2 minute read
APROFUNDAMENTO
Diana e Acteão Acteão era um jovem caçador de cervos, cuja excelente educação se devia ao centauro Quírion. Era filho de Aristeu que, por sua vez, era filho de Apolo e Cirene. A mãe, Autônoe, era filha de Cadmo, o rei que fundou Tebas, e de Harmonia, filha de Ares e Afrodite. Diana – em algumas versões, a Ártemis grega –, além de deusa romana, era uma rainha caçadora, conhecida por valorizar a própria virgindade. Em um bosque de ciprestes, ao redor de uma gruta, havia uma fonte onde as ninfas iam se banhar com as deusas. Ao se despir, Diana deixou as armas e as vestes com as companheiras. Nesse ínterim, Acteão, que se perdera dos companheiros, surpreendeu-a sem querer. Todas correram para junto da deusa, tentando ocultar sua nudez. Como seu arco e flecha estavam distantes, Diana não conseguiu atirar no rapaz, mas, apanhando um pouco de água, jogou-a no rosto do visitante dizendo, de forma sarcástica, para ele ir contar a todos que tinha visto a deusa desnuda. Instantaneamente, cresceram chifres de cervo na cabeça do caçador. Depois, seu pescoço se alongou, aumentaram-se-lhe as orelhas e os braços e as pernas se transformaram em patas. E, sobre a pele, apareceu-lhe um pelo manchado. Assustado, o animal fugiu. Porém, os próprios cães de caça de Acteão avistaram o belo cervo e o perseguiram. Em vão, ele tentou dizer quem era. Acabou sendo morto. Esse encontro fatal está retratado por Eugène Delacroix em um belo quadro que serviu de inspiração para “o Verão” no concerto “As quatro estações”, de Antonio Vivaldi6 . Existem várias referências a metamorfoses na literatura e que estão ligadas a interdições que mulheres impuseram aos homens, as quais não foram cumpridas, a exemplo da história de Melusina, de Jean d’Arras, do conto Dama Pé-de-Cabra, de Alexandre Herculano, e de lendas brasileiras em torno da Mãe d’Água que se casa com um caipira e depois lhe traz a ruína. Confira algumas dessas obras nas referências bibliográficas deste material.
6 O quadro pode ser apreciado no link: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Delacroix_-_o_ver%C3%A3o.jpg
Advertisement
Umberto Eco e a leitura Umberto Eco já havia defendido, em sua obra Lector in fabula, que o leitor, como destinatário, atualiza a cadeia de sentidos produzida por um texto a partir de uma participação que deve ser ativa. Um texto é incompleto porque não se refere apenas ao que o escritor pretendeu escrever. Existem múltiplas leituras e interpretações, das quais o autor sequer desconfia. Um texto também pede que seu destinatário faça as devidas aferições ao código linguístico em questão, e isso depende do quão fluente e avançado é este leitor no âmbito do idioma, em amplo sentido: quanto mais se lê, mais capacidade de interpretação e significação o sujeito tende a ter. O semioticista italiano vai tratar também do “não dito”, ou seja, ele propõe que todo texto é um material a ser trabalhado e significado por quem o lê, e essa “outra leitura”, advinda de parcerias do inconsciente, é inevitável para um encontro mais complexo entre obra e leitor.