Repórter do Marão

Page 1

repórterdomarão Prémio GAZETA

do Tâmega e Sousa ao Nordeste

J U N H O ’ 12

Intercâmbio luso-brasileiro tem forte impacto económico na UTAD e no comércio da cidade de Vila Real

Nº 1264 | junho ' 12 | Ano 29 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. OFERECEMOS LEITURA.

Desde julho de 2006, quase 700 alunos brasileiros já frequentaram mestrados e doutoramentos ao abrigo do intercâmbio luso-brasileiro entre a UTAD e diversas universidades do Brasil. A presença anual desta comunidade estudantil em Vila Real traduzse, também, em inegáveis benefícios para a economia local (cerca de meio milhão de euros) e para a universidade, com a receita das propinas a atingir 2,5 milhões de euros.

Escola do Politécnico de Bragança na final de concurso de eficiência energética

Fecho de tribunais provoca revolta nos municípios do interior do país

Jovens vedetas da televisão enfrentam a falta de trabalho e um futuro de incerteza


Intercâmbio luso-brasileiro tem  Brasileiros gastam mais de meio milhão de euros na cidade de Vila Real Todos os Verões, cruzam o Atlântico e rumam a Vila Real. Não vêm à procura de calor nem de férias por estas paragens. A cruzada faz-se em nome de um grau académico superior, sob a chancela da academia transmontana. Desde 2006, cerca de 670 alunos brasileiros já frequentaram diferentes cursos ao abrigo do programa Luso-Brasileiro de PósGraduação da Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro (UTAD). A presença desta comunidade estudantil em Vila Real traduz-se, também, em inegáveis benefícios para a economia local.

Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | Marta Sousa, UTAD e D.R.

No próximo mês, os portões da UTAD abrem-se para receber 240 alunos vindos de universidades brasileiras, sedentos de adquirir novos conhecimentos no continente europeu. A maioria frequenta mestrados (75%) e os restantes optam pelo doutoramento. Os cursos são “formatados na exata medida das suas possibilidades e disponibilidades”. “Os alunos aproveitam as suas férias profissionais no Brasil e, durante cinco semanas, fazem a parte curricular correspondente à parte regular em Portugal”, explica o coordenador do programa, António Silva. A formação concentrada é, de facto, o principal trunfo deste programa, cujas aulas decorrem entre as 8h e as 22h, de segunda a sexta. Durante o ano, em solo brasileiro, os estudantes são acompanhados por coorientadores. “O objetivo é serem-lhes dadas bases curriculares para estarem aptos a fazerem uma dissertação científica. É o título que lhes interessa porque é com ele que, depois, vão ter as vantagens inerentes à sua promoção profissional nas universidades ou nas empresas”, sublinha. Os mestrandos deslocam-se a Vila Real durante três anos, já os doutorandos fazem, pelo menos, cinco viagens. O pró-reitor para o Desenvolvimento e Inter-

nacionalização evoca “outra vantagem adicional”. “Um aluno brasileiro que vem para território nacional está na Europa. Numa hora de avião, está em Barcelona, Madrid, Londres, Paris, Amesterdão ou Bruxelas. Tentamos concentrar todas as atividades letivas de segunda a sexta, porque os alunos utilizam o fim de semana para conhecer Portugal [e eventualmente a Europa].” Outro pilar deste programa é a facilidade de comunicação e compreensão, inerente aos falantes da mesma língua. “Para o brasileiro, o domínio da língua inglesa não é muito desenvolvido, logo é fundamental falar português”, afirma António Silva.

Intercâmbio de capacitação científica Uma das pretensões do programa Luso-Brasileiro de Pós-Graduação da UTAD é a capacitação científica de docentes do Ensino Superior de universidades brasileiras, utilizando “a mais-valia que é o ensino universitário em Portugal, a capacidade que o sistema científico-tecnológico tem e as competências específicas da UTAD”. “Por outro lado, tem como objetivo abrir possi-


forte impacto económico  Propinas de mestrados e doutoramentos rendem 2,5 milhões de euros bilidades de intercâmbio e cooperação internacional com países da lusofonia, neste caso com o Brasil, havendo captação de massa crítica dessas pessoas para a universidade”, salienta o pró-reitor. A origem do programa remonta ao ano de 2006, quando num congresso em São Paulo [Brasil], António Silva se cruzou com um docente da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes (localizada na região norte de Minas Gerais). “A partir daí, estudámos a possibilidade de fazer um protocolo entre as universidades do norte de Minas Gerais e a UTAD.” Nesse mesmo ano, uma turma de 25 alunos veio frequentar um mestrado em Educação Física e Desporto Escolar. O programa arrancou só com mestrado, mas no ano seguinte abriu-se a possibilidade dos alunos frequentarem doutoramento e outros cursos de pós-graduação. Seguiu-se o estabelecimento de protocolos com outras universidades estaduais e federais brasileiras, “porque a demanda e exigência eram muitas”. “Disponibilizámos editais específicos para o Brasil e os alunos têm vindo a aderir de uma forma massiva. Todos os anos, temos cada vez mais alunos”, acrescenta António Silva.

A oferta formativa é diversificada, mas a maior procura regista-se nas Ciências da Saúde (gerontologia), Desporto, Educação e Gestão (autárquica, de serviços de saúde). “Num segundo nível, temos cursos de Engenharia do Ambiente, Genética Molecular e cursos de Cultura e Língua Portuguesa”, revela o pró-reitor. São necessários, no mínimo, dez alunos inscritos e a taxa de aproveitamento é “muito idêntica à dos cursos abertos no âmbito regular”, ou seja, ronda os 60 a 70%. Os cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento são, posteriormente, revalidados em território brasileiro sem “qualquer tipo de problema”.

Encaixes financeiros O valor da propina para alunos de mestrado é de 2000 euros/ano, o dobro da propina nacional, enquanto que a dos doutoramentos está fixada em 7500 euros. Estas receitas são de crucial importância para o financiamento da academia transmontana, principalmente na atual conjuntura. “Por ano, 2,5 milhões de euros de propinas representa um peso de 30% no orçamento anual da UTAD”, observa António Silva. A presença desta comunidade estudan-

til em Vila Real traduz-se, também, em inegáveis benefícios para a economia local. Um mestrando brasileiro iniciou, em 2010, um estudo sobre a influência do programa na economia do município, concluindo que “cada aluno brasileiro, para além da propina, gasta cerca de 1400 a 1500 euros/mês”. “Estamos a falar de uma retenção local de cerca de 500 a 600 mil euros”, reforça o pró-reitor. No documento lê-se que os gastos mínimos de um aluno superam os 500 euros, sendo que 77% dos inquiridos gasta acima dos 1100 euros. As despesas vão desde alimentação, alojamento, transporte, diversão e programas culturais. Constata-se que o programa é “um fator de equilíbrio financeiro para a cidade”, pois acontece em julho, quando os alunos matriculados regularmente na UTAD estão em período de férias, e regressam às suas cidades de origem. "O programa Luso-Brasileiro injeta uma quantia superior a 240 mil euros na circulação da região, atingindo de forma positiva o comércio e o intercâmbio cultural entre brasileiros e portugueses", refere o estudo, salvaguardando-se, no entanto, que estes valores são variáveis em função do número de alunos que se inscreve a cada ano.


Professores viram alunos A cada ano, a UTAD recebe, em média, 170 a 240 alunos brasileiros, que têm como prioridade investir na sua formação e que valorizam muito o facto de Portugal ser “a porta de abertura para a Europa”. O perfil do estudante brasileiro que vem frequentar a academia transmontana é “muito heterogéneo”. “Vêm de diferentes estados brasileiros, têm entre 24 a 60 anos e os interesses são muito específicos, relacionados com a área de especialidade em que querem fazer a sua formação pós-graduada”, refere António Silva. Metade do universo destes estudantes é oriunda de Minas Gerais, talvez por ter sido a cidade-berço do programa, e cerca de 75% são docentes em universidades federais e estaduais do Brasil. É o caso de Giovanni da Silva Novaes, 49 anos, que está prestes a concluir o doutoramento em Ciências do Desporto. O novo grau académico representa uma mais-valia na sua formação como investigador e será útil para “prestar concursos públicos no Brasil”. Giovanni matriculou-se na UTAD por causa do “alto nível dos docentes, das instalações e dos equipamentos/laboratórios”. “Gostei muito de Vila Real e não poderia ter tido melhor experiência, além dos amigos que fiz e de conhecer melhor Portugal, a sua cultura, as suas terras e a sua gente”, sublinha. Zaclis Veiga, 46 anos, viajou de Curitiba para frequentar o doutoramento em Comunicação, contudo, a experiência não foi além de um ano porque o “tema e o interesse da pesquisa adequaram-se melhor noutra universidade”. Ainda assim, a vivência foi “marcante”, quer em termos académicos, quer sociais. “Os professores são comprometidos. A universidade é bastante organizada (incluo nisso a residência dos estudantes). Fui muito bem recebida pelos funcionários e pela população que sempre diziam: «ah! Você faz parte dos estudantes brasileiros...» A cidade é linda, o que ajuda muito na adaptação”, destaca. Quando procurava um doutoramento na Europa, através da Internet, Zaclis deparou-se com a oferta for-

Giovanni Moraes

Zaclis Veiga

António Silva, pró-reitor da UTAD responsável pelo programa de intercâmbio luso-brasileiro

mativa da UTAD e foi essa a sua primeira escolha por se ajustar melhor às suas necessidades no momento. “Já tinha conhecimento da excelente produção académica portuguesa por meio da participação em congressos luso-brasileiros. Isso certificou a minha escolha. A facilidade de fazer em módulos que se encaixam num mês também me chamou a atenção. Como eu tinha que conciliar o trabalho com estudos, esse sistema foi excelente, já que fazia o mês de estudos em Portugal no meu período de férias.” Para a jornalista e coordenadora de cursos de jornalismo, o doutoramento “abre portas no Brasil e amplia o conhecimento”. Mestre em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, Ricardo Macedo é agora doutorando em Gestão, Marketing e Inovação

Ricardo Macedo

na UTAD. Teve conhecimento do programa através de Zaclis. “Os contactos que estou fazendo estão valendo a pena. Não tem uma oportunidade assim no Brasil. Aqui, só são valorizados trabalhos teóricos e de pouca aplicabilidade”, refere. A decisão de se matricular foi consequência de uma “vontade antiga” de estudar no exterior, corroborada pela facilidade da língua e pelo custo. “No Brasil, o valor é, às vezes, mais alto”, sublinha. Para o web designer, professor universitário e coordenador-adjunto no curso de Publicidade e Propaganda, tem sido “uma experiência muito rica pela convivência com meus colegas brasileiros, principalmente do Sul, e portugueses”. O programa Luso-Brasileiro de Pós-Graduação da UTAD já serviu também de passaporte para que ex-alunos permanecessem em solo luso. “Alguns casaram e têm atividade profissional na região e no País”, relata o coordenador. Foi através do orientador de licenciatura, ainda no Rio de Janeiro, que Diogo Roberto de Oliveira, 29 anos, soube do programa. O interesse de viver noutro país e experimentar novas culturas levou-o a frequentar o mestrado de Ciências do Desporto. “É realmente uma experiência única, não só um aprendizado académico, mas também de caráter pessoal enorme. Vila Real é uma cidade maravilhosa, assim como toda região de Trás-os-Montes.” Depois de concluir o mestrado, Diogo fixou-se na capital de distrito, onde trabalhou no agrupamento de escolas Diogo Cão e num ginásio da cidade. “Entretanto, estou retornando definitivamente para o Brasil no próximo mês”, revela. Na bagagem, carrega o título de mestre numa instituição europeia, o que é “um diferencial, uma grande mais-valia para qualquer profissional”. “Uma experiência académica a nível europeu abre não somente novas portas em termos profissionais, como também amplia nossos horizontes”, conclui o docente.

Diogo Oliveira



'Artista em Portugal tem uma vida de incerteza' Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.com | Fotos D.R.

Aos 26 anos a atriz Joana Alvarenga diz-se uma “rapariga simples, sonhadora e lutadora” mas pelo seu percurso já foi Renata em Morangos com Açucar (TVI), Lisa em Rebelde Way (SIC) e até esteve perdida numa ilha do pacífico. Cinco anos depois de chegar aos ecrãs, a também manequim fez uma pausa na carreira para “analisar o percurso e apontar um caminho para o futuro”, para além de ter decidido investir numa loja de artigos de desporto. É que, por mais glamourosa que possa parecer a representação, esta é uma profissão que “não dá estabilidade” sendo necessário “encontrar soluções”.

As séries “O meu percurso foi como o de tantos outros jovens que sonham ser atores e lutam por isso”, começa por contar Joana Alvarenga em entrevista ao Repórter do Marão. O início foi como manequim de uma agência de modelos e após alguns anos de moda surgiu o convite para realizar um workshop de representação e um casting para a série “Morangos com Açúcar” da TVI. Acabou por ser selecionada e foi então que decidiu mudar “a vida toda”, deixar a cidade do Porto, a universidade e a família e “ir atrás de um futuro” que a realizasse e preenchesse. “Desde então foram

surgindo convites até aos dias de hoje”, lembra a atriz. Depois dos ‘Morangos’ veio a ‘Rebelde’, “séries que fazem parte da vida dos adolescentes” e com as quais “muitos jovens se identificam bastante” até porque “as personagens contam histórias semelhantes” à vida real. Realidade, essa, transmitida “sempre com o objetivo de se passar uma mensagem”, salienta. É por isso que para Joana os atores das séries juvenis são “considerados verdadeiros exemplos a seguir” o que acarreta uma “responsabilidade e maturidade acrescidas”. Em 2011 Joana partiu para uma ilha no Oceano Pacífico enquanto participante de “Perdidos na Tribo”, programa que se mostrou uma “oportunidade única” de fazer a maior aventura da sua vida. “As regras baseavam-se em adaptarmo-nos a uma cultura completamente diferente da nossa, sem ter de haver nomeações. Não havia vencedores nem vencidos e isso foi um ponto fulcral para eu aceitar o convite”, recorda hoje, garantindo sentir-se “orgulhosa” pela sua participação e pela forma como foi aceite e acarinhada pela tribo com quem conviveu e viveu.

O presente e o futuro Chegada da tribo de Vanuatu, foi tempo de parar para descansar, recuperar e refletir. “Em seis anos de televisão e teatro [esta] é a minha primeira grande pausa, o que não me preocupa. É bom para analisarmos o nosso percurso e

apontar um caminho para o futuro”, refere a atriz que até se considera uma “sortuda” pelos projetos em que tem trabalhado. Joana acredita que “quando menos esperar” regressa aos palcos e ao pequeno ecrã, sem esquecer o cinema, o seu sonho “ainda por realizar”. Ainda que em pausa, a manequim não conseguiu ficar parada e decidiu apostar “em algo completamente diferente” mas “paralelo à carreira de artista”. Essa aposta foi numa loja de artigos desportivos em Gaia que gere com o namorado Nélson Vieira com quem também já inaugurou bares de praia naquele concelho. Ter uma profissão paralela é mesmo uma sugestão que Joana deixa para os jovens atores ou aspirantes a quem diz que “ser somente artista em Portugal é ter uma vida de incerteza e insegurança, algo que ninguém deseja para o seu futuro”. Ainda assim, defende que “devem perseguir e lutar pelos seus sonhos” mas sempre conscientes que “o mundo artístico não é um mar de rosas”. Nome: Joana Cláudia Alvarenga e Silva Data de Nascimento: 07 de maio de 1986 Local de Nascimento: Vila Nova de Gaia Habilitações Literárias: Frequência da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Livro: “Juntos ao Luar” Filme: “Titanic” Música: “Roads” de Portishead



IPB na final de concurso Equipas do Politécnico de Bragança apresentaram Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos P.P. e Manuel Teles

Norteados pela redução da fatura energética e pela racionalização dos consumos, professores e alunos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) conceberam dois projetos que figuram entre os 12 finalistas do “Green Campus - Desafio Eficiência Energética no Ensino Superior”. “TechBioEnergy” e “IPB Green Campus” são os representantes da região transmontana numa competição onde foram submetidos 81 trabalhos. Organizado pelo Instituto Superior Técnico, o Green Campus é um concurso de âmbito nacional que pretende contribuir para o aumento da eficiência energética no Ensino Superior. A final terá lugar a 2 de julho em Lisboa. O vencedor receberá seis mil euros, mas há ainda prémios até ao 3º lugar e para as melhores medidas técnica e comportamental.

Os cinco elementos de cada equipa optaram por fazer uma radiografia energética à Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG), identificando os pontos críticos e propondo medidas de eficiência. O projeto TechBioEnergy, liderado por João Paulo Castro, aponta como prioridades: a substituição das janelas, a colocação de uma nova caixilharia e a instalação de uma caldeira a pellets. “As janelas já têm 15 anos e perde-se alguma energia. Estimámos uma poupança de 30% só pela substituição da caixilharia. Depois, a caldeira a gás, que faz o aquecimento, traduz-se numa fatura de energia enorme. Com os pellets [concentrado de madeira que depois pode ser queimado em fogões específicos para produção de calor] gastamos menos dinheiro”, salienta o docente. O sistema de distribuição de água quente mereceu também a atenção da equipa, que recomenda uma diferenciação de temperatura entre os pisos do edifício. “Como o ar quente sobe, nos pisos superiores, a água não necessitaria de ser tão quente. Há umas válvulas especiais que seria interessante colocar, porque não só reduzem as perdas como aumentam a eficiência.” João Paulo Castro lembra ainda as medidas passivas de aproveitamento de energia solar: “propusemos a utilização de vegetação natural para ensombramento, nomeadamente com árvores de folha caduca que não impedem a entrada de sol no inverno e no verão, cortam o aquecimento solar”.

Biomassa “enjoa na viagem” Para o docente, chegar à fase final do Green Campus foi uma surpresa, pois “estamos a competir ao mais alto nível”. A conceção do TechBioEnergy implicou uma análise de “todo o potencial de biomassa” existente no distrito de Bragança, constatando-se uma oportunidade de negócio. “As unidades fabris que existem para consumo da floresta estão muito longe, logo gasta-

João Paulo Castro


de eficiência energética dois projetos no Green Campus -se muito dinheiro só em transporte. Por isso é que dizemos que a biomassa enjoa na viagem.” A solução passaria pela criação, no parque industrial de cada concelho, de uma zona de receção “onde se faria o pré-tratamento da biomassa por forma a densificá-la e reduzir os custos de transporte para uma unidade central que seria em Macedo de Cavaleiros”. “A partir daí, seria montado todo o sistema de distribuição, em que a ESTIG funcionaria como promotor”, destaca.

Consequentemente, esta medida promoveria “o crescimento do produtor florestal”, criando uma alternativa para o escoamento do produto, “que neste momento não tem”. “Podia-se aproveitar, ainda, outra biomassa que existe em abundância em Trás-os-Montes, como os resíduos da exploração agrícola (o bagaço de azeitona ou a casca de amêndoa)”, acrescenta.

Data Center: uma questão nevrálgica Orlando Soares lidera o projeto IPB Green Campus, cuja preocupação primordial se prende com o sistema de arrefecimento do Centro de Processamento de Dados (Data Center) do IPB, alojado nas instalações da ESTIG. “Sugerimos uma medida que permitisse utilizar a água de um poço próximo para arrefecimento, diminuindo o consumo de energia elétrica. Seria apenas necessário um investimento na ordem dos seis mil euros, mas o tempo de retorno seria muito curto.” A auditoria energética ao edifício permitiu ainda observar a necessidade de corrigir o fator de potência e diminuir o “grande consumo na parte da iluminação”. Neste último caso, o problema ficaria resolvido com a mudança das lâmpadas de halogéneo para LED e de lâmpadas T8 para T5 por serem “mais eficientes, sem degradar o fluxo luminoso”. Para diminuir o consumo de energia térmica, Orlando Soares recomenda o seccionamento dos circuitos de aquecimento, ou seja, isolar zonas com diferentes graus de utilização. “Os gabinetes de docentes e os laboratórios estão no mesmo circuito de aquecimento, mas têm taxas de utilização diferentes. Podemos isolar zonas de utilização distinta com a instalação de válvulas motorizadas programáveis em pontos estratégicos”, esclarece.

Educação para a sustentabilidade

Orlando Soares

O IPB Green Campus incluiu ainda medidas comportamentais que visam sensibilizar os utilizadores das instalações para a urgência de reduzir os consumos energéticos. “Sugerimos a criação de certificados energéticos (à semelhança dos que existem para as habitações) por secções, em que haveria um responsável que faria o check in de alguns parâmetros”, explica o docente. Depois, seria atribuído um certificado à secção e “tornado público”. “Assim, saberíamos onde é que as pessoas têm cuidado com a utilização de energia e onde é que não a desperdiçam”, frisa. A equipa concluiu que, após a implementação das várias medidas de economia de energia, haveria uma redução de 15% nas emissões de dióxido de carbono. “Estamos a concorrer com grandes universidades, algumas com departamentos próprios de eficiência energética. Surpreendeu-me chegar à fase final”, confessa Orlando Soares.


Dolmen abre Centro de Promoção de Produtos Locais no Marco de Canaveses Situado no coração da cidade do Marco de Canaveses, na Alameda Dr. Miranda da Rocha, junto aos Paços do Concelho, foi inaugurado a 26 de maio, o novo Centro de Promoção de Produtos Locais da Dolmen. Um espaço de apoio à promoção e dinamização dos produtos da região, que alberga também a nova sede da Cooperativa de Formação, Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega. Participaram na cerimónia inaugural Manuel Moreira, Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses, Telmo Pinto, Presidente da Direção da Dolmen, José Luís Carneiro, Presidente da Câmara Municipal de Baião, Vereadores e Autarcas do Marco de Canaveses e de outros concelhos, a Equipa Técnica da Dolmen, produtores, artesãos e outros convidados. O Centro de Promoção de Produtos Locais visa promover o desenvolvimento sustentável da região, estimular a economia local e valorizar os recursos endógenos, em setores como a agricultura, gastronomia, doçaria, artesanato, vinhos e turismo. Funcionará como um espaço expositivo para venda de produtos locais oriundos dos seis municípios da área de influência da Cooperativa Dolmen: Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Cinfães, Resende e Penafiel.

«Damos hoje continuidade a um projeto de desenvolvimento integrado do território, valorizando os seus recursos endógenos naturais, culturais e humanos, que vão para lá dos seus saberes, sabores e valores» explicou o Presidente da Dolmen, Telmo Pinto, durante o ato inaugural. Um projeto de mudança que pretende «transformar esta região num espaço territorial atrativo, competitivo e solidário, como o espelha este espaço, onde não nos fixamos apenas num Município, mas num todo», disse Telmo Pinto, reiterando que «todos somos mensageiros deste produto global que afirma o grande potencial, a diversidade de produtos e a riqueza do património edificado e natural de uma região que deve continuar a apostar na qualidade e numa maior oferta». O Presidente do Município de Baião, José Luís Carneiro, onde já existe outro Centro de Promoção de Produtos Locais da Dolmen, focou «a importância da iniciativa que estamos a viver e que nos diz muito a todos, porque ela significa uma janela para o passado e o futuro. Devemos ter orgulho de olhar para o passado, para todos os seus elementos culturais, históricos e sociais e procurar dar-lhes uma outra força, valorizá-los para que no

futuro adquiram uma outra dimensão e notoriedade». Congratulando-se com o trabalho desenvolvido pela Dolmen, ao longo dos últimos anos, o Presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, Manuel Moreira, considerou que «o balanço é francamente positivo, assente numa ação concertada e capaz de captar fundos para estes investimentos que vêm dinamizar e estabelecer sinergias importantes na região, contribuindo para uma melhor qualidade de vida das populações, novas oportunidades e até criação de emprego». Um dia de celebração para Manuel Moreira que se mostrou «feliz porque sou um cidadão comprometido com a região, porque acredito na união de vontades para seguirmos este caminho de esperança». «Mesmo em momentos difíceis, vemos que uma boa ideia é concretizada, dando corpo a este espaço físico que precisa de ter mais produtores, artesãos e promotores turísticos para que possamos mostrar aquilo que de bom se faz e existe na região», vincou o autarca. O Centro de Promoção de Produtos Locais tem o seguinte horário – segunda a sexta: 09:00-12:30 e 14:0017:30; fins de semana: 10:00-12:30 e 14:00-18:30, encerrando apenas no dia de Natal, Ano Novo e Páscoa.

MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004


Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

Lançado o Núcleo PROVE de Cochêca A Dolmen, Cooperativa de Formação Educação e Desenvolvimento do Baixo Tâmega, inaugurou no passado dia 28 de maio, o quarto núcleo do programa PROVE - Promover e vender, uma iniciativa que valoriza a atividade de 4 produtoras de Baião e do Marco de Canaveses. “Do produtor para o consumidor” é o conceito do PROVE, iniciativa comunitária “que visa a promoção de novas formas de comercialização, nomeadamente de produtos agrícolas, entre pequenos produtores e consumidores, de modo a dar um contributo importante para o escoamento de produtos locais”. Para a Cooperativa Dolmen este projeto “insere-se na estratégia de desenvolvimento social e económico da região, potenciando a produção agrícola de qua-

lidade e favorecendo a criação para diminuir o défice no consumo de produção agrícola nacional”. Na inauguração do núcleo Cochêca, foram distribuídos 20 cabazes, dotados com uma dúzia de produtos hortofrutícolas da época. O preço do cabaz é de 10 euros, que inclui o custo do transporte para o Porto. O cabaz – que requer encomenda prévia - estará disponível no Porto, às segundas- feiras (Rua Monte dos Burgos) – perto da Prelada, das 21h00 às 22h00 (horário de verão). As encomendas podem ser feitas na página oficial do PROVE http://www.prove.com.pt e http://www.dolmen.com.pt ou pelos seguintes contactos: Inês de Azeredo (produtora) (934372386) e Dolmen, CRL (255542154).

Mercado Romano no Freixo Continuando a Estratégia Local de Desenvolvimento traçada pela Dolmen no âmbito do subprograma 3 do PRODER, direcionado para a dinamização das zonas rurais, as Paisagens Milenares assumem-se como fator identitário do Território "Douro Verde", constituindo missão da Dolmen o contributo ativo na promoção do seu desenvolvimento sustentável. Prosseguimos, por isso, o objetivo do aumento da atratividade do Douro Verde, valorizando os recursos endógenos, através da promoção de diversas ações enquadradas no PACA - Plano de Aquisição de Competências e Animação. Neste enquadramento, a Dolmen promove no final do mês de junho, na cidade romana de Tongobriga, em Freixo, Marco de Canaveses, um Mercado Romano, evento que pretende valorizar as nossas raízes histórico-culturais.

Feira Medieval em Aboadela

Foto de Carlos Moura

Promovida e co-financiada pela Dolmen, teve lugar em 9 e 10 de junho, em Aboadela, freguesia de Amarante situada na sopé da serra do Marão, uma feira medieval. A organização logística coube à junta de freguesia, com a colaboração do agrupamento de escolas do Marão. Dezenas de figurantes recriaram uma viagem ao passado, um evento que a junta de freguesia pretende reeditar anualmente.

BAIÃO: DOLMEN - Centro de Promoção Produtos Locais | Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154


12 junho '12

repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I regiões

Hospital de Amarante

abriu as primeiras valências

CÂMARA MUNICIPAL DE AMARANTE

EDITAL Nº 22/2012

O novo Hospital de Amarante, integrado no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), disponibiliza os primeiros serviços desde o início do mês, nomeadamente a consulta externa de psiquiatria e de hospital de dia. A urgência básica deverá arrancar nas próximas semanas.

7% DE DESCONTO NA TUA PROPINA MENSAL O ISCE preocupa-se com o teu futuro. Dá-te a oportunidade de ingressares na tua Licenciatura com, provavelmente, a Propina mais baixa do Ensino Superior Privado.

CAMPANHA SOCIAL ISCE * 7% de desconto na propina mensal Isenção de pagamento de candidatura para funcionários públicos Horários flexíveis e adaptados para trabalhadores estudantes Aulas presenciais: 3 dias por semana * Campanha válida para candidaturas até 30 de julho. Não acumulável com outros protocolos . 7% de desconto mensal aplicáveis apenas no primeiro ano de licenciatura.

Modelo B-Learning de Formação Bolsas de Estudo da DGES Acesso + 23 anos

Um comunicado do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa anuncia que nos próximos meses estarão operacionais as demais valências, incluindo o internamento e o bloco operatório. A inauguração do equipamento hospitalar, situado junto à variante Amarante/Celorico de Basto e que representa um investimento de 30 milhões de euros, deverá ter lugar apenas quando, segundo o centro hospitalar, “a capacidade instalada garantir a resposta às necessidades assistenciais da população”, em princípio, até final do ano. “O Hospital de Amarante é a concretização de um novo modelo hospitalar centrado no doente”, salienta o documento do CHTS, que ainda realça “a tecnologia mais avançada” do equipamento. Tal como já previa a sua programação funcional, “a cirurgia de ambulatório assumirá um papel preponderante, correspondendo aos mais recentes padrões da evolução da arquitetura hospitalar”, enfatiza a administração do CHTS. Equipado com três blocos operatórios, o novo hospital de Amarante contribuirá para uma “redução substancial dos tempos de espera”, sobretudo na cirurgia de ambulatório, conclui o comunicado.

------DR. ARMINDO JOSÉ DA CUNHA ABREU, Presidente da Câmara Municipal de Amarante:---------------------------------------------------------------------Faz saber, nos termos dos nºs. 1, 2 e 3, do artº 290º, Secção III, do Código Regulamentar do Município de Amarante que, após trinta dias da data do presente Edital, se procederá a uma exumação de sepultura na seguinte secção do Cemitério Municipal:-------------------------------------------------------------3ª SECÇÃO – sepultura nº 22, onde se encontra inumado Manuel Machado Leite, desde 200201-05, então com 81 anos de idade, casado, filho de António Machado Leite e de Ana Ribeiro, que era residente na Urbanização de S. Lázaro, Entª. 3 – Blº 1 – R/C Esqº., freguesia de Amarante (S. Gonçalo), Concelho de Amarante, sendo natural da freguesia de Vila Chã do Marão, Concelho de Amarante.-----------------------------------------------------------------No prazo acima referido e de acordo com o nº 1 do artº 290ºº, devem os interessados acordarem com a Divisão de Serviços Urbanos/Serviço de Cemitérios, quanto à data em que terá lugar e sobre o destino das ossadas/cinzas, sob pena de verificação das consequências previstas nos nºs. 2 e 3 do mesmo artigo.--------------------------------------------------------------------E para constar e devidos efeitos se lavrou o presente Edital e outros de igual teor que vão ser afixados nos locais de estilo e publicados nos jornais da região.------------------------------------------------------------------E eu, Eulália Maria Pinto Tomás, Chefe da Divisão de Serviços Urbanos, o subscrevi.------------------------------------------------------------- Amarante e Paços do Concelho, aos 04 dias de Junho de 2012 O Presidente da Câmara a) Dr. Armindo José da Cunha Abreu Repórter do Marão, N.1264 - Junho/2012

Jorge Manuel Costa Pinheiro

Comércio de todo o tipo de material de escritório Rua Teixeira de Vasconcelos - Amarante

Telef. 255 422 283 * Telem. 917 349 473



EPAMAC Cursos profissionais com forte empregabilidade atraem alunos

Filipe Veríssimo, tratador de animais

O CET de Cuidados Veterinários lecionado na EPAMAC [Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses] tem vindo a interessar cada vez mais alunos, escolha que é proporcional às saídas profissionais que envolve. A perspetiva do regresso ao campo e à agricultura tem suscitado o interesse em muitos jovens, que escolhem a nossa EPAMAC pela valia educativa que representa. Quer como técnicos de saúde veterinária, que lhes permite serem colaboradores diretos de médicos veterinários, quer para trabalhos de saúde animal autónomos, o técnico de Cuidados Veterinários é um profissional que facilmente encontra trabalho em organizações agrícolas no país ou que fica dotado de conhecimentos que lhe permitem trabalhar por conta própria e diretamente com os agricultores. A EPAMAC oferece a estes alunos ferramentas que lhe permitem “proceder ao planeamento, organização e execução de um conjunto de atividades na prestação de cuidados de saúde animal, quer na área de animais de produção, quer na área de animais de companhia”. Os alunos da Escola podem também concorrer a trabalhos “em setores tecnológicos de apoio à medicina veterinária, como laboratórios de análises clínicas ou técnicos de equipamentos veterinários”.

Fez o estágio e ficou na empresa A recente experiência vivida pelo aluno Filipe Veríssimo, 19 anos, mostra que os formandos da Escola são muito procurados, o que comprova o reconhecimento na sua formação escolar e profissional. Poucos meses depois de terminar o curso começou a trabalhar numa empresa de prestação de cuidados de saúde animal no concelho – Vaca de Socas, que tem sede na freguesia de Tabuado. Lida diariamente com bovinos e outros animais, consistindo o seu trabalho mais específico no tratamento das unhas daqueles animais.

Concluído o curso – um CET de Cuidados Veterinários – e o estágio curricular de três meses, Filipe Veríssimo foi convidado a ingressar na empresa, onde trabalha desde o início de março do corrente ano. Filipe Veríssimo, que fez o percurso normal da escolaridade obrigatória (até ao 3º ciclo) antes de ingressar na EPAMAC e concluiu o 12º ano no Curso Técnico de Produção Agrária e o CET (que lhe confere o nível V), relata-nos a sua experiência profissional e também nos fala do que representou a sua passsagem pela nossa Escola. Como se processou o ingresso na empresa onde trabalha? Tive 3 meses de estágio [na empresa Vaca de Socas] e consegui empregar-me na mesma no final do estágio. Estou empregado desde 1 de março de 2012. Que funções exerce na empresa? Tratamento de unhas a vacas, bois, ovelhas, cabras, bodes, tosquia a ovelhas, venda de produtos relacionados com pediluvios. Qual a envergadura do trabalho que exerce? Exerço uma profissão que é dura mas ao mesmo tempo fantástica. O tratamento de cascos às vacas e outros animais é um trabalho que eu gosto, conheci o país de "ponta a ponta", coisa que não imaginava ocorrer tão cedo. Não tinha ideia que houvesse tan-

tas vacarias. A empresa tem 8 operadores e neste momento o nosso trabalho centra-se em localidades de todo o país: Mogadouro, Miranda do Douro, Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira, Paços de Ferreira, Vila do Conde, Famalicão, Santo Tirso, Trofa, Barcelos, Águeda, Aveiro, Torres Vedras, Benavente, Montijo, Canha, Ribatejo, entre outras. Além daquele trabalho específico, também faço tosquia a ovelhas e a limpeza das unhas das cabras e dos bodes. Por vezes, surgem operações de tratamento de unhas a bois que vão a concursos. O que o levou até à Escola Profissional de Agricultura de Marco de Canaveses? Especifique a motivação? Gosto pelos campos. O meio ambiente, pôr em prática os nossos conhecimentos e não só a teoria. Em que curso ingressou e em que ano? Começei pelo curso de Técnico de Produção Agrária, isto em 2008/2009 e no ano letivo de 2010/2011 fiz o CET de Cuidados Veterinários. Razões da escolha de um curso profissional ligado ao setor agrícola? Pelo gosto que tinha e tenho pela agricultura e aprender mais do que o que já sabia. Houve complemento da formação profissional. Em que área e com que duração? Produçao Agrícola: 200 horas de estágio. Que importância teve a EPAMAC na sua formação escolar e/ou profissional? Ensinou-me a crescer, a trabalhar, ser amigo dos meus amigos, dos animais. O respeito pela agricultura, saber trabalhá-la e sempre conseguir objetivos. Que recordações guarda da sua passagem pela EPAMAC? As vindimas, a gincana de tratores, a maneira dos professores interagirem com os alunos, a viagem de finalistas e a animação que fazia com o acordeão. Que profissão pensa estar a exercer daqui a 10 ou 15 anos? A mesma de hoje: tratamento de unhas de vacas e outros animais.

SAÍDAS PROFISSIONAIS DO CET DE CUIDADOS VETERINÁRIOS - Proceder ao apoio a tarefas de atividade clínica e cirúrgica sob supervisão do Médico Veterinário; - Dar apoio na administração de fármacos, sob orientação do médico veterinário; - Proceder à recolha de amostras, acondi-

cionamento e envio para laboratório; - Executar metodologias laboratoriais e técnicas auxiliares de diagnóstico; - Implementar requisitos necessários ao alojamento e maneio de animais de produção e companhia de modo a garantir

as condições de bem-estar; - Executar técnicas inerentes ao controlo e identificação animal; - Executar as técnicas de higiene e tosquia de animais de produção e de companhia;

- Apoiar técnicas de reprodução assistida, por exemplo inseminação artificial; - Executar técnicas de maneio animal, nomeadamente em podologia; - Executar tarefas relacionadas com saúde pública veterinária.


Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC


Eduarda Freitas Foto: Charles Harris - http://vi.sualize.us

Futebol dos grandes

J

oselito tinha um sonho, um sonho único: ser jogador de futebol. Sonho igual ao de tantos meninos, não fosse Joselito um sonhador feito no papel. Todos os dias Joselito esquecia a sopa na mesa e fixava os olhos na velha macieira, que se erguia do outro lado da janela. Por mais que o pai ameaçasse com chineladas ou a mãe erguesse a voz de arrelia, Joselito pouco se importava. A macieira era grande e tinha maçãs redondas. Redondas como bolas. Em noites de lua cheia, Joselito mal dormia. Sentava-se nos degraus de casa, olhos fixos na lua bola. O pai lamentava a sorte de um filho parco em palavras, que sonhava com campos que não davam vida, em vez de dar uma ajuda nos campos de sementeiras. A mãe acordava de noite alvoroçada em silêncio, receosa desse sonho que ali, onde viviam, não enchia barriga. Joselito estava para lá dos receios dos pais. Todas as manhãs, mesmo antes de ir para a escola, corria pelo velho caminho de terra batida, vestido nos únicos calções, largos no tamanho, não na vontade. Joselito corria imaginando que saía do balneário e percorria os corredores até chegar ao estádio. Corria em passo largo, abrindo o peito à manhã, respirando até ao fundo. Daí a nada o jogo ia começar. O sonho de Joselito era sempre interrompido pelo roncar do velho carro da professora que chegava à hora certa. Joselito entrava na escola, sentava-se na cadeira, olhos fitos no quadro, atento à táctica dos números e letras. Um “a” desenhado à mão era quase uma bola perfeita, quase tão perfeita como um “o”. Gostava também do “t”, com o travessão a meio, como barra de baliza. A pintinha do “i” era o ponta de lança isolado rumo ao golo, o “h” era o estádio mudo, em suspenso antes da marcação da grande penalidade. E depois quando a bola entrava – e entrava quase sempre – era o “n”e o “m” em ondas de alegria. Os dedos erguiam-se em “v” de vitória e de seguida entrava a matemática a pedir mais um, mais dois, mais os que a imaginação consentisse. Talvez porque o jogo lhe exigia ser jogador, espectador, comentador, árbitro e treinador, Joselito tinha pouco tempo para aprender as palavras que a professora ensinava. Sabia as outras, as palavras redondas e essas bastavam-lhe para a felicidade. Joselito vivia numa aldeia chamada Aldeia do Lado de Cá. E na aldeia todos conheciam o sonho que ali não cabia. Na Aldeia do Lado de Cá tudo era sonhado à medida dos dias, à medida da casa e do pão que cada um conseguia pôr em cima da mesa. E pouco mais. Os outros meninos também tinham sonhos, mas só duravam o tempo de a fome chegar. Depois cresciam muito rápido e só consentiam sonhos a dormir. Joselito era diferente. Sonhava de olhos abertos que seria o melhor jogador de sempre, o melhor jogador da Aldeia do Lado de Cá. E sonho puxa sonho, um dia Joselito decidiu ser prático e organizar um torneio de futebol. Tudo pensado. Escolheu um Sábado de Junho. Não por acaso. Junho era o mês em que na aldeia o sol ficava mais redondo no seu calor e em que as

mulheres faziam limpezas, lavavam e coravam as roupas de casa. E Sábado era dia de excelência para essas lides. Assim, nesse Sábado, dezenas de lençóis, colchas e cobertas, bailavam à brisa fina de Junho. Era um regalo para os olhos de Joselito, um incentivo maior. Em todas as janelas, em cada estendal, um lençol branco ainda com cheiro a sabão, ou uma colcha – algumas até de renda - davam mais vida ao grande dia. Tudo perfeito. Nesse almoço, Joselito comeu a sopa. Queria ter força e valentia para vencer a equipa da Aldeia do Lado de Lá. Mesmo ao lado da de cá. Comeu a sopa, vestiu os calções pretos e grandes, a camisola branca moída das quedas, as sapatinhas gastas da imaginação, e desceu de forma solene a rua de terra batida. Hoje era dia de torneio a sério e nenhum ronco de carro poderia interromper a chegada triunfal que o levaria até ao campo. Ao estádio. Ali, a um pé do sonho, Joselito, coração a bater forte, fez o sinal da cruz e entrou em campo. Os joelhos tremiam-lhe de ansiedade. Fechou os olhos e concentrou-se no chilrear dos melros e dos pardais. Adeptos sem falhas no mês de Junho. Ouviu o cantar dos pequenos bicos como som de flautas, buzinas, assobios de incentivo. Abriu os olhos, agradeceu, sentiu a bola a tocar-lhe nos pés e correu pelo campo, levantando a terra adormecida. O suor escorria-lhe pela cara, formando pequenos rios a desaguar no mar do pescoço. Joselito fintava os minutos, passava da defesa ao ataque, apontava-se para a baliza, sentia o mundo todo na ponta das sapatilhas. Corria e caía, levantava-se com a terra e a areia presa ao sangue dos joelhos, gotinhas de vermelho vivo, sem que a dor lhe tolhesse o sonho. Corria ao ataque como quem quer agarrar a vida, num jogo de sobrevivência, como um último suspiro necessário à existência. Defendia, como quem quer salvar o bem mais precioso, o coração, as mãos, o sorriso preocupado da mãe. Distribuía jogo numa cumplicidade de afectos, numa ternura e grandeza só possível aos grandes. Gritava de prazer e dor a cada rasgar de jogo, a cada lance conseguido. Joselito era sonho feito nuvem de pó. Pegou na bola para um lançamento e jogou-a num arco tão perfeito que esta subiu, subiu, e aninhou-se no escuro. Era noite e na Aldeia do Lado de Cá nunca ninguém vira uma lua cheia assim. Joselito olhou-a. Olhos grandes e brilhantes. Suor a saber a lágrimas. Se a bola estava no céu, era para lá que ele ia. E deixou-se guiar por um sonho invisível. Na Aldeia do Lado de Cá, nas suas casas, os velhos homens e mulheres, olharam a estranha lua, e num impulso que nunca souberam explicar, começaram a bater palmas, numa saudação de alegria, numa homenagem vitoriosa, num arrepio coletivo. O aplauso durou o tempo da lua virar sol. No campo de terra batida, pouco mais de meio quintal, encontraram os carros de brincar que Joselito tinha por hábito estacionar no bolso. Da Aldeia do Lado de Lá, nunca ninguém ouviu falar. Sobre Joselito, ainda hoje o procuram, mas em cada noite de lua cheia os homens e mulheres da Aldeia do Lado de Cá, saem à rua a bater palmas. Sem nunca terem percebido porquê.


Química Medicinal Nova aposta da UTAD António Fontaínhas Fernandes | Presidente da Escola Ciências da Vida e do Ambiente

Ao longo da história, as plantas medicinais têm constituído um importante recurso terapêutico das comunidades, em especial em zonas geográficas isoladas como a região de Trás-os-Montes, e que resulta numa medicina popular rica de saberes. A utilização de plantas para fins terapêuticos é uma prática antiga e muito comum nesta região, que importa divulgar e desenvolver, como forma de preservação da tradição e de espécies vegetais, mas também como forma de rentabilizar os recursos endógenos e contribuir para a promoção do nível sócio-económico da região. As plantas medicinais estão na origem de cerca de 60% dos princípios ativos usados pela indústria farmacêutica e representam uma área com um interesse económico crescente. É nesta perspetiva que este ano a Utad irá oferecer uma nova licenciatura em Química Medicinal, uma formação emergente na Europa face à relevância crescente que os futuros profissionais da área poderão assumir na indústria farmacêutica. O novo curso alia as ciências exactas aos conhecimentos das ciências da vida e da saúde e terá como principais saídas profissionais a indústria farmacêu-

tica, empresas e laboratórios de investigação públicos e privados e "start-ups" tecnológicas na área da Saúde. Embora a indústria farmacêutica seja o maior empregador, os futuros licenciados poderão desenvolver a sua atividade em áreas tecnológicas emergentes ligadas à saúde.

O futuro da medicina passa pelas plantas medicinais A relevância desta nova área do saber e dos futuros profissionais ficou bem expressa no colóquio realizado na Utad subordinado ao tema: ”Plantas medicinais na perspetiva da Química Medicinal”. O colóquio contou com a presença de reputados investigadores nacionais e de elementos da indústria farmacêutica, caso do Dr William Heggie, diretor científico da Hovione, uma empresa portuguesa que ocupa uma posição de vanguarda a nível internacional na área da química farmacêutica. Este especialista defendeu que, mesmo num mercado em que os medicamentos genéricos assumem im-

portância crescente, o futuro da indústria farmacêutica continua a passar por investigação em I&D em áreas emergentes como esta. A nova licenciatura irá mobilizar as competências que a Utad possui no domínio da química e envolverá as ciências biológicas e farmacêuticas, visando dotar os futuros licenciados de competências para a invenção e desenvolvimento de compostos com efeitos terapêuticos que possam vir a fazer parte de novos medicamentos. O novo curso será acompanhado por elementos do setor privado e investigadores reconhecidos de universidades portuguesas. A Química Medicinal permitirá desenvolver conhecimentos de química, bioquímica e de biologia para perceber as estruturas das moléculas base de medicamentos, produzir novas moléculas, analisar os seus efeitos sobre os vários organismos e a sua capacidade para combater uma determinada doença. Bioquímica, química medicinal, farmacologia, toxicologia e imunologia serão disciplinas basilares do curso que, juntamente com as novas tecnologias de informação, irão permitir explorar novos tópicos na área médica.


18 junho '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

Bienal de Arte de Chaves A Bienal de Arte de Chaves, patente no Centro Cultural da cidade, decorre entre junho e setembro. Até 30 de junho pode ser vista a exposição coletiva de Artistas Flavienses. Estão representados na mostra 31 artistas plásticos ligados a Chaves, quer por nascimento quer por residência: A. Pizarro, Aluizio Loureiro, António Luís, Belarmino Nogueira, Bruno Valter, Carina Nascimento, Carneiro Rodrigues, Dinis Ponteira, Fernanda Dias, Fernanda Reis, Fernando Dias, Linda Carvalho, Lourdes Elias, Luís Batista, Manuela Cabugueira, Manuela Pinheiro, Manuela Santos, Maria de Lourdes, Maria Helena Vicente, Maria Priscila, Mário Lino, Mélanie Morais, Nina, Nuno Duque, Paulo Fontinha, Ricardo Costa, Rodrigo Dias, Ruben Salgado, Sérgio (Scotch) Brás, Sílvio Manuel, Stefany Rodrigues. Entretanto, de 7 de julho a 30 de setembro, decorrerá outra exposição, que tem como tema "Dez andamentos da pintura em Portugal". A 7 de julho, além da inauguração da exposição, será proferida uma conferência evocativa da comemoração dos 100 anos sobre a defesa da então vila de Chaves, acontecimento bélico que teve lugar em 1912.

Centro Oncológico do CHTMAD envolve os Centros de Saúde A articulação funcional entre os cuidados hospitalares e os cuidados primários de saúde tem suscitado diversas reuniões de trabalho entre as equipas clínicas do Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro, que possui o quarto centro oncológico do país, e os agrupamentos de centros de saúde. Nesse âmbito teve lugar, em Lamego, uma reunião de trabalho com os clínicos do ACES Douro Sul, que teve como tema a patologia mamária, benigna e maligna. Participou a equipa oncológica de patologia mamária do centro hospitalar, que é constituída por especialistas de diversas áreas que diariamente desenvolvem a atividade nas unidades hospitalares de Chaves, Vila Real e Lamego. Estas sessões têm por objetivo a troca de experiências entre os clínicos, a divulgação da capacidade instalada no Centro Oncológico do CHTMAD e a agilização dos circuitos de referenciação. O centro oncológico instalado em Vila Real é reconhecido pela sua elevada qualidade e capacidade clínica no tratamento da patologia mamária e constitui o quarto serviço do país, além de Porto, Lisboa e Coimbra, a receber doentes rastreados pela Liga Portuguesa contra o Cancro. A equipa oncológica de mama do CHTMAD integra profissionais das áreas do diagnóstico e tratamento desta patologia, nomeadamente anatomia patológica, cirurgia geral, cirurgia plástica, imagiologia, nutrição, oncogenética, oncologia médica, psico-oncologia e radioterapia.

Quercus contesta no tribunal barragem de Veiguinhas A Quercus anunciou que apresentou uma providência cautelar no tribunal administrativo a pedir a anulação da decisão do secretário de Estado do Ambiente de aprovar a barragem de Veiguinhas, em Bragança, equipamento que se destina a reforçar o abastecimento à população da cidade. A associação ambientalista Quercus pretende a "anulação da Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável" à construção da barragem, situada no Parque Natural de Montesinho. A barragem projetada há 30 anos para reforçar o sistema de abastecimento de água à cidade foi aprovada, em março, depois de sucessivos adiamentos por razões ambientais.

Bragança vive ciclicamente situações de seca, como a que ocorreu no último inverno. Para resolver os problemas de abastecimento a Bragança, a Quercus defende que a barragem do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, é a alternativa a Montesinho, uma solução que os promotores – a empresa Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro, sistema multimunicipal que abastece o Município de Bragança – rejeitam por implicar a construção de 50 quilómetros de condutas. Segundo a associação ambientalista, a construção de Veiguinhas “afetará uma área prioritária em termos de ordenamento do território e biodiversidade" e “viola a legislação nacional e comunitária”.

diversos & crónica

Cenários de Envelhecimento Cláudia Moura

DO ENVELHECER AO SER CUIDADO Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. DEIXO-VOS A PENSAR … O processo de envelhecimento é demarcado por várias etapas que se concretizam no decorrer da vida. Desde a sua conceção, o organismo humano passa por diferentes fases para a sua evolução. Após o nascimento, a criança desenvolve-se, atinge a puberdade, posteriormente a maturidade, chegando ao envelhecimento. Parece uma divisão simples, mas cada uma dessas fases acarreta diferenças significativas. As pessoas não envelhecem todas da mesma maneira, nem sequer possuem todas as mesmas experiências. Vários são os fatores que influenciam o processo de envelhecimento e o modo como este é compreendido. A perceção do idoso sobre como se sente na sua velhice poderá variar de acordo com o grupo cultural onde se encontra inserido. Não menos importante é valorizar o termo velhice, na medida, em que quando pensamos nos mais velhos rapidamente nos vem à mente, pessoas portadoras de algumas fragilidades, de aparência enrugada, que convivem com alguma patologia, ou na sua grande maioria, com várias delas. Entretanto, é urgente referir, o envelhecimento não como sinônimo de doença, visto que, em qualquer fase da vida, o ser humano é suscetível aos mais diversos tipos de patologias. Não ignorando portanto, o facto de o aumento da idade, comprometer à redução da capacidade do sistema imunológico humano na defesa do organismo, o que torna o indivíduo mais suscetível às doenças, o que não significa que ele inevitavelmente adoeça. Deste modo, faz-se necessário ouvir e aprender com os idosos, os reais significados da velhice e como ela interfere na sua vida, no intuito de desmitificar atributos que ainda são a eles associados, mas que, muitas vezes, não são incorporados e considerados como verdades absolutas. O modo de se “perceber” a velhice pode ter enorme influência na forma como o idoso cuida de si no decorrer do seu processo de envelhecimento. Afinal o idoso cuida de si baseado nas suas conceções e conhecimentos pessoais advindos da sua cultura. O cuidado constitui preceito básico para a existência humana, visto que o homem só existe e se edifica se passar por situações de cuidado. Julgo ser conveniente a prática de um cuidado cultural, que assenta na consideração da totalidade da vida humana e na sua existência ao longo do tempo. Quando se fala em envelhecimento, é importante ressaltar que essa fase pode e deve ser acompanhada da saúde. Para que isso aconteça faz-se necessária a existência de condições sociais, de atenção à saúde, que intervenham todo o processo pelo qual constitui o envelhecer, bem como a valorização dos anseios do idoso. Garantir aos idosos as condições necessárias para viver a terceira e quarta idade de forma mais plena e satisfatória, com respeito e apoio, é tarefa para todos nós. Um bom começo é poder olhar o idoso como um guardião vivo da nossa história, que tem a experiência dos anos vividos. Por outro lado, é participar na procura pela melhoria da qualidade de vida da população em geral, pois mais digno e saudável será o envelhecimento quanto mais favorável e rico em possibilidades for o próprio viver. claudiamoura@portugalmail.pt Professora Universitária e Investigadora na área da Gerontologia.


junho '12

regiões | diversos

IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

19

repórterdomarão

Vinhos do Marco premiados

Penafiel apresentou petição com 10 mil assinaturas a reclamar a construção da variante à N106

Diversos vinhos da Rota do Marco foram premiados em eventos nacionais, nomeadamente o Concurso da Região dos Vinhos Verdes 2012 e o Concurso Nacional de Vinhos Engarrafados 2012. No concurso promovido pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, que se realiza há 25 anos, foram distinguidos os seguintes vinhos: BEST OF VINHO VERDE - VALES DE AMBRÃES; VERDE OURO - VALES DE AMBRÃES; VERDE PRATA - VALES DE AMBRÃES AVESSO – Produtor: Prosa - Produtos e Serviços Agrícolas, SA; VERDE HONRA – CASA DE VILACETINHO; VERDE HONRA – CASA DE VILACETINHO AVESSO; VERDE HONRA – CASA DE VILACETINHO LOUREIRO – Produtor: Sociedade Agrícola Casa de Vilacetinho, SA; VERDE PRATA – QUINTA DA SAMAOÇA- VINHÃO – Produtor: António Martinho Barbosa Gomes Coutinho; VERDE HONRA – PECADO CAPITAL – Produtor: Convívio de Sabores Unipessoal, LDA; VERDE HONRA - QUINTA DA HERDADE COLHEITA SELECCIONADA – Produtor: Quinta da Herdade, Lda. No concurso nacional, promovido pelo Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas, foram premiados: MEDALHA DE PRESTÍGIO - VALES DE AMBRÃES AVESSO; MEDALHA DE MÉRITO - VALES DE AMBRÃES COLHEITA SELECCIONADA; MEDALHA DE MÉRITO VALES DE AMBRÃES ALVARINHO – Produtor: Prosa - Produtos e Serviços Agrícolas, SA; MEDALHA DE PRATA - CASA DE VILACETINHO LOUREIRO; MEDALHA DE MÉRITO - CASA DE VILACETINHO AVESSO; MEDALHA DE MÉRITO - CASA DE VILACETINHO ARINTO; MEDALHA DE MÉRITO - CASA DE VILACETINHO – Produtor: Sociedade Agrícola Casa de Vilacetinho, SA; MEDALHA DE MÉRITO - PECADO CAPITAL – Produtor: Convívio de Sabores Unipessoal, Lda.

A petição popular promovida pelo Município de Penafiel a exigir ao Governo a construção do IC35, também conhecido como variante à N106, recolheu mais de 10 mil assinaturas. Segundo o presidente da Câmara de Penafiel, Alberto Santos (PSD), o documento já deu entrada na Assembleia da República no final de Maio. O autarca explicou que a petição foi entregue depois de saber-se que a construção da estrada passou para a alçada do Ministério das Finanças, estrutura governamental que passou a coordenar a gestão dos fundos comunitários, nomeadamente o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), instrumento de financiamento que antes estava nas mãos do Ministério da Economia. Como a Estradas de Portugal não tem dinheiro, a oportunidade de construção do IC35 – ainda que fortemente modificado, pois é consensual que já não terá via dupla entre a cidade de Penafiel e Entre-os-Rios, como estava inicialmente previsto – reside na afetação de fundos do QREN àquela infraestrutura rodoviária. “Com a notícia da mudança de interlocutor achamos que é nosso dever entregar a petição, porque o IC 35 é demasiado importante para as nossas populações”, sublinhou o autarca, citado pela Lusa.. Alberto Santos sublinha "que a entrega da petição é uma questão de coerência e justiça, independentemente do partido que governa o País e de quem gere os fundos comunitários”. Reclamada há duas décadas pela autarquia, a variante à N106 terá 13 quilómetros e substituirá a atual via, que se transformou há muitos anos num arruamento urbano, ser-

AE Marco realiza palestra sobre as formas de vencer a adversidade A AEMarco - Associação Empresarial de Marco de Canaveses, organiza para os empresários do concelho uma palestra sobre as formas de lidar com a crise. Sob o tema “Resiliência: Vencer a Adversidade”, terá lugar a 22 de Junho, na Quinta dos Picotos, em Marco de Canaveses, uma palestra (início às 17:30) com o Professor Jorge Sequeira, psicólogo, docente, investigador e formador. "Esta iniciativa tem como objectivo promover o encontro dos empresários do concelho, em particular dos Associados da AEMarco, com empresários de todo o país, e possibilitar a troca de ideias e conhecimentos entre os participantes", sublinha a entidade promotora. A AE Marco alerta, na comunicação distribuída, que “em tempos de crise e enorme dificuldade, mais do que nunca, é importante não baixar os braços, revelando competências de confronto capazes de ultrapassar os ventos que não sopram de feição, transformando os problemas em desafios”.

Comboio Histórico do Douro regressa a 30 de Junho

O Comboio Histórico do Douro vai voltar a circular entre a Régua e o Tua, a partir de 30 de Junho, percorrendo esta região transmontana todos os sábados e nos primeiros quatro domingos de Setembro. O acordo de colaboração entre a CP e o Turismo do Porto e Norte de Portugal que vai permitir que o Comboio Histórico volte ao Douro foi alcançado há dias e assinado numa cerimónia que decorreu no Museu do Douro, no Peso da Régua. A cerimónia teve a presença de Nuno Moreira, vogal do Conselho de Administração da CP, Melchior Moreira, presidente da Entidade Regional Turismo do Porto e Norte de Portugal, Nuno Carvalho Gonçalves, presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua, e Fernando Seara, director do Museu do Douro.

vindo o tráfego regional e uma parte substancial do concelho penafidelense. O volume de tráfego e o atravessamento de áreas urbanas tem transformado a N106 numa das estradas com maior nível de sinistralidade do país (foto). Segundo o autarca de Penafiel, as 10 mil assinaturas são suficientes para o agendamento da discussão da petição em plenário da Assembleia da República.

O autarca acrescentou que técnicos das Estradas de Portugal estiveram recentemente em Penafiel a fazer o levantamento de algumas situações do traçado. O IC35 nunca teve projeto de execução – estão construídos (e em serviço) alguns quilómetros entre a nova ponte de Entre-os-Rios, sobre o rio Douro, e Castelo de Paiva – porque este traçado fazia parte da Concessão Vouga (que incluia a ligação até Arouca, entre outras vias regionais) que o Governo de Sócrates suspendeu devido ao eclodir da crise económica e financeira mundial.

Autarca de Baião lidera Federação do PS José Luís Carneiro ganhou as eleições para a Federação do Partido Socialista do Porto, derrotando nas urnas o autarca de Matosinhos, Guilherme Pinto. O novo presidente da federação do PS/ Porto, autarca em Baião, ganhou uma das maiores e mais importantes distritais socialistas, à segunda tentativa. No discurso de vitória, Carneiro apelou à unidade partidária para as eleições autárquicas de 2013. Venceu as eleições com 59 por cento dos votos, contra os 41 por cento alcançados pelo presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, num escrutínio em que votaram mais de 11 mil militantes socialistas. O ex-membro do Secretariado Nacional do PS – é um apoiante de Seguro – defendeu "uma unidade que se constitua a partir do respeito pela diversidade de opiniões e pela pluralidade interna", realçando a vitória em 14 das 18 concelhias socialistas do distrito do Porto. Segundo José Luís Carneiro - que sucede no cargo a Renato Sampaio, ex-líder da estrutura que renunciou ao cargo em julho de 2011 - é preciso, a partir do Porto, formar "uma

força política que se constitua como uma plataforma de combate político às medidas que este Governo está a implementar no país e que todos os dias estão a destruturar o Estado nas suas funções sociais fundamentais". Dos 18 concelhos do distrito do Porto, apenas sete estão nas mãos dos socialistas – Matosinhos (Guilherme Pinto), Baião (José Luís Carneiro), Vila do Conde (Mário Almeida), Santo Tirso (Castro Fernandes), Trofa (Joana Lima), Amarante (Armindo Abreu) e Lousada (Jorge Magalhães). "Até ao mês de agosto quero circular por todas as concelhias do distrito do Porto por forma a que aqueles que estiveram desavindos nas eleições eleitorais internas, nós possamos lançar as bases do diálogo e da cooperação por forma a realizarmos as eleições primárias para a escolha dos candidatos às câmaras municipais", disse o vencedor. Defensor da realização de primárias no PS, Carneiro sublinhou a necessidade de "acreditar nas eleições primárias para a escolha dos candidatos como melhor mecanismo que defende a democracia interna".

Hospital de Penafiel angaria alimentos para os mais carenciados O Hospital de Penafiel lançou uma campanha de angariação de alimentos para distribuir por utentes carenciados, projeto que vai ser articulado com a Liga de Amigos e com o serviço social da unidade hospitalar. Segundo um comunicado do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, pretende-se angariar massas, arroz, enlatados, leite, farinha, papas lácteas, azeite e óleo, géneros “que podem contribuir

para ajudar muitas famílias”. Esta campanha requer a ajuda de funcionários do hospital mas também dos utentes. O “Espaço Social”, como é designado o serviço agora criado, “pretende constituir um fundo permanente que permita dar resposta diária aos utentes em situação de carência económica”. Segundo a fonte do hospital, essas situações de carência têm “muitas vezes

graves consequências a nível da saúde”. Numa primeira fase, o espaço funcionará todas as quartas-feiras, das 10:00 às 13:00, prevendo-se o funcionamento num horário mais alargado a partir de novembro. O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa é constituído pelos hospitais Padre Américo, em Penafiel e pelo novo hospital de Amarante, cobrindo uma população de meio milhão de habitantes.


20 junho '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

REDUZAM-LHES O 'PRÉ'

Preferia falar de coisas mais agradáveis. Pensei no Douro que ainda vai tendo pontas por onde pegar, e em matéria que creio ainda saber um pouco. Mas estando só com a ameaça de “bomba” da UNESCO, cai-lhe em cima o míssil que mata em definitivo um dos valores que mais lhe apreciava: o vale do Tua. Falta lembrar aos “responsáveis”, que se foram contradizendo até uma voz tudo calar por não haver dinheiro para parar a obra(?), que o tesouro é da Comunidade e por tal deveria ser cuidado por quem, temporariamente, é incumbido de o administrar, e não de uma qualquer entidade que o poderá deter e explorar em concessão como lhe aprouver. Como em Democracia não se demite a Comunidade, é bom que se tirem conclusões e responsabilizem os que, directamente ou só batendo palmas, a deixaram mais pobre e esbulhada desta fortuna em troca de umas migalhas. Se é um bom investimento, e é-o com certeza para quem faz as obras, por que foram necessárias cosméticas de anunciados investimentos(?) na Região e o marketing de lavagem de imagem dos concessionários? Apareceram-me depois duas interessantes notícias que tudo baralharam e dão razões para não ficarmos ledos, quedos e ainda com mais paciência. Uma diz que há 400 milhões de dívidas de telemóveis nos tribunais, sendo o valor mais recente superior ao anterior em 27%. Diz ain- Armando Miro da que a «Associação do sec- Jornalista tor debateu com a troika melhorias na Justiça para aumentar a recuperação daqueles valores». A outra mereceu, além de notícia, o sobe e desce do «Público», com a decisão do Governo de transformar o Instituto de Gestão do Crédito Público em Empresa Pública, o que me parecia uma simples mudança de nome. Mas não. Esclarece o diário, ao contrário do que disse o responsável das Finanças que lhe chamou «transformação», que se trata de mudar para uma mais «atraente tabela salarial», acrescentando que tal contraria o acordo troikano na questão das empresas públicas, e a apregoada contenção, cortes de gordura, e divisão equitativa dos sacrifícios. Para além de causar estupefacção e perplexidade ver três indivíduos que trimestralmente nos “avaliam”(?) sem sequer saber os seus currículos e qualificações, (onde estudaram e como nos conhecem melhor dos que os de cá? Cheira-me ao omnipresente Goldman Sachs), e nem sequer consigo intuir um pingo de vergonha nos que têm obrigação de nos governar, pois para isso os elegeram. Como é que em três dias conseguem ver o que quem devia não vê em três meses? Então o «memorando» só serve para o que dá jeito e esmifrar quem vive de salário ou de pensão? E a Associação telefónica acredita que indo à troika resolve um problema de Justiça ou está à espera de entrar no grupo de cobradores de dívidas em operações stop com o arresto de viaturas? (Que raio de forma é esta de sacar massa por mera presunção sem intervenção jurisprudente?) Toda esta parafernália de contradições e regabofe de uns poucos em detrimento dos demais, lembra-me o antigo regulamento militar, do Conde de Lippe, que estabelecia que o sargento da companhia devia saber ler e escrever porque, o oficial, sendo nobre, podia não saber. Medida sábia pois ninguém melhor que eles tinha, além do espírito de obediência, sacrifício e disciplina, a capacidade de operar à esquerda e à direita, como na ordem unida, as colunas do deve e do haver. Ora com o que se passa agora com a troika aos comandos do país, e vendo como os (ir)responsáveis se comportam, ficava mais barato e eficaz substituí-los por sargentos amanuenses. Decerto cumpririam com lealdade e zelo e sem irem para além do estabelecido. Ou então, na ameaça da substituição, como é coisa que já têm na cabeça mas não confessam querer fazer, reduzíamos-lhe os vencimentos equiparando-os a sargentos, e já eram bem pagos para o que fazem. Outra contabilidade para conferir e acertar contas deu-ma o sargento do meu esquadrão em Timor: «se há dinheiro a mais, é uma chatice pois tenho de verificar tudo até dar certo que ninguém lá poria o dinheiro. Mas se há a menos, não há problema e é fácil pois não tirei de lá nenhum». Uma boa pergunta que devia ser feita, e claro está que respondida pois não nos dizem mas desconfiamos, saber por que falta e quem o tirou, sem andar sempre a bater na mesma tecla de razão e culpa, e com o mesmo bode expiatório... [A seu pedido, alguns colaboradores escrevem de acordo com a antiga ortografia]

opinião

Sustentabilidade, o que é e o que não é Leonardo Boff não precisa de apresentações, é na mão, mesmo quando procede à análise aos moum nome cimeiro do pensamento religioso e da re- delos atuais da sustentabilidade e põem a nu as fraflexão sobre as questões ecológicas e a ecoteologia quezas de modelos como o da economia verde ou do da libertação. O seu livro “Sustentabilidade, O que é, o ecodesenvolvimento ou da bioeconomia, assim conque não é” (Editora Vozes, 2012) é um admirável brevi- cluindo: “Não é correto, não é justo nem ético que ao ário das principais questões que hoje convergem tan- buscarmos os meios para a nossa subsistência, dilato para o desenvolvimento sustentável como para a pidemos a natureza, destruamos biomas, enveneneclarificação do significado de sustentabilidade. mos os solos, contaminemos as águas, poluamos os O pensador avisa que escreveu este ensaio para ares e destruamos o subtil equilíbrio do sistema Terra demarcar aquilo que é e não é sustentabilidade, de- e do sistema Vida. Não é tolerável eticamente que sonunciando que se tornou cada vez mais frequente o ciedades particulares vivam à custa de outras sociegreenwash, a mistificação para eludir o consumidor dades ou de outras regiões, nem que a sociedade huque anda à procura de produtos menos agressivos e mana atual viva subtraindo das futuras gerações os que compra gato por lebre. Sobre a urgência da sus- meios necessários para poderem viver decentemententabilidade, recorda-nos a Carta da Terra, um do- te”. E daqui encaminha a sua reflexão para as causas cumento subscrito por personalidades como Michail da insustentabilidade da atual ordem ecológico-soGorbachev, Maurice Strong e Mercedes Sosa, entre cial, desmontando as ilusões do antropocentrismo, outros, que abre com uma frase grave: “Estamos dian- as limitações da cosmovisão moderna e das fragilite do momento crítico da história da Terra, numa épo- dades do individualismo insensível à finitude dos reca em que a humanidade deve escolher o seu futu- cursos. Parte para considerações sobre um paradigro (…) A escolha é nossa e deve ser: ou formar uma ma novo e uma nova cosmologia. E dá uma definição aliança global para cuidar da Terra e cuidar uns dos de paradigma: conjunto articulado de visões da reaoutros, ou arriscar a nossa destruição e a destruição lidade, de valores, de tradições de hábitos consagrada diversidade da vida”. A atual ordos, de ideias, de sonhos, de modos de dem socioecológica é manifestaprodução e de consumo, de saberes, mente insustentável e dá o exemplo de ciências, de expressões culturais e da questão financeira denunciando estéticas e de caminhos éticos-espirique cresce a percentagem dos mais tuais. A nova cosmologia é profundaricos que consomem em volume esmente ecológica. E dá-nos uma deficandaloso as riquezas da Terra: “As nição de sustentabilidade, de acordo três pessoas mais ricas do mundo com os novos princípios que ele propossuem ativos superiores a toda a põe: “É toda a ação destinada a manriqueza dos 48 países mais pobres ter as condições energéticas, informaonde vivem 600 milhões de pessocionais, físico-químicas que sustentam as; 257 pessoas sozinhas acumulam todos os seres, especialmente a TerBeja Santos mais riqueza que 2,8 biliões de pesra viva, a comunidade de vida e a vida Assessor D. G. Consumidor soas, o que equivale a 45 % da huhumana, visando a sua continuidade manidade; atualmente 1 % dos norte-americanos e ainda atender as necessidades da geração presenganha o correspondente ao rendimento de 99 % da te e das futuras, de tal forma que o capital natural seja população”. Mas a insustentabilidade social também mantido e enriquecido na sua capacidade de regeneé um escândalo como a progressiva redução da biodi- ração, reprodução e coevolução”. A democracia socioversidade. De modo sintético, fala-nos igualmente do ecológica será a base da sustentabilidade e avança aquecimento global. Desenvolve as origens do con- com uma nova definição: “Uma sociedade é sustenceito da sustentabilidade e detém-se sobre a Carta do tável quando se organiza e se comporta de tal forRio de Janeiro aprovada em julho de 1992. ma que ela, através das gerações, consegue garantir Leonardo Boff argumenta com provas irrefutáveis a vida dos cidadãos e dos ecossistemas nos quais está inserida, junto com a comunidade de vida”. E recorda o peso da autonomia, da participação. Detalha seguidamente um conjunto de pressupostos para a sustentabilidade e tece considerações sobre os indicadores de um desenvolvimento sustentável. Mais adiante, equaciona sustentabilidade e educação, sustentabilidade e indivíduo para concluir com estas palavras: “Temos que voltar a fazer o bem, o justo e o certo, e não apenas a não fazer o mal. Por isso se justifica a intrigante pergunta: Que tipo de sustentabilidade os países industrializados e ricos podem oferecer para a vida e para a Terra se não conseguem sequer garantir a sustentabilidade daquilo que constitui o mais importante para eles, que são os mercados e o valor das moedas?” E deixa um sinal de esperança: “Por natureza somos seres de cooperação e solidariedade. Em momentos de grande risco e de tragédias coletivas anulam-se as diferenças de classe social e todos são convocados para a cooperação e para a solidariedade. Então entreajudamo-nos para nos salvar. Esse momento aproxima-se, pois a Terra está dando sinais inequívocos de stresse e de limites das suas forças”. Em anexo, o autor junta a Carta da Terra e um conjunto de dicas sobre sustentabilidade ecológica. Enfim, um ensaio de Leonardo Boff carregado de intenção e de elevação. Leitura obrigatória para quem se questiona sobre os desafios da sustentabilidade.


junho '12

regiões | diversos

IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

21

repórterdomarão

Fecho de tribunais revolta gente do interior  Populações temem que os encerramentos de serviços públicos prossigam, nomeadamente nas Finanças Os protestos contra o encerramento de tribunais nas sedes de concelho do interior sucedem-se. Alfândega da Fé, Mondim de Basto, Murça, Vinhais e Resende são apenas alguns exemplos de localidades que estão a manifestar a sua indignação contra o plano do Ministério da Justiça (MJ) de encerrar quase seis dezenas de tribunais de comarca. O documento divulgado pelo MJ prevê o encerramento de seis tribunais no distrito de Vila Real – Boticas, Mondim de Basto, Mesão Frio, Murça, Sabrosa e Valpaços. Por seu turno, no distrito de Bragança é anunciado o encerramento dos tribunais de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Vimioso, Vinhais e ainda Miranda do Douro, acrescentado na última revisão do estudo. Em Viseu, a proposta de encerramentos inclui nove tribunais: Armamar, Tabuaço, Castro Daire, Nelas, Oliveira de Frades, Resende, S. João da Pesqueira, Satão e Vouzela. Castelo de Paiva, do distrito de Aveiro, mantém o seu tribunal, cuja extinção esteva prevista em janeiro. A autarquia tinha alegado que a deslocação da população para o tribunal de Arouca, entre outros, era impraticável (estrada com centenas de curvas e sem transportes) e o ministério de Paula Teixeira da Cruz foi sensível aos argumentos. Também não se confirma o fecho do tribunal de Baião, onde a população chegou a manifestar-se contra a alegada intenção do MJ. O tribunal de Alijó também não entrou na lista final

de encerramentos, como suspeitava a autarquia e a população locais. A ministra, na revisão do estudo, prometeu extensões judiciais em algumas das comarcas que ficam sem tribunais e, por outro lado, alega que todas as capitais de distritos vão ser dotadas de tribunais especializados, o que até agora não acontecia. A parte especializada da justiça, em regra, não implica deslocações das partes e tão só dos mandatários ou outros agentes da justiça. Como, há dias, gritavam populares em Alfândega da Fé serão os arguidos não presos, os queixosos e outros intervenientes processuais (indiciados e acusados, conforme a fase processual dos processos) e as testemunhas quem mais sofrerá com o encerramento dos tribunais.

Murça é um dos 57 tribunais que o Governo quer fechar no país. Os protestos sucedem-se.

Por isso, os protestos das populações centram-se nas muitas deslocações (e algumas de muitas dezenas de quilómetros) que vão ter de efetuar para comparecer nos julgamentos (quantas vezes com adiamentos sucessivos), declarações no Ministério Público, etc. Segundo o documento que segue para discussão pública (o último?), o distrito de Braga manterá todos os tribunais – ao contrário da versão de janeiro que previa o encerramento de Cabeceiras de Basto – o mesmo sucedendo com o distrito do Porto. As forças locais do PSD, partido que governa o país em coligação com o CDS/PP, têm incorporado as manifestações, independentemente da cor política maioritária nas autarquias ser ou não socialista. "Não é o partido que nos cala", proclamou o social-democrata José Luís Correia, que foi a Alfândega da Fé participar na manifestação convocada por uma autarca socialista. O presidente de Carrazeda de Ansiães, que também está na lista de encerramentos, entende que "o povo está a ser usurpado" e que "este Governo não está a aplicar a social-democracia do PPD de Sá Carneiro". "Repudio estas políticas", concluiu. As populações do interior temem, ainda, que depois da extinção de vários serviços públicos, nomeadamente no ministério da Agricultura, da perda de valências nos centros de saúdes e hospitais e dos anunciados encerramentos dos tribunais, outros serviços públicos desapareçam nos próximos tempos em muitas localidades, nomeadamente os serviços de Finanças.


22 junho '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

crónica & artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

A.M.PIRES CABRAL

O LÚCIO De quando em quando, um gangue de alegres pescadores ditos desportivos, daqueles a quem nada mais interessa senão descarregar a sua fome de emoção no desgraçado dum peixe que se debate no outro extremo da linha, um desses gangues, dizia, com inconsciência irresponsável que mais apetecia dizer ignorância criminosa, e com total desrespeito pelos ecossistemas, resolve lançar numa pacata albufeira, dessas que vão proliferando por aí, para abastecimento de água ou produção eléctrica, uns poucos de lúcios. Ecossistema? Sabem lá eles o que é um ecossistema. E muito menos sabem a importância das relações entre as espécies, que a Natureza levou milhões de anos a apurar, e eles destroem – impunemente! – em três tempos. Julgam eles, alegres pescadores, que lucram com isso, porque terão assegurados muitos momentos da dita emoção: o lúcio é um peixe que dá luta como nenhum outro, e cresce a olhos vistos. Gabam-se então os alegres pescadores quando capturam um lúcio de xis quilos de peso e xis centímetros de comprimento, e fazem-se fotografar com o peixe ao lado. Mas não param um minuto para pensar que lançar lúcios na albufeira é – para além de um crime de lesa-Natureza – um pouco como matar a galinha dos ovos de ouro. Porque o lúcio – Esox lucius de seu nome científico – não brinca em serviço. Encerrado numa pequena albufeira, cedo começa a exterminar toda a vida ali existente: rãs, tritões, cobras-d’água, aves ribeirinhas, as espécies piscícolas indígenas, até chegar um momento em que, não havendo mais vida para deglutir, passa a comer os lúcios mais pequenos, depois os maiorzinhos, e assim sucessivamente até ao momento em que reine solitário naquelas águas um enorme lúcio que, se não for vítima do anzol de algum dos alegres pescadores, acabará por morrer à fome. E eis uma albufeira, que até ali fervilhava de vida, transformada num túmulo fétido. Parabéns aos tais alegres pescadores. Podem limpar as mãos à parede. Mas era de outra coisa que eu queria falar hoje. Hoje queria falar de como há dias me ocorreu quão semelhantes são

ao lúcio os sacrossantos mercados. Na verdade, os mercados, de sua natureza predadores e facilmente enerváveis, são como um lúcio que persegue a presa, implacável e voraz. Um lúcio cujo único objectivo é devorar. E, acaudatados pela matilha das agências de rating, devoram, devoram, devoram, até que – como o grande lúcio solitário na nossa pequena albufeira – não tenham mais nada a devorar senão a si próprios. Esta vocação, que no fim de contas tem o seu quê de suicidária, não me causaria grande aquela, se não olhasse em volta e visse o rasto de miséria, de fome, de negação da dignidade humana, que os mercados deixam no seu caminho em direcção ao seu fim último: engordar. E vêm-me à memória românticas palavras de Almeida Garrett, já no séc. XIX: «Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. – No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? […] Cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.» E ocorre-me também a abertura de um poema de Jorge de Sena (cito de cor): «Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.» Esta dúvida do poeta repercute em mim desde que fui pai pela primeira vez. E, ao contemplar embevecido um neto que tenho – que agora começa a andar e, na sua curiosidade irreprimível, corre a casa abrindo portas e revolvendo gavetas –, o garrote da dúvida oprime-me ainda com mais força. Que fará deste menino a cavalgada obscena dos mercados? Que futuro reservará para ele?

AMY WINEHOUSE 2012

O OLHAR DE... Eduardo Pinto O Fogo Amarante Anos 60

pirescabral@oniduo.pt Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico.

1933-2009 Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

Fundado em 1984 | Jornal/Revista Mensal Registo ERC 109 918 | Dep. Legal: 26663/89 Sede/Redação: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 | Apartado 200 4630-279 MARCO DE CANAVESES Telef. 910 536 928 E-mail: tamegapress@gmail.com Diretor: Jorge Sousa (C.P. 1689) Redação e colaboradores: Liliana Leandro (C.P. 8592), Paula Lima (C.P. 6019), Carlos Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Patrícia Posse (C.P. 9322), Helena Fidalgo (C.P. 3563) Alexandre Panda (C.P. 8276), António Orlando (C.P. 3057), Jorge Sousa, Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, A. Massa Constâncio (C.P. 3919), Ana Leite (T.P. 1341), Armindo Mendes (C.P. 3041), Paulo Alexandre Teixeira (C.P. 9336), Iolanda Vilar (C.P. 5555), Manuel Teles (Fotojornalista), Mónica Ferreira (C.P. 8839), Lúcia Pereira (C.P. 6958), Daniel Faiões (T.P. 991), Joana Vales (T.P. 1599).

Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: José Carlos Pereira, Cláudia Moura, Alberto Santos, José Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, Armando Miro, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo.

Cap. Social: 80.000 Euros – Partes sociais superiores a 10% do capital: António Martinho Barbosa Gomes Coutinho, Jorge Manuel Soares de Sousa. Impressão: Multiponto SA - Baltar, Paredes Tiragem média: 20.000 a 30.000 ex. (Auditados) | Associado APCT - Ass. Portuguesa de Controlo de Tiragem e Circulação | Ass. nº 486

Colaborações/Outsourcing/Agências: Media Marco, Baião Repórter/Marão Online

Assinaturas | Anual: Embalamento e pagamento dos portes CTT – Continente: 40,00 | Europa: 70,00 | Resto do Mundo: 100,00 (IVA incluído)

Marketing, RP e Publicidade: Telef. 910 536 928 - Marta Sousa publicidade.tamegapress@gmail.com | martasousa.tamegapress@gmail.com

A opinião expressa nos artigos assinados pode não corresponder necessariamente à da Direção deste jornal.

Propriedade e Edição: Tâmegapress-Comunicação e Multimédia, Lda. • NIPC: 508920450 Sede: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 4630-279 MARCO DE CANAVESES

PUBLICIDADE 910 536 928 publicidade.tamegapress@gmail.com


junho '12

eventos | crónica

IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

23

repórterdomarão

Festival de Músicas do Mundo no Teatro de Vila Real O ciclo Concertos de Verão – Festival de Músicas do Mundo do Teatro de Vila Real vai apresentar todos os espetáculos à sexta-feira e sábado, que se traduz no aumento da oferta musical nos meses de Verão, tanto para a população residente como para os turistas que visitam a região. O cartaz de 2012 assenta, segundo a organização, "numa diversidade de géneros e atitudes musicais, procurando cruzar diferentes públicos e escalões etários". Estão agendados 16 concertos com artistas provenientes de 6 países. O primeiro concerto surge a 23 de junho com a cantora Áurea. Seguem-se B Fachada, Diabo na Cruz, Amadeu Magalhães, Toques do Caramulo, Carlos Mendes, Fernando Tordo e Filipa Pais. O imaginário brasileiro estará representado por Vanessa da Mata e Fred Martins, cantor e compositor que escreveu alguns êxitos de Ney Matogrossso, Maria Rita e Zélia Duncan. A 4 de agosto atuam Maria João e Mário Laginha. Os espanhóis Malasañers e The Ben Gunn Mento Band trazem ao festival influências célticas e caribenhas, respetivamente. Os espanhóis Le Traste e His Majesty The King, os americanos The Last Internationale e os ingleses Sid Sings e a Antwerp Gipsy-Ska Orkestra são as restantes propostas. Os concertos, com entrada gratuita, terão lugar no Auditório Exterior, às 22h30.

Miguel Vasconcelos expõe rostos em Fafe A exposição de pintura “84 CABECAS”, da autoria de Miguel Vasconcelos, vai manter-se aberta ao pública até 29 de junho. A mostra está patente na Galeria Municipal de Fafe (Casa Municipal de Cultura), com uma série de trabalhos realizados entre 2009 e 2012. Nascido em 1967, Miguel Vasconcelos é licenciado desde 2009 em Artes/Desenho pela Escola Superior Artística do Porto (Guimarães) e participou já em dezenas de exposições coletivas. "Os trabalhos têm como ponto de partida a pesquisa e recolha de imagens de rostos, desenhados por mim ou através da apropriação de imagens em jornais, revistas, internet, televisão ou ainda fotografias de gente anónima. As imagens são fotocopiadas e intervencionadas plasticamente através do uso de vários meios tecnológicos, criando outras imagens que emergem “do outro lado”, explica o artista.

António Mota

Mariana e Elisa Às vezes ponho-me a pensar: que é que eu fiz de mal para receber tanta ingratidão, tanta injustiça? Quem me dera não ter crescido. Fui tão feliz nos meus sonhos de menina. Bastava-me abraçar a minha boneca pequenina e imaginar. Nesse tempo eu acreditava que numa manhã ensolarada havia de acordar transformada em princesa, e ficaria muito feliz ao ver-me deitada numa imensa cama de dossel, de um dos muitos quartos do meu palácio, rodeado por jardins e flores a perder de vista, servida por empregados, elegantes e bem dispostos. Era esse o meu sonho secreto, o meu sonho de menina. Mas isso já foi há muitos anos, nem sei por que é que estou a contar agora. Quando fui para a escola é que comecei a aperceber-me que as outras meninas tinham mais roupa, mais calçado e mais gelados e chocolates. Mas eu, nos primeiros anos não ficava muito triste. Eu sabia que elas não tinham uma avó igual à minha. Elas não sabiam que a minha avó Elisa fazia aletria todos os domingos, e ensinava-me a fazer letras e desenhos com o pó da canela caindo naqueles pratos cheios. A minha avó entrava nos meus sonhos e dava-me muitos conselhos: acredita em ti, Mariana. Nunca te esqueças que a mulher é igual ao homem. Os rapazes e os homens de todas as idades trazem o sexo na cabeça e são todos mentirosos. Acredita em ti, Mariana. Ninguém dá nada a ninguém. Nunca te esqueças destas palavras. Olha que eu já vi muita coisa, e sei muito bem o que estou a dizer. Acredita sempre, nunca desistas, Mariana. Há sempre uma luzinha à nossa espera. Num domingo de Inverno não houve aletria. A minha avó apareceu estirada no meio da sala, toda descomposta, e eu reparei que tinha os olhos muito abertos, e as mãos geladas. A minha avó tinha os olhos verdes. A partir desse domingo nunca mais houve pratos de aletria com pássaros voando, casas estranhas, castelos pequeninos e princesas de canela. A partir desse domingo eu envelheci muitos anos e arrumei a minha boneca na caixa onde guardo seis guardanapos

de linho, bordados pela minha avó, que recebi no dia em que fiz anos. Nos guardanapos há muitos pássaros azuis e vermelhos. Todos os pássaros têm os olhos muito verdes. Às vezes desdobro os guardanapos, e quando vejo a cor dos olhos da minha avó, lembro-me daquelas frases mil vezes repetidas: Os homens de todas as idades trazem o sexo na cabeça e são todos mentirosos. Nunca te esqueças que a mulher é igual ao Homem, Mariana. Ninguém dá nada a ninguém, Mariana. Acredita em ti, Mariana. Acredita sempre, nunca desistas, Mariana. Há sempre uma luzinha à nossa espera. E eu não desisti. Esforcei-me imenso, estudei, apliquei-me. Fiz o décimo segundo ano com uma boa nota. E agora? Perguntou o meu pai, desempregado da construção civil. Agora? Agora acabou-se, disse a minha mãe, doméstica, conformada, encharcada em pastilhas. Onde vais arranjar dinheiro para continuar a estudar para tão longe? Isso é para quem pode, não é para nós. Quando é que vais meter na cabeça que o nosso destino é como uma roda da sorte, encalha onde quer. Já está tudo escrito, não adianta fugir ao destino. E então qual é o meu destino, mãe? , perguntei, farta de saber a resposta. Não sei o que te espera, agora seres uma doutora é que não estou a ver. Mas nunca se sabe. Se um dia nos sair o euromilhões, batia tudo certo. Respondi: há as bolsas de estudo. Acredita sempre, nunca desistas, dizia a avó. E é isso que eu vou fazer. Matriculei-me na universidade, partilhei quarto, procurei ajudas, a bolsa estava atrasada, poupei, aguentei um mês, a bolsa continuava atrasada, fiquei sem dinheiro, passei fome, não vi nenhuma luzinha, voltei para casa. Agora procuro um emprego, qualquer coisa serve. E quero continuar a acreditar muito nas palavras da minha avó e nos pássaros de olhos verdes que não param de voar.

anttoniomotta@gmail.com



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.