Bala Perdida

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BALA PERDIDA

Contos feitos pelos alunos do 9º ano do Colégio São Luís



BALA PERDIDA Acorda, levanta, vai ganhar a vida... (Disparos) ... passou tão rápida.

(FREIRE, Wilson. Bala Perdida. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século.Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004, p. 99.)

A proposta: ampliar o microconto “Bala perdida”, de Wilson Freire. A exigência: um tiro deveria aparecer no enredo. O resultado: excelentes contos criados pelos alunos do 9º ano do Colégio São Luís, mostrando que o microconto estimula a criatividade que se manifesta de formas diversas. Até eu resolvi escrever um, que é o primeiro deste livro virtual. Fiquei muito feliz com os textos de vocês, alunos! Estão de parabéns!

Um abraço,

Roberta Ramos


Mais um dia. Tudo escuro e frio, como sempre, entre aquelas quatro paredes apertadas. Ouço a voz dele. Parece mais áspera, mais aflita do que o normal. Está falando ao celular: - Hoje, às 11 da noite. Dia e hora marcados, o local já tinha sido definido. Não há como adiar meu destino: já havia sido traçado, eu nada podia fazer. Confesso que a expectativa do momento causava-me uma mistura de medo e alegria. Medo do desconhecido, da possível dor; alegria, por terminar a tão longa espera ali, enclausurada. Ele entra na sala, passos rápidos. Acende-se uma luz, fazia tempo que não via a claridade! Ele fede a aguardente e suor. Suas mãos imensas são calejadas, com as unhas sujas. Sinto nojo quando ele me agarra, bruto. A luz se apaga novamente. Sou colocada em um lugar menor ainda, mais apertado, mais escuro. Sinto o movimento, ouço os sons do motor, da buzina. Ele pára. Chega o momento do disparo. Pele, músculo, artéria, sangue quente, quente, sensação morna e macia. Nunca imaginei que seria tão bom perfurar o coração de um homem.

(Roberta Ramos)


TURMA 91


Luiz Carlos de Almeida, 44 anos, carioca nato, muito trabalhador, mas gosta de uma praia com os amigos e a esposa nos finais de semana. Tinha uma vida particularmente feliz, mas apressada. E havia um porém: seu apartamento era ao lado do Morro do Alemão, onde tiroteios eram frequentes. Por isso, tinha janelas e carro blindados. Um belo dia, em um calor de 40 graus, Luiz Carlos foi para o trabalho, e foi pensando no jantar daquele dia com sua esposa, no qual falaria que iria querer ter um filho. Ao sair da garagem, sentiu um vento forte e abafado. Abriu a janela, e continuou andando. Como estava com muito trânsito, resolveu cortar pela favela, e foi aí que aconteceu. Quando se aproximou do morro, começou a ouvir tiros. “A essa hora da manhã?”- pensou – “O que esses caras têm na cabeça?”. Decidiu dar meia-volta, mas foi atingido no pescoço. No começo, gritou de dor e sentiu o sangue escorrer pelo corpo. Sabia que aquele seria seu fim. Em sua cabeça. Uma mistura de pensamentos: “Não acredito que vou morrer assim”, “Como eu queria ter tido ao menos um filho”, “Tomara que se vinguem por mim”. E nessa mistura de raiva, tristeza e dor, surgiu a pena, por aqueles que ganham a vida e a perdem com as drogas. Aos poucos, foi começando a perder seus sentidos. Suas mãos largaram o volante lentamente. Seus olhos fecharam-se, e aos poucos, parava de ouvir o barulho que o rodeava. Até que seu coração parou. Sua mulher, que havia escutado o barulho dos pneus queimando e descido correndo, assistia a tudo, horrorizada. Lágrimas escorriam por seu rosto. Era impossível ficar tão assustado e triste como ela naquele momento. Ao som de sirenes, gritos (principalmente de sua mulher) e tiros, foi declarada a sua morte, às 12:30 de uma segunda-feira de sol carioca. (Alexandre Bortolotto)


Um policial de 32 anos, moreno, alto, forte, que apesar dos riscos do seu trabalho ama o que faz, acorda ao lado de sua esposa, jovem que nem ele, toma o café e vai ganhar a vida no posto policial. Salva vidas, é isso o que faz. Todo dia fazendo a mesma coisa, até que sua rotina foi mudada. Recebeu um chamado: -Alô? Oficial Ricardo? – indagou o coronel com uma voz assustada -Sim, eu mesmo, coronel Rodrigo. O que houve ? -Está acontecendo um assalto na marcearia, Rua Flexition, número 109. Ricardo apanhou suas coisas e ia a caminho da mercearia, quando um amigo seu,tambem policial, perguntou: -Aonde vai? Ele explicou o que ocorrera, e saiu correndo. Quando chegou ao lugar desejado, Ricardo perguntou ao gerente: -Não houve nenhum assalto aqui ? O gerente continuou quieto. Ele estava suando, tremendo! Apagaram-se as luzes O oficial Ricardo foi sequestrado. Quando acordou, estava sendo torturado a sangue frio. Naquele momento, só se podia ouvir seus ossos se quebrando e os gritos desesperadores. Quando acabou a tortura e finalmente conseguiu enxergar, a única coisa que via era o coronel. - O que estou fazendo aqui? – perguntou Ricardo, desesperado. - Você é um dos nossos melhores oficiais e estávamos com medo de que descobrisse o nosso esquema de lavagem de dinheiro. Ricardo grita desesperadamente, com muita dor. - Tire-me daqui! -Você não me deu outra escolha – murmurou o coronel, preparando a arma. Quando estava preparado para atirar, a porta se abriu e, de repente, só se viam policiais. As luzes se apagaram. Ricardo se soltou e tentou fugir, arrastando-se pelo chão. Ele só conseguia ouvir barulho de tiros. Quando tudo ficou silencioso, Ricardo sentiu o sangue escorrendo


pela sua garganta e ardendo como fogo. Ele ia perdendo seus sentidos, nรฃo via mais nada, apenas sua vida passando pelos seus olhos. Era uma dor inexplicรกvel. Sua vida passou muito rรกpida. Tudo passou muito rรกpido... (Fernanda Arbage e Gustavo Damascena)


Às 6:30 acordei, me arrumei e fui à cozinha tomar café. Como não havia nada de especial, resolvi comer na padaria da esquina e ir direto ao trabalho. Sempre que vou ao trabalho, passo na banca de jornal, em frente à minha casa, para ver as notícias diárias. Enquanto comprava uma revista “Super Interessante”, um homem de sobretudo preto, com as mãos no bolso, e um chapéu abaixado, deixando sua identidade oculta, sacou uma arma do bolso, agarrou-me pelo braço e jogou-me contra a parede. Apontou a arma para mim, dizendo: - Como é que fica, hein, Jorge? - Mas o quê... - Você fica na boa e eu me ferro, né? - Mas eu não sei... - Sabe sim! E sabe muito bem! - Nunca te vi, nem sei quem é você! - Chega de brincadeira! George, você vai me pagar... - Péra! Péra! Meu nome nem é George, é Guilherme- mostrei minha identidade. - Não adianta, George, eu sei que é você! E você sabe o que fez, além disso, não tem mais volta! - Tudo bem! Tudo bem! Eu não minto, eu sou George, só mudei minha identidade, mas eu sei que tenho uma coisa que pode...Disparos.

(Daniel Fouto e Virginie Cortes)


Numa manhã de sol, um cidadão trabalhador se arruma para mais um dia de trabalho. Despede-se de sua família. A caminho de seu serviço como arquiteto na Barra da Tijuca, há de passar pela Linha Vermelha, onde sempre há policiais patrulhando o local. Depois de muitas horas na obra da grande mansão do diretor de uma empresa, este o convidou para jantar com ele. Em direção ao restaurante, uma moto os fecha, desacelerando bruscamente. Olhando para a esquerda, com a breve intenção de xingálo, percebeu que ele tinha uma arma. Houve três disparos. O desespero começou. Saiu correndo em busca de ajuda para socorrer o seu patrão. Chegando à polícia, com sangue espirrado em toda sua camisa branca, diz que seu patrão havia sido baleado. Chegando ao carro, notaram o patrão ensanguentado, uma arma na poltrona do carona e três cápsulas de bala ao lado da marcha, espalhadas pelo chão. Os policiais, sem dúvida em suas mentes, prenderam o inocente homem violentamente, e o levaram para a delegacia. O delegado decide que o homem seja julgado publicamente. As testemunhas estavam lá, prontas para falar sua história, quando o homem pensa: -O que eu fiz de bom na minha vida inteira? Acho que não fiz nada de útil. Vejo os momentos bons e ruins passarem como um flash de câmera. Ouço gritos dizendo para eu ser morto, condenado. Foi quando o juiz tomou sua decisão. Passou tão rápido. (Gabriel Chae e Luiz Gabriel Machado)


Estava no bar, expulso de casa e demitido. Tentava esquecer as desgraças da minha vida. Alguns dias depois, andava pelas ruas pensando no que poderia me ajudar. Pedia esmolas, procurava comida no lixo. Era noite. Voltei para o bar aonde frequentemente ia e logo vi minha ex-esposa, Fernanda da Silva, com meu melhor amigo, João Pereira. Despertou-me um ódio jamais sentido, meus olhos se encheram de lágrimas e fechei minha mão, como se fosse dar um soco em alguém. Uma fraqueza me tomou e, ao mesmo tempo, um sentimento forte me envolveu. Não pensei duas vezes: estava prestes a dar um soco na cara de João, quis dizer, no meu maior inimigo, quando fui arremessado contra a rua. Por pouco um caminhão não me atropelou. Quando levanto, vejo João sacando uma arma... E só me lembro da imagem da minha amada.

(Caio Torrano e Gustavo Kim)


Depois de brigar com minha esposa e filhos, vou morar sozinho com o sentimento de culpa. Janto na cozinha, pois não vale a pena arrumar a linda mesa da sala de jantar. Não mereço. Me preparo para dormir, e antes do sono chegar rezo por eles e para que um dia me entendam. Na mesma noite, os sonhos tomaram conta de minha cabeça, sonhos confusos que me deixaram assustado. Quando acordo, meu olhar lentamente percorre o quarto, diretamente ao relógio. Estou atrasado. Me levanto com o corpo cansado e sonolento. Troco minha roupa e vejo minha figura no espelho, como um perdedor. Quando acabo de me arrumar, saio de casa sem o café da manhã, não estou com tempo. Vejo meu filho mais velho parado na esquina com o corpo todo sujo e ofegante, olhando para mim com raiva. Perguntei se estava bem, mas naquela hora acho que minhas desculpas não valeriam mais. Ele arrancou brutamente de sua calça uma arma não muito grande, mas que poderia fazer muitos estragos. Sem pensar, atira em meu peito, me lançando ao chão. Ao redor de mim se forma um tumulto desesperado. Meu filho se ajoelha, assustado; eu não conseguindo ver nada além dele, peço perdão e aperto sua mão. Ouço um grito dizendo que eu estava morto. (Giulia Lucci e Júlia Roriz)


Lilian Shäffer, uma mulher inteligente, divertida e bonita de apenas 28 anos tinha o antigo sonho de ser atriz. Sempre foi esperançosa e humilde, mas também muito desejada entre os garotos nos tempos de escola, com seus compridos cabelos loiros e lisos, com mechas loiras, de biótipo alto e magro, e seus lindos olhos azuis. Naquele tempo de escola, não tinha muitas amizades, pois muitas garotas apenas invejavam sua beleza. Suas amizades eram falsas. Mas havia uma exceção: Mariana Carter. Encontraram-se pela primeira vez na festa de formatura de um primo seu, e naquele mesmo momento sabiam que seriam grandes amigas. Naquele dia, seria seu grande teste. Estava em jogo seu futuro e o sonho de vida perfeita. Desde pequena, sempre quis ser atriz. Quando tinha 14 anos, entrou para o grupo de teatro do colégio e sempre fazia os papéis protagonistas. Já fez também alguns ensaios fotográficos, como modelo, mas sabia que não era isso que queria ser. A profissão era atriz, e não modelo. E iria lutar por isso. Era o estilo de vida que ela queria e era o que a fazia feliz. Ao tocar do despertador, levantou-se nervosa da cama e imediatamente ligou para Mariana. Esperou e esperou. Ela não atendia o telefone. Ligou novamente. Finalmente, ouviu um “alô?” bem baixinho e sonolento. --VOCÊ AINDA ESTÁ DORMINDO?! --gritou Lilian ao telefone, desesperadamente. --Hein? Quem é? --Sou eu, Lilian! Agora vamos, levante dessa cama e se arrume, por que precisamos ir ao teste! Te encontro na porta da agência daqui ameia hora. –falou, autoritária. --Ai, tudo bem. Como você é mandona... —resmungou Mariana do outro lado da linha e desligou o telefone. Após um rápido café da manhã, pegou seu casaco para a manhã fria e começou a curta caminhada até o estúdio, que ficava a três quarteirões de seu apartamento.


Morava em um pequeno apartamento alugado na Avenida Faria Lima, muito conhecida por sua grande quantidade de transeuntes e carros, e que era muito bem iluminada à noite. Com muitos bancos e estabelecimentos comerciais, era, muitas vezes, foco de grandes assaltos na cidade. Enquanto caminhava, já vendo Mariana na frente da agência, ouviu disparos. Pelo som, parecia que o atirador estava perto. Apertou o passo e olhou para trás. Fui tudo rápido demais, ou até lento demais. Não dava tempo nem de pensar, mas ela conseguia ver todos correndo como em câmera lenta. Mais um tiro e tudo escureceu à sua frente. Lilian Shäffer ouviu seu nome sendo chamado ao longe pela última vez. Seu corpo sem forças caiu no chão, sem mais reação alguma. Perdeu sua vida, e a chance de seu sonho ser realizado. (Anna Vitória Morinaga e Marina Marcondes)


João ganhava a vida como catador, de papel. Era um homem feliz de boa índole com cabelos grisalhos e com uma longa barba. Era casado com uma mulher consumista, que tinha por volta de uns 40 anos. Em uma segunda-feira, mais ou menos às 10h da manhã, sua mulher o acorda com gritos: -Como você ainda esta dormindo? Olha a hora, você tinha que estar trabalhando! -Mas só eu trabalho nessa casa, você fica o dia inteiro apenas gastando o meu dinheiro. Para mim, esta vida está boa, se não está para você, por que você não vai embora? - Você sabe que eu não trabalho porque não tenho emprego, já procurei muito, mas neste país não é fácil! E você quer que eu vá embora? -Sabe que não é uma má ideia, pelo menos eu poderia dormir, acordar e trabalhar a hora que eu quisesse além do dinheiro que iria sobrar! Sua mulher sai transtornada para a rua, e logo em seguida seu marido também sai. Tentando esfriar a cabeça, foi catar papel. Seguiu em direção a uma rua movimentada onde havia uma pilha de papéis, e entre eles havia um pequeno bilhete da “Time Mania” que, por muita sorte, estava premiado. João ficou muito feliz e emocionado. No mesmo dia, trocou o bilhete e foi para casa, onde encontrou sua mulher esperando-o no sofá. Quando a viu, começou a pedir mil desculpas pela grosseria e implorou que ela retornasse à casa. No mesmo momento em que contou que estava rico, ela aceitou: -Rico! Você esta rico! Isso é perfeito, vou poder comprar em lojas de grife. - Claro, e vamos agora, porque quero lhe dar um lindo presente, de preferência bem caro! Saíram da simples casa e foram em direção as ruas menos movimentadas. Sua mulher estava radiante de alegria, esperando ganhar alguma joia ou coisa assim. Conforme iam se afastando, ia


ficando mais deserto, até o momento em que João se aproximou lentamente dela e sacou uma arma, mirando bem em seu crânio - Você realmente pensou que ia me enganar? O dinheiro é meu, só meu. Agora você vai pagar por sua falsidade. Antes que ela pudesse responder, ele deu três tiros certeiros e, logo após, ela estava no chão. (Giovanna Oliveira e Luca Nicolelis)


A jovem Gabriela costuma acordar antes do sol nascer para ganhar a vida fazendo malabarismo na esquina de uma avenida muito movimentada, nos arredores do bairro do Morumbi. Naquele dia, Gabriela sentiu algo diferente, algo muito estranho, como um pressentimento de que algo muito ruim aconteceria. De repente, um carro quase a atropela, passando pelo farol vermelho. Alguns instantes depois, três carros de polícia a toda a velocidade. Gabriela tenta se esconder, mas não encontra um local seguro. Logo depois, várias viaturas policiais chegam ao local. Os policiais atiram no carro fugitivo, que tenta revidar. Em um momento de tensão, um dos policiais, a fim de acertar o motorista do carro fugitivo, por acidente, atira na jovem Gabriela. Ela não morre na hora, pessoas a sua volta chamam uma ambulância. Infelizmente, ela não chega a tempo. Gabriela morre. (Nadjine Terhoch e Carolina Madaloso)


Cansada de seu expediente daquela sexta-feira, Catarina, de 14 anos, mais conhecida como Jullie Follet, acorda já à noite, às nove horas, com os berros de seu pai dizendo que estava atrasada, assim como suas irmãs adotivas. Apesar de ser espancada, estuprada e obrigada à prostituição diariamente pelo pai, Catarina conservava uma beleza inigualável a outra de sua idade. A caminho de seu trabalho, bandidos escapavam em um carro, aparentemente roubado. Vários disparos foram feitos, acertando quatro pessoas inocentes. Com medo, Catarina, quase Jullie, correu dali. Catarina, agora Jullie, já em seu “point”, estava à espera de clientes, porém a noite estava calma. De repente, ouviam-se gritos, que pararam. Continuaram, porém, já mais próximos, lentamente, cada vez mais altos e desesperados. Então, ela vê colegas do trabalho correndo. Ficou paralisada, gritavam para ela correr, mas ela permanecia imóvel. De repente, a causa se torna visível: Uma gangue de rua procurava novas vítimas. Estavam atirando para todos os lados, involuntariamente um tiro acertou sua perna, fazendo-a cair violentamente no chão. Ela gritava de dor, e assustada, com todas as forças que restavam, começou a rastejar em busca de um lugar seguro, a dor consumia seu frágil corpo, contorcia-se de dor no chão, onde já havia grande quantidade de seu sangue. Já cansada, conformou-se de que só lhe restava chorar, gritar e esperar ser alcançada. O desespero começou. Jullie começou a gritar por socorro, seus berros abalavam a quietude da noite, sua garganta já falhava, seus gritos começam a ficar menos distintos em meio aos de suas colegas. Ali iria morrer, há tempo já tinha certeza, essa ideia, esse sentimento já estava fixo em sua mente. Olhou para o lado, viu sua irmã, com a qual tinha mais afinidade, sendo espancada e ouviu: “Deus, me ajude, estou morrendo”. Porém, não nesse tom, falou em meio a berros, antes de começar a tossir sangue. Jullie estava deitava com a barriga virada para baixo no chão. Virou-se, viu uma sombra, um contorno preto de um homem, à frente de vários corpos e poças de sangue, concentrava-se na


cena sanguinária detrás do homem. Sem Jullie perceber, o homem apontou a arma para seu corpo já inútil. A bala perfurou seu crânio na região da testa, apenas deixando os olhos, não mais de Jullie ou mesmo de Catarina, abertos e direcionados às estrelas daquela noite de ventania. (Artur Santoro e Rodrigo Martins)


Acordo mais cedo do que de costume com um forte miado de meu gato. Percebo que o som vem da cozinha. Quando entro, vejo meu faqueiro no chão e, logo ao lado, meu gato com uma faca atravessada na barriga e todo ensanguentado. Num ato de desespero, amarrei panos nas extremidades da corda, numa tentativa de parar o sangramento. Então liguei para o veterinário, e quase sem fôlego, digo que é uma emergência e, conforme o solicitado, conto-lhe as circunstâncias. Quando ele chegou, viu a faca atravessada na barriga, o sangue escorrendo lentamente pelo pano e a quantidade que já estava no chão e disse que não sobreviveria. Fiquei muito triste e, logo que o veterinário foi embora, liguei para meu chefe explicando o ocorrido. Ele me disse que entendia, e que poderia trabalhar apenas no período da tarde. Já me arrumando, entra Lucília, minha empregada. Gritei para não olhar e nem entrar na cozinha, e dirigir-se à sala de estar. Quando terminei de me arrumar, expliquei a ela o que havia acontecido com meu gato, apesar de ele já ter sido levado pelo veterinário, achei necessário explicar, pois ela veria o sangue no chão. Saí para tomar café e Lucília, assustada, foi limpar o chão da cozinha para que o sangue não secasse. Entrando na cafeteria, olhando nos vidros para ver como estava, percebo que pessoas atrás de mim também iriam entrar, o que me distrai. Acabo batendo na porta. Entro e peço desculpas ao balconista... -Isso é um assalto! – diz furiosamente um dos homens que havia visto pelo vidro. -Todos abaixados, e ninguém se mexa! – diz o outro. Quando todos se abaixaram, como estava atrás do balcão, o balconista ligou para a polícia, e logo que ela chegou disse: -Saiam com as mãos para cima!


-Queremos cinco milhões, ou mataremos todos! – disse um dos ladrões. Passados dez minutos, um dos ladrões me chama, com uma arma na mão: -Venha aqui! Tinha

certeza

de

que

iria me

matar

primeiro

para

demonstrar que não estavam brincando. Comecei a ter dor de cabeça e tontura. Quando cheguei perto dele, ouvi disparos atrás de mim. Atirei-me no chão e, quando olhei para trás, vi duas pessoas que haviam sido baleadas na cabeça e o início da troca de tiros entre ladrões e policiais. Por sorte só me usaram como uma distração, pois se não, estaria agora com furos na cabeça e o cérebro estourado. (Heitor Pires)


Erivelto, jovem sonhador, levanta-se para um dos dias mais importantes de sua vida, o que definiria o que seria no futuro: o dia do vestibular. Segue calmamente para seu destino em sua moto quando olha pelo retrovisor e percebe que está sendo seguido por dois homens de moto. Seu coração dispara, assim como ele em sua moto. Costurando entre os carros, Erivelto corre como o vento, porém os assaltantes são tão habilidosos quanto ele. Enquanto tenta se salvar, sua vida passa diante de seus olhos. As boas lembranças aparecem, e o sentimento de desespero reaparece, acompanhado de uma lágrima de terror e tremores nas mãos. De repente, um dos assaltantes perde o controle de sua moto, batendo em um carro e ficando para trás. Erivelto assiste à cena horrorizado, porém aproveita a situação. Parece que nada tem sentido em um momento trágico e desesperador, nada que se faz adianta. Erivelto tentava de tudo para fugir do assaltante, pensava no que teria feito para escolherem justo ele. Com o decorrer da perseguição, Erivelto foi se cansando e contudo perdendo as esperanças, já que o assaltante se aproximara. Com o decorrer da perseguição, tudo para Erivelto foi ficando preto ao som do disparar de tiros. Seu coração pulsava, a adrenalina estava correndo em seu corpo, perdia sangue. Erivelto, jovem e belo, perde a vida antes mesmo de começá-la. (Ana Carolina Monteiro e Thiago Akli)


Era sábado, por volta das 8:30 da manhã.O dia começava ensolarado com poucas nuvens no céu, estava em um trem a caminho da casa de minha querida mãe, que ficava no Texas, fiquei fora por uns 2 dias, e agora estava voltando pois minha amada mãe não aguentava ficar sem mim e meus valiosos medicamentos, que trazia em minha maleta; além disso, não a deixava por muito tempo sozinha, pois sabia que seus vizinhos colocavam pensamentos ruins em sua cabecinha contra mim e meus atos de caridade. O trem havia parado na estação, e fui logo pegando a preciosa maleta e minhas malas. Após descer na estação, fui direto à casa de minha mãe. Quando cheguei, fui ao seu quarto, que antigamente era o nosso antigo porão, abri as 5 trancas, para a máxima segurança de minha mãezinha, e entrei. A coitada estava deitada, desnutrida, parecia que não comia há uns dois dias,mas estava esbelta como uma pétala de rosa murcha. Era branca, mas tão branca, que parecia nunca ter visto o sol, seus cabelos brancos pareciam com a neve e sua pele era delicada e franzida. Mas logo o momento calmo passou, pois ela acordou e começou a me ameaçar, me xingar, e falar várias coisas horríveis sobre mim. Coitada, não sabia o que estava dizendo, era louca. Rapidamente peguei minha maleta, dela retirei uma seringa e nela coloquei o calmante,enfiando levemente a enorme agulha em seu pequeno braço. Logo ela dormia, em um sono calmo como a serenidade da morte. Deixei-a dormir e fui pegar umas joias de minha mãe para guardar em segurança em minha conta no banco. Após ter ido ao banco, avistei um duelo entre o xerife da cidade e o bandido. Quando escutei um tiro e avistei as pessoas correndo desesperadamente, percebi que havia algo errado,então resolvi ir embora, mas o xerife me barrou, me reconhecendo. Não gostava muito daquele xerife, ele ficava sempre me rondando e parecia que não gostava de mim também. É claro que devia ouvir as reclamações de minha velha e louca mãezinha. Consegui escapar do xerife e fui para


casa. Chegando lá, me lembrei que quando tinha saído para o banco, tinha esquecido de trancar a porta do quarto de minha mãe. Na ponta dos pés fui ao seu quarto pensando que o efeito do remédio havia passado, mas vi que não havia acabado, e se tivesse acabado ,ela estava tão fraca que não teria se levantado.Virei as costas para ir para a sala, quando ouvi um tiro, e logo depois uma imensa dor. Segundos depois não via mais nada, e só dizia: -Por que fez isso, mamãe?

(Isabela Toledo e Raphael Garcia)


–Manú, Manú! Acorda! Já são vinte para as oito! Ela espreguiça e assusta-se ao ver o relógio. –Mãe, você me acorda só agora? –Desculpa, também não ouvi o despertador. –Ai, mãe, se eu for despedida a culpa é sua! – disse Manuela com raiva. Assim, voou para a cozinha, embrulhou uma maçã e já saiu correndo para a estação da Sé. Seu atraso não era costumeiro, logo pegou horário de pico. A estação estava lotada. Chegando na frente do escritório olhou para os dois lados querendo atravessar e viu sua colega de trabalho correndo apressadamente. Alta e loira, também era bem bonita como Manú. As duas eram bem próximas, pois já tinham feito grandes trabalhos juntas. Cumprimentou-a de longe, porém ela já havia subido as escadas, parecia desesperada. Pensou em vários motivos que levaram sua colega a tal comportamento, já ontem fora seu aniversário, ela deveria estar feliz. O único jeito era apressar-se e perguntar-lhe. Ouviu disparos, dois homens armados, ambos fortes e encapuzados passaram por Manuela de moto, atirando. Logo entendeu o motivo da correria de sua colega, era uma emboscada. Um tiro certeiro. Manuela caiu. Quando a ambulância chegou, ela ainda conseguia arquejar, porém já era muito tarde. Ela nunca chegaria a tempo ao trabalho.

(Júlia Carolina Ghizzi e Da Yeon Choi)


Eram 6 horas da manhã quando o despertador tocou. Acordei muito chateado, pois seria mais um dia da minha tediosa rotina. Fui até o banheiro e joguei água no rosto para acordar. Cheguei à cozinha para tomar meu café, que, como sempre, é suco de laranja com torradas. Fui me arrumar, coloquei minha roupa amassada que a empregada não tinha passado, peguei minha pasta e fui para o carro. Vida mais monótona, impossível. No caminho, percebi que a gasolina estava para acabar. Ia parar no posto de gasolina quando meu celular tocou: era minha esposa, Maria, para variar reclamando que eu precisava me despedir dela e da bagunça que havia deixado na cozinha; ela só me criticava. Quando percebi, estava na Avenida Niemayer e na mesma não tinha posto de gasolina. Não deu outra: no alto da ladeira, a gasolina acabou. Foi aquela confusão de sempre: ligar para o seguro, eles falarem que estão vindo e demorarem mais de duas horas. Nesse momento, avistei uma mulher grávida e um homem mal encarado que vinha na direção dela, com a mão dentro do casaco. O homem, ao passar ao lado dela, sacou uma arma e pediu que lhe entregasse todo o dinheiro que tinha. Tudo isso estava acontecendo a 3 metros de mim. A mulher se recusou a entregar o dinheiro e o homem se alterou, sacando a arma para tirar. Foi quando eu tomei a decisão mais estúpida da minha vida: joguei-me na frente da mulher! Senti uma dor insuportável na região do peito. Depois disso, cai no chão e escutei mais tiros, mas os mesmos não foram dirigidos para mim, porque cheguei a ver o homem tentando fugir e sendo derrubado no chão. A polícia havia chegado e, finalmente, alguém iria cuidar de mim, pois eu precisava ser levado imediatamente a um hospital. Cenas da minha vida passaram na minha cabeça, e em especial, eu só pensava na minha mulher e o quanto gostaria de ter me despedido dela. Nesse momento, a rotina da minha vida se tornou a coisa mais importante. (Arthur Danciuc e Pedro Souza)


“Ele chegou perto de mim com aquele olhar profundo. Tão bonitinho. Quando chegava perto, aquele perfume... Ah!!” Tantas declarações anônimas, desenhos, fotos, imaginações em que os protagonistas éramos eu e ele. Perfeitos! Mas acordo do sonho ao ver, na carteira da frente, ela! Janaina era muito popular, um tanto metida, fazia-me desconfiar dela. Seu olhar malicioso me dava um calafrio, confiante e líder, sabia muito bem se impor. A aula acabou, fui para o meu armário, como sempre, guardei meus cadernos e o... Cadê?!?! O meu caderninho, quer dizer, o caderninho do Diego. Não, o MEU caderno feito com TUDO sobre o Diego. Onde estava? Perdi-o. Procurei desesperadamente nas salas, nos banheiros, até na cantina. Não estava. Como? Fui para casa com muito medo de que alguém o achasse. Entrei no computador, no Orkut e.... Janaina fazendo declarações ao Diego? Ei ! São as MINHAS declarações. Impossível. Liguei para o Pedro, meu melhor amigo, chorando desesperada. Contei o ocorrido, nem ele acreditou como Janaina poderia ser tão cruel, ela ia falar que fui que fiz. Com certeza. No dia seguinte, entrei com medo. Todos me olhavam de forma estranha. Medo! Quando eu entro na sala, lá estão Janaina e Diego aos beijos! Por minha causa? Então logo descubro que ninguém me olhou estranho e que Janaina pegou meus poemas dizendo ser dela. Pois é. Piorei muito mais do que o normal. Mas o pior foi quando Pedro nem me consolou, me IGNOROU! Acredita! Grande amigo. Fui me encontrar com ele, xinguei, gritei, quase, quase chorei, mas quem na verdade chorou foi ele. Uma lágrima consegui escapar. Ele levantou-se e foi embora. Fiquei em choque. Abri meu armário como de rotina e fui para casa, subi para o meu quarto e não


pensei duas vezes ... Entrei no computador e recebi um depoimento do Pedro. Não pode ser, ele me amava e... Não... Corro em direção ao beco do quarteirão ao lado, um tiro! Corro mais rápido. Quando chego, lá esta o corpo de Diego,o meu tão sonhado Romeu morto. E Pedro só me disse: - Desculpa. (Maria Sol Rodriguez e Michelle Zein)


TURMA 92


Uma noite antes na minha morte, estava me arrumando escondida enquanto meu marido dormia. Saí na ponta dos pés, sem fazer nenhum barulho. Chamei o elevador, com o coração acelerado. Ao entrar, me olhei no espelho. Estava com minha melhor roupa, um vestido Armani vermelho e com o colar de pérolas brancas que destacou meus olhos azuis e cachos dourados. Entrei no carro. Em cima do banco dianteiro, estava um buquê de rosas vermelhas. Ele sugeriu um lugar romântico para passarmos a noite, então fomos. Enquanto isso, em casa, meu marido percebeu que eu não estava na cama e viu meu celular em cima da mesa. Ao pegá-lo, viu que havia uma mensagem não lida, tinha um endereço e foi ver o que havia lá. Chegando ao local, meu marido, armado, entrou no quarto do motel e nos flagrou na cama. Percebi um olhar entre os dois. De repente, meu amante se levanta da cama, vai em direção a meu marido. Fecharam as cortinas para não haver nenhum indício ou nenhuma testemunha do que iria acontecer. Acariciaram-se. Fiquei assustada e senti-me idiota por não ter percebido que os dois estavam tendo um caso . Meu marido tirou a arma do bolso. Apontou-a para mim, beijou meu amante e atirou. A bala perfurou o meu peito. Foi uma dor insuportável, traída pelo meu marido e pelo meu amante.

(Stefannie Cruz e Pietra D’Almeida)


Depois dessa noite, estava cansada, com a maquiagem borrada e o olho roxo. Sentei-me no ponto de ônibus e comecei a refletir sobre minha vida. Chego em casa e durmo do jeito que estou. Acordo. Levanto e continuo a pensar no que fiz da minha vida. Decido que não quero mais ganhá-la desta forma, e sim de jeito digno e honesto. Não quero ser mais uma prostituta que sirva de objeto para os homens, que usa perfume barato, vestido curto e maquiagem borrada. Chega! Quero mudar. Pego o jornal, vejo o caderno na parte de empregos. Ligo e marco uma entrevista. Na entrevista para secretária, me reprovaram, pois me julgaram. Culpa de minhas roupas e de meu jeito de agir. Burros. Não sabiam o que se passava dentro de mim. O celular toca. Estou precisando de dinheiro e prometo que este seria meu último serviço. Definitivamente. Estava atrasada. Indo para o lugar, meu celular toca novamente. É ele, já estava furioso. Chego ao encontro. Quando ele me toca com suas mãos sujas de graxa, sinto nojo de mim e dele. Digo que não quero mais. Ele insiste. Nós discutimos. Meu sangue pulsava em minhas veias e subia para minha cabeça. Dou-lhe um tapa na cara. Ainda consegui ver seu olhar, fixo ao meu. Sua respiração estava ofegante, quase bufando; seu rosto, que era moreno, agora está vermelho, com certeza o mais vermelho que eu tinha visto até então. Após um barulho ensurdecedor, já não tinha essa certeza ao ver o sangue escorrendo sobre meu peito. (David Teles Eller e Leticia Elias Tarragó Papaceit)


“Qual vai ser o nome dele?”. São 5:30 da manhã a o despertador toca. Rosyane pensa em dormir mais cinco minutos, mas se lembra de que terá um filho e terá que sustentá-lo, já que sua mãe ficou furiosa com a notícia dita no dia anterior, à noite. Ela levanta, mas sente uma tontura. Ao fundo o Cristo sendo encoberto pela neblina matinal. Toma seu banho, se veste, toma seu café e come seu pão apressadamente. Vaidosa como toda mulher, abre a porta do armário e arruma seu cabelo no espelho. Leva um susto ao ouvir barulho de tiros e pensa em ligar a televisão para ver o que está ocorrendo. Olha no relógio, vê que está atrasada para o trabalho e sai de sua casa na favela. Alguns passos assustados depois, percebe que esqueceu a bolsa em casa e precisa voltar. Abre a porta e vê a cama de sua mãe desarrumada, pois como ela trabalha cedo, não arruma pela manhã. Pega a bolsa e abre a porta. Sente uma tontura. Pensa em ficar mais um pouco em casa, mas o relógio a apressa. Abre a porta de sua casa e, enquanto a tranca, olha ao redor assustada, vendo se pode sair. Anda alguns metros. A cada passo, fica assustada. Pensa em seu filho Ouve um barulho de tiro. Seu coração congela. “Qual vai ser o nome dele?” Disparos... Ela não teve tempo de responder à sua pergunta (Renan Simões e Rodrigo Torrano)


Carlos acordou Às 6:30, como em qualquer outro dia. Levantouse, escovou os dentes e trocou-se. Andando em direção à cozinha, viu a porta do quarto do seu filho fechada, como há um ano, e lembrou-se de que ele voltaria no outro dia do seu intercâmbio no Canadá. Tomou seu café, checou sua pasta e saiu de sua casa. Reparou que o dia estava feio, nublado. Pegou seu guarda-chuva. Enquanto descia pela rua, ele ouvia música em seu Ipod, um gosto que desenvolvera desde criança, pela convivência com seus avôs. Carlos chegou ao ponto de ônibus. Barulhos começaram a surgir de longe. De início, pensou que fosse uma manifestação. O barulho se aproximava rapidamente. Quando o som começou a ficar mais nítido, o coração de Carlos disparou. Na verdade, ele ouvia disparos. O barulho se aproximava, as outras pessoas do ponto de ônibus estavam apavoradas. De repente, um tiro atingiu o vidro do ônibus. Carlos estava imóvel, só quando os estilhaços do vidro caíram no seu pé, ele caiu em si. Deitou-se no chão, e os criminosos que disparavam aleatoriamente passaram na sua frente. A respiração de Carlos estava ofegante, ele parecia no meio de um temporal, mas na verdade era seu suor. Quando tirou sua mão de baixo do seu corpo, ele se desesperou mais ainda, ele havia tomado um tiro. Carlos sabia que a situação não era boa, sua visão já ficava mais escura, e começou a pensar: “como a minha vida passou rápido”. (Lutti Salineiro e Bruno Sgambato)


Estava tudo muito escuro e um silêncio anormal. De repente, enxerguei uma luz e, curiosa, fui naquela direção. Rua? Carros? Vireime e vi que estava em um beco, mas como fui parar ali? Ignorei esse fato e segui em frente; era melhor voltar para casa, já estava ficando tarde. Fui ao metrô, quando tive a impressão de que vi meu marido. Quando fui perguntar a ele o que estávamos fazendo lá, percebi que suas feições se tornavam mais jovens e sua pele igual a minha, tom de chocolate, se tornava branca como a neve. Então, em um gesto inesperado, ele sacou uma arma e atirou. Eu morri. Acordei assustada com o barulho de despertador e a tensão de meu sonho. Fui tomar banho. Minha cabeça só tinha espaço para ele. Tentei ignorá-lo ligando a TV. Olhei o noticiário e vi que havia um assassino à solta. Isso me perturbou mais. Tomei uma xícara de café fumegante e saí. O metrô ficava longe de casa, por isso peguei um ônibus. Me sentei ao lado de um jovem que me era familiar. Para minha surpresa, ele me cumprimentou, -Olá – meio hesitante, respondi: -Olá – ele abre um sorriso e continua: -Você vai para onde? -Eu vou trabalhar. -Você trabalha onde?- ele se inclina levemente na minha direção. -Ahn.. na Paulista. O que você faz da vida? –perguntei em um tom brincalhão e simpático. -Eu... Limpo o lixo da cidade. –ele falou, em um tom sinistro. -Que bom, essa cidade precisa mesmo de uma limpeza. –então ele me encara e seus olhos se prendem aos meus. -Fico feliz que pense assim. -Desculpe, tenho que descer aqui. Até mais! -Espero que a gente se encontre novamente. Fui para o trabalho. Conhecê-lo foi estranho. No final do dia, liguei para meu marido para nos encontrarmos no metrô.


Chegando lá, nos beijamos e fomos comprar os bilhetes. Senti uma mão me segurar duramente e uma voz grave roçar em meus cabelos trançados. -Que bom que nos encontramos novamente. Meu coração começou a acelerar e, quando me virei, vi o jovem com quem havia me sentado no ônibus. A única diferença é que ele usava um terno muito chique. Foi então que o reconheci imediatamente: o jovem de meu sonho. Ofegante, perguntei: -Mas você não era lixeiro? –então ele abre um sorriso torto e, com uma voz sinistra, afirmou: -Eu limpo esse tipo de lixo. –ele saca a arma. Então percebi que estava vivendo o meu sonho. Novamente. Ouço o disparo e meu corpo cai. (Isabella Qüilici e Júlia Park)


João, professor de Matemática, loiro de olhos castanhos, estava no carro atrasado para uma reunião que tinha no colégio às 8:00 horas da manhã. O trânsito não andava. As ruas estavam lotadas, sem nem espaço para as pessoas atravessarem, motoqueiros buzinavam, e tudo estava uma bagunça. Estressado, tentou fugir do trânsito, cortando o caminho por uma rua paralela que estava mais lotada ainda. João não sabia mais o que fazer, apenas sabia que iria chegar atrasado ao compromisso. Então, preocupado com o atraso, ligou para o colégio para explicar o motivo por que iria atrasar e, no mesmo instante, escutou socos no vidro do carro. Quando viu, eram dois homens de gorro e casaco preto pedindo sua carteira e que saísse do carro. O homem do carro ao lado, que estava vendo tudo, alertou a policia, que já estava próxima, sobre o assalto que estava havendo. O policial chegou em instantes com a pistola na mão, assustando assim os ladrões, que saíram correndo dando tiros para todos os lados. João consegue se esconder e, de longe, vê uma moça que atravessava a rua dar um grito e cair. Pessoas param ao seu redor. Ela devia ter seus 35 anos, bonita e tinha um papel na mão. Chamaram a ambulância, mas no hospital não resistiu. Seu nome era Helena. Ironia do destino? Voltava do horário de almoço, quando aproveitou para ir ao banco onde foi pagar seu seguro de vida. Deixou para a avó um filho de 7 anos para criar

(Antonin Bartos e Beatriz Maia)


Acordo,tomo meu café da manhã e vou até o espelho me arrumar.Vejo minhas rugas e penteio meus cabelos brancos. Enquanto me arrumava, me lembrei de uma garota muito especial. Era linda,seus olhos brilhavam.Nunca mais me esqueci de sua beleza,pois era diferente de todas as outras. Pena que nunca mais foi vista... Depois daquele dia especial, me apaixonei por crianças. Adoro tocar aquela pele macia,lisinha e ver aquele jeito meigo que só as crianças têm. A partir de então, todas as manhãs vou ao portão da escola mais próxima de casa ver as crianças. Um dia,acabei não resistindo e fiz um convite a uma garota para ir a minha casa. Tomamos um lanche,assistimos à TV, jogamos um jogo. Foi quando uma feroz mulher invadiu minha casa. -Quem é a senhora? - perguntei -Sou a mãe dessa criança e quero levá-la agora.- disse a mãe -Estávamos só conversando. -Sei quem é você, segui-o quando estava indo buscar minha filha e vi o jeito que olhava para ela.Então, dê logo minha filha. -Não. - respondi -Não terei escolha ,farei o melhor para ela. (Tiros.) Vi duas pessoas chorando e comecei a sentir frio e uma forte dor no peito. Depois não me lembrei de mais nada, só do prazer que pude sentir com as crianças. (Jenny Ng ePriscilla Astur)


Acordo de manhã, lembrando-me do horrível dia anterior. Havia terminado com minha namorada, já que ela ia mudar de país. A distância era muito grande. Portanto, seriamos infelizes separados. Não consigo tirá-la da mente, seus lindos e sedosos cabelos castanhos, seus brilhantes olhos verdes, seu nariz levemente arrebitado e seus delicados e macios lábios. Tomo meu café com desgosto, e saio para a faculdade. Era uma quarta-feira mais triste e monótona que uma segunda-feira. Sempre passo por uma ruazinha estreita com varias lojinhas. De repente, ouço barulhos anormais para aquele tipo de lugar, quase derrubo meus livros: era um tiroteio na rua paralela à minha. Virei à esquina correndo e deu para ver o carro dos bandidos em disparada! Uma cena me chama atenção: uma garota está caída no chão a poucos metros de mim. Uma multidão vai chegando até eu ir lá. O rosto era branco, e fazia contraste com o sangue escorrendo pelo seu tórax. Os cabelos lisos e castanhos, sujos pelo sangue. Os delicados lábios ensanguentados. Reconheço aquele rosto. Era minha exnamorada. Depois disso, aí sim derrubo meus livros no chão. Hesito um pouco e paro para refletir. Mesmo se não tivesse terminado com ela no dia anterior algo ia nos separar de qualquer jeito. E o que nos separou foi a morte. (Guilherme Watanabe e Thais Nano)


Tava frio, não tinha cobertor pra gente se cobrir. A mamãe tossia sem parar, ela também não tava dormindo. Amanheceu. O sol me acorda. Mamãe não tá mais tossindo, ela finalmente conseguiu dormir, depois de tanto tempo sem conseguir descansar por causa da doença. A gente não sabe o que que é, não temos dinheiro pro hospital. Eu tô com fome, mamãe tá branca, deve tá com fome também, porque ela tá mais branca que os homens brancos da rua chique. Mas a gente não tem comida, nem dinheiro. Tenho que arrumar comida. Tô descendo o morro, como eu queria ter sapato! O chão tá frio e molhado, porque choveu ontem à noite. Cheguei na rua, tá com um cheiro bom de pão. O cheiro vem daquela padaria. Acho que dá pra entrar escondido, por trás. A cozinha tá vazia, tem uma cesta de pão perto da porta. Fico encarando a cesta. Tô com fome. Acho que não vai fazer falta, tem tanto pão aqui, não vão comer tudo isso. Pego a cesta e saio pela porta. Cheguei na rua, meu coração tá batendo rápido, agora é só voltar pra casa... - EI MOLEQUE! VOLTA AQUI, SEU LADRÃOZINHO! É o padeiro! Tenho que correr! Quase lá é só subir aqui e virar ali. Nossa! Quanta gente! Ih! São os traficantes! Eles estão armados, é melhor eu dar a volta. Disparos. Tento me abaixar para me proteger; alguma coisa me acerta. Ouço o barulho de alguma coisa caindo no chão. Tá frio, eu tô no chão, por que meu peito tá doendo tanto? Olho pro lado, não consigo ver muita coisa, tá tudo ficando escuro. Mas eu ainda vejo alguma coisa, eu vejo... Pães manchados de vermelho e terra... Agora mamãe não vai mais poder comer eles... Penso na minha mãe. Tudo fica escuro. (Maria Vitoria Pieralisi e Beatriz Chang)


Era um dia frio e escuro. Eu estava fazendo minha caminhada matinal e resolvo pegar outro caminho. Era uma rua esquisita. Um beco sem saída. Foi quando ouvi um barulho, parecia um disparo. Virei-me na direção dele e a última coisa de que me lembro é de uma dor intensa no peito. Eu, com todas as minha forças, abro meus olhos e logo identifico um quarto de hospital. O estranho era que eu não sentia dor alguma. Levanto-me e escuto um bip. Ao me virar, vejo que estou deitado na maca ensanguentado. Como assim? Eu estava em pé e na maca ao mesmo tempo! Saindo da sala, vejo minha mãe aos prantos e com um terço nas mãos. Tento falar com ela, mas ela não me escutava. Era horrível ver minha mãe nesse estado e não poder fazer nada. Percebo que no final do corredor, está Clarisse, minha namorada. Ela caminhava chorando até minha mãe e a abraça -Sabe Jéssica, não é uma hora embora para isso, mas eu descobri que estou grávida de Júlio. -Vai ficar tudo bem, calma -disse minha mãe, abraçando-a. Tenho que voltar. Tenho que criar meu filho. Não posso deixar a minha família assim. De repente, o médico aparece no corredor. -Sinto muito, mas a bala é irremovível. Terei que desligar as máquinas. Meus pêsames Um longo apito soa e a escuridão cai sobre min.

(Thaís Silva, Ingrid Schmidt, Claudia Guimarães)


Mad acordou de manhã, em um dia de semana. Tomou seu café, comeu seu pão da semana anterior com manteiga e vestiu seu macacão. Beijou sua mulher e foi para o trabalho. Pegou o ônibus e desceu em frente à obra onde trabalhava. Passou um dia árduo construindo muros e carregando sacos pesados de areia para a base do prédio. Mad ficou cansado e pegou o ônibus para casa. Quando foi pagar, percebeu que havia esquecido o dinheiro em casa. Sendo assim, o cobrador grita para o motorista: -O malandrinho tá pensando que vai viajar sem pagar. O motorista fala: -Pode descê, ô malandrinho. O ônibus pára, Mad desce e resolve ir a pé. Só que para chegar em casa, precisava passar pela Favela do Macaco Dourado. Passando por uma rua pouco iluminada, foi abordado por um homem armado que disse: -Passa a grana, rapá! -Não mesmo, por que deveria? O ladrão aponta a arma para a cabeça de Mad: -Porque eu preciso! Mad começa a tremer e gotas de suor caem sobre seu rosto. Mad percebe que o ladrão está tremendo e com pouca firmeza na mão. Ele tenta tirar a arma da mão do ladrão, que percebe e puxa a arma com força. A disputa pela posse da arma continua até que se ouvem disparos, e um homem cai morto no chão.

(João Victor Bastos e João Paulo Penalber)


TURMA 93


O despertador toca. O homem se levanta. Arruma-se, toma café e, como sempre, lê seu jornal. Algo o impressiona, o jornal diz: “Hoje, um homem, duas mulheres e uma criança morreram na frente de um supermercado com balas perdidas”. Ficou confuso, mas logo fechou o jornal. Ainda com o “hoje” em sua cabeça, foi para o trabalho. Como sempre, entrou no ônibus das 7:30 e, como sempre, a louca estava lá, no segundo assento da direita, falando sozinha; o motorista, todo sorridente, e o drogado, sentado no assento do fundo. Irritado com a louca e com medo do que um drogado poderia fazer, não via a hora de sair daquele ônibus. Chegando ao trabalho, guardou alguns papéis, escreveu algumas notas, ouviu as reclamações de algumas senhoras e foi para o caminhão tirar a carga. Disparos. Duas mulheres caem no chão, uma criança grita. O homem dá seu último suspiro: “Hoje”. (Bruna Leite e Isabella Mesquita)


Acordei, levantei, em um dia que não estava muito bem. Coloquei os chinelos, desci as escadas, cumprimentei meus filhos, tomei café e subi para me arrumar. Descendo as escadas, vi Marta chorando, agarrada a uma foto nossa. Ela falava que não queria que eu saísse, que não queria ficar sozinha, não queria ficar viúva. Acalmei-a, dizendo que nada aconteceria, que era um dia comum, igual aos outros. Porém, estava enganado. Saí cedo paga pegar o ônibus vazio. Havia apenas quatro pessoas; eu, o motorista, o cobrador e um senhor de idade. Desci do ônibus e caminhei um pouco. A rua estava bloqueada e ouviam-se tiros e gritos, como se estivesse em um filme de terror. Olhei para os lados e não havia ninguém. Me escondi para tentar não ser atingido pelos tiros disparados por policiais e bandidos que acabaram de roubar um banco. Vi um vulto, porém não o identifiquei. Ele vinha se aproximando e dizendo em uma voz grossa e firme: “Venha comigo, porque agora você é meu refém’’. Me pegou e me arrastou pela camisa até seu carro e colocou um saco em minha cabeça. Ele falou que eu não abrisse a boca ou seria morto. Percebi que saímos da estrada. Já o rumo que tomaríamos, eu não sabia. Tiraram-me do carro brutalmente, me fazendo tropeçar e cair. Riam de mim sem motivo. Eles retiraram o saco de minha cabeça, e pude ver onde estava: era um casebre abandonado. Já dentro da casa; eles me acorrentaram e discutiram o que iriam fazer comigo. Me obrigaram a ligar para minha esposa e pedir 20 mil reais para que não me matassem. Falei para ela vir sozinha, sem a polícia, ou seríamos todos mortos. No dia seguinte, à tarde, estava com fome e fraco. Pedi comida desesperadamente. A única coisa que fizeram foi jogar lixo no chão e dizer que aquele seria meu almoço, saíram rindo de mim. Estava mais preocupado com Marta e meus filhos do que comigo mesmo.


Ao anoitecer, Marta apareceu com a bolsa, andando lentamente até a casa. Os homens se aproximaram dela e checaram-na. Com um sinal de positivo para seu comparsa, ele afirmava que estava tudo certo, e que finalmente podia me liberar. No momento em que estava me soltando, tiros foram disparados contra o bandido que me segurava: eram os policiais que Marta havia trazido consigo. Gritei: ‘’Marta havia lhe dito para que não os trouxesse!’’ Ela se lamentou singelamente com um choro que me afligiu profundamente. Tiros foram ouvidos. Passou tão rápido... (Lucas Eduardo Zoubaref e Thiago Canguçu)


Frederico, um jovem de 23 anos, acorda em mais uma manhã de inverno. Era um jovem estudioso, simpático, alto, magro, porém não muito forte. Logo após acordar, ele levanta, toma café, e se prepara para mais um dia de trabalho. Como sempre, acordou mal humorado, pois não havia dormido muito bem naquela noite. Havia sonhado com coisas muito estranhas… como se elas quisessem lhe dizer alguma coisa…Porém, muito ingênuo, Frederico ignorou aqueles supostos sinais. No caminho de seu trabalho, liga o rádio de seu carro, e, ocasionalmente, ouve a notícia de um assalto em um banco próximo de onde ele se localizava. Assustado e desorientado, acaba se chocando com um poste que estava a sua frente. Em pânico, Frederico sai do carro, com medo de alguma coisa acontecer. Ele abandona o carro, e foge para casa o mais rápido que pode, pois conseguia ouvir os disparos dos assaltantes. Quando chegou em casa, Frederico percebeu a sorte que tivera, e que, a partir daquele determinado momento, aproveitaria o máximo de sua vida. Mas não foi bem assim. No dia seguinte, teve que voltar ao local para pegar seu automóvel chocado contra um poste pois, afinal, não poderia o deixar assim. Não bastaram 5 minutos. Ao pegar seu carro, foi atingido por uma bala perdida, no mesmo local do assalto, porém em uma situação completamente diferente. De repente, sua vida inteira passou diante de seus olhos. Todas as oportunidades perdidas, promessas não cumpridas. Assim foi-se a vida de Frederico. Passou tão rápido… (Pedro Sirota e Giulianno Diogo)


O despertador toca. Isabella acorda assustada com a hora. No relógio está 15 para as 13:00 e em menos de 10 minutos já está pronta para trabalhar. Chega ao serviço. Todas as pessoas já saíram para almoçar. No meio do expediente, seu namorado liga em seu celular e diz a ela para se encontrarem no restaurante, pois tem um pedido a lhe fazer Depois daquela ligação, pensamentos rodeiam sua cabeça o dia inteiro. Até que ela olha no relógio e vê que só faltam 15 minutos para ela percorrer um longo caminho. Indo para o restaurante, ela tem uma ideia maluca de pegar caminhos desconhecidos. Como estava perdida, resolveu parar para pedir informações em um bar. Só faltavam 7 minutos para ela estar no restaurante. Isabella tenta ver o que está acontecendo no meio do bar: Torcidas organizadas trocam palavrões entre si, depois de um difícil jogo de futebol. De repente,um dos torcedores saca uma arma. Isabella, vendo aquela movimentação, vai correndo em direção ao seu carro e sai na disparada. Apesar do momento de medo, a sorte estava ao deu lado: encontrou a avenida principal. Chega ao restaurante aliviada ao ver que seu namorado não havia chegado. Ele liga para ela dizendo que iria se atrasar, devido ao trânsito causado pelo jogo, e diz a ela que vai por um caminho desconhecido para tentar evitar o trânsito Depois de alguns minutos, já impaciente,ela começa a assistir ao noticiário e vê a manchete: “Homem é atingido por uma bala perdida ao passar no meio de briga de torcedores.” Isabella liga para seu namorado e ninguém atende. Começa a chorar. (João Victor Suh e Mateus Costa)


Todo dia o mesmo: mesmo horário, mesmo café da manhã, mesmo uniforme, mesmo mau-humor, o mesmo dia-a-dia. Seu chefe tinha acabado de ligar, alertando-o por estar atrasado. Isso porque ele estava procurando ofertas de viagens baratas no jornal, tentando sair daquela mesmice. Estressado, pegou o seu paletó e subiu no ônibus. O ônibus parou no terceiro ponto, e o seu era o próximo. O chefe ligou novamente, cobrando-o. O impressionante era que, mesmo depois de três anos na mesma vida, não havia se rebelado. Mas não naquele dia, resolveu mudar. Pela janela avistou um cartaz com as lindas praias de Fernando de Noronha, o lugar a que há tempos ansiava ir. Junto ao cartaz, uma ótima oferta que cabia em seu bolso. Devia ser porque a agência não ficava em um bairro tão chique, e nem estampava um dos nomes mais populares em seu letreiro. Desceu do ônibus. Em alguns segundos, ouviu-se um barulho estrondoso, um estouro, que mais parecia um escapamento de carro. Imaginando-se em uma cadeira de praia, em frente ao hotel, ao sol, e de uma maneira tão simples, aquele pedaço de metal acabou com sua vida em instantes. Passou tão rápido. (Paula Krein e Carolina Helene)


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