MATERIAL EDUCATIVO: CASA 34 é um projeto artístico de Rick Rodrigues, aprovado no Edital nº 034/2019 Seleção de Projetos Culturas Setoriais de Artes Visuais Realizados no Estado do Espírito Santo da Secretaria do Estado da Cultura – SECULT, desenvolvido com recursos do FUNCULTURA. Exposição na OÁ Galeria – Arte Contemporânea Intervenções urbanas (João Neiva, Santa Teresa e Santa Leopoldina) Oficinas Ações educativas Bate-papos Formações em arte contemporânea.
EXPOSIÇÃO CASA 34: Local: OÁ Galeria – Av. Cesar Hilal, 180 – Loja 9, Bento Ferreira, CEP: 29.052-234. Vitória/ES. Data: de 13 julho a 17 de agosto de 2021.
Presença virtual: www.rickrodrigues.com
EDUCATIVO: Programa elaborado e coordenado pelo artista e educador Conrado parceria com o Coletivo LEM (Laboratório de Educação Museal).
Ribeiro
Leal,
em
Nascido em João Neiva, interior do Espírito Santo, onde ainda vive e trabalha, Rick Rodrigues criou seu trabalho tendo como inspiração uma casinha no centro de sua cidade natal, de número 34, onde viviam seus avós paternos. Tema recorrente nas obras do artista, a casa da família é retratada desde o início de sua vida profissional quando, em seus antigos desenhos monocromáticos em azul ou vermelho, Rick já compunha universos capazes de evidenciar as questões afetivas. Casa 34 é parte de uma série de trabalhos iniciados em 2016, ano em que a antiga residência foi derrubada. Esse fato que despertou no artista a necessidade de resgatar as memórias pessoais e familiares dessa arquitetura. “A ideia do projeto surgiu quando encontrei a casa demolida. Foi nos escombros que comecei a rebuscar as memórias vividas e fantasiadas naquele espaço”, explica o artista. A exposição apresenta desenhos bordados sobre lenços de algodão de padrões florais e lisos, desenhos bordados sobre fitas voil e acetinadas, sacolas plásticas e peneiras, objetos (criados ou apropriados), brinquedos e miniaturas da coleção pessoal de Rick. Além disso, o artista compartilha um vídeo e fotografias selecionadas a partir da imersão nas lembranças da casa. As peças são sensíveis, delicadas e enfatizam questões familiares, da memória, ausências e afetividade.
”As verdadeiras casas da lembrança, as casas aonde os nossos sonhos nos levam, as casas ricas de um onirismo fiel, são avessas à qualquer descrição.”
Gaston Bachelard
EXPOSIÇÃO CASA 34 Texto: Dani Nogueira, 2018
“Tem mais presença em mim o que me falta” O livro sobre nada (Manoel de Barros)
Entre. A chave da casa está próxima à porta da galeria e, talvez, tão presente como ela está a sua sombra. Coexistência. Em casa 34, os trabalhos expostos parecem surgir a partir da projeção da infância do artista no espaço, como se esta fosse um elemento que se encontra frente à luz da lembrança. Nada de ruínas aparece na exposição, nem mesmo a poeira que pairou em julho de 2016 no centro de João Neiva/ES, quando a casa de número 34, pertencentes aos avós paternos do artista e, posteriormente, ao seu tio Djalma, foi posta abaixo. Da residência só restou o terreno, a metragem que abrigava as vivências dos familiares, os cômodos, o quintal e o desconhecido. Porém, Rick Rodrigues a deixa vívida, organiza todos os signos de sua memória de forma que o ambiente familiar se misture às paredes de um outro espaço tão íntimo seu, a galeria, numa mescla que levanta a possibilidade de inúmeras narrativas e processos de identificação no outro. A memória pessoal se desvela e é exposta com suas lacunas preenchidas imaginativo ou, até mesmo, com o vazio, o não recordado ou o vivido.
pelo
ato
Tudo parte do ato de lembrar e no que se permite criar. São bordados sobre lenços e fitas, casa reconstruída em fachada e planta-baixa, miniaturas, objetos presentes oriundos da conciliação de traços de memórias fiéis e da imaginação de uma criança que ainda reside dentro do artista. A casa não pôde ser totalmente explorada, porém são trazidas fortes memórias de detalhes apreendidos por um olhar curioso que percorreu alguns de seus cômodos, como também particularidades do quintal, das brincadeiras e dos momentos em que os pés não tocavam o chão devido ao vai e vem no “pé de balanço”. Citando versos de O apanhador de desperdícios do poeta Manoel de Barros, Rick parece ter sido “aparelhado para gostar de passarinhos”. Como um pássaro maduro que alça voos para novos ares, parece reconstruir um lar-ninho a partir das memórias, galhos, que trouxe da sua vida, unindo-os com outros, referências encontradas pelos caminhos percorridos até então. Assim como a linha e a agulha, que na união de um ponto a outro, fazem surgir árvores, pássaros, paredes, janelas e palavras, a expografia pensada pelo artista para Casa 34 delineia uma casa, forma um todo. Assemelha-se a muitos de seus desenhos bordados pela forma em que os signos da memória são apresentados em uma organização e diálogo com o fundo brancos dos lenços. Nesta casa, resiliente, ressignificada, podemos habitar por um momento, bem como tecer tramas com nossas próprias vivências. É-nos dada a linha do verso.
“Evocando as lembranças da casa, adicionamos valores de sonho. Nunca somos verdadeiros historiadores; somos sempre um pouco poetas, e nossa emoção talvez não expresse mais que a poesia perdida.” Gaston Bachelard
FACHADA: Você se lembra da(s) fachada(s) da(s) casa(s) dos seus avós? Você tem alguma casa da memória que faça transportar os pensamentos para outro tempo-espaço? I – DESENHO: Por meio do desenho, Rick Rodrigues se expressa desde a primeira infância. O artista conta que, quando pequeno, desenhava caixas, gavetas, nuvens, flores e casinhas. Quando adulto, volta à infância para revisitar essas narrativas.
Uma das obras da exposição Casa 34 faz referência à fachada da residência dos avós do artista, Seu Esmeraldo e Dona Maria Rosa. Rick utilizou fotos como referência, no entanto, criou texturas diversas para reconstruir as treliças de madeira da varanda, o muro baixo de pedra da frente da casa, cogobós, grades e telhados. O desenho foi posteriormente costurado em lenço de algodão branco. NOSSO CONVITE:
Busque na sua história uma fachada (frente de casa ou algum estabelecimento) que lhe traz boas lembranças. MATERIAIS: Lápis, caneta, carvão, giz, etc. e papéis diversos.
II - DESENHO BORDADO: Há seis anos, Rick Rodrigues incorporou o bordado em sua produção. Na família tem bordadeiras, no entanto, a missiva do ponto atrás foi passada por seu irmão mais velho quando o mais novo o observava costurar um pedaço de couro. Uma das obras apresentadas na exposição Casa 34 representa a planta baixa da casa dos avós paternos do artista. O bordado foi produzido em um lenço de algodão branco, com dimensões equivalentes a 41 cm x 41 cm e a construção do desenho se deu a partir da memória de Rick.
INSTRUÇÕES: 1. Construa em um papel a planta baixa de sua casa da infância, ou de alguma casa marcante desse período; 2. Com uma agulha, fure os encontros e extremidades das paredes. Sinalize as portas, janelas e demais aberturas; 3. Borde com linha finas a partir dos furos; 4. Variação: depois de criada a planta baixa, pode-se sugerir que construam uma maquete a partir do desenho. MATERIAIS SUGERIDOS: Papéis cartão, cartolina ou tecido, lápis, agulhas, linhas e tesouras.
RICK RODRIGUES, 2017
Desenho bordado sobre papel com dois fios (azul e vermelho) e carimbo.
III – CASINHA PARA MONTAR, PINTAR E BORDAR: A palavra quintal já sugere um espaço diminuto. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra tem origem no latim quintale, pequena quinta; pequeno terreno, muitas vezes com jardim ou horta, atrás da casa. O primeiro lugar de contato com o mundo é o quintal. Voltar à infância pela memória é imaginar o quintal onde aconteciam as brincadeiras, fantasias e aventuras. Mesmo contrapondo a cidade ao campo, onde na primeira poderíamos replicar que não há quintais para suas crianças. Há na imagem significações além do espaço físico. Nesse sentido, quintal é o pequeno espaço da nossa infância, sendo ele de terra, grama, alvenaria ou pedra. Lembrar-se quando criança é voltar a habitar nosso quintal. O poeta matogrossense, Manoel de Barros disse: “Urbanos ou não, estamos ligados à mãe-terra. Ao nosso quintal. Ao quintal da nossa infância – com direito à árvores, rios e passarinhos.” (2010. Poesia completa. p. 37) INDICAMOS:
1. Recorte a figura de acordo com as linhas do contorno; 2. No exterior da casa, desenhe, pinte, cole, borde ou descreva memórias do quintal de sua casa da infância, de um familiar ou qualquer outra casa que lhe desperte lembranças de quintal. Lembranças: de um canto, objetos, vegetação, brincadeiras; uma memória inventada; uma fantasia; uma aventura; etc.;
3. Fique a vontade para construir histórias no interior da casinha também; 4. Dobre a figura nas linhas pontilhadas, vinque e cole as partes indicadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. ______. Livro sobre nada. Rio de Janeiro/São Paulo, Editora Record: 2004. CASTRO, Afonso de. A poética de Manoel de Barros: a linguagem e a volta à infância. Campo Grande: FUCMT – UCDB, 1992.
REALIZAÇÃO:
APOIO: Realizado com recurso do