VIDA passageira
desenhos e texto
Roberto Tostes
Uma passagem na mão, um bilhete ou cartão de embarque. Por um sonho e destino, nada se passa à toa.
É preciso chegar, sei lá aonde.
As pessoas vêm e vão, de todos os lugares, entre milhares de linhas paralelas e transversais. Se encontram e se perdem o dia todo pelas ruas. Um rio de gente que não acaba.
Passageiros em transe, viajam dentro de si, tentando entender quem são e porque continuar.
Falam sozinhos, dormem ou se calam.
Isolados em vagões onde a vibração só vem dos trilhos e de avisos sonoros.
Essas viagens diárias parecem nunca terminar, tomando boa parte de nossas vidas.
Fugindo ou chegando, entre medos e sonhos, enfrentamos dúvidas, insegurança e tédio.
Tudo isso nos consome lentamente, tirando pedaços do coração e de nossas almas.
Uma pequena insignificância no meio de bilhões de pessoas.
Quem caminha pelas ruas pode
estar confuso sobre seu destino e mesmo assim ainda insiste em continuar.
Seja para dissolver uma emoção ou apenas para acalmar o coração.
As cidades são como pessoas.
Precisamos entendê-las e descobrir seus segredos mais ocultos.
Se olharmos com atenção veremos que tudo se multiplica em quarteirões e esquinas, como um quebra-cabeça que nunca se completa.
A vida é muito mais do que aparece na tela dos nossos olhos.
Como se fizéssemos parte de uma
mesma cena, sem ensaio ou roteiro, algumas vezes como personagens, outras como espectadores.
Nas ruas, em qualquer lugar, se vive e se morre da mesma forma, não importa quem seja.
Mais pobres ou ricas, são apenas pessoas, embaladas em sonhos e emoções.
Cada lugar tem seus habitantes e características próprias.
Somos atraídos pelas filas, multidões e aglomerações.
Vemos e somos vistos.
Transparentes ou opacos, todos se tocam de alguma forma, mesmo solitários.
Ninguém passa impune por uma multidão.
Quem está na rua pode se sentir facilmente perdido.
Como se faltasse um destino certo ou verdadeiro.
E a impressão de não poder parar.
Uma sensação de peso e cansaço.
Compartilhamos medos, sonhos, e até mesmo o silêncio.
Sofremos com inúmeras emoções, mas a esperança nos salva.
Sempre existe um próximo destino, algo novo que pode chegar.
Em nossas vidas, mesmo correndo, volta e meia acabamos imobilizados no tempo, sem ir a lugar nenhum.
Estamos sempre saindo mas insistimos em retornar.
Sentindo falta de nossa casa, nossas coisas e nosso canto.
Alguns andam ansiosos, preferem atalhos ou vias expressas.
Outros tem a caminhada incerta e lenta.
Nem todos nascem para andar em linha reta.
Com tantos caminhos pela frente, para que ter pressa?
Devagar é que se vai longe.
Passos na rua, muitas folhas no chão.
Talvez um dia possamos entender, o que as árvores gostariam de dizer.
No final, todo caminhar sempre termina assim. Apenas uma pausa para um novo começo.
Dedico esse livro a Teresa, minha esposa, que trouxe à minha vida amor e poesia. E me incentivou a voltar ao desenho, um traço perdido que agora reencontra seu caminho.
Roberto Tostes Rio de janeiro, maio de 2022
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