Repórter do Marão

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repórterdomarão do Tâmega e Sousa ao Nordeste

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Nº 1250 | abril '11 | Ano 28 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | 910 536 928 | Tiragem: 28.000 ex.

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Risco Sénior

Resposta social considerada insuficiente no Vale do Sousa Apenas 10 por cento dos idosos tem cobertura por IPSS Vizinhança atenua isolamento no Baixo Tâmega

CRISE SOCIAL REVOLTA Bispo do Porto apela: "levem isto a sério"

Professor no Iémen relata o protesto na primeira pessoa

BLIND ZERO

Entrevista com o vocalista Miguel Guedes


SENIORES | VALE DO SOUSA | Apoio domiciliário pre

Respostas sociais apenas a dez por cento dos idosos Mónica Ferreira | monicaferreira.tamegapress@gmail.com | Fotos DR e Lusa

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enos de dez por cento dos idosos do Vale do Sousa têm acesso às respostas sociais proporcionadas pelas autarquias ou pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) deste espaço regional. Os equipamentos sociais destinados à terceira idade existentes nos concelhos de Paredes, Penafiel, Paços de Ferreira e Lousada são ainda insuficientes face ao número de idosos com mais de 65 anos que habitam nos quatro municípios - mais de 28 mil para um universo populacional de 263 690 habitantes. A área social tem merecido ao longo dos anos particular atenção das autarquias, mas a realidade está longe de ser a ideal e os lares, centros de dia, de convívio, ou o apoio domiciliário ainda deixam de fora muitos daqueles que, no fim das suas vidas, não têm quem os acompanhe ou quem lhes preste ajuda na realização das suas tarefas diárias. Com vista a criar condições para que os mais velhos tenham qualidade de vida no fim do seu percurso, as autarquias têm apoiado a criação de equipamentos sociais que respondam a estas necessidades. Contudo, o índice da população envelhecida, obrigará à criação de um número muito superior de respostas. Têm sido também criados mecanismos, caso do Movimento Sénior, do Serviço de Teleassistência, do Banco do Voluntariado, que visam ocupar os seniores e criar-lhes condições para que, a partir de casa, sejam acompanhados e tenham assegurados os cuidados mínimos.

30 equipamentos em Paredes O concelho de Paredes tem um total de 9247 idosos, mas as respostas sociais, nas quais se integram os Lares, Centros de Dia e de Convívio e Apoio Domiciliário, cingem-se a 30 equipamentos que servem apenas 838 idosos, o que em termos percentuais representa menos de 10 por cento da população com mais de 65 anos. Segundo a vereadora com o pelouro da Ação Social,

Hermínia Moreira, a autarquia tem noção que o número de instituições que trabalham com os idosos “são manifestamente insuficientes”. Hermínia Moreira salienta que a Câmara Municipal, por ter consciência de que existem muitas outras pessoas que necessitam de resposta social e não a têm, quer por impossibilidade de resposta da autarquia, “ou porque muitos dos idosos se recusam a ir para um lar”, vai tentando “responder de imediato aos pedidos que nos chegam no âmbito da ação social”. “Mas, apesar disso, sabemos que há muita gente que precisa e não procura”, sublinha. A insuficiência de equipamentos em Paredes tem levado a que o executivo continue a trabalhar no sentido de chamar até si novos equipamentos. “Sabemos que a lista de espera nos lares é grande e que se abríssemos mais, teríamos utentes para eles. Por isso, temos apresentado candidaturas e temos algumas aprovadas e outras em fase já de construção. Continuámos a insistir com quem de direito para que olhem para uma região que tem muitas necessidades nesta área”, rematou.

40 instituições em Penafiel Em Penafiel, as respostas sociais aos seniores, são dadas através dos serviços prestados pelas 40 instituições existentes no concelho. Os serviços que prestam, que passam por Centro de Dia, Centro de Convívio, Serviço de Apoio Domiciliário e Lar, chegam até 1119 pessoas, num universo de 8292 pessoas com mais de 65 anos residentes no concelho. Os Centros de Convívio reúnem o maior número de utentes (337 utentes), com dez instituições a prestar este serviço à comunidade. Segundo Antonino de Sousa, vereador com o pelouro da Ação Social na autarquia penafidelense, a rede social em Penafiel está “numa situação bastante boa, temos uma boa rede com diferentes respostas”. Apesar disto, “esta será ainda reforçada este ano com a abertura de novos equipamentos direcionados para as

crianças e para os mais velhos que estão já em fase de conclusão”. Segundo este responsável, a “presença forte” do Apoio Domiciliário e dos Centros de Convívio que se verifica em Penafiel, é reflexo “da cultura que temos no concelho, do idoso querer ficar no seu cantinho”. Antonino de Sousa reconhece que esta situação é satisfatória. “O importante é que o idoso esteja bem e se puder estar em casa e ter acompanhamento, este é o modelo ideal”, frisou.

29 instituições em Paços Em Paços de Ferreira as respostas sociais chegam até 793 pessoas com mais de 65 anos, num universo de 6032 idosos. Os serviços de Centro de Dia, de Convívio, de Apoio Domiciliário e de Lar, são prestados pela 29 instituições de solidariedade social. Aqui, como no concelho de Penafiel, os centros de convívio são os que têm maior procura e onde existe o maior número de idosos comparativamente às outras valências. “As pessoas não querem abandonar as suas casas, ocupam-se durante o dia nos centros e regressam a casa à noite”, assegura o vereador com o pelouro da Ação Social, António Coelho. Para o vereador, o concelho de Paços de Ferreira “tem uma cobertura significativa e satisfatória” no que respeita a respostas sociais dedicadas aos mais velhos. Certo de que o caminho passa cada vez mais por “não institucionalizar o utente”, António Coelho afirma que “este é o caminho”. Na opinião do responsável pacense, as autarquias têm que criar condições para que os seniores possam ficar em casa e lhes sejam assegurados os serviços de cuidados continuados, nomeadamente a alimentação e higiene. Face aos indicadores do concelho, o vereador considera que “ao nível do Centro de Dia a cobertura é satisfatória”, mas será necessário “aumentar o Serviço de Apoio Domiciliário e os Lares porque estes últimos não servem


ferido aos lares

chegam só as pessoas do concelho mas outras que estão sinalizadas na Segurança Social”. Neste sentido, a aposta do município na construção de novos equipamentos sociais mantém-se e será criado em Paços de Ferreira mais um Lar. “Já existe projeto com parecer positivo da Rede Social de Paços de Ferreira para a criação de mais um Lar no concelho”, declarou.

Apoio domiciliário em Lousada Em Lousada, dos 5045 habitantes com idade superior a 65 anos, apenas 272 beneficiam das ajudas sociais que a autarquia tem ao dispor. Neste concelho, verifica-se um fenómeno diferente dos restantes concelhos do Vale do Sousa: se por um lado os Centros de Dia e de Convívio têm menos utilizadores do que o previsto na sua lotação, no serviço de Apoio Domiciliário a tendência inverte-se e as respostas existentes tornam-se insuficientes face ao número de utentes. Nas duas instituições que funcionam como centro de dia e de convívio, há capacidade para acolher 63 utentes, mas na realidade só 42 usufruem destas respostas. No apoio domiciliário, as cinco instituições que prestam este serviço aos idosos só têm missão para o fazer em 115 habitações, mas atualmente 129 idosos beneficiam da ajuda ao nível da alimentação, da higiene pessoal e da habitação. Segundo Cristina Moreira, vereadora com o pelouro da Ação Social na Câmara Municipal de Lousada, não é preocupante a falta de resposta social de lares e centros de dia. “Muitos dos idosos preferem estar em suas casas, manter as suas rotinas, tratar dos seus quintais em vez de irem para um Centro de Dia ou de Convívio”, explica. Segundo a vereadora, “aumentando o serviço de apoio domiciliário, aumentamos também a taxa de empregabilidade pois acabamos por envolver mais pessoas”. A vereadora acrescentou, contudo, que face à insuficiência de equipamentos sociais em Lousada, “foram já preparadas três candidaturas a novos equipamentos e está a ser formalizada uma quarta”.

Outras respostas Para complementar as respostas sociais existentes no Vale do Sousa têm sido implementadas outras atividades e mecanismos direcionadas aos mais velhos. Paredes e Paços de Ferreira são dois concelhos que possuem um serviço de Teleassistência – Serviço de Proximidade a Idosos, dirigida a um público com graves carências na integração social. Este sistema pretende servir aqueles que vivem sozinhos, desde que a pessoa tenha autonomia física para o poder utilizar ou, quando tal não se verifica, que tenha o auxílio de uma segunda pessoa na utilização do equipamento. Dar informações gerais, alertas de toma de medicação ou avisar de consultas médicas previamente marcadas e assistência ao lar, pedido urgente de médicos e enfermeiros, serviço de ambulâncias, bombeiros e polícia, contacto com familiares ou terceiros, ou simplesmente dar uma palavra de conforto para combater a solidão, são alguns dos objetivos deste sistema. Em Paredes, o sistema de Teleassistência foi criado em dezembro de 2009 e abrange 50 idosos, em cujas casas foi instalado um aparelho ligado a uma Central de Assistência e que pode ser acionado 24 horas por dia, durante todos os dias do ano. Este programa custa à autarquia cerca de mil euros por mês e durante este ano de 2011 o serviço será alargado a mais 25 pessoas. Para poder usufruir deste serviço, o munícipe de Paredes tem de viver só, ter rendimentos escassos e idade superior a 60 anos de idade (salvo situações de deficiência e/ou incapacidade). Em Paços de Ferreira este projeto foi também implementado há já dois anos. Suportado financeiramente pela Câmara Municipal, surgiu no âmbito do Programa Capital Solidária e foi aprovado pela Rede Social de Paços de Ferreira. Desde essa altura que os equipamentos foram colocados à disposição das pessoas mas atualmente só foram instalados dez. Segundo o vereador com o pelouro da Ação Social, “tínhamos a perceção de que houvesse uma adesão maior do que a que existe e se há pessoas que entendem as vantagens deste sistema, há outras que por diversas razões não o querem”. Aquando da instalação deste serviço, as instituições de Paços de Ferreira sinalizaram pessoas isoladas que pudessem ter necessidade deste equipamento. É este trabalho que António Coelho assegura que a autarquia vai continuar a fazer. “Vamos continuar a sinalizar e a divulgar as vantagens deste serviço”, rematou. Ainda em Paredes, existe também o Banco Local do Voluntariado que assume particular importância na vida dos mais velhos. O organismo foi criado em fevereiro de 2011 e tem como principais objetivos impulsionar a prática do voluntariado no concelho, facilitar o encontro entre a oferta e a procura de voluntariado, divulgar projetos e oportunidades de voluntariado e apoiar a missão voluntária, formando voluntários e agentes institucionais no âmbito desta temática. Neste sentido, o Pelouro de Ação Social da autarquia está a implementar o Voluntariado de Proximidade, que visa o bem-estar psicológico e social do idoso no seu ambiente residencial, um método de intervenção que, segundo a autarquia, “tem imensos pontos positivos uma vez que é feito na própria casa do idoso, com memórias e laços afetivos fortes, promovendo a companhia aos idosos que não querem ser institucionalizados”. Além destes serviços, as autarquias têm ainda levado a efeito diversas atividades lúdicas que possam preencher a vida dos idosos e dar-lhe mais momentos de convívio. Exemplo disso, são os “Movimentos Seniores”, que são levados a cabo pelas IPSS’s de Lousada. Ao longo dos meses, as instituições locais ocupam um ou mais dias da semana com atividades para os mais velhos. Neste concelho, este trabalho é desenvolvido por dez associações e abrange 227 idosos. Em Paredes, este projeto “Movimento Sénior” vai arrancar ainda este mês de abril. Destinado a pessoas com mais de 50 anos, os participantes vão ter a oportunidade de praticar ginástica sénior no Pavilhão Rota dos Móveis, em Lordelo. Com vista ainda a “combater o sedentarismo, o isolamento e melhorar a qualidade de vida da população idosa do concelho”, serão dadas aulas em meio aquático, aulas de atividade física dadas por Técnicos de Desporto do Município nas próprias instalações das Instituições Particulares de Solidariedade Social que têm idosos e a modalidade de boccia, na qual participarão doze instituições, abrangendo cerca de 250 pessoas. Outras festas e encontros são ainda promovidos pelos municípios do Vale do Sousa, sempre com vista a combater a solidão e a ocupar os tempos livres daqueles que outrora tiveram uma ocupação e que agora se vêem muitas vezes limitados a quatro paredes. Em Paços de Ferreira, a autarquia avançou este ano com o projeto “Idade da Reforma – Idade de Manter a Forma”. Com este projeto, os seniores têm a possibilidade de utilizarem de forma gratuita em horário menos nobre as instalações desportivas municipais para a prática de atividades como a hidroginástica e o fitness. Além da vertente desportiva, a autarquia tem ainda ao dispor dos seniores atividades culturais que decorrem nos equipamentos culturais do concelho, nas quais são organizados serviços pedagógicos e educativos que envolvem projetos de animação, decoração e visitas com os seniores. Em Penafiel, a autarquia promove atividades pontuais dedicadas aos idosos, caso do passeio dos avós, mas são as instituições que assumem este papel de dinamizadores e organizadores. A autarquia assume-se como elemento de coesão, auxiliando nesta questão e criando condições à realização das atividades promovidas pelas associações.

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MANUEL CLEMENTE | Bispo do Porto faz leitura da crise social

Manifestações são avisos ao poder Redação * | tamegapress@gmail.com | Foto Lusa

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anuel Clemente, bispo do Porto, considera que os protestos sociais são manifestações de desagrado da sociedade e aconselha os poderes decisores a “levar a sério” as manifestações de quem luta por um futuro melhor.

O prelado considerou que “o sujeito da crise e o sujeito da resolução da crise é Portugal, somos todos nós, não apenas os políticos” e preconizou que os responsáveis políticos “devem ter muito presente” essa perspetiva. “Ou nós sentimos que isto é com todos e cada um faz o que lhe compete, e os políticos fazem também aquilo que nós lhes incumbimos que façam, ou então se ficamos à espera que venha alguma salvação do grupo A, do grupo B, do político A, do político B, sem nunca resolveremos o problema”, observou o bispo, em entrevista recente à agência Lusa. O bispo comentava, na altura, as concentrações da “Geração à Rasca” e as manifestações do setor laboral, preconizando que são sinais que devem ser para respeitar e “levar a sério”. Para o bispo do Porto, não se pode “relativizar” o que fizeram jovens “que vêem o seu futuro com uma grande interrogação” e as posições de “muita e muita gente que pôs problemas que são reais”.

Quatro anos à frente da diocese Manuel Clemente sublinhou, apesar de tudo, que a esperança “nunca morre”, mas precisa de ser alimentada “com o respeito por aquilo que são as aspirações legítimas das pessoas, as suas ansiedades e das suas

necessidades”. Manuel Clemente, que completou quatro anos à frente da Diocese do Porto, refere-se também às questões ditas fraturantes, como o aborto, os casamentos gay ou a eutanásia. Salvaguardando que “se não fosse religioso, pensaria da mesma maneira”, o bispo do Porto manifestou “preocupações” face a “legislações que consideram positivamente parte da vida e desconsideram outra parte, concretamente na sua origem”. Disse mesmo que começa a ter “alguns receios” quanto à eventual legalização da eutanásia, considerando que se exige “uma solidariedade muito maior em relação à vida no seu todo, uterina, pós uterina, terminal, e uma outra vinculação aos problemas que possam aparecer nessas fases da vida”. O que não se pode fazer, na sua avaliação, é que se “descarte” fases menos importantes de uma vida que “só valeria enquanto estivéssemos aqui capazes, contribuintes e produtivos”.

Resposta social católica imprescindível Referindo-se ao seu futuro ao serviço da Igreja Católica, e à possibilidade de vir a suceder a José Policarpo como cardeal-patriarca, disse que “as hipóteses todas podem-se pôr, mas não é coisa que eu equacione”. O que o bispo do Porto disse esperar “é que o atual cardeal-patriarca de Lisboa tenha saúde e disponibilidade para se aguentar no cargo dois/três anos porque nos faz muita falta, pelo seu pensamento, pela sua clarividência”. O bispo Manuel Clemente revelou ainda que a Cá-

ritas quintuplicou no último ano o seu apoio na área da Diocese do Porto, salientando que a situação social seria bem pior sem o apoio das organizações católicas. Segundo o bispo, aos apoios Caritas Diocesana juntam-se os prestados pelas conferências de São Vicente de Paulo, “que são centenas na diocese do Porto”, pela Obra Diocesana de Promoção Social, que mantém 12 centros de apoio aos bairros periféricos da cidade, pelas 28 misericórdias e por dezenas de centros sociais e paroquiais.

Porto é a segunda maior diocese Manuel Clemente reconheceu, ainda assim, que a Igreja “nunca consegue responder totalmente” às necessidades, mas também entende que esse apoio se tornou imprescindível. “Nem consigo imaginar, nem quero, o que seria a sociedade sem a resposta [social] que a Igreja Católica lhe dá”, observou. Manuel Clemente completou em março quatro anos como bispo do Porto, um período durante o qual recebeu o papa, tornou-se Prémio Pessoa e membro da Academia das Ciências e firmou-se como uma das vozes da Igreja mais respeitada na comunidade laica. Talvez porque tenha “uma linguagem comum”, talvez porque vê algumas questões mais “como cidadão” do que responsável eclesiástico, justificou. A Diocese do Porto, que o bispo Manuel Clemente dirige desde 24 de março de 2007, é a segunda maior do país em número de paróquias (477, menos 74 do que Braga), abrangendo uma área de 3010 quilómetros quadrados, distribuída pelos distritos de Aveiro, Braga e Porto e habitada por 2.064.813 pessoas. * com LUSA



SENIORES | BAIXO TÂMEGA | Respostas das IPSS são ainda

Rede de vizinhança Paulo Alexandre Teixeira | pauloteixeira.tamegapress@gmail.com | Fotos P.A.T.

O

s laços de família e de vizinhança continuam a ser uma das marcas que caracterizam o tecido social da região do Baixo Tâmega, onde existe ainda um forte sentimento de comunidade que permite detetar situações de abandono e isolamento de idosos. Contudo, as instituições que apoiam esta camada da população no terreno apontam para dificuldades, a nível financeiro, que mostram uma tendência para se agravarem, nos próximos anos. A conclusão é possível graças à resposta quase unânime de instituições e autarquias, que, em entrevistas e inquéritos realizados pelo Repórter do Marão (RM), asseguram que casos extremos de abandono como os que vieram a público recentemente seriam praticamente impossíveis na região. O tema do isolamento esteve em destaque nacional durante várias semanas em fevereiro, após a descoberta de uma idosa residente na zona de Sintra, na sua própria casa, mais de oito anos após o seu falecimento. “Casos destes não são raros”, assegurou o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Mário Durval, que em declarações à Lusa afirmou que há cada vez mais pessoas a viverem sozinhas, consequência de um aumento do número de idosos em Portugal. Estas notícias alarmaram a população que vive em condições semelhantes, numa região de cariz rural onde as elevadas taxas de desemprego e de emigração têm contribuído para o isolamento destas comunidades. “No entanto, muitas são as situações em que o facto de residirem sozinhos não traduz, em si, uma questão que possa amedrontar a população sénior”, refere Gorete Monteiro, do Gabinete de Ação Social do Marco de Canaveses. A vereadora marcuense acrescentou que, apesar do Marco ser um concelho extenso, existe de facto uma rede de vizinhança próxima que permite detetar situações de abandono, carência e até mesmo violência para com esta população. A informação recolhida, que passa por esta rede in-

mento da sua população idosa. Em Baião, por exemplo, a autarquia lançou o serviço “Linha Amiga”, através da qual os cidadãos seniores podem solicitar ajuda gratuita para pequenas reparações domésticas que, de outra forma, não seriam capazes de realizar. Tal como noutros concelhos, a Unidade Móvel de Saúde (UMS) é também aqui um elemento importante enquanto serviço de proximidade em matéria de saúde e cuidados primários no concelho. “A UMS tem-se assumido igualmente como uma importante resposta no combate ao isolamento dos idosos, um espaço de convívio e de confraternização que permite o reforço da rede de vizinhança”, explica Manuel Durão, vereador dos Assuntos Sociais da CM de Baião. Um pouco por toda a região, as autarquias promovem ainda uma série de eventos de convívio pontuais que visam incentivar a convivência com a população mais idosa e o contacto entre o tradicional e as novas realidades. Em Amarante, o feriado municipal de 8 de julho tem sido reservado nos últimos anos pela autarquia para celebrar a “Idade de Ouro”, uma festa que reúne milhares de idosos no Parque Florestal da cidade.

IPSS – olhos e ouvidos no terreno formal e à qual se associam as juntas de freguesia, hospitais da região, gabinetes de ação social municipais e instituições particulares de solidariedade social (IPSS) é vital para o alerta imediato de situações mais dramáticas.

Marco, Baião e Amarante cobertos A nível autárquico, existem programas em praticamente todos os concelhos que visam combater o isola-

Mas é no terreno, na lida diária com os problemas que afetam a população idosa, que se destaca a atividade das IPSS, que formam a verdadeira retaguarda no apoio aos cidadãos mais desfavorecidos. Face aos números fornecidos pelas três autarquias contactadas, calcula-se que estas instituições prestam cuidados de saúde e de higiene a cerca de 1430 utentes diariamente, através de serviços que incluem centros de dia e apoio domiciliário. “Por mês, percorremos 1600 quilómetros, só no serviço de apoio ao domicílio”, explicou Augusta Vieira, di-


insuficientes em Amarante, Baião e Marco de Canaveses

evita maior isolamento retora técnica do Centro Local de Animação e Promoção Rural (CLAP), em Vila Chã do Marão, Amarante. “Nota-se que a nível das freguesias existe uma grande carência para este tipo de serviços e que a necessidade é cada vez maior”, salientou ainda a diretora do CLAP. Esta instituição, que assinala este ano o seu vigésimo aniversário, proporciona atividades de animação a cerca de 20 idosos num centro de convívio e presta ao domicílio cuidados de alimentação, saúde e higiene a 30 utentes em cinco freguesias.

Lotação esgotada na maioria das instituições A atividade das IPSS na área de apoio às populações idosas é, em parte, financiada através de acordos com a Segurança Social, que paga cerca de 62 por cento do serviço prestado por estas instituições. Na maioria dos casos, o restante é pago por uma uma pequena prestação do utente, calculada a partir do seu rendimento anual declarado, e apoios pontuais, quando os há. Em termos de lotação dos serviços, as IPSS contactadas pelo RM reportam a mesma situação em todos os concelhos, onde o número de vagas se esgota rapidamente. Em vários casos, o número contratado é insuficiente para os pedidos que caem, quase diariamente, nas instituições. “Aliás, essa é a nossa grande dor de alma, não termos a capacidade para responder a todas as necessidades que nos são apresentadas”, salientou o Pe. Manuel Fernando, presidente da direção do Centro Social e Paroquial de Alpendurada e Matos, em Marco de Canaveses. “Temos uma lista de espera enorme para os nos-

sos centros de dia e convívio e outra que dava para outras tantas 20 famílias no apoio domiciliário”, explicou o pároco. Esta realidade é semelhante em todos os concelhos, onde muitas das instituições apoiam um número crescente de idosos fora do protocolado como acontece na OBER, que assiste em cinco freguesias de Baião um total de 42 idosos em regime de apoio domiciliário, 12 mais do que os 30 que constam do acordo.

A assistência extra só é possível graças a um intenso trabalho de bastidores que inclui o apoio dos sócios, protocolos com outras instituições, como o Banco Alimentar e um sentido apurado de justiça social. “Mas não é mais um pão, um bocado de queijo ou um copo de leite que nos vai dar prejuízo”, explicou Orlando Batista, dirigente da mais antiga instituição particular de solidariedade social na região do Baixo Tâmega.


ENTREVISTA | Miguel Guedes, vocalista dos BLIND ZERO

'O melhor público existe algures num dia bom' Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.com | Foto D.R. e Lusa

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ake me in your hands and please me / To find out we have nothing to say’ começa a cantar o vocalista dos Blind Zero, Miguel Guedes, no segundo single – Snow Girl – do último álbum (Luna Park) lançado em 2010 pela banda do Porto que conta já com 17 anos em palco. Mas Miguel Guedes, que se descreve como uma pessoa “com sensibilidade para desfrutar de pequenas coisas”, tem e teve muito para contar na entrevista ao Repórter do Marão feita nos escritórios da GDA/Porto (cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas) que dirige. Afinal, Miguel Guedes, 38 anos, cursou acidentalmente Direito em Coimbra o que, apesar de não ser um meio propriamente artístico, lhe conferiu alguma mundividência, e conhecimentos técnicos, para defender a propriedade intelectual e os direitos conexos dos artistas.

Mas o dia-a-dia da voz dos Blind Zero não se fica por aqui. É também comentador desportivo –dragão convicto – na rádio (Antena 1) e televisão (RTPN), é diretor da PassMúsica e ainda mergulhador nos tempos livres. Gosta do número quatro porque “é vetorial e tem pontas por limar” e sonha com um concerto em África, junto aos grandes lagos de onde são oriundos os peixes que vai tendo em aquário, outra das suas grandes paixões.

Miguel “Sou uma pessoa que procura estar atenta ao que se passa à sua volta e ter uma posição crítica e construtiva”, começa por se descrever o vocalista dos Blind Zero para logo acrescentar que tem “sensibilidade para desfrutar das pequenas coisas” e a capacidade para “mimar muito” os seus e os afetos dos outros. Ao olhar para trás, arrepende-se apenas do que não fez. Até porque, fez muito. Terminado o secundário, e como as notas não eram más, decidiu prosseguir para a faculdade. Sem saber “muito bem o que queria”, e sem vocação específica, escolheu Direito: “ um curso polivalente”. Acabou por ir para Coimbra onde esteve seis anos durante os quais surgiram, em 1994, os Blind Zero. Para Miguel Guedes, estudar ao mesmo tempo que lançava uma banda não foi fácil. Especialmente porque havia concertos na altura das queimas das fitas, a mesma das frequências e exames. Mas naquele momento “havia energia” para tudo. Já hoje, talvez não fosse capaz de passar pelo mesmo processo durante o qual teve até de “estudar em carrinhas”. Em 1995 a banda lançou o primeiro álbum de originais (Trigger) ao qual se seguiram Flexogravity (1996), Transradio (1996), Redcoast (1997), One Silent Accident (2000), A Way To Bleed Your Lover (2003), MTV Live in Milan (2004), The Night Before And A New Day (2005) e o mais recente Luna Park (2010). A história de todos os álbuns é por demais conhecida, bem como o êxito que a banda conseguiu, conquistando diversos públicos com uma nova sonoridade. A música que trouxeram, cantada em inglês, foi uma verdadeira “pedrada no charco” no panorama nacional. “Foi um enorme fenómeno. Abrimos algumas portas a alguma liberdade de pensamento no que diz respeito a saber se a música portuguesa pode ser cantada noutra língua que não só a portuguesa”, recordou. E porque cantam em inglês?, ousamos perguntar. A resposta não tardou: “Por uma questão estética simplesmente. A língua para mim é um veículo e o que está dentro da língua é o que conta”. Mas as letras que canta não saem para o papel por pura inspiração ou simples vontade de dizer coisas. Há que suar, forçar as palavras a sair e “há muitos casos em que o resultado tem de ser extorquido”.

Blind É precisamente porque esse esforço, esse transpirar, esse trabalho de todos os artistas deve ser devidamente recompensado, tal como qualquer outro, que Miguel Guedes defende, acerri-

mamente, os direitos conexos. Porque quem canta e interpreta uma música deve ser reconhecido da mesma forma que quem a escreve e porque nenhum bar ou discoteca sobrevive sem música que lhe dê forma e conteúdo. Passando música na sua atividade, os estabelecimentos acabam por criar mais-valias (imagine-se, por exemplo, a esplanada de um bar, o hall de entrada de um hotel, superfícies comerciais, um cabeleireiro, florista, …) nem que seja para criar ambiente. É, porém, frequente que os álbuns utilizados para criar essa mais-valia sejam adquiridos “como se fosse para casa” apesar de neles se poder ler: ‘proibida a publicação e execução pública para fins comerciais’. Por esse mesmo motivo, continua a ser difícil para muitos pagar por um bem que se habituaram “a ter à borla”. Ainda assim, “cada vez mais os estabelecimentos percebem que é inconcebível, no caso de um restaurante, que se paguem as mesas, as cadeiras, os empregados, e os copos e não se pague um bem sem o qual nenhuma discoteca ou bar existiria: a música”, explicou o vocalista e autor das músicas dos Blind Zero para quem “esse respeito está a ser mais implementado neste país”.

Zero Apesar de mais direitos, continua a não ser fácil ser artista e Miguel Guedes duvida mesmo que exista em Portugal mercado que permita aos artistas viverem exclusivamente da arte, até porque “a sobrevivência já não depende tanto de quem ama e quem consome música mas de quem a patrocina”. Miguel não vive apenas dos Blind Zero. Faz “dezenas de coisas”, conta, mas o maior “gozo e prazer” vêm mesmo da banda. Ou então, e para refúgio, dos sítios “com água” e em que os “elementos se combinam” como as zonas de vista de rio e mar de Gaia, onde vive, e do Porto, onde nasceu e que descreve como “uma cidade com muitas idiossincrasias”. “É uma cidade fechada também mas de gente com coração aberto e essa dicotomia sente-se muito. Sentimos que é uma cidade que se fecha muito sobre o seu umbigo, muitas vezes conservadora o que não é bom para a fazer avançar. Simultaneamente é uma cidade boa, fraterna, com sentimento de comunidade, solidariedade. É gente que faz das tripas coração”, diz, convicto.

Luna Das tripas coração fizeram Miguel Guedes, e a banda, para depois de cinco anos de ausência lançarem em 2010 um novo álbum: Luna Park. “Houve muita coisa acumulada por dizer e uma grande parte das coisas acumuladas foram deitadas ao lixo. Acaba por ser um disco muito urgente porque um disco feito ao fim de cinco anos de ausência não reflete de todo o que se passou”, recorda, dizendo-se “muito satisfeito com este disco” onde “a melodia é mais objetiva”. Durante 2011 as melodias do Luna Park continuarão a ser tocadas e apresentadas em palcos pelo país, mas o vocalista admitiu que ainda este ano os Blind Zero irão começar a preparar um novo disco de originais para 2012. Talvez esse não seja o ano em que realize o sonho de dar um concerto em África, na zona dos grandes lagos, que “para além da fauna e flora completamente diferentes das europeias” é também habitat dos peixes que Miguel Guedes tem em aquário. Talvez 2012 seja o ano em que possa repetir sensações tidas nos que considera os melhores concertos de sempre da banda: o primeiro; Zambujeira do Mar; Hard Club. Talvez seja o ano em que Miguel Guedes reencontre o melhor público, o “mais intimista” e “circunscrito”, que agora prefere, em vez das grandes e impessoais multidões. Apesar de tudo, “o melhor público existe algures num dia bom”.

Nome completo: Miguel Nuno Guedes Serôdio de Matos Silva Data de nascimento: 10 de maio de 1972 Local de Nascimento: Porto Habilitações literárias: Licenciatura em Direito Livro: ‘A realidade é Real’ de Paul Watzlawick Filme: ‘As asas do desejo’ e ’Veludo Azul’ Música: ‘Thunder Road’ de Bruce Springsteen



FAFE | Arquivo Municipal vai ocupar palacete brasileiro

Remodelação engloba Casa da Cultura Armindo Mendes | armindomendes1@sapo.pt | Fotos A.M.

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Arquivo Municipal de Fafe vai ser instalado no palacete de arquitetura brasileira situado junto à Casa da Cultura da ci-

dade. A câmara adquiriu aquele imóvel classificado, do início século XX, e lançou um concurso de ideias para a recuperação do edifício, incluindo a sua área envolvente. “Os fafenses voltarão a ter a possibilidade de entrar e usufruir de um espaço que faz parte da sua memória e da sua cultura”, disse ao Repórter do Marão o vereador da Cultura Pompeu Martins. Para o autarca, a aquisição do imóvel, que em tempo albergou o Grémio da Lavoura, traduz-se na “salvaguarda de um património arquitectónico relevante, porque se trata de um edifício classificado”. Pompeu Martins referiu que já há financiamento assegurado para a obra através de uma candidatura a fundos nacionais que prevê um investimento de 1,65 milhões de euros. Os trabalhos deverão iniciar-se em 2012. Quando estiver concluída a intervenção, o edifício renovado acolherá todo o acervo do arquivo municipal, “democratizando o acesso às fontes históricas”. “Vamos abrir ao cidadão, através também das novas tecnologias, as fontes que constituem a história do concelho de Fafe”, explicou, considerando que é propósito da autarquia “contribuir de forma bastante substantiva para que os fafenses respeitem cada vez mais a sua história, que ficará muito mais apetecível”.

O vereador avança que o arquivo vai contar com todas as modernas tecnologias que facilitarão o acesso a todo o acervo do município atualmente guardado no edifício do antigo ciclo preparatório da cidade. À consulta da população vão ser disponibilizados documentos importantes, como atas da vereação, plantas antigas de Fafe e de edifícios públicos. Também estarão disponíveis processos judiciais de outras épocas, que vão permitir conhecer os hábitos sociais das populações de então. O concurso de ideias prevê a possibilidade de a obra poder abranger arranjos exteriores da zona entre o palacete e a nova biblioteca municipal, incluindo melhoria no atual edifício da Casa da Cultura. O palacete onde vai ficar instalado o arquivo municipal localiza-se na rua major Miguel Ferreira. O edifício foi concluído em 1912 pelo conceituado comerciante no Brasil, João Alves de Freitas. Por falência do negociante, a casa foi vendida ao sócio gerente da Fábrica do Bugio, Miguel Gonçalves da Cunha, último presidente monárquico do Município de Fafe.

Criado pólo cultural com diversas valências Segundo a autarquia, “este magnífico palacete é o expoente da arquitetura dos brasileiros, através do investimento de avultados capitais”. O concurso de ideias prevê a realização de arranjos exteriores ao palacete e de toda a zona que

confina com os edifícios contíguos da Casa da Cultura e da Biblioteca Municipal. “A ideia é criar aqui um pólo cultural abrangendo as diferentes valências presentes nos três equipamentos”, explicou Artur Coimbra, quadro superior da autarquia. Segundo explicou, os trabalhos deverão incluir a demolição do edifício transversal à Casa da Cultura, onde até há pouco funcionou o refeitório, o que eliminará qualquer obstáculo físico em relação ao palacete onde funcionará o arquivo municipal. A empreitada deverá também incluir a recuperação do imóvel dos meados do século XIX onde, desde 1984, está instalada a Casa da Cultura. Desde esse ano que o edifício não sofre qualquer intervenção de fundo, apresentando, por isso, alguns sinais de degradação. Segundo Artur Coimbra, é propósito da autarquia criar melhores condições para o imóvel poder albergar o museu das migrações, alargando o núcleo que ali está instalado há alguns anos. O edifício da Casa da Cultura foi construído por um grande proprietário rural que já possuía a casa brasonada do Santo Velho, também em Fafe. O imóvel sofreu influência da arquitetura brasileira, então na moda, apesar de, ao contrário de outros edifícios relevantes na cidade, não ter sido construído por ordem de qualquer emigrante fafense no Brasil no século XIX ou princípio do século XX.

"O palacete faz parte da memória e da cultura de Fafe"

Pompeu Martins Vereador da Cultura



REVOLTA NO IÉMEN | Manifestantes querem partida do presidente Saleh

Professor recorda Abril português Iolanda Vilar | iolandavilar.tamegapress@gmail.com | Fotos EPA/Lusa

“N

ão iremos desarmar” confessa Ahmed (nome fictício) um manifestante que não arreda pé do centro de Saana, capital do Iémen, que desde janeiro vive dias de revolta contra o presidente do país mais pobre do Médio Oriente. Viveu algum tempo em Moçambique, no tempo colonial e tem um pouco de Portugal no coração. A manhã acordou fria e chuvosa em Saana, capital do Iémen. Desde janeiro que os manifestantes, opositores ao regime que vigora há mais de 30 anos, concentram-se em vários pontos da cidade, à espera daquilo que consideram um milagre. Ahmed nasceu no Iémen, mas já viveu em Moçambique [é deste país africano que vem o conhecimento de Ahmed com a jornalista e a sua família], no tempo em que aquele país era uma colónia portuguesa. “Sinto-me um pouco português” diz este homem que já passou dos 50 anos. É um professor no desemprego e pertence à típica classe média, nos padrões do Médio Oriente. Vive angustiado com o futuro. No presente apenas vê miséria, homens e mulheres desempregados, crianças famintas e um país submergido na pobreza galopante. Nunca visitou Portugal, mas da sua formação académica reteve o nome de Vasco da Gama e que este foi o precursor da colonização portuguesa.

Recordar o 25 de abril de 1974 “São dias de esperança, de raiva e de união, de um povo cansado de corrupção”, diz Ahmed que ao longo do dia reúne com os seus companheiros de luta, enquanto aguarda que as notícias divulguem a saída do poder de Ali Abdullah Saleh. Tem receio pelo futuro. Apesar dos dias sangrentos,

há homens e mulheres dispostos a dar a vida. Na rua, os militares desavindos com Sahel marcham nas ruas com flores nas mãos, fazendo lembrar o Abril de 1974. Como explica Ahmed, este grupo está disposto a tudo, mesmo chorar os seus familiares, que acredita que “vão lutar por dias melhores”. “Não queremos tiranos no poder”, confessa este manifestante, que gasta das suas parcas economias para estar no protesto. “Cada um de nós contribuiu com uma determinada quantia para comprarmos comida”, revela. As refeições são frugais e escassas. “Comemos cordeiro e arroz, mas apenas uma refeição por dia”, reconhecendo que o pouco dinheiro no bolso tem de ser “muito bem gerido”. Com uma taxa de desemprego na ordem dos 40 por cento, a grande percentagem da população do Iémen vive da ajuda externa e interna de organizações de solidariedade. “Acredito que a juventude consiga mudar a mentalidade deste povo e tornar o Iémen uma grande nação”, diz Ahmed.

Lutar até à morte Sem receio da morte, Ahmed conta que no Iémen, para além da pobreza, há a questão da discriminação racial, relativamente a somalis e etíopes que acorreram (e acorrem) em massa àquele país. “Para além das questões tribais, que já fizeram muitas mortes, desalojados e ainda mais miséria, pessoas que não iemenitas puros são discriminadas, ainda que tenham nascido aqui”, lamenta o professor. “O atual governo não respeita os direitos humanos e a população será cada vez mais escravizada”, adverte Ahmed, que diz não compreender a atitude da comunidade internacional, ao comparar o que se passa, por exemplo, na Líbia.

“Se é pelo petróleo também temos e está a ser explorado pelas grandes empresas norte americanas”. “Estamos dispostos a dar a vida por uma democracia transparente” assume Ahmed, que tal como os seus companheiros, para além da participação em manifestações, aposta na internet para desenvolver a sua luta. No Facebook são muitas as páginas onde a turbulência no Médio Oriente é falada. Paz e democracia são as palavras mais referidas. Durante o mês de março, mais de 50 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em Saana, a capital, por disparos contra manifestantes. Mas o número de vítimas continua a aumentar. Os ataques vieram manchar a possibilidade de negociações e a confusão, diz a oposição, acrescentando que não há hipótese de dialogar com o governo de Saleh.

Presidente admite negociar Entretanto, o presidente do Iémen, Ali Abdallah Saleh, apelou no início da semana à oposição que ponha fim ao movimento de contestação declarando que irá negociar uma “transferência pacífica do poder”. "Estamos prontos para discutir uma transferência pacífica do poder, num quadro constitucional", disse o Presidente, no poder há três décadas. O Presidente apelou à oposição para pôr fim nos movimentos de contestação e para negociar uma solução para o conflito. Há dias, os opositores tinham pedido que o Presidente renunciasse ao cargo . Milhares de manifestantes exigem também em Sana e Aden (sul), desde meados de fevereiro, a queda do regime do Presidente Saleh, que ocupa o poder há 32 anos.


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NORDESTE | Troço espanhol entre as duas cidades está por definir

Bragança e Zamora exigem autoestrada As cidades de Bragança e Zamora reivindicam uma ligação em autoestrada e defendem que o assunto seja discutido na próxima cimeira ibérica. Autarcas e cidadãos das duas localidades realizaram recentemente uma marcha simbólica junto à fronteira. No documento conjunto, é reivindicado que o governo espanhol declare prioritária a autoestrada A-11, no troço de 80 quilómetros que ligam Zamora à fronteira portuguesa. Além da discussão do assunto na próxima cimeira ibérica, é pedido que o governo português isente de portagens a autoestrada Transmontana até à melhoria dos indicadores sócio-económicos da região. Como referimos na anterior edição, a futura via entre Vila Real, construída sobre o traçado do atual IP4, terá portagens nos mesmos termos das SCUT’s já portajadas no norte do país. Como os transmontanos perdem o IP4, não lhes resta alternativa ao pagamento na futura auto-estrada ou à utilização das velhas e sinuosas estradas nacionais, completamente desajustadas ao tráfego atual. Eleitos dos dois lados da fronteira, o presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, e Fernando Maíllo, de Zamora, lembraram o trabalho que as duas comunidades têm desenvolvido em conjunto e não entendem que entre os dois governos não exis-

ta a mesma articulação. “Não faz sentido que os dois governos se encontrem em cimeiras ibéricas e os calendários não sejam articulados”, frisou Jorge Nunes, citado pela Lusa. O autarca português admite que em tempo de crise os recursos são escassos, mas não aceita que sejam

Nova direção do Montesinho promete mais diálogo Foto Manuel Teles / Lusa

A nova direção do Parque Natural de Montesinho (PNM) prometeu modificar a imagem punitiva e restritiva que as populações têm do organismo com uma nova cultura de diálogo. Aproveitando algumas efemérides recentes ligadas ao ambiente, a mudança de comportamento teve visibilidade na plantação de 2011 árvores, com o contributo de autarcas, populações e também jornalistas. A aproximação às populações é a aposta de Lagido Domingos, diretor do departamento das áreas protegidas do Norte, para quem “a maior parte dos problemas se resolvem pelo diálogo, não por conflitos”. “Há vontade de ambas as partes de dialogar e vamos cultivar essa forma de estar”, defendeu. Numa visita recente à área protegida, até a comunicação social foi convidada “para mostrar que a ati-

tude está a mudar” naquela que é das maiores e mais antigas áreas protegidas do país, com um território equivalente à ilha da Madeira, que se estende de Bragança a Vinhais. “O relacionamento está a reiniciar”, entende Telmo Afonso, presidente da junta de freguesia de Espinhosela, sublinhando que “as pessoas o que querem é que o parque não tenha uma atitude de ‘chicote’ de castigar por tudo”. Vivem no Montesinho cerca de nove mil habitantes, em perto de 90 aldeias. A direção do parque vai promover ações articuladas de fogo controlado com o pastoreio e esclarecimentos às populações e juntas de freguesia para desfazer equívocos, nomeadamente sobre restrições impostas pelo plano de ordenamento.

sempre os mais fracos os atingidos. Os participantes encontraram-se sobre a antiga ponte internacional de Quintanilha de onde se avista a nova ponte que a substitui e liga os dois países, mas que esteve dois anos à espera de acessos no lado espanhol para abrir ao trânsito. Redação com Lusa | Foto EFE/Lusa

Mercearias de aldeia são 'payshop' há 20 anos Muito antes do aparecimento das modernas payshop, as pequenas mercearias das aldeias transmontanas já ofereciam às populações a possibilidade de pagarem as suas faturas num só local, um serviço que continuam a prestar evitando deslocações sobretudo à população idosa. “Há 21 anos” que a mercearia Tomé serve de posto de cobrança na aldeia de Carção, Vimioso, mas faz também de pagamentos dos vales da reforma aos idosos. “Tudo que seja relacionado com os CTT, qualquer recibo que diga pagável nas lojas dos CTT, podemos cobrar”, contou à Lusa Augusto Tomé, o proprietário da mercearia que vende de tudo e que está sempre aberta para os clientes. Augusto Martins, de 77 anos, vai sempre “pagar lá as faturas da luz e do telefone” e corrobora que “a qualquer hora” chegam ali com as faturas “e pronto”. “Nem que seja de noite”, reitera e quando calha “o Augusto” [proprietário da mercearia] ainda nos lembra que está a acabar o prazo”. “E muitas vezes ele paga pelo cliente e depois para o outro dia diz-lhe: olha que paguei por ti. Isso é bom”, considerou. Se assim não fosse, tinham de se deslocar à vila, a Vimioso, que fica apenas a dez quilómetros, mas “sempre eram dez ou doze euros a mais” de transporte. Quando começaram a receber os pagamentos, através de um acordo com os CTT, Tomé e a mulher Jacinta dizem que tinham o dobro dos clientes e havia este serviço em todas as aldeias sede de freguesia do concelho de Vimioso. “Somos os únicos que nos mantemos”, dizem, contando que “há cada vez menos gente nas aldeias, os idosos começam a ir para os lares e os filhos optam pelo banco”. Hoje em dia, “é mais já pela amizade das pessoas” que continuam a prestar o serviço e porque têm a loja aberta e quando alguém vai pagar uma fatura sempre “compra alguma coisa, ou um quilo de laranjas, ou um litro de leite”, contou a mulher. Ambos garantem que não é pelo que ganham com o serviço e fazem questão de mostrar o último cheque que receberam dos CTT relativo ao mês de fevereiro com doze euros e onze cêntimos. Recebem dez cêntimos por cada cobrança, o que indica que fizeram mais de 120 no último mês. Redação com Lusa



Milhares de pessoas na Feira do Fumeiro de Baião

Aberto até 13 de Junho 2º Concurso do PRODER

Mais de 10 mil pessoas visitaram Baião durante a Feira do Fumeiro e do Cozido à Portuguesa, um evento promovido pela Dolmen/PRODER, em parceria com a autarquia, que decorreu no primeiro fim de semana de Abril. Além das cerca de oito mil refeições servidas, dois terços das quais nos restaurantes da feira – a restauração local terá servido mais três mil almoços, o que se traduz num importante contributo para a economia local – foram vendidas 9.000 garrafas de vinho verde, somadas as vendas no stand dos produtores locais com o vinho servido nos almoços e jantares. Além disso, foram vendidos cerca de quatro toneladas de fumeiro, entre enchidos, salpicão e presunto, bem como uma tonelada de laranja, idêntica quantidade de broa de milho e 500 quilos de biscoito da Teixeira. Os produtores locais venderam ainda 500 licores, 500 frascos de compota e 200 quilos de doces regionais.

O prazo de apresentação de candidaturas para o 2º Concurso do PRODER Programa de Desenvolvimento Rural, na zona de influência da Dolmen – Douro Verde – vai decorrer entre 11 de Abril e 13 de Junho. Os projectos de investimento

abrangidos pela Medida 3.1 (Diversificação da Economia e Criação de Emprego) poderão ser apresentados nos próximos dois meses nos serviços da Dolmen. Os regulamentos do concurso estão disponíveis em: www.dolmen.co.pt

CANDIDATURAS ABERTAS 2.º CONCURSO De 11 de Abril a 13 de Junho de 2011 MEDIDA 3.1. – Diversificação da Economia e Criação de Emprego Acção 3.1.1- Diversificação de Actividades na Exploração Agrícola Acção 3.1.2 - Criação e Desenvolvimento de Microempresas Acção 3.1.3 - Desenvolvimento de Actividades Turísticas e de Lazer Consulte os Avisos de Concurso e respectivos Regulamentos no nosso site www.dolmen.co.pt Informações Adicionais: GAL Dolmen – Cooperativa de Formação, Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega, CRL Marco de Canaveses Edifício Asa Douro Sala 5, Fornos – 4630-219 Marco de Canaveses Tel: 255 521 004 Fax: 255 521 678 Baião Rua de Camões nº 294, Campelo – 4640-167 Baião

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Lo cais em B a ião

Exposição e Venda * Provas * Animação

Abril: Mês dos licores

Maio : Mês da cereja

Junho: Mês da bengala

Julho: Mês do biscoito Teixeira

Agosto: Mês do espumante

Setembro : Mês do barro negro

Outubro : Mês do vinho verde

Novembro: Mês de S. Martinho

Dezembro : Mês das compotas PAC A: Pl ano de Aquisição de Competências e Animação

Cooperativa de Formação, Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega, CRL

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18 abril'11 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

opinião

Um rumo para Portugal Escrevo estas linhas no dia em que o Presidente da República decidiu aceitar o pedido de demissão do primeiro-ministro, decretar a dissolução da Assembleia da República e agendar as eleições legislativas para o próximo dia 5 de Junho. A crise política aberta com o chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) proposto pelo Governo, após negociação com as instituições e parceiros europeus, precipitou o país para um inoportuno período eleitoral, cujas consequências estão à vista de todos. Após esse fatídico dia 23 de Março, os juros da dívida pública atingiram máximos históricos e as agências de notação financeira cortaram o rating do Estado, da banca e de empresas públicas, deixando em sérias dificuldades o financiamento da economia portuguesa. Referi por várias vezes que reprovar o PEC 4 era brincar com o fogo. Infelizmente, os partidos da oposição não se importaram de lançar o país para essa fogueira. Poderá haver quem aponte uma falta grave a José Sócrates pelo facto de ter anunciado a actualização do PEC sem proceder a consultas prévias com a oposição e sem avisar o Presidente da República. Ainda que essa falha pudesse ter sido evitada, acredito que no decurso do difícil processo de negociação com os parceiros europeus, em que o objectivo primordial era garantir que Portugal ficaria a salvo de qualquer intervenção externa, Sócrates deu como certo o suporte institucional de Cavaco Silva e Passos Coelho, à luz dos anteriores acordos sobre o PEC e o orçamento. Os tempos, contudo, eram já bem diferentes, depois do arrasador discurso de tomada de posse do Presidente da República e

das primeiras movimentações no seio do PSD que punham em causa a liderança de Passos Coelho. Para esses sectores, a hora era de avançar e de concorrer para a demissão do Governo. Recorde-se que o primeiroministro esteve disponível para negociar as medidas do PEC, desde que asseguradas as metas comprometidas com Bruxelas, mas os partidos da oposição preferiram unir-se para derrubar o José Carlos Pereira executivo socialista, para surpre- Gestor sa de toda a Europa. O PSD, que começou por dizer que as medidas do PEC eram um erro, acabou a defender que as mesmas eram insuficientes! Lamentavelmente, nunca se fez ouvir, neste período, a palavra do Presidente da República, sensibilizando os actores e as forças políticas para a necessidade de assegurar um entendimento em torno do PEC e evitar eleições antecipadas. Exigia-se que Cavaco esgotasse todas as possibilidades de promover uma concertação pelo menos entre os dois maiores partidos. Teremos agora pela frente um período pré-eleitoral de cerca de dois meses. O PS, com Sócrates legitimado pela recente reelei-

ção, apresentar-se-á determinado e a lutar para ganhar, afirmando não ter razões para se envergonhar da sua governação. Os socialistas vão responsabilizar aqueles que precipitaram a crise política e o descalabro da situação financeira. O PSD anuncia diversas políticas de emagrecimento do Estado, colocando em causa as políticas sociais, e deu já um péssimo sinal com a “embrulhada” do aumento do IVA. Os sociais-democratas olham para o lado e vão tutelando as ambições de poder do CDS, sempre pronto para partilhar lugares na máquina do Estado. Do PCP e do Bloco nada de construtivo se pode esperar. Quem se alia à direita para derrubar o Governo socialista – ou para revogar a avaliação dos professores – só pode estar centrado no seu umbigo e em tirar partido do voto de protesto dos sectores mais descontentes. Que o poder caia nas mãos dos partidos conservadores pouco lhes importa. As perspectivas não são, assim, animadoras. O estrangulamento financeiro do Estado, da banca e da economia no seu todo é cada vez mais apertado e a campanha eleitoral pode redundar num clima de agressividade crescente, sem conduzir a uma maioria parlamentar forte e coesa. O país, contudo, não pode desperdiçar a oportunidade de encontrar um rumo novo. Os responsáveis políticos têm de saber encontrar o espaço necessário para congregar esforços e privilegiar entendimentos sobre as medidas estruturantes para a recuperação económica e financeira de Portugal. jcarlos.pereira@sapo.pt

Filhos inteligentes enriquecem sozinhos A questão dominante da política dos consumidores nos últimos anos é, sem margem para dúvidas, a educação financeira. São as brochuras e os folhetos das instituições, são os documentos produzidos a pedido do Banco Mundial, da OCDE, da Comissão Europeia da Consumers International, das entidades reguladoras do crédito aos consumidores, anda tudo numa roda-viva para inculcar responsabilização e prudência onde, até há escassos anos, se exaltava a compra por impulso e o uso de muitos cartões de crédito. Ontem, eram só facilidades, hoje privilegia-se a prudência. Sinais dos tempos. E os livros sobre gestão do orçamento familiar e mais cuidados com as finanças pessoais irrompem no mercado a um ritmo surpreendente. Vejamos um exemplo, bem significativo, por sinal: “Filhos inteligentes enriquecem sozinhos, como preparar os seus filhos para lidarem com o dinheiro”, por Gustavo Cerbasi, Livros d’Hoje, Publicações Dom Quixote, 2011. Autor de diversos livros de grande sucesso sobre finanças pessoais, Cerbasi adverte na introdução: “Não proponho aqui um curso de matemática financeira nem de economia, mas sim um conjunto de conselhos e ferramentas que vejo funcionar de forma muito eficiente nas fa-

mílias”. É um livro que se dirige a pais e aos educadores que aceitam assumir parte da responsabilidade de construir um futuro digno e próspero para as gerações mais jovens. Começa o autor por questionar se os pais e filhos sabem lidar com o dinheiro, é fácil concluir que rendimento, consumo, classe social são situações que por vezes conflituam e onde os diferentes parceiros da família só agora descobrem que é preciso mais entendimento. Durante a sociedade de consumo, dedicou-se pouco tempo a ensinar os mais novos sobre dinheiro, parecia normal aspirar a dar aos filhos aquilo que os mais velhos nunca tiveram; o dinheiro parecia fluir naturalmente, ir ao centro comercial era mesmo para comprar, os presentes deixaram de estar associados a períodos festivos. Também na escola, orientada para dar conhecimentos, veicular saberes e competências, aparecia associada a práticas desportivas, actividades externas, conferia-se uma grande importância às preocupações com o ambiente e a cultura, mas a educação financeira, a literacia financeira não pareciam fazer parte da educação para a vida e para os preceitos cívicos. Só recentemente é que a educação financeira começa a mobilizar a opinião pública e mesmo na ausência de um guião ou de linhas orientadoras, há agora experiências em marcha e que estão a ser bem acolhidas: simulam-se situações mais comuns no quotidiano das famílias; aumenta o número de visitas em grupo a estabelecimentos comerciais para praticar conceitos simples do mesmo modo que crescem as palestras e os debates sobre finanças pessoais, há pesquisa nos jornais de temas relativos ao dinheiro e à economia, incentiva-se a utilização da mesada como ferramenta de ensino, interpretam-se as brochuras e os folhetos dos bancos e das empresas seguradoras como matéria-prima do princípio da literacia financeira. Crianças e adolescentes não pensam como adultos, é fundamental criar um envolvimento adequado para a literacia. Observa o autor que para a criança qualquer situação de compra é uma grande realização e para os adultos (formadores) é uma boa oportunidade de fazer os mais novos participarem nas situações, criar-lhes desenvoltura para negociações, explicar-lhes porque é que se paga com cartão, que quando o vendedor passa o cartão na máquina o dinheiro sai da nossa conta para a conta do dono da loja. Cerbasi enuncia sete princípios fundamentais na educação financeira: valorizar, porque nem todo o valor tem o seu preço, é vantajoso conversar com as crianças sobre o valor que a oportunidade de estudar acrescenta às horas de trabalho daqueles que ganham mais (nas compras é possível desenvolver um raciocínio semelhante, pois um preço alto não significa um maior valor); celebrar, já que as celebrações quebram a rotina e se a celebração é importante respeitar o orçamento é muito mais importante, por isso só se devem dar presentes quando há um motivo; orçamentar, na medida em que o seu limite é o que você tem, daí o significado de controlar as contas, de conhecer os limites, a mesada é um bom ponto de partida e, a propósito, lembre-se que o crédito é para quem precisa de adquirir algo e para não quem quer adquirir; investir, na medida em que os juros recompensam os poupados, dita a experiência que as crianças que compreendem que o dinheiro poupado ou investido cresce sabem diferenciar duas situações, a saber: juros trabalham para

[Alguns textos de opinião são escritos de acordo com a antiga ortografia]

nós, aumentam a nossa riqueza quando usamos os serviços de investimento bancário e nós trabalhamos para os juros quando usamos os serviços de empréstimo e financiamento dos bancos; saber distinguir entre a boa relação social e os negócios, a criança deve saber distinguir as idas ao centro comercial por lazer das idas para compras, no lazer adopte uma postura descontraída, quando vai fazer compras adopte Beja Santos uma postura mais séria; uma Assessor Inst. Consumidor vida rica é uma vida em equilíbrio, é o somatório dos seis princípios anteriores (valorizar, celebrar, orçamentar e investir, distinguir e negociar). Assim, preparar os filhos para lidarem com o dinheiro carece de coesão nos comportamentos e atitudes: aprendemos por repetição, por prazer, por inspiração, por obrigação moral, quando ensinamos e por amor. Não eduque na convicção que eles pensam que você é um modelo de sucesso nas atitudes e na condução da vida, a condição falível, de quem pratica erros pauta-se pela atitude humilde de aprender com os filhos. Para este processo ser posto em marcha, é de toda a conveniência encontrar ferramentas para a aprendizagem, pois conhecimentos e atitudes não bastam. É por isso que o autor equaciona as condições para os filhos receberem dinheiro, dando exemplos como: “Nunca ofereça uma remuneração em troca de uma rotina doméstica, como lavar a loiça, fazer a cama ou manter o quarto arrumado. Ao fazê-lo, os pais estarão a estimular os filhos a venderem a sua infância. Quando as crianças executam tais actividades, devem entender que estão simplesmente a compartilhar as tarefas de manter o lar e os bens pessoais, auxiliando os seus pais, que devem demonstrar com afecto a sua gratidão por isso”. Outra vertente é o tratamento da mesada também como ferramenta de educação financeira: não deve ser interpretada com recompensa por serviços prestados; não deve ser usada como instrumento de chantagem por parte dos pais; não deve ser interpretada como prémio por boa educação; não é um presente nem caridade dos pais, não deve ser imposta e o seu valor deve ser negociado e não definido pelos pais. Qualquer formador deve ter sempre em consideração que os filhos não são investimento, o investimento é na educação dos filhos. Por último, lembre-se que preparar os filhos para a riqueza não é uma tarefa simples, a educação financeira dos filhos depende mais da transformação dos pais do que das crianças. A educação financeira precisa de pais que saibam corrigir as suas deficiências quanto ao uso do dinheiro e que entendam que a educação financeira exige o seu tempo e dedicação. Reflexões pertinentes para os pais que queiram estar à altura do momentoso desafio que é a literacia financeira em tempos de recessão e de grandes incógnitas quanto ao futuro do poder aquisitivo.



20 abril'11 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

crónica | diversos nordeste

Decisão final da REFER só com o novo Governo A.M.PIRES CABRAL

RATINGS Quando se aproxima o fim do mês... Mau! Já estou a ouvir alguém comentar: ‘Olha que novidade! Também a mim o dinheiro começa a faltar, quando se aproxima o fim do mês.’ Mas não era disso, juro, que eu queria falar. De modo que retomo a cantilena: quando se aproxima o fim do mês, começo a dar voltas à cachimónia para arranjar tema para esta coluna. Às vezes não é fácil, acreditem. Melhor: temas há sempre, o que pode não haver é, da nossa parte, agilidade mental para os sustentar e desenvolver. Faltam muitas vezes argumentos, apoios, documentos. Por acaso, e para variar, este mês, até tive um superavit de temas idóneos. Começou por se me oferecer aquela coisa de o Expresso andar a publicar, muito concho, com ar de quem nos está a fazer um grande favor (não sei a quem; só se for à Qaeda), telegramas alheios, inspirado nas proezas de um tal Sr. Assange. Para mim, é tudo muito claro: primeiro, trata-se de um mero caso de violação de correspondência, que como tal devia ser tratado pelos tribunais (se os tribunais funcionassem em Portugal); segundo: os fins (informar) não justificam os meios (coscuvilhar). O Expresso continua imparável no seu processo de transmutação em 24 Horas. Depois pensei na situação política desgraçada que vivemos. Vai haver eleições, já se sabe. Mas – e se fica tudo na mesma? Se não emerge delas nenhuma maioria sólida? Se continuamos a ouvir os líderes políticos de todos os quadrantes, cada um mais esganiçado do que os outros, a insultarem-se e a recriminarem-se, e a darem sinais de irredutibilidade, em vez de sinais de reconciliação nacional (e patriótica)? Que esperança para Portugal, nesse cenário que parece ser o mais provável? Ia pois escrever sobre isso, quando ontem o telejornal me forneceu tema mais suculento: as agências de notação financeira (de que aliás já falei aqui nesta coluna, dizendo delas o que Maomé não disse do toucinho). Pelos modos, a senhora Standard and Poor’s, no espaço de uma semana, baixou por duas vezes

a notação de Portugal, pondoa agora a um degrau apenas de ‘lixo’. E reflicto outra vez sobre essas megeras, criaturas do liberalismo desenfreado e dos mercados sem rosto, não conseguindo encontrar para elas outra imagem que não seja a de um sabujo sacudindo raivosamente entre os dentes, às ordens do dono, o corpo exangue de um país que estrebucha por sobreviver. Meus caros senhores da Standard and Poor’s: não é por Vossas Excelências nos considerarem ‘lixo’ que eu deixo de amar e acreditar em Portugal. Seria muito mais fácil, se Vossas Indecências, ao invés de nos enterrarem cada vez mais, nos dessem a mão para sairmos do atoleiro. Mas Portugal há-de vencer apesar dos esforços de Vossas Inclemências em contrário. Assim o creio e assim o espero. Oxalá esse dia não venha longe (perto não vem, já o sabemos, ai de nós; mas que venha o menos longe possível). Entretanto, pagando amor com amor, também eu me sinto no direito de dar a minha notação à Standard and Poor’s e quejandas aberrações éticas. E o meu rating para elas é: ‘esterco’. Notem bem: não é ‘lixo’ simplesmente; é ‘esterco’ malcheiroso e obsceno. Merda, se Vossas Excremências assim o preferirem. Oiço agora mesmo na rádio que algumas destas agências estão a ser processadas nos EUA por terem induzido, com as suas notações erróneas, muitas pessoas a investir ruinosamente as suas poupanças. Nas vésperas da bancarrota da Islândia, atribuíam a este país a notação máxima. Afinal, donde lhes vem a legitimidade para influenciar tão perniciosamente as nossas vidas? Que alta autoridade regula e certifica a sua actividade? Quem nos defende destas harpias? Quando é que são definitivamente banidas, por parasitárias, falhas de credibilidade e tendencialmente perigosas?

Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico. pirescabral@oniduo.pt

Linha do Corgo está sem carris mas utentes pedem regresso do comboio Antigos passageiros e defensores da Linha do Corgo têm promovido manifestações para reivindicar o regresso do comboio à via construída há 105 anos e encerrada há dois por razões de segurança. À convocatória do Movimento Cívico pela Linha do Corgo (MCLC) juntaram-se alguns dos antigos passageiros do comboio, que agora são obrigados a seguir viagem no transporte alternativo disponibilizado pela CP, e ainda dirigentes dos partidos Bloco de Esquerda e “Os Verdes”. Encerrada por razões de segurança, a linha que ligava Régua e Vila Real deveria ter sido objeto de obras no valor de 23,4 milhões de euros e reabrir até ao final de 2010. No contexto das atuais restrições orçamentais por que passa a empresa ferroviária, tudo indica que os comboios não voltarão a circular nas linhas estreitas do Tâmega e do Corgo [foram já levantados os carris], mas a decisão final da REFER só deverá ser tomada na vigência do novo Governo que resultar das eleições de 5 de junho. Daniel Conde, do MCLC, considera que “não se justifica que uma obra de 23 milhões de eu-

ros demore dois anos a concretizar-se quando outros investimentos da REFER, que custam 70 milhões de euros para três quilómetros, andam para a frente”. Heitor de Sousa, deputado do BE, defendeu o regresso do meio de transporte “mais ecológico e ambientalmente sustentável” e criticou as “decisões erradas” do Governo PS que estão a pôr em causa o transporte ferroviário. A Linha do Corgo foi inaugurada há 105 anos. O caminho-de-ferro chegou a ligar o Peso da Régua, Vila Real e Chaves a partir de 1921, mas, em 1990, foi suspenso o troço de ligação ao Alto Tâmega.

Municípios dos distritos de Vila Real e Viseu promovem caminho de Santiago Oito municípios dos distritos de Viseu e Vila Real prometem dinamizar o caminho interior de Santiago, que se estende ao longo de 160 quilómetros, num projeto que visa dinamizar o turismo religioso e de lazer. Os municípios de Viseu, Castro Daire, Lamego, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real, Chaves e Vila Pouca de Aguiar subscrevem um protocolo de cooperação, que englobará também as entidades regionais de turismo e os bispados. As autarquias vão conjugar esforços e disponibilizar recursos próprios nas respetivas áreas de intervenção, desde as infraestruturas aos recursos humanos. A par da marcação e dinamização no caminho, serão ainda reconvertidos edifícios públicos desativados, como antigas escolas, casas florestais e apeadeiros, em futuros albergues de peregrinos que pretendem revitalizar as aldeias atravessadas.

Prémio de Arquitetura do Douro a 18 de abril

Torre de D. Chama ameaça boicotar eleições

Catorze obras concorrem à terceira edição do Prémio de Arquitetura do Douro, que será anunciado a 18 de abril e visa premiar os edifícios de maior qualidade arquitetónica do Património Mundial, anunciou a organização. Lançado em 2006 pela Estrutura de Missão do Douro (EMD), o concurso tem como objetivo estimular as boas práticas de arquitetura na paisagem classificada pela UNESCO em 2001. Pretende ainda incentivar a excelência no ordenamento do território e na intervenção urbanística e arquitetónica em paisagens. As obras concorrentes foram construídas nos concelhos de Armamar, Peso da Régua, Resende, Sabrosa, Tabuaço, Torre de Moncorvo e Vila Real e estão relacionadas com a atividade vitivinícola, a principal fonte de rendimentos da região, bem como com a recuperação de edifícios. O vencedor será conhecido numa cerimónia agendada para 18 de abril, em que se assinala o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

A população de Torre D. Chama, no Distrito de Bragança, ameaça boicotar as eleições legislativas de 05 de junho caso os CTT mantenham a intenção de transferir a gestão do posto local dos correios para outra entidade. A decisão foi tomada numa reunião convocada pela junta de freguesia com a população que se insurge ainda contra o esvaziamento do externato local que permite à vila do concelho de Mirandela ter todos os graus de ensino, desde o pré-escolar ao 12º ano. A presidente da junta, Paula Lopes, eleita pelo PSD, disse à Lusa que já fizeram saber à direção dos CTT que “na freguesia [com 1400 eleitores] não haverá nenhuma entidade que vai pegar na proposta da empresa”. Como contraproposta, a autarquia disponibilizou-se para arranjar gratuitamente um edifício onde o posto dos CTT possa funcionar sem custos para a empresa”. “Dependendo da resposta deles, não vamos votar no dia 05 de junho”, afirmou a autarca.


empresas & negócios

abril'11

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Momel alarga negócio à área do Grande Porto A Momel, grupo empresarial de Amarante que opera no setor dos materiais de construção civil e obras públicas, sanitários, material elétrico, climatização e aquecimento, rega, jardins e piscinas, alargou o negócio à área do Grande Porto, através da aquisição de uma empresa com vasto conhecimento do mercado, fruto dos seus 90 anos de experiência. O administrador da Momel, José Mendes, confirmou ao Repórter do Marão que a nova filial manterá a denominação original – Manuel de Araújo & Irmãos – e que irá operar em todos os setores de atividade das outras empresas do grupo. Com esta unidade de negócio na área do Grande Porto, a Momel posiciona-se para crescer nos próximos anos e José Mendes reconhece que “é a hora de investir em direção ao litoral”, não descartando a hipótese de avançar também a sul do Porto.

A Manuel de Araújo & Irmãos foi fundada em 1921 e tem sede e armazém na Estrada Exterior da Circunvalação, na zona do Monte dos Burgos, no Porto, dispondo de uma área total de 1.600 metros quadrados. As instalações da nova empresa estão a sofrer obras de adaptação e remodelação, que estarão concluídas dentro de um a dois meses.

12 milhões/ano em Portugal, mais 4,5 milhões em Angola Apesar da crise no setor das obras públicas, a Momel conseguiu segurar em 2010 a faturação média dos últimos anos – cerca de 12 milhões de euros – montante a que ter-se-á de acrescentar mais 4,5 milhões de euros da operação em Angola, onde o grupo mantém três espaços de negócio (dois em Luanda e um no Lobito), a operar com as marcas Momel e Maxitubo. Em Portugal, além da sede e armazéns principais em Cepelos, Amarante, a Momel possui filiais em Ponte do Pego (sanitários e banho), Fontainhas (rega, jardins e piscinas), ambas em Amarante e Felgueiras e Rebordosa. As obras públicas no setor das estradas e da saúde em curso no interior norte – autoestradas em Trás-os-Montes, túnel do Marão e hospital de Amarante, entre outras de menor dimensão – ajudaram a segurar o volume de negócio no ano transato, mas o administrador da Momel sublinha que a empresa está também a expandir a sua atuação para outros segmentos de mercado, sobretudo nos produtos técnicos. José Mendes lembra que a Momel começou a preparar a entrada no setor do material elétrico ainda em 2010 e prossegue o rumo com a abertura a outros segmentos de mercado – fotovoltaicos, pisos radiantes e substitutos dos combustíveis para aquecimento (recuperadores e caldeiras a peletts). “As vendas dos novos produtos têm permitido amortecer a diminuição de faturação nas nossas áreas tradicionais, nomeadamente no setor da construção e obra pública”, reconhece. As várias empresas do grupo Momel já empregam cerca de sete dezenas de pessoas.

Sonae contra restrições nos horários A entrada nos mercados de Angola, com a rede do retalho alimentar da marca Continente e na Turquia são as apostas da Sonae para o corrente ano, garantiu Paulo Azevedo, presidente executivo da Sonae, durante a apresentação dos resultados do grupo empresarial. A parceira da Sonae em Angola é a empresária Isabel dos Santos, enquanto na Turquia o objectivo é implementar, com lojas próprias, as marcas Zippy e Sport Zone. Para Paulo Azevedo, o ano de 2011 será “muito mais difícil em algumas áreas”, mas encara o futuro “com muita confiança” dado o fortalecimento da dimensão internacional do grupo. O líder da Sonae criticou ainda alguns decisores autárquicos que parecem ter a intenção de limitar a abertura de algumas unidades da Sonae [da insígnia Continente, que já concluiu a integração das antigas lojas Modelo], impondo “uma situação discriminatória que não é aceitável”. “Esta atitude condiciona o direito de escolha dos seus munícipes e a geração de valor económico-social e de emprego nos seus concelhos de forma incompreensível e, até, em certas situações, ferida de legalidade”, sustentou Paulo Azevedo.

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MCoutinho apresentou Peugeot 508 O concessionário MCoutinho Douro apresentou, em Março, o novo Peugeot 508 no Palácio da Bolsa, no Porto. Este modelo permite à Peugeot reforçar as suas ambições no segmento dos grandes estradistas e enriquecer a sua oferta em Portugal com um modelo que é simultaneamente o novo topo de gama e porta-estandarte dos valores da Marca. Disponível em duas silhuetas – berlina e SW – o 508 alia exigência e emoção com: - as tecnologias de nova geração, eHDi e o futuro HYbrid4, - o aspecto puro, estatutário e dinâmico, - a qualidade percebida e o prazer de vida a bordo, - uma experiência de condução única, resultante dos conhecimentos da Marca. O 508 pretende constituir uma oferta moderna, virada para o futuro, situada no centro das aspirações de uma clientela que evoluiu bastante: exigente, dinâmica e responsável. Esta oferta é constituída por duas silhuetas complementares: uma berlina (com um comprimento de 4,79 m) e um SW (4,81 m). Para ter êxito, o 508 impregnou-se, em todas as etapas e domínios da sua concepção, de eixos-chave, como qualidade, pureza e eficiência ambiental, e apresenta-se agora perante os seus futuros clientes como um automóvel que apela a todos os sentidos dos seus utilizadores. Nesta perspectiva, o MCoutinho convidou empresários e figuras públicas da nossa sociedade para um evento magnífico na cidade invicta, em que apresentou o novo modelo da marca francesa ao mais alto nível. A Peugeot Portugal fez-se representar pelo sr. Pablo Puey, Administrador Delegado da Peugeot em Portugal, que ficou agradavelmente surpreendido com o glamour do espaço e todo o espectáculo preparado exclusivamente para a apresentação do novo modelo da marca. Este forte investimento do MCoutinho na Peugeot na região norte será certamente uma aposta ganha. Trunfos não lhes falta. [Imagens e texto da marca]


22 abril'11 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

Polaco vence XIII Porto Cartoon

O polaco Zigmunt Zaradkiewicz venceu o Grande Prémio do 13.º PortoCartoon – World Festival, este ano dedicado à comunicação e tecnologias, anunciou o júri internacional do concurso. O cartoon vencedor representa uma mansão sem porta nem janelas, mas com diversas câmaras de videovigilância e antena parabólica. O PortoCartoon 2011 contou com a cerca de 2.200 trabalhos a concurso, 355 dos quais selecionados, de 80 países e 630 cartoonistas. Para Luís Humberto Marcos, diretor do Museu Nacional da Imprensa e membro do júri, este trabalho mostra, “de uma forma absurda, o risco que há na hipervigilância, que é uma marca da atualidade”. Para o júri, este desenho “ajuda a pensar sobre a relação das tecnologias e do isolamento”, disse Humberto Marcos, para quem o trabalho do polaco “é uma demonstração da incomunicação, é uma denúncia de um risco, de uma paranoia que, de alguma medida, frações da sociedade têm”. Zigmunt Zaradkiewicz já tinha participado em edições anteriores no PortoCartoon – World festival, tendo arrecadado, em 2009, o 2.º prémio. Este ano, o 2.º prémio foi atribuído a um trabalho do cartoonista francês Plantu, que trabalha regularmente para o jornal Le Monde, enquanto o 3.º prémio foi pela primeira vez na história do PortoCartoon atribuído a uma escultura, “uma peça do ponto de vista plástico extraordinária”, da autoria do português Fernando Saraiva. O júri decidiu ainda atribuir 19 menções honrosas, duas delas aos portugueses Agostinho Santos e Santiagu (António Santos, que assina mensalmente o nosso cartoon), respetivamente autores dos trabalhos reproduzidos.

artes & eventos

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

«Mãe, nasci para sofrer!» - 2011

O OLHAR DE...

Eduardo Pinto 1933-2009 Falando da Vida - Amarante - Início dos Anos 70

1933-2009

Teatros Municipais > Agenda de abril

Teatro de Bragança

- "Quarto Interior", teatro dançado, sem palavras e próximo da poesia, no Auditório, dia 16 pelas 21:30; 5 euros - "PeRiPlus…Antes solo que mal acompanhado", espetáculo que procura a universalidade do humor e da poesia visual, na Caixa de Palco, dia 23 pelas 15:00; Entrada Gratuita - "Balada para Carrinho de Bebé" é a peça de teatro que encerra o 27 Festival Internacional de Teatro, na Caixa de Palco, dia 27 pelas 21:30; 5 euros

Teatro Ribeiro Conceição – Lamego

- Espétaculo de teatro "Atrás das Máscaras" com André Gago, no Auditório, dia 16 pelas 21:30; Preço: 5€ a 24€ - Filme "Cisne Negro", thriller que mostra uma viagem excitante de uma bailarina que sonha em ser perfeita, no Auditório, dia 22 pelas 21:30; Preço: 3€ a 4€ - Música no VIII Festival Diocesano da Canção Religiosa, evento que congrega grupos de jovens dos vários arciprestados da Diocese, no Auditório, dia 30 pelas 21:30; 2,50 euros

Teatro de Vila Real

- "Emma Get Wild", projeto pop/folk na voz de Isabel Castro, no Café-Concerto, dia 14 pelas 23:00; Entrada gratuita - Teatro O Bando apresenta o espetáculo "Pedro e Inês", no Pequeno Auditório, dia 15 pelas 22:00; 7 euros - Comédia "I'm Still Here" do realizador Casey Affleck é o filme que passa no "Cinema sem Pipocas", dia 18 pelas 22:00 no Pequeno Auditório; 5 euros - No Dia Mundial da Dança, a companhia Quorum Ballet apresenta "Substâncias", no Grande Auditório, dia 29 pelas 22:00; 5 euros27 pelas 16:00; 5 euros.

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

Fundado em 1984 | Jornal/Revista Mensal Registo ERC 109 918 | Dep. Legal: 26663/89 Redação: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro | Rua Manuel Pereira Soares, 81 - 2º, Sala 23 | Apartado 200 | 4630-296 MARCO DE CANAVESES Telef. 910 536 928 E-mail: tamegapress@gmail.com Diretor: Jorge Sousa (C.P. 1689) Redação e colaboradores: Liliana Leandro (C.P. 8592), Paula Lima (C.P. 6019), Carlos Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Patrícia Posse (T.P. 993>C.P.), Helena Fidalgo (C.P. 3563) Alexandre Panda (C.P. 8276), António Orlando (C.P. 3057), Jorge Sousa, Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, A. Massa Constâncio (C.P. 3919), Ana Leite (T.P.1341), Armindo Mendes (C.P. 3041), Paulo Alexandre Teixeira (T.P. 1377), Iolanda Vilar (C.P. 5555), Manuel Teles (Fotojornalista), Mónica Ferreira (C.P. 8839).

Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas: Alberto Santos, José Luís Carneiro, José Carlos Pereira, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino de Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, Armando Miro, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo. Colaborações/Outsourcing/Agências: Agência Lusa (Texto e fotografia), Media Marco, Baião Repórter/Marão Online

Sede: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 Apartado 4 - 4630-279 MARCO DE CANAVESES Cap. Social: 80.000 Euros – Partes sociais superiores a 10% do capital: António Martinho Barbosa Gomes Coutinho, Jorge Manuel Soares de Sousa. Impressão: Multiponto SA - Baltar, Paredes Tiragem média: 30.000 exemplares (Auditados) | Associado APCT - Ass. Portuguesa de Controlo de Tiragem e Circulação | Nº 486

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repórterdomarão

Portistas conquistaram troféu no estádio do rival

FC Porto soma 25 títulos de campeão

António Mota

Lara e André

O FC Porto conseguiu o objetivo e sagrou-se campeão nacional de futebol em pleno estádio da Luz, ao vencer o Benfica por 2-1, em jogo da 25.ª jornada da Liga. Num encontro rodeado de um ambiente muito crispado, os "dragões" foram mais fortes e venceram os seus rivais lisboetas com tentos de Roberto, na própria baliza, aos nove minutos, e de Hulk, aos 26, na conversão de uma grande penalidade, enquanto Saviola, aos 17, também numa grande penalidade, marcou o tento de honra dos "encarnados". Com o triunfo, os portistas asseguraram, a cinco jornadas do final do campeonato, o 25.º título, numa jornada em que, e apesar de derrotado, o Benfica assegurou também matematicamente a presença na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, ao beneficiar do empate do Sporting. Os festejos dos portistas começaram logo após o encontro, no próprio estádio, apesar de o Benfica ter

demonstrado mau perder ao desligar a iluminação e colocar em funcionamento o sistema de rega. Milhares de pessoas sairam à rua em várias cidade do país para comemorar mais um título do seu clube, com destaque para o norte, festejos que se estenderam madrugada dentro mas sem quaisquer incidentes, o que é de louvar.

EM BREVES LINHAS | Cavaco Silva pede apoios para empresários exportarem mais | O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu em Paços de Ferreira que na conjuntura atual os empresários com vocação exportadora devem merecer “a melhor atenção dos poderes públicos e da

banca portuguesa”. “Nunca o país precisou tanto do trabalho dos empresários e da iniciativa privada, porque podem criar investimentos competitivos, aumentando as exportações e diminuindo as importações, para conter os desequilíbrios externos e o aumento do endividamento”, afirmou o Chefe do Estado. Falando no pavilhão de exposições de Paços de Ferreira, onde inaugurou a 36ª edição da feira de mobiliário "Capital do Móvel", o Presidente apelou aos empresários para que “ajudem o país”. “Ponham em campo toda a capacidade, vontade e criatividade para que Portugal possa aumentar a sua produção e criar mais emprego”, afirmou para um auditório constituído sobretudo por industriais de

mobiliário. Cavaco Silva destacou também a Rede Concelhia para o Emprego criada pela Câmara de Paços de Ferreira, envolvendo 90 parceiros locais, incluindo a Igreja, com o objetivo de criar dois empregos por dia neste ano de 2011.

| Isabel Alçada em Baião |

A ministra da Educação, Isabel Alçada, confessou a sua “profunda emoção e reconhecimento” ao visitar, em Baião, uma escola frequentada por sete crianças portadoras de autismo. “É uma unidade excelente e de referência”, afirmou, depois de contactar com as crianças da Unidade de Ensino Estruturado para alu-

mento global de 12 milhões de euros.

| GNR Amarante combate droga | A GNR de Amarante deteve dois homens de 34 e 44 anos na posse de mais de 924 doses de heroína e 13 mil euros em dinheiro. Segundo fonte policial, as detenções foram realizados pelo Núcleo de Investigação Criminal (NIC) do Destacamento de Amarante, na freguesia de Figueiró Santiago, após buscas domiciliárias. Foram apreendidas 2 doses de cocaína, 95 haxixe, balanças digitais, material para acondicionar droga, dois automóveis, um motociclo e oito telemóveis. Foi ainda constituído arguido um terceiro elemento, um homem de 50 anos.

| Obras na Urgência de Penafiel |

nos com perturbação do espectro do autismo. Isabel Alçada conheceu o trabalho que está a ser realizado, desde 2008, por vários professores do ensino especial e por técnicos deste projeto. Nesta unidade estão alunos do primeiro ciclo dos concelhos de Baião, Amarante, Felgueiras e Penafiel, com idades compreendidas entre os seis e os 13 anos. A ministra assistiu também à apresentação de três projetos de novas escolas (dois centros escolares e uma escola secundária), num investi-

As obras de ampliação da urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel, iniciadas este mês, vão ampliar a área em mais 3500 metros quadrados. A intervenção vai custar cerca de quatro milhões de euros e deverá prolongarse por um ano. As obras terão uma primeira fase até agosto, durante a qual serão construídas novas áreas. Nos seis meses seguintes, serão concentrados no mesmo espaço as urgências de adultos e crianças. A administração do hospital explica que as obras que vão arrancar na urgência “inseremse num programa mais vasto de ampliação hospital, estando previsto para breve o início da construção de um novo piso no serviço de psiquiatria, o que irá significar um aumento de 22 camas para internamento”.

Não tenho nenhum problema em dizer que neste mês faço trinta e seis anos. Não me considero velha, e sei que já não posso cair no ridículo de me fazer passar por uma gaiata, e acho que sou competente no trabalho que faço. A minha avó, que anda cá há muitos anos e teve uma vida bem difícil, costuma dizer que os anos são como a água dos rios, corre sempre para o mar, e nunca volta para trás. Às vezes acho graça aos ditos da minha avó. Chama-se Elvira, um nome que já não se usa. Ainda bem que eu me chamo Lara. Mas era para ser Elvira, vê lá tu. Tenho trinta e seis anos e não sei como é que ainda não fui parar à ala psiquiátrica de um hospital. Não, amiga, não me olhes dessa maneira. Se tu soubesses o que tenho penado, não me olhavas dessa maneira. Eu não sei se a minha vida dava para fazer um filme. Duvido, porque eu tenho a certeza que o mundo deve estar cheio de mulheres da minha idade que contam uma história idêntica à minha. Tenho trinta e seis anos e dois filhos, uma com nove e outro com quatro. E um divórcio a correr. Sim, fui eu que o deixei. Sim, fui eu que saí de casa porque já não suportava mais. Levei os filhos comigo e fui viver para um apartamento minúsculo. E ele voltou para o colinho da mãezinha. E por lá ficou. E vai ficar. Vivemos juntos há dezassete anos. Imagina. Agora pergunto-me como é que aguentei tanto tempo. E eu gostava tanto que tivéssemos continuado. Mas já não dava mais. Não sei o que aconteceu connosco para a corda partir. A minha avó Elvira diz que o amor é como um copo de cristal. Se parte, não existe no mundo cola que o volte a unir. Eu não consigo lembrar-me onde e quando o nosso copo de cristal partiu. Por mais que tente, não sou capaz. O que eu sei é que quando me descobri grávida pela segunda vez, já a miúda tinha cinco anos, não fiquei muito contente, nem muito triste. Não me importei por-

que eu sempre pensei em ter dois filhos. Depois da criança ter nascido, tudo se alterou na minha vida. Tudo. O André não suportava o choro do filho. Fazia cenas. Porque estava cansado, porque precisava de dormir, porque isto e porque aquilo. E eu a aguentar, e eu a desfazerme. E eu calada. Sempre calada, sempre a aguentar as crianças, a casa, o emprego, aquelas conversas. E ele sem mexer uma palha. E nós a afundarmonos. Um dia olhei para o espelho, e não me reconheci. Pensei: Lara, tu já não suportas o cheiro dele, a conversa dele; se ele te toca tu sentes-te mal, enojada, transformas-te num pedaço de gelo. Ó minha grande estúpida, gostas de ser infeliz? E foi ali, em frente ao espelho, que eu decidi ir-me embora. Fui, e não estou arrependida. Mas estou cansada. Educar duas crianças, pagar a renda da casa, a comida, a escola, as roupas, os outros restos, e aguentar a solidão, não é nada fácil. Mas eu nunca me queixei. O André ainda fez algumas tentativas, armado em macho. Mas não me convenceram. Tenho muita pena de não sentir absolutamente nada por ele. Sim, ficaram algumas boas lembranças. Sim, foram bonitos os primeiros anos. Mas esse filme já se passou há tanto tempo. O que me dói mesmo é ele não dar um minuto de atenção ao filho mais pequenino. Leva a filha a passear, dá-lhe as prendas que eu me recuso a comprar, e nunca leva o mais pequenino. Não consigo responder nada quando ele me pergunta: porque é que o pai não gosta de mim? Tenho trinta e seis anos. Ontem disseram-me que a empresa foi obrigada a reduzir custos, que era preciso fazer despedimentos, e eu tinha sido uma das felizes contempladas. Agora não sei como é que vai ser. anttoniomotta@gmail.com



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