Revista Repórter do Marão

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Nº 1273 | março ' 13 | Ano 30 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. | OFERECEMOS LEITURA

MARÇO ’ 13

repórterdomarão + n o rt e

Prémio GAZETA

Biodiversidade põe Vila Real no mapa europeu "O fado é um feitiço. Já não sei viver sem isso."

Paulo Morais afirma que portugueses são “servos dos negócios do Orçamento de Estado”

A corrupção tomou conta da política


cidadania

ENTREVISTA | PAULO MORAIS, vice-presidente

Dívida 20 Paulo Morais, 49 anos, docente do ensino superior, já foi líder da JSD de Viana do Castelo e vice-presidente da Câmara do Porto. Agora, afastado da política, continua a dedicar-se à Matemática e Estatística, tendo assumido o combate à corrupção como a sua grande batalha. Corrupção, essa, que diz estar na origem da crise em Portugal, ao ter “tomado conta da política” que se transformou “numa grande central de negócios”. Perante isso, os portugueses mais não são que “servos do Orçamento de Estado” que é hoje “o instrumento de maior corrupção” do país. A solução? “Os portugueses, no geral, só saem deste buraco se combaterem as causas” e a causa é “essencialmente a corrupção”.

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da Associação Cívica Transparência e Integridade

pública resulta de anos de corrupção “Paulo Morais é uma pessoa que nasceu em Viana do Castelo, há 49 anos e nasceu com os valores que lhe foram incutidos pela família e pelo próprio ambiente do Alto Minho dos finais do século XX”, começa por contar em entrevista ao Repórter do Marão, numa das muitas salas da Universidade Lusófona onde é professor e diretor do Instituto de Estudos Eleitorais. Viana acabaria por ficar para trás quando, para estudar matemática, optou pelo Porto. Dessa altura, recorda, que o “ensino superior era medieval” e “não havia respeito nenhum pelos alunos” e lembra-se mesmo de ter liderado uma greve. Em todo o percurso foi-se mantendo ativo na intervenção cívica, chegando a ser presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências. Acabado o curso, permaneceu na vida académica, estudando matemática e estatística, atividade que conciliava com a militância no PSD do Porto onde se havia juntado a um grupo de pessoas “que estavam na oposição ao sistema vigente”, liderado então por Luís Filipe Menezes.

Os “traficantes de solos” “Quando Rui Rio é candidato à câmara do Porto convidou-me para integrar a sua lista e eu aceitei porque tinha a certeza absoluta que íamos perder”, explica agora Paulo Morais, pouco mais de 10 anos depois de ter assumido, durante quatro, a vice-presidência da câmara. Quatro anos em que interrompeu a carreira académica para se dedicar, em exclusivo, à política, aos pelouros da habitação e do desenvolvimento social e à “luta contra interesses instalados”. O pelouro da habitação no Porto “representa mais de 40 bairros sociais, onde vivem 50 mil pessoas, e alguns estavam completamente dominados pelo negócio de tráfico de droga que eu insistentemente combati”, assinala. Um dia comparou o tráfico de droga à corrupção existente no urbanismo em Portugal. Foi criticado e acusado de difamação. Hoje mantém a mesma convicção de que “no pelouro do urbanismo, são outro tipo de traficantes. Traficam solos”. Saído da câmara, e já em 2010, ajudou a nascer a Transparência e Integridade, Associação Cívica (da qual é vice-presidente), juntamente com outras pessoas que decidiram atuar em conjunto na luta contra a

corrupção e estudar o fenómeno. Sempre que teve conhecimento de um crime de corrupção na área do urbanismo, denunciou-o no local próprio “que é o Ministério Público” e ao longo dos anos apresentou “mais de 30 casos”. Nem todos foram julgados e dos julgados poucos foram efetivamente os condenados. Não só porque “há muitos casos em que o Ministério Público não acusa” mas também porque “o crime de corrupção propriamente dito é quase impossível de provar”. “No ordenamento jurídico português para provar corrupção é preciso saber: qual é o assunto, qual foi o despacho da administração que diz respeito, qual foi o ganho de quem corrompeu e do corrompido, quais são os documentos que têm a ver com este ganho, qual é o nexo de causalidade entre isto tudo. E portanto é impossível provar um crime destes, só se o corrupto e o corruptor forem de braço dado a tribunal”, ironiza Paulo Morais para quem “o Ministério Público não tem tido estratégia nenhuma de acusações em termos de crimes de urbanismo” e termina as investigações no momento “em que deviam começar”.

“Política transformou-se numa grande central de negócios” Ao nível das autarquias, especialmente as do Porto e Lisboa, a corrupção verifica-se na medida em que “se constrói aquilo que os grandes promotores imobiliários decidem”, atira. Na origem dessa instrumentalização diz estar a necessidade de os autarcas manterem o lugar, precisando para tal de “arranjar empregos para os seus apoiantes e arranjar negócios para os financiadores do partido”. Acrescenta mesmo que a “perversão” que está a ser feita à lei de limitação de mandatos se deve à “necessidade de manter clientelas”, quer em empregos quer em negócios. Já ao nível nacional, Paulo Morais considera que “a corrupção tomou conta da política”, que se transformou “numa grande central de negócios”, e que a dívida pública resultou de 20 anos de canalização de recursos, pela via da corrupção, “para um conjunto de grupos económicos”. E exemplifica: “Expo98, PPPs, BPN, BPP, submarinos, Apito Dourado, os casos de repórterdomarão | março'13

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cidadania

A corrupção é um crime "quase impossível" de provar corrupção são inúmeros [e] se cada um deles representar uns milhares de milhões de euros, é evidente que chegamos à situação que chegamos”. Do lado da dívida privada, recorda que 70% desta foi gerada com a especulação imobiliária – "quem comprou casas nos últimos 20 anos, depreciou-as num instante em 40%. Ou seja, quem comprou um apartamento por 100 mil, neste momento vale 60 mil, ponto final" – quando a crise começou no início de 2009, e que apenas 15% foram dedicados ao tecido produtivo e ao investimento “em agricultura, pesca e indústria”. Perante os números, o investigador é assertivo em dizer que o estado atual do país só se mantém “à custa do sacrifício” dos portugueses que, através dos seus impostos, mais não são do que “servos dos negócios do Orçamento de Estado” que é o “maior instrumento de corrupção em Portugal”. Os portugueses neste momento são, para Paulo Morais, “escravos de um fisco que por sua vez alimenta os grandes grupos económicos”. No parlamento, diz, a “promiscuidade” entre a política e os negócios “é absoluta” e as suas estruturas são na maioria dependentes “dos grandes grupos económicos”.

Todos os políticos são corruptos? “Não”, garante o docente que estima que 90% sejam “sé04

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rios”, estando o problema nos “10% de corruptos que dominam 90% do orçamento”. Ainda assim, Paulo Morais garante não estar dececionado com a política, mas apenas porque “nunca” esteve iludido.

Autarquias não, Parlamento talvez Um dia talvez possa voltar à política, mas agora ao nível do parlamento, onde possa contribuir para a resolução deste “tipo de problemas” e apenas se “surgisse uma circunstância de ocupar um lugar em que pudesse ajudar a mudar o regime tal como ele está”. Para um lugar nas autárquicas garante que “nem pensar”. Olhando para trás, reconhece como maior conquista a capacidade de “transferir para a opinião pública uma preocupação grande pelo fenómeno da corrupção e a perceção que as pessoas hoje têm que a corrupção tem muito a ver com o estado em que se encontram neste momento”. Depois de a comunidade ter começado a tomar consciência, falta para Paulo Morais o passo seguinte, “que se organize para combater não só o fenómeno da corrupção, mas também se organize perdendo o medo”. Porque os portugueses “só saem deste buraco se combaterem as causas” e a causa, garante, “é essencialmente a corrupção”.

Nome completo: Paulo Alexandre Batista Teixeira de Morais Data de nasc imento: 22 dezembro 1963 Loca l de Nasc imento: Viana do Castelo Habilitações literária s: Doutoramento em Engenharia

Livro: “Um Tratado para os Tempos Modernos” Filme: “A Lista de Schindler” Música: Concerto para Violino de Tchaikovsky


desenvolvimento

Avião regional não descola! As duas cidades transmontanas, Bragança e Vila Real, continuam sem ligações aéreas com a capital, Lisboa, o que sucede desde novembro. Como já era esperado, o prometido reinício da carreira aérea durante este mês de março falhou e, pior do que isso, não existe nenhuma perspetiva de ser retomada a curto prazo. Os mais atentos já perceberam que jamais um avião voltará a fazer aquelas ligações aéreas a menos que o Governo volte a subsidiar quase integralmente os passageiros da carreira aérea e o operador que eventualmente venha a ser escolhido em concurso público, tal como se processou nos últimos 15 anos. Ainda que os bilhetes viessem a ser subsidiados a 50 por cento, o preço a pagar pelos utilizadores seria tão elevado que faltariam os interessados. Por outro lado, nas condições que o Governo quer impor o concurso para a carreira aérea ficará provavelmente deserto. Há uma terceira machadada no interesse dos transmontanos: o Governo só quer subsidiar os residentes nos dois distritos da região, pelo que o número de utentes diminuirá substancialmente e, por outro lado, a carreira aérea deixará de atrair visitantes para a região…

Os autarcas da região manifestam a sua preocupação com o futuro na ligação e poucos já acreditam na retoma dos voos. O presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, tinha anunciado que obteve a garantia do primeiro-ministro, numa reunião em janeiro, de que as condições de operação seriam publicadas em Diário da República em fevereiro e os voos restabelecidos em meados de março, mas este prazo foi considerado desde sempre inexequível, sabendo-se que os trâmites de um qualquer concurso ou até de ajuste direto com o operador aéreo, se a legislação o permitir, demora sempre alguns meses. O autarca, que este ano termina o seu último mandato, já veio em meados deste mês reconhecer que o prazo esgotou-se e “não foram publicitadas em fevereiro as condições para os operadores concorrerem”, pelo que não há condições “para a ligação ser restabelecida no prazo anunciado”. Citado pela Lusa, Jorge Nunes adiantou que tem conhecimento de que o Governo "aguarda ainda a aprovação do modelo de financiamento por parte da Comissão Europeia". O Governo suspendeu, a 27 de novembro, os voos que se realizavam desde há 15 anos, alegadamente por a União Europeia não autorizar o modelo de financiamento estatal que se cifrava em 2,5 milhões de euros por ano. O autarca de Bragança também reconhece que

o modelo de financiamento [ao passageiro] utilizado entre o Continente e a Madeira não será viável na região transmontana e até poderá ditar o fim definitivo da ligação por falta de operadores aéreos interessados. Estima-se que mesmo com a subsidiação em metade do bilhete, o preço entre Bragança e Lisboa poderia atingir cerca de 400,00 por passageiro (ida e volta), quase quatro vezes o custo em 2012 (123,00). Nestas circunstâncias, dificilmente haverá operador aéreo – entre os três que efetuaram a ligação nos últimos anos, Aerocondor, Aeronorte e Aero Vip – que queira realizar o serviço entre Lisboa e as cidades de Vila Real e Bragança. Para o presidente da Câmara de Bragança, “o incentivo financeiro que estava a ser dado a esta ligação aérea é absolutamente ridículo no quadro do esforço que o país faz para subvencionar serviços públicos de transporte particularmente em Lisboa e que os transmontanos merecem muito mais do que isso". Jorge Nunes considera que "a situação atual é evidentemente prejudicial para a região”, sobretudo devido ao atraso das obras na autoestrada A4, por concluir entre Macedo de Cavaleiros e Bragança, além da suspensão da concessão Túnel do Marão, adiada há quase dois anos devido “a dificuldades financeiras do concessionário", um consórcio liderado pela Somague. repórterdomarão | março'13

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artes

HELENA SARMENTO | Fadista natural de Lamego

“O Fado é um Helena Sarmento canta fado. Canta as palavras que não lhe faltam e canta porque não sabe viver sem música. Aos 31 anos lança agora o segundo álbum “Fado dos Dias Assim”, dois anos depois do “Fado Azul”, que a própria editou para vários países da Europa, chegando até ao Japão. O fado sempre fez parte da sua vida, mas o amor “para sempre” surgiu apenas quando o conseguiu compreender e nele encontrar-se.

Liliana Leandro

lleandro.tamegapress@gmail.com “O Fado é um feitiço: é um segredo que quanto mais se canta mais se conta e mais secreto fica. E eu já não sei viver sem isso”, conta Helena Sarmento, fadista e advogada de profissão que acaba de lançar o seu segundo álbum com dezasseis temas e “muitas palavras novas”. O trabalho, “Fado dos Dias Assim”, esteve em pré-venda durante um mês numa iniciativa que visou ajudar Helena a financiar, pela segunda vez, uma edição 100% independente. “Além de ter sido uma boa ajuda, é muito bonito apreciar a atitude das pessoas quando lançamos este tipo de desafios”, recorda agora. O autofinanciamento é mesmo uma das maiores dificuldades da carreira da artista que sempre ouviu fado em casa – o pai é apaixonado por Amália – mas aos 13 anos se juntou a uma banda pop-rock, os “Clepsidra” porque “ficava bem” na rebeldia da adolescência “dizer que não gostava de fado”. Agora, admite “que na verdade, isso não era bem assim”.

O Fado Começou a cantar fado com mais regularidade aos 21 mas o “amor para sempre ao fado” só aconteceu de facto quando o compreende e

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quando nele encontrou o seu caminho, aos 27 anos e hoje, aos 31, já não sabe viver sem ele ou sem cantar. Ao fado, onde tem um projeto “bem definido” que invade todos os seus dias, junta a advocacia, a profissão que escolheu “principalmente por causa da sua vertente social” a qual vive com a mesma paixão e intensidade com que vive o fado. “Além disso, com todas as dificuldades próprias de quem exerce a advocacia nos tempos que correm (...) é a advocacia que me ajuda a ser patrocinadora a 100% dos meus discos”, explica. Em 2011 nascia o “Fado Azul”, depois de Helena encontrar João gigante-ferreira que, nas letras pedidas e procuradas, escreveu “especialmente tudo aquilo que não foi necessário dizer”. Também o seu pai, Joaquim Sarmento, “romancista e homem de palavras”, integrou e integra o núcleo “das palavras essenciais” dos discos da cantora. “Fado Azul” trouxe 13 faixas de fados clássicos ou tradicionais, cantados com palavras novas escritas especialmente para Helena e ainda dois covers de ícones como Amália Rodrigues e José Afonso. A experiência do primeiro disco, recorda, foi “muito gratificante e pedagógica” e com ele chegou a França, Alemanha, Áustria, Benelux, Espanha, Itália, República Checa, Reino Unido, Suíça, EUA, Hong Kong e Japão.

Fotos: André Henriques | http://www.ahphoto.pt.vu/


lança segundo álbum “Fado dos dias assim”

feitiço” Os “Dias Assim” Dois anos depois é a vez do “Fado dos Dias Assim”, com “dezasseis temas, muitas palavras novas, novos autores, mais músicas totalmente originais, um novo instrumento e uma maior maturidade vocal”. De todas destaca “Saudade da Prosa”, com a letra de Manuel António Pina e música original de Paulo Rodrigues. “O desaparecimento precoce do poeta fez com que, na procura da memória, Paulo Rodrigues concebesse, mais do que uma canção, um verdadeiro objeto musical, do qual faz parte a própria voz de Manuel António Pina”, explica Helena Sarmento. No novo álbum está

também “O que tinha de ser”, de Vinicius de Morais, “Porto-porto”, tema que abre o disco e “emerge do coração da cidade património mundial” e “Fado Aritmético” que “constitui o primeiro avanço do disco e que resultou numa forma extraordinariamente divertida e singular de falar dessa coisa tão séria que é o Amor”. Com dois álbuns lançados, Helena Sarmento acredita que o futuro “pertence aos que acreditam na beleza dos seus sonhos” e todas as noites se deita com a “extraordinária sensação” de que todas as suas pequenas conquistas nesse “mundo novo” do Fado se devem “única e exclusivamente” ao seu talento e trabalho. O que lhe falta conquistar? “O resto da vida”.

Nome completo: Helena Isabel Cardoso Sarmento de Almeida Data de nascimento: 23 de agosto de 1981 Local de Nascimento: Lamego (Almacave) Habilitações literárias: Licenciada em Direito pela Universidade do Minho; pós-graduada em Direito das Autarquias Locais e Urbanismo pela Universidade do Porto Livro: “Anna Karenina” (Liev Tolstói) Filme: “A Lista de Schindler” (Steven Spielberg) Música: “João e Maria” (Chico Buarque) repórterdomarão | março'13

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desenvolvimento

Quebras no Douro Superior chegam a 50 por cento

Crise afasta visitantes da região Estradas e ruas desertas, equipamentos subaproveitados, estabelecimentos de restauração fechados ou sem clientes é o cenário mais negro da crise que também atingiu a maioria das vilas e cidades do Douro Superior. Comparado com a atividade económica que o circuito das amendoeiras em flor ainda proporcionava há cinco ou dez anos o panorama de hoje é quase desolador. Em Miranda do Douro, cidade fronteiriça que beneficiava imenso da procura dos seus vizinhos espanhóis (a crise em Espanha é ainda mais assustadora que a portuguesa), perdeu mais de metade dos seus visitantes, reconheceu ao RM um comerciante de restauração no centro histórico da cidade mirandesa. Sabia-se que a crise e sobretudo a retirada de rendimentos à classe média, do funcionalismo público aos quadros médios e superiores das empresas, quer pelos cortes de salário ou pelos impostos, teria um forte impacto no turismo interno. Veja-se a quantidade de unidades hoteleiras que faliram nos últimos dois anos e as que fecharam na época baixa, só reabrindo nos períodos de algum afluxo de turistas, quer nacionais quer estrangeiros. As notícias dos jornais e televisões falam geralmente da crise no Algarve, mas o Douro e o norte em geral estão a ser fustigados seriamente no setor do turismo e afins, englobando aqui todas as atividades de hotelaria e restauração. Há honrosas exceções, que só confirmam a regra, nomeadamente a visibilidade conseguida pela cidade do Porto, cujas taxas de ocupação dos seus hotéis contrariam a tendência geral, e os novos (e soberbos) investimentos que a empresa Douro Azul esta a fazer (e que geram 200 novos postos de trabalho), de que é exemplo a promoção internacional conseguida com a vinda de estrelas do cinema americano para madrinhas de dois novos navios hotel. Recorde-se que apesar de o empresário Mário Ferreira sempre ter apostado nos barcos de passeio no Douro navegável ele soube corrigir o rumo da sua empresa quando percebeu que não podia ficar à

espera dos clientes estrangeiros para os seus hotéis de luxo no Douro - já geriu o Solar da Rede e o Vintage House e teve planeado um novo cinco estrelas na Rede, que nunca avançou - e hoje concentra todo o potencial dos 20 anos da Douro Azul nos barcos hotéis, com uma frota significativa e ainda em crescimento, ao mesmo tempo que anuncia ter a operação turística dos próximos anos vendida a canadianos, americanos e ingleses. Quanto ao turismo tradicional do Douro, que vive quase exclusivamente do mercado interno, o futuro é muito mais negro. Fizemos o percurso a meio de março, junto ao último fim de semana dos programas das amendoeiras em flor, passando por Vila Flor, Alfândega da Fé, Mogadouro, Sendim, Miranda do Douro, Freixo de Espada à Cinta, Figueira de Castelo Rodrigo, Almendra e Vila Nova de Foz Côa e o que vimos é desanimador. Invariavelmente, uns mais que outros, estes centros urbanos apresentavam-se com pouca gente: não há visitantes, apenas locais. Somente em Figueira de Castelo Rodrigo encontramos dois autocarros de turismo estacionados no centro da vila. Na estrada do IC5 para Freixo e desta vila para Barca D'Alva quase não encontramos veículos e os poucos que cruzamos eram dos aglomerados locais. Não há veículos de turistas a passear ou autocarros, como se avistavam há alguns

anos. Atravessa-se Barca d'Alva e contam-se pelos dedos o número de pessoas que avistamos. Parece o deserto... Nas vilas e cidades que percorremos, o movimento encontrado foi muito reduzido, embora menos acentuado em Vila Flor e Mogadouro. Cafés e restaurantes estão sem clientes, outros fechados definitivamente, com o dístico "arrenda-se" ou "passase" colado na porta. Nem o afamado Restaurante Gabriela, em Sendim, responsável pela confeção de uma invejada posta de carne à mirandesa, tinha clientes à hora do almoço. Tirando os fluxos normais de pessoas da terra que circulam de e para os serviços públicos – centro de saúde, finanças, correios, câmara municipal, bancos, escolas, etc. – não se vislumbra um turista ou uma família a passear. O que mais se vê são estabelecimentos comerciais, outrora prósperos, fechados. Há equipamentos públicos de desporto, lazer, de feiras e exposições, etc. completamente subaproveitados. Nas duas horas que circulamos pelas ruas de Miranda do Douro o movimento automóvel encontrado foi diminuto (com pouquíssimas matrículas espanholas) e o número de pessoas que passeava no centro histórico quase irrisório. O dono de um café, perante o nosso espanto, disse-nos que era o dia dessa semana com mais movimento de pessoas. "Isto caiu mais de 50 por cento", resumiu, lamentando sobretudo a fuga massiva dos vizinhos da margem esquerda do rio Douro devido à crise que também estão a passar. Se a esta falta de sustentabilidade económica do território juntarmos a diminuição da população – todos estes municípios registam quebras populacionais de 15% na última década – temos um problema a necessitar de ser enfrentado muito seriamente pelas autoridades, quer nacionais quer locais.

Vila Flor

Alfândega da Fé

Mogadouro

Sendim

Miranda do Douro

Freixo de Espada à Cinta

Figueira de Castelo Rodrigo

Almendra

Vila Nova de Foz Côa

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- prata ou lata ? ARMANDO MIRO, jornalista. Ex-presidente da Região de Turismo da Serra do Marão O Douro é rico por que tem muita pobreza. É-o não só pelas suas populações esmagadas em séculos de exploração, mas também na ausência da diversidade de recursos que acabaram por exponenciar os poucos que tinha, quase únicos, irrepetíveis em qualquer outro lugar.. Ali resultou a obra ciclópica que o engrandeceu e honrou, tornando-o inigualável ao conseguir do nada fazer tudo, aperfeiçoando a obra do criador. Nesta aprimorou-se na exclusividade do que o solo e o sol permitiam para fazer algo único e invejável que o mundo reconhece e deseja. Tem apenas três riquezas: as pessoas, a terra/paisagem e o vinho. Aquelas vão escasseando nos atributos que as moldaram no carácter e no ser, procurando fugir à míngua e à desdita do que lhes dão em torno, mas o tesouro das suas tradições, modos e cultura ainda permanecem em memórias indeléveis. Quanto ao que deslumbra os olhos ainda ficou muito, mas já muito lhe espoliaram acenando-lhe com a riqueza que nem sabe quanta é, vendo-a fugir com a água que corre até à foz para desaparecer no mar. No vinho, que soube aprender de quem lhe ensinou e lhe abriu caminhos, melhorou imenso em qualidade e saber, mas perdeu o arrimo de quem a devia representar, defender, promover e garantir. Que lhe deram até hoje? Salvo poucos momentos históricos, muitos projectos e programas megalómanos que satisfizeram egos de apresentadores e por aí ficaram. De que lhe serviram epítetos de melhor do mundo, único, “excelência”, destino sustentado, património da humanidade e tantos outros? Para que foram bienais e outras realizações artificiais de encher o olho mas que mais não davam que uns títulos da press, promessas de voltar e trazer sem retorno e efeito, e brindes em goles de néctar que mal provavam, e sem ao menos conhecerem a epopeia que lhes deu o ser? Um museu de território inacabado que apenas subsiste na carolice e empenho de uns poucos. Instituições vitais com orçamentos esmifrados e de competências vazias. Missões confiadas que não se cumprem. Feitos de lapela de quem os diz mas que se esfumam no vazio. Transportes cada vez menos e estradas que não saem do papel. Tudo na ausência absoluta de uma voz que se ouça para se fazer ouvir e afirmar. Não a lamúria e o lamento dos que apenas mostram estar vivos com ameaças vãs e inconsequentes. Até as “casas” que deviam ser do

Douro, do IVDP e IPTM à dita, parecem mergulhadas numa penumbra que nem sequer lhes adivinha forças para o extertor da morte, quanto mais para o que a obrigação institucional lhes ditou mas não permitem que se faça. O que lhe podem dar para complementar o pouco do muito que tem, vai sendo cada vez mais reduzido ou até nulo. Quando algo nasce de novo parece já vir com avançada idade e certidão de óbito no foral. Vai-lhe valendo o que tem na sua essência telúrica e o anónimo que o mantém vivo para ele próprio sobreviver. Quem o visita espanta-se no absurdo de contradições e desmesuras. O tudo e o nada, o muito e o pouco, o ter e o ser, e essencialmente a obra de quem tudo fez do nada que tinha. É o turista que o Douro cativa mas ainda não descobriu qual quer e deve ter. Já vai tendo alguns bons exemplos de quem sabe o que quer e onde ir buscar. Mas não lhe segue o exemplo do fazer e critica-os na inveja do que fazem e do que sabem. Fez múltiplas apostas. A magia do rio navegável vai correspondendo às potencialidades, mas os investimentos infraestruturais há muito que se cansaram, talvez pela muita força inicial que não voltou. A hotelaria tradicional, da mais alta qualidade estrutural e qualificação, não encontrou ainda a adequada clientela. Algumas das melhores portas vão-se fechando, e há inconsequência nas apostas que imitam outros lugares sem atender ao local. Ambientes fortes não toleram importações quando o que se plagia está naturalmente ao estender da mão. A da ruralidade vai-se mantendo e afirmando pois, vivendo de sonhos e desejos de afirmação de quem os idealizou e suporta, não é tanto um investimento a rentabilizar mas um complemento de actividade e preservação patrimonial. A restauração, que já vivia mal depois do primeiro susto com a ASAE que não passou disso, viu a situação agravar-se com os que queriam conhecer ou matar saudades da rica gastronomia dos avós que perderam meios e vontade. Foi depois a machadada do IVA a subir e a nova facturação, desaparecendo o mercado interno que é grande sustentáculo sazonal de toda a actividade. Acrescente-se o esmorecer da escassa promoção motivacional. O que vai ser do Douro? Já não há muito tempo para responder. Recorde-se apenas que são as pessoas que prestigiam as instituições e não o inverso...

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sustentabilidade

ENTREVISTA | Paula Arnaldo, investigadora da UTAD e coordenadora

Vila Real quer ser cidade na proteção da biodivers A ação do Homem e as alterações climáticas são os principais responsáveis pela perda de biodiversidade na região de Trás-os-Montes. Foi justamente para preservar o património biológico que, em 2010, a autarquia vila-realense impulsionou um programa pioneiro. Agora, pretende que Vila Real se imponha, naturalmente, como um destino de biodiversidade.

Patrícia Posse

patricia.posse@gmail.com O município de Vila Real, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), lançou-se na saga de conhecer melhor a biodiversidade da região, através do Programa de Preservação da Biodiversidade de Vila Real. Recentemente, a Associação Internacional das Cidades Educadoras classificou a iniciativa como uma das cinco melhores experiências internacionais na área da sustentabilidade e educação ambiental. A primeira ação do Programa consistiu na monitorização de todos os grupos de fauna e flora, num trabalho que envolveu cerca de 20 pessoas. Como o ecossistema da região se fragmentou, as espécies ficaram isoladas e, ao perderem viabilidade genética, foram desaparecendo naturalmente. Por isso, têm sido pensadas e implementadas medidas de gestão para assegurar a sua sobrevivência. O trabalho desenvolvido em torno da borboleta azul tornou-se uma referência do Programa de Biodiversidade. “Em 2006, a população era pequenina, com pouco mais de 200 borboletas. No ano passado, contabilizámos 3200 só num espaço de dois hectares”, revela Paula Arnaldo, coordenadora do Programa por parte da UTAD. Diminuiu-se a intensidade do pastoreio e, anualmente, um grupo de voluntários, muitos deles ingleses, rumou ao lameiro de Lamas de Olo para arrancar as plantas que pudessem competir com a genciana, a planta hospedeira da borboleta azul. “Outra das ações que está prevista é a criação de corredores verdes, através

de desrames e limpeza dos matos, para que os vários núcleos de populações que existem no Alvão possam entrar em contacto, já que a borboleta azul tem muito pouco poder de voo”, avança. A mortalidade acidental de anfíbios na Estrada Nacional 313 suscitou, também, uma medida de gestão que consistiu na construção de muretes para evitar o atravessamento da via. Verificou-se uma “diminuição drástica” dos atropelamentos da lontra, do sapo-comum, do sapo-corredor, do tritão e da salamandra-de-pintas-amarelas, que acorrem à barragem do Alvão na época de acasalamento. “Também está delineado algum trabalho para manter os morcegos nos seus habitats, colocando travões à entrada das pessoas”, acrescenta a investigadora. Em paralelo, o Programa tem desenvolvido várias ações de educação e sensibilização para as questões do ambiente. Cerca de 240 voluntários têm vindo a ser mobilizados para diversas atividades, sobretudo na remoção de resíduos das margens dos rios. Nos dias 21 e 22, realizou-se o I Fórum da Biodiversidade “Que estratégias para o futuro?”, onde foram divulgados os resultados do Programa, abordando ainda temáticas como riscos ambientais, serviços ecológicos ou medidas de ordenamento do território para preservar a biodiversidade. “Queremos que as pessoas fiquem informadas e mostrar-lhes que devem olhar para a Natureza e ver aquilo que lá está”, conclui a coordenadora.

Colias croceus – Paula Arnaldo

Borboleta azul a fazer a postura

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do Programa de Preservação da Biodiversidade

exemplar idade

“Temos de criar um pacote de ofertas para manter o visitante em Vila Real ou fazê-lo regressar. O Turismo de Natureza tem de dar alternativas de visitação”, considera Paula Arnaldo. Para a investigadora da UTAD é ainda fundamental resolver o problema da falta de sinalização e da logística.

Financiamento de 1,7 milhões de euros Iniciado em 2010, o Programa de Preservação da Biodiversidade de Vila Real recebeu uma verba de 1,7 milhões de euros. Para levar a cabo os trabalhos de investigação, a autarquia local procedeu a uma aquisição de serviços junto da academia transmontana. “Neste tipo de financiamento, o objetivo é resolver problemas específicos e temos de chegar ao final da investigação e dar soluções”, explica Paula Arnaldo. Comparativamente com as bolsas aprovadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), este modelo de financiamento permite desenvolver uma investigação mais linear e “dá outra estabilidade”. “Começa a ser prática recorrente empresas e municípios contratualizarem serviços connosco. É por aí que conseguimos fazer investigação e mesmo ter bolseiros a trabalhar. Há muitos anos que defendo que isto é uma boa alternativa.” Já a pensar em aproveitar o próximo quadro co-

munitário de apoio, a equipa tenciona dar continuidade ao Programa de Biodiversidade e alargá-lo às cidades de Peso da Régua e de Lamego. “Também temos projetos para perceber o que vai acontecer à fauna e flora depois de construídas as barragens na bacia do Tâmega e já surgiram pedidos para centros interpretativos em várias zonas do país, de modo a torná-los mais apelativos para a visitação”, adianta Paula Arnaldo.

Explorar os serviços ecológicos Os estudos sobre a biodiversidade deixam antever uma janela de oportunidades para as comunidades locais, ou seja, elas devem tirar partido dos recursos naturais, “inclusivamente do ponto de vista financeiro”. “O mel é um serviço ecológico que pode ser muito valorizado e que tem a ver com a biodiversidade vegetal, ou as aromáticas”, exemplifica a investigadora. Com cerca de metade do território de Vila Real integrada em áreas classificadas (Parque Natural do Alrepórterdomarão | março'13 11


sustentabilidade

Observatório da Biodiversidade abre em Novos rurais podem travar despovoamento

vão e Sítio Marão/Alvão da Rede Natura 2000), o Turismo de Natureza é outra faceta a explorar, mas sempre numa lógica integrada. “Temos de criar um pacote de ofertas para manter o visitante em Vila Real ou fazê-lo regressar. O Turismo de Natureza tem de dar alternativas de visitação”, considera Paula Arnaldo. Daí que, a breve trecho, se pretenda criar uma espécie de circuito entre os bio-percursos, o Observatório de Biodiversidade e o Centro de Ciência Viva, equipamentos ainda não concluídos. “Em termos turísticos, queremos aproveitar tudo isto e juntar as quintas do Douro, que já trabalham a biodiversidade”, avança. Em paralelo, é crucial colmatar o problema da falta de sinalização e da logística: “ao criarmos este pacote de Turismo de Natureza, temos de dar informações precisas e ter guias a orientar os grupos”. Além da inauguração do conjunto de 10 bio-percursos, o Programa de Biodiversidade inaugurará, em julho, o Observatório de Biodiversidade, que está a ser erguido na freguesia da Campeã e que terá uma área envolvente superior a 10 hectares. Paula Arnaldo integra também a Comissão Regional de Coordenação de Combate à Desertificação e constata que já há zonas no Nordeste Transmontano desertificadas, devidamente referenciadas, “onde se nota o desaparecimento de uma série de culturas, plantas e animais”.

Numa visão prospetiva, a investigadora acredita que a tónica dominante será a procura pela terra. “Já vi um êxodo muito grande dos meios rurais para as grandes cidades da faixa litoral, mas penso que no futuro haverá um retorno de novos rurais.” Face à sobrelotação do Litoral, as pessoas “vão voltar às origens” e mesmo aquelas que não têm raízes no Interior “vão querer experimentar coisas novas”. “ A terra vai ser muito apelativa e vamos ter pessoas com conhecimentos. Conheço muitos jovens que tiraram um curso superior, foram para as grandes cidades e, agora, vêm para o Interior”, refere. Contudo, protagonizam uma atitude diferente, mais conhecedora dos meandros que os esperam. “Hoje, o novo rural já não entra na agricultura cegamente. Daqui a 10 anos, vamos ter um panorama muito interessante, de jovens com conhecimentos científicos em zonas onde antigamente não existia ninguém”, observa. Para combater a desertificação (impulsionada por alterações climáticas que levaram ao desaparecimento de espécies) e o despovoamento (consequência da intervenção do Homem no território) na região, Paula Arnaldo enuncia algumas medidas.

Identificação de um ninho de borboleta azul

Contagem dos ovos de borboleta azul

Medição da lagarta da borboleta logo que esta abandona a flor

Circus pygargus (tartaranhão-caçador) – Paulo Travassos

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julho na Campeã

Projetos de investigação em Montesinho e no Douro Internacional

“Tem de haver conhecimento científico sobre os problemas específicos do ecossistema relativamente à desertificação. Por exemplo, os zimbrais são característicos do Nordeste Transmontano e as populações não lhes dão valor nenhum, quando podem ser uma-mais valia”, aponta. Apesar da região se encontrar desertificada, é essencial preservar e valorizar as espécies que se adaptaram bem e que resistem. “Depois de as conhecer, é trabalhá-las de forma a diminuir o problema da perda da biodiversidade”, acrescenta. Só a criação de condições para fixar a população é que poderá contrariar a sangria demográfica. “O principal foco é dar condições às pessoas para que não sintam a necessidade de ir para as grandes cidades. ” Por outro lado, cabe aos habitantes destes territórios a missão de serem criativos. “Têm de conseguir encontrar, no seu local, algo que possam fazer de novo. Hoje em dia, têm de ser pioneiros. Quem se quiser instalar não pode fazer o que o vizinho do lado faz, tem de fazer obrigatoriamente outra coisa, tem de ter ideias novas”, sentencia Paula Arnaldo.

As áreas protegidas de Montesinho e do Douro Internacional são também alvo de investigações no âmbito da biodiversidade, por parte do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Este ano, arrancou o projeto “IND_ CHANGE - Ferramentas de modelação baseadas em indicadores para prever alterações na paisagem e promover a aplicação da investigação sócioecológica na gestão adaptativa do território”, que inclui um componente sobre efeitos causados pela alteração das paisagens na biodiversidade. Com término em 2015, o projeto vai debruçar-se sobre o Parque Natural de Montesinho, uma das áreas de estudo. Este ano, Maria Alice Pinto, do Centro de Investigação de Montanha, deverá apresentar as conclusões do estudo sobre “padrões e processos de variação (neutral e adaptativa) na zona de hibridação da abelha da Península Ibérica”, que aborda a diversidade genética e a sua explicação evolutiva. Em 2012, findaram os projetos de “Conservação e valorização da flora endémica ameaçada em Portugal Pólo” e “Cultibos, yerbas i saberes: biodiversidade, sustentabilidade e dinâmica em tierras de Miranda”. De referir ainda que o IPB já teve em curso estudos para avaliar o efeito de empreendimentos hidroelétricos na qualidade dos sistemas aquáticos de várias bacias, bem como projetos de inventariação e conservação da flora e vegetação autóctones.

Anthus campestris (petinha-dos-campos) – Paulo Travassos

Abertura de ninhos de formiga Myrmica

Lagarto água macho – Albano Soares

Meles meles (texugo fêmea) – Aurora Mouzon repórterdomarão | março'13 13


educação

PARQUE ESCOLAR | Escola do Marco de Canaveses com obras

Câmara revoltada com atraso da As dificuldades de financiamento ditaram a suspensão temporária das obras de mais uma escola que estava a ser requalificada pela Parque Escolar, desta vez no Marco de Canaveses. A Escola Secundária tem as obras paradas desde o final de 2012 e a Câmara Municipal decidiu denunciar agora a situação por esta suspensão colocar em causa o calendário definitivo da obra, que apontava a sua conclusão a tempo da abertura do ano letivo 2013/14. Relativamente a outra escola que também sofreu uma paragem, apesar de curta, em Baião, as obras foram concluídas e a comunidade escolar já pôde mudar-se para os novos edifícios há algumas semanas, depois de um ano e meio em instalações provisórias. O deputado Luís Vales, do PSD, eleito pelo círculo do Porto, que diz ter informações da empresa Parque Escolar, confirmou que as obras de requalificação da Escola Secundária do Marco de Canaveses foram suspensas “por falta de dotação financeira”. Luís Vales disse ter-se reunido recentemente com o presidente da empresa do Estado que está a remodelar o parque escolar e lhe ter sido comunicado a suspensão temporária da empreitada relativa à Escola Secundária do Marco de Canaveses, uma decisão que teria sido já tomada em dezembro de 2011. Segundo o deputado, a Parque Escolar terá recebido ordens da tutela para suspender a obra quando terminasse a primeira fase da requalificação da escola, o que aconteceu em setembro de 2012. A mesma situação estará a afetar 20 escolas no país, adiantou ainda o deputado, citado pela Lusa. A justificação passava por não estar ainda cabimentada, pelo Ministério das Finanças, verba para o resto dos trabalhos. O deputado eleito pelo circulo do Porto la-

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menta a situação, porque, sublinha, apenas foi realizada a primeira das três fases da empreitada, que tem um custo global de 12 milhões de euros.

Obras só a partir de setembro O parlamentar adiantou que recebeu informação da Parque Escolar de que a obra só será retomada em setembro, no âmbito de um plano de investimentos plurianual. O deputado reconhece que as atividades letivas decorrem numa situação precária e que está a fazer todas as diligências para ser recebido pelo ministro da Educação. “Espero que o senhor ministro seja sensível à situação e que seja encontrada uma solução para as obras recomeçarem rapidamente”, disse Luís Vales.

Manifestações O eleito social-democrata, que é natural do Marco de Canaveses, admitiu poder participar em manifestações de protesto convocadas pela comunidade escolar e pela autarquia, mas só depois de "esgotar todas as possibilidades de diálogo com o Governo". Luís Vales referiu estar "indignado" por as obras terem sido suspensas sem que a direção da escola e a autarquia tenham sido informadas.

Câmara protesta Também o presidente da Câmara do Marco de Canaveses, Manuel Moreira (PSD), ameaçou participar em manifestações de rua, com a participação de alunos, se o Governo não retomar as obras na escola secundária da cidade. “É de um grito de revolta que se trata. Se não houver resposta afirmativa, vamos ter de tomar outras iniciativas”, afirmou o autarca. Manuel Moreira anunciou que mandou para o ministro da Educação, Nuno Crato, uma carta a exigir que sejam retomadas as obras de modernização da escola, paradas desde o final de 2012. “Exigimos a urgente retoma dos trabalhos. Jamais aceitaremos que uma escola seja sus-


suspensas

Secundária

pensa, instalando o caos na vida académica”, disse o autarca social-democrata, numa conferência de imprensa em que esteve acompanhado do diretor da escola, José Teixeira. Manuel Moreira insiste que estão disponíveis verbas comunitárias para a obra, faltando apenas a comparticipação nacional. Segundo o diretor da escola, os cerca de 1.600 alunos do estabelecimento estão a viver "uma coisa terrível, porque coexistem uma zona cheia de condições e outra degradada". "Temos salas em que chove lá dentro, é frio e o aspeto visual aproxima-se das favelas”, lamenta José Teixeira.

Escola concluída em Baião

Apesar de também ter sofrido uma paragem nas obras, a EB 2,3/Secundária de Baião acabou por ficar concluída este mês, estando a comunidade escolar já instalada no novo edifício. Com cerca de um milhar de alunos, a EB 2,3/S de Baião dispõe agora de novas oficinas, para acolher os cursos profissionais de mecânica e de eletricidade, salas dedicadas a cursos inovadores, como o de ótica ocular, laboratórios e unidade de ensino estruturado, para alunos do 2º ciclo com necessidades educativas especiais. O novo edifício dispõe de 59 salas de aulas, 18 delas "multifunções", dois ginásios, balneários de apoio aos equipamentos desportivos e um salão polivalente com capacidade para 180 lugares sentados. Para o diretor do Agrupamento de Escolas, Carlos Alberto Carvalho, há uma grande satisfação entre os elementos da comunidade educativa pela mudança para a nova escola. "Todos nós sentimos que aqui vamos dispor de condições ideais de trabalho e aprendizagem", comentou durante uma visita guiada com o presidente da Câmara. O autarca, José Luís Carneiro, teve a oportunidade de conversar com vários alunos e desafiou-os a "aplicarem-se nos seus estudos porque é dessa forma que poderão concretizar os seus sonhos e objetivos".

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agenda | crónica

Dolmen debateu a região com A Dolmen organizou na Fundação Eça de Queiroz, em Tormes, um jantar-debate com autarcas, parceiros, investidores, técnicos e especialistas de desenvolvimento regional com o intuito de avaliar os investimentos realizados até hoje no território Douro Verde e perspetivar que tipo de ações deverão ser empreendidas durante a vigência do próximo instrumento comunitário de apoio, no período 2014-2020. No encontro da Dolmen participaram os professores Lino Tavares Dias, diretor da Área Arqueológica do Freixo e professor da U.Porto, Luís Ramos, deputado e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e Rio Fernandes, geógrafo e investigador em ordenamento do território, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. "A Dolmen enquanto gestora e dinamizadora de programas de apoio ao desenvolvimento local reuniu os principais atores públicos, associativos e privados para debater os caminhos trilhados e perspetivar o futuro da nossa região. Este Encontro de Parceiros do Desenvolvimento permitiu debater as prioridades do presente e do futuro do nosso território em ordem à auscultação e definição da estratégia de desenvolvimento a apresentar no próximo quadro estratégico(2014-2020)", assinalou Telmo Pinto, presidente da Dolmen, na abertura do debate. Acrescentou ainda que "nos próximos Encontros de Parceiros, a realizar ao longo deste ano, pretendemos discutir o papel e importância da produção, transformação e comercialização dos produtos locais; as sinergias da oferta cultural, paisagística, gastronómica e do alojamento turístico, entre outros." Segundo Telmo Pinto, "a aposta na qualificação, diferenciação e complementaridade da oferta, no nosso território, deve ter uma preferência na nossa estratégia e na abordagem que pretendemos para a nossa região." Colaborador da primeira hora do projeto da Dolmen, Lino Tavares Dias salientou a importância do caminho de ferro que atravessa a região, apesar das ameaças que pairam sobre este meio de transporte. Aludindo que já Eça de Queiroz o utilizou no século XIX quando rumou a Tormes, sobretudo por ser “estratégico”, o investigador salientou que “o caTelmo Pinto

minho de ferro é a grande marca deste espaço no final do século XIX e no século XX”. Acrescentou que a lógica da paisagem cultural, que a Dolmen traçou para esta região, tem tudo. “Temos é de saber explorar este produto”, desafiou. “É por isso que quando é falado em termos identitários, em termos de identidade e afirmação, este aspeto é absolutamente fundamental, porque foram as pessoas que aqui viveram, desde há uns milhares de anos, que gradualmente construíram de uma forma harmoniosa esta lógica de perceber o território e usar a sua capacitação é a mais valia que curiosamente serviu de suporte ao pensamento da Dolmen”, concluiu Lino Tavares Dias. Luís Ramos traçou a evolução do território em termos de estruturas, construídas com os apoios da União Europeia. “O país não seria o mesmo, sobretudo nos meios rurais, sem este tipo de ajuda da UE, e quem não fizer este exercício não estará a ser sério”, sustentou o deputado do PSD. Mas o professor universitário colocou também o acento na “sustentabilidade económica e social” de muitos desses equipamentos, apesar de concordar que existe um salto qualitativo muito elevado, nomeadamente no interior do país. “Temos hoje em muitos municípios do interior níveis e qualidade de infraestruturas muito melhores que nas áreas metropolitanas (AM) do Porto e de Lisboa”, considerou. Aludindo ao desequilíbrio de recursos – “houve dinheiro a mais para setores e áreas onde não era tão necessário” – o deputado definiu uma das principais distorções: “O subsídio era o aliciante para o investimento privado. Isto distorceu o sistema e a grande maioria [dos projetos] não produziu bens transacionáveis”. Relativamente ao próximo quadro de apoio europeu, Luís Ramos defendeu que os programas devem apontar no sentido da criação de riqueza e acautelar os problemas de governança, dando como sensato que a concorrência entre vários apoios será “contraproducente”. Deverão ainda ser orientados para “intervenções territoriais integradas” e não meLino Tavares Dias

MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004

22 outubro'12 | repórterdomarão


agenda | crónica agenda Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

parceiros e especialistas Luís Ramos

ros apoios circunstanciais. Para este professor da UTAD, as prioridades devem assentar “na criação de riqueza, em produtos que sejam vendidos cá ou lá fora”, acautelando a sua “produção, transformação e comercialização”. Defendeu o empreendedorismo e a melhoria da organização das empresas, que constitui um dos “custos de contexto mais graves nas empresas e instituições”. Se não corrigirmos algumas das distorções que temos atualmente, concluiu Luis Ramos, “daqui a 25 anos vamos estar muito pior e sem esperança nenhuma”. Por seu turno, Rio Fernandes sinalizou a importância do conhecimento e criticou “o discurso fácil do turismo”. “Os países mais desenvolvidos vão ser aqueles onde há mais conhecimento”, disse, e já não tanto “os que têm mais ou menos riqueza", seja no subsolo ou na paisagem. O investigador da U.Porto defendeu que os operadores turísticos têm de vender, sobretudo, “autenticidade”, mas insistiu no capital humano. A região “precisa de fixar os mais qualificados”, defendendo que a mobilidade de pessoas para os territórios “é que é fundamental”. “Quem ficar sem pessoas é que não terá futuro”, sentenciou.

Rio Fernandes

Uma centena de pessoas encheu a sala do restaurante de Tormes

Feira de Fumeiro de Baião

BAIÃO:DOLMEN-CentrodePromoçãoProdutosLocais|RuadeCamões,296|T.255542154

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regiões

Carlos Vaz na administração do Centro Hospitalar do Tâmega O administrador hospitalar de carreira Carlos Vaz regressa à região do Tâmega e Sousa para um novo desafio. Depois da sua passagem pela administração do antigo hospital de S. Gonçalo, em Amarante (antes da constituição do centro hospitalar), e nos últimos anos pelo Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), o Conselho de Ministros aprovou este mês a sua nomeação para a nova administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), com sede em Penafiel, e que integra as unidades de Penafiel e Amarante. Carlos Vaz substitui José Luís Catarino, presidente do CHTS desde abril de 2010. Além de Vaz, o Conselho de Ministros nomeou também os vogais do CA do CHTS, agora reduzido a cinco elementos: Manuel José Magalhães de Barros, José Gaspar Pinto de Andrade Pais, José Luis Barros da Silva (diretor clínico) e Jorge Luciano Leite Monteiro (enfermeiro diretor). Para o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), com sede em Vila Real, foi nomeado Carlos José Cadavez (presidente) e os vogais Fernando Miguel Pereira, José Joaquim Costa (diretor clínico) e José dos Santos Lameirão (enfermeiro diretor). O CHTMAD é constituído por quatro unidades hospitalares (Vila Real, Chaves, Lamego e Peso da Régua) e uma unidade de cuidados continuados (Vila Pouca de Aguiar).

Castelo de Paiva promove vinho verde em julho

Mondim de Basto renova iluminação do centro

A Câmara de Castelo de Paiva abriu as inscrições para a XVI Feira do Vinho Verde, Gastronomia e Artesanato que se realizará na primeira semana de julho (entre os dias 5 e 7). Neste evento, nota a organização, podem participar produtores naturais e/ou residentes do concelho, as Juntas de Freguesia e a Associação Comercial e Industrial. Os produtores podem inscrever-se até 30 de abril. No evento participam também restaurantes, tasquinhas e artesãos locais.

A Câmara de Mondim anunciou a renovação da iluminação no núcleo histórico da vila, agora dotada de candeeiros com tecnologia LED. A ação estava no Plano de Regeneração Urbana de Mondim de Basto "que mantém a lógica da iluminação mural, evitando os constrangimentos à circulação pedonal e viária". Este tipo de iluminação, segundo a autarquia, "é menos poluente e mais económica, consumindo cerca de um terço das lâmpadas das lanternas antigas".

Museu de Penafiel mostra "Traços" da Viarco O Museu Municipal de Penafiel mostra até 29 de setembro, uma exposição da Viarco que "retrata a importância do lápis, num espaço de pedagogia para crianças, que ensina e transmite valores, de influência e residência para artistas, de museologia industrial". Estão patentes no museu obras de Carlos Paiva, Diogo Pimentão, Filipe Cortez, Lília Santos, Ricardo Pistola, Rui Ferreira, Rui Florido e Pascal Nordmann. “Viarco Traços para o Futuro” é o tema de uma exposição que pretende "retratar e valorizar o lápis", um utensílio "de excelência, uma ferramenta com a qual todos iniciamos ciclos de aprendizagem", fundamental também "para a expressão plástica". 18

março'13 | repórterdomarão

Museu de Cabeceiras com mais arte sacra Nove telas a óleo e quatro espelhos da antiga sacristia, que integram o acervo do Núcleo Museológico do Baixo Tâmega (Núcleo de Arte Sacra), em Cabeceiras de Basto, podem ser observadas pelos visitantes naquele núcleo do Museu das Terras de Basto, sediado no Mosteiro de S. Miguel de Refojos. Segundo o Município de Cabeceiras de Basto, ao longo do ano de 2012 o acervo patrimonial do Núcleo de Arte Sacra da Igreja de S. Miguel de Refojos foi sendo enriquecido pelo restauro de pinturas a óleo sobre tela. Procedeu-se também à conservação e restauro de quatro espelhos da antiga sacristia, cujo desenho é de Frei José de Santo António de Vilaça, monge beneditino, que executou obra para as grandes casas beneditinas do norte de Portugal.

Fafe ilumina pista de cicloturismo A Câmara de Fafe anunciou que concluiu a iluminação pública da pista de cicloturismo do concelho, um investimento de 38 mil euros. Foram colocadas "luminárias" numa extensão de 6.600 metros. A pista de cicloturismo ocupa o antigo traçado da linha férrea que ligava Fafe a Guimarães, desativada em 1986.

Pão-de-ló de Felgueiras à venda na internet A aposta nas vendas de pão-de-ló pela internet logrou aumentar as vendas da centenária "Casa do Pão-de-ló de Margaride", em Felgueiras, anunciaram os proprietários. Guilherme Likfold, descendente dos fundadores do estabelecimento fundado há 283 anos, disse à Lusa que o uso das plataformas multimédia, foi fundamental para fazer crescer o negócio. Segundo o proprietário, a promoção do produto através da venda online permitiu manter o negócio familiar e o emprego de uma dezena de trabalhadores. O site apresenta a história da casa, a origem do "Pão-de-ló em Margaride" e permite a aquisição 'online' da doçaria tradicional. A Câmara de Felgueiras, que organiza anualmente um festival do pão-de-ló no Mosteiro de Pombeiro, assinala que esta iguaria tradicional é fabricada em cerca de duas dezenas de empresas familiares no concelho.


crónica

Descubra o mundo com ... A.M.PIRES CABRAL

RESPINGOS II

Michael Aires e Rui Barbosa *

BÉLGICA A Bélgica é um Estado federal dividido em três regiões: a Flandres a norte, onde se fala flamengo (neerlandês), a Valónia a sul, onde se fala francês, e Bruxelas, capital bilingue, onde o francês e o neerlandês são línguas oficiais. A leste, existe ainda uma pequena comunidade germanófona com cerca de 70 000 habitantes. Este país localiza-se a leste da Alemanha e a sudoeste da França. Possui uma superfície de 30.528 km2 e 10,1 milhões de habitantes, sendo Bruxelas a sua capital. A temperatura média anual é de 9º C, tendo um clima oceânico temperado em que o verão é suave e o inverno é fresco e, em ocasiões, muito frio. No que diz respeito à população existem no país dois grupos étnicos: os flamengos, de origem germânica e os valões, de origem celta. Para além destes grupos habitam no país pessoas de todo o mundo, designadamente portugueses que, tal como pessoas de outras nacionalidades, emigraram para este país à procura de melhores condições de vida. A Bélgica é um dos países mais industrializados da Europa e a sua paisagem é bastante variada, de que são exemplo as planícies ao longo dos 67 km de costa do Mar do Norte, o planalto na zona central do país, colinas e florestas na região das Ardenas. O prato mais conhecido do país são os mexilhões com batatas fritas, sendo de destacar que o país produz mais de 1000 marcas de cerveja. Atomium é um dos ex-libris da cidade de Bruxelas, tendo sido construído em 1958, para a Exposição Universal de Bruxelas, representando uma molécula de ferro ampliada 165.000 milhões de vezes. Este monumento, serve de miradouro, já que depois de subir as suas escadas tem-se uma impressionante vista panorâmica sobre a cidade. Manneken Pis, uma estátua com cerca de 55 centímetros, é igualmente um monumento de destaque deste país, caraterizando-se por algumas lendas: alguns contam que um menino salvou Bruxelas de um incêndio com o “xixi”, apagando a faísca de uma bomba inimiga. A distância de Portugal/Bélgica são cerca de 2450 km. A viagem de avião tem uma duração de cerca de 3 horas. * Alunos do 2º ano do curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses

1​ . «Feliz é o país que protesta com uma canção», disse em directo na televisão a Senhora Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia, referindo-se aos sucessivos protestos ao som de Grândola Vila Morena. ​De facto, é preferível protestar com canções do que com petardos. ​Mas estas palavras, que pretendiam obviamente ser simpáticas, conseguiram apenas ser ligeiras. É que não colam lá muito bem com a realidade portuguesa. Alguém devia dizer à Senhora Reding que, neste país, o cantar nem sempre é sinal de felicidade. E que o grande poeta que é o povo português, sabiamente, cristalizou esse aparente paradoxo numa quadra magistral: Quem tem meninos pequenos Por força tem de cantar; Quantas vezes a mãe canta Com vontade de chorar.

O povo português, é certo, ​ tem cada vez menos meninos pequenos, que seja forçoso embalar cantando; mas tem cada vez mais políticos (deviam aqui seguir-se alguns adjectivos adequados e corrosivos, mas cala-te, boca), aos quais tem vido a cantar com uma enorme, angustiada vontade de chorar. ​Expliquem isso à senhora. E já agora haja moderação ​ no uso da linda e fresca canção de José Afonso nas mais desencontradas circunstâncias. Só se consegue, com isso, desacreditar o seu enorme significado simbólico. Não se ouve já chamar a essas intervenções ‘grandoladas’? ‘Grandolada’ rima com ‘peixeirada’. Tenham isso em atenção.

2. A pata do Acordo Ortográfico continua a escoicinhar sem dó nem piedade a língua portuguesa. Com as chamadas duplas grafias criou uma tal bernarda que qualquer dia ninguém se entende. O mais recente exemplo ​ chega-me pelo correio. É uma circular da ARS Norte — organismo oficial que, como tal, está obrigado a aplicar o estafermo. Aplicar? Bom, aparentemente é aplicado ou não conforme os humores de momento do usuário. Vejam só. A certa altura lê-se na circular: «contatar a unidade onde se encontra inscrito». Um pouco abaixo: «caso não ocorra um registo de contato.» E mais abaixo ainda: «através de contacto com qualquer uma das unidades». Tudo na mesma circular. ​Em que ficamos? ‘Contato’ e ‘contatar’ — ou ‘contacto’ e ‘contactar’? ​E diziam aqueles fulanos que o Acordo não provocaria consequências a nível de pronúncia. Está-se vendo: qualquer dia aí está Portugal a dizer ‘contato’ onde sempre disse ‘contacto’. Quando esta confusão de narizes e outras que tais se vulgarizarem — e, não tenham dúvidas, vão-se vulgarizar —, teremos a língua portuguesa mais pobre e enfraquecida, mais canibalizada pela norma brasileira. ​Não sei se o doutor Casteleiro y sus muchachos já limparam as mãos à parede pelo lindo serviço que fizeram. Se ainda não, estará talvez na hora de o fazerem.

pirescabral@oniduo.pt

Nota: Este texto foi escrito com deliberada inobservância do Acordo (?) Ortográfico. repórterdomarão | março'13 19


poder local

EPAMAC

Antigo aluno da nossa Escola é empresário agrícola em Amarante

Hélder Teixeira vende pimento padrón em Espanha O grau de empregabilidade ou de saídas profissionais para os alunos da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Marco de Canaveses (EPAMAC) constitui o maior capital deste estabelecimento de ensino. Além dos alunos que encontram rapidamente trabalho após a sua formação base, de que são exemplos as áreas do turismo e animação rural e da formação agrária, outros têm enveredado por criar a sua empresa, como foi o caso de um antigo aluno de Amarante, que frequentou a EPAMAC na década de noventa. Hélder Teixeira estudou em Amarante até ao 9º ano, mas o apelo da agricultura e o exemplo dos pais deram-lhe o incentivo necessário para ingressar na EPAMAC, em 1993, no curso de Técnico de Gestão Agrícola. Eram os primeiros anos de funcionamento da escola e a oferta formativa resumia-se, nessa época, àquele curso de formação agrícola. Vende toda a produção de pimento padrão para o norte de Espanha (Galiza), cerca de 12 toneladas ao ano. Por que razão escolheu esta escola? Os meus pais trabalhavam na área agrícola e isso foi um fator determinante. Ainda estudei a hipótese de ir para a Escola Profissional de Vitivinicultura de Amarante mas gostamos da Escola do Marco e acabei por ingressar. Estudei lá 3 anos, de 1993 a 1996. Como aprecia a formação que a escola passa aos alunos? A formação que todos os alunos recebem da EPAMAC é uma ferramenta de trabalho, fundamental para o início de uma carreira. Interessa depois é cada aluno mostrar tudo aquilo que lá aprendeu e aplicar isso num projeto. Que percurso fez a seguir à Epamac? Estive um tempo parado, enquanto tentei concorrer ao ensino superior. Depois comecei a trabalhar com os meus pais. Entretanto, fiz várias formações em Amarante, na Póvoa de Varzim, em Torres Vedras, bem como em Almería (Espanha). Consegui alguns conhecimentos em novas áreas, como a Fertirrigação [técnica de 14

fevereiro'13 | repórterdomarão

adubação que utiliza a água de irrigação para levar nutrientes ao solo cultivado] e na área da Hidroponia [técnica de cultivar plantas sem solo, geralmente suspensas, onde as raízes recebem uma solução nutritiva que contém água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta]. Como entrou no mundo empresarial? Criei uma empresa hortícola, inicialmente como jovem empresário e em nome individual, mas posteriormente passei de nome individual para uma sociedade. No final de 1999 instalamos o primeiro meio hectare em estufas multitúneis. Foi a primeira fase. Depois fiz um segundo projeto em que instalei, em 2004, meio hectare em estufas pé direito, utilizando tudo o que tinha aprendido no sul de Espanha. E foi daqui que comecei a desenvolver a comercialização para os grossistas. Além da horticultura, tenho outra sociedade com o meu pai na área dos vinhos. Além de empresário, sou dirigente de duas associações, uma na área do vinho e outra na área agrícola. Que futuro vê para as suas empresas? Até agora tudo corre bem e espero que continue. O vinho também exporto para a Alemanha e França, sobretudo para o "mercado da Saudade", onde estão muitos emigrantes. A área hor-

tícola é um mercado em crescimento e em que há muitas oportunidades. No meu caso, já podia ter mais terrenos cultivados se me alugassem os terrenos. Os preços são proibitivos, o dobro do que custam noutros países europeus. É uma situação que determina o sucesso ou insucesso dos jovens que querem entrar nesta área. Espera alargar a sua produção, nomeadamente a novos produtos? Temos ideias de outros hortícolas, como alface e, se houver clientes, os tomates. Se aparecer alguém com um contrato bom para nós, nós aí vamos produzir. É o que hoje em dia fazemos antes de plantar. Negociámos 20 mil plantas de pimento padrão em novembro de 2012 que foi plantado no final de fevereiro/início de março. Começa a produzir em junho. É tudo pensado atempadamente. Que recordações tem da sua passagem pela EPAMAC? Muito boas. Digamos que não devo ter sido um exemplo de aluno. Tinha as minhas asneiras como todos, mas foram três ótimos anos, muito bem vividos. Não é só o facto de ter estado na escola mas é como ser adepto de um clube, vestimos aquela camisola e fica para sempre. E hoje sinto que visto aquela camisola ainda, que ainda sou da escola...


Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC

repórterdomarão | fevereiro'13 15


artes

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

O olhar de...

eduardo pinto

1933-2009

Publicação da IV Série

HUGO CHÁVEZ 1954 - 2013

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março'13 | repórterdomarão

SENSIBILIDADES 2013

ALEGRIA NA DANÇA Amarante - Finais Anos 50

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

la Lima (C.P. 6019), Carlos Alexandre Teixeira (C.P. 2950), Alcino Oliveira (C.P. 4286), Helena Carvalho, Daniel Faiões (T.P. 991). Fotografia e Fotojornalistas: Marta Sousa, Manuel Teles, Jorge Sousa, Paulo Teixeira. Cronistas: A.M. Pires Cabral, António Mota, Eduarda Freitas. Cartoon/Caricatura: António Santos (Santiagu) Colunistas Permanentes e Ocasionais: António Fontaínhas Fernandes, José Carlos Pereira, Cláudia Moura, Armando Miro, Beja Santos, Alberto Santos, José Luís Carneiro, Nicolau Ribeiro, Paula Alves, Alice Costa, Pedro Barros, Antonino Sousa, José Luís Gaspar, Armindo Abreu, Coutinho Ribeiro, Luís Magalhães, José Pinho Silva, Mário Magalhães, Fernando Beça Moreira, Cristiano Ribeiro, Hernâni Pinto, Carlos Sousa Pinto, Helder Ferreira, Rui Coutinho, João Monteiro Lima, Pedro Oliveira Pinto, Mª José Castelo Branco, Lúcia Coutinho, Marco António Costa, F. Matos Rodrigues, Adriano Santos, Luís Ramos, Ercília Costa, Virgílio Macedo, José Carlos Póvoas, Sílvio Macedo. Marketing, RP e Publicidade: Telef. 910 536 928 - Marta Sousa publicidade.tamegapress@gmail.com | martasousa.tamegapress@gmail.com Propriedade e Edição: Registo na ERC nº 223800 Tâmegapress-Comunicação e Multimédia, Lda. • NIPC: 508920450

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crónica

repórterdomarão + n o rt e

António Mota

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IRENE, SARA e NANDINHO Não sei se já te disse, mas eu cada vez gosto menos de falar de mim. Aliás nunca gostei. Penso que não tem nenhum interesse aborrecer os outros com os assuntos que só a nós dizem respeito. Claro que também tenho vontade de falar de mim, dos meus assuntos, mas evito, sempre fui assim, reservada. Não podemos ser iguais, e a mim calhou-me ser assim, que é que hei-de fazer? Claro que em certas ocasiões da minha vida tive a estranha sensação que ia rebentar se continuasse calada. Quando isso me acontece, saio de casa e ponho-me a caminhar para cima e para baixo, para baixo e para cima, e lentamente a ver melhor o que se está a passar e, devagarinho, começo a sentir-me mais sossegada. Acredita, porque é mesmo verdade, o que te vou dizer. Ultimamente, o que mais me custa é ter de estar no centro de saúde a ouvir aquela gente a falar das suas doenças e das doenças da família inteira. Aquelas almas falam pelos cotovelos. Põem a cabeça de lado, olham para o chão, e às vezes fecham os olhos, se calhar para reverem melhor o filme . E eu dou comigo a pensar: ai, Irene, Irene, se tu fosses diretora deste centro de saúde mandavas pôr em todas as paredes cartazes a dizer , mas em letras garrafais: As lamúrias são proibidas neste local. Mas não era bem isto o que eu queria contar-te. Sabes, desta vez ando a sentir-me bem mal. Não, não estou doente, tirando a pastilha para a tensão alta, não me posso queixar. Mas já cá estão cinquenta anos, sabias? Pois é, e já tenho o cabelo todo branco, três netos e três filhas, todas divorciadas. A mais nova casou-se em Abril do ano passado. Eu não queria, mas ela insistiu, insistiu, que tinham dinheiro, e era o sonho da vida dela, e queria ser muito feliz no dia do seu casamento. O Salvador, que foi sempre muito vaidoso, veio em socorro da filha, que sim, que pois então. E eu disse-lhe: Sara, bem sabes que o teu pai está a receber o subsídio de desemprego, e daqui a meio ano acaba.. E nós ainda estamos a pagar a prestação da casa. O meu ordenado não dá para tudo. O dinheiro que tí-

nhamos foi gasto na porcaria do carro que o teu pai comprou, que anda sempre avariado. Agora não temos o dinheiro, mas temos um carro que não me leva a lado nenhum. Eu bem avisei o teu pai: Salvador, deixa o dinheiro na promissória, que podemos precisar dele. Mas ele nunca me ouviu, é mais teimoso que um burro velho. E a minha filha respondeu, toda airosa: ó mãe, está tudo controlado, não te preocupas. Eu e o Nandinho tratamos de tudo. Lá se fez o casamento numa quinta cheia de arvoredo com flores por todos os lados, tudo muito chique, e um bolo de noiva lindo, enorme, alto como uma torre, uma autêntica obra de arte, como eu nunca tinha visto. Gostei muito do bolo de noiva, tão bonito, mas só para ver. Para comer não prestou, era muito enjoativo, muito pegajoso. Também contrataram um conjunto que tocava músicas muito engraçadas. E toda a gente dançou e cantou; e se a barraca cair, deixa que caia, ora zumba na caneca, ora na caneca zumba, e outras assim muito populares, muito bem-dispostas. A verdade tem de ser dita, a festa foi muito linda e também se bebeu bem. O pai do Nandinho apanhou uma borracheira de caixão à cova. Essa parte é que destoou um bocadinho, mas foi engraçado. E agora vem o resto. Em novembro, sete meses depois da boda na quinta a Sara teve o Miguel, e dois dias antes do Natal, o Nandinho pediu o divórcio, e foi à vida dele. Parece que está em Angola. Ontem, muito chorosa, a Sara, veio dizer-me que não tinha dinheiro para pagar a prestação do casamento, se eu a podia ajudar. Deu-me uma fúria! Então a minha filha mente-me descaradamente, descasa-se, está desempregada, tem um filho, e agora eu tenho de lhe pagar a prestação de uma boda de um casamento que já se desfez. E onde é que eu tenho o dinheiro? Onde? Onde? Anda tudo doido.

anttoniomotta@gmail.com repórterdomarão | março'13 23



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