Reporter do Marao

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Pastoreio de regresso à serra Medicina veterinária ensaia sincronização do cio para modificar a reprodução de cabritos

S E T E M B R O ’ 12

do Tâmega e Sousa ao Nordeste

Prémio GAZETA

LEITURA. Nº 1267 | setembro ' 12 | Ano 29 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. OFERECEMOS

repórterdomarão

Rebanho com 600 cabras no Marão enche a vida de três irmãos da aldeia de Murgido

António Mota candidato a prémio ibero-americano

Trabalhamos cada vez mais por menos dinheiro , avisa Manuel Jorge Marmelo

Requalificação do centro urbano promete melhorar mobilidade em Marco de Canaveses


Sincronização dos cios 

Técnica vai permitir que uma cabra tenha

O cabrito assado no forno é uma das iguarias que, por alturas da Páscoa, não pode faltar à mesa dos transmontanos e durienses. E se, por obra da ciência, fosse possível introduzir este prato na ementa do Natal? É bem provável que tal venha a acontecer graças a uma técnica que está a ser ensaiada numa exploração de caprinos, encravada na serra do Marão.

Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | J.S. “A ideia principal é ter uma mais-valia económica e rentabilizar a exploração, uma vez que os pequenos ruminantes, como as cabras e as ovelhas, não estão em cio o ano todo”, resume o veterinário Domingos Amaro, 30 anos, responsável por implementar o método da sincronização dos cios. Com esta técnica, os criadores de gado vão poder ter cabritos ou cordeiros nas épocas em que são mais valorizados a nível do mercado. “Para isso é preciso induzir os cios nas cabras na altura em que nos interessa, de forma a que os cabritos estejam prontos a ir para o mercado quando queremos”, reforça o médico veterinário. Com um ciclo reprodutivo concentrado nos dias de curta duração, as cabras são induzidas em cio, através da introdução de hormonas. “Estamos a utilizar produtos que o organismo já produz naturalmente, mas em alturas

que não está a produzir por causa da duração da luz do dia. É tudo uma simulação.” Podem ser colocadas, durante alguns dias, esponjas vaginais impregnadas de progestagénio. “Posteriormente, é administrado outro produto para ovularem. As cabras entram em cio nas 48h seguintes e todas ao mesmo tempo. Isso permite-nos introduzir os machos para garantir que são cobertas.”

Controlo reprodutivo Domingos Amaro refere ainda que esta técnica facilita “a nível de maneio”, pois as cabras vão passar menos tempo com os machos e os partos vão estar mais concentrados no tempo. Em alternativa, são colocados implantes de melatonina a nível cutâneo (junto à orelha do animal) e, depois, o processo desenrola-se nos mesmos parâmetros.

Fernando e Joaquim Esteves preparam o dia na serra

As cabras, tal como as ovelhas, são animais que só entram em cio em dias curtos. “Portanto, à medida que os dias vão decrescendo, vão começando a entrar em cio, cuja duração é de cerca de 48 horas”, revela Domingos Amaro. Como o efetivo o permite, as cabras são divididas em lotes ao longo do ano, em função do número de cabritos que os criadores pretendem para uma determinada época. “Para a Páscoa, em que há maior procura de cabrito, vamos ter de sincronizar um número maior de cabras.” Para se proceder à sincronização, são selecionadas as fêmeas que apresentam melhor condição corporal e que já tenham parido há mais de 100 dias. “Se queremos 120 cabras, vamos fazer três lotes de 40. São sincronizadas em três semanas, porque os machos têm de ter capacidade para cobrir as cabras todas e não podem ficar esgotados”, explica o veterinário. Na sincronização dos cios recorre-se ao sistema de monta natural, pelo que esta gestão do tempo se torna crucial. Se as cabras não são cobertas, voltam a entrar em cio decorridos 14 a 19 dias. Se ficarem gestantes, ocorre o parto cinco meses depois. “O objetivo é obtermos um parto e meio em cada dois anos, ou seja, três partos em cada dois anos. É a média ideal para rentabi-

lizar”, avança. Como se trata de uma raça autóctone, a cabra bravia necessita apenas de um reforço alimentar (grão ou milho) durante a gestação e no pós-parto, o que lhe vai permitir “ter reservas para aguentar o parto e poder alimentar a cria”. “De resto, é uma raça rústica que não requer grandes cuidados a nível alimentar, porque vive daquilo que há na serra e está adaptada às condições que aqui existem.”

Procedimento que exige rigor Domingos Amaro alerta para a necessidade de rigor e fiabilidade no registo e no acompanhamento de todo o processo de sincronização de cios. “É preciso que quem está responsável pela exploração tenha consciência que só havendo um bom registo e cumprindo as regras, é que isto vai resultar. Se não, é desperdício de dinheiro, recursos e tempo.” No registo podem encontrar-se informações tão diversas como o número de identificação do animal, a data em que foi introduzida e retirada a esponja ou ainda os dados do diagnóstico de gestação. “Passados 45 dias é feita uma ecografia para saber se a cabra ficou gestante. Se não ficou, já nos dá


ajuda criação de cabritos três partos em cada dois anos a indicação se temos de ajustar a dose de algum produto ou intervir a outro nível. As que não ficarem gestantes são separadas para entrarem no lote seguinte”, afirma. Às cabras paridas são colocadas coleiras pretas, enquanto as coleiras de diferentes cores revelam o tempo de gestação. As primeiras sincronizações datam de março, mas os resultados acontecerão em meados de 2013. “Este ano, já vai haver alguns cabritos para o Natal, mas ainda não é um número significativo”, revela o veterinário. Feito o balanço da experiência, “se os resultados não corresponderem à expectativa, temos de investigar para saber o que se passou”. A sincronização dos cios requer “algum investimento na aquisição dos produtos, que não são baratos, e o serviço do veterinário para acompanhamento”, podendo a despesa oscilar entre os 5 e os 10 euros por cada cabra. Segundo Domingos Amaro, a sincronização dos cios ainda não é comummente aplicada em Trás-os-Montes “talvez pelo tipo de produção não ser em grande escala” e pela pouca abertura de espírito para apostar neste método. “O investimento ainda é grande e não é com 50 cabras que vamos rentabilizar esta técnica”, salienta.

Domingos Amaro


Pastoreio regressa à Foi a paixão pelos caprinos, coadjuvada pelos tempos conturbados que se vivem, que levou António, Joaquim e Fernando Esteves a avançar com um projeto de exploração agropecuária na aldeia serrana de Murgido (concelho de Amarante). “Tenho colegas de 20 a 30 anos que estão a pensar meter projetos para se dedicar à criação de gado, mas pelo facto de atravessarmos esta crise e não verem alternativa”, sublinha Fernando, 36 anos. Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | J.S. Em 2010, os três irmãos candidataram o projeto ao Proder – Programa de Desenvolvimento Rural, num total de 300 mil euros de investimento (105 mil do montante foi cofinanciado). Hoje, são donos de 600 cabeças de gado e 20 vacas, dando trabalho a mais duas pessoas. Além da dimensão, a sua exploração tornou-se pioneira na região por ensaiar a sincronização dos cios. Fernando fez algumas pesquisas na Internet e decidiu investir para ter cabritos ao longo do ano (oito meses) e dar resposta ao mercado da restauração. “Perante o escoamento que tenho e a falta de produto, veio esta ideia de fazer a sincronização para que possamos ter cabritos quando nós queremos.”

Fernando Esteves conta ao RM como gere o dia-a-dia do maior rebanho de cabras da serra do Marão

Se a experiência correr pelo melhor, Fernando não tem dúvidas de que é “muito positiva e lucrativa”, porque obtém “mais animais e 70 a 80% das cabras trazem dois cabritos”. “A parte negativa é o investimento que isto representa, mas eu faço as contas no fim. Se as coisas correrem bem, o investimento será recuperado” . A meta é chegar a uma média de 600 a 700 cabritos por ano, contando com “10% que morrem e ainda 20% dos cabritos que nascem ficam para aumentar o efetivo”. Para já, foram sincronizadas à volta de 250 cabras. “Sem subsídios não consigo sobreviver só disto. Com a sincronização em 600 cabeças e a atingir o pleno, será possível”, afirma Fernando, esperançado.

“Não é pastor quem quer, mas quem sabe” Esteja um frio de rachar ou um sol escaldante, António Esteves, 51 anos, percorre as encostas da serra do Marão, dia após dia, atrás de um rebanho de cerca de 600 cabeças. “Gosto muito disto. É um trabalho agradável e muito airoso”, frisa. Natural de Murgido, António é um dos três pastores da serra do Marão, sendo que os colegas têm rebanhos na ordem das 150 a 200 cabeças. “Não é pastor quem quer, mas quem sabe. Quando há pouco pasto, é preciso saber pastorear. Não é qualquer um.”

Apelo do monte mais forte que a vida em França Antes de se tornar pastor, António abraçou outras profissões, inclusivamente além-fronteiras. “Em 1978, trabalhei na plantação de floresta na serra do Marão. Depois fui trabalhar na construção civil para Coimbra, Lisboa, Algarve e, mais tarde, França.” Em 1998, regressou ao País


serra do Marão com a família e dedicou-se à pintura. “Há dois anos decidi vir para pastor. Os meus pais já tinham gado e é por isso que gosto disto. Já fiz vários trabalhos, mas o que mais gosto é este.” No entanto, pastorear as cabras é “um bocadinho cansativo também”, porque calcorreia 12 a 18 quilómetros por dia. “Oriento-as bem, elas obedecem e, depois, os cães também ajudam, embora não virem o rebanho”, assegura.

Quando as cabras se perdem... Além de protegerem o rebanho de predadores, os quatro cães são companheiros incondicionais das cabras que se perdem pela serra. “Não contamos o rebanho todos os dias e, às vezes, falta uma ou duas. Quando fica um grupo grande, não há problema porque elas juntam-se e, no dia seguinte, aparecem.” António conta ainda que “houve uma altura em que desapareceram uma dúzia de cabras”, mas que apareceram uma semana depois. “Às vezes não regressam porque podem cair nas minas do Teixo ou ficarem presas no meio do mato.” De cajado na mão, o pastor garante que nunca viu nenhum lobo no Marão, pelo que a lista

dos predadores fica limitada: “só se for alguma raposa que ataque um cabritinho e as águias também aparecem de vez em quando”. Por volta das 07:00, António ruma à serra, juntamente com outro colega que o ajuda a pastorear as 570 cabeças (os bodes ficam no estábulo). Durante o verão, até sai mais cedo. “Hoje, pastores há poucos e deviam dar valor a isto. O mais novo que encontrei (e não foi no Marão) tinha entre 30 a 40 anos.” António sabe de cor o ciclo comportamental das cabras bravias, que “comem oito horas, remoem outras oito e dormem mais oito”. “Elas procuram o pasto para o alimento e, ao final do dia, quando já estão satisfeitas, deitam-se na serra ou no estábulo e ruminam.” Além de serem muito seletivas naquilo que comem, as cabras bravias ingerem diariamente entre três a quatro litros de água. “Temos acolá uma ribeira [rio Teixeira] e elas vão nessa direção, porque na serra há pouca água.”

Nevoeiro é o maior inimigo De inverno, o maior inimigo do pastor é mesmo o nevoeiro cerrado. “Há dias e dias seguidos.

Às vezes, uma semana ou duas. Aí, é mais complicado orientar as cabras, porque a gente não consegue vê-las a uma distância superior a 20 metros, se tanto.” É por isso que se torna fundamental colocar chocalhos ao pescoço de algumas cabras: “tenho uma média de 90 cabeças com chocalho para orientar o pastor e o rebanho”.

Chocalho não é adorno... O som emitido pelo chocalho ganha ainda uma outra relevância após o parto, pois influencia o reconhecimento da mãe por parte do cabrito. “Quando a cabra chega ao estábulo e o filho ouve o chocalho, berra logo. As que não têm chocalho já têm mais dificuldade, vão mais pelo cheiro”, explica. Quando é necessário, António auxilia as cabras no momento do parto. “São uma a duas horas em trabalho de parto, mas o cabritinho nasce em 10 minutos.” De chapéu na cabeça e mochila às costas, com o farnel, António comunica com os irmãos ou o colega através do walkie talkie, permitindo perceber se há cabras que se dispersam ou dar conta da sua localização. Se desce o Marão para ir até à cidade mais próxima, António confessa-se “sempre ansioso por voltar para a serra”.

António Esteves


É no Grande Circo Romani, onde um dia morre o burro cantor Pavarotti, que se passa a mais recente obra do jornalista e escritor Manuel Jorge Marmelo: “Somos todos um bocado ciganos”. Aos 41 anos, o autor do Porto conta com mais de duas dezenas de obras publicadas, tendo já sito editado em França, Itália, Brasil e Espanha. Mas se por um lado defende que a “literatura vive muito bem em Portugal”, bastando olhar para a quantidade de “escritores de qualidade” que surgiram nos últimos anos, o mesmo já não pode ser dito do jornalismo que, diz, “vive um bocadinho pior”.

Liliana Leandro | lleandro.tamegapress@gmail.com Fotos D.R.

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Entrevista | Escritor/Jornalista Manuel Jorge Marmelo

“ Trabalha-se cada vez mais por menos dinheiro ” Em 1989 era constituída a empresa que daria origem ao jornal diário Público. Também em 1989 Jorge Marmelo era um “rapaz com sonhos e que gostava de escrever” que terminava o 12.º ano e esperava para fazer as provas específicas para entrar na universidade. “Respondi nessa altura a um anúncio de jornal e, algo inacreditavelmente, consegui ser selecionado para fazer parte da equipa que pôs o jornal Público na rua”, recorda em entrevista ao Repórter do Marão. O seu primeiro livro, “O homem que julgou morrer de amor” sairia para as bancas apenas em 1996, depois de ter frequentado dois anos do curso de Filosofia. Seguiram-se romances, crónicas, contos infantis, teatro em simultâneo com as entrevistas, notícias e reportagens que ia escrevendo para o jornal. A vontade de escrever, essa talvez “nasça com a leitura, com os mergulhos nos universos paralelos que os grandes escritores conseguem criar e, de algum modo, com a tentativa de imitar, de querer fazer parte da grande máquina de realidades possíveis que a escrita (também) é”, conta. O ânimo para a literatura nem sempre lá está, especialmente depois de um “dia inteiro a trabalhar como jornalista”, mas Jorge Marmelo assegura que “é possível fazer uma coisa e a outra, desde que se consiga estabelecer uma fronteira qualquer”.

O Manuel escritor “Por exemplo, assino os meus livros com o meu primeiro nome, Manuel, o que não acontece nas notícias, reportagens ou crónicas. É uma espécie de barreira psicológica, apenas, mas foi a forma que encontrei de separar, na medida do possível, as duas atividades que mantenho”. Do outro lado da pena, o lado do Jorge sem o Manuel, o jornalismo vive tempos difíceis com um desinvestimento evidente, trabalhando-se “cada vez mais por menos dinheiro, em piores condições e tendo expectativas menos ambiciosas, na medida em que o potencial leitor também não faz muita questão de ser informado, ou não age em conformidade com a informação que tem ao seu dispor”. Contudo, o Manuel escritor não desiste e procura, nos seus livros, alertar para temas como o preconceito, seja racial, cultural, político ou económico, como é o caso do recente “Somos todos um bocado ciganos” que conta a história de um “rapazinho pré-adolescente, artista de um pequeno circo, que se vai descobrindo enquanto parte de um mundo preconceituoso e malvado”, conta. O autor procurou que esse rapaz tivesse as mesmas referências "culturais" que ele próprio tinha com aquela idade, “um pouco para reforçar a ideia de que somos todos, os nascidos na década de 1970, pessoas parecidas com alguém que, por ser um bocado cigano, filho de uma cigana, é objeto de um conjunto de

Nome: Manuel Jorge de Jesus da Cunha Marmelo Data de nascimento: 1971 Local de Nascimento: Porto Habilitações: 2º ano Filosofia (inc.)

Livro: “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez Filme: “One from the heart”, de Francis Ford Coppola Música: “Desafinado”, de Tom Jobim

preconceitos particularmente estúpidos num país que é o resultado de um enorme cruzamento de etnias e de heranças culturais”. E se todos somos um bocado ciganos, também Jorge Marmelo é um bocado transmontano e alentejano e até um bocado judeu, árabe, romano, ou visigodo que encontra o seu escape em casa, nos seus livros, nos dois filhos e naquela “parte do cérebro que não está à venda e que se mantém como um reduto de liberdade absoluta”. Já ganhou o grande prémio do conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores e é o mais novo Biografado no Dicionário de Personalidades Portuenses do século XX. Muitas páginas de jornal escritas, e vinte e três livros depois, “logo se verá se há ou não” mais obras “conforme as histórias forem reclamando ser contadas”.


CULTURA | Escritor de Baião já publicou mais de 70 livros infantis e juvenis

António Mota é candidato a prémio ibero-americano O escritor António Mota, autor de mais de 70 obras literárias, é candidato ao Prémio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil, no valor de 24.000 euros, informou a Direcção-geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB). Este prémio literário, criado em 2005 pela Fundación SM, destina-se a promover «o trabalho de escritores vivos com obra de reconhecida relevância literária dedicada a jovens e crianças», refere a organização. A DGLAB candidatou ao prémio o nome de António Mota, escritor com mais de trinta anos de carreira literária e longa experiência no ensino e promoção da leitura junto dos mais novos. Em edições anteriores, a DGLAB tinha proposto ao prémio os autores António Torrado, Alice Vieira e Luísa Ducla Soares. Os finalistas serão conhecidos em outubro e o prémio será entregue durante a Feira do Livro

de Guadalajara, no México. António Mota nasceu em 1957 em Vilarelho, Ovil, Baião. Começou a dar aulas aos 18 anos e teve a estreia literária aos 22 anos, com "A aldeia das flores" (1979). O escritor «transpõe para os seus livros memórias da infância, passada numa pequena aldeia da região do Douro, e constrói, com particular sensibilidade e humor, histórias com problemas atuais que cativa crianças, jovens e adultos», aos quais se juntam recriações de contos populares e tradicionais, refere a DGLAB. Em 1983 recebeu o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores com o livro "O rapaz de Louredo" e em 1990 o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças com "Pedro Alecrim" (atualmente na 14ª edição). A Fundação Calouste Gulbenkian voltou a distingui-lo com o mesmo prémio em 2004, na

modalidade 'Livro Ilustrado', com "Se eu fosse muito magrinho", com ilustração de André Letria. Tem mais de 50 livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura. "A casa das bengalas", "Grilo verde", "Pardinhas", "Andarilhos em Baião", "Ninguém perguntou por mim", "Os heróis do 6º F", "O príncipe com cabeça de cavalo" e "Pedro Malasartes" são algumas das obras editadas por António Mota. O escritor também está ligado aos quase 30 anos desta publicação. Colaborou no arranque do projeto, que nasceu precisamente na sua terra natal e ao longo de três décadas foi autor de diversos trabalhos, nomeadamente as muito apreciadas crónicas. Desde 2009, assina mensalmente no Repórter do Marão a coluna "Sem eira nem beira" [ver pg. 23].



Novos projetos turísticos de excelência arrancam no território Douro Verde No segundo concurso do Subprograma 3 do PRODER no Território Douro Verde a Dolmen aprovou 60 projetos, que atingem o montante global de cerca de 5 milhões de euros. Os novos investimentos devem gerar mais de uma centena de postos de trabalho. Nesta edição, damos conta da situação de alguns deles – Casa do Outeiro, Quinta da Ventozela, Douro Suites e Casa da Lavandeira, localizados respetivamente em Resende, Cinfães e Baião (2). O alojamento turístico em espaço rural é comum a todos eles, mas sobressai também a valorização do património, nomeadamente no caso de Resende, em que está a ser recuperado um imóvel do fim do século XVII e início do XVIII. Estes novos investimentos enquadram-se “na dinamização das economias locais e na promoção das potencialidades do território”. Todos estes projetos representam ações de valorização do território “Douro Verde”, tornando-o mais atrativo, além da importância que representa no atual quadro económico a criação de mais uma centena de postos de trabalho.

Casa do Outeiro, em Anreade (Resende) A Quinta do Outeiro, em Anreade, Resende, é o projeto em construção de maior envergadura no segmento de turismo rural. Trata-se da recuperação e requalificação de uma quinta com 6 hectares, que também produz vinho e diversos tipos de fruta. Tem uma casa de arquitetura senhorial, jardins de grande beleza e muito bem conservados e ainda uma capela, cuja origem remontará ao final do século XVII. O imóvel está classificado como Interesse Municipal do Concelho de Resende. Uma empresa de um cidadão inglês radicado no nosso país adquiriu a quinta em junho de 2006 e avançou com o projeto de recuperação. O investimento de Resende é da responsabilidade da Jonathan Tooley Associados, Lda. e ultrapassará 1,2 milhões de euros, se contabilizar-se a aquisição da quinta. O valor elegível apresentado ao PRODER é de aproximadamente 300 mil euros, beneficiando de uma comparticipação comunitária de 125 mil euros. No projeto aprovado serão criadas 6 novas unidades de alojamento, localizando-se 4 na casa senho-

rial e 2 na casa rural anexa. A propriedade dispõe ainda de mais três casas, algumas delas já recuperadas, que poderão ser agregadas futuramente ao alojamento a oferecer aos visitantes, no total de 13 suites. A conclusão do empreendimento deverá ocorrer em setembro de 2013. "Com a necessidade de salvaguardar, conservar e recuperar um vasto património arquitetónico e paisagístico, pretende esta operação a reabilitação do património construído em comunhão com a sua história, onde funcionará um empreendimento turístico na modalidade de agro-turismo. Oferece-se um produto completo, com participação nas actividades agrícolas rurais, onde a tradição e a animação cultural de cariz vernacular e rural aliam-se com modernidade e contemporaneidade", justifica o promotor. Localizada a cerca de dois quilómetros da estância termal de Caldas de Aregos, o promotor da Quinta do Outeiro propõe-se também "organizar eventos temáticos anuais, no domínio da viticultura, da gastronomia, da enologia e do turismo de natureza".

MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004


Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

DOURO SUITES, em Ribadouro (Baião) Douro Suites é um novo projeto de investimento turístico a realizar na albufeira da Pala (margem direita do rio Douro), em Ribadouro, Baião. Foi aprovado no segundo concurso do Subprograma 3 do PRODER e terá um apoio comunitário de cerca de 123 mil euros. O investimento global apresentado pelo promotor é de 300 mil euros, tendo sido elegível o montante de 204.711,53. A operação consiste "na remodelação de um empreendimento de elevado valor arquitetónico para turismo rural" e serão construídas 6 unidades de alojamento (suite). Segundo o promotor, trata-se de "uma oferta distinta da tradicional oferta de turismo rural, na medida em que a qualidade do alojamento e serviço deverá ser qualificada como de 5 estrelas", um nível ainda inexistente na região. O investimento vai criar 6 postos de trabalho para jovens qualificados da região, promovendo a fixação de mão de obra especializada. Além da criação das seis suites (unidades de alojamento), o promotor propõe no investimento a execução de um conjunto de valências: - Celebração de protocolos institucionais (operadores turísticos, agências) com várias entidades de forma a maximizar a valorização dos recursos endógenos da região, tendo como base estratégica a valorização do Douro, como uma das principais atrações turísticas da região; - Realização de atividades culturais e ambientais, com finalidade de fidelização do cliente alvo à região e seus produtos, seduzindo-o perante as magníficas características que temos para o presentear; - Realização de atividades associadas à água e ao Douro como passeios de barco, passeios de vela e aulas de vela, aluguer de motos de água, disponibilização de guias turísticos, visitas guiadas a pontos de referência da região, etc.; É ainda proposta a realização de alguns eventos e festas privadas aproveitando o espaço envolvente do imóvel a recuperar (conhecido por Casa do Rio), bem como a realização de uma forte campanha de divulgação/publicitação da nova unidade hoteleira, "potenciando as suas características únicas e sua intimidade com a região".

QUINTA DE VENTOZELA, em Casal (Cinfães)

CASA DA LAVANDEIRA, em Ancede (Baião)

A Quinta da Ventozela, em Cinfães, apresentou um projeto para reforçar o alojamento, passando dos oito quartos disponíveis para 12 unidades. O investimento a realizar tem o valor global de 235 mil euros, o montante elegível é de 157 mil euros e apoio financeiro atingirá 79 mil euros. Será criado mais um posto de trabalho. Além do alojamento existente e a gerar, a Quinta da

A Casa da Lavandeira, em Penalva, Ancede, Baião, que iniciou recentemente a exploração de um empreendimento turístico de nível superior, prepara um novo projeto que visa complementar a oferta que pretende disponibilizar aos clientes que visitam a quinta – a recuperação de um conjunto de moinhos situados na margem esquerda do rio Ovil. São moinhos a água, que outrora produziram farinha de diversos tipos. A recuperação dos sete moinhos (um deles na foto) enquadra-se na valorização do património agro-turístico e pretende ainda recriar uma atividade que outrora teve alguma notoriedade no território Douro Verde.

Ventozela pretende criar um SPA, uma Loja de Artesanato e produtos Locais e condições para a prática equestre. "Estamos a preparar-nos para estar num conceito mais ligado à natureza e ao ambiente, pois o Bestança Carbono Zero e toda a envolvente assim o exige", refere o investidor. O objetivo é criar um espaço para o Turismo Equestre, com 4 box's para cavalos (próprios e de clientes).

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Melhoria da mobilidade, novos pavimentos e moderno mobiliário urbano

Primeira fase da requalificação urbana arrancou na cidade do Marco de Canaveses A tão aguardada requalificação urbana na cidade do Marco de Canaveses já arrancou. Sendo uma bandeira do atual presidente da câmara, Manuel Moreira, coube-lhe a condução da máquina que, de forma simbólica, deu início às obras da Requalificação Urbana da Cidade (fotos), numa cerimónia que juntou autarcas, empresários e alguns cidadãos. A primeira fase decorrerá entre a rua Dr. Francisco Sá Carneiro, junto ao posto de abastecimento da Galp e rotunda do BES, o que obriga ao desvio de trânsito. Segundo a autarquia, os veículos estão a ser encaminhados para as artérias alternativas, de acordo com a respetiva sinalização. O autarca aproveitou a ocasião para pedir «paciência e compreensão aos moradores e comerciantes afetados pelo corte de trânsito. São constrangimentos inevitáveis, mas que vão melhorar e

valorizar a qualidade do espaço urbano da nossa sala de visitas». A Requalificação Urbana da Cidade, um investimento de cerca de cinco milhões de euros, vai permitir, disse Manuel Moreira, «melhor fluidez de trânsito, reorganização de estacionamento, novas pavimentações, passeios mais largos e melhores condições de acessibilidade e mobilidade, mais passadeiras, novas paragens de autocarro, colocação de reguladores de fluxos de iluminação pública para uma maior eficiência energética, mobiliário urbano e áreas verdes". O projeto contempla ainda a requalificação da antiga Casa do Povo de Fornos, que dará lugar ao Marco Fórum XXI, com a instalação de vários serviços públicos. O tráfego de veículos pesados na cidade está proibido, com excepção para cargas e descargas, a passagem de transportes públicos, veículos de

bombeiros e limpeza urbana. As praças de táxis em vigor manter-se-ão durante a primeira fase das obras mas algumas paragens/abrigos das carreiras de transportes públicos mudarão de local. "A Requalificação do Centro Urbano da Cidade do Marco de Canaveses vai trazer nova vida e diferentes experiências, permitindo uma maior dinamização do comércio tradicional e das actividades culturais, sociais e desportivas. Pretendemos, pois, dar mais qualidade de vida aos nossos concidadãos, sem exceção, e a todos os que nos visitam", assinala ainda uma nota da autarquia marcuense. O prazo previsto de execução do investimento da Requalificação Urbana da Cidade é de um ano. A empreitada da primeira fase de intervenção foi adjudicada à empresa Construtora Huíla - Irmãos Neves Lda., uma empresa do município.


O LIVRO Sabemos que na sociedade contemporânea, o cancro continua a ser uma das doenças mais assustadoras, essencialmente porque aparece ligada ao que é incurável, à mutilação, ao sofrimento e à morte…apesar de todos os progressos científicos e tecnológicos… Numa sociedade em crise, cada vez mais questionável…a forma como cada um vê a sua própria vida…vai interferir na capacidade de enfrentar os acontecimentos e dessa forma optar por ser ou não FELIZ. «FORÇA DE VIVER – Vivência da Imagem Corporal na Mulher Mastectomizada», atribui significados, não só à doença oncológica, mas também à Mulher, ao seu corpo e aos sentimentos vividos…por alguém e com alguém muito próximo…cuja tenacidade, dedicação a ideais e pessoas…lutar…sobreviver e vencer, tocou-me como Enfermeira, como Mãe e como Mulher…ao ponto de sentir necessidade de partilhar esta Força de Viver, com os leitores…e, quiçá, promover um outro olhar à nossa própria Vida! A AUTORA Maria Cerqueira nasceu em Amarante em 1964, onde reside. Filha única, passou grande parte da sua infância separada dos seus pais por estes estarem emigrados na Alemanha, apesar disso, teve uma infância feliz sempre rodeada de primos, familiares e amigos. Frequentou os estudos básicos em Amarante, no Colégio de São Gonçalo, optando por seguir a carreira de Enfermagem, frequentando a Escola de Enfermagem Ana Guedes no Porto e concluiu a Licenciatura em Enfermagem em 2004. Iniciou a sua actividade profissional no Hospital de São Gonçalo em Amarante entre 1986 e 1992, com um interregno de dois anos, quando iniciou funções no Hospital Senhora da Oliveira em Guimarães, regressando em finais de 1993 ao seu hospital de origem, até meados de 2007. Nesta altura, passou a exercer a sua actividade no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, Unidade Padre Américo. Tem um filho de 18 anos e o apoio incondicional dos pais. Apesar de doentes e idosos, o esforço e a dedicação tem sempre um lugar preponderante nas suas vidas…um sorriso…uma palavra amiga…um mimo…uma ajuda.

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18:00/18:30

Treinos livres F4

Av. Infante D. Henrique, Muralha Nova S/N 1900 – 264 Lisboa Tel: 218 871 990 Fax: 218 872 000

e-mail: Site:

fpm@fpmotonautica.org www.fpmotonautica.org

EXEMPLO

Federação Portuguesa de Motonáutica - UPD Membro da Union Internationale Motonautique

Pessoa Colectiva de Utilidade Pública – D.R. nº 139 – II série de 26/06/78 Utilidade Pública Desportiva – D.R. nº 209 – II série de 09/09/94 Contribuinte nº 501132546

CAMPEONATO NACIONAL DE MOTONÁUTICA GP de Baião 2012 Domingo, 30 de Setembro

09.00

Abertura do parque

09.30

Reunião de pilotos T 850/F4

10.30/11.15

Treinos livres e cronometrados T 850

11:30/12.15

Treinos livres e cronometrados F4

14:30

1ª Manga T 850

15.15

1ª Manga F 4

16:00

2ª. Manga T 850

16.45

2ª. Manga F 4

17:30

Cerimónia de Entrega de Prémios

Av. Infante D. Henrique, Muralha Nova S/N 1900 – 264 Lisboa Tel: 218 871 990 Fax: 218 872 000

e-mail: Site:

fpm@fpmotonautica.org www.fpmotonautica.org

Esperadas centenas de rever motonáutica na A albufeira da Pala, em Baião, na margem direita do rio Douro, será palco no último fim de semana do mês – 29 e 30 de setembro – de mais uma jornada de motonáutica, que faz parte do calendário nacional da modalidade. O evento, patrocinado pela Cooperativa Dolmen e pela Câmara Municipal de Baião, marca o regresso deste desporto à margem ribeirinha de Baião, de onde tem estado afastado há uma década. A organização técnica da prova é da responsabilidade da Federação Portuguesa de Motonáutica (FPM), que tem a colaboração do Clube Náutico de Ribadouro. As entidades organizadoras esperam a presença de algumas centenas de pessoas nas margens do Douro, sobretudo na zona de Ribadouro/Pala, onde a prova será montada. As últimas provas de motonáutica na albufeira da Pala, um espelho de água formado pela barragen do Carrapatelo, decorreram em 2002 (tinham começado em 1990) mas durante este interregno realizaram-se diversos evento deste desporto motorizado no Rio Douro, nomeadamente em municípios vizinhos – Régua, Resende e Cinfães. Aliás, no campeonato deste ano, a prova de Baião é já a quarta do "Nacional" da modalidade a ter lugar nas águas do rio Douro.


pessoas para albufeira da Pala O programa de competição – que destacamos na coluna à esquerda – engloba provas para o campeonato nacional (T850, em monocasco e Fórmula 4, tipo catamaran) e ainda a “Fórmula Futuro”, prova disputada no primeiro dia (sábado) com barcos “semi-rígidos” e na qual podem participar jovens dos 8 aos 16 anos de idade. Os treinos livres e cronometrados para T850 e F4 decorrerão na manhã de domingo, enquanto a largada para a primeira manga ocorrerá às 14:30. Na luta pela vitória na prova e no campeonato estão empenhados os principais pilotos de cada uma das categorias: Luís Miguel Ribeiro, Pedro Fortuna, Diogo Gonzaga Ribeiro, Luís Vila Verde e Paulo Raposo, na F4, enquanto na categoria T850 estão no topo da classificação os pilotos Tiago Évora (na foto à esquerda, com o barco nº 51), Luís Carlos Guerra, Andreia Pereira, António Gonzaga Ribeiro e Luís Correia. Nas provas do campeonato deste ano têm alinhado à partida cerca de uma dezena de embarcações em cada uma das categorias.

Residencial Borges R

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A CATEDRAL DO ANHO ASSADO EM BAIÃO  Amplo salão para banquetes  14 quartos equipados

255 541 322 Rua de Camões, 4

4640-147 BAIÃO


Eduarda Freitas Foto: http://vi.sualize.us

O futuro não vai à escola

N

No primeiro dia de aulas, os olhos enchiam-se de curiosidade mas também de lágrimas. A mãe parecia-lhe muito longe, os amigos e as brincadeiras do verão, ficavam do outro lado do recreio. “Não quero ir para a escola. Não sei nada, o que vou lá fazer?”, perguntava com o medo colado aos dedos. A mãe explicava-lhe que ia para a escola aprender. “O quê?”. Ler, escrever. “Lês tu por mim!”. Assim, sem mais. Argumentos que ela tecia ao correr dos dias, imparáveis, quase a chegarem à porta da escola. “Vais aprender muito para teres um futuro!”, dizia-lhe a mãe com o avental preso à cintura enquanto acabava de arrumar a cozinha. “Um futuro que seja melhor do que o meu…”. Sonhava a mãe com um sorriso de ternura. E a menina, encantada com esse sorriso que lhe mostrava um caminho, pegou no saco e fez-se à escola. Contou-me ela esta história, a menina agora mulher de outras escolas. Aprendeu a ler e a escrever, a fazer das letras e dos números arte. Agora, olha o filho pequeno no primeiro dia de escola. “O que vai ele lá fazer?”. Eu não sei. “E depois? E depois da escola?”. Não sei. “Sabes, fecharam o futuro numa caixa e perderam a chave. O que vai ser deles?”. O menino brinca na rua enquanto o olhamos da varanda. Calções pelo joelho, os cabelos suados e a cara vermelha de brincadeiras. “O futuro foi empacotado. E com papel grosso e feio. Não há forma de o futuro virar presente, acredita!”. Acredito. O menino não quer acreditar. Brinca aos aviões. Lança ao ar gestos que rompem o azul do céu, mesmo por cima do muro. “Aliás, a única coisa que nos pode salvar é rasgar o papel. Mas e a força? Quando não comes, não tens força para

nada. É como quando não sonhas”. À memória surgiu-me Cuba. Uma sala de aula para gente grande, o sonho do cinema por perto, e o poeta que era também professor a dizer: “É tudo muito bonito, mas quando não tens comida no prato, não tens liberdade, não consegues pensar, sonhar. Não consegues fazer mexer”. O menino, este menino, tem comida no prato, mas quem lhe serve os sonhos? “Sabes, tenho medo. Tenho tanto medo, como mãe, de falhar, de não lhe dar luz, vontade, garra”. Acredito. “Roubaram-me tudo. Roubaram-me a vontade de querer!”. O menino corre para casa, ofegante, bebe um copo de água, senta-se nas minhas pernas. “Sabes que já vou para a escola? Já sou grande, não sou?”. Não queiras ser demasiado grande, demasiado cedo. A mãe deixa cair uma lágrima que só eu vejo. O menino vai buscar os livros de matemática, português e estudo do meio. “Quando for grande, grande a sério como o pai, quero ser muitas coisas. Ainda não sei quais, mas quero ser muitas muitíssimas coisas!”. A mãe grita por dentro. “Eu consigo, não consigo? Se comer sempre tudo…”. Consegues. Se sonhares sempre tudo. O menino voa no avião de gestos para o mundo do jardim. “Vês? E o que lhe digo? Que o futuro das coisas que ele quer está fechado? Que nos roubaram a máquina dos sonhos? Que estamos amorfos? O que lhe digo? Que dizemos sim, porque temos medo do não? Que aceitamos restos porque temos medo de ter direito a uma refeição completa? O que lhe digo? Que esperneamos sem sair de casa?”. O que lhe digo. O que me dizes. A tarde cai sobre a varanda. A mãe vai fazer o jantar com os olhos rasos, o menino ajeita-se nas brincadeiras. Eu deixo-me ficar na cadeira com vistas para a noite que se aproxima. Estamos todos. Só falta o futuro.



18 setembro '12

repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I regiões

Penafiel anuncia plano contra a crise  Medidas de apoio fiscal e social implicam cortes no investimento A Câmara de Penafiel lançou 20 medidas de combate à crise para ajudar os cidadãos e as empresas, diminuindo os impostos municipais, oferecendo refeições aos mais carenciados e apoiando juridicamente situações de insolvência pessoal, anunciou fonte da autarquia. Segundo o presidente da câmara penafidelense, Alberto Santos, o Programa Municipal Solidário (PMS) vai obrigar a autarquia a cortar nos investimentos em 2013, uma vez que implica a afetação de importantes recursos financeiros. “Vamos trocar obras e outras iniciativas por ajudar as famílias, procurando estar solidários neste momento difícil”, afirmou o autarca. “Procuraremos fazer as nossas poupanças internas para podermos pedir aos penafidelenses apenas o mínimo legal”, acrescentou Alberto Santos, anunciando ainda que neste pacote de medidas se inclui a criação de um gabinete para apoio à emigração e outros mecanismos para incentivo à agricultura e às pequenas e médias empresas. O desemprego no concelho de Penafiel atingiu em julho 5330 pessoas, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, representando um aumento de quase 40% desde janeiro de 2011. "É um momento dramático”, sublinha Alberto Santos, que considera ser dever da autarquia “encontrar, dentro das suas competências, a solução possível”. A propósito da Cantina Social, o presidente da autarquia explicou que se pretende criar, com as instituições sociais, “uma rede municipal que possa

acudir a esta necessidade da alimentação para casos extremos”. Relativamente ao gabinete de apoio à emigração, o autarca recordou que “muitos cidadãos que procuram encontrar uma vida melhor noutros países precisam de alguma ajuda nas questões burocráticas e formação mínima em termos de línguas estrangeiras”. Quanto ao encaminhamento de situações de insolvência pessoal, Alberto Santos sublinhou que, “com alguma ajuda jurídica, as pessoas em dificuldades poderão ser bem encaminhadas no sentido de resolverem a situação sem tantos dramas”. O programa de 20 medidas envolve a autarquia, o Governo, instituições sociais e uma empresa de

transporte de passageiros e divide-se em cinco eixos: fiscalidade, social, emprego, habitação e educação. Algumas das medidas, como o apoio à compra de livros e material escolar, já estavam em execução, mas outras são novas, sobretudo no plano fiscal. As taxas de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) sobre prédios urbanos foram reduzidas para o mínimo legal (0,55%) e no caso dos prédios avaliados foi fixada a taxa mínima de 0,3%. Também a derrama sobre os lucros das empresas com volume de negócios inferior a 150.000 euros diminui de 1,5 para 0,75%. O PMS prevê também a disponibilização de algumas dezenas de imóveis com rendas inferiores a 30% em relação ao preço de mercado.

Câmara de Fafe ajudou a recuperar casas de famílias carenciadas A Câmara de Fafe já financiou, desde 1998, a recuperação de mais de meio milhar de habitações de famílias carenciadas do concelho, num investimento superior a quatro milhões de euros, informou fonte municipal. A medida mais recente da autarquia foi a atribuição de 38 mil euros, verba distribuída por nove agregados familiares. Segundo a fonte autárquica, seis dos cheques reportam-se ao primeiro pagamento e referem-se a habitações nas freguesias de Revelhe, Vila Cova, Aboim, Moreira do Rei, Fafe e Estorãos. Os restantes dizem respeito ao último pagamento para conclusão das obras numa habitação de S. Gens e em duas de Silvares S. Martinho. O Programa Municipal para a Melhoria de Habitação de Agregados Familiares Carenciados

"surgiu como uma política totalmente inovadora, uma vez que depende unicamente do financiamento do município". O programa tem permitido revitalizar espaços físicos e sociais caracterizados até há pouco tempo por lógicas de envelhecimento populacional e de desertificação económica e social. A fonte sublinha que "esta é uma das medidas mais emblemáticas" dos vários mandatos do atual presidente do município. "Nunca fiz nada na minha já longa vida pública que me desse tanto prazer como este programa de recuperar a habitação das pessoas, a maioria idosas, doentes, de poucos ou nenhuns recursos e dotar as suas casas com condições", refere o presidente da Câmara Municipal de Fafe, José Ribeiro.


setembro '12

regiões

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Relocalização do heli do INEM gera protestos no Nordeste

A relocalização do helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros para Vila Real, prevista para o final deste mês, está a provocar protestos no Nordeste Transmontano, tendo há dias ocorrido uma manifestação de protesto na localidade onde o aparelho está estacionado há alguns anos. A população, apoiada no testemunho de um piloto da região, teme que o aparelho do INEM demore o "triplo do tempo" a socorrer a população do distrito de Bragança. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem previsto para 01 de outubro uma relocalização da frota aérea nacional de emergência médica que acaba com a base de Macedo de Cavaleiros e desloca para Vila Real o meio de socorro. João Rodrigues, piloto amador e presidente do aeroclube de Bragança, citado pela Lusa, adiantou que basta observar as distâncias terrestres e facilmente se conclui que o helicóptero ficará mais distante e demorará mais tempo a socorrer Bragança. As mais afetadas serão as populações mais afastadas dos hospitais de referência, as que vivem na zona de fronteira. A experiência que teve leva-o a concluir que, embora Vila Real tenha a urgência mais bem apetrechada de Trás-os-Montes, a aeronave deve estar mais próxima de quem necessita de socorro e não do destino da evacuação.

“Helicóptero chegará a todo o distrito em até 30 minutos” Entretanto, o presidente do INEM garante que o reajustamento dos helicópteros do INEM tem por base uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Administração Interna (MAI), para uma melhor gestão dos recursos. Dois helicópteros do MAI e três do INEM ficam afetos à emergência médica durante oito meses do ano. Nos restantes quatro meses, em que tradicionalmente ocorrem mais incêndios, as aeronaves do MAI servirão para o combate aos fogos, mas o INEM contratará nesse período o quarto helicóptero para dar resposta às situações de emergência médica. O dirigente reafirma que torna-se necessário relocalizar os helicópteros do INEM em locais onde complementem a localização dos helicópteros do MAI, para que possam abranger o maior número possível de portugueses. "É neste ponto que a relocalização do meio que atualmente tem a sua base em Macedo de Cavaleiros ganha especial importância", enfatiza o responsável do INEM. Miguel Oliveira garante que o helicóptero chegará às localidades do distrito de Bragança num período máximo de 30 minutos de voo, mas realça, sobretudo, que a mudança para Vila Real vai permitir duplicar a população assistida. "Com a atual base situada em Macedo de Cavaleiros, o número de população situada num raio de 10 minutos de voo é de 45 mil habitantes. Com a relocalização do helicóptero em Vila Real, este número é mais do dobro: 100 mil pessoas", conclui o presidente do INEM.

Festival Douro Jazz até 13 de outubro O Festival Internacional Douro Jazz, que decorre até 13 de outubro, vai percorrer a região duriense na edição deste ano, anunciou a organização. A iniciativa "Douro Jazz Sobre Rodas" é a novidade da nona edição do festival organizado pelos teatros de Vila Real, Bragança e Ribeiro Conceição, de Lamego. A ideia é fazer circular a música jazz pela região demarcada mais antiga do mundo, que se encontra em plena vindima. A edição 2012 do Douro Jazz conta com as atuações das cantoras Marta Hugon e Elisa Rodrigues e dos pianistas

João Paulo Esteves da Silva, Júlio Resende e Mário Laginha, que encerrará o festival. O cantor luso-americano Kiko apresentará, com os Jazz Refugees, o seu primeiro álbum de originais em português. O programa inclui ainda músicos como Filipe Melo, André Fernandes, Nelson Cascais, Bernardo Moreira ou Alexandre Frazão. Na sua vertente internacional, o festival apresenta o guitarrista, compositor e produtor espanhol Angel Unzu, companhia habitual de Kepa Junquera, e a cantora e pianista francesa Fanny Roz.

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repórterdomarão

PS aponta Meirinhos para candidato à Câmara de Bragança O socialista Júlio Meirinhos, antigo presidente da Câmara de Miranda do Douro e ex-governador civil do Distrito de Bragança, confirmou à Lusa ter sido abordado para ser o candidato do PS à Câmara de Bragança liderada há 15 anos pelo social-democrata Jorge Nunes, que atingiu o limite de mandatos. "Fui abordado, foi-me colocado um desafio, mas o processo ainda se desenrola, ainda não há decisões", afirmou. "Senti o conforto de todas as estruturas: concelhias, distritais e nacionais. É uma boa plataforma de entendimento", acrescentou, ressalvando que só pode "aceitar o desafio se for pacífico e se não for uma candidatura contra ninguém". Júlio Meirinhos é natural de Miranda do Douro e dirigiu, durante quatro mandatos, o município local, tornando-se no presidente de Câmara mais novo do país ao ser eleito com 23 anos, em 1979. Interrompeu a presidência da autarquia para ser juiz presidente do Tribunal de Contas e Administrativo de Macau, onde foi também secretário-geral do Real Senado de Macau. No primeiro Governo socialista de António Guterres foi nomeado coordenador do Procôa, o programa para o desenvolvimento do Vale do Côa, logo a seguir ao processo de suspensão da barragem para preservar as gravuras rupestres que se tornaram Património da Humanidade. Foi presidente do Conselho da Região Norte e deputado do PS na Assembleia da Repú-

blica, eleito por Bragança, tendo sido o autor da proposta de lei que aprovou o mirandês como a segunda língua oficial de Portugal. Meirinhos foi também governador civil do Distrito de Bragança e presidente da Comissão Regional de Turismo do Nordeste Transmontano, entretanto extinta. O turismo é, todavia a área a que se tem dedicado nos últimos sete anos, ocupando atualmente o cargo de vice-presidente da Região de Turismo do Porto e Norte de Portugal. O desafio do próximo candidato do PS à Câmara de Bragança é recuperar para os socialistas a autarquia da capital de distrito que perderam, em 1997.


20 setembro '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

AVÓS PRECISAM-SE

os pais estão separados, neste domicílio estabeleO título prende à atenção, ninguém põe em cem-se relações primorosas que parcialmente sudúvida que há benefícios em receber afeto e muiprem as ausências dos homens. ta dedicação dos avós, eles são sempre um porto Há avós que são uma alternativa à creche, há de abrigo e acompanham-nos, mesmo na saudapais que não têm escolha, têm que deixar os filhos de, pela vida fora. Mas qual o retrato dos avós de em porto seguro, os especialistas da infância defenhoje? E aí a leitura de “Avós precisam-se – A impordem o adiamento da entrada para a creche e o petância dos laços entre avós e netos” (por Gabriela diatra Mário Cordeiro diz mesmo que “os 2 anos, 2½ Oliveira, Arte Plural Edições, 2012) revela-se estianos, é a idade adequada para a criança começar a mulante e muito útil. frequentar o infantário”, mas lembra que “com a siÉ um livro confecionado para ouvir depoimentuação atual de a larguíssima maioria das mães tratos de avós e netos que têm notoriedade públibalhar fora de casa, os pais têm de ca, como Lídia Jorge, Alice Vieira deixar o bebé com alguém, pelo ou Júlio Machado Vaz, e os mais que é preciso encontrar uma pesnovos como Bárbara Guimarães, soa que inspire a suficiente conMafalda Veiga ou Nuno Markl. Os fiança”, e mais diz: “os avós têm primeiros exultam com a experiuma grande vantagem: são dediência, sentem-se marcados pelos cados e fazem tudo por amor. Desancestrais, sentem-se maravilhade os purés de legumes às brincados, contadores de histórias, cúmdeiras, o seu único interesse é o plices e têm a lucidez em reconhemelhor interesse da criança”. cer que quem forma os filhos são Devendo ser adiada a entraos pais, não os avós. Os netos não da para a creche, sempre que posregateiam adjetivos, é largo e farBeja Santos sível há que contar com os cuidato o património de bênçãos reAssessor D. G. Consumidor dos dos avós. Crescer com os avós cebidas, há lições para a vida que pode representar uma experiência maravilhonunca se esquecem. sa para esses bebés que querem explorar o munEm que é que mudaram os avós? Mudaram do, precisam de ser estimulados e ao contrário do em função da estrutura do trabalho, da família, do que muita gente pensa as crianças com pouca idavalor do tempo, até pelo facto de que o envelhede não aproveitam o facto de estarem com o grucimento permite o diálogo de 4 gerações. Temos po durante tantas horas por dia. A autora destaavós cuidadores, avós envolvidos e avós distanca depoimentos nessa direção, favoráveis a que a tes, fenómeno que não é novo, assumem novos criança permaneça pelo menos até aos 3 anos recontornos. Os avós cuidadores responsabilizamcebendo ternura dos avós, sempre que possível, e -se pelo acompanhamento da criança, são um efeaponta as vantagens para a criança: recebe atentivo prolongamento dos pais; os avós envolvidos ção individualizada; está menos exposta a doensão um apoio complementar aos pais, é uma preças e situações de stresse; desenvolve vínculos sença sempre caracterizada pelo lúdico e em funafetivos perduráveis; fortalece laços familiares; adquire um vocabulário mais rico e diversificado; e é mais económico. A ternura e a atenção são fundamentais, tal como a disciplina: não ter a televisão sempre ligada com o pretexto de entreter e distrair a criança; há que saber lidar com desentendimentos, o mesmo é dizer comunicar bem com os filhos para não se substituírem os papéis. E vêm depois aspetos práticos a ter em conta: como programar a rotina e até estar atento à evolução da criança e perceber quais são as brincadeiras apropriadas, a autora estabelece uma cronologia em que os avós e os pais devem estar bastante atentos. Há avós de serviço, há avós discretos, há avós que podem ter um papel determinante quando há uma rotura entre os pais, os avós são o espelho da sociedade, o sal da terra é as conversas que estabelecem com os netos, ninguém substitui os avós a contar histórias, a construir as memórias da família. Mas há também os avós que são a locomotiva familiar (agora mais do que nunca), superam as agruras do desemprego, da redução do salário, são a âncora de todos, emitem uma influência tranquilizadora. E na hora da despedida, escreve um psicólogo social, o neto vê que o avô morreu, não se pode negar à criança esta imagem da morte, trata-se de uma ligação afetiva que não se extingue, é uma das mais amoráveis recordações que recorção das disponibilidades que são negociadas com damos. E para finalizar, a autora adiciona o que ela os filhos; os avós distantes vivem longe ou marcam chama o dicionário “avoziano”, constituído pelas distância porque não querem mexer no menu da palavras, expressões e ditados que falam do temsua existência ou porque houve desavenças. po antes da sociedade de consumo, são vocábulos O número de netos está a diminuir e dos avós a reinventados que vale a pena conhecer. aumentar, há divórcios e novos casamentos, conviLês este livro tocado pela magia, pelo sentive-se com diferentes progenitores, pela banda do do prático e pela libertação que é própria dos avós pai e da mãe e também dos avós. E depois há de que se entregam pelo netos, até sentirmos o halo tudo, como na botica: o marido da avó que acaba maravilhoso em querer perceber aquele tempo por se revelar um verdadeiro avô; temos a casa só em que os avós eram netos. habitada por mulheres porque o avô já morreu e [A seu pedido, alguns colaboradores escrevem de acordo com a antiga ortografia]

opinião

POR BEM MENOS O SANTANA FOI À VIDA... O valor e o significado das palavras tem sofrido significativas modificações nos últimos tempos. A evolução é um dado adquirido em tudo o que nos rodeia e interfere nas nossas vidas. É na forma como nos dizem que nos “sacam a massa” (ajustamento), no tratamento igualitário que acentua as diferenças, na redistribuição da riqueza onde há canais entupidos, na mão que diz que dá e nas duas que realmente tiram, nas estatísticas que realçam os números e esquecem as pessoas, nas políticas de criação de emprego que aumentam os despedimentos, no que se faz e disse não se fazer, na capitalização popular de via única com os trabalhadores a aumentarem em 8% do salário no capital da empresa sem qualquer retorno, etc. etc. etc... Mantém-se ainda, mas mais frequentemente evocada e invocada, a comparação dos portugueses e dos seus índices com os dos “Cidadãos Europeus”. Dizem que estamos nos patamares inferiores naquilo que pagamos, sejam impostos, escalões, produtos ou outros, mas nunca nem ninguém fala do que ganhamos, e cada vez menos - só num ano foram mais de três vencimentos a seco - sem falar nos outros impostos que subiram, e por aí fora... Mas há uma coisa que ganhou a liderança nas transformações sociais: a “multiplicação” dos pobres. Fazem-nos muita falta... Além de serem coisa barata e de fácil produção, vejam-se os ganhos da recente produtividade governamental, exportam-se a baixo custo ou até nenhum se for a salto ou clandestino, reduzindo assim a despesa inerente. São além disso mão de obra fácil e dócil, e até trabalham de borla se almejarem o jackpot do RSI. E já são tantos que, os que os tinham por abençoados, clamam pela sua redução pois não têm mãos a medir com a tarefa de os conduzir ao reino da felicidade, e já não conseguem aplacar-lhes o pecado da gula na sopa e no pão. Não há também mais almas que, na prática solidária da caridade, atingem a santidade ou o “reino dos céus”. Tiram o dinheiro dos gastos Armando Miro e as compras descem assustado- Jornalista ramente. A receita fiscal, aumentando o rácio diminui no arrecadar. Insiste-se no mesmo à espera do milagre que não acontece pois se temos menos ainda será menos o que se gasta, e tudo a descer. Exportar mais? Mas o quê se até o investimento nos «clusters» desapareceu? Já terão dado conta que o povo só gasta do que tem e não tem o dom do Alves dos Reis nem as oportunidades dos banqueiros falidos? Onde estudaram estes senhores, se é que estudaram e o quê, para fazerem do país o laboratório das ideias que, sendo inócuas quando se deleitam nos areópagos juvenis dos partidos, começam a tornar irreversível a recuperação da Economia. E mesmo os que, tendo cátedra e fama aparentemente verdadeiras, têm a experiência das aulas que o «magister dixet» não deixa contestar, e melhores se consideram se forem novidade e inovação sem qualquer possibilidade de prova, pois talvez nunca tenham comprado um molho de grelos, e a coisa não passa para lá da sala de aula. E se da minha parte procuro ver as coisas sem as perturbações ideológicas na doutrina e nas múltiplas visões e abordagens, escrutinando quem o disse para não aderir, duvidar ou refrear por simpatia ou repulsa, agora nem sequer de tal preciso. As análises, críticas e sugestões mais profundas, contundentes e ferozes, principalmente depois dos últimos suplícios, vêm dos sectores mais cotados e conotados aos partidos do governo. E não me venham com a história de que são vinganças ou raivinhas pessoais, invejas mútuas por ausências de “convites” para mais ou outras mordomias, temor de lembranças de iguais modos, passa culpas antes que lhas apontem, ameaças de quebra de silêncio, segredos que sabem e que sabem que ele(a)s sabem, e que também ele(a)s sabem. A grande culpa que os que que agora repontam e refilam realmente têm, é terem deixado os putos a brincar à política, a fazerem de conta que já eram grandes, a aprenderem como se faz falta sem o árbitro dar conta e, afinal de tudo, a convencerem-se que, sendo jovens talentosos e inovadores, também eles poderiam ser governo, mesmo sem saberem realmente o que isso é... À espera das esquerdas? Quais e como? Do presidente? Vou ali e já venho. Por bem menos o Santana Lopes foi à vida...


setembro '12

empresas

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Continente reforça compras à produção nacional A Sonae mantém a sua aposta estratégica na produção nacional, tendo reforçado o peso das compras a fornecedores nacionais na área de perecíveis, que ultrapassaram os 86% nos primeiros seis meses do ano. O resultado alcançado foi impulsionado pela atividade do Clube de Produtores Continente, uma aposta da Sonae que tem permitido apoiar os produtores nacionais do setor agroalimentar a desenvolverem os seus negócios e processos de inovação. O Clube de Produtores Continente foi responsável por um volume de compras de 66 mil toneladas, no 1º semestre. Luís Moutinho, CEO da Sonae MC, afirma que “a Sonae e o Continente têm vindo a reforçar a percentagem de compras aos produtores portugueses, com o objetivo de dinamizar a produção nacional e contribuir para o desenvolvimento de uma indústria agroalimentar competitiva e geradora de valor para o País. O peso atual é já muito elevado e próximo do seu máximo potencial, dada a inexistência de produção de vários produtos em Portugal e a sazonalidade das colheitas”. Apesar dos resultados já obtidos, a Sonae e o Continente continuam a trabalhar ativamente com os produtores, nomeadamente através do Clube de Produtores Continente, promovendo a eficiência e estimulando a inovação em Portugal. “Só com parcerias duradoras é possível gerar mais valor para todos no longo prazo, incluindo para os nossos clientes, que assim beneficiam sempre nas nossas lojas dos melhores produtos aos melhores preços”, conclui Luís Moutinho. O Clube de Produtores foi criado em 1998 com o objetivo de aproximar a Sonae e o Continente dos produtores nacionais. A sua missão é promover os produtos nacionais de acordo com elevados padrões de qualidade e segurança, apoiando os seus associados, de forma consistente e estruturada. Os produtores têm, assim, garantida uma via para o escoamento da sua produção, ficando a Sonae com a certeza de estar a oferecer aos seus clientes produtos nacionais de origem e de qualidade comprovados. [Editado com informação do Grupo Sonae]

Jorge Manuel Costa Pinheiro

Comércio de todo o tipo de material de escritório Rua Frei José Amarante - S. Gonçalo - Amarante

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repórterdomarão

Continente contraria a crise e abre nova loja em Lamego

Criados 174 postos de trabalho Investimento de 10 milhões A Sonae abriu a 31 de agosto, em Lamego, mais uma loja da insígnia Continente Modelo, investimento que inclui uma loja alimentar e uma zona de galeria comercial com seis lojas. Foram criados 174 novos postos de trabalho diretos nas seis lojas, a maioria de residentes em Lamego. O Continente Modelo de Lamego está localizado no Lugar de Nazes – Quinta do Rabola, Freguesia de Almacave. Com esta inauguração, o grupo Sonae contraria a crise generalizada no comércio em Portugal, apesar de a loja de Lamego representar um reforço da marca no Douro Sul. O Continente já dispõe de uma loja na cidade da Régua. "Esta abertura é mais um passo na estratégia de crescimento da Sonae, que aposta na expansão da sua atividade em Portugal e que procura proporcionar ao cliente a melhor proposta de valor do mercado, aliando qualidade e preço", refere a informação do grupo económico de Belmiro de Azevedo. As seis insígnias presentes na nova Galeria Comercial Continente Modelo de Lamego – Continente Modelo, Worten, Sport Zone, Modalfa, Well's e Bom Bocado - representam uma área total de venda de 3.700 m2 e são responsáveis pela criação de 174 novos postos de trabalho diretos para a região. Esta estrutura comercial conta ainda com outras áreas comerciais – caso de uma loja da rede de sapatarias SEASIDE –, bem como com 220 lugares de estacionamento gratuito. Segundo o grupo "o Continente Modelo de Lamego apresenta-se como a última geração de lojas e será uma referência no setor, também na vertente ambiental. Alguns exemplos das características desta loja são as preocupações com os consumos de energia, materializadas na dotação de portas em todos os móveis de frios, a construção da mais moderna e eficiente central de produção de frio, a adoção de equipamentos que evitam trocas de calor com o exterior, bem como a utilização de iluminação e lâmpadas de baixo consumo". A loja contará com áreas dedicadas aos resíduos sólidos urbanos, aos resíduos recicláveis e uma Área Verde, para armazenagem temporária de resíduos perigosos como as pilhas usadas, os consumíveis informáticos ou outro tipo de resíduos como as rolhas de cortiça e óleos alimentares usados. Os clientes poderão ainda entregar no balção de informações, baterias usadas (recebendo um talão de desconto) aquando da aquisição de baterias novas, bem como todo o tipo de lâmpadas usadas às quais queiram dar um destino adequado (reciclagem). [Editado com informação do Grupo Sonae]

Luís Moutinho, CEO da Sonae MC, bispo de Lamego, D. António Couto, e o presidente da Câmara de Lamego, Francisco Lopes, na inauguração da nova loja.


22 setembro '12 repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

crónica & artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

A.M.PIRES CABRAL

Nota: – Às vezes apetece-me variar. Variety is the spice of life, ou, à latina, varietas delectat. Pois é em nome desse apetite de ocasião que hoje a minha crónica vai em verso. E também a título de satisfação dada àqueles que, generosamente, me catalogam entre o número dos poetas.

FECHOU A ESCOLA EM GRIJÓ Dantes ouviam-se as crianças a caminho da escola e eram como pássaros de som nas manhãs de Grijó. Não eram muitas, mas as vozes joviais davam sinal de que a aldeia resistia, continha à distância o deserto que a ronda. Agora as crianças, todas as manhãs, são acondicionadas como mercadorias numa viatura com vocação de furgoneta. Lembram judeus em vagões jota a caminho de Auschwitz. Vão aprender em terra estranha o que os seus pais e os pais dos seus pais aprenderam em Grijó. Só se voltam a ouvir ao fim da tarde quando a viatura as despeja no largo da aldeia como artigos que ficaram por vender. Mas ouvem-se pouco, porque vêm cansadas. Ouvem-se pouco e triste porque o seu dia — que devia ser dia de Grijó — foi deportado para outra terra onde não se lhe firmam as raízes.

JEAN-PAUL SARTRE 2012

O OLHAR DE...

O senhor ministro das Finanças está contente, porque poupa meia dúzia de euros com a violenta trasfega da infância.

Eduardo Pinto

Mas está triste Grijó, porque já não ouve as suas aves da manhã a caminho da escola — e por isso pode dizer-se que a aldeia encolheu, ficaram uns metros mais perto as areias de amanhã.

S/ Título 1 Serra do Marão

(Fim da Série)

Anos 60

Caladas as vozes tagarelas das crianças, nos dias de Grijó poucas mais se ouvem do que as de alguns velhos que antecipam em palavras raras, conformadas, o dia em que o silêncio cobrirá com estrondo o (des)povoado definitivamente. O senhor ministro das Finanças terá poupado mais alguns euros com a instauração deste opressivo silêncio final, e ficará contente. Grijó não. Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico.

1933-2009

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Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

Fundado em 1984 | Jornal/Revista Mensal Registo ERC 109 918 | Dep. Legal: 26663/89 Sede/Redação: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 | Apartado 200 4630-279 MARCO DE CANAVESES Telef. 910 536 928 E-mail: tamegapress@gmail.com Diretor: Jorge Sousa (C.P. 1689) Redação e colaboradores: Liliana Leandro (C.P. 8592), Paula Lima (C.P. 6019), Carlos Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Patrícia Posse (C.P. 9322), Helena Fidalgo (C.P. 3563) Alexandre Panda (C.P. 8276), António Orlando (C.P. 3057), Jorge Sousa, Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, A. Massa Constâncio (C.P. 3919), Ana Leite (T.P. 1341), Armindo Mendes (C.P. 3041), Paulo Alexandre Teixeira (C.P. 9336), Iolanda Vilar (C.P. 5555), Manuel Teles (Fotojornalista), Mónica Ferreira (C.P. 8839), Lúcia Pereira (C.P. 6958), Daniel Faiões (T.P. 991), Joana Vales (T.P. 1599).

Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: José Carlos Pereira, Cláudia Moura, Alberto Santos, José Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Beja Santos, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, Armando Miro, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo.

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setembro '12

cultura | crónica

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Crise reduz para metade orçamento do Douro Film Harvest

A quarta edição do Douro Film Harvest (DFH), que decorre de 26 a 29 de setembro, tem um orçamento de 200 mil euros, metade do esforço financeiro da anterior, anunciou a organização. A atriz norte americana Bo Derek é a convidada especial da quarta edição do Douro Film Harvest (DFH), evento que combina as "melhores colheitas" de vinhos produzidos na Região Demarcada do Douro com o cinema. O DFH é organizado pela Expanding World, em parceria com a Entidade Regional Turismo do Douro. "Esta edição tem um corte de cerca de 50 por cento. Estamos a rondar os 200 mil euros de orçamento", afirmou Manuel Vaz, no decorrer da apresentação do festival de cinema, que teve lugar em Favaios, concelho de Alijó. O responsável fez questão de explicar que se trata de um "evento privado", que, este ano, tem um "pequeno e mínimo apoio" da Turismo do Douro. No fundo, "é financiado quase exclusivamente por patrocinadores privados", salientou. Este esclarecimento vem na sequência da anunciada extinção da Turismo do Douro, inserida no pacote de entidades regionais anunciado pelo Governo. Segundo o Governo, o Douro vai ser integrado na entidade regional Turismo do Porto e Norte de Portugal. A mostra de cinema conta ainda com a parceria do Museu do Douro, Porto Lazer e Núcleo

Museológico do Pão e Vinho de Favaios. Esta edição tem a direção executiva da brasileira Paula Bessone. Como curadores do evento foram anunciados Eduardo Filipe, Luisa Sequeira e Rui Reininho. Diana Chaves e Marcantonio Del Carlo serão os anfitriões do Douro Film Harvest. O festival conta com a realização de 30 eventos, que vão decorrer em Favaios, Porto, Peso da Régua e Folgosa do Douro (Armamar). A antiga atriz Bo Derek, como Manuel Vaz referiu, ficou conhecida pelos filmes "10, Uma Mulher de Sonho" ou "Bolero" e vai ser homenageada numa cerimónia a decorrer no dia 29, no Teatro Rivoli, no Porto. A organização vai também convidar a atriz a passar pelo Douro e a participar numa vindima. Bo Derek nasceu em 1956 e, ao longo da sua vida, dedicou-se a ações humanitárias, envolvendo-se com diversas organizações ligadas à vida selvagem ou aos veteranos de guerra. Esta edição vai ainda homenagear o escritor brasileiro Jorge Amado, autor de livros como "Gabriela, Cravo e Canela" ou "Tieta do Agreste", através de uma tertúlia e da projeção de filmes. A abertura do DFH, no dia 26, decorrerá no restaurante DOC, em Armamar, com a estreia nacional de "Eli Bulli: Cooking in Progress", um filme sobre Ferran Adrià, considerado por muitos como um "génio" na cozinha.

Exposição fotográfica sobre o Douro mostra-se em Zamora A cidade de Zamora pode ver até ao final de setembro a exposição fotográfica “Douro Natural”, no âmbito da promoção do destino Douro. O evento foi possível através da colaboração da luso-espanhola Fundação Rei Afonso Henriques. A mostra fotográfica está patente na “Sala de la Encarnación” da Diputación de Zamora. A Exposição ”Douro Natural” já percorreu as linhas de Metro portuguesas. É composta por fotografias a preto e branco e sépia de várias vertentes do Rio Douro, suas margens e paisagem envolvente. A Exposição extravasa as fronteiras nacionais e mostra-se com todo o seu esplendor na vizinha Castilla y Leon, exibe também aos nuestros hermanos três réplicas em tamanho natural de Marcos da Demarcação Pombalina. Com o objetivo de intensificar o intercâmbio cultural e turístico entre as duas regiões ibéricas, esta ação foi direcionada para a promoção do produto turístico estratégico “Turismo de Natureza” - um dos pilares da afirmação turística do Vale do Douro.

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repórterdomarão

António Mota

MARIA DOLORES e ABEL Custou-me tanto dar este passo, estou tão envergonhada, mas eu já não aguento mais. Custa-me tanto estar aqui a falar da minha vida e de quem andou dentro de mim, sangue do meu sangue. Mas eu já não posso mais, tenho medo, tenho muito medo. A princípio ainda pensei que fosse o álcool e os nervos, porque ele coitadinho, foi sempre muito nervoso, saiu ao pai. Ele não tem tido muita sorte na vida, em tudo o que se meteu, tudo saiu furado. Ele já teve muitos negócios, já esteve no Luxemburgo e na Bélgica, mas deu-se lá mal, e voltou sem nada. Eu tive de o ajudar, às escondidas das duas irmãs, que estão no Luxemburgo há muitos anos, e estão muito bem, graças de Deus. Ele também não queria que o pai soubesse que lhe dava dinheiro, e muito menos a mulher com quem vivia naquela altura. Uma vez, ele me disse: mãe, se fala disto a alguém, faço uma asneira. E como ele tem aqueles nervos todos, e não fosse o diabo tentá-lo, eu disse-lhe: é um segredo nosso, mas pagas quando puderes, que eu não quero prejudicar as tuas irmãs. Até hoje nunca me pagou. Ele não sabe, mas está tudo escrito num papel que tenho lá em casa num sítio que só eu sei. Depois morreu o meu homem de repente. Levantou-se muito bem-disposto e, quando estava a cortar a barba, morreu sem dizer um ai. Custou-me tanto vê-lo caído no chão da casa de banho com metade da cara cheia de espuma. O senhor desculpe, mas não era isto que eu queria dizer. Estou muito nervosa, é a primeira vez que venho a este sítio, nem sabe como foi difícil chegar até aqui. Mas sabe, com a idade, nós os velhos, falamos de tudo ao mesmo tempo, misturamos o hoje com ontem, e a gente precisa de falar, precisa de desabafar, a solidão é muito má conselheira, aleija mais que uma faca afiada. O que eu queria era que o meu Abel mudasse, mas ele já não me ouve, e perdeu-me o respeito. Até me custa a crer que estou a dizer isto dum filho que gerei, mas eu não aguento mais.

Da primeira vez que lhe falei do dinheiro que me devia, deu-me uma punhada no peito com tanta força, que eu caí desamparada. E eu, sem querer acreditar que ele tinha batido na mãe, perguntei: Achas que eu mereço as tuas pancadas, meu filho? Achas bem bater no peito de quem te deu a vida? E sabe o que ele me respondeu?: Se abres a boca, nem sabes o que te acontece. Foi o que ele me respondeu. E eu fiquei com medo, e calei-me, fiz de conta que tinha caído. Eu queria acreditar que era o álcool que falava por ele. E rezo tanto por ele, peço à Virgem Maria que o meu Abel volte a ser atinado, que volte a dar-se bem com a mulher, que o deixou, e levou com ela o meu netinho, luz dos meus olhos, nem sei para onde, e que já não vejo há mais de meio ano. E que arranje trabalho, porque assim, sem fazer nada, a beber e a fumar tanto, que fim será o dele? Calei-me tantas vezes. E dizia a todos que tinha tonturas e que caía desamparada. Era por isso que tinha nódoas na cara. Esta roupa preta esconde as outras. Fui com ele ao banco, ele deu-me o braço, e já gastou todo o dinheiro que eu tinha a pensar no meu futuro. Depois começou a aparecer em casa nos dias em que o carteiro me entrega a reforma; eu assino o papel, mas ele é que recebe. Há bocadinho, já eu estava a deitar-me para ver telenovela, entrou em casa com uma mulher que eu nunca vi, e disse que vinham viver comigo. E eu respondi : não, meu filho, nesta casa, que tanto suor me custou, mando eu. E agora, aqui estou, senhor guarda, com esta vizinha, que teve a caridade de vir comigo, sem poder entrar em minha casa, com o braço direito partido, e a sentir névoas nos olhos. Quero ir para minha casa, mas não quero que façam mal ao meu Abel. Pode ser? O meu nome? Chamo-me Maria Dolores, nasci no dia vinte e quatro de junho de mil novecentos e trinta e oito.

anttoniomotta@gmail.com



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