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A PERIFERIA EM DESTAQUE

Coletivo Transforma Realidades

Por Meio De Projetos De Arquitetura Em Minas Gerais

O NOSSO CONVIDADO deste mês é o coletivo Levante. A Casa no Pomar do Cafezal foi a segunda obra realizada pelo coletivo LEVANTE, união de arquitetos, estudantes e engenheiros liderados por Fernando Maculan e Joana Magalhães para elaborar projetos e trazer fornecedores e apoiadores para a arquitetura na periferia. O projeto da casa recebeu menção honrosa na 21ª Premiação de Arquitetura do IAB MG e Building of the Year 2023 do site Archdaily –Categoria Houses. Representa um “modelo” construtivo que utiliza materiais próprios da periferia com uma implantação adequada e atenção à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com grande qualidade ambiental.

Foi-se o tempo em que os arquitetos acreditavam que poderiam mudar o mundo com cidades mais humanas e habitações sociais para todos. Entre o sonho modernista e a dura realidade de nossas cidades contemporâneas, há um abismo. Idéias messiânicas e radicais, ainda que bem intencionadas, passaram a ser vistas como autoritárias e segregacionistas.

As experiências modernistas colocadas em prática nos mostraram que, para a recuperação dos nossos bairros mais carentes e periféricos, a abordagem deveria ser horizontal e o modelo de desenvolvimento urbano mais inclusivo, conectando cidadãos e a comunidade, sem transformações implacáveis e o deslocamento da população para longe de seu meio social e território.

Dessa forma, a Casa no Pomar do Cafezal surge como um respiro e um exemplo a ser seguido. No gerenciamento de seus espaços, não deixa de fora a indefectível “laje”, agora coberta, também conhecida como “terraço gourmet” , para tantos que não abrem mão do seu churrasquinho no nal de semana. Com uma abordagem delicada e cuidadosa, não agride a vizinhança, antes, integra-se a ela, respeitando a topogra a e a escala do bairro. Utiliza-se ainda de uma materialidade igualmente emprestada das construções do seu entorno e se apresenta com proporções humanas e equilibradas. Critérios estes que, a bem da verdade, deveriam ser compartilhados e explorados também nos bairros mais nobres, em que, muitas vezes, a natureza é completamente devastada e as residências, de arquitetura pretensiosa e descontextualizada, des guram as nossas cidades.

Ações como a do coletivo Levante deveriam servir de modelo, por nos mostrar o quanto pode ser feito. Precisaríamos de governantes com uma visão em longo prazo da cidade, menos eleitoreira e que soubessem se cercar de pro ssionais competentes com os recursos su cientes.

Boa fruição!

O gestor do Centro Cultural Lá da Favelinha, Kdu dos Anjos, prefere chamar a Casa no Pomar do Cafezal carinhosamente de “meu barraco”. A casa foi implantada em um terreno anguloso, de aproximadamente 70 m², em que foi possível encaixar dois módulos estruturais de 3×3 m, em dois níveis, ladeados por um “puxadinho” encostado na divisa. A distância, não se percebe qualquer contraste em meio ao amálgama de construções de tijolos cerâmicos aparentes do Aglomerado da Serra.

O clássico bloco de oito furos, inclusive, é o que determina a materialidade da casa, só que assentado na horizontal e revelando sua face frisada. Algo muito pouco comum no morro, uma vez que assentar o bloco em pé é mais rápido e faz com que o material renda mais. Nesse caso, a ideia foi garantir melhor inércia térmica para a casa, já que, com assentamento na horizontal, a largura da parede será correspondente à maior dimensão do bloco. Além disso, exploramos as formas de uso desse elemento modular, que, em algumas situações, aparece como cobogó ou combinado com blocos de concreto –por uma necessidade estrutural. Mantivemos, então, o repertório construtivo tão próprio dos mutirões quanto à estrutura e aos fechamentos de tijolos aparentes e nos preocupamos em observar com cuidado questões referentes ao fluxo das águas de chuva e sua absorção no terreno, em minimizar a intervenção no solo, oferecer ventilação e iluminação naturais de forma generosa – além do controle de temperatura com elementos leves, como as peças roliças de eucalipto e a vegetação. E, claro, aproveitar ao máximo a vista, que é extraordinária e não se vê igual lá do asfalto. x

“A ORIGEM DE NOSSA ATUAÇÃO COMO ARQUITETOS NO AGLOMERADO DA SERRA se deu por meio do escritório MACh, em 2007, quando projetamos o Beco São Vicente (...)”

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