Revista trailer #6

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Outuno | Inverno ‘16 A revista que traz a moda antes das passarelas


CAPA LARISSA MARCHIORI (FORD MODELS) VESTE MIU MIU FOTO NICOLE FIALDINI EDIÇÃO DE MODA GEORGE KRAKOWIAK BELEZA BRUNO CARDOSO (CAPA MGT) TRATAMENTO DE IMAGEM RG IMAGEM

CONTRACAPA MAHANY PERY (FORD MODELS) VESTE MIU MIU FOTO RAFAEL PAVAROTTI EDIÇÃO DE MODA


PUBLISHERS Dieter Wolfgang Brockhausen Humberto Rebonato DIRETORA DE REDAÇÃO Doris Bicudo

EDITORA DE PESQUISA E IMAGEM Matilda Azevedo DESIGNER Victor Apolinário COOLHUNTER Daniel Fonseca REVISÃO Paulo Vinicio De Brito ASSISTENTE DE REDAÇÃO Valéria Oliveira COLABORADORES Antonio Trigo Bill Queiroga Bruno Cardoso Carolina Vasone Franco Amendola Genya Migovich George Krakowiak Josefina Bietti Juan Cabello Arribas Larissa Marchiori Luana Alves Mahany Pery Marina Felicio Mel Freese Nadine Nicole Fialdini Priscilla Portugal Rafael Pavarotti Vanessa Sena

PUBLICADO POR Agadê Editora Praça Dirceu de Lima, 656 Casa Verde, São Paulo, Sp Cep 02515-050 Telefone +55 11 3966 3022 agadeeditora.com.br COMERCIAL Fabiano Troiano fabianotroiano@agadeeditora.com.br +55 11 3966 3022 CONSULTORIA DE PROJETO GRÁFICO B + K Criative TRATAMENTO DE IMAGEM Mané ANUNCIE comercial@Trailerbrasil. com.br FALE CONOSCO redação@Trailerbrasil. com.br


N

Trailer | Carta do Editor

as nuvens


Doris Bicudo

A

moda é orgânica, assim como os inúmeros olhares que cada um lança sobre ela. E é esta mudança constante que me atrai em fazer revistas. Quase um vício. O desafio em acompanhar tendências e nos adaptarmos a elas é tarefa diária e complexa. Da tela do computador para a parede, da parede para a gráfica, da gráfica para as mãos de alguns leitores. Este é o caminho natural da maior parte das publicações. Da Trailer, inclusive. Nesta nossa sexta edição escolhemos uma nova trilha, mais democrática, ecologicamente e politicamente corretas, ao nosso

ver, e decidimos lançar apenas na versão digital. Com o desafio deste novo formato, para nós aqui da redação, buscamos a colaboração de profissionais perfeitamente adaptados nesta linguagem, para apresentarmos a pesquisa das tendências do inverno 2016. Foi um trabalho árduo, de meses e muitas horas em frente a uma tela de computador. Tanto, que levou nossa diretora de pesquisa e imagem, Matilda Azevedo, a ganhar um par de óculos de grau. Mas valeu a pena. Estamos satisfeitos com o novo formato e abertos a todas as mudanças. Afinal, somos ou não somos orgânicos?


umário

S

Cores da Estação Pág. 38 Texturas Pág. 40

Preview

50

Perfil Daniel Fonseca Pág. 8 Inspiração Pág. 10 Tendência Pág. 16 Painel Pág. 16 Mercado Pág. 34

2

E


Perfil George Krakowiak Pág. 62 Editorial Pág. 64

24

Entrevista

Perfil Rafael Pavarotti Pág. 92 Perfil Juan Cabello Arribas Pág. 106 O Artista Fala Pág. 108 Tecelagem Pág. 110 Visual Merchandising Pág. 112 Coming Soon Pág. 118

Perfil Josefina Bietti Pág.80 La Belle Bijoux Pág. 82

94 A Dança


M

Tropical por natureza

A brasilidade como inspiração para um inverno à la brasileira

Ao Extremo

Novo formato de negócios para atrair novos consumidores


M ercado

A moda estรก fora de moda

A discussรฃo levantada por Lidewij Edelkkoort sobre o futuro da moda

Exagero comedido

Bruna Olivo revela a receita do sucesso de sua Lanรงa Perfume

Preรงo Justo

Dicas do guru e analista do varejo, William Poundstone, para gerar bons negรณcios


Trailer | Colaborador

Daniel

Fonseca

1

3

4

Movido a pura energia, este mineiro que tem orgulho de suas raízes é expert em VM e profissional super requisitado. Ligado no 220, Daniel se define como bom observador e é da rua que vem sua inspiração: de um carrinho de compras no supermercado à loja mais hi-tech mundo afora. Adora estampas, em especial as africanas. Ao som de Vapor Barato, na voz de Gal, segue em frente. E nós, de carona. Com quem dividiria um sanduíche? Xuxa, ela está maravilhosa!

1. Happy Pills 2. Mona Hatoum 3. Monalisa, Marce


2

5

el Duchamp (1919) 4. Estampa Africana 5. Gal Costa


Trailer | Inspiração

Tropical

por natureza

A partir de uma leitura revisitada, Trailer viaja pelos rincões tropicalientes desse imenso Brasil. Tudo para traduzir o inverno 2016 Por Daniel Fonseca

É

tempo de repensar. Replanejar. Iniciamos nossa sexta edição com um gás renovado. Se formos definir com uma única palavra nossa pesquisa, ela é autenticidade. Cabe a cada um encontrar seu caminho, sem esquecer, entretanto, que vivemos tempos de competição acirrada. Para este inverno, a experiência é fundamental. Faça suas misturas. Combine texturas, estampas, cores, cheiros, sabores e aplique essa experiência em suas compras.


Experimente novos conceitos. Flexibilize-se. Potencialize seu DNA e gingado brazuca. A ordem é destrinchar nosso território do Oiapoque ao Chuí, para entender o próximo inverno, que, como bem já vimos em outras temporadas, pode ser frio, quente ou uma mistura das duas coisas. Sentimos o peso do mercado do Pará, rendamos com bilros toda Caruaru, com muito axé descemos as ladeiras do Pelourinho.

Envolvemos com calor e arrepio os meninos do Rio, com suas estampas fluídas. Recebemos toda contemporaniedade que existe em SP e provamos da cachaça ao brilho da moda mineira. Nos divertimos à pampa com o sotaque mais sulista da nação e nos aquecemos com cuias de mate e seu tricô feito à mão. Brindamos a temporada para reafirmar que vivemos em um país tropical e bonito por natureza.


Trailer | TendĂŞncia

A

o extremo

Com o objetivo de lidar com consumidores de gostos constantemente variĂĄveis e algumas vezes desacreditados, o varejista atual precisa se reinventar para manter o seu negĂłcio refrescado Por Daniel Fonseca


C

onfiança e cumplicidade. Entramos em uma fase em que o mercado pede marca registrada, DNA. Um lugar no qual se quer ver a cara verdadeira, sem rótulos ou máscaras. Sem rodeios. É chegado o momento de se mostrar e deixar bem claro o propósito do negócio, de colocar as cartas na mesa. E vencer! Tendo em vista a explosão de marcas e formatos sucateados, o público atual já não mais demonstra sua fidelidade a uma ou a outra marca. Nem que, muitas vezes, o que está comprando é original ou falsificado, de design certificado ou plagiado. O que ele quer é ser tocado de maneira sensorial, sentir-se bem com aquilo que compra. Falamos aqui da experiência sem limite. Ainda que o conceito tenha se esfumaçado ao longo dos últimos anos, o varejo procurou se especializar em oferecer ocasiões memoráveis em seus pontos de venda. Sem dúvidas, o mercado da moda é o que mais sofre com essa falta de sutileza. Principalmente no Brasil, onde passamos anos a fio pensando que bastava dar um copy-paste nos desfiles internacionais para ter sucesso no mercado interno. Mal sabiam as empresas do setor que seu consumidor se internacionalizaria tão rapidamente que elas acabariam perdendo lugar para outras marcas Muitas consideradas de luxo acessível no mercado estrangeiro e que por aqui desembarcaram como luxo. Com preços estratosféricos.

Não só as grandes labels submergiram seu alcance, como também muitas multimarcas vêm sofrendo os efeitos globais por não entenderem a maneira correta de fisgar esse cliente. Causados pela crise, vemos várias portas fechadas. Da ostentosa Oscar Freire às tão potentes fábricas do Bom Retiro. Como bem colocou a rainha das tendências Lidewij Edelkoort: “Fashion is dead!”. Sim, a moda parece estar morta. Não sabemos apontar exatamente onde está o erro, se foi a falta de inovação ou os tão poderosos negócios da China, onde marcas como Nice – inspirada na gigante Nike– e Samsing – genérica da Samsung – crescem a um ritmo acelerado exatamente por mostrarem que podem ser originais sendo copiosas. As discussões estão abertas.


Trailer | Tendência

Aberta em 2005, a carioca Don ao levar produtos 100% brasileir charmoso endereço no Jardim A multimarcas traz uma seleção criadores da nossa terra, oferec roupas e acessórios, o espaço a uma movimentada agenda de e projetos diversos.

Sangue Fresco Na Coreia do Sul, multimarcas como a Boon The Shop vêm experimentando novos conceitos para driblar as tendências globais. Fundada em 2000, a loja se especializou em um homem moderno. Com foco na curadoria e em um estudo de estilo de vida, oferece peças especialmente garimpadas em um ambiente futurista. Tudo muito condizente com o público a que se destina.

Coisa Nossa

Pente Fino

O embriã barbearia ao público foi implan das lojas O sucesso que a ma streetwea um salão e não des novas filia


na Coisa inovou ros para o Botânico, RJ. o de peças de cendo além de ainda conta com exposições e

ão de criar uma a para atender o masculino ntado em uma da Cavalera. o foi tamanho, arca de ar inaugurou independente scarta de abrir ais do projeto

Do Bairro Pensando em um consumidor local, Adidas apostou em lojas cuja seleção de produtos se baseia no lugar onde foi implantada. A primeira loja aberta em Berlim funcionou tão bem que o projeto já vem sendo replicado em outras capitais mundiais, como Xangai.

Meu Aroma

Criada por uma equipe de profissionais da beleza, a Nose realiza venda de perfumes de maneira personalizada. Localizada no centro de Paris, a loja oferece uma coleção excepcional com mais de 50 marcas de perfumes raros, cosméticos e fragrâncias para a casa. O diferencial? Ali o consumidor pode se submeter a um “teste às cegas”.


A

Trailer | Mercado

moda está fora de moda? Um manifesto publicado pela pesquisadora holandesa Li Edelkoort, este ano, gerou a reflexão sobre os novos caminhos que a criação de moda pode – e deve – ensinar. Por Carolina Vasone


A

Não basta apenas dar o que as pessoas querem, é preciso oferecer o que elas nem sabiam que queriam ou que poderia existir.

moda não é mais transgressora. A moda perdeu o bonde da sociedade e quer sentar à janelinha. A moda é um arremedo benfeito de si mesma – nos melhores casos –, a repetição sofrível de discursos conhecidos – nos piores. A moda? Está morta. De diferentes maneiras, em tons condescendentes, revoltados, complacentes, essa é a bola que alguns importantes agentes do mercado têm levantado nos últimos tempos, tendo como principal voz Lidewij Edelkoort. A influente pesquisadora de tendências é dona do bureau de estilo Trend Union, que, baseado em Paris, publica cadernos de pesquisas e dá consultoria para labels tão diversas que vão de Prada e Zara, passando pela japonesa Nissan até chegar à gigante Coca-Cola. Para Li, o problema é que a indústria da moda se rendeu às leis do capitalismo selvagem criando roupas tão bonitas quanto covardes, que agradam seus compradores como um gostoso – mas previsível – sorvete de chocolate. Os motivos que levaram, na avaliação da pesquisadora, a moda a perder seu radar avant-garde foram publicados por ela em fevereiro deste ano no Manifesto Anti-Fashion, um documento com dez itens que englobam a obsolescência em vários setores, das faculdades de estilismo às Fashion Weeks, todos baseados em sistemas inventados nos séculos 19 e 20. A moda, então, virou uma tia bem-vestida e chata, daquelas que contam dez vezes a mesma história. Não é de hoje que experts do setor alertam para os perigos do caminho trilhado pelo mercado. Há quatro anos, Ronaldo Fraga publicou uma carta em que dizia que “a moda, como a conhecíamos, acabou.”


Trailer | Mercado

A moda não é ma A moda perdeu o bond sentar à j A moda é um arremedo nos melho a repetição sofrível de discur A mo Está m


ais transgressora. de da sociedade e quer janelinha o bem feito de si mesma ores casos , rsos conhecidos – nos piores. oda? morta! Lidewij Edelkoort


Trailer | Mercado

Bem antes disso, oito anos atrás, o crítico britânico Colin McDowel, criador do prêmio de novos talentos Fashion Fringe, de Londres, comentou em palestra no evento Fashion Marketing, organizado por Gloria Kalil em São Paulo, que os europeus estavam não só cansados, mas irritados com o excesso de produtos e de campanhas de consumo ostensivas por parte da indústria, que os bombardeava com mensagens de compra em todos os níveis. Do luxo exclusivo de maisons centenárias ao fast fashion de lojas como Zara e H&M.

saltitante. Pois o mundo não anda superficial, imediatista, superacelerado e consumista? Pensando assim, essa indústria estaria cumprindo seu papel: ela é apenas o reflexo da sociedade contemporânea. E o problema é o “apenas”. Em entrevista que fiz com Li Edelkoort, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, a pesquisadora é bem enfática ao lembrar que a moda costumava ir além da função de espelho. “Ela sempre foi um indicativo de para onde o mundo estava indo. Então se compreendia moda como um guia sobre a transformação da sociedade.

Muito antes, o filósofo francês Gilles Lipovetsky já vinha dizendo que o maior luxo contemporâneo, ou dos tempos “hipermodernos”, como ele define nossa época, era o de consumir sensações, não produtos, algo como gastar dinheiro numa incrível viagem, seja para o Butão, seja para a Lua.

O que está acontecendo é que, por alguma razão, as pessoas estão focando nas roupas e nos acessórios e não estão mais interessadas em dar uma contribuição conceitual para o mundo”, diz. Li

Não basta apenas dar o que as pessoas querem, é preciso oferecer Recentemente, o importante fotógrafo o que elas nem sabiam que queriam de passarela Márcio Madeira, do alto ou que poderia existir. Quem é que de seus 37 anos de experiência em um dia chegou a uma loja, antes cobertura de semanas de moda, criticou, da criação do iPhone, e solicitou ao literalmente, todo mundo: na Europa, vendedor: “por favor, moço, eu gostaria falta inovação do design; no Brasil, falde um telefone que funcionasse como tam compradores nas primeiras filas dos um computador, que tivesse umas desfiles, feitos mais para a mídia do que ferramentas que me permitissem usápara o mercado especializado, que fica lo como agenda, gravador, câmera sem comprar e vender. fotográfica e filmadora, arquivo das Se a moda reflete o comportamento da minhas músicas preferidas, onde eu sociedade, ela está é bem viva, alerta e pudesse assistir a vídeos.


Em seus melhores momentos, a moda provoca reflexões, causa estranhamento com silhuetas e formas novas, apresenta concepções de beleza inusitadas, quebra paradigmas, desafia, incorpora outras qualidades à roupa além da função de cobrir o corpo e deixar a gente mais bonito

Radar do que ainda está por vir, ela pode captar questões políticas, artísticas, filosóficas, e costurar tudo isso em peças que vão acrescentar não só pano, mas novas ideias a quem as usa. E de repente, não se tem mais um guarda-roupa, mas um mundo de possibilidades dentro do armário. O espírito de inovação parece ter abandonado o corpo da moda. Hoje outras áreas detêm essa qualidade, caso da tecnologia da informática, cuja criatividade não para de nos surpreender. Mas os avanços tecnológicos só podem melhorar a qualidade de acabamento das roupas, não agregar conceito, acredita Li, baseandose na constatação de que, passada a era Paco Rabanne à la Barbarella dos anos 60, ninguém quer sair por aí fantasiado de astronauta ou robô. A inovação olha para o futuro, não para o futurismo. Presos à urgência do presente, porém, as perguntas são lançadas sem que haja tempo para as respostas. Desfiles de moda são obsoletos? Mas que outra maneira se não a de ver o caimento e o efeito da roupa ao vivo, não por uma tela de computador ou foto que não mostra textura ou que distorce a cor? A moda não se renova? Mas como negar a velocidade do mundo e conseguir criar novidades a cada seis meses – na verdade, não seis, mas três meses – em coleções Cruise, Pre Fall, Pre Summer, e por aí vai? A moda está histérica e chata, sim, mas a sociedade também. Talvez seja hora, de parar e discutir a relação.


Trailer | Mercado

Manifesto Antifashion

Conheça as dez razões pelas quais a pesquisadora de tendência Li Edelkoort afirma que a moda está fora de moda


1

Designers

Os grandes nomes do passado mudavam a sociedade, pois introduziam novas silhuetas. Acabou. Agora só recriamos tendências

3 5

Marketing

Graças ao que ele se transformou, produtos e indústrias são vistos de uma nova perspectiva: a de como vender mais. Isto os esgota e mata a criatividade

Varejo Insiste em pensar na moda com o mesmo mentalidade de seus pais. Ou de seus avós. Não acompanhou a mudança dos tempos. Já foram inovadores, hoje repetem fórmulas

Preço

Publicidade

Os anúncios são repetitivos e para piorar, as grandes publicações exibem exclusivamente peças de grifes anunciantes. Com o resultado as pequenas -e novas- marcas nunca terão vez

6

7

Imprensa e Blogs Editores de moda estão sendo substituidos por jovens escritores sem especialidade nem perspectiva crítica. Eles generalizam e dão opiniões ao invés de críticas profissionais

Os consumidores de hoje e de amanhã vão escolher sozinhos, criando e até desenhando o que vestem. A moda não vai recuperálos. Começa-se a querer boas roupas - e não grifes

Com redes de abastecimento cada vez menores, recorremos aos países de economia fraca. Explorando a mão de obra barata e sem proteções trabalhistas

Manufatura

4

Para a Moda, quase tão grave quanto a mão de obra escrava, é a mensagem que se passa com as roupas tão baratas. É tipo comprar, usar, jogar fora. O descartável acabou com o desejo do perene

Consumidor

9

2

8

Educação

A realidade individualizada está caindo por terra e o trabalho colaborativo faz muito mais sentido. Foi-se o tempo em que educavam os alunos para brilharem sozinhos

10

Materialização

Ao cortarem drasticamente os custos, as grandes empresas de moda estão levando a indústria têxtil e a mão de obra artesanal à falência


E

comedido

Trailer | Entrevista

xagero

Em menos de dez anos de sua fundação, a Lança Perfume cresce a taxas além da curva, mesmo diante de um cenário de crise. Nesta exclusiva, a diretora de criação Bruna Olivo explica o sucesso de uma marca que acompanha o gosto da brasileira Por Doris Bicudo Fotos Franco Amendola



Trailer | Entrevista


A

Lança Perfume tem menos de uma década de história – foi fundada em 2006. Apesar da curta trajetória, ostenta números superlativos: são mais de 800 colaboradores diretos, um parque fabril de 10 mil metros quadrados, 12 lojas próprias – com previsão de ir a 20 até o fim de 2015 – e a presença em mais de duas mil multimarcas espalhadas pelo território nacional. O resultado? Dois milhões de peças fabricadas por ano. Uma produção que fez as brasileiras, literalmente, caírem aos seus pés – os saltos altos, a propósito, são cerca de 50 mil pares por coleção. A explicação para seu sucesso é uma turma jovem no comando, a começar por sua diretora de criação, Bruna Olivo, 25 anos, formada em design de produtos e que não entrega a pouca idade ancorada na bagagem nata: fundou a marca aos 14 anos junto do irmão, Hugo, e com o auxílio da expertise dos pais, Arcílio e Vera Olivo, que anteriormente fundaram o grupo La Moda, um sucesso nos anos 1980 e 1990 com foco no mercado infantil. É um mundo à parte. Em Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina, onde fica cravada a empresa, as reuniões são informais e a sede, com lustres Baccarat, meia centena de pendentes de cobre e pé-direito de 20 metros de altura – além de um exótico arranjo de 300 rosas vermelhas, trocadas quase diariamente, e uma passarela de LED – dá o tom efervescente de uma grife jovem e nem tão distante assim das capitais: ela está presente em oito países, entre eles Estados Unidos, Angola, Japão, Colômbia e Suíça. “É uma empresa sem estrelas executivas e que vem fortalecendo sua identidade. Somos um exagero comedido”, brinca Bruna,. Confira a seguir os melhores momentos de nosso bate-papo.


Trailer | Entrevista

Trailer - Como vocês alcançaram o sucesso em tão pouco tempo?

“Hoje sabemos que nossa cliente é diferente, ousada. Não é uma mulher casual, é sexy como a brasileira”

Bruna Olivo - É claro que já existia o alicerce do grupo de meus pais. A ferramenta de construção de produto, a estrutura física... Mas somos modernos, implantamos o SAP (software de gestão de negócios usado pelas maiores empresas do mundo que fornece informações em tempo real) e sabemos que gestão é a união da razão com a emoção. Meu irmão é a parte metódica e eu gosto de motivar uma equipe para que todos trabalhem para uma marca. E temos também o trunfo de ter 99% de nossa produção terceirizada.

Trailer - Parecem que não conhecem a palavra crise... Bruna Olivo - A crise nos dá chance de crescer e não temos do que reclamar. Vemos uma grande oportunidade no e-commerce, que anda a passos largos. A distribuição é feita em cerca de duas mil multimarcas, além do canal de varejo que se iniciou em 2011 e que hoje conta com 12 lojas próprias. A expectativa é fecharmos o ano com 20 unidades.


31 Trailer - O varejo foi uma opção perante as multimarcas?

Trailer - Isso se deve também ao fato de a marca ter um forte DNA?

Bruna Olivo - O varejo abre as portas para o novo. Há peças que não são vendidas em multimarcas e que têm boa aceitação nele. E não é uma crítica. É natural que as multimarcas imponham barreiras. Mas noto que elas já estão se abrindo ao novo. Caso contrário ficariam estagnadas.

Bruna Olivo - Não nego que quando começamos eu era muito jovem. Mas de uns quatro anos para cá houve um amadurecimento e passamos a consolidar nossa identidade. Hoje, sabemos que nossa cliente é diferente, ousada. Não é uma mulher casual. É sexy como é a brasileira.




Trailer | Entrevista

Trailer - Qual seu maior patrimônio?

Trailer - Como lida com números ?

BO - Nós não temos tecelagem e ter-

BO - Na nossa gestão, como já falei,

ceirizamos praticamente tudo. Entretanto, a modelagem e o corte, por exemplo, são internos. E por quê? Porque o centro de distribuição precisa ser enorme. O contato com cliente é importante. Ele é nosso maior patrimônio e nós brincamos que não temos clientes, temos viciados na marca (risos).

Trailer - Como treinar a equipe? BO - Temos uma ferramenta

chamada PYA que forma o profissional e traça seu perfil. Nela conseguimos saber se ele trabalha bem em grupo ou não, bem como seus pontos fortes e fracos. Gosto de entender minha equipe. Mas além do software, há muito de intuição. Somos uma equipe 100% jovem. Do executivo à criação.

temos tudo muito bem determinado para que não existam atropelos. Em meu caso, os números fazem parte do meu dia a dia quando se referem à confecção. Em contrapartida, toda a gestão de investimentos fica a cargo de meu irmão Hugo, e sua equipe. Unir a razão com a emoção é sempre essencial para uma empresa moderna ir adiante de forma sólida.

Trailer - Em que a moda brasileira precisa melhorar?

BO - Acreditamos que a venda direta,

no varejo e virtualmente, seja a grande solução para firmar qualquer negócio. Resumindo: é preciso tomar muito cuidado com os saldos. Precisamos parar de acreditar na venda de estoque, nessas liquidações que desvalorizam o produto.

Trailer - E como cresceram ?

Trailer - O que você quer dizer?

BO - Com planejamento estratégico. Temos uma meta até 2020 que incluiu essa onda de expansão. E em breve faremos um novo planejamento com nossos líderes para determinarmos onde estaremos em 2030. Talvez entremos no nicho masculino, mas é claro que com outro nome.

BO - Para que colocar um produto

em liquidação poucos meses depois de seu lançamento? É negativo para o produto e para a cliente que comprou antes. E duvido que alguém vá discordar de mim neste pensamento. Anotou?


“ A Lança Perfume é uma

empresa sem estrelas executivas e que vem fortalecendo sua identidade. Somos o exagero comedido ”


P

Injusto

Trailer | Mercado

reço

William Poundstone já vendeu mais de meio milhão de livros e acaba de lançar novo título que discute o valor psicológico do dinheiro. Em conversa exclusiva à Trailer, o expert no tema ensina como definir valores – e barganhar Por Priscila Portugal


V

ocê pode até saber o valor do aluguel do seu ponto de venda, o preço cobrado pelos seus fornecedores e quanto pagou por seu último carro. Mas, na verdade, não faz ideia se são preços justos ou quanto cada um destes itens deveria custar. É o que defende o escritor – e físico – americano William Poundstone, que tem mais de 10 livros publicados, entre eles Como Mover o Monte Fuji. Sucessos de público e crítica que vão além da autoajuda, com base em pesquisas de comportamento estratégicos. Em bate-papo com a Trailer, o também colunista do The New York Times e The Economist, conta sobre seu livro, Preço (Ed Best Business), para o qual entrevistou cerca de 50 pessoas, entre economistas, psicólogos e empreendedores.

Trailer - Como surgiu a ideia de escrever este livro? Willian Poundstone - A principal inspiração foram os trabalhos dos psicólogos Daniel Kaheman e Amos Tversky. Eles fizeram experimentos que mostravam quão ilógicos somos quando se trata da relação com o dinheiro. Trailer - Poderia explicar melhor a teoria da “ancoragem”? E como ela se aplica a um lojista ? WP - Não temos um senso de preço interior. Nada que nos diga quanto algo deveria custar. Entretanto, nos guiamos por comparações e contrastes. Quando você vê uma etiqueta de “R$300 por R$210” isso parece um bom negócio e, conforme mostram experimentos, as pessoas tendem mais a comprar aquele produto do que outro que tenha simplesmente a etiqueta de “R$210”. Trailer - Por quê? WP - Neste caso, R$300 é um preçoâncora e faz o desconto parecer mais atraente. A ancoragem é especialmente poderosa com produtos únicos e com aqueles que têm uma mítica de serem caros. É uma parte importante do marketing e dos bens de luxo. Normalmente, você vai a uma loja e vê um criação assinada por R$20 mil. Pouquíssimos consumidores sonhariam pagar tanto por ela... Perto desta bolsa pode ter uma de R$3 mil. Parece loucura, mas a bolsa de três mil reais é percebida como uma pechincha, uma barganha.

Trailer - O que você quer dizer? WP - Que esta pechincha existe somente porque você viu a de R$20 mil antes. Meu conselho? Coloque uma peça cara sempre ao lado de uma mais barata. Vai vender mais do que imagina. Trailer - O melhor truque para vender... WP - A ancoragem tem tudo a ver com contexto, então, ela ajuda a tirar o consumidor da situação. É fundamental para as marcas. Se um cliente espera um, dois dias, ele acaba se perguntando se realmente quer um vestido por aquele preço. E tende a não comprar. Trailer - Qual conselho daria para alguém que precisa negociar um salário ou mesmo o preço de um carro, por exemplo? WP - Sempre seja o primeiro a dizer um valor, como um salário, um preço. Esta é sua âncora, então pense em um número mais favorável do que realmente espera obter. Isto é usar a ancoragem a seu favor. Pratique a experiência. Trailer - Não é arriscado? WP - A pesquisa mostra que mesmo preços “absurdos” são âncoras eficientes e influenciam o comportamento. Se o empregador quer contratar, ele vai retornar com uma contraproposta, e, provavelmente, mais generosa.


1.

P esquisa


Cartela de Cores

O artista plåstico Bill Queiroga interpreta as cores da estação

Texturas

As principais texturas do inverno 2016

Preview

O melhor das passarelas internacionais para as araras brasileiras

Love is a Reciprocal Torture

Editorial de moda para inspirar e agregar

Por Matilda Azevedo


Bill

Queiroga

Trailer | Cartela de Cores

Encontramos na arte de Bill Queiroga a cartela de cores para o outono/ inverno 2016. A força do preto, as variaçþes de tons de cereja, os azuis em doses exatas e a sutileza em que os amarelos entram em cena.


O também diretor de arte maranhense, radicado em São Paulo, não tem preocupação – nem pretensão – em definir seu estilo, apenas deixa fluir. Livre como todo processo criativo tem que ser. Assim como a moda...


GUCCI

LANVIN

DOLCE & GABBANA

Fotos Agência Fotosite

CHANEL


B ordados

VALENTINO


G

rรกficos

SALVATORE FERRAGAMO


BOTTEGA VENETA

FENDI

BALMAIN

VALENTINO


CHANEL

R

enda


BURBERRY

BOTTEGA VENETA

VALENTINO

ERDEM


Trailer | Texturas

MARNI

STELLA MCCARTNEY

DRIES VAN NOTEN

LANVIN


apeรงaria

T

MARY KATRANTZOU


X

adrez

MIU MIU


SALVATORE FERRAGAMO

PHILIP LIM 3.1

PHILIP LIM 3.1

DRIES VAN NOTEN


Margaret Howell

Temperley London

Mary Katrantzou

52


Amarelo Damir Doma

Dior

A cor que pinta os trópicos sai da zona de conforto e chega com força na estação mais fria. Fica ótima em peças invernais dividindo espaço com tons de cinza e marrons, em tricôs e tweeds.


Trailer | Preview

Ami

Alexander Wang

Miharayasuhiro

calรงa cenoura: peรงa forte


Ami

N°21

Denim

jaqueta jeans: clássica!

Com inspiração na estética minimalista dos anos 90, jeans é dos carros chefe da estação. Mas como os tempos são outros, já que se passaram 25 anos, as peças mais interessantes têm detalhes que merecem atenção: lavagens aveludadas, novas proporções e clássicos revistados.


Chloé

Céline

Burberry

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Bourgeois Bottega Veneta

Lanvin

Bordados, brilhos, rendas, estampas misturadas. Aqui vale tudo, mas todo o cuidado é pouco. Os vestidos florais esvoaçantes ganham mangas longas, e os tubinhos, gola rolê. As festas nunca mais serão as mesmas.


Creatures of the Wind

Lanvin

Streetwear As tendências surgem nas ruas. Aqui a criatividade serve como base. Os xadrezes, como sempre, estão presentes. Desta vez dividem espaço com palavras de ordem. Investir em modelagens amplas e peças que se sobrepõem são ótimas ideias.


calรงas curtas: importante

Marc by Marc Jacobs

Alexander McQueen

Dries Van Noten

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Couro Louis Vuitton

Fendi

Maiyete

O Inverno é, sem dúvida, a estação dos couros. As peças brancas e pretas são extremamente elegantes. A calça, que só tira férias no verão, tem a cintura mais alta e a barra mais curta. Já os coloridos trazem uma pitada de ousadia e excentrismo. Essencial para transformar um tecido clássico.


Prada

JW Anderson

Agi Sam


As peças de alfaiataria mais interessantes do Inverno 16 são leves. E as cores, doces. Estampas gráficas ou divertidas quebram a seriedade do tema, sem deixar a elegância se perder.

Céline

cintura mais alta

Kris Van Assche

Alfaiataria

Trailer | Preview


Michael Kors

Andrea Pompilio

CĂŠline

Bottega Veneta

camisa branca com novas texturas


Trailer | Colaborador 1

Krakowiak

George

4

Conversar com este stylist é uma viagem que vai além do mundo da moda. Culto e plugado em novos movimentos, se abastece em filmes e livros para imprimir seu trabalho. Do purismo da fotógrafa americana Collier Schorr ao maximalismo energético de Kate Moss, passando pelos contos de Dalton Trevisan, vem a imagem de seus incríveis editoriais. Embalado por Dirty Boots, de Sonic Youth. Let’s Dance!

5

Com quem dividiria um sanduíche? Kate Bush, se ela topasse.

3

1. O mundo contra Larry Flint 2. Kate Moss 3 e 4


2

4. Collier Schorr 5. Kate Bush 6. Jean Cocteau

6


FOTOS NICOLE FIALDINI STYLING GEORGE KRAKOWIAK BELEZA BRUNO CARDOSO (CAPA MGT) E VANESSA SENA















ang uar da

V


La Belle Bijoux

Portf贸lio da fot贸grafa Josefina Bietti

A Dan莽a

Editorial de moda assinado pelo fot贸grafo Rafael Pavarotti e George Krakowiak


Trailer | Colaborador 1

Bietti

Josefina

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4

A fotógrafa argentina e chocólatra assumida leva a vida numa malemolência à brasileira. Ama a natureza, acredita no amor e em um mundo mais justo. Sem abandonar seu lado zen, Josefina é boa de argumento e não abre mão de imprimir seu olhar no momento do clique. Se inspira na simbologia dos contos de Jorge Luis Borges para criar suas imagens, enquanto relaxa ao som de Imagine... Com quem dividiria um sanduíche? Buda

1, 3 e 5. Wolfgang Tillmans 2 e 4. Monet 6. Buda


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Tric么, MMSMG. Braceletes, MARCO APOLLONIO.


LA

BELLE BIJOUX

Fotos : Josefina Bietti (ABA MGT) Styling : Luana alves

Beleza : Mel Freese



Vestido, ALEXANDRE HERCHCOVITCH. Ear cuff, MARIA DOLORES.


Vestido, LANVIN. Brincos, JULIANA MANZINI.

Vestido, S


SAINT LAURENT PARA FARFETCH. Anéis, ELEONORA HSIUNG e COSMOPOLITAN.


Vestido, MICHAEL KORS. Anel, DIFERENZA. Bracelete, ELEONORA HSIUNG.


Casaco, DIESEL. Brincos, MARIA DOLORES.


Vestido, ALEXANDRE HERCHCOVITCH. Colar, MARIA DOLORES


MODELO: Genya Migovich (Joy Model Brasil) TRATAMENTO DE IMAGEM: Milagros Oliva


Trailer | Colaborador 1

Pavarotti

Rafael

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De Belém do Pará para o mundo, este jovem e talentoso fotógrafo parece que já nasceu pronto. Assim, como Macunaíma, o célebre personagem de Mário de Andrade e um de seus livros preferidos. Suas imagens de moda, muitas vezes, vêm com inspiração nos livres movimentos do coreógrafo Kazuo Ohono. No volume máximo de seus inseparáveis fones de ouvidos, I’d Rather Go Blind, de Etta James. Com quem dividiria um sanduíche? Grace Coddington

1. Holly Mountain 2. Kazuo Ohno 3. Grace Codding


gton 4. MacunaĂ­ma 5. Etta James

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FOTOS RAFAEL PAVAROTTI

STYLING GEORGE KRAKOWIAK

MODELO MAHANY PERY (FORD MODELS)


Vestido, VITOR ZERBINATO. Calรงa, GUCCI


Look total, MIU MIU



Vestido, M


MIU MIU


Top, DIOR. Calรงa, CHANEL. Trench Coat, ALEXANDRE HERCHCOVITCH


Top, MAX MARA. Calรงa, UMA. Capa, MIU MIU




uturo

F


O Artista Fala

O arquiteto Juan Cabello Arribas e a sua multimarcas do sonhos.

Tecelagem

O parque industrial brasileiro versus a crise

Visual Merchandising

O consumidor exige novos modelos de visual merchandising

Coming Soon

Comece a se inspirar para o próximo Verão ‘ 16|17


Trailer | Colaborador 1

Cabello Arribas

Juan

Cidadão do mundo, o arquiteto espanhol escolheu São Paulo para viver e fragmentos de uma realidade mental, que viaja entre Madri, Londres e Porto, para abastecer sua criatividade. Observador e perfeccionista, acredita que tudo nesta vida pode ser melhor. Tudo mesmo. Ao som de Let Down, de Radiohead, Juan contribui para projetar o mundo ideal. Mãos à obra!

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Com quem dividiria um sanduíche? Fernando Pessoa, Marcel Duchamp, Tom Ford e Francis Bacon

1. Casa de Charles e Ray Eames 2. Kiasma 3. Lász


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zl贸 Mahony-Nagy 4. Marcel Duchamp 5. Musac


Cabello Arribas

Juan

N

a visão do arquiteto e designer de p rojetos urbanos, uma loja multimarcas é muito mais do que um espaço no qual roupas são expostas em araras. Para o espanhol que elegeu o Brasil para morar e trabalhar, a loja é também um ponto de encontro de reflexão e de troca.

Um observatório da realidade, um caleidoscópio de interpretações. Uma pausa no cotidiano. Partindo destas premissas, Juan Cabello Arribas criou, com exclusividade para a Trailer, uma multimarcas “dos sonhos”. Um projeto no qual moda, arte, arquitetura, anatomia ganham o mesmo peso. A cereja do bolo? Uma biblioteca para pesquisa. Universal e abrangente como pede este novo tempo..

Por Priscilla Portugal



Mudar é preciso As tecelagens brasileiras veem sua participação nas exportações globais caírem vertiginosamente. É um mau sinal? Sim. Mas talvez seja uma chance única de reinvenção Por Priscila Portugal


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s últimos dados disponíveis sobre o setor têxtil brasileiro mostram que, em 2013, existiam no Brasil 557 tecelagens. No entanto, se este ano não é dos mais promissores há algumas lições que mostram a vocação dessas empresas para se reinventarem. E por que teriam de ser mais criativas? Economistas preveem que os consumidores vão puxar o freio e, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), deve haver redução de trabalho no segmento.

obsoletos e a falta de investimento derrubaram nossa indústria. Nos anos 60, quebra-ram gigantes como o Cotonifício Crespi e as Fábricas Matarazzo. Na década de 70 chegavam incentivos fiscais e financeiros do Ministério da Indústria e Comércio, que modernizou e ampliou a estrutura das fábricas. Em 1992, nossas taxas de exportação chegaram a US$1,5 bilhão.

Também nos anos 90 a abertura do mercado e o câmbio obrigaram nossas marcas aprenderem o valor da competição. Daí surgiram alguns movi“Este setor é como uma fênix que a mentos que ajudam a entender o que cada baixa consegue se reerguer. A per- esperar do futuro das tecelagens.. “Na gunta é: até quando uma das maiores década de 90, o câmbio era baixo, o forças produtivas industriais do Brasil que permitiu que as grandes empresas vai ser tão negligenciada?”, questiona investissem em maquinário. E com isso Lucilia Ramos, professora na área têxtil as pequenas ficaram para trás”, explica da Universidade Veiga de Almeida, em Alfredo Emílio Bonduki, presidente do São Paulo. Sindicato das Indústrias de Fiação e As respostas para essas indagações são Tecelagem de SP. esperadas pelas tecelagens nacionais, como a Cedro Têxtil, a Tavex, a HoriA verdade é que, para se manter comzonte Têxtil, a Santana Têxtil, a Kalimo, petitivas, as tecelagens precisam aua Canatiba, a Covolan, a Santa Constân- mentar o nível de produtividade, reforcia, o Grupo Vicunha e a Santista (foto). mular a gestão, se manter atentas às Esta última, com 85 anos de história, inovações tecnológicas. após passar por inúmeras fusões e aquisições, reassumiu seu nome justaVeja, por exemplo, a Santa Constânmente este ano e entende a crise como cia, uma das tecelagens mais reprea melhor saída para um novo caminho. sentativas em funcionamento no país atualmente. Mesmo que faça direitinho Para sobreviver, não há saída fácil, mas o dever de casa, ainda precisa contar há lições aprendidas que podem ser com fatores externos. “Não existe proaplicadas até na vida dos lojistas. A es- blema de demanda. Tampouco temos capatória é a personalização do serviço. um problema de produção: investimos A reinvenção reside na criatividade. quase US$2 bilhões por ano em modernização e inovação. Temos a quinta E na indústria têxtil brasileira, isso é um maior indústria têxtil do mundo. Nosso fato marcante por toda a sua história. grande problema é que houve no país Resumindo: se hoje ela vive um mouma valorização cambial recente”, mento de competição com os países conclui o executivo e especialista no asiáticos, sobretudo em se tratando setor. de tecidos sintéticos, não é a primeira guinada que ensaiam. E dá para voltar Para Bonduki, se o governo não apoiar bastante no tempo para entender essa sua indústria poderá se tornar apenas história: entre 1942 e 1947, exportávaum exportador de comodities. É um mos cerca de 24 mil toneladas de teci- triste desfecho? Talvez não. Tudo dedos de algodão, mas os equipamentos pende do empenho de cada um.


Trailer | Visual Merchandising

irracionais

D ecisĂľes

Conversamos com trĂŞs experts em varejo para entender como lidar com as diferentes facetas do comportamento do consumidor. E agregar, assim, novos modelos para alavancar as vendas

Por Daniel Fonseca


S

erá que podemos entender o que se passa pela cabeça de um ser humano? Seus medos, tensões, aspirações mais profundas? Existe realmente um jeito certo de acessar a este tipo de informação? Estamos preparados para compreender os anseios deste público tão inconstante?

É inegável que a chave para uma transação comercial bem-sucedida não está exatamente em fórmulas matemáticas. É uma combinação de desejo com razão. Momentos de euforia intercalados com um fio de lucidez

Inquietudes como estas são, sem sombra de dúvidas, fantasmas que assombram as cabeças dos varejistas. Quando fazemos estas perguntas aos profissionais que estão ao nosso redor, a resposta da maioria esmagadora é um belo e redondo: não. Imprevisíveis. Este é o nome desta geração de consumidores que dispensa apresentações e com a qual se torna cada dia mais difícil lidar. Pense em si mesmo: quantas vezes você sentiu-se surpreendido por um momento de compra? Quando você reagiu positivamente a um estímulo de marketing habitual? Quantas coisas adquire por dia sem pensar ou questionar? Hoje ninguém compra uma margarina por causa do belíssimo filme publicitário que ela anuncia. Tampouco nos emocionamos com brindes de supermercado. Compramos aquilo que nos impressiona. Que é irregular. Inesperado. Seja por seu custo-benefício que é atrativo, ou por sua embalagem e sua mensagem cativante, ou ainda pelo jeito que é feito e levado até nós, quem compra quer é sentir aquele friozinho na barriga quando enfia a mão no bolso com gosto e sabe que está levando pra casa algo que realmente faz sentido.


Trailer | Visual Merchandising

“A Havaianas é autêntica e é brasileira. Melissa também. Ambas tiveram a ideia de mudar no momento certo. Na década 90 eles se valeram do uso popular para virar moda. Um modelo de negócio certo para um público certo”. Sylvia Demetresco É inegável que a chave para uma transação comercial bem-sucedida não está exatamente em fórmulas matemáticas. É uma combinação de desejo com razão. Momentos de euforia intercalados com um fio de lucidez. Ao longo dos últimos anos, várias ferramentas foram surgindo com o intuito de facilitar, ou até mesmo explicar porque algumas marcas funcionam enquanto outras não. Por qual razão um modelo de negócio pode ter resultados positivos em um lugar do globo e do outro lado não significar absolutamente nada. Entender as vontades desse comprador moderno se tornou, então, em passaporte para o triunfo. Com um arcabouço de instrumentos variados, o empreendedor atual pode

combinar distintos ingredientes para armar uma estratégia vitoriosa e levantar seu business. Do marketing clássico às potentes mídias sociais, passando pelo visual merchandising e pelo vitrinismo, sem se esquecer da atenção ao cliente tão banalizada nos últimos tempos, o mix é variado, especulado e exige muito rebolado para acertar a mão quando o assunto é cativar e impressionar as pessoas que frequentam um ponto de venda. De etimologia recente e importância crescente, o Neuromarketing é também um desses conhecimentos que prometem, entre outras coisas, mudar a forma como entendemos e desenhamos estratégias para alcançar de maneira positiva os nossos fregueses. A partir dos recursos oferecidos pelos avanços tecnológicos, a ferramenta se vale da ciência para tentar entender como


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o consumidor reage a estímulos externos para comprar. Seus tentáculos de atuação se encontram amplamente disseminados pelo setor de luxo onde o fator emocional é mais observado.

De acordo com a neurociência, até mesmo nas tomadas de decisão mais racionais, a emoção desempenha papel crucial. Outro dado interessante é o fato de o cérebro reagir de maneira diferente quando visualiza um produto ou uma marca que lhe é memorável. A lembrança visual, o toque, os cheiros e os sentidos realmente colaboram para a construção de uma sensação. Para Sylvia Demetresco, PhD em Semiótica, autora e referência no estudo do visual merchandising e da vitrina, a autenticidade dos modelos de negócio atuais está não só no fomento à experiência, mas também no detalhe. “Se você expõe um Rolex num display de plástico, seus detalhes não serão ressaltados: é preciso coerência entre o que você vai mostrar e a história que se vai contar.” Além disso, a autora argumenta que é preciso criar raízes. Em épocas em que os desejos são tão maleáveis e os freios ao consumo evidentes, é preciso gingado para sobreviver. Para Sylvia, a consumidora de luxo atual compra onde identifica qualidade. E quando falamos sobre qualidade não nos referimos simplesmente ao acabamento, mas também à excelência do atendimento, ao visual coerente, ao momento. “As pessoas querem saber a origem do produto, do que é feito, de onde vem. Querem comprar a história da marca e estão dispostas a pagar por isso”, completa.

“Hoje, no Brasil, gosto muito do trabalho da Reserva. A comunicação da marca é muito coerente e estruturada e o ponto de venda traduz de forma muito competente sua filosofia descontraída, provocante e contemporânea”. Ariela Silveira


Trailer | Visual Merchandising

“No mercado popular, o Armazém Paraíba de Teresina mostra que o varejo brasileiro evoluiu muito. Na realidade, o mercado popular evoluiu muito mais que o de luxo”. Sylvia Demetresco

Para Ariela Silveira, fundadora da WhatEver Varejo Criativo, somos movidos pelo desejo de descoberta, pela novidade. Como consumidores agimos da mesma forma, por isso o varejista deve criar motivos para que o shopper se sinta estimulado a percorrer e a permanecer na loja. “A exposição precisa ser dinâmica, com a construção de diferentes ambientes, uma comunicação visual clara e iluminação adequada”, pondera. Aliás, luz é palavra categórica também no vocabulário de Sylvia. Para ela, a iluminação é um dos fatores-chave para atrair a atenção e criar contato dentro do PDV. “Grande, pequena, popular, de luxo. O que não pode faltar numa loja é a luz adequada”, afirma. Entender como o consumidor se comporta é ponto decisivo na conexão entre produto e efeito surpresa. Isso se torna mais evidente quando o assunto é o mercado multimarcas, onde é bastante comum encontrarmos espaços de venda

confusos e poluídos. Na visão de Ariela, um dos grandes desafios das lojas multimarcas é estabelecer coerência e unidade na exposição de produtos. Para Sylvia, o comprador multimarcas precisa aprender a selecionar as labels e adaptar o seu conceito ao seu consumidor, assumindo seu DNA. “O cliente multimarcas, em sua maioria, compra com instintos emocionais e nem sempre conhece seu cliente, não faz planejamento e não entende que se não há investimento não há retorno”, completa Rogério Wolf, coordenador do núcleo de moda do Mega Polo Moda. Vemos atualmente muitas marcas nacionais fecharem suas portas justamente por não se adaptarem aos novos movimentos e não procurarem entender como se comporta este player atual. Segundo Wolf, os donos de multimarcas vêm enfrentando cada vez mais pressões competitivas e, por este motivo, há


uma crescente necessidade de adaptações. Apesar de tudo, é possível afirmar que o mercado de moda brasileiro evoluiu bastante no que diz respeito à compreensão do business. Para o coordenador do Mega Polo Moda, os clientes das lojas atacadistas estão mais exigentes e, além de comprar roupas, também querem soluções para o seu negócio. “O mercado de atacado evoluiu 1000%. Hoje acertam bastante na arquitetura e apostam na vitrina como forma de atrair o público”, completa Sylvia, que acredita muito na força do setor.

“Para mim os modelos de negócio mais interessantes são aqueles que aprenderam a trabalhar com o marketing de escassez sem descuidar dos detalhes. Exemplifico com duas marcas aqui do Mega Polo: Lady Rock que passou de uma loja de 40 metros quadrados para quase 350 e a Pitanga que segue no ritmo do lançamento semanais”. Rogério Wolf

Nesse sentido, vemos crescer a atuação dos profissionais de vitrine e VM, pois, aliado a um bom planejamento de compra, acaba auxiliando na estruturação da estratégia de exposição de produtos.” Tudo isso vem para tornar a experiência de compra mais agradável e satisfatória para o cliente e para o lojista”, comprova Ariela para quem o profissional de VM ainda carece de reconhecimento. O importante é compreender bem para quem se está criando um determinado tipo de negócio e o objetivo. É preciso aliar estratégias efetivas e procurar entender ao máximo quais são as necessidades. Estamos todos cansados de estabelecimentos convencionais com serviços antiquados onde impera a mesmice. A onda é inovar e surpreender, provocar sensações memoráveis para ganhar o coração desse cara que já não se apaixona mais por um cafezinho ou que é driblado pelo antigo papo de vendedor. Que venham mais negócios inovadores e o molejo brasileiro se faça valer!


Trailer | Coming Soon

Primavera | Verão ‘16


Tempo de simplificar. No prรณximo verรฃo o conforto serรก o tema principal. E movimentar para reinventar, o lema.



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