gourmet nas nossas cidades. O consumidor brasileiro está aprendendo a apreciar os cafés especiais, da mesma forma como está descobrindo o universo das cervejas artesanais. Os produtores, em geral, estão atentos a essa tendência? Ainda não, mas aos poucos eles vão percebendo que não precisam mais exportar tudo o que produzem de melhor, podem reservar um pouco para o mercado interno. Antigamente, o café premium disponível no país era o mesmo que nós exportávamos em grão verde, e que voltava para cá beneficiado, numa bonita embalagem com marca estrangeira. No caso da Orfeu, a prioridade é o mercado externo ou interno? A ideia é destinar, a médio prazo, toda a produção ao mercado interno. Temos aumentado ano a ano a proporção de produtos distribuídos no país e já chegamos a 50%.

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A cotação dos cafés especiais é muito superior? Muito. Enquanto uma saca de café comum custa a partir de R$ 150, uma com padrão um pouco melhor pode valer o dobro. Já a cotação de um café gourmet, especial, começa em R$ 500 e pode chegar a US$ 5 mil, no caso de amostras excepcionais. As variedades de café se contam em dezenas ou centenas? Quantas vocês cultivam? São centenas de variedades no mundo, divididas em duas grandes famílias: a espécie arábica, que tem um espectro sensorial mais amplo e complexo, e a canephora, que é mais simples e também conhecida pelo nome da sua principal variedade, a robusta. Cultivamos mais de 20 tipos, todos eles originários da arábica. A máquina de café expresso realça mais o sabor do café? Ou ele fica melhor passado num coador? Ah, isso é muito pessoal. Eu, por exemplo, tomo umas quatro xícaras de café de coador ao longo da manhã, mas prefiro um expresso depois do almoço. À tarde e à noite tomo um ou outro descafeinado, para não atrapalhar o sono. O

“A i d e i a é d e s t i n a r , a m é d i o p r a z o, t o da a p r o d u ç ão d e c a f é ao m e r c a d o i n t e r no”

curioso é que o mesmo café, da mesma variedade, adquire sabores diferentes conforme a preparação. Não quer dizer que uma preparação seja melhor do que a outra, apenas que são diferentes. Não vi ninguém usando açúcar ou adoçante no café. É regra da empresa? Hahaha, de novo é a escolha de cada um. Eu entendo a dificuldade de abandonar o açúcar ou o adoçante, porque também passei por isso. Fui diminuindo as gotinhas de adoçante aos poucos, até me acostumar. Mas, depois que se acostuma, garanto a você que o sabor do café fica melhor. A gente percebe que ele tem uma doçura natural, não precisa de aditivos. Eu provei o descafeinado de vocês e não percebi nenhuma diferença em relação ao café normal. Qual é o segredo, afinal? É não usar produtos químicos para extrair a cafeína. O método que usamos é o swiss water, desenvolvido por uma empresa canadense, que só usa água nesse processo. Dá mais trabalho e leva mais tempo, mas não interfere em nada no sabor. Mandamos pra lá o café em grão, eles fazem a descafeinização e mandam de volta. Um processo inovador, que a Orfeu incorporou. Exato. Outra importante inovação que introduzimos foram as cápsulas de material biodegradável, produzidas por uma companhia francesa, que são absorvidas pelo ambiente em apenas quatro meses. Ou seja, em vez de serem uma ameaça à natureza, como no caso das cápsulas de plástico comum ou de alumínio, elas viram adubo para as plantinhas domésticas. E embora a

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“n o s s o s p r o d u t o s s ão au d i t a d o s p o r q ua t r o certific a dor as de b oa s p r á t i c a s ”

substituição das cápsulas tenha gerado um custo adicional para nós, não repassamos esse custo ao consumidor. Só vocês utilizam essa cápsula sustentável de café? Pode ser que alguma empresa pequena use, não sei, mas produtor de grande porte só a Orfeu. A sustentabilidade é um tema muito caro para nós. Tanto que nossos produtos são auditados por quatro certificadoras de boas práticas, duas nacionais e duas internacionais. Aliás, você trabalhava na Nespresso quando ela perdeu a patente das cápsulas e passou a sofrer a concorrência de várias empresas, inclusive a Orfeu. Eles ficaram muito pê da vida? Eu vou falar como negócio, tá? Eles lançaram as cápsulas na década de 1980 e surfaram sozinhos nessa onda por 20, 30 anos. Quando venceu a patente, tentaram evitar a concorrência com recursos judiciais, mas perderam. Tentaram mudar a máquina e também foram impedidos judicialmente. Acho que isso faz parte do livre mercado, que existe para o bem do consumidor. É como o filho que a gente acha que vai ficar a vida inteira com a gente, mas um dia ele vai sair de casa e ganhar o mundo. É do jogo. TP

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O C r i a d o r d o G o o g l e r i à t oa m e s m o g a n h a n d o s ó US $ 1 p o r m ê s

em busca de

l a r ry pag e

P o r d a n i e l ja p i a s s u

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A i de i a e r a tão s e n s ac ion a l (e prom i s s or a , o q u e a t o r n ava a i n d a m e l h o r ) q u e ,

a s s i m qu e aqu e l e s d o i s jov e n s a m a luc a d o s t e r m i n a r a m s ua a p r e s e n t a ç ã o n o e s pa ç o s o e s c r i t ó r io da S u n M ic ro s y s t e m s, e m M e n l o Pa r k , c o r a ç ã o d o Va l e d o S i l í c i o, A n dy B e c h t o l s h e i m, u m d o s f u n da d o r e s d a c o m pa n h i a , t i r o u o t a l ã o d e c h e q u e s

d o b o l s o, p r e e n c h e u a c i f r a d e US $ 10 0 m i l e o e n t r e g o u à d u p l a . N ã o s e m a n t e s c r u z á-l o e i de n t i f ic a r o p orta d or: G o o g l e I nc .

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Na época, 1998, US$ 100 mil eram uma senhora grana (ainda são). E o aporte, proveniente de uma das mais conceituadas companhias do mun­ do – tanto que seria comprada, pou­ co depois, pela gigante Oracle –, faria toda a diferença na vida dos rapazes. Só havia um “pequeno” problema: a tal Google Inc não existia. Ou seja, o cheque não podia ser depositado em conta alguma. Só quase um mês de­ pois, Larry Page e seu sócio, Sergey Brin, conseguiriam vencer a burocra­ cia (sim, ela também existe nos Es­ tados Unidos) e criar o que viria a ser uma das mais importantes empresas de tecnologia do mundo. Àqueles US$ 100 mil (boa parte in­ vestida em servidores de alto poder de processamento) se juntaram mais US$ 2 milhões no decorrer do primei­ ro ano de vida da Google, cuja missão interessava a (quase) todos os envol­ vidos na evolução da internet: orga­ nizar as dezenas de terabytes de infor­ mação que já poluíam a rede mundial de computadores e dar alento aos pesquisadores virtuais. Quem viveu aquele momento de transformação sabe bem a aventura que represen­ tava tentar extrair dados da internet. A palavrinha Altavista lembra a você alguma coisa? A grande estrela do projeto Google era mesmo Lawrence Edward Page, um jovem de Michigan, segundo filho de uma programadora de computado­ res, Gloria, e cujo pai, Carl, era uma lenda em ciência da computação e in­ teligência artificial – ambos professo­ res renomados na igualmente renoma­ da universidade local.

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pode pesquisar Aos 45 anos, ele permanece inquieto

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Estou com sorte age, hoje com 45 anos, já traba­ lhava no conceito do Google em 1997, quando soube que Massimo Marchiori, um matemático italiano da Universidade de Pádua, estaria no cam­ pus da Universidade de Santa Clara para uma palestra sobre o futuro da internet. Marchiori havia escrito um par de ensaios importantes sobre a vida digital. Page e Brian faziam mestrado em Stanford e re­ solveram ver de perto o que o rapaz de 27 anos e mente genial tinha a dizer. Após um encontro no qual discuti­ ram o futuro da internet, Marchiori apresentou à dupla o algoritmo que criara um ano antes para um projeto muito semelhante ao Google, chamado Hyper Search – que sofria com a falta de patrocínio. Page lhe disse, então, que gostaria muito de desenvolver aque­ le punhado de números e equações. O italiano (que ressalta a cada entrevista seu desapego aos chamados bens ma­ teriais) deu sinal verde. Bastava à dupla algum recurso financeiro. E, com um único search no Vale do Silício, surgiram os US$ 100 mil de Andy Bechtolsheim. Mas claro que nem todo o dinheiro do mundo seria suficiente para tornar o Google um sucesso se Page não reunisse algumas características fundamentais, que vão muito além dos códigos de pro­ gramação. Ele é considerado um execu­ tivo brilhante, revolucionário também no trato com as pessoas e na dinâmica que impõe a todos os setores da empresa – “culpa”, talvez, da educação montes­ soriana, que fomentou sua personalida­ de inquieta, curiosa e inconformista. “Se você não se permite errar, estará cada vez mais longe de acertar”, costuma dizer.

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Page descobriu, desde cedo, principal­ mente observando o trabalho dos pais, que é impossível aprender apenas ven­ cendo desafios. Deve ser por isso que se tornou um jogador de xadrez acima da média – pelo menos na opinião dos amigos que frequentam sua casa de US$ 8 milhões, em Palo Alto. Ele tem por hábito movimentar as pe­ ças no tabuleiro a bordo de um de seus brinquedos favoritos, o mininavio Senses, de 193 pés, cujo interior foi desenha­ do por Philippe Starck e que está avaliado em US$ 45 milhões. Ou em seu 767-200, codinome Google Jet. O jato é usado para ganhar tempo – e ainda mais dinheiro – encurtando distâncias sempre que pre­ cisa se deslocar para reuniões ou apre­ sentações around the world. Nas horas vagas, Page toca saxofone (e arranha na percussão), gosta de estar com a família (é casado, desde 2007, com a cientista biomédica Lucinda Southworth, com quem tem dois filhos) e pode ser visto, amiúde, na ilha de Necker, proprieda­ de de seu amigo Richard Branson. Sim, o fundador da Virgin, conglomerado de companhias – incluindo a Virgin Galac­ tic, que, entre outras maluquices, pre­ tende levar os muito muito ricos para um city tour pela Lua e adjacências ainda nesta década. Pois foi na ilha de Branson que Mr. Google se casou e onde pratica seu esporte favorito, o kiteboarding. Já a última aquisição de Page pode ser considerada coisa de nerd, mesmo. Trata-se do microavião The Flyer, tam­ bém chamado de carro voador, criado pela startup californiana Kitty Hawk – da qual Page é o CEO. Movido a bateria, leva apenas o piloto e mais parece um imenso drone.

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O cérebro do mundo ssim como o The Flyer busca um futuro com menos trân­ sito e poluição, outro projeto ambicioso do Google – e que vem re­ cebendo atenção especial de Page – tem o céu como limite: é o Loon, rede de balões (do tamanho de quadras de tênis) feitos de folhas de polietileno, e recheados com equipamentos de última geração, que viajam na borda do espaço, a 20 quilômetros de altitu­ de. Objetivo? Levar internet de graça a populações rurais de maneira geral e às regiões mais remotas do planeta. O balão já foi exaustivamente testado, opera muito bem, mas vem colecio­ nando uma série de inimigos, já que o conceito de free internet não é algo muito bem visto entre os players desse mercado bilionário. Aliás, façamos justiça: a ficha corri­ da de Page, nesse particular, é bastante extensa e vem de longe. Em 2002, me­ teu-se em um imbróglio também inter­ nacional assim que seu projeto Google Books escorregou para fora das pranche­ tas virtuais. Influenciado pela leitura de World Brain, escrito por H.G. Wells entre 1936 e 1938, ele imaginou um serviço online gratuito com todos os livros já publi­ cados à disposição dos internautas. A batalha nos tribunais do mundo inteiro por causa dos direitos auto­ rais de mais de 10 milhões de obras já escaneadas pelo Google acaba de completar 15 anos e rendeu, além de multas e acordos processuais, um do­ cumentário em 2013, homônimo do livro de Wells, premiado no Festival Sundance. As editoras, ao que parece, não gostaram muito da ideia de Page.

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Sobre idas e vindas ponto central da estratégia do Google? Ir adiante, mesmo quando as chances de sucesso são menores do que os riscos de fracas­ sar. Dos mais de 200 projetos levados a cabo pela companhia nos últimos 20 anos, cerca de 30% naufragaram – al­ guns de forma espetacular. E foram jus­ tamente estes que ensinaram ao time de Page o caminho das vitórias. Na lista de fiascos, destaque para a rede social de micromensagens Jaiku, lançada em 2006 e destroçada pelo Twitter; o Goo­ gle Glass, de 2012, óculos conectados à internet que usavam as lentes como telas para buscas em tempo real e que foram

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ele tem

U S$ 53 , 5 b i lh õ e s Mas está mudando de novo o Google para lucrar ainda mais

Nave mãe A sede do Google em Mountain View, na Califórnia

varridos do mapa quando se começou a discutir o quanto o sistema invadia a pri­ vacidade das pessoas; o Orkut, de 2004, rede social que sucumbiu ao Facebook; o Google Lively, de 2008, espécie de rede social em 3D na qual os usuários eram identificados por avatares; o Mee­ bo, mensageiro instantâneo criado em 2012 e que perdeu o sentido com o ad­ vento das redes sociais; e o mais recente, Google Phone, de 2014 – os parceiros de hardware da companhia, como LG, Mo­ torola, Nokia e Samsung, não ficaram nem um pouco satisfeitos com a novida­ de e “convenceram” Page a repensá-la. Com US$ 53,5 bilhões na conta, o ago­ ra CEO da Alphabet (com salário mensal

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de US$ 1) tem feito o que só o dinheiro, muito dinheiro, permite: dedicar-se a pensar o futuro da tecnologia, do planeta e de seus negócios também, é claro. Fun­ dado em 2015, o conglomerado Alphabet tem no portfólio empresas das áreas de tecnologia, mobilidade, reurbanização, energias renováveis, ciências e pesquisa, além de fundos de investimento. Sem contar as muitas companhias da família Google, entre elas o Gmail, ser­ viço de e-mails mais usado no mundo; o YouTube, plataforma de vídeos mais usada no mundo; o Chrome, navega­ dor de internet mais usado no mundo; o Maps, programa de geolocalização mais usado no mundo; e o Android,

sistema operacional de smartphones mais usado no mundo. Completa a lis­ ta o Google.org, braço filantrópico que investe, desde 2005, US$ 100 milhões ao ano em projetos educacionais ba­ seados em tecnologia de ponta e tam­ bém em ONGs pelo mundo afora. Às vésperas de mais uma mudança no algoritmo do Google – a empresa altera a equação de tempos em tempos para me­ lhorar a velocidade, ajustar os resultados às expectativas de quem usa o buscador e lucrar mais com anúncios em suas pá­ ginas –, Larry Page se prepara para de­ volver à Oracle (com juros e correção) aqueles US$ 100 mil de 1998. Ele acaba de perder, na Justiça americana, pro­ cesso movido por seu xará Larry Ellison. Motivo: usou, sem permissão, a tecnolo­ gia Java, da Oracle, no sistema Android. O valor da brincadeira? Cerca de US$ 9 bilhões. Pouco menos do que a Alphabet lucrou no primeiro trimestre de 2018. Questionado a respeito no ano passado, à saída do tribunal, ele dispa­ rou: “Tudo que leio na mídia é Google vs. fulano ou Google vs. beltrano. É en­ tediante. Deveríamos nos concentrar em construir juntos um mundo melhor e transformar a vida das pessoas”. Page pode até estar certo no mérito, mas perder, como ele bem sabe, tam­ bém faz parte do jogo. TP

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e spo rte

i n t e r i m e rgu l ho r Pa s s a r a b a r r e i r a

d o s 10 0 m e t r o s

d e pro f u n d i da d e

em a pn ei a r equ er

a c on c e n t r aç ão de

um iogue. É o que ensina o fr a ncês

G u i l l au m e Né ry

Por R ic a r do Pr a do

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proeza submarina Ele chegou a 139 metros, usando só a força dos pulmões

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O f r a n c ê s G u i l l au m e Né r y q u e b r o u p o r q ua t r o v e z e s o r e c o r d e m u n d i a l d e m e r g u l h o l i v r e . T o r n o u-s e d ua s v e z e s c a m p e ão d o m u n d o. S e r i a , p o r d i r e i t o, o d e t e n t o r d o r e c o r d e a t ua l , c o m 1 3 9 m e t r o s d e p r o f u n d i da d e – o u s e ja , 9 a m a i s q u e o s 1 3 0 m e t r o s d o m a i s r e c e n t e r e c o r d e h o m o l o g a d o, d o r u s s o A l e x e y M o l c h a l ov. M a s a f e s t a q ua s e ac a b o u e m t r ag é d i a .

Para um competidor de mergulho livre o tempo é medido em minutos, segundos e metros. Em setembro de 2002, em Ibiza, ilha espanhola, Néry precisou de dois minutos, 40 segundos e 87 metros para se tornar o mais jovem campeão do mundo na modalidade radical. Ele tinha então 20 anos, e desde o ano anterior integrava a equipe esportiva francesa. Quatro anos antes, na sua cidade natal, Nice, precisou de pouco mais do que dois minutos debaixo d’água para que o

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instrutor de mergulho livre Claude Chapuis percebesse ali um talento a ser lapidado. Guillaume Néry encontrou naquela modalidade mais do que um esporte: viu ali um desafio a ser superado. E explorar limites era com ele mesmo, como já havia percebido Loïc Leferme, seu melhor amigo na turma de mergulhadores de Chapuis. Com o entusiasmo dos neófitos, e fôlego de sobra, os dois começaram a ir fundo, mais fundo, mais fundo...

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O mundo silencioso dos apneístas stimulado pelos sucessivos recordes, em 2004 a jovem revelação se integraria à equipe francesa que foi à ilha Reunião, em busca de um mergulho definitivamente consagrador. Ali, diante de dois juízes da AIDA (Associação Internacional para o Desenvolvimento da Apneia, fundada em 1992), Guillaume Néry alcançou a incrível profundidade de 96 metros em um único fôlego. A mítica marca dos

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100 metros de profundidade estava agora a quatro metros dele. A marca havia sido atingida em 1976 por seu conterrâneo Jacques Mayol, o homem-golfinho, inspirador do filme Imensidão Azul (1988), que mergulhou 105 metros abaixo do nível do mar. A façanha colocava por terra a hipótese defendida por fisiologistas de que seria impossível ao homem descer abaixo dos 100 metros. A tal profundidade, dizia-se, o corpo implodiria. Mas, se não os 100 metros, até onde seria possível chegar apenas com a força dos pulmões e o impulso dos músculos? Essa questão intrigava não apenas Néry, mas todos os apneístas. Eles desconfiavam que seus corpos poderiam ir mais fundo, muito mais fundo... Os 105 metros de Mayol seriam alcançados por Néry em 2005, durante a pré-temporada do campeonato francês, que naquele ano foi sediado em sua cidade, Nice. Um mergulho na escuridão gelada onde só poucos, e estranhíssimos, seres habitam. Um mergulho que também é interior, como ele gosta de comentar em suas palestras. Em 2015, Néry chegou nos treinos a 126 metros. Dois dias depois, tentando atingir 129 metros, foi vítima de um erro dos juízes da prova, que, ao perderem uma das fitas adesivas presas ao cabo-guia, inadvertidamente acrescentaram 10 metros, resultando em um mergulho quase fatal de 139 metros. No retorno, faltaram dez segundos e poucos metros para chegar à tona quando o mergulhador “apagou”. Ou melhor, perdeu os sentidos, sendo salvo pelos “anjos da guarda”, a equipe que acompanha os últimos 30 metros do mergulho livre. Por isso, o recorde não foi homologado. Néry achou que era hora de parar. Aos 33 anos, já havia expandido em dezenas de metros o limite submarino atingido por mergulhadores sem qualquer auxílio externo (na modalidade no-limits, que usa pesos na descida e balões de ar na ascensão, o austríaco Herbert Nitsch chegou a abissais 253 metros).

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“M e rg u l h a r é a pr e n d e r a r e spir a r melhor. A r e s p i r a ç ão dá r i t m o a n o s s a s v i da s . a p r e n d e r a r e spir a r melhor é a pr ender como v i v e r m e l h o r” –

Dez litros de ar técnica de respiração usada por Guillaume Néry é influenciada pela milenar concepção iogue de respiração, que aponta para três locais onde esse ato vital se realiza: respiração baixa, ligada ao abdômen; a média, relacionada aos pulmões; e a alta, que ocupa a região da traqueia. Buscando encher ao máximo cada pulmão, a primeira aspiração profunda levará um bom estoque de oxigênio para a base do sistema respiratório. Entra então a segunda fase, a da expansão dos pulmões. Nesse momento, em que a maioria dos mergulhadores de fim de semana já estaria feliz em mergulhar por um minuto ou pouco mais, começa a terceira fase, que suprirá o espaço restante com pequenas golfadas de ar, como se fosse uma máquina de ar comprimido. Essa técnica de aspiração, que Néry chama de le carp (a carpa, por lembrar uma boca de peixe), permite acrescentar 1 ou 2 litros de ar extra nos pulmões. Assim, quando se vira para o fundo do mar, o mergulhador francês carrega um invejável suprimento de ar para a empreitada, aproximadamente 10 litros. É tudo o que terá nos próximos minutos e dezenas de metros.

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Em queda livre, a liberdade o iniciar sua descida, Néry relata que entra em ação o que chama de “reflexo do mergulho”. Trata-se da súbita diminuição nas batidas do coração. Em poucos segundos, os batimentos cardíacos do mergulhador cairão de 60 a 70 batidas por minuto para cerca de 30 a 40. Esse mecanismo fisiológico de vasoconstrição periférica tem a função de levar o sangue das extremidades para as partes centrais do corpo, com o intuito de irrigar os órgãos mais importantes envolvidos em um desafio sentido como pura sobrevivência em um ambiente hostil. À medida que o mergulho se aprofunda, a pressão atmosférica aperta mais e mais os pulmões. É preciso descer com rapidez, fazendo uso das nadadeiras, para vencer a tendência dos pulmões, ainda cheios, de flutuarem. Até que, a partir de 30 ou 40 metros de profundidade, o cor-

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po se torna pesado o suficiente para afundar sem esforço extra. “É quando me sinto realmente livre”, suspira. “É como se estivesse voando submerso, uma sensação incrível, uma extraordinária sensação de liberdade.” Ao alcançar de 60 a 80 metros de profundidade, a sensação de sufocamento provocada pelo aumento da pressão atmosférica, cerca de dez vezes maior do que a da superfície, se torna quase insuportável. Nessa hora, Néry afirma que, em vez de lutar contra a pressão, deve-se aceitá-la. “A natureza é mais forte que nós”, diz ele, que se sente como se estivesse dentro de um casulo. Apesar de tudo, seguirá descendo, mais fundo, mais fundo. Ali, o frio é glacial, a pressão, quase intolerável. Mesmo assim, Néry afirma sentir nesse momento o fim de todas as tensões – e até da necessidade de respirar. “Em nenhum outro lugar da Terra você tem a sensação de olhar para qualquer lado e só ter a mesma visão uniforme”, conta. “É extraordinário.” Por mais extraordinário que seja tal estado de solidão, porém, o frágil mamífero terrestre imerso nas profundezas precisará agora mobilizar forças para vencer a força da gravidade e voltar à superfície. Outro desafio é o risco de narcose. Esse fenômeno pode produzir uma enxurrada de pensamentos e sensações eufóricas. Isso agrega outra dose de perigo, já que a capacidade de avaliação de riscos é prejudicada pela sensação prazerosa e hipnótica da narcose.

Mergulhe com Néry

Apenas 15 afortunados terão a oportunidade de adquirir um relógio especial da Panerai, desenvolvido em dupla com Guillaume Néry, e viver uma experiência submarina em Moorea, na Polinésia Francesa,

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“Estou OK” o retorno também será preciso lidar com o desejo de respirar, um instinto que desponta na altura dos 60/50 metros da viagem de regresso. Néry conta que os mergulhadores de profundidade jamais olham para cima, nem se projetam chegando à tona. É preciso ficar frio. “Se eu pensar na superfície, entrarei em pânico. E se entrar em pânico, é o meu fim.” Nos últimos 30 metros tudo se acelera. É quando se aproximam os “anjos da guarda”, que socorreram Néry em seu último mergulho oficial. Em uma competição monitorada pela AIDA, o mergulhador terá 15 segundos para retirar o protetor de nariz, encher os pulmões e acenar para os juízes, dizendo: “Estou OK”. Hoje, Guillaume Néry se dedica a palestras, escreve livros e produz filmes, estes dirigidos por sua companheira, Julie Gautier. Em 2010, a dupla produziu o curta Free Fall, no qual vemos o mergulhador nas Bahamas. Já Narcosis (2014) é montado como se tratasse de um longo mergulho. Tem animações reproduzindo visões experimentadas em situação de narcose. Nas palestras, Néry exibe trechos de seus filmes. Depois narra o que assimilou no fundo do mar. “Mergulhar é aprender a respirar melhor”, instrui. “Respiramos do instante em que nascemos até o último momento. A respiração dá ritmo a nossas vidas. Aprender como respirar melhor é aprender como viver melhor.” TP

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na companhia do mergulhador em pessoa. A aventura inclui a observação de baleias. Funciona assim: você compra o modelo Submersible Chro­no, de 47 mm de diâmetro, e vai recebê-lo nos Mares do Sul, das mãos do campeão francês, com as despesas de viagem incluídas no preço. O relógio per­mite descer a 300 metros no

mar, tem muitas referências ao mergulho livre – incluindo cores submarinas – e agrega um cronógrafo. O mostrador giratório permite calcular com facilidade o tempo de mergulho. No verso da caixa, a assinatura de Néry, em conjunto com uma representação da ilha de Moorea e sua localização geográfica. panerai.com

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luxo

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L a s V e n t a n a s A l Pa r a i s o, vo c ê é pa pa r i c a d o

o t e m p o t o d o. M a s d e u m j e i t o q u e n ã o pa r e c e

MIMOS SEM mimimi P o r Wa l t e r B a c e l l a r | f o t o s t u c a r e i n é s

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U m d o s r e c o r r e n t e s p r o b l e m a s d o s r e s t au r a n t e s t r ê s e st r el a s – ou dos hot éis de cinco – é a su per ef iciênci a. Vo c ê m a l fa z m e n ç ão d e , p o r e x e m p l o, a pa n h a r a t aç a d e v i n h o e l á v e m , voa n d o r u m o à s ua m e s a , u m d i l i g e n t í s s i m o g a r ç o m pa r a s e r v i-l o. C h e g a a s e r i n d e l i c a d o.

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K, ainda que a intenção seja a melhor possível, você se sente vigiado por um lépido agente da CIA ou da antiga KGB. Falta tato. Já no premiadíssimo Las Ventanas Al Paraiso, no México, o hóspede fica absolutamente à vontade, sem nenhum constrangimento – mesmo sendo mimado como uma criança de colo. É de se perguntar: como eles conseguem? Parte da resposta implica a folha de serviços do experiente Fredéric Vidal, o diretor-geral. Antes da acolhida mexicana, ele gerenciou resorts luxuosos nas Seychelles e até um palácio nos

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Emirados Árabes. Outra fração da resposta se deve à arquitetura do incomparável Las Ventanas, resort incrustado em Los Cabos, na ponta da península da Baixa Califórnia, diante do mar de Cortez – um bálsamo de águas serenas protegidas das ondulações do oceano Pacífico por um braço de terra. Ainda que inspiradas no antigo colonial mexicano, as construções são absolutamente modernas e entremeadas à natureza. Reservam total privacidade nas 84 suítes, que avançam de 89 metros quadrados a até inacreditáveis 2.600 metros quadrados na Ty Warner Mansion (batizada com o nome do proprietário, com elevador privativo e duas piscinas). Todas têm lareira e sala de estar. Várias são villas, longe das demais. Vai daí que as celebridades de fato dignas dessa palavra amam se hospedar aqui, a salvo de autógrafos e paparazzi – casos de Arnold Schwarzenegger, Barbra Streisand, Tiger Woods, Mel Gibson, Harrison Ford e John Travolta. A arquitetura do Las Ventanas também é responsável pela privacidade, assim como pelo impecável serviço, na razão direta de ter instalado

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Paisagem estupenda e privacidade total em Los Cabos

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discretíssimos corredores subterrâneos por onde caminha o staff. Embora o resort some 600 funcionários (recorde para um empreendimento dessas dimensões), e ainda que cada suíte disponha de um mordomo particular, você não nota, jamais, os efeitos nocivos da tal supereficiência. E olhe que os mimos chegam a detalhes ínfimos. Na chegada, o mordomo levará suas malas para o quarto e arrumará suas roupas nos armários, conforme a escala de cores. Deixará um kit costura que combina com seu guarda-roupa. Enquanto isso, você será levado ao espetacular spa, com a opção de massagem a quatro mãos. Mais tarde, à beira da piscina ou na praia, um funcionário pedirá permissão, com toda a gentileza, para limpar seus óculos escuros. E se, em algum dos seis restaurantes um garçom notar que você aproximou demais do rosto o cardápio, colocará à disposição uma coleção de óculos de grau para a sua escolha. Sim, tudo é extremamente meticuloso. No passeio de barco pelo Pacífico, um marinheiro despontará no deck de teca com sanduíches da cozinha do Las Ventanas e champanhe Möet & Chandon. Mesmo assim, você tem a impressão de que os funcionários estão agindo até com nonchalance, tamanho o treinamento deles. Tudo porque, desde que abriu as portas, o resort procura, antes de tudo, atender a um público em especial: os casais.

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A inspiração do décor, incluindo o bar Arbol, é o colonial mexicano

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A Ty Warner Mansion tem 2.600 metros quadrados

Sobretudo aqueles em primeira, segunda ou terceira luas de mel. Sim, famílias também são muito bem-vindas, e há um programa especial para elas, nele incluídas as crianças. Seja como for, o Las Ventanas tem seu nome sempre associado a casais. Qualquer interferência fora de hora poderia quebrar o clima. As suítes oferecem telescópios para enxergar as estrelas, em um dos enclaves geográficos em que, segundo os astrônomos, as constelações são mais nítidas. Mais: cestas de piqueniques com vinhos e queijos podem ser requisitadas. Há até mesmo a possibilidade de surpreender o companheiro ou companheira com uma queima de fogos personalizada, acionada do terraço da suíte, por meio de um aplicativo. Tecnologia e romantismo não se opõem no Las Ventanas. Ao invés, compõem. Quantos hotéis no planeta têm um diretor de Romance? O Las Ventanas tem.

Casais ou famílias podem gastar todo o tempo da viagem dentro do resort. Há muito o que fazer. Jamais faltarão programas. O resort traz o selo de qualidade do Grupo Rosewood – com 24 empreendimentos hoteleiros mundo afora, em 12 países (o 13º será o Brasil com a inauguração do Rosewood São Paulo, no ano que vem). De qualquer maneira, o Las Ventanas está a apenas 15 minutos das cidades de San José del Cabo e Cabo San Lucas. Facinho de chegar. TP

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A s mel hor e s m a rc a s do m u n do pa r t i c i pa r a m d o 2 9 º Sa l ã o I n t e r n a c i o n a l da A lt a R e l o j oa r i a , n a S u í ç a . V e ja a q u i a s n o v i da d e s

dir eto de

Genebra Por R a ph a el c a l l e s

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erca de 23 mil pessoas de todos os cantos do mundo circularam pelos largos corredores do Palexpo, onde aconteceu a edição deste ano do Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH), em Genebra, na Suíça, em meados de janeiro. O número representa um crescimento de 15% no total de participantes em relação ao ano anterior e marca o fim do que poderia ser considerado como três anos de crise para a indústria relojoeira. Dados da Federação da Indústria Relojoeira Suíça (FH) revelam que o valor total de exportações de 2018 se aproxima aos dados registrados em 2013 – e uma recuperação de 6,3% em relação a 2017. A 29ª edição marcou também a última vez, ao menos pelos próximos quatro anos, que o evento acontece em janeiro. A partir de 2020, a feira deverá ocorrer em abril, em datas que coincidam com Baselworld, em Basel, também na Suíça, a maior feira do mundo para o setor. A intenção é ampliar a audiência e a cobertura de ambos os eventos. Entre os lançamentos, em geral, houve uma elevação no número de novidades. Ótimo. Outra tendência: apre­sen­ta­ções dos relógios mais elaboradas, complexas e, conse­quentemente, muito mais caras. Confira as principais novidades.

montblanc 1858 Automatic Chronograph

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Um toque de verde A caixa de bronze deu as caras novamente em algumas coleções. O material adquire uma pátina exclusiva ao longo do tempo, que pode variar de acordo com o uso e o ambiente. “É o que há de melhor em personalização, pois você mesmo marca o seu relógio e ele se torna parte de você”, descreve Zaim Kamal, diretor criativo da Montblanc. Montblanc 1858 Automatic Chronograph Limited Edition é uma edição de 1.858 peças com caixa de bronze de 42 mm de diâmetro, acompanhada de um mostrador verde militar, que está presente também em duas outras peças da mesma linha. Amplos algarismos arábicos facilitam a leitura, enquanto a função cronógrafo pode ser ativada, pausada e reiniciada por dois botões na lateral da caixa. O movimento automático proporciona 48 horas de autonomia de marcha. No acabamento, uma pulseira verde cáqui em estilo militar. montblanc.com

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Própr io e e te r n o Clifton Baumatic, apresentado em 2018, foi o primeiro relógio da Baume & Mercier a contar com um movimento de fabricação própria. Para 2019, a companhia apresentou uma extensão dessa linha, com a adição de um calendário perpétuo. O modelo chega com um valor aproximado de US$ 25 mil, tornando-se uma das peças mais competitivas para o seu segmento. “O calendário perpétuo é uma das funções mais complexas da relojoaria”, diz Daniel Braillard, diretor de operações da maison. “Reforçamos a versatilidade do mecanismo e mantivemos todas as suas qualidades originais.” Dessa forma, o relógio manteve seus cinco dias de reserva de energia, a alta precisão – com certificação cronométrica COSC – e a alta durabilidade. O visual clássico traz no mostrador em warm white os contadores do calendário: dia, fases da Lua, dia da semana e mês às 3, 6, 9 e 12 horas, respectivamente. Também às 12 horas, um

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pequeno indicador de ano bissexto. O Clifton Baumatic Perpetual Calendar tem caixa de ouro vermelho 18 quilates com 42 mm de diâmetro e, mesmo com o calendário perpétuo, a peça apresenta apenas 12,1 mm de espessura. O acabamento é uma pulseira de couro de crocodilo preta. baumemercier.com

Baume & Mercier Clifton Baumatic Perpetual Calendar

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n ovo e m fo lh a

audemars piguet Code 11.59

A marca surpreendeu com uma coleção toda nova. A estrela é o Audemars Piguet Code 11.59. O número 11.59 se refere a “um minuto para um novo dia”, como uma forma de se renovar a cada dia. “Continuamos a evoluir, preservando e reescrevendo tradições”, afirma Jasmine Audemars, presidente do conselho de administração da companhia.

Com isso, o novo relógio apresenta uma caixa redonda, com um miolo octogonal, detalhe que pode ser visto apenas pela lateral, e com olhos atentos. A nova coleção contempla modelos com indicação de horas, minutos, segundos e data; cronógrafo; calendário perpétuo; turbilhão; uma versão esqueletizada e um repetidor de minutos. audemarspiguet.com

hermÈs

o céu n o p u l so

Arceau L'Heure de la Lune Meteorite

O novo relógio Hermès Arceau L'Heure de la Lune oferece uma visão única da Lua, com a exibição simultânea das fases desse satélite nos hemisférios Norte e Sul. Dois mostradores móveis gravitam sobre um plano de fundo de aventurina ou meteorito e revelam uma Lua de madrepérola. Um dos mostradores faz a apresentação de horas e minutos, enquanto o outro indica a data. Eles realizam uma volta completa no dial a cada 28 dias, o que entrega as fases da Lua no plano de fundo. hermes.com

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du pl a i n ovação

iwc Pilot’s Watch Double Chronograph TOP GUN Ceratanium

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A rigidez e a resistência da cerâmica se somam à leveza do titânio neste modelo Top Gun, da IWC. O relógio representa um dos principais desenvolvimentos da indústria em 2019 e leva a assinatura da IWC. Ceratanium, como o material foi batizado, é obtido a partir da difusão de oxigênio sobre o titânio, que sofre uma transformação de fase e se torna cerâmica. “A vantagem é que não temos as limitações técnicas da cerâmica pura”, explica Stefan Ihnen, diretor de pesquisa e desenvolvimento da IWC. “Isso nos permite desenvolver uma quantidade maior de relógios e trabalhar também com botões e coroas nesse mesmo material.” Com 44 mm de diâmetro, a robusta caixa de Pilot’s Watch Double Chronograph TOP GUN Ceratanium abriga um movimento automático com função de duplo-cronógrafo. O relógio reforça o visual all black, pois conta com mostrador e pulseira pretos e detalhes em cinza e vermelho. iwc.com

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cl ássico para esportes Os traços inconfundíveis dos modelos Submersible, da Panerai, ganharam um toque esportivo com um disco cerâmico aplicado à moldura giratória. Além disso, o modelo tem 42 mm de diâmetro, tamanho relativamente modesto, o que faz com que se encaixe bem a qualquer medida de pulso – até mesmo os femininos. Com indicações básicas de horas, minutos, pequenos segundos e data, o modelo é equipado com o calibre OP XXXIV de fabricação própria. Ele fornece três dias de reserva de energia – requisito mínimo de autonomia para os mecanismos in-house da maison. As indicações aparecem sobre um plano de fundo em cinza texturizado, assim elaborado para remeter à superfície da cartilagem de um tubarão. A caixa de aço tem um protetor de coroa patenteado. Ela assegura resistência à água a até 300 metros de profundidade. Para ser utilizado como um acessório profissional, os indicadores e ponteiro de

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horas e segundos têm revestimento luminescente com emissão verde. Já o ponteiro de minutos e o ponto indicador do mostrador giratório estão em azul.

panerai Submersible

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tempo m uta nte De visual completamente inovador, Ressence Type 3W é um relógio com seu mostrador preenchido em óleo, o que dá a sensação de que as indicações foram pintadas no cristal. Além da inovação indicativa, este é o único relógio do mercado que tem esta disposição de mostrador: constantemente em mudança. O ponteiro de minutos “carrega” todas as demais indicações em um efeito carrossel. O modelo apresenta horas, minutos, segundos, data, dia da semana e contador runner, que totaliza 180 segundos.

ressence

ressence.com

Type 3W

o fluir d o te m p o

hyt H20 Time Is Fluid

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H20 chega até perto da fórmula da água, mas trata-se de “agá-dois-zero”. Ele ainda ganha um sobrenome com Time Is Fluid, inscrição presente na vertical, ao redor do mostrador do relógio. A peça livra-se das indicações numéricas de minutos e apresenta apenas

algarismos para as horas, que são apresentadas pelo líquido vermelho que viaja pelo pequeno tubo ao longo de 12 horas. A transparência do mostrador, que apresenta quase que a totalidade da caixa de ouro amarelo, é reforçada pela pulseira cinza translúcida. hyt.com

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pa r a voa r , pa r a m e d i r A linha Santos, completamente remodelada, acaba de ganhar novos integrantes. Entre as peças, modelos com versão cronógrafo, equipados com um mecanismo de fabricação própria e métodos de ativação, pausa e reinício diferentes do usual. A linha homenageia Alberto Santos Dumont, que foi presenteado por Louis Cartier com o primeiro relógio de pulso. Santos de Cartier Chronograph Watch é ativado e pausado por meio de um botão na lateral da caixa, à esquerda. O reinício da marcação de tempo é feito pressionando a coroa. Tal configuração oferece um visual mais fluido à silhueta da peça. No mostrador prateado, os subdials entregam acumuladores de 30 minutos e 12 horas, assim como pequenos segundos. Uma janela de data está posicionada às 6 horas. Marcadores luminescentes ao redor do dial e nos ponteiros auxiliam a leitura em condições de baixa luminosidade. cartier.com TP

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cartier Santos Chronograph

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enebra, Suíça, quinta-feira, 17 de janeiro de 2019. O Palexpo, gigantesco pavilhão de exposições ao lado do aeroporto, fervia de gente. Desde a segunda, 14, acontecia ali o 29o SIHH – Salon International de la Haute Horlogerie, a meca da alta relojoaria mundial. Cerca de 23 mil pessoas estiveram na feira. Se o Palexpo fervia, o estande da IWC bombava. Literalmente. Em meio à massa que se comprimia em volta de um Supermarine Spitfire prateado, safra 1943, sentia-se vibração semelhante à de um hangar inglês durante a Segunda Guerra Mundial. O estande aliás, era um hangar. Do teto, onde brilhava em néon manuscrito as palavras Silver Spitfire, ao chão. Além do caça, que dará a volta ao mundo patro-

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cinado pela IWC no segundo semestre deste ano, cobrindo 43 mil quilômetros com o nome de The Longest Flight, fotos e mapas de época, rádios e ferramentas complementavam a atmosfera. Na opinião de muitos, era o estande mais atraente do salão. A concepção do estande, por falar nele, leva a assinatura de Christoph Grainger-Herr, que completa agora dois anos como CEO da célebre marca sediada em Schaffhausen. Graduado em design de interiores em Bournemouth, Inglaterra, e em arte na suíça Basel, este alemão de 40 anos, perfeccionista, de fala e raciocínio muito rápidos, nos recebeu para uma conversa rápida: 8 minutos e 34 segundos cravados no gravador do celular. A seguir, um resumo da entrevista.

the president Christoph Grainger-Herr é graduado em design de interiores e em arte

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THE PRESIDENT _ No próximo 3 de abril você completa dois anos no comando da IWC. O que gostaria de receber de presente? Presente? Ah, ok. Olha, nunca pensei nisso quando assumi o posto. Mas ver todo dia essas pessoas aqui no salão, se divertindo e vivendo essa experiência [mostra a multidão que faz fila para tirar fotos junto da cabine do Spitfire], é o melhor dos presentes. Fale da sua experiência em arquitetura como designer de interiores. Durante anos fui designer de boutiques e de exposições e estandes para a indústria – como projetista, em Zurique. Entrei na IWC na área de trade marketing e logo fui convidado para criar o museu da marca. Foi muito bom. Para mim, emoção é o que interessa na hora de contar a história de um produto. É isso que marca as pessoas, é disso que se trata qualquer story telling. Você está na IWC há 12 anos e participou do projeto da nova manufatura em Schaffhausen, planejada para acomodar a produção e receber visitantes ao mesmo tempo. Como foi isso? A manufatura tem dois andares e meio, ligados por rampas. Uma parte da produção trabalha em separado. A outra pode ser vista em ação pelo público. Juntamos duas equipes. Uma cuidava da produção, de acomodar da melhor maneira os funcionários. A outra, traçando o roteiro dos visitantes. Quando uma tinha dúvida, consultava a outra. E assim fechamos o projeto. Acredito que não se deva ter nenhum protocolo quando as pessoas visitam qualquer manufatura, principalmente as de alta relojoaria. Fazemos questão de mostrar

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O ESTANDE Um hangar de verdade

então todos os detalhes aos clientes, como os relógios são feitos. Isso dá uma força única ao produto. Quando eles vão a Schaffhausen, conhecem até os detalhes de nossas campanhas publicitárias. Você acha que esse, digamos, turismo de alta relojoaria é uma tendência? Não se trata de turismo de alta relojoaria. No caso da IWC, com a nova manufatura ganhamos a oportunidade de mostrar tudo o que fazemos num só lugar, o que não é possível para diversas outras marcas. Essas visitas são importantíssimas para que as pessoas conheçam quanto tempo e quanta habilidade é preciso para se fazer, para se terminar um relógio. Isso demonstra o valor da peça. Você vê a IWC entrando no segmento de smartwatches para atender a um consumidor mais jovem, como os millenials e a geração Y? Olha, a relação homem-máquina não

muda em essência. Acho que as pessoas sempre terão uma relação afetiva, mais profunda, com relógios mecânicos. E as cifras mostram que a média dos consumidores mais jovens de relógios mecânicos não mudou nada, até cresceu. Mais gente jovem tem procurado nossa marca. Você acha então que nada mudou? Acho que mudou, sim. Como eu disse, o que mudou fundamentalmente em relação aos produtos é a maneira como você conta uma história. O jeito que você emocionaliza sua marca. O mundo das comunicações, a mídia vive esse grande desafio. Há seis, sete anos, você precisava investir muito para lançar uma coleção, fazer um filme, uma campanha, um DVD promocional. Era bem mais caro e atingia menos gente. Hoje você tem um diálogo direto com os clientes. Vinte segundos no Instagram e pronto. Você fala com dezenas de milhares de pessoas. TP

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Va mo s i m ag i n a r, p or a l gu n s m i n u t o s, u m c e n á r io b e m di f e r e n t e d o qu e é a i n dú s t r i a c i n e m at o g r á f ic a hoj e . R e t i r e mo s o s orç a m e n t o s de oi t o ou nov e díg i t o s de d ól a r e s, a a lta t e c nol o g i a de s om e i m ag e m, a s pa rc e r i a s d o s e s t ú dio s t r a n s n ac ion a i s. E l i m i n e mo s, ta m b é m, a f orç a c om pe t i t i va d o str e a min g de s é r i e s e f i l m e s da s pl ata f or m a s dig i ta i s p or a s s i n at u r a . A l i á s, n e s t e c e n á r io aqu i n ão e x i s t e i n t e r n e t, c e lu l a r, ta b l e t, n e m m e s mo o fa l e c i d o v i de o c a s s e t e . E s ta mo s n a Hol ly wo od de m e a d o s d o s é c u l o 20, n u m a s a l a e m qu e o s ol c a l i f or n i a no at r av e s s a a s l â m i n a s da pe r s i a n a de s de a s 7 da m a n h ã , e on de s e e nc on t r a m d oi s hom e n s m u i t o c om pe n e t r a d o s. U m e s tá de b r aç o s c ru z a d o s, di a n t e da m áqu i n a de e s c r e v e r. O ou t ro, de i ta d o n u m s ofá de c ou ro, ol h a n d o pa r a o t e t o.

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enas assim devem ter inspirado a frase “Silêncio, gênios pensando”. Pois foi desse jeito, ao longo de 1958, que um dos maiores roteiristas, diretores e produtores da história do cinema, Billy Wilder (o do sofá), e seu parceiro de escrita em três longas, I.A.L. Diamond, criaram trama e script de uma inquestionável obra-prima. Quanto Mais Quente, Melhor conseguiu arrebatar público e crítica desde o lançamento, há redondos 60 anos, e permanece entre os primeiros de qualquer lista na

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linha 100-melhores-filmes. Resistente à mudança dos padrões humorísticos, em 2001 foi eleito “a comédia mais engraçada de todos os tempos”, pelo Instituto Americano de Cinema. Curiosamente, não levou nenhum Oscar, nem mesmo um Globo de Ouro. Pudera: em 1960, Wilder e outros diretores tão formidáveis quanto — como Otto Preminger, com Anatomia de um Crime; George Stevens, com O Diário de Anne Frank; e Joseph Mankiewicz, com Aconteceu no Último Verão — foram atropelados em todas as

indicações pelas bigas de Ben-Hur, de William Wyler. Ainda assim, fez história. Rendeu fortunas, versões na Broadway e um bordão irônico: “Ninguém é perfeito”, a última e inesperada fala do filme, entrou para o vocabulário universal. Pode-se dizer que isso tudo era o mínimo que Billy Wilder esperava. Àquela altura, já estava mais do que estabelecido como bamba do entretenimento, com três Oscars na prateleira — um deles, pelo roteiro de outro clássico, Crepúsculo dos Deuses (1950) —, e fama de ultraversátil. Fora da inédita abordagem do alcoolismo em Farrapo Humano (1945) ao romance cinderelesco em Sabrina (1954); do cruel jornalismo sensacionalista em A Montanha dos Sete Abutres (1951) ao thriller de tribunal de Testemunha de Acusação (1957); marcara lugar no film noir com Pagos para Dobrar (1944) e fizera o vento levantar o icônico vestido branco de Marilyn em O Pecado Mora ao Lado (1955). Talvez o principal trunfo de Wilder sejam os diálogos. Eles jamais desperdiçam uma vírgula. São velozes, certeiros e quase sempre com duplo sentido. Faça humor ou faça drama, as perguntas são insinuantes, as respostas são inesperadas. Nada é raso ou explícito — e, por isso mesmo, tudo é muito, muito sexy. Além disso, ao desossar usos e costumes do cidadão médio, ganhou carimbo de provocador. E de ousado, até mesmo abusado, pelo menos para uns poucos cinemas dos rincões do Meio-Oeste, que se recusaram a exibir alguns de seus filmes. Mas, se ele conseguia escrever o que queria e ainda fazer dinheiro com isso, por que não ousar mais? Bastava continuar fiel à mais

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“N u nc a a b or r e ç a o p ú b l i c o” e r a o l e m a d o au s t r í a c o q u e a p r e n d e u a s n ua n ç a s d o i n g l ê s em tempo recorde

máxima de suas máximas — “Nunca aborreça o público” — e qualquer história poderia ser contada. Mesmo que fizesse dois machos-galãs vestirem-se de mulher. Isso num tempo em que a homossexualidade era tabu e drag queens eram aberrações para divertir frequentadores de nightclubs secretíssimos. A trama engenhosa de Quanto Mais Quente, Melhor parte de um fato real. Trata-se do Massacre de São Valentim, confronto em que o gângster Al Capone fuzilou sete pessoas em Chicago e que também tem a sua efeméride: aconteceu há 90 anos, em 14 de fevereiro de 1929, o Valentine’s Day, ou Dia dos Namorados no hemisfério norte. No filme, durante a Lei Seca dois músicos de num cabaré clandestino em Chicago testemunham a matança da gangue numa garagem, e precisam fugir. A solução para o contrabaixista Jerry (Jack Lemmon) e o saxofonista Joe (Tony Curtis) é travestirem-se, entrar para uma banda feminina de jazz e seguir para Miami. Já no trem, ambos conhecem uma delicinha chamada Sugar Kane (Marilyn Monroe), que toca ukelele, canta e espera topar com um milionário no resort em que se apresentarão e ficarão “hospedadas”.

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criador e criatura Com MM, rodando O Pecado Mora ao Lado: relação pouco arejada

BEIJANDO HITLER ó a escalação do elenco principal já abarrotaria as bilheterias, não fosse Wilder o tipo de pessoa inteligente, com talento e que confia na sensibilidade do público para fruir a mistura de riso e suspense. E a trama se complica. Embora os músicos adaptem seus nomes (Joe passa a ser “Josephine” e Jerry, “Geraldine”), no embarque Jerry/Geraldine diz que se chama “Daphne” – e, a partir daí, vai gostando da brincadeira. Para as sequências no

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hotel, Wilder e Diamond criaram dois pares românticos. Um é o de Sugar e Joe, que, em nova transfiguração, passa por ricaço com sotaque britânico (Curtis sugeriu a Wilder imitar Cary Grant, prontamente aprovado pelo diretor). O outro affair desembocou em uma das mais hilariantes sequências de todos os tempos: para ajudar o amigo Joe a passar uma noite com Sugar no iate do milionário Osgood Field III (vivido por Joe O. Brown), Jerry/Daphne passa a mesma noite dançando com o dono do barco

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até que, de volta ao quarto de hotel, comunica ao amigo: “Estou noivo!”. Nos dois minutos e meio de nonsense desse legendário diálogo, Joe fica tão atônito quanto a plateia. “Você é homem, Jerry! Por que um homem ia querer casar com outro homem?”. “Segurança!”, eis a resposta. Esperto, Wilder previu um efeito tão arrebatador na plateia que fez Lemmon tocar maracas entre uma fala e outra, a fim de dar tempo para todos se esborracharem de rir antes de ouvir a próxima insensatez e, assim, não perderem um só detalhe da piada. Devem ter se divertido muito nas filmagens, hein? Só que não. Histórias do making of mostram que o mau humor logo tomou conta do set. Atrasos constantes fizeram o orçamento passar de meio milhão de dólares, uma exorbitância para a época. No topo dos problemas, claro, estava Marilyn. Nem foi difícil convencê-la a filmar em preto e branco (por contrato, só trabalhava em technicolor): bastou-lhe a oferta de 10% do lucro — bruto. Mas chegava atrasada e ainda ficava horas trancada no camarim. Vivia insegura, desconcentrada, não decorava o texto, com dificuldade para dizer um simples “Sou eu, Sugar!” (tomada refeita 47 vezes) ou “Onde está o bourbon?” (nada menos que 59 takes). Para diretor, técnicos e elenco, foram meses de tortura. A ponto de Tony Curtis declarar em uma entrevista: “Beijar Marilyn? Ah, é como beijar Hitler”. GARBO RI ó deu certo por causa da habilidade de Billy Wilder para lidar com dificuldades. Mas ele não nasceu pronto, claro que não. Ninguém nasce.

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Quando veio ao mundo, em 22 de junho de 1906 (em Sucha, na atual Polônia), o judeu austro-húngaro Samuel Wilder, caçula do dono de uma rede de cafés de estações ferroviárias, estava predestinado a ser advogado. O rapazinho largaria a faculdade em Viena logo no começo, para ser repórter. Entrevistou o compositor Richard Strauss, foi posto da porta pra fora pelo sisudo Sigmund Freud e, já em Berlim, ficou amigo da iniciante atriz

Marlene Dietrich. Aos 23 anos, passou a colaborar com roteiristas alemães até que, em 1933, se deu conta do perigo nazista e se mandou: primeiro para Paris, um ano depois para os Estados Unidos. Nos anos 1930, eram muitos os artistas cineastas austríacos, húngaros e alemães que emigravam para a América. Como Otto Preminger, Fritz Lang, Michael Curtiz, Fred Zinnemann, Erich von Stroheim, o ator Peter Lorre (com

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gestor de

va i da d e s De boina, à frente da equipe de Quanto Mais Quente, Melhor, dirigindo Tony Curtis e Marilyn. Um mestre em vários gêneros

quem Wilder dividiu casa e comida) e o diretor que definiria o futuro de Samuel, àquela altura já apelidado Billy: o grande, o venerável Ernst Lubitsch. Lubitsch já havia escrito 29 roteiros e dirigido 66 filmes quando Billy Wilder conseguiu entrar para o brilhante time de quatro roteiristas de Ninotchka (1939) — o filme em que, finalmente, Greta Garbo riu. Até então, Wilder tivera vários textos recusados, embora

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emplacasse uma parceria aqui, uma colaboração ali. Ainda não dominava o idioma, muito menos as sutilezas do palavreado americano do dia a dia, e estava apenas começando a descobrir como é que se conta uma boa história com imagens e palavras. Jamais conseguiria falar sem sotaque: “Meu inglês é uma mistura de Arnold Schwarzenegger com bispo Desmond Tutu”, como costumava dizer nas últimas entrevistas. Mas, na técnica do manejo de enredo e diálogos, nisso logo se tornou afiado a partir de Ninotchka — a agente soviética que chega a Paris com cabeça stalinista e sai com um coração ocidental cheio de paixão e prazer pela vida. “Aprendi tudo com Lubitsch”, reconheceu. Com essa comédia romântica, escrita com Walter Reisch, Melchior Lengyel (autor da história) e Charles Brackett (parceiro de Wilder em outros cinco roteiros), tornou-se referência do humor elegante. “Você feriu o coração dele, sabia?”, diz o galã para a dura Ninotchka que recusa o cardápio do cozinheiro francês e pede uma simples sopa. “Ele acredita em comida como você acredita em Karl Marx!” NINGUÉM É PERFEITO aber rir na miséria ou ver drama quando tudo parece ir bem: essa era outra qualidade do roteirista que nunca se esqueceu da própria experiência. Em todos os filmes dele há vestígios de bom observador: a alegria dos cafés cheios de gente, os trens recheados de aventureiros, as piadas judaicas, o jazz, a imprensa, o mundo implacável do cinema, a felicidade dos apaixonados,

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as ratoeiras em que nos enfiamos, as saídas que somos obrigados a encontrar. “Ora, Joe”, diz o agente do personagem de William Holden em Crepúsculos dos Deuses, ao negar-lhe uma grana. “Vá escrever! Alguns dos melhores roteiros foram feitos com o estômago vazio.” Nada disso significa, porém, que Billy Wilder fosse a mais doce e risonha criatura que já lambuzou as mãos no cimento da Calçada da Fama em Hollywood. Tinha arroubos de ira, perdia o corroteirista mas não perdia o insulto — daí ser frequentemente abandonado pelos colegas após datilografar um the end. Adorava provocar a concorrência (“O problema de Hitchcock é que ele faz sempre o mesmo filme”) e irritar os cineastas da moda (“Vamos fazer uma tomada fora de foco, quero ganhar um prêmio europeu”). No plano pessoal, só depois da vitória dos aliados na Segunda Guerra saiu em busca de notícias da família — para descobrir que a avó, a mãe e o padrasto haviam morrido em campos de concentração nazistas. Também amargou a morte do menino do casal de gêmeos que teve no primeiro de seus dois casamentos. Jamais permitiu que qualquer biografia sua fosse publicada sem antes passar pelo seu crivo. Aposentado em 1981, rodeado de obras de arte que comprava compulsivamente (incluídos aí dois Picassos), desfrutou da fama e da fortuna até 27 de março de 2002, quando morreu, aos 95 anos, em Los Angeles. E seis Oscars, 82 roteiros e 27 filmes dirigidos depois, seu epitáfio não deixou dúvida sobre qual de suas obras fora a mais marcante: “Aqui jaz um escritor. Mas ninguém é perfeito”. TP

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aus t r a l P o r Wa lt e r s o n S a r d e n b e r g S ยบ

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U s h ua i a , n o e x t r e m o s u l da A r g e n t i n a , ac h a o m á x i m o s e r c h a m a da d e “f i n d e l m u n d o ”. É o e q u i va l e n t e ao n o s s o n a da l i s o n j e i r o “ o n d e J u da s p e r d e u a s b o t a s ”. A c i da d e t e m 5 7 m i l v i v e n t e s , h o t é i s n a m e d i da e u m a e r o p o r t o a j e i t a d o, o n d e o s v i s i t a n t e s a t e r r i s s a m q ua t r o h o r a s d e p o i s d e a l ç a r vo o e m B u e n o s A i r e s . U s h ua i a n ão é u m a q ua l q u e r . A i n da a s s i m , o s e u p r i n c i pa l j o r n a l s e c h a m a D i a r i o d e l F i n d e l M u n d o.

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contece que, até outro dia, Ushuaia era considerada a cidade mais ao sul do planeta – e disso fazia seu alarde e seu slogan. Tal distinção, todavia, vem sendo contestada pelos vizinhos. Os chilenos têm forçado a barra para elevar à categoria de cidade sua diminuta Puerto Williams, de minguados 2.500 moradores e instalada ainda mais ao sul. Para muita gente boa, não passa de um povoado – o mais meridional do globo – ou, vá lá, de um posto militar vitaminado. Quer um conselho? Se vier a esses cafundós, prefira Ushuaia. O fim do mundo pode ser o começo de uma grande viagem. Não há lugar igual à Patagônia argentina. Não fosse a presença do duplo. Do outro lado dos Andes, e da aguçada rivalidade, cintila, como num espelho, a Patagônia chilena. É tão semelhante na geografia que, só no raiar do século passado depois de muito bate-boca, as fronteiras foram enfim demarcadas, sob o arbítrio dos britânicos. Aos argentinos resta uma dívida eterna com o portenho Francisco Pascasio Moreno (1852-1919). Escolhido

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como perito pela diplomacia da Casa Rosada, ele teve a imperícia de favorecer os conterrâneos na divisão, depois de persuadir os chilenos. Seja como for, a desmedida grandeza da Patagônia argentina não se deve a esse episódio fronteiriço. Seu território acomoda, com lambujem, três vezes a vizinha Patagônia chilena – e dez vezes Portugal. São mais de 800 mil quilômetros quadrados. De tão descomunal, a superfície abrange quase um terço da Argentina, embora englobe apenas cinco estados (eles chamam de províncias) dos 23 que formam a federação: Neuquén, Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e Terra do Fogo. Quase tudo é extremo nesse fim de mundo. Não só a localização e o tamanho. As temperaturas desabam inclementes dos 30 graus aos 20 negativos. Estepes intermináveis intercalam-se a hiatos de vegetação intensa. Campos de gelo formados há 20 milênios desafiam os descuidos ecológicos. Vulcões se sucedem. Lagos chegam às centenas. Lobos-marinhos aos milhares. Pinguins às centenas de milhares. Ovelhas aos milhões, resistindo intrépidas ao frio intenso com seus casacos felpudos. Já o Patagotitan mayorum é, hoje, um — apenas um. Mas também excessivo. Trata-se do maior esqueleto de dinossauro já encontrado no planeta, um portento de 37,2 metros de comprimento. O grandalhão andou por estas bandas 101 milhões de anos atrás. Seu fóssil, achado de maneira fortuita em 2014 por um camponês, está em exibição no Museu Paleontológico Egidio Feruglio, em Trelew, na província de Chubut.

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OS GALESES

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dicionem-se a estes extremos patagônicos os picos congelados numa sequência de agulheiros e, também, as árvores petrificadas, diversas delas com 140 milhões de anos. Sem esquecer os ventos frenéticos. Eles varrem as estepes dos guanacos – animal parente do camelo – e forçam as poucas árvores a crescer curvadas. Resignadas. Também obrigam os fazendeiros, ou melhor, os estancieros a construir um espesso muro nos fundos da casa. É uma maneira de se proteger das rajadas. Até

mesmo as portas dos automóveis ganham reforços para evitar saírem voando nas lufadas. Um tradicional ditado argentino, usado com mais frequência na Patagônia, apregoa: Dios nos cría y el vento nos amontona. Sim, Deus nos cria e o vento nos amontoa. Mas só em tempos recentes o governo das províncias deu o ar da graça ao investir em energia eólica. Para unir tantos excessos patagônicos, restam o apego à terra, a alma aventureira e, agora, a multiplicação dos voos domésticos, tornando as escalas muito mais ágeis e dispensando o uso renitente de Buenos Aires como base. Há também duas estradas. A Ruta 3 é costeira ou quase isso. A Ruta 40 avança no sopé da cordilheira. Ao longo dessa rodovia, de 2.700 quilômetros, tudo muda. Até a paisagem se tornar o oposto de si mesma. Por extraordinário que pareça, a Patagônia das rudes estepes semidesérticas ao sul é a mesma Patagônia dos frondosos bosques ao norte, com árvores de matizes vermelhos e amarelos cercando o lago Nahuel Huapi,

Ushuaia, a cidade mais ao sul

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tão gigantesco que, nos trechos de maior profundidade, jamais lhe pisaram o fundo. À sua beira, espelha-se nas águas San Carlos de Bariloche, a única estação de esqui do continente acomodada em uma cidade de fato, ornamentada pela formidável arquitetura de pedra e madeira do arquiteto Alejandro Bustillo (1889-1982) – duas de suas obras-primas: o Centro Cívico e o imperdível hotel Llao Llao, sobrevivente de dois incêndios. Também é a mesma Patagônia da geleira Perito Moreno, nas cercanias da cidade de El Calafate, na província de Santa Cruz – bem, o senhor Moreno merecia a reverência, até por desbravar essas terras. O espetacular colosso congelado, do comprimento de Buenos Aires, é exímio na troca de cores, conforme a incidência da luz e a proximidade do observador. De perto, assim como a Terra vista de longe por Gagárin, é azul. Quando os blocos desabam de seus paredões de 60 metros, o estrondo assemelha-se aos trovões que precedem tempestades. Algo para ver e não esquecer jamais. De pequeno mesmo na Patagônia, só a quantidade de rios – a província de Rio Negro, onde está fincada Bariloche, é a exceção – e, claro, a população. Mal chega a 5% dos argentinos. Uma merreca. Na razão direta dessa carência, o governo argentino incentivou a imigração, no século 19, para ocupar o território. Em 1865, ofereceram-se terras aos moradores do País de Gales. Eles demoraram quatro meses na penosa travessia. Na cidadezinha de Gaiman, em Chubut, de 4.500 habitantes, ainda hoje se fala o galês, tal e qual nos idos

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em que os imigrantes pioneiros calejaram as mãos inventando riachos artificiais para irrigar a terra agreste. É um alento tomar um chá com pão de algas marinhas nesses rincões do Cone Sul, servido por moças e moços ruivos e sardentos, como se fora em Llangollen ou Cardiff. Fora das cidades, nas zonas de estepe, roda-se a esmo para topar com uma alma viva. Pode ser um estanciero. Ou um pastor de ovelhas, com cães treinados em evitar o desgarramento do rebanho. Existiram por aqui os rifleros, a versão patagônica dos cowboys. Preferiam passar o tempo assando cordeiros em vez de tosquiá-los; e brincando de arremessar ferraduras. Agora são, antes de tudo, lendas.

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n e uqu é n

c h i le

r io n e g ro

Puerto Madryn

Bariloche

A r ge n t i n a chubut

Oceano pac ífic o

s ta . c ru z

El Chaltén Torres del Paine

El Calafate

Punta Arenas

Oceano atl â n tic o

Terra Do Fogo

Ushuaia cabo hor n

massa

d e g e lo Geleira Perito Moreno e os pinguins de Magalhães

B U TCH C A S S I DY

H

avia, ainda, os índios. Os restantes foram dizimados no século 19 nas campanhas do general Julio Roca (1843-1914). A rigor, sobraram três mil mapuches e 400 tehuelches. Uma fração ínfima da população original. Daí por que, em Bariloche, o pedestal da estátua equestre do general Roca amanhece, noite após noite, pichado com palavras de repulsa. Asesino é uma delas. Não adianta pintar de novo. Outro insulto será escrito, com exclamações. Enquanto isso, em Puerto Madryn, na província de Chubut, a avenida com o nome do general deverá ter seu nome trocado para Povos Originales, uma exigência dos novos tempos.

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Um alento na história da Patagônia foi a descoberta de petróleo na cidade de Comodoro Rivadavia, em Chubut. O ano: 1907. De fato, provocou uma corrida. As reservas, porém, embora bem fornidas, se revelaram menores que as expectativas. Rivadavia tem hoje 140 mil habitantes e continua vivendo do petróleo. Seu desenvolvimento, ainda assim, é autocentrado.

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longe

de tudo Guanacos, um leĂŁo-marinho e um riflero e seu cavalo nas estepes do fim do mundo

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A a bertur a do ca na l do Pa n a m á , h á m a i s d e u m s é c u l o, d i m i n u i u a n av e g a ç ão p o r aq u i . E au m e n t o u o i s o l a m e n t o

Mais influente na história da Patagônia foi a abertura, em 1914, do canal do Panamá. Antes dele, muitas viagens comerciais de navio exigiam trajeto mais longo, passando pelo estreito de Magalhães e fazendo paradas nos portos desses confins, trazendo marujos e divisas. Depois, tal rota rareou. Foi preciso se conformar ao cenário vasto e isolado; distante e pouco habitado. Dele se aproveita o cineasta Carlos Sorín para rodar filmes delicados (Histórias Mínimas, O Cachorro, A Filha Distante). Sua câmera esquadrinha, sem pressa, a grandeza humana escondida na vida de gente absolutamente comum. A distância e o isolamento já fizeram da Patagônia esconderijo de criminosos. Oficiais nazistas, inclusive. Um livro de 2006, do jornalista argentino Abel Basti, dá conta de que até Adolf Hitler (1889-1945) teria vivido na região. Segundo essa versão fantasiosa, terminada a Segunda Guerra Mundial, o Führer entrou num submarino e veio bater na Argentina, radicando-se em Bariloche – bem, na ocasião já não batia nem mandava bater. Sandice. Mas é fato que os procuradíssimos bandoleiros americanos Butch Cassidy (1866-1908) e Sundance Kid (1870-1908), rifleros de outro hemisfério, fugiram rumo a Patagônia no início do século 20, trazendo a professora Etta Place (1878-?). Formaram um casal de três. Dois detetives ianques foram incumbidos de procurá-los. Um instalou-se em Buenos Aires, casou-se e abandonou a tarefa. O outro encontrou os fugitivos e mancomunou-se com a dupla, que, acredita-se, permaneceu assaltando bancos até aposentar-se na Terra do Fogo ou no Chile, ainda não se sabe. A casa em que residiram, em Cholila, na província de Chubut, está de pé. Assim como o hotel Touring Club, na vizinha Trelew, onde passaram uma temporada. Hoje, as celebridades preferem comprar terras patagônias a percorrê-las. Assim ocorreu com Ted Turner, Nicholas Cage, Michael Douglas e Luciano Benetton, dono da maior gleba. Esbraveja-se que um sexto das terras patagônias estaria em mãos de 350 estrangeiros. De qualquer maneira, ainda são eles, os estrangeiros – sobretudo, europeus —, os mais assíduos visitantes do sul da região.

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Em Puerto Pirámides: parada para ver as francas

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les desembarcam de novembro a março (tal como recomendam os termômetros) e optam pelas cidades maiores (assim instrui o turismo) como base para os passeios. Ushuaia, na Terra do Fogo, e El Calafate, em Santa Cruz, estados vizinhos de casa geminada, são os pontos de apoio das regiões mais radicais. Delas, os visitantes zarpam para explorar as geleiras, avistar a cordilheira Darwin, o pontiaguado monte FitzRoy e navegar pelo canal de Beagle. Esses nomes remetem, respectivamente, ao naturalista Charles Darwin (1809-1882), ao capitão Robert FitzRoy (1805-1865) e à embarcação da excursão que aqui esteve entre 1832 e 1833. Já o decano Fernão de Magalhães (1480-1521), primeiro a circunavegar o globo, não deu tanta sorte nesse sentido. Embora tenha sido o primeiro branco a pisar na região, quase

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três séculos antes de Darwin, seu sobrenome batiza apenas um estreito e um pinguim do tamanho de um pino de boliche. Uma homenagem discretíssima. Magalhães criou até a palavra Patagônia, ao surpreender-se com o tamanho dos nativos, graúdos a ponto de lembrar-lhe o gigante Patagón dos romances populares medievais. Outra cidade-eixo da Patagônia é Puerto Madryn, em Chubut. Eis o ponto de partida para a península Valdez, uma das maiores concentrações de pinguins do mundo: 500 mil. Trajadas a rigor pela natureza, essas curiosas aves têm asas e não voam, vivem no mar e não respiram debaixo d’água — passam, no máximo, 15 minutos submersas, em apneia. Ao sul da península outros personagens dão as caras: lobos-marinhos e elefantes-marinhos. Estes últimos são focas com mania de grandeza. Nascem pesando em torno de 45 quilos e chegam, na idade adulta, a 3 toneladas. Só perdem em dimensões para as baleias-francas, também assíduas da costa argentina. As francas avançam a 23 toneladas e se tornaram as anfitriãs de Puerto Pirámides, povoado montado para o turismo para ver esses cetáceos, incluindo uma embarcação de grande calado, a Yellow Submarine, dotada de grandes visores abaixo da linha d’água. Embora próspero, o lugar ainda é um vilarejo, embora sua ruela principal seja tratada com toda pompa por “avenida” – avenida 25 de Septiembre. Não, não cometamos, mais uma vez, a descortesia de fazer pilhéria com uma eventual soberba argentina. Até porque você haverá de reconhecer: este fim de mundo também pode ser o fim de uma grande viagem. TP

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m emŌr i a

_Um nazista em minha A s av e n t u r a s d e u m r e p ó r t e r n o va t o n o C h i l e , e m b u s ca d o m o n s t r o q u e i n v e n t o u as câ m a r as de gás a mbul a ntes

lua de mel_ Por Ron n y H e i n

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crime sem castigo Terminada a Segunda Guerra, Walter Rauff virou industrial na PatagĂ´nia

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O q u e l e va u m ca s a l e m l ua d e m e l a a r r i s ca r-s e e m u m a av e n t u r a p o t e n c i a l m e n t e m u i t o p e r i g o s a ? O l ha n d o h o j e pa r a 4 0 a n o s a t r á s , n ão v e j o n e n hu m a r e s p o s t a q u e n ão s e ja a i n o c ê n c i a e a i r r e s p o n s a b i l i da d e . N o s s o d e s t i n o e r a m a s a i n da d e s c o n h e c i da s T o r r e s d e l Pa i n e , n o e x t r e m o s u l d o C h i l e .

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o dia 18 de abril de 1978, uma semana após o casamento, minha mulher, Lea, e eu, estávamos congelando em Punta Arenas. Fazia frio e ventava muito naquela que era então a mais meridional das cidades chilenas, à beira do estreito de Magalhães. Minha mulher ainda não tinha 20 anos, nem tinha medo tampouco. Nunca nos passou pela cabeça que aquele talvez fosse um dos mais breves casamentos de todos os tempos. Minha ideia era simples: antes de seguir para as Torres del Paine, fotografar e entrevistar Walter Hermann Julius Rauff, um criminoso de guerra de alta patente. O célebre caçador de nazistas Simon Wiesenthal anunciara, meses antes, que Rauff vivia naquele fim de mundo. Mas ninguém, ainda, chegara até ele, na longínqua Punta Arenas. E seria estupidez de um jovem nubente arriscar-se à duvidosa primazia. Duvidosa e improvável. Rauff não

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estaria, decerto, na plaza Muñoz Gamero, a mais importante da cidade, em seu uniforme da Waffen-SS. Provavelmente chamar-se-ia, então, Pablo ou Jaime. E, com toda a certeza, estaria atento à sua segurança. É o que se esperaria de um homem que carregava nas costas mais de cem mil mortes de civis durante o nazismo e que foi braço direito do Reinhard Heydrich – hoje tido como o mais cruel dos nazistas. Coube a Rauff agilizar o processo de extermínio em massa

O nom e d o c ru e l a s s a s s i n o, pa r a t o t a l s u r p r e s a , c o n s t ava da l i s t a t e l e f ô n i c a da c i da d e d e p u n t a a r e n a s

– que tardava. Engenheiro cioso, ele inventou o caminhão com os canos de escape voltados para dentro, também chamados de câmaras de gás ambulantes. As fabulosas máquinas eram capazes de executar, com requintes de terror, cem pessoas a cada dez minutos. Por algum motivo injustificável (provavelmente a ausência de outro recurso), porém, tomei a providência mais elementar possível. Abri a lista telefônica da cidade ventosa e fui à letra “R”. Rauff, ali estava. Não apenas Rauff, mas W. H. J. Rauff. Foi quando me ocorreu o parágrafo de abertura de uma reportagem que escrevi no mesmo ano para a hoje extinta revista Status: “Dizer que fantasmas atrapalham o sono de Walter Hermann Julius Rauff é querer dar asas à imaginação”.

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iguei em seguida e perguntei por don Walter. Não, ele não estava. Mas voltaria em breve. “O que é esse lugar?”, arrisquei – e o funcionário não hesitou. “Uma fábrica de centollas” – explicou. Sim, Industria Pesquera Magallanes, responsável pelos enlatados Camelio. Na verdade, um pesqueiro dos caranguejos imensos da região, equipado com 13 barcos e com estrutura para limpar os crustáceos gigantes e embalá-los em latas para exportação. Pronto: meu nazista estava na mão. Minha jovem esposa ao lado. Uma impetuosidade irresponsável me empurrava para a primeira grande reportagem de minha carreira, com o apoio incondicional da única pessoa que deveria estar compartilhando comigo aquela lua de mel.

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um repórter no frio Antes de viajar para a Patagônia chilena com Lea, o jornalista Ronny Hein leu sobre a caça de Simon Wiesenthal ao infame Rauff. Mas não esperava topar com o nazista tão facilmente. Ainda em 1978, publicou sua história na revista Status

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Muitos nazistas, de diversos escalões, buscaram refúgio na América do Sul após o fim da guerra. Alguns sustentam que o próprio Hitler morreu em Villa la Angostura, cidade vizinha a San Carlos de Bariloche, na Argentina. Adolf Eichmann foi pego em Buenos Aires por agentes do governo de Israel; Klaus Barbie, o carrasco de Lyon, acabou achado na Bolívia. Joseph Mengele, o médico que fazia horrendas experiências genéticas em Auschwitz, morreu afogado em Bertioga, no litoral paulista. Há provas da existência de uma organização de acobertamento dos “escapulidos”, chamada Odessa. Ao longo do século 20, algumas dezenas de fugitivos foram capturados. Outros viveram em paz, sem que águas passadas corressem sob seus moinhos. Rauff foi um deles. Fui ao seu encontro sem aviso prévio. Um bloco de notas na mão e uma antiga Canon FTB na outra. A fábrica ficava encostada no canal, a seis

quilômetros do centro de Punta Arenas. Havia uma casa ocupando parte da frente de seu terreno, com dois cachorros agressivos exibindo os dentes. Pensei que iria ter dificuldade em entrar. Nada. Nos confins da Patagônia, o verdadeiro medo acabou depois da criação do canal do Panamá. Todos os navios até então obrigados a passar pelo estreito de Magalhães sumiram. Ficaram a solidão e a decadência. O medo deu lugar à resignação.

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ara o genocida, apenas a solidão – muito bem-vinda, aliás. Rauff conhecera a cidade (então próspera) em 1925, quando em uma missão da Marinha de seu país. Achou uma boa ideia voltar. Minha mulher ficou me aguardando em um Opala brasileiro muito novo, estacionado em frente à empresa de Rauff. Não demonstrou qualquer preocupação. Torcia para que eu conseguisse

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uma boa reportagem. Em minha caminhada rumo ao prédio principal, encontrei alguns funcionários uniformizados com aprumo. Perguntei trivialidades a eles sobre don Walter. Só ouvi elogios. Um bom homem, um ótimo patrão. Havia ficado viúvo e morava, desde então, no terreno da empresa pesqueira. Sobre seu passado, nada.

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a realidade, quase nenhum daqueles chilenos de origem simplória sequer ouvira falar em uma guerra mundial. Muito menos no significado da palavra Holocausto. Ao final dos combates na Europa, Rauff era o chefe militar nazista no norte da Itália, com uma folha corrida de massacres ainda hoje incalculável. Depois, viveu escondido na Síria logo depois da guerra. Foi assessor do presidente Hosni Zaim – e espião agindo contra os interesses sionistas na região. Tudo o que eu ouvia, porém, no meio

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do zumbido agudo do vento magalhânico, era a descrição de um velhinho afável. Decidi entrar para tentar (de onde tirei a coragem?) a conversa que eu esperava. No alto de um lance de escadas, havia um balcão. Pude ver uma sala do tipo aquário, com vidros chanfrados e uma sombra por trás deles. Rauff, com certeza. O homem que me atendeu, Marcelo, foi o primeiro a demonstrar hostilidade, assustado com a máquina fotográfica. Identifiquei-me e pedi uma

R au f f pa s s o u c o r r e n d o c o m a s m ão s n o r o s t o, pa r a n ão s e r f o t o g r a fa d o. e per m a neceu impune

entrevista com seu chefe. Ele foi determinado em sua negativa. “Don Walter jamais concedeu entrevista!” Instantaneamente, perdi o medo de levar um tiro ou algo do gênero. Insisti. Marcelo entrou no aquário, saiu e repetiu a ordem. Pediu que eu fosse embora. “Não vai adiantar nada”, ponderei. “Agora já tenho seu endereço, vou divulgá-lo. Quem sabe não seja uma oportunidade para que ele nos dê sua versão da história.” Nada. Sentei-me em uma cadeira diante do balcão, na expectativa de fotografar o criminoso nazista caso ele deixasse seu refúgio. O que, de fato, ocorreu, cerca de 40 minutos depois. Mas o bom assassino passou correndo com as mãos sobre o rosto e entrou no banheiro antes que eu pudesse fazer qualquer registro.

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embrei de minha pobre mulher dentro do carro chacoalhando ao vento da Patagônia. Eu jamais estivera tão perto de um genocida impune. Lendo sobre ele, soube que a surpresa me livrou de um destino pior. Levantamentos da própria inteligência alemã mostravam que, por trás do bom ancião, Rauff era considerado uma pessoa nada confiável, um grande intriguento e um bêbado contumaz. Baseado, ouso imaginar, na reportagem que publiquei em 1978, o agente do Mossad Yossi Chinitz relatou, no ano seguinte, a tentativa de capturar o criador do macabro caminhão da morte no mesmo lugar em que eu estive em minha lua de mel. A nota para imprensa estava pronta: “Hoje, no Chile, executamos um dos maiores criminosos

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eles faltaram em nuremberg Walter Rauff (1) com um carabiniero chileno, Klaus Barbie (2), Adolph Eichmann (3) e Joseph Mengele (4). Na outra página, o Opala da lua de mel

nazistas de guerra, responsável, na Gestapo, pelo desenvolvimento das câmaras de gás móveis que exterminaram 100 mil judeus”.

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plano falhou e Rauff desapareceu, acobertado, aparentemente, pela polícia política do general Augusto Pinochet, que também recusou-se a extraditá-lo. Fontes dizem que Rauff e seu filho, Walter Jr., trabalharam para a polícia política do ditador chileno, a Dina, depois que encerrou sua carreira no pesqueiro. Rauff morreu no dia 14 de maio de 1984, aos 77 anos, de um enfarte no miocárdio provocado pelo agravamento de um câncer no pulmão. Não se pode dizer que teve medo ou remorso em nenhum momento de sua vida. Nem mesmo daquele insensato casal em lua de mel que o surpreendeu seis anos antes. Quem quiser ver o brilho nefasto de suas exéquias – com direito a saudações nazistas de amigos, seguidores e jovens nazistas – pode verificar o link www.youtube. com/watch?v=ngp6NQtVUtw. Parte de­le, aliás, foi removida recentemente. Lea e eu completamos 40 anos de casamento no ano passado. A viagem às longínquas torres, à época sem qualquer estrutura, foi inesquecível. Nunca mais fomos atrás de qualquer tipo de criminoso. Luas de mel, entendemos hoje, foram feitas para duas pessoas. TP

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crô n i c a P o r a l b e rto v i l l a s

Um choro para Augusto Boal No fundo do envelope, a fita K-7 trazia um emocionante recado em forma de música

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céu cinza-chumbo de dezembro de 1976 parecia não nos proteger, nem mesmo a Paris. A notícia da morte de João Goulart, em Mercedes, na Argentina, num exílio que nunca lhe permitiu voltar a seu país, chegou junto com um telegrama do jornal Movimento, em poucas palavras: “Boal em Paris. Dá para entrevistar?”. Sim, dava. Na manhã seguinte, um sábado, peguei o ônibus 91 e fui até Gobelins. Sem Waze, porque ainda não havia, procurei no mapa a rua do hotel onde ele estava hospedado. Subi a Dumeril, desci a Banquier, peguei a Pirandello e cheguei. Levava na sacola de couro um bloquinho, uma caneta Bic, um pequeno gravador e, dentro de um envelope, uma preciosidade. Eu me apresentei na portaria a um senhor; quando senti o sotaque lusitano, me senti em casa. Ele autorizou minha entrada, fui subindo devagar os degraus forrados de tapete vermelho de um hotelzinho charmoso, três estrelas, a cara de Paris.

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Dei três toques na porta e Augusto Boal atendeu. A xícara de café, ainda quente, estava pela metade em cima da escrivaninha. Uma mala desarrumada na cadeira, alguns livros no criado-mudo, a cama com uma colcha marrom ligeiramente amassada. Falamos do frio, do jornal Movimento, da censura, da morte de Jango, de Paris. Liguei o gravador. Boal começou falando de Arena Conta Zumbi, passou para Arena Conta Tiradentes, Arena Conta Bahia, até chegar ao Teatro do Oprimido. Ele estava vindo da Bélgica, onde espalhara por todo o país um teatro de que eu gostava desde a juventude, dos tempos dos festivais de inverno de Ouro Preto, de Julian Beck e Judith Melina. Contou de uma performance que fez num supermercado em Bruxelas, sem ensaio, de surpresa. De repente, todos participando: caixas, clientes, repositores, vendedores, padeiros, açougueiros – e até o gerente entrou na dança. Boal era todo ânimo, apesar dos pesares. Os pesares eram a saudade do Brasil e um exílio que o transformou em saltimbanco, pulando de um país a outro, fazendo teatro, performances, sonhando com a democracia que não voltava nunca. Na entrevista, ele insistia em explicar o seu teatro, didaticamente e no maior entusiasmo. No final, tirei um envelope do fundo da sacola de couro e, de dentro do envelope, uma fita K-7 da Basf, laranja e preta. Disse a ele que era uma canção em forma de carta, escrita por seu amigo Chico Buarque, que nem havia sido lançada ainda em disco. Não disse mais nada, coloquei no gravador e apertei o play.

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Meu caro amigo, me perdoe, por favor/ Se eu não lhe faço uma visita/ Mas como agora apareceu um portador/ Mando notícias nessa fita Aqui na terra tão jogando futebol/ Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/ Uns dias chove, noutros dias bate o sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita mutreta pra levar a situação/ Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça/ E a gente vai tomando que também sem a cachaça/ Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo, eu não pretendo provocar/ Nem atiçar suas saudades/ Mas acontece que não posso me furtar a lhe contar as novidades Aqui na terra tão jogando futebol/Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/ Uns dias chove, noutros dias bate o sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta É pirueta pra cavar o ganha-pão/ Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro/ E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro/ Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo, eu quis até telefonar/ Mas a tarifa não tem graça/ Eu ando aflito pra fazer você ficar/ A par de tudo que se passa Aqui na terra tão jogando futebol /Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/ Uns dias chove, noutros dias bate o sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita careta pra engolir a transação/ Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho/ E a gente vai se amando que, também, sem um carinho/ Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever/ Mas o correio andou arisco/ Se me permitem, vou tentar lhe remeter/ Notícias frescas nesse disco Aqui na terra tão jogando futebol/ Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/ Uns dias chove, noutros dias bate o sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta A Marieta manda um beijo para os seus/Um beijo na família, na Cecília e nas crianças/ O Francis aproveita pra também mandar lembranças A todo o pessoal/ Adeus!

d e i t r ê s t o qu e s na p o rta e Au g u s t o B oa l a t e n d e u. A x í c a r a d e c a f é , a i n da q u e n t e , e s t ava p e l a m e ta d e e m c i m a da e s c r i va n i n h a . Fa l a m o s d o f r i o, d o j o r n a l M ov i m e n t o, da c e n s u r a , da m o r t e d e Ja n g o, d e Pa r i s . L i g u e i o g r ava d o r

Boal ouviu do início ao fim, sem dar uma palavra, sem praticamente piscar os olhos, que foram se enchendo de discretas lágrimas nos cantinhos. Deixou apenas quatro nomes soltos no ar, com a voz embargada, personagens de uma história: Chico... Francis... Marieta... Cecília. Perguntou se poderia ficar com a fita. Tirei do gravador, voltei com ela para o envelope e entreguei em suas mãos. Ele apertou firme o envelope, colocou ao lado da xícara de café, agora fria. Antes da despedida, chequei se havia gravado, sim estava tudo gravado. Desci os degraus forrados de tapete vermelho pensando no título e na abertura da entrevista que enviaria, via Varig, para o jornal Movimento. Mesmo sabendo que ela seria censurada pelo regime vigente, saí andando pela calçada e pensando num título, que poderia ser, quem sabe, “Meu caro amigo”. TP

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