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* Esta edição foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico *
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Nº 1240 | Ano 26 | Quinzenário | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | | Edição:Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | 910 536 928
do Tâmega e Sousa ao Nordeste
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Desertificação em Trás-os-Montes | “Os novos puseram-
Aldeias cada vez Paula Lima | plima.tamegapress@gmail.com | Fotos | P.L.
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desertificação é a grande ameaça que paira sobre as aldeias transmontanas. Em Montes contam-se pelos dedos das mãos os que ali continuam a viver, entre as casas em ruínas e encostas íngremes do Marão. Ainda há os que procuram o sossego e decidem ir viver para a serra e, pelo meio, muitas juntas tentam manter as aldeias vivas e oferecem subsídios para bebés que por ali nasçam. É preciso domar uma estrada estreita, quase escondida entre a vegetação densa, para chegar à aldeia de Montes, na encosta da serra do Marão, em Vila Real. Três idosos conversam sentados numas escadas. Joaquina e Manuel Albino Ferreira abrem os rostos num sorriso rasgado, mas a tia Rosa lança um olhar desconfiado e vai embora. Não gosta de ver estranhos e nem responde à pergunta: ”Quantas pessoas vivem aqui?” Costumam ser cinco. Agora mais dois com a chegada de Joaquina e Manuel, com 76 anos, que todos os verões regressam à terra Natal para passar as férias. O casal emigrou há mais de 40 anos para França, onde vivem os quatro filhos e os sete netos. Os invernos são passados no conforto do apartamento francês, muito mais quente que a casa de Montes, onde o rigor e o frio da serra complicam a vida do dia a dia.
“Lá estamos fechados no apartamento, aqui os ares são melhores, podemos passear à vontade e ainda temos as hortas para cuidar”, afirmou ao Repórter do Marão Manuel Albino Ferreira. Já não eram novos quando resolveram partir à procura de melhores condições de vida, porque na aldeia transmontana “não havia onde ganhar dinheiro”. Na memória permanecem muitas recordações dos tempos em que a aldeia era viva, em que os “barracos” estavam cheios de gente, em que as crianças gritavam pelas ruas e as mais de mil cabeças de gado atravessavam os campos. “Primeiro havia muita borga. Rapazes e raparigas, músicas e bailaricos. Depois os novos puseram-se no mundo e os mais velhos passaram para o outro lado”, referiu o idoso.
| Idosos recordam vida comunitária | Agora, muitas das antigas casas de xisto estão em ruínas e outras apenas abrem as portas aos fins de semana ou nas férias. Joaquina nunca foi à escola nem aprendeu a ler. Passou a infância tal como muitos dos meninos da sua idade a trabalhar no campo ou a cuidar do gado. “No verão dois pastores tomavam conta de todos os rebanhos da aldeia, para que o resto das pessoas pu-
dessem granjear as terras”, contou. Ao lado, Manuel acrescentou: “chegamos a juntar 1300 cabeças de gado”. “Era bonito de se ver. De manhã alguém gritava ‘soltem o gado’. Os currais abriam-se, juntava-se tudo e à noite, no regresso, cada rebanho sabia exatamente qual era a sua casa”, referiu o septuagenário. Segundo Joaquina, todas as terras à volta da aldeia estavam trabalhadas e de lá tirava-se praticamente tudo aquilo que se comia em casa, desde as batatas, os feijões, o milho ou o centeio. A vida em Montes não foi fácil, mas chegar a França também não. Da primeira vez que tentou passar clandestinamente a fronteira, Manuel Albino Ferreira foi preso. Só à segunda é que conseguiu e depois acabou por passar 30 anos a trabalhar na mesma leitaria. A tia Rosa regressa mais tarde, aproximando-se devagar como quem quer ouvir a conversa com o casal de emigrantes. Pouco depois a boca abre-se num chorrilho de histórias sobre lobos, javalis, sobre as idas à escola a pé até Cotorinho e sobre as reguadas dadas pela professora “sem alma” que lhe atormentou os sonhos de menina. Rosa, de quem não se conseguiu saber o sobrenome nem a idade, teve sorte. A GNR obrigou os pais a mandá-la à escola e aprendeu a ler. “No meu tempo íamos 15 a pé para Cotorinho. Às vezes o vento era
-se no mundo e os mais velhos passaram para o outro lado”
mais despovoadas tão forte que tínhamos que nos agarrar uns aos outros para não voarmos”, referiu. São poucas as viagens feitas à cidade, lá em baixo, e só mesmo quando é preciso, como ir ao médico. “É preciso mandar vir um carro de serviço e fica muito caro”, salientou Manuel Ferreira. A Montes chega tudo o que é preciso para sobreviver. O padeiro passa três vezes por semana e a carrinha que vende a mercearia duas.
| Viver na serra | Apaixonado pelas rochas, a água e o verde da vegetação, Carlos Bento encontrou o seu Gerês na pequena aldeia de Arnal, na serra do Alvão, a cerca de 10 quilómetros de Vila Real. A trabalhar na associação de solidariedade social Via Nova, na cidade, todos os dias sobe a serra para a aldeia onde escolheu viver e onde partilha os seus dias com mais 14 pessoas. Depois de estudar e trabalhar no Porto durante alguns anos, Carlos Bento, natural de Torre de Moncorvo, chegou a Vila Real em 1992 e, passado um ano, encontrou em Arnal o local ideal para o isolamento que tanto gosta, para meditar e para os treinos de capoeira. “Gosto de estar sossegado e isolado”, afirmou ao Repórter do Marão. Mas, ao mesmo tempo, diz que encontrou lá em cima uma família. “Para além disso, demoro cerca de 15 minutos a chegar ao trabalho e não apanho trânsito”, referiu. “No outono, aparecem cascatas de água nos cabeços de Arnal. Parece que a montanha chora”, salientou. O problema é quando neva. A aldeia fica isolada e, por isso, é preciso deixar o carro mais em baixo ou dormir em casa de colegas na cidade. A ideia não é nova, mas é repetida por muitas câ-
maras ou juntas de freguesia. Em Vila Cova, concelho de Vila Real, a junta passou a atribuir este ano um subsídio de mil euros a cada bebé que nasça na freguesia ou a casais que ali se fixem por um período mínimo de três anos.
| Autarcas lutam para manter aldeias | São duas as mulheres grávidas em Vila Cova, mas o presidente da junta, Maurício Carvalho, diz que o apoio atribuído não é determinante na hora de decidir se vão ter filhos. “Claro que é uma ajuda, mas ninguém toma uma decisão dessas baseada neste apoio”, sublinhou. Seria preciso muito mais. O autarca defende que o ideal seria que o Governo central atribuísse um subsídio idêntico de forma anual. A fixação de casais encontra também um entrave. Maurício Carvalho considera que o Plano Diretor Municipal (PDM) é muito “restritivo”, impedindo a construção de novas casas. “São poucos os terrenos disponíveis”, sublinhou. Já o presidente da Junta de Freguesia de Vila Marim, João Paulo Nóbrega, quer melhorar os acessos a Arnal, levar até lá cima o saneamento básico e alterar as regras do PDM para alargar a área de construção. “São poucas as pessoas que lá vivem mas têm os mesmos direitos que os outros. Queremos também que mais ninguém se vá embora por não poder construir casa e a partir do verão vamos dar um incentivo financeiro a todos os bebés que nasçam na freguesia”, afirmou. O autarca, eleito a 11 de outubro de 2009, lamenta a “pouca atenção” dada pela Câmara de Vila Real às aldeias “mais despovoadas”.
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tâmega
Pontes alargadas em Amarante e Marco de Canaveses
Castro de Arados, em Marco de Canaveses
Monumento nacional ao abandono C
lassificado como monumento nacional há 100 anos, o Castro de Arados, no Marco de Canaveses, está numa situação limite de abandono e degradação, coberto de vegetação e cercado por pedreiras. A Direcção Regional da Cultura do Norte disse ao Repórter do Marão que está a ser estudada “uma zona especial de proteção” para o castro. A situação de abandono a que chegou o Castro de Arados é bem visível na vegetação (sobretudo mato e giestas) que cobre toda a área do castro que nas últimas décadas foi ficando completamente cercado por pedreiras. Não há no local qualquer vedação ou sequer placas identificativas do castro classificado como monumento nacional por decreto de 16 de junho de 1910. Estranhamente, o Castro de Arados nunca foi merecedor das medidas de proteção e salvaguarda que competem aos serviços do Ministério da Cultura e às autarquias locais (à Junta de Freguesia de Alpendorada e Matos e à Câmara Municipal do Marco de Canaveses). Uma das pedreiras “terá entrado cerca de 50 metros na área do castro”, afirmou ao Repórter do Marão Fernando Costa, presidente da Direção da Aradum – Associação para o Desenvolvimento Cultural do Douro, que tem sede em Alpendorada e Matos. A extração de granito pôs em causa a envolvência do castro e mesmo a segurança dos que se aventurem a subir o monte para conhecê-lo. “Quem se desloca ao castro não tem qualquer tipo de segurança” por causa dos enormes fossos deixados pelas pedreiras, salienta Fernando Costa. Mas há outros sinais bem evidentes da ignorância e incúria: o acesso livre a jipes e motos 4 que destruíram partes das muralhas que ainda se mantinham de pé. Ainda recentemente, durante uma caminhada, no local eram visíveis “as rodeiras” de veículos todo-oterreno. “Nem as pessoas sabem que aquilo é um castro, que tem muralhas e tudo isso”. Fernando Costa defende que o monumento devia ser “pelo menos vedado”, e que é preciso limpar os caminhos e sinalizá-lo. A Associação Aradum arranjava voluntários para fazer a limpeza da vegetação, mas nenhuma intervenção pode ser feita sem o conhecimento e acordo dos serviços do Ministério da Cultura. Em resposta a perguntas do RM, o Ministério da Cultura, através da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), diz que “a limpeza da vegetação compete em primeira instância aos proprietários” (o castro é propriedade privada) e que, de acordo com a lei, os proprietários “devem conservar, cuidar e proteger devidamente o bem, de forma a evitar a sua perda, destruição ou deterioração”. Não obstante, tanto o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), em articulação com a Direcção Regional de Cultura do Norte, como as autarquias locais têm “especiais responsabilidades” na salvaguarda dos
bens classificados como monumento nacional, como reconhece a própria DRCN. Para Fernando Costa a explicação para tanto abandono é óbvia: “Olhe, as pessoas que estiveram à frente do município estes anos todos não tiveram sensibilidade”. Durante décadas a Câmara do Marco de Canaveses licenciou pedreiras que foram aumentando o cerco ao castro, contribuindo para a sua fragilização e degradação. Há inclusive registo de no final dos anos 80, uma máquina de terraplanagem ter derrubado parte da muralha. A última intervenção feita no Castro de Arados data de 2004, quando foi feita “a localização das três muralhas e a sua implantação cartográfica”. Tratou-se de uma ação conjunta de técnicos da Estação Arqueológica de Freixo e da Câmara do Marco, com a colaboração da Escola Profissional de Arqueologia, esclareceu a DRCN. À pergunta sobre se está prevista alguma medida de preservação e salvaguarda nos tempos mais próximos, a DRCN apenas adiantou que “está em estudo uma zona especial de proteção que vai permitir um controlo mais eficaz das intervenções na envolvente do monumento”. Implantado no alto do monte de Santiago, sobranceiro aos rios Douro e Tâmega, na confluência das freguesias de Alpendorada e Matos, Ariz e Magrelos, o Castro de Arados é considerado o mais importante povoado castrejo do concelho do Marco de Canaveses. No trabalho de levantamento e estudo dos castros do concelho do Marco, publicado em 1992, João Belmiro Silva escreveu que eram “bem visíveis os intensos vestígios do recinto fortificado, com três ordens de muralhas, bem assim como as cristas de alguns edifícios circulares ou quadrangulares, certamente habitacionais. Fragmentos cerâmicos, de tégulas e tijolo e pequenos blocos soltos aparelhados juncam o solo, no interior e exterior da muralha mais alargada, cujo perímetro ultrapassa os mil metros”. O autor dá como certo que o Castro de Arados “foi intensamente romanizado e que ainda era ocupado na Alta Idade Média”. Apesar de classificado como monumento nacional, durante um século no Castro de Arados apenas foram feitas “algumas prospeções pontuais”, mas não se sabe o paradeiro da maior parte do espólio recolhido. No início do século XX foram feitas escavações arqueológicas sob a responsabilidade de José Leite de Vasconcelos. Foram encontradas duas fíbulas (fivelas ou alfinetes) de bronze e uma escultura zoomórfica de grandes dimensões (1,19 metros de comprimento), que representa a cabeça de um animal de espécie indefinida, peças que estão depositadas no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa. João Belmiro Silva refere-se a sinais da inexistência de “qualquer respeito pela classificação do monumento”, onde, tal como hoje acontece, nem uma simples placa identificativa existia. O castro “aguarda uma intervenção arqueológica sistemática que permita avaliar toda a trama histórica que lhe está subjacente”, constatava o autor há quase 20 anos. Paula Costa
O trânsito na EN 210, em Rio de Galinhas, Marco de Cavaveses, e na EN 15, em Gondar, Amarante, vai ser cortado até setembro para construir uma nova ponte, no caso do Marco de Canaveses, e alargar a existente, no lugar de Larim, sobre o rio Ovelha, anunciou a empresa Estradas de Portugal (EP). A supressão do tráfego obrigará os automobilistas a cumprirem itinerários alternativos, já sinalizados. A obra de Larim, em Amarante, prevê a construção de novo tabuleiro, mais largo do que o atual, para facilitar o cruzamento de veículos na EN 15. Neste local entroncam a EN 15, em direção do Marão, e a EN 101, em direção a Mesão Frio e Régua. Esta intervenção era há muito reclamada porque ali passam diariamente milhares de veículos saídos do IP4 em direção ao Douro. No Marco de Canaveses, vai ser construída uma nova ponte na EN 210 que passa sobre o rio Ovelha (afluente do Tâmega), na freguesia de Rio de Galinhas. A atual travessia, recuperada há poucos anos, manter-se-á mas exclusivamente para tráfego pedonal. Esta estrada, também conhecida como marginal do rio Tâmega, liga o Marco a Amarante, sendo muito utilizada pelo trânsito local. A atual ponte em pedra é muito estreita, não permitindo sequer o cruzamento de dois veículos, mesmo que ligeiros (foto).
(RE)ORGANIZAR O ESTADO | A redução do nú
Que fazer aos municípios José Carlos Pereira
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| tamegapress@gmail.com | Fotos | Lusa e RM
O
desafio de escrever sobre a redução do número de municípios e freguesias em Portugal surge num momento de grande oportunidade, em que nos deparamos com os efeitos de uma grave crise financeira e económica à escala global. Na maior parte dos países europeus assistimos hoje ao esforço dos governos em conter a despesa pública e o endividamento externo e uma das vias primordiais passa por ajustar a organização do Estado de modo a reduzir custos e aumentar a eficácia e a produtividade dos serviços. Beneficiam os cidadãos e o erário público. No caso concreto de Portugal, as autarquias representam 3,06 % da despesa pública, num total de 2.485 milhões de euros. Um número nada despiciendo e que nos deve fazer pensar muito a sério na organização administrativa do país e na forma de a tornarmos mais útil para o desenvolvimento equilibrado do todo nacional. No anterior governo socialista, António Costa, que então tutelava a administração local, colocou no centro do debate a necessidade de concentrar esforços e políticas, com uma visão mais integradora do território, defendendo para isso a redução do número de freguesias e municípios. Claro está que a generalidade dos autarcas, atingidos de forma directa por uma medida dessas, se levantou logo contra essa possibilidade. Todavia, os momentos de crise são sempre bons conselheiros e nesta altura vale a pena reflectir na realidade que temos e no que poderíamos melhorar. Portugal tem 308 municípios e 4.259 freguesias. Quase um terço dos municípios, 92 só no continente, tem menos de 4.000 habitantes, o que sucede sobretudo nos distritos do interior e mais despovoados, designadamente em Portalegre (12 concelhos nessa condição), Beja (10), Évora (9) e Guarda (8). Entre esses municípios há a registar os casos verdadeiramente extraordinários de Alvito, com 2.723 habitantes, e Barrancos, com 1.767 habitantes, ambos no distrito de Beja. As ilhas têm características próprias. No que diz respeito às freguesias, há 14 municípios que têm mais de 40 freguesias. Desde o caso extremo de Sabugal, que com apenas 13.769 habitantes tem 40 freguesias, até ao exemplo paradigmático de Barcelos, que conta com 89 freguesias. A Assembleia Municipal de Barcelos tem 179 membros e a de Sabugal tem 81 deputados! Faz sentido ter quase uma centena de concelhos com menos de 4.000 habitantes? Não faz qualquer sentido em termos de planeamento e desenvolvimento regional e não faz também em termos de gestão dos dinheiros públicos. Uma autarquia de um município tão pequeno, quase sempre o maior empregador local, replica um conjunto de cargos políticos (presidente, vereadores, membros das Assembleias Municipais) e de funções de apoio (chefe de gabinete, adjunto, secretários, assessores) sem que se vislumbre qualquer mais-valia com esta multiplicação.
É evidente que há razões de identidade histórica e geográfica que justificaram a criação desses concelhos, mas o próprio desenvolvimento destes territórios reclama uma esfera de actuação mais alargada para as políticas públicas. Sou um regionalista convicto e continuo a acreditar que só com as regiões administrativas, mandatadas pelo voto popular, conseguiremos alcançar um desenvolvimento harmonioso. Quem diz que Portugal é um país pequeno e sem diferenças entre o Alto Minho e o Algarve que justifiquem a criação das regiões coloca a tónica no ponto errado. A criação das regiões administrativas dotará a administração do território de um patamar de decisão superior, acima do poder local municipal e abaixo do poder central nacional, que é indispensável para a condução de políticas transversais, nomeadamente na educação, na saúde, no ambiente, no turismo, nas infra-estruturas, na atracção de investimento, nos transportes e na cultura.
| Comunidades estão diminuídas | Quem conhece o poder local sabe que um presidente de Câmara, que responde perante os seus eleitores, está pouco à vontade para concertar com os municípios vizinhos a distribuição destes investimentos públicos e por isso é preciso uma instância superior para gerir estas políticas e para negociar de forma integrada com o poder central. Enquanto não temos a regionalização, as actuais Comunidades Intermunicipais são um pequeno passo nesse esforço de obrigar os autarcas a dialogar e a decidir em conjunto sobre um conjunto de investimentos que servem a região. A falta de mandato popular tem diminuído essas Comunidades e a sua acção tem-se ficado por reivindicações avulsas e pela gestão dos dinheiros do QREN adstritos a cada Comunidade Intermunicipal. É pouco. No entanto, o acolhimento cada vez mais favorável à regionalização e os exemplos positivos de algumas Comunidades Intermunicipais têm permitido concluir que o papel reservado aos municípios precisa de se ajustar aos novos tempos. Não
mero de municípios e freguesias
com menos de 10 mil hab? podemos continuar a duplicar investimentos similares em freguesias contíguas de municípios vizinhos. Perante isto, o que dizer a quem propõe que se limite os concelhos a um mínimo, por exemplo, de 10.000 habitantes? Responderia que em tese concordo com Concelhos com mea ideia, mas que é nos de 10 mil habitannecessário olhar tes, nos Distritos de para o território, Vila Real e Bragança para a sua dimensão e especificidade e avaliar caso a caso. Penso, contudo, que há argumentos suficientes para convencer as populações da bondade de uma estratégia agregadora dos municípios mais pequenos e contíguos, formando um espaço com maior dimensão e com uma superior capacidade reivindicativa. Se as populações beneficiarem com isso, adoptam essa orientação e os autarcas terão de a secundar. Quanto às freguesias, o problema é diferente mas não menos complicado. As Juntas de Freguesia têm vindo a receber competências delegadas por parte dos
municípios, mas, na sua esmagadora maioria, continuam sem reunir as competências técnicas e os meios necessários para levar a bom porto a ambição de assegurar a gestão de proximidade dessas comunidades, dentro do quadro de autonomia administrativa e financeira conferida pela Lei.
| Diferenças entre freguesias é ainda maior | A realidade das freguesias é muito distinta se falarmos de um espaço urbano muito povoado ou de uma pequena freguesia rural. Nada há de comum, de facto, entre Paranhos, no Porto, ou Rosém, em Marco de Canaveses, para citar duas realidades que me são próximas. A arquitectura autárquica que coloca os presidentes de Junta de Freguesia como membros por inerência da Assembleia Municipal tem sido uma entorse no funcionamento dos órgãos deliberativos. Num município com um número significativo de freguesias, o seu peso distorce o equilíbrio de forças na Assembleia Municipal. Parte interessada de muitas votações – contas, orçamentos, protocolos, transferências, subsídios, etc. – os presidentes de Junta de Freguesia não são verdadeiramente livres enquanto deputados municipais. E muitos presidentes de Câmara sabem bem como tirar partido disso… Algumas experiências incipientes de associações de freguesias demonstram como essas autarquias percebem as vantagens da união para obter uma escala maior e rentabilizar determinados investimentos. Estou certo que, tal como nos municípios, o caminho passa por limitar a pulverização do território e procurar aumentar a massa crítica com um novo desenho do mapa autárquico. * Gestor e ex-autarca
Entrevista a Nadir Afonso | Chaves constrói se
A genialidade por d Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | Fundação Nadir Afonso
E
m cada tela está impregnada a paixão pelo rigor e pela universalidade das leis da matemática. Das mãos esguias nascem obras ímpares que se tornam referências no panorama artístico contemporâneo. Aos 89 anos, o pintor flaviense Nadir Afonso continua a não resistir ao ímpeto de retocar, evidenciando o seu lado de perfecionista incansável. “Começo com um risco para a esquerda ou para a direita, porque aí as possibilidades são infinitas. Quando faço um segundo traço, já está em combinação matemática com o primeiro. Depois faço um terceiro e vai-se criando uma rede matemática”, desvenda. A profusão de linhas não é aleatória e o resultado final esconde uma saga constante e interminável para encontrar a proporção exata das formas. “A mais difícil continua a ser a última forma, porque depende de todas as outras, é como um puzzle. Por exemplo, vejo um quadro que já não via há 30 anos e, como a sensibilidade continua e até foi apurando, olho e digo ‘ali há um erro’. Acrescento, tiro e tenho a certeza que acerto.” O axioma do mestre é que as leis da matemática são “a essência da obra de arte”. “Quando um pintor pinta os seus impulsos, não os eleva ao nível da consciência. Ele pinta intuitivamente e pode pensar que está a lançar na tela a perfeição da Natureza ou a sua alma, mas isso é uma ilusão.” Durante toda a vida, Nadir assume ter sido um “coca-bichinhos” para dar resposta às suas inquietações. “Perguntava-me: o que é que haverá na obra de arte de específico? Qual será a caraterística que eleva esta representação da Natureza ao nível da Arte?” Depois de “muito trabalhar e de muito meditar”, percebeu que o artista, inconscientemente, emprega leis matemáticas. “À escala planetária, os estetas estão convencidos que, além da representação da Natureza, o artista imprime a sua alma. Sou a única pessoa, teimosamente, a dizer que não é nada disso e ninguém me leva a sério.” A inspiração para pintar advém da emoção que a perfeição das formas geométricas suscita. “Há os indivíduos hiper-sensíveis, que são esquizofrénicos, que sentem tudo na Natureza: o que é perfeito, o que é original, mas sentem também esta lei matemática que dá uma harmonia às formas, pela sua combinação, e isso é muito difícil.” O processo da criação principia com um esquisso da composição numa escala mais reduzida, sobretudo para evitar o esforço físico. “Antigamente, fazia um quadro grande e andava no jogo de me aproximar e afastar. Hoje já não faço isso. Faço uma coisa pequena que é mais fácil, vejo melhor e depois amplio.” Em paralelo com o seu percurso artístico, Nadir é autor de vários livros sobre a sua teoria da arte. Fá-lo por necessidade e admite que “é difícil de perceber”. “Estou convencido que daqui a 20 ou 30 anos, haverá um maduro, como eu, que me compreenderá e dirá ‘ninguém se importou com aquilo que ele dizia’…” Em 2005, publicou “Erradas Crenças, Falsas Críticas” e continua a sua produção. “Estou a fazer uma síntese de tudo aquilo que escrevi durante a minha vida e a relacionar as leis que regem a obra de arte com as leis que regem o universo.” Para o mestre, a genialidade das obras alicerça-se no instante em que o artista consegue elevar ao nível da consciência os seus impulsos intuitivos.
| Obsessão criativa | Com a matemática entranhada, Nadir Afonso revela uma capacidade de trabalho inesgotável. “É um viciado no trabalho, ele diz que é um laboro-maníaco”, conta Laura, a esposa. A preocupação primordial de Nadir Afonso é a criação, sem se preocupar com a promoção das obras. “Ele tem necessidade de estar constantemente a trabalhar, porque diz que tem necessidade de dormir e se tem alguma ideia na cabeça, isso perturba-lhe o sono. Para dormir tranquilo tem que passar para a tela ou para o papel”, desvenda. Em Dezembro, Nadir Afonso completa 90 anos e o seu olhar crítico está muito mais exigente porque “trabalhando as formas, um indivíduo é trabalhado por elas”. “Agora, estou mais dentro da matemática, por isso é que a minha pintura hoje já vem mais geométrica”, explica. Para causar mais impacto, Nadir Afonso tem optado por pintar quadros de grande formato. “Vejo que quando as pessoas vêem um quadro grande ficam mais impressionadas, sentem.”
No seu atelier, só deixa entrar a luz e o silêncio absoluto. “Sempre tive esse cuidado de afastar qualquer ruído do meu local de trabalho. Não compreendo como é que uma pessoa pode estar a pintar e a ouvir música. Estar a pintar a harmonia das formas e ser impressionado pela harmonia dos sons deve confundir.” Pela voz da esposa, percebe-se que Nadir Afonso fica “completamente abstraído”. “Desde que não chovesse nos quadros, podia acontecer tudo à volta que ele nem se apercebia.” A Laurinha, como ele lhe chama, aponta-lhe ainda a frontalidade: “é uma pessoa que não tem papas nas línguas, diz o que é conveniente e o que é inconveniente à frente de quem quer que seja”. Quando se trata de datas e “de acertos de memória”, Nadir Afonso assume que só não se esquece dos elementos da composição e da matemática. “Essa obsessão não a perdi da memória.” Contudo, cita uma passagem de Camilo Castelo Branco sem tropeçar: “a casa estava situada de esguelha sobre um cúmulo de areia na orla da praia, olhando de soslaio o oceano”. “Há aqui um ritmo de sons que toca. Eu vejo no Camilo um poeta e gosto muito de Fernando Pessoa (ortónimo).” A musicalidade de ‘Je te veux’, do compositor Erik Satie, deixa-o extasiado. “Adoro-a! É formidável, porque é muito sentida.”
| Homenagens ao filho da terra | Em Janeiro do ano passado, foi apresentado o projeto da futura sede da Fundação Nadir Afonso em Chaves, cujas obras já deveriam ter arrancado. “Atrasou um bocadinho por causa de problemas burocráticos relacionados com a expropriação dos terrenos”, explica Laura Afonso, esposa e presidente da Fundação. Orçada em 8,5 milhões de euros, a obra tem a assinatura do arquiteto Siza Vieira e deverá abrir portas em 2011. Em Boticas, terra natal da mãe do mestre, vai ser construído o Centro de Artes Nadir Afonso. Da autoria da norte-americana Louise Braverman, o projeto foi distinguido com o Prémio International Architecture Awards 2009. “Já foi a concurso público e a obra deve arrancar brevemente”, adiantou. Nadir Afonso agradece “a curiosidade e o empenho” que enquadraram a criação das duas infra-estruturas. “Quando vejo uma pessoa que é sincera a elogiar o meu trabalho, sinto-me reconfortado. Digo: ‘não estou maluco, há outras pessoas que gostam’ e dá-me prazer.”
| Pinceladas biográficas | Nadir Afonso nasceu em Chaves em 1920, onde viveu até frequentar o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. “Às vezes, apareciam lá em Chaves uns tipos a pintar e achava essa actividade encantadora. Quando cheguei aos meus 18 anos, a primeira coisa que fiz foi redigir uma carta ao senhor presidente das Belas-Artes do Porto para me aceitar como aluno de pintura.” Contudo, as palavras do contínuo com que se cruzou em Belas-Artes no momento de entregar a inscrição foram tão decisivas que acabou por delinear outro rumo. “Disse-me ele: ‘então o senhor tem o curso dos liceus e vai para pintura? A pintura não dá alimento ao homem, vá para arquitetura’. Rasguei aquele documento e fiz outro para me aceitarem como aluno de arquitetura, mas foi um desastre. Eu nunca fui arquiteto”, relata Nadir Afonso. Em 1946, vai estudar pintura na École des Beaux-Arts, em Paris, onde acabou por colaborar com Le Corbusier e Fernand Léger. Mais tarde, trabalha no Brasil com o arquiteto Oscar Niemeyer. Quando regressa à capital francesa, retoma contacto com a comunidade artística, designadamente Vasarely, Mortensen, Herbin ou Bloc, que centravam o seu trabalho na pesquisa da arte cinética. Nadir dedica-se às composições pictóricas que denomina de “Espacillimité” e apresenta o seu trabalho no Salon des Réalités Nouvelles, em 1958. Nadir Afonso abandona definitivamente a arquitetura em 1965 para se dedicar, em exclusivo, à criação da sua obra. Atualmente reside em Cascais, mas não esconde a força centrípeta do Porto. “Quando cheguei lá, fui muito atraído por aquele barroco dos Clérigos e da Igreja dos Grilos [Igreja de S. Lourenço]. Depois cheguei a França e gostei muito de Paris, atraíram-me as margens do Sena.”
de da Fundação, Boticas acolhe Centro de Artes
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Te s t e m u n h o de Alunos
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FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO Considero esta formação como tendo sido bastante completa, tendo desenvolvido quer competências específicas do trabalho em arqueologia quer competências de relacionamento e coordenação em equipa. Aquele mês de estágio fez-me olhar com outros olhos para a arqueologia, o que antes não era perceptível tornouse mais fácil de ser compreendido, e algumas questões foram respondidas na altura, os horizontes alargam-se e o pensamento torna-se diferente. Encheu-se novamente o Forum da nossa tão querida cidade romana de Tongobriga, no dia 27 de Maio, com outro fabuloso espectáculo teatral! Ali estava ele, erguido perante todos os que o fintavam com o olhar, Shakespeare, o próprio! Pronto para nos proporcionar uma tarde repleta de risos e sorrisos…E não só! Acabado o espectáculo, e chamados os actores ao palco, fez-se a vénia usual e ouviu-se um “The end”. Posso garantir que todos pensaram: - ohhhh!
Passeio BTT Realizou-se, no passado dia 16 de Maio, o 1º Passeio BTT da Escola Profissional de Arqueologia. Organizado pelos funcionários da escola, marcaram presença alunos, professores e os respectivos organizadores. O dia, já primaveril, foi óptimo para um passeio agradável, onde o convívio, aliado à prática desportiva, foi o mais importante.
Certamente, todos apelamos e esperamos que momentos assim se repitam por muitas mais vezes, agradecendo à companhia de teatro profissional Avalon e à Escola Profissional de Arqueologia, bem como à parceria da Câmara Municipal de Marco de Canaveses que, este ano, integrou esta representação no Ciclo de Teatro de Marco de Canaveses, pelas actividades lúdicas fantásticas que promove e que, como se pode contemplar, nós adoramos!
3º Edição do Dia Aberto A Escola Profissional de Arqueologia, além de ter sempre as portas abertas a visitas de quem quiser, de receber visitas marcadas aos laboratórios de pessoas ou grupos organizados, instituiu o chamado“Dia Aberto”que sintetiza, num dia simbólico, essa abertura à sociedade. EPA tem ao longo dos anos aberto as suas portas à comunidade e sente que a comunidade local, tem também feito progressos, no sentido de conhecer melhor esta escola que tem vários cursos profissionais, entre estes, o de assistente de arqueólogo que é, ao que tudo indica, único no país. É leccionado aqui e com ele, o Marco de Canavezes é divulgado, neste caso por boas razões. Por tudo isto, é cada vez mais consensual que este relacionamento chegou à idade adulta. Agora, é preciso que o diálogo se intensifique, que existam mais projectos que possibilitem um comprometimento constante e um trabalho assistido, que salvaguarde todas as instituições envolvidas. Se assim for, ganha a EPA e, por via disso, toda a comunidade marcoense.
Foi longo o percurso aqui vivenciado, três anos de trabalho árduo para poder sair daqui com bases suficientes que nos permitam ter sucesso no mercado de trabalho a nível profissional como também a nível social. Na nossa formação, além de podermos contar com matérias teóricas dadas no curso podemo-nos envolver em trabalhos mais práticos, ou seja, a Formação em Contexto de Trabalho que nos permitiu entrar em contacto com a realidade de um assistente de arqueólogo e também poder executar tarefas como tal. Nestes últimos três anos eu e os meus colegas temos vindo a apreender novos conhecimentos na área da arqueologia, podendo aplica-los nos nossos contextos de trabalho, que podem ser realizados em vários pontos do País onde existam escavações, e onde também podemos aprender novos conhecimentos.
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atualidade
Despiste de autocarro em Paços de Ferreira provocou sete feridos ligeiros O despiste de um autocarro em Paços de Ferreira provocou segunda-feira sete feridos, todos ligeiros. Segundo fonte hospitalar, citada pela Lusa, os feridos deram todos entrada no Hospital Padre Américo, em Penafiel, mas tiveram alta algum tempo depois. Segundo os bombeiros de Paços de Ferreira, que socorreram as vítimas, o acidente, “provavelmente causado por uma falha de travões”, ocorreu no lugar da Trindade, na freguesia de Meixomil.
Cuidados Continuados avançam em Cinfães
Enchente nas corridas de Vila Real Em bancadas improvisadas em andaimes, varandas, janelas ou muros, foram muitos os que assistiram às vitórias de Rui Azevedo, Pedro Salvador, José Monroy e Luís Barros em mais uma edição do Circuito Automóvel de Vila Real. Das cinco provas que faziam parte do calendário da 43.ª edição do Circuito de Vila Real, o piloto Rui Azevedo, 49 anos, ganhou duas, o estreante Ford Transit Trophy e a Taça de Portugal de Clássicos 1300 de Circuitos (TPCC 1300). O Ford Transit Trophy é uma competição única no mundo, organizada pela Ford Lusitana e pela Q&F, que trouxe a Vila Real uma dezena destes veículos transformados em máquinas de competição. “Ao princípio foi um pouco estranho, quando peguei na carrinha pensei que ia ser mais desagradável mas acabou por ser engraçado”, afirmou Rui Azevedo aos jornalistas. Pelo segundo ano consecutivo, o piloto transmontano Pedro Salvador, bateu o recorde de velocidade da pista ao volante do seu “Juno SSE”, fazendo os 4,6 quilómetros do circuito em 1.51,03 minutos. Apesar de ter sido desclassificado da primeira corrida da Taça de Portugal GT e SP (TPGT/TPSP), que se realizou no sábado, Pedro Salvador voltou a ganhar domingo, sagrando-se campeão na sua “pista favorita”. A Taça de Portugal de Circuitos (TPC/PTCC) foi ganha por José Monroy, enquanto que Luís Barros subiu ao primeiro lugar do pódio depois de ganhar a Taça de Portugal de Clássicos de Circuitos (TPCC/ TNCC).
| Haverá corridas em 2011? | Embora em menor número que em edições anteriores, milhares de pessoas espalharam-se ao longo do circuito ocupando as bancadas oficiais, as improvisadas em andaimes, subindo a muros e árvores, em varandas ou janelas. É precisamente esta moldura humana que é con-
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siderada pelos pilotos como o principal incentivo para correr na pista da cidade transmontana. No entanto, a edição deste ano ficou marcada pela ameaça da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) de não autorizar mais corridas enquanto não houver um novo “paddock”. Pedro Salvador explicou que o atual “paddock” tem o “defeito” de não ter espaço suficiente para uma corrida de nível internacional, mas tem a “enorme” vantagem do contacto com o público”. “Em anos anteriores serviu para as necessidades dos campeonatos nacionais, é certo que com maiores dificuldades do que noutros sítios, mas com muitas mais vantagens do que uma prova no Autódromo do Algarve, que tem 40 pessoas na bancada, ou no Estoril, que tem outras tantas”, salientou. Assistiram às provas de domingo muitos adeptos do automobilismo, entre os quais rostos conhecidos como o do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, e o piloto Pedro Lamy. “Sou um adepto das cidades que não perdem as suas tradições e pelo contrário procuram lutar por elas e valoriza-las”, afirmou Rui Rio. Depois de umas voltas ao circuito, Pedro Lamy classificou a pista de Vila Real como “interessante e gira”, e admitiu vir a correr ali se um dia houver internacionalização das corridas. A organização fez um balanço “muito positivo” dos dois dias de circuito e garantiu estar a trabalhar para que a edição de 2011 tenha um novo “paddock”.
Forças políticas do Marco temem adiamento de obras Por recear o adiamento sine die das obras de eletrificação da linha do Douro, entre Caíde e o Marco de Canaveses, e de requalificação da linha do Tâmega, a Comissão Política Concelhia do PSD do Marco de Canaveses escreveu ao ministro da tutela, ao primeiro-ministro e ao grupo parlamentar do PSD para lembrar que se trata de obras “estruturantes para o desenvolvimento do concelho de Marco de Canaveses e da sub-região do Baixo-Tâmega”. A tomada de posição do PSD surgiu depois de o presidente da Câmara do Marco de Canaveses, Manuel Moreira, ter dito numa conferência de imprensa frente à estação ferroviária, em Rio de Galinhas, que o atraso no lançamento das obras poderá estar relacionado com dificuldades financeiras da REFER. Através de um comunicado, o PS do Marco de Canaveses criticou a atitude de Manuel Moreira classificando-as como “mera propaganda”.
O projeto de arquitetura da Unidade de Cuidados Continuados (UCC) da Santa Casa da Misericórdia de Cinfães foi aprovado por unanimidade pelo executivo da Câmara de Cinfães. Considerada “um equipamento de extrema importância para o concelho”, a UCC de longa duração vai ficar nas instalações do antigo Centro de Saúde de Cinfães, que vão ser remodeladas e ampliadas. O serviço de apoio a idosos vai ter capacidade para 29 utentes e um total de 21 quartos (13 individuais e oito duplos). O concurso público da obra, financiada pela Câmara Municipal de Cinfães com 1 milhão e 250 mil euros e apoiada pela Administração Central, através do Programa Modelar, com 750 mil euros, vai ser lançado em breve.
Feira do livro e Jogos em Lousada A Feira do Livro de Lousada abriu ao público dia 24 na Praça das Pocinhas. Sessões de autógrafos, teatro e animação musical vão marcar a animação da feira que termina a 4 de Julho. António Mota é o escritor convidado para a sessão de autógrafos do próximo sábado com início marcado para as 21:00. Valter Hugo Mãe, vai estar na Feira do Livro, a 2 de Julho. A sétima edição dos Jogos Desportivos começa no sábado e prolonga-se até 21 de Julho, com 41 equipas inscritas num total de mais de 600 participantes. Às modalidades em competição, futsal e futebol de 7, juntam-se mais duas caminhadas, nos dias 26 de Junho e 21 de Julho, e ainda o passeio BTT, no dia 4 de Julho. O Festival da Juventude vai decorrer no sábado (às 15:00), no Complexo Desportivo de Lousada, e inclui a atuação de vários dj´s, rapel, slide e escalada e animação de rua. A entrada é gratuita.
Cidadania debatida em Amarante
António Mega Ferreira, um dos oradores da segunda conferência do Forum Amarante, considerou que “a desertificação dos centros históricos das cidades” assume-se como um problema sociológico, dos mais importantes que ocorreram no nosso país nos últimos 40 anos. O conferencista lembrou que a concentração em redor das cidades já ultrapassou há muito 50 por cento do total da população e defendeu que é preciso reinventar “as formas de participação” dos cidadãos. António Mega Ferreira afirmou que a proliferação dos centros comerciais nas periferias das cidades tem origem no abandono dos centros urbanos. “A ideia da cidade alargou-se do ponto de vista espacial e foi-se dissolvendo a ideia da cidade como o lugar da cidadania. Hoje as pessoas vão à cidade para cumprirem determinados rituais de massas, como os grandes concertos e os jogos de futebol, mas não vão às cidades para comprar”. O arquiteto Manuel Salgado não pôde comparecer devido às cerimónias fúnebres de José Saramago, que decorreram na câmara de Lisboa, mas o bispo do Porto, Manuel Clemente, falou de cidadania, de vizinhança e das suas diferenças. “Vizinhança é algo de quem vive à beira da porta, mas não é a cidadania”, cujo conceito “é muito mais alargado”. Manuel Clemente lembrou mesmo o caso de Brasília, cidade brasileira muito recente e que visitou há uns anos. “Cidade eles tinham, não tinham era a cidadania e ainda hoje não sei se têm”, referiu o bispo do Porto, ao acentuar que “é indispensável uma boa cidadania para se poder ter uma cidade”. O prelado argumenta que “a crescente concentração urbana, “não parece valorizar o fórum central, nem o ritmo cívico comum, de tal modo que o chamado caos urbano manifesta a complexa morfologia dos nossos aglomerados”. “A cidade do futuro só pode ser fruto ou manifestação das cidadanias reencontradas”, considerou.
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EPAMAC ENCONTRO DE REFLEXÃO SOBRE O ENSINO PROFISSIONAL AGRÍCOLA
ENQUADRAMENTO ACTUAL, NOVOS DESAFIOS E OPORTUNIDADES
No dia 4 de Junho reuniram-se na EPAMAC as Escolas Profissionais Agrícolas (EPA) de todo o País para um encontro de reflexão. Estiveram presentes as EPA de Abrantes, Alcobaça, Montemor-o-Velho (EPA Afonso Duarte), Algarve, Fermil de Basto, Paiã (Lisboa), Ponte de Lima, Régua, Serpa e Marco de Canaveses. A EPA de Alter do Chão, não podendo estar presente, enviou uma súmula das suas posições e preocupações. Assim, o encontro decorreu com a participação de 11 EPA das 17 existentes a nível nacional. Estiveram presentes, como convidados, o Eng. António Graça, em representação do Ministério da Agricultura, O Eng. Luís Barradas, Presidente da Associação das Escolas Profissionais Agrícolas (APEPA), a Dr.ª. Marie Bertrand, Representante do Ministério da Agricultura Francês, a Eng.ª. Anabela Santos, Técnica da Direcção Regional de Educação do Norte e os Professores Doutores Lino Tavares Dias e Henrique Vaz, na qualidade de especialistas. O encontro decorreu ao longo de todo o dia, sendo que de manhã se realizou uma visita à Escola e a reunião da Direcção da APEPA e de tarde o Encontro de Reflexão. Este, teve um primeiro momento em que cada escola dispôs de 10 minutos para proceder à sua apresentação, identificação de pontos forte e pontos fracos e indicação de preocupações e perspectivas de futuro, ao qual se seguiu uma intervenção dos especialistas convidados, numa perspectiva de “Amigos críticos”. Por fim, foi a vez de intervir o representante do Ministério da Agricultura, bem como o Presidente da APEPA, que encerrou. Enunciam-se brevemente algumas das conclusões do Encontro Nacional - As EPA, sustentadas num verdadeiro Ensino Técnico, Tecnológico e Prático, são insubstituíveis na formação de técnicos intermédios na área agrícola e do desenvolvimento rural, que corresponda às necessidades de qualificação da mão-de-obra dos territórios, e que se concretiza efectivamente como elemento primordial nas dinâmicas de desenvolvimento social integrado e sustentável; - As EPA são parceiros privilegiados no desenvolvimento rural e dos territórios em que se inserem; - As EPA têm um papel substantivo na preservação e dinamização das Artes e Ofícios Tradicionais e Rurais;
- As EPA querem assumir um papel na formação de activos através da oferta de qualificação específica do sector agro-pecuário, reciclando e modernizando o tecido produtivo em função das novas exigências do mercado e imposições legais; - As EPA estão atentas às novas profissões emergentes no campo da sustentabilidade agrícola e ambiental, decorrentes dos novos problemas colocados pelas alterações climáticas e podem desempenhar aí um papel de vanguarda através da promoção de formação qualificante; - É fundamental uma nova forma de encarar a orientação vocacional por parte das escolas básicas e secundárias, nomeadamente em áreas geográficas em que existam escolas profissionais agrícolas/desenvolvimento rural, por via da valorização destes percursos formativos que conduzem, efectivamente à empregabilidade; - Não pode ser posta em causa a autonomia das EPA na gestão das suas explorações; - As EPA devem continuar a a sua aposta numa cultura de escola própria, caracterizada pela (i)aplicação de um modelo pedagógico intrínseco às escolas profissionais (Estrutura Modular); (ii)pela aposta na formação técnica, tecnológica e prática e na formação dos alunos para o desempenho competente de uma profissão; (ii)pelas características singulares dos espaços formativos; (iii)pela relação pedagógica de grande proximidade, muitas vezes individualizada; - É necessário proceder a alterações aos planos curriculares dos cursos, com (re)valorização da área técnica, através de alterações às cargas horárias e programas das disciplinas de forma a que um curso profissional signifique realmente uma certificação para o exercício profissional. Em conclusão: - As EPA são indispensáveis para o progresso da Agricultura Portuguesa e para o desenvolvimento rural e ambiental dos territórios que servem, sendo elementos essenciais na promoção da igualdade de oportunidades de acesso e sucesso ao Ensino Profissional dos Jovens Portugueses. Depois de organizadas, as conclusões do encontro serão enviadas ao Ministério da Educação, ao Ministério da Agricultura, à Agência Nacional para a Qualificação, ao IEFP, à Direcção Regional de Educação do Norte e às Escolas Profissionais Agrícolas.
Jovem Enólogo do Ano
Manuel Soares (Aveleda) Manuel Soares fez o curso técnico de Gestão Agrícola na Esc. Prof. de Agricultura de Marco de Canaveses, licenciouse em Enologia na Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e desde cedo se envolveu com a Aveleda, empresa líder e essencial para a afirmação do vinho português no mundo e para o destaque da região dos Vinhos Verdes. No último ano em que poderia ser candidato a este prémio, a atribuição é mais do que justificada pela facto de ser o enólogo que faz os muitos milhões de litros de qualidade superior, engarrafados com as marcas Casal Garcia ou Quinta da Aveleda. As incursões em vinhos tintos do Douro e da Bairrada também têm sido louvadas dentro e fora de portas. Como empresa produtora, e com o decisivo contributo de Manuel Soares, a revista americana Wine & Spirits elegeu, em 2009, a Aveleda como uma das 65 Internacional Wineries of the Year, pelo facto de os seus vinhos terem sido, na globalidade, mais vezes recomendados pelo painel de provadores da revista. Este prémio é atribuído ao mesmo tempo que Casal Garcia comemora setenta anos nas mesas de todo o mundo. Parabéns! (In revista NS)
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GNR vigia serra do Marão a cavalo Militares da GNR estão a patrulhar diariamente a cavalo a serra do Marão, na zona de Amarante, para reforçar a prevenção dos fogos florestais. “É a primeira vez que a GNR desenvolve esta operação no Marão. Trata-se de uma experiência de patrulhamento a cavalo, que vamos ver como resulta durante o verão”, explicou Brites Teixeira, comandante do Destacamento de Amarante da GNR, citado pela Lusa. Para as patrulhas foram mobilizados oito homens e cinco cavalos do Destacamento de Intervenção do Porto, que têm base numa antiga casa florestal, na freguesia de Ansiães, que sofreu obras de adaptação. Todos os dias, partem patrulhas a cavalo que cum-
atualidade
UTAD tem novo reitor O professor catedrático Carlos Sequeira, eleito reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, quer tornar a academia transmontana “mais competitiva e sustentável”. O conselho geral da UTAD, presidido pelo embaixador Francisco Seixas da Costa, elegeu Carlos Sequeira por 15 votos, cinco em branco e dois a favor do inglês Roy Kirby. O novo reitor, licenciado em Agronomia, foi um dos pioneiros da universidade transmontana e foi o vice-reitor para o Planeamento e Equipamento de Armando Mascarenhas Ferreira, que agora termina o segundo mandato. O novo reitor apresentou um plano de ação estratégico com 77 medidas que quer incrementar na universidade de Vila Real. Carlos Sequeira quer promover um projeto sustentável para a UTAD, o que considera que “implicará, necessariamente, o aumento das receitas próprias e maior diversidade nas fontes de financiamento”. O responsável defende uma diversificação das fontes de financiamento a partir de uma carteira de projetos e de prestação de serviços. A academia trasmontana conta com um orçamento de cerca de 39 milhões de euros. As áreas estratégicas para a universidade passam pela fileira florestal, a área agroalimentar, o ambiente, a produção e comercialização dos vinhos e turismo no Douro, bem
como a saúde. A UTAD quer fazer aprovar, junto da tutela, o Plano de Desenvolvimento Estratégico, que inclui um mestrado Integrado em Medicina, a criação da Escola Superior de Saúde, bem como um programa de novas infraestruturas. O novo reitor quer ainda criar a Universidade de Verão, concluir e apetrechar os empreendimentos Centro de Interpretação e de Acolhimento do Jardim Botânico e Edifício das Ciências Veterinárias – Blocos de Laboratórios (Bloco I), bem como concluir o reordenamento das instalações das escolas.
Barragem de Padroselos chumbada prem percursos definidos previamente em articulação com a proteção civil, incluindo passagens regulares pelas várias aldeias espalhadas pela serra. “Há aqui muitas aldeias que vão ter um contacto muito mais direto com o patrulhamento da GNR durante o verão. Com este trabalho, pretende-se o efeito de proximidade com a população. Como é um elemento novo, as pessoas aproximam-se mais dos militares da guarda”, acrescentou o oficial.
| À caça dos incendiários | Brites Teixeira salienta, por outro lado, que os militares destacados têm formação específica para este trabalho e são instruídos no sentido de procurarem o contacto com as populações para lhes transmitir informações sobre cuidados a ter na proteção da floresta. O oficial espera que a presença das patrulhas a cavalo tenha sobretudo um efeito dissuasor de atos de fogo posto na serra, que têm ocorrido nos últimos anos, originando vários incêndios florestais. “Nós sabemos que alguns dos incêndios terão mãos criminosas. Nós, aliás, temos feito detenções de indivíduos que ateiam fogo à mata”, observou. Acrescentou que o policiamento “vai ser adaptado conforme as necessidades, nas alturas em que há mais probabilidades de haver incêndios”. Os bombeiros de Amarante elogiam esta ação da GNR, considerando que a presença nas matas de agentes da ordem vai dissuadir atos criminosos. A proteção civil concelhia também aplaude esta iniciativa da GNR, considerando que “será um elemento muito importante no esforço conjunto que muitas entidades estão a fazer para defender a floresta dos incêndios”. Também a associação de baldios da serra do Marão considera positivo o patrulhamento a cavalo. [Foto de Armindo Mendes/Lusa]
O ministério do Ambiente chumbou uma das quatro barragens da Cascata do Alto Tâmega por causa do mexilhão de rio do Norte, uma espécie rara descoberta no rio Beça, em Boticas, disse fonte oficial citada pela Lusa. A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) das barragens do Alto Tâmega, concessionadas à espanhola Iberdrola, foi assinada na segunda feira e, segundo a fonte, chumbou a barragem de Padroselos, que estava previsto construir no rio Beça, no concelho de Boticas. A tutela resolveu condicionar as restantes três barragens “sem comprometer a produção hidroelétrica anual”. O ministério do Ambiente decidiu que o condicionamento passa também pela obrigatoriedade de serem usadas as cotas mais baixas propostas no Estudo de Impacte Ambiental (EIA). A DIA contempla também um conjunto de medidas de
compensação sócioeconómicas e ambientais para a zona. O mexilhão de rio do norte, Margaritifera margaritifera, é uma espécie rara protegida pela legislação nacional e europeia e que, em 1986, chegou a ser dada como extinta em Portugal. A construção da barragem de Padroselos implicaria a eliminação desta colónia de bivalves e, por isso, o EIA propôs um “possível cenário alternativo do projeto”, que passava pela exclusão desta barragem do projeto. Muitos especialistas e ambientalistas defendem que a sobrevivência do mexilhão de rio do Norte era “praticamente impossível” de conciliar com a construção da barragem de Padroselos. A Iberdrola já pagou ao Estado um prémio de concessão no valor de 303 milhões de euros pela exploração das barragens durante 65 anos.
Chaves nem quer ouvir falar de portagens O presidente da Câmara de Chaves, João Batista, apelou ao ministro das Obras Públicas para que não sejam introduzidas portagens na autoestrada A24 na próxima década por uma questão de justiça. António Mendonça e seu homólogo espanhol, o ministro do Fomento, José Blanco Lopéz, inauguraram sábado, em Feces de Abaixo, a Ponte Internacional sobre o rio Pequeno (na bacia hidrográfica do Tâmega). Esta ponte vai ligar as autoestradas A24 (Viseu/fronteira de Vila Verde da Raia) e A75 (fronteira/Verín).
No decorrer da cerimónia, a principal preocupação revelada por autarcas, empresários e população foi a introdução de portagens nas SCUT (sem custos para o utilizador) portuguesas, uma medida do Governo que se receia que chegue à autoestrada transmontana. Por isso mesmo, João Batista aproveitou a presença do ministro para o “tentar sensibilizar”. “Eu espero que a introdução de portagens não aconteça por uma questão de justiça, pelo menos na próxima década”, afirmou o autarca aos jornalistas.
Obras em Bragança ajudam negócios
Manuel Teles/Lusa
Pequenos negócios da restauração revigoraram com o movimento das obras em curso no distrito de Bragança, de tal maneira que há quem vaticine que se alguém abrisse agora uma residencial, recuperaria o investimento ainda antes do desmontar dos estaleiros. A faturação no café de Beatriz Reis, na Trindade (Vila Flor), cresceu “80 por cento” com os trabalhadores das estradas do Douro Interior e, mais a sul, na aldeia de Estevais, em Torre de Moncorvo, o casal Paula e Miguel Costa abriram
o único café do sítio por causa da barragem do Sabor. Até à conclusão da barragem, tem clientela assegurada. Ninguém tem dúvidas de que “há dinheiro que garantidamente fica na região”, embora se possa estar a perder aquela que pode ser “a última oportunidade”, na opinião do Governador Civil, Jorge Gomes. “As pessoas não estão a ter a consciência do que está no terreno, é um estaleiro de obra que nunca mais vai existir no distrito de Bragança”, considerou.
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Estação elevatória na margem esquerda parece ser a causa
Cheiros nauseabundos ‘perfumam’ esplanadas de Amarante M oradores e utentes das esplanadas da zona ribeirinha de Amarante queixamse do mau cheiro intenso sentido com alguma frequência nas últimas semanas, sobretudo à noite. No percurso entre o parque florestal e a ponte de S. Gonçalo, junto às esplanadas, na margem esquerda do Tâmega, o mau cheiro é intenso e em particular ao fim da tarde e no período noturno, entre as 21:00 e 22:00. O cheiro a esgoto, por vezes, é também sentido na praça da República e na alameda da Câmara Municipal. A causa, na maioria das vezes, parece residir numa estação elevatória existente junto ao rio (fotos). No último fim-de-semana, 18 e 19 de junho – noites de sexta e sábado – o mau cheiro voltou a sentir-se com intensidade tendo desaparecido por volta da meia-noite. Uma semana antes, nas festas do junho, também se sentiu o odor característico dos esgotos. Manchas escuras na água do rio Tâmega são também habituais. Em resposta a perguntas do Repórter do Marão a Águas do Noroeste, SA (que resultou da fusão de várias empresas entre elas a Águas do Ave, responsável pela gestão do saneamento em Amarante) reconheceu “que, de facto, foi detetada, no dia 17 de maio, uma descarga
clandestina (de origem desconhecida), tendo o problema sido resolvido durante a semana em questão”. Quanto ao mau cheiro no centro da cidade, a empresa nega a sua existência e na reação enviada por e-mail considera ser “fundamental salientar que o tratamento de águas residuais está a ser realizado de forma adequada e a cumprir a legislação vigorante”. Isso mesmo, diz a empresa, “foi comprovado pelos técnicos da Águas do Noroeste, SA, bem como pelo vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Amarante que, in loco, puderam comprovar a inexistência de maus odores”. Provavelmente por estar num plano superior, a Casa da Calçada não se queixa dos maus cheiros do rio, segundo disse ao RM um responsável do hotel.
| Vereador desconhece | Carlos Pereira, vereador do Ambiente da Câmara de Amarante garante que não lhe chegou “qualquer relato” de que tenha sido sentido mau cheiro nos últimos dias. “Falei com algumas pessoas, inclusive alguns comerciantes, que não me referiram essa situação”, disse ao RM. Carlos Pereira admite, no entanto, a possibilidade de o mau cheiro poder ter origem nalguma “pequena estação elevatória” e ser deslocado
pelo vento. O vereador disse pensar que “não será da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR)”. Em maio foi sentido durante cerca de uma semana um mau cheiro “muito intenso” que teve origem num problema grave causado por duas descargas clandestinas, contou Carlos Pereira. Com base nas análises feitas, os técnicos da Águas do Noroeste deram indicações de que foram feitas duas descargas, uma maior e outra de menor dimensão ocorrida quando se estava a tentar resolver os danos causados pela primeira. As análises indicam que terão sido feitas descargas ilegais de hidrocarbonetos ou de um produto gorduroso idêntico ao azeite. Essas descargas ilegais, cuja origem não foi identificada, destruíram as lamas orgânicas de tratamento utilizadas na ETAR. A empresa teve de recorrer à ETAR de Guimarães “para substituir integralmente as lamas” trazidas em vários camiões, explicou o vereador do Ambiente. A 27 de maio houve uma reunião na ETAR em que estiveram o presidente da Junta de S. Gonçalo (onde se localiza a ETAR), o responsável pela Proteção Civil Municipal, o vereador e o diretor do Departamento de Ambiente da Câmara. O problema acabou por ser resolvido, mas o vereador garantiu que a “Câmara está atenta” ao problema. P.C./J.S.
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Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente Desde 1993, que a EPALC forma Técnicos de Gestão do Ambiente. Esta longevidade reflecte, incontestavelmente, o carácter empreendedor, a capacidade de inovação e o rigor pedagógico, científico e técnico que esta Escola sempre soube promover. A EPALC desenvolve a sua actividade apresentando como missão primordial o compromisso com a qualificação profissional de jovens e nomeadamente na área de Gestão do Ambiente, procura fazer face a um novo paradigma de crescimento sustentado, baseado na permanente preocupação com as questões ambientais. À semelhança do que acontece noutros países, o sector do ambiente apresenta-se como um dos mercados com maior potencial de desenvolvimento, assistindo-se nesta área um considerável investimento, quer em recursos humanos, quer em recursos financeiros. As empresas procuram adaptar-se às novas exigências da qualidade ambiental recrutando técnicos qualificados, o que se reflecte num elevado potencial de empregabilidade, para os recém-formados Técnicos de Gestão do Ambiente. O Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente dota os alunos de competências que lhes permitem intervir activamente no domínio da gestão da qualidade ambiental e do desenvolvimento sustentável, particularmente apoiando, coordenando, organizando e executando actividades fundamentais, relativas à Educação Ambiental, Qualidade e Segurança Ambiental, Recursos Hídricos, Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, devidamente contextualizadas nas necessidades locais, nacionais e comunitárias. A formação da EPALC privilegia um ensino fortemente prático, promovido através de aprendizagem em contextos diferenciados, favorecido pelo contacto frequente com empresas/entidades da área ambiental e permitindo conhecer a realidade do sector e desenvolver a aquisição de competências profissionais dos futuros técnicos. Estes objectivos são alcançados, através da realização de visitas de estudo a áreas protegidas, empresas/entidades certificadas, laboratórios de
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monitorização ambiental, ETA, ETAR, Aterros Sanitários, Centros de Educação Ambiental, na participação em seminários, palestras, conferências e feiras técnicas, na realização de práticas simuladas, aulas experimentais e laboratoriais. A componente prática é ainda reforçada na Formação em Contexto de Trabalho (estágio), que decorre em etapas intermédias do ciclo de formação e, finalmente, pelo desenvolvimento da Prova de Aptidão Profissional (PAP). Estas são levadas a cabo em estreita ligação com as empresas/entidades do sector, consubstanciando-se, por vezes, em trabalhos de investigação de contributo relevante para as empresas, para a escola e para a região. É de realçar que esta colaboração só é possível devido à receptividade que as inúmeras empresas/entidades manifestam pelos nossos alunos que, durante estes contactos, demonstraram um bom desempenho e fomentaram as boas relações interpessoais, permitindo manter a proximidade entre a escola e o mundo empresarial. Paralelamente, os alunos do Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente encontram-se envolvidos em vários projectos de âmbito nacional e europeu, nomeadamente: “TWIST a tua energia faz a diferença”; “Escola Electrão”; “Olimpíadas do Ambiente” e “OTESHA influence”. A diversidade de estratégias de aprendizagem permite uma formação integral do aluno, fazendo da EPALC uma escola inclusiva, dinâmica, integrada na sociedade e que aposta igualmente numa forte componente de educação para a cidadania, empenhando-se na formação, não apenas de técnicos capazes e competentes, mas também de cidadãos activos e interessados nas causas sociais e do domínio público. Sendo a gestão ambiental uma área do conhecimento que tem experimentado grande desenvolvimento económico e forte consciencialização social, nas duas últimas décadas, o presente Curso responde às necessidades de formação de profissionais qualificados, quer da parte dos agentes económicos, quer da sociedade civil.
Somos alunos da Escola Profissional António do Lago Cerqueira e frequentamos o 3º ano do Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente (TGA). Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a esta Escola a forma como nos recebeu e por nos ter proporcionado aulas dinâmicas e enriquecedoras, quer a nível cognitivo, quer a nível pessoal. Durante este percurso de três anos sentimos que crescemos como alunos e acima de tudo como cidadãos exemplares, perfeitamente conhecedores das várias temáticas relacionadas com ambiente, segurança e higiene, os recursos naturais, entre outras. Desta forma, o nosso curso traz-nos muitas vantagens, uma vez que podemos aplicar os conhecimentos obtidos nas aulas e pô-los em prática através da Formação em Contexto de Trabalho/Estágio, que a Escola nos faculta, permitindo-nos alcançar mais facilmente o mercado de trabalho e adquirirmos uma preparação importante que nos poderá ser útil futuramente para a nossa vida activa. O curso TGA permite-nos participar activamente em diversas visitas de estudo, relacionadas com os elencos modulares das várias disciplinas do currículo, sendo aprendizagens. A todos os jovens que pretendam adquirir uma dupla certificação (12º ano e Curso de Técnico Profissional), aconselhamos a inscreverem-se nesta Escola, pois podemos dizer na primeira pessoa que é uma aposta segura e acertada num futuro que se aproxima! Vale a pena optar pelo Curso Técnico de Gestão do Ambiente, junta-te a nós! Diogo Castro e Susana Teixeira, Turma GA15 O meu nome é Lúcia Silva, estudei na EPALC de 1998 a 2001, tendo concluído o Curso Profissional de Gestão do Ambiente. Aprendi imenso, até porque a área ambiental sempre me despertou grande interesse. Interesse esse, que me incentivou a prosseguir estudos na mesma área. Hoje, trabalho na área do ambiente, nomeadamente no Laboratório de Análises de Águas SER/EDT. Este colabora no acolhimento de estagiários, permitindo desta forma manter o contacto com a Escola, o que me satisfaz bastante porque foi uma escola que me ensinou muito, relembrando com saudade aquele tempo... Lúcia Silva – Técnica de Gestão do Ambiente (1998-2001 EPALC) Durante o período de 2006/2009 frequentei a EPALC no Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente nível III (equivalência ao 12º ano de escolaridade). O facto de ter frequentado este curso incentivou-me a prosseguir os estudos num Curso de Especialização Tecnológica (CET), de Análises Químicas e Biológicas, dando sequência às competências e saberes adquiridos anteriormente (na EPALC). Posso assim dizer que esta Escola e o Curso foram de encontro as minhas expectativas , recomendando a todos em apostar no ensino profissional na EPALC, possibilitando o acesso ao mercado de trabalho, assim como o ingresso no ensino superior. Lívio Ferraz – Turma GA14
Sara Gomes – Directora do Curso
A SOLAR PROJECT em Amarante – Energias Renováveis está receptiva a cooperar com as diversas instituições da região que leccionam cursos na área do ambiente. A SOLAR PROJECT teve a primeira experiência no âmbito da Formação em Contexto de Trabalho (Estágio) com o aluno Miguel do Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente ministrado na EPALC, a qual consideramos bastante proveitosa para ambos. Espera-se que esta parceria com a EPALC se prolongue, nomeadamente no acolhimento de estagiários, assim como na participação das diversas actividades desenvolvidas por esta instituição. José Carlos Silva – SOLAR PROJECT Amarante Os estagiários, do Curso Profissional de Técnico de Gestão do Ambiente, apresentam grande capacidade de adaptação à realidade da empresa. Colaboraram positivamente nas actividades propostas, pondo em prática as suas aptidões profissionais. No presente ano lectivo os estágios revelaram-se proveitosos no estudo das soluções disponíveis no mercado das energias renováveis. Não só permitiu que aprofundassem os seus conhecimentos teóricos, mas também contribuiu para uma aproximação entre as realidades empresariais e académicas nos temas abrangidos. Filipe Canedo e Sá – INOVAFIEL Penafiel
Desde há alguns anos que a Câmara tem aceite estagiários do Curso Profissional de Gestão do Ambiente da EPALC, em várias vertentes e têm sido sempre bons recurso humanos integrados na Divisão do Ambiente. A polivalência de áreas em que têm formação é fundamental para serem integrados nos mais variados projectos desenvolvidos neste município. Elsa Rocha - CMP
Entrevista a Henrique Capelas (CHNE) | Recursos de
Saúde no interior
Helena Fidalgo | hfidalgo.tamegapress@gmail.com | Fotos | Manuel Teles e CHNE
O
s recursos hospitalares existentes no Nordeste Transmontano seriam suficientes para tratar o dobro da população desta região. A lógica pura e dura das leis de gestão e de mercado ditariam que um pequeno hospital bem equipado bastaria. Mas para os 140 mil habitantes do Distrito de Bragança as contas da Saúde não se compadecem com simples operações matemáticas. E mesmo multiplicando, a acessibilidade continua a ser para muitos sinónimo de penosas distâncias e custos sociais incalculáveis. Nos cinco anos que leva à frente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Nordeste Transmontano (CHNE), Henriques Capelas, conhece bem os números da Saúde na região: “nós temos aqui o dobro dos gastos. A Saúde acaba por ficar muito mais cara do que seria normal para tratar 140 mil habitantes”. O tema é dos mais sensíveis para uma população isolada, obrigada a longas deslocações ao Porto para tratamentos oncológicos e outras especialidades. O presidente do CHNE garante que estas deslocações já são em menor número e promete que, em breve, terão uma redução ainda maior, mas reconhece que a região tem características incontornáveis. Segundo explicou, o Nordeste Transmontano é um distrito que tem duas vezes a área do Minho e Douro Litoral. São apenas 22 habitantes por quilómetro quadrado dos mais de seis mil da região. “Se comparar com os perto de 200 do Porto, temos 10 por cento, temos a população extraordinaria-
mente dispersa e isto leva a que haja custos acrescidos que outros hospitais não têm”, disse. “Com um pequeno hospital bem montado, em termos teóricos, nós poderíamos tratar esses cento e tal mil habitantes, mas era se, se, se: se eles não estivessem tão dispersos, se não fosse o Nordeste a zona que é”, continuou. Por estas razões, diz que “aqui a saúde acaba por ficar muito mais cara do que o que seria normal para tratar 140 mil habitantes” e que “se for no litoral, um hospital com muito menos despesa tem por obrigação tratar os mesmo doentes a menor custo, porque estão todos muito mais concentrados”. “A capacidade dispersa do Centro Hospitalar junta, com 400 camas, daria para tratar o dobro das pessoas numa zona de maior concentração habitacional”, considerou. A região é servida por três unidades hospitalares (Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela) e para que todos os habitantes possam aceder a elas ou a outras hospitais de referência, o CHNE gasta quase dois milhões de euros, por ano, em transportes. Dinheiro que devia estar a ser aplicado a tratar doentes, mas, embora pareça “inadmissível em termos de gestão, tem de ser assim porque as pessoas estão distantes”. E mesmo assim, o presidente do CHNE reconhece que “as pessoas continuam com grandes dificuldades” e a administração hospitalar com “ineficiências que não são de gestão, mas derivadas do próprio sistema e da realidade da região”. “Acabamos por ter nove salas de bloco, bastavam me-
tade, três centrais de esterilização, bastava uma, três TAC, nós temos tudo em triplicado”, afirmou, ressalvando de imediato que não é sua intenção “cortar seja no que for”. “Nós temos de manter uma estrutura pesada com alguma ineficiência, são os custos políticos que nós assumimos e que temos de ter para dar boas acessibilidades a esta população. É mais caro, mas nós assumimos”, disse.
| Cuidados continuados são os hospitais do futuro | O Nordeste Transmontano tem uma taxa de envelhecimento muito superior ao resto do país com patologias típicas desta faixa etária que reclamam uma mudança de rumo na saúde, na opinião de Henrique Capelas. “Os cuidados continuados vão ser os nossos hospitais do futuro. Nós ainda temos uma visão muito “hospitalocêntrica”, mas não há dúvida de que a Europa dos anos futuros vai é investir nos cuidados continuados, porque é aí que nós vamos passar muito do nosso tempo”. Na opinião de Henrique Capelas, “a gerontologia vai ser uma área extremamente importante e em que é necessário evoluir muito na região”. Como atualmente a taxa de cobertura dos cuidados continuados ainda não abrange toda a região, o CHNE “acaba por ter gente internada que no fundo são cuidados continuados”.
Bragança suficientes para tratar o dobro da população
é muito mais cara “São mais custos que temos, são mais demoras médias. Por isso é que me revolta quando ouço falar em resultados líquidos dos hospitais”, declarou.
| Um hospital não é uma empresa | Henrique Capelas licenciou-se em Gestão de Empresas e tem várias especializações em gestão empresarial hospitalar e saúde, áreas em que exerce funções há quase uma década, começando em Vila Real, de onde é natural. Para este gestor, que desde 2005 administra o CHNE com as regras dos hospitais-empresa, “quando falamos em resultados líquidos estamos a falar de uma empresa pura e dura, dos mercados. Um hospital não é uma empresa sujeita às leis do mercado, o mercado da saúde não é um mercado normal da oferta, da procura e da concorrência como qualquer outro”, considerou. O conselho da administração do CHNE gere um orçamento anual de cerca de 60 milhões de euros e teve, em 2009, resultados líquidos negativos de 12,5 milhões de euros. “Os administradores dos hospitais são essencialmente responsáveis pela despesa que é o que nós controlamos e gerimos. Eu não controlo a receita, eu não posso mandar um aviso para o jornal a dizer: a partir de agora as urgências custam cinco euros, os internamentos custam dez”, exemplificou.
Henrique Capelas diz que “não tem sentido classificar os gestores só pelos resultados porque pode haver hospitais com resultados positivos sem que isso signifique que tenham melhor gestão de que hospitais com resultados negativos”. “Basta que um hospital tenha recebido uma verba de convergência. Se tinha 10 milhões negativos, mas entretanto recebeu 20, fica com dez milhões positivos”, concretizou, referindo-se às tranches recebidas pela produtividade. Segundo disse, também aqui Bragança não está em condições de alterar a receita pois “não tem hipótese de propor mais quantidades de cirurgias, internamentos, sessões em hospital de dia, urgências ou consultas externas”. “Nós não temos sequer lista de espera em cirurgia, não temos listas de espera significativas nas especialidades, tirando ortopedia, nem sequer temos um crescimento populacional que o justifique”, afirmou.
| Cuidados primários integrados nos hospitais | Esta administração hospitalar enfrentou nos últimos anos a contestação e receios locais pela reorganização nos três hospitais que o presidente pensa estarem “já eliminados”. “O que fizemos foi evidenciar cada unidade hospitalar por aquilo que faz de melhor. Nós não podemos ter três hospitais iguais, era o que existia antes, todos
CHNE 2005 / 2009 Aumento de 37 % nas primeiras consultas Acréscimo de 15 % de consultas totais Mais 9,7 % doentes c/ intervenção cirúrgica Aumento de 351 % na cirurgia de ambulatório 161,5 % aumento de produção estomatologia Redução em 65 % tempo espera oftalmologia
OBRAS PARA O FUTURO: Modernização Bloco Cirúrgico de Bragança Ampliação Unidade AVC Macedo de Cavaleiros Unidade de Cuidados Intensivos em Bragança Clínica Oncológica do Nordeste Unidade de Tratamento da Patologia Mamária Ampliação Consulta externa de Mirandela
eles morriam porque nenhum tinha capacidade autossuficiente para se impor”. Os três hospitais estão em processo de certificação e o presidente acredita que conseguiu ganhar massa crítica, com 10 novos clínicos num total de 140, embora persistam carências em Medicina Interna, Ortopedia e Otorrino. Os 22 internos criam também a expetativa de que a região possa tornar-se mais atrativa para os médicos, fruto também dos protocolos celebrados com os hospitais-universidade do Porto. O ambulatório de Mirandela acabou com as listas de espera nas operações às cataratas e tem disponibilidade para tratar doentes de outros hospitais, mas ainda não recebeu solicitações, apesar das conhecidas carências no país que levam doentes a Cuba para serem operados. Nos últimos anos foram investidos 25 milhões de euros em melhorias nas três unidades hospitalares, mas faltam ainda no Nordeste meios como a ressonância magnética, que obriga os doentes a deslocarem-se a Vila Real. Henrique Capelas promete reduzir, em breve, para mais de metade as deslocações ao Porto com a criação da Clínica Oncológica do Nordeste em Macedo de Cavaleiros. “É claro que haverá sempre deslocações, não temos, por exemplo, neurocirurgia, nem será nunca possível ter”, acrescentou. Num futuro próximo, Henrique Capelas defende “uma integração dos cuidados primários (centros de saúde) com os hospitalares, o que na opinião do administrador só traria benefícios para as populações”.
Douro Verde promovido na Galiza Decorreu de 10 a 13 de Julho a 33.ª Feira Internacional da Galiza – Semana Verde – em Silleda, província de Pontevedra, que este ano voltou a ter a forte presença do território Douro-Verde representado pela Dolmen, no âmbito de parceria com a Direcção Regional de Agricultura e Pesca do Norte, entidade responsável pela organização da participação portuguesa. Além da Dolmen integraram a representação do Norte de Portugal, cujo pavilhão ocupava cerca de 150m2, o Solar do Alvarinho, Minho Fumeiro, uma associação de kiwicultores e a Horpozim – Associação de Horticultores da Póvoa de Varzim. As potencialidades turísticas do território Douro-Verde, o seu artesanato e produtos locais de qualidade, designadamente vinhos, fumeiro, mel e doçaria regional, foram um dos principais factores de atracção do pavilhão português, que possibilitou aos visitantes a degustação dos produtos referidos, bem como provas de vinhos do Douro Verde.
Em parceria com a PROVIVERDE
Dolmen retoma tertúlia Serões na Aldeia Um novo ciclo dos Serões na Aldeia – tertúlia iniciada pela Dolmen no decurso do Leader II e que teve continuidade durante a vigência do PIC Leader + - será retomada no próximo dia 09 de Julho, na Casa da Calçada, Amarante. A primeira sessão do III Ciclo dos serões terá como convidado especial e principal dinamizador, o Dr. Manuel Pinheiro, Presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes que discorrerá informalmente sobre o “Prazer de Partilhar Vinhos Exclusivos”. A organização deste Ciclo de Serões será da responsabilidade conjunta da PROVIVERDE e da Dolmen, inserindo-se estes eventos no Plano de Animação do Território Douro Verde, no âmbito do PRODER – Sub-Programa 3, do qual a Cooperativa de Desenvolvimento Regional Dolmen é a entidade local gestora. Os potenciais interessados em participar na tertúlia podem contactar a PROVIVERDE ou a Dolmen.
Aldeias de Portugal no Douro Verde Foi a pensar na defesa do património natural e edificado de muitas aldeias e na necessidade de dotar algumas das suas casas com as mínimas condições de habitabilidade dos tempos modernos que nove Associações de Desenvolvimento Local, ADRIL, ADRIMINHO, SOL DO AVE, ATAHCA, ADER-SOUSA, ADRIMAG, DOLMEN, PROBASTO E BEIRA-DOURO, no âmbito do projecto de cooperação inter-territorial do PIC Leader+, criaram a rede “Aldeias de Portugal”, que terá continuidade no PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural – com alargamento a toda a Região Norte, encontrando-se em preparação a classificação e dinamização de novas aldeias emblemáticas com a prestigiada denominação ALDEIAS DE PORTUGAL. Actualmente o território Douro Verde, por iniciativa da Dolmen, dispõe de 4 aldeias classificadas – Tongobriga (Freixo) no Marco de Canaveses, Lugar da Rua (Aboadela) em Amarante, Porto Manso, (Ribadouro) Baião e Boassas em Cinfães. Esta cooperativa de desenvolvimento regional prepara, em colaboração com autarquias locais do Douro Verde, junto da ATA – Associação de Turismo de Aldeia – a candidatura de novas aldeias à denominação ALDEIAS DE PORTUGAL, entre as quais salientamos: Lugar da Rua (Teixeira) e Almofrela, em Baião, Canaveses (S. Nicolau / Sobretâmega) e Venda da Giesta (Soalhães), no Marco, Manhufe e Ovelhinha, em Amarante e Caldas de Aregos em Resende.
AS PAISAGENS MILENARES COMO FACTOR IDENTITÁRIO DO TERRITÓRIO "DOURO-VERDE"
Textos: Rolando Pimenta
Boassas
Aboadela
Freixo
Porto Manso
Cooperativa de Formação, Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega, CRL
AMARANTE - BAIÃO - MARCO DE CANAVESES RESENDE - CINFÃES - PENAFIEL Aboadela
Freixo
Telef. 255 521 004 - Fax 255 521 678
dolmen@sapo.pt
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repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I
Manchas na pele: Saber mais, prevenir melhor Sabemos que a pele é o maior órgão do corpo humano, está sujeita a vários tipos de agressões e as manchas são alterações na sua coloração que podem aparecer em qualquer idade, sabemos que há doenças que se anunciam por manchas irregulares, sabemos igualmente que as “pintas” aparecem em todos os corpos um pouco como as sardas, têm a ver com a pigmentação, e sabemos também que há manchas de envelhecimento como há as manchas da gravidez (cloasmas). O tipo de manchas de pele é um desses distúrbios da pigmentação da pele, caracteriza-se por manchas escuras, aparece principalmente no rosto (mas também pode ocorrer no tronco, pescoço e membros Beja Santos superioAssessor Inst. Consumidor res), é um distúrbio tipicamente feminino, é uma consequência do aumento da melanina na pele e dá pelo nome de melasma. Este consiste na aquisição progressiva da coloração, desde castanho claro a castanho escuro, conforme a parte da pele afectada. O domínio das manchas na pele é assim enorme, tem a ver com as alterações da produção de melanina, com as infecções, distúrbios hormonais, micoses, alterações vasculares, tumores, exposições solares e acne. Depois das férias, estas manchas são um justificado motivo de preocupação para quem se submeteu à exposição solar, a pele muitas vezes fica manchada, havendo que fazer tratamentos já que estas manchas podem ser motivo de grande angústia e sofrimento. De facto, a natureza das doenças dérmicas ocasionam geralmente problemas de ordem psicológica pela desfiguração facial, têm repercussões na vida de relação, na produtividade no trabalho e na auto-estima. (...)
opinião
As voltas que a vida dá! Ainda há dias falava das viravoltas maquiavélicas que vêm ocorrendo na Educação e…. quando todos pensávamos que já nada nos poderia surpreender! Eis que os senhores, que mandam nisto, se suplantam de forma colossal! Digno de Guiness! Ao fim-de-semana comunicaram aos mandantes, mais pequeninos, que estavam exonerados. Ou, aceitavam “carguinhos” mais modestos, ou…. Voltavam a dar aulas! Poupança? Democracia? Autismo? Revolução?.... Porquê? Porquê, eu? Porque os seus reinos iam ser fundidos com outros mais populoMaria José C. Branco sos. Inicialmente, foi o pânico! Vereadora PSD - Amarante Gritaram, apelaram à democracia, choraram, reclamaram por lugares para que tinham sido eleitos,… Esta, foi de mestre, surpreenderam tudo e todos! Realmente, “Por trás de uma montanha há sempre uma mais alta” mas também “Quem com ferros mata
com ferros morre”. Este governo vem-nos habituando a métodos muito pouco compatíveis com as regras mais
básicas da democracia e, pelos vistos, nem os mais fiéis servidores estão a salvo! Ver? Só o que lhes interessa. Ouvir, para quê? Falar? Só, com quem nos convém. Há dias o líder autárquico de Amarante dizia, “só estão no governo porque alguém os pôs lá”. Ora, grande verdade! Mas, também é certo que se o arrependimento fizesse cair o cabelo, os barbeiros estariam às moscas porque este país estaria transformado num enorme “cabaz de nectarinos”.
Desabafos de um médico Depois, se me permitem caros colegas mais novos, coCarlos Colegas: Tendo cruzado acidentalmente na Ponte de São Gon- laborem com as especialidades. O clínico geral não conhece certos casos com a proçalo com a minha colega Rosa Coelho foi-me sugerido em conversa amena que escrevesse no jornal algumas peri- fundidade necessária. A sua missão talvez mais ingrata é revestir-se da hupécias ou acontecimentos na minha vida clínica desde há mildade necessária para reconhecer que ser um bom clí60 anos. Hoje inspirado telefonicamente por um convite não nico é ter competência para não prejudicar ninguém e identificado via telemóvel, resolvi transmitir aos meus co- ter um telemóvel para chamar um colega em situações de S.O.S. legas mais alguns novos conselhos que Eis um caso: resultam da minha longa experiência clíNum passado recente fui ver uma donica. ente idosa, quase moribunda, daquelas Como sabem há doentes a quem nós que os familiares chamam para a certigostaríamos de pagar os honorários em dão de óbito ou para não ouvirem os vizivez de os recebermos. Uns por isto, ounhos acusá-los de negligência. tros por aquilo facilmente esgotam a nosO seu ventre muito timpanizado, sa paciência e nos enchem de adrenalina. apresentava muito maior volume no hiÀs vezes reajo emocionalmente, mas pocôndrio direito, espécie de balão em acabo sempre por fazer funcionar a emforma de chouriço. paria e tudo fica resolvido. Nunca tinha visto tal coisa, mas por É preciso muita paciência e alguma este motivo e não só apercebi-me da grapsicologia. A que utilizo é uma psicologia vidade da situação e telefonei ao cirurgião. prática que resulta da observação dos doPassado pouco tempo funcionou o entes que pressentimos que para além da Augusto Barros INEM e mais tarde o cirurgião telefonou doença orgânica têm problemas espiritu- Médico / Amarante a dizer que a doente tinha sido operada e ais que precisam ser conhecidos e talvez estava bem. acompanhados. Digo do coração, para mim é tão gratificante ser eu a Quando trato um doente lembro-me sempre que não tenho diante de mim apenas uma serotonina ou um cir- curar, como arranjar quem o faça por mim. “ Peneiras” só tive quando era novo julgando-me um cuito cerebral alterado. Essa pessoa tem uma história, uma vida de apreen- bom piloto de automóveis de que resultaram vários acidentes, dos quais alguns até poderiam ter tido consesões e preocupações. quências graves. Nada substitui a relação médico doente. O meu sogro dizia-me: compre um automóvel de comIndependentemente da doença de que se queixa, tem de ser escutado atentamente pois por vezes tem proble- petição que eu até o ajudo e inscreva-se nas competições mas que não têm apenas a ver com a parte fisiológica e desportivas. Você não tem o direito de sacrificar a vida de que quer falar e deve portanto ser colocado á vontade. dos outros. Entrava por um ouvido e saía por outro. Só muito tarde, já velho, ao tentar ultrapassar um C4, Isso é o que vai garantir que não seremos substituío que aliás não consegui, parei e reflecti. dos no futuro pelas novas tecnologias. A vida pode ser aborrecida, mas, apesar de tudo ainO computador pode saber tudo o que dizemos, mas o acto médico é insubstituível. É o encontro mais íntimo da vale a pena viver! Tenho 86 anos e nestes últimos anos (vale mais tarde que pode existir na vida entre um ser que sofre e aquele do que nunca) passei a ser mais ponderado e aplicar por que vai tentar ajudá-lo. É claro que na maioria dos doentes tudo é mais sim- minha auto-observação os ingredientes necessários para ples, os seus males estão à frente dos nossos olhos, é fácil corrigir a minha impulsividade. Que os meus desabafos não caiam em saco roto! receitar e agradável receber honorários...
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António Mota
Laura e Samuel Quando era mais pequena não entendia aquela euforia. O meu pai voltava a ser criança, ria, cantava, dizia disparates, abraçava a minha mãe, queria beijá-la na boca, e ela sorria com aquele inesperado raio de sol a lamber-lhe o corpo. E sussurrava: olha a menina, Samuel, ganha juízo. E eu olhava para o chão fazendo de conta que não tinha visto nada, que não tinha ouvido nada. Eu não percebia porque é que eles estavam tão contentes. Sim, eu sabia que tinham nascido em Portugal, lá numa terrinha, no meio do nada. Que estavam lá os meus avós e os primos e aquela gente toda que se chama família. E depois? Que é que eu tinha a ver com aquilo? Metíamo-nos no carro e lá íamos passar as férias a Portugal. Todos os anos, era aquele castigo. Eles iam muito felizes, e eu tristíssima por deixar para trás o meu quarto, as minhas bonecas e os meus colegas de Frankfurt, farta de saber que tinha de passar um mês num buraco onde nada acontecia. Um inferno. Para o meu pai e para a minha mãe era o mês do paraíso. Era ali, no cimo da aldeola, que eles tinham feito uma casa imensa, um espécie de castelo, com três andares, muitos telhados e muitas escadas. O meu pai era o escravo daquele sonho a que chamava casa. Todos os anos tinha de inventar um muro, uma parede, um socalco, uma telha partida, ninhos a tapar as caleiras. E os vizinhos, cada ano mais trôpegos, e menos em cada ano, perguntavam se ainda faltava muito tempo para o regresso. E o meu pai, feliz como um príncipe, fazia a contagem decrescente pelos dedos das mãos. A minha mãe, a princípio tão militante de ir viver naquela casa que lhe sugou o suor, que tinha um cheiro estranho, e teias de aranha do tamanho de bandeiras atrás das portas, começou a ter dúvidas a partir do dia em que eu lhe apresentei o Matheus, o meu companheiro , um alemão de tamanho XXL .
E as dúvidas começaram a embrulhá-la depois de ter sido avó do meu Waldyr , loirinho como o pai. E agora?, perguntava a minha mãe, a medo. E eu respondia: tu é que sabes Laura, tu é que decides, a vida. Não é assim que dizes, quando eu te faço perguntas? E ela respondia-me que também tinha de pensar no meu pai. Tinha de respeitar o sonho dele. E eu confortavame imaginando uma mãe despachadíssima, viajante solitária e destemida, como se isso fosse possível com aquela mulher, que tinha medo de atravessar a rua. Porque agora as viagens de avião fazem-se num instante, e são baratas. No ano passado o meu pai reformou-se e esperou que a minha mãe ficasse como ele. Aquele homem, entediou-se um ano inteiro, sem saber o que fazer, sem saber o que decidir. Quando faltava menos de um mês para se reformar, minha mãe foi parar a um hospital. Quando voltou trazia uma cadeira de rodas a fazer as vezes das pernas paralisadas. Agora que a casa da aldeola deixou de fazer sentido, o meu pai tornou-se um homem calado, amargo, quezilento. Ele nega, mas eu bem sei que anda a beber mais do que deve. E eu calo-me. Sempre me calei. anttoniomotta@gmail.com
Todos os anos, era aquele castigo. Eles iam muito felizes, e eu tristíssima por deixar para trás o meu quarto, as minhas bonecas e os meus colegas de Frankfurt, farta de saber que tinha de passar um mês num buraco onde nada acontecia. Um inferno. Para o meu pai e para a minha mãe era o mês do paraíso.
crónica|cultura
Morte de Saramago suscita sentimentos de ‘perda’ O desaparecimento de José Saramago, que faleceu a 18 de junho aos 87 anos e foi Nobel da Literatura em 1998, deixa um sentimento de “perda” em vários quadrantes da sociedade portuguesa e mundial, que lembram o escritor como uma “referência” que elevou a língua portuguesa no mundo. O Presidente da República, Cavaco Silva, cuja ausência no funeral suscitou críticas, recordou José Saramago como um “escritor de projeção mundial”, sublinhando que o escritor e Nobel português “será sempre uma figura de referência” da cultura nacional. O Governo, que esteve representado por alguns ministros e por José Sócrates, nomeadamente no funeral, decretou dois dias de luto nacional pela morte do escritor, que vivia em Lanzarote, Espanha. A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas foi propositadamente a Lanzarote, num avião do Governo português, para recolher o corpo do Nobel da Literatura. Nas cerimónias fúnebres, além de figuras de relevo de todos os quadrantes políticos nacionais, com destaque para os partidos de esquerda, estiveram também presentes governantes de Espanha, nomeadamente a ministra da Cultura e a vice-presidente do Governo socialista de Felipe Gonzalez. “Todos nos sentimos órfãos da sua figura tão querida e das suas palavras tão confortantes, órfãos de quem tantas vezes foi a nossa voz, a voz mais humana e mais digna”, disse María Teresa Fernández de la Vega. O primeiro ministro, José Sócrates, disse que o escritor deixa uma impressão profunda na alma portuguesa.
“A única coisa que tenho no meu espírito é o reconhecimento de um povo e de um país que fica a dever muito a José Saramago e que continuará com ele, porque a sua obra continuará a impressionar-nos e a inspirar-nos, como sempre fez”, declarou. Também a Igreja, que foi alvo do pensamento e da obra do escritor e que gerou grande polémica, fez uma homenagem a José Saramago, considerando-o “o expoente” da cultura portuguesa. Em comunicado, o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura afirma que escritor mostrou muito interesse pelo cristianismo e pelo texto bíblico como objeto da sua recriação literária. “Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos”, acrescenta. O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, lembrou Saramago como “uma das personalidades que mais contribuiu para um bom relacionamento entre Portugal e Espanha”. Isabel Alçada, ministra da Educação, referiu-se à “luminosidade” da obra de Saramago que ficará para ser estudada e desfrutada por todos. Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel, cidade onde foi apresentado “Caim” em Outubro de 2009 no âmbito da Escritaria, tornou pública a “tristeza” com que recebeu a notícia da morte do escritor que considera “um dos grandes nomes da literatura nacional e cujo concelho a que presido teve a honra de homenagear ainda em vida”.
23 jun a 06 jul’10
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Cartoons de Santiagu
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[Pseudónimo de António Santos]
É a vida que inspira os caricaturistas / cartoonistas, exagerando os seus esgares, desmascarando as hipocrisias, dramatizando o quotidiano. Nas máscaras, nos exageros, o humorismo e o teatro são irmãos na desconstrução da realidade, e por esse universo navegou Luís d’Oliveira Guimarães, tanto como cidadão, ou como criador. Como dramaturgo colaborou na escrita de cerca de uma trintena de Revistas, Farsas, Teatro Infantil… e como crítico teatral publicou milhares de criticas, crónicas, entrevistas. Luís d’Oliveira Guimarães é um homem do Teatro, sendo por isso natural que este ano o tema da Bienal que o Concelho de Penela (e Freguesia do Espinhal em colaboração com a família Oliveira Guimarães) organizam, seja o Teatro em toda a sua dimensão dramática, lírica, musical, balética, assim como na representação do quotidiano trágico-cómico. Sendo o humor um jogo de códigos culturais, de conhecimentos, de tradições e de diferentes formas de pensar a vida, é interessante observar as diversas maneiras de humorizar o teatro, pelas visões diferenciadas de 133 artistas de 43 países. Mas, o planeta é uma aldeia global e, como tal, é mais a comunhão de ideias do que a diversidade, razão pela qual se vê que Shakespeare é na realidade o símbolo universal do teatro, já que em 297 trabalhos, dez por cento lhe são dedicados. O segundo tema, ou preocupação mais dominante, é a crise das plateias, o esvaziamento das salas. A terceira temática dominante desta mostra é o “Ponto”, figura teatral que está em vias de extinção a nível mundial. Depois, há um pouco de tudo em que são os desenhos que falam por si. Das 297 foram seleccionadas duas centenas de obras para a exposição na Biblioteca Municipal de Penela inaugurada a 5 de Junho, ficando patente ao público até 20 de Junho. Seguidamente será transferida para o Museu Nacional do Teatro em Lisboa, onde o público poderá desfrutar destas obras até ao inicio do mês de Setembro. É mais uma produção Humorgrafe. Osvaldo Macedo de Sousa
Quinzenário Regional
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Bertolt Brecht 2010
O OLHAR DE...
Eduardo Pinto 1933-2009
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repórterdomarão
Santiagu obteve o 1º Prémio na II Bienal – Penela 2010
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"Faina Matinal" – Rio Tâmega - Amarante – Finais Anos 60