Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA

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2013

Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA

Educação de Jovens e Adultos

SÃO BERNARDO DO CAMPO PREFEITURA DA CIDADE

MOVA

Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos São Bernardo do Campo - SP

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL


PREFEITURA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO Secretaria de Educação

Práticas Pedagógicas:

experiências e vivências em EJA

SÃO BERNARDO DO CAMPO PREFEITURA DA CIDADE


Realização: Prefeitura de São Bernardo do Campo Secretaria de Educação Copyright © 2013 – Prefeitura de São Bernardo do Campo Organizador: Departamento de Ações Educacionais Divisão de EJA e Educação Profissional

Projeto Gráfico: Ricardo Ferreira de Carvalho Diagramação: Ricardo Ferreira de Carvalho Luiz Edgar de Carvalho

Fotos: Arquivos 2009 a 2012 – Divisão de EJA e Educação Profissional

1ª edição: Abril de 2013

Parceiros do Projeto:


Escola é

... o lugar em que se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente Gente que trabalha, que estuda Que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, O professor é gente, O aluno é gente, Cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor Na medida em que cada um se comporte Como colega, amigo e irmão. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados, Nada de conviver com as pessoas e, depois, Descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, É também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se amarrar nela! Ora, é lógico... Numa escola assim vai ser fácil Estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo. (Paulo Freire)



7 Sumário Escola é ..................................................... 05 Apresentação ................................................ 09 Introdução ................................................... 15 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas? ................ 19 Práticas Pedagógicas dialogando com os eixos do conhecimento .......................................... 23 • Memória e Territorialidade .................... 24 • Meio Ambiente ................................. 26 • Linguagens ...................................... 28 o Linguagem oral ............................ 30 o Linguagem escrita ........................ 32 o Linguagem matemática ................... 34 o Linguagem corporal ....................... 36 o Linguagem tecnológica .................... 38 • EJA e o Mundo do Trabalho ................... 40 As práticas em ação ........................................ 41 Palavras Finais .............................................. 83 Bibliografia .................................................. 87

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Apresentação



Apresentação “Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Paulo Freire

Contextualização do processo formativo

A

ção de formação é algo específico dos seres humanos, pois, enquanto sujeitos inacabados têm necessidade constante de formação permanente; somos sujeitos históricos e, nes-

se processo, evidencia-se o ato de aprender e ensinar. Como disse Freire, temos consciência da nossa inconclusão e apresentamos o desejo da partilha de conhecimentos. Esse conceito de educação permanente orientou os encontros formativos de EJA do ano de 2012 com os diferentes profissionais que faziam parte desta modalidade de educação em São Bernardo do Campo. A preocupação era a de proporcionar momentos de reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem com todos os sujeitos da ação educativa, de modo que ocorresse a práxis, na fidelidade do conceito dialógico, e que colocasse o desejo pela procura de sentidos nesta ação. A intenção desta organização se caracteriza em colocar o ambiente escolar numa constante reflexão sobre a ação educativa para promover análises de quem são os sujeitos com os quais trabalhamos, quais suas expectativas em relação ao processo de aprendizagem e que conhecimentos devem ser abordados com as turmas ao longo de cada ano letivo. Nesta concepção, que tem seus propósitos numa matriz crítica de


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educação, todo o processo formativo teve como intenção propiciar o protagonismo dos sujeitos no processo de ensino e aprendizagem, pois são os corresponsáveis pela criação de práticas que possibilitam a interação entre educando/a e o mundo. A presente publicação, então, é fruto de reflexão do contexto da sala de aula e da tematização da prática pedagógica, identificando as ações educativas que se mostraram significativas para os/as educandos/as no processo de aprendizagem. Esta sistematização é decorrente do trabalho realizado em nosso documento “Diretrizes Curriculares da EJA”, construído com o coletivo da Rede no ano de 2011, que trouxe o debate de concepção de Educação Popular e orientou o processo formativo da Educação de Jovens e Adultos em eixos do conhecimento: Memória e Territorialidade; Meio Ambiente; Cultura e Trabalho e as Linguagens( Oral, Escrita, Corporal, Tecnológica e Matemática). A partir dos eixos do conhecimento organizados na EJA, retornamos para o espaço da sala de aula, em que dialogamos com os contextos vividos, observamos o papel dos/as educandos/as e educadores/as na prática didática e analisamos os saberes históricos produzidos. Em seguida conseguimos ampliar a ação político- pedagógica da EJA no que se refere à possibilidade de pautar o debate sobre esses eixos citados acima para percebê-los em significância do contexto que permeia o mundo dos/as educandos/as. Este é mais um documento de EJA que registra um debate dialógico no coletivo sob uma concepção de Educação Popular que aborda a educação como um direito para todos/as na perspectiva da Educação Permanente e Educação Integral. Assim, foi desenvolvido por e para você educador/a, que reconheceu seu/a educando/a e tem pelo seu fazer um compromisso ético em ofertar uma prática pedagógica que favoreça a análise dos fatos, proPráticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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mova a reflexão das questões, possibilite problematizações que aproximem os/as educandos/as das suas realidades e fomentem o desejo de mudança. Esperamos que seja utilizado como um referencial construído a partir do recorte de observação de cada envolvido nesse processo de reflexão e formação. A pesquisa, o estudo e o resultado das discussões foram acolhidos, a ponto de compor uma unidade que tem sua autoria na reflexão dos/as educadores/as de EJA da nossa Rede. Cleuza Rodrigues Repulho

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Introdução



Introdução

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“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.” Paulo Freire

realização da publicação das “Práticas Pedagógicas: Experiências e Vivências em EJA” se dá pela continuidade de um processo de registro do trabalho que vem sendo desenvolvi-

do. A Rede já havia produzido coletivamente o documento Diretrizes Curriculares e, nesse momento, a intenção da construção deste documento é o de registrar algumas práticas formativas ocorridas no ano de 2012, que tiveram como objetivo abordar a ação educativa, considerando os conhecimentos prévios dos/as educandos/as, seus desejos e expectativas em diálogo com os eixos do conhecimento. Assim, cada eixo de conhecimento volta ao debate, na perspectiva de construção de saberes, a partir da tematização de algumas práticas em que a concretização deste propósito reflexivo foi efetivada. A possibilidade de termos, neste documento, a autoria dos/as educadores/as da Rede permite-nos analisar sua criatividade, organizando o conhecimento a partir de problematizações que se fazem presentes no contexto dos/as educandos/as. Os limites que temos quando não observamos essa questão resultam em rigidez num processo de ensino e aprendizagem que não coloca o/a educando/a em situação central da ação educativa. Com o propósito de elucidar esse aspecto, ressalvamos a importância da democracia na organização do currículo, no sentido de todos/as terem o direito de reconstruir os conhecimentos históricos produzidos, de forma contextualizada às questões culturais e políticas. A ação educativa frente à organização da prática didática não é algo neutro: sempre apresenta influência de tendências políticas de


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formação. Nossa intenção é de que os conhecimentos sejam abordados a partir da significância comunitária, sem perder a responsabilidade de efetivar a sistematização dos mesmos em correlação ao diálogo histórico do saber. Refletir sobre boas práticas é perceber que é possível construir conhecimentos que valorizem projetos de sociedade, de seres humanos, que primam pela vida e pela justiça. Em São Bernardo do Campo, a partir das ações formativas, caminhamos para um conceito de formação inserida na perspectiva de um currículo que apresenta as seguintes dimensões: Filosófica: Todos os sujeitos têm condições de decidir sobre suas vivências e experiências e refletir sobre as mesmas de modo a escolher os rumos da sua vida e do coletivo a que pertence. Toda prática pedagógica tem a responsabilidade de respeitar as questões que sustentam a existência humana. Pedagógica: A organização do conhecimento se faz pela Educação Integral, em que há o levantamento das necessidades éticas, estéticas e técnicas dos/as educandos/as, que devem ser consideradas na prática pedagógica a partir da articulação da ciência, cul tura e trabalho, por meio do diálogo, que é um aspecto epistemológico da construção do conhecimento. Política: As necessidades dos/as educandos/as e da sua comunidade propiciam elementos para a construção de um currículo pautado na perspectiva da transformação social.

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Por que sistematizar Pr谩ticas Pedag贸gicas?



Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

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“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.” Paulo Freire

objetivo da sistematização das práticas significativas partiu de uma concepção pedagógica, filosófica e política, descrita no documento: “Diretrizes Curriculares da EJA

2012” que reflete a intenção de currículo da EJA de SBC, na qual se concebe a ação educativa para transformação social. Então, esta publicação que está em debate, explicita o fato de que a prática não é neutra e concretiza a proposta curricular em eixos de conhecimentos nesta modalidade. Este documento é mais uma ação da Divisão de EJA e Educação Profissional com o coletivo da rede, no sentido de expandir a política pública da oferta propondo a discussão do fazer pedagógico que assegure o direito à educação de fato, de modo que o respeito às experiências dos/as educandos/as, na concepção Freireana, seja efetivado. Assim, ao mesmo tempo em que fortalece um propósito de currículo organizado pela integração, orientada a partir da concepção crítica de Educação, também enaltece e respeita os/as educadores/as que se libertam de intenções formativas que excluem e que se fazem por representações sociais conservadoras da visão de um grupo. Este respeito aos/as educadores/as enquanto protagonistas da ação educativa se concretiza a partir dos debates realizados em todas as ações formativas com este coletivo da EJA,em que as reflexões se apresentam abaixo, relacionadas aos eixos do conhecimento já tratados no documento: “Diretrizes Curriculares de EJA 2012”.


22 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Assim, apresentamos as análises das formações que apontam as possibilidades de temáticas para cada eixo do conhecimento.

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23 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Práticas pedagógicas dialogando com os eixos do conhecimento

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“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação e reflexão.” Paulo Freire

sta reflexão traz o diálogo que responde à necessidade da rede de ampliarmos a análise das possibilidades da construção do conhecimento pelas dimensões dos Eixos descritos nas “Di-

retrizes Curriculares 2012”. Então, há uma sistematização de práticas pedagógicas organizadas por questões temáticas que podem ser tratadas em cada eixo do conhecimento. A opção em tratar esses temas dentro de cada eixo se apresenta como possibilidade do/a educador/a pensar num processo formativo mais aberto, onde as dúvidas e as indagações, que estão nas realidades sociais e políticas, possam fazer parte da ação educativa. Dessa forma, os temas aqui apresentados são sugestivos, visto que a autonomia do/a educador/a, direcionada por um profissionalismo ético, dentro de uma posição político-pedagógica crítica é que orientará a organização do processo de ensino e aprendizagem.

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24 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

EIXO DO CONHECIMENTO: Memória e Territorialidade A memória liga-se à territorialidade de uma população que vive e revive num determinado território, às expressões culturais, artísticas e simbólicas de forma compartilhada. Assim, territorialidade, conceito tratado por Milton Santos (1996), e memória se retroalimentam numa perspectiva histórica, recriando identidades, valores e percursos. Dessa forma, este eixo possibilita aos educandos/as pensar nas dimensões da vida, articulando e relacionando diversos conhecimentos de forma integral, compreendendo as relações sociais e ambientais que permeiam suas vidas.

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25 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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26 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

EIXO DO CONHECIMENTO: Meio ambiente A questão ambiental está extremamente presente na vivência humana. Preservar o Meio Ambiente é preservar a vida. O conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo disseminado, trazendo a ideia de que os recursos naturais devem ser usados para saciar as necessidades do ser humano, sem desperdício, de forma a não esgotá-los para as futuras gerações. A escola precisa estar em consonância com as demandas atuais da sociedade, tratar de questões que interferem na vida diária dos/as educandos/as, contribuindo para a formação do cidadão participativo e consciente de seu papel na sociedade. Trabalhar com este eixo curricular é propiciar reflexões a respeito da organização ambiental e levantar estratégias de intervenção humana que venham favorecer uma vida coletiva mais sustentável.

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27 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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28 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

EIXO DO CONHECIMENTO: Linguagens Toda linguagem é um modo singular do ser humano se expressar, comunicar e refletir num contexto significativo. A linguagem é uma ação humana, existe antes mesmo da escola, é estética e ética, permeia a atuação no campo histórico, social e político. Trabalhar com as diferentes linguagens propicia a/ao educanda/o oportunidades diversificadas de ler, sentir, compreender e intervir no mundo; é fator preponderante para a nossa participação social e cultural.

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29 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

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30 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Linguagem oral: A oralidade é uma forma de comunicação muito peculiar ao ser humano, é o ponto de partida para produção e divulgação de conhecimentos, é um meio de expressar as ideias, os hábitos, as práticas, as experiências de vida. Esta linguagem tem uma relação de proximidade com a linguagem escrita, que se dá com a constituição da alfabetização, que é a construção escrita da expressão oral, trazendo a realidade social da fala com suas variedades e originalidades para a sala de aula.

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31 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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32 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Linguagem escrita: É a possibilidade de comunicação da sociedade letrada. A constituição desta comunicação exige um processo de aprendizagem contextualizado socialmente, que é a alfabetização. A alfabetização de adultos oferece grandes desafios para o/a educador/a, exigindo cada vez mais a sua compreensão acerca das especificidades dos educandos e educandas da EJA no processo de ensino-aprendizagem, fazendo-se necessário que o/a alfabetizador/a se debruce sobre questões que enfatizem a cultura escrita e a comunicação como prática social da língua.

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33 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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34 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Linguagem Matemática: É uma das linguagens necessárias para homens e mulheres conhecerem e se comunicarem com o mundo por meio de ações que exijam cálculo, medição, raciocínio lógico, argumentação e resolução de situações-problemas. Assim, aprender Matemática é um direito básico de todas as pessoas e uma necessidade individual e social do ser humano e, por isso, fundamental na formação de jovens e adultos. Embora não se esgote nela, o conhecimento do adulto sobre a sua realidade é grande; afinal, é com esta realidade que ele estabelece a totalidade das suas relações, como sujeito transformador. Trabalhar com a linguagem matemática é trazer para a sala de aula o conhecimento do mundo e traduzi-lo em conhecimento sistematizado.

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35 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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36 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Linguagem corporal: A linguagem corporal traz expressões físicas à ação educativa, que se apresentam por diálogos, considerando essa expressão como um direito e como uma produção cultural. Ao valorizar expressões corporais dos sujeitos onde o corpo individual e o corpo coletivo se articulam, saindo do sentido do “corpo do trabalho” (postura explorada), para “as corporeidades e experiências dos seus sujeitos” (postura que liberta), tem-se a realização da emancipação na ação educativa. Nesse processo, trabalhar com a Linguagem corporal, com a corporeidade, constitui-se em uma possibilidade de pensar que sentido darmos à condição humana e à articulação do corpo individual ao corpo coletivo, formando-se dialeticamente.

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Temas sugestivos

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38 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Linguagem Tecnológica: O surgimento de novas linguagens a partir da aproximação das tecnologias da comunicação e informação com as diferentes áreas do conhecimento contribui para a formulação de uma proposta pedagógica que contemple as demandas da sociedade contemporânea. O entendimento da tecnologia enquanto linguagem que tem representações assume papel preponderante na formação das pessoas para o convívio e a atuação na sociedade. Essa linguagem pauta-se na transformação do contexto pela valorização humana e a expressão da criatividade. A ação educativa da linguagem tecnológica propicia a reflexão sobre a diversidade de fontes de informações, sobre a criticidade, identifica potencialidades e contribui para articular saberes cotidianos, científicos, sociais, artísticos e estéticos, que são ações que precisam ser realizadas no ambiente escolar a fim de que o/a educando/a possa compreender que a tecnologia é um canal de libertação e de redescoberta do ser humano.

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Temas sugestivos

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40 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

EIXO DO CONHECIMENTO: Cultura e Trabalho A educação está ontologicamente ligada ao processo de trabalho, que se realiza por uma produção cultural. Conforme já apresentado nas Diretrizes a concepção que temos de trabalho é aquela que permite ao ser humano produzir sua existência a partir da transformação que faz com a natureza e consigo no coletivo, fato que lhe permite a produção de cultura. Esse processo possibilita a passagem do homem de ser biológico a ser social. Nesse sentido, a escola é um local que acolhe as pessoas para a convivência social. Como as pessoas são sujeitos históricos elas trazem conhecimentos e sabedorias sobre o mundo, que nas suas relações serão trocados e ampliados pela releitura da realidade. A Educação Libertadora valoriza estas produções culturais e, a partir delas, organiza um processo de ensino aprendizagem que respeita a existência humana em todos os seus aspectos. Na especificidade da cultura e trabalho, observa as necessidades éticas, técnicas e estéticas na produção e comunicação humanas. Esse processo é amplo, mas é por meio dele que se constrói o conhecimento que importa para se pensar em melhor organização da vida na sociedade. Por ser tão complexo e pelas observações das práticas pedagógicas, esse Eixo se apresenta de forma conjugada, mas, com observações de cada dimensão: Cultura e Trabalho em suas especificidades. Diagrama “cultura” na 41 e o “trabalho” alterando o centro pra trabalho na pg 42

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Temas sugestivos

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42 Por que sistematizar Práticas Pedagógicas?

Temas sugestivos

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As práticas em ação



As práticas em ação

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“A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática.” Paulo Freire

ação docente pautada na metodologia de estudo da realidade, da organização de temas constituídos em projetos, respeita a leitura de mundo do/a educando/a, ajudando-o a

descobrir novos saberes, sistematizando e ressignificando os conhecimentos presentes na sua realidade CULTURAL, SOCIAL E POLÍTICA. Ao enfatizarmos essa possibilidade de seleção de temas organizados em projetos, reafirmamos que a educação não é neutra, e que a configuração do currículo, nesse propósito, depende do contexto das pessoas, dos interesses e intenções que estão em jogo e dos diferentes âmbitos sociais e históricos aos quais estão submetidos, o que implicará práticas pedagógicas inclusivas, contextualizadas e integradoras. A prática libertadora proposta por Paulo Freire liga pensamento e ação. Ao refletir sobre o mundo, o homem regula e reorienta sua ação, pois concorda ou discorda do que foi pensado e analisado, dando margem ao surgimento de novas formas de operacionalização. Neste sentido, os conteúdos articulados aos temas trazem as vivências de situações concretas para o interior das aulas, pois os eixos de conhecimento dialogam com conceitos e conteúdos atuais, estabelecendo novas relações entre o conhecimento popular (a partir da experiência dos sujeitos na relação com o mundo em que vivem) e o conhecimento acadêmico, materializando a proposta político-pedagógica da escola na comunidade local. Pautado na concepção emancipatória e libertadora de currículo, ao


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trazer este esquema de organização de possibilidades de produção do conhecimento, é imprescindível ao educador/a refletir qual o conhecimento que importa. O que é significativo para o grupo de educandos/as com o qual ele está atuando? Por isso, a caracterização do grupo é fundamental como ponto de partida da seleção dos conhecimentos que serão trabalhados, pensados a partir desta concepção, pois não é possível desvincular a educação escolar da visão de mundo de homem e mulher que temos e com a qual convivemos, e que sustenta a nossa prática. A prática Freireana ressalta o uso da reflexão pedagógica e de referenciais que permitam interrogá-la, defendendo a ideia de que ninguém ensina ninguém, aprendemos em colaboração, que exige do educador/a e do educando/a uma atitude de investigação e pesquisa frente ao conhecimento. Dessa forma, o diálogo e a reflexão são fundamentais, pois possibilitam a criação, a transformação e a recriação. Esta proposta exige que se instigue o/a educando/a a dizer o que já sabe sobre o conhecimento e assim reconstruir novos saberes.

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Algumas das práticas da rede de EJA em São Bernardo do Campo As práticas pedagógicas que compõem esta publicação não têm a intenção de se tornarem modelos a serem copiados pelos/as educadores/as desta e de outras redes de ensino. Elas, as práticas, são, sim, experiências validadas em sala de aula, que possibilitarão a ampliação do repertório dos/as educadores/as para a construção de propostas mais significativas para seus/suas educandos e educandas. É preciso entendê-las, interpretá-las e destacar nelas o que há de essencial, para que tragam ao educando/a conhecimentos e valores capazes de promover a transformação de suas realidades, em seus contextos e em seus projetos de vida. A sistematização destas práticas foi decorrente do processo formativo em que os Eixos do Conhecimento foram tratados a partir da análise da organização didática de alguns educadores/as. Estas organizações foram trazidas para esta publicação. O processo de construção foi marcado por idas e vindas, em que observáveis se fizeram presentes e as reformulações se apresentaram, inclusive na própria prática pedagógica.

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A ARTE NO OLHAR DE CADA UM EMEB: Professor André Ferreira EDUCADOR DA TURMA: Rute Coutinho, Eliete Pereira de Souza EDUCADOR/A PROJETOS CULTURA E TRABALHO: Mariana dos S. Bezerra TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVO: Evidenciar, em situações de aprendizagens, a releitura de questões do cotidiano da vida; Proporcionar aos alunos o conhecimento relacionado à fotografia, tendo como pano de fundo as obras do fotógrafo Sebastião Salgado e de pintores brasileiros como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari e o lituano Lazar Segall, visto que retratam em suas obras questões sociais reais e cotidianas; Despertar a apreciação, o sabor e prazer pela fotografia; Estimular o protagonismo social através da captura de imagens significativas dentro da comunidade à qual pertence. SINOPSE: Esse projeto surgiu da necessidade de conhecer mais profundamente o contexto social da comunidade escolar no intuito de valorizar as pessoas como cidadãs, tendo a fotografia como mediadora. Após uma conversa com os/as educandos/as sobre ‘Arte’, que é o tema gerador do Projeto Coletivo da escola, notamos que houve interesse relacionado ao meio em que vivem e à fotografia. Portanto, pensamos em um projeto que englobasse tanto o conhecimento do bairro, como artistas que retratam o trabalho com fotografias e questões sociais. A fotografia se torna a ‘releitura’ que o/a educando/a faz de seu mundo, utiPráticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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lizando outra linguagem que não a fala ou a escrita. IMPRESSÕES: O Projeto foi realizado de forma bastante prazerosa pelos educandos/as do Alfa e Pós Alfabetização da EJA. A professora Mariana, do curso de Customização, juntamente com as professoras Rute Coutinho e eu, Eliete S. Pereira, desenvolvemos o trabalho que, apesar de ter sido bem detalhado e minucioso, não causou dificuldade para os educandos/as, que ficaram entusiasmados com o processo, pois envolvia a releitura do contexto em que viviam. Isto os deixou muito curiosos para ver o trabalho finalizado. O desenvolvimento consistiu primeiramente em estudos e análises de diversas obras de alguns autores, dentre eles, as obras da autora Tarsila do Amaral. Em seguida, o quadro “Operários” foi selecionado para releitura por remeter à vivência de muitos educandos/as do grupo e ter a ver com o contexto da comunidade escolar. Em meio ao processo de desenvolvimento do Projeto, fizemos um passeio à Pinacoteca de São Paulo, onde os educandos/as ficaram surpresos e entusiasmados/as com grandes descobertas do “mundo da arte” e de obras da referida autora, como também de quadros e esculturas de outros autores estudados em sala de aula. A realização do trabalho auxiliou muito no aprendizado dos/as educandos/as de todas as formas, pois trabalhamos as diversas áreas do conhecimento baseadas no Projeto conforme este foi sendo desenvolvido. Com a análise do Projeto em conjunto com a turma, no término do trabalho, chegamos à conclusão de que para se obter um final compensador, é preciso disciplina e dedicação de todos os envolvidos, pois, como pudemos perceber, são muitas pessoas trabalhando num mesmo espaço que tem que ter começo, meio e fim, de forma harmoniosa. Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Estudo sobre vida e obra do artista e escolha das fotografias para comentar. Reflexão sobre as questões sociais envolvidas nas fotografias. Escolha de outros artistas e pintores para a realização do estudo de vida e obra. Caminhada pelo bairro para registro fotográfico. Apresentação dos trabalhos desenvolvidos em seminários. Exposição das fotografias na Mostra Cultural da Escola. EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita e Tecnologia da Informação. Memória e Territorialidade. Meio Ambiente. Cultura e Mundo do Trabalho.

Educandos/as em atividade de Artes.

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RETRATANDO AS MEMÓRIAS EMEB: Marcos Rogério da Rosa EDUCADORES/AS DA TURMA: Adriane de Oliveira Fernandes, Angelina Socorro Scarpin Batista e Sandra Cristina Silvestre TURMA: Alfabetização OBJETIVO: Realizar uma releitura das memórias da vida dos educandos/as, em análise crítica articulando com leitura e produção de textos narrativos, tendo como temática a memória dos/as educandos/as. SINOPSE: O trabalho foi realizado a partir da necessidade de reconhecimento dos saberes dos/as educandos/as, valorizando e reconhecendo suas memórias, entrelaçando-as com a História, colocando esses educandos como construtores da própria história. IMPRESSÕES: O desenvolvimento do trabalho deu-se através da construção de duas atividades concomitantemente. Uma era tratar a memória dos/as educandos/as como fonte de recuperação da história de vida, suas relações com a sociedade e suas implicações com o contexto de vida de cada um. Aqui trabalhou-se com a produção de textos a partir do filme “Narradores de Javé”, onde todos/as se colocaram quanto aos sentimentos e impressões sobre o trecho assistido. Houve contação de histórias, leituras compartilhadas, escritas coletivas e trabalho de revisão.

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52 As práticas em ação

Já em outra atividade evidenciou-se a utilização de réguas, conhecimento de formas geométricas e conhecimentos de costura, como coser e dar acabamentos. No desenvolvimento do trabalho, os/as educandos/as apresentaram dificuldades no manuseio dos instrumentos de medida, sendo esta uma ocasião para diversas retomadas do processo de aprendizagem e construção de conhecimentos. Aos poucos foi acontecendo a apropriação das formas geométricas, da utilização dos instrumentos de medidas e também das habilidades de costura. Ao resgatar diferentes memórias, contar, ouvir ler e produzir textos, valorizou-se as diferentes histórias de vida, respeitando o outro como ele é, enriquecendo e fortalecendo o grupo. O uso das tecnologias, como os netbook’s, para digitação e registro dos textos promoveu trocas entre os/as educandos/as, permitindo o desenvolvimento de habilidades na utilização das mesmas e afirmando o acesso. A avaliação dos/as educandos/as foi positiva, sendo possível perceber o envolvimento nas atividades propostas; a colcha, enquanto resultado final, foi motivo de surpresa e emoção por ter finalizado um trabalho belo e inusitado. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Ouvir e contar memórias no grupo; Analisar cada história no lugar de sujeito histórico; Escrever, ler, reler e revisar os textos produzidos; Digitar as produções; Traçar formas geométricas com a utilização dos conhecimentos matemáticos.

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EIXOS DE CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens Oral e Escrita, Matemática e Tecnologia da Informação.

Educanda em atividade com utilização de régua, conhecimento de formas geométricas, corte e colagem.

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54 As práticas em ação

“DE CONTO EM CONTO “ - HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO ORAL EMEB: Lopes Trovão e EMEB Salvador Gori EDUCADOR DA TURMA: Jair Rodrigues da Silva PROFESSORA PARCEIRA: Maria Helena (EMEB Salvador Gori) EDUCADOR/A PROJETOS CULTURA E TRABALHO: Sidnei de Oliveira (educador musical – EMEB Lopes Trovão) TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVO: O projeto De Conto em Conto visa valorizar todo o saber de mundo e experiência que os/as educandos/as da Educação de Jovens e Adultos adquiriram ao longo de suas trajetórias. Para tanto, recorremos aos contos de tradição oral, como instrumento primeiro para tal empreitada. Quem não conhece uma história que lhe foi confiada há muito tempo por pais, avós e outros parentes? É a partir dessa questão que iniciamos essa aventura, em busca de recolher os contos guardados para sempre em nós. Quando perguntamos sobre o conto, queremos também saber da cultura e da ancestralidade das pessoas, saber de sua história de vida, dando a esta o merecimento devido. SINOPSE: Este projeto surge pela percepção de que os/as educandos/as gostam muito de contar sobre suas histórias de vida. Com a intenção de contribuir com a formação dos/as educandos/as da EJA, cooperando para sua cidadania e inclusão aos meios de produção cultural, temse as observações para o levantamento, usando possibilidade de registro e análise.

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IMPRESSÕES: A escolha deste projeto se deu, principalmente, porque meus educandos/as têm muito a contribuir, trazendo para a sala de aula seus conhecimentos de mundo e experiências reais de vida. Foi, e é necessário, ouvir as experiências, as histórias de vida de cada educando/a e atribuir a estas a importância devida. Sendo minha sala com perfil diversificado, tendo alguns educandos em processo de alfabetização e outros já alfabetizados, realizamos este projeto pela necessidade maior dos/as educandos/as: LEREM, ESCREVEREM E COMPREENDEREM MELHOR O MUNDO E A SOCIEDADE DA QUAL PARTICIPAM. Para valorizar ainda mais este ato, recorri ao mestre Paulo Freire: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra.” Todos nós estávamos mais do que aptos a participar deste projeto, pois o que não nos falta é a leitura do mundo. O projeto ocorreu de fevereiro a junho de 2012. O mais importante de todo o processo foi acompanhar intimamente a construção de conhecimento de cada educando/a., Nesse semestre alguns deles aprenderam a ler e escrever, outros que já eram alfabetizados lendo diferentes gêneros textuais se posicionando e discutindo suas opiniões e escrevendo seus primeiros textos autorais. A expectativa é que eles avancem ainda mais em suas aprendizagens. Nossa preocupação está em formar leitores e escritores que efetivamente escrevam e leiam e, sobretudo, contribuam para um mundo menos excludente. Queremos semelhantemente valorizar as memórias das pessoas e sua história de vida. O grande interesse com que realizamos todo este processo de escrita e oralidade nos rendeu o livro “De Conto em Conto”, livro este que contém Histórias de Tradição Oral expressas por seus/suas autores/as. Seus contos são essencialmente carregados de significados de uma existência inteira de luta Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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pela vida, pela família e, agora, pelo sonho necessário da educação, este bem inalienável e de direito de todo ser humano, que, se não foi conquistado na juventude e infância, vem, agora, de forma emocionante, pois a cada nova descoberta dos/as educandos/as não é raro ver olhos cheios d’água. Professor Jair Rodrigues/julho de 2012. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Perfil da Turma – Composta de educandos de diferentes níveis de aprendizado alfa e pós; suas maiores expectativas estão em aprender a ler e escrever de maneira eficiente e realizar diferentes cálculos para, enfim, poderem participar dos e terem acesso aos meios e tecnologias de nosso mundo. Grande mudança na sala se deu no sentido da autoestima, confiança pela releitura das suas histórias e pela conquista da leitura e da escrita. ETAPA 1 - Compartilhar uma história com os educandos/as, esta pode ser lida ou contada. - Conceituar o que são as Histórias de Tradição Oral junto aos educandos/as. Saber o que eles sabem sobre essas histórias. Perguntar que histórias eles conhecem. E escrever um painel de forma coletiva sobre o tema. * É importante compartilhar uma história com os educandos em cada etapa do projeto. ETAPA 2 - Compartilhar uma história com os educandos/as; esta pode ser lida ou contada. Trabalhar a escrita dos contos com os/as educandos/as, o que Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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pode ser feito em duplas. * Esta etapa pode se estender por quantas aulas forem necessárias para realizar as escritas. É importante saber que se algum/a educando/a quiser reescrever alguma história que foi lida e/ou contada pelo/a professor/a isso pode ser realizado em parceria entre ambos, ou seja, professor e educando. ETAPA 3 - Compartilhar uma história com os educandos, esta pode ser lida ou contada. - Realizar a gravação em vídeo com os/as educandos/as compartilhando suas histórias. Nessa etapa realizamos um encontro com todos os envolvidos no processo na EMEB Salvador Gori. A intenção era compartilhar histórias de tradição e histórias de vida. Houve a participação do educador Sidnei regendo todos, num coral a partir da música “Sítio do Pica-Pau Amarelo” da autoria de Gilberto Gil. ETAPA 4 - Compartilhar uma história com os/as educandos/as; esta pode ser lida ou contada. - Produzir uma breve biografia com os/as educandos/as, para ser anexada ao livro. - Confeccionar o livro de histórias com os contos dos/as educandos/as. - Editar os vídeos das contações. ETAPA 5 - Como fechamento do projeto, realizamos o lançamento do livro com a presença dos/as educandos/as envolvidos. Além de apresentar o Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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livro e o processo vivenciado, houve um sarau no qual os/as educandos/as puderam ler seus contos e compartilhar suas “palavras vivas”, suas experiências de vida. Nessa etapa o educador musical Sidnei nos acompanhou com a realização de um coral, utilizando a música “Sítio do Pica-Pau Amarelo” de Gilberto Gil. Como etapa final, fechamos o projeto entregando um exemplar do livro para cada um dos/as educandos/as participantes. EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagem oral e escrita, Memória e Territorialidade

Atividade de “Contação de Histórias”

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TECENDO HISTÓRIAS EM: Nair da Silva Prata EDUCADOR DA TURMA: James Pereira Ruiz TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVOS: Promover a integração de conhecimentos, vinculando-os a uma proposta de formação profissional dos/as educandos/as. Possibilitar ao/a educando/a adquirir conhecimentos de elevação e qualificação profissional acerca da tapeçaria para que, de acordo com seu interesse, possa também ter uma fonte de renda. SINOPSE: O planejamento e percurso deste projeto foi possível ao perceber o desejo que os/as educandos/as mostravam em ter uma qualificação e também com a oportunidade de aprender a ler e escrever. Em respeito a este aspecto, a possibilidade de executar a qualificação profissional em tapeçaria se sustentou no conceito de educação integral, em que a dimensão técnica do conhecimento que seria trabalhado passou a ser reconhecida como possibilidade para a ampliação dos saberes pela articulação da cultura e da ciência, assim como também elevar a autoestima dos/as educandos/as. O Projeto teve sua importância pautada na questão do trabalho não apenas como fonte de renda, mas como manifestação de uma necessidade, inerente ao homem, de produzir, suprir suas necessidades econômicas e também manifestar sua criatividade. Este Projeto teve como foco o ensino da arte da tapeçaria por meio da integração dos conhecimentos a partir dos quatro eixos da EJA: meio ambiente, linguagens, cultura e mundo do trabalho, memória e territorialidade. Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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IMPRESSÕES: O/a educador/a, durante o processo de ensino-aprendizagem, deve tornar significativo cada conteúdo desenvolvido, para que, dessa forma, o/a educando/a perceba a relação existente entre os mesmos com sua própria história de vida e suas necessidades pessoais e profissionais. Esta prática não anula e nem fragmenta os saberes historicamente construídos, mas torna-os significativos e faz dos/as educandos/as agentes de sua própria formação. Esta é a função da escola, valorizar conhecimentos prévios dos/as educandos/as, contextualizando-os e promovendo, na medida do possível, a inclusão social por meio do trabalho e da cultura. Situações cotidianas – como tecer um tapete -, envolvem conhecimentos de cálculo, estimativa, o uso de medidas de comprimento, números decimais, desenvolvem a criatividade e permitem questionamentos de ordem social sobre o mundo do trabalho. Com essa orientação da ação educativa, os/as educandos/as demonstraram interesse na confecção dos trabalhos manuais e participaram nas discussões e nas atividades integradas a eles. A história não parou por aí; outras pessoas da comunidade foram atraídas até a escola por conta dos trabalhos demonstrados pelos/as educandos/as, pois eles/as faziam seus tapetes no ponto de ônibus, em seus horários de folga e chamavam, assim, a atenção de terceiros. A partir de cada um que chegava a riqueza aumentava. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Socialização em sala de aula dos diferentes tipos de tapetes que os/as educandos/as conheciam e os diferentes pontos utilizados na tecelagem: arraiolo, agulha mágica (ponto russo) e cruz de malta. Sistematização e apresentação do projeto aos/as educandos/as.

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Articulação da confecção dos tapetes com os conteúdos nos eixos de conhecimento da EJA: - Memória e Territorialidade: Comparação a produção artesanal presente em São Bernardo do Campo com o seu local de origem. Identificação de atividades artesanais que já presenciou ou já realizou. Caracterização da necessidade que algumas localidades têm de desenvolver o trabalho artesanal de acordo com suas experiências de vida e características do local. - Linguagens: - Linguagem Matemática: Pesquisa de custos dos materiais necessários para a confecção dos tapetes; Utilização de registros escritos de valores de acordo com o sistema monetário brasileiro; Interpretação de gráficos que tratem do desemprego; Construção de tabelas simples sobre preços dos materiais utilizados na tapeçaria; Levantamento de estratégias de como obter o menor custo para o desenvolvimento da atividade (pesquisa de preço); Resolução de situações-problemas com operações que envolvem o sistema monetário; Utilização de medidas de comprimento. - Linguagem Corporal: Identificação de danos causados à saúde provenientes de postura inadequada, movimentos repetitivos e sedentarismo. - Linguagem Tecnológica: Pesquisa nos meios tecnológicos (internet) imagens, Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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Vídeos ou reportagens sobre produção de tapetes. - Linguagem Escrita e Oral: Produção de listas de objetos artesanais e objetos produzidos industrialmente; Produção de texto sobre a memória que tem do trabalho (experiências pessoais); Participação ativa de debates que enfatizaram as questões sobre o mundo do trabalho; Análise e argumentação sobre os modos de produção capitalista e socialista. - Cultura: Identificação de como são produzidos os objetos artesanais nas diferentes culturas (orientais, africanas e indígenas - ameríndios) Conhecimento da biografia e obra de Esther Mahlangu e o contexto cultural em que viveu; Identificação das diferentes culturas, de onde provêm os tipos de pontos (arraiolo, cruz de malta e agulha mágica); - Meio Ambiente: Diferenciação entre trabalho manual e industrial e seus impactos para o meio ambiente; Análise da questão do consumo desmedido e desnecessário com a produção excessiva de lixo; Identificação de alternativas atuais para a resolução do problema do lixo nas grandes áreas metropolitanas (incineradores, lixões, aterros sanitários etc.). - Mundo do Trabalho: Valorização da importância do trabalho manual para o desenvolviPráticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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mento da economia; Caracterização do modo de produção socialista como possibilidade de diminuição da desigualdade social; Valorização do trabalho artístico ou artesanal como manifestação da subjetividade do ser, diferenciando-o da alienação do trabalho nas linhas de produção; Entendimento do artesanato como uma possibilidade de geração de renda. Produto Final: Tapetes produzidos pelos/as educandos/as, que posteriormente foram expostos no IV HAJA EJA. EIXOS DE CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita,Matemática; Memória e Territorialidade; Meio Ambiente; Cultura e Mundo do Trabalho.

Educandos/as no desenvolvimento do projeto.

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CAIXAS ELETRÔNICOS EMEB: Antônio Pereira Coutinho EDUCADOR DA TURMA: Patrícia Inês Faverani TEMA DO TRABALHO: Tecnologia da Informação TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVO: Desenvolver autonomia dos/as educandos/as frente às ferramentas da tecnologia da informação. SINOPSE: Esta prática pedagógica é fruto de um trabalho de observação das falas dos/as educandos/as em relação às dificuldades enfrentadas no mundo letrado, dentre elas, o acompanhamento da evolução tecnológica. IMPRESSÕES: Os/as educandos/as relatam em suas conversas sobre a necessidade da apropriação da leitura e da escrita para se tornarem mais autônomos nas tarefas cotidianas, entre as quais aquelas que estão relacionadas com a evolução das ciências tecnológicas. Em uma ida ao banco, por exemplo, são elencadas dificuldades na utilização das funções do caixa eletrônico, onde a falta de informação e a dificuldade de manuseio da máquina se tornam fatores de exclusão e de dependência da disposição de terceiros para que sejam efetuadas as operações necessárias. Dessa forma surgiu a ideia da atividade do caixa eletrônico, com a intenção de trabalhar as dificuldades dos/as educandos/as, possibilitando uma interação com o uso da máquina. Ao tratar de conhecimentos específicos de forma significativa e contextualizada, como aparecem na prática social, a possibilidade de Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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interação, mesmo que simbólica, com esse instrumento de transação bancária os aproximou da realidade que lhes parecia distante, tornando-os mais confiantes para a realização desta tarefa. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Levantamento das expectativas dos/as educandos/as para a aprendizagem das funções de um caixa eletrônico. Construção do caixa eletrônico. Apresentação das funções de um caixa eletrônico. Atividades diversas de Língua Portuguesa envolvendo palavras relacionadas às operações bancárias. Resolução de situações-problemas envolvendo questões bancárias, a partir das dúvidas dos/as educandos/as. Atendimento individualizado dos/as educandos/as para auxílio nas operações. Preenchimento de envelopes de depósito em dinheiro e cheque. Escuta das experiências a partir da aprendizagem conquistada. EIXOS DE CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita, Matemática e Tecnologia da Informação.

Educanda experimentando sua aprendizagem.

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SUSTENTABILIDADE EMEB: Profª Janete Mally Betti Simões EDUCADORA DA TURMA: Robervania Lima Messias TURMA: Alfabetização OBJETIVO: Acolher as expectativas dos/as educandos/as em relação ao uso da energia elétrica. Ampliar os conceitos sobre sustentabilidade, desenvolvendo práticas de economia de consumo de energia nas situações cotidianas de todos/as. Promover mudança no comportamento pela conscientização de nossas atitudes e de nosso papel enquanto cidadãos dentro da sociedade. SINOPSE: A proposta tem início com uma discussão com os/as educandos/as sobre energia elétrica e suas implicações no cotidiano de todos. Foi realizada através do levantamento e registro de conhecimentos prévios dos/as educandos/as em sala de aula, tendo continuidade em pesquisas realizadas no laboratório de informática, pela internet e em leituras de jornais, revistas e livros. Levantou-se diagnóstico, houve confecção de cartazes e a elaboração de atividades sobre a temática, que resultaram em debates relacionados à sustentabilidade numa sociedade consumista e insustentável. A prática pedagógica está relacionada com a temática da Sustentabilidade, que é o Projeto maior da escola, e tem por objetivo estudar a atuação do ser humano sobre os bens naturais ou não. IMPRESSÕES: A oportunidade de observar a expectativa dos/as educandos/as sobre a temática ambiental que acontece bem próxima de nossas viPráticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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vências cotidianas permite o reconhecimento, com eles, do nosso papel transformador da sociedade e, por estarem em uma turma de alfabetização, buscam, justamente, o aprimoramento de seus conhecimentos e a ampliação do acesso à informação que, entre outras necessidades, lhes permitirá uma maior entrada e participação no mundo do trabalho. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Análise da questão ambiental que faz parte do nosso cotidiano. Debates, pesquisas e discussões sobre energia elétrica para ampliação de conhecimentos sobre o tema. Levantamento de dados relacionados ao consumo de energia elétrica. Trocas de conhecimentos e partilha das hipóteses dos/as educandos/as para promover o avanço de suas aprendizagens, confrontando conceitos espontâneos com conhecimentos científicos. Elaboração de um plano de economia de energia elétrica para as casas, monitoramento e discussão de dados. Elaboração de cartazes. Acesso às temáticas do Evento Rio mais 20. EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita e Matemática; Meio Ambiente.

Educandos e educandas em Roda de Conversa

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MULHERES E A COMPREENSÃO DA QUESTÃO DE IGUALDADE DE GÊNEROS MOVIMENTO DE ALFABETIZAÇÃO - MOVA EDUCADORAS DA TURMA: Andréa Rocha Peres e Eliana de Deus Moreira TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVO: Promover a aquisição da leitura e da escrita através do desenvolvimento da temática da história da evolução da mulher na sociedade. Promover a aproximação dos/as educandos /as do universo musical, poético, teatral e cinematográfico como fonte de entretenimento e de informação sobre o tema. Discutir as desigualdades sociais, políticas, econômicas e raciais com relação às mulheres. SINOPSE: Ao trabalhar ao longo do ano os saberes individuais de cada educando/a, descobriu-se a necessidade de se aprofundar o assunto sobre a igualdade de gêneros, pois havia muitas dúvidas e preconceitos nas relações entre mulheres e homens. Para ampliar as discussões e promover uma mudança nesta situação, passamos a trabalhar a questão de gênero estudando as leis, poesias, músicas, reportagens e outros suportes sobre o tema. Posteriormente, em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, houve a possibilidade da elaboração de um ciclo de palestras onde foi possível o esclarecimento de dúvidas e o acesso a serviços e informações que permitiram o aprofundamento da pesquisa em sala de aula.

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IMPRESSÕES: O Ciclo de Palestras desenvolvido com a parceria da SEDESC foi o disparador para a continuidade da ação educativa, na qual trabalhamos, em cada tema, a alfabetização, a leitura e o uso do dicionário, fazendo acontecer a multidisciplinaridade do estudo. Ao término de cada aula era realizada uma avaliação do que aprendemos e era feito o planejamento da próxima aula. Em atividades como a da paródia, por exemplo, é possível observar nas frases do texto o que cada um aprendeu e do que se apropriou sobre o assunto, o quanto de avanço ocorreu, quais hipóteses foram modificadas e os novos saberes. Ao final do processo, educandas da sala fizeram novos documentos pessoais e também exames médicos de prevenção que acharam necessários. Houve, enfim, mudanças em cada educando/a desta comunidade, inclusive da educadora que aprendeu muito durante o processo. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Estimular cada educanda/o a pensar e contar para o grupo uma história pessoal sobre uma mulher que conhecera no decorrer da vida. Este foi o ponto de partida para a construção da ideia de que todos nós conhecemos uma mulher especial. Quem é ela? Qual é o nome dela? O que ela faz? Como a conheceu?... Apresentação de reportagens sobre maus tratos domésticos, suas estatísticas e discussão sobre o assunto. Rodas de conversa sobre a Lei “Maria da Penha”. Atividades de leitura e escrita. Elaboração de um texto coletivo que contemplou a ideia principal do grupo. Elaboração de uma semana inteira de discussões com a sala de aula e a comunidade do entorno sobre politicas públicas existentes na cidade que envolvem a questão de gênero.

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EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita Memória e Territorialidade Cultura

Mova em atividade

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EXERCITANDO A CIDADANIA EMEB: Helena Zanfelici da Silva EDUCADORA DA TURMA: Eliana Gonçalves dos Santos TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização OBJETIVO: Favorecer o processo de construção do conhecimento de forma contextualizada, considerando os eixos do conhecimento das Diretrizes Curriculares, promovendo um trabalho coletivo e interativo a partir das necessidades dos/as educandos/as. SINOPSE: Ao iniciar o ano letivo, no momento da caracterização das turmas, conversando, observando, fazendo perguntas, debatendo opiniões e provocando a participação dos/as educandos/as, percebemos, nos assuntos relacionados ao bairro onde vivem, que eram muitas as reclamações sobre o transporte oferecido na região para outros pontos e serviços da cidade. Analisando as questões, foram elaboradas várias sugestões de projeto de estudo para a turma, concluindo que, de fato, o momento sugeria um debate sobre cidadania. IMPRESSÕES: A ação educativa foi desenvolvida pela produção de pesquisa através de fotos, depoimentos, entrevistas e legendas sobre a problemática do transporte no bairro do Riacho Grande. Produziu-se também, de maneira coletiva, uma paródia, contando de forma bem-humorada o caminho percorrido pelos/as educandos/as para enfrentar o problema. Também foram utilizados vídeos e até a organização de um ‘abaixoassinado’ na comunidade com o propósito de solucionar a situação. Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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O processo permitiu, entre outros encaminhamentos, a possibilidade de elaborar perguntas que de fato problematizavam a realidade dos/as educandos/as e os chamavam para a solução do problema, corresponsabilizando-os enquanto sujeitos de suas conquistas e alertando-os para a identificação do impacto da ação dos homens e mulheres sobre a natureza. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: ● Cada etapa foi desenvolvida respeitando-se o ritmo do grupo que não havia, ainda, vivenciado a elaboração de um projeto. Foi preciso planejá-lo e retomá-lo em cada momento em que as adversidades se fizeram presentes. ● Conhecimentos tratados: A história do Riacho Grande – passado e presente. - Linguagem Escrita e Oral ● Escrita ou reescrita das etapas da pesquisa pelos alunos em pares, aproveitando a diversidade de saberes. ● Pesquisa de fotos de locais turísticos e curiosidades que fazem parte do bairro, completando com legendas. ● Construção de uma carta coletiva relacionando os problemas de transporte enfrentado pelos munícipes. ● Descrição do tipo de texto, no topo de cada título, indicando seu gênero. ● Construção de um abaixo-assinado para solicitação de ônibus circular para o bairro. ● Descrição dos serviços essenciais ofertados na região: supermercados, bancos, subprefeitura, biblioteca municipal, UBS, UPA, correio, lotérica etc.

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- Linguagem Matemática ● Pesquisa dos números que indicam o tamanho do Riacho Grande, sua população atual e quilômetros percorridos por cada aluno para migrar. ● Receitas típicas do bairro, levando em consideração o fato de ser um ponto turístico e rodeado por vários pesqueiros e clubes que incluem quantidades, porções, frações etc. ● Distância do bairro para chegar ao local desejado (UPA, supermercado mais próximo, lotérica mais próxima, banco mais próximo). ● Exemplificação de gastos com passagens, cesta básica, vestuário, entre outros. - Linguagem Corporal ● Os alunos pesquisaram e elaboraram atividades que foram mais vivenciadas e que fizeram parte do passado e/ou do presente no bairro (jogos, danças, atividades físicas). ● Os alunos elegeram uma brincadeira, história ou música de infância que ficou na memória de cada um, apresentando-as e descrevendo-as. - Linguagem Tecnologia da Informação ● Pesquisa na internet, utilização dos netbooks para edição dos textos da pesquisa, uso de celulares para fotografar, calcular, telefonar, utilização da filmadora e da máquina fotográfica, Google Earth para visualização dos mapas, preparação de apresentações no Power Point. - Eixo Meio Ambiente ● Pesquisa da represa que banha o subdistrito (área de manancial). Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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● Comparação do território (sudeste) em que se localiza o Estado com os de origem dos alunos (sudeste/nordeste) e outros territórios brasileiros (biomas brasileiros). ● Descrição do clima do Riacho Grande. ● Saúde e meio ambiente: o que devemos priorizar? A comunidade participa ativamente de caminhadas pelo bairro (estrada da Yakult), plantio de mudas, reciclagem (vários eco-pontos distribuídos pelo bairro). ● Sustentabilidade nos dias de hoje é possível? ● Eco Escola no Parque Estoril. ● Rodoanel: problemas e soluções. - Eixo Cultura e Trabalho ● Possibilidades de trabalho e renda ofertados na região a que pertenciam e as oportunidades encontradas na região atual. ● Fotos legendadas com narração pessoal de alunas. (boia-fria, seringueira etc). ● Entrevista com morador questionando sobre o porquê da necessidade de um ônibus circular para o bairro. ● Análise de provérbios populares (texto memorizado) que são mais conhecidos na região atual e na região a que pertencem e que propiciam o pensar passivo. Entrevista com um motorista ou cobrador que faça o itinerário do bairro.

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EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita,Matemática, Corporal e Tecnológica. Memória e Territorialidade Meio Ambiente. Cultura e Mundo do Trabalho

Diagnóstico da realidade

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HOMENS E MULHERES NA CONSTRUÇÃO DO MUNDO E CONSTRUÇÃO DE SI EM: Madre Celina Polci EIXO TECNOLÓGICO DA CONSTRUÇÃO CIVIL EDUCADORA DA TURMA: Miriam Capitânio Macagnani EDUCADOR DA TURMA NO EIXO TECNOLÓGICO: Ednélio de Jesus Santos TURMA: Alfabetização e Pós-alfabetização integrado ao curso de Alvenaria OBJETIVO: Caracterizar as formas de ocupação do espaço urbano por meio do resgate das diferentes formas de moradia, considerando estes espaços enquanto local de pertencimento e de identidade. Utilizar os conhecimentos sistematizados pelos homens para compreender as especificidades da construção civil, bem como, através deles, resolver situações-problemas pertinentes a esse trabalho. Discutir sobre o mundo do trabalho. Ler, escrever e produzir textos. SINOPSE: Integrar conhecimentos técnicos contidos nas aulas de qualificação profissional de alvenaria com os do curso de elevação de escolaridade, com o propósito de contemplar as expectativas dos/as educandos/as em relação à sua formação, foi o desafio proposto por este projeto. Os conteúdos desenvolvidos tiveram o objetivo de reflexão e de aprendizagem, partindo dos saberes trazidos pelos/as educandos/as (senso comum) para a resolução dos desafios apresentados nas aulas Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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práticas de alvenaria, produzindo-se assim um conhecimento formal (sistematizado) sobre os tipos de construção de moradias, o resgate de memórias, a ocupação do espaço territorial e o sentimento de pertencimento a este ou àquele local. Estudou-se sobre as questões ambientais e de sustentabilidade. Medidas, cálculos, orçamentos, formas geométricas, noções estéticas, saúde e segurança no trabalho. IMPRESSÕES: As Diretrizes Curriculares contemplam quatro eixos formativos: Memória e Territorialidade, Linguagens, Meio Ambiente e Cultura e Trabalho que orientam este projeto. No eixo das linguagens, o emprego da etno-matemática, (nomenclatura um tanto desconhecida na esfera pedagógica), após uma formação para educadores/as, passou a circular e promover um movimento de ressignificação entre nós, fazendonos refletir sobre a forma como nossos educandos/as transformam em conceitos as questões matemáticas e como a matemática está presente em nossas vidas. Os/as educandos/as se consideram desprovidos de conhecimento, pois seus saberes nunca foram valorizados. Entendemos que o papel da escola é o de reconhecer esses saberes trazidos pelos/as educandos/as e sistematizá-los enquanto conhecimento formal historicamente construído. O estudo da aplicação de cálculos para o assentamento de revestimentos que utilizaram formas geométricas para seu corte e encaixe, criando novas perspectivas e inspirações estéticas, despertou os/as educandos/as para a necessidade de repensar o valor do trabalho e da valorização do preço cobrado por ele. A possibilidade de realizá-lo de uma forma diferenciada e obter melhores remunerações convenceu-os de que a atividade braçal pode e deve ser associada ao planejamento, criatividade, reflexão e sustentabilidade. Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: ● Apresentação aos educandos/as da proposta de integração da elevação de escolaridade com curso de alvenaria; ● Roda de conversas, resgatando as memórias pessoais relacionadas às diferentes moradias e posterior registro; ● Utilização de textos para a leitura, interpretação e discussão; ● Visualização de imagens no computador sobre diferentes formas de construção de moradias; ● Apreciação das obras de Vik Muniz abordando a questão da sustentabilidade; ● Utilização de vídeos sobre a questão da água e do lixo, relacionados à ocupação urbana; ● Construção de material didático para simular cálculo, recorte e visualização estética para o assentamento de revestimento e piso; ● Desenho e interpretação de plantas simples; ● Visitas técnicas: Museu do Café (observação da arquitetura, evolução do transporte, importância para o povoamento da região do ABC, proximidade litorânea para condições de ocupação e exportação de produtos); Usina de Reciclagem (questão do lixo e economia referente ao cooperativismo) e atividades culturais (Bonde Samba, Seminário da EJA e da Educação Profissional e HAJA EJA); ● Assentamento de piso, levantamento e revestimento de paredes, confecção de blocos decorativos com mosaico para a utilização no jardim da escola; ● Realização do canteiro de temperos no jardim da escola.

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79 As práticas em ação

EIXOS DE CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens Oral e Escrita, Matemática e Tecnologia da Informação. Meio Ambiente. Cultura e Trabalho.

Educandos e educandas da EM Madre Celina Polci

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QUEM SOMOS NÓS? EMEB: Isidoro Batistin EDUCADORA DA TURMA: Selma Cristina da Silva TURMA: Alfabetização OBJETIVO: Contemplar as expectativas de aprendizagem da leitura e da escrita dos/as educandos/as do grupo, através da valorização de seus percursos de vida, principalmente com o reconhecimento de seus saberes e experiências. SINOPSE: Ao aproximar as expectativas dos/as educandos/as dos conhecimentos históricos construídos, tornamos significativas as suas aprendizagens, contextualizando-as e dando a elas um lugar de importância para a transformação de nossas realidades. IMPRESSÕES: Ao considerar o desejo dos alunos de aprender a ler e a escrever e poder fazer destas ferramentas um instrumento de inclusão social, era preciso desencadear um processo que os motivasse a participar e não se fragilizar diante das possíveis dificuldades. Então, por onde começar? Como envolvê-los? Quais temas escolher para elaborar as atividades? Com estes e outros questionamentos surgiu esta proposta: iniciar com as expectativas, anseios e desejos de cada um. Fazer com que inicialmente contem sobre suas frustrações, conquistas e necessidades. Sonhos e ideais de futuro. E, ao falarem, escrevam e leiam sobre suas ideias. No início, o registro seria a sistematização destas produções, mas Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


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posteriormente as imagens também se tornaram significativas e importantes para cada um deles/as. Então, outra forma de trabalho foi a pesquisa pela fotografia que foi utilizada como uma recordação deste processo. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: Conversas, relatos e leitura de textos sobre a infância, adolescência, vida adulta e mundo do trabalho. Registro das produções. EIXOS DO CONHECIMENTO TRABALHADOS: Linguagens: Oral e Escrita Cultura e Mundo do Trabalho.

Educandos e educandas em atividade

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Palavras finais



Palavras finais

M

ais um passo foi dado na construção da proposta curricular da EJA. Foi um processo permeado por um trabalho coletivo, em que todos os protagonistas da EJA ti-

veram possibilidade de se fazer ouvir. Nada como trazer à baila as práticas pedagógicas dos professores, valorizando o trabalho em sala de aula e evidenciando que a Educação é uma construção coletiva. Em cada prática, é possível ver uma concepção crítico-emancipatória, na qual a realidade concreta dos/as educando/as se faz presente e com embasamento das Diretrizes Curriculares da EJA, no trabalho com eixos do conhecimento, apresentando possibilidades de uma ação educativa com significância. Esta publicação pretende ser mais uma contribuição no direcionamento da ação educativa para a EJA de São Bernardo do Campo, mais um passo que sinaliza o quanto a construção coletiva é primordial na Educação e o quanto as escolas estão comprometidas no desenvolvimento da qualidade do processo educativo. A sistematização dessas práticas materializa o esforço de toda a EJA (professores, equipes gestoras e equipe técnica) em registrar a prática pedagógica que oportuniza aos educandos/as a perspectiva da Educação Integral, em que as dimensões da Ciência, Cultura e Trabalho estão presentes, reconhecendo o sujeito na sua integralidade, proporcionando-lhe uma formação completa para a leitura do mundo e preparando-o para o pleno exercício da cidadania.


86 Palavras finais

Que em 2013 possamos seguir essa toada e nos fortalecer cada vez mais a fim de que possamos reparar uma dívida histórica que impediu aos sujeitos da EJA o acesso à Educação de qualidade. “HAJA EJA em São Bernardo do Campo” "Todo futuro é a criação que se faz pela transformação do presente." Paulo Freire- 1979

Práticas Pedagógicas: experiências e vivências em EJA


Bibliografia



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2013


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