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Hasan
Na edição dedicada a celebrar Maringá, uma capa que celebra a força da vida. Elegemos Fátima Hasan e sua história de intensas superações para traduzir a força de todo um povo que transformou terra e barro em uma verdadeira metrópole
A exemplo das mais de 9 mil pessoas que anualmente adotam Maringá como seu novo lar (fonte: Sinduscon NorPR), a Cirurgiã-Dentista doutora Fátima Hasan também mudou-se para Maringá para aqui estabelecer sua vida, carreira e vocação, se tornando hoje proprietária e Diretora Técnica de uma das melhores clínicas de odontologia da cidade, empresa com o selo Infinity Prime de qualidade, um certificado emitido pelo grupo Icom de São Paulo. Filha mais velha de dona Raimunda Carvalho, Fátima nasceu em Peabiru mas logo mudou-se para o pequeno município paranaense de Céu Azul, caminho de quem vai para Foz, com sua família de parcos recursos materiais, que sobrevivia basicamente da colheita de algodão.
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Iniciada na colheita do algodão ainda criança, Fátima foi uma menina que, embora rodeada por circunstâncias humildes, conservou desde sempre dentro de si uma percepção aguçada sobre a vida. “Lembro como se fosse hoje, o dia que cheguei em casa e disse para minha mãe que ‘não é
Nesta página, e ao lado, Fátima Hasan em sua sala de atendimento. Ela, que possui 4 títulos de especialização, faz questão de ser a primeira avaliadora de cada paciente, para então direcionar aos demais especialistas da clínica possível que a vida seja isso’, eu já tinha um inconformismo dentro de mim que não sei nem de onde veio, porque na minha família e no meu meio nunca tive uma pessoa para servir de referencial, o meu caminho eu encontrei dentro de mim”, declara Fátima.
Seu inconformismo irremediável levou Fátima, aos 13 anos e ainda sem estudo, a tomar a decisão de mudar-se para Cascavel em busca de oportunidades de vida. Na nova cidade, encontrou um emprego de balconista, foi morar em um pensionato de moças e matriculou-se na primeira série do ensino fundamental. “Com 13 anos eu já era uma menina magra e muito alta, minha presença na sala de aula com as crianças era muito discrepante, e eu sofri muito preconceito por ter a idade bem mais avançada que os demais alunos, até que tomei a decisão de sair do ensino regular e ir para o supletivo noturno junto de adultos”. Para conseguir liberação do juizado para cursar o supletivo noturno, Fátima teve que ir a Céu Azul para buscar sua mãe para esta assinar sua permissão ao juiz. “Me matriculei na Escola Francisco de Queiroz, onde estudei com muitos idosos, e de lá trago minha paixão pela terceira idade. Se entra um idoso na minha clínica a consulta não tem fim”, diz, aos risos.
Apenas 3 anos depois, por estar cursando o supletivo, terminou o ensino fundamental e médio, quando mais uma vez foi acometida por seu inconformismo. “Não é possível que eu saí de boia-fria para ser balconista e ganhar só um salário mínimo”, pensava ela. Em sua mente, uma convicção: “preciso ser vendedora comissionada”. Com este objetivo foi bater na porta da Concessionária Giombelli em Cascavel, a revendedora Chevrolet da época. Por não ter carteira de habilitação (e nem idade para tal) a gestora do RH disse ser impossível admiti-la como vendedora, e ofereceu um trabalho como secretária, mas a inconformada Fátima insistiu até que conseguiu um trabalho na expedição de peças. Em síntese, o responsável pela expedição é o profissional que passa para os mecânicos as peças automotivas, ganhando um pequeno percentual de comissão por cada Ordem de Serviço aberta. “Em uma época sem computador, rapidamente decorei o número de série das principais peças, e encontrava facilmente no estoque da empresa centenas de diferentes tipos de peças com muita agilidade”.
Fátima ficou na expedição por um ano, quando voltou a insistir por uma oportunidade na venda de carros. Sem sucesso em conseguir se transferir de cargo, foi na
Concessionária Ford Slaviero, onde conseguiu se colocar diante do gerente comercial do setor de carros novos. Com muita diplomacia e boa vontade, conseguiu persuadi-lo a colocá-la na venda com a condição de dividir a comissão com o vendedor que, habilitado, fosse levar o carro até o cliente, uma cultura muito presente na época. “Finalmente na venda de carros, logo me destaquei como quem busca e cria oportunidades, fiz diversas ligações a empresários, visitas e busca ativa por clientes”, explica. Com esse ímpeto e determinação, Fátima promoveu, logo em seu segundo ano de Slaviero, uma venda histórica: renovou a frota completa de mais de 40 carros da distribuidora Lacta de Cascavel para o novo Escort Hobby, a sensação da época. “A comissão foi tão alta que eu consegui tirar um Escort zero pra mim”, relembra.
Nessa altura de sua vida, Fátima já havia se mudado para uma pensão melhor, compartilhando apartamento com duas estudantes universitárias, já tinha carro próprio e ajudava financeiramente a mãe e a irmã mais nova, levando ambas para morar consigo em Cascavel.
ENFIM, MARINGÁ
Foi em seu último emprego em Cascavel que Fátima conheceu o pai de sua filha, Thaisnara — hoje uma médica residente em cirurgia plástica — de quem engravidou aos 19 anos. A mudança para Maringá aconteceu quando seu ex-namorado, que trabalhava em uma distribuidora de combustível, disse ter recebido transferência para Maringá. “Eu só sairia de Cascavel se pudesse levar junto minha mãe e minha irmã”, e assim ela fez, com Thaisnara nos braços com apenas 30 dias de vida.
Não preciso me esmerar nos detalhes da tragédia que se seguiu, basta dizer que Fátima e toda sua família foram abandonados por seu ex-namorado à própria sorte no hotel Golden Ingá. Com uma irmã de 13 anos, uma mãe dependente dela financeiramente, um bebê recém-nascido e com uma dívida de uma quinzena de hospedagem no hotel, Fátima e sua família sofreram despejo do hotel e foram parar em um abrigo indicado pelo hotel: o Asilo São Vicente de Paula. “Minha mãe implorava para voltarmos a Cascavel, onde eu poderia tentar reaver meu emprego na concessionária, mas eu tinha um sentimento muito forte de que pra lá eu não voltaria mais”. A partir daquele momento, depois do desaparecimento do pai de Thaisnara, ele nunca mais procurou ou participou da criação da filha.
Fátima treinando na academia do condomínio, uma rotina que conserva religiosamente todos os dias às 6h40 na companhia de seu personal Ela em happy hour com a mãe e, logo abaixo, sua filha Thaisnara, verdadeira e mais preciosa joia, hoje uma médica residente em cirurgia plástica.
Fátima se viu sozinha em uma cidade onde nunca pusera os pés. Certo dia, ainda sob os cuidados do asilo que proveu abrigo e alimento para a família, Fátima saiu a andar pelas ruas, sem saber de antemão o que fazer ou para onde iria, mas dentro de si ardia a chama de quem já havia passado pela experiência de se (re)erguer do zero. Em sua caminhada, estando ela necessitada de coisas para seu bebê, parou em uma farmácia da rede São Paulo, conversou com a proprietária, para quem abriu a verdade sobre suas circunstâncias, encontrando na bondade dela a possibilidade de comprar fralda, chupeta, leite e mamadeira para sua filha, totalmente fiado, para pagar depois (Fátima permaneceu cliente desta farmácia por longos anos).
Nos dias que se seguiram, ela precisava reaver seus pertences pessoais, da sua filha, mãe e irmã, retidos no hotel por falta de pagamento. Fátima passou pelo edifício comercial que fica ao lado do antigo Cine Teatro Plaza, e viu ali placas de um escritório de advocacia. Ali, buscou orientação jurídica para conseguir reaver seus pertences. “Foi assim que conheci o advogado que não apenas conseguiu recuperar nossos pertences sem cobrar honorários advocatícios, como também conseguiu nos hospedar em uma casa de lazer localizada no Jardim Liberdade, que funcionava como uma espécie de associação de advogados nos finais de semana”.
Com a família devidamente abrigada, Fátima encontrou condições materiais e emocionais de finalmente buscar por emprego. O local? Obviamente uma concessionária. Sua admissão na concessionária Peugeot, à época localizada na Av. Colombo, foi “de primeira”, por assim dizer. “Não fiz a linha coitada em nenhum momento, ao contrário, mostrei todo o desempenho que eu havia conquistado no trabalho anterior e como eu poderia agregar à equipe nesta nova experiência”, diz Fátima. Nessa jornada, ela ainda tinha 19 anos.
Foi o ano de 1995, e nem preciso dizer que Fátima logo demonstrou todo seu potencial comercial, saindo de seu abrigo temporário na associação dos advogados após 4 meses, e estabelecendo morada em um apartamento alugado na rua vereador Basilio Sautchuk, centro de Maringá.
Passados 3 anos, estava tudo muito bem? Estava tudo muito bem! Mas o inconformismo de Fátima é uma fonte inesgotável. “Preciso fazer uma faculdade”, foi o desejo que subiu ao seu coração ao perceber que nem mesmo um bom emprego oferece segurança suficiente para uma mãe solteira que tem 3 vidas sob sua responsabilidade.
Depois de muito pesquisar, Fátima encontrou na odontologia a possibilidade de, após formada, ser dona de sua própria carreira, um dia abrir sua clínica, fazer sua carteira de clientes e trabalhar de forma autônoma. O problema é que o curso de odontologia era integral, e ela precisaria abrir mão do seu emprego. “Foi exatamente o que eu fiz, minha mãe achou que eu estava maluca de uma vez por todas, mas eu tinha uma certeza: se consegui chegar até aqui, posso ir além”. Sabiamente, Fátima dedicou-se integralmente aos estudos, fazendo paralelamente trabalhos extracurriculares. Em sua vida, teve êxito em diversos projetos paralelos, um deles rendeu inclusive um projeto de lei que legalizou os pet care itinerantes, carros de banho e tosa de animais de estimação em domicílio. É mole ou quer mais?
Após sua rotina acelerada, Fátima adora encontrarse com ela mesma em seu apartamento. Nesta página, ela desfruta de um vinho branco na varanda gourmet, onde escreve em seu diário cartas para Deus, todas as noites.
Odonto Hoje E Sempre
Fátima saiu das cadeiras da faculdade e, uma vez com seu diploma, já realizou o sonho de ter sua própria clínica, todinha para si. Como? Na faculdade, conheceu uma professora que estava em franco processo de mudança de endereço da sua clínica particular. Fátima viu ali a oportunidade de arrendar a clínica que seria fechada. E assim conquistou seu primeiro endereço na Rua Mitsuzo Taguchi. De lá para cá, Fátima estabeleceu sua clínica própria, com equipamentos próprios, na Rua Paranaguá, Zona 7, apenas 5 anos depois, e seguiu em uma crescente expansão do seu corpo clínico até hoje estar estabelecida em mais de 400 metros quadrados em plena Av. JK, 918, Zona 2 de Maringá.
Neste caminho, Fátima conquistou nada menos do que 4 títulos de especialização e diversos outros cursos na área de reabilitação e lentes de contato. “Eu me sinto na obrigação moral de deter todo o conhecimento, para fazer uma boa gestão de toda minha equipe”.
Hoje a doutora Fátima oferece por meio de sua clínica vários profissionais especializados em todas as áreas da odontologia, sendo referência em lente de contato e reabilitação oral. Além da equipe técnica ela conta também com equipe administrativa, comercial, marketing e financeiro. “A nova estrutura da Harmoni é a realização de um grande sonho, de ter uma clínica não apenas confortável para o paciente, mas que fizesse páreo com toda a riqueza de conhecimento científico que temos aqui dentro por meio de nossos especialistas. Nunca medi esforços para proporcionar, sempre, as melhores ferramentas de trabalho para meus dentistas”, diz Fátima.
Vale ressaltar que ela faz questão de ser a porta de entrada para todos os pacientes da clínica, sendo a primeira avaliadora de cada cliente. Com isso, busca sempre direcionar o paciente para tratamentos justos e com valores acessíveis. “A vida já me deu muito, agora já posso devolver através do meu ofício, na forma de saúde e sorrisos”, conclui, emocionada e grata por cada pessoa que a apoiou em sua jornada.
E vocês acham que ela já chegou onde queria? Entusiasmada e com o sorriso de sempre ela diz que reserva grandes novidades para a próxima edição da WIT. Aguardem!
Ad3 Arquitetura
Arquitetos Giovana Kunzler e Leonardo Frazatto junto da médica dermatologista Cláudia Sandri, para quem assinaram todo o projeto de arquitetura de interiores de sua nova clínica. Foto por Ackley Serrano.