Repórter do Marão

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repórterdomarão do Tâmega e Sousa ao Nordeste

Nº 1224 | Quinzenário | 1€ | Ano 25 | Director: Jorge Sousa | Director-Adjunto: Alexandre Panda | Subdirector: António Orlando | Edição:Tâmegapress | Redacção: Marco de Canaveses | 910 536 928

28 Out a 10 Nov 2009

Drama em Paços de Ferreira

Biscoito da Teixeira Diferentes gerações garantem fabrico FRANCISCO MARIA BALSEMÃO, PRESIDENTE DA ANJE

Inácio Ribeiro corta desperdício em Felgueiras

‘O Norte tem cada vez mais prestígio’

Gonçalo Rocha eleito em Paiva aos 34 anos

LUÍS DE MAGALHÃES, PROVEDOR NO MARCO DE CANAVESES

Alberto Pereira derruba dinastia em Mesão Frio

Instituto Politécnico de Bragança tem a força de 70 empresas

‘A deficiência já não mete medo’


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‘Vamos cortar o desperdício’ Inácio Ribeiro, o social-democrata que derrotou Fátima Felgueiras Paula Costa | pcosta.tamegapress@gmail.com | Foto Expresso de Felgueiras

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novo presidente da câmara de Felgueiras, Inácio Ribeiro, promete cortar no “desperdício”, rever os valores exorbitantes que a população paga por algumas tarifas municipais e mudar a imagem de marca da câmara. O novo autarca, em declarações ao Repórter do Marão (RM), lembra que não foi “um candidato qualquer” e garante que também não será “um presidente qualquer”. Dias antes das eleições aconteceu um episódio que foi uma espécie de prenúncio do que se iria passar a 11 de Outubro: num debate na rádio, Fátima Felgueiras e o candidato do PS discutiam qual dos dois era mais socialista. Ao lado, Inácio Ribeiro assistia, sereno, ao despique entre os adversários. Uma postura que, tudo o indica, tirou partido da disputa entre os socialistas desavindos, ganhando a câmara com maioria absoluta e com mais de 8 400 votos de diferença da anterior presidente. Para Inácio Ribeiro, que no Verão do ano passado foi eleito presidente da Associação Empresarial de Felgueiras, a câmara que vai gerir tem “alguns calcanhares-de-aquiles” que vão passar a ser áreas prioritárias: água, saneamento, educação e ambiente. Os montantes que a população paga por alguns serviços municipais “são exorbitantes”, assegura o novo presidente, que já prometeu mudanças. Mas a “primeira prioridade” vai ser “avaliar qual a disponibilidade de recursos (técnicos, humanos e financeiros) para saber com que linhas nos cosemos e até onde é possível ir. Isso é fundamental”, anunciou. O novo executivo, da coligação PSD/CDS-PP, vai governar um concelho que foi sempre gerido por Fátima Felgueiras ou pelo PS. Foi decidido que “vamos cortar nos desperdícios: avenças, projectos e eventos” e, por outro lado, “apoiar quem precisa”. Depois, “a questão do investimen-

to tem que ser bem pensada”, procurando “seguir orientações” que deram bons resultados noutros municípios. Felgueiras integra a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa onde, segundo a análise de Inácio Ribeiro, “grande parte dos problemas são comuns. Há uma identidade comum no essencial, a outros níveis é muito diversa”. Manifesta a convicção de que a região “precisa de muito apoio, investimento e atenção dos poderes centrais… e enquanto nos entretemos com as nossas diferenças, outros metem pés a caminho e vão buscar aquilo a que temos direito”. Afirmando estar “relativamente calmo” e até “nada ansioso”, Inácio Ribeiro lamenta que nos últimos anos tenha existido “uma imagem de marca da câmara que não é a dos munícipes”. “Isso vai ser alterado”, diz o novo presidente. As “competências colectivas” dos felgueirenses, que os fazem ser “bons em poucas coisas, mas bons” vão voltar a ser faladas. Calçado, vinhos, pão-de-ló e bordados estão associados às características do povo “simples e trabalhador” a que se refere o autarca, explicando que essa referência ao colectivo não tem conotações ideológicas. “Não sou esquerdista, no sentido ortodoxo do termo”, referiu. Filho de agricultores da freguesia de Unhão, Inácio Ribeiro, 43 anos, entrou na política como militante da JSD. Foi ainda deputado na assembleia municipal e vereador em regime de substituição durante cerca de meio ano.

A população paga por alguns serviços municipais “valores exorbitantes”


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Castelo de Paiva antecipou mudança PS venceu a autarquia por 22 votos, Gonçalo Rocha é presidente aos 34 anos Carlos Alexandre | calexandre.tamegapress@gmail.com

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a ressaca das eleições de 11 de Outubro, o RM foi conhecer melhor o rosto da mudança em Castelo de Paiva. O socialista Gonçalo Rocha, que ainda estranha ser chamado de “senhor presidente” – toma posse no sábado (16:00) –, promete liberdade e igualdade de oportunidades para todos. O novo autarca, no limite dos 34 anos, é um homem de hábitos e não dispensa o café no local do costume, no centro de Sobrado. A diferença é que Gonçalo Rocha já não consegue passar despercebido num concelho que continua a pagar a factura da interioridade. “Não temos transportes públicos eficientes e rápidos e as acessibilidades ainda não nos permitem deslocar para o litoral com a rapidez necessária e desejável”, disse o novo autarca, que denuncia “falta de estratégia e rumo”, com o consequente atraso para concelhos vizinhos igualmente com problemas de interioridade, como Arouca ou Cinfães. Gonçalo Rocha venceu Paulo Teixeira, o candidato social-democrata, por escassos 22 votos (tinham sido contados apenas oito, mas o resultado final foi corrigido no apuramento geral), uma “vitória arrancada a ferros, mas saborosa” e construída ao longo de meses por todo o concelho. A pé, porta a porta, quilómetro após quilómetro, perdeu “cerca de dez quilos”, com

vantagens notórias para a saúde, e ganhou notoriedade. “À medida que íamos encontrando os candidatos às juntas, aproveitávamos para nos apresentarmos. Isso foi muito importante para podermos projectar a nossa imagem junto das pessoas”, sublinhou. Vencidas as eleições, Gonçalo Rocha acredita que a capacidade de adaptação vai jogar a seu favor, como aconteceu quando foi trabalhar na área da construção civil e mediação imobiliária tendo uma licenciatura em História. E para a história do concelho, o novo autarca quer ficar conhecido como “um homem de bem, sério, alguém que ajudou a desenvolver o concelho”. Diz que “não pretende ser estrela” e aposta num “percurso ascendente”. “É preciso ouvir e saber o que é que as pessoas querem e necessitam. E não andar distraído, pois o insucesso vem a seguir”, definiu, remetendo para os ideais de Abril, ano em que nasceu, os princípios da sua governação: “liberdade, igualdade de oportunidades e a não existência de discriminações”. “Infelizmente, ao longo dos anos, assistimos a isso frequentemente e os paivense sentiam muito isso”, concluiu.

|Quem é?| Gonçalo Rocha nasceu a 02 de Novembro de 1974 no seio de uma família humilde: o pai era canteiro na antiga Junta Autónoma de Estradas e a mãe, doméstica, trabalhava nos campos. Estudou em Castelo de Paiva e prosseguiu os estudos na Universidade de Letras do Porto, onde se licenciou em História. À data das eleições, trabalhava no Instituto da Construção e do Imobiliário, na Loja do Cidadão em Aveiro.

|Curiosidades| “Bom garfo”, elege a feijoada, regada com vinho tinto do concelho, como o prato favorito e o Algarve como local de férias. É “benfiquista de coração”, considera-se um leitor inveterado, apreciador de Eça e Camilo, e cresceu a ouvir os irlandeses U2. Joaquim Quintas é a sua referência na política, tem por lema “ser feliz e fazer alguém feliz” e em casa procura colaborar, embora seja criticado por não ajudar muito nas lides domésticas.


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Nove votos derrubaram ‘dinastia’ com mais de 30 anos Professor de 47 anos surpreende em Mesão Frio Paula Lima | plima.tamegapress@gmail.com

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oi uma campanha e uma vitória renhida. Alberto Pereira ganhou pela primeira vez a Câmara de Mesão Frio para o PS e destronou a dinastia “Teixeira da Silva”. Desde as primeiras eleições livres em Portugal que o PSD, com o pai Natividade e depois o filho Marco Teixeira da Silva, governaram o concelho mais pequeno do distrito de Vila Real.

Alberto Monteiro Pereira calcorreia orgulhoso as ruas que tão bem conhece da vila de Mesão Frio. Aos 47 anos, conseguiu uma vitória história ao ganhar as eleições autárquicas para o PS e assim derrotar o actual presidente Marco Teixeira da Silva, que se recandidatava a um sexto mandato. Foi uma vitória renhida, por apenas nove votos, mas “muito desejada”. “Mais importante de tudo, reflecte a vontade de mudança da população”, afirmou ao Repórter do Marão. A tomada de posse está marcada para as 15:00 do dia 02 de Novembro. Até lá, Alberto Pereira vai continuar a dar aulas na escola secundária da vila que transformou em sua casa há 22 anos. Proveniente do concelho vizinho de Baião, o novo presidente da Câmara de Mesão Frio diz que conhece muito bem o município que quer ajudar a entrar na rota do desenvolvimento. A primeira coisa que diz que vai fazer quando tomar posse é tomar conhecimento da “real dívida” do município. Por isso mesmo pretende pedir uma auditoria às contas. “Fala-se em 10 milhões de euros de dívida, mas se calhar até são mais, o que é muito dinheiro para uma câmara que tem apenas três milhões de euros de receitas por ano”, salientou. Para o novo autarca, importante também é “limpar a imagem de Mesão Frio”, que este ano ficou conhecido como um dos concelhos do país com maior taxa de desemprego a afectar a população. Com cerca de 27 quilómetros quadrados, espalhados por sete freguesias, Mesão Frio possui cerca de 4926

habitantes. É um concelho envelhecido, marcado pela emigração e onde a população activa se dedica principalmente à agricultura. Apesar das vinhas implantadas na Região Demarcada do Douro, a crise que atingiu o sector está também a afectar o concelho e a levar muitos lavradores para o desemprego. Sem embarcar em projectos “megalómanos” e em “utopias”, Alberto Pereira considera que o turismo tem de ser a aposta de futuro neste território que diz ser a porta de entrada na região duriense. Antes de se pronunciar sobre o Douro Marina Hotel, que a CS Hotéis quer construir junto ao rio Douro, e o Plano de Pormenor da Rede, que viabiliza o projecto, quer tomar conhecimento dos dossiers. “Não sei quais os acordos que foram feitos entre o presidente e o investidor. Tal como não sei o preço a pagar em estruturas de apoio ao hotel e os milhões de euros que a câmara teria que pagar”, salientou. Alberto Pereira apenas sabe que a situação financeira da autarquia “não permite entrar em grandes loucuras”. O que o novo autarca promete para estes próximos quatros anos é muito trabalho. “Já trabalho em média 16 horas por dia. Não posso estar sem trabalhar”, sublinhou. Também durante os próximos anos, quer construir pequenas zonas industriais que permitam atrair a instalação de empresas no concelho e assim ajudar na criação de mais postos de emprego, quer alargar o cemitério, pois diz que “já não há quase onde enterrar um morto na vila” e construir uma biblioteca. “Temos que ajudar os nossos jovens a melhorar para que a escola de Mesão Frio saia de uma vez por todas das estatísticas negras do ensino em Portugal”, salientou. Para ajudar as populações mais carenciadas do concelho, onde ainda há crianças sem água quente para tomar banho, o responsável quer construir casas para habitação social espalhada pelas sete freguesias.

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Mesão Frio vai conhecer primeiro presidente PS desde o 25 de Abril António Natividade Teixeira da Silva foi o primeiro presidente da Câmara de Mesão Frio a ser eleito após o 25 de Abril. Catorze anos depois, deixou o cargo para o filho, Marco Teixeira da Silva que ganhou as eleições para o PSD durante cinco mandatos consecutivos. Em 2009, Alberto Pereira conseguiu derrotar Marco Teixeira por apenas nove votos. “A partir do momento em que fui para o terreno, para o porta a porta comecei a acreditar que seria possível ganhar. As pessoas transmitiam-me essa coragem e essa vontade de mudança”, afirmou o candidato vencedor. Alberto Pereira diz que a vitória “não teve um sabor especial” por derrotar Marco Teixeira e prefere não se alongar em críticas aos muitos anos de governação social-democrata. Até mesmo porque fez parte da equipa do presidente, assumindo o papel de vereador e de conselheiro político de Marco Teixeira. Só que, segundo disse, os “últimos quatro anos foram degradantes” e foi por isso que resolveu juntar-se às hostes socialistas. “Deixei de acreditar no PSD quando comecei a ver serem excluídas pessoas, apenas, por frontal e fundamentadamente, discordarem de opções meramente pessoais e oportunistas. No início deste mandato, a concelhia do PSD excluiu definitivamente todas as vozes discordantes, passando a ser apenas e só uma espécie de comissão de apoio ao senhor, que valida cegamente todas as suas decisões”, referiu. A campanha para as autárquicas em Mesão Frio foi recheada de casos, de queixas por parte do PS e PSD e até de cartazes vandalizados. Antes de 11 de Outubro, a candidatura do PSD acu-

“Temos que ajudar os nossos jovens a melhorar para que a escola de Mesão Frio saia de uma vez por todas das estatísticas negras do ensino em Portugal”

“O turismo tem de ser a aposta de futuro neste território que diz ser a porta de entrada na região duriense.”

sou o PS de “embuste democrático” por terem surgido eleitores inscritos no concelho, que os sociais-democratas dizem que têm como residência um café e uma agência bancária. Na altura, Alberto Pereira explicou que “se trata de pessoas, seus familiares, que há 17 anos votam em Mesão Frio”. Depois da derrota por oito votos no dia das eleições, os social-democratas pediram uma recontagem dos votos que confirmou a vitória do PS mas por mais um voto, passando para uma diferença de nove. Entretanto, o PSD apresentou uma queixa ao Tribunal Constitucional (TC) queixando-se de alegadas “irregularidades graves” que terão ocorrido no dia das eleições e que estarão relacionadas com os idosos da Misericórdia e atestados médicos. Contudo, o tribunal decidiu “não tomar conhecimento do recurso do PSD”, confirmando a vitória dos socialistas. Entendeu o TC que não existe “qualquer tipo de reclamação ou informação anterior ao recurso”.

|Quem é ?| Alberto M onteiro P ereira é c asado e p ai de trê lhas, com s idades co fim preendid os oito e o as entre s 19 anos . O candida to indigita do pelo P para pres S em 2009 idente da Câmara Frio inicio d e Mesão u a activ idade polí militante tica como do PSD, t endo inte missão p grado a c olitica co on celhia en 2006. Foi tre 1989 ainda me e mbro da A Municipa ssembleia l de Mesã o Frio (19 mandatár 97-2001) io concelh e io da can de Aníba didatura l Cavaco Silva, Pre Repúblic sidente d a. a Deixou d e ser mil itante so crata em cial-demo 2008. -

|Que faz ?| Licenciad o em Bio logia pela dade de FaculCiências da Univ do Porto e r , Alberto sidade Pereira é na Escola p r o fe EB23/S P ssor rofessor da Natav António idade e d esempen go de Pro ha o car vedor da S anta Cas sericórdia a da Mide Mesão Frio desd Cargo pa e 1998. ra o qual s e vai recan novamen didatar te, concil iando com dência da a presiCâmara de Mesão Frio.


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nacional

Empossado Governo socialista minoritário Sócrates espera que forças parlamentares respeitem esfera de competências do executivo

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primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou esperar que todas as forças parlamentares assumam um comportamento “responsável” que “respeite” a esfera de competências do seu Governo e que não se perca tempo em controvérsias “inúteis”. Esta foi uma das principais mensagens deixadas por José Sócrates no seu discurso, depois de o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, ter dado posse ao XVIII Governo Constitucional, na segundafeira, durante uma cerimónia no Palácio da Ajuda. Após prometer “diálogo político e social” por parte do seu executivo minoritário, José Sócrates disse contar “também com o sentido de responsabilidade de todas as forças parlamentares”. “Para que seja respeitada a esfera de competências próprias do Governo na condução das política geral do país; e para que o país e a sua economia disponham das condições de estabilidade indispensáveis à confiança, ao investimento, e à criação de emprego”, disse. José Sócrates afirmou mesmo esperar que no Parlamento “não se perca tempo em controvérsias inúteis e se concentre o esforço de todos nos problemas e nos objectivos nacionais”. “Certo é que o tempo e a circunstância exigem de

Redacção com Lusa | tamegapress@gmail.com | Foto Lusa todos - Governo, instituições, forças políticas - um novo sentido de responsabilidade. Este será um Governo consciente das suas obrigações e dos seus deveres mas será também um Governo fiel ao seu programa, fiel à sua estratégia, fiel aos seus valores”, acrescentou. José Sócrates apontou as prioridades de acção do seu novo executivo. “A primeira prioridade é combater a crise. A recuperação da nossa economia será o objectivo central da governação”, referiu o primeiro-ministro. A segunda prioridade, segundo Sócrates, “será a modernização da economia e da sociedade, valorizando o conhecimento, a cultura, a tecnologia, a inovação e o espírito de iniciativa”, dando como exemplos neste campo a aposta nas energias renováveis e a extensão da escolaridade obrigatória ao 12º ano. “A terceira prioridade é a justiça social”, apontou Sócrates, prometendo nesta área desenvolver políticas sociais, qualificar os serviços públicos e reduzir as desigualdades na sociedade portuguesa. “Eis portanto o nosso programa: governar para todos os portugueses, com especial atenção para os que hoje mais precisam do Estado social; mobilizar a sociedade portuguesa para uma estratégia de desenvolvimento orientada para a modernidade e para o futuro”, acrescentou.

Cinco mulheres | O novo Governo de José Sócrates tem cinco mulheres em 16 ministros e apresenta no seu conjunto oito novos ministros. Num total de 16 ministros, são novos Alberto Martins (Justiça), António Serrano (Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas), António Mendonça (Obras Públicas, Transportes e Comunicações), Dulce Pássaro (Ambiente e Ordenamento do Território), Helena André (Trabalho e Solidariedade Social), Isabel Alçada (Educação), Gabriela Canavilhas (Cultura) e Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares). Transitam do XVII para o XVIII Governo Constitucional, mantendo as mesmas pastas, seis ministros: Luís Amado (Estado e Negócios Estrangeiros), Teixeira dos Santos (Estado e Finanças), Pedro Silva Pereira (Presidência), Rui Pereira (Administração Interna), Ana Jorge (Saúde), Mariano Gago (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior). Embora mudando de pasta, continuam também no Governo Augusto Santos Silva (transita dos Assuntos Parlamentares para a Defesa Nacional), Vieira da Silva (muda do Trabalho e da Solidariedade Social para a Economia, Inovação e Desenvolvimento). João Tiago Silveira, que foi secretário de Estado da Justiça, assume agora as funções de secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.


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Esmiuçando as contas das campanhas Cada voto vale três euros às candidaturas Alexandre Panda | apanda.tamegapress@gmail.com

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mbora a parte mais visível das campanhas eleitorais autárquicas já tenha terminado com os resultados das urnas, o trabalho dos partidos políticos e dos movimentos independentes não acabou. Aliás, só agora é que os mandatários financeiros têm um trabalho árduo pela frente: fechar as contas das campanhas, contabilizando os votos que obtiveram para poder receber os subsídios que o Estado confere para esse período eleitoral, que se revela mais difícil para os movimentos independentes. Cada pequeno boletim deitado nas urnas não dita apenas o vencedor das eleições, mas sim quanto é que as candidaturas recebem do Estado. Segundo a lei, a subvenção consiste numa quantia monetária que representa pouco mais de três euros por cada voto obtido. Ou seja, votar numa determinada lista, significa dar uma “ordem de pagamento ao Estado”, de cerca de três euros, que será entregue à candidatura que mereceu a confiança do eleitor. Nas eleições para as autarquias locais, a repartição da subvenção é feita nos seguintes termos: 25% são igualmente distribuídos pelos partidos, coligações e grupos de cidadãos eleitores e os restantes 75% são distribuídos na proporção dos resultados eleitorais obtidos para a assembleia municipal. Num município como o Marco de Canaveses, em que votaram em 11 de Outubro cerca de 33 mil pessoas, o bolo total representa cerca de 100 mil euros, que serão repartidos pelas candidaturas. Para poderem obter as subvenções do Estado destinadas a fazer face aos gastos das campanhas, as listas devem preencher no mínimo dois requisitos: apresentarem candidaturas para a câmara municipal e para a assembleia. Por outro lado, partidos e movimentos devem ter obtido um mínimo de votos para poder receber as subvenções: conseguir pelo menos um elemento directamente eleito ou, no mínimo, 2% dos votos em cada sufrágio. De acordo com a nova Lei do Financiamento dos Partidos, aprovada em 2003, mas que entrou em vigor apenas em Janeiro deste ano, os partidos, coligações e grupos de cidadãos eleitores são obrigados a entregar os seus orçamentos de campanha à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, a funcionar junto do Tribunal Constitucional. Após o dia das eleições, as listas candidatas têm 15 dias para pedir a homologação dos juízes do Tribunal Constitucional que gerem as pastas das subvenções para os sufrágios.

Após o Tribunal verificar que as listas, pretendentes às subvenções, preenchem os requisitos legais, os mandatários financeiros têm 90 dias para fechar as contas e entregálas ao Tribunal Constitucional. Até ao final do ano, e mediante a quantidade de votos verificados, as listas candidatas recebem a subvenção. Desvantagem | A grande diferença entre partidos políticos e candidaturas independentes prende-se com o facto das listas partidárias serem financeiramente apoiadas, antes do arranque das campanhas, enquanto que os independentes têm de se auto financiarem. No primeiro caso, a subvenção será transferida para a conta bancária do partido a nível nacional e no segundo directamente para os independentes. “É obvio que as candidaturas apoiadas pelos partidos têm mais meios. Conseguem equipamentos, promoções ou brindes com as siglas partidárias que podem ser utilizados para as legislativas como para as autárquicas, uma vez que este ano, foram seguidas”, explicou ao RM, Norberto Soares, que liderou uma lista de independentes no Marco de Canaveses. Além disso, os independentes têm de pagar o IVA de todas as compras que fazem como cliente final, enquanto que os partidos políticos podem descontá-lo. “Essa questão tem de ser alterada, porque deveria haver uma máximo de igualdade. O nosso orçamento foi de 53 mil euros, sem qualquer reembolso de IVA. No caso de haver reembolso é obvio que podíamos ter investido mais dinheiro. Mas por outro lado, trabalhamos sempre com gente que se apaixona pela causa, e enquanto os partidos têm de pagar motoristas de carros de promoção nós funcionamos na base do voluntariado. É emoção contagiante”, explicou ainda o candidato ao RM. Segundo os dados disponibilizados no site da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos do Tribunal Constitucional, o PS de Marco de Canaveses liderou as despesas de campanha para as autárquicas de 2009 com um orçamento de 121 mil euros. A seguir surge Manuel Moreira, do PSD, com uma previsão de 95 mil euros. Norberto Soares fica em terceiro lugar dos mais gastadores com 53 mil euros. A CDU, de António Varela, previu gastar 21 mil euros. O orçamento do Movimento Marco Confiante com Ferreira Torres não esteve disponível no site.

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As crianças primeiro Terra dos Homens, instituição de Amarante, acolhe menores em situação de risco

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inscrição numa parede “Terra dos Homens” e a imagem de umas mãos a segurar um bebé, servem como cartão de visita da instituição, que se dedica a acolher crianças dos 0 aos 12 anos em situação de risco ou mesmo em situações, ditas mais complicadas. “A ideia de construir uma casa de acolhimento para crianças com problemas familiares, havia surgido há algum tempo, contudo a sua concretização só seria efectiva em Junho de 1998. A doação do terreno pelas Meninas Lima foi um importante contributo para a materialização do Centro de Acolhimento Temporário – Terra dos Homens” refere António Pinto Monteiro, que preside à instituição desde a sua fundação. O agradecimento por tão nobre acção está bem patente na instituição onde a fotografia das duas beneméritas ocupa um lugar visível. Com uma localização privilegiada, perto das escolas, hospital, centro de saúde, mas suficientemente recolhida para possibilitar alguma tranquilidade, a casa de acolhimento tem presente, quer no seu interior, quer no exterior as necessidades dos mais pequenos. Nos dois pisos distribuem-se os quartos, no inferior o dos bebés e das meninas e no superior os dos meninos. Nos espaços comuns, amplos e arejados os motivos infantis nas paredes e janelas lembram a idade dos seus destinatários. No espaço exterior um campo de futebol, uma área com árvores de fruta (onde no Verão os meninos montam as tendas), um parque infantil e espaço relvado, permite às crianças as brincadeiras tão apetecíveis nas suas idades. Com 11 anos de existência muitas foram as crianças que por

Helena Carvalho | hcarvalho.tamegapress@gmail.com lá já passaram, uns com uma permanência mais abreviada, outros com histórias menos felizes, que os obrigam a ficar durante mais tempo. Casos há em que o retorno às famílias de origem é de todo impossível e a adopção pode ser considerada. A Terra dos Homens trabalha em estreita ligação com a Segurança Social, o Instituto de Reinserção Social e os Tribunais que, em conjunto, analisam as situações para darem a melhor resposta aos verdadeiros problemas de menores que dependem em exclusivo da sociedade para os encaminhar na vida. São de natureza vária as causas que afastam as crianças do seu meio familiar e levam à sua posterior institucionalização – negligência sob várias formas, maus tratos físicos, pais alcoólicos, toxicodependentes, situações de pobreza, abandono, conflitos entre casais… A instituição tem a seu cargo a tarefa de acolher e devolver a estas crianças alguma normalidade, possibilitando-lhes a vivência comum de uma qualquer criança – refeições completas a horas, a frequência da escola, estudo acompanhado, a ida ao médico, os passeios ou a ida ao parque, as férias na praia. São vinte e quatro as crianças que neste momento residem na casa, que tem capacidade de hospedar mais seis. Duas crianças deficientes encontram-se também sob os cuidados da instituição, por falta de um sítio mais apropriado onde permanecerem. Para zelar pelo bom funcionamento da instituição 21 profissionais trabalham dia e noite, fins-de-semana e feriados. Uma assistente social, uma psicóloga e uma educadora de infância compõem o corpo técnico da Terra dos Homens. Duas pessoas asseguram diariamente as noites.


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Novo Centro suspenso por falta de verbas Ao completarem a data limite para poderem estar na Terra dos Homens – 12 anos –, as crianças são sujeitas a nova mudança de instituição, quebrando qualquer laço ou afinidade que construíram com os profissionais e colegas, da instituição e da escola. No sentido de travar mais este atropelo nas suas já complicadas vidas, a instituição pretende construir um novo Centro de Acompanhamento Temporário, contíguo ao actual, para crianças dos 12 aos 21 anos e com capacidade para 12 jovens. O projecto encontra-se já aprovado pela Câmara Municipal de Amarante, no entanto está pendente de verbas para o concretizar. É também pretensão da instituição a construção de duas salas para os pais poderem, em privado, visitar os filhos. Uma delas será já concretizada no próximo ano, e será solicitada a colaboração da população.

Viver dos contributos Aos apoios que recebem anualmente da Câmara Municipal de Amarante e da Junta de Freguesia de S. Gonçalo outros se juntam. “Temos contado com alguns apoios essenciais ao funcionamento de uma casa como esta, mas este ano, fruto da crise, os contributos em dinheiro quase não existiram. Continuamos a receber alguns bens essenciais, como por exemplo a fruta, que nos é oferecida todo ano pela mesma pessoa, e temos salões de cabeleireiros, dentistas, sapatarias e lojas de roupas da cidade que oferecem os seus serviços, e os seus produtos” refere o presidente. Sempre receptivos a todo o tipo de contributos, neste momento os que são mais necessários são produtos de reposição constante – todos os produtos de higiene pessoal, fraldas (de vários tamanhos – 2, 3, 4, 5), e ainda roupa de cama, nomeadamente edredons. Na parte lúdica – livros, jogos, brinquedos e puzzles são bemvindos. Numa tentativa de fazer face às despesas, a Terra dos Homens concorreu a um projecto para instalação de painéis solares, cuja energia será vendida à EDP.

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Distúrbio pesado da personalidade pode explicar auto-mutilação PJ deteve mulher que inventou os crimes de carjacking, sequestro e violação Alexandre Panda | apanda.tamegapress@gmail.com

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ma grave depressão associada a um distúrbio pesado da personalidade. É essa a causa mais provável para explicar o acto de uma mulher que foi recentemente detida pela PJ por ter simulado os crimes de carjacking, sequestro, violação e ofensas corporais pelos quais tinha apresentado queixa. Os factos remontam a 14 de Agosto, quando uma mulher, de 38 anos, foi encontrada numa zona de serra de Montedeiras, junto a Marco de Canaveses, onde terá incendiado o veículo do namorado (vestígios do incêndio na foto em cima). A vítima estava totalmente despida, apresentava o cabelo rapado, tinha lesões visíveis ao nível do couro cabeludo e hematomas noutras partes do corpo. A mulher foi assistida no hospital e às autoridades alegou que tinha sido sequestrada, violada, torturada e posteriormente abandonada sem

roupa por um casal, cuja identidade desconhecia. A mulher acabou por ser constituída arguida pela alegada simulação de crime e incêndio. Desconhecem-se as motivações da suspeita para simular os crimes. Segundo a PJ, a mulher simulou tudo porque queria recuperar um namorado, o proprietário do veículo incendiado, que tinha acabado com a relação amorosa. “Esta mulher terá dificuldades em gerir emoções. Criou um cenário para que a outra pessoa acredite nela e para chamar a atenção, na tentativa de se vitimizar e recuperar um amor perdido”, explicou Marília Clemente, uma psicóloga confrontada com o caso pelo RM. Embora as causas da automutilação ainda não estejam bem definidas, há evidências de que fatores neurobiológicos e factores psicossociais, como características de personalidade mais impulsiva e compulsiva, bem como a história de vida e o ambiente cola-

boram para o surgimento da automutilação. Alguns dos factores de risco relacionados a auto-mutilação são o abuso emocional, físico ou sexual na infância, os conflitos familiares, abuso de álcool e tabaco ou outras substâncias, vítima de “bulling” na adolescência e a presença de sintomas depressivos, ansiosos, impulsividade e baixa auto-estima, o que será o mais provável no caso da empresária que simulou o crime em Marco de Canaveses. A auto-mutilação está associada a transtornos mentais como a psicose, sendo um mecanismo psíquico para suportar a dor e a confusão mental, gera calma psíquica após o seu acto. Mas, se algumas pessoas fazem isso para se castigar, há outras que o fazem como artifício para chamar a atenção de familiares. Esses casos de carência extrema permanecem raros, mas tudo aponta para que seja o caso da mulher detida pela PJ.


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“O Norte tem cada vez maior prestígio internacional” Presidente da ANJE, Francisco Maria Balsemão, vê com optimismo regeneração económica da região

Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.com Fotos | Estela Silva/Lusa e ANJE

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rancisco Maria Balsemão é a nova cara da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários. Há cinco meses assumiu a presidência da associação que agora comemora 23 anos e que “contribuiu decisivamente para a criação, entre a juventude portuguesa, de uma mentalidade mais propensa à iniciativa e ao risco”, analisou o engenheiro electrotécnico em entrevista ao Repórter do Marão.

Assumir o risco e inovar serão mesmo os caminhos para ultrapassar o actual período de transição de uma economia tipicamente industrial para a economia do conhecimento. Por seu turno, os novos empreendedores terão de aliar as suas boas ideias ao trinómio Ciência, Tecnologia e Inovação e por aí será possível dar um novo Norte à região do Norte. O novo presidente mostra-se confiante. “O Norte tem tradição empresarial, vocação empreendedora, gente de trabalho, boas infra-estruturas de transportes, universidades com qualidade de ensino, capacidade de investigação e cada vez maior prestígio internacional”. Razões mais do que suficientes para que o também administrador executivo da Impresa se mostre “optimista em relação à capacidade da região para voltar a criar emprego e riqueza através de um tecido empresarial mais moderno, inovador e empreendedor”. Mas se o futuro pode aparentar ser risonho para o Norte, no presente continua a assistir-se ao encerramento sucessivo de empresas. Para Francisco Maria Balsemão esta situação prende-se com o facto de os sectores com maior proeminência no Norte, como o dos têxteis ou do calçado, se encontrarem “mais expostos à concorrência internacional por incluírem muitas empresas de mão-deobra intensiva, tecnologia obsoleta e produtos de baixa qualidade”. Foram precisamente os sectores ditos tradicionais os mais “penalizados pela abertura a mercados internacionais”, vendo aumentada a concorrência à escala global. Se a competitividade destes sectores dependia do custo de trabalho, com a

abertura de fronteiras a países onde são praticados salários ainda mais baixos o nível de exportações reduziu-se. Assistiu-se ainda ao fenómeno de deslocalização de muitas empresas multi-nacionais que optaram por investir nesses países de menores custos. O Norte perdeu desta forma a sua capacidade de atrair investimento directo estrangeiro e as empresas começaram a fechar. Paralelamente nasciam projectos de empreendedorismo: “quer micronegócios de subsistência para fazer face ao desemprego, quer ‘start-ups’ já com uma forte componente de inovação”, descreveu Francisco Maria Balsemão. Esta fase de transição entre as empresas que encerram e as que são geradas é acompanhada de uma mudança de paradigma entre a economia tipicamente industrial e a do conhecimento. É tendo por base esta alteração que a região se deve revitalizar, “incorporando mais inovação nos processos de fabrico, elevando o perfil tecnológico de produtos/serviços, melhorando os modelos de gestão, valorizando o capital humano e apostando em elementos diferenciadores”. Para que a estrutura produtiva nortenha suba na cadeia de valor, “tem de encontrar o seu respaldo já não tanto nos factores tradicionais da competitividade mas no trinómio Ciência, Tecnologia e Inovação”. Mas como gerar um novo negócio? Como se criam postos de trabalho? A isto o presidente da ANJE responde que o “empreendedorismo é a via mais expedita para gerar investimento, estimular a procura, criar postos de trabalho e aumentar a confiança dos agentes económicos”. Francisco Balsemão considera que antes de mais importa porém que “haja uma mudança na atitude da sociedade civil portuguesa, que leve os cidadãos a sair debaixo da asa protectora do Estado e a abalançarem-se na criação de negócios”. Ao Estado compete, por seu turno, “criar um ambiente propício ao empreendedorismo”, introduzindo a temática nos currículos escolares e conferindo apoios que podem passar pela simplificação do sistema fiscal, e diminuição de custos.


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Balanço positivo nos 23 anos da ANJE Empresário defende promoção de empreendedorismo qualificado. Associação é conhecida pela organização do Portugal Fashion.

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s origens da ANJE remontam a 1979 quando um grupo de empreendedores decidiu reunir-se em torno de uma estrutura informal designada Ala dos Jovens Empresários. Para enfrentar as dificuldades que se colocavam para a criação de empresas em Portugal, em 1986 o grupo avançou para uma associação, nascendo então a ANJE. Pretendia então, como agora, promover o espírito empreendedor no País. Volvidos 23 anos da sua criação, o seu novo presidente pretende concentrar esforços na “promoção de empreededorismo qualificado” que crie valor acrescentado “a partir de uma forte aposta na internacionalização e inovação”. “Iremos procurar criar condições para que os jovens portugueses desenvolvam o seu ‘brainware’ e apliquem em projectos empresariais”, salientou Francisco Maria Balsemão. Por outras palavras, pretende-se fomentar um espírito empreendedor nos mais jovens. Mas se um empreendedor é aquele que, “animado por uma atitude de desafio permanente e uma vontade de auto-su-

peração demonstra dinamismo e arrojo suficiente para concretizar uma ideia”, ou seja, aquele que arrisca, então há que promover uma “cultura de risco”. Nesse sentido a ANJE “rubricou protocolos com instituições do ensino superior para acções de formação em empreendedorismo, criou uma bolsa de inserção no mercado para jovens altamente qualificados e tem organizado, entre outras iniciativas, concursos de ideias para estudandes”. Pretende ainda disponibilizar infra-estruturas adequas às áreas de negócio da economia do conhecimento, como incubadoras para empresas de base tecnológica e desenvolver uma rede de networking entre promotores e negócios e investidores para facilitar o financiamento de negócios. É que para passar das ideias à prática é necessário um investimento de capital e

nem sempre os jovens têm disponibilidade financeira para avançar com os seus arrojados projectos. Nesse sentido mostra-se também importante “apoiar projectos seed capital e start-ups com serviços de consultoria nas áreas da gestão, investigação científica, desenvolvimento de produto, transferências de tecnologia e registo de patentes”. A associação defende ainda o apoio financeiro num estágio inicial “para não matar à nascença a pulsão empreendedora de muitos dos nossos jovens”, salientou. Se nos últimos 23 anos a ANJE “contribuiu decisivamente para a criação, entre a juventude portuguesa, de uma mentalidade mais propensa à iniciativa e aos risco”, deve agora prosseguir no seu objectivo de “promover um empreendedoris-


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sociedade

Brisa não prevê substituir piso de cimento na A4 Motociclistas comparam a trepidação a um martelo pneumático Alexandre Panda | apanda.tamegapress@gmail.com

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piso irregular no troço da A4 (auto-estrada A4 Porto/ Amarante) junto à cidade de Penafiel suscita, há bastantes anos, as críticas de automobilistas e sobretudo dos utentes de duas rodas. Trata-se de um piso de cimento, entre Paredes e a zona da Croca, em Penafiel, que foi instalado desde a abertura daquele troço, no início dos anos 90. Enquanto os automobilistas sentem uma trepidação do piso, sobretudo na faixa da direita, alguns motards garantiram ao RM “que têm a impressão de estar ao comando de um martelo pneumático”, um problema que afecta a sua segurança. O caso da pavimentação em betão não é exclusivo de Penafiel. Existe piso idêntico na Via do Infante, a auto-estrada que atravessa o Algarve do sotavento ao barlavento, ou seja, entre Lagos e Castro Marim, na fronteira com a Espanha, e também em alguns troços da A8. Na altura da instalação deste piso, quando da construção da A4, muitos eram os utilizadores que acreditavam tratar-se de uma experiência do concessionário da via, a Brisa, que duraria apenas alguns anos. O certo é que ainda hoje permanece, quase duas décadas depois... Conservação | Contactada pelo Repórter do Marão, uma fonte oficial da Brisa – a empresa que detém a concessão da A4 – explicou que o troço com piso de cimento não é uma experiência da Brisa, nem está previsto qualquer tipo de modificação ou substituição daquela pavimentação. “A Brisa está a realizar estudos para a realização de obras de manutenção de pavimento na zona de Penafiel. Os trabalhos em causa não serão mais do que obras de

manutenção corrente que a Brisa desenvolve no âmbito da conservação e manutenção que realiza regularmente nas suas infra-estruturas”, refere a nota enviada ao RM, via e-mail. A Brisa acrescenta: “Importa, por isso, sublinhar que o pavimento ali colocado não é experimental - é o pavimento de origem - e que a obra em causa não será realizada em regime extraordinário. Neste momento, não dispomos ainda da data para a sua realização”. Prevenir geadas | Pelo que foi possível apurar, na altura da construção, os responsáveis optaram por colocar um piso de betão por aquele material oferecer melhores condições de segurança durante o inverno. Evitaria problemas durante as geadas. O outro argumento utilizado era o da inclinação daquele troço que ao ser pavimentado em betão permitia um melhor escoamento das águas pluviais. A verdade é que na altura da construção da A4, o betuminoso que era utilizado era mais macio de que o actual e não tinha um escoamento fácil, referem alguns especialistas. O presidente do Moto Clube do Vale do Sousa, Fernando Gomes, contactado pelo RM, explicou que o piso não é satisfatório para os condutores de motas, admitindo que o piso não será substituído. “Hoje existem pisos mais aderentes que o betuminoso que era utilizado na altura da construção da A4. O cimento era a solução na altura, mas não acredito que venham a substituir o piso, embora para nós fosse ‘ouro sobre azul’. Mas existem outros problemas por exemplo quando há nevoeiro: o betão não permite ter uma boa visibilidade das marcações brancas no solo”, adiantou ao RM.


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Ana Luísa Ribeiro recebe sábado Prémio Amadeo de Souza-Cardoso Obra premiada em Amarante representa a página de um livro Paula Costa | pcosta.tamegapress@gmail.com

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artista plástica Ana Luísa Ribeiro recebe sábado o galardão correspondente à vitória na sétima edição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, com uma obra que representa uma página de um livro, tema que é frequente nos trabalhos de Ana Luísa Ribeiro. O prémio, no valor de 7 500 euros, vai ser entregue à artista plástica no dia 31 de Outubro, durante a cerimónia de inauguração da exposição que reúne 74 obras seleccionadas, de 50 artistas, que vão estar patentes ao público no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso até 3 de Janeiro de 2010. Nesta edição, o prémio consagração de carreira – com a designação de Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso – foi atribuído ao pintor João Vieira, que se junta aos vencedores das edições anteriores: Fernando Lanhas, em 1997, Fernando Azevedo, Costa Pinheiro, Júlio Pomar, Nikias Skapinakis e, há dois anos, Ângelo de Sousa. Nascida em Lisboa em 1962, Ana Luísa Ribeiro vive e trabalha em Colónia, na Alemanha, e em Lisboa. Frequentou, entre 1981 e 1986, o curso de Bioquímica, nas universidades de Coimbra e Lisboa, e, no ano seguinte o Programa de Estudos Básicos,

no Centro de Arte & Comunicação Visual (Ar.Co), em Lisboa. Entre 1994 e 1999, Ana Luísa Ribeiro foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian tendo frequentado um “MA in Fine Art“, no Goldsmiths College, da Universidade de Londres. Em 2002 foi nomeada para a terceira edição do Prémio EDP de Arte. No ano passado esteve representada na exposição “Lá Fora” organizada pelo Museu da Presidência da República no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e que reuniu trabalhos de artistas plásticos que vivem e trabalham no estrangeiro. De periodicidade bienal, o Prémio Amadeo foi reinstituído pela câmara de Amarante em 1997, ano em que foi atribuído a Albuquerque Mendes. A holandesa Inez Winjnhorst Assis e Santos, Rita Carreiro, Ana Vidigal, Ana Maria e Susanne Themlitz foram as vencedoras das edições seguintes. Fizeram parte do júri de selecção António Cardoso, director do Museu Amadeo de Souza-Cardoso, o professor e crítico de arte Rui-Mário Gonçalves, Fátima Lambert, Miguel von Haffe e Laura Castro. Este ano foram apresentados 483 trabalhos de 289 artistas à sétima edição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.


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amarante

Associação Habitat e Mota-Engil vão reconstruir habitação a família carenciada de Bustelo Paula Costa | pcosta.tamegapress@gmail.com

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Associação Humanitária Habitat vai reconstruir a casa de uma família de três pessoas que vive em condições de habitabilidade precárias, na freguesia de Bustelo, Amarante. Trata-se de uma parceria entre a Habitat e a empresa MotaEngil . As obras deverão ter início em Março de 2010 e vão ser feitas por várias equipas de dez a doze voluntários oriundos de diferentes países. Filipa Braga, da Associação Humanitária Habitat, adiantou ao Repórter do Marão que o projecto de arquitectura já foi aprovado. Os projectos de especialidades deverão dar entrada na câmara de Amarante até ao final de Outubro, início de Novembro. Também já foi pedida à câmara de Amarante “a isenção de taxas e licenças”. Quando terminar a construção e for determinado o valor da casa, será definida uma mensalidade que a família terá de pagar durante 20 a 25 anos. O valor da mensalidade é definido em função do rendimento da família. A casa de Maria de Lurdes Costa, na rua da Portela, em Bustelo, fica num sítio “muito sombrio”. As condições de habitabilidade são precárias. O espaço é exíguo. No único quarto (que mede cerca de 8 metros quadrados) dormem três pessoas: Maria de Lurdes e dois filhos, com 19 e 23 anos. A filha mais velha casou e vive fora. A meningite que afectou Maria de Lurdes em criança, deixoulhe marcas para o resto da vida. Mãe solteira, criou os três filhos sozinha. “Para todas as coisas sou mãe e pai… eduquei-os, criei-os, com muitas dificuldades, mas graças a Deus não os trouxe de porta em porta”, contou ao Repórter do Marão. Aos 53 anos Maria de Lurdes recebe uma pequena pensão mensal, mas a perspectiva de vir a ter uma casa com boas condições de habitabilidade, sem frio nem humidade, deixa-a animada. “Tenho que pagar, mas fico com a casa em condições”, afirmou. Um dos critérios de selecção das famílias é o de terem capacidade financeira de pagamento da casa Habitat e não terem dívidas avultadas que comprometam o compromisso estabelecido com a associação.

Associação Habitat Com uma base cristã e ecuménica, a Associação Humanitária Habitat, fundada em Braga em 1996, tem como principal objectivo procurar resolver os problemas habitacionais de famílias carenciadas. A Associação Habitat é uma filial da Habitat for Humanity International (HFHI), organização com filiais em mais de cem países e que, desde 1976, já construiu mais de 300 mil casas, em todo o mundo, garantindo a mais de um milhão de pessoas uma habitação segura, digna e de baixo custo. Pela sua experiência, a Habitat acredita “que uma família que tenha a possibilidade de viver numa casa digna, tem também as bases para desenvolver uma vida saudável e construtiva em família”.


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Obras no Arquinho ‘despedem’ pessoal Helena Carvalho | hcarvalho.tamegapress@gmail.com

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requalificação do Largo Conselheiro António Cândido – Arquinho encontra-se a escassas semanas de completar um ano e as repercussões da mesma no comércio local são já assinaláveis. A debanda de clientes que se tem feito sentir tem obrigado alguns comerciantes a adoptar estratégias para manterem as casas abertas e o despedimento de colaboradores tem sido prática comum. José Monteiro, proprietário das bombas de gasolina e de um restaurante no local, sofreu penalizações a dobrar nos seus negócios “as bombas tive que as fechar ainda em Junho do ano passado e despedi os dois funcionários, relativamente ao restaurante, naturalmente que se sentiu uma quebra nos clientes, mas piorou quando cortaram o trânsito”. Questionado sobre os benefícios para a zona finda a intervenção, José Monteiro não tem dúvidas: “O retorno espera-se seja efectivo, vamos ser beneficiados”. Responsável por uma sapataria no Centro Comercial Navarras, Sofia Teixeira, atarefada a atender um casal com dois filhos, desdobra-se a responder ao Repórter do Marão, enquanto cá e lá, traz e leva diferentes modelos de sapatos: “O impacto das obras? Repete em tom de quem mexeu na ferida “é enorme, perdemos muita clientela; aqueles clientes fixos, que já cá vêem desde que aqui estou (há quatro anos), alguns continuam a vir, mas ainda assim alguns evitam este local e quando me cruzo com eles na rua, dizem prontamente que não vêem por causa dos acessos”. A existência de um parque de estacionamento ao lado do Centro Comercial não tem ajudado em quase nada adianta a mesma responsável “ está fechado aos fins-de-semana e feriados e na época de Natal – Novembro e Dezembro, que trabalhamos ininterruptamente, também se encontra fechado, não se justifica”. “Não estou contra as obras”, argumenta Sofia Teixeira, “tenho consciência de que têm de ser feitas, mas tem sido difícil aguentar as consequências, os prejuízos são muitos e tive de dispensar a minha empregada, e às vezes o barulho é tanto e o pó, que só com a porta fechada se consegue estar”. O Café Conselheiro e uma Loja de Telecomunicações são explorados por Luís Peixoto, que à semelhança dos colegas, despediu também, durante este período de obras, dois colaboradores. “Uma vez que estamos a passar por uma época de crise, a obra devia ter outra dinâmica nomeadamente trabalharem até às 10 da noite, e não até às cinco como acontece.” Crítico também relativamente ao funcionamento do Parque de Estacionamento “não devia fechar às 10 horas, já tive clientes no café, a pedirem-me o número de telefone do responsável para poder retirar de lá os carros”. Quanto ao futuro, Luís Peixoto não crê vir a ser beneficiado (com a intervenção) e refere a necessidade de trazer ao Arquinho, novas formas de captar clientes, uma vez que, a perda de alguns deles vai acontecer. “Os clientes que vinham à hora de almoço e estacionavam por aqui, vão deixar de frequentar

esta zona, pois os lugares de estacionamento vão ser poucos.” Relativamente aos meios materiais, é verdade que a dimensão dos incêndios que conhecemos obrigaram-nos a pedir apoio aos colegas de outras corporações”, rematou Fernando Rocha.


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Biscoito da Teixeira Duas famílias, dois saberes Paula Costa | pcosta.tamegapress@gmail.com

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Biscoito da Teixeira, o emblemático doce que recebe o nome da maior freguesia do concelho de Baião, continua a ser fabricado por gerações diferentes de “biscoiteiros”. A receita tem ingredientes comuns, mas também algumas variações – com ou sem ovos. Sónia Pereira instalou na casa onde vive uma pequena fábrica do Biscoito da Teixeira. Fê-lo para dar continuidade a “um negócio de família, por gostar, e por ser uma forma de ajudar a desenvolver a localidade”, onde vivem 852 pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (Censo de 2001). A junta de freguesia, contudo, reivindica mais de mil habitantes, mas para as últimas eleições só votaram 511 dos 940 inscritos. O bisavô e avós paternos de Sónia “faziam e vendiam” o singelo doce tradicional, que faz parte do património gastronómico e cultural do concelho de Baião. Por isso, a câmara já manifestou apoio à certificação do Biscoito da Teixeira, assim como de outros produtos únicos que existem no concelho. Há várias décadas, “toda a freguesia” estava de algum modo envolvida no fabrico ou na venda do Biscoito da Teixeira. Havia quem se dedicasse a recolher lenha para aquecer os fornos onde o doce era cozido. Burros e cavalos eram usados para fazer o transporte da aldeia que fica no extremo do concelho de Baião, no sopé da serra do Marão. E há mais de 30 anos, quando Teixeira ainda não tinha electricidade, juntavam-se gru-

pos ao serão para peneirar a farinha usada na massa do biscoito. Em cada fornada (que demora cerca de 20 minutos a cozer), Sónia Pereira, 33 anos, faz cerca de 100 quilos de Biscoito da Teixeira, com a colaboração de outra jovem da freguesia. Fazem biscoito “pelo menos duas vezes” por semana. Além de vender no mercado de Amarante, Sónia (que está a frequentar um curso superior em Aveiro), fornece o Biscoito da Teixeira para as lojas Intermarché de Amarante e de Vila Real. No Verão, coze “praticamente todos os dias” porque a procura aumenta substancialmente. “Para matar saudades”, os emigrantes são clientes certos. Esse “mercado da saudade” nota-se mais em Amarante, onde, conta Sónia Pereira, já aconteceu haver quem guardasse o saco para mais tarde poder sentir o cheiro do Biscoito da Teixeira. Porquê chamar biscoito a um doce grande, que tem forma de bolo? “É uma boa pergunta. Eu creio que deve depender de cada localidade, é uma questão de regionalismo”, respondeu Sónia Pereira ao Repórter do Marão. Não contando tudo, Sónia dá alguns pormenores. Diz que “o maior segredo é a forma como é amassado e a temperatura elevada” durante a cozedura. A massa leva “ovos, farinha, açúcar, raspa de limão ao gosto da pessoa, meia garfa [mão] de sal e água, quanto mais quente melhor.”

Sónia Pereira representa a nova geração


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Gerações de ‘Biscoiteiros’ garantem continuidade do doce

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em entrar em pormenores, Isaura da Conceição, que aos 81 anos continua a fazer e a vender o Biscoito da Teixeira nas feiras e mercados da região, diz apenas que a massa é posta a levedar e que a sua receita não leva ovos. Reservada, Isaura da Conceição começa por querer saber quem é e o que pretende quem foi à sua procura. Satisfeita a curiosidade, de imediato faz a sua apresentação. Nasceu e vive “na freguesia da Teixeira, concelho de Baião”. À porta, que deixa entrever o forno aceso, onde dali a pouco, com a ajuda de Otília, há-de pôr o biscoito a cozer, Isaura da Conceição assegura com o seu testemunho, o quão antigo é o Biscoito da Teixeira. “Sou neta e bisneta de biscoiteiros. Comecei a fazer os biscoitos aos oito anos. Punham-me um banquinho para eu chegar à gamela” onde amassava. Para a despertar, manhã cedo, o pai garantia-lhe que “mulher pobre trabalhadeira, é rica, e mulher rica mandriona, é pobre”. Há 40, 50 anos, o Biscoito da Teixeira era transportado “daqui para o Alto dos Padrões em cavalos que levavam dois cestos e às vezes três”. Ali os cestos passavam para as camionetas. “Ando em 82 [anos]”, conta Isaura, chegada há pouco da feira da Lixa, uma das muitas que ainda faz na região. Isaura não se alonga em pormenores quando se tenta saber mais sobre o Biscoito da Tei-

xeira. “Faço o fermento, depois amasso… fica a levedar, depois vai para o forno a lenha, como o pão antigo”. Mas faz como? Quais os ingredientes? Qual o modo de fazer o Biscoito da Teixeira? A resposta sai cheia de sageza e é tudo menos esclarecedora: “isso a senhora queria saber, mas eu não digo a ninguém. A minha receita não a dou a ninguém”. Excepto à filha Celeste, que também sabe fazer Biscoito e a acompanha nas feiras e mercados onde ainda vende. “Agora é a minha filha e depois vai para os meus netos”, afirma, confiante na continuação do negócio de família. “Coisas antigas, maravilhosas” explicam, segundo Isaura, a fama e o sucesso do Biscoito que “chegou a ser a 25 tostões” e agora se vende a três euros o quilo. O negócio “tem marés de tudo. No Verão vende-se muito, agora, vende-se pouco, mas vende-se”. A mais nova de quatro irmãos, recorda as viagens a pé, para a feira dos bois que se fazia no Marco de Canaveses, quinzenalmente.

Só a filha de Isaura conhece o segredo da confecção do seu Biscoito da Teixeira, feito sem ovos

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Isaura da Conceição é “bisneta de biscoiteiros”

Com ou sem ovos? É escuro, doce e tem um travo a limão. Com a forma de bolo rectangular (de maior ou menor dimensão, consoante as formas), mas o nome original é Biscoito da Teixeira. Doce regional que, ao contrário do que alguns pensam e outros divulgam, não leva canela e é cozido em forno de lenha a altas temperaturas (entre os 250 e 300 graus centígrados). Pessoas de diferentes gerações, mas da mesma família de “biscoiteiros” usam receitas distintas: uma leva ovos, outra não. Não se conhece com rigor a origem histórica, mas testemunhos orais indicam que este doce tradicional é confeccionado há pelo menos 200 anos. Há cerca de um ano que existe na freguesia de Teixeira, junto à pequena fábrica de Sónia Pereira, um espaço de promoção do doce onde é possível provar e comprar Biscoito da Teixeira.


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‘A deficiência já não mete medo às pessoas’ Luís de Magalhães, Provedor do Cidadão com Deficiência do Marco de Canaveses

“Mais que as barreiras físicas preocupam-me as barreiras sociais. E é aí que eu tenho trabalhado mais para mostrar que as pessoas com deficiência são pessoas”

Paula Costa | pcosta.tamegapress@gmail.com

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uís de Magalhães tem 29 anos, é licenciado em História e vive sozinho em Vila Boa de Quires, numa casa adaptada. Desloca-se numa cadeira de rodas porque ao nascer uma paralisia cerebral afectou-lhe a parte psicomotora causando-lhe 90 por cento de incapacidade. Diariamente é transportado pelos bombeiros para a câmara do Marco de Canaveses onde é Provedor do Cidadão com Deficiência. Luís de Magalhães iniciou funções em Fevereiro de 2006 por iniciativa do presidente da câmara, Manuel Moreira, que, em 2003, tinha presidido no distrito do Porto às comemorações do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência. Ao Repórter do Marão Luís de Magalhães recordou que foi convidado para ser o Provedor do Cidadão com Deficiência com um objectivo maior: “ser uma voz activa daqueles que não têm voz”. Para o provedor, “há que responsabilizar as entidades competentes para tornar as pessoas com deficiência mais iguais às pessoas que não têm deficiência. Isto é, se existem mecanismos capazes de diminuir a deficiência, é obrigatório aplicá-los para que a sociedade seja mais justa, mais igual e mais solidária”. Explicando em concreto o que faz, Luís de

Magalhães diz que o seu “trabalho é tentar, através de congressos e palestras mobilizar as pessoas para as questões que preocupam os cidadãos com deficiência. Por outro lado, tentar diminuir as barreiras arquitectónicas. Sabemos que é impossível anulá-las de todo, mas pelo menos tentar diminuí-las. É um trabalho que merece preocupação permanente”. Mas há uma preocupação maior: “quero salientar que mais que as barreiras físicas preocupam-me as barreiras sociais. E é aí que eu tenho trabalhado mais para mostrar que as pessoas com deficiência são pessoas”. E nesse trabalho há momentos particularmente gratificantes. “Por exemplo dá-me muito gozo, uma enorme alegria, ir às escolas, falar com as crianças e jovens. Acho que é por aí… despertar uma nova mentalidade, um espírito aberto para estas questões”. No dia-a-dia, diz, “faço um bocadinho de tudo, tentamos reencaminhar todas as situações desde a informação que existe para a obtenção de emprego, tudo o que tenha a ver com transportes para crianças com necessidades educativas especiais; trabalhar com os professores desta área. Fala-se muito, muito mais, de deficiência. A deficiência já não mete medo às pessoas, noto isso na população mais jovem e mesmo nos adultos”.

Pontualmente têm sido feitas intervenções para “por exemplo, criar acessibilidades para que as pessoas possam sair de casa e ir ao café, à papelaria. Tentamos ao adaptar algo fazê-lo para o máximo de pessoas possível”. A recente abertura de uma sala de Snoezelen (onde se faz estimulação sensorial para crianças com multideficiências), e que foi a quarta a ser criada em Portugal, é motivo de satisfação para o provedor. “Está a ser usada por dez crianças mas logo que o executivo tome posse iremos calendarizar a forma de dar uso àquele espaço porque queremos que seja uma sala não só de apoio à escola (lá funciona a unidade de apoio à multideficiência de Alpendurada), mas que dê resposta à unidade de Tuías e da Cercimarco e se, porventura, outra criança de outra escola do município precisar, naturalmente também será para ela”. Para sustentar a importância do trabalho que faz, Luís de Magalhães recorda um relatório da ONU que diz que a deficiência “é a situação social em que há mais discriminação, ainda mais que a prostituição ou a homossexualidade, o que para mim representa uma enorme preocupação porque nós merecemos viver, merecemos ser felizes. E a felicidade passa pela obtenção de família, de educação, de trabalho”.


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Serviços públicos onde é impossível entrar No centro do Marco de Canaveses há vários serviços onde uma pessoa com mobilidade reduzida não pode entrar. O Tribunal e as Finanças são dois dos exemplos “mais aflitivos” de como os próprios serviços públicos persistem em não cumprir a lei. “As Finanças… meu Deus… é o pior sítio de todos, já se falou em rampa, em elevador, enfim…”, comenta o provedor. Também a grande maioria das escolas não tem rampas. Entre os bancos, há alguns que têm rampas de acesso. É o caso do Millenium e da Caixa Geral de Depósitos, embora aconteça por vezes que as rampas não são adequadas porque são demasiado inclinadas. “Depois há outro pormenor importante: é que a pessoa que vai em cadeira de rodas tem que puxar pela porta e tem que vir para trás com a cadeira, o que não dá jeito nenhum. Se for uma pessoa paraplégica, que não sente as pernas, não consegue segurar a porta, não consegue fazer a manobra”. No BPI há uma caixa multibanco rebaixada no interior, mas é impossível entrar porque não há rampa de acesso. Um bom exemplo? A resposta de Luís de Magalhães surge de imediato “digo-lhe que o banco com melhores condições é o Banif. As pessoas são atendidas em secretárias. Não ali nenhum símbolo a discriminar”. Ir aos Correios… é possivel, “só que não se entra pela porta principal” porque seria necessário ul-

trapassar vários degraus. “Entra-se por outra que tem o logótipo identificativo de que a pessoa com deficiência pode entrar por ali… foi a solução que se arranjou”. No centro comercial Praça da Cidade resolviase o problema do acesso a pessoas com mobilidade reduzida construindo “uma rampinha de 10 cm, junto ao passeio”. A rampa que existe na câmara do Marco, foi construída ainda no tempo de Ferreira Torres, mas sem corrimão e sem o necessário acesso desnivelado na porta principal. Acrescentos que foram feitos já depois de o provedor ter iniciado funções e que mostram que “é sempre possível fazer uma intervenção. Às vezes o que é preciso é imaginação. Porque vem a Ordem dos Arquitectos e diz não podemos estragar a fachada… aliás uma das minhas batalhas é questionar porquê pôr o lado estético à frente do lado funcional”. Em Vila Boa de Quires o provedor teve “interferência directa na construção dos postes das paragens de autocarro em que havia um degrau e eu pedi para porem rampas”. No entanto, lembra Luís Magalhães, “eu não tenho nenhum poder decisório aqui, é mais mediar, sugerir, receber as queixas e ver se elas têm uma resposta efectiva. Só que sabemos que isto é um trabalho para toda a vida. Eu vou morrer e vai continuar trabalho por fazer”.

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Estimativa aponta para quatro mil cidadãos com deficiências Com base do Censos de 2001, o Gabinete de Acção Social da Câmara do Marco de Canaveses fez um diagnóstico que refere a existência de 2 053 cidadãos com deficiência. Cerca de metade desse número são pessoas com deficiência motora e invisuais. A outra metade refere-se a situações de surdez, paralisia cerebral, deficiências cognitivas e diminuição intelectual ou outras deficiências não especificadas. No entanto, tendo em conta os 55 mil habitantes do Marco de Canaveses, e a estimativa europeia de que 10 por cento da população possui alguma deficiência, prevê-se que o número real ascenda a quatro mil cidadãos com deficiência. “Porque há pessoas que não identificam (por medo ou por outras causas), também há pessoas que vivem escondidas… enfim, há inúmeras razões que levam a que esses casos não estejam referenciados”, explicou o provedor.


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paços de ferreira

Ninguém sabe de nada Drama alimentar surpreende instituições de Paços de Ferreira Carlos Alexandre | calexandre.tamegapress@gmail.com

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reportagem do Repórter do Marão (RM) sobre as pessoas que diariamente enganam a fome nos contentores do Lidl de Paços de Ferreira causou surpresa nas instituições do concelho. Ninguém sabe de nada e quem podia falar não o fez por não ter autorização. No último número, o RM denunciou o drama alimentar envolvendo várias pessoas no concelho de Paços de Ferreira, que todas as noites procuram no Lidl alimentos deitados no lixo ou fora de validade, e relatou duas histórias de vida marcadas por mil dificuldades e poucas ou nenhumas ajudas.

Desconhecimento total | A situação relatada repete-se, ao que parece, há vários anos, mas as instituições do concelho ou os seus representantes disseram nada saber sobre isso. Contactado pelo RM, o edil pacense Pedro Pinto mostrou-se “surpreendido” com a situação e, após contactar os serviços da autarquia,

garantiu que “ninguém acorreu à Câmara a relatar qualquer situação do género”. “Não temos conhecimento de nada. Para este género de casos existe uma rede integrada, que atende cada caso consoante a freguesia a que se refere”, disse Pedro Pinto ao RM, acrescentando que o caso respeita a Paços de Ferreira, com o atendimento social integrado a competir à Segurança Social. Aí chegados, foi-nos dito que qualquer tipo de apoio, nomeadamente o Rendimento Social de Inserção, depende da avaliação do processo por uma técnica da acção social, tendo em conta factores como os rendimentos dos interessados ou a sua situação laboral. Burocracias a mais | Para ajudas alimentares, acrescentou o funcionário, teríamos de nos deslocar ao Serviço da Acção Social, adstrito à Segurança Social, na porta ao lado. A informação oficial aí prestada remetia-nos para o Gabinete de Relações Públicas, no Cen-

tro Distrital do Porto da Segurança Social, que, por sua vez, caso assim entendesse, solicitaria informações ao Serviço de Paços de Ferreira. Tentámos contornar a burocracia e contactámos algumas associações que integram a rede integrada de apoio, como a Associação para a Promoção das Classes Sociais Menos Favorecidas, vulgo Paços 2000. A assistente social Berta Silva mostrou interesse na situação e não fechou a porta a ajudas alimentares, assim elas sejam solicitadas, mas lembrou que o atendimento social da instituição é prestado nas freguesias de Modelos e Seroa e que o caso destas pessoas, maioritariamente do Barreiro, Paços de Ferreira, é da competência da Segurança Social. Num derradeiro esforço, procurámos respostas na Misericórdia de Paços de Ferreira, mas as técnicas ouvidas pelo RM remeteram qualquer posição oficial da instituição para o provedor, que não foi possível contactar, devido ao falecimento de um familiar.


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outras terras

Jangada faz teatro há 10 anos Companhia de Lousada estreia “Angústia” em Novembro Redacção | tamegapress@gmail.com

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próxima produção da Jangada teatro chama-se “Angústia”, tem estreia marcada para Novembro, e assinala o início das comemorações do décimo aniversário da companhia profissional que está sedeada em Lousada desde Setembro de 1999. O espectáculo é uma encenação de Fernando Moreira, com interpretação de Faria Martins, Luíz Oliveira, Patrícia Ferreira, Vítor Fernandes e Xico Alves. A celebração prolonga-se até Outubro de 2010. A sede da Jangada teatro é, desde a sua fundação, o Auditório Municipal de Lousada, onde funcionam os serviços artísticos e administrativos. A companhia de teatro residente no concelho tem na direcção artística os actores Luíz Oliveira, Faria Martins e Xico Alves. Luíz Oliveira anunciou que no próximo ano a Jangada teatro vai estrear um texto inédito de Valter Hugo Mãe, encenado por Joaquim Nicolau. Numa alusão aos dez anos de actividade, Luíz Oliveira destaca que o projecto “exige uma constante atenção à comunidade onde está inserido. Instalada fora dos grandes centros e com cariz de itinerância, a companhia tem a responsabilidade de promover o seu projecto artístico, ao mesmo tempo que desenvolve culturalmente a região”. O primeiro trabalho que a Jangada teatro apresentou ao público foi “Chamorra”, em 1999. 2001 foi um marco importante para a Jangada teatro, porque foi apresentado o espectáculo “FranCzarinas, Franco, Salazar, Mulheres & C.ª”, uma co-produção da companhia residente de Lousada e de Trancas e Barrancas, de Madrid. A peça é fruto de um original de António Torrado, que publicou em livro e o apresentou também em Lousada, numa edição da autarquia. Nota de imprensa da Câmara de Lousada, refere que numa década foram levadas à cena cerca de 30 produções em diversos registos, do drama à comédia,

destinadas a públicos também diversos. “Em mais de 800 apresentações o número de espectadores atingiu os 150 mil”. Os espectáculos apresentados são, na sua maioria, adaptações de obras consagradas de autores nacionais, com destaque para Gil Vicente, António Torrado, António Tabucchi, Sophia de Mello Breyner Andersen, Almada Negreiros, Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Valter Hugo Mãe, entre outros. Mas em várias situações foram representados textos originais escritos propositadamente para a Jangada teatro. Em 2003, a companhia de teatro lousadense apostou num espectáculo escrito e falado em mirandês. “Tiu Jouquin e a aldeia dos patudos” é uma adaptação do texto “Las cuntas de Tiu Jouquin”, de Fracisco Niebro, pseudónimo de Amadeu Ferreira, com encenação de Manuel Costa Dias.


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CHTS promove rastreio oftalmológico aos rapazes da Casa do Gaiato O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) vai realizar anualmente rastreios oftalmológicos às crianças e jovens que vivem na Casa do Gaiato de Paço de Sousa, em Penafiel. O protocolo com a Obra da Rua da Casa do Gaiato foi assinado no início desta semana durante a cerimónia que assinalou o oitavo aniversário da Unidade Hospitalar Padre Américo. Para o CHTS, a iniciativa de homenagear o patrono do Hospital Padre Américo, através da realização de rastreios oftalmológicos completos para despiste e tratamento de problemas visuais a todas as crianças da Obra da Rua do Padre Américo, é “uma forma simples mas sentida de prestar homenagem à obra de um Homem que colocou sempre o melhor de si ao serviço da comunidade”.

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Energias renováveis chegam à região do Tâmega Já abriu a loja Força Alternativa do grupo multinacional SolarProject, na Rampa Alta, em Amarante. A oitava loja da empresa em Portugal cobre os quatro concelhos da região do Tâmega - Amarante, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Baião – e tem como um dos objectivos incentivar o uso das energias renováveis. A empresa tem acordos financeiros com o Governo para aquisição dos equipamentos. Assim, os painéis solares estão à venda pelo valor protocolado de 1.641,70 euros. A dedução em sede de IRS pode ir até 796 euros. Para a aquisição dos painéis bem como outros equipamentos de energia solar existe facilidade de financiamento nomeadamente créditos ou

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Comunicado de Imprensa A RESINORTE é o novo sistema multimunicipal de triagem, recolha, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Norte Central. Este sistema foi criado, de acordo com o Decreto-Lei n.º 235/2009, de 15 de Setembro, para substituir os sistemas multimunicipais do Baixo Tâmega, Alto Tâmega e do Vale Douro Sul. A RESINORTE irá servir uma população de cerca de 1 milhão de pessoas, tratar mais de 350 mil toneladas de resíduos por ano e cobrir uma área de 8.090 km2. No passado dia 20 de Outubro de 2009, realizou-se em Celorico de Basto, na sede da Resinorte - Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A., a primeira Assembleia Geral. Esta concessionária, responsável pela exploração e gestão do sistema multimunicipal de triagem, recolha, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Norte Central até 31 de Dezembro de 2039, resultou da fusão da Rebat, Resat e Residouro e irá ainda agregar os municípios pertencentes à Associação de Municípios do Vale do Douro Norte (AMVDN) e à Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE). O novo sistema integra como utilizadores originários os municípios de Alijó, Amarante, Armamar, Baião, Boticas, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Chaves, Cinfães, Fafe, Guimarães, Lamego, Marco de Canaveses, Mesão Frio, Moimenta da Beira, Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Penedono, Peso da Régua, Resende, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Santo Tirso, São João da Pesqueira, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Trofa, Valpaços, Vila Nova de Famalicão, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Vizela. A EGF - Empresa Geral do Fomento é o accionista maioritário da nova sociedade Resinorte – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A., ficando a deter 51% do capital social. Celorico de Basto, 22 de Outubro de 2009. O Gabinete de Comunicação e Imagem

prestações até 120 meses. A empresa Força Alternativa é um franchising da empresa alemã “Solarproject”, sendo constituída pelos engenheiros Carlos Pereira e Susana Pereira e pelo director comercial José Carlos Silva.


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Politécnico de Bragança tem a força de 70 empresas com 100 trabalhadores cada Em Dezembro, depois de contabilizada a última fase de acesso, o instituto vai “passar os sete mil alunos” Helena Fidalgo | hfidalgo.tamegapress@gmail.com

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Instituto Politécnico de Bragança é o maior empregador do Nordeste Transmontano com cerca de 800 postos de trabalho entre funcionários e docentes. Em tempos de crise não parou de crescer e prepara-se para entrar em 2010 com o marco histórico de sete mil alunos. A maioria dos estudantes não é de Trás-osMontes e escolhem a região atraídos pela propina mínima, mas também pela qualidade do ensino e o acolhimento, segundo estudos de satisfação. Como fixar os diplomados que produz numa região sem indústria e alternativas de emprego é o desafio que a instituição se propõe vencer com uma estratégia direccionada para as potencialidades económicas e problemas sociais regionais. A orientação tem já reflexos nas sete empresas criadas ou em “gestação” numa “incubadora” que, em menos de dois anos, ajudou 14 ex-alunos a lançarem-se na vida activa em áreas de negócio por explorar na região. Quando tomou posse, há três anos, o presidente do IPB, Sobrinho Teixeira, tinha como meta manter os seis mil alunos nas cinco escolas do instituto, em Bragança e Mirandela. Mas enquanto o ensino superior enfrenta em geral uma perda de alunos, o politécnico de Bragança tem invertido a tendência e cresce todos os anos. Sobrinho Teixeira acredita que em Dezembro, depois de contabilizada a última fase de acesso, o politécnico de Bragança vai “passar os sete mil alunos, um marco histórico, nunca antes

alcançado”. Os novos públicos são os que mais têm contribuído para estes resultados, primeiro com a afluência dos “Maiores de 23”, depois a procura de mestrados ao abrigo do processo de Bolonha e, mais recentemente, os curso de especialização tecnológica. Segundo Sobrinho Teixeira o IPB “está a ajudar a qualificar a região e o país”, pois 65 por cento dos alunos não são de Trás-os-Montes. Cada aluno dispõe em média do ordenado mínimo para gastar na região, daí que o presidente compare a dimensão económica do politécnico a 70 fábricas com 100 trabalhadores cada. “Muito da economia está associada ao instituto e a este conjunto de pessoas”, frisou o responsável, realçando que a perda de dimensão do IPB “mergulharia a região num processo de depressão”. Garante que não trocaria um aumento do número de alunos por um reforço dos 16 milhões de euros das transferências anuais do Estado. Em 26 anos, o IPB produziu 12 mil licenciados e a oferta formativa é actualmente de 19 cursos de especialização tecnológica (CETs), 40 cursos de licenciatura e 26 cursos de mestrados, nas escolas de Saúde, Tecnologia e Gestão, Agrária, Educação e Comunicação, Administração e Turismo. Proporciona ainda um programa de internacionalização que inclui a mobilidade anual de mais de 400 estudantes e 100 docentes, fruto da colaboração com várias instituições de ensino superior europeias e dos países de língua oficial

portuguesa. Embora sem dados oficiais acerca da empregabilidade dos seus diplomados, o presidente realça que esta cooperação já permitiu colocar finalistas no mercado de trabalho em vários países europeus, nomeadamente na vizinha Espanha, onde só numa empresa de informática de Madrid estão a trabalhar 49 diplomados do politécnico de Bragança. O Instituto quer também demarcar-se a nível nacional em três frentes de investigação direccionadas para as potencialidades económicas e problemas sociais da região. Esta estratégia passa pelos três centros de investigação nas áreas das energias alternativas, produtos regionais e idosos, a trabalharem articulados com a comunidade regional, através de programa ou parcerias no desenvolvimento de projectos. Sobrinho Teixeira refere ainda que “o IPB tem dos corpos docentes mais qualificados entre os politécnicos do país”, com quase metade dos 400 docentes doutorados. A instituição é também, frequentada por mais de 200 alunos oriundos dos PALOP, um número que pretende reforçar, assim como a cooperação com instituições dos países africanos, onde está a ajudar a criar escolas de ensino superior, nomeadamente em Angola. A direcção do IPB realça o facto de ter sido distinguida, em 2007, pela Associação Europeia das Universidades como “melhor politécnico” português.


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Incubadora de empresas ampara jovens licenciados

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m estudo recente feito a nível nacional concluiu que os estudantes do politécnico de Bragança são “dos mais felizes” do país, satisfeitos com o ensino e com o acolhimento numa região onde o baixo custo de vida ainda é uma aliciante. No outro extremo e como factor “mais desfavorável” é apontada a falta de empregabilidade. Tentar vencer esta desvantagem do IPB e da própria região é também uma das metas da direcção da instituição que criou há dois anos o gabinete do empreendedorismo para dar impulso aos jovens recém licenciados na aventura do mercado de trabalho. Além de dar formação e apoio nos estágios profissionais, este organismo já ajudou a criar cinco empresas e tem mais duas em “gestação” numa “incubadora” que presta todo o suporte logistíco, inclusive instalações físicas, para o arranque do projecto profissional. O coordenador do gabinete, José Adriano Pires, confessa que ele próprio está “positivamente surpreendido” com os resultados, que envolvem 14 alunos formados nas escolas do IPB. As empresas são de diferentes áreas, desde o desporto aventura, prestação de serviços agrícolas, eficiência energética, serviços a alunos do programa Erasmus, agro-alimentar e novas tecnologias.

A primeira a sair da incubadora de empresas foi a OldCare, um projecto de prestação de serviços gerontológicos, a pensar nas necessidades da população envelhecida da região. Desde Junho que o jovem Márcio Vara, o promotor, se instalou na sede própria, em Bragança, e diz que a recepção aos novos serviços “tem sido excelente”, com clientes das zonas rurais, cidade e institucionalizados. A empresa abriu com um posto de trabalho fixo, um estágio profissional e um prestador de serviços e aposta, sobretudo em parcerias com outros organismos ligados à área. A OldCare presta assistência domiciliária a idosos, tem serviço de oldsitter, aluguer de mobiliário como camas articuladas ou cadeiras de rodas, actividade física e rastreios de saúde, cuidados de enfermagem e eliminação de barreiras arquitectónicas. Vai também disponibilizar o serviço de SOS Cliente 24 horas por dia e o “telefone companhia”, um projecto em que, ao longo do dia, a empresa vai contactando os idosos sós para saber das suas necessidade ou simplesmente para conversar. O projecto de Márcio Vara esteve entre Novembro de 2008 e Junho de 2009 no gabinete 1 da “incubadora de empresas” do IPB, com o apoio necessário para dar os primeiros passos até consegui “andar” sozinho.

‘O IPB já ajudou a criar cinco empresas e tem mais duas em ‘gestação’ numa ‘incubadora’ que presta todo o suporte logistíco’

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opinião

Gestão socialista em Amarante avaliada positivamente

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expectativa nestas eleições em Amarante era a de saber se se repetiria a bipolarização de 2001, ou se, pelo contrário, o CDS conseguiria reter parte substancial dos quase 10.000 votos que conseguiu o Movimento AmarAmarante nas eleições de 2005. - Na primeira hipótese, a disputa entre o PS e o PSD seria renhida, enquanto na segunda, a vitória do PS estaria assegurada à partida e por margem confortável. - Como sabemos, o eleitorado amarantino dividiu-se entre o PS e o PSD e, apesar do aumento dos eleitores inscritos, os votantes em 11 de Outubro último foram em menor número que em 2005. - O resultado das últimas eleições veio demonstrar que o PSD reteve a parte substancial dos eleitores que em 2005 votaram F.T., pelo que a vitória do PS tem um sabor muito especial. - Apesar de grande parte dos eleitores à sua esquerda terem votado útil no PS em 2005, o que agora se não verificou, o PS obteve aumento de votos em 30 freguesias tendo perdido vo-

tos apenas em 10. - O resultado surpreendente do PS verificou-se em S. Gonçalo, em que o PSD ganhou por 10 votos de diferença, que se deverá a factores circunstanciais ultrapassáveis e, sobretudo, à alta taxa de abstenção que se verificou nesta freguesia, que se fixou nos 40%. - Já em Mancelos, a derrota do PS tem outras explicações que seria fastidioso estar aqui a enumerar mas, sempre direi que a aceito como derrota pessoal. - Em contrapartida, o PS ganhou no norte do concelho. Foi a primeira vez que o PS ganhou para a Câmara em Freixo de Cima, Figueiró e Santa Cristina em simultâneo, freguesias estas onde perdemos em 2001 e 2005, e a ocidente, reforçou a sua votação em Real, Oliveira e Ataíde. - Em conclusão, direi que comparando os resultados das Europeias, Legislativas e Autárquicas, o eleitorado em Amarante soube distinguir muito bem a natureza e o alcance de cada uma destas eleições.

Estas eleições autárquicas provam também que o eleitorado está dividido entre o PS e o PSD. Provam ainda que a maioria do eleitorado flutuante avalia positivamente a gestão e o desempenho da Armindo Abreu Câmara SocialisPresidente CM Amarante ta e que, genericamente, soube discernir entre um programa rigoroso e exequível e a simples propaganda que, como se sabe, tenta sempre “vender” ilusões e, a maioria das vezes, valoriza a intriga e a mentira como estratégia de campanha. Mais uma vez os eleitores amarantinos mostraram grande maturidade democrática, o que é sempre digno de ser assinalado.

Porque Amarante precisa de evoluir

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o passado dia 11 de Outubro os Portugueses foram chamados a decidir sobre o futuro dos respectivos concelhos. Em Amarante o PSD aumentou significativamente a sua votação para a Câmara e Assembleia Municipal, bem como, passou a ser a maior força política no que diz respeito à liderança dos executivos nas Juntas de Freguesia. Este resultado só foi possível graças ao empenho e dedicação de um grande conjunto de pessoas que, com maior ou menor visibilidade, não quiseram deixar de participar na defesa do nosso projecto. Agradeço a todos os que, em todo o concelho, nos ajudaram a fazer desta campanha eleitoral um grande e evidente sucesso de mobilização e de união. A tendência para concentração dos votos nos dois maiores partidos foi clara, mas é também evidente que esta bipolarização só foi possível porque houve dois partidos capazes de se afirmar como fortes opções para a governação do concelho. Nem sempre assim acontece. Pela nossa parte, muito nos honra que 46% dos Amarantinos nos tenham confiado o seu voto e assumiremos a responsabilidade que resulta desta votação. Ainda assim, e porque não somos um pequeno partido, resta-nos assumir que o objectivo maior

não foi conseguido. Não ganhámos esta eleição. No nosso entendimento, este é um resultado desfavorável sobretudo para Amarante, atendendo a que presumivelmente tudo vai ficar na mesma. Durante vinte anos no poder, o Partido Socialista demonstrou uma total incapacidade de alargar a visão e planear o desenvolvimento do concelho de uma forma capaz e integrada. Nunca o Executivo Socialista conseguiu um plano de acção capaz de contemplar as diversas componentes desse mesmo desenvolvimento, no sentido de promover uma evolução sustentada num projecto global para o concelho. A estratégia acaba sempre por ser a resolução pontual dos problemas e a tentativa de satisfação, aqui e ali, deste José Luís Gaspar ou aquele anseio Vereador CM Amarante de um determi-

nado grupo de cidadãos. Como dissemos durante a campanha eleitoral, num período em que o país atravessa grandes dificuldades, as Câmaras Municipais podem ter um papel muito relevante na criação de melhores condições de vida das suas populações. Por ser esta a nossa convicção, tivemos oportunidade de apresentar aos Amarantinos as propostas que nos parecem mais adequadas à actual situação. Apresentámos propostas integradas num projecto global que visam a manutenção e criação de postos de trabalho, mas também, propostas que asseguram uma maior protecção aos mais desfavorecidos. Esperam-nos quatro anos de forte trabalho na oposição. Durante estes quatro anos saberemos olhar de perto para os problemas reais das pessoas e não abdicaremos de, no Executivo, apresentar as soluções necessárias para os resolver. Assim como não deixaremos de submeter à aprovação da Câmara todos os projectos que consideramos estruturantes para o nosso concelho. Porque Amarante precisa de evoluir, não de ficar na mesma.


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Saramago show

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semelhança do ocorrido no ano passado, com Urbano Tavares Rodrigues, a edição de 2009 do Escritaria foi dedicada à vida e obra de José Saramago. A iniciativa, de cariz estritamente literário, abarca um conjunto de intervenções artístico-didáticas estrategicamente disseminadas pela cidade e acessíveis à população. Da arte de rua, ao teatro de rua e aos inúmeros colóquios, são muitas e diversificadas as actividades que têm por objectivo suscitar o interesse pela literatura em geral e dar a conhecer com mais proximidade a obra de um autor em particular. Foi assim, neste contexto, que José Saramago, destaque da edição de 2009 do Escritaria, quis apresentar publicamente o seu mais recente livro em Portugal. Quando convidou José Saramago para participar no “Escritaria” a organização do evento não colocou ao nobilizado escritor nenhuma condição relativamente ao teor das intervenções que viesse a proferir. Muito menos quanto à análise, interpretação e motivações teleológicas da sua mais recente produção literária, “Caim”. Para a organização do Escritaria o escritor e a sua obra não se confundem com as suas convicções políticas e religiosas. O que aconteceu a seguir já todos sabemos.

Abriu todos os noticiários das televisões e encheu páginas e páginas de jornais. Para uns tratou-se apenas de uma bem ensaiada e bem sucedida manobra de marketing. Para outros uma manifestação coerente da visão de Saramago sobre as religiões. Dizer que a Bíblia “…é um catálogo de maus costumes, de horrores, de crueldade, do pior da natureza humana, um puro e dramático absurdo sem o qual a humanidade hoje viveria melhor”, parece, de facto, algo manifestamente excessivo. Até porque, ao contrário do que sugere Saramago, o homem não é mau por causa da Bíblia. A Bíblia pretende antes tornar o homem um pouco melhor. Não vou entrar Antonino de Sousa em questões teoVereador CM Penafiel lógicas. Essas têm

sido amplamente discutidas nos últimos dias. Acho até que foram demasiado discutidas. José Saramago é prémio Nobel da Literatura. Não é prémio Nobel de “análise e interpretação bíblica”. A opinião de José Saramago sobre a Bíblia não deve significar mais do que a opinião de um ateu convicto e um anti-clerical assumido. Li, de resto, em vários locais que Saramago tem o direito de dizer os disparates que quiser sobre Deus, as religiões e a Bíblia. Pois claro que tem. Somos um país livre, democrático e tolerante. E, felizmente, não li em lado nenhum que Saramago devia ser amordaçado. O mesmo não sucederia se vivêssemos sob o comunismo, doutrina que Saramago serve e que provocou mais de cem milhões de mortos às mãos dos seus sequazes. Mas, de tudo quanto vi e ouvi, a propósito do SaramagoShow, as declarações que mais de impressionaram foram as do Rabino da Sinagoga de Lisboa, Share Tikvá, que disse mais ou menos o seguinte: “Quando somos um povo perseguido ao longo dos anos e morto em massa, por acreditarmos nesse Livro, e perseguidos por pessoas que conheciam bem melhor a Bíblia que José Saramago, as declarações que fez são para nós irrelevantes.» antoninodesousa@gmail.com

O olhar sobre o mundo de uma operadora de caixa

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rabalhar num call-center, em telemarketing; num supermercado ou num centro comercial é uma das rotas obrigatórias para licenciados sem horizonte profissional correspondente às suas habilitações. Uma licenciada de 28 anos resolveu contar a sua experiência de 8 anos em grandes superfícies (primeiro para pagar os estudos depois, por falta de emprego na sua especialidade, para ter alguma independência financeira). O resultado é um livro original, cáustico, desassombrado, heterodoxo: “Atribulações de uma operadora de caixa”, por Anna Sam, Espuma dos Dias/Gradiva, 2009. Original, porquê? Os frequentadores das grandes superfícies passam obrigatoriamente pela caixa, espaço de uma comunicação singular em que se ouvem os bips do leitor óptico e onde aparecem clientes ricos e pobres, complexados e arrogantes, fáceis e difíceis, gente que tenta o engate ou que se vinga a insultar a operadora de caixa, reagindo não sabe bem a quê. Essas pessoas somos nós, frequentamos um desses nãolugares (espaço que, como um aeroporto ou uma estação ferroviária, nos permite obter bens ou serviços sem criar vínculos de relação), não nos interrogamos sobre a pessoa a quem pagamos o que adquirimos, o que queremos é que ela nos despache. Na maior parte dos casos abordamos a operadora para saber se está aberta, se tem sacos ou se pode pagar em multibanco. Fazemos perguntas com carácter de urgência, às vezes de um modo agressivo mas também em tom enervante. Cáustico, porquê? A operadora é forçada a prestar atenção à nossa passagem pela caixa. Ela sabe que tem uniforme, de acordo com os padrões da empresa. Atende centenas de clientes por dia, quando parte o último cliente, ela limpa o posto de trabalho, faz a caixa, descobre que há falha de cêntimos, reconta

tudo e então pode partir. É-se operadora de caixa e durante a entrevista de admissão fazem-lhe perguntas inspiradas tais como: “Porque deseja de trabalhar connosco?”, “Que experiência tem?”. À parte as respostas heróicas, haveria respostas sinceras que são pouco aconselháveis, do género: “Como não há emprego compatível com as minhas habilitações e preciso de arranjar um trabalho para me sustentar...”. Ser operadora de caixa é um emprego massificado: há às dezenas de milhar por todo o país, registam-se até 20 artigos por minuto, passam por ali toneladas de artigos, e quem tem capacidade de sorrir até pode dizer “Bom dia” ou “Até à próxima”. O salário é baixo mas a profissão é exaltante: o cliente pode atender o telemóvel enquanto está a pagar, casos há em que se passam as horas de trabalho a ouvir anúncios de promoções, na época de Natal ouve-se o suficiente para não querer ter música em casa, há clientes astuciosos que estão à espera da mulher e dos filhos, na caixa percebe-se o carácter de muita gente quando vão comprar papel higiénico, preservativos ou o DVD pornográfico. A caixa é de facto um mundo: gente a desabafar, gente em cólera, gente que fala alto, gente que procura humilhar... Desassombrado, porquê? Porque o original e o cáustico não escondem a verdade do que é a vida de operadora de caixa: a reposicionar e fazer ginástica, modelando o corpo e mantendo os seios mais firmes, sempre que necessário a correr para encontrar uma cadeira, vendo as contingências do mundo daqueles que roubam, daqueles que discutem, ouvindo os ralhetes dos chefes que querem deixar uma imagem pública sobre a sua liderança, recebendo convites de cavalheiros ousados, etc. e tal. Heterodoxo, porquê? Porque se pode tossir sobre a

operadora de caixa, pedir para ficar a dever 10 cêntimos, olhá-la com comiseração quando não há bip e é preciso chamar uma colega para dar o código de barras. E quando se entornam produtos na passadeira, bem peganhentos, por sinal? E os clientes em- Beja Santos briagados, falha- Assessor Inst. Consumidor dos, insultuosos? E o primeiro dia de saldos, as promoções de queijos e do material escolar? E, acima de tudo, o doce e ternurento Natal em que a operadora vê desfilar as coisas mais inúteis do mundo, sem poder abrir a boca? Até que um dia chega a libertação, encontrou-se um emprego compatível com os estudos feitos, com os sonhos que não esmoreceram. Parece um dia igual aos outros, mas não é. Sai-se dali sem vontade de regressar, mesmo com boas recordações dos colegas que nos fizeram rir durante 8 anos de caixa, ali também se fazem verdadeiras amizades, porque ali, a despeito de muita desumanização e da amostra viva da insipidez da nossa contemporaneidade, continua a haver sangue humano e vontade de saltar para o outro lado do mundo. Por todas essas razões, e porque a maior parte dos jovens nem fazem parte da geração dos 1000 euros, vale a pena saber pelo que passa uma operadora de caixa.


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desporto

Marisa Barros sonha chegar às medalhas Melhor maratonista portuguesa da actualidade define objectivos

Carlos Alexandre | calexandre.tamegapress@gmail.com

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atleta pacense Marisa Barros reconheceu ao Repórter do Marão (RM) que correr uma maratona marcou o início e não o fim da carreira, como suspeitava antes de experimentar uma especialidade onde legitimamente já sonha conquistar medalhas. A maratonista de Sanfins de Ferreira participou até ao momento em quatro corridas, incluindo duas grandes competições (Jogos Olímpicos e Campeonato do Mundo), e já é a melhor portuguesa da actualidade e a terceira de sempre, atrás das medalhadas Rosa Mota (2: 23.29 horas – recorde nacional) e Manuela Machado (2:25.09), já retiradas da competição. “Sempre tive o sonho de um dia treinar para fazer uma maratona, mas, com a vida que tinha, pensava que isso só ia acontecer no final da minha carreira. Pelos vistos, acabou por marcar, digamos assim, o seu início”, disse a atleta ao RM. Treinador foi decisivo | Marisa, 29 anos, está reconhecida ao seu treinador, António Ascensão, a pessoa – diz – que mais acreditou nas suas potencialidades: “Foi ele que me incentivou a fazer atletismo a tempo inteiro. Ele vivia dizendo que eu tinha alma de maratonista, numa altu-

ra em que não ia além das mini maratonas, o que me fazia rir e chamar-lhe maluco”. O tempo encarregou-se de dar razão ao treinador, a começar pelos mínimos para os Jogos Olímpicos (JO) de Pequim 2008, cuja prova concluiu em 32.º lugar, conseguidos na sua estreia, na Maratona do Porto, que venceu com 2:31.31 horas, um minuto menos do que o registo exigido. Sempre em crescendo | Em Pequim, Marisa foi a melhor das três atletas lusas presentes na maratona feminina, mas as dúvidas do seleccionador nacional (João Campos) só ficaram completamente dissipadas quando em 2009 venceu a Maratona de Sevilha, com 2:26.03 horas, um registo que lhe garantiu os mínimos para os Mundiais de Atletismo, em Berlim, Alemanha, onde foi a melhor europeia no sexto lugar (2:26,50). “Com estes resultados, já fui seleccionada para provas que não são a minha especialidade, como os 10.000 metros pista para a Taça da Europa, que Portugal venceu colectivamente, ou os 10 mil estrada dos Jogos da Lusofonia, onde fui segunda”, contou.

A soma destes resultados fizeram-na “saltar algumas etapas”, até ao escalão “Finalista”, o segundo mais alto a seguir ao que está reservado aos medalhados, o seu próximo objectivo, mas que lhe garante bolsa mensal, direito a estágios e apoio médico, benefícios suportados pela Federação Internacional de Atletismo (IAFF). Medalhas nos Europeus | “Sou profissional há apenas três anos, financeiramente não me posso queixar, e consigo treinar melhor. Fica mais fácil fazer bons resultados, mas a cobrança também é maior”, sublinhou Marisa Barros, sem esconder que agora já admite sonhar com outros resultados. O sexto lugar nos mundiais, para quem apontava terminar nas 16 primeiras, “superou as expectativas”. O Europeu de Agosto será “outra oportunidade para ‘crescer’ ainda mais e tentar chegar às medalhas”. A atleta da SportZone Running Team faz, no entanto, notar a particularidade do seu percurso, construído no sentido inverso ao habitual: “Costumo dizer que comecei a casa pelo telhado, indo primeiro aos Jogos Olímpicos, seguindo-se os Mundiais e, em Agosto, os Europeus”.


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Curiosidades e um ou outro segredo

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RM desafiou a maratonista, que em pequena queria ser professora, a revelar alguns segredos e ficou a conhecer ainda algumas curiosidades sobre a atleta. Por exemplo, hoje Marisa já é reconhecida e tratada pelo nome, ao contrário do que sucedia, por exemplo, entre as os mais novos, a quem, pelos vistos, era habitual ouvir-se: “Olha, lá vai a Vanessa”. Ou, então, “a Rosa Mota”. Tácticas. Antes das corridas, não costuma ver o currículo das adversárias, nem decora os seus nomes. Marisa alega que não pretende ficar condicionada: “À partida, estamos todas para o mesmo e a ignorância, por vezes, dá vantagem. No fim, sim, costumo analisar a minha prestação à luz do currículo das adversárias”. “Cegueira”. 42, 195 km a correr, pelos vistos, não deixam margem para grandes distracções. Para Marisa, a concentração é absoluta, garantindo que se ouve, mas não se vê… o que se passa para lá do percurso. E exemplifica: “Numa prova recente no Porto, passei mesmo ao lado de uma banda de música e de palhaços, mas só me dei conta quando vi, depois, as ima-

gens na televisão”. Referências. Não tem ídolos, mas referências e a maior é Rosa Mota, curiosamente a atleta que lhe entregou o prémio referente à primeira vitória no atletismo, no caso uma prova de corta-mato escolar. Marisa frequentava o ensino preparatório em Freamunde e Rosa Mota acabara de vencer o ouro olímpico. Sem “muros”. Na gíria dos maratonistas, diz-se que as maiores dificuldades são sentidas ao quilómetro 30, mas Marisa discorda: “No Porto, o muro de dificuldades foi a partir dos 30; em Pequim, não senti nada; em Sevilha aconteceu antes dos 30 e nos Mundiais, na Alemanha, sofri mais no derradeiro quilómetro”. Pelas estradas do concelho. Marisa treina preferencialmente no Porto e em Guimarães, mas conhece como poucos as estradas de Paços de Ferreira. Devido às obras na rede viária, que lhe chegaram a provocar (pequenas) lesões, desabituou-se de ir à sede do concelho, limitando mais os treinos a Eiriz, Meixomil, Carvalhosa ou Lamoso. Mas conhece os caminhos, as deficiências no pavimento e os montes à volta como a palma das suas mãos.

Carreira começou numa escola de Freamunde Começou a correr na Escola Preparatória de Freamunde. A primeira experiência no corta-mato escolar valeu-lhe o 1.º lugar; no ano a seguir foi segunda, atrás de uma atleta federada. Marisa continuou a correr nos Leões da Citânia, onde venceu várias provas populares no seu escalão (Infantis 2.º ano), mas para convencer a mãe teve de levar o irmão mais velho. Os êxitos, sobretudo nas distâncias curtas (800 e 1500 metros), continuaram e, em 1995, ingressou no Futebol Clube de Vizela, um clube nacional onde começou a participar nos regionais e nacionais. As primeiras marcas acabaram por aparecer, assim como a participação nas selecções nacionais jovens. Em 2000, trocou Vizela por Braga, onde permaneceu sete temporadas e ascendeu aos seniores, mas o salto qualitativo deu-se apenas na última época que representou a formação minhota (2006/07), quando trocou a treinadora Sameiro Araújo por António Ascensão. As melhorias verificadas também têm que ver com o estatuto de profissional (Agosto 2007), coincidente com a transferência por uma época para a “Açoriana Seguros”, antes de rumar à SportZone Running Team, clube que representa pelo segundo ano consecutivo. Para trás ficava a empregada de snack-bar que treinava após o horário normal de trabalho, num ritmo “esgotante” e pouco dado a resultados desportivos: “Saía de Paços para trabalhar em Braga, onde podia ou não correr, e, só depois do trabalho, ia treinar ao Porto, regressando, depois, a Paços para dormir”.


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fashion

Pormenores fazem toda a diferença Malas, brincos e pulseiras no top das preferências dos acessórios femininos Iva Soares | ivasoares.tamegapress@gmail.com

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A construção de uma imagem cuidada já é uma preocupação dos homens, facto que a lojista realçou quando caracterizou os clientes mais assíduos.

uma altura em que remodelar o guarda-roupa pode ser uma tarefa complicada dada a conjuntura económica, nada melhor que recorrer aos acessórios para dar uma nova “vida” aos modelos lá de casa. Para tentarmos perceber a importância dos acessórios na moda actual, o Repórter do Marão procurou lojas da especialidade. Em conversa com Maria Borges, lojista, ficamos a saber que muitas pessoas procuram os acessórios como objectos indispensáveis para a toilette. Procuram sempre as tendências da estação quer nas formas, materiais que são utilizados, quer mesmo pelas cores para conjugarem com as peças de roupa que têm. No top das preferências encontram-se as malas e carteiras, seguidos dos brincos e pulseiras. No entanto, nesta altura do ano destaca-se a procura pelos lenços, cachecóis e até mesmo guarda-chuvas. Um dado curioso que Maria Borges nos indicou é a procura pelos guarda-chuvas pequenos e de cores neutras para serem conjugados com a maioria

das roupas. No tempo que o RM permaneceu na loja, constatamos uma maior afluência de jovens e senhoras ao espaço comercial, muito embora comecem a surgir homens a procurar estes artigos, adiantou a lojista. A construção de uma imagem cuidada já é uma preocupação dos homens, facto que a lojista realçou quando caracterizou os clientes mais assíduos da loja. Facto a salientar em tempo de crise é que não houve decréscimo na procura destes artigos com o agravar da situação económica. Maria Borges disse ao RM que no que diz respeito ao vestuário (também comercializado naquele estabelecimento) notou-se uma diminuição na venda de artigos, ao contrário dos acessórios, em que a loja até aumentou a receita. Com isto, podemos afirmar que o cuidado com a imagem é cada vez maior, o que desde logo se percebe quando se entra num espaço comercial deste género. Os acessórios ganham força ao contribuirem para a renovação da aparência pessoal.


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crónica|eventos

“Gastronomia da Rota dos Móveis” António Mota

Cândida e Alexandre Estou? És tu, Alexandre? Sou eu, a Cândida. Porque é que estavas sempre a rejeitar-me as chamadas? Alexandre, li a tua mensagem e não gostei nada do que lá dizes. Escuta, escuta…Não comeces, Alexandre, que não vale a pena. Conheço -te como as minhas mãos, Alexandre. Ou pensas que sou alguma ovelha zarolha que anda aqui a pastar? Alexandre, enchi o saco, já não aguento mais, agora vais ter de me ouvir até ao fim, e prepara-te que tenho uma surpresa para ti. Lembra-te, Alexandre, fui eu que te criei. Estás farto de saber isso. Eu tinha dez anos quando tu nasceste. Quem te criou fui eu, quem te deu os biberões de leite fui eu. Quem te deu a mão para dares os primeiros passos fui eu. Quem te ensinou a falar fui eu. Claro que não sou a tua mãe, nem quero. Sou a tua irmã mais velha e ponto final. Escuta, Alexandre, temos de resolver este problema. Nós é que somos os filhos. Sim, somos três irmãos, mas a Anita não pode entrar nestas contas. Não podemos contar com ela. Coitadinha, hoje acabou de lhe cair o resto do cabelo. Nem sei o que parece, vê-la assim, sem o peito e sem cabelo, maldita doença que havia de vir ao mundo. Agora anda com um lenço na cabeça, e diz que tem sono e muitos enjoos. Ela não me disse nada, mas eu bem vi que ela sente a tua falta. Nunca apareceste, não falaste com ela. Não sejas cobarde, Alexandre. Quem é que gosta de entrar em hospitais? Ninguém! Mas não é fugindo que as coisas se resolvem. Não venhas com a tanga do patrão. O dia tem vinte e quatro horas, não me digas que não tens um tempo para dares um bocadinho de atenção à Anita. Ela foi tão tua amiga, Alexandre. Quem é que te fazia os trabalhos de casa? Quem é que assinava os testes quando vinham com negativa? Quem é que te dava dinheiro para comprares cigarros? Tu, por seres o mais novo, sempre tiveste mimos de toda gente. Até do nosso pai, babado por ter um filho, um macho na família. Cresceste a pensar que tens só direitos, obrigações

é palavra que não conheces. E que conversa é essa de dizeres que agora não te dá jeito. Nunca te deu jeito, nunca! Ficava admirada, se mandasses uma mensagem a dizer que estavas de acordo, que agora te dava jeito. Não, nunca te dá jeito, Alexandre. Não podes porque a tua mulher está com enxaquecas; não podes porque tens de ir trabalhar não sei para onde, não podes porque já não tens trabalho; não podes porque o carro está a precisar de ir à oficina, não podes porque chove, não podes porque está sol. Escuta, Alexandre. Ouve com muita atenção o que te vou dizer. O meu Inácio tem sido um santo. O teu cunhado Inácio tem tido uma paciência de santo. Tem ajudado muito. Mas tudo tem limites. E ele disseme, Cândida tem lá santa paciência, mas chegou a vez do teu irmão. E eu acho bem. Enquanto a Anita podia, dividíamos o mal pelas duas. Mas agora ela não pode e eu também não posso, tenho dores na coluna. Há três anos que andamos com esta conversa mole, há três anos que nada se resolve. E para não inventares desculpas, como é costume, tenho uma surpresa para ti: o Inácio deve estar a bater-te à porta para te entregar o nosso pai. Tomas conta dele durante um mês. anttoniomotta@gmail.com

Não podes porque a tua mulher está com enxaquecas; não podes porque tens de ir trabalhar não sei para onde, não podes porque já não tens trabalho; não podes porque o carro está a precisar de ir à oficina, não podes porque chove, não podes porque está sol.

Nos fins-de-semana de Novembro, o Município de Paredes organiza a quarta edição da iniciativa “À Descoberta da Gastronomia da Rota dos Móveis” para promover os restaurantes locais e divulgar os produtos da região, em particular, os vinhos verdes. Na edição anterior, num workshop realizado com os restaurantes aderentes, Chakall – cozinheiro prestigiado - desenvolveu em conjunto o “Prato Típico Gourmet de Paredes”. O objectivo era desenvolver um prato de carne com produtos locais que pudesse ser confeccionado pelos restaurantes aderentes, funcionando como prato turístico. O consenso na elaboração de uma ementa turística do concelho de Paredes foi conseguido com o prato “Lombinho de Porco à Paredes” e uma sobremesa à base de castanhas, nozes e mel com gelado de baunilha, com o nome “Sabores de Paredes”. Tal como nas edições anteriores, no fim-de-semana de S. Martinho a Adega Cooperativa de Paredes oferecerá vinho novo aos 13 restaurantes aderentes.

Depeche Mode “esgota” Pavilhão Atlântico

Gilberto Gil regressa a Portugal

Lotação esgotada há mais de um mês para ver Depeche Mode no Pavilhão Atlântico. Os ingleses Depeche Mode regressam a 14 de Novembro ao Pavilhão Atlântico, em Lisboa, com Tour of the Universe. Os bilhetes para o espectáculo esgotaram em poucos dias e prevê-se uma noite memorável. No alinhamento do concerto, prometem recordar temas antigos como Walking in my Shoes, A Question of Time, Strangelove, Personal Jesus (1989), Stripped (1986), ao lado dos mais recentes Peace e Wrong, do álbum Sounds of the Universe (2009).

Dia 8 de Novembro Gilberto Gil, Jaques Morelenbaum e Bem Gil juntam-se na Casa da Música para um espectáculo inédito no nosso país. Os ingressos já estão à venda nos locais habituais, bem como no local do evento. Há muito que estes músicos sonhavam com a oportunidade de criarem um espectáculo juntos. A cumplicidade que experimentaram em 2005, quando se apresentaram em França e Itália com grandes orquestras, só veio reforçar esse desejo antigo. Os dois artistas juntam-se a um convidado especial, o guitarrista Bem Gil, que os acompanha num espectáculo que promete ser “único e mágico”.

O’queStrada em Paredes O ciclo de conversas-concerto “Conta-me Histórias” prossegue no próximo dia 6 Novembro, às 22h00, no Auditório da Casa da Cultura de Paredes com os O’queStrada, a banda de Almada que combina uma diversidade de ritmos e instrumentos numa fusão de estilos bem-disposta e descontraída. Ao longo de uma hora e meia de espectáculo a banda sensação da música portuguesa, O’queStrada, vai revelar alguns segredos sobre as suas composições e do processo de criação das mesmas.


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sabores & aromas de baco

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Baião faz espumante de vinho verde É a aposta dos produtores para a internacionalização Desde o ano 2000 que a aposta no vinho verde espumante tem sido uma realidade. Actualmente, muitas são as marcas que apostaram no conceito Espumante na Região Demarcada do Vinho Verde (RDVV). No concelho de Baião, os produtores de Vinho Verde têm vindo a investir claramente no conceito Espumante uma vez que defendem ser uma variante do Vinho Verde muito apreciada pelos visitantes e demais apreciadores dos espumante. Numa espécie de moda, dado o investimento nos vinhos espumantes de variadíssimas cooperativas nacionais, os produtores deste concelho apostam no acabamento do Espumante como “segredo” para potenciar a qualidade deste vinho. As técnicas de produção “francesas” ou “clássicas” são utilizadas pelos produtores de cá, um investimento que têm feito ao longo dos anos para que o espumante da seleccionada casta Avesso seja já uma referência na carta dos vinhos. Ainda mais recentemente, a aposta na selecção da casta Estival tem sido evidente, um desafio claro para os enólogos da região de Baião que ambicionam produzir novas variantes do Espumante da região. Na região de Baião existem alguns produtores de Vinho Verde Espumante de casta Avesso – exclusiva desta região – como são o caso da Quinta de Beiredos e da Quinta do Ferro, além da casta Estival, produzida pela Casa das Hortas. Nestes três casos, o valor do espumante oscila mediante a marca e a categoria do vinho – bruto, seco e meio-seco. Os produtos podem ser adquiridos nas próprias quintas dos produtores acima referidos, bem como em lojas da especialidade em todo o país. Em alguns dos casos pode ser conseguidos no estrangeiro visto que há produtores que exportam, como é exemplo a Quinta do Ferro. Iva Soares | ivasoares.tamegapress@gmail.com

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património

Museu do Douro Espaço de homenagem ao Homem, construtor da paisagem vinhateira Paula Costa | p.costa.tamegapress@gmail.com

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m Dezembro de 2008, sete anos depois da Região Demarcada do Douro ter sido classificada pela UNESCO como Património Mundial, foi inaugurada no Peso da Régua a sede do Museu do Douro. Instalado num “lugar simbólico”, o edifício onde durante mais de um século funcionou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que o Ministério da Cultura comprou em 2004 por mais de 1 milhão de euros, fez que a antiga Casa da Companhia tenha renascido “para voltar a servir a região duriense, mas com uma nova vocação, desta vez, turístico-cultural”. Espaço de homenagem ao Homem, construtor da paisagem vinhateira, o Museu do Douro é o primeiro museu de território construído em Portugal, funcionando com uma estrutura que tem sede na Régua e vários núcleos espalhados pela Região Demarcada do Douro. Na procura de um “devir auspicioso” o Museu do Douro assumiu o amplo papel de “registar, estudar e actuar no tecido extremamente complexo, que é a Região Demarcada do Douro”. O director, Fernando Maia Pinto, explica que o “próprio princípio de Museu de Território exige uma permanente adaptabilidade a todas as circunstâncias e factos que interagem na Região”. A criação de um conjunto de “núcleos do Museu do Douro nos municípios da Região Demarcada”, para dar a cada um deles “uma especificidade” é um contributo “para a coesão que, quer a nível interno como externo, é vital para a afirmação da marca ‘Douro’”, afirma o arquitecto

Maia Pinto. O responsável salienta que ao “divulgar as figuras, poetas, enólogos, pintores… estamos, para além da coesão, a promover o orgulho” e a valorização do património. O Museu do Imaginário do Douro (MIDU) é o primeiro pólo museológico associado à rede do Museu do Douro. Sediado no edifício da antiga Escola Macedo Pinto, imóvel do século XIX recuperado pela câmara de Tabuaço, o MIDU “tem já em projecto a instalação do Centro de Estudos do Património Imaterial Duriense, que terá como objectivo a recolha e investigação do património local. Com abertura prevista para 2010, o próximo núcleo vai ser dedicado aos “saberes e artefactos intimamente relacionados com o pão e o vinho Moscatel de Favaios”, em Alijó. Passados dez meses da abertura do Museu do Douro, a exposição inaugural “Barão de Forrester, Razão e Sentimento: Uma história do Douro”, foi visitada até momento por quase 30 mil pessoas. A próxima exposição, “Rios Douro”, está a ser preparada e tem inauguração agendada para 14 Dezembro. A entrada no Museu do Douro faz-se através de um bilhete geral que custa cinco euros e dá acesso à exposição temporária e à exposição permanente. Maiores de 65 anos, Amigos do Museu do Douro e estudantes (entre os 12 e os 25 anos) pagam 2,5 euros. Grupos organizados (com mais de 10 membros) pagam quatro euros por pessoa e as crianças até 12 anos têm entrada gratuita. O museu está aberto ao público das 10h00 às 18h00, de terça-feira a domingo.


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cartoon | nós

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Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos] Fundado em 1984 Quinzenário Regional • Registo/Título: ERC 109 918 Depósito Legal: 26663/89 Redacção: Rua Manuel Pereira Soares, 81 - 2º, Sala 23 Apartado 200 4630-296 MARCO DE CANAVESES Telef. 910 536 928 - Fax: 255 523 202 E-mail: tamegapress@gmail.com Director: Jorge Sousa (C.P. 1689), Director adjunto: Alexandre Panda (C.P. 8276) Sub-director: António Orlando (C.P. 3057) Redacção e colaboradores: Alexandre Panda, António Orlando, Jorge Sousa, Alcino Oliveira (C.P. 4286), Paula Costa (C.P. 4670), Liliana Leandro (C.P. 8592), Paula Lima (C.P. 6019), Carlos Alexandre (C.P. 2950), Helena Carvalho. Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota Colunistas: Alberto Santos, José Luís Carneiro, José Carlos Pereira, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino de Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro. Colaboração/Outsourcing: Media Marco (Vitor Almeida, Sandra Teixeira), Baião Repórter/Marão Online (Jorge Sousa, Marta Sousa) Promoção Comercial, Relações Públicas e Publireportagem: Iva Soares - Telef. 910 536 928 publicidade.tamegapress@gmail.com Propriedade e Edição: Tâmegapress - Comunicação e Multimédia, Lda. NIPC: 508920450 Sede: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 - Apartado 4 4630-279 MARCO DE CANAVESES Partes sociais superiores a 10% do capital: António Martinho Barbosa Gomes Coutinho, Jorge Manuel Soares de Sousa.

Cap. Social: 80.000 Euros Impressão: Multiponto - Baltar Tiragem desta edição: 25.000 exemplares

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2009



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