Reporter do Marao

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repórterdomarão + n o rt e Prémio GAZETA

NOVEMBRO ’ 12

Nº 1269 | novembro ' 12 | Ano 29 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA

Jovem economista quer provar que o Douro “não tem de ser só vinha e produtos regionais”

CASTANHA um fruto com tanto para dar

CARMINHO e ANA MOURA duas vidas que só podiam dar fado


riquezas por explorar

FILEIRA DA CASTANHA com enorme potencial

O fruto que ainda tem Portugal é um dos maiores produtores europeus de castanha, contando com o forte contributo da região de Trás-os-Montes, que assegura cerca de 85% da produção. Apesar da excelente balança comercial, a maior parte do lucro associado à matriz da castanha ainda não fica no país, pois escasseiam as iniciativas para a sua transformação. Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | D.R. A castanha é um dos produtos de maior valor económico na Terra Fria Transmontana, onde existem cerca de 25 000 hectares de souto que produzem cerca de duas dezenas de milhar de toneladas/ano (média da produção dos últimos anos, segundo o INE). “A produção tem apresentado flutuações ao longo dos anos, encontrando-se numa curva decrescente, apesar do aumento da área de novas plantações”, constata José Gomes Laranjo, coordenador da RefCast – rede nacional da fileira da castanha – e representante de Portugal na comissão europeia da castanha. A par das condições climatéricas (excesso de calor no verão e seca), a quebra continuada de produção deve-se à doença da tinta e ao cancro, que continuam a causar grande destruição nos soutos. Este ano, a produção fica “abaixo do valor médio”, pois o frio que se fez sentir na altura da floração terá provocado um elevado número de castanhas abortadas. “No entanto, a qualidade é muito boa, graças a uma quantidade equilibrada de calor que se fez sentir durante o verão, associada à chuva que ocorreu no início de outubro”, reforça o especialista.

Produção não chega para encomendas É comum a existência de um intermediário que compra a castanha aos pequenos produtores, concentra-a e, posteriormente, vende-a à unidade

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agroindustrial para transformação. Segundo o coordenador da RefCast, Portugal exporta cerca de 15 000 toneladas de castanha, observando-se que a produção nacional não consegue fazer face às encomendas para exportação. “Isto tem acontecido frequentemente e deverá agravar-se, dada a crescente procura externa da castanha portuguesa. Esta deve-se ao facto do país ter continuado a apostar nas variedades portuguesas, que fazem toda a diferença relativamente às variedades híbridas que não são tão interessantes nem para o consumo em fresco nem para a industrialização”, explica.

Rendimento de 100 milhões de euros/ano Para conseguir dar uma resposta conveniente à procura internacional é importante que se promova um programa de incentivo ao investimento em novas plantações. Um sinal positivo é o regresso à terra de muitos jovens que veem na agricultura uma nova janela de oportunidade e no investimento na castanha “a sua prioridade, em função daquilo que é a realidade económica desta fileira”. Segundo a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, instalam-se, em média, 240 jovens agricultores por mês. O setor rende anualmente cerca de 50 milhões de euros no produtor e mais de 45 milhões de euros em termos de exportação. França, Itália e Espanha são os principais importadores de castanha para a indústria. Com destino ao consumo em fresco, surgem os países da diáspora. “O Brasil é o principal importador, com cerca de 2000 toneladas. A castanha portuguesa é tida em altos patamares de consideração pelo consumidor, fazendo desta um alimento obrigatoriamente presente na ceia de Natal”, refere Gomes Laranjo. Para impulsionar a exportação, a castanha deveria ser incluída nos programas de promoção externa de produtos agrícolas portugueses, tal como o vinho e o azeite. “Por outro lado, é necessário resolver urgentemente o problema da esterilização da castanha para exportação para o continente americano”, acrescenta.


em Trás-os-Montes

muito para dar O mercado de castanha descascada e congelada está em crescimento, possibilitando às unidades de transformação obter matéria-prima ao longo do ano. Depois de congelada, a castanha é vendida e transformada por agroindústrias europeias de grande dimensão, que se dedicam à laboração de produtos de confeitaria e doçaria. Por isso, José Gomes Laranjo defende veementemente a aposta na transformação em Portugal.

Faltam as “refinarias da transformação” “Temos o petróleo, que é essa enorme riqueza que constitui a castanha, mas faltam as refinarias, sejam as unidades de cariz mais familiar, sejam as de maior dimensão. Da mesma forma que há uma década ninguém conhecia a castanha congelada, hoje já se vendem em Portugal cerca de 1000 toneladas, que têm como destino a hotelaria e o consumo doméstico", sublinha o investigador. O docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) lamenta a inexistência em Portugal de “uma coisa tão simples como uma unidade que faça farinha de castanha, que é uma matéria-prima da maior importância para a utilização na gastronomia”. De facto, há ainda por explorar toda uma vasta gama de produtos transformados e derivados, como seja a castanha congelada, em conserva, em calda, em aguardente, com chocolate, em solução açucarada, esterilizada, desidratada, confinada em xarope, marron glacé, ou ainda subprodutos como cremes, purés, farinha de castanha, pasta para bolos, souflés, castanhas torradas, rebuçados, farinhas lácteas, flocos de cereais, bebidas, produtos para salsicharia, alimentos compostos para animais. Apesar das múltiplas utilizações da castanha estarem descobertas e serem bem-sucedidas no estrangeiro, os transmontanos ainda apostam pouco nessa mais-valia que é a transformação, continuando focados na venda a granel. Tido como a “árvore do pão”, o castanheiro assumiu um caráter indispen-

sável para a sobrevivência da população europeia. Contudo, hoje em dia, a castanha ainda não é muito comum nos hábitos alimentares portugueses.

Apostar na dieta portuguesa “O consumo está mais associado a um «petisco» de convívio de S. Martinho. Normalmente, as pessoas consomem-na crua, cozida ou assada, desconhecendo que se pode utilizar como ingrediente em refeições principais”, constata a dietista Cátia Cavaco. Daí a importância de se educar para o consumo, através de workshops de demonstração das várias aplicações gastronómicas. Na Tabela de Composição dos Alimentos, a castanha figura no grupo dos Frutos Gordos e Amiláceos. Comparativamente com os seus pares (nomeadamente nozes, castanha de caju, amêndoas), a castanha tem a particularidade de ser constituída em grande parte por hidratos de carbono e baixo teor de gorduras, ou seja, é um alimento altamente energético, mas de baixo valor calórico. “O facto de ser rica em ácidos gordos (ómega-3) faz com que a sua ingestão seja associada a melhorias do perfil lipídico (redução dos níveis do “colesterol mau”) e, desta forma, à prevenção de doenças cardiovasculares, bem como de efeitos anticancerígenos e transtornos neurológicos”, refere a dietista. A estimulação da drenagem da vesícula biliar, do bom funcionamento do tubo digestivo e a atuação contra a obstipação são outros dos benefícios. A castanha é ainda “uma boa fonte” de vitamina E, que é um antioxidante que reforça o sistema imunitário, protegendo as membranas celulares e ajudando na produção de glóbulos vermelhos. Daí que, muitas vezes, se afirme que a castanha retarda o envelhecimento. Já a farinha obtida da castanha pode ser panificada, depois de submetida a um processo de desidratação. Este pão tem a mais-valia de poder ser consumido por doentes celíacos, já que é isento de glúten.

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riquezas por explorar

CASTANHA | O infindável mundo de utilizações

Das sopas aos licores, da doçaria à cosmética As castanhas de menor calibre, qualidade inferior e/ou que não se conservaram inteiras após o processamento são utilizadas para purés, base para sopas, molhos, sobremesas, gelados, bolachas, bombons, iogurtes, compotas, licores, cerveja, etc. Merece destaque o marron glacé, o mais nobre dos produtos derivados de castanha, que é muito apreciado em países como França, Itália ou Suíça. Na região transmontana, há já iniciativas que procuram explorar o potencial da transformação. A título de exemplo, a cooperativa Soutos Os Cavaleiros, de Macedo de Cavaleiros, lançou uma compota de castanha em 2009, enquanto a marca Origem Transmontana comercializa a castanha em Vinho do Porto para aperitivo ou uso na confeção de pratos.

Da mesa… A presença da castanha nas ementas dos restaurantes da região é uma prática comum, surgindo conjugada com carnes (javali, perdiz, lebre, porco). A Confraria Ibérica da Castanha disponibiliza (http://www.confraria-iberica-da-castanha.ipb.pt) algumas receitas à base deste fruto, como o croquete de castanha, o empadão de castanha, o bacalhau com castanha, a castanhada, os bolinhos de castanha ou a castanha cristalizada. Anualmente, a RuralCastanea, certame que tem lugar em Vinhais, promove um concurso de doçaria com castanhas. “Foram apresenta-

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das 25 receitas, saindo vencedoras a charlote de castanha, o pudim de outono, os folhadinhos de castanha e a compota de castanha”, relata Carla Alves, coordenadora da organização. Alguns destes produtos acabam mesmo por ser comercializados durante o ano: “temos alguns pasteleiros que têm tido muito sucesso, por exemplo, a pastelaria Docinho com o bolo Coroa de Castanhas ou a Rota dos Sabores, com os ouriços de castanha”. “Existe uma preocupação crescente destes profissionais usarem os produtos da região. Por outro lado, é muito importante que a utilização se possa fazer ao longo do ano e não apenas nesta altura de outono”, frisa.

…aos sabonetes Em 2009, era lançado no mercado português o sabonete de castanhas assadas, pela mão de uma empresa de cosmética da Suécia. A comercialização foi suspensa dois anos depois, apesar do bom acolhimento do produto. “Trabalho muito para a zona de Trás-os-Montes

e aproveitei para divulgá-los nas feiras da castanha. As pessoas adoraram o sabonete e foi um enorme sucesso”, recorda a representante da marca, Francisca Mendes. Nos certames dedicados à castanha, o sabonete fez furor: “era como um souvenir da feira, muita gente nunca tinha visto e levava às seis e mais unidades para oferecer como lembrança”. “É uma pena que ainda ninguém da região transmontana tenha feito um sabonete”, considera. Com um preço unitário de 2.95 euros, o sabonete de castanhas assadas era feito à base de castanha e tinha um toque de canela. “Era muito hidratante e, além disso, a castanha também é boa para uma ligeira exfoliação”, explica Francisca. A transformação da castanha para cosméticos seria muito profícua, sobretudo porque “em Portugal, há tanta castanha”. “A cosmética é tão vasta que se poderiam fazer imensos produtos como gel de banho, exfoliante, creme das mãos e do corpo, etc.”, conclui.

Trilhos turísticos A castanha serve ainda de mote às ofertas turísticas de Trás-os-Montes. Os soutos pincelam as paisagens e escondem curiosidades que a UTAD dá a conhecer através da Rota da Castanha. Criada para valorizar as vertentes paisagística, etnográfica e gastronómica do castanheiro, a rota propõe oito itinerários geo-referenciados


de luxo (http://rotadacastanha.utad.pt), que podem ser percorridos no verão, observando os castanheiros em flor, na época das colheitas ou até mesmo no inverno, com os castanheiros sem folhagem a exibirem toda a sua imponência. O Percurso Milenar arranca em Vinhais, abrange o Parque Natural de Montesinho e acaba em Bragança. A grande atração é a longevidade das árvores, nomeadamente o “Castanheiro de Lagarelhos”, classificado como Árvore de Interesse Público desde 2000 e cuja copa tem mais de 17 metros de diâmetro. Entre Bragança e Macedo de Cavaleiros, o Percurso das Fagaceae contempla soutos com diferentes idades, particularmente entre Lamas de Podence e Corujas. O Percurso Paisagista passa por Alfândega da Fé e completa-se em Macedo de Cavaleiros, com soutos a perder de vista. Chaves é o ponto de partida do Percurso da Judia, que mostra uma das áreas mais produtivas de castanha, com soutos seculares em Serapicos e Nozedo. Em Carrazedo de Montenegro, “Catedral da Castanha” no concelho de Valpaços, a produção deste fruto quase se confunde com a cultura local. Por isso, o museu rural da castanha coloca a arte desse cultivo à disposição dos visitantes. O Percurso Dourado da Padrela começa e termina em Vila Pouca de Aguiar, dando a conhecer o castanheiro como espécie multiusos. Já o Percurso Janela p’ro Douro arranca e termina em Lamego, propondo a descoberta do “Douro Vinhateiro, Douro Castanheiro”. Tarouca é o ponto de partida e de chegada do Percurso Vale Encantado, onde o casta-

nheiro coexiste com outras culturas autóctones. Para desfrutar de um vale de castanheiros centenários, o Percurso da Castanha Martaínha desafia para uma viagem de Penedono a Penela da Beira, passando pela freguesia da Lapa, mãe da DOP Soutos da Lapa, ou pela aldeia de Antas para descobrir o multicentenário “Castanheiro da Guerra”.

Nos labirintos da Ciência A castanha também inspira a investigação científica, pois “ainda há muito a fazer”. “Já muito se avançou do ponto de vista da caracterização química, mas continua a ser necessário avaliar em rigor os efeitos biológicos do consumo de castanha ou as possibilidades terapêuticas dos extratos dos seus diferentes componentes botânicos”, destaca João Barreira, investigador do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Para aumentar a produtividade, a investigação em técnicas de controlo do cancro e da tinta do castanheiro tem de continuar “até serem encontradas soluções eficazes”. “Também é necessário que se definam as melhores técnicas de condução do terreno, bem como o tipo de fertilização a aplicar”, aponta. A conservação da castanha acarreta “outro grande problema”, uma vez que a fumigação química está proibida na União Europeia. Por isso, o IPB está a estudar o potencial da irradiação gama e feixe de eletrões como técnica alternativa, “tendo já sido obtidos resultados promissores”. Patrícia Posse

Fileira em números 1,9 milhões de toneladas é a estimativa da produção mundial de castanha; 23 mil toneladas foi a produção média anual no nosso país no quinquénio 2007-2011, 7,3 mil toneladas foram destinadas à exportação [Fonte: INE]; 95 milhões de euros é quanto rende o negócio da castanha em Portugal; 85% da produção nacional proveniente de Trás-os-Montes;

é

4 Denominações de Origem Protegida (DOP): “Castanha da Terra Fria”, “Castanha dos Soutos da Lapa”, “Castanha da Padrela” e “Castanha de Marvão”; Entre as 12 espécies de castanha a nível mundial, a Castanea Sativa é a mais consumida; Aveleira, Judia e Longal são as variedades predominantes em Trás-osMontes.

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as paixões do fazer

"Papel D'Ouro" nasce em Alijó pela mão de uma jovem

Ana Sofia à conquista do Como o Douro “não tem de ser só vinha e produtos regionais”, a vila-realense Ana Sofia Gomes ousou inovar, recuperando o saber ancestral associado à produção de papel. Deixou-se guiar pelas convicções e planeou cada passo até abrir as portas da sua empresa, a Papel D’Ouro. Sediada em Alijó, a fábrica começou a produzir papel artesanal no início deste mês e emprega já três jovens. Patrícia Posse | pposse.tamegapress@gmail.com | Fotos | J. S. Ana Sofia Gomes, 34 anos, trocou a segurança de um emprego estável pelo sonho de querer fazer mais e diferente. “Sempre pensei fazer algo relacionado com a reciclagem e esta ideia surgiu casualmente, através do contacto com uma empresa de Viseu que começou a ensaiar o processo de uma forma muito rudimentar.” Nessa circunstância, notou logo “uma grande oportunidade de negócio, desde que soubesse explorá-la bem”. Depois de concluir a licenciatura em Economia em 2002, Ana começou a trabalhar numa Instituição Particular de Solidariedade Social em Sabrosa. Contudo, sete anos depois, acabaria por sair para abraçar o seu próprio projecto. Da mãe herdou a componente artística, imprescindível para acrescentar valor a esta indústria, cujas raízes remontam a 105 a.C, quando o chinês Tsai Lun descobriu que a casca da amoreira misturada com trapos, cânhamo e redes de pesca podia ser reduzida a fibras que, trituradas e emaranhadas, formavam uma folha. É dessa cronologia e processo produtivo que dão conta as paredes da fábrica de Ana Sofia. A Papel D’Ouro implicou um investimento de 550 mil euros, sendo que a candidatura ao Proder – Programa de Desenvolvimento Rural valeu um apoio na ordem dos 133 mil euros. “Decidi apostar no Douro porque tinha um mercado potencial mesmo aqui à porta. Depois, pelo apoio impres-

cindível da câmara de Alijó, que acarinhou muito o projeto”, justifica. A empresa quer conjugar diferentes vertentes, sem desvirtuar a sua identidade. A prioridade, claro está, vai para o fabrico de “um produto de qualidade, personalizado e artesanal”. Por outro lado, a cultura e a fileira do turismo e do lazer também não foram esquecidas. Ana tornou o espaço visitável para poder receber escolas e grupos de pessoas interessadas em observar o processo artesanal de fabrico de papel e até experimentá-lo. Em mente, tem também a realização de workshops com artistas que desejem fazer experiências com este tipo de papel.

Fotos: O processo de fabrico do papel artesanal: da trituração dos trapos de algodão, na pilha holandesa, à prensagem da pasta e secagem das folhas

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Os desperdícios têxteis têm de ser 100% algodão e chegam à fábrica pela mão de um fornecedor de Penude [Lamego]. Há ainda remessas de mungo de algodão [que resulta do seu esfarrapamento e compactação], material que é misturado com os farrapos para ajudar a dar consistência. “A ganga é a matéria-prima mais barata. Dentro dos trapos, os de cor são mais caros que os brancos”, refere a empresária.

Artesanal e amigo do ambiente O processo começa com a passagem dos desperdícios de roupa pela pilha holandesa – máquina formada por um tambor estriado que roda sobre uma peça plana, também com estrias (foto à esquerda, no rodapé) –, onde são macerados e transformados em pasta de papel. Posteriormente, é canalizada para dois tanques de diferentes dimensões, o que permite que num se trabalhe só com cor branca e no outro se façam misturas de cores ou adições. A título de exemplo, a casca de cebola, a canela, o gengibre ou o açafrão podem ser alternativas viáveis à aplicação dos corantes naturais.


economista e empreendedora

mercado de papel artesanal A pasta de papel é recolhida dos tanques e escorrida em moldes de rede com diversos formatos. Depois, é desenformada sobre os feltros, que absorvem a água, libertam o molde e separam das folhas procedentes. A incorporação de elementos acontece neste momento e culmina na criação de texturas, aromas e/ou relevos. Já foram feitas experiências com linhas de costura, alecrim, folhas secas, espigas ou até borras de café. A passagem pela prensa hidráulica retira o excesso de água, ajuda a reforçar a ligação entre as fibras e possibilita uma secagem mais homogénea. “Nesta fase, estima-se que o papel ainda tenha entre 55 a 65% de água. Na estufa, a pellets, a média de 60⁰ centígrados leva à desidratação do papel e uma vez seco, é retirado dos feltros onde está pendurado e passa-se ao processo de conclusão”, descreve. Na etapa final, o papel é aparado com uma guilhotina, eliminando os rebordos (“barbas”) que ficam. “Temos a vantagem de não se desperdiçar muito nesta indústria, porque aquilo que é cortado pode voltar a ser utilizado a posteriori”, frisa. Para ficar liso e/ou fino o papel passa ainda pelos rolos do laminador. Na prensa de corte, é retalhado confor-

me os objetos já idealizados. O portefólio é diversificado e ajusta-se aos potenciais clientes que a empreendedora identificou. Além dos artigos escolares, pastas, candeeiros, caixas e embalagens, marcadores de livros, a Papel D’ Ouro posiciona-se também nos segmentos discográficos, com a produção de capas para CD, DVD ou vinil; das Artes, com a disponibilização do suporte para serigrafias e aguarelas; da decoração de montras; dos artigos de hotelaria e de luxo (guarda-jóias, caixas para calçado, invólucros de sabonetes artesanais, perfumes, embalagens para chocolates, amêndoas, etc.).

Até ao limite da imaginação Se por um lado, o cliente particular poderá encontrar livros de curso ou diplomas, por outro, as

empresas organizadoras de eventos, podem solicitar convites de casamento, envelopes, cardápios, lembranças ou brindes para oferta. As quintas, as casas de turismo rural, os hotéis e restaurantes da região duriense são outros dos alvos da jovem empresária, que se propõe oferecer-lhes cardápios, toalhas de mesa ou individuais, cestos para pão, livros de honra, álbuns, entre outros produtos. O mercado dos rótulos e embalagens para vinho, azeite ou compotas também será explorado. Ecodesign, impermeabilização, durabilidade e resistência são características comuns a todos os produtos com a marca de Ana Sofia Gomes. “Temos o aspeto visual que, por si só, já é apelativo, a resistência e a durabilidade, ou seja, o papel não se degrada e, jogando com as diferentes gramagens, permite fazer objetos totalmente ecológicos. A impermeabilização [conseguida pela utilização de colas resinosas] garante que, na fase posterior de impressão, as tintas não borratem.” No primeiro semestre de laboração, Ana espera conseguir faturar 150 mil euros e, até 2017, quintuplicar esse valor. “A ideia também passa pela exportação, ao fim de dois anos a laborar e já ter tudo bem assente. É um produto que tem todo o potencial para se distinguir lá fora”, avança. Agora, feitas as primeiras experiências e com uma amostra da primeira folha feita na Papel D’Ouro na mão, Ana sabe bem que valeu a pena “nunca ter desistido”, mesmo quando muitos lhe apontaram a insensatez de apostar em tempos de crise numa área tão pouco explorada. “Encontrei um negócio que tinha muito para explorar e decidi arriscar e contrariar a nossa tendência para nos acomodarmos”, sublinha.

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agenda | crónica

Neste Natal marque a diferença, oferecendo um cabaz de Produtos Locais! Com a aproximação do Natal chega a preocupação de escolher o presente ideal para um amigo, para a família ou para os colaboradores da sua empresa… Os Centros de Promoção de Produtos Locais da Dolmen têm a resposta/ solução perfeita! Pelo segundo ano, inserida na sua Estratégia de Desenvolvimento, onde a valorização dos produtos do território assume especial importância, contribuindo para a criação de riqueza e de emprego, a Dolmen criou nove cabazes recheados com os melhores produtos da região. Nesse sentido, e para que a sua satisfação seja garantida, existe ainda a possibilidade de construir um cabaz à sua medida, personalizando cada pormenor! Pontos de entrega : • CPPL Baião – Rua de Camões, 296, Campelo, Baião; • CPPL Marco de Canaveses - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266, Fornos, Marco de Canaveses; • Casa da Juventude de Amarante/ Aventura Marão Clube – Ribeirinho, Amarante Para encomendar: • Pessoalmente: Centros de Promoção da Dolmen, em Baião e no Marco de Canaveses • Telefone: Baião (255542154) ou Marco de Canaveses (255521004) • Telemóvel: 919734164 • Email: cppl-dolmen@sapo.pt Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

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22 outubro'12 | repórterdomarão


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agenda | crónica

Prémio Douro Empreendedor A Rede EmpreenDouro vai brevemente apresentar publicamente o concurso “Prémio Douro Empreendedor” e o respetivo regulamento, uma iniciativa destinada a distinguir projetos inovadores de cariz empresarial que valorizem os produtos endógenos, contribuam para a competitividade da região do Douro e promovam o seu desenvolvimento integrado e sustentável. Este prémio destina-se a premiar projetos implantados na região visando estimular a criação de novas empresas e reconhecer quem faz bem no Douro. De igual modo, pretende captar novos investimentos e o retorno de quem tem raízes no Douro e que desenvolveu a sua carreira noutras regiões ou países. Esta iniciativa pretende ainda distinguir uma personalidade emblemática do Douro, não sujeita a concurso e a atribuir por um júri de seriação.

território, transformando as dificuldades em oportunidades de investimento e de criação de emprego. Em termos práticos, através da rede EmpreenDouro, qualquer empreendedor que tenha uma ideia de negócio, deve recorrer a uma das entidades parceiras de “front office”, casos das autarquias, associações de desenvolvimento, comerciais ou empresariais.

UTAD – um ecossistema empreendedor

A UTAD tem vindo a assegurar a articulação com toda a rede, de forma partilhada com o IPB, bem como no apoio na maturação da ideia, na elaboração do plano de negócios e na análise de risco. Este apoio passa também pela formação na área do empreendedorismo e gestão empresarial, pela constituição formal da empresa, pelo “coaching” O Douro tem vindo a registar uma diao empresário nos primeiros anos de atividade, pelo apoio na coopenâmica de convergência com o nível de desenvolvimento médio registado na Região ração empresarial e internacionalização, bem como pela formação e imNorte, sustentada por diversos fatores, enplementação de sistemas de apoio tre os quais se destacam o investimento à gestão. Desta forma, a UTAD respúblico em serviços de proximidade e na melhoria acentuada das redes de conetiponde a um dos novos desafios das vidade destes territórios. No entanto, o teinstituições de ensino superior. No futuro, a partir de uma culcido empresarial na unidade territorial do Douro é débil, embora revelador de um tura de empreendedorismo, Portugal precisa de gerar empresas que potencial de oportunidades. Foi neste contexto que foi criada a rede funcionem numa relação de proximidade e de cumplicidade com as de apoio empreendedorismo EmpreenUniversidades, o sistema financeiDouro que integra vinte e seis entidades ro e as grandes empresas. Esta muque se uniram para promover atividades dança exige uma maior competitivide sensibilização do empreendedorismo Fontaínhas Fernandes no Douro, a criação de incentivos que fo- [Rede EmpreenDouro] dade dos nossos sistemas de ensino, formação profissional e aprendizamentem as iniciativas empresariais inogem ao longo da vida. Implica também a capacidade de desenvolvadoras e conciliadoras de sinergias na região e a identificação e ver uma nova cultura empresarial baseada na inovação, na compepotenciação de oportunidades de negócio, utilizando recursos endógenos. tência e no empreendedorismo. Torna-se fundamental afirmar o É uma união com contornos inéditos na região do Douro e no papel da I&D+i como elemento chave para a produção de conhepaís: nunca tantas entidades portuguesas, públicas e privadas, locimento e criação de riqueza, criando condições políticas e insticais, regionais e nacionais, se uniram em torno da ambição de protucionais que fomentem a articulação e geração de sinergias entre mover uma cultura de inovação e de empreendedorismo num produção de conhecimento inovador e produção de riqueza.

Uma rede pioneira

12 novembro'12 | repórterdomarão 22 outubro'12 | repórterdomarão


Governo sem decisão sobre o que fazer aos vôos entre Lisboa e Trás-os-Montes

Carreira Aérea em risco? público ainda não foi lançado e não se sabe ainda – até ao fecho desta edição não se conhecia nenhum desenvolvimento – quando será desencadeado o processo.

Deputado defende redução de custos O deputado Luís Ramos, do PSD, que é um dos utilizadores frequentes da carreira aérea desde que, nesta legislatura, assumiu a sua condição de parlamentar, afirma que a decisão depende dos ministérios das Finanças e das Obras Públicas. Segundo o parlamentar, citado recentemente pela Agência Lusa, o que está em causa é "sobretudo o custo do transporte que tem encargos relativamente elevados para o Estado", ao qual cabe a totalidade do risco da operação. "É um serviço que tem uma inequívoca vantagem para as populações, mas é também um serviço que tem uma utilização muito irregular e que frequentemente a capacidade do voo está longe de ser esgotada", reconheceu. Luís Ramos afirma que estão a ser estudadas soluções alternativas ao atual modelo de concessão, que passam por "uma redução substancial de custos", em que o operador do transporte aéreo assume também alguns riscos ou através de um sistema semelhante ao aplicado nos Açores e Madeira, no qual os bilhetes são subsidiados aos residentes. Entretanto, o presidente da Câmara de Vila Real, Manuel Martins, já disse publicamente que o serviço não pode desaparecer. O autarca do PSD defende que a linha aérea Bragança-Vila Real-Lisboa "é tão importante ou mais do que uma autoestrada e praticamente sem os problemas de conservação e manutenção".

Avião da AeroVip - Imagem de JetPhotos

O custo da concessão da linha aérea entre Trás-os-Montes e Lisboa, cerca de 2,5 milhões de euros por ano, é o principal entrave à renovação do serviço com a Aerovip, a companhia aérea que prestou este serviço regular de passageiros entre as duas regiões nos últimos três anos (dois da concessão e quase um de prorrogação, de janeiro até 27 de novembro). Com o contrato de concessão com a transportadora aérea a expirar, teme-se na região que o serviço seja suspenso. Ou seja, o percurso entre Bragança, Vila Real e Lisboa (e vice-versa) pode ficar sem aviões já a partir do final deste mês. Segundo os últimos dados divulgados, a carreira transporta anualmente, em média, cerca de 10 mil passageiros. Com a concessão, o Estado financia o transporte dos passageiros que utilizam o avião, tornando as viagens mais atrativas do que feitas de automóvel, se contabilizarem-se portagens, combustível e desgaste da viatura. E, sobretudo, mais cómodas. O percurso entre Trás-os-Montes e Lisboa demora cerca de quatro horas, enquanto a viagem de avião se faz em menos de um terço daquele tempo. Com o cofinanciamento do Estado, os preços das viagens oscilam entre 60 e 70 euros (para uma viagem Vila Real/Lisboa e Bragança/Lisboa, respetivamente), enquanto as deslocações de ida e volta ficam por 107 ou 123 consoante a cidade de partida. A ligação aérea tem sido assegurada, desde a sua criação, através de concursos públicos de concessão realizados de dois em dois anos e já teve vários operadores na última década – Aerocondor, Aeronorte e agora a AeroVip. O novo concurso

repórterdomarão | novembro'12 13 repórterdomarão | outubro'12 23


crónica

Escola do Marco de Canaveses triplicou número de estudantes nos últimos anos

Alunos arranjam emprego ao fim de poucos meses Existe uma escola onde o presente é vivido de aprendizagens e o futuro se revela promissor. Saídas profissionais e a possibilidade de conseguir emprego, em pouco espaço de tempo, é algo difícil de encontrar, num altura em que a crise económica teima em cortar o caminho a quem quer o direito ao futuro. Mas, há exceções e a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses (EPAMAC) é a exceção à regra. Aqui o conhecimento prático é valorizado e o desemprego é uma realidade que os alunos não conhecem. Nos últimos seis anos, a escola cresceu significativamente e a melhoria da quali­dade de ensino tem sido uns dos eixos estruturantes na ação da escola, de acordo com o seu Projeto Educativo.. Se em 2008 eram apenas 75 os alunos que frequentavam a escola, hoje são 240. Todos se sentem em família e o interesse em aprender é motivado pela relação

entre colegas e professores. Este é o primeiro ano na história da EPAMAC em que foram criadas quatro turmas havendo assim uma crescente procura na formação de nível intermédio na área da agricultura. Mas, engane-se quem pense que a escola apenas transmite conhecimentos agrícolas. Cursos de Produção Agrária, Turismo Ambiental e Rural, Jardinagem e Espaços Verdes, Cuidados Veterinários, Gestão da Animação Turística em

Aulas práticas | Gestão Equina 14

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Espaço Rural, Gestão Cinegética e Gestão Equina dão um vasto leque de escolha a quem vê a formação como um fator essencial para vida. Para além da formação e das saídas profis­ sionais, os cursos são financiados pelo Fundo Social Europeu através do Programa Operacional Potencial Humano (POPH), sendo assim uma grande ajuda para as famílias. A EPAMAC possibilita ainda que os alunos fiquem internos, na residência da escola. “Este é um projeto educativo que tem evoluído e afirmado no tecido empresarial local. Damos uma resposta às necessidades das pessoas, uma vez que durante três anos apoiamos financeiramente os estudos dos jovens, damos formação para uma profissão. No final dos três anos conseguimos que grande parte deles consigam uma saída profissional”, referiu João Gonçalves, subdiretor da Escola. O crescimento da escola é visível e, segundo

Aulas práticas | Produção Agrária


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os responsáveis, deve-se à aposta na matéria-prima local, na ruralidade e potencialidades do mundo rural. O curso de Gestão Equina tem atraído muitos alunos de diversas zonas do país. “Existe cada vez mais um renascer do interesse pelo cavalo. Até há pouco, a Norte do Douro não existia nenhuma oferta neste campo e nós fomos os pioneiros. Lideramos este processo em termos de experiência e também em termos de infraestruturas”, salientou.

Produção biológica A EPAMAC tem-se revelado um verdadeiro laboratório da vida real. Cem hectares tornam a escola única e capaz de dar uma formação prática em contexto real de trabalho. “Os cursos são vocacionados para o ensino de uma profissão, centrados nas competências profissionais. Daí que os nossos alunos tenham facilidade em encontrar emprego e tenham sucesso nas funções que desempenham”, explicou João Gonçalves. Na EPAMAC os desafios são constantemente lançados e agarrados com garra. A “Quinta de Cal D´Além” e a “Casa do Rossinho” são dois projetos que pretendem dotar os alunos de uma melhor formação. “A Quinta de Cal D´Além é uma das quintas da escola que esteve num período de pousio para integrar culturas biológicas. Vamos avançar com este projeto

em parceria com o Agrupamento de Sande numa formação piloto de jovens, na agricultura biológica”, revelam os responsáveis da Escola. Na quinta, os alunos vão ter a opor­ tunidade de ter formação em produção biológica de fruticultura, hortofloricultura, plantas aromá­ticas e produção animal.

Turismo ambiental e rural A “Casa do Rossinho” é outro projeto que promete dotar os alunos do curso de Turismo Ambiental e Rural de ferramentas importantes para a prática da atividade. “Os alunos vão poder realizar todo o tipo de atividade. A casa será um retrato do que era há cem anos e vai poder oferecer experiências gastronómicas a turistas, o ensino da confeção do pão, as tradições do concelho bem como o acolhimento de jovens que venham fazer alguma atividade na escola”. A qualidade do ensino e a vertente prática fazem com que as empresas procurem na EPAMAC profissionais capazes de se adaptarem a todos os ambientes de trabalho. O futuro tem cor e o conhecimento é colocado em prática com sabedoria. O lema da escola “Na EPAMAC estudar não custa nada” é a pura realidade. Com um financiamento total, as famílias ficam com menos um peso nas costas e os alunos com a certeza que têm tudo o que precisam para se tornarem profissionais qualificados.

Casa do Rossinho | Turismo Ecológico e Centro Interpretativo do Mundo Rural

Marcelo Sousa, 18 anos, Técnico de Produção Agrária “Terminei o curso o ano passado e consegui logo emprego na Casa do Gaiato, em Paredes. O responsável procurava alguém com conhecimento e eu sabia fazer tudo o que ele pretendia. Continuo a ter muita ligação com a escola e para mim foi sempre como uma família”.

João Miranda, 18 anos, Técnico de Produção Agrária. “Terminei o nível IV o ano passado e agora quero seguir com os estudos na escola e depois ingressar na Universidade. Quero frequentar o curso de gestão de turismo rural e, desta forma, alargar a minha área de formação.

Quinta de Cal D´Além | Projeto piloto [c/ Agrup. Sande] para produção biológica de fruta, aromáticas e animais. repórterdomarão | novembro'12 15


as paixões da música

Às vozes inconfundíveis juntam uma interpretação que tem tanto de autêntica como de emotiva. Ana Moura e Carminho pertencem à nova geração que eleva o fado português. Em palco ou em estúdio, as fadistas provam que o ex-libris da cultura musical lusa também pode ter um lado contemporâneo, animado e jovial. Carminho estreou-se este mês nos coliseus e lançou “Alma”, o seu segundo trabalho discográfico, em terras de Vera Cruz. De raízes amarantinas (do lado paterno), Ana Moura troca as voltas ao fado no seu mais recente álbum, intitulado “Desfado”, que em apenas uma semana é Disco de Ouro e alcançou o primeiro lugar de vendas na loja iTunes.  Patrícia Posse traça o perfil das duas cantoras.

O percurso natural de Carminho Herança da mãe, o fado está no ADN de Carminho, por isso é que a fadista não se lembra quando começou a gostar e como aprendeu a cantar fado. Os discos dos progenitores e as tertúlias de fado são as influências que mais recorda. Tendo Lisboa como berço, Carmo Rebelo de Andrade, abreviadamente Carminho, viveu no Algarve até aos 12 anos, altura em que regressa à cidade natal e se estreia no Coliseu dos Recreios, num espetáculo de beneficência. Emprestou a sua voz a aulas e festas de anos, porém, por “vergonha” e receio de ser alvo de chacota dos colegas, escondia que cantava fado. A partir dos 15, Carminho começou a cantar na Taverna do Embuçado, que era propriedade dos pais e onde escutou Beatriz da Conceição, entre outros mestres. Chegou mesmo a conhecer Amália Rodrigues, que a ouviu cantar uma vez. No entanto, Carminho demorou a gravar o primeiro disco, porque, depois de concluir o curso de Marketing e Publicidade, quis perceber se o rumo do seu futuro passaria mesmo pelo fado. Durante um ano, viajou à volta do mundo e participou em ações humanitárias na Índia, CamboFotos: D.R. | Imagens do facebook e dos sites dos artistas e Arquivo/RM

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ja, Peru e Timor para descobrir que a sua verdadeira vocação era indissociável do fado. O disco de estreia, intitulado “Fado”, marca o início da sua carreira, em 2009. Nasceu “por respeito” às suas origens e à sua própria identidade: “o meu passado (fados que sempre cantei), o meu presente (a evolução que o meu fado tem sofrido ao longo dos anos) e o meu futuro (em que irei, ainda mais, deixar-me guiar pela minha sensibilidade”).

Estreia nos coliseus Em 2011, Carminho destacou-se pela sua atuação na sede parisiense da UNESCO, no âmbito da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. Distinguida com o Prémio Amália Rodrigues Revelação em 2005, Carminho tornar-se-ia num fenómeno de popularidade na Península Ibérica por causa da participação no tema “Perdonáme”, do músico espanhol Pablo Alborán. Até os príncipes das Astúrias se renderam ao encanto da sua voz, com Letizia a levar para casa os álbuns de Carminho autografados. Em março deste ano, Carminho editou o segundo trabalho discográfico, com 15 novas gra-

vações. Este mês, “Alma” ganhou um novo ímpeto, com o lançamento no Brasil. A fadista gravou três temas com Chico Buarque, Milton Nascimento e Nana Caymmi. “O fado avança por si. Todos nós que o cantamos contribuímos, à nossa maneira, para a sua alteração e reinvenção. Importa a sensibilidade de cada um, e fazer o que se gosta, com o coração. Eu faço o que gosto, sem pretensão, mas também sem medo, sem prisão, sem ter de ficar agarrada a uma música, com receio de ofender algum purista. Sempre com liberdade”,

CARMINHO: Dueto com Pablo Alboran abriu-lhe o mercado latino e sobretudo na Espanha; a atuação com José Carreras; os discos de ouro e platina pelos dois


nha e para o Brasil. Polónia, Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Suécia, Dinamarca e Espanha também fazem parte do roteiro da digressão mundial de apresentação do disco “Alma”.

A vida nómada de Ana Moura

revelou Carminho, em entrevista ao jornal brasileiro O Globo. Pela primeira vez na sua carreira, Carminho subiu este mês ao palco dos coliseus de Lisboa e do Porto. “Quero conquistar essa sensação de entrega, um agradecimento ao público e a todas as pessoas que me ajudaram a chegar aqui, sem me esquecer de onde vim. Uma noite para celebrar os sonhos alcançados e os que ainda quero realizar”, revelou na véspera. Para dezembro, a fadista tem concertos agendados para a Alema-

O timbre da voz, a sua beleza e a empatia que cria no contacto com o público fazem de Ana Moura uma das fadistas portuguesas mais conceituadas. Natural de Santarém, Ana começou a cantar ainda menina e fez do recreio, o seu primeiro palco. A sua voz eleita para abrilhantar os convívios familiares e as festas da escola. Na adolescência, fez parte de uma banda amadora de rock, chegando mesmo a gravar um disco. Só mais tarde é que acabaria por se apaixonar pelo fado tradicional, tornando-se presença assídua nas casas de fado. Para trás, ficaram as vivências em Coruche, as saudades das amigas de infância e as memórias das férias passadas em Fridão [concelho de Amarante], onde ia pastorear com a avó ou descer os montes em carrinhos de rolamentos, com o irmão. A fadista sempre sentiu que o seu futuro seria cantar, esse ato de entrega que culmina numa dádiva e partilha com quem a escuta. Em 2003, o álbum “Guarda-me a Vida na Mão” marcou a sua estreia, seguido do disco “Aconteceu”. Foi com “Para Além da Saudade” (2007) que Ana Moura conquistou, definitivamente, o reconhecimento do público português. Músicas como “Os Búzios” ou “O Fado da Procura” ficaram no ouvido e o segundo disco alcançou a Tripla Platina, por vendas superiores a 55 mil unidades, e permaneceu 120 semanas no Top 30 de Portugal. O disco “Leva-me aos Fados” (2009) acabou por consagrá-la e tornar a sua vida numa coletânea de concertos em território nacional e além-fronteiras. O andar sempre na estrada obriga-a a compatibilizar as saudades da família e dos amigos com o amor ao fado. Com 29 anos, Ana Moura foi distinguida com o Prémio Amália para Melhor Intérprete. Nos “Globos de Ouro”de 2010, recebeu o galardão de "Melhor Intérprete Individual", para o qual também estavam nomeados artistas como Carminho, David Fonseca ou Rodrigo Leão. Em 2011, o seu nome chegou ainda a figurar nas nomeações para “Best Artist Of The Year”, um dos importantes prémios

da revista inglesa de música Songlines. Depois da incursão pelo "The Rolling Stones Project" (2007) e já ter partilhado o palco com Prince e Mick Jagger, dos Rolling Stones, de ter experimentado as sonoridades do jazz, Ana Moura embarca agora num outro desafio. Lançado a 12 de novembro, “Desfado” é o título do seu novo trabalho discográfico e marca a independência da fadista.

Um novo ciclo Neste disco de 17 temas, a voz de Ana Moura canta fado tradicional e ganha, também, liberdade para desconstrui-lo, nomeadamente com a interpretação de três canções em inglês. “Não é uma negação do fado. Gosto de cantar fado e não me sinto bem sem o cantar - é um percurso de carreira, quis explorar novas áreas, reflexo das parcerias que tenho feito, e tenho descoberto características em mim que desconhecia», explicou à Agência Lusa. O álbum sucessor do duplo platinado “Leva-me aos Fados” foi gravado na Califórnia e a produção assegurada pelo norte-americano Larry Klein, que já trabalhou com a cantora e compositora Joni Mitchell e com o pianista norte-americano Herbie Hancock, dois nomes que também participam no disco. “Desfado” comporta ainda canções de autores como Pedro Abrunhosa, Mário Raínho, Márcia Santos, Luísa Sobral, António Zambujo, Miguel Araújo Jorge e Manel Cruz. O novo álbum esteve em pré-venda na loja portuguesa do iTunes, o que, segundo o comunicado da Universal Music, fez de Ana Moura “a primeira artista portuguesa com edição masterizada especialmente para o iTunes”. Aos 33 anos, a fadista conta já com cinco álbuns de estúdio e um ao vivo (“Coliseu”, editado em 2008). Até ao final do ano, Ana Moura atuará em Portimão, Faro, Torres Vedras, Troia, Torres Novas e Fafe. Dentro de portas, a fadista tem ainda agendados dois concertos de apresentação do novo disco para os coliseus de Lisboa e do Porto, a 25 e 26 de janeiro, respetivamente. Antes da digressão de 18 concertos de apresentação de “Desfado” pelo Canadá e pelos Estados Unidos (março e abril), Ana Moura viajará até à Suíça e à Alemanha (12 concertos, em fevereiro). Em maio, atuará na Bélgica e na Holanda.

trabalhos editados. ANA MOURA: gravação no estúdio de Los Angeles (USA) e com o produtor de "Desfado" Larry Klein; a vida da artista é um constante embarque e desembarque – são dezenas de concertos anuais nos quatro cantos do mundo.

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crónica | regiões

Cenários de Envelhecimento Cláudia Moura

O IDOSO E A COMUNIDADE: Respostas Sociais Vive-se mais anos, é certo, mas não implica que haja maior qualidade de vida no final de vida. É necessário reconhecer as necessidades e responder de forma a diminuir o sofrimento que lhe está associado para viver com qualidade o maior tempo possível.

DEIXO-VOS A PENSAR … No futuro prevê-se que apareçam novas respostas para esta população assim como a evolução de algumas das respostas tradicionais. Sendo, o envelhecimento demográfico, um fenómeno social atual, a evolução demográfica deve ser encarada como uma oportunidade, que pode trazer soluções inovadoras para muitos dos atuais desafios. Diante do quadro representado, é de referir que este é um processo sério que mergulha profundamente na pessoa humana. Tal, implica otimizar as oportunidades, nas esferas sociais, permitindo que as pessoas mais velhas possam ter um papel ativo na sociedade, sem descriminação, participando na sociedade de acordo com as suas necessidades e capacidades, ao mesmo tempo que lhes é garantido a proteção adequada, segurança e cuidados de assistência. A Evolução demográfica constitui simultaneamente um desafio e uma oportunidade. Considerando que o envelhecimento da população vai aumentar a necessidade de contratação de pessoal para os serviços sociais e de cuidados destinados às pessoas idosas, podendo provisoriamente ser compensado na próxima década pela subida das taxas de emprego. O envelhecimento da população pode mesmo constituir uma oportunidade para aumentar a competitividade da economia europeia. É oportuno oferecer aos agentes económicos europeus as melhores condições para que aproveitem as oportunidades das mudanças demográficas em termos de criação de novos mercados de bens e serviços adaptados às necessidades dos mais velhos. Um primeiro passo nesta direção será o incentivo à criação de respostas que favoreçam a qualidade de vida, tal diz respeito, a domínios como as infraestruturas necessárias ao bem-estar do idoso. O principal desafio consiste em mobilizar respostas alargadas de todos os setores da sociedade e de um vasto leque de intervenientes, valorizando um conjunto de iniciativas importantes, em torno da questão do envelhecimento ativo e criar um quadro de promoção e divulgação, a todos os níveis, das novas iniciativas e parcerias em prol do envelhecimento ativo. Para tanto, a intenção primeira, é promover o envelhecimento ativo tanto no trabalho (criando melhores oportunidades para a participação dos trabalhadores mais velhos), como na sociedade. Afinal as tendências demográficas refletem um fenómeno evidente do século XXI com base nas suas implicações nas esferas sociais. Portugal, tal como os restantes países a nível europeu estão a envelhecer, e a questão do envelhecimento suscita assim a preocupação nas esferas sociais. É possível perceber no fenómeno de envelhecimento populacional um caráter contraditório, pois, se por um lado há um aumento da esperança de vida, devido aos avanços tecnológicos, acompanhados dos mais variados recursos, estes últimos não são acessíveis a toda a população, mas ao contrário, a uma pequena parte, ficando a maioria à margem dos serviços mínimos a serem prestados para que se garanta uma vida saudável e digna. Perceção de tais desafios, chamo atenção particular, para a conjuntura demográfica assentada na configuração de uma estrutura etária envelhecida, onde é importante atentar para o paradoxo vivido na realidade social. claudiamoura@portugalmail.pt Professora Universitária e Investigadora na área da Gerontologia. 18

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Prova de vinhos novos do Marco na Escola Profissional de Agricultura A Câmara Municipal do Marco de Canaveses organiza dia 24, a 5ª edição da Prova de Vinhos Novos de S. Martinho. Este evento, de entrada gratuita, realiza-se em Rosém, na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (EPAMAC). A iniciativa pretende reforçar a ligação entre a restauração e os produtores de vinho. Para celebrar o S. Martinho e assinalar o fim da época das vindimas, a autarquia reúne os produtores e engarrafadores da Rota dos Vinhos do concelho numa mostra aberta ao público, em que serão servidas as tradicionais castanhas assadas e a bôla de bacalhau, acompanhados de momentos de animação musical.

Quinta da Covela renasce

A Quinta de Covela, debruçada sobre o rio Douro, na margem de Baião, voltou ao mercado do vinho após dois investidores estrangeiros se renderem à beleza da propriedade e à qualidade dos seus vinhos. Segundo os novos proprietários, o objetivo é produzir vinhos de elevada qualidade – a primeira vindima corresponde a um "ano piloto" – relançando a marca Covela no segmento dos vinhos de mesa. São produzidos em S. Tomé de Covelas, zona de transição entre os vinhos verdes e o Douro.

Câmara de Paredes vai fornecer refeições aos mais necessitados A Câmara Municipal de Paredes vai disponibilizar a partir de 1 de dezembro, duas refeições diárias gratuitas preparadas nas cantinas das escolas para as 200 famílias mais carenciadas do concelho. Esta medida integra o programa "Paredes Ajuda +", onde as famílias carenciadas terão igualmente direito a medicamentos, a um banco de livros escolares e a terras para cultivar. Segundo a autarquia, com a iniciativa procura-se atenuar as dificuldades da população de um dos concelhos mais fustigados pelo crescimento do desemprego. Para além das refeições, o Município de Paredes, onde se prevê que mais de 8 mil pessoas estejam desempregadas, vai avançar com mais duas lojas sociais, como já acontece na cidade, para disponibilizar alimentos, roupas e calçado às famílias. A autarquia pretende ainda reduzir em 20% o IRS e o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), acabar com as taxas sobre o comércio tradicional e reduzir também em 26% as taxas que são cobradas aos feirantes.


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opinião

O que distingue um verdadeiro líder de uma imitação?

Beja Santos Ex-Assessor D.G.Consumidor

“O Comprimido da Liderança”, por Ken Blanchard e Marc Muchnick, Gestãoplus Edições, 2012, é um livro imaginativo que assegura uma leitura absorvente, do princípio ao fim. Trata-se de uma parábola divertida que sublinha a necessidade de os líderes mostrarem integridade, construírem uma cultura de equipa e saberem estimular a autoestima das pessoas com quem trabalham. Um verdadeiro líder não quer obter apenas resultados, está motivado para que toda a sua equipa esteja confiante e empenhada nesse trabalho colegial. Segundo esta parábola, num belo dia a Indústria do Comprimido da Liderança tornou público que tinha conseguido condensar todos os atributos da verdadeira liderança num único comprimido. O mercado reagiu imediatamente, entre a euforia e o ceticismo. O Verdadeiro Líder fez uma chamada de atenção: se não houver uma combinação certa de ingredientes, este comprimido irá fazer mais mal do que bem. O fabricante desdobrou-se em encómios: os testes prévios foram convincentes o suficiente para que pudessem praticar junto do consumidor uma política de satisfação garantida, aquele comprimido era uma poderosa mistura de ingredientes com ensinamentos de líderes renomados como Patton, Napoleão e Átila, o Huno, era uma droga completamente segura, havia só que respeitar a posologia, por exemplo: se a sua capacidade de liderança não melhorar, procure aconselhamento junto de um profissional de recursos humanos. Numa conferência de imprensa, um jornalista perguntou como funcionava o comprimido e foi-lhe respondido que “Se tomar o comprimido da liderança, você torna-se mais concentrado nas suas tarefas e mais determinado nas ações. A sua capacidade para dirigir os outros e para obter resultados aumenta”. O Verdadeiro Líder fez um desafio à empresa, depois de ter feito uma crítica aos apregoados prodígios do comprimido: “Reparei que as pessoas que usam o comprimido da liderança estão preocupadas apenas com a obtenção de resultados. Os verdadeiros líderes, para além disso, ganham também a confiança e o respeito dos membros das suas equipas. Notabilizam-se por delegarem poder aos subordinados e por lhes mostrarem que o que eles fazem é importante. Nasceu aqui o desafio para uma competição sem comprimidos, com a duração de 12 meses, quer o Verdadeiro Líder quer o Comprimido da Liderança iriam travar razões, assim se saberia qual dos dois era mais eficaz e eficiente a liderar. Formaram-se equipas rivais, nomeou-se um júri independente, detentor de uma grelha de avaliação para medir os três fatores mais importantes do desempenho: as grandes empresas proporcionam opções,

empregam opções e investem em opções. Ao longo do livro, o leitor verá evoluir o estado de espírito da equipa que tem à frente o Verdadeiro Líder que garantiu, no início da prova que no prazo de um ano iria transformar um grupo de pessoas com baixas prestações no trabalho numa equipa multifuncional, empenhada e altamente produtiva. Logo no primeiro dia da competição, o Verdadeiro Líder anunciou a mistura secreta da verdadeira liderança. Começou pela integridade que consiste em criar um conjunto de valores de trabalho e manter-se fiel a eles, é esta integridade que gera a confiança e o respeito; o segundo ingrediente era a parceria, que significa que os líderes devem colaborar com os seus funcionários, devem aprender a evoluir em conjunto como uma unidade, e o terceiro e último ingrediente era o louvor que permite que as pessoas saibam que aquilo que fazem é mesmo importante. Etapa por etapa, todos os elementos da equipa vão descobrindo que a liderança não é algo que se impõe às pessoas, é algo que se faz com elas; quanto à confiança, ela manifesta-se quando o líder sente que pode delegar o controlo e a responsabilidade sobre uma determinada tarefa; enfim, a chave para uma verdadeira liderança é a relação que se constrói entre o líder e a sua equipa, partilhando informação, discutindo os resultados, o líder sabe recorrer ao elogio para que elementos da equipa se sintam apreciados, numa equipa motivada cada um dos elementos tem o poder de reconhecer e de recompensar as qualidades dos outros. Ao longo do ano, viu-se crescer a notoriedade da equipa do Verdadeiro Líder, que acabou vencedora, o júri rendeu-se às evidências. O fabricante do comprimido da liderança ficou momentaneamente em estado de choque, houve mesmo quem augurasse que o produto morrera. O presidente da empresa reagiu, prometeu dar uma nova vida ao comprimido e com o seguinte argumento: já que a mistura secreta da verdadeira liderança deixara de ser um segredo, havia só de reformular o comprimido, o importante a partir de agora era recrutar o Verdadeiro Líder para fazer parte desta nova equipa de pesquisa e desenvolvimento e alegou: “Poderíamos mudar o nosso slogan para Liderança para a Vida Inteira…”. Temos aqui a argumentação de uma escola de liderança assente no primado de que esta não se impõe às pessoas faz-se com elas, graças à integridade, parceria e louvor e para não se estagnar é importante rever e aperfeiçoar a mistura a tempo e horas. Uma parábola inteligente e muito bem contada, quem pretende rever os seus métodos de liderança e aperfeiçoá-los tem aqui uma sugestiva leitura de dois autores influentes no mundo da gestão.

“Há conveniência na conivência fruto da convivência” Qualquer lampejo da minha imaginação na escolha do tema é logo abalroado por uma notícia/bomba. E a gestão do tempo na proximidade da entrega do texto, que pode parecer ajudar à escolha do mesmo vamos a este que está na hora – logo se precipita no aumento da catadupa bombista que o inviabiliza ou desaconselha. Depois a escolha não é imediata pois, parecendo ideal, precisa de amadurar. Se a escrevesse como brota da mente na reacção e na raiva que me assola, não seria própria e digna do RM. E já não são só as quase diárias “medidas ajustadoras”, que qualquer tasqueiro gostaria de igualar no seu “ranking” de frequência a servir os clientes, mas também os discursos redondos dos políticos que, tenho a certeza, nem sempre os próprios falantes percebem. Seria bom que, de uma vez por todas, falassem claro de modo a que todos, incluindo-os a eles, entendessem. A Política ficaria melhor servida e o País sofreria menos se dissessem ao que vinham, o que queriam e como queriam, quem pagava as justas facturas e perdia as injustas benesses. Não ficaria mal também evitar responder às perguntas de outro com nova pergunta, pois ele bem sabe que não vai ser respondida, ou sê-lo-á do mesmo modo com nova questão. Estão sempre todos disponíveis para dialogar. Acaba por se ficar no monólogo pois se nem um diz sobre o que quer conversar, o outro também não se interessa pois diz logo que sobre isso nem pensar. Também não diz o que queria ouvir ou o que gostaria de dizer, mas sim o que lhe parece naquele momento ser o melhor para entalar quem propôs, ou então adiar a questão. Não vale a pena continuar a descrever o que acredito já todos sentiram, ouviram e entenderam, já que é difícil descrever, com alguma coerência, o que não tem coerência nenhuma. Mas não se pense que estamos perante um “diálogo de surdos” pois, não sendo uma táctica estudada e concertada, é uma estratégia que se desenvolveu naturalmente. Com o tempo, a habitual tendência mimética acentuou-a, os think tanks começaram a aperfeiçoá-la, e foi sendo aceite e adoptada por que 20

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a todos dava jeito – governo e oposições - sem se importarem que a nós não nos dá jeito nenhum. Oposições e governo, em amenos convívios privados que contrastam com as muitas vezes aparentes discussões e diatribes públicas, exploram o êxito desta marosca semântica. Lá vão tirando partido da conveniência que a convivência lhes permite, impunemente, pois não há hipótese de lhes desmascarar a conivência. Ela é mais virtual que visceral, mais inconscientemente consentida que assumida ou, como eles diriam, mais conjuntural que estrutural. No limite, até poderia acontecer que algum pudesse dizer não vás por aí que o caminho tem pedras. Mas este aviso matreiro tem apenas a esperança de que, se ele mudar de caminho, vá pelo escuro e caia no precipício. Ora, para além da consulta ao dicionário que decerto não usam e tão bem faria ao País se o fizessem, pois começariam a entender o que dizem e nós saberíamos o que queriam e o caminho que nos propõem, sugeria-lhes um simples exame de consciência, se é que sabem o que isso é. a) O que é que eu estudei ou pratiquei para adquirir as competências de opinar ou decidir nesta ou naquela matéria? b) Do que ganho agora, e até me sinto mal pago (os políticos ganham sempre pouco e é bem verdade para o vencimento que têm sem contar o resto), que compensações tive ou ainda vou ter para o desafogo financeiro, declarado ou não conforme a proveniência, ao Tribunal Constitucional? c) Será que mereço o que ganho para aquilo que (não) faço? Continuem lá a entreter-se enquanto o barco não afunda. Mas uma coisa lhes peço porque as outras sei que não terão consequência. Quando tratarem do estado social para os mais fracos, tenham respeito pela sua privacidade, não os expondo à burocracia e às bocas do mundo. Estou farto de lhes ouvir chamar malandros por não quererem trabalhar por uns míseros tostões... e ninguém fala dos que, “trabalhando”, de forma supostamente honesta ou comprovadamente fraudulenta, avolumaram a dívida de Portugal em muitos milhões. Ninguém é desempregado ou carenciado social por vontade própria...

Armando Miro Jornalista


diversos | crónica

Descubra o mundo com ... A.M.PIRES CABRAL

INFILTRAÇÕES

Daniel e Paulo *

DUBAI: a cidade do dinheiro A cidade do Dubai é a cidade mais populosa dos sete Emirados Árabes Unidos (EAU), podendo ser definida como um dos locais mais caros, luxuosos e excêntricos do mundo. O clima do Emirado é, naturalmente, um clima desértico, com uma temperatura média de 24ºC, embora no verão a temperatura possa rondar os 40ºC. Tem como língua oficial o árabe, embora o inglês também seja falado pela maioria da população. Possui, além disso, uma herança histórica rica porque o local foi habitado desde a pré-história.

Aqui situa-se um hotel de sete estrelas onde ficam alojadas pessoas com um grande nível económico, caracterizando-o ainda a possibilidade de visitar uma série de duzentas ilhas artificiais construídas pelo Homem, com a forma dos diversos países do planeta ou, ainda, escalar o edifício mais alto do mundo, o Burj Dubai. As maiores mudanças na história do Dubai ocorreram com a descoberta do petróleo na década de 50, ou seja há 62 anos atrás, momento a partir do qual a cidade foi crescendo economicamente. A caracterizar este destino temos também o facto de oferecer aos seus visitantes fascinantes contrastes, como o velho e o novo, o que determina uma mistura de beleza entre as suas modernas cidades e o seu deserto. Assim, o Emirado é presentemente um destino exótico com um estilo de vida internacional, combinando o conforto e a conveniência do mundo ocidental com o charme e a hospitalidade da Arábia. A localidade dispõe de boas condições para a prática de desporto e entretenimento, desde o golfe e desportos aquáticos até safaris no deserto e cruzeiros. É também ótimo para se poder simplesmente descansar e/ou visitar uma das suas praias, gozando o sol anual deste país. Uma viagem de transporte aéreo de Portugal para o Dubai demora aproximadamente oito horas. * Alunos do 2º ano do curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses

Jorge Manuel Costa Pinheiro

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PORTO, V.REAL, BRAGANÇA, BRAGA, VISEU E AVEIRO

A crise infiltra-se nas mínimas talisgas da nossa vida. Uma dessas infiltrações, de que hoje me resolvo a falar, está a pingar para dentro da nossa própria identidade cultural e ameaça, com o tempo, submergi-la. É certo que ela, a identidade cultural, anda um bocado pelas ruas da amargura, com a obliteração de comportamentos genuinamente nossos e simultaneamente com a adopção de comportamentos genuinamente alheios. Tudo por culpa nossa. Ainda há dias vi meio Portugal entusiasmado a festejar o Halloween, como se fosse coisa nossa desde a fundura dos tempos. E, quando chegar o dia 14 de Fevereiro, veremos a outra metade que resta a celebrar entusiasmada o Dia de São Valentim, como se a data tivesse alguma coisa a ver com a genuína tradição portuguesa, em que os santos protectores do namoro são outros e bem mais portugueses. Claro que não sou caturra a ponto de condenar sem apelo nem agravo estas aculturações, ao fim e ao cabo relativamente inocentes. Afinal, vivemos num mundo cada vez mais globalizado, e estou que um dia destes o Halloween e o São Valentim hão-de chegar a ser festejados no Nepal e no Butão, e depois no Burkina Faso e ainda nas Ilhas Aleutas. Os ventos da história não costumam soprar para trás. Mas perdi-me um pouco daquilo de que na verdade queria falar. Volto pois ao rego. Que a crise tem um efeito multiplicador sobre a delinquência, já se sabe. Sobretudo na delinquência relativa ao rapinanço. Anda por aí muito gandulo que, sem modo de vida nem outra fonte honesta donde lhes venha o dinheirinho para alimentar os vícios, não vê outra escapatória senão subtrair, metódica e engenhosamente, quanto puder aos outros. É certo que sempre houve amigos do alheio, mas nunca tantos como agora (nem tão altamente colocados, apetece dizer… mas não digo). Basta lembrar quantas caixas do Multibanco foram já este ano rebentadas a poder de gás ou de gazua. Dezenas, provavelmente. Ora, ninguém me diga que não é o dedo da crise que está por trás desta proliferação.

Lado a lado com as caixas do Multibanco, os gatunos e vigaristas têm uma preferência especial pelos velhotes que vivem sós, em lugares remotos — três handicaps (idade, solidão, afastamento) que os tornam especialmente fáceis e apetecíveis para essa fauna de aves necrófagas. Claro que a sociedade procura defender-se. Ainda outro dia vi na televisão uma reportagem que mostrava militares da GNR a recomendarem boas e prudentes práticas de segurança a uma roda interessada de idosos, na aldeia de Vilar do Monte, ali mesmo à ilharga de Macedo de Cavaleiros. E aplaudo, claro, estas campanhas pedagógicas da GNR, cujos conselhos terão já poupado alguma gente ao dissabor de se ver espoliada das suas economias ciosamente guardadas no colchão, e ainda por cima tantas vezes espancada. Mas — há sempre um ‘mas’, e aqui é que bate o ponto — o que recomendava aos velhos a briosa militar da GNR? Qualquer coisa como isto: nunca abram a porta sem perguntar primeiro quem é. Esta prática, com cuja sensatez não posso deixar de concordar, acaba por colidir frontalmente com a identidade cultural do trasmontano. Pois não é verdade que um dos nossos brios maiores é responder ‘entre quem é!’ a quem nos bate à porta? Isto é: entre seja lá quem for. Era aqui que eu queria chegar. Maldita crise, a quem não basta semear fome, miséria e desespero em tantos lares, ainda tinha de meter o dente naquilo que somos no mais fundo de nós! É mais uma coisa que não perdoo àqueles “respeitáveis” senhores da alta política e da alta finança, que nos meteram nesta alhada da crise, e agora estão muito caladinhos, sem levantar ondas, à espera que o povo esqueça, e a contar e recontar os fraudulentos milhões que roubaram e puseram a bom recato em paraísos fiscais. A Polícia Judiciária acho que deve saber (como todo o país sabe) quem são pelo menos alguns destes figurões, cuja impunidade revolta e ofende. pirescabral@oniduo.pt

Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico. repórterdomarão | novembro'12 21


artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

O olhar de...

eduardo pinto

Ziraldo

2012

1933-2009

Cartoonista e humorista - Brasil

VENCEDOR DE UMA

MENÇÃO HONROSA

Publicação da IV Série

Com esta caricatura do Mestre Brasileiro Ziraldo, Santiagu ganhou uma Menção Honrosa no XII Salão de Internacional Humor de Caratinga (Brasil).

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novembro'12 | repórterdomarão

SENSIBILIDADES CANTIGAS AMOROSAS Amarante

Finais Anos 50

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, Daniel Faiões (T.P. 991). Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: António Fontaínhas Fernandes, José Carlos Pereira, Cláudia Moura, Armando Miro, Beja Santos, Alberto Santos, José Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo. Marketing, RP e Publicidade: Telef. 910 536 928 - Marta Sousa publicidade.tamegapress@gmail.com | martasousa.tamegapress@gmail.com Propriedade e Edição: Tâmegapress-Comunicação e Multimédia, Lda. • NIPC: 508920450 Sede: Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, 230 • 4630-279 MARCO DE CANAVESES

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agenda | crónica

Prémio Pascoaes

atribuído a M. A. Pina

António Mota

HÉLIA e HUMBERTO

O livro "Como se desenha uma casa", a última obra de Manuel António Pina, é o vencedor da 8ª edição do prémio de poesia Teixeira de Pascoaes. A entrega do prémio, a título póstumo, atribuído pela Câmara de Amarante e escolhido entre 166 livros de 159 autores, decorre a 15 de dezembro no auditório da Biblioteca Municipal . Armando Silva Carvalho, com o livro "Anthero Areia & Água", foi premiado em 2010. Nos anos anteriores, já receberam o galardão, entre outros, Fernando Guimarães, Fernando Echevarría, Daniel Faria e Amadeu Batista. Manuel António Pina, 68 anos, faleceu a 19 de outubro deixando para trás uma carreira de poeta, escritor e jornalista. Foi Prémio Camões em 2011. Entretanto, o Museu Nacional da Imprensa inaugurou uma exposição documental de homenagem a Pina no dia em que faria 69 anos. “A Luz das palavras” é o título desta homenagem que engloba várias iniciativas. A exposição documental destaca três vertentes - Jornalismo, Poesia, Literatura Infantil - e apresenta dezenas de peças. A relação dos gatos com os escritores também tem um lugar especial na exposição. Uma exposição de Agostinho Santos, colega e amigo de Manuel António Pina, com 45 peças - desenhos, telas e esculturas – completam a homenagem prestada pelo Museu, instalado na cidade do Porto, a montante da Ponte do Freixo. As exposições ficarão patentes até 31 de maio de 2013.

Vinho do Porto com chocolate na Régua O centro da cidade do Peso da Régua vai ser palco do I Festival de Chocolate e Vinho do Porto nos dias 14, 15 e 16 de dezembro. O Festival, que decorrerá no Solar do Vinho do Porto, abre às 16.30h no dia 14. No dia 15 funcionará das 10 às 24h e no dia 16 das 10 às 20h. Este evento, que junta o doce do chocolate ao calor do Vinho do Porto, pretende assim dar mais vida à época natalícia reunindo vários mestres chocolateiros, apresentar os diferentes tipos de chocolate existentes, os melhores vinhos da região duriense e ainda algum conhecimento sobre esta combinação perfeita.

Dois festivais de Gastronomia no Douro Até 9 de dezembro, em Lamego, decorre o 4º Festival de Gastronomia do Douro, período em que os restaurantes, hotéis e adegas prometem oferecer experiências gastronómicas únicas e diversificar as inúmeras matérias-primas na preparação de um prato tradicional. Organizado pela autarquia e pela AE.HTDOURO - Associação de Empresários, em parceria com o Turismo do Douro, a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego, o evento pretende ajudar o setor da restauração a enfrentar a atual crise económica, convidando os visitantes a viverem uma experiência única: descobrir o valor do patimónio arquitetónico da região a par da gastronomia tradicional. Em Vila Real, de 30 de novembro a 2 de dezembro, o Pavilhão de Exposições da NERVIR será o palco de mais uma edição da Feira de Artesanato e Gastronomia (FAG). Neste evento, que pela primeira vez terá entrada livre, serão apresentados produtos da região, nomeadamente artigos em pele, olaria e couro, brinquedos e o tradicional fumeiro e os doces, entre outras iguarias. Segundo a organização, a FAG 2012 pretende privilegiar a economia nacional e regional e as pequenas empresas que vendem exclusivamente produtos nacionais.

Ai, Humberto, meu irmão, que bom ouvir a tua voz, há quanto tempo não te ouvia. Como é que tu te dás por aí? Estás contente? Sim, sim, eu entendo, mas é melhor estares aí do que em casa, sozinho. Não deve ser fácil deixar a nossa cama para nos irmos meter noutra, que não nos conhece. E a comida é boa? Entendo, entendo-te muito bem. Humberto. Mas tu sabes que só nos cai bem aquilo que nos faz mal. De modo que tens de meter na boca aquilo que te dão. Mas ouve, irmão, quando eu puder faço-te chegar aí uma malga de marmelada. Prometo. Depois, quando quiseres podes ficar com mais doçura na boca! Sim , este ano ainda fiz catorze tigelas de marmelada com os marmelos que colhi no campo da várzea. Lembras-te dos marmeleiros? Parece que estou a ver o nosso pai a plantar os três marmeleiros, tão fininhos como cabelos. Tu também lá estavas, lembras-te? Pois és capaz de não teres ficado com essa recordação, nessa altura devias ter uns quatro ou cinco anos, e eu tenho mais três anos do que tu. A minha marmelada está uma delícia. Pois dizem que sim, que as doçuras não ajudam os diabéticos, já ouvi dizer. Mas uma fatia fininha de vez em quando não deve fazer grande transtorno ao organismo. Com juízo tudo se pode fazer. Eu também. Logo de manhã o meu pequeno almoço são seis comprimidos. E se não os tomar, o corpo dá-me sinais. Mas sei de vizinhos que tomam mais comprimidos que nós, e agora está tudo muito caro, todos os meses deixo ficar uma fortuna na farmácia. Eu também tenho muitas doenças. De certeza que tenho muito mais doenças que tu, mas cá vou gemendo e vivendo um dia de cada vez. Eu liguei-te para te fazer uma pergunta, mas agora com a conversa, esqueci-me. Mas o que é que eu te queria perguntar, Humberto? Eu não sei o que se passa comigo, lembro-me de tudo o que foi passado, a minha memória é um como relógio dos caros, nunca falha. Ai, mas esqueço com tanta facilidade o que se passa agora. Fico tão tris-

te por isto acontecer. Ainda ontem esqueci-me das castanhas que tinha a cozer. Eu gosto delas muito bem cozidinhas. Quando dei conta estavam como carvões, duras como coios, sem pinga de água. Ai, já sei o que te queria perguntar. Como é que fizeste para arranjar lugar aí? Esperaste muito? Eu ouço dizer que não é fácil, que há sempre uma fila de gente à espera que as camas fiquem vagas. A morte de uns é a salvação de outros. Eu nunca me interessei muito por isso. Porque eu achava que nunca ia precisar de caminhar para esses lados. Tens queixas, Humberto? Conta, irmão, conta a verdade toda, porque assim eu fico mais ciente das coisas. Pois, as companhias. Temos de ser pacientes. O ressonar dos outros também não me há-de incomodar muito. O meu falecido Américo ressonava a noite inteira, e eu aprendi a dormir com aquele som parecido com o das gatas com o cio. Foram tantos anos a ouvir aquela sinfonia. Pois, a telenovela. Temos de ser pacientes. Para mim tanto se dá uma coisa como outra, o que importa é que a televisão esteja acesa, que sempre nos distrai. As telenovelas são todas parecidas. Não me importa de me deitar cedo. Chegamos a uma idade em que o descanso nos faz bem. Humberto, ouve. Eu queria que tu me fizesses um favor. Procura quem manda nessa casa, e pede por mim. Diz-lhe que estou sozinha, que antes estava bem, mas que a Rosa fartou-se de estar aqui a aturar-me, e que no princípio deste mês foi ter com o homem dela, que arranjou trabalho na Suiça, ou na Alemanha, ou em Luxemburgo, ou em Angola, já nem sei bem, mas num desses países onde se vive bem, e eu fiquei aqui, sozinha. O meu nome é Hélia , com h. Toda a gente escreve mal o meu nome, já estou habituada. Hélia Maria Pinheiro de Sousa. Se eu fosse para aí levava comigo todas as tigelas de marmelada. Ias consolar-te.

anttoniomotta@gmail.com repórterdomarão | novembro'12 23



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