Ricardo Gusmão_TFG FAU USP

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Arquitetura na Reestruturação do Território do Bexiga Trabalho Final de Graduação

Ricardo Gusmão orientadora: Klara Kaiser Mori FAUUSP Junho 2011



Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Arquitetura na Reestruturação do Território do Bexiga Trabalho Final de Graduação

Ricardo Lopes Gusmão

BANCA EXAMINADORA: Klara Kaiser Mori - Orientadora Ana Lúcia Duarte Lanna Marcelo Morettin

trabalho defendido em 29.06.2011



AGRADECIMENTOS

aos meus avós, Helena e Antônio, Tarsis e Roberto aos meus pais, Lirian e José Roberto, e meu irmão, Rodrigo

aos professores

e aos caríssimos

à orientadora, Klara Kaiser Mori Marcelo Morettin Ana Lúcia Duarte Lanna Alexandre Delijaicov Fabio Mariz Maria Cecília Barbieri Gorski Michel Gorski Feres Khoury Vinicius Andrade

Luisa Amoroso Ramiro Levy Guido Otero Luis Felipe Abbud Luis Pompeo Martins André Turazzi Cadu Marino Marcelo Otsuka Alexandre Yassu Ricardo Levy Julia Pinheiro Pedro Vannucchi Denise Yui



ÍNDICE

1 2 3 4

INTRODUÇÃO

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SÃO PAULO

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O BEXIGA

21

PROJETO

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BIBLIOGRAFIA

a ligação leste-oeste

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a faixa de intervenção

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o edifício híbrido

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1.

a esquerda: unidade mínima para cidade. Projeto para Boston, do arquiteto Marcel Breuer

INTRODUÇÃO

A arquitetura na cidade de São Paulo tem que ser pensada em uma escala metropolitana. Se apoiados em um visão mais abrangente da construção da cidade, os pressupostos do projeto de arquitetura extrapolam as questões internas ao lote para assumir um papel mais ativo na constituição da cidade e na inclusão do cidadão. Pensando um sistema de intervenções que contenha um pensamento mais coerente entre as diversas necessidades da cidade, a arquitetura pode alcançar uma transformação local e lidar simultaneamente com questões de escala metropolitana. O tema deste Trabalho Final de Graduação é de como, através da arquitetura, ativar relações programáticas e espaciais já presentes em um contexto urbano complexo como o de São Paulo, mas que são sistematicamente negligenciados pela falta de coesão no ato de construir a cidade. Segundo o arquiteto Marcel Breuer, a arquitetura só adquire massa critica para a transformação do meio urbano a partir de uma determinada escala de atuação. Seu modelo de urbanismo é uma organização modernista da cidade: amplas vias expressas de circulação por onde corre o trafego mais intenso, separadas das ruas locais que levam a bolsões verdes para os espaços de lazer e trabalho dos cidadãos. Para ele, a unidade mínima para alcançar um impacto substancial na cidade é justamente o conjunto de apartamentos, escritórios e equipamentos públicos pertencentes a esta (super)quadra. Para explicar a importância da idéia do plano moderno, o arquiteto

ressalta: “Just as we can not build a house one room at a time, so the city unit can no longer be built in a piece meal fashion.” E completa: “Local politics can have no part in this matter of urban survival – our cities outlast the politics of the day. They must be built according to technical knowledge and to satisfy general , human needs. Only when cities are built of such large units can their architectural compostition ever amount to anything that which functions, and of which we can be proud of.”1 Partindo deste ideal de planificação moderno, o desfio enfrentado neste TFG é de como aplicar essa contundência moderna na cidade de São Paulo sem passar pelo processo de tabula rasa, mas trabalhando a partir do tecido urbano existente e dos antagonismos do modo de produção da cidade para transformá-lo. A proposta é de se pensar em uma rede de equipamentos públicos de grande escala na área central da cidade. Por se localizarem em uma área já densa e consolida1 BREUER, Marcel - Sun and Shadow: The Philosophy of an Architect/ Nova York, 1956. “Assim como não podemos construir uma casa cômodo por cômodo, o tecido urbano também não pode continuar sendo construído parte por parte”, “Problemas políticos locais não podem fazer parte desta questão de sobrevivência urbana – nossas cidades são mais duradouras do que os políticos vigentes. Elas precisam ser construídas de acordo com o conhecimento tecnológico atual e visando satisfazer as necessidades humanas. Somente quando as cidades são construídas a partir destas grandes unidades é que sua composição arquitetônica poderia trabalhar para algo que funcione, e algo do qual podemos nos orgulhar.”


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da, estes equipamentos devem se articular com o tecido urbano existente e transformar o seu entorno criando novas conexões e potencializando fluxos programáticos. É claro que a intervenção lote a lote ficaria inevitavelmente aquém das necessidades (radicais) de transformação da metrópole. Para alcançar essa intensidade de transformação, o programa dos equipamentos deve ser pensado para além dos limites do lote e desenhar novas articulações com seu entorno. Desde o inicio, as referências programáticas foram claras: trabalhar com espaços que pudessem abrigar atividades educacionais, culturais e de lazer tomando como exemplo equipamentos existentes tais quais a Escola Parque, o CEU e o SESC. Alguns projetos me inspiraram na busca por uma espacialidade que tira proveito da situação existente do entorno para a partir disso propor uma intervenção que lida com a questão de como preservar e ao mesmo tempo transformar seu contexto. O projeto para o SESC Pompéia da arquite-

acima e abaixo: planta e perspectiva para o projeto do SESC Pompéia, de Lina Bo Bardi

ta Lina Bo Bardi é um exemplos dessa atitude cuidadosa e marcante no exercício de projeto. A arquiteta tira proveito da bela estrutura em concreto armado das fábricas antigas, para abrigar um generoso espaço de exposições e outras atividades mais livres e espontâneas. A heterogeneidade do conjunto composto pelas construções reaproveitadas e pelos novos edifícios desenhados por Lina ganha força e unidade na relação que a arquiteta consegue estabelecer entre os diversos usos e qualidades espaciais, que se potencializam mutuamente. Todos são conectados por um eixo central, uma rua , que distribui o fluxo e assume um caráter público para uma apropriação mais livre de seu espaço. O projeto para o Teatro Oficina, também de Lina Bo Bardi, contém uma idéia que extrapola seu espaço interno - o palco-rua que começa na rua Jaceguai e tem o potencial de se expandir pelos lotes adjacentes. Ao romper com a idéia de palco italiano e propor o palco como continuação da rua a arquiteta carrega o ideal de ex-

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acima e abaixo: projeto do Teatro Oficina, de Lina Bo Bardi. com aparência mais bruta em sua fachada voltada para a rua (e para a radial leste) e uma grande janela na lateral

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pansão do teatro para o espaço público de uma maneira muito intensa. Outra particularidade do teatro Oficina é a oposição que a arquiteta explicita ao tratar a fachada voltada para a radial com uma aparência mais bruta, aproximando-se a um bunker, e abrindo uma grande janela na fachada lateral, que se volta para o lote vazio vizinho, para uma árvore e para o córrego do Bexiga, que mesmo canalizado e enterrado, não deixa de ser uma presença significativa nas atividades do teatro (pelos muitos rituais desenvolvidos pelo grupo do Teatro Oficina), na morfologia e na história de ocupação do bairro. Outra estratégia de intervenção que trabalha o projeto urbano a partir de um edifício existente é a adotada pelo arquiteto Karel Prager. Trata-se de uma adaptação um edifício antigo às necessidades atuais através da construção de um grande bloco que se desenvolve sobre um prédio existente, construído ainda no regime comunista. A contundência da arquitetura de

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perspectiva que demonstra o potencial do teatro se expandir pelos lotes adjacentes.

Prager está no contraste e articulação que o arquiteto estabelece entre o edifício antigo e o novo. A intenção projetual presente nesta construção abriu para mim uma nova perspectiva de como enfrentar as questões de preservação e reativação de edifícios antigos, deixando claro a época de cada construção, e criando um novo modo de organizar o programa. Em 1978 o arquiteto holandês Rem Koolhaas propõe em um concurso para o parlamento holandês de Den Haag, uma intervenção que segundo o arquiteto só poderia transformar substancialmente o conjunto com uma arquitetura que assumisse sua modernidade. O projeto propõe demolições estratégicas para a construção de uma grande lâmina de escritórios e novas ligações com os edifícios existentes, que acontecem através de treliças metálicas delgadas ou infiltrando o novo programa nos pátios de antigas construções. Novamente neste projeto vemos uma estratégia de intervenção que estabelece um diálogo entre duas partes claramente


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distintas do mesmo conjunto, através de uma elaboração consistente que busca integrar uma grande diversidade de espaços e programas. Numa outra frente de investigação, envolvendo as tensões que se estabelecem entre funções urbanas, está a referência da rede de equipamentos sociais das Escolas Classe-Escola Parque desenvolvida pelo educador baiano Anísio Teixeira. A proposta consistia em construir uma rede escolar que atendesse à carência educacional do País com um plano integrado de pedagogia e apoiado em uma arquitetura (moderna) que fortalecesse esses ideais. O arquiteto Helio Duarte participou com Anísio Teixeira no desenvolvimento espacial destas escolas que visavam não apenas o ensino básico da criança, mas a formação mais completa de um cidadão ciente de seus direitos e deveres. A escola funcionaria como uma rede de equipamentos sociais onde as Escolas Classe abrigam salas de aulas comuns e a Escola Parque adiciona equipamentos escolares de uso mais coletivo,

como o teatro, a biblioteca, ateliês de trabalho manual. Ou seja, programas com conteúdo social, constituindo-se como núcleo comunitário no bairro. Esse sistema funcionaria com quatro Escolas Classe para um Escola Parque, com distâncias entre elas na escala do pedestre. A Escola Parque passa a ser pensada também como um estruturador do espaço urbano, não apenas da rede de ensino. É uma peça fundamental no desenvolvimento de uma grande metrópole, mais justa e inclusiva, constituída a partir do uso e da apropriação da cidade pelo cidadão. “O projeto era no Tatuapé, que se constitui em uma biblioteca infantil, um pequeno teatrinho ao ar livre e uma biblioteca para adultos, para atender também a população do bairro. Veja que a idéia era sempre essa, expandir-se, expandir-se como núcleo, mas não como uma coisa feita parada. Não como coisa estática.”2

acima: Expansão do Parlamento holandês. planta e perspectiva, OMA, Rem Koolhaas

2 DUARTE, Helio. Escolas Classe Escola Parque/ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo: São Paulo, 2009

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acima: Edificio em Praga do arquiteto Karel Prager. Elevação, foto de maquete e foto do local

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Escola Parque. diagrama dos turnos escolares (acima) e distribuição dos programas mais socializantes na Escola Parque

Escola Parque. A Escola Parque como núcleo do bairro se articula com Escolas Classe.

Escola Parque. Rede proposta para Salvador, Anisio Teixeira e Hélio Duarte


favelas e ocupações irregulares CEUs mapa do município de São Paulo com: 1. (acima) limites do município e seus distritos 2. favelas e os loteamentos clandestinos 3. a rede dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) fig.1

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2.

SÃO PAULO

No TFG I a pesquisa abordou o desenvolvimento da cidade de São Paulo ao longo do século XX. Entender as suas particularidades e contradições é de fundamental importância para embasar um projeto consistente com a problemática da cidade atual. Essa pesquisa foi o alicerce para a elaboração de um projeto que se relaciona com a história de seu contexto urbano e que busca baliza na escala metropolitana, apoiada no potencial sistêmico de uma rede de equipamentos públicos. A disputa pelo espaço urbano em São Paulo opera com mecanismos que privilegiam a camada de maior poder aquisitivo da sociedade. A renda de uma parcela significativa população os coloca em uma situação desigual de reivindicação pelo espaço urbano, sendo forçados pelas leis do mercado a habitar nas periferias da cidade, onde o investimento estatal em infraestrutura, habitação e equipamentos urbanos é quase inexistente. A informalidade de construção da periferia atravessa várias esferas e vai desde o arruamento sem um projeto até a autoconstrução da moradia. Com a velocidade de expansão da malha urbana, entre outros fatores políticoe e econômicos, o Estado se afasta cada vez mais de sua responsabilidade de orientar as transformações desse espaço. “The point is that intervention in space – production of space – is about transformation, rather than either conservation of existing structures, or the attainment of a particular structure

that could only be conceived as an ‘ideal’.”1 O trabalho e as necessidades da sociedade transformam continuamente o meio urbano. Muitas vezes o espaço é reconfigurado de tal maneira que não é possível reconhecer elementos que permaneceram inalterados, a cidade é portanto o produto histórico destas intervenções. Por isso, talvez a análise do que é, ou do que foi sem levar em conta seu processo atual de transformação se torna rapidamente obsoleta, pela constante mudança do espaço urbano. “Indeed, `production of space’ is transformation of space in the strong sense that the end-product of spatial intervention is not a particular (`new’) structure but the transformation of a particular structure itself.” 2 Na busca de sobrevivência nas condições de acumulação vigentes, a ocupação da população de baixa renda gerou dois anéis de informalidade: a periférica – onde suas condições de assentamento se apoiou na ocupação informal da terra; e na área central, onde sua localização se torna possível pela decadência física das edificações. É no domínio desse anel central de informalidade que recai a opção de localização do projeto. Esse segundo anel de informalidade, formado pelas áreas adjacentes ao centro da cidade, 1 DEÁK, Csaba - Rent Theory and the Price of Urban Land/ Tese de Doutorado da Universidade de Cambridge, 1985. pp110; 2 DEÁK, Csaba - Op. Cit.


cortiços favelas e loteamentos clandestinos CEUs mapa do município de São Paulo com os dois anéis de informalidade: as favelas na periferia e os cortiços da área central.

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que se encontram na condição paradoxal de se constituírem como uma centralidade da metrópole e serem simultaneamente uma periferia relativa ao centro propriamente dito e aos bairros de alto padrão. Essa condição de “centralidade periférica” no contexto metropolitano é fruto de um processo histórico de investimentos públicos voltados principalmente para a estruturação do sistema viário, sem uma política de articulação das intervenções com as áreas que as abrigam. Essa forma de atuação resultou em um tecido fragmentado e desarticulado localmente. Se transformando em um arquipélago de funções urbanas sem amarração e sobretudo sem suporte físico, onde mesmo as intervenções específicas são implantadas de modo segmentado. Uma política de intervenção e transformação destas áreas se faz cada vez mais necessária. Como lembra Lina Bo Bardi, “Faltou a São Paulo o plano diretor, como faltou ao Brasil um plano nacional, como faltam os planos re-

gionais, e aí a classe dos arquitetos é em parte responsável.”3 A idéia de um plano mais abrangente para a cidade torna-se cada vez mais urgente para buscar grandes soluções para os antagonismos da metrópole paulistana. A proposta se delineou então como construção de uma rede de equipamentos nas regiões centrais de maior carência: Santa Cecília, Bom Retiro, Brás, Glicério e Bexiga.

3 BARDI, Lina Bo. Lina por Escrito/ Cosac Naify, São Paulo, 2009.


o centro de são paulo cortiços centros esportivos SESC Zona Especial de Preservação Cultural - ZEPEC Zona Especial de Interesse Social - ZEIS praças

Mapa da região central de São Paulo. Nota-se a grande concentração de cortiços nas áreas próximas a grandes construções de infra-estrutura, como vias expressas e linhas férreas. Estas áreas apresentam grandes carências de espaços verdes e pouco acesso à equipamentos culturais ou esportivos. Este mapa revela também alguns antagonismos na legislação da cidade. É o caso do Bexiga, que

possui a delimitação de uma área de preservação (ZEPEC) e simultaneamente uma área delimitada para a construção de habitações populares (ZEIS).

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proposta de uma rede de equipamentos Retomando a proposta das Escolas-Classe Escola Parque, de Anísio Teixeira, o enfoque na região do Bexiga é colocado dentro da perspectiva de uma rede de equipamentos públicos que deveria ser criada. Com diferentes programas envolvendo lazer, cultura, esporte e educação essas edificações deveriam ser pensadas como ordenadores urbanos no que tange sua relação com a rua e o entorno, tendo sua área de abran-

gência local na escala do pedestre. A rede de equipamentos públicos teria assim alcance local, na escala do bairro, e ainda, por se localizar na área central da cidade e assim nos principais eixos de circulação, seria um sistema que alcança uma escala metropolitana de abrangência.

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bom retiro santa cecília brás

bexiga glicério



3.

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ao lado: foto aérea da Bela Vista

O BEXIGA

Por se tratar de um bairro onde a segmentação do pensamento na construção da cidade e os antagonismos legislativos que orientam as transformações do meio urbano são muito evidentes, o Bexiga foi eleito para uma investigação projetual mais aprofundada, que se orienta a partir da leitura de sua geografia e sua diversidade de usos, cultura e população. Localizado no sub-distrito da Bela Vista, o bairro se encontra em uma área de Reestruturação e Requalificação. A delimitação, feita pela prefeitura, reforça a necessidade de se pensar um plano para a região, que a transforme mas que busque preservar sua identidade. O rápido processo de urbanização de São Paulo e a multiplicação das obras de infra-estrutura necessárias para o desenvolvimento da cidade traz consigo uma constante reconstrução e reconfiguração de seu tecido urbano. O crescimento urbano transforma constantemente a paisagem da cidade, gerando um tecido cada vez mais fragmentado e por conseqüência distancia a relação do individuo com sua cidade. Esse distanciamento da população e sua cidade favorece o empobrecimento da relação do morador com sua comunidade e o desaparecimento de tradições e festas locais. A Bela Vista se encaixa nesta perspectiva de constante transformação da paisagem urbana e nela podemos perceber claramente a falta de cuidado com que as grandes obras de infra-estrutura foram pensadas do ponto de vista do impacto local que causariam. É o caso do conjunto de

viadutos da Ligação Leste-Oeste, do viaduto Dr Plínio de Queirós, que eleva a praça 14 Bis sobre a 9 de Julho e do viaduto Armando puglisi, que sai da 13 de Maio e passa por cima da Avenida Brigadeiro Luís Antonio. Hoje o bairro se encontra em estado de abandono por parte do poder publico e há uma década deixou de crescer. Há contudo uma característica particular à Bela Vista e mais precisamente ao bairro do Bexiga: apesar destas intervenções marcantes, o bairro permanece sendo berço das manifestações culturais presentes desde sua formação inicial e continua abrigando a heterogeneidade cultural e social de seus habitantes. A partir do final do século XIX, auge da monocultura do café, São Paulo torna-se um importante pólo econômico do pais e o centro do sistema ferroviário, articulando a relação entre o interior(produção) e o litoral(escoamento) da produção do café. Essa condição de articulador em escala nacional foi propulsora do crescimento da cidade, entre 1875 e 1900 a população paulistana foi de 20mil a 240mil habitantes. As antigas chácaras ao redor do centro foram sucessivamente incorporadas ao núcleo da cidade com a abertura de vias radiais de circulação e loteamentos sem muita relação entre si, gerando um caos de reticulados independentes e desarticulados. O Bexiga nasceu dessa expansão urbana e abrigou um importante contingente de mão de obra que chegava ao pais, os imigrantes europeus, prin-


vista a partir do edifício Vésper, localizado entre a rua Avanhandava e a avenida 9 de Julho, olhando o bairro do Bexiga. Nota-se a coexistência de diferentes modos de construir a cidade: o viaduto Martinho Prado (à esquerda) com sua escadaria, o viaduto do Café (à direita) os altos prédios da avenida nove de Julho e os sobrados do Bexiga ao fundo

cipalmente italianos, como resposta imediata a necessidade da atividade produtora daquele momento. Sua formação inicial foi delimitada pelo córrego Saracura (hoje canalizado para a construção da Avenida Nove de Julho) e o córrego do Bexiga. O bairro começou a se urbanizar ainda no final do século XIX, sendo ocupado principalmente por imigrantes italianos que buscavam em São Paulo novas oportunidades para trabalhar como artesãos ou pequenos comerciantes. A população residente neste começo de urbanização era muito heterogênea, composta por diversas culturas e classes sociais1. No mesmo lote habitavam os proprietários da casa principal e do comercio e em alguns casos no fundo lote era construída uma habitação coletiva ocupada por uma população de baixa renda. Esse modo de viver coletivo teve posteriormente a conotação pejorativa de cortiço, cujo estigma dificulta uma investigação aprofundada sobre seu modo muito particular de convivência e perde a oportunidade de se criar uma base teórica para uma possível elaboração projetual que visasse adequação desse modo de viver aos dias de hoje, não simplesmente a remoção desses cortiços das áreas centrais. A construção dos casarios no Bexiga com seus 1 Para uma leitura mais aprofundada sobre a formação inicial do Bexiga, ver LANNA, Ana Lúcia Duarte – Os Italianos do Bexiga: Calabreses em São Paulo, 18781930.

lotes estreitos e compridos foi rápida e compacta, surgindo muitas vezes sem nenhum projeto, da forma mais empírica possível adaptando-se ao relevo acidentado. As residências eram desenhadas pelos “capomestri”, arquitetos que não usavam planta ou arquitetos “de ponta de guarda-chuva”, expressão utilizado por Benedito Lima de Toledo. Essa proliferação dos bairros operários ao redor do centro (Brás, Bom Retiro, Glicério, etc) ficava em contraste com os suntuosos palacetes dos bairros em formação. A partir de 1940 a cidade passa por um novo processo de expansão, cresce e se verticaliza, sua população dobra e as construções de infra-estrutura necessária para esse crescimento favoreceram a rápida verticalização do centro. O bexiga resistiu (e talvez resista até hoje) à esse processo de verticalização verificada em outras áreas centrais da cidade, devido a seus lotes estreitos e compridos e a ocupação, mesmo que caótica, de uma população de baixa renda que ainda hoje é residente das habitações coletivas, hoje denominadas cortiços. Em 1950, apesar da não verticalização, a Bela Vista tinha a mais alta densidade populacional da cidade, com 17mil hab/km2 vivendo em alto grau de precariedade e com o passar dos anos, a sub-normalidade se acentuou gradativamente. Segundo ainda Toledo: “A Bela Vista é o bairro mais densamente povoado do mundo. São dezenas de quartinhos, acomodados em lotes de 4 ou 5 metros de frente e 50 de fundo.

Em cada um desses quartinhos moram famílias inteiras. É uma modalidade de favela, que não dá pra ver da rua, e que só agora começa a ser denunciada”2. Ainda hoje, apesar da redução do numero de habitantes, a Bela Vista continua sendo o distrito mais denso de São Paulo, com 243 hab/ha. Mesmo com essas características de informalidade, o Bexiga apresenta algumas atividades que tem uma grande relevância para a cidade como um todo. É o caso das cantinas, teatros, bares e restaurantes presentes no bairro que recebem uma população turista a região diariamente atrás destas atividades. Foi gradativamente equipado para receber essa população itinerante que procura seus equipamentos, mas não construiu formalmente equipamentos voltados para a população de baixa renda residente. Hoje o Bexiga não é mais predominantemente habitado por imigrantes italianos; o bairro se transformou muito e as famílias imigrantes foram gradativamente mudando para outras áreas da cidade. A crescente metropolização de São Paulo passou a receber, ao invés de imigrantes europeus, migrantes nordestinos atraídos pelas oportunidades de emprego. A busca por trabalho pode ser parecida com a de antigamente, mas ao invés de achar uma oportunidade, o migrante de baixa renda sem 2 TOLEDO, Benedito Lima de – Nesse mapa não cabe o Velho Bexiga/ Jornal da Tarde de 21/05/1969

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fig.1

qualificação encontra dificuldade de se inserir no sistema produtivo, e é então forçado a viver em condições de marginalidade: ou na periferia ou nos cortiços. Pela proximidade dos cortiços a região central, perto do trabalho e das grandes vias de circulação, a população residente, apesar da baixa qualidade de vida, apresenta-se satisfeita com o bairro onde mora, geralmente trabalhando perto e utilizando as escolas e equipamentos presentes; ao contrario das áreas periféricas da metrópole, onde o morador tem que passar grande parte de seu dia se locomovendo entre sua residência e seu trabalho. A evolução urbana de São Paulo carrega em seu modo de produção algumas características que podem ser facilmente identificadas no Bexiga. Uma delas é a adaptação através do alargamento da malha viária sobre lotes existentes, que em muitos casos perde sistematicamente a oportunidade de se pensar uma reconfiguração do entorno para melhor se acomodar a essas intervenções. No Bexiga, a construção da Radial Leste, que corta o bairro, não trouxe consigo um pensamento mais cuidadoso na escala local de sua implantação. A prioridade foi dada em construir somente o necessário para a expansão das vias de circulação, tornando-as mais eficientes (até um novo limite) sem se considerar também a melhoria das partes afetadas. Temos assim um bairro mutilado por essas grandes intervenções e sem a adequação de sua malha urbana. A construção da avenida

Rui Barbosa, outra grande via que atravessa o bairro, é outro exemplo da falta de um desenho urbano coerente no bairro. O Bexiga ficou assim dividido com um grande corte no sentido leste-oeste (Radial Leste) e outro no sentido norte-sul (Rui Barbosa). Alem desses corte internos, o antigo córrego Saracura foi canalizado para a construção da avenida 9 de Julho seguindo o plano de avenidas de Prestes Maia, e a construção sobre o córrego Itororó da avenida 23 de maio. Estas duas grandes vias impõem barreiras físicas ainda maiores para o bairro, transformando os antigos córregos em verdadeiras trincheiras urbanas com vias expressas. Atualmente o Bexiga encontra-se em uma área de transição que envolve todo o centro da cidade. Estas áreas acomodam a população de baixa renda que vive em situações de informalidade, funcionam como bolsão de mão de obra barata a uma baixíssimo custo para o Estado e para o setor privado que a emprega. O distrito da Bela Vista se encontra pressionado por grandes centros em expansão: o centro da cidade, que tem continuamente a necessidade de se expandir para manter as funções que ali se encontram, e o espigão da Paulista, que concentra ao seu redor uma área significativa de edifício residenciais de alta renda e de prédios de escritório. Mesmo pressionada por esses dois pólos a bela vista não incorpora estas atividades, com exceção do morro dos ingleses que já esta praticamente todo ocupado com

edifícios residenciais de alto padrão, por seu loteamento parcelado que dificulta a verticalização e pelo intenso sentimento de apropriação de seus moradores, que lutam pelo direito de permanecer em seu bairro.­­­­


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Os lotes vazios começam a ser verticalizados. Num esforço procrustiano de adensamento habitacional, os empreendimentos imobiliários que começam a avançar na parte mais histórica do bairro buscam construir a maior área útil possível, muitas vezes em terrenos com vias inadequadas para tal intensidade e fluxo.

identidade do bairro Os casarios históricos, que mesmo abandonados permanecem sendo utilizados.Geralmente possuem comércio voltado para a rua e habitações coletivas no fundo do lote.

[3]

Uma das escolas de samba mais tradicionais de São Paulo participa ativamente da vida do bairro e agrega milhares de passoas

O bairro possui por vezes agentes antagônicos: Silvio Santos, Zé Celso e Suplicy, discutindo o futuro do terreno vazio ao lado do Teatro Oficina. O empresário, o artista e o poder público se reunindo.

A festa da Nossa Senhora da Achiropita, uma das tradições festivas mais características do bairro.

Para a comemoração do aniversário de São Paulo, os comerciantes da rua Treze de Maio se organizam para a confecção de um grande bolo, cujo comprimento é a idade de Sào Paulo em metros. O “presente” dos comerciantes para a cidade tem seu preparo televisionado minuciosamente e é devorado em questão de segundos pela população. Isso nos faz pensar se é este o tipo de reação que o bairro deveria ter frente à metrópole.

Sob a Radial Leste, o ex-pugilista Garrido começou a desenvolver atividades esportivas. O boxe passou a assumir um papel muito importante para dar vida a espaços ociosos e motivar a população local, especialmente pela participação de moradores de rua e da população mais carente.


legislação urbanística cortiços edifícios tombados Zona Especial de Preservação Cultural - ZEPEC Zona Especial de Interesse Social - ZEIS

Segundo o Plano DIretor do município de São Paulo, as áreas da ZEIS, Zona Especial de Interesse Social, “são porções do território destinadas prioritariamente à recuperação urbanística, à regularização fundiária e produção de Habitações de Interesse Social, incluindo a recuperação de imóveis degradados, a provisão de equipamentos sociais e culturais, espaços públicos, serviço e comércio de caráter local.” Pelo mapa ao lado que cruza a delimitação destas áreas com a presença dos cortiços, podemos perceber que a previsão de construção de habitações sociais fica aquem da necessidade real de um plano habitacional para o bairro.

Ainda segundo o Plano Diretor de São Paulo, as Zonas de Preservação Cultural - ZEPEC “são porções do território destinadas à preservação, recuperação e manutenção do patrimônio histórico, artístico e arqueológico, podendo se configurar como sítios, edifícios ou conjuntos urbanos.” No mapa vemos os imóveis tombados e o conjunto urbano do Bexiga a ser preservado. A área mais característica do bairro é composta por um arruamento que conforma quadras regulares de aproximadamente 250m x 80m, com uma morfologia caracterísitca do Bexiga decorrente do ritmo da construção dos sobrados.

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Do ponto de vista da questão fundiária, percebemos a diferença de tamanho nos lotes da área mais característica do bairro (com lotes estreitos e compridos, o que dificulta a verticalização) e nas grandes avenidas que margeiam essa área, como a Avenida Paulista, a Avenida Brigadeiro Luís Antonio e a Avenida Nove de Julho, com lotes de maiores dimensões e construções mais verticalizadas.

O cruzamento dos elementos acima mencionados nos revela um antagonismo legislativo: a sobreposição das áreas de ZEIS e ZEPEC no bairro, carrega uma contradição ao delimitar uma área a ser transformada para a construção de habitações sociais e no mesmo lugar especificar o tombamento do conjunto urbano característico do bairro.


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O bairro se encontra em uma situação geográfica muito particular. Delimitado ao Sul pelo espigão da Avenida paulista, um importante divisor de águas da cidade, a Leste pela Avenida Nove de Julho, construída sobre o Córrego Saracura, e a Oeste está a Avenida Vinte e Três de Maio, implantada sobre o Córrego Itororó. No interior do bairro está o Córrego do Bexiga. A canalização dos rios e a impermeabilização do solo são fatores importantes para as constantes enchentes do bairro. Estes três rios conformam dois platôs que têm uma

ocupação distinta: entre o Córrego de Bexiga e a Avenida Vinte e Três de Maio a ocupação é predominantemente de edificios de escritórios, enquanto a ocupação a Oeste do Córrego do Bexiga é composta pela parte mais característica do bairro que são os sobrados geminados e alinhados pela rua, geralmente com comércio no térreo e habitações em cima.

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geografia

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[4]

[12]

Para entender a geografia da região e como ela define o arruamento do bairro, foi de fundamental importância a realização de uma maquete física, na escala 1:5000 que mostrasse, além da geografia natural do território, uma nova geografia construída pelo homem: são os viadutos e elevados que atravessam o bairro. Com a maquete, ficou clara a conexão que a Bela Vista faz com o bairro da Liberdade e a falta de integração entre os dois lados da Nove de Julho [1]. As avenidas Brigadeiro Luís Antonio[2] e Liberdade[3] (dois eixos econômicos importantes) se conectam por muitas pontes que atravessam a Vinte e Três de Maio [4]. Já as travessias em nível entre o Bexiga e a Consolação só foram construídas na primeira parte da Nove de Julho, até a década de 50, com os viadutos Nove de Julho [5], Major Quedinho [6] e Martinho Prado [7]. A sequência de obras de infraestrutura deu grande prioridade à circulação de automóveis na escala metropolitana e não realiza as conexões das duas margens da avenida, é o caso do Viaduto do Café (Radial Leste) [8], do Viaduto da 14 Bis [9] e do alargamento da Avenida Rui Barbosa [10], que atravessa a Avenida Brigadeiro Luís Antonio com o viaduto Armando Puglisi [11], na continuação da rua Treze de Maio [12]. A diferença de urbanidade gerada pela construção da Rótula [A] do primeiro Plano de Avenidas ainda no governo de Prestes Maia e a passagem da Contra-Rótula [B], construída no período da ditadura é marcante. Da primeira vemos na maquete a Avenida São Luís [13], a Avenida Maria Paula [14] e o viaduto Dna. Paulina [15], que conecta o centro novo (República) e o centro velho (Sé) com amplas ruas e viadutos que integram o tecido urbano por onde passam. A segunda prioriza a circulação de escala metropolitana em detrimento da acessibilidade local, causando um grande impacto em sua implantação. O exemplo no bairro é a Radial Leste, que atravessa com uma via expressa um bairro já consolidado. fig.2

[3]

[11]

fig.3

fig.4


cheios e vazios e o recorte projetual

fig.1

fig.2

diagrama com os espaços vazios em preto e as construções em branco.

diagrama com os espaços vazios em branco e as construções em preto. O desenho dos cheios e vazios do bairro revela claramenteo impacto que as intervenções da Radial e o alargamento da Rui Barbosa tiveram no bairro. As fronteiras naturais do bairro (a avenida Nove de Julho sobre o córrego Saracura e a avenida Vinte e Três de Maio sobre o córrego Itororó) ficam também muito marcadas.

30


[III]

[II]

[I]

A análise do Bexiga conduziu o olhar projetual para um recorte territorial que busca lidar com a heterogeneidade da construção urbana presente no bairro. A área de projeto acima delimitada abarca as questões de como trabalhar com a passagem de uma via expressa por um meio urbano predominantemente horizontal [I], de como equacionar a preservação e transformação de uma área onde as características iniciais do bairro permanecem [II] e de como projetar um equipamento público em um lugar onde períodos marcantes da construção da cidade se sobrepõem [III].


fig.1


4. A partir da idéia de uma rede de equipamentos sociais nas áreas centrais de São Paulo, o projeto desenvolvido no segundo semestre deste Trabalho Final de Graduação consiste na elaboração de um dos núcleos deste sistema. A análise urbana feita no primeiro semestre apontou possíveis localizações para estes pólos estruturadores, como os bairros da Santa Cecília, Bom Retiro, Brás, Glicério e Bexiga, por se tratarem de regiões centrais e articuladas com a rede de infra-estrutura da metrópole, porém com alta taxa de informalidade, baixa qualidade dos espaços públicos e pouco acesso à equipamentos complementares à vida urbana. Dentre estes possíveis endereços, escolhi o bairro do Bexiga para a elaboração de um projeto que busca integrar questões do desenho urbano e da arquitetura. O ponto de partida do projeto foi a compreensão da heterogeneidade do bairro, tanto do ponto de vista cultural quanto social, que se materializa em sua construção gerando um tecido urbano resultante da sobreposição de modos distintos de se construir a cidade. O projeto busca equalizar uma resposta conjunta à problemática levantada. Os temas da habitação, equipamentos públicos e infraestrutura nortearam o desenvolvimento espacial do projeto que, reagindo ao tecido urbano existente, formou três frentes de aturação: enfrentar a passagem da Radial Leste pelo bairro, propondo um redesenho para esta via estrururadora da metrópole, que contemple a

PROJETO

sua função de circulação mas transfigure seu impacto negativo em um eixo agregador de vida urbana. A segunda frente do projeto é o conflito entre a necessidade de se preservar um bairro histórico da cidade e simultaneamente adequá-lo às necessidades atuais da metrópole. O projeto aqui proposto buscou preservar a morfologia da parcela do bairro que mantinha suas características originais, para então reativá-la com novos programas. O terceiro movimento projetual, escolhido para um desenvolvimento mais aprofundado, é o local onde modos distintos (e quase antagônicos) de construir o meio urbano colidem. A obra do Viaduto Martinho Prado marca o fim das construções da primeira metade do século XX das transposições da Avenida Nove de Julho. Na década de 1970 a Ligação LesteOeste entra em contato físico imediato com as transposições anteriores. O contraste destas construções cria um espaço interessante para uma intervenção. O terreno escolhido é o ponto de convergência entre as duas intervenções mencionadas: hoje o espaço ocupado por um estacionamento na cota do Bexiga tem uma pequena conexão de pedestres para a Av. Nove de Julho através de uma escadaria com dimensões inadequadas considerando sua localização. A proposta para esta situação é de se construir um edifício híbrido que abrigue diversas funções de uso público que se potencializam

mutuamente, alem de realizar uma importante transposição de cotas da cidade para os pedestres. O programa deste edificio é balizado pelos outros dois eixos aqui propostos, apresentados anteriormente: o eixo de esporte e lazer na Radial Leste transformada e a rua de pedestres proposta no miolo do bairro. Assim o programa do edifício é composto por um balneário que se relaciona ao parque sobre a Radial Leste-Oeste, e um espaço de midiateca e exposições, buscado se aproximar também da riqueza da cultura tradicional do bairro. Na cota da Av. Nove de Julho é proposto o balneário, que reforça a lembrança do córrego do Saracura, canalizado na mesma cota sob a avenida. Na cota do Bexiga o edifício sobre pilotis conforma uma praça coberta, chegada de uma grande escadaria pública referenciada na escala das escadarias italianas. A transposição aqui proposta se encaixa enquanto forma no balneário sob ela, funcionando como um sistema de brises que protege a fachada Noroeste. Acima, acessado por um bloco de circulação vertical conectado por passarelas, fica o volume que contém a midiateca e espaço de exposições, que por sua configuração física possibilita a apropriação do espaço com diversos usos - configurando um equipamento público menos especializado e possivelmente mais interessante ao bairro.


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Rua Major Diogo

Rua Conselheiro Ramalho

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Prado

Rua Rui Barbosa

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Rua Treze de Maio

Rua A

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Rua São Domingos

Rua Manuel Dutra

Rua Conselheiro Carrão


O PROJETO TRABALHA COM TRÊS CONDIÇÕES URBANAS QUE DEVEM SER PENSADAS EM CONJUNTO

A passagem de uma via expressa pelo bairro: enterrando a Ligação Leste Oeste, uma oportunidade se apresenta para reaproveitar o espaço aberto por essas infra-estruturas. Assim há a possibilidade de inverter o papel problemático que esta obra tem no bairro.

Uma parcela do solo urbano que permanece com suas características originais: preservação de um modo particular de habitar e reativação de espaços ociosos.

O encontro de dois bairro e de dois períodos marcantes na construção de São Paulo: projeto de um edifício híbrido que realiza conexões entre partes fragmentadas da cidade, contendo múltiplos usos que trabalham como um conjunto para a transformação do meio urbano.

fig.1


fig.1

36


EDIFÍCIO HÍBRIDO Construção de um equipamento público na cabeceira do parque Radial e do viaduto Martinho Prado, o edifício contem multiplos usos e se constrói nos espaços vazios margeando a Av. Nove de Julho. É Híbrido pela coexistência de diversos programas que se potencializam mutuamente, trabalhando com a criação de percursos heterogêneos, e realizando conexões negligenciadas pela construção atual da cidade. O programa do edifício é a intersecção das duas intervenções anteriores.

FAIXA DE INTERVENÇÃO Permitir a permeabilidade no interior das quadras, potencializada pela re-ativação de edificio abandonados e pela construção de outros equipamentos públicos nos lotes obsoletos destas quadras. Ao Sul da Radial Leste, a faixa de intervenção lida com as questões da construção de habitações populares e preservação da morfologia do bairro.

PARQUE RADIAL Aproveitando o grande vazio urbano decorrente da construção da Ligação Leste-Oeste, o projeto propõe enterrar a via expressa e criar um parque linear que conecta as praças do bairro, atravessa a Av. Nove de Julho e chega em nível na Praça Roosevelt.

Croquis de projeto: estudo para a definição da área de intervenção



A LIGAÇÃO LESTE-OESTE O encontro de uma via expressa com um tecido urbano é uma questão recorrente. Para lidar com os vazios urbanos causados pela implantação da Radial Leste o projeto atua no sentido de construir uma rede de espaços livres, transformando o papel degenarativo do vazio urbano em um parque linear que articula as praças do bairro e fortalece a transição da Av. Nove de Julho, criando uma conexão entre a Consolação e o Bexiga, chegando em nivel na rua Augusta e na Praça Roosevelt. A constituição de um parque linear funciona também como um eixo de capilaridade que contribui com a drenagem urbana, um ponto crítico na região central de São Paulo, altamente impermeabilizada. No sentido Norte-Sul, a rua Rui Barbosa,

pça roosevelt

pça pérola byington

pça dom orione

outra via que priorizou a circulação do automóvel no momento de sua transformação, é integrada a esta rede de espaços livres pelo alargamento de suas calçadas. Esta via conecta o parque sobre a Radial à praça Dom Orione, onde existiria uma estação de metrô. O alargamento das calçadas permite a inserção de faixas de ciclovias e reforça o uso de outros meios de circulação.


Fotos do impacto da Radial no Bexiga: devido a sua implantação não uniforme, a via elevada cria situações diferentes em seu percurso.

[D]

[A]

[B]

Quando a via se encontra com o platô do Bexiga, cria-se um muro no bairro. [C]

As alças da Radial demandam grandes áreas que poderiam ser melhor aproveitadas.

Radial com sua altura máxima, para permitir a passagem de uma rua por baixo.

* Os cortes abaixo passam longitudinalmente pela Radial, com escala vertical cinco vezes maior do que a horizontal, para evidenciar as diferenças de nível presentes na travessia da via. pça roosevelt

[A]

r. avanhandava av. 9 de julho córrego Saracura

[B]

[C]

[D]

r. sto antonio córrego do Bexiga

pça pérola byington av. brigadeiro

av. liberdade

av. 23 de maio córrego Itororó

Corte transversal na situação [D]

Situação atual: via expressa elevada com diferentes alturas em relação à rua. A Radial é enterrada na Praça Roosevelt, sobe para alcançar a cota mais alta do bairro do Bexiga, afunda novamente para a passagem da av. Brigadeiro e segue rebaixada no bairro da Liberdade.

respiradouros / blocos de apoio córrego do Bexiga

córrego Saracura

A proposta é de se enterrar este trecho da Radial e reaproveitar os espaços vazios transformando-os em parque, que conecta a praça Roosevelt à praça Pérola Byington.

córrego Itororó

Corte transversal da proposta: a Radial é enterrada e a superfície transformada em parque. Os respiradouros da via enterrada são usados também como blocos de apoio ao parque, podendo ser usados como quiosques, banheiros públicos, etc.

40


fig.4

Foto da maquete: o parque sobre a Radial enterrada, com os respiradouros que funcionam como pontos de apoio ao parque e referência da paisagem. A disposição regular dos respiradouros e pontos de apoio permite que o parque suporte multiplas atividades, que podem se acoplar a esses pontos de infra-esrutra segundo suas necessidades. O espaço deste parque linear se transforma então em uma plataforma livre que poderá abrigar diversas funções.

situação atual

situação proposta

O tratamento paisagístico do parque se extende pela rua Rui Barbosa até chegar na praça Dom Orione, redesenhando a via de modo a contemplar o grande fluxo de pedestre presente e podendo funcionar como uma extensão do foyer dos muitos teatros da área. O redesenho da rua Rui Barbosa sugere a redução de uma faixa de carro de cada lado para extender a calçada que integra também uma linha de ciclovia de cada lado. O canteiro central é removido e as árvores existentes mantidas em grandes vazos, buscando uma maior integração entre os dois lados da rua.

fig.5

BEXIGA

Pela praça Dom Orione passará a linha 6 do metrô, que teve sua estação retirada na última revisão do plano do metrô. Considerando o espaçamento das estações desta linha, propõe-se a reinserção desta estação, reforçando a necessidade

0.75 km

1 km

SESC POMPÉIA

1 km

PERDIZES

1 km

PUC - CARDOSO DE ALMEIDA

0.5 km

ANGÉLICA

0.75 km

HIGIENÓPOLIS MACKENZIE

0.75 km

1.5 km

14 BIS

SÃO JOAQUIM



A FAIXA DE INTERVENÇÃO

Aos poucos a cidade se transforma, se não por diretrizes urbanas maiores, pela própria vida útil dos edificios, encurtada enormemente quando sua manutenção é sistematicamente negligenciada - como é o caso de muitos sobrados históricos do Bexiga. Essa situação reforça a necessidade de intervenção no bairro. A parcela do território do Bexiga que mais se manteve preservada é justamente onde uma intervenção faz mais sentido: antes que a transformação ditada pelo mercado desca-

racterize de forma permanente esse espaço, é necessário pensar mecanismos para uma preservação ativa destas áreas. Por o Bexiga se tratar de um bairro onde sua vida é fonte das suas principais caracterísica, essa preservação deve ir além do aspecto físico de seu conjunto urbano, para se pensar na preservação do seu modo de habitar/funcionar/circular.

fig.1


evolução histórica do bairro

fig.1

1895

Loteamento inicial do bairro, construído na cumeeira entre as várzeas inundáveis do córrego Saracura e o córrego do Bexiga.

1935

Os sobrados do Bexiga já assumem sua morfologia particular, nota-se que o miolo das quadras ainda não está ocupado. As conexões com o centro velho (Sé) e o centro novo (República) já estão estabelecidas, respectivamente pelas ruas Santo Antônio e pelo Viaduto Martinho Prado. A Avenida Paulista ainda é composta por casarios.

1943

O primeiro anel do Plano de Avenidas idealizado por Prestes Maia é construído. O bairro do Bexiga se encontra em uma posição central no vetor Sul de expansão da cidade.

1974

Nas décadas de 1960 e 1970, as grandes intervenções viárias que amarram a cidade na escala metropolitana, tem um impacto desastroso na escala local de sua implantação. A Radial Leste atravessa o bairro, cujo impacto contradiz a posição anterior do bairro em relação ao centro

44


2011

Hoje a parcela do território escolhida ainda permanece com muitas de suas características originais, mas começa a se verticalizar sem nenhuma ordem e o abandono das construções mais antigas é grande.


operações do desenho urbano

caminhos de pedestres construções reaproveitadas e propostas ZEPEC ZEIS

1

2

3

4


1 Situação atual das quadras, mostrando a sobreposição entre ZEIS e ZEPEC.

2 Lotes vazios que são potenciais vias de circulação de pedestres e galpões antigos que são reativados pela proposta, através da inserção de equipamentos de uso coletivo em suas estruturas.

3 Demolição estratégica de construções existentes. Ao sul da Radial Leste a retirada de algumas edificações permite melhorar a qualidade de ventilação e iluminação dos miolos de quadra. Ao norte da radial Leste as demolições permitem

a conexão entre os equipamentos propostos e a rua. A quadra se torna um elemento permeável.

4 A construção das edificações no miolo de quadra ao sul da Radial Leste permite acomodar a alta densidade de pessoas do bairro com condições de habitabilidade mais dignas. Transversalmente à faixa de intervenção o projeto propõe a costura de lotes vazios, articulando uma tranposição de pedestres por entre as quadras, ligando a rua São Vicente, que sai da praça 14 Bis, à rua Humaitá, construída sobre o córrego do Bexiga.

fig.1


[1]

[5]

[2]

[3] [5]

[6]

[4]

fig.1


quadras de equipamentos

[1]

Na porção da faixa de intervenção localizada ao norte da Radial Leste são propostas diretrizes para construção de equipamentos públicos e ligações de pedestres. O conjunto de programas é pensado como uma maneira de potencializar a dinâmica rica que o Bexiga traz, de movimentações dentro do bairro, na escala do transeunte. [2]

[3]

[1] Galpão abandonado que poderá receber uma oficina de cenários. [2] Lotes vazios no interior da quadra que dão espaço para passagem de pedestres. [3] Reaproveitamento da estrutura do galpão existente para criação de um mercado. O estacionamento localizado no lote vizinho é adaptado em uma circulação de pedestres. [4] Na quadra mais mutilada pela construção da Ligação Leste-Oeste no bairro do Bexiga, a proposta consiste em construir uma torre de escritórios públicos e centro de restauro.

[4] fig.2

fig.3

O edifício pode trabalhar em conjunto com o Centro de Preservação Cultural da USP, já instalado na região, na Casa da Dona Yayá. Localizada no cruzamento dos eixos da Radial, esta torre abrigará também uma praça elevada, que funcionará como um mirante voltado para esses dois eixos. [5] Diretriz de construção de habitações sociais nos lotes vazios indicados, com comércio no térreo de maneira a permitir atravessar a contrução na cota da rua, acessando o interior da quadra. [6] Proposta de uma creche pública que se coloca no fundo de duas ruas hoje sem saída, garantindo a continuidade do caráter de vila que essas vias hoje tem. A creche é ainda um equipamento importante para a população local.


fig.1


habitações coletivas As quadras ao Sul da Faixa de Intervenção foram pensadas levando em consideração as zona legislativas das ZEIS e ZEPEC. Essa condição paradoxal de se delimitar um conjunto do espaço urbano como uma área de preservação cultural e simultaneamente ter a exigência de se construir habitações socias pode ser enfrentada por um projeto de arquitetura que trabalhe as duas demandas: preservar a morfologia e cultura do bairro e prover habitações dignas para a população de baixa renda. A demanda por habitações sociais vem da alta densidade do bairro atrelada a ocupações de cortiço. O cortiço mais do que uma falta de opção pode ser lido como uma maneira coletiva de moradia, assim configurando uma importante característica do Bexiga que deve ser preservada. Ainda assim as condições de habitabilidade dessas construções são muito precárias, prevalecendo a insalubridade, falta de iluminação e proliferação de doenças. O projeto busca equacionar a necessidade de transformar a condição física destas habitações e preservar o modo de habitar característico do bairro. A intervenção aqui proposta tem a quadra pensada como um todo, e reativada a partir de seu interior. O miolo das quadras, ocupado hoje por sobreposições de construções e ex-

fig.2

pansões das casas existentes, cria uma malha densa, mal ventilada e mal iluminada. Essa área deve dar espaço a edifícios de habitação social. A diretriz colocada é de verticalização controlada (térreo mais quatro pavimentos), garantindo a melhor condição de apartamentos para a população residente hoje sem se colocar como uma intervenção de verticalização anárquica, que desconsidera a capacidade das vias e desconfigura o bairro. Dentre as característica percebidas no bairro é marcante ainda a coexistência entre comércio e habitação, que deve ser mantida. Assim os sobrados característicos do Bexiga são mantidos abrigando o comércio local, e o acesso aos edifícios de habitação no miolo da quadra é feito através da retirada de algumas dessas construções de frente de lote. Assim os sobrados são preservados não enquanto fachadas que funcionariam como um cenário de lembrança do bairro antigo, mas como uma função ativa e intimamente ligada à personalidade do bairro. Mantém-se ainda com a função de abertura para rua que tradicionalmente as frentes de lote do Bexiga apresentam, com atividades de comércio e serviços locais.

fig.3



O EDIFÍCIO HÍBRIDO O edifício híbrido funciona como o ponto de convergência entre a faixa de intervenção e o parque da Radial leste, e estabelece uma transição mais generosa entre as cotas da Nove de Julho e do bairro do Bexiga. Implantando no terreno que hoje é usado como estacionamento, a definição de seus programas advem da confluência do eixo do parque sobre a Radial Leste, que sugere um programa voltado ao lazer e esporte, e da faixa de intervenção, que propõe nas quadras ao Norte da Radial equipamentos públicos, sugerindo por sua vez um programa cultural. Pela proximidade com o córrego Saracura, canalizado sob a Nove de Julho, o edifício híbrido comporta em sua parte inferior um balneário, estabelecendo uma relação franca entre as cotas do córrego canalizado e a

cota das piscinas, criando essa tensão entre as águas - a água projetada e a memória da água do córrego. No bloco superior do edificio está localizada uma midiateca, um programa ainda não consolidado na região e que cada vez mais ganha relevância tanto no cenario urbano quanto no uso de novas mídias no teatro. O projeto se constrói a partir dos vazios existentes, criando uma grande praça coberta pelo volume superior e propõe uma única demolição: a atual escadaria do viaduto Martinho Prado, que por ser estreita e muito vertical, rapidamente se transforma em um lugar ermo e sem vida. A idéia é reconstruir esta escada tendo como modelo grandes escadarias urbanas, como a Piazza di Spagna. Além de seu generoso espaço de estar, a escadaria pro-

posta é a fachada do balneário, permitindo a entrada de luz e ventilação para o complexo aquático. O edifício reestabelece a linha de prédios da Nove de Julho com a extensão do hotel existente, que se encontra isolado neste ponto tão significativo da cidade.


Avenida Nove de Julho

hotel existente isolado no lote a ser expandido

terreno escolhido para aprofundamento do projeto

Viaduto Martinho Prado

edifício residencial com térreo comercial - é programada a desapropriação de dois conjuntos comerciais permitindo a abertura de duas galerias no térreo do edifício para conectar a praça de chegada do Parque Radial e a praça coberta sob a midiateca.

54


Sob a Radial, é proposto a recuperação do programa do Boxe do Garrido.

Radial Leste, que será transformada em parque.


PÇA ROOSEVELT

R. AUGUSTA

AV. NOVE DE JULHO

ÔNIO

R. STO. ANT

AMA

LHO

[B]

R. C NSO R

RADIAL LESTE

[A]

VIADUTO MARTINHO PRADO

R. AVANHANDAVA

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ao lado: Foto aérea com o parque sobre a Radial em verde e a faixe de intervenção em vermelho. Os lotes vazios onde o projeto se insere está em branco.

[A] Quando o arranha-ceu se disfarça de sobrado: no edifício entre a Radial Leste e o Viaduto Martinho Prado, encontramos um exemplo onde a cidade nega sistematicamente a suas modernidade, “disfarçando” o arranha-céu de sobrado. O edifício mostra as costas para sua localização e trata sua fachada como um sobrado.

[B] Foto do terreno vazio


?

Diagrama com a operação volumétrica reagindo ao entorno: formação da midiateca elevada e do balneário enterrado na cota do córrego Saracura com um percurso público interno em rosa

foto do terreno, nota-se que a escada de acesso ao Viaduto Martinho Prado tem o tamanho relativamente pequeno considerando sua localização.

Referência de uma escadaria urbana: Piazza di Spagna


Na cota da Avenida Nove de Julho, o projeto propõe o alargamento do passeio público com novas funções: [A] continuação do mercado da rua avanhandava [B] reinserção do Boxe do Garrido [C] entrada para o balneário [D] nova escadaria [E] entrada para o foyer [F] projeto existente para o Museu Judaico [G] ponto de ônibus existente

[B]

[C] [D] [E]

Na cota da rua Santo Antônio o projeto conecta a chegada do parque sobre a Radial Leste à praça coberta:

[G]

[A]

[F]

[D]

[A] praça coberta [B] escadaria pública [C] galerias sob prédio existente [D] parque sobre a Radial

[C]

[A]

[B]

Vista aérea do conjunto: [A] volume da midiateca [B] torre de circulação [C] expansão do hotel existente [D] escadaria pública [E] parque sobre a Radial Leste, que chega em nível na rua Augusta e na Praça Roosevelt

[B]

[A] [C]

[D] [E]


60


ao lado: foto tirada a partir do Viaduto Major Quedinho, olhando a persepectiva da Avenida Nove de Julho. Nota-se a forte insidência de sol na escadaria do terreno escolhido para o projeto. A inserção de um programa enterrado na cota da nove de Julho e a necessidade de se repensar a escala da escadaria que realiza a transição de cota, levou o projeto a transformar a fachada do balneário em uma grande escadaria.

corte extrudado da midiateca e do balneário


rua Santo Antônio

balneário

Corte transversal à Nove de Julho, passando pela rua Avanhandava e pela rua Santo Antônio Córrego Saracura canalizado

rua Avanhandava


Vista do projeto a partir do Viaduto Martinho Prado


IMPLANTAÇÃO

[A] continuação do mercado da rua avanhandava [B] reinserção do Boxe do Garrido [C] entrada para o balneário [D] nova escadaria [E] entrada para o foyer [F] projeto existente para o Museu Judaico [G] ponto de ônibus existente

[A]

[F]

[G]

[D]

[E]

[C] [B]

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10

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1:500

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[A] praça coberta [B] escadaria pública [C] galerias sob prédio existente [D] parque sobre a Radial

[D]

[C]

[B]

[A]

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c贸rrego Saracura canalizado

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vista interna do balneรกrio

planta 742.50 1 - entrado do balneรกrio pela 9 de julho 2 - piscina grande 3 - piscina para crianรงas 4 - entrada da rua sto. antonio 5 - vestiรกrios


Avenida Nove de Julho

6 1 4 2

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fotos da maquete de estudo do foyer

vista da entrada do auditório

planta 745.00 1 - entrada do balneário pela 9 de julho 2 - lanchonete 3 - recepção 4 - vestiários 5 - apoio ao balneário 6 - entrada do auditório e midiateca 7 - bilheteria 8 - foyer 9 - café do auditório 10 - guarda volumes 11 - sanitários 12 - depósito


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fotos de maquete de estudo do foyer

planta 748.15 1 - patamar da escadaria 2 - lanchonete 3 - palco do audit贸rio 4 - entrada para audit贸rio 5 - midiateca - estudos avan莽ados 6 - sanit谩rios 7 - cabines para consulta 8 - acervo


2

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fotos da maquete de estudo do foyer

planta 751.30 1 - entrada do espaço de exposições temporárias 2 - copa dos funcionários 3 - espaço para exposições temporárias 4 - recepção da midiateca 5 - área de leitura de periódicos 6 - pátio de acesso à midiateca 7 - passarela de acesso ao auditório 8 - auditório


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Viaduto Martinho Prado


vista da praça coberta

planta 754.50 1 - praça pública 2 - espaço para exposições temporárias 3 - área de leitura 4 - recepção da midiateca 5 - acesso à midiateca 6 - administração do hotel 7 - café 8 - terraço público


3

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1 4

ntonio

Rua Santo A

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vista do conjunto a partir da rua sto. antônio

planta 757.00 1 - acesso ao balneário 2 - enfermaria 3 - administração do hotel 4 - extensão da rua Santo Antono


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vista da praรงa coberta

planta 760.40 1 - escritรณrios da midiateca 2 - extensรฃo do hotel existente


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vista do conjunto a partir da rua sto. antônio

planta 767.20 1 - acesso à midiateca 2 - escritórios da midiateca 3 - acervo e área técnica da midiateca 4 - sanitários 5 - extensão do hotel existente


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vista aérea do conjunto

planta 770.10 1 - acesso à midiateca 2 - midiateca 3 - extensão do hotel existente


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vista a partir da passarela

planta 774.30 1 - acesso Ă midiateca 2 - midiateca 3 - sanitĂĄrios 4 - extensĂŁo do hotel existente


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midiateca

praça

pátio midiateca balneário

corte extrudado pelo balneário, midiateca, patio e torre de circulacão

planta cobertura 1 - mirante público


corte A 1 - avenida Nove de Julho 2 - balneário 3 - percurso público alternativo: espaço de exposições temporárias 4 - praça pública 5 - midiateca 6 - mirante público 7 - córrego saracura canalizado

6

5

4 3 3

2

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A

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corte B 1 - avenida Nove de Julho 2 - entrada para o balneário 3 - balneário 4 - entrada para o espaço de exposições temporárias 5 - percurso público alternativo: espaço de exposições temporárias 6 - praça pública 7 - midiateca 8 - mirante público 9 - rua santo antônio 10 - córrego saracura canalizado

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B

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corte C 1 - avenida Nove de Julho 2 - entrada para o auditório 3 - varanda do foyer 4 - acesso ao hotel 5 - auditório 6 - foyer 7 - patio de acesso à midiateca 8 - midiateca 9 - percurso público alternativo: espaço de exposições temporárias 10 - passarela de acesso à midiateca 11 - rua santo antônio 12 - córrego saracura canalizado

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C

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corte D 1 - praça de chagada do parque sobre a radial leste 2 - radial leste enterrada 3 - passagem de pedestre 4 - balneário 5 - midiateca 6 - recepção da midiateca 7 - patio de acesso à midiateca 8 - praça pública 9 - midiateca 10 - mirante público 11 - entrada do balneário pela rua santo antônio 12 - escritórios da midiateca 13 - acesso ao acervo 14 - acesso à midiateca 15 - acesso ao mirante

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D

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BIBLIOGRAFIA

BARDI, Lina Bo – Teatro Oficina / Instituto Lina Bo Bardi, São Paulo, 1980-1984. BARDI, Lina Bo – Cidadela da Liberdade / Instituto Lina Bo Bardi, São Paulo, 1999. BARDI, Lina Bo – Lina por Escrito / Cosac Naify, São Paulo, 2009. BREUER, Marcel – Sun and Shadow: The Philosophy of an Architect / Nova York, 1956. DEÁK, Csaba – Acumulação entravada no Brasil/ E a crise dos anos 80 / Espaço & Debates 32:32-46, republicado in Deák, Csaba e Schiffer, Sueli (1999) O processo de urbanização no Brasil Edusp, São Paulo, 1995. DEÁK, Csaba – Rent Theory and the Price of Urban Land / Tese de Doutorado da Universidade de Cambridge, 1985. DUARTE, Helio de Queiróz – Escolas Classe Escola Parque / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009. HARLOE, Michael – Marxismo, o Estado e a questão urbana: notas críticas a duas teorias francesas recentes / Espaço & Debates 28:80-100, 1989; Original Crouch, C (ed, 1979) in State and economy in contemporary capitalism Croom Helm, London, 1979. HARVEY, David – The Right to the City / New Left Review, 2008 HOLL, Steven – Urbanisms, Working with doubt / Nova York: Princeton Architectural Press, 2009. KOOLHAAS, Rem – Nova York Delirante / CosacNaify, São Paulo, 2008. KOOLHAAS, Rem – S, M, L, XL / The Monacelli Press, Nova York, 1995. LANNA, Ana Lúcia Duarte– Os Italianos do Bexiga: Calabreses em São Paulo, 1878-1930. Texto para a pesquisa São Paulo, os estrangeiros e a construção da cidade, 2009. MARZOLA, Nadia – Bela Vista- História dos Bairros de São Paulo / Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria Municipal da Cultura. MORI, Klara Kaiser - Brasil: urbanização e fronteiras / Tese de Doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. NEUTELINGS, Willem Jan, RIEDIJK, Michael – AT WORK / Rotterdam: 010 Publishers, 2004. ROLNIK, R. (coord.); CAMPOS, C. M.; NAKANO, K - Dinâmica dos Subespaços da Área Central de São Paulo / EMURB- Instituto Pólis, São Paulo, 2002. VILLAÇA, Flávio – Espaço intra-­urbano no Brasil / Studio Nobel, São Paulo, 1998.

Trabalhos Finais de Graduação consultados ABBUD, Luis Felipe - Respeitável Público - Um Projeto de Reativação da Praça Roosevelt / Trabalho Final de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2010. GUERREIRO, Isadora – CEUs: potencialidades e contradições/ Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. MARTINS, Luis Pompeo - Automóvel: Barreiras e Transposições em São Paulo / Trabalho Final de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2009. MUZI, Alessandro Moreno - Estudo Sobre a Relação da Ligação Lestre-Oeste com o Bairro do Bexiga / Trabalho Final de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2007. TANAKA, Rodrigo Minoru – As Formas de Ocupação nas Fronteiras Urbanas dos Bairros ao Redor do Centro de São Paulo/ Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

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Crédito das Imagens pp6: BREUER, Marcel – Sun and Shadow: The Philosophy of an Architect / Nova York, 1956. pp8: BARDI, Lina Bo – Cidadela da Liberdade / Instituto Lina Bo Bardi, São Paulo, 1999. pp10: KOOLHAAS, Rem – S, M, L, XL / The Monacelli Press, Nova York, 1995. pp11: fig 3 e 4 - fotos do autor; fig 7 - DUARTE, Helio de Queiróz – Escolas Classe Escola Parque / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009. pp12: dados retirados do site da prefeitura de São Paulo - www.prefeitura.sp.gov.br pp18: google earth pp20: foto do autor pp24: dados retirados do site da prefeitura de São Paulo - www.prefeitura.sp.gov.br pp27: fotos de Luisa Amoroso pp35: maquete: foto de Pedro Vannucchi pp36: op. cit. pp40: fotos do autor pp41: maquete: foto de Pedro Vannucchi pp43: saopaulosobumabelavista.com.br pp44: mapas do site da prefeitura de São Paulo pp47: maquete: foto de Pedro Vannucchi pp48: op. cit. pp49: fig 2 e 3 - op. cit. pp50: op.cit pp51: fig 2 - fotos de André Turazzi, fig 3 - foto de Pedro Vannucchi


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