Revista Vamos Brincar?! - 2ª Edição - Julho e Agosto 2018

Page 1

Distribuição

2ª Edição | Julho | 2018 | Salvador - BA

GRATUITA

PSICOTERAPIA INFANTIL

Quando buscar e como é realizada

O PROTAGONISMO INFANTIL POR MEIO DA ARTE-EDUCAÇÃO Entrevista com Fabiano da Silva, criador da A+ Comunidade

O PAI, A GESTORA E O SHOPPING CENTER Shoppings x Espaços Culturais

DISCIPLINA POSITIVA: UMA MANEIRA EQUILIBRADA DE EDUCAR “...não é autoritarismo e nem permissividade.”


EDITORIAL Agradecemos por todos os retornos amorosos que recebemos após o lançamento da Revista, ficamos muito felizes e realizadas em saber que muitos se conectaram com o propósito do nosso projeto que é traduzido em cada detalhe desde os conteúdos, o design, a diagramação e ação que pioneiramente aconteceu em uma praça pública da cidade ocupando espaços, estreitando laços, redimensionando fronteiras, gerando diálogo e encantamento entre margens, periferias e centros, em uma tarde de muita brincadeira com a Currupiu (Cultura da Infância e Projetos Co-criativos) e o palhaço Tiziu (João Lima). Que possamos ampliar cada vez mais a conexão humana da educação e infância. Que possamos gerar mais ou novos diálogos, ainda que indo na contramão de uma sociedade lucrativa, do ter, do vender, do aparecer. Continuaremos visando o ser, o compreender, o acolher e na direção “contrária” percebemos que é preciso buscar novas formas de contribuir socialmente, de nos olharmos e nos encontrarmos. E é no sentido oposto que podemos fazer diferente e alcançar novos caminhos.

Nany e Tainan

CRÉDITOS Concepção e idealização: Nany Lima (Publicitária, Produtora e Gestora Cultural) Tainan Guimarães (Psicóloga Clínica – Crianças, adolescentes e adultos) Design e Diagramação: OutPaper (Mônica Koblinger e Jéssica Taube) Revisão: Ademir Lima Distribuição: Marshmallow Ações Promocionais

Nos acompanhe nas mídias e fale conosco! facebook.com/vamosbrincar @vamosbrincaar revistavamosbrincar@gmail.com

ANUNCIE COM A GENTE! Além de divulgar o seu negócio, mostre que você também apoia essa iniciativa!

Imagem: Juarez

Andaluz


O pai, a gestora e o shopping center Por Isabela Silveira

04

As crianças conhecem Salvador?

06

Por Milena Marinho Rocha

Para nossas crianças

Paternidade na atualidade Por Mariana Paz

12

17 10

Disciplina Positiva

Por Mariana Lacerda

Dica de literatura + faça você mesmo!

Para sua criança Dica de leitura + uma poesia para o seu dia!

Trocando figurinhas: relatos reais

14 19 07 08 16 20

Terapia ocupacional em foco Por Camila Araújo

Desmistificando a Psicoterapia Infantil

Por Érika Dalle

Insucesso na amamentação: a culpa é de quem? Por Juliana Malange Marques

Outros Ventos

Musicalização + Dica de Decoração

18

Por Otavio Leal Pires

O protagonismo infantil por meio da arte-educação Entrevista com Fabiano da Silva, criador da A+Comunidade


Raízes

RAÍZES - Semeando Cultura

O PAI, A GESTORA E O SHOPPING CENTER Shoppings x Espaços Culturais Por Isabela Silveira – Atriz, performer, produtora e gestora cultural

A

educação vai muito além da escola e, sabemos bem, se inicia na família desde que nascemos. Seja formada por uma, duas pessoas ou uma aldeia inteira, na família estão os primeiros professores de cada criança. Se o IBGE nos conta que lares monoparentais (onde apenas um adulto responde pelas crianças e jovens) se multiplicam no Brasil, ao nos aproximarmos dos dados saberemos que nas casas com crianças quase 30% há uma mãe o conduzindo. Já pais solo respondem por somente 4% desse total, diferença que não pode ser desprezada.

terno de 2ª a 6ª. Talvez por isso seja cada vez mais comum ver homens sozinhos com as crias em ambientes de entretenimento ou culturais, já que os dias “deles” não são marcados pelas mesmas obrigações quanto os das mães. Se há um lado positivo, há também a ansiedade por fortalecer vínculos

‘a mamãe é chata’ e ‘o papai é legal’, atribuindo unicamente à decisão pessoal e não ao contexto as experiências vividas com cada um. Por isso é importante aproveitar os finais de semana para exercitar o direito à cidade, o contato com o patrimônio local, a diversidade de saberes e a fruição artística, por exemplo, como forma de amenizar essa percepção e contribuir para uma formação multifatorial e conectada com a realidade.

“...ansiedade por fortalecer vínculos...”

Assim sendo, grande parte dos pais está com seus filhos (as) poucas vezes por semana, sendo comum destinar a eles os finais de semana e/ou feriados. Como as atividades escolares ocupam considerável parte da rotina infantil, do banho às tarefas de casa, é coerente imaginar que ao assumirem esses cuidados as mães não disponham de tempo livre para o lazer ex-

4

afetivos em tempo tão reduzido, levando-os a escolher as programações que mais agradem aos filhos, sem restar espaço para refletir sobre o impacto daquelas práticas na rotina dos demais dias. E se sábado e domingo é dia de passeio, pizza e sorvete, mas o brócolis, as camas para arrumar e a escola ocupam os demais dias, é natural que isso impacte as crianças sobre a percepção do estilo parental de cada um, e algumas passam a acreditar que

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

Como gestora de um teatro por cerca de quatro anos, construí o projeto “Encontros de Domingo” após ouvir de um pai que, nos dias “dele”, preferia ir logo ao shopping. Ao perguntar o porquê, alegou que as opções dos centros de compras sempre conseguiam agradar, mesmo que a maior parte estivesse orientada para o consumismo e alimentação hipercalórica. Apesar de até ele saber que não era o mais adequado, basicamente não tentava mudar por medo da criança achar um outro pro-


grama chato, ao passo que o shopping oferecia risco quase zero de desagradar. Na hora emudeci e quase lhe dei razão. Mas aceitei a provocação e semanas depois construí uma ação pensada como uma resposta: o ‘Encontros’ oferecia na manhã do último domingo do mês um café regional, contação de histórias, brincadeiras, desenho na parede, curtas de animação e um espetáculo para crianças de 00 a 12 anos. Uma manhã inteira de atividades com ingresso popular, numa oportunidade única para que aqueles pais solo pudessem fazer ecoar nos “seus dias” valores similares aos cultivados na rotina diária dos pequenos, incluindo ainda orientação sobre a convivência em um espaço cultural.

Secretamente, dei continuidade em minha mente ao diálogo que tive com aquele pai durante cada sessão destinada às crianças. Então quando explicávamos sobre a proibição de se comer dentro de um teatro, por exemplo, orientávamos também a conduzirem aquela situação evitando birras. Se eu lembrava que subir no palco durante a peça era inaceitável, aguardava amparo também deles para fazê-las entender a restrição. Fosse fazendo desaparecer pirulitos que teimavam em permanecer na boca minutos antes da cortina abrir, reduzindo conversas a um volume aceitável sem brigas, evitando quedas e trombadas, tudo visava compartilhar com aqueles pais a responsabilidade por uma educação para a coletividade afetuosa e atenta.

E foi uma alegria constatar que juntos nos saíamos muito bem na empreitada de agradar as crianças sem precisar recorrer a delícias já (re)conhecidas das compras e fast food. Após espantarmos o fantasma do pai-chato-que-não-me-deixa-fazer-o-que-eu-quero, aproximamos aquelas paternidades de novos papéis, demonstrando ricas possibilidades de práticas culturais tão educativas quanto prazerosas. Se o brócolis passou a ocupar o prato também aos domingos eu não saberia dizer. Mas afirmo que na suposta batalha Shopping versus Teatro as famílias saíram vencedoras, pois puderam ampliar seu repertório vivencial para novas e maravilhosas fronteiras de arte e cultura para todas as idades.

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

5


Imagem: Carolina Costa

FOTO

Raízes

RAÍZES - Semeando Cultura

AS CRIANÇAS CONHECEM SALVADOR? Por Milena Marinho Rocha – Administradora Cultural

S

alvador, a primeira capital do Brasil. Todos repetem esta frase, mas poucos exploram o seu significado histórico, principalmente quando se trata de tempos remotos, quando Salvador ainda não era considerada oficialmente como cidade. O que une, além da água salgada, a Ilha de Itaparica, o Largo da Mariquita no Rio Vermelho e a areia branca da Barra? Quais as possíveis relações entre Thomé de Sousa e de Garcia D’Ávila?

Mesmo com um rico repertório histórico permeando o imaginário coletivo, pouco nos aprofundamos sobre o passado. O antigo Mercado do Peixe no Rio Vermelho hoje se transformou num “point” gastronômico da cidade, nomeado Vila Caramuru; mas quantas crianças sabem que Caramuru foi o apelido dado ao europeu que aqui chegou em condições míticas, antes mesmo de Pereira Coutinho e de Thomé de Sousa, lá no início do século XVI? E quantas conhecem a incrível história da indígena Paraguaçu, que se casa com Caramuru, que manda construir a igreja da Graça e que se torna Catarina Paraguaçu depois de uma viagem à França? No caso de Catarina Paraguaçu, tangencia-

6

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

mos a sua história através dos festejos do Cortejo 2 de Julho, festa tutelada pelo Estado da Bahia como patrimônio cultural estadual; mas nem por isto a manifestação cultural consegue revelar toda a sua importância para a construção da identidade soteropolitana e baiana. É preciso ancorarmos melhor o conhecimento aprendido nos livros com os monumentos históricos, espaços, equipamentos e manifestações culturais. Precisamos apresentar a nossa história de forma integrada, onde a compartimentação do saber dê lugar ao aprendizado contextualizado. Além disso, é preciso multiplicar as iniciativas de educação patrimonial¹ na nossa cidade. ¹Educação Patrimonial - “Trata-se um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural... “ (HORTA, 1999; p. 6)


Cultivo

CULTIVO - Saúde e Cuidado

TERAPIA OCUPACIONAL EM FOCO

O

Por Camila Araújo – Terapeuta Ocupacional

ser humano é dotado de muitas capacidades ocupacionais, se algo dificulta ou impede de que sejamos participativos nas nossas atividades diárias, na capacidade de autonomia e independência como seres sociais, o Terapeuta Ocupacional pode ajudar. A profissão é voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos com alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras; O Terapeuta Ocupacional tem formação nas áreas de saúde e sociais, sua intervenção compreende avaliar o cliente como um ser práxico, objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida. (COFFITO).

É comum ouvir relatos como:

“Meu filho não olha muito para mim ou para os brinquedos.” “Não consegue andar de carro e balanço sem vomitar.” “Não sai da toalha na praia, não gosta de areia e grama.” “Ele é tímido, não gosta de brincar com outras crianças.” “Ainda não come e não se veste sozinho.” “É tão caindo.”

estabanado,

vive

“Tão difícil ele segurar um lápis e desenhar.” Buscando descobrir os prováveis motivos, o profissional irá avaliar e identificar as possíveis causas, por exemplo, por que pode ser tão difícil segurar um lápis?

Dificuldade motora? Sensorial tátil? Força? Necessita de ajuda física? Precisa de uma adaptação que substitua o movimento de segurar? Como está a motricidade fina? Existe necessidade de intervenção? Após avaliação é traçado o projeto terapêutico diante de cada necessidade específica, através da observação das funções práticas como o brincar, a dinâmica do dia a dia, levando em consideração a formação pessoal, familiar e social de cada um. Camila Araújo - Terapeuta Ocupacional Clínica (CREFITO 7 - 10511 TO). Especialista em Neurologia e Neuropsicologia,

Bobath

e Integração Sensorial de Ayres.

Vamos VamosBrincar?! Brincar?! | | 2ª Edição Edição 1 | 2018

7


Bússola

DESMISTIFICANDO A PSICOTERAPIA INFANTIL Quando buscar e como é realizada Por Érika Dalle – Psicóloga Clínica Infantil

P

ara cada fase da vida há um cuidado específico, e esse cuidado se intensifica quando falamos sobre a infância, que é uma fase de descobertas e transformações, costumo dizer que é onde construímos a base psíquica saudável de um indivíduo. Conhecer as fases do desenvolvimento infantil é item fundamental para observar se apresenta um desenvolvimento típico (esperado), caso contrário se deve orientar as famílias que busquem avaliação profissional. Esse cuidado na infância é de grande importância para que não tome proporções maiores, impedindo que as fases seguintes sejam prejudicadas, deixando, por exemplo, passar transtornos que poderiam ter seus sintomas cuidados precocemente. Cuidar das crianças é também exercer a função de prevenção da saúde mental do adolescente, tornando um adulto mais consciente de seus sentimentos.

Mas o que o é psicoterapia infantil? É o cuidado e a atenção com a saúde mental da criança, em um espaço mediado por um psicólogo, para acolhimento das angústias, medos e inseguranças, além dos momentos de intervenções e capacitações aos pais, com o intuito de promover uma infância saudável e verificar possíveis focos de alteração no comportamento, para caminhar rumo ao bem-estar, a prevenção e identificação de problemas no desenvolvimento infantil e solução de conflitos.

“...não devem sentir culpa em buscar ajuda de um profissional...”

8

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

Algumas crianças enfrentam dificuldades em expressar suas emoções, por exemplo, e através da brincadeira elas podem expandir seus sentimentos de frustração, insegurança, agressividade, medo, espanto, confusão e ressignificar os eventos traumatizantes. Desta forma, o psicólogo exerce a função de facilitador, sendo capaz de identificar os conflitos e auxiliar na busca de melhores alternativas para lidar com eles,


BÚSSOLA - Travessias da Educação ao mesmo tempo em que, orienta os pais a como intervir diante dessas situações. Cada psicólogo tem um referencial teórico no qual norteia suas ações no campo terapêutico junto ao seu paciente, mas de uma maneira geral as sessões seguem uma mesma ordem. Os primeiros encontros são realizados com os pais, ou quem exerce essa função. O psicólogo realiza entrevistas iniciais para reunir informações sobre a história da criança e para conhecer o contexto e rotina da família em que a criança está inserida, o que chamamos de entrevista de Anamnese. Com ela, o profissional tem condições de compreender o contexto da criança, bem como compreender a queixa principal e levantar hipóteses para assim estabelecer objetivos do trabalho, elaborando um planejamento terapêutico e verificando, por exemplo, se faz necessário o encaminhamento para outros profissionais como neuropediatras, fonoaudiólogos, psiquiatras infantis, etc. As sessões seguintes são realizadas apenas com a criança. Sabemos que as crianças não expressam seus sentimentos e emoções como fazem os adultos, por isso, o atendimento a ela é feito de forma lúdica, ou seja, “brincando”. Algumas abordagens se valem de protocolos e escalas para validar o desenvolvimento infantil, elas geralmente são utilizadas quando o profissional observa sintomas característicos de algum transtorno especifico, como TEA (Transtorno Espectro Autista), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), etc.

A participação dos pais neste processo é imprescindível para sua evolução, muitas vezes, se faz necessário solicitar aos pais informações, como também, oferecer-lhes auxílio para o desenvolvimento satisfatório do processo psicoterapêutico. A parceria com a escola também é importante, uma vez que é no ambiente escolar que a criança passa boa parte do tempo, assim é comum que os psicólogos visitem a escola da criança. O acompanhamento psicológico na infância promove uma vida emocional equilibrada, já que é ensinada de forma lúdica a importância de compreender as emoções para enfrentar os conflitos de forma saudável. A família e a criança que buscam o acompanhamento por um psicólogo só tem ganhos! Filhos não vêm com manual de instrução nem tão pouco com “receita de bolo”, portanto você pai ou mãe não devem sentir culpa em buscar ajuda de um profissional que estudou e compreende o desenvolvimento infantil de forma aprofundada. Busquem sempre um profissional da área quando sentir dificuldades ou necessitar de apoio. Érika Dalle - Psicóloga Clínica Infantil e Coordenadora da Clínicas Erasmo Neto.

27 de Agosto Dia do Psicólogo “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Carl Jung

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

9


Bússola

BÚSSOLA - Travessias da Educação

PATERNIDADE NA ATUALIDADE O que você acha disso? Por Mariana Paz – Psicóloga Infantil

V

ocê pode ser pai, padrasto, padrinho, avô ou simplesmente filho, mas, com certeza tem alguma história com a paternidade. Paternidade não se refere somente à experiência, mas abrange toda e qualquer maneira de estar no mundo que o faça sentir-se pai. Nando Reis, exemplifica muito bem os seus sentimentos na canção Espatódea, que fez para sua filha, Zoé:

ximas linhas é uma breve análise sobre as relações de paternidade na atualidade, além de sugestões para os pais criarem laços de confiança com seus filhos(as).

Se não fosse a Zoé”

A impressão que eu tenho é que esta oportunidade de assumir todas as responsabilidades da paternidade foi retirada da nossa sociedade por muito tempo. Todos os bônus e ônus foram deixados para a maternidade. Atualmente, após tantas transformações nos papéis sociais de homens e mulheres, o preço a pagar ficou muito alto, tanto para os pais como para as mães. Em outras palavras, ambos precisam assumir as responsabilidades na educação dos filhos(as) e, ao mesmo tempo, aproveitar os momentos preciosos que podem vivenciar juntos. Os pais estão correndo atrás desse prejuízo histórico. O mundo está mudando e a paternidade também.

O cantor expressa o quanto a vida ficou melhor depois da chegada da filha, a razão da sua vida. Muitos pais compartilham dessas mesmas sensações e o que veremos nas pró-

No dia a dia do consultório me deparo com famílias o tempo inteiro e tenho observado o quanto às coisas vêm modificando. Pais estão cada vez mais presentes (de presença física)

“Não sei o quanto o mundo é bom

Mas ele está melhor deste que você chegou E explicou O mundo pra mim Não sei se esse mundo está são Mas pro mundo que eu vim já não era Meu mundo não teria razão

10

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018


interação que contribuem no convívio entre pais e filhos(as)? ** Participe da vida de seu filho(a). Pergunte a ele sobre o seu dia e o mais importante, conte sobre o seu! Compartilhar as suas próprias experiências pode ser uma maneira superinteressante de fortalecer vínculos. Aí vale contar histórias de quando você era criança e como passou por situações muito parecidas com as dele(a). Isso aproxima e torna a relação muito mais leve! ** Valorize os sentimentos do seu/sua filho(a) e ajude a pensar em outras possibilidades de ação. Quando ele/ela lhe contar sobre como ficou magoado(a) com alguém, por exemplo, não diga que é uma bobagem ou exagero. Às vezes fazemos isso com a intenção de ajudar mas estamos passando a mensagem de desvalorização do sentimento. Nestas horas o melhor é apoiar, mostrar que está compreendendo o seu sentimento e se colocar disponível. Permita que ele/ela conte a situação e que expresse suas emoções. A partir daí podemos pensar juntos em como agir diante do problema. ** Oriente e acompanhe. Filhos(as) têm muito mais chances de atender às instruções e orientações do pai quando estão conectados a ele. Quando ouvidos e respeitados, a confiança aumenta e os diálogos são mais fluidos!

na sala de atendimento para pais e bem mais presentes (de presença participativa) no cotidiano e na demanda dos seus filhos(as).

** Faça uma surpresa! Que tal pegar uma folguinha no trabalho e fazer uma surpresa para o seu/sua filho(a)? Pense em algo que vocês curtem fazer juntos e aproveitem muito! Mariana Paz

O fato é que não estamos mais necessariamente reproduzindo o pai que tivemos, mas estamos assumindo o pai que queremos ser agora e esse é um dos valores que norteiam a caminhada na busca pela transformação paternal.

Psicóloga pela Faculdade Ruy Barbosa (2004) e

Que tal pensarmos em formas simples de

www.marianapaz.com.br

tem mestrado em Psicologia Experimental pela Universidade Federal do Pará (2007). Formação em psicoterapia analítico comportamental (FAP) e terapia de aceitação e compromisso (ACT) pelo Instituto Continuum (PR- 2015).

Vamos VamosBrincar?! Brincar?! | | 2ª Edição Edição 1 | 2018

11


Bússola

BÚSSOLA - Travessias da Educação

DISCIPLINA POSITIVA Uma maneira equilibrada de educar Por Mariana Lacerda – Terapeuta Ocupacional, Educadora Parental em Disciplina Positiva e doutoranda em Saúde da Criança.

A

disciplina positiva é um modelo educativo que você adulto pode usar com a criança com firmeza, afeto e empatia. Ela é uma escolha na forma de conduzir a criação, os limites e os diálogos, na qual criamos laços de amor, confiança e conexão, porque entendemos que é muito importante, conhecer as necessidades por trás dos comportamentos da criança e atender a elas de forma consistente e amorosa. Sabemos por vários meios que tudo isso traz efeitos extremamente positivos nas relações familiares e especialmente no futuro das crianças. A disciplina positiva não é autoritarismo e nem permissividade. Ela é uma maneira equilibrada de educar que envolve o uso de técnicas como prevenção, distração, e substituição para conduzir as crianças com gentileza. Mãe de sete filhos, Jane Nelsen desenvolveu o conceito de Disciplina Positiva a partir das

12

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018

teorias de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs e na Disciplina Positiva acredita-se que as crianças têm o direito à dignidade e ao respeito, assim como qualquer outra pessoa. Por isso, ao se considerar a maneira como lidamos com os desafios da educação de uma criança, devemos pensar se essa maneira: 1. É respeitosa? (desejamos tanto que as crianças nos respeitem e respeitem os outros, mas se não somos respeitosos com ela, como ela vai aprender isso?); 2. Essa maneira contribui para que a criança sinta um senso de aceitação e importância? (Todo ser humano busca se sentir aceito e importante, especialmente as crianças que muitas vezes se comportam mal porque não se sentem assim); 3. Essa maneira é efetiva a longo prazo, ou resolve o problema agora, mas não traz efeitos positivos para o futuro?


4. Ajuda a criança a desenvolver valiosas habilidades sociais e de vida para que possa desenvolver bom caráter? 5. Ajuda a criança a descobrir o quanto ela é capaz e a usar o seu poder pessoal de maneira útil? Aprender a usar a disciplina positiva pode não ser fácil para muitos adultos, mas é possível e os efeitos são maravilhosos, acredite! Na Disciplina Positiva entendemos que os erros são grandes oportunidades de aprendizado. O mau comportamento, os desafios, são oportunidades que os adultos têm de desenvolver com a criança habilidades que são importantes para elas se tornarem adultos felizes, saudáveis, seguros. Quando ficamos muito preocupados com as metas em curto prazo, isto é, eliminar um mau comportamento, por exemplo; perdemos essa chance. A Disciplina Positiva vem então, como uma nova forma mostrar para a criança os seus erros e

como lidar com as suas emoções. Quando a criança apresentar um comportamento inadequado, vale a pena trabalharmos com ela a resolução de problemas, ou seja, o que pode ser feito diferente da próxima vez. Junto com

se um rio. Ela sai de uma nascente, começa sua própria vida e vai percorrendo esse rio. E ele tem margens que o acompanham. O papel dos adultos é acompanhar esse rio, é ser margem. Porém, a margem nunca limita, no sentido de impedir, o rio de chegar onde ele precisa ir. Ela nunca vira uma barreira, pelo contrário, vai sempre apoiando, ao lado. O sentido de dar limites para mim é muito mais sustentar, dar suporte, apoio, do que correção. Diz respeito muito mais a uma conexão antes da correção. A gente se conecta primeiro com a criança para depois colocar os limites.”

“...não é autoritarismo e nem permissividade.” as crianças, trabalhamos formas de lidar com as situações difíceis. Devemos sim colocar limites, mas precisamos ir além! Precisamos estar ao lado das crianças, ter empatia por elas, acompanhar seu desenvolvimento. Eu gosto muito dessa metáfora: “a criança é como se fos-

Mariana Lacerda Terapeuta Ocupacional, Educadora Parental em Disciplina Positiva e doutoranda em Saúde da Criança. Através de sua trajetória pessoal e profissional, entende e acredita que o afeto em família, na escola e na comunidade, é a chave para o desenvolvimento da criança. Seus estudos e atuações são pautados pelas abordagens da Antroposofia, Pedagogia Waldorf, Reggio Emilia, Emmi Pikler, Montessori, Integração Sensorial e Disciplina Positiva. www. marianalacerda.com.br

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018

13


Cultivo

CULTIVO - Saúde e Cuidado

INSUCESSO NA AMAMENTAÇÃO: A CULPA É DE QUEM? Por Juliana Malange Marques - Consultora em Amamentação, Mestre e Doutora em Neurociências

“E

u queria muito amamentar mas não tinha leite suficiente.” “Meu leite era fraco, meu bebê chorava de fome.” “As mulheres da minha família não tiveram leite, por isso eu sabia que também não teria.” “Amamentar dói. Não aguentei a dor.” São frases comuns que você provavelmente já ouviu pelo menos uma vez na vida e podem vir associadas a expressões de desapontamento e justificativas como “Amamentar faz cair o peito”; “Amamentar deixa o bebê muito dependente”. Mulheres que não têm sucesso na amamentação sentem-se compelidas a se justificar socialmente; uma falsa ideia de incapacidade. O insucesso na amamentação pode gerar frustração e até depressão materna, uma vez que toda e qualquer dificuldade é tomada como fracasso pessoal. Mas será que a amamentação é de fato algo que emerge naturalmente do contato da mãe com o seu bebê? Será que basta o bebê no seio para que tudo flua linda e poeticamente como nos contam? É claro que não! A imagem vendida de instinto materno, de que nossa natureza mamífera irá se encarregar desse processo natural e espontâneo é o primeiro golpe que levamos na amamentação. Como mamíferos que somos temos, em tese, o aparato necessário para a produção láctea (endogenamente guiada pela secreção e regulação hormonal na gestação e após o parto). No entanto, a amamentação é um processo aprendido: tanto o recém-nascido quanto a mãe estão se conhecendo e

14

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

se entendendo, especialmente no primeiro mês após o parto. Conseguir uma boa pega do bebê pode ser extremamente difícil e este passo é crítico e determinante para tudo que se segue na amamentação. A esta imagem idealizada, somam-se os inúmeros mitos que circundam o universo do aleitamento materno ainda nos dias de hoje. Estes mitos estão “na boca do povo” e chegam aos nossos ouvidos como palpites de pessoas do nosso círculo de convívio e, infelizmente, como (des)orientação de profissionais de saúde. Insucesso na amamentação por leite fraco ou insuficiente, mama pequena, obesidade da mulher e até mesmo comprometimento do desenvolvimento cognitivo e emocional do bebê (especialmente quando se trata de bebês maiores de 1 ano) são mitos muito difundidos. Surgiram ao longo da história da amamentação por diversos motivos culturais e ganharam forças com o poderoso marketing da indústria de alimentos e seus “substitutos do leite materno”. Infelizmente, a maioria dos profissionais de saúde não passa por uma capacitação específica, dirigida ao aleitamento materno, e reproduz desinformação, sem base científica alguma. Este cenário desolador não é exclusivamente brasileiro: Dr. Jack Newman, médico pediatra canadense, especializado em amamentação e nome de referência no meio,


tos. Suas pesquisas reforçam a soberania do leite materno como alimento inigualável e incomparável do ponto de vista nutricional e imunológico, bem como seu papel no desenvolvimento do cérebro e funções cognitivas do bebê, com consequências positivas para toda sua vida. O leite materno supre as necessidades nutricionais e emocionais do bebê, sendo o principal alimento durante todo o primeiro ano de vida, e possui valor nutricional mesmo após este período. Além disso, previne doenças futuras como diabetes e obesidade, tem impacto no capital humano e na redução das desigualdades sociais.

relata esta mesma realidade em seu país. Ele diz que, além de não saberem orientar as mães sobre a pega correta, os profissionais de saúde também não conseguem identificar uma ordenha efetiva, que garantirá ao bebê leite suficiente para sua dieta. Prescrição desnecessária e abusiva de fórmulas, indicação inapropriada de bicos artificiais e chupetas sustentam a chamada “cultura da mamadeira”, grande responsável pelas altas taxas de desmame precoce. Como resultado, a imagem da mãe aleitando seu bebê é perdida - uma das razões pelas quais as pessoas de um modo geral não sabem como dar suporte à mãe que amamenta, afirma Dr. Newman. Recomendações equivocadas sobre preparo de mamas durante a gestação ou sobre horários e duração das mamadas (em oposição à livre demanda), e o total desconhecimento do manejo de lesão e dor nas mamas (consideradas “normais”) são muito comuns. Cesar Victora, pesquisador brasileiro internacionalmente reconhecido, vem sistematicamente apresentando evidências científicas que não dão respaldo a estes recorrentes mi-

Pelas razões acima, é nossa tarefa, enquanto sociedade, proteger, promover e apoiar a amamentação. No Brasil, apenas 37% dos bebês são amamentados exclusivamente até o sexto mês de vida, como preconizado pela OMS, e a maioria pelo período irrisório de 54 dias. Em um contexto em que profissionais de saúde despreparados e pressões da indústria alimentícia, impedem o crescimento do aleitamento materno no mundo, é possível atuar individualmente e impactar estas taxas de amamentação? Felizmente, sim! Intervenções da família e comunidade podem melhorar as práticas de amamentação rapidamente, elevando o início precoce em 86% e a amamentação exclusiva em 20%. Acolhendo e apoiando a mulher que amamenta você pode ser um agente de transformação no seu entorno. Com atitudes simples como assumir tarefas para que ela esteja sempre disponível para o bebê, promover a autoconfiança materna, não incentivar a oferta de bicos artificiais e aconselhar a mulher a buscar ajuda especializada, você pode fazer toda a diferença na vida da dupla. Quando uma mulher não consegue amamentar, a culpa é de todos nós.

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

15


OUTROS VENTOS

7 Benefícios da musicalização no desenvolvimento infantil

16

A neurociência indica a infância como um excelente período para aprendizados. Nessa fase há ampla condição para desenvolvimento de aptidões, a chamada janela de oportunidades. Através da musicalização, a criança pode obter inúmeros benefícios que perdurarão por toda vida, além de se divertir muito nas aulas!

3. Acelera o processo de fala, através da dicção e aquisição de vocabulários;

A criança que faz musicalização infantil:

7. Melhora capacidade de socialização, integração e divisão de espaços.

1. Trabalha e desenvolve os dois hemisférios cerebrais; 2. Aprimora a concentração, criatividade e memória;

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018

4. Aprende mais facilmente outros idiomas; 5. Desenvolve a coordenação motora e lateralidade; 6. Amplia o raciocínio lógico e pensamento matemático;

Por Marina Monroy professora de musicalização, flautista e uma das fundadoras da Sambalelê, escola de musicalização infantil itinerante.

Balanços em apartamentos? Sim, existe uma alternativa! É possível fixar um balanço em apartamento, incorporando o brinquedo à decoração. Para isso, é preciso deixar cerca de 1,5 metro livre. Claro que as medidas variam, no caso de lugares pequenos, é melhor que seja mais robusto e funcione como uma espécie de poltrona de balanço, que tem a movimentação menor. É necessário fixar os ganchos que irão sustentar o balanço na laje mas antes certifique-se com um profissional sobre a quantidade de carga que a sua laje suporta. Atenção para não haver nenhuma janela próxima! Por Clip Arquitetura – Carolina Costa e Gabriela Marxl


Para nossas crianças

Sessão interativa destinada às crianças

DIA DOS AVÓS Dica de literatura e faça você mesmo! Por Tainan Guimarães – Psicóloga Clínica

A

vô, voinha, meu vô, vovó, entre tantas outras formas amorosas que encontramos para chamar os nossos avós e é comum associar esses nomes a alguma lembrança, afinal, “menino criado com vó” tem muitos dengos, mas também ouve muitas histórias, principalmente de épocas que ainda não éramos nascidos ou que ainda éramos muito pequenos. Talvez alguns fatores os tornem tão especiais, com eles entramos em contato direto com a nossa identidade e sentimento de pertencimento, posto que a maioria (se não todas) as narrativas que eles trazem falam sobre a família. Por isso, a indicação do livro A Colcha de Retalhos, que conta sobre uma linda relação do neto com sua avó onde acabam “costurando lembranças” e resgatando alguns fatos da família a partir de retalhos de tecidos explicando o sentimento de saudade. A indicação é em homenagem ao dia dos avós (26 de julho) para que crianças e adultos possam se conectar com os avós que tem ou já tiveram.

A colcha de retalhos Conceil Corrêa da Silva e Ney Ribeiro Silva. cas para realizar a atividade: - A atividade terá sentindo quando pai/mãe trabalham juntos com as crianças. - Ao incluir nomes na árvore fale um pouco sobre a pessoa, resgate momentos e responda com detalhes as perguntas que provavelmente seu filho (a) possa vir a fazer. - Recorram a referências materiais, no caso fotos, para mostrar as pessoas, coisas ou lugares. Estimule a memória afetiva! - Não podemos esquecer de colorir! Dê cor a essas histórias e a esse momento tão significativo pintando a árvore! Compartilhe com a gente o resultado! Tire uma foto e marque a gente nas redes sociais @vamosbrincaar.

Faça

voc ê

mes mo!

Que tal aproveitar a leitura do livro e fazer com as crianças uma “colcha de retalhos”, resgatando os nomes dos familiares na árvore genealógica?! Uma atividade simples, mas muito importante para o entendimento da própria origem e do ciclo da vida. Seguem algumas di-

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

17


Para sua criança

É

muito comum os pais me pedirem indicações de livros sobre educação infantil e este aqui entrou para um dos favoritos da minha lista, mas só indico para quem realmente está disposto a refletir sobre seu papel como educador, pois não traz dicas nem fórmulas para educar crianças e sim um convite para ser mais consciente nesse processo enquanto Ser Humano que guia novos Seres Humanos aqui na Terra.

Sessão interativa destinada aos adultos

Poesia para seu dia! CORAGEM DE SER Ura Hegan O que é esse sentimento? Que não vem com rótulo

Um livro, sem dúvida, de extrema profundidade que tem a espiritualidade como base do propósito da educação e muito gostoso de ler porque a psicóloga e autora Shefali Tsabary cita exemplos de muitas famílias que pôde acompanhar.

Nem bula de explicação.

Uma leitura pra se fazer, guardar para revisitar trechos interessantes e reflexivos, emprestar e também presentear os amigos.

O que é esse sentimento?

Dica de Livro por Roberta Lima

Esquece de imprimir as recomendações E nunca apresenta todas as advertências.

Que não espera ser convidado Não avisa a hora de chegar Simplesmente se autodenomina proprietário de nós E chega, se instala, e fica e domina.

O que é esse sentimento? De infinita plenitude Repleto de mistérios Que nos presenteia com o pulsar E com sabedoria para amar

O que é esse sentimento? Que caminha, frutifica, vivifica “Pais e mães conscientes: como transformar nossas vidas para empoderar nossos filhos”. Editora Rocco

Sem pedir absolutamente nada em troca E, em apenas sendo Faz refletir em nós A coragem de sermos mães.

18 18

Vamos Vamos Brincar?! Brincar?! || Edição 2ª Edição 1 | |2018 2018


Trocando Figurinhas Relatos Reais

PAI, EM TEMPO INTEGRAL E ADVOGADO, NAS HORAS VAGAS Por Otavio Leal Pires

N

o livro que estou escrevendo sobre a importância da guarda compartilhada e do afeto paterno, friso que o convívio da criança com o pai é imprescindível, sendo seu dever cuidar e educar, ao tempo em que essa convivência representa um direito fundamental da própria criança. Contudo, existem alguns empecilhos no exercício pleno da paternidade. O principal óbice que enxergo na condição de pai é o preconceito, fruto da nossa história e legislação. Paira no senso comum a ideia de que as mães possuem uma capacidade inerente de cuidar melhor do filho, restando para os pais, em geral, o mero papel, mas não menos digno, de auxiliar das mães. Esse senso comum é tão forte, que, na maior parte das famílias, os pais incorporam isso e terminam por repetir o velho modelo de separação das tarefas do lar, onde o homem sai para trabalhar, enquanto a mulher cuida das crianças, quase que solitariamente. Na Lei do Divórcio (1977), já ultrapassada e com diversas normas revogadas, era dada preferência à mãe na guarda de filhos, quando houvesse culpa de ambos os cônjuges em relação ao divórcio. A situação vem evoluindo no aspecto social e jurídico, no sentido

de não mais atribuir às mães, de forma exclusiva, o papel de cuidar e educar os filhos. A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dever da família o desenvolvimento e proteção dos filhos. Desde 2014, após alteração do art. 1584, §2º, do Código Civil Brasileiro, a guarda compartilhada é tida como a regra. Na guarda compartilhada, o tempo de convívio e a responsabilidade no cuidado e educação dos filhos deve ser dividido entre a mãe e o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos. Vale pontuar que a responsabilidade mútua existe em qualquer das hipóteses legais de guarda, seja ela compartilhada ou unilateral. Precisamos, portanto, nos livrar da ideia de que a função de cuidar seja isoladamente da mãe, cabendo ao pai “apenas” prover. No dia que superarmos isso em nós mesmos, certamente a sociedade abrirá os olhos e perceberá o equívoco existente nessa dualidade. Repensar esse ponto de vista dará espaço para o aprofundamento das relações entre pai e filhos(as), de forma plena, sendo este um fator decisivo na criação, educação e saúde mental dos nossos filhos.

Vamos Vamos Brincar?! Brincar?! || Edição 2ª Edição 1 | |2018 2018

19 19


Ubuntu

UBUNTU - Somos Todos Um

O PROTAGONISMO INFANTIL POR MEIO DA ARTE-EDUCAÇÃO Entrevista com Fabiano da Silva, criador da A+ Comunidade

V

B: O que é a A+ Comunidade?

FS: É uma Produtora Artística Pedagógica com Responsabilidades Sociais, idealizadora da Companhia Arte CircoLar, criada pelos empreendedores culturais Fabiano da Silva e Surian Árabe que atua nas cidades de Salvador/BA e Boa Vista/RR. Desenvolve projetos culturais voltados para o mundo lúdico infantil como espetáculos, oficinas de arte, esquetes circenses e teatrais, saraus, criações de histórias, contações de histórias dramatizadas, criações de jogos pedagógicos, desenvolvimento de painéis de artes visuais lúdicas, criações de ambientes artísticos pedagógicos, entre outros projetos. A nossa metodologia é através da valorização da infância com estímulo ao protagonismo infantil por meio da arte-educação nas suas mais variadas vertentes artísticas. VB: Como surgiu? FS: Surgiu organicamente como uma extensão dos trabalhos de desenvolvimento infantil de minha mãe, Vera Ferreira da Silva, educadora social. Essa influência afetiva contribuiu na minha formação profissional, artística e humana. Através de uma inquietação social de auto questionamento sobre qual é o nosso papel para uma sociedade mais igualitária, somados a pesquisa, a ação sobre a cultura da infância e ao protagonismo infantil me fez enxergar um nicho na contribuição da sustentabilidade das artes e da educação social através do empreendedorismo cultural, dessa forma, montei um plano

20

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

de negócios com apoio do SEBRAE e iniciamos um novo ciclo no mercado das artes. VB: Para quem e como é feito? Quais as premissas, a essência do projeto? FS: Os projetos são pensados para as crianças, independente das classes sociais. A nossa essência é o AFETO! Criei um modelo de prospecção afetiva com base na vivência no curso do Palhaço Educador e na educação familiar, fomentando boas relações com parceiros artísticos e institucionais. Após identificarmos as demandas e necessidades tanto da região quanto das instituições que estamos propondo ideias, demos início ao nosso processo criativo para o desenvolvimento de projetos direcionados ao mundo lúdico infantil nas mais variadas vertentes artísticas que podem ser acompanhados em nossas redes sociais. A A+Comunidade mantém dois projetos artísticos sociais de ocupações de espaços em diferentes cidades (Salvador/BA e Boa Vista/RR), em Salvador acontece o “Projeto Beco das Crianças” foi criado pelo Produtor Educador Fabiano da Silva e construído por 15 crianças e Jovens através da espontaneidade num Beco da Comunidade do Alto do São João, Pituaçu com o objetivo de transmitir a ideia de valorização e pertencimento de


espaços públicos, para que gere sentimento de cuidado e zelo onde brincam e interagem, além de fortalecer as relações de amizade entre eles. A construção teve o apoio do Projeto Arte da Gente e do Artista Visual Denissena. O projeto agora funcionará durante 6 meses com as atividades: Pedalinho/Bike e Poesia na Lagoa e na Ciclovia do “parque” de Pituaçu; Passeios Culturais; Mediação Familiar e Assistência Jurídica. Para retornar com o projeto foi criado um planejamento de captação de recursos chamado “AMIGOS DO BECO”. Envie um e-mail para: becodascriancas@gmail.com e receba um material informativo de como você pode apoiar, participar e acompanhar o projeto. VB: Quem já se tornou um “AMIGO DO BECO”? FS: Família Pé na Terra; Família Verde Plantão; Companhia Arte CircoLar; Projeto Arte da Gente; Ateliê Beto D’Bila; Loca Bike (Bicicletário do Parque de Pituaçu); e MMUNHOZ ADVOCACIA e ODS Mercado. VB: E a rede afetiva? FS: O termo e a ação “rede afetiva” surgiram após propor um projeto de ocupação artística para o território de Pituaçu com o Poeta Passarinho Alexandre Carvalho e Igor Sant’ana doutor em educação, o Palhaço Caxambó. Durante as articulações fomos convidados pelo Produtor Cultural Rubão, representante da Marca “Planta Nativa”, para construir o Festival Alternativo de Pituaç, essa foi à oportunidade de lincar as ideias em comum e iniciar a proposta de rede afetiva conectando projetos sociais e culturais, educadores, pontos de cultura, escolas, agitadores culturais,

bibliotecas, centros religiosos, com o objetivo de ocupar e aproximar de forma consciente o “parque” Metropolitano de Pituaçu das comunidades do seu entorno numa perspectiva de conscientização política socioambiental. A minha migração para o Norte do país foi um reflexo desse modelo de rede afetiva numa perspectiva de intercâmbio cultural entre essas duas regiões de grande força cultural, Norte e Nordeste. VB: Pra você, de que forma a arte e a cultura podem contribuir na educação e no desenvolvimento infantil? FS: A arte na vida das crianças está ligada diretamente a emoção, encantamento, prazer, alegria. Esses sentimentos são importantíssimos para uma proposta de socialização. É necessário que a arte seja apresentada às crianças de forma livre, estimulando-as no fazer, ao protagonismo, pedindo autorização a elas para pintarem o mesmo desenho juntos, elogiando o que elas produzem, isso eleva a autoestima, cria empoderamento, aproxima a criança do educador, da família e cria uma válvula de escape para as crianças que já demonstram um nível de estresse precoce. Não tenho dúvidas que as crianças que têm acesso à arte e à cultura de forma brincante desde a infância, possuem uma grande chance de ter uma vida afetiva adulta mais saudável e plena, tornando-se protagonistas de sua própria história. Isabel Vitória, 8 anos: “Meu tio, eu preciso pintar, preciso fazer arte, eu estou estressada”!

Vamos Brincar?! | 2ª Edição | 2018

21


Guia da Família Festa no carrinho

Leve nosso carrinho para sua festa ! Substitua as mesas de doces, salgados ou lembrança e tenha um visual diferente sem gastar muito! umxero@outlook.com (71) 98221-2098

22

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018

Thais Guimarães Coordenadora

(71) 9 8620.0946 tatiguima@yahoo.com.br


ARQUITETURA

EVENTOS

SAÚDE

Arquitetura com Afeto (71) 98896-9695 / 99106-7125 oi@cliparquitetura.com @clip.arquitetura www.cliparquitetura.com

Comemore com a gente: Casamentos, aniversários, bem nascidos, festas... (71) 99110-9800 @carlitobrownie

Consultora em Amamentação Orientação pré-natal; Manejo clínico dor e lesão; Desmame gentil (71) 99990-4848 jumalange@gmail.com @eupeito(facebook)

CLIP Arquitetura

EDUCAÇÃO

Sambalelê Musicalização Escola itinerante especializada em Musicalização e eventos infantis. (71) 99204-6244 sambalele_musicalizacao@hotmail.com @sambalele_musicalizacao

Carlito Brownie

Juliana Malange

PSICOLOGIA

Camila Araújo

Mariana Paz

Psicóloga Infantil Mestre em Análise do Comportamento (71) 98897-8911 @marianavpaz (instagram) @marianapazpsicologainfantil (facebook) www.marianapaz.com.br

Patrícia Fulli Psicóloga Clínica - CRP 03/9968 Gestalt-terapia Adolescentes e Adultos (71) 99345.8146 patriciafulli@gmail.com Vilas do Atlântico

Terapeuta Ocupacional Esp. em neurologia e neuropsicologia. Bobath e integração sensorial de Ayres (71) 3351-2837 camilaaraujo.to@gmail.com Edf. Christian Barnard, sl. 804, Cidade Jardim

Lúcia Daiello

Psicomotricista & Psicanalista (71) 99358-8037 luciadaiello@hotmail.com @lucia.daiello Vilas do Atlântico

Vamos Brincar?! | Edição 1 | 2018

23


LANÇAMENTO 1ª EDIÇÃO

BATE-PAPO Olá Mari e Ana, tudo bem? A leitora, Fernanda Ramos, mandou uma dúvida pra gente sobre o Mindfulness e ela quer saber: Existe a lgum c urso p rático para aprendizagem da prática?

Mariana Paz e Ana Martha Lima Olá Vamos Brincar, diz a Fernanda que t emos cursos vivenciais de Mindfulness direcionados para todas as idades, com turmas para adultos, adolescentes (13 a 1 7 anos) e crianças ( 5 a 11 anos). Os cursos acontecem em uma frequência variada e as turmas são abertas geralmente 4 vezes ao ano. Temos turmas regulares com duração de 4 a 8 encontros e turmas intensivas, com 2 dias de duração. Ela pode a companhar a s informações pelas redes sociais: @marianavpaz @anamarthalima

Muito obrigada, m eninas! C ertamente essa dúvida pode s er d e muitas outras pessoas também! E vamos divulgar para todos os leitores a Ouvidoria A colhedora! Qualquer dúvida, crítica, sugestão de tema ou comentário é possível entrar em c ontato pelo direct @vamosbrincaar ou email: revistavamosbrincar@gmail.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.