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O MENINO QUE DESENHAVA
Cresceu, pintou, bordou e continua desenhando. Outro menino, Rubem Braga, escreveu um dia: “Eu quisera ser um passarinho”. Rick nos convida a experimentar ser pássaro e passear livremente por seu universo. Ver e viver suas recordações. Ele nos apresenta seus pássaros, suas casas, seus móveis, escadas e suas imprevisíveis aberturas, que lembram as “passagens secretas” dos jogos de esconde-esconde infantis. Seu sonho tão delicadamente real, seu mundo enigmático, na linha de René Magritte, também nos convida a criar possíveis narrativas ao adentrar seus jogos visuais. Subir, descer, voar, flutuar, diminuir, aumentar, escrever, desenhar... os mundos de Rick são um e vários. Podemos passar de um a outro, como se os “buracos de minhoca” teorizados pela física contemporânea já existissem desde sempre na sua imaginação e fossem aqui usados com assustadora naturalidade, tornando possível a viagem entre tempos e locais muito distantes. Mas, além disso, seu trabalho, construído ao longo de horas e horas desenhando, também abre passagens para nossas recordações e nossos planos. Seu universo próprio, verdadeiro e denso nos incentiva a sonhar, viver a experiência de nossos mundos imaginários, dando vida à criança que faz de todos nós meninos e meninas. Talvez exista aqui uma relação direta entre o desenho atual e a era digital. Desenho ligado à formação nas telas de múltiplas imagens simultâneas, cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Ainda que na tela de computadores acessados de João Neiva, de um tempo-espaço retirado, estriado, único e múltiplo. Uma vivência de interior, porém conectada com o mundo.
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Na mostra, as pranchas são distribuídas em relação ao observador de modo semelhante àquele como é disposto o espelho para Alice. Ao atravessarmos o seu limiar, somos levados a um universo paralelo, desafiando as narrativas a se formarem, circularem e a nunca se esgotarem na sua soma das infinitas interpretações. Se entre as experiências para as quais nos convocam existe o convite a se sentir um Gulliver, ao mesmo tempo essa sensação indutora é sabotada por essa colocação das propostas; não no chão, mas a uma altura confortável. Tirando mesmo proveito dessa comodidade para refletir nesses objetos, lembranças e projeções de nossos lares, de nossas infâncias, de nossas vidas e afeições. Uma relação telúrica e misteriosa que permeia os desenhos e objetos e termina por nos envolver.
Carlos Eduardo Borges
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SÉRIE “TUDO O QUE NÃO INVENTO É FALSO”
Composta por 10 desenhos, em que são apresentados elementos em vermelho e em azul, a série do artista Rick Rodrigues desvela pequenos mundos dentro de outros mundos. Alterando as dimensões de objetos, casas e figuras humanas, Rick faz associações singulares que se destacam no fundo límpido do papel creme. Tudo parece estar no campo da sutileza. O tratamento dado ao acabamento dos desenhos – em todas as suas séries, vale ressaltar – aproxima-se do zelo que o artista possui com os símbolos de sua memória afetiva. O cuidado converte-se em leveza, no trabalho minucioso dos degradês e na alternância da intensidade da cor influenciada pela luz nos cenários. Mesmo sem traços referenciais de teto, parede e chão, alguns dos elementos presentes nos desenhos não parecem flutuar no espaço, mas apoiam-se no fundo, que, assim, não se demonstra como um espaço vazio. Mantendo relações fortes com as casas de passarinhos expostas na galeria, são apresentadas a nós figuras com aberturas, orifícios. A figura da cama, por exemplo, cujo sentido primeiro é o lugar em que o corpo descansa, possui uma escada adentrando o seu centro. Assim como outros orifícios, não nos são dados indícios de direção – entrada e saída. Contudo, a escada parece simbolizar o adentrar no sono, nos sonhos, em reflexões, e a ida à superfície, à realidade, à clareza. Nas gavetas de uma cômoda vermelha, a escada apoia-se em uma dessas aberturas. Há aqui, também, o diálogo com o ir e vir, porém ligado ao processo de arquivar memórias, vasculhá-las, (re)descobri-las neste espaço em que são abrigadas.
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Em outras séries de Rick, casas aparecem aglomeradas, formando texturas ao fundo. Agora, o artista parece nos aproximar da individualidade da construção, deixando em aberto se o que é representado refere-se a uma “realidade” interna de uma casa ou de várias delas. Diante desses cenários internos de habitação, adentramos em um campo de descoberta das memórias do artista através das associações e jogos feitos pelo mesmo. De certo modo, passamos a conhecêlo intimamente, pois a forma que os elementos são organizados transparece algo do sujeito habitante da casa, da dinâmica de sua vida. As lembranças de elementos familiares de Rick são representadas por pequeníssimos móveis de madeira. São memórias espacializadas, miniaturas (re)organizadas, deslocadas, que se comunicam com as pequenas cenas criadas no espaço do papel. Móveis de madeira, muitas vezes, sobrevivem ao passar do tempo, estando no nosso presente. Porém, eles nos trazem camadas de memórias do passado, assim como as de verniz, e aquelas adicionadas de memórias novas e mutáveis, advindas da experiência de um indivíduo em sua relação com o mundo. Na tridimensionalidade dos cenários, são criadas possibilidades de relações entre a dimensão do corpo do sujeito que se encontra na exposição junto às miniaturas expostas na galeria. Uma cadeira pequena para um ser “gigante”, uma cama em que não se pode deitar, uma escada alta, porém muito estreita. As camas dispostas e vazias, que continuam a se relacionar com a ideia de abrigo – que perpassa as figuras das gavetas e casas –, surgem como ninhos abandonados por um corpo. Um corpo que o ninho não o comporta mais – fisicamente ou não. Corpo ausente. Tanto seus 10 desenhos, como suas miniaturas, trazem à tona a importância da vivacidade do processo imaginativo, o não podamento dos devaneios, dos sonhos, remetendo-nos à infância. Assim como explana Bachelard, em A Poética do Espaço (1974), “A infância é certamente maior que a realidade”.
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Na produção de Rick, o sujeito encontra-se diante da possibilidade de ocasionar fissuras em suas camadas de certezas firmadas e de razões consolidadas. O espaço expositivo passa a abrigar um convite para que adentremos em nossas lembranças, rememoremos nossas origens, o nosso “espaço-lar-abrigo”. Segundo Bachelard, “Nossa alma é uma morada. E quando nos lembramos das ‘casas’, dos ‘aposentos’, aprendemos a ‘morar’ em nós mesmos”. Em seu ato de aproximação consigo mesmo, Rick compartilha o que há de mais profundo: sua história, suas memórias – essas carregadas de alegrias, tristezas, saudades e das possibilidades que as mesmas possuem de se ressignificarem. São pequenos mundos dentro de outros mundos. Cenários que não falam somente dele, mas também falam sobre nós.
Daniellen Nogueira, artista plástica e mestranda em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo.
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MATERIAL EDUCATIVO - DESENHO HÍBRIDO Na série de desenhos de Rick são recorrentes combinações entre decalques (relevos) e monocromias de grafites secos. Esses decalques são resultados da quebra das fibras do papel, criados a partir da fricção de canetas esferográficas no verso que, posteriormente, são integrados aos desenhos criados no anverso – a face convencional do suporte.
INSTRUÇÕES 1. Com caneta esferográfica, risque o verso do papel fazendo movimentos de sua escolha;
2. No anverso, desenhe, recorte, cole, pinte, borde, escreva, etc., criando um diálogo entre as duas faces do papel.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE EM SALA DE AULA Após a apresentação das estratégias da oficina, propor aos alunos que, após riscarem o verso, façam trocas para combinar os anversos. Criando, assim, uma oficina coletiva.
MATERIAIS SUGERIDOS Grafites, canetas esferográficas, lápis de cor, giz de cera, carvão, papel carbono, tintas, nanquim, papel sulfite, cola, agulhas, linhas, tesoura e recortes.
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Arte educador: Conrado Ribeiro Leal, graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo.
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MATERIAL EDUCATIVO No livro A Poética do Espaço, Gaston Bachelard faz um estudo fenomenológico sobre a imagem da casa, conferindo-lhe significações além de sua existência material. “Pois a casa é o nosso canto do mundo. Ela é, como se diz frequentemente, nosso primeiro universo. [...] Até a mais modesta habitação, vista intimamente, é bela.” (BACHELARD, p. 200) “[...] é graças à casa que um grande número de nossas lembranças estão guardadas e se a casa se complica um pouco, se tem porão e sótão, cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgio cada vez mais bem caracterizados. Voltamos a eles durante toda a vida em nossos devaneios.” (BACHELARD, p. 200)
INSTRUÇÕES 1. Recorte a figura de acordo com as linhas do contorno; 2. Desenhe, pinte, cole ou descreva memórias de sua casa da infância. Exemplos: lembranças do quintal; de um canto da casa, móvel, corredor, parede, porão ou sótão; ou uma memória inventada; uma fantasia; etc.;
3. Dobre a figura nas linhas pontilhadas, vinque e cole as partes indicadas.
Arte educador: Conrado Ribeiro Leal, graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo.
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CASINHA PARA RECORTAR
CORTAR DOBRAR
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ÍNDICE REMISSIVO DE IMAGENS página 3
páginas 2, 13, 14, 16, 18, 20, 21
SEM TÍTULO, 2016
SÉRIE: TUDO O QUE NÃO INVENTO É FALSO, 2016
Dobraduras de papel branco g/m² 200. Dimensões: 1,5 cm x 609 cm x 5 cm
Grafites coloridos de lapiseira 0.5 mm e miniaturas. Dimensões variáveis.
páginas 4, 7, 8, 9, 10, 11
SÉRIE SEM TÍTULO, 2016
página 22
Anverso: grafites coloridos para lapiseira 0.5 mm; Verso: caneta esferográfica sobre papel. Dimensões: 42 cm x 29,7 cm
SÉRIE: FLORES SER, 2016 Bordado sobre lenços e brinquedos. Dimensões variáveis.
página 12
página 27
SEM TÍTULO, 2016
Intervenção urbana em João Neiva/ES. Reprodução de desenhos em outdoor.
Bordado sobre fronha e miniatura. Dimensões variáveis.
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FICHA TÉCNICA
GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Paulo Hartung
VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
César Colnago
SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA
João Gualberto Vasconcellos SUBSECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA
José Roberto Santos Neves
SUBSECRETÁRIO DE ESTADO DE GESTÃO ADMINISTRATIVA
Ricardo Savacini Pandolfi
COORDENAÇÃO DE ARTES VISUAIS – SECULT
Franquilandia Raft
FUNCIONÁRIOS – GALERIA HOMERO MASSENA
Mariângela Ruiz Vieira Machado Rafane Fernanda de Andrade Renato Saudino Tânia Maria de Jesus Costa Valdir Castiglioni Filho ESTAGIÁRIOS – MEDIAÇÃO CULTURAL
Brenda Aurora Moura Carolina Estevam Helena Paccagnella P. Dardis
APOIO – RECEPTIVO E LIMPEZA
Bianca Alves Balbino Santos Evani Rezende da Silva ORIENTAÇÃO
Carlos Eduardo Borges AÇÃO EDUCATIVA
Barbara Girelli Conrado Ribeiro Leal – Arte educador PARTICIPAÇÃO ESPECIAL / AÇÃO EDUCATIVA
ILBES - Instituto Luiz Braille do Espírito Santo Projeto de Extensão em Libras/UFES – Acessibilidade para pessoas surdas SEMED – Secretaria Municipal de Educação e Desporto de João Neiva Serviço Especial Mão na Roda/Ceturb PROJETO GRÁFICO
OParque
FOTOGRAFIAS Luis Paulo Junior TEXTOS Carlos Eduardo Borges Daniellen Nogueira REVISÃO DE TEXTO
José Roberto Santos Neves
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Catálogo/Material educativo da exposição Tudo o que não invento é falso, do artista plástico Rick Rodrigues, realizada de 10 de maio a 06 de agosto de 2016, na Galeria Homero Massena. Projeto contemplado pelo Edital 15/2015 da SECULT, desenvolvido com recursos do FUNCULTURA.
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Apoio
Realização
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