Artigo TCAC - Casa 2A

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Jéssica Cristina Teixeira, Robert Soares de Lima Curso de Arquitetura e Urbanismo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – Uberlândia, MG – Brasil jessicacristina@outlook.com, robertsoares@outlook.com _________________________________________________________________________________

Quando se fala em habitação social é comum pensar nos exemplos de conjuntos habitacionais feitos massivamente em todo o país. Obras que aparentemente têm custo mensal baixo para o comprador, revelam posteriormente um grande problema para o morador que se ilude (ou é iludido) com o “sonho da casa própria” e percebe que está, na verdade, mergulhado em um verdadeiro pesadelo. Essas habitações são feitas com os mínimos recursos possíveis e possuem uma qualidade muito baixa quanto à materiais, técnicas construtivas e execução. Possuem ainda projeto que dificultam ao morador “imprimir” sua identidade à casa. Construir um quarto à mais para acomodar melhor uma nova criança pode significar grandes perdas quanto à qualidade geral da habitação. Essas unidades habitacionais se replicam aos montes por todo o país, perpetuando uma forma pobre de morar. Desconsideram contexto histórico cultural, climático e o mais estranho, desconsideram o contexto social! A questão da habitação social no Brasil, que deveria ser tratada por profissionais que entendem de habitação (arquitetos, engenheiros, etc.) e de sociedade (sociólogos, psicólogos, etc.), adquiriu um teor altamente político. Não se vê uma propaganda baseada nas qualidades dos projetos, mas sim em números cada vez maiores sendo oferecidos como se quantidade fosse o mais importante. Morar bem passa a ser um sonho secundário, pois o mais importante é conseguir uma fatia desse enorme bolo para si próprio. Se o recheio estará gostoso ou não, isso é outra história. Como se não bastasse a péssima qualidade do projeto, a qual o morador só assimila após um certo tempo, ele logo se vê preso a uma quantidade de parcelas à perder de vista. E ao final da dívida esse indivíduo percebe que pagou o valor de duas casas e está morando em algo que mal poderia ser considerado meia casa. Porém, este artigo não pretende lançar mão de uma solução mágica para o problema acima colocado. Até porque, tal situação está profundamente enraizada na cultura da população brasileira. Seria preciso muito mais que dois estudantes de graduação para mudar esse quadro. Pretendemos apenas mostrar uma possibilidade de mudança. Através do ensino transmitido pela Universidade e da experiência, ora passada pelos professores, ora adquirida em campo, observando a parcela da sociedade que vive nessa situação, propomos uma ideia! Um projeto que alia conforto, racionalidade, economia, qualidade ambiental e, talvez o mais importante, convivência social. É necessário entender que se trata do resultado parcial de um projeto lançado na disciplina de projeto do quinto período do curso de Arquitetura e Urbanismo, e que isto pode significar algumas limitações ao mesmo tempo que também pode significar uma certa ousadia projetual. Já adiantamos que como resultado, adquirimos a consciência de que projetar uma habitação de cunho social exige um esforço muito maior do que aguardar quatro anos para oferecer algumas centenas de casas com a intenção de se eleger novamente a algum cargo político. Tão pouco se trata de governar para os pobres. Na verdade, percebemos que se trata bem pouco de política e muito mais de entender o ser humano enquanto ser individual e pertencente a um ou mais grupos e locais. Trata-se de ser humano, no sentido mais amplo que essa palavra possa ter.


-A disciplina Ateliê de Projeto Integrado 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design/UFU, propunha trabalhar com o tema Habitação Social. Além do tema definido, existiam algumas premissas projetuais. Eram elas: oferecer uma unidade habitacional com aproximadamente 50m² de área construída inicial, com possibilidade de duas expansões planejadas resultando em uma residência de cerca de 60m² e 70m²; trabalhar exclusivamente com o sistema construtivo Steel Frame (estrutura em aço), utilizando apenas de placas cimentícias para fechamento vertical, tirando proveito de sua modulação para evitar grandes desperdícios de material. Essas placas são fabricadas nas dimensões de 1,2x3,0m, sendo aceitos no projeto cortes de 0,6x3,0m, 0,3x3,0m, 1,2x1,0m e 0,6x1,0m. Entretanto, devido à particularidades em alguns pontos da casa, era permitido e até necessário fugir dessa modulação. Outras premissas impostas pela disciplina foram: aumentar a densidade populacional da área trabalhada; não utilizar de muros entre as unidades residenciais; não utilizar do sistema de tripartição das funções dos ambientes da residência, possibilitando assim uma flexibilização dessas funções; projetar visando um público alvo que possui renda de três à cinco salários mínimos e, ainda, a possibilidade de o projeto se adequar a três tipos familiares distintos, que são: família nuclear, coabitação, e DINC (casal sem filhos). Para começar a reflexão sobre os aspectos de um projeto para uma Habitação de Interesse Social (HIS), foi realizada uma pesquisa de Avaliação Pós-Ocupação (APO) no bairro Jardim Holanda, em Uberlândia/MG, a fim de tomar conhecimento sobre a situação em que se encontrava as habitações e os moradores daquela região. Através dessa pesquisa foram encontrados diversos problemas que, por meio do exercício projetual, poderiam ser sanados. Entre eles é possível citar a péssima qualidade dos materiais utilizados nas Unidades Habitacionais (UHs), a planta enrijecida que não possibilita ao morador realizar com facilidade qualquer alteração e a falta de espaços públicos e de lazer, entre vários outros que serão tratados ao decorrer do texto. O principal partido que adotamos para nosso projeto, chamado de CASA 2A, é a flexibilidade existente em seus elementos (como a estrutura, o mobiliário, a cobertura, a funcionalidade dos ambientes e as expansões), possibilitando que o morador possa transformar a casa à sua maneira, dentro das limitações projetuais. Essa flexibilidade contribuiria para que o morador se apropriasse melhor de sua casa. A falta de apropriação foi um fator bastante evidenciado através da APO. Sem apropriação o morador não se sente motivado a cuidar de sua casa, não se identifica com ela e não a acha bonita. É claro que, assim como todo processo de criação, foram buscadas algumas referências projetuais que serviram de auxílio para produzirmos o projeto da CASA 2A. A Schroder House (Utretch - Holanda, 1925) de Gerrit Rietiveld e a Esherick House (Chestnut Hill - Pensilvânia, 1960) de Louis Kahn foram os principais norteadores de ideias quanto à criação de espaços que pudessem se “transformar” através de artifícios materiais e visuais. A necessidade de espaços internos flexíveis foi percebida à partir dos resultados da APO. Há uma grande sobreposição de atividades na sala. Foi possível concluir que o morador necessitava de um ambiente que pudesse ser utilizado para descansar, assistir televisão, socializar com os outros moradores e, ainda, trabalhar. Seria igualmente interessante se outros ambientes, como por exemplo, os quartos, pudessem ter uma integração facilitada com esse novo espaço. Percebemos, também, que a cozinha das casas no bairro Jardim Holanda não comportavam o mobiliário e os eletrodomésticos básicos necessários para a armazenagem e preparo de alimentos. Não havia espaço, nem mesmo, para uma mesa de jantar. Circular por essa cozinha, era uma tarefa difícil. Observando essa situação, vimos a necessidade de um ambiente que fosse mais amplo e desobstruído, ainda que visualmente apenas. Se via necessário, ainda, planejar mais espaços para armazenagem de alimentos e utensílios, sem que isto comprometesse em grande quantidade a área útil da nova planta. Os quartos eram utilizados somente à noite, para dormir. Para potencializar o uso de uma área tão grande e que fica inutilizada durante a maior parte do dia, era preciso criar artifícios, como por exemplo, mobiliários escamoteáveis, para que o morador enxergasse no quarto, um ambiente também de estudo e trabalho.


O banheiro das casas, seguia o modelo padrão utilizado comumente no mundo todo. Mas em uma casa com até quatro moradores, onde, por exemplo, os pais saem para trabalhar e as crianças para a escola, muitas das vezes no mesmo horário, o conflito é iminente, pois todos podem precisar utilizar esse ambiente ao mesmo tempo. Para solucionar isso, era necessário um banheiro que pudesse ser utilizado por mais de um morador ao mesmo tempo, sem que isto significasse sacrificar a privacidade de cada um. Finalmente, quando observadas uma ao lado da outra, estas casas são separadas por muros altos, fazendo com que a rua não pertença à ninguém, garantindo a privacidade de quem está dentro, mas fazendo com que as relações sociais, quando muito, sejam deixadas em segundo plano. Entendendo esta situação como um problema, era preciso uma nova forma de implantar uma casa. Aceitando que o início do processo de criação de um projeto pode se dar à partir de diversos pontos do mesmo, como por exemplo, da implantação para o interior da unidade ou até mesmo à partir dos mobiliários, escolhemos partir da sala, tratando este ambiente como peça chave para a integração entre os vários outros espaços da UH. É necessário destacar que a casa seria entregue ao morador no estado que chamaremos de embrião, com uma área construída de 51,94m². A casa nesse estado “embrionário” possui uma sala, cozinha, área de serviço, banheiro e um quarto de casal. (A formatação em itálico utilizada nos nomes dos “cômodos” de nosso projeto chamam a atenção para uma concepção tradicional de como entendemos os ambientes de uma residência, o que

já não se aplica à CASA 2A por se tratarem de espaços bastante flexíveis quanto às suas funções.) Considerando a casa no estado de embrião, utilizamos como fechamento vertical entre o quarto de casal e a sala, quatro portas sanfonadas. Com isso, o morador, quando não estiver utilizando o quarto para realizar alguma atividade que necessite de privacidade, pode abrir tais portas, conseguindo, assim, uma permeabilidade física e visual com a sala e a cozinha. Esse ambiente, aliado com a cama escamoteável que deveria ser entregue junto ao projeto, potencializa sua utilização para outros fins que não apenas o de repouso. Esta cama poderia ser recolhida durante o dia enquanto não é usada, revelando uma mesa escamoteável. Essa ideia foi inspirada no mobiliário Ulisse Desk de Resource Furniture (ver imagem abaixo). A integração entre esses ambientes possibilita que o espaço de conviver e estar (sala) também seja ampliado criando um grande ambiente que poderia facilmente ser utilizado para trabalho, ou até mesmo, para receber visitas com mais conforto.


É possível perceber facilmente essa flexibilidade dos fechamentos nos projetos de referência citados (Schroder House – Rietiveld e Esherick House – Kahn). Nos dois casos, a determinação espacial de um ambiente e, consequentemente, sua função, são controladas através de painéis de correr sobre trilhos e do acionamento de mobiliários escamoteáveis. Outro aspecto do projeto que foi planejado para facilitar a flexibilidade dos ambientes internos e até mesmo a execução do projeto é a concentração das instalações hidráulicas da UH em uma parede hidráulica. O banheiro da CASA 2A, se assim pode ser chamado, foi inspirado no projeto Schroder House de Rietiveld e Citrohan House de Le Corbusier. Essa proposta de separação de atividades realizadas dentro do banheiro em três pequenos espaços (lavatório, área de urinar/defecar e área de banho), possibilita que o mesmo possa ser usado por mais de um morador ao mesmo tempo, resolvendo, assim, o conflito relatado no início do texto. A cozinha, em nossa proposta, também possui uma área pequena se comparada ao que é comumente dedicada a esse ambiente em projetos de HIS. Porém, o pouco espaço destinado a esse ambiente é resolvido de uma forma a maximizar seu uso. Para “separar” a cozinha da sala é utilizada uma mesa retrátil. Esta mesa, quando retraída, possui espaço suficiente para duas pessoas realizarem suas refeições simultaneamente. Quando expandida, comporta até quatro pessoas ao mesmo tempo. Por se tratar de uma barreira parcial, ela funciona muito bem por não obstruir o campo visual do morador como uma parede o faria. Para a área de serviço, foi desenvolvido um mobiliário que serve de estocagem para produtos de limpeza, por exemplo, mas que também abriga uma tábua passar roupas escamoteável, que é acionada somente quando é utilizada. Em um projeto de Habitação Social é muito importante otimizar os espaços, já que a área construída e oferecida para o morador é bastante pequena. Outro fator importante é disponibilizar um projeto que possibilite expansões de forma facilitada. É utópico pensar que todas as necessidades dos mais diversos perfis de moradores serão atendidas com um único projeto que é replicado aos montes. E, como foi possível constatar através da APO, os moradores logo após receberem suas casas já começam a planejar as expansões. Isso pode ser devido à falta de qualidade projetual em que as casas se encontram no momento da entrega, à uma questão de identidade onde o morador sente a necessidade de adaptar a casa ao seu modo de vida, ou até mesmo à uma questão cultural; seria algo como o típico “puxadinho” que se faz presente na cultura desse perfil populacional. Uma coisa ou outra, se faz necessário prever essas ampliações ainda no projeto para evitar consequências desastrosas no futuro. (ver imagem abaixo) Com a primeira expansão, o quarto de casal da fase embrionária é realocado à direita, abrindo espaço para um novo quarto com uma área um pouco menor. Esse quarto pode se fazer necessário para abrigar uma criança ou um outro morador no caso de coabitação. Com essa expansão a área da casa aumenta para 61,30m². É importante ressaltar que as placas e o mobiliário (armários embutidos e cama escamoteável) do quarto que se movimenta, são realocados junto com ele. E no novo quarto é colocada uma nova cama escamoteável de solteiro e mobiliário para estocagem. Neste momento, o corredor interno, tão típico quando a residência é triparticionada, começa a pesar no exercício projetual. Para aliviar um pouco a sua presença no projeto, é colocado nesse corredor um armário


superior, possibilitando um outro uso, que não apenas o de circulação. Tentamos ao máximo reduzir a área utilizada apenas para circulação na CASA 2A ou mesmo, qualquer outra área com uma função determinada e inflexível. De fato, este corredor, somado à área de serviço, são os únicos elementos espaciais que se alinham à tradicional forma como moramos atualmente. Na segunda expansão, outro quarto é somado à residência. A área total da UH passa a ser, então, de 71,03m². Esse quarto é alocado ao lado do banheiro. Assim como os dois quartos anteriores, este novo ambiente possui a possibilidade de comportar mais funções do que a de dormir, apenas. Porém, já no projeto são previstos dois layouts distintos para esse espaço da casa. O primeiro segue o padrão utilizado até então nos outros dois quartos. O segundo layout é voltado, principalmente, para o morador que trabalha em casa e precisa de um espaço de uso exclusivo para trabalho. Essa necessidade foi percebida através da APO, a qual revelou que muitos moradores realizam alguma atividade remunerada em casa e que, muitas vezes, as condições em que essas atividades são realizadas são totalmente inadequadas. De acordo com o processo de expansões, a cobertura da unidade inferior vai sendo transferida para a unidade superior. A figura abaixo representa melhor esse esquema de transferência. Outra preocupação pertinente no projeto da CASA 2A foi a de possibilitar que o morador pudesse viver em um espaço bem organizado. São propostos mobiliários por toda a planta para armazenagem de roupas, alimentos, utensílios domésticos, entre outros. Esses mobiliários são fabricados em OSB (Oriented Strand Board), um painel de “retalhos” de madeira unidos por resina que possui alta resistência e durabilidade. Além do mobiliário destinado à estocagem, camas, prateleiras da sala, banca de passar roupas, mesa da cozinha e cadeiras empilháveis são, também, fabricados em OSB. São propostos, ainda, puffs que, quando agrupados e acionados os seus encostos, se “transformam” em um sofá. Proposta conceitual parecida com a desses puffs pode ser encontrada em Matroshka de Matroshka Furniture AB. Houve um esforço contínuo em fazer com que a flexibilidade existisse em várias camadas do edifício*. Mobiliários como as camas escamoteáveis, presentes em todos os quartos; as cadeiras empilháveis; os puffs e a mesa da cozinha permitem que o morador possa modificar as funções dos ambientes, realizando a sobreposição simultânea de diversas atividades, acionando-os ou modificando sua localização. Os puffs, por exemplo, poderiam ser colocados nos quartos quando se quisesse receber visitas mais íntimas, porém com mais conforto do que as cadeiras poderiam oferecer. Uma proposta conceitual semelhante à utilizada é a de Joe Colombo com seu Total Furnishing. Nesse estágio do desenvolvimento do projeto dentro da disciplina, a implantação da CASA 2A deve acontecer necessariamente em dois lotes convencionais de 10,0x25,0m. Sendo assim, devido à premissa inicial de aumentar a densidade populacional padrão quando alocada uma residência por lote, foi adotada a verticalização, implantando duas unidades por lote. Essas duas unidades são conectadas às outras duas do lote vizinho através de uma cobertura do sistema Marko Roll-on®** criando, assim, grupos de quatro UHs cada. (A partir desta forma de implantação de duas à duas casas que surgiu o nome do projeto, CASA 2A) A planta da casa 2A é totalmente acessível. Nos quartos, sala, área de serviço e na cozinha (quando a mesa está retraída), um cadeirante consegue fazer um giro completo e no corredor e banheiro, é possível que ele se


movimente para frente e para trás tranquilamente. Seria financeiramente inviável instalar um elevador por residência. Sendo assim, apesar de ter a mesma planta da unidade inferior, a UH superior não é acessível. A unidade superior é espelhada em relação à unidade inferior, utilizando como referência a parede hidráulica, preservando-as sobrepostas. Além do espelhamento da planta, ocorre também um “deslize” lateral que abrirá espaço para as futuras expansões de cada unidade. (ver figura ao lado) Para a primeira etapa do projeto, na qual deveria ser pensada uma residência que rompe com o paradigma atual com o qual a habitação em nosso país é conivente, acreditamos que a CASA 2A cumpre esse propósito. Esse projeto reúne inovação tecnológica em materiais e técnicas de construção; disposição racional dos elementos espaciais do edifício sendo orientada pelas necessidades do usuário; adaptabilidade a diversos tipos familiares e ainda, sem cair em clichês, sustentabilidade quando observada a forma como os materiais são empregados a fim de reduzir o desperdício durante a execução do projeto. Porém, o mais importante, é que a CASA 2A, nesse estágio de desenvolvimento do projeto na disciplina, já demonstra a intenção de resolver o espaço público dentro do espaço privado, tentando resgatar o espaço comum ao alcance da porta da sala e, este, pertencendo à todos e não à ninguém.

(as escadas não foram renderizadas por esta imagem se tratar de um teste, apenas)

________________________________________________________________________________________ *Teresa Heitor – ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE NA ARQUITECTURA DOMÉSTICA HOLANDESA: da conversão à multifuncionalidade, Lisboa/Portugal **cobertura Marko roll-on® - mais informações em http://www.marko.com.br/


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