O fio que conduz a vida rapidinhas | maio2009 | #3
por_RICARDO RODRIGUES fotos_DIVULGAÇÃO
A metáfora que Davide Cali utilizou para escrever o livro Fico à espera... (Cosac Naify, 2007) resume a vida humana, contada com a simplicidade que um livro infantil necessita. É um fio de lã vermelha que conduz a narrativa, ilustrada por traços rápidos em preto e branco, criação do ilustrador Serge Bloch.
cia das coisas. É um conto para a família, porque é, entre outras coisas, que essas linhas costuradas falam.
Em forma de um envelope, que reforça a ideia de esperar por alguma coisa, o livro conta a história comovente de um menino que estava sempre esperando por alguma coisa, e nessa sucessão de momentos, sua vida inteira se desenrola guiada pelo fio vermelho que percorre as páginas, adaptando-se à formatos e criando os elementos necessários. No decorrer da história acompanhamos a espera para crescer, a espera por um bolo que não fica pronto, a espera pelo primeiro amor, a espera pelo fim da guerra, a espera por um filho. E também, naturalmente, o fim de tudo. Parece não ser uma temática voltada ao público infantil, mas acaba se tornando quase um livro guia para a essênFico à Espera... Cosac Naify
Davide Cali (Texto) Serge Bloch (Ilustrações) Tradução: Marcos Siscar 56 páginas 2007
As linhas costuradas por fios vermelhos que, no início, me despertaram apenas uma simples curiosidade. No desenrolar do novelo, é inevitável não captar a emoção deste trabalho. Vira-se a última página, e uma sensação de vazio preenche a mente, para em seguida prenchêla com memórias antigas do tempo em que ficávamos à espera do horário de ir brincar na rua, ficávamos à espera de descobrir o mundo, ficávamos à espera apenas do dia seguinte. Porque até então o mundo não era mundo, era apenas aquele momento. E o selo estampado na capa, indicando urgência, retrata todas as vezes em que ficamos na espera para que tudo voasse o mais rápido possível, sem saber que o que ficou para trás ainda se tornaria uma caixa de lembranças nostálgica demais. Um momento da vida que não queremos de volta, mas que sempre desperta saudade.