Revista Paraty

Page 1


Ao Leitor Neste ano, nosso nono e último ano do Ensino Fundamental, fomos a Paraty, uma fascinante cidade de contrastes, onde pudemos ver a biodiversidade litorânea do Saco do Mamanguá num dia e a riqueza da Mata Atlântica, que cobre o Caminho do Ouro, no outro; o centro histórico ensinou-nos sobre o passado, sobre as heranças maçônicas do lugar, e a Usina Nuclear de Angra dos Reis mostrou-nos caminhos para o futuro. Ambientes tão distintos, além de nos fazer refletir sobre o destino desse planeta tão belo que foi criado somente para nós, foram cenário para a alegria dos últimos momentos que passaremos com a turma que nos acompanhou por um, dois, três, até seis anos! Porém, a água do mar vai aos poucos transformando nossos laços de pedra, até que inevitavelmente devemos enfrentar o maremoto que finda um ciclo e começa outro. Em 2012 começamos o Ensino Médio e nos veremos separados, seja por apenas um corredor, ou por bairros inteiros; mas laços fortes como pedras não se desfazem tão facilmente: continuaremos unidos pelo amor e companheirismo que sempre tivemos uns com os outros e as lembranças boas de nossa viagem vão nos dar forças para encarar os desafios que nos aguardam escada acima. Maria Cerdeira Jorge


História de Paraty

Os alunos do 9º ano do colégio São Luís tiveram a oportunidade de visitar, em outubro, a linda cidade colonial de Paraty, que até hoje preserva seus encantos naturais e arquitetônicos, sendo assim considerada um Patrimônio Histórico Nacional. Poder passear pelo centro histórico de Paraty é poder entrar em outra época, onde caminhar é vagaroso devido às pedras “pés-de-moleque” de suas ruas, e onde é possível imaginar como seria a vida no Brasil de antigamente. Seus casarões contornados de símbolos com diversos significados e suas lindas igrejas deixam a imaginação de qualquer um fluir. A cidade foi fundada em 1667 em torno da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira. Devido aos engenhos de cana-de-açúcar, a cidade de Paraty teve uma grande importância econômica No século XVIII, destacou-se como importante porto por onde se escoava o ouro e as pedras preciosas que embarcavam para Portugal. Entre os séculos XVII e XIX, a partir de trilhas dos índios guaianazes, foi construído, por escravos, o


Caminho do Ouro. Essa trilha ligava Minas Gerais a Rio de Janeiro e São Paulo. No chamado "Ciclo do Ouro", Paraty exercia a função de Entreposto Comercial por sua posição geográfica. Visitar o Caminho do Ouro permite conhecer não só uma importante obra de engenharia, mas também uma ecologia deslumbrante e o povo paratiense com sua cultura, seu passado e seu presente.


VÍDEO FILOSÓFICO Nesse bimestre, estudamos em filosofia os filósofos présocráticos, que tinham diferentes ideias sobre a origem do universo. Nós nos dividimos em grupos e pudemos escolher entre 3 filósofos: Pitágoras, que achava que o universo havia sido gerado a partir do número 1; Heráclito, que tinha o fogo como princípio de tudo; ou os irmãos Leucipo e Demócrito, que acreditavam que o universo começou a partir do átomo. Em nosso vídeo, tivemos que explicar o pensamento de um desses filósofos, relacionando-o a nossa viagem a Paraty. Assista a um dos vídeos, acessando o link:

http://bit.ly/filo2011


Maçonaria em Paraty

A maçonaria é uma sociedade secreta que se reserva aos que fazem parte dela. Os membros cultivam os princípios da liberdade, da democracia, da igualdade e da fraternidade, buscando sempre o aperfeiçoamento intelectual. Estima-se, atualmente, que há cerca de 6 milhões de maçons espalhados pelo mundo, sendo no Brasil 150 mil atuando em quase 5 mil lojas maçônicas. Tradicionalmente, apenas homens podem ser maçons, entretanto, algumas lojas e corpos-maçônicos aceitam mulheres em sua formação. Historicamente, o berço da maçonaria foi o Templo de Salomão, mas o termo maçonaria, que vem do francês maçonnerie, que significa “construção” ou “alvenaria” surgiu na Idade Média, quando a sociedade que até então adotava apenas


pensamentos filosóficos milenares se fundiu com a dos verdadeiros pedreiros da época. Os nobres precisavam de uma fortaleza para sua habitação, e precisavam de alguém para construí-la, pois a arte de construir não era o forte daquela camada da sociedade. Utilizando-se de conhecimentos e técnicas romanas e gregas, nasce a camada dos construtores. Perseguida na Europa, a maçonaria migrou para o Brasil. Durante o ciclo do ouro, alguns grupos se hospedaram em Paraty, por estar localizada no Caminho do Ouro (de Minas Gerais ao Rio de Janeiro). O centro histórico de Paraty foi construído com 33 quarteirões, que é o número de níveis da maçonaria, e as casas foram feitas na proporção 1:33:33. Devido às frequentes perseguições, as fachadas das casas e dos sobrados cujo proprietário era maçom possuem símbolos na linguagem maçônica. Além disso, a maçonaria foi muito influente em algumas revoluções, como a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira e até a Independência do Brasil. Hoje em dia, é apenas um grupo secreto que busca ajudar os humanos a reforçar seu caráter, melhorar sua bagagem espiritual e moral e aumentar seus horizontes culturais.


Debate sobre energia nuclear

No dia 10 de novembro, realizamos um debate, na aula de Ciências, sobre a energia nuclear. O professor separou os alunos de modo que os que eram números pares teriam que ser contra o uso da energia, e os que eram números ímpares, a favor. Todos levaram os argumentos, e dividimos a sala. Foi uma experiência muito interessante, até porque algumas pessoas que eram contra, por exemplo, tiveram que se posicionar a favor. Foi um debate muito intenso: todos os alunos participaram ativamente, discutindo sobre o assunto. Isso nos deu bastante conhecimento sobre as vantagens e desvantagens do uso da energia nuclear, conhecimento que não tínhamos antes. Dava para perceber que todos estavam interessados e queriam dar sua opinião ou, ao menos, argumentar ou contra- argumentar. Com o debate, conseguimos formar uma opinião sobre o assunto, e decidir se éramos contra ou a favor, devido à quantidade de informações que conseguimos. A energia nuclear pode ser muito limpa, de seguro transporte e pode abastecer uma cidade toda com só um pedaço de urânio mas, em minha opinião, acho que os riscos são muito maiores. É uma energia cara, com grandes riscos de contaminação e doenças. Não vale a pena. (Larissa Valente)


O charme de Paraty

A foto nos mostra que Paraty mantém seu charme colonial até os dias atuais. Entrar na cidade é como se estivéssemos voltando no tempo do Brasil Colônia, do domínio português. As ruas com influência da Maçonaria, como o compasso e o esquadro que recebem os turistas na entrada da cidade e os três cunhais de pedra lavrada nas esquinas da cidade; as calçadas formadas por paralelepípedos; as charretes que ainda transitam pela cidade, e o centro histórico, onde é proibida a passagem de carros, enriquecem Paraty. Passear pela cidade fluminense é como ter uma ótima aula de História. Estar em um lugar que foi palco de vários acontecimentos políticos e econômicos da época em que o Brasil era colônia de Portugal, como o Ciclo do Ouro, período em que o porto de Paraty se tornou essencial para o escoamento dos minerais extraídos no sudeste brasileiro, e a chegada da Maçonaria e seus segredos, é algo privilegiado. Nenhuma outra cidade no Brasil possui tal valor histórico. Um valor que não foi destruído ou morreu com o tempo. Um valor que continua lá, vivo, para agradar pessoas do mundo inteiro.


Nas disciplinas de Matemática, Ensino Religioso e Arte, a proposta do pós-estudo foi fazer um trabalho contendo dez fotos tiradas em Paraty, com vista frontal das fachadas dos casarões, das igrejas, da natureza e símbolos religiosos, nos quais podia ser identificado algum dos três tipos de simetria (translação, reflexão e rotação) ou, também, a razão áurea. O objetivo principal era perceber que a matemática não está presente somente nos cálculos, mas também em diversos momentos de nosso cotidiano.






“Coluna Social” Nossa colunista (incógnita e usando seus Louboutins) foi viajar com os alunos do nono ano do CSL a Paraty. Eis os destaques da viagem:

O nono ano estava andando pelo centro de Paraty, antes daquela pizzada, quando um vendedor de tranqueirinhas de praia, de dread no cabelo, estilo “pulseirinhas Jamaica da moda”, nos avisou que o atorque-fez-o-pai-da-açucena-na-novela-e-que-ninguém-sabe-o-nome estava ali. Aí que as amadas foram ao delírio, gritaram, se jogaram, uhul! Todas se sentindo atrizes globais, né, queridas? P.S. O ator se chama Enrique Diaz!


Aqui vem a parte chiquérrima da nossa coluna especial da semana. Pagando de ex-BBB, quatro alunos subiram na laje do iate e arrasaram ao som de funks coreanos. Apesar do mau tempo, eles puderam fazer as atividades só pra tirar foto e aparecer no EGO: pescar, fazer rede, mergulhar no meio dos peixinhos...

No último dia, e o único de descanso da viagem, os alunos acordaram cedo para aproveitar o sol na praia. Ela não era de tombo, e havia uma ilha próxima da areia, Os alunos exploradores se interessaram, e foram nadando até perto dela para descobrir o que havia lá.


Teve também aquelas que estavam se achando as amigas da Paris Hilton em cima do super IATE no Saco do Mamanguá. Nessas condições, tem mesmo é que levantar a mão pro céu e cantar pras algas do mar.

E o famoso skatista que foi passar dias sossegados na pacata cidade, mas foi reconhecido? Não adianta, a fama nos segue aonde vamos, gente!


Além de se divertir com os alunos, aproveitar Paraty, passear, conhecer e aprender sobre a cidade, nossa querida professora Roberta Ramos ainda tem direito a uma loja própria, com artigos finos a preços populares.

TERROR! Esta colunista tirou uma simpática foto e, quando foi ver se estava boa, ficou bege de susto: SAMARA estava em Paraty!!!

P.S. Um conselho de amiga: não ande de Louboutins nas pedras de Paraty...


“A vida das pessoas aqui é muito difícil” Almerindo Ricardo, de 45 anos, trabalha fazendo barcos de madeira em miniatura desde que era criança, pois não estudou. Acredita em Deus, mas não tem religião. Casado há 20 anos, tem 3 filhos. Ele nos conta sobre sua profissão como artesão e o que ele acha sobre a preservação do Saco do Mamanguá.

No caso dos moradores da cidade ou região, como sobrevivem economicamente?

Sua

profissão

está

relacionada

direta

ou

indiretamente ao turismo? A situação econômica das

pessoas daqui não é

muito

boa,

a

maioria

sobrevive da pesca ou do artesanato. Como eu faço e vendo banquinhos de madeira, os turistas sempre compram quando eu vou para a cidade.

Quais são as principais dificuldades vividas pela população local? Existem muitas dificuldades vividas aqui, mas as principais são: a falta de luz e a ausência de estradas. Quando chove, precisamos ir para a cidade de barco.

Já pensou em deixar a cidade para "tentar a sorte" em outro local? Por quê? Penso em deixar a cidade toda hora, mas não tenho condições de fazer uma mudança tão drástica. A vida das pessoas aqui é muito difícil.

O meio ambiente local é preservado? Você observa alguma ação do governo para garantir uma preservação? Exemplifique. Muitos turistas frequentam aqui, mas vejo que é um lugar bem preservado e boa parte dessa preservação tem a ajuda do governo.


O que você pensa sobre viver tão perto de uma usina nuclear? Cite algumas vantagens e desvantagens. Eu vejo muitas pessoas preocupadas a respeito, pois se tiver um vazamento, vantagens.

irá

prejudicar

muitas

pessoas.

Não

acredito

que

tenha


Mamanguá: nosso fiorde tropical

Lugar maravilhoso, trata-se de um fiorde tropical, braço de mar que entra em linha reta, terra adentro com 8 km de extensão e aproximadamente 1 km de largura, com montanhas altas de ambos os lados. O Mamanguá alcança uma profundidade máxima de 10 metros na abertura do saco. Ao fundo, encontra-se o maior e mais conservado manguezal da baía da Ilha Grande.

Localizado ao sul de Paraty-Mirim, faz parte da área de proteção ambiental (APA, uma unidade de conservação que tem por objetivo conciliar as atividades humanas com a preservação da vida silvestre) do Cairuçu. O acesso é possível de barco, o que proporciona um belo passeio saindo de Paraty ou Paraty-Mirim, como foi feito por nós. Mas também é possível desfrutar de longas e cansativas trilhas.


Uma das montanhas mais altas é chamada Pão de Açúcar, com cerca de 400 metros de altura. O acesso é feito por uma trilha no meio da Mata Atlântica, onde se pode desfrutar de toda a beleza da vegetação nativa da região, além da vista total do Saco do Mamanguá ao chegar ao topo. Na década de 70, com a chegada do turismo, os barquinhos começaram a ser comercializados. Hoje, o artesanato é economicamente importante para homens, mulheres e jovens de muitas famílias, como observamos um senhor, no Saco do Mamanguá, que produzia artesanato para venda em pequenas lojas frequentadas por turistas em Paraty. Ele nos mostrou, com extrema paciência e educação, como são feitos os pequenos barcos. Em geral, usa-se a caixeta, uma madeira mole da família do ipê, também chamada de ipê-branco. Além do artesanato, eles vivem da pesca, da agricultura e da prestação de serviços aos turistas. O Mamanguá já era povoado desde a época dos escravos e, até antes disso, pelos índios guaianazes, tendo sido importante porto de tráfico de escravos por se localizar em um ponto estratégico e abrigado, sendo impossível ser avistado seu final da entrada. Hoje, cerca de 120 famílias compõem uma população tipicamente caiçara: miscigenação do índio com o negro escravo e o branco europeu. Os "caiçaras" nos ensinaram como é a vida no Mamanguá e como eles sobrevivem por lá.


Entrevista

“ É muito difícil sair de um lugar com o qual estamos acostumados ” Fomos visitar o bairro Ilha das Cobras, o segundo mais populoso de Paraty. Um bairro simples, com pequenas casas comerciais. Encontramos a camareira Antonia de Fátima Barros, de 48 anos, que nos contou um pouco sobre sua profissão, sua relação com o turismo, as dificuldades da população e sobre o meio ambiente. Divorciada e mãe de dois filhos, Antônia também falou sobre sua posição com relação à usina nuclear. Colégio São Luís: No caso dos moradores da cidade ou região, como sobrevivem economicamente? Sua profissão está relacionada direta ou indiretamente ao turismo? Antônia: Economicamente, as pessoas daqui sobrevivem por conta do turismo, e a minha profissão está diretamente relacionada a isso pois, como camareira, vivo direta e diariamente essa situação. CSL: Quais as principais dificuldades vividas pela população local? A: O maior problema é a questão da saúde e da falta de empregos, pois não temos muitas chances de ganhar dinheiro e viver bem. Não há moradia para o povo também, e a higiene é muito precária. CSL: Já imaginou em deixar a cidade para “tentar a sorte” em outro lugar? Por quê? A: Sim, uma vez eu tentei sair, mas não consegui, pois é muito difícil sair de um lugar com o qual estamos acostumados, e ir para uma cidade grande. CSL: O meio ambiente local é preservado? Você observa alguma ação do governo para garantir essa preservação? Exemplifique. A: Não acho que o ambiente seja preservado, porque o governo não ajuda em nada para garantir a preservação. Isso começou a acontecer quando construíram a usina nuclear aqui.


CSL: O que você pensa sobre viver tão perto de uma usina nuclear? Cite vantagens e desvantagens. A: É horrível, pois sei que há um grande risco de doenças que podem ser causadas, e não existe nenhuma, pois nós só podemos ser prejudicados.


Usinas nucleares: um problema a ser resolvido

As usinas termonucleares causam grande polêmica em todo mundo. Muitos países ainda discutem se devem investir seu dinheiro nesse tipo de usina. Apesar de todos os cuidados tomados, essa nova fonte de energia ainda proporciona riscos à vida humana. Existem outros tipos de energia que não têm como consequência arriscar nossas vidas. Mesmo as indústrias termonucleares sendo construídas de maneira completamente planejada e segura, isso não quer dizer que não possa haver algum erro técnico, humano ou um desastre natural que resulte em vazamento e, mais tarde, prejudique a vida humana. Tome como exemplo o complexo nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão. As usinas nucleares mais seguras do mundo tiveram um vazamento por conta de um terremoto seguido de um tsunami. Alem de poder causar risco à vida humana, as elevadas temperaturas da água utilizada no aquecimento, que é despejada em rios, causam a morte de ecossistemas da região, interferindo no equilíbrio do local. Outra desvantagem das usinas termonucleares é o lixo tóxico proveniente

das

mesmas.

Não

existe

tratamento

para

esse

lixo.

Atualmente, ele é depositado em desertos, no fundo de oceanos ou dentro de montanhas. E se ele não for bem armazenado, pode emitir radiação, prejudicando, posteriormente, pessoas próximas ao local. Embora o urânio seja um combustível barato em relação aos outros, a energia que ele produz não é renovável. Portanto, futuramente, quando o urânio acabar, essa forma de produção de energia morrerá, e o governo


terá pago mais de 10 bilhões para a construção da usina, sendo que o material de produção de energia se esgotará. De acordo com Heitor Scalambrini Costa, sempre haverá riscos de contaminação

com

radiação,

independente

se

a

usina

funcionar

perfeitamente com um bom sistema de segurança. Existem outros modos de conseguir energia. Portanto, será que vale a pena arriscarmos nossas vidas por uma coisa que pode ser resolvida de outro jeito?

Juliana de Barros e Silva


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.