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Tempo mem´oria
Revista de Comemoração dos 25 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FACED)
1 989 - 201 4
PPG E D
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Revista de comemoraçãoTempo dos 25eanos da Pós Graduação da FACED Memória
a revista
Apresentação Maria Vieira Silva1
Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo, tempo, tempo, tempo (Caetano Veloso)
O Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (PPGED/UFU), completa, em 2014, 25 anos de existência. As divisões do tempo em ciclos temporais são constructos culturais e simbologias sociais. Assim, aos nos referenciarmos neste recorte temporal, não pretendemos substancializar o tempo histórico de forma reificada ou a partir da ideia linear de progresso. Buscamos, por meio das memórias, narrativas e documentos disponibilizar registros, ensejar reflexões, promover debates e diálogos indagativos sobre o percurso vivenciado pelo conjunto de docentes, discentes e técnicos que construíram e constroem a história desse Programa. Ao longo dessas duas décadas e meia, contribuímos efetivamente para a elaboração de aproximadamente 600 teses e dissertações, além de centenas de livros, capítulos de livros, artigos publicados em periódicos científicos e relatórios de pesquisas. Esses números, à primeira vista, podem nos parecer meras abstrações quantitativas, mas, diferentemente deste ângulo, eles são emblemáticos do profícuo trabalho desenvolvido por docentes e discentes que sedimentam a existência do PPGED. Destacamos, em especial, o importante trabalho dos docentes no processo de qualificação de quadros para a Educação Básica e Superior, mediante múltiplas modalidades de trabalho e pelos diferentes contributos oferecidos ao processo de produção e difusão do conhecimento. Contamos atualmente com 02 técnicos administrativos, 59 professores e 187 discentes distribuídos em 05 Linhas de Pesquisa. Destarte, a história do PPGED/UFU é construída diuturnamente por esse conjunto de sujeitos, que, de forma compro-
metida e árdua, têm contribuído sistematicamente para sua consolidação: “Estamos falando de homens e mulheres, em sua vida material, em suas relações determinadas, em sua experiência dessas relações, e em sua autoconsciência dessa experiência" (Thompson, 1981, p. 111). A publicação Tempo e Memória, disponibiliza registros de memórias do percurso dos 25 anos do PPGED/UFU. Sua composição é construída por narrativas que reconstroem sua gênese, seu percurso e o tempo presente. Segundo Le Goff (2003: 119) “memória é um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou informações que ele representa como passadas”. Com essa publicação, nos mobiliza a intenção de “atualizar o passado” e “remontar o presente” para contribuir com uma síntese - ainda que parcial e concisa - da história do PPPGED/UFU, mediante possibilidades do presente reencontrar o passado. A história é produzida por todos os sujeitos, e, por isso, manifestamos nosso reconhecimento e nossa gratidão a todos os secretários, discentes, coordenadores e docentes (atuais e aposentados) que contribuíram e contribuem para a construção da história do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Desejamos a todos uma boa leitura! L E GOFF, Jacqu es. História e Mem ória. 5ª Edição. São Pau lo : Co pyrigh t Edito ra, 2 003. THOMPSON, E. Palm er. A m iséria da Teo ria. R io de Jan eiro : Zah ar, 1 981 . 1 Maria Vieira Silva é do u to ra em Edu cação pela UNICAMP. É pro fesso ra da Facu ldade de Edu cação, co m atu ação n o Cu rso de Pedago gia e n o Pro gram a de Pós -Gradu ação em Edu cação, o n de exerce, atu alm en te, a fu n ção de co o rden ado ra (Gestão 2 01 3-2 01 5).
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editorial
O paradoxo da construção do saber Gerson de Sousa1 (Editor Responsável)
Qual o significado das pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Faculdade de Educação na UFU para estruturar o campo educativo no Brasil? De que forma o processo de construção de conhecimento, no período de duas décadas e meia, no PPGED contribui para a sociedade potencializar a valorização dos saberes de educação e da cultura? As questões acima sinalizam aspectos iniciais da pauta estruturada para o conjunto de matérias desta revista. Os discentes do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo e mestrandos do Programa Tecnologia, Comunicação e Educação da FACED-UFU foram instigados a produzir, nas matérias, uma análise que pudesse desvelar a amplitude e a profundidade das pesquisas sobre a educação. Os repórteres foram convidados a exercitar o jornalismo crítico. A defesa deste tipo de jornalismo está primeiro em afirmar que o trabalho de produção jornalística está estruturado na articulação interdisciplinar dos saberes científicos. Há aqui a critica sobre o olhar reducionista, amparado também em uma ideologia cientifica, de ser o jornalista mero reprodutor do fato, determinado somente a matéria informativa. O problema toma caráter existencial quando a determinação científica e econômica que reduz a prática jornalística se estende para definir também um padrão do sujeito jornalista. Da matéria meramente informativa para o sujeito que se encerra no reducionismo dessa informação, esse discurso sustentado na ação ideológica traz como resultado a afirmação do valor da prática es-
truturado no processo irreversível da tecnologia. Essa lógica sacrifica em sua ação de política repressiva o próprio saber jornalístico. Mais do que isso: desvia o olhar na profundidade e do conflito de estarmos em um processo comunicativo. A essência da práxis jornalística está no próprio exercício do conhecimento repensado constantemente por meio da entrevista e mergulhado em outro contexto agora no espaço e tempo da escrita do repórter e do ato de decodificação do leitor. A produção desta revista tem a proposta de revelar essa essência: no momento em que a crítica de intelectuais da educação da UFU é convidada a se debruçar sobre os sentidos da educação, com o fio do passado contextualizado na contemporaneidade, a mediação para provocar e desvelar esse debate coube ao saber jornalístico. O cuidado para seguir a coerência crítica deste processo de produção está na concepção da importância da entrevista. Entrevista significa concordar no acordo de tempo de concessão de vida entre entrevistador e entrevistado, ambos sujeitos do processo comunicativo e educativo, cujo sentido está em prosseguir a tarefa de sujeito histórico para um novo sentido do conhecimento. Mesmo que este conhecimento esteja inserido em fragmentos de aspectos de determinadas linhas inseridas em uma grande área. É com este propósito que devemos interpretar os textos desta revista e tomar como referência que não se trata de esgotar assunto. As páginas devem servir como alimento para ter o parâmetro da importância do PPGED no cenário nacional e internacional. A estrutura da revista está definida em artigos produzidos por ex-coordenadores do Programa, em matérias sobre a origem e contribuição das linhas de
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Expediente Universidade Federal de Uberlândia Reitor Elmiro Santos Resende Vice-reitor Eduardo Nunes Guimarães
pesquisa, os eventos produzidos por essas linhas, um histórico sobre o PPGED, as revistas produzidas e as condições da pesquisa no Brasil, estendendo essa reflexão tanto para educação básica, quanto para educação superior. O resultado das 86 páginas é um mapeamento valorativo das perspectivas, dilemas, conflitos e desafios da pesquisa em educação desenvolvida por pesquisadores do Brasil. O movimento de sentido da leitura para esta revista deve reconhecer a origem do problema definido na pauta jornalística. Refletir sobre o significado da pesquisa em educação tem de ser amparado na complexidade das esferas das relações de saber. Estão refletidas nas páginas o repensar a educação nas pesquisas do mestrado e doutorado, as implicações deste conhecimento acadêmico para modificar a prática educativa, as repercussões das transformações sociais na redifinição da construção de identidade das linhas de pesquisa na FACED e os desafios de articular uma política da educação diante do paradoxo da estrutura econômica que legitima o espaço de saber escolar e violenta o tempo dos e nos sujeitos que demarcam pela história de vida a existência do que se concebe como educação. A perspectiva é que a pausa para a leitura desta revista implique em um momento educativo para identificar as perspectivas de lutas no campo da educação e retomar as forças com a consciência de atuar como sujeito coletivo. Os conflitos expostos pelos saberes de entrevistados e entrevistadores nesta revista constituem como um espaço micro do movimento do conflito estruturante da história do país. Seja pelo processo educativo, seja pelo processo comunicativo. 1 Gerson de Sousa é Graduado em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo (UNIMEP-SP), especialista em Docência do Ensino Superior (Ceunsp-SP), Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Atua como professor da FACED no curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo e no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Comunicação e Educação FACED/UFU.
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Marcelo Emílio Beletti Pró-Reitora de Pesquisa e Graduação Marisa Lomônaco de Paula Naves Pró-Reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis Dalva Maria de Oliveira Silva Diretor da Faculdade de Educação: Marcelo Soares Pereira da Silva Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) Maria Vieira Silva Editor Geral Gerson de Sousa Edição Gerson de Sousa Redação Ana Beatriz Tuma, Anna Vitória Rocha, Brunner Macedo, Carlos Gabriel Ferreira, Cíntia Sousa, Clarice Sousa, Daniela Malagoli, Diélen Borges, Felipe Saldanha, Giovana Matusita, Giovana Silveira, Isley Borges, José Elias Mendes Neto, Laís Farago, Leidiane Campos, Marcos Reis, Marina Colli, Maysa Vilela, Natália Faria Fotografia Ananda Dinato, Cíntia Sousa, Diélen Borges, Fausiene Victor, Felipe Flores, Gerson de Sousa, Marcos Reis, Ricardo Carvalho Capa Leidiane Campos, Giovana Silveira (Arte), Felipe Flores (Fotos) Projeto Gráfico Giovana Silveira, Leidiane Campos Revisão Cintia Sousa, Marcos Reis Impressão EDUFU - Editora da Universidade Federal de Uberlândia www.edufu.ufu.br Tiragem 500 exemplares Revista Tempo e Memória
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Tempo e Memória
sumário artigos Programa de pósgraduação em Educação da UFU: registros históricos sucintos Programa de pósgraduação em educação (1990 1993) Programa de pósgraduação em Educação da UFU (2000 2002) Tempos históricos Em busca de um perfil Uma história em construção Entre desafios e perspectivas Uma história e um ano que não terminou Dualidade e gestão Sem pesquisa não se faz um bom ensino
p. 08 p. 10 p. 12 p. 14 p. 16 p. 18 p. 20 p. 22 p. 26 p. 78
PPGED PPGED consolida produção científica em múltiplos espaços educativos
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função social da pesquisa Saberes e Práticas Educativas tem origem para acabar com dispersão temática Estado, políticas e gestão da educação Dialéticos Educação em Ciências e Matemática: a interdisciplinaridade como característica Nas linhas da histórida da educação
p. 30 p. 32 p. 34 p. 36 p. 38
entrevista Dez anos na janela de vidro Por trás das cortinas História vivida como objeto de estudo
p. 40 p. 42 p. 44
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fotos históricas Imagens memoráveis
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defesas históricas O mestrado como meio de transformação social Educação inclusiva na mira da1a doutora pelo PPGED 500a defesa aborda tema sobre escolarização negra no período republicano
p. 52 p. 54 p. 56
revistas do programa Cadernos de História da Educação:para aprender e relembrar Revista fomenta debates nas práticas de aprendizagem Revista Educação e Politicas em debate
p. 58 p. 60 p. 62
eventos Políticas educacionais em pauta O "Uno e o Diverso" promove troca de experiências sobre a docência Falar de Foucault é preciso Seminário de Ciências e Matemática promove trocas de conhecimento ENPECPOP abre espaço para debate sobre educação e cultura popular
p. 64 p. 66 p. 68 p. 70 p. 72
condições da pesquisa O papel do PPGED na formação de docentes para a educação básica O processo necessário para formar docentes no Ensino Superior Pesquisas respondem às necessidades eminentes da Sociedade Brasileira Presidente da FAPEMIG: entrevista
p. 74 p. 76 p. 80 p. 82
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Tempo e Memória
artigo
Programa de pósgraduação em Educação da UFU: Registros históricos sucintos Luis Ernesto Rodríguez Tapia1
A Resolução nº 25/88 do CONSUN, de 28/10/1988 autoriza a implantação do Curso de Mestrado em Educação (Educação Brasileira). A seguir apresenta-se alguns registros extraídos do Relatório de Atividades do Programa de Mestrado em Educação (Educação Brasileira), Período: Abril/1989-Abril/1991 e das 03 (três) primeiras Atas de Defesa de Dissertação de Mestrado. Registros acadêmicos estes sucintos, porém significativos no contexto e Zeitgeist político institucional da época. Dentre as reuniões e deliberações do Colegiado de Curso destaca-se: 09/06/1989: Estabelecimento de critérios na incorporação de professores da UFU ao corpo docente do Mestrado em Educação Brasileira. Decisão da reestruturação do Projeto do Mestrado com base nos pareceres do GTC/CAPES, e início das aulas em fevereiro de 1990. (Grifos nossos). No item reuniões do Corpo Docente destaca-se: 15/12/1989: informações gerais: 1) levantamento e registro de áreas e subáreas de conhecimento na atuação dos membros do Corpo Docente do Mestrado em Educação com base na nomenclatura unificada da CAPES, CNPq e outros [...] 4) readequações no Projeto do Mestrado com base nos pareceres do GTC/CAPES: a) explicitação da área de concentração; b) diferenciação de linhas de pesquisa; c) aperfeiçoamento da grade curricular, atualização e incremento qualitativo e quantitativo da bibliografia das disciplinas; d) evidenciação e
detalhamento da produção científica do corpo docente e de sua experiência em Pós-graduação scricto sensu, e) atualização e incremento qualitativo e quantitativo do acervo de periódicos nacionais e estrangeiros em Educação existentes na Biblioteca, levantamento do acervo de livros em relação às linhas de pesquisa do Programa e inclusão de obras de referência, [.. ] 8) encaminhamentos junto a prefeitura universitária e CEHAR para a obtenção de um ramal telefônico, [...] 16) encaminhamentos para a readequação das salas 1G01 e 1G03 do Bloco “G” Campus Santa Mônica para a instalação da Secretaria do Mestrado em Educação, da Coordenação, sala para professor visitante e saletas de estudo para os alunos, 17) realização em 01/12/1989 do Seminário de Planejamento e Avaliação Educacional com a participação de Professores do Mestrado em Educação e da SESu/Ministério da Educação. (Grifos nossos). Dentre as principais atividades ao nível da Coordenação destaca-se: Processo de seleção de candidatos ao Mestrado em Educação, participação na elaboração do cronograma e critérios de seleção; coordenação da elaboração de folheto de divulgação, encaminhamento da divulgação do Edital de Seleção ao jornal O Triângulo, 16, 17 e 18 de maio de 1989; divulgação do Programa de Mestrado pela imprensa (Correio de Uberlândia, 17/05/89 p.3; Estado de Minas,19/05/89 supl.; O Triângulo, Uberlândia 17/06/89 p.3; Correio de Uberlândia 19/07/89 p.5, assim como na Radio Universitária e TV Paranaíba). [.. ]
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Foto: Divulgação
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Primeiras 03 (três) Defesas de Dissertação
Readequações no Projeto do Mestrado em Educação: 1) Coordenação geral das atividades de reformulação do Projeto e encaminhamento à CAPES procurando atender rigorosamente as recomendações do GT/CAPES; [...] 4) Participação na XII Reunião Anual ANPED (São Paulo) para o efeito de observar tendências educacionais visando a explicitação de identidade própria para o Mestrado em Educação Brasileira/UFU. [...] (Grifos nossos).
05/10/1992: Candidata: Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro, Título da Dissertação: Estudo fenomenológico do ensino-aprendizagem na escola noturna: casuística de evasão e repetência. Banca Examinadora: Prof. Dr. Luis Ernesto Rodriguez Tapia (UFU, Presidente), Prof. Dr. Aluísio Pimenta (UEMG, Titular), Prof. Dr. Antônio Chizzotti (PUC-SP/UFU, Titular). A candidata aprovada prosseguiu estudos de doutorado na USP. 08/11/1993: Candidata: Delma Faria Shimamoto, Título da Dissertação: O mundo existencial do aluno na aula de Ciências: perspectiva fenomenológica no ensino de ciências na escola pública de 1º grau (5ª a 8ª séries). Banca Examinadora: Prof. Dr. Luis Ernesto Rodriguez Tapia (UFU, Presidente), Profa. Dra. Maria Hermínia Marques da Silva Domingues (UFG, Titular), Profa. Dra. Regina Célia Santis Feltran (UFU, Titular). A candidata aprovada prosseguiu estudos de doutorado na UFSCar. 19/11/1993: Candidata: Silma do Carmo Nunes, Título da Dissertação: Concepções de Mundo no Ensino de História de 5ª a 8ª séries na escola estadual em Minas Gerais (1959- 1979), Banca Examinadora: Prof. Dr. Luis Ernesto Rodriguez Tapia (UFU, Presidente), Profa. Dra. Ernesta Zamboni (UNICAMP, Titular), Prof. Dr. Antônio Chizzotti (PUC-SP/UFU, Titular). A candidata aprovada prosseguiu estudos de doutorado na UNICAMP.
Representação do Programa de Mestrado: Representação no Conselho do CEHAR, Diligências junto à PROPEP, PROAC, Reitoria, Diretoria de Biblioteca (encaminhamento de 53 títulos de livros atualizados em Educação para incorporação do acevo, obtidos pela Coordenação junto aos respectivos Editores em São Paulo-Capital). [...] Infraestrutura: Em termos de infraestrutura física e equipamentos em 17/04/1990 tinha-se conseguido a readequação da sala 1G01 do Bloco “G”, mas não tinha-se conseguido a reforma da sala 1G03, para estudo e orientação. Estava-se compartilhando o ramal telefônico da Coordenação do Curso de Letras, aparelho emprestado pelo CEHAR sob termo de devolução. Tinha-se em vista conseguir um micro computador modelo antigo de segunda mão faltando a impressora. Na infraestrutura financeira e de apoio o Programa não obteve dotação por parte do CEHAR ano de 1990. Da dotação por parte da PROPEP na rubrica recursos de manutenção, o Mestrado em Educação obteve 13,4% (treze vírgula quatro por cento) do total de NCz$ 910.000 atribuído para os 03 (três) Programas de Mestrado existentes na época na UFU.
Certamente para os registros acadêmicos da época atual, contexto e 'Zeitgeist' político institucional são positivamente outros. Luiz Hernesto Rodriguez Tápia foi coordenador do Programa de Mestrado em Educação/UFU no periodo de 06/04/1989 a 30/04/1991
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Tempo e Memória
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artigo
Programa de PósGraduação em Educação (1990 1993) Osvaldo Freitas de Jesus 1
Ao focar o passado, a história reconstrói cenários, fatos e relações entre os agentes na vida social assim como o significado de suas ações; entretanto o passado não deixará de estar distante. Mesmo aproximando o passado do presente, os cenários, fatos e as relações humanas não se reapresentam em sua completude. Parte do passado permanecerá subjacente, porque o presente não possui luz bastante para iluminá-lo. O Programa de Pós-graduação em Educação da UFU tem uma trajetória singular dentro da instituição e detalhes de seu início podem ser desconhecidos hoje. Em 1988, assumiu o cargo de Reitor da UFU, o Prof. Antonino Martins da Silva Júnior. Nessa época, havia dois programas de mestrado na UFU, a saber, engenharia mecânica (1985) e engenharia elétrica (1985). O CEHAR, Centro de Ciências Humanas e Artes, até então, estava envolvido com pós-graduação lato sensu.
Por iniciativa do DEPOP, foi elaborado um projeto de mestrado em educação, área de concentração em educação brasileira, a ser submetido ao Conselho Universitário em 1889. Aprovado naquela instância, a proposta foi remetida a CAPES, sendo Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, o Prof. Walder Steffen Júnior. O primeiro espaço físico, destinado ao Programa de Mestrado em Educação da UFU, foi o último módulo, no térreo, corredor à direita, bloco G, no qual, a secretaria foi instalada e os dois módulos que antecediam à secretaria, foram destinados às salas de aula e reuniões do corpo docente. Na foto seguinte, pode-se observar um bloco na parte inferior, transversal em relação aos demais. É o bloco G e, na extrema direita, há um terreno baldio, no qual estão hoje o direito, a biblioteca e o bloco Q. O campus e a vida dentro do mesmo eram muito diferentes. Por exemplo, quase não havia carros estacionados.
Fotógrafo: Desconhecido (1990)
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No início, o funcionamento geral assemelhavase muito a uma especialização, pois faltava na área de ciências humanas a experiência da pós-graduação stricto sensu. O Programa de Mestrado em Educação da UFU teve seu início em março de 1990. Seu primeiro coordenador foi o Prof. Luis Ernesto Rodriguez Tapia (1990-1991). O corpo docente, nos primeiros anos, era composto pelos seguintes docentes ativos no programa: 1 – Prof. Fernando Leite (1990) 2 – Prof. José Carlos Souza Araújo (1990) 3 – Prof. Luis Ernesto Rodriguez Tápia (1990) 4 – Prof. Osvaldo Freitas de Jesus (1990) 5 – Profa. Regina Célia Feltran (1990) 6 – Prof. Wenceslau Gonçalves Neto (1990) 7 – Jefferson Ildefonso Gomes (1992) O segundo coordenador do curso de Mestrado em Educação foi o Prof. Osvaldo Freitas de Jesus (19921993). Mediante as dificuldades enfrentadas pelo programa junto da CAPES, para credenciamento, pareceu apropriado que o Prof. Antônio Chizotti, então vindo da PUC de São Paulo, dada sua vasta experiência, assumisse o cargo de coordenador e conduzisse a reformulação do projeto inicial. Ao final do primeiro semestre do segundo ano de mandato (1993), por iniciativa própria, o Prof. Osvaldo Freitas de Jesus renunciou ao cargo de coordenador do Programa de Educação, transferindo-se para o Programa de Mestrado em Linguística da UFU, já credenciado pelo GTC da CAPES. Os primeiros mestrandos, a defender dissertação no Curso de Mestrado em Educação da UFU foram os seguintes: 1 – Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro 2 – Nadir Soares Faria 3 – Maria Tereza Borges 4 – Maria Inês Wasconcelos 5 – Alexandre Giffoni 6 – Eneida Faleiros de Oliveira
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A recomendação do Programa de Mestrado em Educação da UFU, já reformulado, não aconteceu de imediato. Embora tivesse iniciado em 1990, a aprovação do mesmo p ela CAPES só aconteceria em dezembro de 1994, quando foi recomendado pelo GTC da CAPES em Brasília. Na sequência, o programa ganhou consistência e o corpo docente adquiriu larga experiência acadêmica. A partir de sua recomendação, o Programa de Mestrado em Educação desenvolveu-se com segurança, tendo conquistado sua identidade e alcançado paulatinamente uma posição de destaque regional e mesmo nacional. Os pioneiros não imaginavam que um dia a UFU pudesse se tornar respeitada também na área da Educação, pois na ocasião, a PUC de São Paulo, UNICAMP e UFMG eram merecedoras de grande prestígio e respeito, em razão do que todo reconhecimento lhes era atribuído. Já dentro da UFU, a área de ciências, chamadas exatas, segurava o cetro de maior prestígio. A área de humanas, então a prima pobre, aos poucos, ganhou musculatura e hoje nem sabe mais que foi discriminada no passado. O Programa de Mestrado em Educação da UFU começou, expandiu-se e tornouse referência acadêmica. Mas seu início foi marcado por incertezas e dificuldades que hoje não seriam imagináveis.
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Osvaldo Freitas de Jesus é professor aposentado da UFU.
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Tempo e Memória
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artigo
Programa de Pós Graduação em Educação da UFU (2000 2002) Apolônio Abadio do Carmo 1
Estivemos a frente da Coordenação do Programa de Pós- Graduação em Educação (PPGE/UFU) entre 2000/002, época em que o novo estatuto da UFU, aprovado pelo Conselho Universitário, se encontrava em fase de implantação. Os três Centros (CETEC, CEHAR e CEBIM) foram extintos e criadas as Unidades Acadêmicas (Faculdades e Institutos) como órgãos básicos da estrutura acadêmica e administrativa. Com isso, a instituição passou a ter cinco conselhos deliberativos, são eles: Conselho Universitário, Conselho Diretor, Conselho de Graduação, Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação, Conselho de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis. Nesse contexto de mudanças estruturais, encontramos um PPPGE que também, necessitava mudanças, tendo em vista o conceito que tinha a época (insatisfatório, ou nota 02) emitido pela comissão de avaliação da CAPES. Essa avaliação impedia novas seleções e continuidade das atividades do programa. A situação era tensa e desagradável para toda comunidade acadêmica. Precisávamos, em conjunto, encontrar soluções para o problema a partir das sugestões e indicações feitas pelos pareceristas CAPES. O Programa se chamava “Pós Graduação em Educação Brasileira”, denominação esta por diversas vezes contestado pelas comissões de avaliação, sobretudo pela abrangência e falta de direcionamento que esse nome possibilitava. Assumimos a Coordenação e iniciamos, em princípio apenas com os colegas do Colegiado do Programa, estudos e discussões na tentativa de direcionar o curso e delimitar as áreas de concentração. Com o decorrer do processo todos os docentes participaram efetivamente dessa construção. O grande problema era encontrar uma denominação para o programa e suas áreas de con-
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centração, que fosse capaz de abrigar com coerência, justiça e consenso, a diversidades de áreas e professores envolvidos. Cada professor representava uma linha de pesquisa e trabalhava individualmente fazendo com que o direcionamento do programa fosse questionado. Graça a contribuição dos professores conseguimos mudar o nome para Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar com duas áreas de concentração: Saberes e Práticas Educativas e História e Historiografia da Educação. A história e historiografia escolar, seu cotidiano, conteúdos e metodologia de ensino passaram a direcionar a produção científica. Com isso, o respondemos a pergunta dos avaliadores: vocês são bons em que afinal? Nosso corpo docente, muito bem qualificado e diverso (matemática, ciência, história, Educação Física, letras, geografia dentre outros) podia seguramente dizer: em Educação Escolar, sem correr o risco da generalidade, indefinição e falta de clareza que a antiga denominação “Educação Brasileira” deixava a entender. Longos foram os períodos de trabalho da co ordenação, do colegiado, da secretários e dos professores para a definição da grade curricular, modificação das ementas, aprovação nos Conselhos Superiores da UFU e solicitação da visita da comissão CAPES. O princípio do coletivo prevaleceu sobre o individual e o Programa finalmente recebeu a nota 03, mínima, mas suficiente para que pudesse reerguer e continuar sua jornada. A partir daí recebeu amplo e total apoio da administração superior, Faculdade de Educação e CAPES que enviou recursos e bolsas. Reformas foram realizadas (salas de estudos para alunos; salas de orientações e Secretaria) merecendo destaque a adaptação de um espaço para defesa das dissertações. Essa ação somente foi possível graças ao consórcio realizado entre os PPGE e Programa de Pós Graduação em Estudos Linguísticos. Atualmente quando vejo a grandeza, abrangência Nacional e Internacional do PPGE/UFU (mestrado e doutorado) medidas em sua produção; dedicação dos professores e qualidade dos trabalhos, fico orgulhoso em ter contribuído, de uma forma ou de outra, com parte desse processo. Espero que o Programa de Pós-graduação em Educação da UFU continue por meio do trabalho de seus docentes, alunos e administrativos crescendo cada dia mais, aumentando seu raio de abrangência e contribuindo para a melhoria da educação escolar no ensino médio/ fundamental brasileiro. 1
Apolônio Abadio do Carmo é professor inativo da UFU. Foto: Felipe Flores
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artigo
Tempos históricos Antonio Chizzotti
Instado a trazer e reconstruir a memória de um tempo da pós-graduação em educação da UFU, meu depoimento procura recuperar o real, outrora vivido em comum, como afirma Halbwachs sobre a memória coletiva (São Paulo: Vértice, 1990), impondo-me a capacidade de para reconstruir os acontecimentos vividos, sincrônicos com a existência social e, desse modo, poder traduzir a sucessão de eventos da aventura pessoal dentro do contexto, feito com outras vidas em momento histórico definido. Minha gestão iniciou-se em um período em que os Programas de Pós-graduação no Brasil expandiam-se para atender a demanda crescente de mestres e doutores para o ensino superior. Algumas universidades mobilizaram-se para constituir programas de pós-graduação com o objetivo primeiro de prover seus quadros com professores pósgraduados e, segundo, atender a demanda do ensino superior brasileiro. A expansão da pósgraduação veio acompanhada do movimento de avaliação das universidades, do final dos anos 1980-90, acompanhada de exigências para consolidar a pós-graduação brasileira. Na Universidade de Uberlândia, as iniciativas de diversas áreas para formar as pós-graduações stricto sensu foram providenciadas por áreas que dispunham de um corpo básico de professores titulados e deram início aos programas de pós-graduação. Elas permaneciam confinadas às respectivas áreas,
sem articulação entre si, nem uma política de pós-graduação da Universidade. Por outro lado, o Conselho Técnico Científico (CTC) da CAPES começa a elevar os níveis de exigências dos programas de pósgraduação, estabelecendo critérios de avaliação, requerendo o doutorado na respectiva área de conhecimento para atuar na pós-graduação. A exigência de titulação na área visava corrigir o viés, que vinha acontecendo, de reunir titulados das mais diferentes formações para compor o quadro docente dos programas. A par disso, esboçava-se a formulação de quesitos de avaliação para garantir a qualidade dos programas de pós-graduação. Ao iniciar a minha gestão, o objetivo imediato era providenciar a adequação da estrutura interna do Programa e consolidar a organização das atividades acadêmico-administrativas da pós-graduação e sua inserção na Faculdade de Educação e no Centro de Ciências Humanas. Havia urgência de criar uma Comissão Geral de Pós-graduação de toda a universidade, em atenção às exigências da própria Universidade e da CAPES, providência que a Reitoria, na época, começou viabilizar com a criação de um foro de discussão, com a finalidade de reunir os cursos pós-graduados existentes e apoiar outras iniciativas embrionárias de pós-graduação na UFU, sob coordenação única. A re-
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memoração pessoal dos acontecimentos não escapa às malhas de solidariedades pessoais, que permitiram dar maior consistência acadêmica às atividades, e reativaram o dinamismo docente, discente e administrativo do curso de pós-graduação em educação, na primeira metade da década de 1990. Alguns professores tornaram-se os autores que, solidários com os objetivos da co ordenação, empenharam-se, com excepcional dedicação pessoal na construção de um novo patamar científico do Curso de Pós-Graduação na UFU. As pessoas que fizeram a direção colegiada do curso eu deveria nomeá-las, porque fizeram a história vivida do cotidiano e, sem elas, a reconstrução da memória permaneceria a compilação de eventos desprovidos da qualidade educacional, que caracterizou o período. Escuso-me à nomeação individual das presenças ativas dos docentes e discentes, no período, para que a sensibilidade pessoal não venha atribuir ao narrador ou às personalidades particulares as ações, os sentimentos e proezas, que foram inspiradas e realizadas pelo coletivo de professores. Reconstruir a memória é reencontrar as pessoas que ocuparam o espaço da vida e construíram um tempo histórico do curso. A celebração de um quarto de século do curso de pós-graduação em educação da UFU atesta a relevância de um projeto que se tornou um movimento coletivo de professores e alunos do qual depende seu futuro. Reconheço-me parte dessa memória coletiva e me sinto grato não só aos professores do referido período, mas também, aos atuais, que trouxeram o curso a uma nova etapa da pós-graduação da UFU. Antônio Chizzoti é doutor em Educação pela PUCSP, pós-doutorado no Institut National de Recherche Pédagogique, de Paris. Prof Titular aposentado da UFU, atualmente, professor associado do Departamento de Fundamentos da Educação da PUCSP e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação:Currículo da PUCSP. Coordenou o Programa de Pós-Gradação da Universidade Federal de Uberlândia (1992 -1995).
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Em busca d Em março de 1993, o Reitor da Universidade Federal de Uberlândia, Dr. Nestor Barbosa de Andrade, oficializou a Comissão de Reestruturação do Curso de Mestrado em Educação Brasileira. A Comissão já desenvolvia essa atividade desde 1992, no âmbito do próprio Curso. Com a oficialização, passou a ter caráter de Comissão da Universidade. Uma de suas iniciativas foi solicitar à CAPES um grupo de avaliação e apoio às propostas de reformulação do Programa de PósGraduação em Educação – Mestrado. Em conversa pessoal com o Prof. Dr. Pedro Laudinor Goergen, um dos membros desse grupo, ouvi a seguinte pergunta: “O Programa de vocês é bom em quê?” Calei-me diante dessa pergunta, perplexo em perceber a complexidade dos seus significados. Entretanto, não pude me esquecer do dilema e busquei estabelecer um caminho. Em uma abordagem mais imediata, parecia significar a determinação e qualificação dos produtos acadêmicos produzidos pelo Programa. Aí se escondia uma tendência, de sabor pragmático, que vê a identidade das pessoas e das coisas em seus resultados e produtos. Atualmente, tal tendência tem marcado significativamente as avaliações da CAPES. Procurando focar nos professores, esbarrava-me com uma situação muito comum na época: formar um grupo de ilustres de diferentes áreas que representasse a qualidade do Programa. Esta situação estava presente na experiência inicial do Programa da UFU. Entretanto, já estava evidente a ausência da articulação necessária para definir um norte ao Programa. Um diferente caminho poderia orientar com mais segurança o Programa: Definir seu Perfil com a qualidade, a “bondade”, que se poderia esperar dele. O perfil atinge o âmago do Programa, define sua constituição e confere a identidade que lhe dá segurança em seu devir concreto. Sua “bondade” lhe é intrínseca e capaz de ser a referência em todos os momentos, em meio aos percalços das necessárias mudanças e transformações que deve assumir. O perfil perde sua marca pragmática para reassumila em outro nível, como elemento complementar e necessário ao percurso de interferência concreta no processo histórico. 1 Jefferson
Ildefonso da Silva é doutor em Educação (História e Filosofia da Educação) e coorde
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a de um perfil Foto: Divulgação
Jefferson Ildefonso da Silva1
ção) e coordenou o Programa de Mestrado de 04/1005 a 07/1997. Professor Inativo (UFU)
Consequentemente, adquire um caráter de construção e desconstrução contínuas, características de toda ação histórica. Não está dado para sempre. Aos participantes do Programa compete assumi-lo e renová-lo diuturnamente. Essa reflexão demonstrou a necessidade de especificar e assumir as “condições de possibilidade” para construir a identidade do Programa: 1. A busca de estabelecer a sua organicidade que pudesse situá-lo no conjunto da Universidade e, especificamente, no interior dos Cursos de Pedagogia, de Metodologia e Didática e das Licenciaturas (atualmente, Faculdade de Educação). Essa tarefa teve que superar o dilema da autonomia do Programa que envolvia a questão de situá-lo no recorrente problema da “indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” e no âmago da “cultura organizacional da escola”. 2. A reestruturação curricular vai em busca do objetivo de aprofundar os estudos centrados na educação e consequente recomposição do corpo docente focado nas questões do estudo e da pesquisa em educação. 3. A reorganização burocrática assume seu foco com o intuito de garantir a legalidade das normas acadêmicas para professores e alunos, assim como de estabelecer a segurança jurídica necessária para prevenir transtornos ou desvios prejudiciais à tranqüilidade e transparência da vida acadêmica. Tais propostas de construção das “condições de possibilidade” estarão voltadas para o núcleo de identidade que requer cuidado e trabalho para ser continuamente construído e reconstruído. Não está dada pelos canais burocráticos e nem predefinida pelas construções teóricas. A prática, que se pensa e se revê, é o único caminho dessa construção. As palavras-chave que poderão balizar esse caminho são: Educação – Pesquisa – Universidade – Sociedade. Este é um propósito inicial de conquistas demoradas que requer anos e anos de trabalho e que mostra a necessidade de uma construção contínua e persistente do perfil do Programa. Permanecerá sempre inacabado, enquanto vai definindo em que o Programa é BOM. O dilema se faz tarefa e persistência, anos a fio, para todos os alunos, professores e gestores.
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Uma história em construção Selva Guimarães
Vinte e cinco anos, tempo de comemoração, de análise, discussão e reformulação, no decorrer do ano de festejar, de pensar, de lembrar um acontede 2001, quando tive o privilégio e a confiança dos meus cimento, uma história. Faço parte de uma gecolegas para assumir a coordenação do Programa. O deração graduada na Universidade Federal de safio como gestora, inicialmente, foi promover a reformulaUberlândia, nos primeiros anos após a federalização. Geção curricular e regulamentar do PPGED no interior do ração que sonhou e lutou, desde o movimento estudantil, processo de elaboração e implantação do Regimento Gepara construir uma universidade pública, gratuita, comproral da Pós-Graduação da UFU, concluído e aprovado em metida com o ensino e a pesquisa de qualidade. Naque22 de janeiro de 2003, pelo CONPEP. Um espaço e um le tempo, uma travessia possível eram as estradas que tempo de muitos aprendizados para todos nós que trabanos levavam aos centros de pós-graduação em Campilhávamos, coletivamente, pela consolidação e expansão nas, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras da pesquisa e da pós-graduação na UFU. A partir desse capitais. Quantas e quantas horas de viagem! Alguns ano, todos os Programas de Pós-Graduação da Unipoucos foram para o exterior. O retorno de muiversidade implementaram reformas, com o obtos foi para Uberlândia, mais precisamente, jetivo de adequação de seus regulamentos para a UFU. internos às novas normas gerais da InstiIngressei-me no Programa, como tuição. docente, no final de 1996, um tempo Outra travessia estava em consComo fruto do trabalho de mudanças na política educacional trução: a FACED. Como registrado nos brasileira com a aprovação da LDB de um grupo, o Programa documentos históricos do PPGED, Lei n.9394/96. Um período de debasuperou os problemas ini- penso que quatro dimensões foram tes, crises e novas demandas educafundamentais para o desenvolvimento cionais. A avaliação bianual do ciais e a sua produção, aos do PPGED nos anos 2000: a compopoucos, foi reconhecida sição de um corpo docente unido pelo Programa, realizada pela CAPES, referente ao biênio 1994-1995, apontou mesmo propósito; o aumento significatiem âmbito nacional. vários problemas na estrutura do Curso vo da produção científica, dos projetos de Mestrado. Assim, tive o privilégio de de pesquisa, com apoio e financiamento exparticipar do esforço coletivo para superar terno; a crescente demanda por vagas no Proos problemas identificados em relação à estrugrama, o número de candidatos inscritos nos tura curricular, ao corpo docente e à produção científiprocessos seletivos cresceu, significativamente, ano após ano; ca. Foram incorporados ao Programa de Mestrado e a estabilidade e apoio institucional da UFU e da FACED, cricinco novos doutores, o que amenizou os problemas cauada no ano 2000. Como fruto do trabalho de um grupo, o sados pelas aposentadorias precoces ocorridas até enPrograma superou os problemas iniciais e a sua produção, tão. Incrementaram-se as atividades de pesquisa e de aos poucos, foi reconhecida em âmbito nacional. Os indicaprodução docente nas duas novas linhas de pesquisa: dores passaram a demonstrar resultados compatíveis com os “Saberes e Práticas Escolares” e “Historia e Historiograparâmetros de qualidade exigidos pelos órgãos reguladores fia da Educação”. O Programa recebeu nota 3 e, sucese fomentadores da pós-graduação brasileira. sivamente, nota 4 nas avaliações. Nesse novo contexto, esses fatores potencializaram O Programa cresceu em termos quantitativos e a construção do Projeto do Doutorado em Educação. O qualitativos, e ampliou o debate sobre sua própria experitrabalho coletivo e a troca de experiências propiciaram a ência e a construção de sua identidade. Assim, o Currícuformulação de um projeto curricular exitoso. Assim, o Projelo e o Regulamento, implantados em 1997, foram objetos to de Implantação do Doutorado em Educação foi aprova-
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do pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Uberlândia no ano 2004 e, em 2005, foi autorizado e recomendado pela CAPES. A primeira turma do Curso de Doutorado em Educação iniciou suas atividades em março de 2006. Em 2007, o Programa obteve, pela primeira vez, a nota 5 na Avaliação Trienal (2004-2006) da CAPES. Nesse momento, retornava do Estágio de Pós-Doutorado e, novamente, tive a honra de contar com o irrestrito apoio de meus colegas para assumir mais um mandato na gestão do Programa. Foi um período fértil de debates na ANPED, no FORPRED e com os nossos interlocutores na CAPES, CNPq e FAPEMIG. Em 2009, o PPGED formou a primeira turma de Doutores em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Um sonho partilhado e realizado! O Programa tornou-se uma referência e, neste sentido, novas demandas se colocaram: os intercâmbios, os convênios e as parcerias nacionais e internacionais. Nesta trajetória, efetivamos os convênios do DINTER e PMCD (Programa Mineiro de Capacitação Docente). O DINTER – Doutorado Interinstitucional - UFU/UNIFAP – faz parte do Programa “Ação Novas Fronteiras”, que tem como finalidade atender à demanda de formação de novos doutores em educação em instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão em região de fronteira, distante dos grandes centros produtores de conhecimentos científicos do país. O processo de seleção para os candidatos ao DINTER /UFU/UNIFAP foi realizado em outubro de 2009, em Macapá, na sede da Universidade Federal do Amapá. A Comissão de seleção foi composta por cinco professores do PPGED/UFU. Ao final do processo, foram aprovados quatorze candidatos, sendo que a maioria deles se formou em 2013. Um trabalho em parceria que julgo de grande relevância social para o nosso país. Enfim, para nós, que construímos juntos, esta história é motivo de orgulho e alegria. Uma história que demonstra
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a responsabilidade política, social e científica de seus protagonistas. Uma travessia real, possível, realizada com muito trabalho. Uma trajetória que expressa o compromisso de docentes, servidores técnico-administrativos e alunos do PPGED, nas lutas cotidianas pela produção de conhecimentos e pela educação brasileira! A história continua... O programa está em construção!
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Selva Guimarães é Selva Guimarães é Pesquisadora de Produtividade do CNPq, nível 1C; Professora do PPGED desde 1996, tendo sido coordenadora nos períodos 2001-2004 e de 2007 a 2009. 1
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Entre desafios e perspectivas Foto: Ananda Dinato
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Fazer um breve balanço sobre o processo de implantação e consolidação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Uberlândia, nos remete às palavras do poeta romano Horácio, ao observar que “as adversidades despertam em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”, ou ainda, às reflexões do teólogo inglês William George Ward, que dizia “há os que se queixam do vento, os que esperam que ele mude e os que procuram ajustar as velas”. Estes tem sido os vetores que norteiam as atividades do PPGED, ao longo dos seus 25 anos, ou seja, enfrentar os desafios à melhoria da qualidade da educação brasileira, bem como promover os ajustes necessários para atender as novas demandas colocadas pela sociedade do século XXI. Esta preocupação é observada na produção científica dos professores e alunos do Programa, que pode ser mensurada pelo expressivo crescimento do número de artigos e livros publicadas a cada ano. Por outro lado, no âmbito do Programa, também há professores cujos trabalhos têm se situado numa ambiência de diversidade temática, na qual a centralidade recai nas múltiplas formas de se pesar as realidades educacionais na região, no estado e no país, isto é, o propósito das pesquisas desenvolvidas pelos nossos docente e discente é pôr em evidência as configurações e conflitos da educação brasileira, mas ao mesmo tempo, seus estudos buscam propor ações e solução de parte dos problemas ligas ao universo educacional do país, estejam estes presentes nos espaços escolares ou não escolares. Quando assumimos a Coordenação, no ano de 2009 até o encerramento da nossa gestão em 2013, procuramos manter essa mesma perspectiva, com a finalidade de continuar o trabalho realizado pelos coordenadores(as) que nos antecederam, mas também sendo necessário “ajustar as velas” do PPGED, dado os novos desafios postos à pós-graduação no país. Tendo em vista as exigências e demandas colocadas para a pós-graduação, o PPGED promoveu a reformulação da sua estrutura curricular, objetivando o aperfeiçoamento dos currículos do Doutorado e
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Mestrado, visando aprimorar as dimensões de ensino, pesquisa e orientação no âmbito da Pós-Graduação em Educação. Também buscamos promover os intercâmbios institucionais (com ênfase nos internacionais), pois estes têm por objetivo a consolidação e ampliação do espaço institucional ocupado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação nos contextos regional, nacional e internacional, bem como são importantes instrumentos de incremento das atividades acadêmicas do próprio Programa. É oportuno destacar, outro desafio: a necessidade de se estabelecer intercâmbios internacionais, pois eles se constituem em condição essencial para a manutenção do conceito 5 junto a CAPES e a médio prazo, alçá-lo ao conceito 6. Outra linha de ação do PPGED foi promover algumas iniciativas para incrementar e diversificar a produção científica dos nossos pesquisadores, por meio da promoção e apoio à construção de fóruns especializados de divulgação e debates sobre suas pesquisas, mas tendo como horizonte o respeito às suas diversidades temáticas e teórico-metodológicas, próprias das Linhas de Pesquisa do Programa. Ainda seguindo este vetor, mantivemos, em gestão, ações desenvolvidas nos anos anteriores como a rede de parcerias interinstitucionais. Tais parcerias operacionalizam-se, sobretudo, nas atividades de nucleação entre as universidades que integram o Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação da Região Centro-Oeste (FORPRED – CO), sob a coordenação, nos últimos dois anos, do PPGED – UFU. O trabalho desenvolvido no âmbito do Fórum ocorre de múltiplas formas, dentre elas destacamos a organização contínua dos Encontros de Pesquisa em Educação. Esses eventos são espaços privilegiados para a divulgação das pesquisas produzidas no âmbito dos programados, os quais são organizados nas reuniões entre os coordenadores das Instituições que compõem o referido Fórum. Além dessa atividade, que potencializa a nucleação, merece destaque também a participação de docentes dos programas da região como membros de Conselhos Editoriais dos Periódicos das Instituições/publicações coletivas, envolvendo professores de vários Programas do Centro-Oeste; promoção de eventos científicos, como seminários, reuniões de grupos de pesquisa, etc. Se a “palavra de ordem é internacionalizar a Pós-Graduação do País” o PPGED não vem medindo
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esforços no sentido de promover a realização de atividades de Estágio Pós-Doutoral no exterior, bem como incentiva seus docentes a desenvolvê-los, em convênio com instituições de outros países. Já em relação aos discentes, a política do PPGED foi ampliar a participação de nossos alunos em instituições internacionais. Por isso, firmamos convênio, no âmbito do Programa de Alianças para a Educação e Capacitação (PAEC) da Organização dos Estados Americanos e o Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB) - PAEC – GCUB, em 2012, quando recebemos alunos da Colômbia para realizar seus doutoramentos no PPGED. No último triênio, o PPGED viabilizou a ida de 10 bolsistas ao exterior, com a finalidade de realizarem seus estágios de doutoramento, no âmbito do Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior (PDEE). Assim, foi possível efetivar a presença dos nossos alunos nas Universidades de Lisboa, Coimbra, Porto, Minho, Barcelona, Nova de Lisboa e Cuba. Portanto, foram ações na direção de melhorar as condições estruturais de pesquisa e docência, tanto para os professores quanto para os alunos, o que repercutiu na produção científica do Programa (publicações de livros, artigos e substancial aumento de participações em eventos nacionais e internacionais). Por outro lado, é sempre importante destacar que a tônica do trabalho dos coordenadores(as) anteriores pode ser resumida na seguinte frase: “as adversidades despertam em nós capacidades”. Ou seja, o empenho e o compromisso deles, somados aos dos professores e alunos possibilitaram resultados altamente positivos para o Programa, materializados hoje pela nota 5 atribuída ao Programa na última avaliação trienal pela CAPES. Enfim, tudo que fazemos foi com a humildade própria daqueles que têm a consciência de que nada – absolutamente nada – se constrói sozinho, senão em parceria, em conjunto com o próximo, com sinergia e espírito coletivo. Esse esforço coletivo contribuiu, sobremaneira, para mais um importante passo dado pelo PPGED rumo ao seu processo de afirmação como Programa referência no país e no exterior. Carlos Henrique de Carvalho é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da FACED e do Programa de PósGraduação em Educação da UFU. Foi Coordenador do PPGED entre 2009 a 2013.
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Uma história e um ano que não terminou Mara Rúbia Alves Marques 1
[...] é preciso saber narrar. Discursos facilmente se banalizam, tornamse solenes, sentimentais em excesso, causando o efeito contrário do que pretendem. 2 Quanto à minha gestão, caso eu seja fisiológica e psicologicamente resistente [...] penso ser promissora. 3 Admitida na UFU em 06 de janeiro de 1992, iniciei a carreira como professora auxiliar da equipe de Metodologia de Ensino, do Departamento de Princípios e Organização da Prática Pedagógica (DEPOPP), para atuar no Curso de Pedagogia. Havia então dois departamentos, o Departamento de Fundamentos da Educação (DEPFE) e DEPOPP, criados e mantidos no âmbito da Direção do Centro de Ciências Humanas e Ates (CEHAR), responsáveis prioritariamente pelo Curso de Pedagogia e proponentes do Curso de Mestrado em Educação Brasileira, atual PPGED.
Primeira experiência no PPGED – como aluna Em março de 1992 iniciei meu curso de Mestrado em Educação no próprio PPGED, sob a orientação do prezado professor Dr. Jefferson Ildefonso da Silva. O Programa/Mestrado em Educação havia sido criado recentemente, também no âmbito do CEHAR, em uma peculiar e difícil condição em que o DEPFE e o DEPOPP não podiam arcar por si mesmos com a criação, manutenção e desenvolvimento inicial do Programa, por não haver então um corpo docente suficientemente titulado. Fato que exigiu, naquele momento, a fundamental colaboração de professores de diferentes departamentos da UFU, tanto nas atividades de docência, pesquisa e orientação, como na
administração acadêmica, para consolidar nossa pósgraduação stricto senso em educação junto à comunidade externa e interna, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). São os anos 1990. A gestão do ensino superior brasileiro passa a ser pautada em controversas mudanças no relacionamento do Estado com as instituições, em termos do financiamento, da profissão e do trabalho docentes – aspectos extremamente marcados pela argamassa da avaliação institucional e pessoal-profissional, a qual iria perdurar, tendencialmente, até os dias atuais. Tendo concluído o curso de Mestrado em setembro de 1996, naturalmente me afastei do PPGED e fui cursar o Doutorado na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), no período de 1997 a 2000, com liberação integral das atividades na UFU por três anos e meio. O Programa/Mestrado em Educação se encontra, ao final deste período, em um novo contexto institucional – a reconfiguração estatutária e regimental da universidade, que instituiu as Unidades Acadêmicas como órgãos básicos de sua nova estrutura organizaciona4l, entre elas a Faculdade de Educação (FACED) criada mediante a fusão do DEPFE e do DEPOPP, em janeiro de 20005. Vejamos: [...] desde o início dos anos 80, discute-se a obsolescência do primeiro estatuto [da UFU], elaborado nos moldes da Reforma Universitária de 1968. Aqui, os argumentos favoráveis a instalação de um processo estatuinte demonstraram, segundo o Relatório de Gestão da Reito-
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ria – 1992-1996, um expressivo consenso com aqueles utilizados em várias universidades brasileiras. Além disso, a história da UFU vinha sendo marcada pela fragmentação ainda maior da estrutura originalmente concebida, pois muitos departamentos foram subdivididos. (UFU, FACED, 2007, p.209-210). A participação do PPGED na Assembléia Estatuinte, convocada ainda em 1994, se deu, sobretudo, mediante a atuação do então Coordenador do Programa, professor Jefferson Ildefonso da Silva. Na condição de representante discente do PPGED tive a honra e a oportucujos “estatuinte”, da participar de nidade desdobramentos, contudo, não pude acompanharem funçãode meu ingresso no curso de Doutorado. São os anos 2000. A gestão do ensino superior brasileiro passa a ser pautada em evidentes alterações no comportamento governamental relativamente ao setor das universidades públicas, expressas na expansão de instituições (cursos de graduação e de pós-graduação), com reposição e/ou ampliação de vagas docentes e discentes,ampliação de um corpo docente altamente qualificado; mas, também, com a diversificação e intensificação do trabalho acadêmico e dos processos administrativos, bem como como aumento de recursos orçamentários, porém,obviamente condicionadospela equação metas/cronograma/desempenho/avaliação.
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Tendo concluído o curso de Doutorado em novembro de 2000, novamente me aproximei do PPGED ao solicitar e ser aprovada como docente efetiva do Programa6, inserida na então Linha de Pesquisa Políticas e Gestão da Educação, e admitida logo em seguida como membro do Colegiado, por solicitação da então Coordenadora, professora Graça Aparecida Cicillini7. Em tempos da cultura do desempenhoe da avaliação, não é demais transcrever: O parecer deste relator é favorável à aprovação do ingresso da Profa. [...] O seu curriculum vitae, relativamente aos últimos cinco anos –
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Segunda experiência no PPGED – como professora
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artigo aliás, é basicamente a partir de 1996 que se desenha o seu perfil acadêmico –, expressa qualidades significativas que permitem esperar por parte dela envolvimento institucional e capacidade de resposta às demandas político-educacionais que hoje vigem relativamente à pós-graduação. (UFU, FACED, PPGED, PROCESSO No. 001/01, 2001, p. 2). Entendo que o relator tenha sintetizado, sensivelmente,as singularidades profissionais. Evidenciou, além disso, potencialidades que, a meu ver, têm se concretizado em atividades de ensino, pesquisa, orientação e produção-científica desenvolvidas até o momento na graduação e na pós-graduação – o que não cabe destacar por serem processos inerentes que, de fato, “hoje vigem relativamente à pós-graduação.”
Terceira experiência no PPGED – como coordenadora.. Em abril de 2004 fui nomeada substituta oficial da então Coordenadora do PPGED8, professora Selva Guimarães (a quem fui obviamente grata pela confiança), para casos de eventuais ausências e impedimentos. Lembro-me de, nesta condição, participar, orgulhosamente, de longas e por vezes cansativas reuniões do Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação (CONPEP) – o orgulho, nesse caso, deveio de uma quase total inexperiência em cargos administrativos9. Fui designada para assumir o cargo de Coordenadora pró-tempore do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação, a partir de 01 de agosto de 200410, em substituição à professora Selva Guimarães, que solicitou exoneração a partir de final de julho de 2004. Desnecessário seria falar do crescimento pessoalprofissional por minha participação contínua no Colegiado do PPGED, no CONPEP, no Conselho Universitário (CONSUN) e no Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação da ANPEd (FORPRED). Quero destacar, todavia, entre as ações do PPGED realizadas ou concluídas no período de minha Coordenação11: o apoio financeiro à realização do Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação, na FUNREI, de 05 a 08 de maio de 200512; o Catálogo de Dissertações (1992-204) comemorativo dos 10 anos de recomendação do PPGED pela CAPES/MEC13; a aprovação do Curso de Doutorado em Educação14; o I Colóquio Internacional História, Políticas e Saberes em Educação Escolar (março de 2005), com a presença do
professor Bernard Charlot15. Evoco,especialmente,o I Colóquio Internacional para uma síntese de duas tendências atuais da Educação em geral, e particularmente da Educação Superior e da pós-graduação: a internacionalização e a judicialização16. É claro que só retrospectivamente e pela força da experiência, elaborei esta síntese em termos de uma crescente tensão sobre as instituições, o trabalho e as subjetividades de professores e gestores; no presente caso, no contexto do PPGED. Numa ponta o I Colóquio Internacional, na outra o primeiro processo judicial envolvendo o PPGED/Mestrado em Educação (Processo Judicial 2001.38.03.000682-0 que, por várias razões, não acompanhei e não tinha ciência das suas reais dimensões) – nesse último aspecto penso que não sabíamos, ainda, o que estava por vir. Uma síntese de certa forma trágica, em que o íntimo e o oficial, o pessoal e o público se expressaram num acontecimento. Confusão intensa de entusiasmos, ressentimentos e decepções sob a qual minhas fisiologia e psicologia acabaram por ceder (sempre as paixões!). Em reuniãode rotina do Colegiado, de 25 de abril de 2005, 17após a conclusão de um único item pautado as colegas do Colegiado manifestaram repúdio pelo fato de a“[...] Profa. Dra. Rossana Valéria de Souza e Silva ter participado da composição da Mesa de realização da palestra do Prof. Dr. Bernard Charlot [...] considerando o fato ocorrido como um afronte [sic] se se considerar os acontecimentos e fatos históricos, Processo Judicial 2001.38.03.000682-0, movido contra o PPGE/UFU, quando a Profa. [...] ainda participava do Programa.” (UFU, FACED, PPGED, 2005). Embora tratasse de esclarecer “[...] que a Profa. [...] foi convidada a compor a Mesa pelo palestrante, Prof. Dr. Bernard Charlot.” (UFU, FACED, PPGED, 2005), o descontentamento evidenciado e minha perplexidade levaram a um difícil desfecho. A despeito da expectativa de me candidatar à coordenação efetiva do Programa em eleição prevista para breve, anunciei a decisão, evidentemente intempestiva, de não continuar à frente da administração a partir de 02 de julho de 2005. Meu pedido de exoneração se deu em 31 de maio de 2005,18 a exatos dois dias de completar 11 meses de gestão – de fato, um ano que não terminou. Contudo, hoje percebo ter se tratado de um episódio nem um pouco banal,mas nem tão grave afinal quando entendido num contexto de necessário e especial cuidado com a instituição (o PPGED) e com o órgão por ela responsável (a Coordenação).Um difícil
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1 Mara Rúbia Alves é professora da FACED/UFU. Coordenadora prótempore do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) no período de 01 de agosto de 204 a 31 de maio de 2005. 2 LAUB, Michel. Nomes do horror. Folha de S. Paulo, Caderno E/Ilustrada, 9 de maio de 2013,p. 12. 3 Declaração feita, originalmente, a propósito de minha gestão à frente a Direção da FACED (2008-2012). In: UFU, FACED. Retrospectiva & Perspectiva, março de 2010. Revista comemorativa dos 50 anos do Curso de Pedagogia, 10 anos da Faculdade de Educação e 1 ano do Curso de Jornalismo. Entrevista, p.34-37. 4 Conforme o Estatuto e Regimento Geral da Universidade Federal de Uberlândia, impresso pela Imprensa Universitária, s/d, 124 p.. 5 Conforme o Regimento Interno da Faculdade de Educação, aprovado pelo Conselho da FACED (CONFACED) em sua 11ª Reunião do ano de 2000; e conforme o Plano de Desenvolvimento e Expansão da Faculdade de Educação (PDE/FACED) Período 2000-2006, aprovado pelo CONFACED em 05 de julho de 2000.Ambos os documentos In: UFU, FACED, I caderno informativo da Faculdade de Educação, 2007, 227 p. 6 UFU, FACED, PPGED. PROCESSO No. 001/01, referente a Solicitação de Ingresso no Corpo Docente do Programa de Mestrado em Educação, relatado pelo Professor José Carlos Araújo em 02/04/01. 7 UFU, FACED, PPGED. MI 037/01COPEB/UFU, de 06 de abril de 2001. 8 UFU. PORTARIA R No. 0293/04, de 15 de abril de 2004, pelo Reitor da UFU Arquimedes Cilone. 9 Eu havia eventualmente substituído a professora Antónia Miorim na chefia do DEPOPP.UFU. PORTARIA No. 0457/PROHEH/96, de 02 de maio de 1996; UFU. PORTARIA No. 0464/PROHEH/96, de 06 de maio de 1996. 10 UFU. PORTARIA R No. 0790/04, de 02 de julho de 2004, pelo Reitor da UFU Arquimedes Cilone. 11 Com a colaboração da UFU, da FACED, dos docentes do Programa, destacadamente do Colegiado: Selva Guimarães, Graça Cicillini, Carlos Lucena, Wenceslau Neto, e a mestranda Michele Moura. 12 UFU, FACED, PPGED. Ata da oitava reunião ordinária do ano de dois mil e quatro do Colegiado Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado em Educação, de 20 de dezembro. 13 UFU, FACED,PPGED.Catálogo de dissertações - Programa de PósGraduação em Educação da UFU, 2005. CD-ROM. 14 “Em 2004 foi apresentado o Projeto relativo a Implantação do Doutorado em Educação na UFU, tendo sido aprovado pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Uberlândia em 2005, autorizado e recomendado pela CAPES. A primeira turma do Curso de Doutorado em Educação iniciou suas atividades em março de 2006.” Disponível em <www.ppged.faced.ufu.br>, acesso em 05 de março de 2014. 15 Evento depois assumido pela Linha de Políticas e Gestão da Educação,como Simpósio Internacional: O Estado e as Políticas Educacionais no Tempo Presente. 16 A questão da judicialização na UFU foi originalmente o tema de meu Estágio de Pós-Doutorado na UFMG (2012). A propósito consultar MARQUES, Mara R. A. A judicialização da política e da educação superior no Brasil e a questão da autonomia. In: Anais do VII Simpósio Internacional: o Estado e as Políticas Educacionais no tempo presente, 2013. CD-ROM. 17 UFU, FACED, PPGED. Ata da quarta reunião extraordinária do ano de dois mil e cinco do Colegiado Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado em Educação, de 25 de abril. 18 UFU. PORTARIA R No. 0601/05, de 31 de maio de 2005, pelo Reitor em exercício Elmiro Resende.
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dizer, em todo caso: “[.. ] porque sensações não viram palavras com facilidade: um universo oceânico e abstrato de lembranças [.. ] só pode ser comunicado por um instrumento, a linguagem, naturalmente mais estreito.” (LAUB, 2013, p. 12).
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artigo
Dualidades e gestão: a Coordenação do Programa de Pós Graduação em Educação Graça Aparecida Cicillini 1
unidades (27) denominadas Faculdades e/ou Institutos. Nesse momento, os três departamentos oriundos do antigo Departamento de Pedagogia, acima mencionados, congregam-se constituindo a atual Faculdade de Educação na qual o Programa de Pós-Graduação em Educação está alocado. A passagem pela Coordenação por, aproximadamente, um ano e meio3, em diferentes espaços e tempos vivenciados- Fórum de Coordenadores, instâncias diversas da Universidade, salas de aula, outras instituições visitadas – possibilitaram contatos, aprendizagens, laços de amizade eterna... Também reconhecemos, hoje, a vivência de dualidades marcantes dessa época: equilí brios/intempéries, raliberdade zão/emoção, /submissão, indivíduo/ coletivo. É complexa a relação entre as pessoas! Como lidar com pensamentos e posições às vezes tão divergentes e em outros momentos com aproximações? Foto: Divulgação
O que esperamos ao ingressar como profissionais de uma universidade? Inicio minha atuação no Ensino Superior na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) num momento de reestruturação do Departamento de Pedagogia que, pouco antes do meu ingresso2, subdividiu-se em três: Fundamentos da Educação, Filosofia da Educação e Departamento de Princípios e Organização da Prática Peda(DPOPP), gógica na pertencentes época ao Centro de Ciências HumaArtes e nas (CEHAR). E as mudanças não param por aí... os Entre anos de 1999 e 2000 ocorre a revisão do Regimento Interno da UFU com significativas alterações: a estruturação em três grandes Centros, congregando diferentes áreas do conhecimento (Exatas, Humanas e Biológicas), é extinta, passando a vigorar a formação em
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Até onde somos livres ou submissos à macroestrutura e à macropolítica às quais a Pós-Graduação se vincula? Pensamos, neste instante, diretamente nas avaliações às quais os Programas de Pós estão submetidos. De repente temos que enfrentar uma mudança conjuntural de “Educação de qualidade” para uma concepção de Educação de “produtividade”; neste caso a valorização numérica das publicações sobrepuja a qualidade das mesmas. O tempo dedicado às pesquisas de mestrado e de doutorado, anteriormente com duração aproximada de quatro e cinco anos respectivamente, é restringido para dois e quatro anos. Isto sem considerar a ampliação do número de vagas oferecidas a cada processo seletivo e as demais atividades próprias da docência no Ensino Superior sustentada pelo tripé Ensino/Pesquisa/Extensão e o incentivo à relação Graduação/ Pós-graduação. Individual/coletivo traz à baila as parcerias, os rompimentos, as ponderações. Para além das “tormentas”, das dificuldades que essa díade propicia, ela traduz também a sensação de luta, de “harmonia”, de vitória e de crescimento. Quantos momentos tensos em situações de definição de currículo, de processos de seleção de alunos a cada ano de funcionamento do Curso, de avaliações trienais... Mas também quanta sensação de alegria a cada etapa e/ou vitória conquistada. Nessa perspectiva, acredito que tais sentimentos contraditórios, advindos dessas situações duais, nos propiciaram chegar onde estamos hoje aos nossos 25 anos de existência: um Programa com 57 docentes, aproximadamente setecentas defesas entre teses e dissertações e, mais do que números, uma contribuição efetiva na formação de educadores em nível, principalmente local e regional, mas também em nível nacional. Entre conflitos e parcerias se finda, em meados de 2001, um período intenso de trabalho com o Programa se superando no processo avaliativo: após uma longa permanência com nota três, atribuída pela CAPES, passamos para a nota quatro. A consequência desse crescimento pela avaliação externa possibilitou a criação do Curso de doutorado, hoje nota cinco nesse processo avaliativo. A gestão como Coordenadora termina, mas os conflitos, próprios das dualidades, continuaram e continuam na participação efetiva junto ao Colegiado, nas aulas, nas pesquisas nos processos de orientação e defesas. Nesse processo de intensas reminiscências finalizamos, com muita emoção, lembrando de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. 1 Graça Aparecida Cicillini é doutora em Metodologia de Ensino pela Unicamp Atualmente é professora da FACED/UFU, no curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado). Atuou como coordenadora do PPPGED no período de 01/1999-05/2001.. 2 Julho de 1987, até então trabalhando da Secretaria Estadual da Educação em São Paulo e cursando Mestrado em Educação na UNICAMP. 3 Período correspondente ao ano 2000 até meados de 2011.
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PPGED
PPGED consolida produção científica em múltiplos espaços educativos Programa superou adversidades e hoje é considerado referência Felipe Saldanha1 (Da Redação)
Em 1988, surgia na UFU o Curso de Mestrado em Educação Brasileira. Esta foi a semente para o que se tornou, vinte e cinco anos depois, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED). Os ex-coordenadores relatam que, ao longo deste período, foi preciso superar muitos desafios e realizar diversas mudanças. O resultado foi um programa consolidado em todos os seus aspectos, das linhas de pesquisa à produção científica. O Mestrado em Educação Brasileira foi criado no Centro de Ciências Humanas e Artes (CEHAR) com professores de diversas áreas. Além das pós-graduações em Elétrica e em Mecânica, o curso era o único deste nível na UFU. Atendia uma demanda nascente: mais que especializações lato sensu, o público “já estava percebendo que era preciso ter mestrado e doutorado”, de acordo com o professor Osvaldo Freitas de Jesus, segundo a coordenar o programa (ver box página ao lado), no período de 1992 a 1993. Para o docente, a missão do mestrado era “formar pesquisadores e pessoas mais qualificadas para trabalhar na Educação”. No entanto, as dificuldades enfrentadas nos primeiros anos não foram poucas. “Havia vários problemas no programa: produção científica considerada insuficiente, poucos projetos de pesquisa, dispersão temática e um currículo que não atendia ao que a Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ligada ao Ministério da Educação] já desenhava como padrão ou ‘ideal’ para um programa de pós-graduação”, explica a professora Selva Guimarães, coordenadora do PPGED de 2001 a 2004 e de 2007 a 2009. Outras adversidades são relatadas nas atas das primeiras reuniões entre docentes e discentes: espaço físico reduzido, orçamento limitado, equipamentos precários e falta de apoio dentro do CEHAR. Estes problemas contribuíram para que o credenciamento do programa pela CAPES só fosse realizado em 1994. Por outro lado, nessa época, o curso já começava a definir sua identidade, à medida que aprovava projetos e envolvia seus alunos com grupos de pesquisa, como observa o professor Osvaldo.
Contudo, o momento ainda era de crise. Muitos professores estavam se aposentando e deixando o curso, o que refletia em todo o trabalho desenvolvido. “A pós-graduação é mais ou menos igual a um xadrez: você tira uma peça e ela mexe em todo o jogo”, diz Osvaldo. Em 1996, um relatório da Capes apontou vários problemas, em especial quanto à estrutura curricular. Assim, antigos e novos professores do PPGED se uniram para colocar em prática uma reforma que resultou, no ano seguinte, na reformulação da área temática – de Educação Brasileira, tornou-se Educação Escolar – e no agrupamento das pesquisas em duas linhas: História e Historiografia da Educação e Saberes e Práticas Escolares. “Essa reforma curricular deu outra identidade para o programa. Era um grupo de professores pequeno, mas que se dedicava profundamente a dois campos do saber”, afirma a professora Selva, referindo-se às duas linhas de pesquisa. As mudanças, consideradas bem-sucedidas, levaram a Capes a atribuir nota 3 para o programa, numa escala de 0 a 5. Na mesma época, a recém-aprovada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394 de 1996), conhecida como LDB, passou a exigir das universidades que um terço de seu corpo docente tivesse mestrado ou doutorado. Isso levou, segundo Selva, a uma “busca desenfreada por pós-graduação”, de tal maneira que, no fim da década, a demanda era tão significativa a ponto de os processos seletivos do PPGED registrarem uma relação de cerca de 15 candidatos por vaga. Na virada do milênio, a UFU passaria por grandes mudanças. Em 2000, os Centros foram extintos e a recém-criada Faculdade de Educação (FACED) agora abrigava o programa e a maioria de seus professores. A criação de um regulamento geral para todos os cursos de pós-graduação da universidade, em 2003, motivou nova reforma curricular do PPGED. Nessa ocasião, um grupo de professores da linha rebatizada como Saberes e Práticas Educativas deu origem a uma nova linha, atualmente nomeada Estado, Políticas e Gestão em Educação. Nesse período, alguns professores obtiveram bolsa de
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produtividade junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Com isso, o curso de mestrado obteve um impulso e a Capes subiu sua nota para 4. Ao mesmo tempo, conforme relata a professora Selva, os professores do PPGED buscavam ocupar espaços em associações científicas e agências de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), e órgãos como o CNPq e a Capes. Dessa forma, a relevância do programa deixou de ser apenas regional e passou a ser nacional. Estavam alcançadas, enfim, as condições necessárias e favoráveis para o programa investir em um novo projeto: o Doutorado em Educação, “um sonho nosso”, afirma a professora Selva, “desde os primeiros coordenadores”. O novo curso, fruto da ação coletiva dos professores do PPGED com a contribuição de docentes de outras unidades acadêmicas, foi aprovado pela Capes em 2005 e recebeu nota 4. A última reforma curricular do programa foi realizada em 2011, após vários debates internos no âmbito das linhas de pesquisa e do colegiado, como relata o professor Carlos Henrique de Carvalho, coordenador de 2009 a 2013. Duas linhas foram criadas: Trabalho, Sociedade e Educação e Educação em Ciências e Matemática. “Essas linhas incorporaram demandas de novos trabalhos que a sociedade colocava para o PPGED”, diz Carlos. A área de concentração também se tornou menos restrita e passou a abranger a educação de maneira geral, sendo designada apenas como Educação. “A escola não deixou de ser o
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locus privilegiado dos nossos estudos, mas hoje nós pesquisamos diversos e múltiplos espaços educativos”, afirma Selva. Atualmente, tanto o mestrado quanto o doutorado possuem nota 5, o que caracteriza o PPGED como um programa de referência, e já registraram a aprovação de 474 dissertações e 69 teses (até fevereiro de 2014). Os cursos reúnem alunos de todo o país, do Amapá ao Rio Grande do Sul. O professor Carlos Henrique aponta o perfil democrático do programa, por absorver um público amplo, que vai dos professores da Educação Infantil aos graduados de outras áreas, que têm a possibilidade de articular seus projetos de pesquisa com a educação “em todas as suas dimensões e potencialidades”. Carlos e Selva concordam que o grande desafio, agora, é a internacionalização do programa. O professor sugere promover mais pesquisas conjuntas com grupos internacionais e buscar parcerias com um maior número de países, além de promover essa internacionalização em mão dupla – não apenas recebendo professores para ministrar aulas aqui, mas levando docentes para lecionar no exterior. Selva lembra que essa troca deve envolver também os alunos. Para os próximos vinte e cinco anos, a ex-coordenadora acrescenta os desafios de pensar a relação entre mídias e conhecimento científico e de aprofundar o diálogo com a escola, contribuindo para a melhoria de sua qualidade. “Não só formando professores, mas produzindo conhecimento e saberes que sejam de fato significativos e possam impactar a educação básica de forma positiva”.
Relação histórica de excoordenadores PPGED Prof. Luis Ernesto Rodriguez Tapia Prof. Osvaldo de Freitas Jesus Prof. Antônio Chizotti Prof. Jefferson Ildefonso da Silva Prof. Apolônio Abadio do Carmo Prof. Geraldo Inácio Filho
Profa. Graça Aparecia Cicillini Profa. Selva Guimarães Profa. Mara Rúbia Alves Profa. Selva Guimarães Prof. Carlos Henrique de Carvalho (2013 - atual) Profa. Maria Vieira Silva
Linhas de Pesquisa • Educação em Ciências e Matemática (Mestrado e Doutorado) - Coordenação: Profa. Elenita Pinheiro de Queiroz Silva • Estado, Políticas e Gestão da Educação (Mestrado e Doutorado) - Coordenação: Profa. Lázara Cristina da Silva • História e Historiografia da Educação (Mestrado e Doutorado) - Coordenação: Prof. Décio Gatti Júnior • Saberes e Práticas Educativas (Mestrado e Doutorado) - Coordenação: Profa. Andréa Maturano Longarezi • Trabalho, Sociedade e Educação (Mestrado e Doutorado) - Coordenação: Prof. Antônio Bosco de Lima Felipe Saldanha é graduado em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU e mestrando no Programa de pós-graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação da FACED/UFU.
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Saberes e Práticas Educativas tem origem para acabar com dispersão temática Temas da pesquisas são reformulados a partir da análise da realidade vivida em sala de aula. Maysa Vilela1 (Da redação)
“O objeto de estudo que nos unia era os saberes escolares e as práticas pedagógicas dentro das escolas”, conta Selva Guimarães, professora e uma das fundadoras de uma das primeiras linhas de pesquisa criada no Programa de Pós-graduação em Educação. A linha surgiu após uma reforma curricular recomendada pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisa de Nível Superior), em 1996, a fim de aglutinar os professores em linhas de pesquisa, visando acabar com a dispersão temática existente até então. Intitulada Saberes e Práticas Escolares, a linha reuniu de 10 a 12 professores de diferentes áreas, que compartilhavam o mesmo objeto de estudo, constituindo, desde o início, uma identidade múltipla. Com professores das áreas de didática, metodologia, ensino das diversas disciplinas, currículo, gestão, entre outros, a linha Saberes e Práticas Escolares agia em torno do processo de ensinar e aprender, trazendo a tona, além do estudo das metodologias de ensino, discussões sobre o direito à aprendizagem. Esse processo seguiu desta forma até 2002, período em que uma reforma curricular conduziu, por meio de alguns professores da área de políticas públicas e gestão da educação, a linha de Políticas e Gestão da Educação. No mesmo ano, os professores que continuaram na linha Saberes e Práticas Escolares sentiram a necessidade de ampliar seu objeto de investigação. Ao mudarem a nomenclatura para Saberes e Práticas Educativas, o objeto antes restrito à escola passa a atingir outros espaços. “Práticas educativas e saberes não são produzidos só na escola, mas em diversos espaços educativos”, salienta Selva. A partir dessa mudança aparentemente simples, o objeto de estudo dos pesquisadores da linha começa a chegar às instituições de educação infantil, aos meios de comunicação de massa, às organizações não governamentais, entre muitos outros.
Os processos de reformulação na ementa das linhas de pesquisa são naturais e acompanham toda a história de suas existências no programa. A mais recente alteração na linha de Saberes aconteceu por volta de 2010, foi a criação da linha Educação em Ciências e Matemática pelos professores que trabalhavam especificamente com o ensino nessas áreas. Segundo a atual coordenadora da linha Saberes e Práticas Educativas, Andréa Longarezi, a linha continua sofrendo alterações a partir das áreas específicas de estudo dos novos professores que vão senso credenciados no programa. Para Selva Guimarães, esse processo é interessante, pois “com a história da linha podemos apreender como o programa cresceu e ampliou tanto seu quadro docente quanto seus quadros de pesquisa”. A linha conta hoje com 15 professores de diferentes áreas do conhecimento, didática, psicologia educacional, alfabetização, educação especial, educação popular, trabalhando o processo do ensino de maneira ampla, assim como metodologia e formação de professores. Os temas utilizados pelos diversos profissionais em suas pesquisas são alterados e reformulados a partir da análise da realidade vivida em sala de aula. Segundo Andréa, a partir da investigação de experiências educativas exitosas ou não, é possível que se desenvolva projetos novos que supram essa demanda. “Nós temos condições de reconfigurar os saberes e a produção de conhecimento em parceria com alunos que são professores e pesquisadores das escolas”, afirma Selva. Tais reformulações vão delineando os objetos de estudo, o que repercute na constituição da linha. Segundo a atual coordenadora, os maiores embates da linha de pesquisa se encontram na pluralidade de concepções e enfoques teóricos dos professores. “Essa diversidade implica em embates conceituais, interpretativos,
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analíticos e, em consequência, de intervenção junto à realidade”. Já para Selva, os embates são tanto de ordem teórica quanto política acadêmica. A professora acredita que os diferentes referenciais são saudáveis por proporcionarem a heterogeneidade conceitual do programa e enriquecerem a produção de conhecimento, mas, ao mesmo tempo, “apesar do esforço que a coordenação tem feito para manter a unidade, é um elemento que dificulta o trabalho coletivo da linha”. A partir dos projetos realizados pela linha Saberes e Práticas Educativas as contribuições para pensar educação são analisadas pelas professoras. Para Andréa Longarezi, no âmbito acadêmico, elas se dão no sentido da produção de conhecimento que a linha tem possibilitado. Selva Guimarães pontua que este campo de pesquisa também traz grandes contribuições na área de formação de professores da educação infantil até o ensino superior, assim como na qualidade do ensino e da aprendizagem no interior das escolas. De maneira geral, a linha se envolve primordialmente com a qualidade do ensino em todos os âmbitos. De identidade múltipla, a linha Saberes e Práticas Educativas é caracterizada pela união de professores com enfoques em pesquisas diversos, mas pensando os processos de aprendizagem e as metodologias no sentido da melhora na qualidade do ensino. “Hoje nós temos projetos que fazem intervenção nas escolas, o que de alguma forma repercute como contribuição social à medida que intervém na realidade buscando melhorar a qualidade do ensino”, conta Andréea. Já para a professora Selva, que acompanha as reformulações da linha desde a sua fundação, ela representa um dos eixos de sustentação do Programa de Pós-graduação desde 1996. “A linha de Saberes dá uma contribuição muito rica para o avanço da produção de conhecimento”.
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Maysa Vilela é graduanda do terceiro ano do Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo FACED/UFU
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Estado, políticas e gestão da educação Talvez, se os governantes voltassem os seus olhos para as pesquisas desenvolvidas na universidade acerca das políticas educacionais, sofreríamos menos com equívocos. Isley Borges 1 (Da redação)
Tudo emerge por alguma razão campo das políticas educacionais e, especificamente a Falar de linhas de pesquisa de um programa ANPAE, já contava com um grupo de trabalho (GT) de pós-graduação é ressuscitar histórias, tanto aquecom a temática “Estado e Políticas Educacionais”. Marlas da própria Faculdade de Educação (FACED) de celo Pereira, pesquisador da linha de pesquisa “Estado, nossa universidade, quanto outras, que acabam Políticas e Gestão da Educação”, afirma que por costurar a trajetória educacional tupiera um momento de muita resistência às niquim. As produções científicas dessas políticas educacionais propostas pelo linhas de concentração de investiga"A junção da governo FHC. “Queria-se uma breções refletem a realidade social cha, uma possibilidade diferente realidade do campo da educação no Brasil e, ao daquela proposta pelo governo mesmo tempo, o resultado de educacional a nível nacional FHC (Fernando Henrique Cardoso) tais estudos pode subsidiar o com a vontade, o desejo e a para as políticas educacionais braEstado na criação de políticas dedicação de professores que sileiras, que tomavam os rumos da educacionais mais palpáveis e privatização”, completa. pesquisavam as políticas calcadas na realidade. Falando localmente, A linha de pesquisa intitueducacionais deu fôlego para da realidade de nossa “ufulânlada “Estado, Políticas e Gestão o nascimento da linha de dia”, nos anos de 1998 e 1999, da Educação” foi fundada em pesquisa." aproximadamente, alguns professo2001, primeira década de um milêres tiveram a ideia de criar uma linha nio que prometia e, agora observamos de pesquisa que tivesse foco nos temas reque de fato assim ocorre, uma revolução lativos às políticas educacionais. Podemos citar nos costumes e no modo como entendemos o nosos professores Sandra Vidal Nogueira, Marilúcia de so país e o mundo. Como pano de fundo desse conMenezes, Marcelo Pereira, Mara Rúbia Marques e texto de fundação da linha de pesquisa, temos as Maria Vieira, que estavam em fase de conclusão do políticas infindáveis de privatização empreendidas doutorado e Robson França, iniciando o doutorado. Pepelo governo da época. reira é taxativo quando diz que “a junção da realidade As associações de pesquisa da área da Pedado campo educacional em nível nacional com a gogia como a Associação Nacional de Política e Advontade, o desejo e a dedicação de professores que ministração da Educação (ANPAE) e a Associação pesquisavam as políticas educacionais deu fôlego Nacional de Pesquisadores em Educação (ANPED) já para o nascimento da linha de pesquisa”. aglutinavam, naquele contexto, pesquisadores do
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Marcelo Pereira
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Fio da meada: as pesquisas, os desafios
Educação e Contemporaneidade
Partindo do pressuposto de que a universidade deve produzir ciência para a sociedade e dela incorporar os saberes populares, em uma relação dialógica, as pesquisas desenvolvidas na pós-graduação da FACED são, inerentemente, pautadas por questões contemporâneas. Pereira, todavia, diz que “as pesquisas podem contribuir com a sociedade, mas o que orienta a definição de políticas públicas para a educação é muito menos estudos e pesquisas e muito mais a correlação de forças políticas presentes no governo” . Maria Vieira, componente da linha de pesquisa em questão, esclarece que, apesar das temáticas das pesquisas terem sofrido mudanças desde a criação da linha, os estudos dos discentes centramse, geralmente, em temáticas que estabelecem conexões entre as esferas macro e microssocial. A tendência predominante das pesquisas realizadas no interior da Linha é apreender as políticas educacionais e sua materialização nos sistemas educativos ou interior da escola, em suas determinações históricas, econômicas e políticas de determinados fenômenos estudados. Ela ainda ressalta que outros temas advindos de questões colocadas pelas políticas educacionais também são visíveis, como é o caso das investigações em torno da precarização do trabalho docente, do ensino médio noturno em escolas periféricas e da educação inclusiva Pereira destaca desafios trazidos pelas últimas pesquisas: discutir a redefinição dos papéis e formas de atuação do Estado brasileiro no campo da educação, sobretudo, a mudança de intervenção desse Estado na educação no governo de Fernando Henrique Cardoso e a redefinição ou rearranjo do papel de tal Estado nos governos de Lula e Dilma.
CONAE - Tendo cumprido as suas etapas municipais e estaduais, a Conferência Nacional da Educação (CONAE) não chegou ao ponto onde deveria, uma vez que a etapa nacional da conferência foi cancelada. Prevista para ocorrer de 17 a 22 de fevereiro de 2014, iria discutir um Plano Nacional da Educação (PNE) que, quem sabe, respondesse aos anseios do segmento educacional e da juventude. O Ministério da Educação (MEC) justificou o cancelamento do evento por ausência de infra-estrutura necessária para a realização do mesmo. Na opinião de Pereira, o cancelamento da etapa final da CONAE foi uma decisão política e arbitrária por parte do MEC. “Em um ano que temos Copa do Mundo e eleições presidenciais não seria recomendável para o governo que essa etapa final ocorresse. Essa decisão é muito menos técnica do que se pensa”, afirma. O professor ainda salienta que a determinação do cancelamento dessa última etapa da conferência deve-se ao fato das estruturas de poder tradicionais estarem fragilizadas e, por essa razão, não saberem lidar com uma nova configuração dos movimentos sociais. “O governo precisou evitar aglutinação de pessoas em um contexto difícil”, completa. REUNI – O Plano de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais despontou no segundo mandato do presidente Lula e, mesmo já consolidado e findado, o programa ainda gera polêmica. Pereira diz que trata-se de uma política de governo e, não de uma política de Estado. “A educação superior ainda é vista como privilégio, não como direito. E isso quer dizer muito, porque nós não temos um arcabouço burocrático sólido nem legitimidade social suficiente para dizer que esses investimentos em expansão são políticas de Estado”, diz. Vieira reconhece os pontos positivos da expansão, mas diz que os cenários são particulares, uma vez que cada universidade apresenta graus de dificuldades específicas, em sua estrutura fisica, financeira e de recursos humanos, ocasionando, em algumas situações, a oferta precária da Educação Superior.
Isley Borges é graduando do quarto ano do Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo FACED/UFU
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função social da pesquisa
Dialéticos
Pesquisas e contradições na linha “Trabalho, Sociedade e Educação” Diélen Borges 1 (Da redação)
Como nasce uma linha de pesquisa? A história se mistura à memória dos pesquisadores. Na linha “Trabalho, Sociedade e Educação” estão os professores Antônio Bosco de Lima, Carlos Alberto Lucena, Fabiane Santana Previtali, Robson Luiz de França e Adriana Cristina Omena dos Santos. Robson se apresenta como “um filho” do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED). “Eu entrei na turma de 1994. Naquela época o mestrado era quatro anos, havia uma diferença grande, tínhamos outra configuração de professores, que atuavam quase que exclusivamente na pós-graduação”, recorda. Carlos e Fabiane já se conheciam dos tempos em que faziam doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) quando ele veio para o PPGED, na UFU, em 2002. “Quando cheguei aqui, eu tinha pesquisa sobre reestruturação produtiva do capital e me alojei na linha de Políticas. Pouco tempo depois, o Robson voltou do doutorado, a Fabiane prestou concurso nas Ciências Sociais e foi aprovada e a gente começou gradativamente a pesquisar e a escrever algumas coisas juntos”, relembra. Entre os problemas de pesquisa de então, buscavam responder se realmente era necessário que os trabalhadores tivessem nível de qualificação profissional maior na era tecnológica ou se isso seria um discurso de cunho ideológico. Os estudos foram conquistando financiamento externo e “pessoas encorpadas” (LUCENA, 2014) (!). Materialistas históricos dialéticos que são, lançaram luz sobre contradições: “o programa foi pensado para a escola formal, mas nós tínhamos a preocupação com a educação não formal, com a educação do partido, com a edu-
cação dos movimentos sociais, com a educação da empresa”, explica Carlos. A fundamentação nas linhas histórico-críticas do marxismo é lembrada por Robson como outra diferenciação desse grupo de pesquisadores em relação à linha de Políticas e Gestão da Educação. Veio a fase de reestruturação do PPGED, em 2011, quando foram criadas duas novas linhas: “Educação em Ciências e Matemática”, originária de “Saberes e Práticas Educativas”; e “Trabalho, Sociedade e Educação”, que nasceu de “Estado, Políticas e Gestão da Educação”. Com “História e Historiografia da Educação”, somavam-se cinco linhas de pesquisa. Antônio Bosco é o atual coordenador da linha “Trabalho, Sociedade e Educação”. Fabiane está em Portugal fazendo seu pós-doutorado na Universidade Nova de Lisboa. E a caçula do grupo é a comunicóloga Adriana, que entrou em 2011 com o desafio de trabalhar com tecnologia em uma linha marxista. “A gente tenta trabalhar as contradições dentro da tecnologia, [observar] como a opinião pública está lidando com essa invasão tecnológica nessa sociedade contemporânea, sem desconsiderar a questão do trabalhador, da exploração, da precarização do trabalho”, explica. “O que fazemos com nossas pesquisas?”, problematiza Adriana. “Penso que é uma função imprescindível da universidade, da educação, da produção científica, estar atenta às necessidades da sociedade e conseguir devolver para a sociedade o que se produz, o que se pensa aqui”, opina, citando outras pesquisas que desenvolve, sobre comunicação pública da ciência. Adriana interroga que a educação superior no Brasil, hoje, vive um impasse: “eu parei para me dedicar à questão da precarização do trabalho do
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professor do ensino fundamental, mas o trabalho continua precarizado. O que nós estamos fazendo com isso? Temos aí um gargalo. E não é a UFU, não é o programa, nem a nossa linha. A educação superior no Brasil hoje vive um gargalo”. Fazer diagnósticos, para Carlos, é cumprir uma função social da pesquisa. Um levantamento da linha revelou, por exemplo, que o número de trabalhadores empregados em Uberlândia cresceu 70,16% entre 2001 e 2010 (passou de 107.758 para 183.371), mas a massa salarial, no mesmo período, cresceu apenas 2,96% (de aproximadamente 431 mil reais passou a 444 mil reais). Carlos aponta duas funções para o grupo de pesquisa: ter um espaço para as pessoas estudarem e socializar resultados. Robson lembra que, se no passado a apresentação dos trabalhos em eventos era o mais importante, hoje isso acontece em relação aos livros e às revistas com conceito alto, conforme valoração da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Adriana defende que, além da publicação, é preciso que pesquisas em áreas como a educação e a comunicação cheguem ao cotidiano das pessoas, como já consegue fazer a área da saúde, por exemplo: “a gente não tem ainda uma cultura de inovação e de propriedade intelectual”. Ela também cita experiências na Europa e nos Estados Unidos, onde a ciência consegue transpor a barreira acadêmica e chegar à sociedade por meio de parcerias com empresas, ONGs e instituições – o que, segundo Adriana, não funciona no Brasil porque entende-se que seria a “privatização” da universidade. A linha “Trabalho, Sociedade e Educação” é predominantemente de investigação marxista. A fundamentação epistemológica é o materialismo histórico dialético, que aposta na contradição, que tem como ponto de partida a dúvida. Diélen Borges é graduada em Letras e Comunicação Social habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação pela FACED /UFU.
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Antônio Bosco
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função social da pesquisa
Educação em Ciências e Matemática: a interdisciplinaridade como característica Linha de Pesquisa é recente e recebe estudantes e professores com variada formação Ana Betriz Tuma 1 (Da redação)
Uma pesquisa analisa a compreensão dos estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que participam do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), sobre o tema sexualidade e a relação entre este assunto e a futura atuação deles como professores. Outro estudo procura identificar, analisar e demarcar as possibilidades e os limites da melhora do conhecimento matemático construído por meio da proposta de criação de jogos virtuais produzida por alunos, que são orientados por uma equipe de professores. Esses são alguns dos trabalhos, respectivamente, de mestrado e de doutorado realizados na Linha coordenada por Elenita Pinheiro, professora da área de educação em ciências da Linha de Pesquisa Educação em Ciências e Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED). Essa linha interdisciplinar tem pesquisas recentes, devido ao fato desta ter sido criada em 2011 e implantada em 2012. No entanto, os estudos sobre educação em Ciências e educação em Matemática feitos no PPGED podem ser identificados em data anterior. Como explica Elenita, os professores orientadores desses campos estavam inseridos em outra linha, a Saberes e Práticas Educativas e, consequentemente, os estudantes com pesquisas na área. O primeiro processo seletivo para ingresso na Educação em Ciências e Matemática aconteceu no final de 2011 e a primeira turma de alunos vinculada à Linha se iniciou em 2012, com dez mestrandos e quatro doutoran-
dos. Em 2013 e 2014 ingressaram nove alunos de mestrado em cada ano e, respectivamente, oito e cinco de doutorado. Para orientar esses estudantes, há um corpo docente interdisciplinar composto por 10 professores, que são da Faculdade de Matemática (FAMAT), do Instituto de Biologia (INBIO), do Instituto de Física (INFIS) e da Faculdade de Educação (FACED). Segundo Elenita Pinheiro, essa linha tem estudos desenvolvidos a respeito do âmbito escolar (educação infantil ao ensino superior) ou fora dele e que têm distintos espaços educativos como foco. Para contribuir com as pesquisas e com a divulgação de conhecimentos, a professora afirma que a Educação em Ciências e Matemática promove algumas ações. Assim, há três grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Docência e Formação para o Ensino de Ciências, cujo líder é o professor Marcos Daniel Longhini; Gênero, Corpo, Sexualidade e Educação (GPECS), que tem como líder a professora Elenita Pinheiro e Núcleo de Pesquisa em Mídias na Educação (NUPEME), sendo Arlindo José de Souza Júnior o líder. Além disso, a linha realizou, em 2012, o “I Encontro de Educação em Ciências e Matemática” e, segundo Elenita, o “II Encontro” será realizado este ano. A co ordenadora acrescenta que, periodicamente, os membros de Educação em Ciências e Matemática organizam o evento “diálogos.com” junto com as demais linhas de pesquisa para discutir o ensino em educação.
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Educação em Ciências
“A ciência inclui a pesquisa e o ensino em áreas disciplinares do grande campo das ciências da natureza [física, química e todas as subdivisões da biologia, como a genética]”, define Elenita Pinheiro. Dessa maneira, a professora conta que a Educação em Ciências atrai pedagogos, biólogos, físicos, químicos, profissionais de alguns campos da saúde, entre outros. Para Elenita, a principal distinção do que acontece nos espaços escolares da educação básica e nos dessa Pós-Graduação é que nestes, obrigatoriamente, se discute e reflete do ponto de vista teórico-prático a educação em ciências. “No nosso caso, nós discutimos e pensamos a prática pedagógica, mas há uma preocupação de como os estudos desenvolvidos podem contribuir com essa prática e com a escola”, explica. Como a maioria dos pós-graduandos são professores da educação básica ou do ensino superior, ao realizarem trabalhos sobre estes, “ao problematizar, ao discutir e tentar compreender os processo educativos no âmbito das pesquisas, há um processo de formação deles e devolução disso na prática que têm nos espaços escolares”, afirma a professora.
Educação em Matemática
“A matemática é pensada por nós como um processo dinâmico, o qual possibilita ao aluno desenvolver determinadas habilidades intelectuais, que geram a compreensão de uma série de fatos e
Fotos: Felipe Flores
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Guilherme Saramago
fenômenos que ocorrem na vida cotidiana”. Essa é a caracterização de matemática dada por Guilherme Saramago, professor da área de Educação em Matemática da linha de pesquisa. A inserção do indivíduo no contexto social por meio da contribuição do conhecimento matemático, segundo o professor, é o que se procura estudar em educação matemática. “Não é uma matemática de reprodução, de imitação e de memória, mas de pensamento, de problematização, de questionamento social”, explica. Guilherme Saramago afirma que, de maneira geral e principalmente na educação básica, predominam práticas educacionais de exposição de informações, de treinamento e de avaliação e não as que valorizam a participação ativa do aluno no processo de sua própria formação. “O que a gente tenta levar para as escolas por meio das pesquisas são reflexões, contribuições teóricas, estratégias e procedimentos que possam instrumentalizar os sistemas educacionais para ir melhorando e aprimorando os trabalhos que lá são desenvolvidos”, conta. Além disso, o professor observa que os mestrandos e doutorandos levam seus aprendizados da Pós-Graduação para seus contextos de trabalho. 1 Ana Beatriz Tuma é graduada em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
Elenita Pinheiro
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função social da pesquisa
Nas linhas da História da Educação Da origem de um núcleo de pesquisa à consolidação de uma linha de pesquisa no PPGED/UFU José Elias Mendes Neto 1 (Da redação)
Uma linha de pesquisa se define por temas aglutinadores de estudos científicos que se fundamentam em tradição investigativa e originam projetos cujos resultados guardam afinidades entre si. A linha de História e Historiografia da Educação – uma dentre as duas primeiras linhas de pesquisa do PPPGED/UFU – tem sua gênese como núcleo de pesquisa antes mesmo da efetivação de linha de pesquisa no Programa. A origem das pesquisas em História da Educação na UFU remontam ao início da década de 1990, “[...] como resultado da participação em uma reunião convocada pela Unicamp para a criação do Grupo de Estudos e Pesquisas 'História, Sociedade e Educação no Brasil' (Histedbr)”, como informa o professor José Carlos Souza Araujo, que leciona na UFU desde 1978 e esteve à frente da criação do núcleo que daria origem à linha de pesquisa. O professor Geraldo Inácio Filho, na UFU desde 1979 e ex-ocupante do cargo de coordenação do PPGED, explica que a proposta original do Histedbr era a de criar, em todos os estados brasileiros, núcleos de pesquisa em História da Educação tendo como centro aglutinador a Unicamp. “Com o PPGED recém-fundado, a UFU também entrou nessa e, em 1992, tivemos a primeira defesa de mestrado: a da professora Betânia, hoje lotada à Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP) e vinculada como docente/pesquisadora à linha de pesquisa História e Historiografia da Educação do Programa”, relembra o professor. No entanto, foi somente em 1997 que uma exigência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) trouxe à tona a organização dos programas de pós-graduação em linhas de pesquisa, o que levou o núcleo já exis-
tente a tornar-se a atual linha de pesquisa História e Historiografia da Educação, ao mesmo tempo em que se criava a linha Saberes e Práticas Escolares. Dada a experiência anterior do núcleo de pesquisa com o levantamento de fontes de interesse para a História da Educação na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaí ba, estabeleceram-se inicialmente dois grandes temas de pesquisa na linha: Educação na Imprensa e História das Instituições Escolares. Sobre o segundo tema, o professor Geraldo esclarece: “Nós mapeamos os principais colégios centenários que havia na região e nossos alunos começaram a estudá-los, o que resultou em um número significativo de dissertações e, mais recentemente, de teses”. Atualmente, a linha de pesquisa de História e Historiografia da Educação, devido a incorporação de novos docentes/pesquisadores ao longo dos últimos anos, ampliou seu escopo de investigações, “envolvendo estudos sobre história e memória educacional, história da organização da instrução pública, história das ideias pedagógicas, imprensa e educação, história das instituições escolares, história das disciplinas, história da educação e representações, história da profissão docente, concepções e história da educação superior e da universidade brasileira, história da alfabetização, gênero e educação”. O atual coordenador da linha, professor Décio Gatti Junior, que ingressou na UFU em 1994, relata que a linha conta hoje com um corpo docente formado por 15 professores doutores, provenientes a maior parte da Faculdade de Educação, mas também de outras faculdades e institutos da UFU, com destaque para três docentes vinculados à FACIP. “O que temos conseguido nestes últimos anos é o crescimento do grupo, com a manutenção da qualidade e da coesão de propósitos e de iniciativas, dentre as quais se destacam: a emergência de novos grupos de pesquisa, a criação e manutenção do importante periódico Cadernos de
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Foto: Gerson de Sousa
História da Educação e, mais recentemente, a criação e manutenção da coleção de livros 'História, Pensamento e Educação', sendo que a maior parte dos pioneiros da pesquisa em História da Educação na UFU continuam colaborando intensamente conosco”, garante o coordenador. A linha mantém, nos dias de hoje, cinco grupos de pesquisa cadastrados no Diretório do CNPq. O primeiro deles, Grupo de Pesquisa em História e Historiografia da Educação Brasileira, é aquele que deu origem à linha, coordenado pelos professores Wenceslau Gonçalves Neto e José Carlos Souza Araujo. Os demais grupos surgem com o desenvolvimento das pesquisas no interior da linha já existente, sendo eles: o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Disciplina História da Educação, coordenado pelos professores Décio e Carlos Monarcha, da Unesp Araraquara; Grupo de Pesquisas em História do Ensino Rural, coordenado pela professora Sandra Cristina Fagundes de Lima; o Grupo de Pesquisa História da Alfabetização: lugares de formação, cartilhas e modos de fazer, coordenado pela professora Sônia Maria dos Santos e pela professora Marília Villela de Oliveira, que pertence a outra linha de pesquisa do PPGED; o Grupo de Pesquisa em História da Educação e História Regional no Interior Paulista, coordenado pela professora Raquel Discini de Campos. Iniciativas da linha de pesquisa de grande impacto na área de História da Educação no país e no exterior foram: os congressos organizados, II Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação em Minas Gerais (2003) e o VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (2006); a publicação, desde 2002, do periódico científico “Cadernos de História da Educação”; a manutenção na Edufu, desde 2009, da coleção de livros “História, Pensamento e Educação”, subdividida em séries, que já publicou seis diferentes títulos, com outros dois em fase final de publicação e mais cinco propostas em análise. 1 José Elias Mendes Neto é graduando do quarto ano do Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo FACED/UFU
Geraldo Inácio Filho
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entrevista Foto: Diélen Borges
Dez anos na janela de vidro De 1995 a 2005, o secretário da PósGraduação em Educação foi Jesus Diélen Borges 1 (Da redação)
Na secretaria de uma faculdade, burocracia e prática se encontram, professores e alunos se apoiam, os cursos se sustentam. Dos 25 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação, dez passaram pelas mãos do secretário Jesus Ferreira de Sousa. Formado em Geografia (1997) e Direito (2008) pela UFU, hoje Jesus tem 46 anos e é servidor do Tribunal Regional Federal. Quem lidou com as pessoas e os papéis na janela de vidro da FACED durante uma década tem histórias para contar. Redação - Em qual época você trabalhou na Faculdade de Educação e o que fazia? Jesus - Eu trabalhei de novembro de 1995 a agosto de 2005. Eu era secretário da pós. Na época era só mestrado. A faculdade estava com dificuldade no corpo de servidores para atender à secretaria. Eu era da FAEPU [Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia], eu não era servidor da universidade. Aí eu fiz um concurso, fui chamado para trabalhar na secretaria e daí eu fiquei, de novembro de 1995 a abril de 1996, como prestador de serviço e, em abril de 1996, eu fui efetivado pela FAEPU. Lá eu permaneci até 2005. Redação - Como foi trabalhar na Educação, lidando diretamente com profissionais e pesquisadores da área? Jesus - Eu, de certa forma, já tinha um contato [com a Educação] devido à graduação que eu havia feito, mas do outro lado, como discente. É uma experiência interessante porque você trabalha com pessoas com diversos conhecimentos. Nas relações interpessoais e de trabalho você vê o tanto que a questão pessoal influencia diretamente. Às vezes a gente ouvia comentários de alunos: “o professor tal é ótimo”, “esse é meio
Jesus Sousa
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complicado, na disciplina puxa muito”. Eu achava interessante essa diferença que tinha entre esses professores. Para mim, de certa forma, era novidade porque eu tinha trabalhado em vendas e como bancário, então, diretamente na área de educação, eu não tinha essa experiência. Redação - Desses dez anos, você tem lembrança de algum momento mais marcante? Jesus - O que marcava a gente, normalmente, era quando ia ter a defesa da dissertação. Tinha um preparo: convite de banca, remessa para os membros externos... No dia da defesa você tinha que preparar tudo e percebia a angústia das pessoas que iam defender. Outros nem tanto, já ficavam tranquilos, com tudo sob controle. Tinha os eventos também que o programa promovia e trazia membros de outras instituições. Esses eventos chamavam atenção da comunidade. Redação - Havia dificuldades? Jesus - De maneira expressiva não. Tivemos problemas em relação ao processo seletivo, acho que de 2004 ou 2003, eu não me recordo. Houve uma mudança no decorrer do processo e causou certo mal estar. Inclusive, teve professores que resolveram se desligar do programa. Mas isso foi superado e se prosseguiu. Logo já foi aprovado o programa para o doutorado. Eu saí, então, eu não sei o desfecho que se teve. Redação - Por que você saiu da FACED? Jesus - Eu fui aprovado no concurso do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, aí eu tive que pedir demissão para assumir. Coincidentemente, eu tinha feito concurso para a UFU e uma semana após eu ter tomado posse no Tribunal, me enviaram a carta me convocando para assumir como técnico da universidade. Mas, por questões de carreira e salário, eu optei por ficar no Tribunal.
Redação - Qual a sua opinião, hoje, sobre a pesquisa na área da Educação? Jesus - Na minha época, no mestrado, trabalhavam-se duas linhas de pesquisa: História e Historiografia da Educação e Saberes e práticas educativas. Quando eu estava saindo foi implantada a terceira linha, acho que de políticas e gestão. Pela estrutura da linha, você via a formação dos professores, o histórico acadêmico deles em relação ao foco da pesquisa. Por exemplo, os alunos de História e Historiografia tentavam resgatar a história da educação, alguma instituição, o trabalho de um professor ou acadêmico que teve influência na educação. Já a linha Saberes era múltipla. Todas as possibilidades podiam ser trabalhadas: currículo, aprendizagem, resgate dos ensinadores históricos, Piaget, Foucault.. A gente percebia nas pesquisas, nos trabalhos dos alunos. Querendo ou não, você tinha um certo conhecimento, mesmo que superficial, que te dava alguma referência. E tinha trabalhos interessantes! Quando ia ocorrer a defesa, fazia-se uma divulgação e a comunidade acadêmica correspondia bem. Outros temas nem tanto, você ia numa defesa e estava meio vazia. Redação - Mais algum comentário? Jesus - Foi um período bastante valioso para mim. Aprendi muita coisa. Principalmente, você vê as diferenças entre o jeito e a maneira de trabalhar. Eu tive vários coordenadores do programa. É interessante a atitude, o jeito de lidar com os pares, de certa forma isso marca a gente. Uns são arrojados, têm seu próprio estilo. Outros já são mais ponderados. Claro, todos tentando fazer o melhor possível para o programa. 1 Diélen Borges é graduada em Letras e Comunicação Social: Jornalismo pela FACED/UFU e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação pela FACED/UFU.
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entrevista
Por trás das cortinas
Gianny Carlos, secretária da pós, deixou a Odontologia para se dedicar ao serviço público Cíntia Sousa1 (Da redação)
quando a UFU chamou, eu falei: vou embora. Aí eu A escolha de uma profissão represenvim, em novembro de 2005", revive. ta um importante passo em nossas viNa posse, Gianny fez um único pedido: não das. Muitos já sabem o que desejam queria trabalhar no Campus Umuarama. "Eu não fazer desde pequenos, outros deciqueria voltar para lá, acho que é até um certo traudem por impulso, no calor do momento ou por inma mesmo". O destino apresentou-lhe a Faculdade fluência familiar. Alguns acertam, enquanto outros da Educação. "Quando eu cheguei, fui recepcionada percebem que o caminho escolhido não era a direpelo professor Marcelo Soares. Ele me perguntou se ção correta. eu aceitaria fazer a função de secretária", relembra Assim aconteceu com a sorridente Gianny Gianny, que enfrentou o desafio. Carlos Freitas Barbosa. Natural do interior de Gianny acompanhou o crescimento Goiás, Gianny veio para Uberlândia por do programa e viu o doutorado nascer. causa da Universidade Federal de "Hoje o corpo docente em relação Uberlândia. Até hoje a instituição ao que era antes, ele triplicou, o faz parte de sua vida: antes como discente eu acho que multiplicou estudante, agora como local de "Acho que na época que umas quatro vezes", avalia. O seu trabalho. A atual secretária da eu desisti da odontologia trabalho é por trás das cortinas, pós-graduação da FACED acreditava que a odontologia seria foi um período difícil, mas mas sem o qual não haveria o espetáculo. Gianny auxilia os profeso seu destino: ingressou no curso depois eu vi que eu realsores e alunos do programa. Ela é quando tinha apenas 16 anos e mente não ia ser feliz" a responsável pelas atas das reudepois de quatro anos recebeu o niões do colegiado, em que se detão desejado canudo. Recém-gracide dilações de prazo, formações duada, mudou-se para o Mato de bancas, homologações de defesas. Grosso para exercer a profissão. Em "É muito trabalho, porque, assim, a gente, terras mato-grossenses, percebeu que a não tem, por exemplo, um período tranquilo, área biomédica não era o caminho certo. porque as bancas elas acontecem o ano inteiro, al"Acho que na época que eu desisti da odontologia gumas adiantam, algumas têm dilações, mas o ano foi um período difícil, mas depois eu vi que eu realinteiro tem aquele movimento, independente de férimente não ia ser feliz", relembra. as", descreve a sua rotina. Gianny começou a prestar concursos públiA dedicação ao trabalho é reconhecida não cos. "Eu passei em vários, passei no da Caixa apenas pelos colegas de faculdade. Gianny é refeEconômica, no Banco do Brasil, na Infraero, na UFU. rência na instituição quando o assunto é o preenchiO que me chamou primeiro foi a Caixa Econômica. mento do 'temido' relatório anual da Coordenação Eu fiquei lá seis meses no ano de 2005, só que eu de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior fiquei em Ituiutaba. Como eu não tinha previsão de (Capes). "Quando você termina, a Pró-reitoria faz quando eu conseguiria remoção para Uberlândia,
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Foto: Cíntia Sousa
uma varredura do relatório e eles veem que está tudo casadinho, está tudo vinculado, está tudo certo. É bom, porque é um reconhecimento do seu trabalho", orgulha-se. Gianny acredita que a educação é o melhor caminho para a construção de um país melhor. "Nossa, eu acho que é essencial, essencial, porque acho que só uma pessoa que vai estudando, vai tendo mais esclarecimento, que vai lutar pelas coisas que ela quer, tem condição de buscar coisas melhores. Infelizmente, assim, eu já senti, que depois que eu estou aqui, que o governo investe primeiro nas exatas, depois na parte de saúde, biomédica. Eu acho que as humanas, nessa parte de orçamento, é a que fica mais prejudicada". Com quase dez anos dedicados aos bastidores, a secretária não se arriscaria em ser protagonista de uma linha de pesquisa. "Eu acho que é uma carga de leitura muito grande e que, talvez eu acho que assim, você tem ter um prérequisito daquela base teórica, tudo que eu não tive, porque o meu curso é voltado para a médica odontológica. Então eu acho que eu teria muita dificuldade", avalia. Mas, com um sincero brilho no olhar, Gianny orgulha-se do seu ambiente de trabalho e tem certeza que fez a opção correta. "Então, assim acaba que a gente vai ficando amigo mesmo dos outros e até dos professores. A gente brinca e tal, porque se fica um ambiente tão engessado, acho que a vida fica muito triste, né? Então, tem que ser uma coisa assim, mais, que consegue vincular as duas coisas tanto o trabalho, mas também essa parte mais social ", finaliza. 1 Cintia Sousa é graduada em Letras e em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
Gianny Carlos
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História vivida como objeto de estudo James Madson faz parte do programa de pósgraduação em educação há 14 anos Cíntia Sousa1 (Da redação)
"Uma pessoa que precisa aprender mais, porque a gente não sabe tudo e a gente precisa de cada vez mais desenvolver os nossos talentos". É assim que o uberlandense James Madson de Mendonça se descreve. Mas se engana quem se deixa levar pelas modestas palavras. James é uma peça fundamental do programa de pós-graduação da Faculdade de Educação. A família é o seu porto seguro. A companheira de todas as horas, Soneli de Mendonça, também dedica-se à educação: ela é secretária de uma escola da rede estadual. Os filhos não seguiram os caminhos dos pais. Hudson Mendonça é aluno de Administração de Empresas, enquanto a jovem Isabela Longo estuda Fisioterapia. "Tô muito satisfeito de ver a alegria deles", emociona-se o pai. James viu o programa de pós-graduação crescer: ele está há quatorze anos na secretaria atendendo e auxiliando alunos e professores. "O mestrado tinha 20 alunos, hoje tem quase 300, é muita coisa. Então, não é só mestrado, em 2004 veio o doutorado também. Então, eu vi tudo isso, vi crescer muita coisa e tô muito satisfeito", orgulha-se. Mas a história de James com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é mais antiga. Ele ingressou na instituição no ano de 1977. Naquela época, exerceu a função de digitador, profissão que hoje está esquecida. O sonho de cursar medicina fez o homem se afastar da instituição por um ano. Mas, 'o bom filho a casa torna': James voltou à UFU, lugar em que está até hoje. "Bom, eu sempre trabalhei com
informática, na época não era nada desses computadores pessoais, né? Era um computador central, na época era o 1130, eu trabalhei com o primeiro computador que fez os cálculos para o homem ir à lua", brinca James. Com o passar dos anos, o trabalho de operador de máquina não trazia mais desafios, era preciso sair da rotina: "Eu queria, assim, sair daquela área que eu estava, porque eu não estava aprendendo nada, eu estava, assim, muito inoperante, sabe? Quando você não aprende nada, daí você se sente improdutivo. Então, aí eu prestei um outro concurso, vim para a área da educação", relembra. James mudou-se para o Departamento de Princípios e Organização da Prática Pedagógica que, em 2000, após uma re estruturação na universidade, juntou-se ao Departamento de Fundamentos da Educação que resultou na Faculdade de Educação. Com a mudança, James foi convidado para a secretaria do mestrado, lugar em que desejava estar: "aí, eu fui convidado para trabalhar no mestrado em Educação, que eu sempre gostei". James deixava o universo das máquinas e passava para o mundo da educação, onde novos desafios surgiram. "Então todos ve em, perguntam, questionam e a gente, assim, tem que ser mais flexível, porque, por exemplo, às vezes chega a pessoa nervosa, vem falando alto, vem solicitando informações, talvez a gente não tem informação, tem que procurar informação. A gente não sabe tudo, né?", comenta. E a educação não ficou restrita ao trabalho. James se rendeu à licenciatura e graduou-se em Ciências com habilitação em Matemática.
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Foto: Cíntia Sousa
E foi mais além transformou a sua relação com a pós-graduação em educação em objeto de estudo. "O meu TCC da pós, que eu fiz nessa área da educação, é isso, eu historicizei a minha vida dentro da pós-graduação, dizendo o boom da pós, que foi o boom, eu sei através de gráficos esse aumento dos alunos", explica. O orientador da pesquisa foi o amigo e professor do programa Carlos Henrique de Carvalho: "por sinal, um ótimo professor, eu gosto muito dele, a gente se deu muito bem", avalia James. De secretário a aluno da faculdade. James deseja fazer mestrado: "Agora, eu na verdade, eu quero fazer o meu mestrado". Então, James não vai mais poder 'fugir' da tão temida hora da divulgação dos resultados do processo seletivo do programa de pós-graduação. Este é um dos momentos mais tensos da sua função, pois os candidatos querem "Agora, eu na saber porque não foram verdade, eu quero aprovados. E qual foi a solufazer o meu ção encontrada mestrado." por James para driblar as perguntas? "Então o quê a gente faz, a gente quando solta o resultado, a gente dá um jeito de ir embora. Porque eles telefonam, querem questionar, querem perguntar para a gente, e nós, não fomos nós que corrigimos as provas, né?, divertese James, que um dia espera ver o seu nome na lista de aprovados. 1 Cintia Sousa é graduada em Letras e em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
James Mendonça
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defesas históricas
O mestrado como meio de transformação social “É a forma de crescer enquanto ser humano e de possibilitar ao outro, por meio de olhos científicos, retirar os estigmas e fazer com que a sociedade avance” Daniela Malagoli 1 (Da redação)
A primeira defesa de mestrado da o conhecimento não fosse abstrato”. Para ele, só teria Faculdade de Educação (FACED) da sentido estudar fórmulas se estas se relacionassem à Universidade Federal de Uberlândia vida do estudante que trabalhasse, por exemplo; do (UFU) ocorreu contrário, seria desnecesem cinco de outubro de sário empregar cálculos 1992. Betânia de Oliveira que não fossem aplicados Laterza Ribeiro, graduada na realidade. O Pós-Doutor em Pedagogia pela Univerem Psiquiatria comenta sidade de Uberaba, apreque, na época, se referia sentou a dissertação ao ensino noturno como se “Estudo Fenomenológico do fosse uma “caverna, mas ensino e aprendizagem na no sentido platônico, não escola noturna: casuística só com mera escuridão, de evasão e repetência”. mas com frestas de luz”. A proposta do tema Betânia Laterza Risurgiu, segundo Betânia , da beiro realizou seu doutorado conexão entre sua vida enna Faculdade de Educação quanto professora e o proda Universidade de São jeto de ampliar o Paulo (USP-SP) e construiu conhecimento por meio do sua tese de doutoramento a mestrado. “Sentia uma despartir de depoimentos de conexão entre o que era alunas do Curso de Pedaensinado na escola e o que gogia. A investigação teve os alunos necessitavam pacomo objeto as relações de ra sua vida social”, comenta. gênero e os projetos de vida Segundo a Pedagoga, a de alunas-trabalhadoras e, escola noturna era pouco por meio do referencial teóestudada na época e havia rico sócio-histórico-existencial muito desinteresse e evasão e da análise do material da Ata de defesa do mestrado de Betânia dos alunos, era como se “a pesquisa, evidenciou que as escola caminhasse de um lado e o aluno de outro”. Ridiscentes enfrentaram preconceitos e desconfianças por beiro acredita que não há vinculação do conteúdo esparte de seus familiares por estarem fazendo o curso de colar com o mundo significativo do discente: “eu só pedagogia no período noturno. aprendo aquilo que eu autorizo aprender”. Segundo a educadora, os depoimentos das O psicólogo e orientador da dissertação, Luiz entrevistadas foram profundos e os descontentamenErnesto Rodriguez Tápia explica: “era importante que tos apresentados se configuravam em dor e angústia
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Betânia de Oliveira
com consequências sérias. Os resultados dessa investigação proporcionaram interesse pela aprendizagem de alunos com transtornos psicóticos e o papel do educador nesse contexto educacional, o que constituiu sua pesquisa de Pós-Doutorado. Para tanto, Betânia Laterza Ribeiro frequentou e estudou a história do hospital psiquiátrico da Instituição Hospital Dia, o qual, segundo a Educadora, é uma Instituição Educacional, na qual é possibilitado ao paciente psicótico vários tipos de aprendizagem. A dissertação da Pós-Doutora também pela USPSP se transformou em livro, intitulado: “O ensino noturno: a travessia para a esperança”. Lançado em 1994 pela Global Editora(SP), se encontra na Secretaria de Cultura da Itália, Portugal, Venezuela e Bolívia, com mais de 2000 exemplares vendidos. A Pedagoga também teve a oportunidade de discutir sobre a pesquisa em vários programas em canais de televisão, como a TV Cultura. De acordo com a educadora, a pesquisa cumpre papel de extrema relevância: “A Escola que temos hoje é herdeira de muitas lutas, resultado das ações governamentais cristalizadas em instrumentos burocráticos que derivam da concepção de Estado Neoliberal vigente". Betânia explica ainda, que o ensino no período noturno já existia no Brasil Império. As classes de alfabetização, destinadas ao trabalhador funcionavam à noite, em locais improvisados, dirigidas por mestres que ganhavam pequena gratificação, e a freqüência dos alunos diminuía muito no decorrer do ano letivo. O psicólogo Dr. Luis Ernesto Tápia acredita que a pesquisa científica é importante, pois permite, pelo estudo de temas socialmente relevantes, como educação, saúde e meio ambiente, possível a sintonia com a política pública. Além disso, apresenta qualidade não só científica, mas ética. No que diz respeito à dissertação de Ribeiro, o professor comenta que hoje continua sendo relevante e, no âmbito socio-regional, contribuiu na medida em que tentou humanizar o ensino noturno. Ele
acredita que a pesquisa deve ser feita para comunicar, e não para mostrar o quanto se sabe a respeito de determinado assunto. A educadora também afirma que a pesquisa proporciona aprofundamento dos aspectos teóricos, educacionais, econômicos e sociais, o que possibilita divulgação e reflexão: “fico preocupada com um país sem memória, sem pesquisa. Como ele avança? Ela é a base do conhecimento humano, pois nos retira do achismo, preconceito e estereótipos. A pesquisa possibilita a travessia”. Ribeiro acredita que a investigação pode contribuir e até interferir nas políticas educacionais do Estado brasileiro. Segundo Ribeiro, mesmo com a expansão do ensino público brasileiro vivemos uma política neoliberal excludente. Para ela, há uma aparência de normalidade nas escolas, mas “quando você vai aos bastidores, aí você descobre os problemas”. Ribeiro, afirma que é necessário repensar o currículo brasileiro, para que esse seja o mundo significativo do aluno: “precisamos ouvir mais o aluno e descobrir o que precisa no mundo do trabalho para que haja uma aprendizagem significativa”. A dissertação, para a pedagoga, “naquela época era uma denúncia e hoje seria uma denúncia ampliada”. Atualmente, Betânia é docente do Curso de Pedagogia na Faculdades de Ciências Integradas do Pontal e do Programa de Pós Graduação em Educação da FACED UFU. “É fruto de todo o investimento no mestrado, estou agora estou dando o retorno para a universidade”, afirma. Para ela, o papel do pesquisador é denunciar e anunciar: “Precisamos nos preocupar verdadeiramente, e não somente nos ocupar com as questões”, finaliza. Daniela Malagoli é graduanda do quarto ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da FACED/UFU.
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Educação inclusiva na mira da 1a doutora pelo PPGED Tese investigou relação com políticas de formação de professores
Felipe Saldanha1 (Da redação)
A professora Lázara Cristina da Silva foi a primeira a receber o título de “Doutora em Educação” pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da UFU. Ela concluiu o curso no prazo mínimo de três anos, ao defender a tese “Políticas públicas e formação de professores: vozes e vieses da educação inclusiva” em 2009, sob orientação da professora Marilúcia de Menezes Rodrigues. De aluna ligada à linha de pesquisa Estado, Políticas e Gestão em Educação, Lázara – que já era docente da FACED – passou a coordenadora da linha no ano seguinte. “Educação especial” é um tema que acompanha a professora desde 1992. Ao longo do mestrado e do doutorado, não foi diferente. Na dissertação, defendida em 1998 na Universidade de Brasília (UnB), Lázara pesquisou a relação do sucesso escolar com a participação do aluno, dentro da perspectiva da educação inclusiva (aquela que trata do “direito de todos de estar, aprender e se desenvolver na escola” e dentro da qual se encontra a educação especial, segundo a docente). Na tese, o foco foi a relação entre as políticas de formação de professores e de inclusão educacional em universidades públicas da região Centro-Oeste, mais especificamente no tocante às pessoas com deficiência. “A principal conclusão foi a de que essas políticas não dialogam muito”, relata a docente. O trabalho demonstrou que as secretarias do Ministério da Educação responsáveis pela implantação de tais políticas não conversam entre si. Quanto às instituições de ensino, a professora percebe que não há preocupação com o assunto. As ações que existem neste sentido não são institucionais, mas sim pontuais, ligadas às pessoas que trabalham na área de inclusão. “Se as pessoas que têm interesse, que
trabalham na área, deixarem de estar nessa instituição, provavelmente essas ações vão com elas”, diz. Lázara considera que a principal contribuição da sua tese para o PPGED foi colocar a discussão sobre educação inclusiva em pauta. “Com a minha presença, a princípio, enquanto doutoranda do programa, eu comecei a incomodar muito e trazer essas discussões para cá”. A professora observa que, após obter o título e tornar-se docente permanente do programa, a linha de pesquisa que passou a coordenar tem contribuído muito para a temática. A tese incentiva “uma reflexão importante sobre a necessidade de as instituições de ensino públicas trazerem para as políticas de formação de professor essa discussão”, segundo Lázara. Ela defende que a inclusão das pessoas com deficiência na educação vai além da mera matrícula e demanda práticas pedagógicas apropriadas “para que haja sucesso nesta imersão”. O assunto, atual e relevante, deveria ser debatido na graduação e nos cursos de formação de professores, com o intuito de promover mudanças na sociedade. “A gente precisa mudar a educação para a juventude ter uma perspectiva diferente, um modo diferente de interrelacionar com estas pessoas”. Ao ser perguntada sobre possíveis desdobramentos do trabalho, Lázara sugere ampliar a pesquisa para outras regiões do país, uma vez que o quadro constatado na região Centro-Oeste parece ser mais agravado no Norte e Nordeste do país e não muito diferente nas demais regiões. A docente reforça, ainda, a importância de as políticas de inclusão deixarem de acontecer de forma isolada. “Como a gente vai produzir um trabalho articulado se cada uma das políticas puxa para um lado?”
Fotos: Gerson de Sousa
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Leia um trecho da tese nº 1: [...] desconfiamos de que a presença e/ou a ausência no interior das instituições e, por conseguinte, de seus cursos, de professores que possuem interesse acadêmico na área da educação especial e/ou inclusiva, seja um elemento chave para a inserção da mesma nos currículos dos seus cursos. Esta nossa desconfiança se fortalece pelo fato de a inserção da temática apresentar-se em 100% dos cursos analisados, contemplada em forma de um ou mais componentes curriculares, não sendo explorada considerando o princípio geral da transversalidade da mesma. Neste desenho, cabe apenas ao professor que é pesquisador e/ou possui inserção na área a responsabilidade em desenvolver um trabalho acadêmico com a mesma, isentando os demais de também se envolverem, aprenderem e de compreenderem suas demandas para promoção coletiva de um trabalho que de fato vise à inclusão educacional dos egressos dos cursos. [...] Referência: SILVA, Lázara Cristina da. Políticas públicas e formação de professores: vozes e vieses da educação inclusiva. 2009. 344 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009. A tese pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFU, disponível no endereço: www.bdtd.ufu.br
1 Felipe Saldanha é graduado em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU e mestrando no Programa de pós-graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação da FACED/UFU.
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500a defesa aborda tema sobre escolarização negra no período republicano Influência familiar instiga pesquisadora a ter contato com organizações do Movimento Negro Carlos Gabriel Ferreira1 (Da redação)
Gilca Ribeiro dos Santos é autora da 500ª defesa da pós-graduação da FACED. Atualmente, ela mora em São Bernardo do Campo, em São Paulo, mas foi no ano passado que finalizou sua dissertação de mestrado intitulada “O Pensamento Educacional de Francisco Lucrécio e Ironides Rodrigues”. Sob a linha de pesquisa “História e historiografia da educação” e orientação do professor Armindo Quillici, Gilca nos conta um pouco sobre seu processo no PPGED.
Redação - Como surgiu a oportunidade de cursar o PPGED?
Gilca Ribeiro - Em 2010, tive a oportunidade de participar de uma Formação Continuada para Professores da rede pública e privada, ministrada por docentes da FACIP/Ituiutaba. O curso era anual e dividido em módulo contemplando diversas temáticas. Isto me permitiu um contato com diferentes referenciais teóricos. Identifiquei-
Foto: Felipe Flores
me com os temas ligados a Filosofia da Educação e História da Educação. Comecei a aprofundar os estudos e busquei um amadurecimento teórico.
Redação - O que levou você a se debruçar sobre a população negra para os seus estudos?
Gilca Ribeiro - Desde criança, por influência materna, tenho contato com organizações do Movimento Negro. Este contato me fez militante e a dificuldade do acesso da população negra à educação letrada, o analfabetismo de minha mãe e a pouca instrução escolar de meu pai instigaram-me a compreender o processo de inserção da população negra na escolarização. Buscando entender as dificuldades vivenciadas por essa camada da população em ter acesso e permanência no sistema oficial de ensino, iniciei o levantamento das fontes para a elaboração do projeto de pesquisa. Entretanto, deparei-me com o silenciamento das fontes. Este silenciamento me conduziu a buscar conhecimento de como essa escolarização se deu na
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Foto: Divulgação Gilca Ribeiro
região e as influências do movimento de luta pela educação da população negra, empreendida por várias organizações negras no país.
Redação - E foi assim que Francisco Lucrécio e Ironides Rodrigues se tornaram protagonistas de sua pesquisa?
Gilca Ribeiro - Meu encontro com Francisco Lucrécio e Ironides Rodrigues, se deu quando comecei a pesquisar sobre a escolarização da população negra no período republicano e suas diversas iniciativas educacionais. Entre elas, a criação da escola primária pela Frente Negra Brasileira, uma organização fundada em 1931, para reivindicar os direitos sociais e políticos da população negra na cidade de São Paulo, cujo professor é Francisco Lucrécio, e do Curso de Alfabetização do Teatro Experimental do Negro, entidade do movimento negro fundada em 1944, cujo objetivo principal era combater o racismo, tendo à frente o professor Ironides Rodrigues. O Estado, que deveria ter se responsabilizado pela educação da população negra, não cumpriu esse papel. Coube a providência de oferecer escola aos integrantes dessa camada, às organizações negras. As duas iniciativas podem ser entendidas como resposta ao anseio do segmento negro pelo direito ao saber escolarizado.
Redação - Já finalizado o seu Mestrado, quais foram os resultados de seu estudo? E ainda: quais as suas perspectivas com novas pesquisas?
Gilca Ribeiro - Ao aprofundarmos nosso estudo, constatamos uma aproximação da prática educativa de Lucrécio e Ironides com o projeto iluminista de educação. As ideias iluministas eram o referencial teórico para os educadores brasileiros que atuavam na educação naquele momento. Porém, a concepção de educação desses educadores não encontra relação simplesmente com a escolarização. Suas práticas incorporam a perspectiva emancipatória de seus alunos no seu percurso político e social. O pensamento educacional de Francisco Lucrécio e Ironides Rodrigues encaminha para um repensar da estrutura escolar a fim de que seu caráter excludente seja abolido, promovendo o sentido da liberdade e da superação dos limites das relações humanas. Atualmente, desenvolvo a elaboração do projeto de doutorado, acredito na contribuição das propostas pedagógicas do Movimento Negro para o pensamento educacional brasileiro. Busco saber que conhecimentos, informações e dados, acumulados por militantes negros e negras durante sua trajetória de vida, poderiam contribuir para a reconstrução do pensamento educacional brasileiro.
1 Carlos Gabriel Ferreira é graduando do quarto ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo FACED/UFU
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Cadernos de História da Educação: para aprender e relembrar Foto: Divulgação
Revista, avaliada pelo Qualis/Capes no estrato A2, propicia troca de conhecimento com pesquisadores estrangeiros
Marina Colli 1 (Da redação)
A revista Cadernos de História da Educação foi criada em 2002 com o objetivo de proporcionar a troca de ideias entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, e divulgar estudos e pesquisas na área de História e Historiografia da Educação. Até o ano de 2008, sua periodicidade era anual, a partir de 2009 começou a ser lançada semestralmente. Em sua trajetória, a revista sofreu também modificações estéticas. Desde seu início, a capa da publicação levava uma foto antiga relacionada ao tema História da Educação no Triângulo Mineiro e Alto Paranaí ba. Segundo o professor Décio Gatti Júnior, presidente da comissão editorial da revista e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFU, “a partir da edição comemorativa de dez anos da revista, o layout da capa foi alterado, mantendo a presença da foto, mas permitindo, agora, uma liberdade maior quanto à forma e ao tamanho da imagem”. A revista Cadernos de História da Educação classificada no último Qualis/Capes no estrato A2, o segundo maior em excelência nacional para revistas científicas. O professor Gatti prevê melhorar esse desenvolvimento para os próximos anos. “Na próxima avaliação pretendemos manter o estrato A2 ou quem sabe
Décio Gatti
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alcançar o almejado A1, a mais alta em âmbito nacional”, explica. O crescimento rápido na avaliação do Ministério da Educação (MEC) ajuda no reconhecimento da revista no cenário nacional e internacional. Os textos enviados pelos colaboradores são submetidos à avaliação por duas pessoas com experiência em História da Educação e que sejam, preferencialmente, membros do Conselho Consultivo da revista. Caso haja divergência entre as opiniões dos avaliadores, uma terceira pessoa é chamada para emitir um novo parecer e facilitar à tomada de decisão pelos responsáveis pela revista. Além de colaboradores brasileiros, a publicação conta também com textos de pesquisadores de diferentes países. Gatti conta que “os artigos internacionais podem ser publicados na língua de origem, ou de forma bilíngue dependendo da proximidade do idioma com o português”. O periódico estabelece relação de permuta com nove revistas do país e do exterior e está em negociação com outras revistas. Além disso, a versão impressa da publicação é disponibilizada em dezessete instituições de ensino no exterior e cinquenta e quatro no Brasil. Todos os artigos podem ser encontrados integralmente na versão online do periódico. O site de acesso é: www.seer.ufu.br/index.php/che/. 1 Marina Colli é graduanda do terceiro ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
Foto: Felipe Flores
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Revista fomenta debates nas práticas de aprendizagem Periódico da pósgraduação divulga pesquisas de alunos e professores da Pedagogia Clarice Sousa1 (Da redação)
A revista Ensino em Revista comemora, este ano, 22 anos desde a primeira publicação o que a vincula como elo essencial na comemoração do jubileu de prata do Programa de Pós Graduação em Educação (PPGED) da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU. No entanto, nem sempre o periódico esteve vinculado ao PPGED. O primeiro número foi publicado em 1992, como parte dos trabalhos feitos pelo Laboratório Pedagógico (LAPED), conta a professora Selva Campos. A professora esclarece que o Laboratório Pedagógico foi criado em 1988 e os professores da equipe de metodologia de ensino - língua portuguesa, alfabetização, ciências, história, geografia e matemática - sentiram necessidade de publicar os trabalhos que eram desenvolvidos no Laboratório, na área de ensino e aprendizagem dessas diversas disciplinas, elaborados tanto por professores, quanto por alunos. “A identidade da revista, como o próprio nome indica, é ensino em revista. Re-vista. Um novo olhar, uma revisão do olhar, uma RE-visão das práticas de ensino. Ela foi criada, a primeira publicação do Laboratório Pedagógico e uma das metas foi a necessidade de divulgar os trabalhos desenvolvidos no LAPED”, explica. O co ordenador editorial da revista, Marcos Daniel Longhini, completa que se trata de um periódico científico dirigido a pesquisadores,
professores e estudantes da área da Educação, para a publicação de textos científicos relativos aos processos pedagógicos que abrangem diferentes âmbitos da Educação. Esses âmbitos envolvem tempos e espaços educativos diversos de forma a efetivar o debate e a reflexão para promover a divulgação da produção científica nos âmbitos nacional e internacional. “Anualmente, publica dois dossiês temáticos (um por semestre), organizados por pesquisadores da área-tema, trazendo artigos de especialistas convidados – brasileiros e estrangeiros – e abarcando assuntos de interesse e discussão atuais de diversas áreas da Educação”, comenta. Longhini também faz uma análise sobre a proposta inicial da produção da revista, que criada pela equipe de professores da área de Metodologia de Ensino do Departamento de Princípios e Organização da Prática Pedagógica (DPOPP), da UFU, constituiu-se, em 1993, no veículo oficial de divulgação científica anual do departamento citado. Em 1999, com a união do DPOPP e do Departamento de Fundamentos da Educação (DEPFE), tornou-se um Periódico à responsabilidade da FACED, mas nunca deixou de ter a sua característica de ser vinculada ao ensino e à aprendizagem. Selva esclarece sobre esse ponto: “Ela [a revista] não nasceu vinculada à Pós-graduação, mas vinculada à Graduação. Hoje, ela está ligada às Linhas do PPGED, mas como o seu foco é
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a aprendizagem, ela está abe r ta à s p u bli cações dos trabalhos científicos d o s a lu n o s d o curso de Pedagogia, dos profes s o re s d a Pe d agogia e também dos alunos d a Pó s g ra d u ação, só que hoje ela tem uma ca ra c t e r í s t i ca nacional e internacional”. No último ano, a revista d e i xo u d e s e r impressa e passou a ser comp l eta m e n t e e l etrônica, mas Selva é firme ao d efe n d e r o p eriódico: “A revista é um espaço d e p u bli ca çã o fundamental para a pós-gradua çã o , p o rq u e a pós graduação têm que publica r o s s e u s re s ultados de pesquisa, ela tem que co m u ni ca r o s seus resultados de pesquisa. E e l a cu m p re e sse papel de divulgar o meio ci e n t i fi co b ra s ileiro, artigos que são frutos das p e s q ui s a s d o s professores e dos alunos”. Já Lo n g hini co n co rda que na medida em que socia liza re s ul ta d o s de pesquisas, não só de pes q ui s a d o re s d a própria instituição e de seus p ro g ra m a s d e pós-graduação, assim como d e p rofi s s i o n a i s de outras instituições do país e d e fo ra d e l e , a revista contribui para as discu s s õ e s . “ N e s s e sentido, ela fomenta o debate s o b re d i fe re nt es aspectos relacionados ao e n s in o , o q u e alavanca novos estudos na área ” , fin a liza . 1 Clarice Sousa é graduada em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela pela FACED/UFU
Foto: Gerson de Sousa
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Revista ‘Educação e políticas em debate’: pela democratização dos espaços de debate científico Brunner Macedo 1 (Da redação)
Referência na discussão das políticas educacionais, há três anos nascia a Revista Eletrônica Educação e Políticas em Debate, no PPGED – UFU. Fruto da Linha de Pesquisa Estado, Políticas e Gestão da Educação, a relevância do periódico se reflete no volume e na qualidade do conteúdo publicado e no forte viés social. Nos 25 anos do PPGED, a professora Maria Vieira, editora da Revista e coordenadora do programa, destaca a vitalidade da publicação.
Da Redação - O que constitui a identidade da revista a partir dos artigos e da temática dos números?
Maria Vieira Silva - A identidade da Revista Educação e Políticas em Debate, é ancorada em estudos, pesquisas e reflexões que promovam análises em torno das políticas educacionais contemporâneas em suas interfaces com o Estado. As políticas educacionais estão intrinsecamente ligadas às novas configurações do Estado, seu papel e modalidades de intervenção, aparecem como um dos temas mais controversos e polêmicos no campo da educação e assumem centralidade na arena dos debates desta Revista. Proporcionar espaços de indagações, críticas e divulgação dos estudos e pesquisas que se propõem à sua investigação, avaliação e impactos na realidade escolar, torna-se fundamental para as universidades e seus diferentes dispositivos de disseminação do conhecimento, como os periódicos científicos. O grande desafio que se instaura é a criação de mecanismos para possibilitar conexões mais estreitas entre a difusão da produção do conhecimento veiculadas em periódicos dessa natureza e os sistemas educativos, a educação básica e os profissionais da educação que vivenciam a materialização dessas políticas no cotidiano da escola.
Da Redação – Como você analisa, pelo histórico, a proposta inicial da produção da revista?
Maria Vieira Silva - A proposta de implementação de um periódico científico no campo das políticas educacionais guarda estreitas conexões com a expansão da produção de pesquisas nesta área do conhecimento e a necessária e legítima socialização destes saberes produzidos para a sociedade. Ao completar dez anos de fundação, em 2011, a Linha de Pesquisa Estado, Políticas e Gestão da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFU demonstrava um potencial organizativo interno expressivo com intercâmbios estabelecidos entre os professores vinculados à Linha e pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e
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Foto: Ricardo Ferreira Carvalho
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estrangeiras. Coetaneamente a esse processo evidenciava-se, no panorama nacional, a expansão e o fortalecimento do campo de pesquisas em políticas educacionais, mas, paradoxalmente, um número relativamente pequeno de periódicos científicos com esse foco e escopo. Neste sentido, motivados pela possibilidade de contribuir com mais um instrumento de difusão de pesquisas estudos e reflexões, os professores vinculados à referida Linha envidaram esforços para a criação da Revista Eletrônica Educação e Políticas em Debate. Assim, o surgimento dessa Revista emergiu da convicção de um grupo de professores acerca da importância de contribuir para ampliação dos espaços de difusão dos conhecimentos científicos e de democratização da produção intelectual pela política de acesso livre, absolutamente gratuita e sem fins lucrativos, fomentando conexões de saberes, interlocuções entre pesquisadores e mediações com a sociedade.
Da Redação - Qual a contribuição da revista para o debate e a pesquisa sobre Educação e Política?
Maria Vieira Silva - As contribuições mais potentes dessa Revista no debate “Educação e Política” se alicerçam no conjunto de textos nela contido, o qual possibilita ao leitor novos ângulos de análises e críticas sobre as mutações presentes na sociedade contemporânea, em suas interfaces com a educação, propiciando a vinculação entre as políticas educacionais e os processos macrossociais, referenciados predominantemente na lógica societal excludente. Vivemos em um continente com muitas contradições e injustiças sociais; conquistamos o direito à educação, o qual figura potencialmente como condição básica para os demais. Contudo, esse direito fundamental positivado na esfera do direito constitucional ainda encontra-se negligenciado em suas formas mais explícitas e objetivas ou de forma tácita substantivada em mecanismos de repetência e abandono escolar. A educação brasileira vive movimentos pendulares de perdas e ganhos. A Constituição Federal de 1988 inseriu muitos dispositivos que traduzem e reforçam o dever do Estado para com a educação. Contudo, aos estratos sociais empobrecidos é negado o acesso aos direitos básicos da cidadania em pleno século XXI. Especialmente na década 1990, a partir de um grande fluxo de reformas educacionais e curriculares, houve a necessidade de uma resposta acadêmica mais atualizada aos novos efeitos de tais reformas, assim como problematizações concernentes às configurações, do papel e ao alcance das políticas educacionais na realidade escolar. A educação está intrinsecamente vinculada à política. Assim, o principail contributo da Revista na interface educação/políticas é problematizar a intricada teia de relações que negligenciam direitos, naturalizam desigualdades e desestabilizam coletividades, mediante análises e avaliações das políticas educacionais, como também, por contradição, apreender e realçar os efeitos positivos de determinadas políticas que primam por processos inclusivistas
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Da Redação - De que forma os impasses no campo político e educativo no Brasil contribuíram para os artigos?
Maria Vieira Silva - A tendência predominante dos textos que compõem os números da Revista pauta-se em nexos e interfaces entre as políticas educacionais e o panorama social mais amplo, que, no tempo presente, encontra-se conectado a, pelo menos, quatro grandes dispositivos: a reestruturação produtiva e as mudanças no mundo do trabalho; a ascensão do neoliberalismo; a globalização e os processos de transnacionalização do capital e a reconfiguração do papel do Estado. Tais mutações sociais, aliadas à expansão da literatura na área das políticas educacionais, ensejam reflexões e análises sobre a organização do sistema educacional brasileiro e seus alcances no cotidiano da escola, tendo como pano de fundo os nexos entre as reformas educacionais e as mutações societais, as quais se processaram de forma coetânea. Assim, com o horizonte de colaborar para o alargamento das reflexões no âmbito das políticas educacionais e dos campos correlatos, a Revista disponibiliza um conjunto de textos derivados de estudos e pesquisas sobre temas candentes na realidade brasileira e mundial, como também elaborações teóricas referenciadas em autores clássicos do campo da educação e da política como possibilidade de alicerçar e adensar as análises contemporâneas. Brunner Macedo é graduando do quarto ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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Edições da revista: Educação e PolÍtica em Debate
v. 1, n. 2 (2012)
v. 2, n. 1 (2013)
v. 1, n. 1 (2012)
v. 2, n. 2 (2013)
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eventos
Políticas educacionais em pauta Simpósio, organizado pelo PPGED da UFU, estimula debates interdisciplinares sobre o campo da educação Marcos Reis 1 (Da redação)
A realização do VII Simpósio Internacional: “O Estado e as Políticas Educacionais no Tempo Presente”, em junho de 2013, caracteriza uma proposta da linha de pesquisa "Estado, Políticas e Gestão da Educação": estimular reflexões sobre as políticas educacionais em diferentes países e a partir de múltiplos atores sociais. O Simpósio, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da UFU, teve como proposta fomentar a construção e a difusão de conhecimentos em uma perspectiva multidisciplinar e interinstitucional. O evento congregou pesquisadores em educação e áreas afins, professores universitários, profissionais da Educação Básica, estudantes de graduação e pósgraduação e integrantes dos movimentos sociais. Proposições, diretrizes operacionais e reformas educacionais estiveram entre as preocupações dos participantes. Maria Vieira Silva, co ordenadora do PPGED, conta que o simpósio trouxe contribuições significativas nos âmbitos da FACED e da UFU e em nível nacional. Os debates envolveram pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e instituições de ensino. Maria Vieira aponta como aspecto importante do seminário a integração entre os diversos agentes sociais ali presentes, “conectados pela intenção em analisar e problematizar as políticas educacionais". Tal pluralidade de vozes viabilizou debates que, a partir da efetiva construção e divulgação de conhecimentos e saberes, contribuem para a transformação da realidade educacional brasileira. Para Vieira, a configuração do Simpósio Internacional "O Estado e as Políticas Públicas
Educacionais no Tempo Presente" é essencial para que se evidenciassem "as contradições, injustiças e lacunas, mas também os avanços em relação às conquistas dos direitos sociais". Além disso, também contribuiu para o aprofundamento dos referenciais epistemológicos, teóricos e metodológicos desse campo. A coordenadora relata que a principal motivação da equipe organizadora do evento foi "a intenção de contribuir com a função social da universidade pública mediante processos de divulgação e socialização do conhecimento. Mobilizou-nos o desejo de promovermos intercâmbios mediante o debate, a crítica, as análises e as reflexões". As transformações no campo da educação decorridas em países como a América Latina, conforme reformas educacionais e processos regulatórios específicos, demandam reflexões aprofundadas. Estas possibilitam o entendimento de tais fenômenos no tempo presente e de seus desdobramentos no futuro. Maria Vieira conta: "Essas mutações no âmbito da escola, induzidas, em certa medida, por mudanças ocorridas no setor produtivo, tem influenciado pesquisadores a problematizarem, reterem e analisarem sistematicamente os efeitos desses processos". A coordenadora questiona a valorização da quantidade em detrimento da qualidade no ambiente acadêmico. Para ela, esse movimento desvia o profissional daquilo que deveria ser sua prioridade: "Em um contexto em que cada vez mais somos cobrados por um produtivismo de caráter quantitativo, muitas vezes a busca pelo certificado ou o título secundariza o sentido principal que nos agrega", relata a coordenadora. Assim, "a origem da palavra 'simpósio' nos convida a recuperar o sentido que a mesma carrega: a palavra 'sympósion' é de origem grega e é formada
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por 'syn', junto, e 'posis', beber. Ou seja, beber juntos. Na Grécia era um banquete, no qual posteriormente se travavam muitas discussões entre intelectuais. No tempo presente, preserva o sentido do debate, da troca de ideias, de análises e reflexões desenvolvidas sob diversos ângulos”. As mesas-redondas do simpósio contaram com temáticas diversificadas. Balanços analíticos sobre a participação da sociedade civil na formulação, implementação e controle social das políticas educacionais nos 25 anos posteriores à promulgação da Constituição Federal, os avanços e as fragilidades das políticas educacionais concernentes à gestão democrática e o Plano Nacional de Educação estiveram entre os assuntos abordados. 1 Marcos Reis é graduando do quarto ano do Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
O simpósio A história do Simpósio Internacional se iniciou em 2005, quando as três linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFU organizaram o evento conjuntamente. A primeira edição contou com o tema "Histórias, Políticas e Saberes em Educação". Em 2006, a linha "Estado, Políticas e Gestão em Educação" promoveu o segundo Simpósio, já com o título "O Estado e as Políticas Educacionais no Tempo Presente". A partir de então, reedições do evento ocorreram nos anos de 2007 (em parceria com a Assessoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais da UFU), 2008, 2009, 2011 e, finalmente, 2013.
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O "Uno e o Diverso" promove troca de experiências sobre a docência Evento da FACED se consolida como referência de incentivo ao intercâmbio científico entre as universidades brasileiras Natália Faria1 (Da redação)
Maria Irene
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Realizado periodicamente desde o ano de 2000, “O Uno e Diverso na Educação Escolar” se consolidou, ao longo dos anos, como um evento de referência na área de pesquisa em FACED/UFU, como no cenário acadêmico brasileiro. Nascido com pretensões de alcance local, o evento apresenta hoje abrangência nacional e recebe, a cada edição, pesquisadores renomados de diversas regiões do país. O “Uno e Diverso” está inserido na linha de pesquisa Saberes e Práticas do Programa de PósGraduação em Educação da UFU (PPGED) e realizou sua 12ª edição em novembro do ano passado. Maria Irene Miranda, coordenadora da última edição do evento, esclarece que o objetivo principal do “Uno e Diverso” é promover um espaço de troca de experiências sobre o exercício da docência e da pesquisa, seus desafios e suas possibilidades. “No evento, as trocas de ideias, saberes, instrumentos de pesquisa e pontos de vista são muito ricas”, afirma. Arlete Miranda, que também coordena o evento, afirma que essa troca favoreceu, ainda, o intercâmbio científico entre o PPGED e outros grupos, sejam eles da UFU sejam de outras universidades, fortalecendo a multiplicidade de temas, sua interdisciplinaridade e incentivando a formação de redes e grupos interinstitucionais. “Abordamos diversos aspectos da Educação no evento, como a questão da exclusão e inclusão escolar, questões educativas na sociedade e trabalho, a psicope-
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dagogia, a própria docência, entre muitos outros temas debatidos por diversos grupos de pesquisa, aqui da UFU e de fora dela e mesmo em trabalhos conjuntos”, conclui.
Contribuição Acadêmica e Social De acordo com a coordenação do evento, o “Uno e Diverso” proporciona uma troca fundamental entre os pesquisadores de outras instituições, estudantes do programa de pósgraduação e também entre alunos que ainda não finalizaram a graduação, mas que desejam conhecer e, porventura, seguir o caminho da carreira acadêmica. Segundo a docente Maria Irene, “dessa forma, o evento incentiva também a formação inicial de novos pesquisadores, além de contribuir para a formação continuada daqueles que já trabalham na área”. Além da comunidade acadêmica, a sociedade também é beneficiada com eventos de fomento à pesquisa como o “Uno e Diverso”. Para Maria Irene, a pesquisa é um veículo de produção do conhecimento que tende a ter uma repercussão positiva na sociedade, especialmente na nossa, que tanto carece de práticas educativas efetivas.
Natália Faria é graduada em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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Arlete Miranda
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Falar de Foucault é preciso Legado do multifacetado filósofo frânces funciona como 'caixa de ferramentas' para examinar as construções históricas e interrogar o tempo presente Anna Vitória Rocha1 (Da redação)
Haroldo de Resende
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“Para Foucault, o pensamento tem como tarefa fazer do tempo presente o nosso próprio problema, fazer do presente a indagação do que é feito desse tempo e nesse tempo, a fim de que sejamos capazes de nos tornarmos diferentes de nós mesmos: diferentes do que nos oprime, discrimina e exclui, impedindo-nos do exercício da diferença, da democracia, da liberdade” É assim que o professor Haroldo de Resende, coordenador geral do Colóquio Michel Foucault, define a importância de se aprofundar no conhecimento e debate da obra do multifacetado filósofo francês, que é considerado um dos pensadores mais importantes do século XX. A terceira edição do evento aconteceu entre os dias 15 e 17 de outubro de 2013 - iniciada na data em que Foucault completaria 87 anos -, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e foi uma iniciativa da Programa de pós-graduação em Educação (PPGED) da Faculdade de Educação (FACED). Tendo abordado os temas Educação, Filosofia e História - Transversais e O Governo da Infância nos anos anteriores, o enfoque para 2013 foi Política - Pensamento e Ação. Resende justifica a escolha a partir do contexto histórico vivenciado nos últimos tempos. “A dimensão política, travestida de ares naturais,
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atravessa as questões sociais, econômicas, culturais e institucionais que, por sua vez, se revestem de grande potência de manutenção do regime de verdade instituído e de conservação das relações de dominação”, explica. O professor adiciona também que para além de recortes específicos, Foucault se firmou como um crítico da modernidade. Seu legado, citando o próprio, funciona como uma "caixa de ferramentas" para examinar as construções históricas, de modo a interrogar o tempo presente. "Dessa forma, trabalhar com Foucault é, de certa maneira, suspeitar a verdade e por à prova nossa relação com ela", explica o professor. "É escrutinar que efeitos ela produz nas relações sociais – sempre atravessadas por relações de poder – e como se pode modificar a verdade, e consequentemente seus efeitos", prossegue. O conceito ou as construções da verdade revelam uma discussão pertinente no âmbito da educação. É na escola, afinal, que se observa cotidiana e maciçamente as relações entre o saber e poder . "A educação tem, imbricado nas suas funções, o dizer verdadeiro que instaura modos de compreensão e apreensão da realidade, que tem como efeito a produção de subjetividades, tanto sociais quanto individuais. São modos de ser verdadeiros que são construídos nos processos educacionais", esclarece Resende. Daí a importância de se trazer à tona esses debates, com todas as "pirotecnias" oferecidas pelo saber foucaultiano. O professor Haroldo toma emprestado mais um termo utilizado pelo teórico ao falar daquilo que é usado em guerras. Para Foucault, a verdade da verdade é a guerra, e ela prevalece pelos mecanismos de poder que a asseguram. Ele complementa: “Foucault não vai nos dizer a verdade sobre as coisas, o que ele nos provoca é a suspeição e nos ajuda a compreender como e por que aquilo que é considerado verdadeiro tornou-se um dia verdade.” Para além dos muros da universidade e de discussões teóricas, as inquietações foucaultianas são relevantes no contexto social mais amplo. Resende destaca que não podemos dissociar o pensamento da ação, pois ambos estão instituídos no cotidiano das relações sociais. Num contexto demo-
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crático, de participação, principalmente num momento onde a política se insere em peso em diversas esferas de nossas vidas, é preciso estar atento para que o debate não se encerre nas discussões, mas seja efetivado: “A discrepância entre dispositivos discursivos e práticas efetivas denotam ausência do cuidado da verdade, como coerência entre o que se diz e o que se faz”. O III Colóquio Nacional Michel Foucault promoveu em seus três dias de duração um intercâmbio de experiências, pesquisas, estudos e leituras acerca da obra do pensador. Palestrantes de universidades de todo o Brasil, de Pernambuco à Santa Catarina, passando pela Paraí ba, Brasília, Paraná, dentre outros estados, compartilharam suas vivências acadêmicas, além das sessões de comunicação de trabalho e lançamentos de livros afins. O balanço que o coordenador geral faz não só da mais recente, mas das outras três edições do evento, é bastante satisfatório. “Considero que significa a consolidação de um espaço que oportuniza a efetivação de debates, discussões, aprofundamentos, divulgação e produção de novos conhecimentos nesse recorte teórico-prático circunscrito pela obra e pensamento de Foucault”, declara Haroldo Resende. Além disso, prossegue, é importante destacar que o esforço empreendido pelo PPGED na realização dos colóquios contribui para o deslocamento do eixo de eventos e debates dessa natureza para o interior do país, consolidando as ações da Pós-Graduação na região. A partir da experiência do primeiro colóquio, realizado em 2008, foi lançado o livro "Michel Foucault: transversais entre educação, filosofia e história" pela editora Autêntica. Uma obra referente ao segundo evento, Michel Foucault: o governo da infância, está em processo de edição e tem previsão de lançamento para este ano. Seguindo o padrão bienal, o PPGED tem intenção de promover a quarta edição do colóquio, em celebração aos 40 anos de uma das obras mais importantes de Michel Foucault, o livro “Vigiar e Punir”. O título do evento será “'O ronco surdo da batalha - 40 anos de Vigiar e punir”. 1 Anna Vitória Rocha é graduanda do terceiro ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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I Encontro de Educação em Ciências e Matemática promove trocas de conhecimento Temas são construídos no diálogo com a pauta de discussão geral e local sobre a Educação na área Giovana Silveira Santos 1 (Da redação)
A Linh a de Pe s q ui s a Ed u ca çã o e m Ci ê n ci a s e M a t e m á t i ca d o Pro g ra m a d e p ó s - g ra d u a çã o e m Ed u ca çã o ( PPGED ) d a UFU o rg a nizo u e m 2 012 , e o rg a niza rá n e s t e a n o , o En co n t ro d e Ed u ca çã o e m Ci ê n ci a s e M a t e m á t i ca . A b a s e d o ev e n to s ã o a p re s e n ta çõ e s d e t ra b a lh o s e p e s q ui s a s . O o bj et i v o p r incip a l d o En co n t ro é fo m e n ta r d e b a t e s e refl exõ e s e d i v ul g a r p e s q ui s a s ci e n t í fica s n a á re a “ Ed u ca çã o e m Ci ê n ci a s e M a t e m á t i ca ” e n t re p e s q ui s a d o re s , e s t ud a n t e s d e p ó s - g ra d u a çã o e g ra d u a çã o e p rofe s s o re s d a e d u ca çã o b á s i ca . O I Encontro, idealiza d o p e l a linh a de pesquisa “Educação e m Ci ê n ci a s , e Matemática”, segundo a p rofe s s o ra Elenita Pinheiro, contr i b ui u p a ra o fortalecimento desta linh a d e p e s q ui s a “por meio da divulgaçã o e d e b a t e , tanto da apresentação q u a n to d o s resultados das pesquisas, p rov o ca n d o a socialização de pressup o s to s t e ó r i co s , metodológicos e de ex p e r i ê n ci a s n o campo geral da educação ” . Os temas do I Encontro, como explica a professora Pinheiro, “são pensados no diálogo com a pauta de
discussão geral e local acerca da Educaçã o e m Ci ê n ci a s e M a t e m á t i ca ” . Es ta s p a u ta s s e re l a ci o n a m co m a s p e s q ui s a s e ex p e r i ê n ci a s d o ca m p o ta n to n a Univ e rs id a d e , q u a n to n o s e s p a ço s d e co ncret iza çã o d a s p ro p o s ta s e d u ca t i v a s , e s co l a re s o u n ã o e s co l a re s . A realização do I Encontro, além de promover discussões e debates de trabalhos apresentados, possibilitou a troca de experiências e reflexão entre professores, estudantes e pesquisadores da educação básica. “A divulgação desses estudos ocorreu tanto nos momentos da apresentação, quanto por meio dos anais do evento que são entregues a seus/suas participantes e disseminados em outro locais”, afirma Elenita. O primeiro Encontro contou com a participação média de 300 pessoas e foram apresentados 82 trabalhos. Elenita diz que “o evento serviu como espaço de divulgação da linha no âmbito local, regional e nacional. E contou com a participação de estudantes e pesquisadores de outros estados brasileiros”. 1 Giovana Silveira Santos é graduanda do terceiro ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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ENPECPOP abre espaço para debate sobre educação e culturas populares II Encontro abordou temática sobre direitos humanos, saberes e resistências Giovana Matusita1 (Da redação)
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O Segundo Encontro Nacional de educação e das culturas populares. O tema Pesquisadores(as) em Educação e central do evento foi objeto de discussão Culturas Populares – II ENPECPOP -, simultânea em 10 rodas de conversas entre vinculado à linha de pesquisa “Saberes todos os congressistas e abordado nas mesas e Práticas Educativas”, é um evento organizado e redondas que contaram com a participação de coordenado pelo Grupo de Pesquisa em Educação e convidados com expressivas pesquisas, ações e Culturas Populares (GPECPOP). É uma das atividades publicações na área. acadêmico-científicas do Programa de Pós-Graduação O encontro levantou as problemáticas da FACED. Esse encontro, em sua segunda edição, teve enfrentadas por aqueles que estão na prática como tema central “Educação e culturas populares: educativa. O professor João Augusto Neves direitos humanos, saberes e resistências”. exemplifica que um dos assuntos tratados é como O II ENPECPOP teve como objetivo criar deve ser feita a inserção de novas espaços de diálogos entre professores, tecnologias nas escolas. Para que haja pesquisadores, educadores populao processo de troca e construção res, mestres das culturas populares, de novos saberes, são feitas estudantes e demais pessoas inmesas-redondas, rodas de "Há coisas a serem teressadas no referido tema. A conversa, celebrações investigadas e proposta é socializar e discutir artístico-culturais e pesquisas científicas, e outras apresentações de trabalhos compreendidas entre os experiências que se têm realina forma de comunicação zado, no Brasil, sobre questões saberes populares e os oral. referentes às diferentes dimenNeves acredita que o saberes construídos sões e significados da educação ENPECPOP é relevante e culturas populares na atualidapara o curso de pósdentro da academia" de. graduação, pois a relação da O evento também se propôs universidade com pesquisa e a contribuir com a discussão sobre a práticas de educação e cultura necessidade de produzir e socializar popular deve ser estreita. “É importante conhecimentos que fundamentem leituras e para a pós-graduação para que possam intervenções favoráveis à Educação. Essa entender que este é também um campo de proposta foi possível frente a metodologia do pesquisa. Há conhecimento a serem encontro, que envolve divulgação e discussão das investigados e compreendidos entre os pesquisas por meio da criação de espaços de saberes populares e os saberes construídos interlocução entre diferentes segmentos da dentro da academia”, define. comunidade científica, acadêmica e educacional do Brasil. Para isso, privilegiou-se as rodas de conversa, 1 Giovana Matusita é graduanda do terceiro ano do curso de as comunicações e as mesas-redondas sobre os Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU diferentes aspectos investigados acerca da
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condições da pesquisa
O papel do PPGED na formação de docentes para a educação básica Perfil de profissional é estar preparado para dialogar com o novo perfil de aluno inserido na era digital Laís Farago 1 (Da redação)
No ano em que o Programa de PósGraduação em Educação (PPGED) da FACED/UFU completa 25 anos, tornase essencial discutir o significado da pós-graduação na formação de professores para a educação básica. E, por meio deste debate, trazer à tona e evidenciar os problemas nesse setor da educação em nosso país. A educação básica corresponde aos primeiros anos de educação escolar e se estende até o terceiro ano do ensino médio, que em termos de Ministério da Educação está composta por um período de 12 anos. De acordo com o professor e ex-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação, Carlos Henrique de Carvalho, podemos defini-la como “a educação que vai fazer todo processo orientador de apresentar os principais elementos do conhecimento humano acumulado às crianças que iniciam seu processo de escolarização. É por isso que se chama educação básica.” A professora da pós-graduação, Sônia Maria dos Santos, acrescenta que a educação foi reestruturada de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB) e por isso compreende a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio: “Atualmente a educação básica é entendida como prioritária para os brasileiros”, afirma. Devido as mudanças e a intensa evolução da tecnologia, faz-se importante capacitar professores
Sônia Santos
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para lidar com essas transformações e auxiliar seus alunos para que desfrutem de todo o aparato tecnológico em favor da educação. Para o professor Carlos Henrique, este é um ponto importante no perfil de um profissional que atue na educação básica: “Ele deve conseguir compreender essas demandas. Nós passamos por uma mudança em termos de acesso à informação descomunal. Isso impacta no aluno”, analisa. Carvalho ainda acrescenta que “em termos de informação, a maioria dos alunos a possuem mais que os professores, porque os professores não conseguem acompanhar todo processo informacional.” Por isso, o perfil de um profissional da educação básica é estar preparado para dialogar com o novo perfil de aluno, que está inserido na era digital, na sociedade globalizada e nas redes sociais. “A universidade, principalmente a pós-graduação, tem um papel importante: compreender esse momento de transformação e trabalhar, no sentido de contribuir, para que esse professor possa adquirir as habilidades necessárias para ter a compreensão desse perfil do aluno da educação básica”, explica Carvalho. Para Sônia Santos, é difícil traçar o perfil de um profissional para atuar nesta área da educação: “como ela é dividida em educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, não existem características unificadas, pois se trata de públicos alvos diferentes”, explica. A docente descreve pontos comuns que considera importantes ao profissional da educação básica: acreditar no ser humano, acrescentar a ele de acordo com as características do professor e a obrigatoriedade por lei de estar habilitado. A pesquisa, acrescentam os docentes, é um aspecto significativo e contribui na formação de professores e no aperfeiçoamento de seus currículos que passam a revelar os vínculos entre a pesquisa teórica e acadêmica, associando-as à vivência do professor em seu ambiente de trabalho. Carlos Henrique explicita sobre o edital de Pesquisa na Educação Básica, criado em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), junta-
mente a professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Belo Horizonte (CEFET-BH). O edital estabelece que haja a presença de um profissional da educação básica no projeto, que possui três níveis: discutir a metodologia para a educação básica, discutir tecnologias e desenvolvimento e por fim, um processo de acompanhamento dentro da própria escola. “Os projetos não vão resolver os problemas, mas é uma iniciativa importante”, ressalta Carlos Henrique. A professora Sônia Santos atua na linha de pesquisa de Historiografia da Educação e narra que, nesta área, a pesquisa é fundamental para apontar os erros, acertos e as possibilidades de atuação na formação docente, mas principalmente para revelar os caminhos percorridos. Além disso, Sônia afirma que a pesquisa torna-se importante para sacudir o poder publico em relação à realidade do ensino e para o professor se atentar as praticas executadas nas escolas. Santos relata que a função da pós-graduação em Educação ainda é confundida. “Existem àqueles que acreditam que a formação continuada deve complementar estudos não realizados na licenciatura, o que não é verdade, pois não é possível preencher as lacunas deixadas anteriormente”, avalia. A pós-graduação na formação de professores para a educação básica possui como perspectiva ampliar as pesquisas, responder perguntas e questões importantes e aprofundar ainda mais todo o conhecimento das práticas docentes vivenciadas em um ambiente escolar. De acordo com a professora, é válido ressaltar que “a pós-graduação da UFU passa por um período de muita lucidez, pois socializa os teóricos já conhecidos, aprofunda pesquisas importantes sobre práticas inovadoras e metodologias”.
1 Laís Farago é graduanda do terceiro ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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O processo necessário para formar docentes no Ensino Superior Ações básicas da pós consistem em pensar, elaborar e discutir a formação crítica do docente do Ensino Superior Leidiane Campos 1 (Da redação)
A notável expressividade conquistada pelo Programa de pós-graduação da Faculdade de Educação (FACED) pode ser identificada pela formação dos professores para a docência no Ensino Superior. Os números atuais reforçam a importância do programa que atinge duas décadas e meia. Dados obtidos, por meio do Censo da Educação Superior de 2013, revelam que o Brasil possui cerca de 7 milhões de estudantes universitários. Esse fator implica que a formação dos docentes do Ensino Superior esteja centrada para integrar os professores da graduação a esse contexto social. O professor José Carlos de Souza Araújo, que atua na UFU desde 1978, acompanhou os processos históricos e o crescimento da pós-graduação da FACED. Araújo trabalha com a linha de pesquisa História e Historiografia da Educação, desde 1997, e pontua que houve um aumento expressivo no quantativo de professores atuando na pósgraduação. “A linha de História da Educação reunia basicamente, nos anos 90, três professores”, ressalta. Araújo destaca que, com o decorrer de 25 anos, a pós-graduação da universidade conquistou “uma significação regional na formação para a pesquisa e na formação do professor de ensino superior”. Para o docente Armindo Quillici Neto,
que também integra a linha de pesquisa de História e Historiografia da Educação, “a pósgraduação da UFU é um espaço de desenvolvimento intelectual, pessoal e acadêmico.” De acordo com o professor, a formação possibilitada por este programa da FACED fortalece o crescimento intelectual e pessoal dos professores do Ensino Superior. Para Neto, é com esta capacitação que o docente “passa a desenvolver, conhecer e enxergar outras viabilidades didáticas e metodológicas”. A importância da pós-graduação na formação de professores do Ensino Superior é confirmada também por José Carlos. Segundo o docente, o profissional que passa por esta capacitação “sai com uma ótica de compreensão do Ensino Superior diferenciada”. A relevância dada à pesquisa por esta formação é outro fator de destaque que a distingue dos demais tipos de especialização. “Forma-se um professor, formando-o para a pesquisa”, aponta Araújo. Armindo salienta que “se o professor não passa pela experiência da pós-graduação e não vivencia uma pesquisa na área que está atuando, ele vai sempre ser um repetidor das suas aulas, da sua formação.” Dessa maneira, pensar, elaborar e discutir a formação crítica do docente do Ensino Superior são algumas das ações básicas da pós-graduação. Ainda de acordo com Neto, esta preocupação com a cri-
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ticidade do alunado é importante, pois “propõe um processo de transformação quando aquele aluno volta para a sua realidade e para o seu trabalho”. Po r e s ta r co n s o lid a d a , a p ó s - g ra d u açã o d a FACED a t e n d e a u m a s i g ni fi ca t i v a d e m a n d a re g i o n a l . “ D a d a a s u a l o ca lid a d e , a d e m a n d a é g ra n d e ” , a p o n ta A r min d o , q u e t e m s u a s e d e d e t ra b a lh o n o Ca m p u s d o Po n ta l , e m I t ui u ta b a . O d o ce n t e a t u a n a UFU d e s d e 2 0 0 9 e a v a li a q u e a o p a s s a r p e l o ca rg o d e d ireto r d a Fa culd a d e d e Ciê n ci a s In t e g ra d a s d o Po n ta l ( FACIP ) , re ceb e u p rofe s s o re s fo r m a d o s n o p ro g ra m a d e p ó s - g ra d u a çã o d a p ró p r i a u ni v e rs id a d e . N eto re s s a l ta q u e e s s e s p rofi s s i o n a i s “ s ã o ót im o s p rofe s s o re s , b e m fo r m a d o s e co mp ro m et id o s co m a re a lid a d e d a e d u ca çã o , co m a re a lid a d e d o p a í s . ” O d o ce n t e d e sta ca q u e e s s e fa to d e m o n s t ra u m fa to r p os i t i v o p a ra a UFU , “ p o rq u e a p ró p r i a u ni v e rs id a d e e s tá fo r m a n d o s e u s p rofe s s ore s , s e u q u a d ro d o ce n t e ” , a fir m a . Co m o l e m b ra o p e s q ui s a d o r J o s é Ca r l o s , “ n o s a n o s 8 0 to d o s o s p rofe s s o re s [d a UFU] q u e fa z i a m p ó s - g ra d u a çã o , fa z i a m fo ra ” ; u m q u a d ro d i fe re n t e d a re a lid a d e q u e h o j e é v i v e n ci a d a n a u ni v e rs id a d e . A comemoração dos 25 anos da pós-graduação da FACED, deste modo, vem demonstrar a expressividade e a importância de programas como este para a capacitação do corpo docente do país. Como analisa Armindo, “25 anos significa um processo de consolidação de um projeto de educação”. Somado a isso, ao observar o atual cenário social brasileiro, o docente ressalta que “é inesgotável a necessidade de formação de professores, seja ele do ensino superior seja da escola básica”.
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Fotos: Felipe Flores
José Carlos
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Sem pesquisa não se faz um bom ensino: isso vale também para a graduação Marisa Lomônaco de Paula Naves 1
A comemoração dos 25 anos de existência do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da FACED-UFU é uma propícia ocasião para colocar em relevo a importância desse projeto acadêmico que oferece um ensino de excelência, porquanto forma bons pesquisadores e qualifica professores para todos os níveis do ensino. Nesta oportunidade, procurarei destacar um tema que, ao longo desses anos, mantém-se presente nas reflexões dos docentes que integram o PPGED: a integração entre a pós-graduação e a graduação ou, a articulação entre pesquisa e ensino, como um dos preceitos constitutivos da qualidade universitária. Se considerarmos uma diferença entre a pós-graduação e a graduação que ainda persiste nos meios universitários em geral, não seria novidade a constatação de um contraste: na pós-graduação, pela pesquisa, produz-se o conhecimento; na graduação, pelo ensino, o conhecimento é transmitido. Essa inquietadora ideia que associa graduação exclusivamente ao ensino e à formação de profissionais utilitários do conhecimento, e pós-graduação à pesquisa e à formação de professores pesquisadores por certo exerce uma influência no estabelecimento de uma frágil articulação entre a graduação e a pós-graduação. Sobre essa fragilidade muitos estudiosos já se manifestaram com a intenção de produzir mudanças naquele entendimento, no entanto, não é ainda possível confirmar que
as universidades tenham conseguido estabelecer uma boa interação entre esses dois níveis do ensino. O tema está, portanto, aberto. Para contribuir, destaco um texto escrito por Sérgio Castanho (Castanho, 2005) 2 , por ocasião de sua vinda à UFU, à convite da Pró-Reitoria de Graduação, em 2004, porque mostra uma íntima relação entre o ensino, o aprendizado e a pesquisa, conforme pretendo aqui, brevemente, partilhar. Escreve o autor que o ensino não se separa da aprendizagem, porque somente há ensino quando alguém efetivamente aprende. De fato, por esse modo de entender, ensino e aprendizagem, configuram-se como os dois lados de uma mesma moeda. Aprender é apropriar-se dos conhecimentos, é incorporar algo novo ao que já se tem. Para que alguém aprenda, é preciso que estabeleça relações entre fatos, entre conhecimentos e entre saberes, pois o aprendizado efetivo mobiliza, inevitavelmente, o aprendiz para a busca de novidades, ou de novas e possíveis conexões para um entendimento amplo e seguro. E, o que seria essa busca? Nada mais, nada menos que a pesquisa, diz Castanho. (Op.cit. p. 80). Na busca, o estudante trilha o caminho do aprendizado. Pela pesquisa ele se envolve no processo coletivo do conhecimento, encontra um modo de lidar com as informações que o professor lhe apresenta e compreende o sentido e a importância da disseminação do conhecimento para toda a sociedade. Nessa perspectiva qual seria então, o papel do ensino senão o de levar
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o estudante, por meio da pesquisa, a uma tomada de consciência das questões com que, na busca, ele próprio se depara, e provocar nele uma atitude de invenção e reflexão, favorecendo a (re)descoberta dos problemas e das soluções? O bom ensino é, portanto, intimamente enredado na pesquisa. Na graduação, assim como na pós-graduação, o ensino, qualificado pela pesquisa, não se limita, portanto, à simples transmissão. Ele se realiza quando o estudante age como um investigador, participando de um processo que envolve suas atitudes de busca e as ações de seu professor pesquisador, implicados, nesse processo, o rigor metodológico, a produção de conhecimento e sua transmissão. No meu entendimento, é deste modo que aquele princípio basilar, que sustenta a ideia de que a pesquisa e o ensino não se dissociam, confirma a essencialidade da pesquisa para a graduação. Consolidar a compreensão de que sem pesquisa não se faz um bom ensino de graduação continua a ser um dos nossos maiores desafios, cuja superação passa, necessariamente, pelo exercício da docência universitária, esta, especialmente preparada na pós-graduação. 1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFU. Pró-Reitora de Graduação da UFU (Gestão 20132016). 2 CASTANHO, Sérgio. Ensino com pesquisa na graduação. IN: VEIGA e NAVES (Orgs). Currículo e Avaliação na Educação Superior. Araraquara: Junqueira e Marins, 2005, p. 79-96.
Foto: Ricardo Ferreira Carvalho
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Pesquisas respondem às necessidades eminentes da sociedade brasileira Foto: Divulgação
Jefferson Mainardes argumenta sobre a necessidade de lutar pela valorização da área de Humanas
Jefferson Mainardes
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O panorama da pesquisa em Educação hoje é muito diferente do que existia em 1989, quando o Programa de pós-graduação em Educação (PPGED) da UFU iniciava seus trabalhos. É o que garante Jefferson Mainardes, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGE-UEPG) e coordenador do Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação (FORPRED). Para Mainardes “diversas mudanças tecnológicas, o uso da internet, a possibilidade de utilizar bases de periódicos eletrônicos de outros países, a ampliação das publicações, entre outros aspectos, tornaram o processo de pesquisa mais ágil”. O período também foi marcado por expansões. Nesses 25 anos o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em Educação oferecidos no Brasil aumentou significantemente e os números falam por si. Enquanto no fim da década de 1980 havia cerca de 40 cursos no Brasil, atualmente há 153 programas na área, sendo 62 com mestrado e doutorado, 62 mestrados acadêmicos e 20 mestrados profissionais. Esse círculo envolve mais de 3.000 professores e aproximadamente 10.000 estudantes produzindo pesquisas em educação e aprimorando uma formação voltada tanto para a pesquisa quanto para uma compreensão mais ampla da área.
Foto: Felipe Flores
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Revista de comemoraçãoTempo dos 25eanos da Pós Graduação da FACED Memória
As pesquisas em Educação têm se destacado por responder a necessidades eminentes da sociedade brasileira. Elas propiciam, afirma Mainardes, compreensões da realidade que vão além das salas de aula, revelam dados da realidade social, educacional e escolar que permitem um conhecimento profundo e determinante para o planejamento educacional. Além disso, esses estudos têm interferido em situações de exclusão, vulnerabilidade social, melhoria de práticas, e luta pelo direito à educação. Apesar de todo esse dinamismo, a área precisa de mais valorização. “A área de Humanas é considerada prioridade 3 na Capes e, em consequência, recebe menos recursos, menos bolsas. Há uma luta com o apoio da Anped para que esse quadro seja alterado”, defende o coordenador. Na defesa da valorização dos cursos da área da Educação, Mainardes reconhece a importância do PPGED-UFU, destacando a seriedade do programa na formação de mestres e doutores, nas publicações, nas pesquisas de docentes e alunos e nos eventos realizados. “A estrutura do PPGED-UFU, assim como da UFU como um todo, propicia uma base muito sólida para as atividades. Para além da base material, o PPGED conta com um corpo docente altamente capacitado e reconhecido e discentes muito comprometidos com a realização de pesquisas de alta qualidade”, afirma. Brunner Macedo é graduando do quarto ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU
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Tempo e Memória
condições da pesquisa
Presidente da FAPEMIG destaca a importância de aproximar a pesquisa do cotidiano das pessoas Brunner Macedo 1 (Da redação)
O sucesso das pesquisas do PPGED-UFU nos seus 25 anos de existência deve-se, em parte, pelas conquistas junto a órgãos de financiamento, que acreditam e investem no desenvolvimento dos estudos em Educação. A FAPEMIG é um desses agentes que viabilizam as produções na UFU. Nesta data comemorativa, o professor Mario Neto, presidente da FAPEMIG, parabeniza o programa e discute os desafios e perspectivas da pesquisa em Educação no Brasil:
Mário Neto
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Revista de comemoraçãoTempo dos 25eanos da Pós Graduação da FACED Memória
O PPGED-UFU está completando 25 anos, quais são as principais diferenças entre fazer pesquisa hoje e em 1989? Primeiramente gostaria de registrar meus cumprimentos pelo Jubileu de Prata do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Certamente muita coisa avançou nestes últimos vinte e cinco anos e “fazer pesquisa” foi uma delas. Primeiro pelo fato do País hoje valorizar mais a pesquisa e entender sua importância como vetor de desenvolvimento. Segundo pelo fato de termos acumulado muito conhecimento neste período e, dessa forma, as metodologias de pesquisa e os temas também tiveram que evoluir no período. Outra importante mudança é que hoje se busca mais relevância para a pesquisa acadêmica procurando trazê-la mais perto dos anseios da sociedade.
A pesquisa em Educação no Brasil é valorizada? Podemos dizer que sim, mas nem tanto quanto deveria. A pesquisa no geral ainda está longe da realidade do dia a dia das pessoas e, por essa razão, elas não valorizam adequadamente como deveriam. No âmbito da Academia a pesquisa em Educação é cada vez mais valorizada. O que temos que fazer é levar este valor para a sociedade como um todo e, para fazer isso, repito, temos que tornar a pesquisa mais relevante para a sociedade.
Qual a importância da pesquisa em Educação para a FAPEMIG? É de fundamental importância não só pela sua natureza acadêmica de fazer expandir as fronteiras do conhecimento, mas também por considerarmos que a Educação é um dos principais vetores do desenvolvimento das nações. Por meio da educação é que podemos fazer avan-
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çar o País qualificando as pessoas e dando a elas melhores oportunidades profissionais e pessoais. Isso fica demonstrado nas atividades da FAPEMIG não só por ter uma Câmara de Assessoramento na área de ciências humanas onde a educação é um setor muito forte, mas também por termos, em parceria com a CAPES, lançado um edital - pioneiro no País - apoiando a pesquisa em educação com atuação direta no ensino básico buscando melhorar a qualidade do mesmo. É um investimento de R$ 10 milhões só neste edital piloto.
Como as pesquisas em Educação têm contribuído com a sociedade brasileira? Muito do que a educação avançou no País se deve as pesquisas que vem sendo desenvolvidas, incluindo aquelas do Curso de PG em Educação da UFU. Mesmo assim precisamos fazer mais e melhor pois a qualidade da educação no Brasil ainda precisa melhorar muito. Os cursos de pós-graduação podem contribuir fortemente para esse aprimoramento especialmente quando se dedicam a pesquisar e apresentar soluções para nossa realidade educacional.
Qual a sua avaliação sobre a posição do PPGED – UFU no cenário acadêmico nacional? Neste caso só posso me basear no conceito da CAPES que avalia os cursos trienalmente e que resultou no conceito 5 para o curso. Isso significa um conceito muito bom e próximo de atingir o padrão internacional. A FAPEMIG vai torcer e apoiar o curso para que ele, na próxima avaliação, seja promovido para o conceito 6. Parabéns e Sucesso para o PPGED – UFU. Brunner Macedo é graduando do quarto ano do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo pela FACED/UFU.
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Fotos: Divulgação
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