7 minute read
O agro que faz Maringá mais forte
Mesmo em anos difíceis, devido a estiagens ou queda de preços das commodities, o agronegócio continua sendo a força motora da economia
Com uma produção de 1,260 milhão de toneladas de soja nos 300 mil hectares cultivados na região de Maringá (PR), 30% em média superior aos volumes normalmente produzidos, a região encerra mais uma supersafra de grãos de verão e inicia outra de inverno, impulsionando a economia local. Neste ano, o clima ajudou e os produtores deram o melhor de si, adotando a mais alta tecnologia, mas, o mercado frustrou a maioria dos produtores na hora de comercializar a produção, e os efeitos disso recaem sobre toda economia da região, segundo Jucival Pereira de Sá, chefe do Núcleo Regional de Maringá da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), que engloba 31 municípios.
Advertisement
De família tradicional de produtores, Cleber Veroneze Filho planta soja e milho na região de Maringá, juntamente com a família. Ele produziu este ano 204 sacas de soja por alqueire (84,3 sacas por hectare). “A produtividade foi altíssima, mas, nem deu para comemorar muito. Nossa renda será baixíssima”, lamenta ressaltando que “isso se deve a recuada dos preços das commodities, desde janeiro, no mercado internacional e nacional, cerca de 30% no caso da soja e de 40% no caso do milho, num ano em que tivemos a safra mais cara de toda história, devido à escalada de preços dos insumos. Se a produtividade tivesse sido semelhante aos anos normais, não conseguiríamos fechar as contas”, comenta Cleber.
Foram produzidas 21 mil sacas de soja na região de Maringá, que se fossem comercializadas a R$ 160,00 ou R$ 180,00 a saca, valores praticados no início da safra, renderiam R$ 3,3600 milhões a R$ 3,780 milhões à economia da região de forma direta. Com a queda nos preços da soja para uma média de R$ 125,00 a R$ 130,00 a saca (em meados de maio), os valores que seriam injetados na economia da região de Maringá caíram para R$ 2,625 milhões a R$ 2,730 milhões. A mesma queda pode ser sentida também no preço do milho, cultura que ocupou o lugar da soja em 254 mil hectares da região, na safra de inverno, e que deve ser colhido até agosto. Os valores praticados no mercado caíram praticamente pela metade.
“Isso aí é só o que o produtor deixou de ganhar. Na economia da região, esse valor seria multiplicado, causando um efeito muito maior. Os impactos são sentidos em toda cadeia e pode afetar a geração de emprego e renda lá na frente”, afirma Ricardo Luís Lopes, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá, que tem como linha de pesquisa o agronegócio. “Nos últimos anos, mais secos, todo comércio, serviços e indústrias sentiram o impacto, apesar de que a seca foi compensada em parte pela alta das commodities”, acrescenta Jucival.
Mas independente das dificuldades enfrentadas, o agronegócio continua mostrando sua força. Ano a ano o setor é que tem promovido superávit na balança comercial do Brasil e sustentado a economia. A competitividade do agronegócio brasileiro é histórica e foi construída com muito esforço do setor produtivo e da pesquisa. Para o vice-presidente executivo da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, José Cícero Aderaldo, o agronegócio, assim como acontece no País, é o carro-chefe da economia regional.
“Quando tudo vai bem no campo, esses reflexos positivos são sentidos na cidade, impulsionando muitos negócios e movimentando o comércio”, comenta. O agro, segundo ele, está envolvido com praticamente todas as atividades que geram desenvolvimento econômico e social, tanto que as regiões de agricultura forte são as que oferecem melhor qualidade de vida à população. Maringá, para ele, é resultado historicamente da força do campo e mesmo tendo fortalecido nas últimas décadas o setor de prestação de serviços, a agricultura contribui de forma decisiva para que a cidade continue crescendo.
“O agro regional registrou, nesta safra, uma das melhores colheitas dos últimos anos e ainda que a cotação da soja esteja aquém do valor do ano passado, quando os produtores comercializarem a produção, esse dinheiro será injetado na economia local. Maringá e região se beneficiam de um agro forte. É um setor que movimenta uma ampla cadeia, incluindo fornecedores de sementes, defensivos, concessionárias, imóveis e o comércio de forma geral”, destaca José Carlos Barbieri, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM). Na prática, isso significa que a agricultura e a pecuária são responsáveis não só pelo que acaba na mesa do consumidor, mas por uma cadeia de produção que envolve vários segmentos da economia: agricultores, fabricantes de maquinário, nutricionistas, veterinários, transportadores, chegando até os lojistas e ao consumidor.
Segundo dados do Ipardes – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, o agronegócio tem sido uma das principais molas propulsoras da economia do Paraná promovendo não só uma maior interiorização da geração de renda e emprego nos últimos anos, mas também dando sustentação ao Estado, movimentando os negócios e fazendo com que este sinta com menor intensidade os efeitos de recorrentes crises econômicas que atingiram todo o País.
Terceiro maior produtor de soja do país, o Paraná deve colher 83% mais na safra 2022/23 em relação ao ciclo anterior, de 12,1 milhões. O estado sustenta outros bons indicadores, como segundo maior produtor nacional de milho, quinto maior produtor de cana e maior exportador de frangos, além da criação de suínos, bovinos e a produção de trigo, celulose, feijão, café, laranja e uma gama enorme de produtos.
Citando dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), último publicado pelo órgão, Ricardo
Luís Lopes, da UEM, diz que a economia paranaense é a quarta maior do Brasil, onde os resultados dos municípios do Interior do Estado estão diretamente relacionados à pujança do setor agropecuário. No Paraná, o agronegócio respondeu em 2020, por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), e no caso de Maringá, a história não é diferente. O município deve responder por 32% a 35% do PIB.
Segundo informações do IBGE, o Paraná tem nove cidades entre as 100 mais ricas do Brasil, que possui 5.572 municípios, e o agronegócio impulsiona todo esse resultado: Curitiba (6º), São José dos Pinhais (46º), Londrina (47º), Maringá (52º), Araucária (53º), Foz do Iguaçu (59º), Ponta Grossa (62º), Cascavel (80º) e Paranaguá (97º). No Paraná, Maringá é a 4º maior economia, perdendo apenas para Curitiba, São José dos Pinhais e Londrina sendo que os últimos dois municípios estão bem próximos no ranking.
A diversificação e a industrialização da produção agropecuária é que têm dado força para os pequenos municípios na geração de renda e emprego e nas cidades maiores do interior, combinado com o setor de serviços, o agronegócio tem impactado o desenvolvimento econômico, contribuindo, sobremaneira, para o aumento da representatividade econômica do interior do Estado conforme dados do Ipardes. “Dos segmentos do agronegócio – agropecuária, fornecimento de insumos, agroindústria e serviços, englobando transporte, comércio e demais setores -, o de serviço é o segmento fundamental nas medições do peso do agronegócio, respondendo por cerca de 40% do total da movimentação do agronegócio. Isso significa geração de renda agregada e geração de empregos”, enfatiza Ricardo Lopes.
De acordo com um levantamento recente do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), nos últimos três anos, o setor gerou quase 360 mil empregos formais no País. Entre 2019 e 2022, a proporção de vagas com carteira assinada no agronegócio brasileiro passou de 38,4% para 40,1%, e são vagas mais qualificadas. Esse é o maior percentual da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, que começa em 2016. Em 2022, o estudo da FGV Agro mostra que quase 14 milhões de pessoas trabalhavam na agropecuária e nas agroindústrias do país.
Também, ao contrário dos demais setores, o agropecuário é desconcentrado e pulveriza a riqueza, distribuindo-a entre os municípios. Além da geração de renda e empregos, a interiorização da economia apoiada no agronegócio traz também outras vantagens como a redução das desigualdades regionais. Há menores fluxos migratórios dentro do Estado, refletindo as oportunidades de trabalho no interior, além de melhores serviços públicos, com a evolução das receitas das prefeituras dos pequenos e médios municípios.
Ao contrário de outros estados, onde prevalecem as grandes propriedades com produção voltada essencialmente para a exportação, no Paraná , e em Maringá, grande parte das propriedades ainda é de médias, pequenas e até micro propriedades, que diversificam a produção e pulverizam a renda entre os produtores. Este é o caso do produtor Gelmo Eduardo Volpato, que planta 2,5 hectares em Sarandi, município vizinho a Maringá, e se especializou no cultivo de orgânicos, produzindo uma linha diversificada de produtos entre verduras, legumes e frutas e que agora começa a investir numa agroindústria, agregando valor a sua produção.
De família de produtores, Gelmo trabalhou muitos anos com a produção tradicional de hortaliças, mas desde 2015 decidiu apostar nos orgânicos, vendendo sua produção através do sistema delivery e na feira de orgânicos, realizada todo domingo, próximo a catedral de Maringá e que conta com 15 produtores de orgânicos.
Otimizando os canais de venda criados e agregando valor a produção, aproveitando tudo que é produzido, há dois meses Gelmo buscou certificar sua cozinha industrial e passou a produzir e comercializar bolos, bolachas, tortas, conservas, doces, geleias e produtos minimamente processados. “É um nicho de mercado que identificamos em Maringá e temos nos aperfeiçoados a cada dia. O município já é o maior do Paraná em produção de orgânicos”. E o bom é que além de produzir alimento saudável, em um espaço reduzido, Gelmo também gera renda e empregos a outras famílias. Na propriedade, trabalham ele, a esposa Rose e mais três empregados.
Mesmo prevalecendo as pequenas e médias propriedades na região, isso não significa desatenção com o mercado externo: Maringá foi a segunda cidade paranaense que mais exportou produtos em 2022 e a 14º lugar no ranking nacional, movimentando U$ 2,9 bilhões, que convertidos para a moeda nacional chega a R$14,7 bilhões, 27,5% maior do que em 2021, segundo dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. O agronegócio é a área que aparece com maior índice de exportações no município. Dentre os principais produtos está a soja, com 58% de negociações, o milho, com 23% e o açúcar, com 7,5%. Da mesma forma o Paraná figura entre os principais estados exportadores do Brasil, com peso considerável do agronegócio nas exportações.
O dinamismo e a excelência do agronegócio paranaense, e maringaense, derivam sobremaneira da atuação do segmento cooperativista. Nas últimas décadas, as cooperativas buscaram adicionar valor à produção primária, o que ampliou o PIB do agronegócio paranaense. Maior empresa de Maringá, a Cocamar tem um papel fundamental no impulso do agronegócio regional, não só por regular o mercado, comprando e vendendo produtos, difundindo tecnologias, diversificando a produção e buscando alternativas para o desenvolvimento regional, mas também por agregar valor a produção, industrializando parte da produção.
O faturamento da Cocamar no ano passado foi de R$ 11,1 bilhões, o maior de todos os tempos, um crescimento de 15% em relação aos R$ 9,6 bilhões registrados no ano anterior. Para 2023, entre outros objetivos, como continuar expandindo a rede de unidades de atendimento, a previsão é de um faturamento de R$ 13,7 bilhões, volume de recursos que é reinvestido na região, gerando maior desenvolvimento.