Resenha Crítica Bibliografia: MOURÃO, J.; PEDRO, J. B. Para uma habitação ambientalmente mais sustentável: recursos, princípios, paradoxos e oportunidades Robert Soares de Lima Graduando em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Uberlândia. http://about.me/robertsoares
Vendendo sustentabilidade No artigo “Para uma habitação ambientalmente mais sustentável: recursos, princípios, paradoxos e oportunidades”, Joana Mourão e João Branco Pedro, dois arquitetos portugueses, fazem uma análise do quadro da habitação dos dias atuais pelo viés da sustentabilidade. Os profissionais vão fundo no tema e abordam o que há de realmente sustentável na situação atual e o que precisa ser feito nessas condições para que o morar se torne, de fato, sustentável. Para tanto, o texto é embasado em uma pesquisa que vai desde o surgimento do termo “sustentabilidade” até sua atual utilização, que, como eles mostram, na maioria das vezes não passa de um mero modismo, uma fachada que esconde a verdadeira insustentabilidade onde os olhos dos usuários comuns não alcançam. No início de seu artigo os arquitetos adotam uma postura alarmante quanto à atual situação de insustentabilidade globalizada, apontando a crescente escassez de recursos naturais por conta da exploração humana do meio ambiente a seu favor. Indo mais além das questões levantadas, é possível citar o crescente número de pessoas que estão a se tornar cada vez mais conscientes dessa situação. As pessoas já não se dividem mais em dois grupos onde o primeiro é constituído daqueles que apontam para o fim da humanidade por conta da sua voraz exuberância de sua falta de consciência coletiva e o segundo daqueles que simplesmente não acreditam ou, o mais provável, preferem não acreditar a mudar seu “estilo” de vida. A distância entre esses dois grupos está aumentando cada vez mais e, assim, novos grupos reunindo pessoas cada vez mais conscientes estão surgindo. Porém, mesmo em um tempo onde a velocidade é cada vez mais apreciada, os passos em direção a uma consciência global são lentos, quase estáticos. Mas é nesse ponto que o profissional deve agir. Instruído, ele deve saber aproveitar a tendência e ajudar a criar tal consciência nas massas e não aproveitar o “poder” que existe em suas mãos para “marketiar” e vender a arquitetura enquanto na verdade só o que oferece é construção. Basta refletir um pouco para perceber que essa é uma postura equívoca por parte desses “profissionais”. Anos se passaram, novas tecnologias e materiais são desenvolvidos cada vez mais rapidamente, as demandas atuais são diferentes, o cenário socioeconômico já não é o mesmo. Se nosso tempo mudou, porque o morar não? Não se pode mais perpetuar esta cultura de produção em massa que vivemos hoje em dia. Esse
foi um padrão criado para atender determinada época, quando as cidades estavam destruídas por conta das Grandes Guerras e, mais uma vez, esse tempo já passou. Os autores enumeram, ainda, alguns princípios para a sustentabilidade da habitação. Entre esses princípios está a ocupação racional do solo. Olhando para o atual modelo de condomínios residenciais que tem se espalhado pelo país, é fácil perceber que estes não tomam partido de uma ocupação menos agressora da terra. São implantados em áreas que não comportam tal empreendimento1, quando não totalmente desvinculados do tecido urbano. São agrupamentos de às vezes dez edifícios de quatro a seis pavimentos implantados em áreas onde as edificações são predominantemente de baixa escala. O uso do solo nessa área é significativamente alterado e consequentemente a infraestrutura atual é comprometida, deixando de atender a população anterior e atendendo menos ainda a que está por vir. Em outras modalidades de condomínios, aqueles de alto padrão, o usuário concentra seus esforços em procurar em revistas e publicações a sua “casa dos sonhos”, mas sem levar em consideração que a sua realidade é totalmente diferente da mostrada nessas revistas. O resultado são fontes bucólicas tipicamente europeias em jardins de climas tropicais. Mas esse usuário ainda deve ser “perdoado” por seu equívoco, porém, o profissional que atende tais desejos, e menos ainda aquele que os cria, não. O mercado imobiliário, tomando como exemplo o brasileiro, através do poder que adquiriu com o passar dos anos, toma partido desta “fraqueza” por parte do profissional e o esconde atrás das mesas dos escritórios, enquanto, na verdade, era ele quem deveria ter o contato mais próximo com o usuário final. Esse papel é dado aos vendedores! O resultado são empreendimentos cada vez maiores e mais impactantes onde nem mesmo se vê o nome de quem os projetou. Esse setor não aproveita somente da fraqueza do profissional, mas também da população, e a faz acreditar que comprar uma casa ou um apartamento e paga-lo em vinte ou trinta anos sempre foi o sonho de suas vidas. Vendem casas que utilizam de materiais e sistemas construtivos do passado como se fosse a mais nova criação no âmbito da construção civil, e ainda argumentam que são sustentáveis. A arquitetura sustentável para ser alcançada deve deixar de ser falada! O termo já foi tão banalizado que derivações como arquitetura verde, arquitetura ecológica, entre outras, são inventadas e reinventadas a todo o momento. A arquitetura deve ser sustentável. Se olharmos para o passado ela sempre foi, porém, enquanto a humanidade se desenvolveu (ao menos é no que se acredita) a arquitetura parece ter tomado um caminho contrário a respeito desse tema. Já não podemos mais “vender” a sustentabilidade como um agregado à habitação nem a nenhuma edificação. A sustentabilidade deve estar para a arquitetura assim como salvar vidas está para a medicina. São coisas indissociáveis. Ou ao menos deveriam ser. Nota: 1.
Empreendimento: Ato, efeito ou resultado de empreender algo com um fim determinado. Segundo Joseph Schumpeter, o empreendedor é alguém versátil, que possui as habilidades técnicas para saber produzir. Segundo o site wikipedia.org, empreendedor é aquele que sabe identificar oportunidades, agarra-la e buscar os recursos para transforma-la em negocio lucrativo. Das definições fica a reflexão.