Repórter do Marão

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SAÚDE NO NORDESTE

DOURO EMPREENDEDOR

Presidente da ULS teme que falta de dinheiro “possa afetar os cuidados de saúde"

“Universidade funciona como um quartel dos anos 60, em que as pessoas vêm cá fazer a recruta"

repórterdomarão do Tâmega e Sousa ao Nordeste

Prémio GAZETA

Nº 1262 | abril '12 | Ano 29 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. OFERECEMOS LEITURA.

A B R I L ’ 12

BELMIRO DE AZEVEDO: 'Falta de emprego é o trauma da crise'

LEONOR SOUSA BASTOS: 'Chef no feminino deixou de ser preconceito'


ENTREVISTA | Chef L

“Um do

Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.

Pão-de-ló para um final feliz, bolo de chocolate com peras, mini-cheesecakes frios com morangos… só os nomes deixam a salivar até o menos guloso. Se a eles se juntarem as fotografias dos doces que saem das mãos, e da imaginação, de Leonor de Sousa Bastos, então a delícia é completa e flagrante. Flagrante Delícia é mesmo o nome do blogue que esta chef de pastelaria natural do Porto criou sem sonhar com o sucesso que iria ser e a inspiração que iria gerar nos milhares de seguidores viciados nas suas receitas de sobremesas porque, afinal, “um doce por dia não faz mal”.

Nome completo: Leonor de Sousa Bastos Data de nascimento: 07 de fevereiro de 1983 Local de Nascimento: Porto Habilitações literárias: Pós-graduação em alta cozinha Livro Preferido: Livro do Desassossego Filme: Labirinto do Fauno


Leonor de Sousa Bastos diz que a gastronomia atravessa a melhor fase

oce por dia não faz mal”

.com | Fotos D.R. “Desde pequena que gostava de estar na cozinha a observar e a ajudar nas tarefas mais simples. Achava fascinante a preparação do menú nas reuniões e festas de família que, normalmente, eram verdadeiras odisseias”, começa por recordar Leonor de Sousa Bastos, criada num ambiente onde “sempre se cultivou o prazer da mesa”. Aos 10 anos, e com a partida da avó, também Leonor, começou a organizar e experimentar todas as receitas deixadas e, quase sem se aperceber, foi-se dedicando aos doces.

Doce Porém, o destino tinha outros planos e levou-a para um curso de direito para o qual sentia que não tinha a menor vocação. “Nunca me imaginei a ter uma profissão que não gostasse e como sempre tive a noção de que a maior parte do nosso tempo é passada a trabalhar, achava que tinha que trabalhar com prazer”, confessou Leonor. Lentamente começou a substituir os códigos e leis pelas receitas e pelo açúcar e até percebeu que “preferia cozinhar do que ir às aulas”, mas faltava a coragem de recomeçar do zero e trocar tudo pela cozinha. Um dia Leonor conheceu o namorado Miguel, arquiteto e fotógrafo, com quem sentiu o “apoio necessário” para seguir um novo caminho e deixar o Porto para rumar a Palma de Maiorca naquela que seria a aventura do curso de cozinha. “Escolhi Maiorca porque dentro das opções que conhecia, no momento, era aquela que tinha melhor fama e custos mais ou menos suportáveis”, contou. Foi com os doces de Palma que em 2008 Leonor lançou o Flagrante Delícia na Internet, criando água na boca logo com uma receita de trufas de chocolate. Seguiram-se as madalenas, as delícias de café, o tiramisu e os brigadeiros, as ganaches e as dacquoises, os scones, as tortas e até o arroz doce. Tudo num incansável bailado de doces até chegar aos 17 mil seguidores, às 12 mil visitas diárias e a um total de seis milhões de visitas. “Nem eu própria sei como é que o Flagrante Delícia teve tanto sucesso. Foi repentino, nunca foi planeado e teve resultados completamente inesperados”, diz Leonor que acabou por publicar em 2010 o livro de re-

BOLO DE CHOCOLATE Para 6 a 8 pessoas:

Bolo - 200 g de chocolate negro 52 % - 200 g de manteiga - 5 ovos - 150 g de açúcar - 1 pitada de sal - 50 g de amido de milho, peneirado

Ganache - 200 g de chocolate negro 52 % - 50 g de natas - 50 g de manteiga amolecida

ceitas com o nome de um dos blogues mais doces da blogosfera. Ainda que doce, o seu percurso pela cozinha não foi apenas uma adição de açúcar. “Trabalhar em cozinha implica um enorme esforço físico e, à partida, as mulheres estão em desvantagem” porque “são muitas horas de pé, material pesado e perigoso, um horário sem hora de saída e muito stress”. E mesmo que nas novas cozinhas já não haja preconceito para com uma chef no feminino, a verdade é que na turma de Leonor em mais de 20 alunos apenas oito eram mulheres e no final do primeiro ano três desistiram. Não foi o caso da “hormiguita” Leonor para quem “a gastronomia em Portugal está agora a passar pela sua melhor fase”. “ O facto de haver cursos de cozinha e hotelaria cada vez mais bem estruturados está a dar os seus frutos com uma nova geração de chefs com cultura, que conhecem o que se faz em todo o mundo e se preocupam por valorizar os produtos e origens portuguesas”, destaca a chef de pastelaria que nota “alguma evolução” nas sobremesas dos restaurantes mas defende um trabalho em conjunto entre chef de cozinha e de pastelaria para a “criação de pratos e menus harmoniosos”.

Delícia Harmonia à parte, a verdade é que “há uma procura crescente de uma alta pastelaria e também de uma pastelaria caseira, com bons ingredientes e sabores mais simples que recordem aquele bolo que muitas pessoas nunca chegaram a fazer ou a comer em casa” porque “o doce deixou de ser visto como o pecado dominical para passar a fazer parte de um menu diário”. Aliás, a própria Leonor admite comer um “doce por dia” já que “na quantidade certa, não faz mal a ninguém se se tiverem cuidados gerais com a alimentação e estilo de vida”. Sem querer revelar pormenores de projetos atuais, Leonor de Sousa Bastos conta apenas estar a preparar um dos seus sonhos e diz ter sido convidada para fazer parte de um livro que vai ser publicado fora de Portugal. “Faltam-me conquistar imensas coisas mas não quero morrer sem deixar uma marca na pastelaria”, remata.

Bolo

Ganache

Pré-aquecer o forno a 180º C. Untar com manteiga uma forma redonda com 23 cm de diâmetro e forrar o fundo com papel vegetal. Derreter o chocolate com a manteiga em banho-maria ou no microondas. Bater os ovos com o açúcar e o sal até homogeneizar. Juntar o chocolate derretido com a manteiga à mistura de ovo. Juntar o amido de milho e bater até homogeneizar. Cozer durante 20 a 22 minutos (o centro ainda deve estar mole). Retirar o bolo do forno e deixar arrefecer completamente dentro da forma. Desenformar o bolo sobre uma grade de pastelaria.

Cortar finamente o chocolate com uma faca de serra ou usar uma picadora. Levar as natas a levantar fervura. Deitar as natas, aos poucos, sobre o chocolate, mexendo com cuidado. Adicionar a manteiga e mexer com uma colher até que a mistura fique lisa e brilhante. Deitar toda a ganache sobre o bolo, deixando escorrer o excesso. Transferir o bolo para um prato com a ajuda de uma espátula.


ENTREVISTA | ANTÓNIO MARÇÔA, Presidente da Unidade Local de

Falta de dinheiro pode afetar c Helena Fidalgo | hfidalgo@hotmail.com | Fotos D.R./Arquivo Lusa e ULS-NE

Três meses depois de ter tomado posse, a administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULS do Nordeste) está a trabalhar no processo de reorganização dos cuidados primários e hospitalares que ficaram agrupados sob a mesma gestão. O presidente do novo organismo, que gere os três hospitais e 15 centros de saúde do Nordeste Transmontano ainda não dispõe de todos os dados para garantir que a ULS tem condições para prestar os cuidados necessários e de qualidade aos utentes. O que parece cada vez mais evidente é que o orçamento de 90 milhões de euros é “manifestamente insuficiente” e conseguir convencer a tutela da necessidade de mais dinheiro para tratar os 144 mil habitantes desta região será o principal desafio deste gestor.

indexante de apoios sociais”. A “confusão” alegada por António Marçôa permanece nestes casos já que ninguém sabe de que forma será feito o transporte, apenas que quem estiver nestas condições “tem de entregar um comprovativo das Finanças nos serviços sociais” da respetiva unidade de saúde para poder beneficiar de transporte, mas ainda ninguém esclareceu em que condições será feito. “Está a funcionar”, garantiu ao RM António Marçôa, acrescentando que “as pessoas queixam-se porque antigamente não era obrigatório ter essa prova de insuficiência económica, hoje em dia isso exige mais burocracia e a campanha que se fez em nada acabou por esclarecer os utentes e eventualmente deu mais confusão”. O administrador garantiu ainda que a quebra registada nos reembolsos não se refletiu no número de utilizadores dos serviços de saúde. “A nível de utentes não notei quebra nenhuma”, afirmou.

António Marçôa (na foto, em baixo à esquerda) foi o escolhido para conduzir o novo modelo de gestão da saúde no Nordeste Transmontano e é o único elemento das anteriores administrações dos centros de saúde e hospitais que transitou para a administração da nova ULS. O presidente do conselho de administração ainda está a elaborar o que chama de “plano de negócios” para os próximos três anos e que ditará as prioridades e necessidades, na certeza de que terá de fazer muitas contas para conciliar os cortes ditados pela contenção nacional com as necessidades de uma população envelhecida e dispersa por um vasto território. Ás distâncias geográficas somam-se agora outras dificuldades no acesso à saúde numa região onde uma urgência pode custar meia reforma para um idoso regressar a casa e onde são cada vez mais as queixas daqueles que se vêem obrigados a abandonar tratamentos e a faltar a consultas por falta de dinheiro para transporte. O presidente da ULS acha que está a haver “muita confusão nesta região” relativamente ao transporte de doentes e admite que seja fruto da falta de esclarecimento por parte de quem de direito. Desde o início do ano, as unidades hospitalares registaram “uma quebra”, que não soube especificar em números, nos reembolsos aos utentes que, em 2011, atingiram os dois milhões de euros. A ULS já fez publicar um comunicado a tentar esclarecer a população das novas regras que os responsáveis garantem continuar a apoiar quem precisa, mas que reconhecem também que deixam de fora muitos dos que antes eram apoiados. O anterior regime do transporte de doentes não urgentes garantia a todos os utentes que tivessem de se deslocar mais de 20 quilómetros da sua residência o reembolso equivalente ao preço do transporte público mais barato, o autocarro. Este benefício acabou e a nova legislação garante transporte em ambulância apenas quando “a situação clínica o justifique” e assegura direito de transporte a quem se encontrar em “situação de insuficiência económica”, ou seja que “integre um agregado familiar com rendimento médio mensal inferior a 419 euros, o valor do

António Marçôa não prevê grandes alterações a nível da oferta existente no Nordeste Transmontano, mantendo a especialização de cada um dos três hospitais com Mirandela a assegurar toda a cirurgia de ambulatório, Macedo de Cavaleiros a ortopedia e Bragança com a urgência médico cirúrgica mais completa da região. Já sobre a rede de urgências não pode garantir que não haverá alterações por essa matéria não ser da competência da ULS, mas defende “a manutenção de três urgências, uma a norte, outra a sul e outra no interior da região”. Na rede de emergência, considera também fundamental “o helicóptero a funcionar em condições e os meios de emergência médica para colocar o doente no local adequado”. “No país, a tendência até pode ser de olhar só para os números, mas nós cá estamos para desfazer isso”, afirmou, manifestando-se contra os critérios usados nas decisões. António Marçôa discorda que “se utilizem como argumento, por exemplo, médias nacionais ou até da região Norte, para serem aplicadas à ULS do Nordeste porque há-de sempre perder” relativamente ao resto do país. Provavelmente, segundo diz, “se os 144 mil habitantes desta região estivessem localizados numa única cidade, seria apenas necessário um hospital com um único serviço de urgência e dois ou três centros de saúde”. Mas estão dispersos por “sete mil quilómetros quadrados, que representam 40 por cento da região Norte, o que obriga a “ ter sempre mais recursos, mais redundância de recursos”. O administrador “ainda não tem todos os dados para garantir que a ULS tem condições de garantir a prestação de cuidados e de qualidade aos utentes”, mas já tem a “noção perfeita que vai haver subfinanciamento” e que os cerca de 90 milhões de euros anuais que lhe foram atribuídos são “efetivamente insuficientes e bastantes inferiores àquele (valor) atribuído a outras unidades”. O orçamento foi calculado através da chamada capitação que atribui menos cem euros por habitante à ULS do Nordeste do que a outras semelhantes, segundo disse. Se a administração conseguir convencer o Ministério da Saúde a alterar a capita-

Rede de urgências não depende da ULS


e Saúde do Nordeste Transmontano

cuidados de saúde ção poderia ganhar mais cerca de 15 milhões de euros, o que já permitiria algum equilíbrio das contas, junto com a amortização que o Estado vai fazer de 50 por cento da dívida dos hospitais e que, no caso do Nordeste, implicará uma redução para metade do passivo de 30 milhões de euros. “Nós estamos dispostos a provar a necessidade de financiamento e a defender a discriminação positiva da ULS”, afirmou, adiantando que pretende iniciar negociações logo que o plano de negócios esteja concluído, o que perspetiva para “dentro de um mês”.

Crise pode empurrar médicos para o Interior António Marçôa vai também ter de convencer a tutela a autorizar a contratação de vários especialistas que acredita conseguir “sem mais custos”, transferindo para os salários que vierem a ser pagos a despesa que, neste momento, está a ser feita em horas extraordinárias. A ULS do Nordeste precisa de um dermatologista, especialidade que não existe na região, de mais um cardiologista, mais um nefrologista, e mais alguns cirurgiões e anestesistas. A falta de médicos no Interior é um problema antigo, mas o presidente da ULS acredita que “a conjuntura atual, sendo negativa, para este caso específico é uma oportunidade porque há muito especialista que, no litoral, está a ver que afinal de contas aquela certeza que tinha na empregabilidade médica, hoje já não é verdade”. “A crise pode ser benéfica e nós, neste momento, já temos vários contactos com médicos e penso que iremos conseguir atrair efetivamente alguns profissionais para cá”, sustentou. A nível da enfermagem, também foram detetadas algumas carências nos três hospitais que a administração pensa resolver com “a folga” que existe nos centros de saúde. Apostar na “internalização” dos meios complementares de diagnóstico é outra orientação para reduzir custos e, depois das análises clínicas, seguem-se exames como raios X e ecografias. Uma das primeiras medidas que esta administração tomou foi determinar que os utentes do Serviço Nacional de Saúde passem a fazer análises clínicas apenas nas unidades públicas, deixando de recorrer aos convencionados. A medida tem sido alvo de contestação por parte dos privados e a Associação Nacional de Laboratórios já anunciou que vai processar esta e outras ULS que adotaram a mesma medida, nomeadamente as de Portalegre e da Guarda. “Nós temos equipamentos instalados nos três hospitais, nós temos recursos nos três hospitais, para que é que eu vou mandar as análises clínicas serem feitas fora e pagar se eu as posso fazer aqui?”, pergunta António Marçôa que não se mostra “minimamente preocupado” com o protesto dos convencionados. Até ao final do primeiro semestre, o administrador pretende alargar a medida à imagiologia e quer também poupar nos convencionados em outras valências como a fisioterapia, a gastrenterologia e cardiologia. A ligação entre os cuidados primários e hospitalares é “o mais importante” deste novo modelo de gestão da saúde na região. António Marçôa anunciou ainda que, com os profissionais existentes, será possível retomar “dentro de um mês” nos centros de saúde as valências suspensas desde o início do ano como podologia, terapia da fala, eletrocardiologia, entre outras.

O mercado da energia está a ser progressivamente liberalizado e logo no primeiro dia de Janeiro de 2013 as tarifas reguladas de electricidade e de gás serão extintas para todos os consumidores. O fim das tarifas reguladas de gás natural faz com que os preços até aqui fixados pela entidade reguladora, ERSE, passem a ser definidos pelas empresas presentes no mercado. Os portugueses passam assim a escolher entre os operadores do mercado o que mais lhe convier. A Goldenergy lançou já uma campanha muito competitiva para fidelizar novos clientes. Assume todos os procedimentos necessários à mudança e dispensa os seus clientes da taxa fixa, o que em média se traduz numa poupança de cerca de 20%, sobre os valores hoje praticados no mercado regulado. A Goldenergy é uma empresa do grupo Dourogás e já opera à escala nacional tendo vindo a conquistar mercado na área das pequenas e médias empresas e nos agregados familiares. Tem já como clientes de referência, Hospitais Centrais, Empresas Industriais, e até o Centro Cultural de Belém ou o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Os consumidores que pretendam melhorar as condições de fornecimento, podem consultar a Goldenergy, pelo telefone gratuito, 808 205 005 e comparar preços, formas de pagamento, prazos e promoções.

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A mudança de comercializador não acarreta qualquer custo para o consumidor, é muito simples e o tempo de espera é de cerca de três semanas. A mudança pressupõe a existência de novo contrato de fornecimento de gás natural. Após a assinatura do novo contrato, segundo a lei, o novo comercializador trata de todos os aspectos técnicos relacionados com a transferência da relação contratual. Até à data da realização da mudança, o fornecimento de gás natural mantém-se com o anterior comercializador.


MARCO DE CANAVESES Patrão da SONAE no Congresso dos 160 Anos

'Quem não dá o salto para empresário não consegue criar riqueza e emprego' Joana Vales | joana_vales@hotmail.com | Fotos J.V.

Belmiro de Azevedo é conhecido pelo império que fez nascer e pela frontalidade com que diz o que pensa. Observador, crítico e bem-sucedido, Belmiro conquistou o mundo dos negócios. É o mais velho dos oito filhos de Manuel de Azevedo, carpinteiro e agricultor, e de Adelina Ferreira Mendes, costureira. Natural do Marco de Canaveses – foi um dos convidados do Congresso dos 160 Anos da fundação do Município –, o empresário faz questão de vir com frequência à terra que o viu nascer e onde consegue juntar a família. Aos 74 anos, Belmiro continua ativo e com a visão de negócios bem apurada. Um dos homens mais ricos de Portugal considera que não basta ser empreendedor, é necessário ser empresário. “Quem não consegue dar o salto para empresário não é capaz de criar riqueza nem emprego”, explicou. Para o dono da SONAE, o desemprego é consequência da crise e afeta toda a gente de igual forma. “A falta de emprego é o trauma da crise. Hoje em dia é fácil verificar a reação das pessoas à crise e a forma como reagem ao desemprego. Não estamos apenas a falar dos operários com baixos

salários mas também dos que recebiam um bom ordenado. As pessoas não estavam habituadas às agruras de não ter dinheiro”, disse Belmiro de Azevedo. O marcoense considera que os empresários têm de ir para onde existe atividade económica e deixar de lado a conotação negativa que a palavra emigrante tinha até agora. “Hoje em dia é difícil ter trabalho sempre no mesmo sítio. A palavra emigrante já não se usa e considero que se deveriam chamar viajantes porque o emprego só existe onde há condições”, considerou. O empresário defendeu ainda a mobilidade e o uso das novas tecnologias. “Atualmente, não é necessário ter um local fixo para trabalhar. Tendo um telemóvel e um automóvel somos ‘supermóveis’. O que é preciso é ir para onde há falta de pessoas e oportunidades de trabalho”.

Rio Tâmega é uma lixeira Belmiro sempre afirmou que tem uma forte ligação ao Marco de Canaveses e nunca escondeu as origens. Aproveitando o convite da Câmara Municipal para o congresso dos 160 anos do concelho, Belmiro fez afirmações surpreendentes. “Eu acho que o Marco não tem dois rios mas apenas um, o Douro. O Tâmega não pode ser considerado um rio mas sim uma lixeira. A distribuição vegetal e animal no rio é elevada havendo um excesso de nutrientes, ou seja, é um depósito dos

dejetos da cidade”, disse o empresário. Belmiro considerou ainda que é necessário “criar sistemas modernos para a limpeza do rio”. “Com pouco dinheiro é possível transformar uma coisa horrível em algo positivo e que valorize a cidade”, afirmou.

Belmiro oferece apoio para requalificar a zona industrial O engenheiro propôs um processo de requalificação na zona industrial de forma a facilitar o acesso. “Com uma intervenção simples era possível ganhar qualidade urbanística e melhorar toda a zona”, referiu. Belmiro acrescentou ainda que a intervenção deve contar com o apoio dos empresários e que ele próprio está disposto a apoiar. “Espero que assim tenhamos a zona industrial do Marco de Canaveses requalificada mais depressa”, salientou. O patrão da SONAE vem com frequência ao Marco de Canaveses e admite que é onde encontra alguma paz. “Eu venho praticamente todos os fins de semana ao Marco e é aqui que junto a família e estamos um bom bocado”, confessou. Ao Repórter do Marão recordou o tempo em que caçava com o pai e como se sentia bem em terras marcoenses. “O meu health club foi durante muitos anos aqui, quando eu corria pelo meio dos campos”, recordou.



| Fórum quer descobrir oportunidades a 2

A mediação que fal Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos J.S. e D.R.

Com o envolvimento de 26 instituições, a rede EmpreenDouro tem como linhas-mestras a dinamização do empreendedorismo, a criação de empresas e uma inversão de paradigma na região duriense. “Importa criar condições para que as pessoas invistam no Douro, tanto os que estão cá, os que já estiveram, como aqueles que queiram estar”, sublinha António Fontaínhas Fernandes, coordenador do projeto Douro Empreendedor e docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

A rede conta com 26 parcerias de agentes estratégicos, cuja articulação de esforços e competências vai potenciar o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras numa região que apresenta os menores índices de desenvolvimento da Europa. “Se existir um potencial empresário que queira investir numa determinada área e apresente o projeto, nós vamos ver quais são os parceiros que estão mais capazes para apoiar”, explica Fontaínhas Fernandes. Entre este conjunto de entidades encontram-se a Estrutura de Missão do Douro, as instituições de Ensino Superior, as autarquias e as associações de desenvolvimento, comerciais e empresariais. A UTAD e o Instituto Politécnico de Bragança vão funcionar como front-offices, assegurando a articulação com toda a rede: “vamos dizer se é necessário um plano de negócio, um estudo de mercado ou quais as fontes de financiamento a que podem recorrer. No fundo, vamos facilitar e aumentar a fluidez dos canais que permitam a criação da empresa”. Assim, os empreendedores vão ser apoiados na maturação da ideia, na análise de risco, na constituição formal da empresa, na implementação de sistemas de apoio à gestão, na cooperação empresa-

rial e internacionalização. O ambiente, a cultura e os vinhos foram os clusters identificados como oportunidades de negócio no Douro, mas é fundamental “fazer a diferença”. “As pessoas não podem replicar o mesmo estilo de negócios. É preciso existir algum talento e criatividade”, frisa Fontaínhas Fernandes. Liderada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), a rede EmpreenDouro tem aprovados pelo QREN dois projetos: Douro Empreendedor e Empreendedorismo Local, que vão receber um financiamento de, aproximadamente, 800 mil euros.

Impulsionar a criatividade Fontaínhas Fernandes considera que é prioritário estimular a criatividade nos jovens. “Neste momento, existe um hiato em Portugal. O Governo e os portugueses já perceberam que temos que conduzir os jovens para a criação de emprego e de empresas.” Embora já existam unidades curriculares de empreendedorismo nos cursos superiores, o docente defende que é crucial introduzi-las no


e 3 de maio

tava início da formação e não no último ano, pois nessa altura “já é demasiadamente tarde”. “O jovem deve perceber as ferramentas, a necessidade de ser criativo e, no projeto final de curso, já pode complementar a sua ideia de empresa.” O professor universitário entende que as instituições de Ensino Superior devem desenvolver “um ecossistema que, além da formação em determinada área, desenvolva uma cultura de empreendedorismo e outro tipo de competências como a responsabilidade social e ambiental, o voluntariado e a cultura”.

A 'recruta' à anos 60... A maioria dos estudantes que ingressa na UTAD é oriunda do Norte litoral e, após a conclusão da formação académica, regressa “imediatamente” às origens. “A Universidade está a funcionar como um quartel dos anos 60, em que as pessoas vêm cá fazer a recruta, que neste caso é o curso, e regressam à terra de origem. Portanto, a região tem que ter uma estrutura que fixe e crie condições para o empreendedorismo.”

Fontaínhas Fernandes, Coordenador do projeto

Dar a conhecer os bons exemplos A 2 e 3 de maio, a UTAD vai acolher o Fórum de Empreendedorismo e Empregabilidade. Durante o evento, discutir-se-á o papel das instituições de Ensino Superior, nomeadamente a necessidade de, em paralelo com a formação e a investigação, apoiarem os jovens a criar empresas; haverá ainda testemunhos de empreendedores de sucesso e serão apresentadas boas práticas no Douro. “Teremos ainda outro painel de jovens que tiveram alguma paixão com o Douro e que tomaram a decisão de não investir na zona de onde são provenientes”, avança Fontaínhas Fernandes. O Fórum funcionará ainda como “uma montra de visibilidade” da rede, dando a conhecer os parceiros e o modo como podem auxiliar os potenciais empreendedores. “Em paralelo, vai existir um conjunto de empresas que, na perspetiva de empregabilidade, vão mostrar de que forma poderão apoiar”, acrescenta. Estima-se que 400 pessoas possam vir a marcar presença no Fórum de Empreendedorismo e Empregabilidade. Para maio, está ainda agendado o lançamento do Prémio EmpreenDouro que pretende distinguir o que de melhor se faz no Douro em matéria de empreendedorismo, inovação e promoção.


FESTIVAL DO VERDE NA FREGUESIA DE SANCHE (AMARANTE)

Promovido pela DOLMEN e pela Junta de Freguesia de Sanche e com o apoio da associação CCR Sanche, vai ter lugar a 5 e 6 de Maio o Festival do Verde, uma das iguarias tradicionais daquela zona do concelho de Amarante. O evento – que é financiado pelo PRODER – tem como ponto forte a degustação do 'Verde Bazulaque', mas nos dois dias do Festival serão servidos petiscos, caldo verde e o afamado vinho verde da sub-região de Amarante. A animação do Festival integra um Encontro de Violas Amarantinas, Cantares ao Desafio e música popular com os grupos "Propagode", "Marão Tradicional" e Tuna de Gondar".

31 Projetos apoiados pela Medida e criação de emprego do PRODER A Dolmen – Cooperativa de Formação, Educação e de Desenvolvimento do Baixo-Tâmega, foi a entidade responsável pela análise das 62 candidaturas, entregues no âmbito do 2º Concurso, das quais 11 foram apresentadas à ação 3.1.1 – Diversificação de Atividades na exploração Agrícola, 29 à ação 3.1.2 – Criação e Desenvolvimento de Microempresas e 22 à ação 3.1.3 – Desenvolvimento de Atividades Turísticas e de Lazer. sentando um investimento total de 1 108 114,60 € e uma As candidaturas provenientes dos concelhos de Amarancomparticipação de 496 623,68 €. te, Baião e Marco de Canaveses representaram 84%. De saCinfães teve 2 projetos aprovados representando um inlientar que os restantes municípios que compõem o terrivestimento total de 533 524,71 € e uma comparticipação tório do GAL Dolmen apenas são abrangidos por parte das de 191 817,61 €. Resende teve também 2 projetos aprovafreguesias. dos representando um investimento total de 557 797,76 € e Após a análise das candidaturas referentes à medida 3.1 – uma comparDiversificação da economia Investimento elegível Incentivo aprovado Postos trabalho a criar ticipação de 246 962,60€ e criação de e Penafiel emprego do com 1 projeSubprograto aprovado ma 3 do PROque representa um investimento total de 61 959,31 € e uma DER, foram aprovados 31 projetos empresariais do territócomparticipação de 37 006,37 €. rio do Baixo-Tâmega (Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Os incentivos variam conforme os postos de trabalho Resende, Cinfães e Penafiel) correspondendo a um total de (PT) a criar, ou seja, os projetos que não criam PT, são ape2 796 241,65 € em termos de incentivo. Esta medida crianas financiados em 40%, se criar 1 PT em 50% e se criar 2 rá ainda 77 postos de trabalho dos quais cerca de 14 serão ou mais 60%. qualificados. Na ação 3.1.1, destinada essencialmente a projetos de A taxa de aprovação foi de 50%, sendo que Amarante viu agroturismo, foram aprovados 7 projetos, sendo dois do 10 projetos aprovados representando um investimento toconcelho de Amarante, dois de Baião, dois do Marco de Catal de 1 988 560,75 € e uma comparticipação por parte do naveses e um de Resende, representando um investimenPRODER de 970 432,27 €. to total de 1 818 648,85 € e uma comparticipação de 733 Baião teve 11 projetos aprovados representando um in101,86 €. Os projetos aprovados criarão 15 postos de trabavestimento total de 2 057 500,94 € e uma comparticipação lho dos quais 4 são qualificados. de 853 399,12 €. Marco de Canaveses obteve 5 projetos aprovados repre-

4.757.088,13

2.796.241,65

77

Quadro 1. Comparticipação dos projetos aprovados na ação 3.1.1

MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Lg. Sacadura Cabral | Edf. Asa Douro, Sala 5 | T. 255 521 004


Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

3.1 – Diversificação da economia – Subprograma 3 O projetos apresentados na ação 3.1.2, visam na sua maioria à dinamização da economia local, quer através da modernização ou expansão da atividade quer na criação de microempresas. Das 29 candidatu-

ras apresentadas, 16 mereceram aprovação representando um investimento total de 2 625 362,22 € e uma comparticipação de 1 304 668,56 €. Esta ação criará ainda 43,5 postos de trabalho, sendo 6,5 qualificados.

Quadro 2. Comparticipação dos projetos aprovados na ação 3.1.2

Na ação 3.1.3 destinada ao turismo e lazer, foram aprovados 8 projetos totalizando um investimento total de 1 863 447,00 € e uma comparticipação de 758 471,23 €. Os incentivos ao investimento atribuí-

FESTA DAS CAVACAS RESENDE 22 DE ABRIL Algumas dezenas de pequenos produtores de cavacas perpetuam em Resende uma iguaria cuja origem os registos situam na Idade Média e que a autarquia tem procurado expandir a todo o território nacional. A feira/festa das cavacas decorre a 22 de abril naquela vila do Douro Sul, podendo ser visitada a partir das 11:00 no pavilhão multiusos de Aregos. Para obstar à falsificação ou adulteração do produto regional, a Câmara tem promovido medidas para preservar a qualidade. O programa do evento inclui animação musical e no encerramento serão entregues certificados de participação aos produtores.

dos nesta ação visam melhorar a oferta de alojamento turístico e criar 18,5 postos de trabalho, sendo 2,5 postos de trabalho qualificados.

Quadro 3. Comparticipação dos projetos aprovados na ação 3.1.3

BAIÃO: DOLMEN - Centro de Promoção Produtos Locais | Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154


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EPAMAC Uma Escola que é Mais que uma Escola

UMA REFERÊNCIA VITAL A SEGUIR profissionais, em 1988_1989. Como também será reconhecido, muito escrevi sobre este modelo educativo, tendo aliás defendido uma tese de mestrado sobre esta realidade, logo em 1992. Enquanto diretor do Departamento do Ensino Secundário (entre 1994 e 1996) pude acompanhar muito de perto a evolução e involução desta rede de escolas. E pude também lutar pela sua sobrevivência política no período crítico de 1995. Retomo, de qualquer modo, a tese deste pequeno artigo: esta escola é uma referência vital, fonte de inspiração e de vida para duas centenas de alunos e merece por isso ser reconhecida e apoiada enquanto escola pública detentora de um património de valor incalculável. São sete os argumentos que quero aqui utilizar:

José Matias Alves

(Professor Associado Convidado da Universidade Católica . Porto) Tive a felicidade de visitar no início de abril a EPAMAC. E do que vi, do que observei, do que reparei, do que inquiri e do que ouvi (de professores e de alunos) posso afirmar o que já pressentia e sabia: esta escola é mais do que uma escola. Esta escola é uma referência para o que deveriam ser os projetos educativos de capacitação, realização e desenvolvimento dos nossos jovens. Como é sabido, estive ligado à génese das escolas

1) Porque o seu modelo educativo funda-se na aliança dos saberes necessários à vida presente e futura. Aqui não é só a teoria inerte que conta; não é o saber livresco e abstrato que gera o insucesso e o abandono que aqui tem lugar; não é o saber científico desligado da realidade que interessa cultivar; não é o saber técnico e prático desligado da sua fundamentação. Aqui, os saberes coabitam porque todos são necessários para a realização da pessoa, do cidadão e do profissional. 2) Porque a sua prática pedagógica promove o sucesso dos alunos, colocando o sentido da ação em primeiro lugar. Pude ouvir os alunos do 3º ano falar, com um brilho nos olhos, dos coelhos pelos quais são responsáveis; das perdizes que cuidam durante todo o ciclo produtivo; das trutas e das vacas; e também das plantas, dos cogumelos, das meloas (até aprendi a fazer a operação de as “capar”), dos queijos que aprendem a fazer com a necessária ciência e arte. 3) Porque a sua organização curricular termina

com uma Prova de Aptidão Profissional que é a mobilização (ainda que parcial) do conhecimento adquirido. E esta empregabilidade social e pessoal do conhecimento ministrado na escola é um dos operadores mais importantes da inclusão dos alunos nos processos de aprendizagem. 4) Porque a sua inserção territorial faz da escola um bem público valorizado e reconhecido. A sua inscrição material na terra (a escola, pela sua extensão é quase uma grande aldeia…) e as iniciativas que promove com a ativa participação da comunidade faz dela um bem de primeira necessidade. As Vindimas, as Largadas de caça, os Encontros equestres, a Feira de Turismo, as Gincanas de tratores, as Mostras de plantas ornamentais… são alguns dos exemplos de uma escola viva e que promove os valores culturais que fazem a identidade de uma terra. 5) Porque assegura uma vida digna e feliz a duas centenas de alunos que redescobrem o valor e a gratificação do aprender. 6) Porque os alunos aprendem a trabalhar, a produzir, a cuidar, a amar natureza – nossa mãe – e a serem responsáveis por uma atitude ecológica – a única que nos permite a sobrevivência. 7) Porque o saber tem aqui um enorme sabor. E é também esta aliança que marca e faz a diferença. Por tudo isto, esta escola – e de um modo geral todas as escolas profissionais agrícolas – merece uma outra atenção por parte dos poderes públicos. Merece um modelo de direção e gestão que não pode ser a cópia de organizações escolares que não têm nada a ver. Merece um modelo de recrutamento de docentes específico e autónomo que seja capaz de responder com mais eficácia aos grandes desafios de um projeto educativo de valor incalculável.


Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC


Foto: © All Rights Reserved by Flickr member Atilla Kefeli

Eduarda Freitas ra um dia que tinha acordado cedo. Um dia próprio de calendário, como mandam os dias normais. Vestia-se de sol em nuvens, leves espreitares de calor por entre o cinzento da chuva que dispersava. Quando o dia acordou, ainda as casas dormiam. Entre todas havia uma mais adormecida. Era a Casa. A Casa vestida de velho. Tinha paredes tristes, portas a ranger, janelas sem paisagem. Na Casa viviam muitos. Viviam todos os que lá cabiam e todos os outros que existiam em branco. Moviam-se à vez ou de vez em quando todos juntos, numa mesma direcção, em fila indiana, uns atrás dos outros, os passos certos em alinho, que o desalinho não era coisa que se soubesse. Movimentos lentos, pegajosos. Movimentos polidos sem pisar as linhas dos azulejos. Era uma Casa de moleza, com certeza. Quando o sol nascia, a Casa crescia em sombra. Espreguiçava-se em direcção a si própria, esticava-se sem saber chegar a qualquer sitio. Era assim todos os dias. Dias que pareciam sempre o mesmo. Quem lá vivia nascia e morria sem sair da Casa e os que mudavam de compartimen-

to julgavam o mundo grande. O mundo era feito à medida dos passos alinhados, contados entre a cozinha e a casa de banho, entre a sala e o quarto de dormir. As janelas tinham vistas em branco. A velha casa de velhas coisas tinha um velho escritório. Um sitio em jeito de caixa fechada, um coração vestido de pó. No velho escritório só os sonhos que se sonhavam de olhos fechados, conseguiam entrar. Os sonhos que se sonhavam com a cabeça deitada na fronha gasta conseguiam ser leves e invisíveis, próprios para entrar em buracos de fechadura. Era aí, durante esses sonhos sonhados, que o escritório recebia visitas. Os sonhos entravam escondidos pelo noite e acotovelavamse em conversas cantadas. Noite após noite, as cabeças dos Homens vestidos de triste, sonhavam sonhos invisíveis. E os sonhos que saiam dessas cabeças gastas, uniam-se em volta de uma mesa de escritório em vontades só próprias de sonhos. De dia, quando o sol acordava a sombra da Casa, os Homens acordavam os olhos e deitavam os sonhos. De passos certos acendiam as lides da Casa ligeiramente perturbados por não se lembra-

rem dos sonhos que sonhavam. Ligeiramente esquecidos de se lembrarem. Acontece porém, que uma noite os sonhos inventaram de sonhar mais alto. E das fronhas gastas dos Homens tristes, voaram lestos para uma reunião há muito sonhada: o primeiro encontro nacional de sonhos. Sonhou-se alto nessa noite. Se há coisa que não se pode apontar aos sonhos é de eles não saberem voar. Voam sem asas. Os sonhos dessa noite sonharam de escrever os resultados do sonho conjunto. Nos quartos, os Homens dormiam virados para as janelas sem estrelas. No escritório, os sonhos descobriam uma folha livre de um velho livro de História. Era uma folha em branco. Ao princípio, até os sonhos ficaram amedrontados perante a folha vestida de futuro. Era uma folha imaculada. Atrás dela, dezenas de folhas escritas de uma história feita. À frente dela, outras dezenas de folhas numa festa de iniciantes, num bailado de páginas à procura de dedos que as virassem. Os sonhos viram tanta luz que quase cegaram de branco e por pouco não regressaram às cabeças dos Homens em fronhas. Só que o livro estava aberto e a folha esperava a escrita dos sonhos. E as folhas em branco são presenças vivas e inquietantes, até para os sonhos. Então, talvez conscientes que dessa necessidade de dar vida à folha que os aguardava, os sonhos sonhados juntaram-se em dedos meigos e escreveram letra a letra, parágrafo a parágrafo, silêncio a silêncio, o sonho sonhado em tantas noites escuras, em tantas noites escondidas. A página, branca de nascença, foi tomando cores, foi ficando repleta de vida própria de página que se permite escrever. Nos quartos, os Homens acordavam, olhos arregalados, perturbados com a lembrança que lhes faltavam os sonhos. Cabeças vazias. Um a um todos saíram dos quartos. Olhavam-se emudecidos pela ausência descoberta. E em passos desalinhados procuraram os sonhos. Cada qual o seu, cada qual ao seu passo, ao seu ritmo, à sua cadência, cada qual à medida do seu sonho. Encontraram-se à entrada do escritório, coração da Casa. A porta aberta. O livro em cima da secretária. Entraram. Estava escrita uma nova página da História. A seguir, páginas em branco. O sol beijava a Casa. Os olhos dos Homens choviam de mar. Na janela, nascia o Amanhã. Pintado na paisagem.


abril '12

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CP reduz comboios para o Marco

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repórterdomarão

Alpendurada criou marca para os granitos As empresas de extração e transformação de granitos de Alpendurada, no Marco de Canaveses, criaram uma marca própria com o intuito de promover aquela indústria nos mercados da exportação, nomeadamente europeus e asiáticos. Segundo a Confraria do Granito, além de ser uma medida para “lutar contra a crise”, vai permitir que os empresários obtenham mais valias na atividade. “Ter uma imagem corporativa forte nos certames internacionais pode contribuir para um impulso das exportações”, salienta a confraria, que representa cerca de 150 empresários. Cerca de 60 por cento dos granitos extraídos e transformados em Alpendurada destina-se à exportação, sobretudo para a Europa, mas o setor quer alargar os mercados para onde vende. Neste âmbito, insere-se a participação em feiras internacionais, começando por um certame no Qatar, a decorrer entre 29 de Abril e 3 de Maio. Esta actividade extrativa emprega quatro mil pessoas e o volume de negócios anual ultrapassa os 250 milhões de euros.

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A redução de comboios entre o Porto e o Marco de Canaveses está a preocupar os muitos utentes deste meio de transporte, sobretudo aqueles que o usam para as deslocações entre o local de trabalho e a residência. Embora a CP insista que nenhuma decisão está tomada – embora invocando o prejuízo que esta ligação acarreta –, os utentes suspeitam que a operadora ferroviária se prepara para eliminar algumas ligações suburbanas (ou a maioria dos horários) que até agora eram feitas entre os urbanos do Porto (de tração eléctrica), que apenas chegam a Caíde, e a estação do Marco de Canaveses. Esta ligação tem sido feita em locomotivas diesel e obriga os utentes a mudar de comboio.

Manifestação a 22 de abril Para contestar esta intenção da CP, os partidos políticos locais e os utentes decidiram manifestar-se no dia 22 à tarde junto à gare marcuense. Exigem que a CP mantenha as ligações existentes em horários de trabalho e apenas aceitam discutir a eliminação de alguns horários menos concorridos. No mesmo sentido vai o parecer da autarquia. O presidente da Câmara do Marco de Canaveses, Manuel Moreira, citado pela Lusa, refere que vai “lutar até às últimas consequências” para que a CP não acabe com as ligações, em comboio urbano, à estação de Caíde. Segundo o autarca marcuense (eleito pelo PSD, em 2005), se essa medida avançar ficará comprometida a eletrificação da Linha do Douro, no troço entre Caíde (Lousada) e Marco de Canaveses, empreitada prevista desde 1997 mas sucessivamente adiada. No entanto, a crer no plano de investimentos dos próximos anos da REFER, dificilmente a empresa terá condições financeiras para avançar com a obra, pelo menos no atual ciclo político. “Não aceitamos cortes, porque era um sinal negativo para o nosso objetivo central que é a eletrificação”, afirmou Manuel Moreira, que considera aquela intervenção “uma obra estruturante de proximidade”. “Não abdico da eletrificação. Tem que ser feita, custe o que custar. Já chega que esta região seja sempre penalizada, seja no tempo de vacas gordas ou de vacas esqueléticas”, afirmou. Nas reuniões de estudo das medidas de contenção de custos, a CP apresentou um documento de trabalho no qual se refere que a ligação a Caíde tem um défice de 760 mil euros, em que é avaliada a possibilidade de suprimir 15 comboios urbanos naquele troço de linha. A Refer tinha lançado dois concursos em 2009 para a modernização e eletrificação do troço de 15 quilómetros, entre Marco de Canaveses e Caíde, mas as empreitadas nunca chegaram a ser adjudicadas devido ao eclodir da crise económico-financeira. O total das duas empreitadas rondava 70 milhões de euros.

Caixa Geral de Depósitos patrocina

Prémios Gazeta de Jornalismo 2011 Prémio Gazeta de Imprensa

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Prémio Gazeta de Fotojornalismo Prémio Gazeta Revelação

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Prémio Gazeta Imprensa Regional Prémio Gazeta de Mérito

> Troféu

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O prazo limite para entrega de originais termina a 30 de Abril de 2012

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PRESS CLUB


18 abril '12

repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I empresas & crónica

MCoutinho Mercedes-Benz e Smart com novo espaço em Vila Real

Cenários de Envelhecimento Cláudia Moura

ENVELHECIMENTO ATIVO E EMPOWERMENT Efetivamente é importante pensar e compreender o envelhecimento. A expressividade do fenómeno conduz ao importante e legítimo interesse de estudos que procuram compreender a velhice e o envelhecimento.

O Grupo MCoutinho tem-se revelado uma das mais dinâmicas empresas do distrito de Vila Real e continua a apostar no nordeste transmontano. A última novidade foi a mudança das instalações da sua Concessão Mercedes-Benz e Smart para um novo espaço exclusivo que integra o showroom de vendas e uma oficina dedicada a estas duas marcas. Esta unidade que esteve durante 6 anos na Avenida da Europa, encontrou uma nova localização na Rua dos Três Lagares, junto ao Centro de Saúde de Mateus, na cidade de Vila Real. Os seus serviços refletem a preocupação pelo bem-estar dos seus Clientes e esta mudança verifica-se no sentido de melhorar o acolhimento de quem os visita, bem como uma maior e melhor capacidade de resposta nos seus serviços de após-venda. De forma a comunicar esta nova localização, o MCoutinho promoveu um fim-de-semana de portas abertas, que contou com a presença de centenas de clientes que não perderam a oportunidade de conhecer as novas instalações. A opinião foi unânime quanto à escolha do novo local, a mudança foi para melhor. Os clientes referiram o conforto, o amplo espaço e as novas condições das oficinas como os pontos que mais marcam a diferença.

DEIXO-VOS A PENSAR … O problema do envelhecimento adquire, assim, uma dimensão social, resultante das transformações demográficas incutidas nas últimas décadas nas sociedades mais desenvolvidas, as quais conduziram a um progressivo aumento da esperança de vida. Na atualidade, o desafio é promover o envelhecimento ativo. Para tanto, importa pensar no envelhecimento de forma diferente e equacionar novas formas de viver a longevidade e obviamente preservar os princípios da dignidade, da autonomia e da solidariedade. Tal como tenho vindo referir nas reflexões anteriores o envelhecimento humano é algo único, próprio, complexo, dependente de condicionantes biológicas e acontecimentos sociais intrínsecos. Valorizando-se a forma como o indivíduo viveu e como se adaptou, ou não, aos vários acontecimentos. Este assunto, tem conduzido questões ímpares à reflexão, nomeadamente o confronto entre viver mais e a qualidade de viver. Até há algumas décadas atrás, as pessoas idosas eram vistas pela sociedade como um grupo de saber acumulado, sobrevalorizando-as em relação a outros grupos etários, conferindo-lhes um forte poder de decisão.

MCoutinho Motors aposta na BMW em Vila Real

Com a transformação da sociedade, que passa a valorizar a produtividade, o novo e o belo, os idosos tornam-se um grupo particularmente vulnerável à exclusão e são por vezes vítimas de discriminação, de representações sociais e de estereótipos.

Os clientes e apreciadores da marca BMW do distrito de Vila Real têm agora ao seu dispor novas instalações no nordeste transmontano, após a abertura de uma nova concessão da MCoutinho Motors, no passado dia 16 de Abril. Localizadas na Avenida da Europa, as novas instalações BMW dispõem de todas as comodidades para um serviço de vendas e após-venda (BMW Service e Mini Service) de excelência, característica distintiva da marca e do Grupo MCoutinho. O actual investimento em Vila Real é um passo decisivo do Grupo MCoutinho na expansão da marca alemã nesta capital de distrito, “um desejo há muito ambicionado”, conforme referiu na cerimónia de inauguração o presidente do conselho de administração, Sr. Manuel Moreira Coutinho, que assumiu o compromisso de respeitar os valores da marca, agora em Vila Real. O evento contou com a presença de vários membros da BMW Portugal, reuniu ainda várias individualidades, entidades institucionais e representantes da sociedade de Vila Real.

Refira-se que a marca BMW faz parte do portefólio de marcas comercializadas pelo Grupo MCoutinho desde Julho de 2009, com a abertura de uma concessão no distrito de Bragança. Assim, numa época de contração económica o Grupo MCoutinho continua a destacar-se pelo seu dinamismo comercial tendo um grande orgulho em representar marcas como a BMW, onde a aposta é, sem dúvida, a excelência.

Ilustrativamente, se o idoso tem uma aparência saudável é classificado como jovem, quando associado a uma vida social intensa é independente, mas se, ao contrário, possui uma aparência tida como frágil carrega a imagem de que é fisicamente dependente. A imagem que a sociedade tem acerca dos idosos e o papel que lhes atribui na teia social, determina muitas vezes a forma como envelhecem, condicionando-lhes o campo de ação. Dito isto, é substancial proporcionar a mudança de mentalidades. Porém, é necessário para além da mudança de mentalidades, alterar também os comportamentos, a começar nas esferas sociais. Diante da longevidade é imperioso desenvolver programas, que sejam coerentes com o modelo a intervir, assumindo os compromissos com a autonomia e empowerment, bem como as suas implicações junto desta população. Para que tal aconteça é preciso dinamizar a participação ativa das pessoas idosas nas esferas, família e sociedade. É necessário fazer compreender às pessoas idosas que a sua vida não está esgotada, mas pelo contrário, ainda pode contribuir em muito ao nível do acompanhamento aos mais novos, trabalho voluntário e prática de exercício físico adequados à idade. A promoção do envelhecimento ativo é um dos princípios estratégicos promovidos pela Organização Mundial de Saúde para uma nova perspetiva de desenvolvimento social. Prevenir e minimizar o impacto das causas das principais doenças relacionadas com os estilos de vida é a grande prioridade para esta intervenção de promoção de saúde. Um novo modo de envelhecer é estimulado, procurando demonstrar que é possível ter um envelhecimento adequado e bemsucedido através da adoção do novo estilo de vida na velhice. claudiamoura@portugalmail.pt Professora Universitária e Investigadora na área da Gerontologia.

[INFO COMERCIAL: Informação disponibilizada pelas marcas]

[A seu pedido, alguns colaboradores escrevem de acordo com a antiga ortografia]


abril '12

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Urgência de Vila Real abre remodelada A urgência de Vila Real reabre até ao final do mês, depois de obras de modernização e de ampliação. Segundo o presidente do CA do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), Carlos Vaz, o objetivo foi "aumentar a capacidade e a qualidade do atendimento às populações". A nova urgência pediátrica e a unidade de neonatologia entrarão também em funcionamento. A CHTMAD integra, para além de Vila Real, os hospitais de Lamego, Peso da Régua e Chaves, onde a urgência médico-cirúrgica foi também remodelada.

Termas de Chaves com descontos

repórterdomarão

Rui Veloso e Áurea na Semana Académica de Vila Real A semana académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), decorrerá até ao dia 25 de abril, no mesmo local dos últimos anos (ao lado da biblioteca municipal). A organização, a cargo da AAUTAD (Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), espera receber cerca de 3 mil e 500 pessoas por noite num evento que marca o fim de uma etapa para muitos finalistas . Além dos famosos concertos de ban-

das do top musical, haverá também animação com vários DJ’s, Bandas de Garagem, a Missa da benção das pastas (dia 21), o Baile Académico (22), o Rally das Tascas (23). Rui Veloso, Expensive Soul, Mónica Ferraz, Áurea e Quim Barreiros são os principais artistas dos concertos deste ano da Semana Académica da UTAD. O Cortejo Académico (no dia 25) encerra uma semana emblemática para os milhares de estudantes da UTAD.

A Eurocidade Chaves-Verín promove a 9ª edição do Programa de Termalismo Sénior entre 24 de abril e 8 de maio. Este evento permite que os habitantes das duas cidades (maiores de 50 anos) utilizem as Termas de Chaves para os tratamentos, com descontos que atingem 50% sobre o preço base. Cada participante terá direito à consulta do médico e do acompanhamento de enfermagem bem como todo o material necessário para aceder aos tratamentos. As inscrições estão abertas no Gabinete de Apoio Técnico da Eurocidade em Verín e nas Termas de Chaves - Spa do Imperador.

Hospital de Lamego abre em breve O hospital de proximidade de Lamego deverá entrar em funcionamento nas próximas semanas, apesar de as obras, que estão em fase de conclusão, terem sofrido alguns atrasos. Com este novo hospital, fica concluído um ciclo de obras de remodelação do Centro Hospital de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) que teve um investimento superior a 100 milhões de euros. Esta unidade de Lamego é um projeto inovador na qual pretende reduzir o impacto do internamento na vida dos doentes e das suas famílias. Grande parte da cirurgia de ambulatório de todo o CHTMAD estará centralizada neste hospital que prestará cuidados a cerca de cem mil habitantes dos dez concelhos do Douro Sul. A nova unidade irá contar com 14 especialidades médicas e médico-cirúrgicas, três blocos operatórios para cirurgias de ambulatório, um hospital de dia, urgência básica e 30 camas de cuidados continuados.

Semana Académica anima Bragança A comunidade estudantil da cidade de Bragança participa em mais uma Semana Académica entre 24 a 30 de abril. Organizado pela Associação Académica de Bragança (AAIPB), o evento decorrerá no Pavilhão do Nerba. O cartaz para este ano promete muita animação, em que se destacam os concertos de Boss AC, Quim Barreiros, Xutos e Pontapés e Bruraka Som Sistema. A Monumental Serenata abre o primeiro dia, a Missa de benção das pastas realiza-se a 28 e a Garraiada Académica a 29 de abril.

PROMOTORES:

EMPRESAS PARTICIPANTES:

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PATROCINADORES:

COLABORADORES:


20 abril '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

opinião

OBRAS DE DESTRUIÇÃO MACIÇA Regeneração quer dizer regenerar. Regenerar quer dizer reabilitar, reorganizar, restaurar, melhorar. Levado à letra é assim. Na prática nem assim nem assado. Pelo menos em Penafiel, o acto de regenerar, configura-se num acto de mudar. E mudar é diferente de restaurar, de melhorar, de recuperar. Penafiel assiste hoje não a uma regeneração, mas a uma revolução da sua imagem. Desde o início que digo que esta regeneração tem pontos positivos e negativos. Mas os pontos negativos são bem maiores que os positivos. E não é com pontos negativos que se ganham campeonatos. Penafiel necessitava de facto de uma regeneração. Mas não esta que está a decorrer. Penafiel precisava de melhorar a sua mobilidade fazendo da sua cidade uma cidade para todos, uma cidade mais inclusiva. Necessitava de justificar umas quantas bandeiras que foi recebendo adiantadamente. Penafiel precisava de recuperar a sua zona histórica que se está a degradar a cada dia que passa. Penafiel necessitava de algumas correcções e não de algumas surrealistas invenções. A construção de pontes, estações, quiosques, postos de turismo, constrangimentos das ruas, são páginas de vaidade que Penafiel não necessitava de ver acrescentadas no seu livro de história. Mas o maior crime que está a ser perpetrado na cidade é a substituição da calçada portuguesa por blocos de cinzento granito nos passeios. Isto são obras de destruição maciça, engendradas num laboratório de ideias, que Penafiel se tornou. Parece que Penafiel está a servir de cobaia, por mãos que não sabem e não têm a mínima ideia do que é ser cidadão de Penafiel. Não é este o rosto da nossa gente.

Ninguém tem o direito de estragar o que está bem feito. Penafiel está a ser bombardeada por bombas de granito. E os estragos estão à vista. Há quem se esfarrape todo justificando que assim estamos a dar emprego a muita gente e a contribuir para a manutenção de algumas empresas da indústria de extracção. Argumento que só convence os distraídos com bola e telenovelas. Porque nessa ordem de ideias, se é para manter postos de trabalho ou tirar pessoas do desemprego, porque razão não constroem um Cine-Teatro de Penafiel? Porque não constroem um bom Lar de Idosos, já que para entrar Fernando Beça Moreira para o lar da Santa Penafiel Casa de Misericórdia era preciso ser rico (eu disse, era, porque com a nova direcção quero acreditar que algo esteja a mudar). Porque não constroem um novo cemitério, já que o actual está a rebentar pelas costuras? Porque não constroem uma galeria de arte, já que as exposições temporárias que têm acontecido em Penafiel, são feitas em locais impróprios. Porque não recuperam o casario envelhecido que, ao mais pequeno sopro pode vir abaixo? As Ruas Direita e do Carmo,

por exemplo, depois das obras concluídas, vão assemelhar-se a corredores lindamente alcatifados, mas com as paredes a deixar entrar o sol pelas friestas. Argumentos falaciosos, são o que são. Como são falaciosos os argumentos de que os oito milhões de euros que vieram dos fundos comunitários, só devem ser usados nas obras que se estão a fazer. Ora muito obrigados pela informação. Toda a gente sabe que é assim. Então se a Câmara se candidatou aos fundos para determinado fim e o fim é este que está à vista, para onde queriam que o dinheiro fosse? Para fazer uma regeneração urbana digna desse nome não era necessário recorrer a tantos milhões europeus. É que os oito milhões que estão a voar nesta história também vêm dos bolsos dos contribuintes. De onde é que pensam que o “graveto” vem? É muito dinheiro muito mal gasto. Sabendo nós, portugueses e europeus que há milhões de cidadãos que não têm propriamente o rendimento de um tal Mexia. Penafiel merecia melhor sorte.... Para terminar, tiro o meu chapéu, ao edifício que foi construído no local do antigo cinema. Ficou igual ao antigo Cine-Teatro S. Martinho. Respeitaram a traça anterior. Está bonito. É pena não incluir uma sala de espectáculos, de que Penafiel carece há vinte e cinco anos. Sabem porque razão este edifício ficou espectacular? Porque não tem o dedo do executivo camarário penafidelense. Basta olhar para o antigo Magistério...

Em vez de um acordo ortográfico precisamos de um novo dicionário Já tenho saudades de escrever coisas agradáveis e temas positivos mas, sempre que surge um em que apetece pegar, coisa cada vez mais rara, logo um sem número de outros o abafam e obrigam a esquecer. Saudades que aumentam outras do tempo em que as palavras tinham um significado preciso e objectivo, não careciam de enquadramento, eram assertivas e não desmentidas, corrigidas, interpretadas ou contextualizadas mal acabavam de ser ditas, e por aí adiante. Mentira agora é lapso, enquanto promessa passou a ser apenas desejo do que se poderia ou não fazer, sendo esta a hipótese mais certa se for em benefício da Nação, pois na negativa a «elite» fica de fora. Tudo depende da “conjuntura”. Soberania? Foi um ar que lhe deu. Num dia lamenta-se o exagero e continuidade da subida dos combustíveis, mas logo se acrescenta que nada se pode fazer pois são regras do «mercado», (sabendo nós que mais de metade do preço é imposto), para logo a seguir se apregoar a baixa de preço dos remédios, e que se não houver para tal um acordo nas negociações que ainda decorriam se fixavam os preços administrativamente... Mercado para onde foste?... Economia o que é?... É interessante ver um dizer que é branco para logo outro corrigir a dizer que é preto, e um terceiro a contextualizar a emenda aos dois dizendo que se esqueceram da mistura para dar cinzento. Acabamos por ficar todos amarelos de pasmo. Quem reage? E que adianta se nada é decidido cá? [A seu pedido, alguns colaboradores escrevem de acordo com a antiga ortografia]

Noutro registo foi sempre escapatória nas viagens de Estado ao estrangeiro não responder ou comentar matérias nacionais. Aceitava-se se tal acontecesse no regresso. Mas era mesmo para esquecer pois bem se sabe que atrás Armando Miro de uma outra virá Jornalista para a obliterar ou secundarizar. Ao contrário, agora aproveitam-se as viagens para justificar lá fora o que se escondeu cá dentro, e até se dão grandes entrevistas televisivas a partir de lá com recados para cá. Fica sempre em aberto fugir aos temas no regresso dizendo que já se respondeu caso não haja o efeito desejado ou o esquecimento. Qual o significado de «imagem precipitada» que teríamos se, como diz o 1.º, retomássemos em 2014 os dois meses de vencimento que fazem parte da retribuição que, por direito, auferem funcionários públicos e pensionistas? Eram (só) dois anos, como anunciaram no esmifrar a meia retribuição do ano passado. Afinal, e porque, como descobriu o mestre financeiro, 2014 vem na sequência de 2013, e as-

sim sucessivamente, a retoma será depois de 2015, aos bochechos e se der para tal, e por transferência bancária “post morten” para o BPN (Banco Português do Necrotério). Só nos preocupa esta imagem? E que imagem darão com os trillers políticos que rodam dia a dia? Só a questão dos dadores de sangue e das taxas moderadoras, em paralelo com o transporte de doentes, ilustram bem o que é a “magnanimidade” governamental. Mal se pensa em tirar ou cobrar algo, desde que seja da classe média para baixo, é um ver se te avias. Verificado, mas não admitido o erro, corrige-se. Mas, tal como a CS logo relata, não houve erro ou redução mas sim um aumento, remodelação e correcção. Aliás, sempre que se equacionam estas questões introduzindo o calendário, percebe-se bem melhor o desejado efeito eleitoral. Mesmo o novo imposto ao super mercados, que acaba por cair no consumidor, foi apresentado com uma justificação e candura que mais parecia o Zé do Telhado que diziam tirar aos ricos para dar aos pobres. Realce ainda para o mais alto (1 metro e quanto?) magistrado da Nação que, segundo a Comunicação Social (CS), finalmente acedeu a falar-lhe e responder a muitas questões. Eram muitas sim senhor, e a todas nada disse a não ser que não podia falar como economista, que promulgar não significa concordar (o que significará afinal?), que como PR não lhe compete comentar nem divulgar, etc. etc. etc. Depois a cereja no bolo (CS onde andas?): Que não voltava a falar das suas reformas porque se tem dito tanta mentira sobre isso que decidiu por um ponto final no assunto. Não haja qualquer dúvida: transparente e esclarecedor.



22 abril '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

crónica & artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

A.M.PIRES CABRAL

DESACERTO Tenho um carinho muito especial pela vila de Mogadouro. Fui lá a primeira vez, teria talvez os meus dez anos, levado por pessoas amigas. Era na festa da Senhora do Caminho. Lembro-me de quase nada, salvo o fogo de artifício e as tendas no grande largo fronteiro à capela. De resto, muita gente, muita poeira e o jantar em casa não sei de quem. Não me lembro de mais nada. Mas isso foi o suficiente para criar em mim laços de simpatia e ternura por aquela terra que até hoje ainda não foram desatados. No colégio que frequentei em Macedo de Cavaleiros estudavam inúmeros alunos oriundos das aldeias de Mogadouro (onde à época, suponho, não devia haver ensino secundário), e de quase todos era amigo, porque eram gente boa, companheira, leal. Hoje, quando me apetece ir a Mogadouro, não escolho o dia da festa, porque as festas são todas iguais em toda a parte e muitíssimo monótonas. Prefiro ir aí por Maio, se o tempo anda de feição, e extasiar-me do morro onde está o que resta do Castelo com a vista daqueles trigais que têm alguma coisa de alentejano. (Entre parênteses: e me recordam o tempo em que o meu concelho era também assim um mar de searas verdes a ondular ao vento, lembrando rebanhos a subir uma encosta sem sair do sítio. O meu concelho hoje é mais escasso de searas do que o Sahara de nascentes de água. E teve ele em tempos o epíteto de ‘concelho de fouce’! Onde isso vai! Fim de parênteses, lágrima enxugada.) Nas imediações do alto do Castelo, há ainda muitos e variados elementos históricos e patrimoniais que gosto de rever. E tenho um fraquinho muito especial pela pietá de pedra-mármore que se encontra num nicho sobre o portal da Igreja da Misericórdia. Outro motivo que me aproxima de Mogadouro é, sem dúvida, o ter sido a pátria de um dos mais amáveis e discretos e cândidos escritores portugueses de todos os tempos: Trindade Coelho. Gosto sempre de respirar o mesmo ar que respiraram escritores e artistas que aprecio, ver os mesmos horizontes que eles viram, e acho que o meu espírito se consegue encontrar com o dele nas

vizinhanças do convento de S. Francisco e no alto do Castelo, olhando as tais searas e as serras longínquas a cerrar os horizontes. Fantasias de quem se afez a valorizar as coisas do espírito mais do que as da matéria. Precisamente, a vila de Mogadouro parece ter despertado para a figura do seu contista exemplar, e sucedem-se as iniciativas relacionadas com ele: publicações, colóquios, conferências, exposições. Bem anda a Câmara Municipal em preservar a memória do mais ilustre dos filhos da terra. Justamente integrado nesta louvável linha de acção cultural, decorre até Dezembro deste ano o prazo para apresentar trabalhos a um concurso de poesia chamado En(Canto) dos Poetas. Até aqui tudo bem. Saúdo vivamente a iniciativa. Mas há um senãozinho que me indispõe, velho rabugento que sou e já não mudo. E – até em razão da minha sincera estima por Mogadouro – não posso calar esse senão. Que é este: o artigo 3.º do regulamento impõe que os trabalhos a concurso estejam obrigatoriamente «de acordo com o Novo Acordo Ortográfico». Parece que para as bandas de Mogadouro se ignora que o nefando acordo ortográfico só entra plenamente em vigor (se chegar a entrar, do que Deus nos defenda) em 2015, e que esta abstrusa norma do regulamento exclui aqueles que, com toda a razão e legitimidade, não se rendem ao abrasileiramento e preferem escrever de acordo com a ortografia que sempre usaram e sempre lhes serviu muito bem. Pode a norma não ser anticonstitucional (do que duvido, pois a Constituição é severa contra toda a discriminação) — mas que ofende gravemente a liberdade dos poetas, isso ofende. Sinceramente, a vida cultural mogadourense não merecia um desacerto daqueles.

Júlio Pomar Pintor 2012

Menção Honrosa no XIV PortoCartoon 2012

O OLHAR DE... Eduardo Pinto

1933-2009 Sem título Amarante - Anos 70

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Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

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Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: José Carlos Pereira, Cláudia Moura, Alberto Santos, José Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, Armando Miro, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo.

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abril '12

diversos | crónica

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II Encontro Equestre na Escola de Agricultura A Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Marco de Canaveses (EPAMAC) organiza a 20 de Maio, o II Encontro Equestre EPAMAC, uma actividade inserida no currículo de alguns alunos do estabelecimento de ensino. "É uma actividade inovadora e que pretende manter uma forte dinâmica no seio da própria escola, propícia ao funcionamento do curso Técnico de Gestão Equína", refere fonte da Escola. Segundo a EPAMAC, "este encontro, que nasceu da vontade da Escola e dos seus professores e alunos de corresponder às necessidades e dinâmicas sócioculturais do seu território de intervenção, permite o encontro entre os aficionados dos cavalos e as muitas empresas do concelho e região que trabalham nesta área". Além disso, a Escola "cumpre uma função de ser local de dinamização de encontros entre a Comunidade Local e as suas empresas e instituições, num ambiente descontraído, em que os seus alunos, sob coordenação dos professores, organizam eventos e desenvolvem as suas competências técnicas, profissionais e cívicas".

Exposição de pintura em Fafe A Galeria Municipal de Fafe apresenta até ao fim do mês uma exposição de pintura de Alfredo Barros, que foi vereador da Cultura e Educação da Câmara de Matosinhos e é atualmente o presidente da Assembleia Municipal. Licenciado pela Escola de Belas Artes do Porto, Alfredo Barros é docente na Escola Superior de Arte e Design, em Matosinhos. Participou em diversas exposições individuais e coletivas no país e no estrangeiro. Já obteve alguns prémios nacionais e internacionais. Está a concluir um painel de azulejos (75m x 5m) alusivo aos matosinhenses vítimas de naufrágio de 1945 e da Guerra Colonial. É também ilustrador de livros infantis e didáticos para várias editoras.

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repórterdomarão

António Mota

Eugénia e Francisco Agora, com este setenta e cinco que me carregam os costados, e os setenta e um da minha Eugénia, esperámos que as horas passem, que os dias sejam levezinhos e as noites não se me tornem longas e difíceis de roer. E como eu detesto as noites em claro. Estamos ali deitados de olhos fechados a ver passar o filme da nossa vida de trás para a frente, de frente para trás, acompanhados com a música dos bichos da madeira e o ressonar de passarinho da companheira. Por vezes quero que o filme pare, porque preciso de ver com nitidez certas imagens, mas nem sempre consigo, e isso deixa-me angustiado. Há muito tempo que quero lembrar-me do rosto do meu pai, quero ver os olhos de minha mãe, que eram tão azuis, tão serenos, e não consigo. Já não vejo a minha mãe há trinta e dois anos, e ainda hoje me faz tanta falta. Registe: a memória é traidora e mentirosa. Não confie na memória, que tudo distorce, tudo manipula. Também me custou ver mãos alheias tratando-me da limpeza das intimidades do meu corpo, quando deixei de poder andar e este braço direito começou a rir-se e a fazer greve ao que eu lhe pedia. Foi ruim, muito ruim esse tempo. Ruim é uma palavra estranha, hoje já pouca gente usa. Até as palavras têm prazo de validade. Custou-me ver-me assim tão indefeso, habituado a ser tão senhor de mim. Escanhoado na perfeição e vestido decentemente sempre que saía de casa, sem esquecer os sapatos bem engraxados. A minha mãe dizia: se queres saber se uma pessoa é organizada, repara na limpeza dos sapatos que ela calça. Experimente o exercício, e vai ver que a minha mãe tinha razão. Pois é: o sapato é pormenor importantíssimo. A minha mãe chamava-se Eva. Se eu tivesse uma filha punha-lhe o nome da avó. Só tenho um rapaz, coitado, tem tido uma vida complicada. Vai na terceira e parece que ainda não está satisfeito. Agora, já estou melhor, pelo menos mexo-me. Ando deva-

garinho, uma perna pede licença à outra para se levantar, quase arrasto os pés, mas ando. Canso-me muito, mas logo pela manhã, faço o meu pequeno-almoço e o da Eugénia, e depois de cada um ter engolido a sua ração matinal de pastilhas, saio de casa. Canso-me muito, mas faço questão de ir sozinho comprar o jornal. Não é pelas notícias que vou comprar o jornal, isso já não me interessa. Mais facada, menos facada, mais desastre, menos desastre, mais morte, menos morte, mais mentiroso, menos mentiroso, o jornal não me espanta. Os homens não mudam nem querem mudar. Vou comprar o jornal para ter uma oportunidade de sair de casa e ver a gente nova a bulir, os velhos conhecidos a levantarem os braços, a acenaram com a mão, perguntando pela Eugénia. Gosto de ir comprar o jornal, porque falo com este e com aquele. É uma conversa de chacha, eu sei. Fala-se do sol que há-de vir, da chuva que não pára, do furacão que passou numa cidade dos Estados Unidos e levou pelo ar, como se fossem penas de passarinhos, camiões imensos, e telhados inteiros. Fala-se do futebol e dos árbitros, e dos golos que não o chegaram a ser, mas que podiam ter sido se a sorte quisesse, mas não quis. Fala-se do Manuel que foi enganado por uma menina carinhosa, e do João que quer ser presidente disto ou daquilo. Fala-se do centro de saúde, das taxas moderadoras, da conta da farmácia, e do sacana do Zé, que não aguentou ser viúvo mais que dois meses, e já está a viver com uma senhora que respondeu ao anúncio que ele pôs no jornal. Vou comprar o jornal, porque naquele curto espaço de tempo, a minha vida volta a ter sentido, e eu esqueço que tenho de fazer companhia permanente a uma mulher que só tem a metade esquerda do corpo a funcionar enquanto não aparece a vaga no lar. Doce Repouso, é o nome do lar, dizem que é muito bom, cada quarto só tem duas camas.

anttoniomotta@gmail.com



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