Repórter do Marão

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repórterdomarão do Tâmega e Sousa ao Nordeste

Prémio GAZETA 2009

Nº 1244 | outubro'10 | Ano 27 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | 910 536 928 | Edição escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico | Tiragem: 32.000 ex.

o u t u b r o ’ 10

Iniciativa pioneira em Trás-os-Montes

Há vida além da menopausa

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Mais de 500 mulheres de Vila Real já sentiram

Menopausa em Forma: Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos P.P.

E

ste mês, o projeto “Menopausa em Forma – Programa de Promoção do Exercício e da Saúde em Mulheres Pós-Menopáusicas” comemora cinco anos de existência e continua a pugnar por um estilo de vida ativo nesta fase da vida feminina. Financiado inicialmente pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o programa tem sido desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), agora em parceria com uma empresa externa. O programa arrancou com 300 senhoras pós-menopáusicas (com ausência de períodos menstruais regulares há pelo menos 12 meses ou condição induzida por cirurgia) e sedentárias (cuja prática de exercício seja inferior a uma hora por semana nos últimos seis meses), enquanto atualmente estão inscritas 87, distribuídas por sete turmas. “Destas temos cerca de 38% das pessoas que iniciaram o programa de exercício em 2005. Em relação ao número global, presumo que mais de 500 já passaram e que entretanto saíram”, adianta a investigadora responsável pelo projeto, Helena Moreira. O programa é frequentado por mulheres com idades inferiores a 65 anos (a mais nova tem 43), com família constituída, que evidenciam um défice de massa muscular e um excesso de peso típico desta fase de climatério. “São mulheres com níveis de adiposidade central acentuados, o que representa um risco cardiovascular acrescido que nos preocupa bastante”, explica a investigadora. A carência de “uma orientação especializada” nesta matéria é outro dos traços do perfil desta população, maioritariamente oriunda da cidade de Vila Real e dos arredores. Para ingressar no programa, estas mulheres são submetidas a uma consulta médica que analisa a sua aptidão física, nomeadamente a composição corporal, a condição cárdio-respiratória, a densidade óssea, a força muscular e a resistência. Isso vai permitir aos investigadores verificar os critérios de inclusão na amostra. Se cumprirem com todos os requisitos, é prescrito um plano de exercício físico e as

senhoras procedem à inscrição, cujo valor mensal é de 25 euros. Ao longo de todo o processo, o acompanhamento é feito por técnicos especializados.

| Uma iniciativa de sucesso | Helena Moreira, 46 anos, pôs em prática este programa com base no doutoramento que desenvolveu na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, aliando “uma paixão por trabalhar com esta população”. “Também acabo por estar sensível ao facto de as mulheres terem níveis de atividade física habitualmente mais reduzidos do que os homens”, diz. O programa comporta as vertentes de pesquisa, de formação contínua (mestrados e doutoramentos) no laboratório de aptidão física, exercício e saúde, bem como de intervenção comunitária. O objetivo transversal passa pela promoção do exercício da saúde nesta franja da população. “Futuramente pretendemos reforçar a parte de intervenção comunitária, ou seja, de facultar informações que as ajudem a compreender os resultados que obtêm nas avaliações e o porquê de estarem a fazer um programa de determinadas características”, avança Helena Moreira. No último ano, a aposta passou pela projeção internacional do trabalho que tem sido produzido e para o qual as participantes deram “um contributo muito importante”. “Estamos a publicar nas três principais revistas científicas de menopausa e temos alunos de doutoramento a participar nos principais congressos internacionais”. Também a Sociedade Portuguesa de Menopausa se tem associado ao projeto, estabelecendo parcerias em termos de publicação e divulgação. O “Menopausa em Forma” marca a diferença pelo facto de o programa de exercício ter sido criado pela equipa de investigadores da UTAD e por cruzar aspetos da investigação internacional com aquela que é desenvolvida nos laboratórios da academia transmontana. Porém, o projeto carece de uma componente nutricional que poderia otimizar os resultados finais. “Se as senhoras tiverem uma prescrição e acompanhamento nutricional, os efeitos que vamos conseguir no final de um determinado período de intervenção vão ser muito maiores.”

| Exercício ajustado | No caminho para o ginásio, cruza-se quem entra com quem sai. Nos pequenos diálogos lança-se o aviso de que a professora está imparável. Lado a lado, vêm Dulce Mota, 61 anos, e Maria Celeste Lage, 59 anos, amigas de longa data, foram colegas de trabalho e pioneiras neste projeto. Ambas estão de acordo no essencial: a experiência tem sido “muito boa e vale a pena”.


os benefícios da atividade física

uma prescrição obrigatória As sessões duram uma hora e repetem-se três vezes por semana, mas Dulce lamenta que “não sejam mais dias”. Quando se inscreveu, estava desempregada e teve uma oportunidade para “fazer alguma coisa pelo corpo” e distrair-se. “Não praticava nada, mas começaram lentamente, porque sabiam que não estávamos habituadas”, conta. A sua condição física melhorou desde então, mas uma cirurgia recente obrigou-a a parar por uns meses. Por isso, é tempo de voltar a recuperá-la. “Gosto muito disto e faz-me bem. É uma oportunidade que temos em Vila Real que não se deve perder.” A familiaridade que se cria no grupo é tal que Maria Celeste Lage é conhecida pela gargalhada e, a rir, lá vai contanto que antes nem sequer caminhava, mas agora, garante, só deixará de vir quando andar de bengala. “Sinto-me melhor, pois os músculos começavam a ficar presos”, reconhece. Dos primeiros tempos ficam as saudades do campus universitário, onde inicialmente decorriam as sessões de exercício. “Havia mais camaradagem, mais tempo e convívio entre nós”, relata Dulce. Enquanto Maria Celeste acrescenta: “parece que tínhamos sido escolhidas a dedo”. Chantel Marques, 25 anos, orienta a sessão da manhã, onde há murmúrios de que está a ser “puxada”. Há dois anos que trabalha com estas senhoras, que notam as mais-valias do exercício físico no seu dia a dia. “Queremos que consigam subir umas escadas e não se sintam cansadas, que consigam levar os sacos das compras para casa e cheguem bem. Além disso, é o trabalho de força muscular, que com a idade tende a diminuir muito e que tentamos manter.” Os exercícios procuram trabalhar a zona da bacia, os membros inferiores e as costas, áreas corporais onde se verificam mais problemas decorrentes da menopausa. Se hoje o step já faz parte da engrenagem, inicialmente implicava um esforço acrescido. Hoje, sobem e descem, ao ritmo de música com muitos BPM (Batimentos Por Minuto). “Elas conseguem com sucesso fazer tudo o que peço e cumprir com os objetivos da aula”, revela Chantel. Helena Moreira explica que os exercícios com o step evitam a perda muscular e permitem trabalhar o equilíbrio para fazer face ao risco de quebra. Na sala ao lado, é feito trabalho de musculação, tendo como um dos objetivos melhorar a distribuição de forças ao nível do pé. Ao longo da sessão, Chantel dita os movimentos que devem ser executados, repetindo que no caso de sentirem dores, devem parar. “É perceber até onde é que elas conseguem ir e se o exercício é mais o indicado. Se sentem dificuldades em fazer um movimento mais complexo, optamos por simplificar.”

| 3 em 1: saúde, aprendizagem e socialização | Com roupa desportiva e sapatilhas calçadas, estas mulheres aguardam as indicações da professora. À medida que os exercícios se sucedem, os movimentos tornam-se mais sincronizados. Ora batem palmas, ora estão no chão a fazer alongamentos. Há pausas curtas para um gole de água e passar uma toalha pelo pescoço. A respiração acelera, mas a vontade é férrea, tal como a saúde que se cobiça. Deolinda Pereira já conta quatro anos nestas lides desportivas. “Tive um problema de saúde grave e fazia fisioterapia e natação para recuperar a minha condição física. Isto foi uma continuidade e fez-me muito bem.” As melhorias, essas, são notórias e inequívocas, “tanto ao nível da condição física como do astral”. “Ganhei massa óssea e não precisei de fazer a cirurgia à coluna novamente”, sublinha. A sociabilização inerente a esta rotina desportiva é uma compensação inalienável, que o diga Maria Emília Sanches, 59 anos. “Psicologicamente dá-nos uma alegria, uma perspetiva positiva da vida. Sentimo-nos mais leves, até pela dinâmica que se cria entre todos os elementos da turma.” E o apelo é assertivo: “todas as mulheres que este-

Helena Moreira A investigadora da UTAD é a mentora do projeto

jam nesta fase etária e com disponibilidade venham experimentar”. A vontade de “estar em forma”, a necessidade de uma atividade ocupacional e de um horário para cumprir foram as principais motivações que a levaram a aderir ao “Menopausa em Forma”. “Tenho duas filhas que já estão a trabalhar e o meu marido ainda trabalha, por isso fiquei praticamente sozinha aos 52 anos, quando me reformei. Nos primeiros tempos comecei a entrar em depressão.”

| Emília lamenta os erros de postura | Apesar de ter sido das primeiras a inscrever-se, Emília lamenta não ter tido acesso ao programa há mais tempo, sobretudo quando dava aulas. “Aprendi muita coisa que podia ter posto em prática em relação aos meus alunos. Por exemplo, a postura corporal.” Com rapidez, enumera uma série de erros que, inconscientemente, se cometem ao longo da vida. “Quando estamos parados a falar com alguém ou na missa, apoiamo-nos numa das pernas. Aqui, aprendi que isso é terrível para a anca e para o fémur.” Além de bem estudada, a lição é transmitida com orgulho. “Temos que estar sempre apoiados nas duas pernas, com o rabiosque metido para dentro e com o abdominal muito contraído. Dentro dos possíveis tento passar estes conhecimentos a amigas que não estão nestes programas ou a familiares, porque isto pode dar-lhes uma qualidade de vida muito maior.” A prática regular e supervisionada de exercício físico tem-se traduzido em benefícios no desempenho das atividades domésticas. “Já tinha um bocado de dificuldade em estender a roupa, mas neste momento estendo a que quero e consigo fazer as tarefas todas da casa com muita agilidade”, refere. Helena Moreira reconhece que o desafio passa também por saber lidar com a componente psicológica. “A redução estrogénica, associada à menopausa, gera alterações nos níveis de humor e a entrada na menopausa coincide com as alterações dos papéis no âmbito familiar e profissional e isso tem implicações importantes no estado psicológico destas senhoras.” As mulheres reformam-se ou ocupam cargos profissionais de maior responsabilidade, vêem os seus filhos sair de casa e/ou familiares próximos a tornaremse muito dependentes e a necessitar dos seus cuidados. “Numa fase do programa, tivemos uma doutoranda na área da psicologia que dizia que grande parte das senhoras tinham depressão e uma boa parte delas não tinha acompanhamento, isso demonstra bem o peso dessa variável.” Os meses de janeiro e de fevereiro são “momentos críticos para a assiduidade”, mas as desistências só acontecem quando surgem problemas de saúde com alguma gravidade, nelas ou num familiar, por causa dos encargos com os netos ou pela preferência da hidroginástica. “A partir de maio, há um sábado por mês em que organizamos um evento de exercício no parque Corgo, em que elas podem levar um familiar ou uma amiga”, acrescenta a investigadora. O programa é interrompido durante o mês de agosto e retomado na segunda semana de setembro.


04 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

destaque / saúde

“É crucial que a família permaneça em alerta perante o conceito amplo da menopausa”  Deve ser encarada como “um acontecimento natural” na vida feminina, defende a investigadora Cláudia Moura

A

menopausa corresponde ao momento na vida da mulher em que a função cíclica dos ovários cessa e começa entre os 40 e os 50 anos, podendo acontecer prematuramente antes dos 40 ou por intervenção cirúrgica. Consigo traz uma série de mudanças físicas, psicológicas e emocionais com as quais a mulher tem que lidar, muitas vezes sem acompanhamento especializado ou informação suficiente sobre o processo. Professora universitária e membro do núcleo Norte da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, a investigadora Cláudia Moura lembra que a menopausa deve ser encarada “de forma positiva” como “um acontecimento natural” na vida feminina. Quais as vantagens da atividade física nas mulheres pósmenopáusicas?

Nesta franja da população, a atividade física interpreta um papel preponderante, garantindo a qualidade de vida e independência, nomeadamente na prevenção da osteoporose que resulta da deficiência de cálcio relacionada com a idade e desequilíbrio entre a velocidade de degradação e de regeneração óssea. Assim, a atividade física melhora a força, o equilíbrio, a coordenação, a flexibilidade, a resistência e a saúde men-

tal, com o objetivo de ajudar a prevenir as quedas.

Que riscos de saúde comportam este período na vida de uma mulher?

A troca de experiências entre mulheres pós-menopáusicas favorece o conhecimento para lidar com este período?

A pertinência da troca de experiências neste período é essencial, podendo constituir ações educativas e preventivas. É necessário a visão holística, onde o todo é maior que a soma das partes.

O envelhecimento é um processo no qual ocorrem várias mudanças que fazem o indivíduo perder a capacidade de adaptação ao ciclo natural da vida, ficando mais vulnerável a processos patológicos. Assim e perante a conjugação das múltiplas alterações decorrentes do envelhecimento, especificamente nas mulheres pós-menopáusicas, verificase por vezes uma diminuição do interesse sexual, que em determinados casos, dada a falta de informação e tendo presentes os mitos criados, corre o pensamento de que, após a menopausa, a mulher perde o interesse e o prazer pelo sexo.

Sendo a família, a primeira instituição indicativa para o alicerce e realização afetiva do idoso, enquanto sistema e grupo social no qual os elementos convivem agregados por uma complexidade muito ampla de relações interpessoais, é essencial neste período. É crucial que a instituição família permaneça em alerta perante o conceito amplo da menopausa.

Quais as repercussões psicológicas, familiares e sociais decorrentes da menopausa?

Além do exercício físico, que estratégias podem melhorar a qualidade de vida destas mulheres?

A menopausa é uma época crítica na vida da mulher, conduzindo a várias perturbações emocionais e psicológicas, favorecidas pelos desequilíbrios hormonais e, principalmente, derivadas de questões pessoais mais profundas, bem como das influências socioculturais. Há que realçar que tais perturbações não se apresentam em todas as mulheres menopáusicas, como se costuma afirmar erradamente, embora constitua uma realidade inegável que muitas delas as apresentam.

Qual o papel da família neste processo?

Encarar a menopausa como sendo um acontecimento natural e preservar a atitude preventiva, muito embora encarada de forma positiva. A velhice é um período de grandes mudanças no plano biológico, psicológico e social, mudanças que exigem um esforço permanente de adaptação às novas condições de vida. Para tanto, a velhice não deve ser encarada como um problema, mas antes como parte natural do ciclo de vida. Patrícia Posse

ATENÇÃO AOS SINAIS A osteoporose é o principal problema para a saúde que a menopausa causa, uma vez que durante os primeiros cinco anos posteriores à menopausa, perdem-se entre 3 % e 5 % de massa óssea por ano e, depois, entre 1 % e 2 % por ano. Os ossos que se fraturam com maior frequência são as vértebras, provocando o encurvamento e as dores de costas, o fémur (ancas) e os ossos dos pulsos. Depois da menopausa, a incidência das doenças cardiovasculares aumenta mais rapidamente devido à diminuição de estrogénios (hormonas que provocam a ovulação). A mulher também pode sofrer de incontinência urinária, inflamação da bexiga e da vagina, e ter dores durante o coito porque ocorre uma diminuição da lubrificação vaginal. A fadiga, a irritabilidade, a insónia e o nervosismo são alguns dos sintomas psicológicos e emocionais associados a este período.



José Luís Carneiro e Renato Sampaio – Candidatos

Renato acusa adversário de co José Luís CARNEIRO

A

s eleições para a Federação Distrital do PS Porto estão à porta. A 8 e 9 de outubro é escolhido o próximo presidente de entre o atual Renato Sampaio e o autarca de Baião, José Luís Carneiro. Ambos garantem querer defender os interesses do Porto e do Norte e são a favor da regionalização para uma melhor gestão dos recursos do país. Em entrevista ao Repórter do Marão, contaram percursos, apresentaram ideias e projetos e lançaram algumas críticas. Se Renato Sampaio acusou a candidatura de José Luís Carneiro de não apresentar “um projeto claro para o distrito, mas apenas ideias vagas e abstratas”, já o autarca de Baião lembrou como o atual presidente terá transmitido, “há dois anos”, a ideia de que não se voltaria a candidatar, pela necessidade de “uma mudança na estratégia política” na distrital. Diferenças à parte, os dois candidatos partilham o mesmo livro e autor favorito: “A Cidade e as Serras” de Eça de Queiroz. Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.com | Fotos D.R. Repórter do Marão - Quando e porque se juntou ao Partido Socialista? José Luís Carneiro (JLC) - Comecei a colaborar nos grupos de reflexão política do PS em Baião a partir de 1992/1993, a convite do então Presidente da Comissão Política Concelhia. Em 1997, fui convidado para ser o número dois de Teixeira de Sousa à Câmara Municipal de Baião. Perdemos, mas assumimos uma oposição muito construtiva desde 1998 e assumi a militância ativa desde essa altura. Desde então, e até hoje, não mais cessou o aprofundamento da minha luta pela liberdade, pela igualdade de oportunidades e pela justiça social, quer em Baião, quer na nossa região. Renato Sampaio (RS) - Aderi ao Partido Socialista no início dos anos 80, após um longo percurso próximo da família socialista, porque entendi que estava em condições de contribuir para o desenvolvimento do nosso país. O PS sempre foi o partido com o qual me identifiquei no campo dos valores e dos ideais. Como tal, não tive dúvidas quanto a essa matéria. O que o levou a (re)candidatar-se à Federação Distrital do PS Porto? JLC - Decidi ser candidato para que o PS Porto seja um partido mais próximo dos militantes e das suas estruturas de base e para que o Porto e a nossa região tenham uma voz política mais forte no país. Uma das causas pelas quais temos o dever de nos bater é a da regionalização: objetivo fundamental para garantirmos um Estado mais humanizado e mais racional na gestão dos recursos públicos.

Nome: José Luís Carneiro Data de Nascimento: 04/10/1971 Profissão: Docente Universitário Habilitações Literárias: Mestrado Como se descreve: “Um homem de diálogo, aberto aos outros, tolerante, voluntarista no serviço à comunidade”

RS - Decidi recandidatar-me à Federação Distrital do Porto porque entendo ser o candidato que reúne melhores condições para dar seguimento a um projeto político que tem dois vetores muito relevantes: o apoio às políticas do atual Governo, numa conjuntura particularmente complexa, e a defesa dos interesses do distrito do Porto e da região Norte. Sei que vou ser julgado pelo trabalho realizado até ao momento e pelo projeto que apresento para o futuro. Quanto a isso, estou tranquilo mas determina-

do, porque os resultados falam por si e a proposta PS Porto Positivo é a mais sólida e consistente. Como vê a candidatura adversária? JLC - Estimo pessoal e institucionalmente o meu camarada Renato Sampaio. Contudo, no início de um novo ciclo político, mais exigente no suporte ao Governo e mais exigente na afirmação das causas do nosso distrito, deveria ter sido promovida pela própria liderança distrital uma mudança na estratégia política de relação com os militantes e com a sociedade civil e ao nível dos protagonistas políticos distritais. Há dois anos, o próprio Renato Sampaio transmitiu-me a ideia de que era a sua última candidatura e que iria preparar essa mudança. Não o quis fazer e tem todo direito de mudar de opinião! Contudo, faço votos para que possamos ter um debate aberto e plural e que no fim das eleições estejamos à altura das nossas responsabilidades para com aqueles que confiam nos nossos valores, princípios e propostas políticas. RS - Respeito a candidatura adversária, mas penso que tem de ser explicada aos militantes. Apesar de o meu adversário defender publicamente que a Federação Distrital do Porto deve manifestar solidariedade ao secretário-geral do PS, há uma colagem clara e inegável à sucessão de José Sócrates. Tratase de um contra-senso que tem de ser esclarecido. Por outro lado, lamento que a candidatura adversária não apresente um projeto político claro para o distrito, mas apenas ideias vagas e abstratas cimentadas por um conjunto de proclamações de intenções. Jamais levarei para a praça pública questões internas do partido que possam ser resolvidas com discrição. Não fui nem serei presidente da Federação Distrital do Porto para me afirmar pessoalmente e não tenho nenhuma pretensa superioridade moral ou intelectual sobre os outros. Como explica que no Porto continue a liderar o PSD, ainda que o Governo seja socialista? JLC - Por ausência de uma estratégia política afirmativa do PS em relação ao distrito e à região. Nas últimas eleições autárquicas o PS conquistou apenas


à liderança da Federação Distrital do PS Porto

lagem à sucessão de Sócrates uma câmara no distrito do Porto, em Braga conquistou três, em Viseu cinco e em Bragança duas. Tenho uma ambição política para as autárquicas de 2013: conquistar a maioria das câmaras na Área Metropolitana [do Porto] e a maioria das câmaras no Vale do Sousa e Baixo-Tâmega. Para alcançarmos esse objetivo temos o dever de apresentar um Plano de Desenvolvimento Integrado para as duas áreas a ser subscrito pelos candidatos. RS - A História tem demonstrado que os ciclos de liderança nacional e de liderança autárquica não são naturalmente coincidentes. Sobre esta matéria, gostaria de sublinhar que foi no distrito do Porto que o PS obteve o melhor resultado eleitoral, nas Eleições Legislativas, e que no mesmo ano conseguimos inverter um ciclo de derrotas no domínio autárquico, ao conquistar mais uma câmara municipal do que nas Eleições Autárquicas precedentes. Estancámos um ciclo de derrotas com 20 anos. Qual o objetivo do PS no distrito do Porto e Área Metropolitana do Porto? Há condições para ultrapassar o PSD no número de câmaras? JLC - Como disse, e dado que 11 dos atuais 18 presidentes de câmara não se poderão recandidatar ao exercício das mesmas funções por exigências legais, o PS tem uma grande oportunidade para alcançar o objetivo das duas maiorias. Para isso, os nossos candidatos têm de aparecer aos olhos dos cidadãos como portadores de um projeto de sociedade credível e afirmativo. RS - Sim, com certeza que há condições para o PS ultrapassar o PSD em número de câmaras municipais. Em traços gerais, o PS tem de conseguir assegurar as melhores sucessões nos municípios que lidera nos quais os presidentes de câmara não se podem recandidatar e, simultaneamente, tem de apresentar alternativas credíveis e reconhecidas nos concelhos onde é oposição. Que visão tem, atualmente, do distrito do Porto? É um distrito a duas velocidades?

ção. O desenvolvimento do distrito do Porto tem de estar assente nos seus recursos naturais. Em que medida a regionalização poderia ser uma das soluções para a crise, económica e financeira não só do distrito mas também do país? JLC - A criação das regiões administrativas, com responsáveis políticos eleitos pelos cidadãos, em que as estruturas desconcentradas do Estado se integrem na arquitetura institucional das atuais CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional) permitirá criar um Estado mais racional na administração dos recursos e mais próximo dos cidadãos. Essa mudança, a par do reforço das competências das autarquias locais, municipais e de freguesia é fundamental para o país e para a região.

Renato SAMPAIO

RS - A implementação de regiões administrativas é um passo muito importante para otimizarmos a gestão dos recursos do Estado, que são, no fundo, os recursos de todos os cidadãos. A regionalização é uma ferramenta importante para reduzir as assimetrias regionais e tornar mais transparentes as decisões políticas, potenciando a participação política dos cidadãos. A par da implementação de regiões administrativas deve ser repensada toda a forma como administramos o nosso território, o que terá de ser traduzido numa reformulação das competências das autarquias, das juntas de freguesia às câmaras municipais. Manuel Alegre, Defensor Moura, Fernando Nobre são três candidatos de esquerda às presidenciais. Este número de candidaturas não irá dividir o PS? JLC - Naturalmente que não contribui para fortalecer o PS. Contudo, julgo que os militantes e simpatizantes do partido têm de ponderar de modo muito profundo qual das candidaturas reúne melhores condições para futuramente defender melhor os ideais inscritos na Constituição da República que, alguns, pretendem ver alterada. Manuel Alegre tem essas condições como nenhum outro.

JLC - O distrito do Porto tem imensas potencialidades. Basta ver que temos no nosso interior uma dimensão vocacionada para a investigação, a inovação e o desenvolvimento, e um dos tecidos produtivos mais dinâmicos, com potencial de adaptação às circunstâncias da economia mundial. Simultaneamente, o património histórico e cultural, material e imaterial, o valor do património ambiental, associado aos valores da solidariedade concretizados quotidianamente por via das instituições de solidariedade social, podem fazer deste distrito uma das locomotivas do desenvolvimento nacional.

RS - Não. O PS não está dividido quanto a este assunto, uma vez que apoia convictamente a candidatura de Manuel Alegre, que é aquela que melhor reflete os valores e ideais do socialismo democrático. Agora o importante é cerrarmos fileiras para que o candidato presidencial por nós apoiado consiga derrotar Cavaco Silva.

RS - O distrito do Porto tem, efetivamente, uma matriz territorial heterogénea em diversos domínios, que deve ser atendida. No entanto, não considero que se trate de um distrito a duas velocidades. Têm sido realizados investimentos muito importantes cujo objetivo é diminuir as assimetrias e harmonizar o nível de desenvolvimento dos municípios. Mas gostaria de evidenciar cinco apostas muito claras da minha candidatura para promover um desenvolvimento sustentável da região: o Mar, a Floresta, a Economia Social, o Turismo e a Regionaliza-

RS - Ter contribuído para a eleição de José Sócrates para Secretário-Geral do PS e Primeiro-Ministro de Portugal. O que lhe falta conquistar?

Qual a sua maior conquista? JLC - A nossa vida é uma conquista de todos os dias!

JLC - Desejo continuar a lutar pelo aprofundamento da igualdade e pela afirmação da liberdade. RS - Resolver o problema do desemprego na nossa região.

Nome: Renato Luís de Araújo Forte Sampaio Data de Nascimento: 03/05/1952 Profissão: Consultor de Empresas Habilitações Literárias: Frequência licenciatura Admin.Pública Como se descreve: “Um homem simples e solidário, que procura o melhor para o seu país e para a sua região”


08 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

economia

Vinhos Aveleda ganham mercado nos EUA  Marca Casal Garcia representa 65 por cento do volume de vendas da empresa de Penafiel

A

s vendas no mercado norte americano vão impulsionar a faturação da Quinta da Aveleda, empresa sediada em Penafiel e que é a maior exportadora portuguesa de vinho verde. “Esperamos crescer este ano, comparativamente com 2009, cerca de 35 por cento no mercado dos Estados Unidos, onde já estamos em 47 dos 52 Estados”, explicou o administrador António Guedes. A faturação global da Aveleda deverá crescer 2,5 por cento em 2010. No ano passado, a empresa faturou 29 milhões de euros, representando o mercado da exportação cerca de 55 por cento. Graças à marca Casal Garcia, mas também à Aveleda Fonte, o volume de vendas nos Estados Unidos tem crescido de forma acentuada, representando já cerca de 15 por cento da faturação desta empresa de Penafiel. António Guedes, citado pela Lusa, explicou que o sucesso tem alguma relação com a crise económica nos Estados Unidos, que obrigou a população local a optar por vinhos mais acessíveis

em termos de preço, nomeadamente os comercializados pela Quinta da Aveleda, vendidos naquele país por cerca de nove dólares (cerca de 6,7 euros, ao câmbio atual). Também o mercado alemão tem vindo a ganhar importância nas vendas da empresa, representando cerca de 15 por cento. Os países nórdicos são igualmente clientes importantes para a Quinta da Aveleda, registando crescimentos sustentados nos últimos anos, segundo o responsável da empresa de vinhos.

| Casal Garcia Rosé bem aceite no mercado | “Os nossos vinhos são cada vez mais apreciados devido à sua leveza e frescura”, considerou o empresário, sublinhando o peso significativo - 65 por cento - da marca Casal Garcia no volume de vendas. O recente lançamento do Casal Garcia Rosé, que tem sido bem aceite nos mercados norte-americano e europeu, deverá ajudar a acentuar o crescimento nos próximos anos. Face a 2009, este ano deverá significar um crescimento de 50 por cento neste produto. “É um vinho com grande potencial”, considerou António Guedes. A Quinta da Aveleda tem cerca de 180 hectares de vinha própria, mas essa área apenas consegue produzir 15 por cento das necessidades da empresa. O restante é adquirido a dezenas de explorações vitícolas desde Monção, no Alto Minho, a Resende, no Douro Sul. A empresa emprega cerca de 170

funcionários e contribui de forma indireta para sustentar o emprego das empresas que fornecem em exclusivo as suas uvas à Quinta da Aveleda.

| Vendas de queijo também a crescer | Apesar da dimensão, a Aveleda mantém uma estrutura familiar na administração, liderada por António Guedes, bisneto do fundador Pedro Guedes, que é acompanhado no conselho de administração pelo filho António e pelo sobrinho Martim. Alguns dos funcionários da empresa estão afetos à produção do setor do queijo, que registou um crescimento de cerca de 15 por cento no ano passado, representando já quatro por cento da faturação global da empresa. Todo o queijo é feito com leite produzido pelas 200 cabeças de gado que existem na quinta, assegurou o empresário. RED. com Lusa



10 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

nordeste

UTAD acolhe seminário sobre transportes escolares e rurais

Especialistas, autarcas e operadores vão analisar e debater, de 14 a 16 de outubro, num seminário nacional, em Vila Real, os problemas, desafios e oportunidades dos transportes escolares e rurais. As soluções de articulação e integração que poderão levar a uma otimização dos custos que as autarquias despendem anualmente no transporte escolar vão ser um dos temas a debater no auditório da UTAD, em Vila Real, na terceira edição do seminário MS_TP (Mobilidade Sustentável e dos Transportes Públicos), que esteve inicialmente agendado para setembro. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), através do Grupo de Estudos Territoriais da Escola de Ciências e Tecnologia tem organizado bianualmente, desde 2006, um seminário sobre o tema da Mobilidade Sustentável e dos Transportes Públicos. “Os Transportes Escolares e Rurais – Do Direito à Mobilidade à Mobilidade Eficiente” é o tema central este ano. Para o coordenador do seminário, Luís Ramos, “a problemática da mobilidade nos territórios rurais resulta, em grande parte, do ciclo vicioso da perda da população – perda de serviços – perda de transportes” e “a necessidade da procura de soluções alternativas de transporte para estes territórios deve privilegiar a flexibilidade, a criatividade e a maximização de recursos existentes no terreno”. O transporte escolar é visto como tendo “um potencial ainda por explorar. Uma legislação desadequada e a ausência de estratégia entre os vários parceiros tem levado a que os recursos financeiros alocados a este setor não estejam ainda suficientemente otimizados. O aumento da mobilidade rural – principalmente dos idosos e daqueles que não dispõem de transporte individual – passará, em grande parte, pela alteração do paradigma atual de exploração do transporte escolar e da articulação e integração de todos os modos de transporte existentes nesses territórios”. A comissão organizadora do seminário pensa que o momento atual “é particularmente oportuno para o debate deste tema” e considera “de extrema importância” a participação e o contributo dos municípios, das universidades e dos centros de investigação, dos operadores de transportes, das empresas, dos agrupamentos de escolas, das Instituições Particulares de Solidariedade Social, que são vistos como “agentes interessados na procura e na exploração de soluções que conduzam, num futuro próximo, a modelos de transporte para os territórios rurais assentes em critérios de eficiência, de equidade e de sustentabilidade”. Nos três dias vão ser privilegiados os debates que poderão suscitar uma maior interação entre especialistas, convidados e participantes, na reflexão sobre soluções para os problemas atuais dos transportes em territórios de baixa densidade e sobre o papel que o transporte escolar pode desempenhar no atual contexto de crise económica e de restrições orçamentais. O seminário vai dar a conhecer as “visões dos diversos intervenientes, nomeadamente da escola, do município, do prestador de serviços de transporte e uma experiência internacional [da comunidade autónoma de Castela e Leão] neste domínio da articulação entre transporte escolar e rural”. Os interessados podem fazer a inscrição ou obter mais informações em www.ms-tp10.com Paula Costa

Museu do Côa desperdiça a energia solar Infraestrutura não está equipada com painéis solares nem foi desenhada para isso Quem visita o recém-inaugurado Museu do Côa ficará surpreendido com a integração exemplar na paisagem, com a história e dimensão do edifício, mas não deixará de notar que o mesmo é banhado, de manhã à noite, pela luz do sol. Nesse descampado com vista sobranceira para os rios Côa e Douro, estranha-se a inexistência de painéis que façam uso dessa energia renovável, ecológica e gratuita. Mas razões de ordem estética e restrições financeiras explicam que o Museu do Côa não esteja equipado com painéis solares. “Dadas as necessidades do Museu não era uma solução. Embora se tenha equacionado essa hipótese, acabou por ser abandonada por causa da viabilidade financeira e também por causa da integração paisagística”, confirma um dos arquitetos do equipamento, Tiago Pimentel. Com uma área coberta de 6 600 metros quadrados, o Museu do Côa é constituído por quatro pisos, que englobam auditório com 122 lugares sentados, serviço educativo, área administrativa, loja, dez salas expositivas, biblioteca, restaurante e cafetaria. Ao entrar no edifício, o visitante depara-se com a exiguidade da luz, remetendo para uma experiência subterrânea. Nas paredes dos corredores, sobressaem as gravuras reproduzidas com luzes florescentes e cada aresta dos achados arqueológicos é revelada por luzes rasantes. Não faltam também painéis multimédia, ecrãs LCD, câmaras de vigilância. A fatura do consumo energético poderia ser reduzida, mas as restrições associadas à relação custo/benefício pesaram mais. “Fazia sentido colocar painéis solares, mas houve constrangimentos financeiros e como o dinheiro não chega para tudo há que fazer opções”, refere o arquiteto. A nova infraestrutura envolveu um investimento de 18 milhões de euros, verba comparticipada por fundos comuni-

tários. Porém, foram instalados bancos de gelo no edifício que funcionam como acumuladores de energia térmica. A menor dimensão dos equipamentos e a menor potência contratada são algumas das vantagens apresentadas por este sistema. Durante o período em que as tarifas de energia elétrica são mais elevadas, a refrigeração da água e a climatização do edifício pode ser feita com recurso aos bancos de gelo, que carregam energia no resto do tempo. Na biografia deste Museu, encontram-se avanços e recuos, incluindo a alteração do local de construção, por isso a obra começou no início de 2007 e ficou concluída em 2010, isto é, 15 anos depois da decisão que inviabilizou a construção da barragem do rio Côa. Isso terá ditado também algumas das atuais opções. Projetado pelos arquitetos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, o edifício tem oito metros de altura na fachada virada para o vale do Douro, está semienterrado e discretamente integrado na paisagem circundante. Preparar o Museu para a instalação dos painéis solares “é simples” e os arquitetos gostariam de ser consultados caso essa opção venha a suceder no futuro. “Não foi desenhado a pensar nisso, mas pode adaptar-se em complemento ao que se tem na atualidade”, refere Tiago Pimentel. Inaugurado há dois meses, o Museu do Côa funciona como centro de acolhimento e interpretação da arte rupestre, podendo ser visitado antes ou depois das incursões feitas aos três núcleos visitáveis do Parque Arqueológico do Vale do Côa. Classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO desde 1998, as gravuras têm entre 10 a 25 mil anos e constituem o maior conjunto mundial de arte paleolítica ao ar livre. Só na primeira semana de atividade, o Museu do Côa registou a visita de 2 500 pessoas e uma procura significativa das pessoas do concelho fozcoense. O padrão mais frequente é a visita em família, apesar de se verificar, ao longo do ano, o perfil do visitante mais solitário, normalmente com alguma ligação à arqueologia, à arte ou ao património. Patrícia Posse



Projecto apoiado pelo PRODER / Dolmen

Quinta das Quintãs amplia oferta de turismo rural O investimento na área do turismo no espaço rural da casa da Quinta das Quintãs, em Covelas, Baião, é um dos projectos apoiados pela Cooperativa Dolmen e terá uma comparticipação de cerca de 110 000 euros. Carlos Azeredo, sócio gerente da casa da Quinta das Quintãs, vê o apoio ao projecto de investimento apresentado via Dolmen – Cooperativa para o Desenvolvimento e Formação do Baixo Tâmega, como “um oxigénio muito bom” que veio reforçar o investimento elevado feito pela empresa que gere a casa da Quinta das Quintãs. A Melo & Leme – Turismo no Espaço Rural, Lda., é uma sociedade por quotas, constituída em 2001, com a finalidade de afectar ao turismo a casa da Quinta das Quintãs, propriedade da família há mais de um século. As primeiras obras de requalificação foram realizadas

entre 2002 e 2004, de forma a proporcionar condições de conforto e equipamentos de qualidade, preservando as características e ambiente próprios da região e da época. Trata-se de um solar, com fundação do início do século XX (1904), brasonada de Azeredo Leme e de Bandeira Subágua. Ficou inicialmente dotada de cinco quartos e dois apartamentos T1 para alojamento de hóspedes, e está classificada como Turismo de Habitação. Tem como principais serviços a hospedagem de natureza familiar, com acolhimento de acordo com a tradição portuguesa de bem receber. Oferece actualmente aos seus clientes um parque infantil, sala de TV e jogos, oratório, duas piscinas, aluguer de bicicletas e barco de recreio com ski e bóia, bem como artesanato, doçaria e vinho de produção própria. A Casa das Quintãs está inserida na zona ribeirinha de Baião, na


Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

freguesia de S. Tomé de Covelas, sendo dotada de uma riqueza natural e paisagística única, até pela singularidade de se localizar junto à margem do rio Douro, e ao apeadeiro ferroviário do Mirão (que fica a cerca de 30 metros da Casa das Quintãs). Desde o início da actividade, em 2004, que a empresa tem conseguido manter uma evolução muito positiva, com crescimentos sustentados, traduzidos num aumento de quota de mercado gradual para o qual a capacidade instalada deixou de ter resposta, e que determinava a necessidade de aumentar o número de quartos e actividades de animação, para evitar a perda de negócio, explica Carlos Azeredo. Porque o arranque da actividade exigiu um investimento avultado, totalmente realizado com recurso a capitais próprios, a empresa não dispunha de recursos para novos investimentos. De acordo com o sócio gerente, “o forte incentivo do executivo camarário da Câmara Municipal de Baião, na pessoa do Sr. Dr. José Luís Carneiro, que nos deu conhecimento do programa PROVERE “PAISAGENS MILENARES”, apresentado e liderado pela Dolmen - Cooperativa para o Desenvolvimento e Formação do Baixo Tâmega CRL, da qual este Município é sócio, foi determinante para avançarmos com uma segunda fase de investimentos, que irá ser apoiada no âmbito de projecto enquadrado na Estratégia Local de Desenvolvimento (ELD), tendo sido considerado projecto complementar no âmbito do programa mencionado”. Esse investimento iniciou-se em 2007 e ainda está a decorrer. Entre 2007 e 2008, foi requalificada mais uma casa com dois quartos e construída uma segunda piscina. Em 2009, os investimentos prosseguiram com a construção de uma outra casa com dois quartos. Até ao final deste ano e durante o ano de 2011 prevê-se ainda a cobertura da piscina inicialmente instalada, com dotação de aquecimento da água, jactos de massagens e um jacuzzi, proporcionando equipamento inédito no Turismo no Espaço Rural da região. Também está prevista a construção de um picadeiro, com o objectivo de atrair o turismo equestre e a reabilitação de espaço para adaptação a sala multi-usos destinada à promoção de produtos regionais e organização de eventos. Todo este investimento tem como finalidade a diminuição da sazonalidade da actividade turística, provocando com as diversas actividades implementadas a atracção de hóspedes em épocas mais baixas, e o aumento da capacidade já insuficiente para a procura nas épocas mais altas. “Estamos nisto porque queremos mesmo. Gostamos muito desta actividade”, salienta Carlos Azeredo. Se assim não fosse, não se teria avançado com o investimento inicial, entre 2003 e 2004, e que foi de cerca 500 000 euros, totalmente realizado com recurso a capitais próprios, uma vez que a empresa viu ser recusado um projecto que foi apresentado a um programa do terceiro Quadro Comunitário de Apoio. Na segunda fase de investimentos, iniciada em 2007, e a ser comparticipada através da Cooperativa Dolmen, o montante global do in-

vestimento será de cerca de 260 000 euros, tendo sido aceites como despesas elegíveis apenas o montante global de cerca 180 000 euros, segundo o que foi transmitido por ter havido uma decisão do órgão de gestão de "cortar" 25 por cento em todas as despesas de construção civil, relativamente a todos os projectos. Desta forma, a comparticipação de 60 por cento do investimento, majorada pela criação de dois postos de trabalho, será de cerca de 110 000 euros.

Após a conclusão do projecto a Quinta das Quintãs ficará dotada de: - Cinco quartos, com capacidade para 10 pessoas, na casa principal - Dois apartamentos T1, com capacidade para quatro pessoas cada um (duas pessoas a dormir em sofá-cama) - Um apartamento T2, com capacidade para seis pessoas (duas pessoas a dormir em sofá-cama) - Uma casa T2, com capacidade para seis pessoas (duas pessoas a dormir em sofá-cama) - Uma piscina exterior - Uma piscina interior com jactos de água e jacuzzi - Um picadeiro - Um parque infantil - Uma sala multi-usos

Cooperativa de Formação, Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega, CRL

AMARANTE - BAIÃO - MARCO DE CANAVESES RESENDE - CINFÃES - PENAFIEL Telef. 255 521 004 - Fax 255 521 678

dolmen@sapo.pt


14 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

tâmega

Campanha de solidariedade no Marco para substituir viatura dos bombeiros Corporação precisa de angariar 80 mil euros até fim de novembro A campanha “Vamos Conseguir!”, dos Bombeiros Voluntários do Marco de Canaveses pretende angariar no mínimo 80 000 euros para ajudar na aquisição de uma nova viatura de combate a incêndios, destinada a substituir o veículo florestal que ficou destruído num incêndio ocorrido há três meses. A direção dos BVM pretende fazer desta campanha “uma verdadeira onda de solidariedade envolvendo toda a população do concelho, empresas e instituições”. Os dirigentes lembram que a ajuda de todos “é fundamental”. Os donativos podem ser feitos através de cheque, por transferência bancária para a conta aberta para o efeito com o NIB 0033 0000454 00927795 05, no banco Millennium BCP (neste caso, aquando do pagamento deve ser enviada cópia via fax ou e-mail da transferência com o nome, morada e contactos completos), ou nos serviços dos bombeiros, no quartel sede. Será entregue o respectivo recibo de donativo das importâncias oferecidas, que é válido para efeitos de IRS. Segundo o presidente da direção dos bombeiros, Cláudio Ferreira, citado pela Lusa, em julho uma das melhores viaturas da corporação ficou inoperacional num acidente quando se dirigia para um in-

cêndio florestal na freguesia de Freixo. Nesse acidente ficaram feridos cinco bombeiros. Cláudio Ferreira frisou que este veículo é fundamental para garantir a operacionalidade dos bombeiros num concelho onde se registaram, até final de agosto deste ano, mais de 400 incêndios, com uma área ardida de cerca de mil hectares. “Ano após ano, a necessidade destes meios é evidente no nosso concelho, que precisa sempre do auxílio de viaturas e meios de outras corporações”, observou Cláudio Ferreira. A viatura que os bombeiros pretendem adquirir custa mais de 80 mil euros, uma verba que, segundo o dirigente, a corporação não tem condições de assumir sozinha devido às dificuldades financeiras por que está a passar. Segundo Cláudio Ferreira, a campanha é dirigida a todos os marcuenses, nomeadamente particulares e empresas, contando com a colaboração dos órgãos de comunicação social do concelho. A corporação de bombeiros, a única que existe num dos municípios com maior mancha verde do distrito do Porto, está a recorrer às redes sociais na Internet, nomeadamente o Facebook, para procurar envolver mais gente neste cordão humanitário.

"Embaixada" do Marco de Canaveses visitou a Assembleia da República

O grupo de alunos e professores que integra a Assembleia Municipal de Jovens do Marco de Canaveses, oriundos de diversas escolas EB 2,3, secundárias e profissionais do concelho, realizou uma visita guiada à Assembleia da República (AR), iniciativa em que participaram também o presidente da Câmara, Manuel Moreira, e o presidente da Assembleia Municipal, António Coutinho, vereadores e deputados municipais. Segundo a autarquia, que organizou a viagem, a deslocação à AR permitiu "um conhecimento mais profundo do funcionamento do parlamento, espe-

cialmente para os jovens que despertam para a vida política nacional". O grupo foi recebido por deputados do PSD, entre os quais o líder da bancada social-democrata, Miguel Macedo, eleitos pelo círculo eleitoral do Porto e o líder antecessor, Aguiar Branco. Também Francisco Assis, líder parlamentar do Partido Socialista, se encontrou com os autarcas e jovens marcoenses. O grupo pode também assistir ao início de uma sessão plenária. A comitiva marcuense ainda visitou uma exposição sobre Cármen Miranda e a Casa das Histórias de Paula Rego, ambas em Cascais.



Dinamismo cultural d Armindo Mendes | armindomendes1@sapo.pt | Fotos A.M. e Casa da Cultura de Fafe

À

chegada a Fafe, terra hospitaleira do Baixo Minho, os visitantes são surpreendidos com dezenas de pitorescos palacetes brasileiros do século XIX que dão o mote a uma terra recheada de tradições culturais que os fafenses de hoje honram com uma programação de espetáculos rica e variada, pouco comum numa cidade pequena. “Temos uma política cultural de qualidade e de continuidade dirigida a vários públicos. Somos uma terra pequena, com poucos recursos, mas procuramos fazer o melhor possível”, explicou ao Repórter do Marão (RM) Artur Coimbra, programador da atividade cultural em Fafe. Este quadro superior, que chefia a divisão cultural da autarquia, recorda que o sucesso de Fafe neste plano também se deve, em primeira instância, à vontade política dos presidentes de câmara e vereadores que desde os anos 80 do século passado atribuíram grande importância à cultura. Há mais de duas décadas que o concelho se destaca na região por proporcionar aos residentes e a quem o visita uma programação cultural intensa, envolvendo as associações locais que são agentes ativos

na formação e promoção de várias formas artísticas, incluindo o teatro, a música e a dança, entre outras. “Ao longo dos anos temos apoiado o movimento associativo ligado às artes, que tem grande consistência no concelho. Resultado disso é o trabalho que está à vista de todos realizado pelo Grupo Nun'Álvares, nomeadamente através do seu grupo de teatro Vitrine, a Academia de Música José Atalaya, a Escola de Bailado de Fafe e as bandas de música de Golães e Revelhe”, observou Artur Coimbra. O responsável lembra que estas associações, ao longo dos anos, têm formado centenas de jovens que assim vão assimilando uma natural apetência para o consumo de cultura.

| Assistências rondam 70 por cento | Grande parte desses jovens no passado e hoje adultos, assim como os jovens de hoje ligados àquelas associações, quase sempre acompanhados pelos familiares, constituem público regular dos espetáculos que se realizam todas as semanas no teatro cinema, uma sala de espetáculos dos anos 20 do século passado, recentemente recuperada (ver caixa). Segundo Artur Coimbra, os fafenses sabem que ao sábado à noite podem sempre “consumir cultura” no renovado teatro cinema. Em pouco mais de ano e meio de atividade ininterrupta, aquela sala de espetáculos apresenta uma média de assistências superior a 200 pessoas, o que

significa 70 por cento da lotação do teatro cinema, que tem capacidade para 300 espetadores. Muitas têm sido as enchentes, sobretudo quando artistas mediáticos da música e do teatro passam por aquela sala de espetáculos. “Procuramos ter todos os meses um espetáculo âncora, com nomes conhecidos, que garantem sempre uma elevada assistência”, explicou. Mas também a “prata da casa”, nomeadamente os grupos locais, enchem a sala, com um público transversal a toda a sociedade fafense, o que atesta, segundo o programador cultural, o carinho que a população local dedica às suas instituições. Pelo meio há outros espetáculos que atraem menos público, mas contribuem para a diversidade da oferta, nomeadamente atuações regulares dos grupos de teatro profissionais Filandorra e Jangada e da Orquestra do Norte, com a qual o município fafense tem um protocolo.

| Fazer muito com pouco dinheiro | A câmara admite que tem de assumir o custo deste fervilhar cultural, porque as receitas de bilheteira correspondem a pouco mais de 20 por cento das despesas. “Têm de ser as câmaras a assumir isso. Não somos só nós. Se não fosse isto a atividade era muito menor, o que era mau para a cidade”, sustentou Artur Coimbra.


de Fafe honra tradição Quem olha para o dinamismo cultural de Fafe, nomeadamente o cartaz proporcionado pela autarquia, poderá ser levado a concluir que por detrás estarão encargos financeiros avultados. Artur Coimbra garante que é uma falsa ideia, adiantando que são gastos apenas cerca de 200 mil euros por ano em toda a programação cultural. Nessa verba estão incluídos os encargos com os espetáculos no teatro cinema e outras atividades, como a animação de Verão no centro da cidade e o encontro de janeiras no pavilhão multiusos, que reúne milhares de pessoas. “Nós vamos fazendo uma gestão muito criteriosa. Claro que se podia fazer mais, mas por estes valores não é fácil”, anotou ao RM.

| Guimarães - Capital Europeia da Cultura - a apenas 10 minutos | A cerca de 10 minutos de Fafe encontra-se a cidade vizinha de Guimarães, que vai ser a Capital Europeia da Cultura em 2012. Artur Coimbra acredita que Fafe, além da proximidade geográfica, reúne boas condições em termos de equipamentos e tradição cultural para acolher algumas iniciativas no âmbito da Capital Europeia da Cultura. “Estamos expectantes, atentos e abertos a essa possibilidade”, vincou ao RM.

Teatro Cinema devolvido aos fafenses

Orgulho nos palacetes dos brasileiros

Artur Coimbra considera que a reabertura do teatro cinema, no dia 25 de abril de 2009, “significou muito melhores condições e visibilidade” para a atividade cultural regular em Fafe. O responsável destaca que a entrada em funcionamento daquela sala de espetáculos foi o corolário do esforço da autarquia para devolver um equipamento tão importante aos fafenses, depois dele ter sido encerrado em 1981 pelo seu proprietário quando já ameaçava ruína. Só 20 anos após o encerramento é que a câmara conseguiu adquirir o imóvel, por 2,5 milhões de euros. Em 2008, concretizando-se um sonho antigo de muitos fafenses, avançou finalmente a empreitada de recuperação daquele equipamento que tinha sido inaugurado em 1924. “Conseguiu-se finalmente recuperar uma sala muito bonita, que é hoje património desta cidade”, considerou Artur Coimbra. Além da sala original, que foi completamente restaurada, o equipamento atual dispõe de um moderno auditório, com 150 lugares, preparado para exibição de cinema, e outras salas onde, por exemplo, tem atividade regular a Academia de Música José Atalaya. O edifício está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 19 de fevereiro de 2002.

Uma característica distintiva da cidade de Fafe são os vários palacetes de arquitetura brasileira que existem na cidade, moldando algumas das principais artérias. São edifícios mandados construir por emigrantes fafenses no Brasil, que se inspiraram na moda de então para erguer estes palacetes na sua terra de origem. As casas foram edificadas entre meados do século XIX e os anos 30 do século XX. Na arquitetura e decoração destas casas destacam-se os azulejos coloridos, as varandas estreitas com grades de ferro e as clarabóias. “Acredito que em mais nenhuma cidade do país se pode encontrar tantos edifícios como estes”, disse ao RM Artur Coimbra. Segundo acrescentou, foram também os emigrantes fafenses no Brasil que iniciaram as grandes indústrias têxteis no concelho, como a Fábrica do Bugio e a Fábrica do Ferro, que chegaram a empregar milhares de operários. Também o hospital de Fafe, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, erguido em 1863, foi mandado construir por antigos emigrantes, replicando a arquitetura brasileira. Recentemente, a autarquia adquiriu um palacete contíguo à atual Casa da Cultura que vai ser adaptado a arquivo municipal.


Mudanças no tecido empresarial de Fafe

Diversificação ainda insuficiente para compensar perdas do têxtil

O

concelho de Fafe atravessa um período de modernização e diversificação do seu tecido empresarial, mas o desemprego continua a aumentar devido ao encerramento de empresas do setor têxtil, disse ao Repórter do Marão (RM) o presidente da associação empresarial desta cidade. Para José Costa, há no concelho um movimento interessante de criação de novas empresas, de setores não tradicionais, mas esse dinamismo não tem sido suficiente para compensar a perda de postos de trabalho no setor do vestuário e confeções. Segundo o dirigente da Associação Empresarial de Fafe, Cabeceiras e Celorico de Basto, a crise económica dos últimos dois anos tem acentuado as dificuldades do setor, o que levou ao encerramento de várias indústrias, lançando para o desemprego dezenas de pessoas. “Em Fafe, já restam poucas empresas desse setor. Infelizmente, há muito desemprego e é quase todo do têxtil”, lamentou ao RM. Mas nem tudo está mal no concelho em termos de atividade empresarial, havendo a registar várias empresas que surgiram recentemente em setores alternativos e inovadores que têm ajudado a dinamizar a economia local. Algumas dessas empresas têm-se instalado na Zona Industrial do Socorro, onde são visíveis vários pavilhões recentes, que comprovam os investimentos realizados nos últimos anos.

| Desempregados recusam trabalho | No entanto, segundo José Costa, as novas empresas, por não serem na sua maioria de mão-de-obra intensiva, não têm conseguido compensar em termos de postos de trabalho as perdas decorrentes do têxtil. O dirigente alerta, por outro lado, para as dificuldades que algumas empresas têm na contratação de funcionários, apesar das elevadas taxas de desemprego. A situação deve-se, defendeu, aos apoios sociais que estão a ser atribuídos pelo Estado que levam os desempregados a recusar várias propostas de trabalho quando estas são de remuneração baixa. “Se as bolsas do Estado baixassem muitas pessoas que beneficiam desses apoios seriam obrigadas a trabalhar. Isso acontece em Fafe e em todo o país”, considerou o presidente da associação empresarial.

| Comércio luta pela sobrevivência | No setor do comércio, que em décadas passadas era florescente na cidade, a situação também é complicada, com a maioria das lojas a lutarem pela sobrevivência. “Hoje ninguém vem para o comércio em Fafe para ganhar dinheiro”, considerou, numa alusão à perda de clientes que a maioria dos estabelecimentos tem enfrentado. À crise da economia, que conduziu a um menor poder de compra, juntou-se nos últimos anos a instalação de várias médias superfícies comerciais na cidade que contribuíram, segundo José Costa, para o encerramento de dezenas de pequenos supermercados na área urbana e nas freguesias. “Nas aldeias quase desapareceram por completo. Aqui na cidade havia cerca de 30 e agora restam três ou quatro”, contou ao RM. O dirigente admitiu que os hipermercados têm criado algum emprego na cidade, mas lembra que são na maioria dos casos postos de trabalho “pouco qualificados, precários e mal remunerados”.

| Desemprego baixou em julho | Apesar do tom de preocupação do presidente da associação empresarial, os números do Instituto de Emprego e Formação Profissional relativos ao mês de julho assinalam uma redução no desemprego de 146 pessoas, a maior registada no distrito de Braga naquele mês. Neste concelho estão registados 3 730 desempregados.

| Futuro da indústria está na inovação | O empresário fafense Jorge Freitas, que lidera um grupo de empresas inovadoras ligados à metalomecânica e mobilidade elétrica, disse ao RM que o futuro da economia do concelho tem de passar por apostas em setores inovadores, que possam ir de encontro a nichos de mercado com potencial. “As empresas devem apostar onde há capacidade de criar riqueza. É preciso ter visão mais longa para se perceber os desafios da competitividade, sobretudo no mercado exportador”, defendeu. No entanto, para este empreendedor fafense em cujas empresas trabalham mais de meia centena de pessoas, o setor têxtil, que ainda predomina no concelho, reúne condições para continuar a laborar. Jorge Freitas disse ao RM que há empresas no concelho que têm sabido adaptar-se à nova “realidade de uma economia mais globalizada e competitiva, com produtos diferenciados”. Armindo Mendes



Refém na própria diáspora Imigrante em Bragança atravessou a Europa com esperança de uma vida melhor, mas não vê como regressar

V

eio à procura da terra auspiciosa, carregando falsas promessas na bagagem. Nascido em Chimbai, Uzbequistão, Leonid Kim é mecânico de frio numa empresa de construção civil em Bragança. Do extrato dos dias de trabalho saldam-se irregularidades na Segurança Social, com o pagamento de subsídios e horas extraordinárias em falta. Hoje, este imigrante quer receber aquilo que lhe é devido e que tarda em chegar. De semblante circunspecto, Leonid, 51 anos, fala a custo da cruzada que o trouxe para Portugal. A vida “estava difícil” em Nukus, cidade onde morava com a mulher e dois filhos, de 20 e 25 anos. Como “precisava de ganhar dinheiro” decidiu emigrar. Em 2001, partiu para Tashkent, a capital uzbeque. Seguiu-se Moscovo, Barcelona, Madrid e, por fim, Lisboa. Mas o destino inicial era outro. “Eu queria ir para a Coreia do Sul, por causa da língua e porque ganharia mais, mas só consegui visto para o espaço Schengen”. Pelo documento, desembolsou cerca de mil euros e em cada capital foi pagando aos ucranianos que, na clandestinidade, o fizeram vencer todas as fronteiras. “Muita gente tem medo e não sabe para onde vai”, relata. Para custear os 1 500 euros da viagem viu-se mesmo obrigado a vender um imóvel que possuía. Demorou quatro dias até chegar a Lisboa. Os intermediários profetizaram salários superiores a mil euros, mas omitiram que o bilhete seria só de ida. “Não tenho dinheiro para voltar. De alguma forma, estou preso aqui”. Com mais seis pessoas “de todas as profissões”, Leonid viajou de avião, comboio e autocarro. Só ele e o cunhado rumaram a Norte. Acabaria por trabalhar, clandestinamente, numa autoestrada em Guimarães. “O patrão prometeu contrato, mas não fez nada”. Mesmo a trabalhar ao fim de semana, andou a pão e água. “No bolso nem um cêntimo”, recorda. Mudou-se para Vi-

zela, onde esteve numa fábrica têxtil durante dois anos. Quando a ambição falou mais alto, conseguiu ser contratado por uma empresa de construção civil que viria a instalar o sistema de ventilação e aquecimento nos edifícios do teatro e do centro comercial de Bragança. Responsável por essa tarefa, Leonid morou naquela cidade nordestina, onde permaneceu para, mais tarde, ingressar na empresa para a qual trabalha. Só em agosto de 2007, celebrou o seu primeiro contrato sem termo e desde então nunca recebeu subsídio de férias nem de Natal. No extrato de remunerações registadas na Segurança Social, a que o RM teve acesso, só consta a listagem das renumerações de caráter permanente no valor de 500 euros. Para “arranjar mais dinheiro” trabalha também nas férias, sem receber por isso. A AREA – Gabinete de Estudos e Projetos, Lda garante estar “tudo em ordem”. Admite apenas um atraso ou outro no pagamento do salário, mas isso “é mais do que normal nos tempos que correm”. Leonid é tido como “uma joia de rapaz” a quem são pagas as férias não gozadas. O mesmo já não acontece com as horas extraordinárias. “Ninguém na firma as recebe. Mas caso trabalhem um sábado é pago com um valor até bastante significativo”, esclarece o gerente, António Carvalho. Leonid trabalha sábados, alguns feriados e pelas suas contas fazia uma média de 18 horas extra por semana. “Tenho-o tratado como um filho e pago tudo a que ele tem direito”, sublinha o responsável da empresa.

| Leonid não consegue amealhar dinheiro para voltar à terra natal | Para a família, Leonid costuma enviar 350 euros por mês. Mas nem sempre consegue cumprir o objetivo: de janeiro até abril, por exemplo, só conseguiu enviar 400. “Aqui preciso de viver e a renda é cara. Pago 100 euros pelo quarto e a alimentação é feita à base de enlatados.” Em situações de aperto, pede dinheiro emprestado aos amigos “para comer e viver”, que depois restitui. No início deste ano, mendigou pelo salário, sendo-lhe pago às prestações. “Diziam que não tinham dinheiro, mas trabalho há sempre”. Recebe a meio do mês, às vezes em dinheiro vivo, outras por depósito bancário. Mas garante nunca lhe terem sido enviados os recibos de vencimento. O caso não é estranho ao Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Norte, que o classifica mesmo como “deplorável” por não estarem a ser salvaguardados “os direitos essenciais”. Se Leonid perder o emprego ou tiver algum problema de saúde “corre o risco de ficar sem qualquer rendimento”. “Trata-se de um comportamento antissocial e oportunístico de uma empresa que, apesar de tudo, ganha dinheiro”, alerta José Alberto Ribeiro, dirigente sindical. Há ainda algumas reservas quanto à relação de trabalho, que poderá não ser “plenamente legal”. “Leonid poderá ser confrontado com o facto de estar cá ilegal, por não ter a sua situação perante a Segurança Social completamente regularizada”. A empresa, que já teve duas dezenas de trabalhadores, está neste momento reduzida a metade e não tem mãos a medir para as obras que lhe são adjudicadas. “Só não ganha mais concursos públicos em Bragança porque não tem capacidade para os satisfazer, que influências estarão por detrás disso é que valerá a pena apurar”, avança o dirigente. Já avançou também uma queixa para a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), que se escusou a confirmar se a empresa em causa tinha sido inspecionada recentemente, justificando que as questões colocadas não eram do domínio público e evocando o dever de sigilo. Mas o RM sabe que dois inspetores visitaram a empresa em maio último, na sequência de uma outra denúncia. Em causa estará um acidente de trabalho ocorrido em outubro de 2009. No distrito de Bragança, o número de queixas recebido pelo Sindicato é “diminuto”, mas antes não havia qualquer registo. Em 2010, houve cinco queixas para intentar ação em tribunal e três dirigidas à ACT. A maioria relacionada com pagamentos salariais em falta. Após as denúncias há sempre “um sentimento de retaliação” particularmente junto dos imigrantes. Por isso, o dirigente sindical fala de uma inevitável “postura de resistência” de Leonid para segurar o posto de trabalho, visto que será “alvo de imensas pressões”. Leonid terá a receber cerca de três mil euros e só quer ver tudo regularizado para voltar a casa “o mais depressa possível”. “Pensei que vinha para trabalhar um ano e depois regressar. Nunca pensei ficar nove anos…”, confessa. Patrícia Posse



22 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I economia

Calçado de Felgueiras aposta nas marcas  Calafe foi a primeira fábrica do setor a obter a certificação da APCER e exporta quase toda a produção Criada em 1981, a Calafe, empresa do sector do calçado de Felgueiras, é hoje uma das mais modernas do País ao nível tecnológico. Com quase 30 anos de existência, foi a primeira fábrica do setor em Portugal a ser reconhecida pela Associação Portuguesa de Certificação (APCER) com o certificado de investigação, desenvolvimento e inovação.

mercado externo, para o qual destina cerca de 99 por cento da sua produção. “A nossa primeira exportação foi em 1987 para a Bélgica. Depois foram-se tornando cada vez maiores e destinadas a mais mercados. Já criamos um espaço no mercado internacional”, afirmou.

“Este certificado [NP 4457:2007] deixou-nos bastante satisfeitos pois significa que foi reconhecido todo o esforço que temos dedicado nos últimos anos à investigação de novos materiais e produtos e à procura permanente da qualidade”, disse ao Repórter do Marão (RM) Joaquim Carvalho, sócio da empresa. Segundo o empresário, “os clientes quando vêem o que a empresa tem para apresentar e que existem entidades que reconhecem as suas capacidades e que as certificam, ficam mais confiantes”. A Calafe é uma das empresas de calçado de Felgueiras que mais tem crescido no

A empresa tem-se desenvolvido, no entender de Joaquim Carvalho, graças ao investimento na criação das coleções próprias e na investigação tecnológica. A Calafe tem duas marcas próprias - Eject e Prophecy - que já conquistaram mercados como a Alemanha, Canadá, França, Japão e Nova Zelândia. “Houve um período em que a nossa produção era baseada em modelos próprios com a marca dos nossos clientes. Isso aconteceu até à criação das nossas marcas. Com a criação da marca Eject, em 2001, começámos a inverter essa situação. Neste momento estamos com cerca de 50% de faturação baseada nas marcas próprias”, explicou.

| Marcas próprias representam 50% da faturação |

Foto Armindo Mendes

O empresário explica que a marca Eject se caracteriza pela “elegância, o design, a cor, o conforto e o inédito”, características que conduzem a coleções originais e sem paralelo no mercado. “Quando foi lançada a marca não havia no mercado este tipo de produto. Muitos entendidos do sector diziam - Isto é giro, mas quem vai pôr isto nos pés? – Eram produtos demasiado arrojados. Hoje têm bastante aceitação e são até copiados”, contou. Em 2009, comparativamente ao ano anterior, a Eject cresceu em todos os mercados, à exceção do principal que é a Alemanha. No futuro, a empresa pretende “crescer em vários mercados e, sobretudo, nas marcas próprias”. “Isto aconteceu quase de certeza devido à imitação que têm feito dos nossos produtos e que levou ao boicote de encomendas na Alemanha. Por esse motivo estamos em litígio com uma empresa. Este final de ano já há reflexos positivos da retoma da posição anterior e perspetivas de algum crescimento”, considerou.

| Investigação constante | Segundo Joaquim Carvalho, as exigências e especificidades dos novos mercados, levaram a empresa a desenvolver métodos de investigação inovadores para a criação de coleções próprias. “A investigação na empresa é constante. Estamos a apresentar a coleção de primavera/verão de 2011 e já estamos a fazer pesquisa para a próxima coleção. A nossa investigação fica-se pela procura de pormenores que nos ajudem a produzir produtos inovadores”, mencionou. Neste trabalho de investigação, a Calafe tem contado com o apoio de universidades e do Centro Tecnológico de Calçado. “Quando precisamos de uma máquina ou de um equipamento informático que se ajuste à nossa realidade produtiva recorremos ao Centro Tecnológico de Calçado, que em pareceria com universidades ou empresas especializadas desenvolvem equipamentos ajustados às necessidades”, esclareceu. Esta capacidade de invenção, permitiu criar uma sola de borracha, que está a ser sujeita a um processo de criação de patente e que, aplicada num sapato com tacão, elimina o ruído ao caminhar e a necessidade de renovação da sola. Ana Leite



Professores analisam centros escolares ‘A qualidade do ensino não se faz com computadores ou escolas novas. Faz-se com gente’ – defende dirigente do SPN Os vários centros escolares que nos últimos dois anos entraram em funcionamento na região do Tâmega e Sousa trouxeram mudanças e expetativas que são interpretadas de maneira diferente por dois professores, simultaneamente dirigentes sindicais, ouvidos pelo RM. “É demasiado cedo para avaliar os impactos qualitativos que os novos centros possam ter no sistema educativo”, salienta Paulo Silva, professor natural de Paredes. Só dentro de “uma década” se poderá saber ao certo se os novos equipamentos são uma “mais valia”. A maioria dos novos centros são “espaços agradáveis, modernos, bem equipados e confortáveis”, considera o professor que concorda com a lógica de concentração de alunos em centros escolares desde que esse processo “seja articulado com os pais e com as autarquias” e desde que “os miúdos vão para melhor”. À melhoria das instalações físicas, Paulo Silva acrescenta como positivo o fim das turmas mistas que existiam em mais de metade das escolas que foram encerradas na região. Era o caso de escolas onde um professor lecionava uma turma com alunos de vários níveis, situação que era prejudicial para todos os envolvidos: pais, alunos e professores. O facto de as crianças do pré-escolar conviverem no mesmo espaço dos centros escolares é positivo porque contribui para “atenuar a ansiedade na mudança de ciclo”. Por outro lado, as salas de música e os ginásios permitem um melhor funcionamento das atividades extra-curriculares. O professor, que exerce funções na delegação Por-

to Leste do Sindicato de Professores da Zona Norte, realça que há “ganhos e perdas”, mas que ainda não é possível fazer uma análise global. Até porque os centros escolares “ainda nem sequer estão implantados na máxima força”. Entre os professores existem expetativas e receios. Há quem manifeste entusiasmo por já não estar tão sozinho e isolado, outros sentem receio porque com os centros escolares são necessários menos professores e há alterações nas colocações nas escolas. As mudanças significativas que afetam alunos, pais e professores levam Paulo Silva a admitir a existência de “uma revolução” que pode contribuir para o sucesso educativo. “Pode ser uma via, mas é apenas mais uma via que permite ajudar a melhorar os resultados porque há muita coisa a fazer”, afirmou defendendo que “não é o edifício que faz o sucesso”. E dá como exemplo a EB 2,3 de Baltar, em Paredes, que integra a lista dos 30 edifícios escolares mais degradados do país e “nos resultados dos exames nacionais é das melhores. O meio económico e sócio-cultural, as condições de trabalho dos professores (que são colocados de forma precária), o apoio das autarquias a algumas atividades, tudo isso contribui” para o sucesso educativo. Para José Augusto Cardoso, professor efetivo em Souselo, Cinfães, e dirigente do Sindicato de Professores do Norte, que integra a FENPROF, “a prioridade deve estar no fator humano e não nos edifícios”. “A revolução não se faz pelos edifícios e equipamentos e não é por apetrecharem todo o país de computadores que o país vai ficar completamente modernizado”, disse ao RM. Embora reconheça que os equipamentos são “importantes”, o professor considera que o essencial “está no fator humano” sendo necessário repensar “as questões do apoio escolar, da formação inicial de professores, noutra perspetiva e com outra qualidade, o aumento de funcionários nas escolas e de outros

elementos que são necessários à comunidade educativa como assistentes sociais e psicólogos”. Esses fatores é que poderiam levar à tal “revolução”. “A qualidade do ensino não se faz com computadores ou escolas novas. Faz-se com gente. A qualidade da gente que lá se coloca e os apoios às famílias das crianças é que podem potenciar o sucesso. Podemos ter muito material a entrar nas escolas, computadores moderníssimos, mas se as crianças entrarem para a sala onde existem quadros interativos e continuarem a ter carências alimentares que são das mais básicas, é óbvio que não há política educativa que resista. Não podemos entrar num novo-riquismo e na ilusão de que somos europeus de primeira linha quando não resolvemos outras coisas que são fundamentais como é o caso do emprego e do acesso à escola nas mesmas condições para todos. Hoje isso é um problema sério nas escolas e agravou-se com esta crise que o país atravessa”, afirma. José Augusto Cardoso critica “a lógica economicista que subjuga todas as outras lógicas” e que leva a que “se continue a fazer as coisas sem se pensar nas pessoas. A educação não está a ser pensada com os principais interessados que são os encarregados de educação, as freguesias, os professores, as câmaras”, destacou. Além de que nos novos centros escolares “há um decréscimo enorme de professores, redução de funcionários, aumento do número de alunos por turma. A educação não pode ser vista como uma despesa mas como um investimento”, afirmou. O professor diz que só no futuro “se vai ver quais os constrangimentos, as contradições que tudo isto acarreta”. “Não se pode arrastar as pessoas e tentar formatá-las todas dentro de um centro escolar por muito bom e moderno que seja. A educação é um direito. As pessoas têm direito a uma educação de qualidade no seu contexto sócio-cultural. As deslocações de população vão-se pagar caro”, antevê. Paula Costa / Foto: Lusa



26 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

opinião

Via verde para o investimento em Paços Impostos para Em devido tempo, a Câmara Municipal de aos que são capazes de criar riqueza e postos de Paços de Ferreira percebeu que, nos tempos trabalho no Concelho. Só assim as empresas se que correm, a acção dos Municípios é crucial fixarão em Paços de Ferreira ao longo do tempo na potenciação do desenvolvimento local e ree só assim o Concelho se distinguirá de outros gional. Num século XXI em que a economia é territórios, de outras localizações. totalmente globalizada, e apesar de lhe sobraA PFR Invest tem conseguido captar e rem muito poucas competências nessa matéapoiar novos investimentos de um conjunto de ria (estando essas reservadas à administramicro, pequenas e médias empresas, que avanção central), o Município deixou de assumir çam decididamente para a construção de novas o papel de agente passivo no jogo concorrenunidades industriais. Ao apoiar essas cerca de cial global e adoptou medidas de apoio efecti30 empresas, a PFR Invest ajudou a criar cervo às unidades empresariais estabelecidas no ca de 1750 novos postos de trabalho nos últimos seu território e de captação de novos investi4 anos. Esses projectos representam um invesRui Coutinho mentos privados. timento privado em curso de cerca de 170 miEssa consciencialização do novo papel acti- Paços de Ferreira lhões de euros e um acréscimo de 300 milhões vo dos Municípios no apoio ao seu tecido empresarial, bem de euros ao volume de negócios do Concelho. como a estratégia de desenvolvimento traçada em devido Há ainda a referir que todo este trabalho tem sido desentempo pela Câmara Municipal, assumindo a vocação emvolvido pela PFR Invest sem que a empresa municipal algupreendedora e industrial do Concelho de Paços de Ferreima vez tenha recebido qualquer tipo de transferência finanra, justificaram a criação da PFR Invest e presidem à actuceira da autarquia. A PFR Invest tem apresentado, desde a ação desta empresa municipal. sua criação, resultados positivos ano após ano. E isso signifiA PFR Invest actua junto das empresas, procurando ofeca que tem sido desenvolvida e implementada uma estratérecer-lhes condições de desenvolvimento e crescimento cagica sustentada de apoio ao investimento e ao emprego, sem paz de gerar oportunidades de emprego para uma população que tenha sido para isso necessário qualquer recurso ou cacada vez melhor qualificada. Paços de Ferreira é e sempre foi pital público. O contexto económico internacional adverso tem levantaum Concelho empreendedor, de vocação empresarial. A sua do um conjunto de dúvidas e incertezas. Mas é neste contexafirmação como a localização empresarial e industrial de exto difícil que importa reflectir sobre esta estratégia. celência do Arco Metropolitano do Porto é um desafio que a Podemos hoje questionar como estaria o tecido socio-ecoPFR Invest assumiu e que está a cumprir. As 8 zonas indusnómico do Concelho se Município e PFR Invest não tivessem triais que compõem a Cidade Empresarial de Paços de Ferabraçado esta política pro-activa de promoção de emprego? reira garantem condições óptimas de fixação e de operação

Gastronomia do Douro Como já disse a propósito a Gastronomia, e bem dam a consolidar, e por que, dando jeito agora que o assim a Culinária que a executa, tem uma imensidaseja, ao assumi-la pretendemos enriquecê-la e tirar de de valores e vectores que levam (ou não) à sua cadisso proveito. racterização e inserção num contexto regional, e bem O que é que comemos nas últimas décadas? E há assim a sua identificação com o povo que as usa como 100 anos? Antes da batata, massa e arroz? E mais sustento e prazer. atrás ainda? Repare-se que, quanto mais recuamos no tempo, Não estando feita a História, temos de nos somais difícil é a tarefa. Quanto mais exigência e puriscorrer da memória. Tínhamos o que havia e o que mo colocamos, seja na confecção, nos produtos ou na se descobria, e hoje temos sempre disponível tudo o tradição, mais nos confinamos no território que queque se quer ou lembra. E nisso tem também papel remos abranger. importante a saudade ou desejo do que se viu ou exLançando a polémica, e sem erro pois não faltam perimentou. argumentos, diria que o Douro não tem “uma” Gas- Armando Miro Quando e como entrou na ementa o bacalhau? tronomia. Poderia dizer o mesmo de muitas regiões Jornalista Quais e quantos pratos de «vindima»? O que nos que se ufanam de a ter, que a exibem com orgulho e trouxe o povo galego para além do polvo? E a masdela sabem tirar proveito. sa de bacalhau partilhada com os ribatejanos que lhe chamam à barJá disse que «gastro» é estômago (alimento) e «nomia» regra ou rão? Quem já esqueceu a sardinha de barrica (salgada) para dar modo de fazer. Podemos assim dizer que, desde que exista um povo, de lugar à que os rabelos trazia fresca no regresso do mar? Porquê chacerto que se come. É preciso dar ao estômago o suporte da vida, e para mar raieiros aos que faziam deste alado marinho prato de Natal, ou tal fazem-se regras e inventam-se modos de o conseguir. o tratavam para comer de nariz tapado? E os hoje quase arredaNa sua base e influência está também o que adquirem da vizinhandos peixes do rio então tão à mão e sem gastos? E o sável e lampreia ça pela similaridade, abundância ou escassez, sazonalidade, comunicapré-barragens com aquela a chegar aos tanques das quintas ribeição e transmissão de dádiva ou partilha, segredo e espionagem, cópia rinhas? Que chumbos, laço ou lapadas nos davam um mimo de pere demais formas de conhecimento, enraizamente e afirmação. diz, coelho ou lebre? E a criação de capoeira a dar canja para brotar Como sabemos a necessidade de sobrevivência foi-a aprimorano leite de mulher parida, tostada no forno ou em suculenta cabidela? do e sublimando. Ganhou lugar de destaque e tradição nos dias festiE os frades, míscaros e outros que agora reaparecem em novos movos. Passou a encontro de família e amigos, espaço de negócio ou colódos? Que dizer da castanha e da bolota que, além da ceva porcina, foquio, homenagem ou agradecimento, tempo de exaltação, meditação, ram matando a fome até chegarem à panificação e doçaria? E o pororação e até declaração. co, de que tudo se aproveita, onde se vê o começo e como evoluiu nos Não era a mesma coisa no tugúrio do camponês ou no lar do morprimores que dele fazemos? E o azeite e o vinho que, por tão bons, gado que tinha bragal. Não se comparava no pedinte, no crente remenem é bom falar? E... diado ou no paço do abade, do convento ou do senhor. Como se vê, e tanto há mas o espaço não permite, há uma evoDeixou de ser a rotina diária onde a abundância era de fome para, lução na perenidade de produtos comuns que variam nas formas de numa evolução criativa e de contínuo aperfeiçoar, chegar ao engenho fazer e apresentar. Importa agora apontar a necessidade do estudo da imaginação e à arte da confecção. sério e profundo, mas acima de tudo, por que já é uma identidade duFica agora a exigência de um estudo profundo onde a diversidariense, fazer com que a sua riqueza e potencialidades dêem proveide de informação dos vários lugares vai ajudar a cimentar a sua idento ao Douro. tidade. Se hoje os caminhos da comunicação o facilitam, ao recuar no Deixem-se purismos e sectarismos. A criatividade é a mãe da tempo eles adensam-se e tornam-na emblema ou segredo da casa ou Gastronomia. E se há quem queira alambazar-se patagruelicamenda terra. A mesma vitualha, em distâncias curtas mas de difícil aceste, quem queira e saiba tirar prazer com conta, peso e medida, quem so, ganha cambiantes de forma, uso, tempêro, e tantas outras criaaprecie os métodos mais recônditos da brasa e forno do pão ou se conções - por vezes correcções - que chegam à fama e a ter nome da sua tente com algo mais moderno e cómodo, ou ainda quem queira “pegenitora. tiscar gourmet” pondo também em acção todos os sentidos, a todos o Mas vamos para já partir do princípio que o Douro tem uma GasDouro deve saber servir e servir-se. tronomia. Por que responde à generalidade dos parâmetros que a deBom proveito e que, quando alguém bate à porta, se continue a finem, por que tem uma identidade rigorosa noutras áreas que a ajunão perguntar “quem é”, mas sim a dizer, “entre quem é”...

o TGV

Ao lembrar que o Orçamento do Estado pode ser negociado com outros partidos, para além do PSD, o Presidente da República veio centrar o problema de um modo correcto: quem tem que elaborar uma proposta de orçamento é o Governo e depois pô-la à consideração dos partidos da oposição. José Sócrates não pode, como o tem feito, tentar transferir as responsabilidades da governação e da estabilidade para o PSD. Já percebemos todos que o Governo não tem outra ideia para combater a crise que não seja aumentar a carga fiscal sobre os portugueses. O PSD não está, naturalmente, de acordo. E não pode estar porque é claro que o objectivo do Governo é aumentar os impostos para pagar as grandes obras e a peleia de organismos inúteis da administração pública. A prova foi dada no final da semana: o ministro das Finanças veio admitir ao parlamento, que o aumento de impostos era uma possibilidade – e quando o titular da pasta o admite é certo que o teremos… - e não passaram muiMarco António Costa tas horas para Vice-Presidente do PSD e da que o ministro das Obras PúbliC.M. Vila Nova de Gaia cas viesse, também no Parlamento, dizer que o TGV é uma obra que o Governo não dispensa. O destino do dinheiro ficou assim claramente definido. É neste cenário que o PSD não pode deixar de reafirmar que não se aceitará um novo avanço para um aumento de impostos porque o mesmo só servirá para financiar o facilitismo da acção governativa e não para reestruturar a situação económica e financeira do país. Se o Governo tivesse avançado com um corte de todos os excessos da administração pública, tivesse feito um verdadeiro esforço para reduzir o incontável número de instituições inúteis que vivem à custa dos impostos dos portugueses, tivesse aceitado uma discussão séria sobre a reforma do Estado de modo a diminuir os custos do seu funcionamento, teria hoje a credibilidade necessária para pedir mais sacrifícios aos portugueses. Na verdade fez em tudo o contrário, errando, e querendo agora que os portugueses suportem fiscalmente as consequências de tais erros. Mas, como é evidente, estamos muito longe desta situação e o que se verifica é a convergência progressiva das posições do Partido Socialista com o Bloco de Esquerda. Na concepção de sobrecarregar a classe média em prol de um Estado cada vez mais gordo e que paralisa e parasita completamente a iniciativa privada e, em consequência, a criação de riqueza. Esta convergência política, desenhada à volta da candidatura presidencial de Manuel Alegre e dos cortes das deduções fiscais faz de José Sócrates e de Francisco Louçã parceiros naturais para a política orçamental do governo. Acresce que PCP, BE e Governo comungam da mesma estratégia de grandes obras públicas para o país. Assim torna-se contranatura que o PS exija do PSD que subscreva um orçamento que aposta na política fiscal do BE e na política de grandes obras publicas de toda a esquerda. Assim deve o Governo, e o PS, junto desses seus parceiros naturais procurar o apoio para um orçamento que incorpore essas políticas que em conjunto defendem.


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repórterdomarão

Erros, verdades e preconceitos Linha do Tua: sobre o excesso de peso Quem paga a factura? fracassos. Importa não esquecer que não há peso ideA alimentação é talvez o cruzamento mais signial, há uma faixa de pesos, há estruturas diferentes em ficativo entre o que nós temos de material e animal cada indivíduo e a estabilidade do corpo é individual. com o que temos de humano e espiritual. Dos alimenAs grandes mudanças de peso têm de ser averiguatos esperamos satisfação à mesa, convivência, saúde. das e acauteladas. Cuidado com essa ideia de que lá Desde que o mundo é mundo que a alimentação apaem casa a comida é toda saudável, parece que aumenrece envolta em preconceitos, submetida a temores, támos de peso por magia. Pois vem-se a descobrir que regulada por interdições, nem todas elas de ordem tasquinhamos sumos, gorduras, salgados e mais umas religiosa. O discurso alimentar varia de acordo com coisas que metemos à boca enquanto se vê televisão. os valores e atitudes sociais: comer menos ou comer Acabe com os equívocos do tipo, a açorda engormais, mostrar corpulência como sinónimo de abasda. A açorda é feita de pão de trigo, de azeite e de tança ou de riscos para a saúde; adoptar um regime ovo, temperada com alho e coentros. Deve ser inclualimentar em sinal de contestação ou de reprovação ída numa alimentação saudável. A questão toda é a ou preferir regressar às origens da simplicidade aliconta, peso e medida, a mesma coisa se dirá de comentar, procurando a autenticidade das coisas atramer pão (de preferência comê-lo integral e com queivés da macrobiótica ou da cozinha vegetariana mais jo fresco), o arroz, a fruta (não deve ser comida em ou menos radical; perfilhar um estilo de vida em que a excesso, mas o mesmo se poderá dizer do azeite que alimentação é uma janela aberta para o global e para é uma gordura saudável mas que deve ser usada em a inovação, através dos suplementos alimentares, dos pequena quantidade numa dieta de emagrecimento). alimentos sugeridos como medicamentos, misturar o Isabel do Carmo percorre esse vasto repositório de étnico com a miscigenação de cinco continentes… Tu questões que atormentam aqueles que têm de emadizes-me o que comes e eu dir-te-ei quem és – e com grecer: devem-se misturar alimentos? A massa faz as isto expressamos o que há de mais denso na simbólica pernas gordas? Todos os aditivos são suspeitos? O leialimentar, na disponibilidade do omnívoro, mas tamte magro tem menos cálcio? O mel engorda menos do bém na variedade que faz o equilibro de tudo quanque o açúcar (o açúcar como o mel tem muitas caloto pomos na mesa e que legitima a gestão inteligente, rias e não deve ser incluído num plano alimentar para prudente, cultural da nossa relação entre a alimentaemagrecimento)? Os alimentos próprios para diabéção e o que pensamos da nossa forma física e o nosticos não contêm açúcar? Os edulcorantes fazem mal so bem-estar. à saúde? Quanto mais calor, mais água devo beber? A Vieram recentemente a lume as conclusões de par destas questões de importância indiscutível, a auum estudo intitulado “Alimentação e estilos de vida tora explica com simplicidade o que é a cirurgia barida população portuguesa”, realizado pela Sociedade átrica (indicada para situações de obesidade mórbida Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação. ou grave), alerta para a importância da alimentação Da posse dos resultados, pretende-se contribuir para dos idosos, das mentiras ou omissões das crianças e a criação de campanhas de alimentação que ajudem jovens no que respeita à comida e desmonta o mito a reverter os principais problemas de saúde associade que transpirar faz perder gordura. dos à alimentação e estilos de vida. Mudámos proDe um modo corajoso, Isabel do Carmo denunfundamente nas últimas quatro décadas: em termos cia o negócio por vezes com caracterísmédios, gastamos percentualmente ticas crapulosas dos suplementos alimenos por cada década que passa; inmentares que apregoam emagrecer. gerimos também em termos médios, Estes suplementos, vendidos em inúmais calorias e daí o recrudescimenmeras lojas, são diferentes dos supleto dos factores de obesidade, já que mentos nutricionais, regulados pela a energia ingerida não é acompanhaautoridade nacional do medicamenda de igual dispêndio por haver cada to. Os suplementos alimentares não vez mais hábitos de vida pouco acsão medicamentos, não podem alegar tivos. Daí se compreender o granque curam, tratam ou previnem doende negócio que é pretender resultaças. Há questões sobre as acções das dos seguros e rápidos no tratamento plantas que estão mal conhecidas e sada obesidade recorrendo a fármabe-se que muitos destes preparados, cos, métodos e tratamentos da reduquando ingeridos com outras substânção de peso. Como a alimentação está cias ou até medicamentos, podem procarregada de simbolismos, os tais te- Beja Santos mores, preconceitos e interdições, os Assessor Inst. Consumidor vocar reacções indesejadas. Casos há em que a imprecisão das doses e a falespecialistas precisam de vir a públita de demonstração de eficácia e a própria toxicidade co contrariar toda esta mitologia e os negócios pouco das plantas podem constituir um perigo para a saúde escrupulosos a ela associada. É nesse contexto que é pública. Isabel do Carmo diz taxativamente que não importante situar obras como “Os alimentos e mitos se devem tomar suplementos alimentares destinados que nos engordam” escrito pela Prof. Isabel do Cara emagrecer, muitos são estimulantes prejudiciais, oumo (Publicações Dom Quixote, 2010). Vejamos abretros são diuréticos ou laxantes. viadamente o que nos diz esta médica endocrinolo“Os alimentos e mitos que nos engordam” é um gista acerca dos erros, verdades e preconceitos num contributo estimulante para superar as verdades, os mundo do excesso de peso. erros e os preconceitos que pululam no domínio do Na verdade, dado este tangível e intangível da excesso de peso. O obeso deve trabalhar a sua força alimentação, vivemos cercados por uma elevada carde vontade e não acreditar em milagres do markega de conselhos e crenças que acabam por moldar ting e da publicidade. E procurar saber para que seros nossos hábitos alimentares. Para esta especialista ve o exercício físico, qual o papel da tiróide e que nem em obesidade e comportamento alimentar, quando há tudo o que é “natural” é bom e faz emagrecer. Perpeso a mais só a redução calórica pode resolver o proder peso requer disciplina, capacidade de decisão e blema, como ela sugere: diminuir o consumo de gorsaber vencer essas crenças alimentares que podem duras, de sal e de doces; comer por dia cinco porções levar-nos ao insucesso quando se anda à procura resde fruta e/ou vegetais; comer leite e derivados; diverponsavelmente de uma alimentação saudável e a tudo sificar os alimentos; fazer várias refeições ao dia, não mais que nos pode ajudar a resolver, de forma estruconsiderar alimentação só o que se come à mesa. O turada, esse momentoso problema que são os quilos obeso deve preparar-se para a sua responsabilidade a mais. no tratamento, assumindo tanto as vitórias como os

Às primeiras horas do dia 22 de Agosto de 2008, a Linha do Tua vivia dias de glória. Gozava então o improvável estatuto de único serviço Regional ferroviário em Portugal onde a oferta era suplantada pela procura, tanto de visitantes nacionais como estrangeiros. Improvável sim, mas apenas para aqueles que não conheciam a sua recente História, aquela de uma via-férrea desprezada por todas as entidades oficiais possíveis, e que ainda assim tinha o poder suficiente de atracção de milhares, apenas por mera passagem de notícias de boca a ouvido. Assim era o zénite da Linha do Tua, quando durante a manhã desse dia uma conjugação de factores, esclarecidos mas ainda sem responsáveis, leva a um descarrilamento que ceifa a vida a uma pessoa, e deixa marcas profundas noutras. De repente, a bestial Linha do Tua passa novamente a Besta, um perigoso caminho de travessas podres, tirafundos desapertados, releves desajustados, carris empenados e automotoras desadequadas. Num minuto o troço Mirandela – Cachão devia ser encerrado juntamente com o troço Cachão – Tua, sabe-se lá por que motivo, no outro pode-se manter aberto. Valeu a concessão do Metro de Mirandela se estender até ao Cachão, ou os comboios estariam confinados a 4km de exploração. Com que leviandade afinal se determinou este encerramento, que completou na passada semana dois anos? Porque se considerou intransitável o troço Cachão – Vilarinho, modernizado há apenas 8 anos? Com que critérios se comparou o relevo envolvente ao troço Brunheda – Tua, que forma a espectacular garganta do Baixo Tua, com o relevo do troço Brunheda – Cachão, notavelmente diferente do anterior? Quem toma nota do movimento diário de passageiros encontra a terrível evidência dos números: uma via-férrea onde se impõe o automóvel em substituição do comboio é como que uma sentença de morte por lenta e agonizante asfixia. Não há comparação possível entre o número de passageiros do troço Cachão – Mirandela, e o troço Cachão – Tua, e na década de 1990 a Linha do Tua perdeu com este método qualquer coisa como 80.000 passageiros em apenas 2 anos, 130.000 se contarmos todos os anos de autocarros de substituição no troço Mirandela – Bragança, que ainda se saldaram em uma morte e dezenas de feridos em vários acidentes. A REFER é a dona da via, e é tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. A CP detém a concessão do troço Cachão – Tua, ao qual impingiu uma série de táxis, ao contrário de outras linhas onde são autocarros a fazer o serviço de substituição temporária do comboio. Juntas, conseguiram impor 2 anos de asfixia social e financeira às populações de 5 concelhos, ao Metro de Mirandela e à autarquia mirandelense, numa sangria constante de passageiros regulares e turistas, que ora se vêem forçados a deslocar-se de outras formas, ora a não se deslocarem de todo. Nem a desculpa da barragem é verídica: na improvável hipótese deste auto-presente de reforma maquinado por algumas individualidades (derrubado de forma estrondosa e categórica por factos indesmentíveis e atestados por um incontável número de especialistas e documentos oficiais) for avante, as águas então eutrofizadas do Tua não submergirão a Linha do Tua a montante da Brunheda. Dois anos, findos os quais um projecto de turismo ferroviário na Linha do Tua vai tomando forma para transformar o Vale do Tua num verdadeiro destino turístico, envolvendo todo o território em seu redor, e a hipótese de reabertura do troço Carvalhais – Macedo de Cavaleiros vai ganhando contornos de viabilidade. Há projectos à espera, há oportunidades à espera, há populações à espera, há visitantes à espera; à espera de quem? Quem entre a REFER, CP e MOPTC paga a factura de 2 anos de atraso na reabertura da Linha do Tua, no mínimo dos mínimos à Brunheda? Quem se responsabiliza pelo tempo que falta até à reabertura? Quem tem a dignidade de vir ao Tua e explicar às populações e entidades locais porque é que a Linha do Tua não está já reaberta? Num país assim, onde ninguém tem responsabilidade mas o mais fraco é que paga a factura, o termo Democracia é anedota de mau gosto. Daniel Conde Movimento Civico pela Linha do Tua


28 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

Feira de Vinhos no Continente até 17 de outubro

empresas & negócios

Grupo MCoutinho com seis novas marcas no distrito de Bragança

Até 17 de outubro, a Feira de Vinhos do Continente apresenta “novidades exclusivas” e um sortido diversificado de nove regiões vitivinícolas: Minho, Douro, Bairrada, Dão, Lisboa, Tejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve. A Feira de Vinhos do Continente 2010 apresenta ainda uma série de outras novidades que incluem vinhos do Chile, Espanha, Austrália, Itália, Argentina, entre outros. Durante o período da feira vão decorrer degustações de diversos vinhos e enchidos e promoções especiais nos produtos em comercialização.

Jumbo organiza Feira do Vinho até 10 de outubro Decorre até 10 de outubro nas lojas Jumbo e Pão de Açúcar a “Feira do Vinho”. Atualmente estão disponíveis nas lojas do Grupo Auchan 1400 referências de vinhos, a pensar na qualidade de oferta ao cliente, sempre ao melhor preço, anunciou o grupo de distribuição. De acordo com Vasco Guerreiro, Gestor de Produto do Grupo Auchan Portugal, “A Campanha dos Vinhos tem por objetivo garantir aos nossos clientes a oportunidade de comprar os vinhos que normalmente encontram nas lojas Jumbo e Pão de Açúcar ao melhor preço do mercado, assim como apresentar um conjunto significativo de novidades, através de novos produtores, vinhos premiados e novos lançamentos de produtores com quem já trabalhamos”. A estratégia do Grupo Auchan assenta na oferta de uma gama alargada, que garanta diferenciação e foi a primeira empresa da distribuição a promover a Feira dos Vinhos. Em colaboração com o Concurso Nacional dos Vinhos Engarrafados esta Feira conta, ainda, com 35 vinhos premiados entre Medalhas de Ouro, de Prata e Diplomas de Mérito.

Centro Renault Pro+ em Paredes na JAPautomotive A JAPautomotive abriu em Paredes o Centro Renault Pro +, um serviço especializado na venda e pós-venda de veículos comerciais. O Renault Pró + tem oficinas especializadas e prontas para qualquer tipo de veículo, seja ele normal, transformado ou de sete toneladas. O novo serviço é uma solução de escolha e acompanhamento dos veículos, com os melhores e mais competitivos produtos financeiros, manutenção e assistência e sempre apoiada por um atendimento exclusivo e personalizado.

Dolce Vita Douro promove aleitamento O Centro Comercial Dolce Vita Douro está a promover até 10 de outubro mais uma edição da Semana Mundial do Aleitamento Materno. O shopping vai receber vários workshops formativos, palestras, música, teatro, dança, e uma exposição de fotografia, subordinados a este tema. A iniciativa, com a temática “Amamentação – Apenas 10 passos”, tem o apoio da Unidade Neonatal do Hospital de Vila Real e o objetivo de sensibilizar mães, futuras mães e os restantes visitantes do centro comercial para a importância do aleitamento materno.

O Grupo MCoutinho concretizou a contratação de seis novas marcas (Audi, Mercedes-Benz, Seat, Skoda, Smart e Volkswagen) no distrito de Bragança, complementando de forma significativa o portefólio de marcas representadas pelo Grupo. Com a incorporação do negócio das seis novas marcas em Bragança, a MCoutinho Nordeste alarga o âmbito geográfico do negócio Mercedes-Benz e Smart, com o qual operava desde 2006 em Vila Real. Integra ainda quatro novas marcas na plataforma: a Seat – já representada por duas plataformas: MCoutinho Porto e MCoutinho Litoral, e a estreia absoluta de três marcas novas no Grupo: Audi, Volkswagen e Skoda – o que aumenta o número total para 19 marcas representadas. A expansão do negócio inclui também a integração de um centro de colisão. Manuel Lúcio Coutinho, administrador do Grupo e da plataforma MCoutinho Nordeste, assinalou a importância do negócio: "Esta plataforma MCoutinho dá um salto no reforço do seu portefólio de marcas, que se traduzirá numa nova fase do desenvolvimento do negócio. O reforço da parceria com as atuais marcas que já representávamos até aqui, juntamente com a estreia de um conjunto muito prestigiante de novas marcas, são o fundamento essencial da nossa forte motivação e será um enorme desafio promover a adequada implantação do novo negócio”. António Coutinho, presidente da MCoutinho Automotive SGPS, lembrou que “a conjuntura económica é altamente desfavorável, mas o Grupo tem de prosseguir com o desenvolvimento ambicioso do negócio. Temos estado atentos a novas oportunidades de negócio e este passo materializa a diversificação e a expansão que traçámos como plano estratégico MCoutinho”.

Intermarché celebra 19º aniversário

Para assinalar o 19.º aniversário em Portugal o Intermarché vai dar “mais de 1 000 ordenados extra aos seus clientes”. Na campanha, que decorre até 26 de outubro, serão sorteados pelos clientes mais de 1 000 ordenados de 475 euros. Por cada 19 euros em compras efetuadas até ao final da campanha, os clientes ficam habilitados a ganhar o equivalente a um ordenado mínimo, em dinheiro, que será creditado no cartão Os Mosqueteiros e que poderá ser utilizado na loja habitual. Cada uma das lojas Intermarché do país sorteará cinco ordenados, nas cinco semanas da campanha.

Millenium abre ao sábado

O Millennium BCP passou a abrir aos sábados em 26 sucursais do país. Nos centros urbanos o banco está aberto ao público das 9:30 às 13:30 e nos centros comerciais das 14:00 às 18:00. A sucursal do Millennium BCP do Marco de Canaveses (na Av. Francisco Sá Carneiro) é a única que funciona ao sábado no Tâmega. No Grande Porto, abrem os balcões nos centros comerciais MaiaShopping, GaiaShopping e no Centro Comercial Parque Nascente. Em ambos os horários, depósitos e levantamentos só estão disponíveis na zona automática.

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outubro’10

diversos / crónica

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Liderança do PSD/Amarante disputada por duas listas  Atual e antigo vereador social-democrata vão a votos As eleições para a Comissão Política Concelhia do PSD de Amarante, marcadas para 22 de outubro, vão ter dois candidatos: José Luís Gaspar e João Sardoeira. José Luís Gaspar vai recandidatar-se numa “lógica de continuidade” para “preparar o futuro do PSD prosseguindo o trabalho que temos vindo a fazer”, disse ao RM. “Logo a seguir” às autárquicas de 2009 foi decidida uma “reorganização interna e estes dois anos são fundamentais para estruturar o partido”, afirma o presidente da Comissão Política Concelhia e vereador na Câmara de Amarante. Só depois faz sentido pensar nos candidatos às próximas eleições, referiu, revelando que no último ano entraram para o partido cerca de 300 militantes. O atual líder do PSD/Amarante realça também que

as obras feitas na sede concelhia permitiram criar espaços condignos para os grupos de trabalho de apoio aos autarcas, vereação e Assembleia Municipal.

| Sardoeira defende rumo diferente | O coronel João Sardoeira, ex-vereador, candidata-se porque não está “contente com o rumo que o PSD tem tomado”. Diz ter uma estratégia e “um projeto diferente para o partido e para Amarante” e defende que o PSD “deve estar mais próximo das pessoas”. Em declarações ao RM, João Sardoeira adiantou que “nunca” será candidato à Câmara nem à Assembleia Municipal e que pretende que “o partido trabalhe para Amarante e não Amarante para o partido”.

CARTAS À REDAÇÃO Aguas do Marco SA vs Município do Marco de Canaveses JORNAL “REPÓRTER DO MARÃO” - RM 1242 – EDIÇÃO DE 28 DE JULHO A 31 DE AGOSTO Texto elaborado com base numa notícia editada pela Agência Lusa

Relativamente à edição referida em epígrafe, e no que se refere à peça publicada na página 10, sobre a tomada de posição pública da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, em conferência de imprensa realizada no passado dia 29 de julho de 2010, em que apresentamos um documento de 14 páginas relativamente Acórdão Final do Tribunal Arbitral no que concerne ao processo “Águas do Marco, S.A. vs Município do Marco de Canaveses”, solicita-se a correção aos seguintes parágrafos: 5.º Parágrafo – “ (…) Esse contrato está em vigor desde maio de 2005, quando assumia a presidência da Câmara do Marco, Norberto Soares, que assumira o cargo depois da renúncia de Avelino Ferreira Torres, para se candidatar, em outubro desse ano, à autarquia de Amarante (…)”. O contrato está, de facto, em vigor desde 16 maio de 2005, tendo sido assinado pelo então Presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, Avelino Ferreira Torres, que nunca renunciou à Presidência da Câmara, sendo Norberto Soares Vice-Presidente da Câmara à data. Ou seja, há uma clara e inegável responsabilidade direta do Sr. Avelino Ferreira Torres na concessão do contrato da Água e Saneamento à empresa “Águas do Marco S.A.” 10.º Parágrafo – “ (…) Aquela instância judicial deu agora razão à empresa e determinou que o valor que repõe o equilíbrio financeiro deverá ser de 16 milhões de euros, bastante mais do que a autarquia estava disposta a aceitar, cerca de 9 milhões de euros (…)”. Em rigor, desde o início deste processo,

nunca houve qualquer possibilidade, intenção ou compromisso, da parte da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, em aceitar indemnizar a empresa no montante de 9 milhões de euros, de modo a ressarcir esta entidade pela modificação unilateral do contrato. Se há alguém neste processo que deve ser ressarcido são os 55 000 Marcoenses, que foram e continuarão a ser prejudicados por um contrato que não vem de encontro às suas necessidades e direitos legítimos de acesso à rede de água potável e saneamento básico.

EB 2,3 do Marco de Canaveses JORNAL “REPÓRTER DO MARÃO” - RM 1243 – EDIÇÃO DE SETEMBRO

Após a leitura da entrevista dada por mim à Sr.ª jornalista Paula Costa, publicada no nº 1243, do Ano 27, venho por este meio solicitar o seguinte: Quando na segunda metade do último parágrafo se lê “… mostrando-se muito crítico da linha …” (até ao final da entrevista). Agradeço que publique a seguinte rectificação: No último parágrafo da entrevista publicada, o sentido da mesma, que generaliza situações, não corresponde ao sentido por mim pretendido, pois apenas me referia a circunstâncias casuísticas com que me deparei no início do mandato. O pessoal docente e não docente que tenho no Agrupamento é constituído por profissionais que no seu quotidiano revelam qualidades, mérito e competências para os cargos que lhe são atribuídos e para o exercício das suas funções docentes e não docentes. Desde já agradeço a todos os que me fizeram chegar o seu sentir ao lerem a entrevista, e peço humildemente desculpa a todos os que por ela possam ter-se sentido ofendidos. Marco de Canaveses, 13 de setembro de 2010 Alberto Tavares Morais Soares, Dr. Director do Agrupamento de Escolas de Marco de Canaveses

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repórterdomarão

António Mota

Anabela e Adão Não gosto de ver cabeças rapadas à navalha, fazem-me lembrar os prisioneiros dos campos de concentração nazis. Eu sei que os gostos não se discutem, eu sei que as modas existem para deixarem de ser modas, eu sei tudo isso, e até me considero um sujeito muito tolerante. Mas não aprecio cabeças rapadas. Também não gosto de caracóis e detesto bacalhau cozido com batatas, que é que hei-de fazer? Mas não confundo uma cabeça deliberadamente rapada, com uma cabeça lisa, sem um único cabelo, tão branca e tão macia, como aconteceu à cabeça da Anabela depois da quimioterapia. A minha Anabela pôs um lenço na cabeça, era um lenço muito garrido para que ninguém reparasse. É um lenço bonito. A Anabela diz que fui eu que lho ofereci, mas eu já não me recordo. Ofereci-lho quando fomos pela primeira vez às festas de Lamego, era o nosso primeiro ano de casamento, disse ela. Mas eu não me lembro. Ela diz que subimos a escadaria num instante, eu ia na frente a abrir caminho, e ela atrás, com o coração aos saltos. E que íamos de mãos dadas, como se ainda fôssemos namorados. E depois ofereci-lhe o lenço de ramagens, comprado numa tenda. “Não te lembras, Adão? Parece que foi ontem!” “Sim, Anabela, estou a lembrar-me. Claro que me lembro.” Menti, para não a magoar. Aquele lenço tem mais de trinta anos, que são muitos meses, muitos dias e muitas horas, para não falar nos minutos que nos marcam mais que uma eternidade. E agora, trinta anos depois, abomino aquele lenço de ramagens e incomodam-me todos os lenços garridos. A Anabela diz que usa o lenço para não incomodar as pessoas. Que não vale a pena estar a entristecê-las nem a alarmá-las. Ela não gosta de usar peruca, diz que lhe fica mal. Eu acho que ela não tem razão, mas não a quero contrariar. Estou casado com a Anabela há mais de trinta anos. Fizemos a casa, criámos três filhos, já temos dois netos, que nos enchem a casa de alegria. Só é pena

que estejam tão longe de nós e só apareçam de vez em quando. Esta gente nova anda muito apressada, parece que o mundo vai acabar amanhã. E estão tão enganados, coitados. Eu também gastei a minha vida numa correria, e tenho imensas coisas para fazer. Projetos não me faltam. Trabalho também não. Não me faltava nada, dizia eu, que sou um derrotista e um bocado lamechas, admito. Agora, aqui estou à espera que a Anabela fique com mais forças, que olhe para mim devagar, e eu veja nos seus olhos uma réstia da alegria e da serenidade que tanta falta me fazem. Agora, aqui estou nesta sala que cheira a remédios, à espera que aquela porta se abra, e ela apareça sorridente e sem olheiras, e me diga que o lenço que eu lhe ofereci na festa do Senhor dos Remédios há mais de trinta anos vai voltar para a arca, ou para uma das gavetas da cómoda, ou do roupeiro, ou sei lá para onde. A Anabela é que sabe, e eu não estou nada interessado em aprender sozinho que coisas estão guardadas em cada gaveta da nossa casa. Não, não quero esse pesadelo. anttoniomotta@gmail.com

Esta gente nova anda muito apressada, parece que o mundo vai acabar amanhã. E estão tão enganados, coitados. Eu também gastei a minha vida numa correria, e tenho imensas coisas para fazer. Agora, aqui estou à espera que a Anabela fique com mais forças, que olhe para mim devagar, e eu veja nos seus olhos uma réstia da alegria e da serenidade que tanta falta me fazem.


30 outubro’10 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

crónica|eventos

Festival Internacional Douro Jazz A.M.PIRES CABRAL

Acordo? Unificação? Uma vez que os órgãos de soberania competentes deram luz verde ao Acordo Ortográfico, tem quem quiser todo o direito de o adoptar. Assim o fez o Repórter do Marão. E assim o tinha feito já, tomando a dianteira de todos, o Expresso – a galope. Já me parece discutível que o Expresso tenha o direito de escrever no rodapé dos artigos dos seus colunistas que não foram em cantigas de simplificação, unificação e mais não sei quê, como Miguel Sousa Tavares e José Cutileiro (a quem nunca doam as mãos), que estes escrevem «de acordo com a antiga ortografia». Mais devagar, senhores do Expresso. A ortografia desses colunistas mantémse actual enquanto não expirar o período de adaptação. E também me parece duvidoso que o Expresso tenha o direito de justificar a adopção do acordo com o peregrino argumento de que a ortografia não influencia a pronúncia. Lê-se ou lia-se isto na sua página on line. Pois fiquem sabendo que influencia, e muito. De resto, ao colocar – é só um exemplo – um acento agudo (ainda por cima agudo!) em ‘Féteira’, para abrir o e da primeira sílaba, o Expresso está a reconhecer implicitamente que a ortografia influencia a pronúncia. Ou não será assim? Mas o acordo, de vento em popa, lá vai abrindo o seu caminho entre águas de revolta. Que nos resta? Passemos a escrever que os corretores não são corretores, sem que se fique a saber quem corrige e quem faz corretagem. Ou, pior ainda, coisas enternecedoras como esta: Com exceção da conceção, o projeto foi uma grande deceção e teve uma péssima receção. Haja Deus! Até esteticamente é um aborto este enxovedo do acordo! No meio da amargura que me toma quando leio o Portu-

guês alegremente abrasileirado pelo negregado Acordo Ortográfico, há por vezes momentos de consolação. Foi o caso de ter lido (no Expresso!) a transcrição de parte de um belo poema de Inês Lourenço, chamado “Consoantes átonas”, do livro Coisas que nunca. Assim:

[…] emudecer o afe[c]to português? Amputar a consoante que anima a vibração exa[c]ta do abraço, a urgência tá[c]til do beijo? Eu não nasci nos trópicos; preciso desta interna consoante para iluminar a névoa do meu dile[c]to norte.

Bem haja Inês Lourenço por ter dado voz ao que eu próprio penso e sinto e choro! Já agora, querem saber como é que os brasileiros escrevem a frase Com exceção da conceção, o projeto foi uma grande deceção e teve uma péssima receção? Escrevem-na assim: Com excepção da concepção, o projeto foi uma grande decepção e teve uma péssima recepção. Nem mais. Querem melhor? Acordo? Unificação? Não brinquem comigo, como brincaram bárbara e impunemente com a língua portuguesa.

Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico. pirescabral@oniduo.pt

Os catalães Biel Ballester Trio atuam dia 8, às 21:30, no auditório do Teatro Municipal de Bragança. Bilhetes a cinco euros. Espectáculo dos The Postcard Brass Band no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. Dia 9, às 21:30. Bilhetes a partir de cinco

Desfolhada no Barroso

euros. A mesma banda atua, dia 13, às 21:30, no Cine-Teatro de S. João da Pesqueira. Bilhetes a 2,5 euros. Encerramento do Douro Jazz com o consagrado guitarrista Al De Meola (foto). Dia 16, às 22:00, no grande auditório do Teatro de Vila Real. Bilhetes a 20 euros.

Exposição Barbie no Porto

A aldeia de Linharelhos, no concelho de Montalegre, recebe dia 9 de outubro a I Desfolhada do Barroso, uma aposta cultural que visa manter viva uma prática comunitária na região. Do programa de atividades fazem parte uma visita à quinta em modo de produção biológica, jantar e desfolhada com romeiros, cantares ao desafio e música tradicional portuguesa. Os interessados devem inscrever-se até dia 5 de outubro através do e-mail info@ecoturismo.me ou do número 253658161.

A exposição “Clássicos da Barbie” vai estar patente, entre 01 de outubro e 10 de novembro, no Shopping Cidade do Porto. Espalhada pelos vários corredores daquele centro comercial Cidade do Porto, a mostra pode ser visitada entre as 10:00 e as 23:00. Estão em exposição as coleções Grandes Desenhadores, Contos Infantis e Personagens Famosas, entre outras.

Marco de Canaveses

As atrizes Ana Bola e Maria Rueff apresentam “Vip Manicure – A Crise”. Dia 22, às 21:30, no auditório do Teatro Municipal de Bragança. Bilhetes a sete euros.

No Espaço Municipal da Juventude, na Casa do Povo de Fornos, está patente até ao final de outubro uma exposição sobre Jean Monnet, considerado o mentor da Europa dos nossos dias. Visitas das 09:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:30, de segunda a sexta feira.

Amarante A exposição "Letras e Cores. Ideias e Autores da República" está patente até 30 de outubro na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante. "Memórias", a exposição de pintura que mostra trabalhos do artista plástico autodidacta Fernando Barros pode ser visitada até 10 de outubro na Igreja Velha de Gondar, de terça a domingo, das 14:00 às 17:30.

Teatros Municipais Teatro Municipal de Bragança

Teatro Ribeiro Conceição – Lamego

Ó Zé Bate o Pé, teatro de revista com a participação do ator Luís Aleluia. Dia 30, às 21:30, no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego.

Teatro de Vila Real

Os The Soaked Lamb, que participaram na banda sonora do filme “A Arte de Roubar”, de Leonel Vieira, atuam no Café-Concerto do Teatro de Vila Real. Dia 7, às 23:00. Entrada gratuita. A Companhia de Dança de Almada apresenta “Nossos”, dia 22, às 22:00, no pequeno auditório. Bilhetes a sete euros. A cantora e compositora inglesa Liz Green atua dia 28, às 23:00 no Café-Concerto. Entrada gratuita. Joana Costa, vencedora do Prémio Amália Rodrigues, apresenta-se dia 30, às 22:00 no pequeno auditório do Teatro de Vila Real. Bilhetes a sete euros.


outubro’10

artes | nós

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repórterdomarão

Cartoons Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior. Fundado em 1984 Revista Mensal

de

Santiagu

Registo/Título: ERC 109 918 Depósito Legal: 26663/89 Redação:

[Pseudónimo de António Santos]

Rua Manuel Pereira Soares, 81 - 2º, Sala 23 Apartado 200 | 4630-296 MARCO DE CANAVESES Telef. 910 536 928 - Fax: 255 523 202 E-mail: tamegapress@gmail.com Diretor: Jorge Sousa (C.P. 1689) Redação e colaboradores: Liliana Leandro (C.P. 8592), Paula Lima (C.P. 6019), Paula Costa (C.P. 4670), Carlos Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Patrícia Posse, Helena Fidalgo (C.P. 3563) Alexandre Panda (C.P. 8276), António Orlando (C.P. 3057), Jorge Sousa, Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, A. Massa Constâncio (C.P. 3919), Ana Leite, Armindo Mendes (C.P. 3041). Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas: Alberto Santos, José Luís Carneiro, José Carlos Pereira, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino de Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, Armando Miro, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo. Colaborações/Outsourcing/Agências: Agência Lusa (Texto e fotografia), Media Marco, Baião Repórter/Marão Online Promoção Comercial, Relações Públicas e Publireportagem: Telef. 910 536 928 - Ana Pinto publicidade.tamegapress@gmail.com anapinto.tamegapress@gmail.com Propriedade e Edição: Tâmegapress - Comunicação e Multimédia, Lda. NIPC: 508920450 Sede: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 - Apartado 4 4630-279 MARCO DE CANAVESES

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Eduardo Pinto 1933-2009

Partes sociais superiores a 10% do capital: António Martinho Barbosa Gomes Coutinho, Jorge Manuel Soares de Sousa.

Cap. Social: 80.000 Euros Impressão: Multiponto SA - Baltar, Paredes Tiragem: 32.000 exemplares distribuídos (Auditados)

Associado da APCT - Ass. Portuguesa de Controlo de Tiragem e Circulação | Nº 486

Assinaturas | Anual:

Pagamento dos portes CTT Continente: 40,00 | Europa: 70,00 | Resto do Mundo: 100,00 (IVA incluído) A opinião expressa nos artigos assinados pode não corresponder necessariamente à da Direção deste jornal.

Outono - Rio Tâmega - Amarante - Anos 70



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