universidade federal de goiĂĄs | faculdade de artes visuais | arquitetura e urbanismo
trabalho de graduação
roteiro memorial campineiro orientadora: marcelina gorni | orientando: rodolpho teixeira furtado
sumário
introdução...............................................................................................................................................................02 contextualização de vila a cidade_construção de identidade e memória.......................................................................04 de cidade a bairro_uma cidade dentro de outra...................................................................................06 construção da ideia a memória intrinsicamente ligada ao lugar e ao tempo........................................................................10 a transformação do lugar, a perda de signicados e a situação atual................................................12 levantamentos vegetação.................................................................................................................................................17 satélite e topograa..................................................................................................................................18 pontos de interesse....................................................................................................................................19 usos..............................................................................................................................................................20 gabarito......................................................................................................................................................21 legislação...............................................................................................................................................................22 intervenção objetivo......................................................................................................................................................23 metodologia.............................................................................................................................................23 justicativa.................................................................................................................................................24 diretrizes gerais..........................................................................................................................................25 referências de projeto..............................................................................................................................28
análises e proposta................................................................................................................................................35 projeto roteiro geral................................................................................................................................................41 área 1 - estádio antônio accioly..............................................................................................................42 área 2 - antiga av. bahia..........................................................................................................................45 área 3 - mercado de campinas...............................................................................................................48 área 4 - cine campinas.............................................................................................................................51 área 5 - praça joaquim lúcio....................................................................................................................54 área 6 - praça da matriz...........................................................................................................................57 estacionamento subterrâneo.................................................................................................................60 mobiliário e perl da rua...........................................................................................................................62 paisagismo................................................................................................................................................65 referencial teórico.................................................................................................................................................67 anexos....................................................................................................................................................................68
introdução
Em 1933 a antiga cidade de Campinas foi escolhida para receber a nova capital do estado de Goiás, devido à sua boa localização, bela paisagem e proximidade à linha férrea, como relata o engenheiro e urbanista Armando Augusto de Godoy, responsável pelo estudo do local que abrigaria a cidade de Goiânia (CAMPOS,1985). Entretanto a região ainda era relativamente afastada de centros urbanos mais desenvolvidos e que poderiam prover apoio básico para a construção da capital, o que levou Campinas a se tornar uma fonte de suprimentos, moradia, lazer etc, para os novos trabalhadores e moradores que chegavam na região. Goiânia começava a tomar forma, a ser habitada, e consequentemente se iniciou um processo de identicação do indivíduo com o lugar, da construção de memória. Essa construção, seja ela individual ou coletiva, se dá em camadas temporais e espaciais, ou seja, é construída a partir de eventos ocorridos em um determinado local e tempo. A elaboração da memória é um ponto chave para a denição de uma identidade e uma relação de pertencimento a uma região ou a um grupo identitário (HALBWACHS, 1990). Surgia o indivíduo que se reconhecia como goianiense. Entretanto, isso se tornou uma ameaça para outro grupo pré-existente. Com fundação datada de 1810, Campinas trazia em suas costas uma história própria, uma construção imagética e memorial de relações entre a região e seus habitantes, carregada de signicados tanto individuais como coletivos (LYNCH,1997), o que acarretou em uma série de conitos identitários e segregadores em relação à nova capital. Campinas, agora não mais cidade e sim bairro – perdendo seu posto de “mãe da nova capital” para um nível de subordinação – era sinônimo de atraso, caipiras e retrocesso, na visão do goianiense. Na visão do campineiro, Goiânia era cidade de “almofadinhas”. Apesar dos esforços dos campineiros de perpetuar seu modo de vida, suas tradições e lugares “ritualísticos” como estratégia de manutenção de seu grupo identitário, a construção de uma capital moderna não permitia uma arquitetura vernacular e simplória como a de Campinas, por isso o bairro sofreu modernizações, o que trouxe diversos pontos positivos para o local, mas consequentemente afetou de forma indiscriminada o que para o campineiro é considerado o seu patrimônio: suas relações sociais e comportamentais intrinsicamente ligadas ao local onde ocorrem (SILVA,2003). Esse trabalho se tratar de uma tentativa de resgate memorial de um grupo identitário já relativamente disperso e que parte de seus integrantes originais e descendentes diretos já faleceram, entretanto entende-se que uma cidade que apresenta diversos testemunhos de momentos históricos tende a rmarse como espaço urbano, gerando maior identicação do cidadão com a região em que habita. Além disso, diversos descendentes das famílias fundadoras de Campinas adotaram as memórias de seus progenitores por meio de relatos “folclóricos”, através da memória associativa (SILVA,2003), o que continua aderindo signicado ao local, que segundo WILHELM(1993) agrega-lhe um sentido de valor cultural para a sociedade:
02
“
Em um sentido mais amplo, um valor cultural não se encontra somente em um edifício de valor histórico ou estético.
Pode ser uma edicação ou um ambiente urbano que tenham signicado na vida de um grupo social: cena de
atividades coletivas, símbolos de momentos importantes, espaços que sirvam para identicar situações e atividades
repetidas diariamente, até fortalecer os laços entre o indivíduo e o meio ambiente urbano”. (WILHELM,1993:16)
Dessa forma, esse trabalho busca não apenas remeter à memória do “verdadeiro campineiro” (descendente dos fundadores) e seus descendentes, mas também trazer maior reconhecimento e aproximação do goianiense com relação a história e tradição do bairro que recebeu a capital de Goiás, através do desenvolvimento de um Roteiro Memorial Campineiro, o qual ocorrerá de forma a percorrer os lugares de memória dos campineiros, criando em suas proximidades espaços públicos de respiro e permanência que remetam a esses lugares memoriais, fomentando a vocação da área, incentivando o comércio diversicado e tornando a região de Campinas mais ‘caminhável’.
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contextualização de vila a cidade_construção de identidade e memória
Campinas, também chamada de forma afetiva de Campininha, Campininha das Flores ou Campininha das Flores de Nossa Sra. da Conceição, foi fundada em 1810 por Joaquim Gomes da Silva Gerais, vindo do Meia Ponte (hoje Pirenópolis) a caminho de Anicuns em busca de ouro. É relatado que o meiapontense se afeiçoou pelas qualidades das campinas que deram nome ao local, se instalando às margens do córrego Cascavel para lavoura e pecuária (CAMPOS, 1985).
Integravam o até então
povoado migrantes vindos de Santa Luzia (hoje Luziânia), Bonm (hoje Silvânia), Vila Boa (hoje Cidade de Goiás), São Paulo e Minas Gerais, com uma população de 45 pessoas em 1824, constituindo 11 casas, 3 engenhos, 34 roças, uma fazenda de gado, e uma capela (SILVA e GALLI, 2010). O crescimento do arraial foi relativamente lento devido ao afastamento das estradas, inclusive da Estrada Real que passava por Vila Boa, e a diculdade de atravessar os obstáculos em direção à província de Goiás. Em 1885, Campinas contava com 60 casas, o que já se tornava uma quantidade propícia para o surgimento dos primeiros estabelecimentos comerciais, como armazéns de secos e molhados, conhecidos como “vendinhas” (SILVA e GALLI, 2010). O campineiro do século XIX descrito nos relatos era um típico habitante de cidades interioranas, caracterizado nos registros como pacato, bucólico e afetivo, com um cotidiano regrado pelo tempo da natureza e costumes condizentes com essa rotina relativamente lenta. Entretanto os relatos registrados acerca de Campinas nessa época conguram um caráter pejorativo acerca do campineiro, apresentando-o como caipira e atrasado. O que é apenas lógico considerando que tais relatos são normalmente visões estrangeiras (de outras províncias) em relação ao interior do Brasil, como o seguinte depoimento de um viajante paulistano:
“
(...)o arraial de Campininha, o lugar mais insignicante que já conheci em todo sul de Goyaz. É uma povoação
embrionária, todavia dize-me ser localidade de prospero futuro pelas magnicas terras de suas redondezas. Conquanto
o arraial de Campininha ou Campinas seja habitado, creio que a população dormia aquellas horas ou aliás é muito
cazeira, porque não vi ninguém na rua” (LEAL, 1989: 154-155)
Em 1894 chegam do sul da Alemanha um grupo de padres redentoristas, chamados por Dom Eduardo Duarte da Silva, Bispo de Goiás, para administrar o Santuário da SS. Trindade, em Barro Preto (Trindade), que na época era distrito de Campinas. O Venerável Padre Pelágio Sauter era um deles, que se tornou apóstolo de Goiás exercendo grande parte de seu ministério em Campinas, se tornando uma gura elegível para santicação pela Congregação pela Causa dos Santos, no Vaticano. Era o começo de diversas mudanças no arraial. Os padres foram responsáveis diretos pelo progresso da região, trazendo a primeira motocicleta, o primeiro telefone, construindo a antiga Matriz de Campinas (1900), instalando a primeira usina hidrelétrica (1921), o primeiro jornal - “O Redentorista” – (1921), trazendo as irmãs franciscanas que construíram o Colégio Santa Clara (1922), que foi o segundo educandário de Goiás, seguindo o regime de internato da década de 1920 a 1940, e posteriormente construindo o Conventão – antiga morada dos padres e hoje Centro Cultural Gustav Ritter – (1949). 04
Os padres tiveram grande inuência na formação religiosa e social da população, proporcionando desenvolvimento para uma região estagnada e permitindo a elevação de sua condição de arraial para vila em 1907 (Lei Estadual nº287) e de vila para cidade em 1914 (Lei Estadual nº476). Campinas sendo uma região rural e rústica, sua própria forma de sociabilidade e características não foram compreendidas de forma positiva pelos olhos externos. A construção de uma imagem positiva dos estrangeiros que vieram trazer o progresso e de uma imagem negativa dos campineiros “pacatos” foi inevitável.
“
Quem vinha de Goiaz a Campinas passava, antes de entrar no povoado, por um campo estéril, coberto de
arbustos que ninguém pensava que pudesse ser cultivado. Hoje esse campo, graças ao esforços dos Redentoristas,
está transformado num jardim: hortas, vinhedos, vastos pomares, pastos, gramados mostram o que produz um campo
bem cultivado. Logo abaixo, uma turbina movida por água abundante, movimenta engenhos de serra e de cana e um dínamo que fornece luz à cidade. A povoação de Campinas não tinha importância nem recursos: uma meia dúzia de casebres em redor de uma igrejinha cujas paredes ruidosas davam livre entrada aos cabritos (...). Hoje campinas é uma cidade pequena mas orescente que os padres dotaram de uma igreja bela e grande, de um colégio muito bem conceituado, de telefone, de luz elétrica”. (CAMPOS, 1985:30)
De forma geral, nessa época, a rotina do campineiro era cuidar de suas fazendas, de sua vida espiritual e social. A vida de rua e da rua se tornaram elementos primordiais na construção de imagens que formariam o grupo identitário de Campinas. O comércio se iniciou na praça Joaquim Lúcio, onde na primeira década do século XX o coronel de mesmo nome, em sociedade com Licardino de Oliveira Ney (quem posteriormente seria o último prefeito de Campinas), instalou o primeiro comércio da região. A praça começava a se movimentar, a ser local de encontro, de conversa, de namoro, de observar a vida. As brincadeiras e jogos de crianças tomavam conta das ruas, principalmente o futebol. Os córregos Capim Puba e Cascavel eram como piscinas públicas. A presença na Praça da Matriz aos domingos e às novenas nas terças-feiras era primordial para o cidadão de bem. Festas e aniversários haviam sempre reuniões nos quintais. Campinas era uma cidade pacata e de certa forma estagnada até a década de 1930, quando fora escolhida para acolher a nova capital do estado. Goiânia não foi um lugarejo que cresceu e se desenvolveu em cidade. Foi planejada. Foi imposta sobre um lugarejo já existente, gerando barreiras e divisão.
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contextualização de cidade a bairro_uma cidade dentro de outra
“
Considerando que Campinas se acha situada num ponto cêntrico da parte mais povoada do Estado e sua
topograa, das mais apropriadas e belas para a construção de uma cidade urbanamente moderna, entre um vasto
perímetro de terras de ótima cultura, toda coberta de mata de superior qualidade e que enormemente facilitaram a construção da nova cidade, a comissão é do parecer que a nova capital, situada na direção azimutal de 130 graus ou
em caso de urgência, em Bonm (Silvânia)”. (CAMPOS, 1985:45)
A escolha de Campinas para sediar a nova capital do estado não teve como consequência apenas o aumento de visibilidade da região e a saída de um estado de estagnação que se instalara no local, foi também o que salvou a cidade. Nas primeiras décadas de 1930 o Governo Federal determinou a extinção dos municípios como unidade autônoma do Estado que arrecadassem menos que 20 contos de réis. Tal destino não atingiu Campinas por uma mobilização geral da população para a arrecadação. CAMPOS(1985) relata que Licardino Oliveira Ney, então prefeito de Campinas, levou a ideia de considerar Campinas como uma opção para abrigar a nova capital para o Interventor Pedro Ludovico Teixeira, com a justa intenção de salvar Campinas da extinção. O que foi bem acatado pelos outros prefeitos.
Figura 1: Traçado de Campinas e Goiânia - fonte: Seplan
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Participar na construção de Goiânia fez surgir um sentimento de orgulho naqueles que moravam em Campinas, sentimento esse chamado por eles de bairrismo, caracterizado como uma forte identidade com o lugar. Os campineiros doaram terras, venderam, permutaram, foram desapropriados, receberam comitivas em suas casas, cederam suas residências para alojar funcionários para a construção da capital. O antigo arraial se autodenominou “mãe de Goiânia”, identidade essa que buscava vencer a reputação de Campinas como lugar atrasado, por causa da grande falta de recursos médicos, sanitários, baixa arrecadação e isolamento. Ideia essa de atraso que, depois da década de 1930, foi assimilada pelos campineiros, ao compararem seus recursos e cuidados públicos com os da nova cidade planejada. A até então falta de recursos de Goiânia levou seus moradores e trabalhadores a buscarem hospedagem, moradia, lazer, entretenimento etc, na região de Campinas, fato que levou a população local dobrar na década de 1930. Quando se realizou o Batismo Cultural de Goiânia em 1942, Campinas contava com 51 mil habitantes. A praça Joaquim Lúcio foi adotada como o centro cívico durante a construção de Goiânia. Era onde aconteciam celebrações e desles, como o aniversário de Goiânia em 24 de outubro, na avenida de mesmo nome. Entretanto havia uma clara distinção entre campineiros e goianienses:
“
Os habitantes de Campininha eram operários, comerciantes, estudantes; enquanto que os rapazes de Goiânia
eram chamados de almofadinhas, pois eram na maioria, lhos de políticos ou funcionários públicos.” (MELO, 1988:40)
Figura 2: Trabalhadores em Campinas - fonte: Seplan
O caráter dicotômico da relação entre Campinas e Goiânia, no sentido de que os campineiros apoiaram e sustentaram a construção de Goiânia e tiveram benefícios com isso, mas ao mesmo tempo a viam como uma ameaça ao seu modo de vida, se torna mais evidente na forma como o campineiro passa a se auto-representar após as obras da capital.
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O que antes era uma imagem de atraso e de pessoas preguiçosas, após todo o apoio dado a capital essa imagem se transformou em um bairrismo valorizador da identidade. Isso fez com que os campineiros buscassem se diferenciar como tal do resto de Goiânia. Campineiro é uma categoria que surgiu junto com a construção de Goiânia. Junto com a “ameaça” de consumação de sua tradição.
“
(...) eu tô falando procê, a guerra era braba, eles vinham aqui, tinha briga, a gente ia lá, tinha briga também, na 8.
Lanche Acapulco, Lanche Americano [situados em Goiânia, onde hoje é a rua do lazer]. E a gente...aquela guerra...era
gozação, curtição. A gente ia nas festas lá, era briga. Eles vinham aqui tinha que revidá”. (Depoimento de G.M. 50 anos – SILVA, 2003:36)
Campinas se tornou bairro de Goiânia em 1935 (Decreto nº327), e na medida que se viam tornando-se um “anexo” de Goiânia, o sentimento de identidade cresceu, principalmente nas décadas de 1940 e 1950. Os moradores de Campinas viram a chegada da água encanada, da energia elétrica, asfalto, serviço de esgoto, modernização das casas, coisas que a maior parcela da população de Goiânia recebeu diretamente, o que desenvolveu no campineiro um sentimento de apego ao lugar muito forte. Mas a construção de uma cidade moderna não permitiu edicações tão simples como as que existiam no local. A s remodelações dos edifícios e o art déco foram muito adotados para dar um ar moderno a Campinas:
“
São diversos prédios, de estilo antiquado e que uma capital, construída dentro das exigências urbanísticas, não
comporta e não tolera. Tais prédios acabam de ser condenados pela prefeitura Municipal, que já determinou as
primeiras demolições. Entre os prédios a serem demolidos gura o Hotel Pouso Alto, Antigo Hotel Duarte. Dentro de
poucos meses a praça Joaquim Lúcio estará completamente remodelada”. (O Popular, 1938 apud GONÇALVES 2002: 105)
Figura 3: Arquitetura vernacular de Campinas - fonte: Seplan
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A chegada do asfalto, a remodelação da praça Joaquim Lúcio, a remodelação das fachadas da 24 de outubro e a construção de edicações no estilo art déco como assimilação da arquitetura de Goiânia foram formas dos campineiros se sentirem parte desse avanço, já que a arquitetura vernácula era condenada pela imprensa que incentivava o moderno. Mas a união de Campinas ocorreu, em tese, apenas no nível político administrativo, não ocorrendo na consciência da população que ali habitava, que encarava com estranheza as modicações em seus lugares de memória, que apesar de não perderem seus signicados, produziram diferentes tempos de memória para os mesmos locais (SILVA,2003). Campinas se tornava de certa forma uma região marginalizada de Goiânia, onde frequentavam pessoas de má fama, boêmias e prostitutas, congurando a zona do meretrício da capital, já que na época toda cidade que se prezasse tinha a sua. O meretrício era uma forma de entretenimento para os trabalhadores da capital, o que fez com que a Avenida Bahia se tornasse famosa por seus bordéis frequentados por senadores e deputados, já que na época era de bom grado para um homem considerado de posses ou importante ser visto nesse locais. Posteriormente, as quadras de meretrício foram desapropriadas substituídas por residências e a avenida teve seu nome trocado como forma de “limpeza” do bairro. Apesar disso, as melhorias que a capital trouxe para o setor iniciou uma grande especulação imobiliária, que fez com que as pessoas vendessem seus imóveis e fossem morar em outros lugares. A densidade comercial afastou os moradores, fazendo o setor perder qualidade de vida e se tornar primordialmente voltado para o comércio. Quadras residenciais se transformaram em lojas. Campinas chegou a ter 43 mil moradores, hoje não chega a 14 mil. Entretanto as tradições campineiras se perpetuaram. Não é estranho às vezes ser atendido pelo próprio dono do comércio e negociar com ele. A anatomia da cidade mudou, mas a alma continua lá.
“
ser campineiro é ser descendente de campineiros antes da mudança da capital. Esse é o verdadeiro
campineiro...Ele num precisa morar em Campinas. Ele é campineiro e ele tem orgulho de ser campineiro”. (Depoimento de M.B. 65 anos – SILVA, 2003:37)
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construção da ideia a memória intrinsicamente ligada ao lugar e ao tempo A construção da ideia de patrimônio para o campineiro é um pouco diferente da ideia de se simplesmente preservar um edifício. Quando referem-se a patrimônio estão se referindo a suas tradições, à convivência na rua, aos eventos rotineiros que ocorriam todas as semanas nos mesmos locais e mesmas horas. Adotando o conceito de Bourdieu (2000) de região, em que um lugar só é legitimado receber o nome de região quando se adere algum valor simbólico ao mesmo, Campinas se congura como região pois a ela é conferida atributos próprios pelos campineiros, como um mapa cognitivo comum aos moradores. Desta forma SILVA(2003) dene Campinas como uma “região de memória”. Não se deve encarar Campinas apenas como um espaço físico, apenas um bairro de Goiânia, mas como uma região que agrega memórias e reúne um grupo identitário especíco Os critérios de sentimento de pertencimento a Campinas estão intrinsicamente vinculados com o lugar, que é determinado primeiramente pela descendência dos fundadores do povoado. Campinas acaba se congurando em uma comunidade de memória, em que os indivíduos se conectam por uma rede de referências espaço-temporais, compartilhando experiências acumuladas com pessoas de diversas faixas etárias pela “memória associativa” (SILVA, 2003), em que muitos indivíduos das novas gerações utilizam de memórias emprestadas que correspondem a histórias passadas de geração a geração, adotadas como parte de sua própria história em defesa do patrimônio de Campinas. Ainda residem no local ou nos arredores famílias e descendentes de famílias consideradas fundadoras da região. Pessoas ligadas fortemente ao lugar pela memória de seus pais, avós e bisavós que se mantem ligadas entre si por uma “memória do lugar” em comum, que os diferencia do restante da população de Goiânia, além de lhe conferir uma identidade própria como descendentes dos que construíram aquele lugar, se tornam pertencentes ao lugar Os lugares tidos como patrimônio dos campineiros eram os lugares relacionados às brincadeiras (banhos nos córregos, onde jogava-se futebol), edicações, desde cemitério ao lugar de lazer (cinema, meretrício, cafés e bares) de namoro (praça Joaquim Lúcio), o estádio do Atlético (SILVA,2003). Todos esses lugares se tornaram icônicos pela vivência dos grupos que neles frequentavam, gerando também grupos ou regiões de oposição como as praças da Matriz e Joaquim Lúcio (regiões frequentadas pela família de bem) com a Avenida Bahia (região do meretrício). As festas religiosas (como a festa de Santo Antônio), a boemia e o futebol são elementos que trazem coesão para a identidade campineira, e onde ela acaba se atualizando, por eventos que ainda acontecem no setor, como a festa religiosa citada e jogos no Campo do Atlético. Entretanto a própria população de Campinas acabou criando divisões dentro dela mesma, devido justamente à memória ligada diretamente não apenas a locais, mas a tempos especícos também. Esse grupo identitário foi dividido em duas categorias segundo a SILVA (2003): Verdadeiros campineiros (que nasceram ou são descendentes do local) e os Outros campineiros (que vieram no momento da construção de Goiânia), sendo que cada um desses grupos ocupou lugares especícos de Campinas, dividindo a região entre “Antiga Campinas” e “Nova Campinas”. Essas categorias se tornaram costumeiras nos relatos dos campineiros ao desejarem identicar uma pessoa ou lugar ou uma atividade, mostrando que Campinas foi construída por momentos cada qual com sua carga simbólica atribuída. 10
localização (mapa 1)
escala 1/15000
Setor Central
Nova Campinas
Setor Campinas
Avenida 24 de Outubro
Antiga Campinas
Avenida Anhanguera
N
Mapa 1: Localização e setorização de Campinas fonte: SILVA, 2010; com adições do aluno
Há uma distinta diferença entre a Velha Campinas e a Nova Campinas no que se refere a usos das edicações (aquela mais residencial e essa mais comercial), formas de usar a rua (aquela ainda com tradições fortes e essa com tradições dissipadas), formas de se relacionar com a cidade, esses discursos situam-se em um determinado tempo e espaço, mas essas diferenças se dissipam quando o ponto de comparação se torna Goiânia. Para os “verdadeiros campineiros” os lugares de referência são os de antes da construção de Goiânia, na Antiga Campinas. Pessoas, lugares, ruas e brincadeiras fazem parte dessas referências. Os “outros campineiros” chegaram com a construção da capital, e foram adotados pelos “verdadeiros campineiros” pois contribuíram para o desenvolvimento local e por ali se instalaram permanentemente, tornando-se parte do universo do campineiro. A Nova Campinas teria sido o lugar do meretrício, da boemia e do comércio desenfreado. Fronteiras são elementos essenciais para produção de identidades. As fronteiras são estabelecidas por meio de signicados atribuídos a esses lugares. Nota-se que o grande divisor entre esses espaços acaba por ser a própria rua. A rua que antes era local simbólico de encontro, convivência, de leitura da realidade e troca de experiências, agora se torna elemento tanto de divisão quanto de ligação.
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A Avenida 24 de Outubro ganha essas conotações de divisão quando nos referimos às duas Campinas (Antiga e Nova), e ligação quando nos referimos a Campinas e Goiânia, já que ela foi a conexão entre as duas regiões durante a construção da capital, e ainda continua como principal avenida do setor. Em entrevistas e depoimentos nota-se a presença de alguns elementos de limite como a Avenida 24 de Outubro, o estádio Antônio Accioly (como um dos limites do setor) e a praça Joaquim Lúcio (outro limite do setor).
construção da ideia a transformação do lugar, a perda de signicados e a situação atual
Com base em depoimentos, relatos, entrevistas etc, alguns locais (ou signicados dos locais) considerados pelos campineiros como patrimônio foram destacados: Praça Joaquim Lúcio e Café Campineiro
Figura 4: Praça Joaquim Lúcio fonte: Seplan
Antigamente chamada Praça do Jardim, foi o polo social do setor durante muitos anos, onde os campineiros se reuniam para trocas de experiências, serenatas, encontros amorosos etc. Era o local onde ocorria o ritual amoroso de “footing”, em que rapazes e moças caminhavam em direções opostas da praça para trocas de olhares. Foi onde se iniciou o comércio do setor, tendo seu principal empreendedor o próprio Joaquim Lúcio, que posteriormente deu nome à praça. O Café Campineiro funcionou de 1958 a meados da década de 60. Dentre seus clientes estão Juscelino Kubitschek, Roberto Carlos e Pedro Ludovico. Era ponto de encontro de políticos. Localizava-se ao lado de onde hoje é a Rádio Difusora. Hoje em dia se tornou um ponto de passagem (com poucas aglomerações de pessoas, principalmente mendigos próximos ao coreto), devido às diversas modicações, sendo que o coreto se encontra fechado. 12
Praça da Matriz
Figura 5: Antiga Matriz de Campinas (1954) Figura 6: Nova Matriz de Campinas (1956) fonte: OLIVEIRA, Hélio. 2008
Foi a primeira praça de Campinas, onde estiveram a primeira capela do setor, a antiga Matriz e a atual, sendo de grande importância para a região devido à tradição religiosa. Foi e ainda é palco de diversas festas tradicionais, como São João e de Santo Antônio. Carrega toda a memória dos padres redentoristas que trouxeram melhorias para região, além de diversos condensadores sociais, como o Ginásio de Esportes de Campinas (na quadra vizinha) e o Centro Cultural Gustav Ritter (antigo Conventão). É outro local que atravessou diversos momentos espaço-temporais do setor.
Estádio do Antônio Accioly e Bar do Fiore
Fundado em 1937 por Antônio Accioly, fundador do primeiro time de futebol de Goiânia, dando seu nome ao estádio. Era um local onde aconteciam aniversários, bailes, jogos, eventos de todos os tipos. Em frente ao estádio se localizava o Bar do Fiore, onde os frequentadores e jogadores se reuniam antes e após os jogos. Hoje se encontra em estado de abandono, apesar de ainda ser usado pelos campineiros para jogos. Não foram encontrados vestígios do Bar do Fiore. Uma proposta para tombamento do estádio foi enviada à prefeitura pela Associação dos Moradores de Campinas (Amocampi), ainda sem resultados.
Figura 7: Estádio Antônio Accioly (1958) fonte: OLIVEIRA, Hélio. 2008
Figura 8: Estádio Antônio Accioly (05/2016) fonte: acervo do autor
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Mercado de Campinas
Fundado em 1954 por Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito de Goiânia, como centro distribuidor de produtos de alimentação. A edicação original era apenas um conjunto de portas, sendo que em cada uma se encontrava uma mercearia. Há comerciantes no mercado há mais de 50 anos, como Joaquim de Souza Oliveira, que veio do Piauí e adquiriu uma das mercearias na época. Apesar dos produtos industrializados ou terceirizados a venda, ainda vende-se produtos artesanais, manufaturados e naturais como raízes medicinais, peneiras de bambu, panelas de barro, fumo de rolo e diversos outros produtos. É ponto de encontro e troca de experiências.
Figura 9: Mercado de Campinas (05/2016) fonte: acervo do autor
Campo do Feirinha, Cine Campinas e Bar do Chico Campo do Feirinha era a denominação dada a um terreno na rua atrás do Cine Campinas, onde ocorriam feiras de horti-fruti, recebia-se circos, jogos de futebol, brincadeiras etc, sendo um importante ponto de socialização. O Cine Campinas, fundado em 1936 e localizado na 24 de outubro, entre as ruas Rio Verde e Quintino Bocaiúva, era parte do roteiro dominical da população. Reuniam-se intelectuais, poetas, músicos e casais de namorados. Onde foi criada a primeira associação comercial local, por Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito de Goiânia. Em frente ao cine campinas se localizava o Bar do Chico, ponto de encontro dos jovens que aguardavam as sessões do cinema, que voltavam das aulas, e também encontro das famílias, não sendo um ambiente de bêbados. Haviam também ensaios de seresteiros. Abria 7h da manhã e fechava após a última sessão do Cine Campinas. Reunia intelectuais, poetas, escritores, artistas (SILVA, 2010:263). Hoje em dia o Cine foi transformado em uma galeria comercial e não se encontra vestígios do Bar do Chico.
Figura 10: Cine Campinas fonte: MIS-GO
Figura 10: Bar do Chico, década de 1950 fonte: OLIVEIRA, Hélio. 2008
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Avenida Bahia e Maria Branca A Avenida Bahia era a famosa rua do meretrício de Campinas, embora se restringisse ao universo do privado, devido ao grande número de confusões, brigas causadas no lugar e reputação de lugar impuro. Era local de iniciação sexual entre os rapazes. Moças de Campinas eram estigmatizadas como “prostitutas” pelos goianienses, causando discriminação com o local. Entretanto é reivindicado pelos campineiros como local que ajudou na construção da nova capital (SILVA,2003), principalmente pelos boêmios que se lembram do local com orgulho, como algo do passado que fez parte de suas vidas. Maria Branca era vista como mulher notável, dona de prostíbulo. A boa imagem de Maria Branca diante da alta sociedade foi usada para tirar o estigma do bairro, já que mantinha relações sociais importantes com os políticos da época. Em certo evento de Dona Gercina Borges no Jóquei Clube, a orquestra não compareceu, e quem se pronticou foi Maria Branca e a banda de seu estabelecimento. Quando chegavam moças expulsas de casa em seu estabelecimento ela fazia a triagem: “Você quer ser prostituta ou você quer estudar?”. Se a moça escolhesse estudar, Maria Branca a encaminhava para a escola e custeava seus estudos, segundo relatos (SILVA,2010). Realizava também reuniões de deputados em seu estabelecimento. Era de bom tom na época que homens importantes frequentassem esses locais.
Os lugares de lazer dos campineiros (cinemas, praças, bares, clubes etc) sofreram modicação com o tempo ou não existem mais. Poucos lugares memoriais dos campineiros ainda resistem. Com a construção de Goiânia, diversos locais de Campinas foram “modernizados” para atender aos interesses de uma capital moderna. OLIVEIRA (1999) relata sobre a resignicação da construção de identidade do campineiro com a construção de Goiânia, tendo alguns elementos como primordiais, como o futebol, o meretrício e os espaços de sociabilidade como pontos de ligação com o passado. A praça Joaquim Lúcio talvez seja a que sofreu mais modicações durante os anos. O antigo Hotel Duarte foi demolido para a construção do moderno Palace Hotel, onde hoje funciona a Biblioteca Cora Coralina, fato que causa contrariedade e até afastamento de alguns campineiros, que dizem que o local deveria ter recebido pelo menos o nome de alguém do local: “Essa Cora Coralina não tem nada a ver com a história de Campinas” (SILVA, 2003:67). Os “verdadeiros campineiros” ainda se referem ao local como Hotel Duarte, que possui mais vínculo e signicado como local, mostrando a sobreposição de tempo do setor.
Figura 11: Antigo Palace Hotel na praça Joaquim Lúcio, décadas de 1950 -1960 fonte: Seplan
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A própria praça passou por modicações drásticas em sua conformação na época da construção de Goiânia. O antigo coreto, que já havia sofrido modicações na década de 1940 para modernizá-lo, foi demolido em 1960, dando lugar a uma fonte luminosa, que posteriormente na década de 1970 deu lugar a canteiros. Em 2002 houve um projeto de revitalização da praça, no qual o coreto foi reconstruído segundo projeto original de 1931 escolhido pela população (haviam duas propostas, uma com o projeto original de 1931, e uma mais modernista de 1947).
Figura 12: Praça Joaquim Lúcio (década de 1930) - fonte: Seplan
Figura 13: Praça Joaquim Lúcio (1958) fonte: OLIVEIRA, Hélio. 2008
Figura 14: Praça Joaquim Lúcio (1964) fonte: OLIVEIRA, Hélio. 2008
Tais mudanças produziram recordações confusas e mistas, alterando os mapas de memória e cognitivos do campineiro, e podem ter gerado uma construção simbólica de hierarquia sobre a noção de patrimônio. A forma como uma comunidade escolhe ser lembrada, o seu discurso de construção de memória, também é uma estratégia de manutenção de sua identidade como grupo social. Claro que há divisões de opiniões entre os campineiros, em que muitos acham que o que deveria ser considerado patrimônio seria o que veio depois de Goiânia. A Associação dos Moradores de Campinas (Amocampi) tinha em 2001 um projeto de construção da Casa do Campineiro, onde seriam reunidos objetos e fatos da história do local. Um projeto preservacionista de iniciativa da própria comunidade. Mesmo muitas vezes não morando mais no local, ainda se tem por parte da antiga população campineira um desejo de valorização do patrimônio campineiro, identidade essa que impediu a assimilação total do local por Goiânia, mesmo integrado na sua malha urbana. 16
levantamentos
legislação tombamento (ver anexo) Os bens tombados no Setor Campinas são os seguintes: a nível federal temos o edifício da antiga Subprefeitura e Fórum de Campinas; a nível estadual e municipal temos o edifício do antigo Palace Hotel; a nível estadual temos o Centro Cultural Gustav Ritter. Tais edifícios se encontram nas praças Joaquim Lúcio e da Matriz, e não haverá alteração nos seus lotes adjacentes com a intervenção, sendo eles tratados como área com restrições. O traçado pioneiro do setor Campinas, assim como o traçado pioneiro de Atíllio Corrêa Lima, é tombado pela união, o que não acarretará impedimentos para a intervenção proposta, visto que não serão alteradas características do traçado urbano, e sim apenas o desenho e uso das vias existentes, semelhante ao que foi proposto em 2012 com o projeto do VLT para Goiânia, com a intenção de um ‘calçadão’ para pedestres no trecho da Av. Anhanguera entre as Avenidas Tocantins e Araguaia.
plano diretor O setor Campinas é classicado na lei no quesito ‘Desenvolvimento Econômico’ como ‘Centralidade Econômica a Qualicar’, constituindo assim o subcentro comercial popular da cidade polinucleada de Goiânia, oferecendo diversidade de comércio e serviços concentrados em uma localidade, congurando uma dinâmica e movimentos espaciais característicos que precisam de melhorias, um dos focos nesse trabalho. A região é classicada na lei também como ‘Área de Programa Especial de Interesse Urbanístico’, o que segue o mesmo princípio de necessidade de tratamento especial e melhorias como no item anterior:
“
CAPÍTULO III - Art. 132. As Áreas de Programas Especiais de Interesse Urbanístico compreendem
trechos do tecido urbano sujeitos às ações de requalicação urbanístico-ambiental e econômica, objetivando a valorização de suas peculiaridades e relações.’’
Outra questão presente no Plano Diretor de Goiânia referente ao Setor Campinas e que será tratada nesse trabalho seria a implantação de edifícios garagem, que na intervenção serão aplicados na forma de estacionamentos subterrâneos:
“
CAPÍTULO III - Subseção III - Art. 24. V – estabelecer plano de fomento e incentivo às ações privadas
isoladas ou em parceria com o Poder Público Municipal, visando à oferta de vagas de estacionamento na forma de edifícios garagem, estacionamentos subterrâneos e estacionamentos em áreas abertas, especialmente no espaço comercial do Setor Campinas’’
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intervenção objetivo Desenvolver o Roteiro Memorial Campineiro, no intuito de estimular uma maior integração entre o Setor Campinas e Goiânia utilizando a “memória coletiva” como valorização da identidade e da história do ‘verdadeiro’ campineiro - e consequentemente da história de Goiânia -, através do levantamento dos lugares de memória desse grupo identitário, de propostas de espaços públicos que promovam a prioridade ao pedestre remetendo a esses lugares memoriais e atendam às necessidades urbanísticas do setor.
intervenção metodologia As informações utilizadas para a identicação de locais de memória dos campineiros foram organizadas com base em coleta de dados publicados em forma de relatos causos, histórias, entrevistas e depoimentos de campineiros que vivem ou viveram em Campinas, levando em consideração a seguinte colocação de SILVA (2003):
“
CARTIER(1990), mostra que as representações do mundo social não são discursos neutros, mas produzem
estratégias e práticas, impondo autoridade, à custa de outros, menosprezados, gerando, como consequência, um
campo do poder e dominação. As representações são maneiras de apreender o mundo e torná-lo cognoscível, o que
é feito através da atribuição de signicados. Por isso, os discursos, ou qualquer outra forma de representação, estão repletos de “categorias simbólicas” que devem ser analisadas à luz do universo ao qual pertencem” (SILVA. 2003: 11)
Também foi utilizado o método da etnograa para identicação de características atuais do setor. Ana Luiza Rocha e Cornélia Eckert descrevem esse método da seguinte maneira:
“
(...) a técnica de etnograa de rua consiste na exploração dos espaços urbanos a serem investigados através de
caminhadas ‘sem destino xo’ nos seus territórios. A intenção não se limita, portanto, apenas a retornar o olhar do
pesquisador para a sua cidade por meios de processos de reinvenção/reencantamento de seus espaços cotidianos,
mas capacitá-lo às exigências de rigor nas observações etnográcas ao longo de ações que envolvem deslocamentos constantes no cenário da vida urbana”. (ROCHA e ECKERT, 2013:4)
Utilizando o conceito de Solá-Morales de Acupuntura urbana, no qual arma-se que mudanças em escalas maiores podem ser atingidas através, inicialmente, de intervenções pontuais, buscou-se realizar propostas de forma a abranger diversos pontos de Campinas, como forma de iniciar melhorias na qualidade dos espaços urbanos do local.
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intervenção justicativa
A proposta de criação de um Roteiro Memorial Campineiro tem a intenção não apenas de remeter à memória do campineiro e integrá-la à história de Goiânia, mas também de atender desejos e necessidades locais por espaços de trocas, de permanência, de respiro, espaços que aumentem a qualidade de vida e de uso do setor Campinas.
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mesmo, mas tudo depende de sua relação. Além de observações feitas no próprio setor, foram realizadas também entrevistas com
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aglomeração de pessoas para gerar trocas. Nada é vivenciado em si
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esses espaços que remetam usos referentes ao encontro, ao evento, à
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DESENHO URBANO
escala do pedestre, até a escala da cidade. É preciso aderir valor a
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O espaço de qualidade é pensado em diversas escalas: desde a
frequentadores e moradores de Campinas, questionando sobre os
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pontos positivos e negativos do setor:
PONTOS POSITIVOS facilidade de se encontrar de tudo o que se procurar pois há grande variedade de lojas e serviços; facilidade de se resolver seus problemas em um lugar só pois há variedade de bancos, cartórios etc; relações entre as pessoas
PONTOS NEGATIVOS pouca área verde; falta de estacionamento; difícil locomoção; trânsito; calçadas danificadas; falta de movimento nos finais de semana; falta de locais de permanência
Dessa forma buscou-se intervir no setor de forma a atender os pontos levantados, valorizando os pontos positivos e amenizando os negativos, principalmente os referentes à ausência de locais públicos de permanência.
rotas caminháveis
espaços de qualidade
espaços de permanência
integração
Intervenção
pertencimento
identidade região de memória
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intervenção Diretrizes gerais Para a intervenção A rua é o principal espaço público da cidade. Entretanto o comportamento das pessoas em relação a esses espaços tem sido denido pelo uso do automóvel.
“
Na escala menor, a da paisagem urbana dos 5km/h, é que as pessoas se encontram de perto com a cidade. Aqui o pedestre tem tempo para fruir a qualidade ou sofrer com sua falta” (GEHL, 2013:118)
Além de ser necessário um projeto pensado em menor escala, o setor Campinas possui mais de 200 anos, por isso foi desenvolvido inicialmente para pedestres, ciclistas, carroças etc, ou seja, o setor está na escala humana e não na escala do carro, congurando ruas estreitas. Dessa forma o projeto foca no deslocamento do pedestre, com a premissa que sua chegada ao setor será por ônibus ou carros através das vias principais (Av. 24 de Outubro, Perimetral e Av. Anhanguera). A rua responde, de forma geral, a três propósitos: interação, comunicação e deslocamento de indivíduos. Por isso é necessário o equilíbrio entre espaços funcionais/passagem e espaços de permanência. O projeto busca gerar espaços de transições entre um ponto nodal (espaço escolhido para realização da intervenção próximo ao local de memória) do roteiro e outro, congurando um passeio público, com a intenção de valorizar a experiência do caminhar e estimular o comércio local:
“
Independente do propósito, uma caminhada pelo espaço urbano é uma espécie de ‘fórum’ para as atividades do pedestre. Cabeças voltam-se para os lados, os pedestres viram-se e param para ver tudo, ou cumprimentar ou falar com alguém. Caminhar é um meio de transporte, mas também um início potencial ou uma ocasião para outras atividades.” (GEHL, 2013:120)
Figuras 15 e 16: rua comercial estreita compartilhada fonte: Urban Street Design Guide, 2013
Para o Bairro Com base no conceito de acupuntura urbana, de Solà-Morales, uma intervenção como a proposta resultará em consequencias para o bairro como um todo. Sendo assim algumas diretrizes gerais para o bairro foram levantadas com o objetivo de tentar direcionar as intenções acerca do setor para um objetivo comum: a predominância do pedestre e a valorização da vocação da área. As diretrizes foram divididas em médio e longo prazo, variando entre nível de complexidade de aplicação e etapas a serem seguidas. -Médio prazo: - Estimular a diversidade de usos dentro da vocação comercial e de serviços do setor Campinas: O comércio em Campinas é principalmente voltado para produtos que não serão consumidos ou usados no local, fazendo com que prevaleça no setor apenas o trânsito e não a permanência. Sendo assim seriam estimulados os usos comerciais de apoio ao redor das áreas de intervenção, como restaurantes, lanchonetes, cafés etc. 25
“
(...) um bairro ou um distrito planejado à perfeição, aparentemente para atender a uma função, de trabalho ou outra qualquer, e provido de tudo o que seja obviamente necessário a essa função, não consegue de fato propiciar o que é necessário se estiver preso a uma única função.” (JACOBS, 2000: 176).
- Diminuir os espaços para letreiros nos estabelecimentos comerciais e direcioná-los ao pedestre. - Proibir estacionamentos no decorrer do percurso do roteiro proposto. - Criação de estacionamentos subterrâneos: Serão dispostos ao longo da Av. 24 de Outubro estacionamentos subterrâneos objetivando atender a necessidade local de vagas para automóveis, além de compensar a retirada de vagas nas ruas com a implantação da intervenção - Nivelação da rua com a calçada no percurso do roteiro proposto: Permitindo acessibilidade ao pedestre e dando a impressão ao motorista que é ele quem está invadindo o espaço do pedestre. - Redução da velocidade de meios motorizados: Gerando maior conforto e segurança para os não motorizados, lhes garantindo melhor uso do espaço. - Estimular a implantação de catalisadores urbanos para a vida noturna do setor: Estabelecimentos que funcionam 24 horas e que fomentam o movimento noturno, como casas noturnas, bares, pubs, espaços para eventos etc. - Implantação de iluminação e placas informativas direcionadas ao pedestre. - Estimular o comerciante a conservar e/ou plantar árvores em frente seu estabelecimento: Os comerciantes que possuíssem imóveis com árvores na calçada em frente ao imóvel poderiam obter descontos de até 2% no IPTU. O valor do desconto dependeria da testada em relação ao número de árvores em frente ao imóvel. Os descontos seriam cumulativos. - Denição de um desenho e cores padrão para as calçadas: Delimitar por meio de desenhos e cores os locais de permanência e locais de trânsito de pedestre, além de denição de limites das ruas. - Denição de dias e horários especícos para carga e descarga: Desenvolvimento de um cronograma para carga e descarga, evitando a ocupação de mais de um caminhão por rua. - Locação das famílias dos imóveis desapropriados na intervenção preferencialmente em locais próximos aos principais eixos de transporte e na região residencial do bairro (Antiga Campinas).
-Longo prazo: -Implantação de estímulos para estabelecer a região da Nova Campinas (comercial) como uma área prioritariamente para pedestres, com implantação de ruas compartilhadas: O usuário chegaria de carro ou transporte público pelas principais vias e continuaria se deslocando na região a pé ou com uso de bicicletas, utilizando os estacionamentos subterrâneos locados ao longo das vias permitidas para livre trânsito motorizado.
“
As cidades devem propiciar boas condições para que as pessoas caminhem, parem, sentem-se, olhem, ouçam e falem” (GEHL,2013:118)
- Impedir estacionamentos nas ruas da região da Nova Campinas (comercial), apenas estacionamentos subterrâneos e de rápido acesso. - Tornar todas as ruas na região da Nova Campinas ruas compartilhadas, dando sempre prioridade ao pedestre.
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A proposta a longo prazo para Campinas de se tornar uma região predominantemente para pedestres pode ser ilustrada pelas consequencias positivas da aplicação de ruas compartilhadas em áreas de grande uxo e com vocação comercial em projetos como o que ocorreu em 2008 na cidade de Leicester, na Inglaterra. Nesse projeto da prefeitura da cidade, chamado ‘Conectando Leicester’, o objetivo era amenizar o mal planejamento e criar melhores conexões entre áreas históricas e o centro comercial. A retirada da dominância do carro aumentou o sentimento de pertencimento, melhorou a visibilidade dos estabelecimentos, o acesso a eles, encorajou o investimento no local e levou diversos comerciantes independentes, antes expulsos pelos grandes comércios, de volta ao centro da cidade.
Figura 17: Leicester City Centre - 1949 fonte: http://www.francisfrith.com/leicester/leicester-eastgates-1949_l144002 Figuras 18, 19 e 20: Leicester - 2014 fonte: http://www.leicestermercury.co.uk/pictures/
Outro caso que demonstra a aplicação bem sucedida de ruas compartilhadas em áreas comerciais, foi na Linden Living Alley, em São Francisco nos Estados Unidos. A intenção era tornar a rua mais convidativa para os clientes de um café que se instalou na área em 2005, e o que antigamente era uma rua estreita, nãoconvidativa, propícia ao crime, venda de drogas e prostituição se tornou em uma via direcionada ao pedestre graças a iniciativa particular e apoio populares, mostrando que ruas direcionadas aos pedestres são também ruas que valorizam atividades comerciais, já que permitem a melhor visualização de vitrines, maior permanência e sensação de segurança
Figura 21: Linden Living Alley, em São Francisco, EUA. fonte: http://nacto.org/case-study/linden-living-alley-san-francisco-ca/
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referências de projeto superkilen (DK) projeto: BIG Architects, Topotek 1, Superex local: Nørrebro, Copenhague, Dinamarca ano: 2012
história Nørrebro é considerado um dos bairros mais etnicamente diverso da Dinamarca, com mais de 60 nacionalidades sendo representadas no local. A ideia do projeto era de expor em um grande parque as diversas práticas urbanas dessas diversas culturas que habitam ao redor do bairro, como uma forma de empoderamento dos habitantes, de diminuição do preconceito com o estrangeiro e de melhoria do que antes eram terrenos subutilizados como parte posterior de fábricas e conjuntos habitacionais.
projeto O percurso tem cerca de 30.000 metros quadrados ao longo de aproximadamente um quilômetro de comprimento. Constitui-se por três áreas principais: uma praça vermelha, um mercado preto e um parque verde. Na praça vermelha concentram-se as áreas de lazer e entretenimento. O mercado preto é caracterizado como uma praça clássica com uma fonte onde os vizinhos podem se encontrar, com churrasqueiras e palmeiras da China. O parque verde, coberto por grama, tem colinas, árvores e plantas adequadas para piqueniques, esportes e passeios. Muitos dos objetos no parque foram importados ou copiados de modelos estrangeiros. Eles incluem objetos do Iraque, bancos do Brasil, uma fonte do Marrocos e lixeiras da Inglaterra. Cada objeto é acompanhado de uma chapa de metal com uma breve explicação sobre ele. Há diversos sinais em néon fazendo a divulgação dos locais ao longo do roteiro, de um hotel russo para um salão de beleza chinês. Ao todo há 108 plantas e artefatos que ilustram a diversidade étnica da população local.
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aplicação na proposta - Apropriação de espaços subutilizados (o que no caso de Campinas seriam espaços para estacionamentos e depósitos) para uso público; - Utilização de características da cultura e memória local como forma de denir os usos e congurações dos espaços; - Denição de um percurso pouco monótono, com variações de suas características ao longo de seu passeio, conforme os atributos da área vão se modicando.
fonte: <http://www.archdaily.com/286223/superkilen-topotek-1-bigarchitects-superex>, acessado em 06/2016.
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referências de projeto memorial do holocausto (DE) projeto: Peter Eisenman local: Berlim, Alemanha ano: 2005 história O projeto é um memorial em um espaço público em Berlim feito em homenagem às vítimas do Holocausto. projeto Ocupando cerca de 19.000 m², o projeto se constitui basicamente por blocos de concreto de 95cm de largura por 2,38m de comprimento, com alturas variando de alguns milímetros do solo até 4m de altura. Os blocos são baixos nas proximidades da rua para convidar o pedestre a entrar no local. Uma vez lá, cercado pelos blocos de concreto que praticamente permitem apenas a passagem de uma pessoa por vez (95cm), a intenção seria gerar os sentimentos de solidão, claustrofobia, assombramento e perdição, remetendo ao sofrimento passado pelos judeus.
aplicação na proposta - Conguração do espaço público com uma poética voltada para a história local; - Utilização de elementos individualmente simples, mas que em conjunto constroem uma ideia, uma intenção; - A não utilização de simbolismos, mas a evocação de sentimentos no usuário como forma de remeter a uma memória; - Utilização da poética dos materiais, com o uso do concreto para referenciar frieza, solidão, rigidez. fonte: <https://pt.wikiarquitectura.com/index.php/Monumento_d o_Holocausto>, acessado em 06/2016.
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referências de projeto 25 de março (SP) projeto: Vigliecca e Associados local: São Paulo, SP ano: 2001 história Projeto de requalicação do espaço público de uma área predominantemente comercial, caracterizada como sufocante pela sua quantidade de lojas e movimentação de carros. A intenção era buscar não apenas privilegiar o pedestre, mas também o comerciante, dando suporte para a vocação da região. Além de tentar incentivar atividades em todos os períodos do dia, evitando que a rua casse deserta. projeto Através de estudos das vias locais, o trânsito da Av. 25 de Março foi redirecionado para avenidas de dimensões semelhantes, buscando uma maior lógica para o motorista e dar mais legibilidade ao local para o pedestre. Foram implantados boxes de alimentação, lugares de estar e para performances populares ao longo do passeio público, o qual receberia o mesmo tratamento de pavimentação das ruas, gerando mais acessibilidade e prioridade ao pedestre. Negociações com comerciantes locais foram feitas para a construção de um estacionamento de grande capacidade na região. Segundo os arquitetos a intenção era criar ‘a idéia de um boulevard do comércio informal, com toda a espacialidade e equipamentos necessários para a segurança e conforto das pessoas, com policiamento, sanitários e valores estéticos adequados ao caráter popular deste setor’. aplicação na proposta - Utilização de ruas compartilhadas como forma de priorização do pedestre; - Uniformização de ruas e calçadas como forma de intimidação para motorista; - Desenvolvimento de mobiliário que marque os limites entre ruas e calçadas; - Iluminação, letreiros e informativos voltados para o pedestre (na escala humana); - Fomentação do comércio informal e da utilização dos espaços em diversos períodos do dia, com a implantação de escolas técnicas, hotelaria, atividades culturais etc. fonte: <http://www.vigliecca.com.br/ptBR/projects/25-de-marco>, acessado em 06/2016.
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projeto: James Corner Field Operations e Diller Scodio + Renfro local: Nova York (EUA) ano: 2009 - 2011 - 2014
referências de projeto high line park - Nova York
história Em 1999, a Prefeitura de Nova York propôs a demolição de uma antiga ferrovia elevada de 2.6 km, construída nos anos 1930 e sem uso desde 1980, conhecida como High Line. A área estava abandonada e degradada, atraindo usuários de drogas, prostituição etc. Ainda no ano de 1999 foi fundada a “Friends of the High Line” que lutou pela preservação da antiga linha de trem e pela sua transformação. projeto Em 2009, o High Line foi transformado num parque público de 2.3 km, construído sobre a antiga ferrovia suspensa desativada, elevada a oito metros do chão, e se estende por uma das áreas mais movimentadas da cidade, na região oeste da ilha de Manhattan. Todo o material que estava apoiado na estrutura foi removido e mapeado - o que inclui os trilhos de ferro, o cascalho, a terra e uma camada de concreto. Os projetistas tinham a intenção de inserir vegetação ao longo de toda sua extensão e de ambos os lados da área de passeio, utilizando para isso as plantas que haviam colonizado o parque durante os seus anos de abandono. Em 2009, nasceu a primeira parte do projeto e em 2011, foi completada a segunda fase. A terceira parte cou pronta em 2014, atraindo investimentos de mais de R$ 4 bilhões, inúmeras lojas conceituadas e 30 galerias de arte.
1-mirante 2-trilhos originais expostos 3-travessia sobre viaduto 4-murais artísticos 5-matagal de Chelsea 6-escadaria e mirante sobre a 10ª avenida
7-vegetação original 8-programas públicos artísticos, mercado e café 9-espreguiçadeiras 10-mirante onde os trilhos foram cortados e demolidos
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aplicação na proposta - Exposição de partes da antiga estrutura como forma de reforçar a memória e a história do local; - Modicação dos usos da estrutura para melhor atender a região e à população, transformando uma área inutilizada em mirantes, espaços de estar, de passeio e de entretenimento, valorizando um local antes visto com sentido pejorativo; - Produção de um percurso, de um passeio público, que tem como foco as características do próprio lugar.
fonte: <http://www.thehighline.org/visit>, acessado em 06/2016.
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referências de projeto um espaço para lembranças (FR) projeto: 2/3/4 local: Parc des Glacis, Besançon, França ano: 2013
história Besançon é uma comuna francesa, cercada pelo rio Doubs, que desde a Antiguidade teve como foco o militarismo por causa de sua posição estratégica. É considerada Patrimônio Histórico pela UNESCO pelas suas forticações do século XVII, projeto de Vauban, engenheiro e arquiteto militar. Com a construção da estação de trem na Avenue de La Paix um dos monumentos em homenagem aos militares mortos na Primeira Guerra Mundial foi destruído. O projeto teria o objetivo de substituir o monumento e homenagear esses militares. projeto O projeto constitui-se de muros de arrimo de aço corten que, segundo o arquiteto, cortam o terreno original remetendo ao formato das trincheiras utilizadas na guerra, produzindo enquadramento de vistas e áreas mais altas no terreno que teriam a função de mirantes para o vale do rio Doubs e para o centro histórico da cidade. Gravados no aço corten estão os nomes dos soldados mortos em guerra. A estrutura também circunda os monumentos pré-existentes, onde ocorrem cerimônias de homenagem ao militares. Pode-se armar também que a própria materialidade do conjunto remete à questão da memória, já que o aço corten seria um material resistente (que permanece como a memória) mas que apresenta um aspecto envelhecido (que remete algo do passado), construindo uma simbologia da força que a memória possui, apesar do tempo passado. aplicação na proposta -Implantação de um equipamento urbano que sirva de apoio aos usos do local; -Uso de uma linguagem poética que abstraia a memória local na criação da intervenção, criando respostas formais que remetem a fatos memoriais; -Direcionamento de vistas e percursos; -Utilização de materiais que remetam à intencionalidade poética do espaço.
fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/771334/um-espaco-para-lembrancasparc-des-glacis-2-3-4>; acessado em 06/2016
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anรกlises e proposta
proposta Através das leituras e análises foi possível selecionar alguns momentos determinantes na história de Campinas, que delimitam o que podem ser consideradas fases de evolução e construção dessa “região de memória”. Momentos estes que geraram lugares especícos ligados diretamente à forma de viver do campineiro, já que é impossível desvencilhar o lugar e a identidade própria no caso de Campinas. Esses momentos são: década de 1890 - Chegada dos Padres Redentoristas e o desenvolvimento de Campinas; década de 1930 - Construção de Goiânia e forticação da identidade; décadas de 1940 a 1970 Meretrício e Especulação imobiliária. Considerando que se tratam de recortes no tempo, e que a cidade é um elemento dinâmico, diversos lugares destacados como de relevância em depoimentos, relatos e descrições já não existem materialmente. IVAN(1958) relata que isso não acontece sem que sejam deixados rastros carregados de signicados:
“
Todas as cidades são geológicas e não podemos dar um passo sem encontrarmos fantasmas, carregados com
todo o prestígio de suas lendas. Evoluímos em uma paisagem fechada cujos pontos de referência nos conduzem
incessantemente ao passado. Algumas esquinas em movimento, algumas perspectivas fugazes, permitem vislumbrar
algumas concepções originais do espaço, mas essa visão permanece fragmentada. É preciso buscá-la nos lugares mágicos, nos contos folclóricos e escritos surrealistas: castelos, paredes innitas, pequenos bares esquecidos, grandes cavernas, no gelo dos cassinos" (IVAIN, 1958:9)
Dessa forma buscou-se delimitar regiões descritas e especicadas como participantes da formação identitária do campineiro, mesmo não sendo especicamente o local em si, mas sabendo que este deixou rastros por meio de “contos folclóricos” ou da “memória associativa” dos novos campineiros. Buscou-se identicar características típicas de cada local de memória em determinadas épocas de Campinas. Dessa forma a intenção seria trazer de volta alguns usos perdidos dessas áreas, que remetam a esses lugares de memória, e que relatem parte dessa história. A intervenção se dá por meio de espaços públicos abertos, com o objetivo de proporcionar um aumento de regiões de respiro no local, que atualmente tem grande característica de “corredor de passagem” e apresenta ausência de lugares de permanência. Buscou-se também posicionar os locais de intervenção próximos a regiões de aglomeração de pessoas, como hospitais, escolas e pontos de ônibus, além de aumentar os locais de respiro da principal avenida, 24 de Outubro.
limitar estacionamentos
espaços de respiro
espaços de permanência
alargamento das calçadas
resgate da memória
identidade
Intervenção 35
A área comercial do setor Campinas possui limitações de estacionamento de duas formas: com áreas azuis, que limitam o tempo de permanência; e com proibição de estacionamentos de um dos lados de algumas vias. A proposta a curto prazo seria proibir estacionamentos no decorrer do roteiro memorial e substituí-los por estacionamentos subterrâneos locados sob duas das áreas de intervenção, com acesso pela Av. 24 de Outubro. Rua
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Percebe-se também que as questões de uxo seguem um padrão: maior tráfego de automóveis na transversal (sentido Av. Anhanguera-Av. 24 de Outubro) e o maior tráfego de pedestres se dá pelas ruas longitudinais (sentido Estádio Antônio Accioly-Praça Joaquim Lúcio). Dessa forma a implantação de ruas compartilhadas se dará preferencialmente nessas ruas longitudinais.
trânsito e estacionamento subterrâneo (mapa 7) Áreas azuis
Proposta de estacionamentos subterrâneos
Tráfego de caminhões
Vias de médio uxo
escala 1/15000
N
Vias de grande uxo
Buscando fazer com que o roteiro memorial atenda a uma grande variedade de localidades e comércios, a intervenção se dará de forma mais constante nas ruas Honestino Guimarães e Alberto Miguel. A intervenção passará preferencialmente também nos pontos onde há problemas de uxo nas calçadas devido à utilização das mesmas para comércios informais e exposição de produtos.
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comércio prevalente por quadra (mapa 8) Produtos para festas Malhas Bijuterias
Pregões (eletrodomésticos usados) Material de escritório Calçadas ocupadas por produtos ou comércios informais
escala 1/15000
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Setor Campinas
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referencial teórico AMARAL, Arthur Pires. Campininha das Flores: narrativas de um drama social. Ponto Urbe [Online], 8 | 2011, posto online no dia 31 de julho de 2008, consultado no dia 02 de maio de 2016. URL: http://pontourbe.revues.org/1878; DOI: 10.4000/pontourbe.1878. BONDUKI, Nabil. Intervenções urbanas na recuperação de centros históricos. Brasília, DF. IPHAN / Programa Monumenta, 2010. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 3.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. CAMPOS, Itami. Notícias Históricas do Bairro de Campinas. Goiânia: Prefeitura de Goiânia. 1985. CHAVES, Borjas M. Comunidad de Memoria: memoria metafórica de una localidad em el sertão brasileño. Tese de Doutorado. Brasília: Depto. De Antropologia. UnB, 1995. CULLEN, G. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983. GATTI, Simone. Espaços Públicos: Diagnóstico e Metodologia de Projeto. Coordenação do Programa Soluções para Cidades. São Paulo, ABCP, 2013. GEHL, Jean. Cidades para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013 Goiânia art déco: acervo arquitetônico e urbanístico – dossiê de tombamento. Goiânia: Instituto Casa Brasil de Cultura, 2010. GOMES, Horiestes. Lembranças da Terrinha (Campininha). Goiânia, Ed. do autor. 2002. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Editora Revista dos Tribunais LTDA. São Paulo, 1990. IVAIN, Gilles. Formulario para um nuevo urbanismo. 1958. Colección GGmínima, Editora Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2006. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Martin Fontes, São Paulo. 1ª Edição, 2000. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martin Fontes, 1997. LEAL, Oscar. Viagem às Terras Goianas (Brasil Central). Goiânia: Editora da UFG, 1980. MANSO, Celina Fernandes de Almeida. Goiânia: uma concepção urbana, moderna e contemporânea – um certo olhar. Edição do autor. Goiânia, 2001. Manual de Calles Compartidas. Volume 1. Dérive Lab. Cidade do México. 2015. Manual Técnico de Arborização Urbana. Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo. Prefeitura de São Paulo. São Paulo, 2015. MELO, Ivo de. Do cofre da vida: causos de Campinas das Flores de Nossa Senhora da Conceição. Goiânia, 1998. National Association of City Transportation Ofcials. Urban Street Design Guide. Island Press. Nova York. 2013 OLIVEIRA, Hélio. Eu vi Goiânia crescer: décadas de 50 e 60. Goiânia: Ed. do autor, 2008. OLIVEIRA, Eliéser Cardoso. Imagem e mudança em Goiânia. Dissertação de Mestrado. UFG, 1999. ROCHA, Ana Maria Carvalho da. ECKERT, Cornelia. Etnograa de rua: Estudo de antropologia urbana. 1ª Edição. UFRGS Editora. Porto Alegre. 2013 SANTOS, Miguel Ângelo Nogueira dos. Missionários redentoristas em Goiás: uma participação nos movimentos de reforma e de restauração católicas (1894-1944). Tese de Doutorado. Departamento de História, USP, 1984. SOLÁ-MORALES, Manuel de. De Cosas Urbanas. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 2008. SILVA, Antônio Moreira da e GALLI, Ubirajara (orgs). Campininha das Flores e sua história. Instituto Cultural José Mendonça Teles. Goiânia. Scala Editora, 2010. SILVA, Simone Rosa da. Campinas: da identidade ao patrimônio. Goiânia, 2003. Dissertação (Mestrado). Universidade Católica de Goiás, Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia. System Solutions for Intensive Green Roofs. Planning Guide. ZinCo - Life on Roofs. Nuertingen, Alemanha. 2015.
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